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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 20
08
Versão On-line ISBN 978-85-8015-039-1Cadernos PDE
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DDEESSMMIISSTTIIFFIICCAANNDDOO OO GGÊÊNNEERROO NNOO CCOONNTTEEXXTTOO EESSCCOOLLAARR
PPrrooffaa.. PPDDEE MMaarriiaa ddee FFááttiimmaa LLeeaall OOlliivveeiirraa
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PPrrooff.. DDrr.. AArrllii RRaammooss ddee OOlliivveeiirraa UUnniivveerrssiiddaaddee EEssttaadduuaall ddee LLoonnddrriinnaa
RESUMO As questões relacionadas ao gênero tem sido pouco discutidas no contexto escolar, especialmente nas aulas de Educação Física. Este artigo propõe uma reflexão sobre diferenças e semelhanças quanto ao gênero nas aulas de Educação Física escolar. Este estudo utilizou metodologia de pesquisa ação e posteriormente descritivo, envolvendo leitura de textos sobre o assunto, reflexões, filmes, jogos e brincadeiras e um evento na modalidade de Atletismo. As discussões enfatizaram o gênero no construto sócio-cultural. A intervenção durou de Fevereiro a Julho de 2009, envolvendo um total de 120 crianças e jovens, de ambos os sexos, de 6ª. a 8ª. série do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Francisco Ferreira Bastos, da cidade de Arapongas, Estado do Paraná. Os resultados do estudo indicaram que ocorreu ao longo da intervenção maior respeito com a pessoa do sexo oposto, a ênfase em um ambiente mais harmonioso e uma melhora nas competências relacionais ou sociais. Palavras Chaves : Gênero; Contexto Escolar; Diferenças.
ABSTRACT DISMISTIFYING GENDER IN THE SOCIAL
CONTEXT The issues related to gender have not been discussed properly in the school. This study had the purpose to discuss gender differences and similarities regarding gender in the school
2 Physical Education classes. This study used research action methodology and thereafter descriptive methodology involving readings, discussions, movies, play, games and a Track and Field championship. The discussion emphasized gender as a sociocultural construct. The intervention period developed from February to July of 2009 involving a total of 120 children and adolescents of both sexes, from 6th. to 8th. grade of Francisco Ferreira Bastos Elementary School of Arapongas, Paraná State. The results of the study indicated that a change ocurred during the intervention. The respect to the opposite sex improved across the intervention. The emphasis was given in a more harmonic environment and better human social relation improvement. Key Words: Gender; School Context; Differences. INTRODUÇÃO
O conhecimento dos alunos quanto à
diferença existente em cada um e o porquê
desta diferenças, é o que moveu o interesse
em desenvolver esta pesquisa. Refletir e
possibilitar uma reflexão enfatizando o respeito
entre eles, para que desta forma, haja uma
estreita e contínua relação entre o social e
biológico das meninas e dos meninos, com
atitudes e movimentos corporais naturais de
cada sexo.
Existem limites para o desempenho
humano, mas até mesmo os cientistas não
podem aferir com precisão, pois depende da
genética de cada um, de treinamento adequado
para cada esporte ou mesmo da utilização de
substâncias ou métodos proibidos (doping)
para melhorar o desempenho atlético.
3 Este estudo espera contribuir no sentido
de provocar discussão e questionamentos no
contexto escolar a respeito do gênero.
Para discutir esse tema, torna-se
necessário conhecer o sentido do termo
gênero.
REVISÃO DE LITERATURA
A seguir serão abordados os seguintes
tópicos: a influência do crescimento e
desenvolvimento, conceito de gênero, a mulher no
esporte e a mulher na sociedade atual.
CONCEITO DE GÊNERO
O termo GÊNERO e sexo não devem ser
confundidos. Sexo refere-se a diferenças
biológicas entre meninos e meninas. Gênero
refere-se a diferenças psicológicas.
De acordo com Sartori (2008, p.32)
E importante analisar a articulação
entre o biológico e o social, ou seja,
não negar as diferenças entre
mulheres e homens, mas há que se
reconhecer que o gênero marca a
diferença fundamental entre os
sexos e que a biologia não pode ser
4 considerada a origem e a razão das
diferenças entre os sexos
(principalmente a subordinação).
Definir padrões motores adequados
para meninos e meninas, é inviável quando não
consideramos a influência dos valores, idéias e
conceitos de cada sociedade.
Nem todos os indivíduos têm a
mesma capacidade para incorporar os
tradicionais esperados papéis do sexo, gênero
e comportamento motor. Normalmente espera-
se encontrar no desenvolvimento motor dos
meninos melhor coordenação motora, noção
espacial, precisão em lançamentos e
principalmente nos esportes coletivos. E nas
meninas, maior desenvolvimento nas
modalidades artísticas, equilíbrio, ritmo e
coordenação fina.
As diferenças entre meninos e
meninas vão além de características físicas e
sexuais, envolvendo também o cognitivo, social
e emocional, sofrendo influência biológicas e
ambientais.
Quando um indivíduo possui
atitudes agressivas e competitiva no mundo
esportivo ele se encaixa no perfil de atleta. Se
em contrapartida for calmo e cuidadoso ele
poderá no máximo ser relações publicas de
algum clube esportivo. Isto nos leva a acreditar
que características femininas não são bem
vistas em organizações esportivas.
As aulas de Educação física tendem
a reproduzir as mesmas oportunidades e
5 valores que a sociedade impõe. Que incentiva
mais meninos a atividades competitivas e as
meninas com brincadeiras infantis, enfatizando
ainda mais o estereótipo de sexo frágil.
Nos últimos tempos percebemos
algumas mudanças que permitem ao homem
jogar voleibol, e as meninas a jogar futebol,
esportes claramente definidos pelo gênero em
nossa sociedade sem que isso possa afetar
sua sexualidade.
No desenvolvimento motor a
superioridade entre meninos e meninas é mais
visível, pois as atividades motoras são mais
estimuladas em meninos na sua infância.
O gênero tende a ser construído
pela nossa sociedade, com intenção de
diferenciar tarefas de meninos e de meninas.
Isto fica bem definido deste a infância quando
as meninas devem ser submissas e cheirosas,
ao menino cabe o papel de ser competitivo e
veloz.
A educação física é de suma
importância na desmistificação do gênero, pois
ainda hoje se discute se as aulas devem ser
mistas ou separadas.
Além de a Educação Física prezar
pelo equilíbrio físico e mental das crianças,
conta-se com o fato das diferenças notáveis
entre os sexos surgirem no período da
puberdade.
O esporte é considerado um meio de
comunicação social, que explicita determinadas
condutas sociais, e as relações de gênero, são
manifestações dos valores que norteiam o
6 imaginário. Portanto, são fatores que, se
analisados, nos possibilitam compreender a
complexidade que envolve as relações entre o
esporte e o gênero no contexto social.
Sobre as relações de gênero com o
esporte, as argumentações apresentadas como
a agressividade, a habilidade e inabilidade de
um e outro sexo, o descompromisso, o
preconceito, a competitividade entre os sexos,
os interesses diferenciados e a adequação
esportiva para os diferentes sexos
demonstraram, com clareza, uma
representação estereotipada da relação
estabelecida pelo homem e pela mulher com a
prática esportiva, relação que foi construída
historicamente em meio às tramas
socioculturais.
Afirmar que o homem é forte e a
mulher é fraca, que ele é agressivo e ela é
delicada, que ele é menos responsável e mais
habilidoso, que eles possuem interesses
diferenciados e que não podem ou não devem
participar de determinadas modalidades
esportivas revela uma representação pautada
na naturalização de valores socialmente
construídos, como nos lembra Bourdieu, que
assim se pronuncia:
“é, com efeito, através dos corpos
socializados, isto é, dos hábitos, e das
práticas rituais parcialmente retiradas
do tempo pela estereotipagem e pela
repetição indefinida, que o passado
se perpetua na longa duração da
7 mitologia coletiva, relativamente
libertada das intermitências da
memória individual ”.
Mesmo reconhecendo as
dificuldades expostas para o trabalho misto, foi
pouco assumida uma visão de adequação
esportiva para ambos os sexos. Essa
adequação teve respaldo nas características de
agressividade e de delicadeza ditas masculinas
e femininas respectivamente, sendo os
esportes caracterizados como masculinizados,
o futebol e o basquete, e o esporte
caracterizado como efeminado, a ginástica
olímpica. Esses deveriam ser praticados pelo
homem e pela mulher, respectivamente.
Habilidades diferentes são
desenvolvidas de forma tão discrepante para
ambos os sexos, porque são diferentemente
estimuladas.
As justificativas da prática esportiva
não discriminatória estiveram amparadas no
discurso de direitos e capacidades iguais, da
persistência feminina e de uma evolução nos
valores sociais, caminhando para o não
sexismo e para a justiça social. A participação
dependerá do interesse pelo esporte. É
possível duvidar.
Esse questionamento foi feito,
porque a visão de ocupação do espaço
esportivo confirma a qualidade de privação e a
de expansão, desenvolvidas socialmente pela
mulher e pelo homem, respectivamente. Como
a mulher poderá participar indiscriminadamente
do esporte se há uma desvalorização feminina
8 e valorização masculina? Sendo assim, a oferta
igualitária de esportes para ambos os sexos
fica camuflada por uma ideologia machista, que
impera no mundo esportivo masculinizado,
embora a mídia e a sociedade não trabalhem,
efetivamente, a fim de que a valorização e o
acesso aos diferentes esportes sejam feitos de
forma justa para ambos os sexos, há
identificação da escola como espaço para a
prática esportiva sem discriminação.
Isso demonstra que a escola é um
local para a vivência não sexista do esporte e,
portanto, um local de oportunidade para um
trabalho de reversão do quadro caótico de
estereotipagem sexual ou, pelo menos, de
intervenção pedagógica que faça despertar a
consciência crítica em nossos alunos, que
interferirá em sua ação na sociedade.
Esperamos ser esse o compromisso político-
pedagógico dos profissionais de Educação
Física.
Para Suplicy (2000):
[...] cabe à escola, a transmissão dos
princípios democráticos e éticos que
são o respeito pelo outro, o respeito
por si mesmo, o respeito à
pluraridade de opiniões. À família
cabe transmitir os valores morais
que a escola não tem condição de
dar, e isso não dá para delegar, a
família tem de explicitar o que acha
certo e errado, isso não compete à
escola, pois a escola não pode ter
9 uma posição sobre o aborto, sobre
casar virgem ou não, isso não é um
consenso social.
Como nos ensina Romero (1994), é
imperativo que o professor reconheça a origem
de certas diferenças entre os sexos e não
atribua a uma razão biológica e a fatores de
origem cultural o desempenho de um e outro
sexo [...] evitando assim que a Educação Física
continue a serviço da ideologia sexista.
Mas para Rosseau, outro conhecido
humanista, as mulheres não podiam
ambicionar a igualdade, sobretudo em matéria
de educação.
De acordo com as idéias de
Rosseau, a mulher deveria ser educada
apenas o quanto fosse preciso para que ela se
colocasse a serviço do homem. Para ele, a
realização natural da mulher seria servir o
homem, desde a infância até a idade adulta.
As frases abaixo são de autoria de
Jean-Jacques Rousseau:
a) "Geralmente, as meninas são
mais dóceis que os meninos e em qualquer
caso têm mais necessidade de ser tratadas
com autoridade".
b) "Nos meninos, o objetivo do
treinamento físico é o desenvolvimento da
força, nas meninas, é o desenvolvimento das
graças."
c) "Os meninos gostam de agitação
e barulho. Seus brinquedos são tambores,
bicicletas e carrinhos. As meninas preferem
coisas atraentes, bonitas e que servem de
10 adorno: espelhos, jóias, vestidos e acima de
tudo, bonecas.”
d) "Na verdade, praticamente, quase
todas as meninas não gostam de aprender a ler
e escrever, mas estão sempre querendo
aprender a usar a agulha de costura." A seguir,
serão discutidos alguns aspectos relacionados
ao gênero com ênfase no crescimento e
desenvolvimento do indivíduo.
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO
O profissional de Educação Física
necessita possuir conhecimentos sobre o
crescimento (teor quantitativo) e o
desenvolvimento (teor qualitativo), a influência
da maturação no desempenho, idade
cronológica e biológica, variáveis importantes
para estimular a prática de atividade física na
criança e adolescente de maneira adequada à
condição de desempenho de cada período do
desenvolvimento.
Crescimento refere-se às mudanças
no tamanho do indivíduo decorrente da
multiplicação ou aumento de células.
Desenvolvimento refere-se a
alterações nas funções orgânicas de um
indivíduo ao longo do tempo.
Maturação refere-se a variações na
velocidade e no tempo de surgimento de
determinadas características, capacitando o
11 indivíduo a atingir a maturidade biológica
(DUARTE, 1993).
Idade cronológica representa a idade
do indivíduo em meses ou anos. A idade
biológica corresponde à idade que o organismo
aparenta se inter-relacionando com os
processos de maturação biológica.
Vale ressaltar que a maturação
sexual é um processo contínuo e, portanto
apresenta limitações quando é avaliada como
uma variável discreta. Além disso, em uma
pequena parcela da população, nem sempre a
idade biológica e os estágios de maturação
sexual ocorrem em períodos iguais (MALINA &
BEUNEN, 1996; MARSHALL & TANNER,
1970).
Quando o indivíduo nasce, as
diferenças em relação ao gênero apenas são
caracterizadas pelas cores do sapatinho. No
entanto, na adolescência ocorrem diferenças
relacionadas à ativação hormonal.
Sabe-se que até a chegada da
puberdade não há uma diferença significativa
entre os sexos. No entanto, a partir daí há um
aumento no ritmo de crescimento, devido ao
pico de velocidade em altura. Durante a
puberdade, a força muscular é afetada pela
maturação.
O incremento na produção de
hormônios anabólicos que ocorre durante a
puberdade afeta a hipertrofia muscular. Os
meninos têm maior aumento na produção
desses hormônios do que as meninas, o que
pode explicar o menor aumento na força
12 muscular nas meninas nesse estágio
maturacional (BERGMAN et al., 2008).
Há duas visões a fim de justificar a
origem das diferenças de gênero: uma de
caráter biológico e a outra, cultural (ROGOFF,
2005). Às meninas é imposta a condição de
delicadeza e cuidados, as que fogem a este
padrão recebem o estereótipo de
masculinidade, ao contrário dos meninos, onde
é cobrada a rudeza e agressividade relativa ao
sexo.
Quanto ao desenvolvimento motor, a
diferença sexual na execução de tarefas ocorre
em geral a partir dos 7 anos de idade, onde
meninos têm um desenvolvimento equilibrado
enquanto as meninas alcançam esse nível em
torno de 13-14 anos de idade, tornando as
diferenças sexuais mais evidentes em relação
ao desenvolvimento motor. Este fato pode ser
atribuído a fatores biológicos como: maior
ganho de força, menor acúmulo de gordura,
vantagens anatômicas e fisiológicas.
Os resultados obtidos, em função
dos objetivos estabelecidos e as discussões
decorrentes, possibilitam as conclusões que se
seguem.
As moças e rapazes começam a
apresentar diferenças significativas, nas
variáveis de crescimento físico, a partir dos 14
anos.
Os incrementos anuais em todas as
variáveis de crescimento físico apresentam a
mesma tendência, indicando que o crescimento
transversal acompanha a tendência do
13 crescimento longitudinal. Além disso, ocorre
também forte influência dos fatores
socioculturais, onde meninos são mais
encorajados que as meninas a praticar
atividades, que requer movimentação e força
física, levando ao desenvolvimento motor
acentuado dos meninos.
Levar os alunos a ter consciência e
conhecimento de suas diferenças tanto
biológicas quanto culturais, fará com que o
respeito aos limites de cada sexo, sejam
superados, tornando o convívio e a
socialização entre os sexos de forma mais
harmoniosa. A seguir, será discutido a mulher
no esporte.
O Papel da Mulher no Esporte
A multiplicação dos conhecimentos é
essencial para o desenvolvimento do esporte
no contexto social, onde as mulheres enquanto
atletas podem ser manipuladas, exploradas,
despersonalizadas e alienadas, com os mais
diferentes tipos de treinamento, e não escapam
sequer do uso de anabolizantes.
Mas no mundo em que se vive sobre
a ditadura da beleza e os feios não são bem
aceitos, a mulher-atleta se vê envolvida pelos
conceitos de masculinidade e feminilidade.
Na verdade dois estereótipos que
resistem às mudanças culturais principalmente
nos esportes de competição.
Neste mundo competitivo a mulher
abre mão do que se convencionou chamar
14 feminilidade-passividade, ternura e obediência,
em troca de agressividade, liderança, ambição,
valores ditos como “masculinos”.
Os argumentos de dois
pesquisadores (HARRIS & OGLESBY, 1982)
mostram que a verdadeira personalidade da
mulher que busca a superação dos limites
humanos mediante a prática esportiva de
competição é andrógena.
Apesar de o preconceito ter
diminuído, com a aceitação da mulher-atleta
pela sociedade, os meios de comunicação não
dão à mulher a mesma importância do homem.
Mas nem todas as diferenças
fisiológicas entre os sexos favorecem os
homens. A mulher tende a ser mais resistente a
certas lesões, como a tendinite ou distensões
musculares, por causa da inserção dos
músculos no esqueleto e nos ligamentos, o que
facilita a participação feminina em esportes que
exigem mais flexibilidade e elasticidade. Nas
tarefas simples, repetitivas, também as
mulheres apresentam em geral um
desempenho superior aos dos homens, pois
possuem aptidões que eles não têm: habilidade
manual, precisão de trabalho, sincronização
mais fácil de movimentos. São os pares de
qualidade psicológica que fazem com que as
mulheres aceitem trabalhos mais entediantes,
tenham maior resistência à monotonia e que
somados ao processo de socialização
oferecem resultados óbvios (saltar corda, pular
amarelinha, etc.).
15 A ciência e a tecnologia têm um
papel preponderante ao esporte neste século.
Elas são responsáveis pelo desenvolvimento e
aprimoramento físico dos atletas em geral.
Em nossa sociedade garotos são
recompensados por sua competitividade e
agressividade, enquanto meninas são
elogiadas pela sua submissão e charme. A
participação em competições, campeonatos e
outros eventos esportivos em que as diferenças
entre homens e mulheres são dissipadas pelo
desempenho e quebra de recordes proporciona
uma reconfiguração da identidade feminina.
Os esportes competitivos ensinam a
mulher a desenvolver seu poder, sua força, sua
resistência e perseverança, características
antagônicas ao modelo feminino de submissão.
A prática esportiva oferece um
campo na quais as mulheres também podem
adquirir respeitabilidade e reconhecimento
social concorrendo para a destruição de falsos
estereótipos femininos como fraqueza física e
psicológica. A preocupação com a mulher no
esporte é mundial, a falta de envolvimento de
mulheres na liderança de esportes seja como
treinadoras, técnica, dirigente ou
administradora, muitas hipóteses têm sido
levantadas, entre elas a qualificação, a
discriminação e os papéis sociais.
Papéis de homens e mulheres já
mudaram muito, mas persistem. Não é mais
tão estranho ver um homem levando os filhos à
escola, nenhuma mulher ao volante de um
carro. Mas uma mulher dirigindo caminhão de
16 lixo ou um homem como empregado
doméstico?
No esporte de alto rendimento e na
sociedade, a trajetória da mulher tem o símbolo
da conquista, da luta por um espaço estreitado
pelo homem. As vitórias sociais não são muitos
diferentes das esportivas: lentas, graduais e
sólidas. Mas foi preciso quebrar o preconceito e
passar a fazer parte do espetáculo para se
chegar ao maior resultado: o respeito.
A imagem esportiva é formada no
interior de uma estética mítica. Força, beleza e
poder são signos dominantes. Quase não há
espaço para o fraco e o feio. E o corpo da
mulher sofre ainda mais essa mítica, em que a
beleza é fundamental.
O uso da mulher no esporte esbarra
freqüentemente em deslizes que visam
enaltecer a beleza, colocando-a em primeiro
plano, como se um sorriso bonito turbinasse a
disputa por marcas, resultados e recordes.
Pior: é como se fosse o único responsável por
eles.
Mas há também as ante-musas,
vistas como um produto de supermercado que
escorregou da prateleira. São feias, tem sua
feminilidade colocada em questão e serve
apenas com uma medalha no peito.
Atualmente, já se tem conhecimento
que o parto de esportistas é geralmente mais
rápido e menos doloroso. Até mesmo em
relação à menstruação, mulheres que praticam
esporte regularmente sofrem menos os
distúrbios pré-menstruais.
17 A dita masculinidade das esportistas
não tem absolutamente ligação com treino,
mas sim com fatores endocrinológicos e
morfológicos.
Em alguma civilização do passado, a
única atividade física permitida às mulheres era
a dança, utilizada principalmente nos rituais
religiosos. Segundo Klafs/Lyon (1981), os
padrões cheios de preconceito da sociedade e
da cultura, a ética e a moral decretavam que a
mulher não era apenas fisicamente incapaz de
atividade extenuante, mas que com a
participação feminina nestas atividades era
pecaminoso ou degradante.
Já na Grécia Antiga, jogos e
atividades esportivas só eram permitidos às
crianças. Na idade adulta as mulheres ficavam
relegadas a tarefas caseiras.
Esparta, no entanto, parecia
evoluída ao permitir que as meninas
participassem de atividades como corridas,
saltos e arremessos, desde que fossem
acompanhadas de treinadoras. O intuito era de
formar um corpo sadio e vigoroso até o
matrimônio, para que fossem capazes de gerar
crianças saudáveis para o serviço do Estado.
No entanto na época de Platão, no
conceito de Estado ideal, já defendia que todos
os homens e mulheres deveriam engajar-se em
treinamento ginástico semelhante, porém
poucas foram às civilizações que permitiram
essa igualdade. A verdade é que no esporte
não tem gênero, mais sim hipocrisia.
18 A importância do Esporte reside no
fato de ser ele um fenômeno de socialização.
Por isso é importante que se busque a
interação entre os sexos nas aulas de
Educação Física. Esta inteiração baseia-se na
aceitação de diferenças.
Nessa perspectiva, as aulas de
Educação Física devem ofertar aos meninos e
meninas as mesmas modalidades, disciplinas e
exercícios, devem possibilitar aos alunos
entender que os padrões de conduta dos sexos
são socialmente construídos, e desta forma
podem ser transformados, e que não são de
ordem natural. A socialização e o convívio
entre os gêneros devem ser enfatizados no
contexto escolar, onde as diferenças culturais
podem e devem ser minimizadas em favor do
comportamento coletivo mais apropriado para
isso.
A Mulher na Sociedade Atual
A mulher na sociedade atual já tem
tomado consciência de sua tarefa no mundo
político em que está inserida, mas devido ao
preconceito adquirido no decorrer da história,
não avançou de maneira igual em todos os
aspectos sociais, políticos e econômicos.
A mulher brasileira tem lutado ao
longo dos anos, para conseguir sua
independência, seu espaço, mesmo vivendo
numa sociedade paternalista, preconceituosa e
discriminatória.
19 Apesar de mudanças consideráveis
de comportamento da sociedade, ainda o que
prevalece são os costumes machistas e
discriminatórios.
Os responsáveis pela educação dos
filhos, os pais e as mães, podem influenciar
positivamente ou negativamente com pequenas
iniciativas, como ensinar que os trabalhos
domésticos são de responsabilidade de todos,
que homens e mulheres são iguais em direitos.
No campo do trabalho, aconteceram
muitos avanços, principalmente com criação de
leis de proteção e incentivo ao trabalho da
mulher. Porém existem barreiras a serem
derrubadas.
Mulheres que exercem os mesmos
cargos de homens ganham menos e suas
qualificações são pouco reconhecidas, uma vez
que seus salários são entendidos como um
complemento da renda familiar, visto que o
dever de sustento é do homem. Exigem da
mulher além de qualificação técnica superior ao
do homem, ainda exigem beleza, transcrita nos
anúncios de emprego como boa aparência.
Apesar de tudo isso hoje passamos
por uma revolução silenciosa, que pode ser
vista nos bancos das universidades, em todos
os cursos de graduação, especialização,
doutorado a predominância é do sexo feminino.
Aos poucos as habilidades e
características femininas começam a ser
valorizadas pela sociedade, deixando a mulher
aos poucos de ser uma mera coadjuvante em
20 determinados segmentos sociais e profissionais,
possibilitando cada vez mais o seu acesso ás
posições estratégicas em suas profissões.
Na realidade, as mulheres foram da
esfera doméstica à ocupação de diferentes
funções na sociedade moderna, mas estas
conquistas sociais em sido alcançadas e
entendidas de forma diferente pelas mulheres.
Na atualidade as mulheres estão
aprendendo a lidar com os problemas e a
discernir as dificuldades na dupla e algumas
vezes, na tripla jornada de trabalho, no lar e
fora dele.
Apesar desta aparente igualdade, os
salários entre homens e mulheres continuam
diferentes, a grande diferença está em que,
para os homens, ganhar dinheiro é mais
importante do que para as mulheres, elas ainda
querem um homem que as sustentem, que lhes
dêem guarita. Para as mulheres o principal
objetivo é alcançar satisfação pessoal, é poder
conciliar a atividade profissional com a familiar.
As mulheres não estão dispostas há trabalhar
tantas horas por semana quanto os homens,
elas precisam de horas vagas para se cuidar,
cuidar da família etc.
Na disputa entre elas e os homens
que dão todas as suas horas à empresa, os
homens levam vantagem, eles são mais
focados em resultados, em ganhar dinheiro.
Uma mulher que se dispuser a abrir mão de
suas horas e se dedicar inteiramente ao
trabalho têm as mesmas chances ou talvez
maior de ser bem sucedida que os homens,
21 devido a sua alta capacidade de executar mais
de uma atividade ao mesmo tempo.
“Enquanto o homem e a mulher
não se reconhecerem como
semelhantes, enquanto não se
respeitarem como pessoas em
que, do ponto de vista social,
política e econômico, não há a
menor diferença, os seres
humanos estarão condenados a
não verem o que têm de melhor: a
sua liberdade.”
Simone de Beauvoir
Em resumo, percebe-se que há ainda um
longo caminho a percorrer no sentido de
igualdade no tocante ao gênero. Por outro lado,
é inegável constatar que as conquistas vêm
sendo alcançadas gradativamente ao longo da
história.
MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo utilizou metodologia de
pesquisa ação e posteriormente descritiva.
Para tanto, a amostra foi constituída de 120
alunos de ambos os sexos, da 6ª. a 8ª. Série
do Ensino Fundamental, do Colégio Estadual
Francisco Ferreira Bastos, de Arapongas,
Estado do Paraná. As ações desenvolvidas
englobaram leituras de textos para reflexão,
debates, filme, brincadeiras e jogos pré-
desportivos, culminando com a realização de
uma competição de Atletismo na própria
22 escola. A avaliação dos resultados foi realizada
pela própria investigadora através de
anotações dos resultados do desempenho de
meninos e meninas e discutidos com as
turmas.
RESULTADOS
As meninas das turmas mais jovens
apresentaram resultados similares aos
meninos, em função do seu desempenho motor
e se encontrar em fase de crescimento. Por
outro lado, nas turmas de maior idade ocorreu
uma preponderância dos meninos quanto ao
desempenho, explicado pela maturação e
influências socioculturais. Ambos os grupos
participaram ativamente dos debates dos textos
utilizados pela professora com
questionamentos, reflexões e posicionamentos,
influenciados pelos valores familiares.
As concepções edificadas acerca da
diferenciação de gêneros no decorrer dos
séculos permanecem fortes na sociedade
contemporânea. Há uma interferência no
comportamento de meninos e meninas, aos
quais se impõem estereótipos de longa data.
(ROGOFF, 2005).
CONCLUSÕES A bagagem de conhecimento que a
criança traz da família, religião e sociedade
devem ser valorizadas, mesmo que estes
conhecimentos sejam baseados no senso
comum. Cabe a escola sistematizar e
23 questionar esses conhecimentos, já que as
diretrizes curriculares contemplam uma
formação de estudantes críticos e com
capacidade de autonomia no seu convívio com
a sociedade.
Os meninos têm parecem possuir
mais privilégios em nossa sociedade. Nota-se
que a educação sexual é diferente para
meninos e meninas, onde a sociedade espera
que a menina seja delicada, compreensiva, e
submissa, e os meninos de que sejam
competitivos, agressivos e viris. A
aprendizagem a respeito da masculinidade e
feminilidade é feita através da socialização e do
meio ambiente e isso fará com que o
adolescente seja feliz ou não com sua
sexualidade.
Os fatores limitantes deste estudo
apontam para a dificuldade que os alunos
possuem de utilizar o tempo de aula de
Educação Física para debates e reflexões,
entendendo muitas vezes a ênfase no fazer
enquanto outras competências (conhecer, ser,
se relacionar) são colocadas em segundo
plano. No entanto, com o processo de
discussão e debates o conhecimento sobre o
tema se ampliou e se tornou a sua participação
mais efetiva nessa intervenção.
Para futuros estudos, sugere-se a
utilização de atividades lúdicas voltadas à
temática do estudo tais como paródias, teatro,
e jogos. A comparação com escolas privadas
ou de outras regiões também poderiam trazer
24 informações à produção do conhecimento na
questão do gênero no contexto escolar.
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