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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGOGICA NA ESCOLA

COLEGIO ESTADUAL PADRE PEDRO CANISIO HENZ

CASCAVEL, 05/2010

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO

EDUCACIONAL

2

PROFESSOR PDE: ADELMO IURCZAKI AREA: GEOGRAFIA NRE: CASCAVEL PROFESSOR ORIENTADOR: JOÃO E. FABRINI IES: UNIOESTE ESOLA DE IMPLEMENTAÇÃO: COLÉGIO ESTADUAL PADRE PEDRO CANISIO HENZ PÚBLICO: 1º ANO DO ENSINO MÉDIO TEMA: EDUCAÇÃO DO CAMPO TITULO: CONHECENDO A VIDA DOS ESTUDANTES DE UMA ESCOLA DE ACAMPAMENTO SEM –TERRA

INTRODUÇÃO

O projeto de Intervenção Pedagógica na Escola será

desenvolvido no Colégio Estadual Padre Pedro Canísio Henz, situado na Rua

Itália, 1087 Jardim Veneza no Município de Cascavel, e na Escola Itinerante

Zumbi dos Palmares no Acampamento 1º de Agosto, também no município de

Cascavel.

O projeto de Intervenção Pedagógica faz parte do material e

das ações a serem desenvolvidas no Programa de Desenvolvimento Educacional

do Paraná PDE turma 2009. Este projeto será implementado nas aulas de

Geografia do Professor PDE titulado Adelmo Iurczaki, nas referidas escolas sob a

orientação do Professor Dr. João Edmilsom Fabrini, vinculado a Unioeste campus

de Marechal Candido Rondon.

3

PROBLEMATICA

Percebemos através da atuação docente no Colégio Padre

Pedro Canísio Henz, ao longo de vários anos, que os alunos da rede urbana, no

caso específico do Bairro Jardim Veneza e demais que compõe a comunidade

discente da escola, quando sabem o que é tem uma visão distorcida dos

Movimentos Sociais, principalmente o MST, visão esta apresentada pela mídia, de

modo geral. Os alunos têm o habito de tecerem criticas em relação a certas ações

e a forma como pensam dos acampados do MST, que não trabalham, são

violentos e agressivos.

OBJETIVOS

O referido projeto tem o objetivo de fazer com que os alunos

do 1º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Padre Pedro Canísio Henz,

tenham acesso e conhecimento dos movimentos sociais do campo bem como

possam formar a opinião a partir das próprias observações e contato realizado

com os alunos da Escola Itinerante Zumbi dos Palmares situada no Acampamento

1º de Agosto.

ESTRATÉGIAS DE AÇÃO: Após apresentarmos nossa proposta de trabalho, nas aulas

de Geografia, aos alunos do 1º Ano do Colégio Estadual Padre Pedro Canísio

Henz, será elaborado juntamente com estes um roteiro de atividades e pesquisa.

Para elaborar a pesquisa faremos num primeiro momento

uma a apresentação das aulas, em anexo, aos alunos para que tenham

conhecimento do contexto histórico que desencadeou a formação do

acampamento. Após conhecimento inicial e elaboração de atividades como

organização de grupos de trabalho, formulação de questionários e roteiros de

4

observação, será realizada uma visita ao acampamento, onde será feita a coleta

de dados através de entrevista, questionário, observações e fotos.

Será elaborado um roteiro de observação, elegendo

aspectos da vivência no acampamento para serem observados e fotografados.

Um questionário será direcionado aos alunos e professores da escola Zumbi dos

Palmares com questões semelhantes para todos os entrevistadores e

entrevistadas. Cada aluno ou grupo de alunos (proporção e maior na Escola P.

Canísio) irá entrevistar um aluno, um professor e um pai, além disso farão

anotações das observações realizadas no entorno do acampamento.

No Colégio serão elaborados painéis com fotos e gravuras, obtidas pelos

alunos durante a visita, paralelamente, serão apresentados os resultados da visita

as demais turmas do colégio, e em sala realizaremos discussões referente à

situação vivida pelos moradores do acampamento, os fatos históricos e

geográficos que os coloca neste local.

Este trabalho culminará com a produção de textos e gravuras retratando

pontos comuns e divergentes da realidade observada pelos alunos e a vivida por

eles, e a confrontação do texto produzido pelos alunos no inicio das atividades e a

realidade encontrada no acampamento.

Desta maneira, abordaremos diversos conteúdos referentes ao Ensino da

Geografia, tais como: a questão agrária, a distribuição desigual da riqueza, as

questões urbanas vividas pelos moradores do bairro, a densidade demográfica,

formas de habitação, produção de alimentos entre outras tantas que estarão

implícitas no trabalho.

AVALIAÇÃO

A avaliação se dará na forma de apresentações das

observações realizadas no acampamento e sistematizadas em cartazes, painéis,

fotos e através da explanação dialogada com os demais alunos do colégio, das

5

informações observações obtida junto a Escola Itinerante Zumbi dos Palmares,

Acampamento 1º de Agosto.

BIBLIOGRAFIA

CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do Movimento Sem Terra, São Paulo:

Expressão Popular, 2004b.

Escola Itinerante do MST: História, Projeto e Experiências. Setor de Educação do MST e Secretaria de Estado da Educação do Paraná, coordenação da Educação do Campo. Cadernos da Escola Itinerante – MST. Ano VIII – Nº 1 abril 2008. Curitiba: 2008.

FABRINI, João E. A resistência camponesa nos assentamentos de sem-terra. Cascavel: EDUNIOESTE, 2003.

FERNANDES, B. M. Questão agrária pesquisa e MST. São Paulo: Cortez, 2001. GRZYBOWSKI, C. Caminhos e descaminhos dos movimentos sociais no

campo. Petrópolis: Vozes, 1987.

IURCZAKI, Adelmo. Escola Itinerante: uma experiência de Educação do Campo no MST. Curitiba, UTP, 2007, 154 p. Dissertação (Mestrado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação Universidade Tuiuti do Paraná: 2007.

OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Geografia e os Movimentos Sociais. Palestra dia do Geógrafo, 29/05/06, Marechal Candido Rondon, PR, 2006.

PARANÁ, Diretrizes curriculares do Estado do Paraná PROJETO POLITICO PEDAGOGICO. Escola Itinerante de Educação Infantil,

Ensino Fundamental, Médio, Educação Profissional e Modalidade de Educação de Jovens e Adultos para Acampados do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Estado do Paraná. Curitiba. 2006.

SOUZA, M. A. Educação do campo: propostas e práticas pedagógicas do MST. Curitiba: 2004.

6

ANEXOS

AULA NÚMERO 1

A estrutura agrária e a má distribuição de terras. Violência no campo

Nesta primeira aula realizaremos a apresentação da

problemática aos alunos, para que tenham o conhecimento mínimo a respeito do

histórico vivido no campo, o porquê dos acampamentos, a relação urbana rural, os

problemas urbanos influenciam nos problemas rurais.

Objetivo: Conhecer a estrutura agrária brasileira, distribuição

de terras e das propriedades.

menos de 10

10 a - 100

100 a - 1.000

1.000 e mais

1950

1960

1970

1975

1980

1985

1995/6

0

500000

1000000

1500000

2000000

2500000

3000000

3500000

Fonte: IBGE Org.: OLIVEIRA, A.U.

Brasil: Estrutura Fundiária - Nº de Estabelecimentos (1950 a 1995/6)

Fonte: Oliveira (2006).

7

menos de 10

10 a - 100

100 a - 1.000

1.000 e mais

1950

1960

1970

1975

1980

1985

1995/6

0

20000000

40000000

60000000

80000000

100000000

120000000

140000000

160000000

180000000

em hectares

Fonte: IBGE Org.: OLIVEIRA, A.U.

Brasil: Estrutura Fundiária - Área Ocupada (1950 a 1995/6)

Fonte: Oliveira (2006).

Estrutura Fundiária do Brasil - 2003

Estratos de área Nº de imóveis % Área em ha %

Menos de 10 ha 1.338.711 31,6 7.616.113 1,8

10 a < de 100 ha 2.272.752 53,6 76.757.747 18,3

Menos de 100 ha 3.611.463 85,2 84.373.860 20,1

100 a < de 1.000 ha 557.835 13,2 152.407.223 36,3

1.000 ha e mais 69.123 1,6 183.564.299 43,6

Total 4.238.421 100 420.345.382 100

Base: Cadastro do INCRA – situação em agosto de 2003 Fonte: II Plano Nacional de Reforma Agrária (MDA/INCRA, 2003)

8

NÚMERO DE FAMILIAS EM ACAMPAMENTOS, MORTES E TENTATIVAS DE ASSASSINATOS 1986-2006.

http://www4.fct.unesp.br/nera/atlas/estrutura_fundiaria.htm

Após apresentação dos gráficos e tabelas será discutido

com os alunos como é a divisão das terras no Brasil, ou seja, que há muitas

propriedades que abrangem uma pequena área de terra e poucos proprietários

que possuem muita terra.

Trataremos também as questões de violência no campo que

a própria estrutura e distribuição das terras proporciona, numa sociedade

capitalista e excludente, onde os meios para conseguir as terras, nem sempre são

os lícitos, muitos proprietários usam da violência para conseguir e defender as

propriedades e atribuem esta violência aos menos favorecidos, analisaremos os

conflitos pela posse da terra conforme indicado no gráfico acima.

AULA NUMERO 2

A organização dos trabalhadores do campo

Nesta aula realizaremos uma discussão a respeito das lutas

dos camponeses pela posse da terra, que também gerou a expulsão de muitos

trabalhadores rurais para os grandes centros urbanos, e conseqüentemente o

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enfrentamento dos problemas urbanos, como a falta de emprego, habitação,

escola entre outros. O que os levou a organizarem-se também nos espaços

urbanos buscando melhores condições de vida e o retorno ao seu local de origem,

o campo.

Desta forma a organização está vinculada à falta de

estrutura no campo e nas cidades o que desencadeia a mobilização nos espaços

rurais, mas os centros urbanos também são responsáveis pela organização dos

trabalhadores rurais sem terra.

Objetivo: apresentar a dimensão dos problemas que

desencadearam a organização tanto no campo quanto nas cidades.

10

11

. fonte:acefaliteaguda.file.wordpress.com/ 1

Fonte: channel.media.mit.edu/.../roadjunkyfavelas.jpg

Com a apresentação das imagens aos alunos realizaremos

uma conversa a respeito dos problemas enfrentados pela população urbana, que

está vinculada a realidade da maioria dos alunos do Colégio Padre Pedro Canisio

Henz.

Com esta abordagem espera-se que os alunos

compreendam que os movimentos sociais vinculados ao campo estão ligados

também à cidade, principalmente as cidades que tem um potencial agrícola como

é o caso de Cascavel, onde boa parte de seus habitantes tem origem no campo, e

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uma parte da população menos favorecida que habita as regiões periféricas vêem

nos acampamentos a esperança de dias melhores.

Também vamos considerar os principais problemas do

campo que desencadeiam a organização e mobilização da população camponesa

que é a falta de financiamentos para terras, atrelada ao alto valor das

propriedades, o incentivo à produção, principalmente para exportação, o uso de

produtos químicos e de máquinas cada vez mais modernas, fatores que fazem

com que os agricultores percam seu espaço de produção e de renda, assim

organizando-se nos movimentos sociais como é o caso do MST, buscam melhorar

os aspectos financeiros e a permanência no campo.

AULA NÚMERO 03

O surgimento do MST

Nesta aula procuraremos explicar aos alunos como surgiram

os movimentos sociais, principalmente o MST. Será tratado sobre as diferentes

lutas deste movimento no cenário local e nacional.

Objetivo: Conhecer o processo de surgimento do MST.

O MST surgiu no Oeste do Paraná, a partir de lutas que

vinham ocorrendo no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul

entre outros estados, Cascavel foi onde se instalou um dos primeiros

acampamentos do Brasil, os agricultores, principalmente os que foram expulsos

para a construção da barragem de Itaipu, se organizaram e criaram o MASTRO

(Movimento dos Sem-Terra no Oeste do Paraná) e que depois veio a agregar

outros trabalhadores e ser denominado MST. O MST está organizado na maioria

dos estados do Brasil e organiza sua luta em acampamentos que são locais de

resistência, geralmente em áreas rurais e ou as margens de BRs, em locais de

visibilidade e próximo das áreas de produção.

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Os filhos de colonos, parceiros e arrendatários, agregados e assalariados temporários, expropriados de barragens e mesmo um significativo contingente de lumpen do campo, que vaga pela região, constituem a base inicial do movimento. As lutas condensadas em Ronda Alta (Rio Grande do Sul), através de ocupações de fazendas, e o Acampamento de Encruzilhada Natalino, a luta do MASTRO (Movimento dos Sem-Terra no Oeste do Paraná), desdobramento das lutas dos expropriados pela barragem da hidrelétrica de Itaipu, e certas ocupações de fazendas no Sudoeste do Paraná e em Santa Catarina, todas no final dos anos 70 e inicio dos anos 80, dão a forma inicial ao movimento ao se articularem. (GRYZBOWSKI, 1987, p. 23)

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, também conhecido como Movimento dos Sem Terra ou MST, é fruto de uma questão agrária que é estrutural e histórica no Brasil. Nasceu da articulação da luta pela terra que foram retomadas a partir do final da década de 70, especialmente na região Centro Sul do país, e aos poucos expandiu-se pelo Brasil inteiro. O MST teve sua gestação no período de 1979 a 1984 e foi criado formalmente no Primeiro Encontro Nacional de Trabalhadores Sem Terra, que aconteceu de 21 a 24 de janeiro de 1984 em Cascavel, no estado do Paraná. Hoje o MST está organizado em 22 estados e segue com os mesmos objetivos definidos no neste Encontro de 84 e ratificados no I Congresso Nacional realizado em Curitiba, no ano de 1985, também no Paraná: lutar pela terra, pela reforma agrária e pela construção de uma sociedade mais justa, sem explorados nem exploradores. (CALDART, 2000, p. 3)

http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/Infografico-MST_Abril-2008.gi

14

http://www2.faced.ufba.br/noticias/noticias/imagens_noticias/mst_bandeira_grande

A partir da observação das imagens procurar demonstrar aos

alunos a origem e a organização do MST enquanto movimento social de luta pela

reforma agrária e por outros direitos historicamente negados aos agricultores, não

só sem terra, mas as camadas menos favorecida da sociedade, principalmente os

ligados à agricultura.

Atividade complementar

A origem, das grandes propriedades.

Objetivo: demonstrar a origem histórica das grandes propriedades.

A grande maioria dos conflitos de terra que ocorrem no país tem sua origem na falta de titulação e demarcação de áreas já ocupadas. A categoria mais vulnerável à violência é a dos pequenos posseiros. Há no Brasil mais de um milhão de posseiros, em sua imensa maioria pequenos agricultores, que não são proprietários, mas vivem e produzem em grandes fazendas particulares pouco utilizadas por seus donos ou em terras públicas devolutas. Vítimas constantes dos grileiros, os pequenos posseiros com freqüência são expulsos por eles e acabam ocupando terras indígenas, o que gera uma situação de tensão com as populações aí residentes. Por isso, nessas regiões de ocupação mais recente, para reduzir a violência no campo, a ação fundiária mais importante não é a desapropriação de terras, mas sim, a titulação das glebas, em defesa dos posseiros legítimos e contra a ação dos grileiros.

15

Nos últimos anos, duas regiões do país notabilizaram-se por seu potencial de conflitos violentos: o Pontal do Paranapanema, no extremo oeste do estado de São Paulo, divisa com os estados do Paraná e Mato Grosso do Sul, e o estado do Pará, no norte do país - uma área com o dobro do tamanho da França e com 80% do seu território cobertos pela floresta amazônica.

Fonte: http://www.planalto.gov.br/publi_04/COLECAO/REFAGR5.HTM

AULA NUMERO 04

O acampamento como espaço de resistência

Objetivo: Identificar o que é um acampamento e como é o acampamento 1º de

agosto

O acampamento é formado geralmente em áreas agrícolas ou as margens

das BRs, em terras improdutivas ou áreas devolutas do estado, primeiro para que

tenham visibilidade e segundo, não tendo um local definido para irem, não tem

opção de local para construir a moradia. Os acampados pemanessem nestes

locais provisóris até definirem um local permanente ou a definição de outro

espaço. Quando os acampamentos estão distantes de rodovias, como é o caso do

Acampamento 1º de Agosto, é para oferecer maior resistência ao latifundiário e ao

mesmo tempo permanecer próximo às áreas de produção, forçando o governo a

estabelecer a reforma agrária através da resistência.

Geralmente os acampamentos são compostos por

aglomerações de barracos onde vive a família do agricultor, os quais trabalham

juntos no cultivo de alimentos para a subsistência.

Acampamento é espaço onde os agricultores sem terra permanecem

organizados, onde cultivam alimentos e tem suas produções. No acampamento

são pequenas as plantações de lavouras, é neste local que os acampados vivem,

fazem suas festas, estudam, organizam-se coletivamente através de reuniões com

a participação de todos, onde são discutidos os rumos de todos e as ações a

serem desenvolvidas pela comunidade acampada.

16

Os barracos geralmente não são locais que oferecem

conforto. No verão, por ser de lona plástica, durante o dia é muito quente e a noite

a temperatura cai bruscamente. Quando chove pode molhar dentro, pois a lona é

facilmente rasgada, além da enxurrada muitas vezes adentrar nos barracos.

Nestes locais não existe energia elétrica, nem água tratada ou qualquer tipo de

infra-estrutura, as ruas são de terra o que causa muito barro quando chove e

muita poeira quanto tem sol, e o acesso ao acampamento é difícil, pois são

consideradas áreas ilegais, motivo que o poder público não desenvolve ações de

melhoria, como é o caso de arrumar as estradas. A escola do acampamento tem a

mesma dinâmica da escola urbana ou rural, que tem como mantenedor o Estado.

Os livros e materiais básicos são poucos e tem sua depreciação muito rápida,

devido à ação do tempo e das condições estruturais do acampamento, no entanto:

Ao organizar um acampamento, os sem-terra criam diversas comissões ou equipes, que dão forma à organização. Participam famílias inteiras ou parte de seus membros, que criam condições básicas para a manutenção da suas necessidades: saúde, educação, segurança, negociação, trabalho, etc. Dessa forma, os acampamentos, freqüentemente, têm escolas, ou seja, barracos de lona em que funcionam salas de aula, principalmente as quatro primeiras séries do ensino fundamental, tem um barraco que funciona como à “farmácia” improvisada, e que quando dentro do latifúndio, plantam em mutirão para garantir parte dos alimentos de que necessitam... (Fernandes, 2001,p. 76)

17

O acampamento 1º de Agosto está situado a uma distância

de mais ou menos trinta quilômetros da sede do município de Cascavel. No

acampamento residem aproximadamente 1000 famílias. Neste local existem

vários barracos e Igrejas, plantações e uma escola, onde estudam mais quase 200

alunos.

A subsistência dos moradores do acampamento é baseada

na agricultura, onde são cultivados produtos basicamente que servem de alimento

aos acampados e suas famílias e a criação de animais em pequena escala. O

excedente é pequeno, o qual é vendido e auxilia na remuneração dos acampados.

O acampamento 1º de Agosto está situado em uma grande

fazenda do município de Cascavel, onde hoje existem mais três acampamentos, o

primeiro formado foi o Acampamento Dorcelina Folador em 1998, deste surgiram

os acampamentos Casa Nova, 1º de Agosto e 1º de Maio.

A maioria dos acampados, do acampamento 1º de Agosto

vieram do Acampamento Dorcelina Folador, onde havia uma promessa de aquela

parte da fazenda ser desapropriada pelo governo para formar um assentamento,

como o número de famílias era muito grande, e área que seria desapropriada era

pequena, os acampados buscaram outras áreas dentro da mesma fazenda, uma

das áreas ocupadas é onde hoje é o Acampamento 1º de Agosto.

Conforme relato em caderno da Escola Itinerante podemos

observar como se deu esta transferência

O amanhecer do primeiro dia de Agosto de 2004, num dia frio, com geada em meio à pastagem e muita neblina, o novo território foi ocupado. Tudo estava para ser construído e, novamente, aos poucos o acampamento ia se reerguendo juntamente com o sol que aos poucos os aquecia. Inicialmente foram erguidos grandes barracões coletivos das brigadas. As atividades da escola foram reiniciadas no segundo dia da ocupação, cada educador após o tempo formatura escolheu o seu local para dar aula, no meio da plantação de aveia, a céu aberto. O tema gerador daquele dia de estudo foi OCUPAÇÃO. Sentados no chão com o quadro de escrever firmado na cerca de arame farpado do latifúndio, improvisou-se espaços de estudos. [...] (Cadernos da Escola Itinerante – MST, ano VIII – nº 1)

18

A escola Itinerante Zumbi dos Palmares estava situada no

Acampamento Dorcelina Folador, com a saída da maioria das famílias houve

também a mudança da escola, que acompanhou as famílias.

A Escola Itinerante Zumbi dos Palmares, esta vinculada ao

Núcleo Regional de Educação de Laranjeiras do Sul e é parte da Escola base

Colégio Estadual Iraci Salete Strozak localizada no município de Rio Bonito do

Iguaçu. Todas as escolas itinerantes são vinculadas a duas escolas estaduais,

denominadas escolas bases. A Escola Itinerante Zumbi dos Palmares, oferta

Educação Infantil e Ensino Fundamental e Ensino Médio Alem de Educação de

Jovens e Adultos.

AULA NÚMERO 05

Aula de campo, coleta de dados.

Objetivo: visitar o acampamento

Após preparar os alunos com informações básicas e motivá-

los a participar da visita no acampamento, será realizada a visita. Porém, antes

discutiremos os questionamentos que serão realizados junto aos alunos

acampados, aos professores, aos pais e as lideranças do acampamento.

As perguntas e observações serão dirigidas para o contexto

estudado, enfatizando a vivência, a escola e a forma como vivem os alunos, as

suas dificuldades e o que os agrada em serem acampados, e como é a relação

destes com a comunidade, com a escola e o papel deles na manutenção do

movimento social, qual a participação da comunidade nas lutas que esta tem.

Da mesma forma vamos definir quais serão as perguntas

que serão feitas aos acampados, o que será observado com maior ênfase (a

organização, a dinâmica da escola, o que e produzido, como é o prédio da escola

o deslocamento e os principais problemas enfrentados pelos acampados), ao

mesmo tempo em que estaremos trabalhando com a Geografia humana, também

19

observaremos outros aspectos que servirão de base para os próximos temas das

próximas aulas, como o relevo, a vegetação, as plantações, entre outros aspectos.

(Obs) Se possível levar algum presente que identifique a

escola, o bairro, para que os alunos do acampamento tenham uma lembrança e

ao mesmo tempo aproximar mais as comunidades escolares para outras visitas.

Relatório da visita

A visita ocorreu no período da manhã, onde todos os alunos

do Colégio Estadual Padre Pedro Canísio Hens tiveram o interesse de visitar o

acampamento 1º de Agosto.

Alguns alunos ainda estavam com receio do que iriam

encontrar no acampamento, tinham medo de serem roubados, dos alunos não

aceitarem a visita e de haver brigas ou desentendimentos, de encontrarem

pessoas armadas e agressivas, além de imaginarem um lugar totalmente distante

da realidade em que vivem no bairro, com pessoas diferentes, na fala deles

(colonos), conforme a fala de uma das alunas “eles falam igual colonos, lá no

acampamento”.

Ao chegarmos à aproximação dos alunos ocorreu de forma

receosa, fomos recebidos pelos professores da Escola e nos dirigimos a uma sala

das salas de aula onde os alunos do 1º, 2º e 3º ano do Ensino Médio nos

aguardavam.

Foram receptivos, estavam descontraídos, e logo os alunos

do Colégio Padre Pedro Canisio Henz, perceberam que os alunos e a escola tinha

muito da vivencia deles, através das pinturas de símbolos de time de futebol o que

os identificou e aproximou e os alunos do Colégio Padre Pedro Canisio Henz

perderam o medo inicial.

Os professores e alunos se apresentaram e iniciamos a

conversa. Os alunos da escola itinerante falaram de como é a escola, que as

ações são definidas no coletivo, onde todos participam e todos têm a mesma

importância. Na conversa foram esclarecidas as duvidas dos alunos do Colégio

Estadual Padre Pedro Canisio Henz, e criou-se um ambiente amistoso e

descontraído entre os alunos das escolas.

20

Foto da sala de aula. (fonte o autor)

Na seqüência os alunos foram convidados a conhecer o

espaço da escola, biblioteca, secretaria e refeitório onde aconteceu uma

apresentação, mística, e serviram o lanche para os alunos, em seguida foram

convidados a conhecer os demais locais do acampamento, farmácia, onde

funciona o posto médico, e a sua volta são cultivados plantas medicinais, e o

acampamento, barracos, as ruas, sempre com uma pessoa do acampamento

explicando e tirando as duvidas dos alunos, conforme as fotos abaixo.

21

Foto da apresentação, mística. Fonte o autor

Foto do acampamentos. (fonte o autor)

AULA NÚMERO 06

Discussões das Informações

22

Objetivo: discutir, ampliar e re-elaborar as informações

obtidas na visita ao acampamento.

Com as informações obtidas nas aulas anteriores e com o

registro dos dados e as observações realizadas pelos alunos no acampamento,

faremos a discussão e uma possível conclusão, verificando se a visita e as

informações corresponderam às expectativas destes. Observar o que mais

chamou a atenção? O que acharam da recepção dos alunos da escola Itinerante

Zumbi dos Palmares? O que é diferente nas moradias, na escola e na vivência do

acampamento? Discutir se o que foi visto e ouvido é o que a imprensa divulga?

Qual a avaliação dos alunos referente ao observado e ao divulgado ou a

impressão que tinham antes de conhecer a realidade.

Com estes dados produzir cartazes painéis e falas em

grupos para que expressem a experiência dos alunos do 1º ano aos alunos das

outras turmas do Ensino Médio e 8ª séries do Ensino Fundamental do Colégio

Estadual Padre Pedro Canísio Henz.

Relatório das atividades

Nas discussões em sala alguns alunos ainda apresentavam

duvidas e não entendiam o por que das “invasões” de terras o que os próprios

colegas davam conta de explicar de forma que as discussões foram muito

salutares os alunos conseguiram melhorar o entendimento conforme podemos

observar nos escritos de texto e fala dos alunos: “... os sem terra envadem as

terras em forma de protesto”, “O objetivo deles estarem no acampamento é de um

dia ter um lugar melhor para viver, eles se divertem igual mas é necessário ter um

lugar mais adequado para se divertir e para produzir o seu próprio alimento. Não

existe individualidade... os educandos todos ajudam...”, “os sem terra são pessoas

boas e humildes...”.

23

foto da sala de aula, elaboração das apresentações (fonte autor)

Foto da sala de aula, elaboração das apresentações (fonte autor)

AULA NÚMERO 07

Apresentação dos dados obtidos

24

Objetivo: Apresentação das informações obtidas no

acampamento e socialização com os colegas

Esta aula será realizada após discussão realizada em sala

com os alunos, onde estes serão orientados para desenvolverem o trabalho junto

aos colegas.

A partir da visita e dos dados obtidos serão realizadas

apresentações aos alunos das outras turmas do ensino médio do Colégio Padre

Pedro Canisio Henz, onde os alunos acompanhados pelo professor farão

apresentação das fotos e das informações que obtiveram no acampamento,

respondendo aos questionamentos dos alunos das outras turmas.

Relatório das apresentações

As apresentações foram organizadas e realizadas em

grupos de alunos que montaram painéis e também utilizaram a tv pen drive, onde

produziram slides e apresentaram as fotos do acampamento. Houve entusiasmo

por parte dos alunos para apresentarem a versão deles a respeito da visita. Muitos

alunos de outras turmas, antes mesmo da apresentação, demonstraram vontade

de conhecer o acampamento, solicitando a visita, o que demonstra que houveram

conversas e a divulgação em horários informais, e os alunos da turma querem

voltar ao acampamento para ver outros aspectos do cotidiano dos acampados,

“eles são pessoas boas e humildes” fala de um aluno.

25

Foto da apresentação dos alunos (Fonte autor)

Foto da organização do trabalho (fonte autor)