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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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IMPLICAÇÕES PARA A FORMAÇÃO DOCENTE NO ENSINO PROFISSIONAL DE

NÍVEL MÉDIO: Discussão e análise às novas exigências.

Autora: Maria Laurete de Souza Chagas1

Orientadora: Rita de Cássia Pizoli2

Resumo:

Partindo da premissa que a “Educação profissional ocorre a partir de uma base de cultura científica e humanística” (Frigotto, Ciavatta e Ramos, 2005, p.89), o presente artigo tem por objetivo enfatizar os avanços e retrocessos da educação profissional no Brasil, com ênfase ao Estado do Paraná, com vista a discutir sobre a realidade desse ensino em nosso Estado, apontando seus principais gargalos de ineficácia e buscando saídas para uma nova visão de ensino, de olhos postos na transformação da sua própria metodologia, tendo o trabalho como eixo articulador de conteúdos onde as bases metodológicas da aprendizagem teórico-práticas do alunado estejam fundamentadas na cultura geral e no preparo para as atividades profissionais. O método utilizado resume-se, praticamente, à pesquisa bibliográfica, combinada com as experiências vivenciadas na prática pedagógica pelos docentes dos cursos Técnicos de enfermagem e Saúde Bucal (subsequente e integrado) do Colégio Estadual Professor Bento Munhoz da Rocha Neto – EFMP do Núcleo Regional de Educação de Paranavaí/PR. Assim sendo, inicia-se com breves considerações sobre as mudanças historicamente ocorridas no ensino profissionalizante no Estado do Paraná. Em seguida, traça-se um panorama das Políticas Públicas da Educação Profissional no Estado do Paraná, de 2003 aos dias atuais, abordando as reformas educacionais; políticas neoliberais, e a formação do professor dentro de cada contexto histórico-social. Em conclusão, destaca-se pontos relevantes do Projeto de Implementação Pedagógica efetivado por intermédio de um curso de extensão realizado com professores dos cursos técnicos de Enfermagem e Saúde Bucal, Pedagogo e professores de disciplinas do Núcleo Comum do Colégio Bento Munhoz da Rocha Neto – EFMP.

1 Especialista em supervisão e Orientação Educacional, Pedagoga e Coordenadora do Curso Técnico de Enfermagem do

Colégio Estadual Professor Bento Munhoz da Rocha Neto de Paranavaí – EFMP.

2 Professora Assistente da FAFIPA do curso de Pedagogia. Doutoranda do Programa de pós graduação em Educação da

UEM.

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Palavras Chaves: Educação e Trabalho; Políticas Públicas para o Ensino Médio; Ensino Profissionalizante; Formação Docente.

1. Introdução

A história da Educação Profissional no Brasil revela que tanto as ações

sociais e produtivas como a escola educam o trabalhador dentro de uma divisão

capitalista, fazendo com que a atividade intelectual e material, o gozo e o trabalho, a

produção e o consumo caibam a indivíduos distintos. Por conseqüência o

conhecimento científico e o saber prático são distribuídos desigualmente,

aumentando ainda mais a alienação dos trabalhadores, ou seja, a escola passa a

expressar e a reproduzir esta fragmentação através de seus conteúdos, métodos e

formas de organização e gestão. Inclui-se também nesse contexto histórico a

formação profissional do professor.

Desta maneira, por intermédio da pesquisa bibliográfica buscou-se

conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade pertinentes ao objeto de

estudo do presente trabalho, ou seja, aos fundamentos filosóficos e teórico-

metodológicos da educação profissional, dentro do contexto histórico social

brasileiro, com relevância ao Estado do Paraná, vislumbrando uma escola unitária

tendo o trabalho como princípio educativo.

Com efeito, oportunizou-se aos profissionais da educação, em especial aos

docentes dos cursos técnicos profissionalizantes suporte teórico para que

compreendam que a proposta da Educação Profissional, objetivada na Política

Pública para a Educação Profissional do Estado do Paraná, eles (professores)

“passam a ser considerados atores e autores do processo de ensino, passam a

participar de todo o processo do momento da concepção de sua proposta de

trabalho e sua efetivação em sala de aula (GREGORIO, 2008, p. 179)”.

Nesse prisma, utilizando-se do método bibliográfico, o presente artigo

pretende demonstrar, em linhas gerais, as mudanças históricas ocorridas no campo

filosófico e teórico do ensino profissionalizante; a expansão dos cursos técnicos no

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Estado do Paraná e mais especificamente no Núcleo Regional de Educação de

Paranavaí, seus avanços e retrocessos dentro das Políticas Públicas sob fortes

influências do neoliberalismo; ressalta-se também a importância da formação do

profissional docente dos cursos profissionalizantes de nível médio, finalizando, com

um pequeno relato do Projeto de Intervenção Pedagógica desenvolvido com

professores, oportunidade em que foram disponibilizados subsídios teóricos sobre

temas pertinentes a Educação Profissional, ou seja, suporte necessário, através da

sistematização de concepções e práticas políticas - pedagógicas e metodológicas

que orientaram a compreensão do trabalho pedagógico a ser desenvolvida numa

perspectiva de escolarização integral, escola politécnica, considerando as

especificidades de cada curso na elaboração de uma proposta dentro de uma visão

do currículo integrado.

2. Mudanças no contexto histórico da educação profissional e a expansão

dos cursos técnicos.

A passagem do século XX para o XXI é marcado pela globalização ou a

mundialização da economia, fenômeno este diretamente relacionado ao

desenvolvimento histórico da sociedade capitalista, estratificada em classes sociais,

e produzindo mudanças nas relações de produção e no consumo (FACCI, 2004,

p.20).

Nesse contexto as políticas sociais brasileiras sofreram uma série de

transformações ocasionadas por mudanças nos planos econômicos e político –

ideológico. Para viabilizar essas políticas, várias estratégias foram implantadas,

entre outras, destaca-se a implementação de programas educacionais, com vista à

inserção dos trabalhadores no mercado de trabalho, ou seja, implementação de uma

Política de Educação Profissional tratada como uma política de emprego de caráter

sistêmico.

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Especificamente no Estado do Paraná, mais precisamente na década de 90

o ensino profissionalizante teve como base as legislações Educacionais Nacionais

vigentes à época, marcado muito mais por retrocessos do que por avanços.

A partir de 2003 há a retomada da oferta pública e gratuita da formação para

o trabalho, além é claro de assumir a concepção do ensino e Currículo em que o

trabalho, a cultura, a ciência e a tecnologia constituem os fundamentos sobre os

quais os conhecimentos escolares devem ser trabalhados e assegurados, na

perspectiva da escola unitária e de uma educação politécnica (SEED – DEP – 2005).

O Paraná, hoje é destaque como ente federado, pois tem a maior oferta de

cursos de Educação Profissional no Brasil, sendo instituído o Departamento de

Educação Profissional e encerrando as atividades da Agencia para o

Desenvolvimento do Ensino Técnico do Paraná – PARANATEC.

No Núcleo Regional de Educação do Município de Paranavaí a exemplos de

outros núcleos do Estado do Paraná, também houve uma expansão significativa dos

cursos profissionalizantes, vejamos:

MUNICÍPIO/COLÉGIO CURSOS TÉCNICOS - ANO DE

IMPLANTAÇÃO

. Paranavaí – Colégio Estadual Enira Moraes Ribeiro – Ensino Fund., Médio e Profissionalizante.

Técnico em química – 2005;

Técnico profuncionário – 2008;

Adolescente aprendiz – 2008;

Técnico em alimentos – 2009;

*Técnico em açúcar e álcool 2010; *Técnico em biocombustíveis -2012

. Paranavaí – Colégio Estadual DR. Marins Alves de Camargo – Ensino Fund., Médio e Profissionalizante.

Técnico em meio ambiente – 2005;

PROEJA – segurança do trabalho – 2008;

Técnico em segurança do trabalho 2009;

Técnico em edificações – 2010

. Paranavaí – Colégio Estadual de Paranavaí – Ensino Fund., Médio e Profissionalizante.

Técnico em informática – 2005 Técnico em administração 2009

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. Paranavaí – Colégio Estadual Prof. Bento Munhoz da Rocha Neto – Ensino Fund., Médio e Profissionalizante.

Técnico em Enfermagem – 2009

Técnico em Saúde Bucal - 2009

. Paranavaí – CEEBJA – Centro Est. de Ed. Básica para Jovens e Adultos de Paranavaí - – Ensino Fund., Médio e Profissionalizante.

Técnico em Secretariado PROEJA – 2009;

Técnico em Imagem Pessoal (cabelo e maquiagem) -2010

.Nova Esperança – Colégio Estadual São Vicente de Paula – Ensino Fund., Médio e Profissionalizante.

Técnico em Informática 2009; Técnico em Administração 2010

Paraíso do Norte – colégio Estadual Paraíso do Norte – Ensino Fund., Médio e Profissionalizante.

Técnico em administração 2009;

Técnico em informática – 2010

Uniflor – Colégio Estadual Marques de Herval – Ensino Fund., Médio e Profissionalizante.

E-TEC – técnico em secretário – 2008;

Técnico em administração – 2010

. Alto Paraná – Colégio Estadual Rainha da Paz – Ensino Fund., Médio e Profissionalizante.

E-TEC - Técnico em gestão pública -= 2008;

Técnico em administração – 2010

Fonte: Coordenação dos cursos profissionalizante do N. R. E de Paranavaí.

Além dos cursos Técnicos anteriormente demonstrados o Núcleo de

Educação de Paranavaí conta ainda com cursos de Formação de Docentes no

Colégio Estadual de Paranavaí (ano de 2004); Colégio São Vicente de Paula em

Nova Esperança (ano de 2008); Colégio Antonio Tortato – Paranacity (ano de 2007)

e no Colégio James Patrick Clark – Terra Rica (ano de 2007)

É Notório o crescimento na oferta do ensino profissionalizante no Estado do

Paraná, consequentemente no Núcleo de Educação de Paranavaí nos últimos cinco

anos. Quantitativamente é claro, mas, e quanto à qualidade desses cursos? Estarão

eles atingindo seu objetivo principal, formação do homem onnilateral, levando-o a

sua verdadeira emancipação? Os professores que atuam nesses cursos têm

fundamentos teórico-metodológicos para estarem atuando nos cursos

profissionalizantes?

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Frise-se, a prática educacional e social que dará concretude a essa

profissionalização, deve considerar as mudanças no mundo do trabalho e as novas

demandas, superando a dicotomia entre o ensino técnico do ensino científico,

objetivando uma unidade para a formação do homem onnilateral.

Neste sentido afirma Manacorda:

[...] a atividade do homem se apresenta como humanização da natureza, devir da natureza por mediação do homem, o qual, agindo de modo voluntário, universal e consciente, como ser genérico e indivíduo social, e fazendo de toda a natureza o seu corpo inorgânico, liberta-se da sujeição à casualidade, à natureza limitação animal, cria uma totalidade de forças produtivas e delas dispõe para dela desenvolver-se onnilateralmente. (MANACORDA, 2007, p.65)

Assim sendo, faz-se necessário um “processo vivo de reflexão e

sociabilidade”, visando à formação pedagógica do educador do Ensino

Profissionalizante, que busque as melhores alternativas para uma “educação que

retome os princípios básicos da educação básica Pública e gratuita de qualidade,

dentro de uma perspectiva de educação politécnica que combine trabalho, ciência e

cultura na sua prática e nos fundamentos científico – tecnológico e histórico social”

(SEED, 2005, p. 7).

3. Formação docente para o ensino profissionalizante: reflexões teóricas

e práticas.

Foi com esse intuito que no segundo semestre de 2008 no Colégio Bento

Munhoz da Rocha Neto - EFMP na cidade de Paranavaí iniciamos uma verdadeira

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maratona no sentido de montar o processo para autorização e implantação dos

cursos Técnicos em Enfermagem e Higiene Bucal, hoje, Saúde Bucal, pelo

Conselho Estadual de Educação.

Os cursos foram autorizados, iniciando efetivamente no segundo semestre

de 2009. Como pedagoga do colégio, estive diretamente envolvida na preparação e

montagem do processo acima citado, razão pela qual acabei tendo que realizar

algumas visitas em escolas que já ofereciam os cursos de enfermagem e saúde

bucal, assim como comecei, a ler e me interar sobre os fundamentos filosóficos e

teóricos do ensino profissionalizante.

À medida que as leituras (Frigotto, Ciavatta; Kuenzer; Manacorda; Ramos;

Garcia, Gramsci, entre outros) sobre o ensino profissionalizante iam se

intensificando, as preocupações também começavam aumentar, pois não seria nada

fácil implantar um curso profissionalizante efetivo e de qualidade numa perspectiva

do trabalho como princípio educativo dentro dos parâmetros de uma escola unitária,

vivendo num sistema capitalista onde ainda se encontram presentes dentro dos

muros das escolas idéias neoliberais.

A sociedade capitalista marcada pela hegemonia do neoliberalismo e das

ideologias conservadoras é refletida na escola (considerada a solução para todos os

problemas) e por conseqüência no professor (CORRÊA, 2005).

A compreensão de toda essa problemática é o ponto de partida para a

superação de uma Política Educacional neoliberal a qual deixou e continua deixando

sequelas em todo processo educacional. A esse respeito é oportuno salientar: “em

um contexto como este, a reflexão crítica impõe-se como uma necessidade

imperiosa para toda a sociedade, muito mais particularmente, para aqueles que têm

a educação como seu espaço de atuação profissional (MEIRE, apud FACCI – 2004,

p. 15)”.

Facci (2004), em sua obra, Valorização ou esvaziamento do trabalho do

professor, resultado de sua tese de doutorado, realizou um estudo comparativo da

teoria do professor reflexivo, do construtivismo e da psicologia vigotskiana dentro de

cada momento histórico. Sua pesquisa trouxe grandes contribuições ao sistema

Educacional brasileiro, pois nos leva a repensar a ação pedagógica do professor

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dentro de cada uma delas, quais as suas mazelas e quais os seus benefícios, assim

como saber a serviço de qual política educacional está inserida e qual tipo de

homem pretende formar e para qual sociedade.

Arce citada por Facci (2004, p. 72), faz uma crítica direta ao professor

reflexivo, argumentando que os preceitos neoliberais fornecem:

[...] ao professor um novo status enquanto Técnico da aprendizagem, o de ser um profissional reflexivo, que não poderá, com a formação proposta, refletir a respeito de nada mais do que sua própria prática, pois o mesmo não possuirá o mínimo necessário de teoria para ir, além disso [...]. Ele não será chamado a teorizar: terá apenas que agir e refletir sobre a sua prática.

Por fim, concordamos com o pensamento de Arce, comentado por Facci

(2004, p.72) de que “a formação do professor necessita estar embasada em

fundamentos filosóficos, políticos, sociais, históricos, assim como em sólida

formação didático-metodológica.”

Vislumbra-se assim:

[...] um profissional capaz de teorizar sobre as relações entre educação e sociedade e, aí sim, como parte dessa análise teórica, refletir sobre a sua prática, propor mudanças significativas na educação e contribuir para que os alunos tenham acesso à cultura resultante do processo de acumulação sócio-histórica pela qual a humanidade tem passado (ARCE, apud FACCI, 2004, p. 72-73).

Dentro dessa idéia há necessidade de analisar o trabalho docente numa

perspectiva da psicologia histórico-cultural de Lev Semenovich Vigotski, “formação

dos processos psicológicos superiores” e “formação dos conceitos”, ou seja,

observar se na prática pedagógica em sala de aula o professor leva em

consideração aquilo que o sujeito já sabe (nível de desenvolvimento real), assim

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como o conhecimento que pode ser aprendido, com sua ajuda, (nível de

desenvolvimento potencial) e por fim ter claro a distância entre um nível e outro

(zona de desenvolvimento proximal), logo, o papel do professor será de mediador,

provocador de conflitos, estimulador, propiciador de recursos, argumentador, etc.

Pautada nessa concepção, o trabalho do professor consistirá em fazer tudo o que for

necessário para que o aluno se aproprie do conhecimento científico acumulado

historicamente pela humanidade (DUARTE, apud FACCI, 2004, p. 17).

Gasparin (2007, p.2-3) afirma que “a escola, em cada momento histórico,

constitui uma expressão e uma resposta à sociedade na qual está inserida. Nesse

sentido, ela nunca é neutra, mas sempre ideológica e politicamente comprometida”.

Por isso, cumpre uma função específica, assim sendo, pergunta-se: qual a finalidade

social dos conteúdos escolares?

A indagação acima nos remete a outro questionamento, qual a

responsabilidade do professor dentro desse processo? Com certeza enorme, pois a

sua responsabilidade aumenta, assim como também a do aluno, pois ambos são co-

autores do processo ensino-aprendizagem.

Nessa perspectiva, segundo o professor Gasparin (2007, p.2)

[...] o novo indicador da aprendizagem escolar consistirá na demonstração do domínio teórico do conteúdo e no seu uso pelo aluno, em função das necessidades sociais a que deve responder. Esse procedimento implica um novo posicionamento, uma nova atitude do professor e do aluno, em relação ao conteúdo e à sociedade: o conhecimento escolar passa a ser teórico-prático.

Gramsci, apud Manacorda (2008, p.66) idealizando um trabalho pedagógico

sistemático, em uma de suas cartas escritas no cárcere, destinado a um amigo que

havia lhe solicitado algumas idéias para intensificar as atividades educativas dos

confinados, assim escreveu:

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[...] Uma das atividades mais importantes, segundo me parece, que devem ser desenvolvidas pelo corpo docente, seria a de registrar, desenvolver e coordenar as experiências e as observações pedagógicas e didáticas; desse trabalho ininterrupto só poderá nascer o tipo de escola e o tipo de professor que ambiente requer. Que belo livro se poderia fazer sobre essa experiência e quão útil ele seria (C.36,4/7/27).

Vale ressaltar que o escrito acima, embora seja datado de 1927, é investido

de uma contemporaneidade ímpar, pois reafirma o compromisso o qual o professor

deverá ter com todo o processo educacional, assim como a importância da

historicidade da prática pedagógica para seu próprio crescimento.

De acordo com Manacorda (2008, p. 58-59) os temas e os discursos político-

pedagógico de Gramsci, perpetuou por todo período que ficou encarcerado até sua

morte,

[...] posto em confronto com os ecos que ainda lhe chegavam do mundo exterior, em diálogo, tanto quanto possível, atual e, ao mesmo tempo eterno, fur ewig: a exigência de ordem intelectual e moral, a organização da cultura, o partido como um intelectual coletivo, sua função de hegemonia, feita de direção mais consenso, a definição de uma nova escola unitária, cujo princípio pedagógico seja de cultura e de trabalho, ao mesmo tempo.

A escola unitária, legado de Gramsci, é contrária à dualidade do sistema

escolar, ou seja, a existência de dois tipos de escola para dois tipos de classe de

cidadãos, a esse respeito ele defendia:

[...] A escola profissional não deve tornar-se uma incubadora de pequenos monstros aridamente instruídos num ofício, sem idéias gerais, sem cultura geral, sem alma, mas apenas com olhos infalíveis e uma mão firme [...] É também através da cultura profissional que se pode fazer com que do

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menino brote o homem, desde que essa seja uma cultua educativa e não apenas informativa (GRAMSCI, apud MANACORDA, 2008, p. 37)

Portanto, para Gramsci deveria necessariamente existir uma relação entre

escola, educação e política, fazendo com que a escola seja uma verdadeira escola e

trabalho não seja uma masmorra.

A Educação Profissional, objeto de nosso estudo, encontra-se viva nas

idéias de Gramsci, levando em consideração o trabalho como princípio educativo.

Assim sendo, as questões metodológicas se constituem numa preocupação central

deste estudo, pois a teoria sobre educação e trabalho pouco tem progredido no

cenário educacional brasileiro.

Na análise da professora Acácia Kuenzer (2009, p.192), para que haja

superação do trabalho alienado, levando a uma educação politécnica e

consequetemente à formação do homem onnilateral, faz-se necessário:

[...] superar o caráter estreito da profissionalização, para pensar na possibilidade de uma formação que, superando a reedificação do saber burguês, permita um “fazer pensado”, que alie teoria e prática e que mostre historicamente como esse saber foi construído, por quem foi construído, em que aspectos ele corresponde à realidade e em que aspectos ele a mistifica, e finalmente, a quem tem servido. [...] Nesse sentido, a proposta escolar ultrapassa sua dimensão meramente técnica para atingir uma dimensão política, enquanto permite ao trabalhador compreender a história e os limites de sua prática, como esta se articula com as relações de produção vigentes e como ela pode ser um elemento transformador dessas mesmas relações.

Nesse diapasão, a educação profissional vista sobre o prisma da

integralidade e da politecnia, na perspectiva de Marx, Luckács, Gramsci e Saviani,

terá como pontos básicos: educação geral inseparável da educação profissional; a

formação completa para a leitura de mundo e compreensão das relações sociais

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subjacentes a todos os fenômenos e compreensão teórica e prática dos princípios

científicos das técnicas usadas no trabalho.

Desta forma, o eixo pela qual será construída a proposta pedagógica a qual

integrará ciência, trabalho e cultura, dando assim concretude ao trabalho como

princípio educativo, através da criteriosa seleção de conteúdos e tratamentos

metodológicos eficazes, será o Processo do Trabalho, tendo como base as relações

sociais, sendo o professor o mediador de todo esse processo ensino-aprendizagem.

A professora Sandra Garcia e a professora Eliza Ferreira (2005, p. 164), a

esse respeito afirmam:

[...] assumir uma concepção de educação profissional tendo o trabalho como princípio educativo que considere o homem em sua totalidade histórica e a articulação entre trabalho manual e intelectual, presentes no processo produtivo contemporâneo, bem como as controvertidas implicações daí decorrentes no âmbito dos processos de formação humana, significa entender que a integração do ensino médio à educação profissional pressupõe a formação de pessoas que compreendam a realidade e que possam atuar como profissionais.

Importante destacar que a Educação Profissional integrada ao ensino Médio,

fundamenta-se:

[...] numa concepção de ensino e currículo em que o trabalho, a cultura, a ciência e a tecnologia constituem os fundamentos sobre os quais os conhecimentos escolares devem ser trabalhados e assegurados, na perspectiva de uma escola unitária e de uma educação politécnica (ANGELI, 2008, p. 211).

Cabe destacar que a escola unitária, propagada aos “04 ventos”, por si só

não é a solução para um projeto societário voltado para a emancipação do sujeito, é

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necessário que a escola unitária seja um projeto político para a sociedade em todos

os campos. Logo, há necessidade de universalização e qualificação do ensino

médio. Pesquisas demonstraram que no Brasil menos de 50% dos alunos

frequentam o ensino Médio, pois, ainda é um nível de educação restrita.

A escola, enquanto instituição é responsável pela formação de cultura geral/

humanística, necessitando de uma estrutura curricular que dê amparo científico,

fazendo com que o sujeito se aproprie de conhecimentos que o próprio mundo já

produziu. Parafraseando Gramsci: “tudo que está no real vem para dentro da

escola”.

Nesse processo o papel do professor é de extrema importância:

[...] o nexo instrução – educação somente pode ser representada pelo trabalho vivo do professor, na medida em que o mestre é consciente do contraste entre o tipo de educação e da cultura (dominante) que ele representa e o tipo de sociedade e de cultura representado pelos alunos (GRAMSCI, apud MANACORDA, 2008,p.262).

Assim sendo o professor deve apropriar-se do conhecimento que ultrapassa

o senso comum, ou seja, apropriar-se dos conhecimentos produzidos e acumulados

pelos homens, só assim os seus alunos terão acesso a esse conhecimento, assim

como poderão se situar e compreenderem dentro do processo social contemporâneo

(FACCI, 2004, p.69).

Dentro dessa idéia é que começamos a elaborar o plano de curso e o plano

de estágio dos cursos Técnicos em enfermagem (subsequente) e Saúde Bucal

(subsequente e integrado) do Colégio Estadual Professor Bento Munhoz da Rocha

Neto – EFMP. No início, dúvidas eram muitas, entretanto, uma era fundamental:

quem seriam os profissionais que iriam ministrar aulas nesses cursos, haja vista que

100% destes eram todos bacharéis (profissionais autônomos: enfermeiros e

odontólogos), sem nenhuma formação pedagógica, pois nenhum havia feito

qualquer tipo de licenciatura, ademais, nunca haviam feito qualquer leitura sobre o

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ensino profissionalizante numa perspectiva do trabalho como princípio educativo?

Sequer sabiam o que era escola dualista, unitária. Enfim, desconheciam conceitos

básicos e fundamentais sobre o ensino profissionalizante.

Neste sentido, perguntava-se: como esses profissionais poderiam estar em

sala de aula ministrando conteúdos, formando e informando pessoas para

trabalharem na área da saúde, sem nunca terem tido uma orientação sequer de

práticas pedagógicas/ didática/psicologia/filosofia e ou sociologia? Além do que

sequer conheciam a concepção da educação profissional nos dias atuais?

Enfim, foi a partir de todas essas e outras preocupações e indagações que

fomos à busca de possíveis soluções aos problemas até então apresentados, mais

especificamente quanto à formação continuada dos profissionais os quais estariam

direta e indiretamente ligados aos alunos dos cursos profissionalizantes, ou seja,

trazer subsídios teóricos e metodológicos aos professores e equipe pedagógica

desses respectivos cursos.

O nosso grande desafio, parafraseando Frigotto, foi a superação do modelo

disciplinar fragmentado para a construção de um currículo integrado, em que o eixo

da formação articulem a tríade: Trabalho, Ciência e Cultura, todavia, uma integração

que ultrapasse a simples justaposição de formação profissional e formação geral

básica, ou seja, uma formação que seja capaz de gerar o conhecimento acerca das

bases científicas, históricas e culturais que explicam o trabalho e a tecnologia na

atualidade.

No enfrentamento a esses desafios, medidas macro e micro deverão ser

tomados tanto no âmbito do Estado, com Políticas Públicas exeqüíveis e não

utópicas, como também no âmbito de toda comunidade escolar, principalmente na

formação continuada dos professores (mediadores), os quais deverão estabelecer

estratégias metodológicas, articulando teoria/prática, que indiquem o aluno como

sujeito do processo ensino-aprendizagem, objetivando a sua emancipação.

Assim sendo, por intermédio de um curso de extensão de formação

continuada oportunizado aos profissionais da educação atuantes ou não nos cursos

Técnicos de Enfermagem (subsequente) e saúde Bucal (subsequente e integrado)

do Colégio Estadual Professor Bento Munhoz da Rocha Neto – Ensino Fundamental

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Médio e Profissional de Paranavaí/PR, referendado no Projeto de intervenção

Pedagógica do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná –

PDE/2009, com apoio do material didático- pedagógico caderno temático3 discutiu-

se os seguintes temas:

1. CAMINHOS PERCORRIDOS PELA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO

BRASIL E NO ESTADO DO PARANÁ – 1909 a 2009 – CEM ANOS DE HISTÓRIA;

2. A DUALIDADE ESTRUTURAL DA SOCIEDADE E O ENSINO

BRASILEIRO sob o prisma das Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional:

4024/61; 5692/71 e 9394/96;

3. TRABALHO – CONTRADIÇÃO ENTRE A PERSPECTIVA ONTOLÓGICA

(ATO DE CRIAÇÃO) E A PERSPECTIVA DA ALIENAÇÃO (LIMITADOR DA

CONDIÇÃO CRIATIVA E EMANCIPATÓRIA);

4. A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

DE NÍVEL MÉDIO: TENSÕES E (IN) TENÇÕES.

Priorizou-se durante os estudos um ensino-aprendizagem dialógico, dialético

e investigativo viabilizando a troca de experiências, a (re) construção e (re)

significação de conceitos e conhecimentos, ou seja, um repensar a relação entre a

formação científica básica e formação profissional, tendo como ponto crucial o

trabalho como princípio educativo num currículo integrado.

Assim sendo, oportunizou-se discussões temáticas com os professores que

atuam no Ensino Profissional, por intermédio de referenciais teóricos, que

abordavam questões do trabalho como princípio educativo, da manufatura a

industrialização, assim como as políticas educacionais neoliberais, e seus reflexos

diretos e indiretos na educação, e mais especificamente sua influência na prática

escolar e na formação do sujeito.

Estudou-se a relação educação e trabalho a fim de superar a educação

profissional como simples instrumento de políticas assistencialistas ou linear

3 Organização: Maria Laurete de Souza Chagas, professora PDE/2009, sendo os três primeiros temas de sua autoria, no

entanto, o quarto e último tema trata-se de um material de autoria do professor Waldemar Oliveira Júnior: Pedagogo, Mestre em Educação -– Formação do Educador pela Universidade Católica de Santos-SP.

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ajustamento às demandas do mercado de trabalho, ressaltando a importância da

relação teoria e prática num cenário em que se aprenda a pensar e a fazer,

estabelecendo vínculos e produzindo o conhecimento, interligando-se com os outros

saberes culturais e sociais, como mecanismo de inserção social.

Todos os temas estudados eram permeados por vídeos e slides abordando

os seguintes conteúdos: Trabalho - modo de produção da manufatura a

industrialização; mudanças no capitalismo; fordismo e taylorismo e na formação do

trabalhador; entrevista do professor Dante de Oliveira onde ele dá ênfase sobre: “o

trabalho como princípio educativo, numa perspectiva ontológica e numa perspectiva

do capital”; entrevista com o professor Gaudêncio Frigotto sobre:” Políticas Públicas

da Educação Brasileira”.

Em momentos distintos, na hora atividade de cada professor foi realizada

análise da proposta curricular dos cursos profissionalizantes (integrado e

subsequente) com observância a unidade entre o ensino Técnico e ensino científico-

cultural, assim como se discutiu criticamente a sua reelaboração e/ou

implementação dentro da perspectiva do trabalho como princípio educativo, “a partir

do que está sendo vivido, pensado e realizado nas e pelas escolas. (ARCO VERDE,

apud GREGORI, 2008, p. 179)”.

Os participantes do curso de extensão, ou seja, professores, uma pedagoga

e uma coordenadora organizaram um encontro com professores e coordenadores de

todos os cursos profissionalizantes do Núcleo Regional de Educação de Paranavaí,

com a participação ainda de acadêmicas do curso de Pedagogia da FAFIPA,

ocasião em que os participantes do curso expuseram vários assuntos como:

“Trabalho – contradição entre a perspectiva Ontológica (ato de criação) e a

perspectiva da alienação (limitador da condição criativa e emancipatória)” 4;

“Concepção do Ensino Médio Integrado à Educação Profissional” 5; “Possibilidades e

desafios do currículo integrado” 6;” A formação do professor para a educação

profissional de nível médio: Tensões e (IN) tensões “7;

4 Maria Laurete de Souza Chagas – Texto do Caderno Temático – PDE/2009.

5 Texto Marise Ramos – (SEED/PR – O ensino médio Integrado à educação profissional: concepções e construções a partir da

implantação na rede Pública Estadual do Paraná). 6 Idem

7 Waldemar de Oliveira Júnior – Texto do caderno Temático – PDE/2009

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Nesse encontro oportunizou-se não apenas aos professores do curso de

extensão os quais apresentaram os conteúdos dos temas trabalhados, mas também

a todos os participantes, apropriação de conceitos e conhecimentos básicos,

suscitando reflexões e análises das relações que se estabelecem entre Educação e

Trabalho num contexto de mutações profundas no mundo do trabalho e das

reformas educacionais.

Frigotto, apud Libâneo, (2009, p.21) nos ensina que:

[...] A transformação geral da sociedade repercute, sim, na educação, nas escolas, no trabalho dos professores. Embora, seja verdade que tal repercussão tem se caracterizado pela subordinação da educação à economia e ao mercado com pouca ou nenhuma preocupação com a desigualdade e o destino social das pessoas, não se pode deixar de investir numa proposta de escola democrática que contemple conhecimento, habilidades e valores necessários para a sobrevivência no mundo complexo de hoje. (grifei)

Dentro desse raciocínio e em se tratando do ensino profissionalizante

retornamos a nossa grande indagação inicial, motivo de nossas angústias: Qual o

perfil profissional docente que venha de encontro com as novas concepções de

escola, trabalho, homem e de sociedade sem perder de vista o trabalho como

princípio educativo?

E mais, esse professor tem o discernimento de que “ o conhecimento teórico

e prático, seja, elaborado na perspectiva da práxis”, superando a dualidade da

escola?

O ponto de partida para a formação desse perfil de profissional acima

descrito será compreender a relação entre educação e trabalho, ou seja, considerar

que a educação também é, ou pode ser, espaço de transformação da vida social e,

por conseguinte, das próprias relações de produção. Ao mesmo tempo em que é

modificada pelo mundo da produção, ela também é capaz de modificá-lo.

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Segundo Oliveira Júnior (2008), em sua dissertação de mestrado intitulada:

“A formação do professor para a Educação Profissional de Nível Médio: Tensões e

(IN) tensões”, afirma que a capacidade do professor conduzir bem seu trabalho

depende de múltiplos fatores, entre estes podemos citar: uma formação pedagógica

que anteceda a aventura de colocar-se à frente de uma sala de aula, pois, a

formação profissional desse professor se dá pela vivência no trabalho docente

cotidiano e pela reflexão do próprio docente sobre essa prática.

A trajetória profissional de um professor se desenvolve em três dimensões:

[...] A formação sócio-política, ou seja, autoconstrução de um perfil pessoal adequado à profissão docente; a formação técnica bem fundamentada na ciência e a arte da docência propriamente dita. A terceira dimensão corresponde ao domínio das especificidades da profissão docente e dos fundamentos do processo de aprendizagem (OLIVEIRA JR ,2008,p.63.

O professor dos cursos profissionalizantes, em geral um profissional bem

sucedido em sua profissão, não dispõe de informação necessária sobre práticas

pedagógicas no processo ensino aprendizagem, assim como de fundamentos

filosóficos e teóricos sobre ensino profissionalizante na perspectiva de uma escola

unitária, tendo o trabalho como princípio educativo.

È necessário e urgente que se repense a qualificação deste profissional,

promovendo-se uma formação continuada para atuarem nos cursos

profissionalizantes, assim como cursos específicos na área de educação para

melhorar o seu desempenho enquanto educador.

Frise-se, o objeto de estudo do referido curso de extensão, culminando com

o encontro com todos os coordenadores dos cursos profissionalizantes não

pretendia indicar caminhos imediatos a serem percorridos pelas escolas e pelos

professores para alcançarem as transformações necessárias. Apenas sugeriu e

refletiu a superação das abordagens tradicionais e a necessidade de mudar

paradigmas, assim como fazer rupturas com práticas e crenças que nos impedem de

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fazer mudanças e enfrentar desafios no ensino médio integrado à Educação

Profissional.

Tratou-se, portanto, de uma contribuição ao debate coletivo e crítico, bem

como ao favorecimento das bases conceituais para a construção de uma escola

unitária, onde o ensino médio integrado à Educação Profissional (currículo

integrado) tenha por base o trabalho como princípio educativo, objetivando um

projeto societário mais democrático.

Enfim, estão aqui expostos, em linhas gerais, os aspectos e características

de um ensino profissionalizante que objetiva a formação do cidadão, do sujeito

enquanto pessoa, isto é, uma formação que o habilite ao trabalho e a vida.

Nesse diapasão, é importante deixar claro que tudo isso só será possível e

viável por intermédio de um grande mediador: o professor, o qual necessita ter,

urgentemente, conhecimento de conceitos básicos sobre educação profissional,

assim como fundamentos filosóficos e teóricos metodológicos para planejar, refletir

sobre sua ação, pensar sobre o que faz, antes, durante e depois de sua prática

pedagógica.

No Fórum Mundial de Educação, Trabalho e Tecnologia em novembro de

2009 em Brasília, ficou evidenciado que o currículo integrado e o trabalho como

princípio Educativo ainda é uma novidade para 99% dos Estados Brasileiros, aliás,

somente o Estado do Paraná demonstrou um pequeno avanço nessa caminhada

que está apenas começando. Estes dados são um tanto preocupante, pois se

observa uma enxurrada de novos cursos profissionalizantes, tanto em escolas

regulares do ensino médio, assim como com a abertura de novos CEFETs, todavia,

observa-se um distanciamento muito grande de suas propostas pedagógicas com os

fundamentos filosóficos e metodológicos de uma escola unitária tendo o trabalho

como princípio educativo.

Observa-se que ainda não há respostas prontas e acabadas às indagações

feitas durante nossas discussões, mesmo porque estas ainda estão sendo

construídas, encontra-se em fase de processo, no entanto, o presente artigo propôs

a explicitar a experiência realizada com professores dos cursos Técnicos

profissionalizantes, iniciando com debates sobre temas em grupos menores (curso

de extensão e acompanhamento em hora atividade) e posteriormente, no encontro

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realizado no Núcleo Regional de Educação de Paranavaí, em grande grupo onde

foram expostos e discutidos sobre conceitos básicos do ensino profissionalizante,

sua trajetória, assim como o perfil do profissional docente que deverá atuar nesses

cursos.

Muito embora não tenhamos respostas às indagações feitas, uma coisa é

certa: a partir dos estudos e debates realizados ficou clara a importância de uma

formação continuada permanente e específica à concepção de ensino

profissionalizante a todos os profissionais da educação, fornecendo suporte

necessário a compreensão de um trabalho pedagógico a ser desenvolvida na

perspectiva de uma escola possível, tendo os princípios inerentes a formação do

homem onnilateral respeitados.

4. Conclusão:

Considerando todo o exposto, é de se ver as Políticas Educacionais do

Ensino Profissional no Brasil e mais especificamente no Estado do Paraná avançar,

a passos lentos é claro, no sentido de formar o futuro profissional para atender aos

anseios e necessidades do mundo do trabalho, assim como receber conhecimentos

humanísticos, cultura geral, que o leve a ser um sujeito histórico- social concreto,

proporcionando-o a compreensão das dinâmicas sócio-produtivas das sociedades

modernas, habilitando-os para o exercício autônomo e crítico da sua profissão,

sobre a perspectiva da integração entre trabalho, ciência e cultura.

Da análise da realidade concreta do ensino profissionalizante hoje no Brasil

e no Estado do Paraná, atrelado ao desemprego estrutural vivenciado na sociedade

contemporânea, percebe-se que a caminhada será longa e árdua até se efetivar o

“discurso” das Políticas Educacionais nessa modalidade de ensino, conforme acima

transcrito, haja vista manter-se viva e ativa ainda hoje uma educação dualista.

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Tudo isso são idéias expostas à discussão daqueles que se preocupam com

a questão do ensino Profissionalizante no Brasil, cuja complexidade é conhecida e

cujo tratamento não pode admitir simplismos.

Quanto à importância de uma educação profissional não há dúvidas, no

entanto, é preciso que não apenas os espectadores tenham ciência de tal

relevância, é preciso que todos os participantes do processo ensino-aprendizagem

estejam cientes de que a educação profissional é o futuro de gerações e, portanto,

sob essa perspectiva deve-se desenvolver.

No entanto, é a iminente ameaça de uma explosão de cursos técnicos

profissionalizantes com formação deficiente, desprovidos de conhecimentos

técnicos, teóricos, éticos, etc., e incapazes de serem participantes da formação e

construção de um projeto societário efetivo que poderá colocar em risco uma Política

Educacional sedutora e possível de ser exeqüível. Tudo isso coloca em alerta os

responsáveis diretos e indiretos pelo ensino profissionalizante, dobrando assim suas

responsabilidades.

Portanto, faz-se mister, formação continuada a todos profissionais da

educação ligada direta e indiretamente ao ensino profissionalizante nível médio

como obra de um empenho coletivo na busca de um “projeto societário” democrático

de tal forma que as Políticas Públicas Educacionais do ensino profissionalizante

ultrapassem a margem do discurso, atingindo uma plena concretude.

Nessa perspectiva:

[...] As qualidades ou virtudes são construídas por nós no esforço que nos impomos para diminuir a distância entre o que dizemos e o que fazemos. Este esforço, o de diminuir a distância entre o discurso e a prática, é já uma

dessas virtudes indispensáveis – a da coerência (FREIRE, 1996, p.26).

Nos debates e discussões calorosos sobre as temáticas já mencionadas

anteriormente, ocorridos durante a implementação do projeto de intervenção

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pedagógica, experiência empírica relatada, pode-se observar que os professores

participantes, embora a sua maioria fossem professores atuantes dos cursos

técnicos de enfermagem e saúde bucal sequer tinham conhecimento ou tinham

ouvido falar sobre as diretrizes curriculares da Educação Profissional do Estado do

Paraná e por conseqüência não conheciam os fundamentos políticos e pedagógicos

que nortearam a implantação da educação profissional integrada ao ensino médio.

Ademais, eram desprovidos de conceitos básicos filosóficos, teóricos e

metodológicos do ensino profissionalizantes, razão pela qual se fez necessários

estudos primários objetivando a apropriação desses conceitos pelos professores a

fim de situá-los historicamente no contexto atual da educação profissional.

As Políticas Educacionais dão abertura, cada vez mais, à expansão da

educação profissional no ensino médio através da oferta de cursos

profissionalizantes de forma exacerbada. Infelizmente não expande na mesma

proporção a estrutura necessária ao funcionamento de qualidade desses mesmos

cursos, haja vista que a realidade de nossas escolas denuncia, falta de laboratórios

específicos, acervos bibliográficos deficitários; falta de materiais de uso contínuo nos

laboratórios; ausência de seguro de vida aos alunos em campo de estágio e

principalmente não há formação pedagógica a todos os professores que atuam nos

cursos técnicos, antes mesmo desses se aventurarem a ministrar aulas.

Essa é a realidade nua e crua dos cursos técnicos profissionalizantes no

Brasil, e também no Estado do Paraná, porém, com menos intensidade, mas ainda

com graves problemas de estrutura, pois o ensino profissionalizante em nosso

Estado deixa de ser um experimento e passa a ser uma Política Pública.

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