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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

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Cleosi XaCleosi XaCleosi XaCleosi Xavier Justusvier Justusvier Justusvier Justus Profª PDEProfª PDEProfª PDEProfª PDE

Diversidade CulturalDiversidade CulturalDiversidade CulturalDiversidade Cultural e Território Indígenae Território Indígenae Território Indígenae Território Indígena

Na sala de aulaNa sala de aulaNa sala de aulaNa sala de aula OrientadoraOrientadoraOrientadoraOrientadora Profª Dra. Marquiana F. V. B. GomesProfª Dra. Marquiana F. V. B. GomesProfª Dra. Marquiana F. V. B. GomesProfª Dra. Marquiana F. V. B. Gomes

Guarapuava 2010Guarapuava 2010Guarapuava 2010Guarapuava 2010

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APRESENTAÇÃO

Esse material didático como Unidade Temática foi elaborado com muito

cuidado e zelo para os alunos do Ensino Médio do Colégio Padre Chagas de

Guarapuava e também para outros que por ventura estejam interessados. Foi

pensando em despertar nesses jovens novas perspectivas e novos conceitos do

tema proposto que elaborou-se o projeto de pesquisa, como uma das atividades do

Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) do Estado do Paraná. O tema

escolhido foi a Diversidade Cultural e a Questão Indígena com o título de

Diversidade Cultural e Território Indígena na Sala de Aula.

Os textos apresentados auxiliam os alunos para que possam compreender

as diferenças dentro de uma sociedade com interesses múltiplos e diversos. E é

através da leitura, dos trabalhos em grupo, das pesquisas pela internet, vídeos e

trabalho de campo, que atingiremos os objetivos propostos para esse material

didático, que será fazer com que o aluno forme seus próprios conceitos sobre a

diversidade cultural e a situação dos indígenas no Brasil.

Num país com uma diversidade cultural tão grande, essa riqueza não pode

ser abafada nem escondida, mas sim amplamente discutida. Assim elaboramos

este material com o intuito de levar até aos alunos, informações e, ao mesmo

tempo, fazer com que eles desejem ampliar seus conhecimentos, discutam e

aprendam sobre os povos indígenas.

Para finalizar o projeto, pretende-se levar os alunos a conhecer a vida dos

Kaingangs, indígenas fixados nas Terras Indígenas de Marrecas, no município do

Turvo, próximo de Guarapuava-PR, para que possa estabelecer parâmetros,

observar e analisar criticamente à questão indígena, objeto do estudo.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: GRAVURAS RUPESTRES ASSOCIADAS A SÍTIO ARQUEOLÓGICO COM CERCA DE 10.000 ANOS,

SUDOESTE PARANAENSE. ................................................................................................................ 17 FIGURA 2: RITUAL DE DANÇA DO XINGU .................................................................................................... 18 FIGURA 3: CESTO GUARANI, PARANÁ, 1880. ACERVO MUSEU PARANAENSE. ............................................. 18 FIGURA 4: MAPA DE PARQUES E TERRAS INDÍGENAS DO BRASIL ................................................................ 19 FIGURA 5: CLASSIFICAÇÃO DAS LÍNGUAS INDÍGENAS ATRAVÉS DO TRONCO TUPI ........................................ 21 FIGURA 6: CLASSIFICAÇÃO DAS LÍNGUAS INDÍGENAS ATRAVÉS DO TRONCO MACRO-JÊ .............................. 22 FIGURA 7: VASILHAME CERÂMICO RELACIONADO AOS ANCESTRAIS DE POVOS JÊ NO PARANÁ. ..................... 32 FIGURA 8: KAINGANG ESCALA ARAUCÁRIA PELA SERIGÓIA, CORDA TRANÇADA COM CIPÓS, PARA COLETAR

PINHÕES, EM PALMAS – PR, 1939. ACERVO MUSEU PARANAENSE.................................................... 33 FIGURA 9: ÍNDIA KAINGANG NA TROCA DO ARTESANATO POR ALIMENTOS. AO FUNDO, NOVO MODELO DE CASA

INDÍGENA DA COHAPAR, 2006.......................................................................................................... 34 FIGURA 10: ÍNDIA XOKLENG TECE MANTA COM FIBRAS DA URTIGA BRAVA, 1950. ACERVO MUSEU PARANAENSE

...................................................................................................................................................... 37 FIGURA 11: PRESENÇA INDÍGENA NO ESTADO DO PARANÁ ........................................................................ 39 FIGURA 12: TROCA DE ARTESANATO INDÍGENA POR CESTAS BÁSICAS. ........................................................ 43 FIGURA 13: KIT ARTESANATO-PROVOPAR, CADERNOS TEMÁTICOS............................................................ 44 FIGURA 14: ARTESANATO GUARANI. ......................................................................................................... 44 FIGURA 15: ARTESANATO KAINGANG ........................................................................................................ 45 FIGURA 16: MINI CESTOS CONFECCIONADOS POR CRIANÇAS DAS TERRAS INDÍGENAS DE MARRECAS, TURVO -

PR. ................................................................................................................................................ 45

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - TRECHOS DA CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA .................................................................... 12 QUADRO 2 – TRECHOS DA CARTA RÉGIA DE D. JOÃO VI ........................................................................... 13 QUADRO 3 - QUEM FALA EM NOME DOS ÍNDIOS?........................................................................................ 27 QUADRO 4 - CURIOSIDADES INDÍGENAS CONTADAS PELA PROFESSORA GRACITA GRUBER MARCONDES. ..... 37 QUADRO 5 - DADOS DAS TERRAS INDÍGENAS DO PARANÁ .......................................................................... 38

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SUMÁRIO

1 - DIVERSIDADE/CULTURA/IDENTIDADE ................. ........................................................................ 5

ATIVIDADE I........................................................................................................................................... 8

2 - O PAPEL INDÍGENA NAS QUESTÕES POLÍTICAS DO BRAS IL E DO PARANÁ ..................... 10

2.1. O CENÁRIO INDÍGENA COM A OCUPAÇÃO EUROPÉIA NAS AMÉRICAS E NO BRASIL.............................. 10 ATIVIDADE II........................................................................................................................................ 14 2.2. AS AGÊNCIAS DE PROTEÇÃO INDÍGENA NO BRASIL ......................................................................... 14 ATIVIDADE III....................................................................................................................................... 15

3 - OS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL ................... ......................................................................... 17

ATIVIDADE IV ...................................................................................................................................... 24 4 - A CONQUISTA DOS DIREITOS INDÍGENAS: DOCUMENTOS OFICIAIS E LUTAS SOCIAIS .. 25

ATIVIDADE V ....................................................................................................................................... 27

5 - MÍDIAS E A QUESTÃO INDÍGENA .................... ............................................................................ 28

ATIVIDADE VI – ANÁLISE DE JORNAIS ............................................................................................. 29

6 - INDÍGENAS NO PARANÁ ............................ .................................................................................. 32

ATIVIDADE VII ..................................................................................................................................... 40

7 - ATIVIDADE DE CAMPO ............................. .................................................................................... 41

8 - ARTESANATO X PROJETO........................... ................................................................................ 43

BIBLIOGRAFIA....................................... .............................................................................................. 46

REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS............................ .............................................................................. 47

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1 - DIVERSIDADE/CULTURA/IDENTIDADE

Pesquisando definições para as palavras diversidade, cultura e identidade,

encontramos no Minidicionário de Ruth Rocha, os seguintes significados:

Diversidade – Diferença; dessemelhança. Variedade. Divergência,

contradição.

Cultura – Desenvolvimento intelectual; saber; ilustração. (Antrop.) Conjunto

de experiências humanas (conhecimentos, costumes, instituições, etc.) adquiridas

pelo contato social e acumuladas pelos povos através dos tempos.

Identidade – Qualidade de idêntico; igualdade. Conjunto de caracteres que

fazem reconhecer um indivíduo.

Ao Analisarmos estas definições1, à luz da realidade sociocultural brasileira,

podemos estabelecer os seguintes questionamentos: o que se pode aferir sobre o

nosso país? Como esses conceitos podem ser apreendidos para explicar o que

temos no Brasil? Nosso país é tão rico na diversidade cultural que torna-se

impossível identificar apenas um povo dentro desta nação tão rica de costumes,

tradições. As diferenças culturais foram se formando ao longo da história desse país,

algumas com mais ênfase do que outras, por isso não é possível dizer que temos

uma única identidade nacional. Assim apropriando-se dos conceitos supracitados,

podemos afirmar que o Brasil é rico em diversidade, possui uma cultura cujo aspecto

está na miscigenação de seu povo, herança de vários grupos étnicos (brancos,

negros, indígenas) que se combinaram ao longo da história da formação do país.

Assim como as identidades têm se criado a partir da construção do indivíduo

na relação com sua família e/ou grupo social, o conceito de “ser brasileiro” está além

desses grupos e também faz parte de um projeto de Estado. Esse projeto busca unir

pessoas que vivem nos quatro cantos do território nacional, possuindo costumes

regionais específicos, o que faz muitas vezes compreendermos que há vários países

num só, a partir de atividades cívicas comuns, tais como votar e possuir um registro

com a naturalidade brasileira.

Numa sociedade a cultura nunca será uma unidade, mas sempre será

fragmentada. Muitas vezes é formada de vários grupos étnicos, de classes sociais

diferentes e ainda com poderes diferenciados, fazendo assim uma sociedade

1 Rocha, Ruth; Pires, Hinderburg da Silva. Minidicionário enciclopédico. São Paulo: Scipione, 2000.

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desigual com interesses diversos. Numa sociedade capitalista, por exemplo,

geralmente ocorre manipulação de quem detém poder e muitas vezes enaltecem

somente as culturas consideradas mais importantes dentro daquela sociedade,

garantindo sua reprodução. Fala-se em igualdade negando a diferença ou então

impõem à diferença negando a igualdade de direitos, tem-se que lutar tanto pela

igualdade de direitos como pela diferença.

A cultura das minorias (indígenas, afrodescendentes, pobres, mulheres, etc.)

é destacada de acordo com o interesse do momento, ou de acordo com as questões

políticas, mesmo essas culturas tendo auxiliado na formação da identidade nacional.

De acordo com Stuart Hall as “identidades modernas estão sendo

descentradas, isto é, deslocadas ou fragmentadas” (2005, p.8). Com isso, ele

considera que está ocorrendo à crise de identidade no mundo pós-modernidade,

muitas vezes até contraditória ou não-resolvidas. O ser humano pode também

assumir identidades diferentes em momentos diferentes de acordo com a situação

do sistema cultural. A identidade não nasce sozinha ela é formada ao longo de um

processo. Ela vem se formando desde o nascimento do ser humano e se

transformando no decorrer da sua existência.

Considerando o Brasil como um país de vários grupos étnicos2, devemos

conhecer quais são esses grupos e o que eles representam na cultura nacional, a

qual grupo cada um de nós pertence, o que representam essas raízes na conjuntura

nacional, saber identificar as diferenças e enaltecê-las. Estes são questionamentos

importantes a serem discutidos e é através deles que podemos conhecer a nossa

formação e dos nossos descendentes.

Sobre diversidade cultural é muito interessante o que Porto-Gonçalves (2006,

p. 458) diz: “Que a diversidade biológica e a cultural, na igualdade e na diferença,

sejam vistas como os maiores patrimônios da humanidade! O mundo está grávido

disso, é só ficarmos atentos àqueles que lutam por uma outra globalização”.

Nesse aspecto da Diversidade Cultural, o conjunto de textos, que será

trabalhado, busca ressaltar a importância dos indígenas na cultura brasileira, quem

2 Grupos étnicos: grupos de pessoas que se diferencia dos outros. Esta diferenciação ocorre em função de aspectos culturais, históricos, linguísticos, raciais, artísticos e religiosos. Sobre isso ver: URL: http://www.suapesquisa.com/o_que_e/etnia.htm.

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foram e a partir do descobrimento do Brasil, o que representam nesse mundo

moderno.

Considerados desde o período colonial como um povo sem nome, sem terra,

e que aos poucos tiveram que conquistar seu espaço, mesmo com muitas

dificuldades, lutou vigorosamente por seus territórios, por suas culturas e pela sua

liberdade, para adentrar, interagir numa sociedade com interesses das elites.

Os povos indígenas brasileiros querem mudar sua história, deixar de ser um

povo considerado sem passado. Estão atuando em nível nacional e internacional na

política, utilizando dos mecanismos jurídicos para valer dos seus direitos,

participando em grandes eventos em defesa da etnia, estudando em universidades

consagradas, tudo para resgatar sua identidade sem esquecer da sua cultura. Os

indígenas dizem que nós, não índios (também chamados por eles de brancos)

comentamos que eles são contra os brancos. Eles respondem, que não são contra

os brancos, e sim contra as autoridades que estejam contras as leis indígenas

(MOTA, 2000, p.28).

A cultura indígena não pode ser desconsiderada, ela é diferente, mas jamais

indiferente inferior a qualquer outra, devemos valorizá-la, tanto nós professores e

alunos como também os gestores da política nacional, estadual e municipal de um

país considerado democrático.

Nas questões de lutas sociais e também ecológicas os indígenas buscam sua

afirmação como sujeitos de sua própria História, e ainda mais: “Os povos indígenas

com sua cultura e seus territórios tentam resistir à extinção não só física, mas

também cultural... Até porque a vida é mais que biológica: é um determinado modo

de ser, pensar, sentir e agir. Cada vez mais, os povos indígenas afirmam a sua

singularidade, a sua cultura” (GONÇALVES, 1990, p.19).

Os indígenas, no mundo moderno, sofrem influências, como por exemplo da

tecnologia. Seus atrativos são cobiçados pelos indígenas, embora as condições

econômicas da qual dispõem não lhes permitam adquirir tais bens pois muitas vezes

possuem apenas o necessário para a sobrevivência. As cidades, também estão

exercendo influência sobre aos indígenas, e alguns jovens indígenas buscam

empregos nas cidades.

Ocorre que não há uma cultura pura, quando há o contato, uma acaba

influenciando a outra, assim como os brancos herdaram dos indígenas hábitos

alimentares e costumes, também eles aprenderam com os brancos. É muito

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interessante perceber o que podemos apreender de uma cultura diferente da nossa.

A cultura é uma grande riqueza da humanidade. Os avanços tecnológicos que

consideramos tão importantes para a vida moderna, também atraem esses grupos,

ora também melhora sua vida, veja a energia elétrica, o celular, o GPS (Sistema de

posicionamento Global), com eles os indígenas podem melhorar o sistema de

comunicação e também se organizarem na defesa do seu território.

Os indígenas dizem que podem também se modernizar já que foram os não

- índios que adentraram no seu espaço mudando em parte suas raízes culturais.

Veja o depoimento do índio Olívio Jekupé:

Não é o índio que perdeu a religião, é que foi imposta outra,... não foi

porque o índio quis, mas é que porque chegaram lá e foram convertendo e

fazendo o índio,... que a religião é bom porque tirou o alcoolismo de nós, só

que eu faço uma crítica, mas quem trouxe o alcoolismo foi o branco e daí

para salvar o índio ele traz outra coisa também que eu considero pior, daí a

religião e no futuro não vai sobrar nada, né? (M OTA, 2000, p.20 e 21).

A escola é o melhor lugar para conhecer e reconhecer essas diferenças, pois

cada um de nós tem características, costumes e aspectos físicos diferenciados.

Alguns podem ter influência de descendentes europeus (alemães, italianos,

portugueses, espanhóis, etc.) outros de afrodescendentes, outros indígenas, ou

ainda, outra etnia, basta fazermos uma entrevista com a comunidade escolar para

confirmarmos essa possibilidade.

Atividade I

O texto que você acabou de ler busca dar inicio a uma discussão sobre a

diversidade cultural no Brasil, em particular chamar a atenção para a nossa

convivência com diferentes grupos étnicos, dando ênfase na cultura indígena.

Vamos conhecer um pouco mais da sua formação cultural e dos colegas de sua

sala? Para isso, realize as seguintes atividades:

1. Faça um quadro indicando seu nome, onde nasceu nome dos seus pais, seus

avos, onde eles nasceram. Pesquise a raiz do sobrenome de cada um, está

vinculado a qual grupo étnico? Siga o modelo 1.

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Muitas surpresas?Muitas surpresas?Muitas surpresas?Muitas surpresas? Muitas descobertas? Muitas descobertas? Muitas descobertas? Muitas descobertas?

NASCIMENTO/

LOCAL

SOBRENOME COR PROFISSAO DESCENDÊNCIA

ALUNO

LUCAS

GUARAPUAVA SOUZA TOMAZI BRANCO ESTUDANTE EUROPEU ITALIA

PAI IRATI-PR TOMAZI BRANCO COMERCIANTE

EUROPEU

ITALIA

MAE PALMEIRA-PR SOUZA BRANCO PROFESSORA

EUROPEU

(PORTUGUES) +

INDÍGENA

CABOCLA

AVÔ

PATERNO

AVÔ

MATERNO

AVÓ

PATERNA

AVÓ

MATERNA

2. Recupere fotos da família que indique alguma tradição, festas (batizados,

casamentos), alimentos, roupas. Essas fotos devem ser de épocas diferentes,

principalmente de três gerações – avós, mãe, pai, recente.

3. Com essa pesquisa, em sala, em grupos de 05 pessoas, se reúnam e organizem

um quadro único do grupo, que indique características culturais das famílias das

pessoas do grupo (origem, grupo étnico, hábitos, costumes).

4. Com o auxilio do professor, esses quadros serão apresentados, buscando indicar

as diversidades encontradas na própria sala.

5. Qual é a descendência predominante? Há miscigenações? Quais?

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2 - O PAPEL INDÍGENA NAS QUESTÕES POLÍTICAS DO BRAS IL E DO

PARANÁ

2.1. O cenário indígena com a ocupação européia nas Américas e no Brasil

Estudar sobre a vida dos indígenas no continente americano e no Brasil deve

ir além do que se convencionou chamar “descobrimento da América”, pois antes da

chegada dos europeus nessas terras eles dispunham de uma organização social,

que foi extremamente alterada com o advento da ocupação espanhola e

portuguesa. Fato esse que faz muitos estudiosos3 questionarem o discurso da

humanização do continente americano. Em 500 anos de ocupação européia os

povos indígenas foram vitimas de dizimações e expropriações de seus territórios,

sem que houvesse trabalhos efetivos no sentido de garantir a sustentabilidade

desses grupos étnicos.

Pode-se dizer que os indígenas até os anos 1970 não tinham nem passado

nem futuro. Não eram objeto de estudo dos historiadores, por motivos

metodológicos, pois era complicado estudar povos de cultura oral. Havia poucos

registros sobre os indígenas, predominando os relatos dos agentes da conquista

como religiosos, administradores, viajantes, militares, com sua versão geralmente

eurocêntrica, sem contemplar o outro lado da história. Na década de 1970 esse

quadro começou a mudar quando os historiadores começaram a estudar a cultura

popular (Mota, 2000, p. 3 e 4 ). Portanto, um movimento muito recente.

A história oficial até então, era aquela dos europeus conquistadores. Para

exemplificarmos as versões predominantes, transcreveremos trechos da Carta de

Pero Vaz de Caminha ao Rei Dom Manuel I quando chegaram às terras brasileiras,

e também trechos da Carta Régia de D. João VI, regente do governo português.

Pero Vaz de Caminha nasceu em 1450, prestou alguns serviços à coroa

portuguesa e em 1500 compôs a frota dirigida por Pedro Álvares Cabral. Na

qualidade de escrivão desta referida frota, coube a ele redigir uma carta ao rei

Dom. Manuel I comunicando-lhe sobre o "achamento" da terra brasileira. 4

3 Lucio Tadeu Mota. Os Kaingang do Vale do Rio Ivaí – PR: história e relações interculturais. Maringá: Eduem, 2008. 4 Ver em URL: http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/1327587 Acesso em 08/07/2010.

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TRECHOS DA CARTA DE PERO VAZ DETRECHOS DA CARTA DE PERO VAZ DETRECHOS DA CARTA DE PERO VAZ DETRECHOS DA CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA CAMINHA CAMINHA CAMINHA Carta de achamento do Brasil Pero Vaz de Caminha

Senhor

Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a

nova do achamento desta vossa terra nova, que nesta navegação agora se achou, não deixarei

também de dar minha conta disso a Vossa Alteza, o melhor que eu puder, ainda que - para o bem

contar e falar -, o saiba fazer pior que todos.

Quarta-feira, 22 de abril: Neste dia, a horas de vésperas, houvemos vista de terra! Primeiramente

dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele: e de terra chá, com

grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome: O MONTE PASCOAL e à terra: a TERRA

A VERA CRUZ.

Quinta-feira, 23 de abril: Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças: e, ao sol posto,

obra de seis léguas da terra, surgimos âncoras, em dezenove braças - ancoragem limpa. Ali

permanecemos toda aquela noite. E à quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos direitos à

terra, indo os navios pequenos diante, por dezessete, dezesseis, quinze, quatorze, treze, doze, dez e

nove braças, até meia légua da terra, onde todos lançamos âncoras em frente à boca de um rio. E

chegaríamos a esta ancoragem às dez horas pouco mais ou menos.

Dali avistamos homens que andavam pela Dali avistamos homens que andavam pela Dali avistamos homens que andavam pela Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito,praia, obra de sete ou oito,praia, obra de sete ou oito,praia, obra de sete ou oito, segundo disseram os navios

pequenos, por chegarem primeiro.

Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhasEram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhasEram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhasEram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam Nas mãos traziam Nas mãos traziam Nas mãos traziam

arcos com suas setas.arcos com suas setas.arcos com suas setas.arcos com suas setas. Vinham todos rijamente sobre o bater; e Nicolau CoelhNicolau CoelhNicolau CoelhNicolau Coelho lhes fez sinal que o lhes fez sinal que o lhes fez sinal que o lhes fez sinal que

pousassem os arcos. E eles os pousaram.pousassem os arcos. E eles os pousaram.pousassem os arcos. E eles os pousaram.pousassem os arcos. E eles os pousaram. A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de

bons rostos e bons narizes. bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso

de encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto.

Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros, do

comprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como furador.

Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita

como roque de xadrês, ali encaixado de tal sorte que não os molesta, nem os estorva no falar, no

comer ou no beber.

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Os cabelos seus são corrediosOs cabelos seus são corrediosOs cabelos seus são corrediosOs cabelos seus são corredios. E andavam tosquiados, dE andavam tosquiados, dE andavam tosquiados, dE andavam tosquiados, de tosquia alta.e tosquia alta.e tosquia alta.e tosquia alta. mais que de sobre-pente, de

boa grandura e rapados até por cima das orelhas. E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a

fonte para detrás, uma espécie de cabeleira de penas de ave amarelasfonte para detrás, uma espécie de cabeleira de penas de ave amarelasfonte para detrás, uma espécie de cabeleira de penas de ave amarelasfonte para detrás, uma espécie de cabeleira de penas de ave amarelas, que seria do comprimento de

um coto, mui basta e mui cerrada, que lhe cobria o toutiço e as orelhas. E andava pegada aos

cabelos, pena e pena, com uma confeição branda como cera (mas não o era), de maneira que a

cabeleira ficava mui redonda e mui basta, e mui igual, e não fazia míngua mais lavagem para a

levantar.

Ali veríeis galantes, pintados de preto e de vermelho, e quartejados, assim nos corpos, como nas

pernas, que, certo, pareciam bem assim. Também andavam, entre eles, quatro ou cinco mulheres Também andavam, entre eles, quatro ou cinco mulheres Também andavam, entre eles, quatro ou cinco mulheres Também andavam, entre eles, quatro ou cinco mulheres

moças, nuas como eles, que não pareciam mal.moças, nuas como eles, que não pareciam mal.moças, nuas como eles, que não pareciam mal.moças, nuas como eles, que não pareciam mal. Entre elas andava uma com uma côxa, do joelho até o

quadril, e a nádega, toda tinha daquela tintura preta; e o resto, tudo da sua própria cor. Outra

trazia ambos os joelhos, com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão suas vergonhas tão suas vergonhas tão suas vergonhas tão

nuas e comnuas e comnuas e comnuas e com tanta inocência descobertas, que nisso não havia vergonha alguma.tanta inocência descobertas, que nisso não havia vergonha alguma.tanta inocência descobertas, que nisso não havia vergonha alguma.tanta inocência descobertas, que nisso não havia vergonha alguma.

Parece-me gente de tal inocência que, se homem os entendesse e eles a nós, seriam logo cristãos, entendesse e eles a nós, seriam logo cristãos, entendesse e eles a nós, seriam logo cristãos, entendesse e eles a nós, seriam logo cristãos,

porque eles, segundo parece, não têm, nem entendem em nenhuma crença.porque eles, segundo parece, não têm, nem entendem em nenhuma crença.porque eles, segundo parece, não têm, nem entendem em nenhuma crença.porque eles, segundo parece, não têm, nem entendem em nenhuma crença.

Eles não lavram, nem cEles não lavram, nem cEles não lavram, nem cEles não lavram, nem criam. Não há aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem riam. Não há aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem riam. Não há aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem riam. Não há aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem

qualquer outra alimária, que acostumada seja ao viver dos homensqualquer outra alimária, que acostumada seja ao viver dos homensqualquer outra alimária, que acostumada seja ao viver dos homensqualquer outra alimária, que acostumada seja ao viver dos homens. Nem comem senão desse inhame, Nem comem senão desse inhame, Nem comem senão desse inhame, Nem comem senão desse inhame,

que aqui há muito, e dessa semente e que aqui há muito, e dessa semente e que aqui há muito, e dessa semente e que aqui há muito, e dessa semente e frufrufrufruiiiitostostostos, que a terra e as árvores de si lançam., que a terra e as árvores de si lançam., que a terra e as árvores de si lançam., que a terra e as árvores de si lançam. E com isto

andam tais e tão rijos e tão nédios que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos.

Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro;

nem 1ho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados, como os de Entre

Doiro e Minho, porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá.

E nesta maneira, Senhor, dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta terra vi. E, se algum pouco

me alonguei, Ela me perdoe, pois o desejo que tinha de tudo vos dizer, mo fez pôr assim pelo miúdo.

Grifo Nosso.

QUADRO 1 - TRECHOS DA CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA

Podemos observar pela carta de Caminha, que o pouco contato com os

indígenas ele já tentou passar uma imagem para o Rei, cujos detalhes se

baseavam na comparação com a sua própria cultura. Diante das ações indígenas,

nus, vivendo da coleta dos frutos, mulheres e homens juntos, eram diferentes da

forma do europeu. Veja que o seu julgamento passa pelos valores que conhece:

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provavelmente não tem religião alguma? Andam nus, mas com inocência. Não

lavram a terra.

Agora vejamos, séculos depois, a carta de D. João VI.

TRECHOS DA CARTA RÉGIA DE D. JOÃO VITRECHOS DA CARTA RÉGIA DE D. JOÃO VITRECHOS DA CARTA RÉGIA DE D. JOÃO VITRECHOS DA CARTA RÉGIA DE D. JOÃO VI

“Tendo presente o quase total abandono em que se acham os Campos Gerais de Curitiba e osTendo presente o quase total abandono em que se acham os Campos Gerais de Curitiba e osTendo presente o quase total abandono em que se acham os Campos Gerais de Curitiba e osTendo presente o quase total abandono em que se acham os Campos Gerais de Curitiba e os Campos Campos Campos Campos

de Guarapuavade Guarapuavade Guarapuavade Guarapuava, assim como todos os terrenos que deságuam no Paraná e formam do outro lado as

cabeceiras do Uruguai, todos compreendidos nos limites desta capitania, infestados pelos índios infestados pelos índios infestados pelos índios infestados pelos índios

denominados bugresdenominados bugresdenominados bugresdenominados bugres, que matam cruelmente todos os fazendeirque matam cruelmente todos os fazendeirque matam cruelmente todos os fazendeirque matam cruelmente todos os fazendeiros e proprietários que nos mesmos os e proprietários que nos mesmos os e proprietários que nos mesmos os e proprietários que nos mesmos

paises tem procurado tomar sesmarias e cultivapaises tem procurado tomar sesmarias e cultivapaises tem procurado tomar sesmarias e cultivapaises tem procurado tomar sesmarias e cultiva----las em benefício do Estadolas em benefício do Estadolas em benefício do Estadolas em benefício do Estado; de tal maneira que em

todo terreno que fica a Óeste da estrada Real, desde a vila da Faxina até a vila de Lages, a maior a maior a maior a maior

parte das fazendas que estparte das fazendas que estparte das fazendas que estparte das fazendas que estão na dita estrada se vão despovoando, uma por terem os bugres seus ão na dita estrada se vão despovoando, uma por terem os bugres seus ão na dita estrada se vão despovoando, uma por terem os bugres seus ão na dita estrada se vão despovoando, uma por terem os bugres seus

moradores e outras com o temor de que sejam igualmente vítimas,moradores e outras com o temor de que sejam igualmente vítimas,moradores e outras com o temor de que sejam igualmente vítimas,moradores e outras com o temor de que sejam igualmente vítimas, e que até a mesma estrada chega a

não ser vadeável, senão viajores que são reunidos em grandes numerosos e bem armados”...

...”tendotendotendotendo----se verificado na minha real presença a inutilidade de todos os meios humanitários pelos se verificado na minha real presença a inutilidade de todos os meios humanitários pelos se verificado na minha real presença a inutilidade de todos os meios humanitários pelos se verificado na minha real presença a inutilidade de todos os meios humanitários pelos

quais tenho mandado que se tente a sua civilização e reduziquais tenho mandado que se tente a sua civilização e reduziquais tenho mandado que se tente a sua civilização e reduziquais tenho mandado que se tente a sua civilização e reduzi----los a aldeias e gozarem dos bens los a aldeias e gozarem dos bens los a aldeias e gozarem dos bens los a aldeias e gozarem dos bens

parmantes de uma sociedade pacífica e doce, debaixo das justas e parmantes de uma sociedade pacífica e doce, debaixo das justas e parmantes de uma sociedade pacífica e doce, debaixo das justas e parmantes de uma sociedade pacífica e doce, debaixo das justas e humanas leis que regem os meus humanas leis que regem os meus humanas leis que regem os meus humanas leis que regem os meus

povos,povos,povos,povos, até mostrando a experiência quanto inútil é o sistema de guerra defensiva:

“- Sou servido, por este e outros justos motivos que fazem suspender os efeitos da humanidade que Sou servido, por este e outros justos motivos que fazem suspender os efeitos da humanidade que Sou servido, por este e outros justos motivos que fazem suspender os efeitos da humanidade que Sou servido, por este e outros justos motivos que fazem suspender os efeitos da humanidade que

com eles tinha mandado praticar, ordenarcom eles tinha mandado praticar, ordenarcom eles tinha mandado praticar, ordenarcom eles tinha mandado praticar, ordenar----vovovovos:

““““---- Em primeiro logar, que desde o momento em que recebais esta minha Carta Régia, deixeis Em primeiro logar, que desde o momento em que recebais esta minha Carta Régia, deixeis Em primeiro logar, que desde o momento em que recebais esta minha Carta Régia, deixeis Em primeiro logar, que desde o momento em que recebais esta minha Carta Régia, deixeis

considerar, como principiada a guerra cantra estes bárbaros índios;considerar, como principiada a guerra cantra estes bárbaros índios;considerar, como principiada a guerra cantra estes bárbaros índios;considerar, como principiada a guerra cantra estes bárbaros índios; [...] [...] [...] [...] 5 Grifo Nosso.

QUADRO 2 – TRECHOS DA CARTA RÉGIA DE D. JOÃO VI

Essa Carta Régia provocou três grandes efeitos (MACEDO, 1951, p. 97):

Primeiro o de acoroçoar o morticínio dos índios;

Segundo o de legalizar a caça e a escravização dos índios;

5 Macedo, F. R. A. Conquista Pacífica de Guarapuava. GERPA. 1951. p.95 e 96.

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Terceiro de beneficiar diversas determinadas pessoas com a concessão de

vastas sesmarias.

Atividade II

As cartas I e II apresentam momentos diferentes do contato do europeu com o

indígena brasileiro. A primeira mostra o contato inicial, no litoral, onde ainda não

havia a ocupação efetiva por europeus. Afinal as capitanias hereditárias só foram

implementadas em 1532. Já a segunda, diz respeito à conquista do interior pelos

portugueses, no qual o indígena tornava um empecilho. Nesta atividade reúna-se

em grupo e pesquise:

1- Como foi a conquista do litoral brasileiro e a relação indígena – colonizador?

2- Depois da ocupação portuguesa com as capitanias hereditárias, como o europeu

passou a tratar o indígena?

3- Que relação há entre a chegada da família real no Brasil e a conquista do

interior, retratada na carta II.

4- Baseando-se nas cartas I e II, enumerem as concepções de indígenas

apresentadas pelos dois europeus, em épocas distintas.

2.2. As Agências de proteção indígena no Brasil

Nos séculos XVIII e XIX, os indígenas ganharam um grande defensor, o

Marechal Cândido Rondon, sertanista, militar, geógrafo e engenheiro de

comunicações telegráficas. Fundador da política indigenista, no Brasil, criou em

1910 o Serviço de Proteção aos Índios (SPI), lutou em prol da causa dos indígenas

e pela preservação de sua cultura enquanto viveu.

No entanto, esse órgão, SPI, nos anos seguintes deixou de ser humanitário,

com relação aos indígenas, para se tornar, na década de 1920, quase um

instrumento de opressão. “Foram criadas prisões indígenas, a punição e o

cumprimento da pena deixaram de ser controlados pelo Poder Judiciário, de tal

forma que a agência indigenista oficial, na época o Serviço de proteção ao Índio –

SPI -, órgão do Poder Executivo, passou a exercer a judicatura, apenando segundo

o critério do inspetor e procedendo a fiscalização do cumprimento da pena, isto é,

fiscalizando a si mesmo”. Por essa situação e outras, o SPI, acabou sendo fechado

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e substituído pela FUNDAÇÃO NACIONAL DOS ÍNDIOS – FUNAI – “que também

depois de vinte anos já estava tão corrupto e desacreditado quanto o seu

antecessor” (Grupioni. 2005. p.163). Existem muitas divergências quanto ao

trabalho executado pela FUNAI atualmente, vejamos a seguinte reportagem:

Questão indígena: ONGs assumem o papel do Estado

BRASÍLIA - A Fundação Nacional do Índio (Funai) está terceirizando para

Organizações Não-Governamentais (ONGs) a gestão de ações em aldeias

indígenas. Duas delas, o Centro de Trabalho Indígena (CTI) e o Instituto

Sócio-Ambiental (ISA), estrelas gigantes do setor, estão sendo acusadas

por indigenistas e organizações de utilizar a proximidade com a Funai para

atrair parcerias e recursos de governos e entidades internacionais. O CTI,

por exemplo, é hoje responsável pelo contato e proteção aos índios

isolados – como são chamados os selvagens sobre as quais pouco se

sabe. 6

Ao final dos anos 70 surgiram diferentes grupos e entidades não-

governamentais que passaram a dar voz aos indígenas, apoiando-os. Essas

entidades defendem que essa etnia decidam livremente sobre suas próprias vidas e

seu futuro, destacamos algumas: CIMI-Conselho Indigenista Missionários - DF,

CCPY-Comissão Pela Criação do Parque Yanomani SP, CTI-Centro de Trabalho

Indigenista - SP, OPAN-Operação Anchieta – MT entre outras. Hoje essas

discussões são muito mais amplas, a esse respeito e também porque os indígenas a

partir dessa década começaram a participar a atuar fazendo seus direitos terem

mais valor, principalmente os relacionados com a posse da terra.

Atividade III

Neste texto abordamos sucintamente sobre os órgãos de proteção indígena no

Brasil. Pesquisem os órgãos criados como protetores dos indígenas e sua duração,

desde a chegada dos portugueses.

Façam um painel com o nome do órgão, data, responsável e principais ações.

6 Fonte: Vasconcelos Quadros, Questão Indígena: ONGs assumem o papel do Estado. Jornal do Brasil. São Paulo, 24/01/2010. URL: www.jbonline.terra.com.br/pextra/2010/01/24e240117109.asp. Acesso em 13/07/2010.

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Agora em sala de aula vamos organizar a turma em grupo, cada grupo vai relacionar

dois pontos negativos e dois positivos destes órgãos estatais.

A apresentação dessas considerações será mediada pelo professor na forma de

debate, buscando refletir sobre as seguintes questões?

1. Quais foram e quanto tempo durou as instituições criadas pelo governo colonial,

imperial e republicano para tratar das questões indígenas?

2. Qual o papel de cada uma delas no avanço da inclusão social do indígena no

cenário brasileiro?

3. Como o órgão atual (Funai) trabalha as especificidades regionais?

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3 - OS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL

Mota (2008) afirma que os pesquisadores atualmente aceitam o fato que o

homem das terras americanas não é autóctone7 desse continente. Acreditam que

alguns têm origem do continente africano, outros vieram das ilhas do Oceano

Pacífico, outros afirmam que recebemos migrações de grupos humanos pelo

extremo sul do continente da Terra do Fogo - vindos da Austrália e Nova Zelândia,

e ainda muitos discutem a época da chegada dos primeiros humanos no continente

americano, datando de 300 mil anos antes do presente, através dos estudos dos

esqueletos humanos existente na região8.

Os nativos que aqui estavam, e foram considerados bárbaros hostis e sem

referência, pelos europeus, eram marginalizados por eles. Esses habitantes foram

quase todos dizimados apesar de algumas sociedades indígenas conseguirem

resistir ao domínio dos colonizadores.

Enquanto os indígenas dispunham da linguagem oral para transmitir sua

cultura de geração em geração, incluindo também símbolos, rituais e imagens, os

europeus dominavam os registros escritos com relatos sistematizados, impondo

assim a sua concepção de mundo e civilização.

FIGURA 1: GRAVURAS RUPESTRES ASSOCIADAS A SÍTIO ARQUEOLÓGICO COM CERCA DE 10.000 ANOS, SUDOESTE PARANAENSE.

Fonte: Vida Indígena no Paraná: Memória, Presença, Horizontes. (2006).

7 Minidicionário Ruth Rocha define autóctone sendo: Que, ou o que é originário do país em que vive. 8 Lúcio Tadeu Mota. Os Kaingang do Vale do Rio Ivaí - PR: história e relações interculturais: Maringá: Eduem, 2008.

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No Brasil há diferentes nações indígenas, dentre elas podemos citar: Tupi-

Guarani, Jê, Nuaruaque, Caraíba, entre tantas outras distribuídas por todo território

nacional.

Cada uma delas possui suas tradições, veja a figura 02, na qual demonstra

um ritual de dança e a figura 03, com o artesanato, ambos da cultura guarani.

FIGURA 2: RITUAL DE DANÇA DO XINGU

Fonte: http://pedrobiondi.wordpress.com/tag/amazonia/

FIGURA 3: CESTO GUARANI, PARANÁ, 1880. ACERVO MUSEU PARANAENSE.

Fonte: Vida indígena no Paraná - Memória, presença, horizontes (2006).

Buscando os direitos que a muito lhes foram extirpados, os indígenas lutam

para ocupar um espaço social, participam de discussões em todos os níveis,

municipais, estaduais e federais, e até mesmo dispõe de representantes no cenário

político, bem como possuem entidades de apoio, que visam garantir sua cidadania.

O índio Daniel Munduruku acredita que, se todos tivessem acesso sobre os

livros escritos por índios, principalmente às crianças, todos teriam a chance de

conhecer que eles são de verdade, sem os estereótipos que duram mais de 500

anos e que foram ensinados. Um trabalho importante para derrubar preconceitos

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antigos e, de quebra, ainda recuperar a pureza das brincadeiras que, pelo menos, as

crianças índias ainda preservam. 9

Nas terras brasileiras atualmente temos por volta de 200 sociedades

indígenas diferentes, falando cerca de 170 línguas e dialetos reconhecidos10. E

essas sociedades possuem características diversas, os indígenas não são

homogêneos, possuem particularidades entre os grupos, pois seus costumes, seus

ritos, danças e concepções são diferentes. A localização dos mesmos é diversa

pelo território brasileiro desde os lugares mais longínquo das matas até próximos

aos centros urbanos, ou mesmo nas periferias das cidades.

FIGURA 4: MAPA DE PARQUES E TERRAS INDÍGENAS DO BRASIL

Fonte: http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/mapas/imagens/terras_indigenas_gde.gif.

9MUNDURUKU, Daniel. Valores indígenas em livro. Disponível em: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/atitude/daniel-munduruku-indio-brasileiro-livro-505768.shtml. Acesso em: 28/04/2010.

10 Luiz Donizete Benzi Grupioni. Org. Índios no Brasil. São Paulo, Global. Brasília, MEC 2000.

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O professor Ayron Dall’Igna Rodrigues classifica as línguas indígenas da

seguinte forma:

No que diz respeito às línguas indígenas no Brasil, por sua vez, há dois grandes troncos - Tupi e Macro-Jê - e 19 famílias lingüísticas que não apresentam graus de semelhanças suficientes para que possam ser agrupadas em troncos. Há, também, famílias de apenas uma língua, às vezes denominadas “línguas isoladas”, por não se revelarem parecidas com nenhuma outra língua conhecida.

É importante lembrar que poucas línguas indígenas no Brasil foram estudadas em profundidade. Portanto, o conhecimento sobre elas está permanentemente em revisão (Rodrigues, 1986, p. 134).

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Tronco Tupi

Família Tupi-Guarani Arikém Aweti Juruna Mawé Mondé Puroborá Munduruké Ramarama Tupari

Lígua Akwáwa Karitiána Awenti Juruna Mawé Aruá ** Kuruáya Káro (Arara).Amanayé (Yuruna) (Sateré-Mawé) Cinta-LargaAnambé Xipaia Gavião (Ikôro) Arujú(Mayoró)Apiaká Mondé MakurapAraweté Suruí (Paitér) MekémAsurini do Xingu Zoró Sakirabiár

Dialetos (Asurini do Koatinemo) TupariAvá-CanoeiroGuajáGuaraniKaapór(Urubu-Kaapór)KamayaráKayabíKawahíbKokámaLíngua Geral Amazônica Suruí do TocantinsTapirapéTenetehára Wayampé(Waiãpi, Oiampi)XetáZo'e ( Puturú)

Puroborá (é um povo cuja língua há documentos dos anos 20 (Th. Koch - Grumberg) e dos 50 anos (W. Hanka) e de que há ainda alguns remanescentes dispersos de Porto Velho até o Guaporé e o pessoal do Setor Lingístico do Museo Goeldi tem contactado alguns e gravado dados linguísticos.

Kambeba

Guajajara e Tembé

Língua Geral Amazônica (Nheengatú). É Amazônica para distinguir Zoe (Puturú) da outra Língua Geral, a Paulista, agora já extinta; Nhengatú é um nome um tanto artificial, que lhe deu no Gen. Couto de Magalhâes em seu livro de 1876 - O Selavagem.

Asurini do Tocantins ( Asurini do Trocará)

e Parakamá

Kokáma e Omágua

Kawowá, Mbyá, e Nhandéva

Paritintin, Diahói, Juma, Karipúna,Tenharin e Uru-Eu-Wav-Wav

*

*

**

FIGURA 5: CLASSIFICAÇÃO DAS LÍNGUAS INDÍGENAS ATRAVÉS DO TRONCO TUPI FONTE: POVOS INDÍGENAS NO BRASIL. Troncos e Famílias.

http://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/linguas/troncos-e-familias Acesso 15/07/2010.

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Tronco Macro-Jê

Família Boróro Krenák Guató Jê Karajá Marcakali Ofayé Rikbaktsá Yaté

Lígua Boróro Krenák Guató Javaé Marcakali Ofayé Rikbaktsá YatéUmutina Karajá Pataxó e

Xambioá PataxóHã-Hã-Hãe

Akwén TapayúnaDialetos Apninagué

KaingángKayapóPanaráSuyá

TimbiráKubenkrankegn, Menkrangnoti, Xoklíng

Kaingáng do Sudoeste e Kaingáng do Sudeste

Gorotine, Kararaô, Kokraimoro

Xakriabá, Xavánte eXerente

Kaingáng do ParanáKaingáng Central

Krahô Krenjê (Krenyé)e Krikati (Krinkati)

Canela ApaniekraCanela Ramkokamekra

Mentuktire (Txukahamãe) eXikrin

Gavião do Pará (Parkateyé)Gavião do Maranhão (Pukobiyé)

FIGURA 6: CLASSIFICAÇÃO DAS LÍNGUAS INDÍGENAS ATRAVÉS DO TRONCO MACRO-JÊ FONTE: POVOS INDÍGENAS NO BRASIL. Troncos e Famílias.

http://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/linguas/troncos-e-familias Acesso 15/07/2010.

Os indígenas sempre foram considerados diferentes dos europeus, essa

diferença foi utilizada como argumento para legitimar uma relação hierárquica de

poder que conduziu a verdadeiro genocídio, através das disputas de terras com os

índios, do desgaste do trabalho escravo, das enfermidades surgida com o contato

com os brancos. Com isso, surgiu um etnocídio com a desmoralização criada ao

momento que foram cedendo aos caprichos às exigências dos novos ocupantes,

foram perdendo suas características ao serem forçados a se enquadrar no mundo

dos brancos.

No Brasil mesmo com hostilidade dos europeus algumas tribos sobreviveram

ilhadas, considerados pertencentes uma parcela remanescente da população

original, fazendo parte da civilização com todos os preconceitos e dominação do

poder político, econômico e social. As participações indígenas nas questões

políticas sempre apareceram, desde o mais simples pedido de roupas,

mantimentos, até as reivindicações mais severas de armamentos, em determinados

períodos da história, para lutar contra aqueles que adentrassem ao seu território.

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Os indígenas, também desenvolveram suas próprias políticas para manter seus

territórios enquanto populações diferentes entre si. Atualmente, outras demandas

surgiram e novas formas de inserções políticas têm sido conquistadas por esses

grupos étnicos.

Considerar a necessidade de adquirirmos conhecimentos indígenas no mundo

contemporâneo está sendo cada vez mais visível. Com a crise ambiental mundial,

por exemplo, começa a considerar importante a convivência harmônica que os

indígenas tiveram e tem com a natureza, reconhecendo o respeito com as matas,

os rios, a fauna, pois eles sempre souberam manter um respeito, mesmo utilizando

dos recursos disponíveis para atender as suas necessidades, não comprometendo

a biodiversidade.

A influência das florestas tropicais nas condições climáticas e,

consequentemente, na qualidade de vida de todos os continentes; a

importância da manutenção da diversidade biológica; a percepção de que

a natureza também é tecnologia, tecnologia de produção, num momento

em que a própria tecnologia se revela nossa segunda natureza; a riqueza

de um saber tradicional que preserva o meio-ambiente porque tem como

princípio cuidar do mundo e porque se percebe como parte integrante da

natureza – tudo isso vem suscitando a reavaliação da existência do índio,

a descoberta do alto valor de sua cultura para o mundo contemporâneo e

uma articulação inédita desta com a cultura de tecno-científica.

Considerando-se ainda que cada vez mais nos tornamos capazes de

apreciar a originalidade e a profundidade do saber que perpassa sua

constituição sócio-política – sociedade sem Estado e contra o Estado -, a

cultura dos povos indígenas do Brasil deixa, então, de ser herança

negativa para tornar-se uma contribuição fértil e promissora para a

sociedade brasileria e para toda a humanidade (GRUPIONI, 2005, p. 30 e

31).

De acordo com Darcy Ribeiro (1996, p. 488) as populações indígenas do

Brasil moderno (séc. XX) são classificadas em quatro categorias:

1- Isolados – São grupos que vivem em zonas não alcançadas pela sociedade

brasileira, só tendo experimentado contatos acidentais e raros com “civilizados”.

Apresentam-se como simplesmente arredios ou como hostis.

2- Contato intermitente – Corresponde àqueles grupos cujos territórios começam a

ser alcançados e ocupados pela sociedade nacional. Ainda mantêm certa

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autonomia cultural, mas vão surgindo necessidades novas cuja satisfação só é

possível através de relações econômicas com agentes da civilização.

3- Contato permanente – Incluímos nesta categoria os grupos que perderam sua

autonomia sociocultural, pois se encontram em completa de pendência da

economia regional para o suprimento de artigos tornados indispensáveis. No

entanto, ainda conservam os costumes tradicionais compatíveis com sua nova

condição, embora profundamente modificados pelos efeitos cumulativos das

compulsões ecológicas, econômicas e culturais que experimentaram.

4- Integrados - Estão incluídos nesta classe aqueles grupos que, tendo

experimentado todas as compulsões referidas, conseguiram sobreviver, chegando

a nossos dias ilhados em meio a população nacional, a cuja economia se vão

incorporando como reserva de mão-de-obra ou como produtores especializados em

certos artigos para o comércio. Em geral vivem confinados em parcelas de seus

antigos territórios, ou, despojados de suas terras, perambulam de um lugar para

outro.

Atividade IV

A Diversidade Cultural como já discutimos em outro momento é riquíssima no Brasil,

nesse capítulo estamos destacando a variação lingüística dos indígenas. Para que

possamos entender melhor sobre esse assunto, que tal pedimos auxílio para o (a)

professor(a) de Língua Portuguesa para completar nosso conhecimento sobre as

variações lingüísticas existe no Brasil. A socialização de conhecimentos é benéfica e

eles podem ser nossos colaboradores.

Vocês sabem que herdamos muitas palavras dos indígenas, que nem sempre

damos importância, vamos pesquisar quais são e montar um dicionário com essas

palavras e divulgá-las para os demais alunos do Ensino Médio do colégio, na hora

do recreio e depois deixar exposto em mural.

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4 - A CONQUISTA DOS DIREITOS INDÍGENAS: DOCUMENTOS OFICIAIS E

LUTAS SOCIAIS

O marco na história indígena com relação aos seus direitos está na

Constituição de 1988 onde contém um capítulo específico (231), reconhecendo o

direito à cidadania. Deputados e senadores receberam em vários momentos as

lideranças indígenas para debater e acertar o que deviria constar na nova

Constituição do Brasil, entre eles destaca o senador Severo Gomes, que foi um

grande articulador das reivindicações dos índios brasileiros na Constituição de

1988. Veja alguns trechos importantes:

CAPÍTULO VIII DOS ÍNDIOS

Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.

§ 1º - São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.

§ 2º - As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.

§ 3º - O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivadas com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei.

§ 4º - As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis.

§ 5º - É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, "ad referendum" do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco.

§ 6º - São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo,

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ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé.

§ 7º - Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, § 3º e § 4º.

Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo. 11

Observem que em todos os parágrafos do capitulo da legislação está garantido o direito a terra para sua sobrevivência. Diante de exposto podemos estabelecer alguns questionamentos: O que você pensa sobre a propriedade privada da terra e o direito a propriedade? Como isso está diretamente ligado na manutenção da vida do indígena e de suas terras?

Há diferentes documentos e eventos que discutem a questão, dentre eles os citados pelo antropólogo Beto Ricardo, no Quadro 3.

por Beto Ricardo, antropólogo, sócio-fundador do In stituto Socioambiental

(ISA). Artigo publicado originalmente no livro Povos Indígenas no Brasil 1991-

1995 (pág. 90-91)

A agenda colocada pela sociedade nacional e internacional nos últimos anos para

"os índios" no Brasil, funcionou como mecanismo de pressão para a produção de

uma representação ou representações da indianidade genérica. Refiro-me ao

seguinte conjunto de processos e eventos: a elaboração da Constituição Federal

(1987/88) a reunião da ONU sobre ecologia e desenvolvimento no Rio (1992), 12 as

comemorações ou anticomemorações dos 500 anos da chegada de Colombo à

América (1992), a tramitação do Estatuto das Sociedades Indígenas no Congresso

Nacional (1992/94), o término do prazo constitucional para a demarcação de todas

as terras indígenas (1993), a revisão da Constituição (1993/94) e as eleições

presidenciais (1994). Em 1995, o governo do presidente FHC deu o mote ao

acender uma enorme polêmica nacional e internacional com o anúncio de um novo

decreto estabelecendo regras para a demarcação de terras indígenas, finalmente

11 Fonte: Constituição da República Federativa do Brasil. 12 Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento (também conhecida como Cúpula da Terra, Eco 92 ou Rio 92) reuniu 108 chefes de Estado para buscar mecanismos que rompessem o abismo de desenvolvimento entre o norte e o sul do planeta, mas preservando os recursos naturais da Terra.

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formulado pelo ministro da Justiça Nelson Jobim e promulgado sob o número 1775,

no início de 1996. Fonte: http://pib.socioambiental.org/pt/c/iniciativas-

indigenas/organizacoes-indigenas/historia. Acesso em 08/06/2010.

QUADRO 3 - QUEM FALA EM NOME DOS ÍNDIOS?

Atividade V

Pesquisando na internet sobre a Constituição de 1988 referentes ao artigo 231 e os

demais documentos citados no texto do antropólogo Beto Ricardo, terão

conhecimentos mais apurados.

Com a pesquisa realizada vamos dividir as tarefas, formaremos 5 grupos, cada

grupo com uma parte

O primeiro grupo irá explicar o que é Constituição, quantas que o Brasil já teve e

quais alterações ocorreram sobre a questão indígena em cada uma delas;

O segundo grupo comentará sobre o artigo 231 da Constituição especificamente;

O terceiro grupo irá esmiuçar sobre os documentos citados por Beto Ricardo;

O quarto grupo depois de realizada a pesquisa, na internet irá elaborar perguntas

para questionar os colegas no momento da apresentação;

O quinto grupo organizará as idéias das apresentações e dos questionamentos dos

grupos anteriores, para montar um mural explicativo de todas essas informações e

expor esse material em lugar de destaque da escola para que todos da comunidade

escolar possam ler e tirar suas próprias conclusões, sobre o que se tem feito pelos

indígenas do Brasil nos últimos anos.

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5 - MÍDIAS E A QUESTÃO INDÍGENA

A imprensa quando trata de assunto referente aos indígenas, o faz de forma

casual, simplesmente como um fato sem muita expressão, sem buscar as causas

dos acontecimentos. No entanto, a jornalista Priscila Siqueira diz: (Grupioni, 2005,

p.230) “quando está em jogo a questão indígena, nosso compromisso de jornalista,

de formador de opinião pública, é ainda maior”. As notícias muitas vezes são de

forma aligeirada, distorcidas sem um cunho explicativo, sem democratizá-las, serve

somente para interesse de alguns e não de uma sociedade participativa.

“A Imprensa Nacional não prestigia a nossa causa; a luta indígena no país

só recebe apoio da Imprensa Internacional” essa é a fala do índio Marcos Terena

coordenador da Conferência Mundial dos Povos Indígenas sobre o território, meio

ambiente e desenvolvimento realizado 25 a 31 de maio de 1992 no Rio de Janeiro

–Rio 92 - (GRUPIONI, 2005, p.227). Outra situação curiosa é a comemoração do

dia do Índio, será que se tem trabalhado nas escolas os valores, os preconceitos

para com o indígena e a cultura desse povo? Acredita-se que não, está embutido,

impregnado da forma como foi repassado e ainda é pelos livros didáticos que são

deficientes no trabalho da diversidade étnica e cultural indígena. Esse fato já

poderia ser diferente, ainda mais hoje que temos uma gama de informações

através de debates, vídeos, documentários, entre outras, esclarecendo e contando

como os indígenas estão e o que eles pensam dessa sociedade que aos poucos

estão sendo inseridos. Eles não são folclóricos, estão participando de vários

segmentos da sociedade brasileira. Muitos índios já conquistaram seu espaço em

universidades brasileiras, mesmo assim sentem a discriminação do povo não índio,

só que não desistem de lutar pelas suas raízes.

As ONGs ou outros defensores dos indígenas dizem que o problema

indígena é fundamentalmente político e econômico, mas nem sempre estão à frente

nessa situação, tudo depende se é interessante para aquele momento defender ou

não os indígenas.

Luiz D. B. Grupioni faz um comentário pertinente:

As organizações não-governamentais, que realizam campanhas de apoio

aos índios e produzem material informativo de qualidade sobre eles, têm

atingido uma parcela muito reduzida da sociedade. O Estado brasileiro,

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por sua vez, tem implementado políticas e programas de assistência aos

índios sem levar em consideração o conhecimento disponível sobre estas

populações e mesmo a opinião grupos. Preconceito, desinformação e

intolerância têm, assim, cercado as populações indígenas do Brasil.

(GRUPIONI, 2005, p.13).

Atividade VI – ANÁLISE DE JORNAIS

1. Leia atentamente parte das reportagens que seguem, as mesmas

encontram-se completas nos links indicados no final do quadro das

reportagens:

TEXTO 1 - Após impasse, empresa fecha acordo para i nstalar rede elétrica em aldeia indígena.

Giuliana Miranda de São Paulo Após um ano de impasse, a Enersul (Empresa Energética de Mato Grosso do Sul) vai voltar a instalar energia elétrica nas aldeias indígenas do Estado. A companhia e o Ministério Público Federal chegaram um acordo e, até o fim do ano, as 428 famílias que aguardam o serviço devem ser atendidas. "As aldeias vão poder ter geladeira nos postos de saúde, vão poder guardar remédios e vacinas", disse Anastácio Peralta um dos coordenadores da Comissão dos Direitos dos guaranis caiuá. Em reunião com o Ministério Público Federal, em maio deste ano, representantes da Enersul sinalizaram que a alta taxa de inadimplência em aldeias de outras regiões seria a causa da recusa no atendimento. Depois de ser comunicada oficialmente pela procuradoria, a Enersul recuou e aceitou retomar o serviço, após a confirmação da inclusão dos índios no Programa Luz para Todos, do governo federal. As famílias indígenas que tenham renda mensal per capita de até meio salário mínimo (R$ 255) e recebam benefícios públicos de assistência social terão direito a isenção de pagamento, para consumo de até 50 kWh por mês. De acordo com o Ministério Público Federal, serão organizadas palestras para conscientizar os índios quanto ao uso racional e combate ao desperdício de energia elétrica. Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/poder/754563-apos-impasse-empresa-fecha-acordo-para-instalar-rede-eletrica-em-aldeia-indigena.shtml. Publicação 21/06/2010. Acesso em 12/07/2010.

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TEXTO 2 - Índios invadem sede da Funai em Curitiba contra decreto que reestrutura órgão

Estelita Hass Carazzai da Agência Folha, em Curitiba. Assinado no final de dezembro, o documento prevê o fechamento de dezenas de administrações regionais e postos indígenas no país entre eles, a sede administrativa em Curitiba. Os índios prometiam continuar no local até hoje. No sudoeste do Estado, onde se concentra a maior parte da população indígena paranaense, também houve manifestações: cerca de 150 índios bloquearam a BR-373, próximo a Pato Branco, entre 14h e 18h. Quando o decreto entrar em vigor, diz o cacique curitibano Carlos Ubiratan dos Santos, os cerca de 20 mil índios do Estado terão que se deslocar para a cidade catarinense de Chapecó (a 480 km de Curitiba) ou para o litoral de São Paulo, em Itanhaém (340 km de Curitiba), para falar com a Funai. Segundo Santos, os índios precisam recorrer com frequência à Funai, que fornece desde sementes e assistência agrícola aos que vivem no interior do Estado até documentos como certidões de nascimento. A assessoria de imprensa da Funai em Brasília não trabalhou ontem. O presidente da Funai, porém, tem declarado que, com a nova estrutura, a entidade terá mais profissionais e maior capilaridade para atender à comunidade indígena. Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u678361.shtml.Publicação 13/01/2010. Acesso em 12/06/2010. TEXTO 3 - Índios invadem sede da Funai em Curitiba e interditam a BR-373 por cinco horas Cerca de 50 índios invadiram a sede da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Curitiba , por volta das 11 horas da manhã desta terça-feira (12). Outra manifestação ocorreu nos quilômetros 450 e 461 da BR-373, próximo ao município de Chopinzinho , entre Guarapuava e Pato Branco, no Sudoeste do Paraná. Nestes locais, os índios da Aldeia Mangueirinha ocuparam a pista da rodovia por mais de cinco horas, entre as 14h e as 19h. Segundo a Polícia Rodoviária Federal , um congestionamento de três quilômetros foi formado. Os índios protestam contra o decreto assinado no final de dezembro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva , prevendo a reestruturação da Funai. A principal reclamação é que, com o decreto, alguns postos indígenas, como o de Curitiba, seriam fechados. De acordo com o cacique Carlos Ubiratan , da tribo urbana de Kakané Porã, o fechamento do posto de Curitiba faria com que as 35 famílias que vivem na cidade fossem obrigadas a se deslocar para Santa Catarina quando precisassem de apoio da Funai. A vice-presidente da Ong Aldeia Brasil, Sandra Terena , informou que cerca de 20 mil índios vivem só no Paraná. No estado, existem postos da Funai em Guarapuava,

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Londrina e Paranaguá, além de Curitiba. Ela destacou que os postos da Funai em outros estados também pode ser fechados em breve. FONTE: http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=962662&tit=indios-invadem-sede-da-Funai-em-Curitiba-e-interditam-a-BR-373-por-cinco-horas.PUBLICAÇÃO 12/01/2010. ACESSO EM 12/07/2010.

Agora que você leu todas as reportagens, escolha uma delas e faça em seu

caderno um registro das seguintes reflexões.

1. Anote a reportagem que você escolheu para analisar, indique a data e o nome do

editor.

2. Qual o problema relatado?

3. A reportagem da voz aos dois envolvidos, indígenas ou não?

4. Qual a mensagem que a reportagem deixa ao finalizá-la.

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6 - INDÍGENAS NO PARANÁ

O Paraná durante muitos anos na história foi considerado como um grande

vazio demográfico, como um território despovoado, sem a presença indígena, a

partir de vários estudos, pesquisas, mais aprofundados (1958 foram achados

vestígios arqueológicos nas margens do rio Ivaí), constatou-se que a existência

desse grupo étnico em terras paranaenses data-se de 8 mil anos atrás. Teve época

que os governantes estimularam a imigração e a migração, de europeus, assim nos

relatos históricos fala-se da presença dos brancos apagando a presença indígena

na região. Existe uma lenda polonesa que diz: O Paraná antes da chegada dos

poloneses estava envolvido por um grande nevoeiro há séculos e, depois, se livrou

da fumaça com a ajuda da Virgem Maria que havia indicado aos pobres poloneses

para que ocupassem essas terras. É como se antes deles a terra não fosse

ocupada. Assim como essa lenda, outras, envolvendo outros grupos sociais

europeus ou mesmo de descendente de vindos de outros lugares do Brasil para o

Paraná, reforçam a idéia do Paraná deserto, que passa a ter vida, depois da

chegada dos imigrantes, ou migrante.

Com isso, percebe-se que embora muitos historiadores, geógrafos,

sociólogos, entre outros pesquisadores, registrem sempre a presença dos

indígenas no território paranaense, outros registros e documentos descrevem o

grande vazio demográfico. Isso ocorreu pelo fato de que os indígenas, por muito

tempo, viviam como nômade pelos campos e matas. A mudança do nomadismo só

ocorreu por volta da década de 30.

FIGURA 7: VASILHAME CERÂMICO RELACIONADO AOS ANCESTRAIS DE POVOS JÊ NO PARANÁ. Acervo Museu Paranaense (Foto Macacheira – Secretaria de Estado da Cultura).

Fonte: Vida Indígena no Paraná: Memória, Presença, Horizontes (2006).

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As terras do Paraná pertenceram a vários grupos indígenas, entre eles

destacam-se os Kaingang, Xocleng, Guarani e Xetá. Hoje os Kaingang são a

maioria. Na bibliografia arqueológica são conhecidos como “Tradição Casa de

Pedra”, mesmo com vários documentos pouco se sabe sobre seus ascendentes

pré-históricos.

FIGURA 8: KAINGANG ESCALA ARAUCÁRIA PELA SERIGÓIA, CORDA TRANÇADA COM CIPÓS, PARA COLETAR PINHÕES, EM PALMAS – PR, 1939. ACERVO MUSEU PARANAENSE.

Fonte: Vida indígena no Paraná: memória, presença, horizontes/ Claudia Inês Parellada... [et at.].-Curitiba:PROVOPAR Ação Social/PR,2006.

A região de Guarapuava, uma das primeiras terras do Paraná conquistadas

a oeste, contava com um grande número de povos indígenas, os Kaingang. Lutas e

mortes, episódios muito violentos foram fortes nessa região entre brancos

(viajantes e líderes de expedições) e índios, ambos lutando por terras do território

guarapuavano. Em 1810 uma expedição comandada por Diogo Pinto13 chegou às

terras de Guarapuava no lugar chamado Atalaia para expandir espaços para as

fazendas de gado. Naquela ocasião se depararam com os Kaingang, lutas intensas

ocorreram entre os militares e os índios de posse dessas terras que perdurou por

13 Tenente Coronel Diogo Portugal Pinto foi o comandante da Real Expedição Colonizadora de Guarapuava destinada por D. João VI. Faziam parte de expedição também o Tenente Antonio da Rocha Loures e para catequizar os índios, o Padre Francisco das Chagas Lima e mais 200 soldados, chegando nessas terras dia 17 de junho de 1810, nas margens do rio Coutinho, formando o Povoado Atalaia. Marcondes, G. G. Guarapuava: História de Luta e Trabalho. Guarapuava: Unicentro, 1998, p. 50

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muitos anos. Os Kaingang não assistiram passivamente à ocupação dos seus

territórios, sempre estavam prontos para atacar vilas, como também destruíram

sepulturas, cruzeiros, ranchos, tudo que eram relacionados aos brancos.

A atual Terra Indígena de Marrecas no lado direito da margem do rio Ivaí, foi

à primeira terra a ser demarcada no Paraná (1878), serviu de exemplo para que

muitos outros grupos indígenas ao longo do rio pudessem efetuar o mesmo tipo de

reivindicação. Esse grupo instalado no rio Marrecas mesmo obtendo essa

demarcação teve que continuar lutando por seus territórios desde o final do século

XIX até metade do XX, só que desde o momento dessa demarcação, aos poucos

foram sendo reduzidos por decretos governamentais à medida que os fazendeiros

iam invadindo as terras até chegar à demarcação atual (16.538,58 hectares).

Com as demarcações de terras, houve uma grande concentração dos

indígenas nas vilas das Terras Indígenas, com escolas, postos de saúde, perto dos

recursos sociais onde obtiveram mais conforto, deixaram então de ser nômades,

alterando suas atividades agrícolas, ou seja, tiveram que mudar a forma de

produzir, ocupando sempre a mesma área não dando tempo da terra descansar,

com isso ocorreu uma intensa degradação ambiental nas terras indígenas por

estarem explorando os recursos sempre nas mesmas áreas.

FIGURA 9: ÍNDIA KAINGANG NA TROCA DO ARTESANATO POR ALIMENTOS. AO FUNDO, NOVO MODELO DE CASA INDÍGENA DA COHAPAR, 2006.

Fonte: Vida Indígena no Paraná: Memória, Presença, Horizontes (2006).

O nomadismo fazia parte da cultura indígena, que andava por vastas terras e

mantinham sua relação de subsistência explorando os lugares, conforme sua

necessidade. O confinamento em terras delimitadas, com áreas muito menores do

que aquela necessária à reprodução de suas práticas fez com que os indígenas

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tivessem dificuldades de manter a forma de sua produção e, inclusive, de conseguir

produzir o suficiente para sua subsistência.

Hoje as comunidades indígenas brasileiras enfrentam problemas ambientais

como o lixo, nem as florestas, nem as aldeias, conseguem absorver esse lixo que

muitas vezes acabam contaminando os rios próximos. Ora, não podendo mais se

automanter com produtos da terra o indígena começou adquirir produtos urbanos e,

com isso, também começou a fazer parte da produção de lixo.

O desaparecimento de muitos indígenas aconteceu por causa de lutas

travadas com os brancos e também pelo contato direto com o branco que os tornou

vulneráveis a doenças contagiosas. Também muitas mudanças aconteceram na

cultura, nos ritos, acabaram perdendo a autonomia econômica, passaram a

depender cada vez mais das políticas públicas. Essa por sua vez, não dispõe de

atividades suficientes para atender a demanda indígena.

A cultura indígena, embora ameaçada, está por todo lado, observe as

curiosidades apresentadas no quadro 04:

Brincadeiras IndígenasBrincadeiras IndígenasBrincadeiras IndígenasBrincadeiras Indígenas

Com uma peia, isto é, uma corda de couro ou fibra nos pés, subiam em

pinheiros e palmeiras; atiravam-se nas corredeiras e cachoeiras amarrados

em cipós; atravessavam rios a nado ou agarrados nas pinguelas (pontes

improvusadas). As meninas brincavam com bonecas de espigas de milho,

ou um pedaço de mandioca, nos quais colocavam cabelos de milho,

colares e enfeites de penas.

Costumes IndígenasCostumes IndígenasCostumes IndígenasCostumes Indígenas

Você já se imaginou nu nas geadas guarapuavanas? Pois eram assim que

viviam as crianças caingangues. Para se aquecerem tinham apenas o

calor do sol ou o fogo. Os homens também andavam nus. Usavam uma

corda fina e trançada na cintura. Nas pernas usavam um cordão onde

prendiam os pêlos de porco-do-mato para se protegerem das cobras. No

frio usavam uma espécie de poncho, tecido com a fibra de urtiga grande.

Essa peça era pintada de preto com broto de taquara, para ficar mais

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quente. Pai, mãe e filhos dormiam com os pés voltados para o fogo

formando uma roda, deitados sobre a palha de milho ou peles de lobo

guará. Homens e mulheres raspavam as sobrancelhas, as pernas e

arrancavam as pestanas e os cabelos do corpo. Adoravam pinta-lo

adorná-lo, com penas, brincos e colares feitos com caroços, dentes e unhas

de animais. As crianças pintavam-se com barro. As mulheres, como os

homens e as crianças, andavam nuas, porém algumas delas, como a índia

camé de Guarapuava, já cobria o corpo com uma tanga branca, tecida

com fibras de urtiga grande, que cobria da cintura até o joelho, caindo em

forma de franjas. Este era o seu traje de festas.

Herança IndígenaHerança IndígenaHerança IndígenaHerança Indígena

O índio participou na formação do povo brasileiro e muitos de seus usos e

costumes ainda estão presentes em nossa vida diária. Entre outros cita-

se o uso do mate friomate friomate friomate frio (tererê), em cuia de porungo; da carne sem tempero ecarne sem tempero ecarne sem tempero ecarne sem tempero e

assada na brasaassada na brasaassada na brasaassada na brasa (no espeto oi no moquém, isto é, grelha de varas); do do do do

ponchoponchoponchoponcho como agasalho para o frio (curu-cachá); o uso da rederederederede e dos

ranchos de chão batidoranchos de chão batidoranchos de chão batidoranchos de chão batido; a conservação da carne pela defumaçãoconservação da carne pela defumaçãoconservação da carne pela defumaçãoconservação da carne pela defumação e a

conservação do pinhão pela água correntedo pinhão pela água correntedo pinhão pela água correntedo pinhão pela água corrente, eram muito usadas.

Herdamkos também os alimentos derivados do milho (farinha de beiju,

canjica, fubá, pipoca) farinha de pau (mandioca). A cura de muitas

doenças pelo poder medicinal das plantas, o uso do banho diário, o parto

de cócoras. O artesanato de cestaria com fibras naturais, como a taquara,

os cipós, a criciúma, etc.Inúmeros nomes próprios: Guarapuava, Candói,

Iguaçu, Guará, Guairacá, Covo, Chopim, Xapecó, etc. A denominação de

animais e aves: quati, capivara, arara, uru, e outros. De plantas: embira,

urtiga, samambaia, xaxim, etc. Costumes como o mutirão (trabalho

coletivo), a coivara, isto é, a agricultura de queimadas que apesar de

predatória, ainda é muito usada no interior. A pajelança ou

curandeirismo, bastante praticado pelas classes de menor cultura

(Marcondes. 1998 p. 44,45 e 46).

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QUADRO 4 - CURIOSIDADES INDÍGENAS CONTADAS PELA PROFESSORA GRACITA GRUBER MARCONDES.

FIGURA 10: ÍNDIA XOKLENG TECE MANTA COM FIBRAS DA URTIGA BRAVA, 1950. ACERVO MUSEU PARANAENSE

(Foto: Vladimir Kozák). Fonte: Vida Indígena no Paraná: Memória, Presença, Horizontes (2006).

Conforme dados elaborados pela FUNAI, existem no Estado do Paraná

aproximadamente 10.000 indígenas, habitando 85.264,30 hectares de terra. Esta

área está distribuída em 17 terras abrigando as etnias Kaingang, Guarani e 6

remanescentes do povo Xetá, conforme o quadro 05.

Terras Indígenas

Aldeias Tribos População Municípios Área (Ha)

Palmas Sede, Vila Alegre Kaingang 650 Palmas-PR e Abelardo Luz-

SC

2.944,00

Mangueirinha Sede, Paiol Queimado, Fazenda,

Palmeirinha, Água Santa e Mato

Branco

Kaingang Guarani

1.617 Chopinzinho, Mangueirinha

e Coronel Vivida

17.308,07

Rio das Cobras Sede, Campo do Dia, Taquara, Pinhal, Lebre,

Trevo, Papagaio e Vila Nova

Kaingang Guarani

Xetá

2.263 Nova Laranjeiras e Espigão Alto

do Iguaçu

18.681,98

Ocoy Sede Guarani 172 São Miguel do Iguaçu

231,88

Marrecas Sede e Campina Kaingang Xetá

385 Turvo e Guarapuava

16.538,58

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Ivaí Sede, Laranjal e Bela Vista

Kaingang 877 Manoel Ribas e Pitanga

7.306,34

Rio D’Areia Sede Guarani 51 Inácio Martins 1280,56

Faxinal Sede e Casulo Kaingang 450 Cândido de Abreu

2.043,89

Queimadas Sede, Aldeia do Campo

Kaingang 355 Ortigueira 3.081,00

Mococa Sede e Gamelão Kaingang 79 Ortigueira 848,00

Apucaraninha Sede, Toldo, Vila Nova e Barreiro

Kaingang 662 Londrina 5.574,00

Barão de Antonina

Sede, Cedro e Pedrinha

Kaingang 395 São Jerônimo da Serra

3.751,00

São Jerônimo da Serra

Sede e Guarani Kaingang Guarani

Xetá

375 São Jerônimo da Serra

1.339,00

Laranjinha Sede Guarani 303 Santa Amélia 284,00

Pinhalzinho Sede Guarani 88 Tomazina 593,00

Ilha da Cotinga Sede Guarani 68 Paranaguá 824,00

*Guaraqueçaba Sede Guarani 62 Guaraqueçaba 861,00

Tekoha – Añetetê

Sede Guarani 163 Diamante do Oeste e

Ramilândia

1.744,70

TOTAL 9.015 85.235,030

*Área não Regularizada QUADRO 5 - DADOS DAS TERRAS INDÍGENAS DO PARANÁ Fonte: FUNAI, 1995.

O mapa do Estado do Estado do Paraná a seguir, mostra a presença indígena

em terras consideradas demarcadas (reconhecidas pela constituição federal como

terras pertencentes aos indígenas), terras a serem demarcadas e das famílias

dispersas e isoladas, para que possam visualizar e reconhecer a onde estão

situadas. Além da visualização é interessante ampliar esses conhecimentos, para

tanto pesquise nos sites abaixo, quais são os fatores levados em consideração para

tornar terras indígenas demarcadas.

Acesse: URL: http://www.funai.gov.br/indios/terras/conteudo e http://www.comciencia.br/reportagens/2005/04/04.shtmlm

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FIGURA 11: PRESENÇA INDÍGENA NO ESTADO DO PARANÁ

Fonte: http://www.diaadia.pr.gov.br/dedi/ceei/arquivos/File/mapas/anexo7.pdf. Acesso em 15/07/2010.

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Atividade VII

Pesquisando no mapa do Paraná localize as cidades onde se encontram as Terras

Indígenas do Paraná, comparando com o quadro da Funai. Com isso destaque as

Terras Indígenas de Marrecas, monte um mapa posteriormente do município onde

ela se encontra. Material que será exposto na atividade final do projeto.

Nem sempre as pesquisas em livros, jornais, internet, são suficientes, sempre

queremos mais, dessa forma é necessário procurarmos pessoas entendidas no

assunto. Cabe aqui entrarmos em contato com órgãos responsáveis existentes no

município de Guarapuava e fazermos um convite da possibilidade de proferirem uma

palestra. Nesse caso os representantes mais indicados são da Funai (como um

órgão defensor dos indígenas) e o representante do Núcleo Regional de Educação

(órgão que cuida da educação indígena no Paraná ), ambos podem esclarecer

dúvidas existente sobre os indígenas das Marrecas do Município de Turvo vizinho

de Guarapuava.

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No dia da visita, alguns cuidados devem ser tomados:

- Ir com o uniforme do colégio; - Usar calçado confortável; - Levar: lanche e água; - É de sua responsabilidade os equipamentos eletrônicos (celular, máquina digital, mp3, etc.) levados; -Seja cordial; e -Evitem comentários agressivos.

7 - ATIVIDADE DE CAMPO

O trabalho de campo é uma atividade que enriquece empiricamente, é através

dele que vocês alunos em contato direto com os indígenas das Marrecas poderão

observar o espaço que eles ocupam, como o utilizam, a vida que levam, quais são

os seus costumes, a cultura, enfim é uma oportunidade para vocês sanem todas as

dúvidas que por ventura ainda perdura e enriquecer seus conhecimentos através de

uma atividade lúdica.

Vejamos a seguir os passos que temos que

seguir para o trabalho de campo.

1- Organizar o grupo de alunos que vão

participar da visita;

2- Providenciar o transporte e recurso para

a visita;

3- Providenciar a liberação da visita com o

cacique das Terras Indígenas de

Marrecas;

4- Explicar quais cuidados que teremos ao

chegar nas terras (o que perguntar, pra

quem perguntar, fotos, filmagens, etc.);

5- Montar as perguntas pertinentes para a

situação;

6- Levantar as expectativas para a visita;

7- Autorização dos pais.

Após o retorno da visita iremos fazer uma análise desse trabalho de campo,

juntando as informações, e analisando os aspectos positivos ou negativos que

porventura tenha ocorrido. Nesse momento, (professor (a) e alunos), vamos fazer

um comparativo do antes e do depois da visita nas terras indígenas, o que muda

quanto expectativas, curiosidades, enfim o que ficou desse trabalho para a vida

cotidiana.

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Para finalizar esse trabalho os alunos, sob orientação da professor(a) deverão

montar murais, exposições com os trabalhos realizados durante os encontros e com

os materiais adquiridos na visita (foto, filmagem, entrevistas com a devida

autorização do cacique) para apresentar para a comunidade escolar num evento de

encerramento.

O Sucesso dessa atividade é você estar presente!

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8 - ARTESANATO X PROJETO

Para tentar amenizar a delicada situação econômica – fome e pobreza – dos

indígenas paranaenses, a Provopar - PR Ação Social atendendo solicitação das

comunidades, criou um projeto chamado Artesanato que Alimenta , em parceria

com empresas privadas. Neste projeto, cujo objetivo é também resgatar a cultura e a

tradição desses povos, o artesanato é trocado por cestas básicas para auxiliar na

melhoria da qualidade de vida dos mesmos.

Além dessa atitude a Provopar decidiu expandir o programa montando um Kit

Artesanato Indígena, em parceria com o Museu Paranaense, a TV Educativa e a

Secretaria da Educação, enviando esse material para as escolas do Paraná.

De acordo com as informações de Cláudia I. Parellada (2006, p.20) esse Kit

Artesanato possui:

- Alguns exemplares do artesanato Kaingang e Guarani do Paraná: cestaria,

trançado, arcos, flechas, chocalhos, colares, entre outros;

- CD multimídia com cânticos sagrados Guarani e cantos Kaingang;

- DVD com informações sobre os povos indígenas do Paraná.

- Livro ilustrado sob o título Vida Indígena no Paraná – Memória, Presença,

Horizontes.

FIGURA 12: TROCA DE ARTESANATO INDÍGENA POR CESTAS BÁSICAS.

Fonte: Vida indígena no Paraná - Memória, presença, horizontes (2006). objetos artesanalmente em suas aldeias.

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FIGURA 13: KIT ARTESANATO-PROVOPAR, CADERNOS TEMÁTICOS.

Foto: Rosa Maria Cavalheiro

FIGURA 14: ARTESANATO GUARANI. Foto: Rosa Maria Cavalheiro

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FIGURA 15: ARTESANATO KAINGANG Foto: Rosa Maria Cavalheiro

FIGURA 16: MINI CESTOS CONFECCIONADOS POR CRIANÇAS DAS TERRAS INDÍGENAS DE MARRECAS, TURVO -

PR. Foto: Rosa Maria Cavalheiro

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