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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃOUNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL PDE

CADERNO PEDAGÓGICO DE LÍNGUA PORTUGUESA

A LINGUAGEM MUSICAL – PRESENÇA NA FORMAÇÃO HUMANA

Tema: O contexto histórico do gênero música, particularizando a Bossa Nova como

ação humanizadora no cotidiano escolar

Tempo estimado para aplicação: 32 horas/ aulas

PROFESSORA : Sônia Mendes Ferreira

ORIENTADORA : Annie Rose dos Santos

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

2

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................... 03

2. DESENVOLVIMENTO DO CADERNO PEDAGÓGICO ....................... 06

1º Momento – Considerações sobre as canções brasileiras do

movimento bossa nova ...................................................................... 06

2º Momento – Como trabalhar as letras das músicas da bossa

nova....................................................................................................... 08

3º Momento – O contexto histórico da bossa nova ........................... 10

4º Momento – O sucesso da’ Garota de Ipanema’ ............................. 11

5º Momento – O Rio de Janeiro ........................................................... 14

6º Momento – Vinícius de Moraes ...................................................... 18

7º Momento – As reais contribuições da bossa nova para a música

brasileira............................................................................................... 21

8º Momento – Encerra-se a bossa nova ............................................. 25

3. ENCERRAMENTO - SUGESTÃO DE UMA PRÁTICA

PEDAGÓGICA........................................................................................................27

4. REFERÊNCIAS.......................................................................................28

3

“O homem nada pode aprender senão em virtude do que já sabe”

Aristóteles

1 . INTRODUÇÃO

A presente Unidade Didática contempla o processo histórico e interpretativo da

Bossa Nova, primeiro movimento musical a receber um nome e inovar o

cenário da música nacional. As músicas acabaram se tornando pura poesia

nas mãos de Tom Jobim, Vinícius de Moraes e João Gilberto, entre outros

compositores. A Bossa Nova passou a refletir um estado de espírito mais

positivo e o amor passou a ser descrito de uma maneira diferente.

A organização das atividades desta Unidade contemplará as práticas

discursivas. Nosso material de trabalho são as músicas que fizeram parte do

movimento Bossa Nova, juntamente com seus respectivos documentários,

objetivando a leitura interpretativa das letras e considerando o contexto

histórico da época.

A visão dialógica de Bakhtin (1988) propala que é na interação verbal,

estabelecida pela língua com o sujeito falante e com os textos anteriores e

posteriores que a palavra(signo social e ideológico) se torna real e ganha

diferentes sentidos conforme o contexto. Bakhtin (1988) considera o homem

um ser histórico e social, carregado de valores, e a língua, na qual e pela qual

se constitui, como reflexo das relações estáveis entre os falantes.

A Bossa Nova aborda em suas canções temáticas leves e

descompromissadas, pois se situa em uma época estável e progressista do

Brasil, uma fase desenvolvimentista da presidência de Juscelino Kubitschek

(1955-1960), contrastando logo mais à frente com as músicas “protesto” da

época da ditadura. A música é, portanto, um gênero que pode refletir a

ideologia e o estado de espírito de toda uma nação, configurando-se como um

reflexo da sociedade carregado de ideologia.

4

A Bossa Nova, por exemplo, sofreu a influência do Jazz, porém, analisando o contexto em que surgiu, percebemos o “porquê” de sua calmaria e suavidade: o Brasil vivia os seus Anos Dourados, o progresso, as esperanças renovadas, tudo corria bem, e esse movimento ficou associado ao crescimento urbano brasileiro, sendo o primeiro movimento musical egresso das faculdades, fruto de um grupo de músicos da classe média carioca, tendo como consequência letras mais elaboradas e assuntos envolvendo a cidade do Rio de Janeiro.

Escolhemos como material de estudo a letras das músicas da Bossa Nova

pelos recursos linguísticos das canções privilegiarem a norma culta da língua

portuguesa, visando a enriquecer, ampliar e a qualificar a leitura de nossos

alunos, como assevera Geraldi 1991, p. 112

“não se deve considerar uma leitura privilegiada como única , mas não é possível a admissão de qualquer leitura como se o texto não fosse condiçãonecessária à leitura e como se neste autor nãomobilizasse recursos expressivos, em busca de umaleitura possível”

Nossa proposta de trabalhar músicas da Bossa Nova deve-se a esse fato,

ademais, as letras das músicas desse movimento apresentam letras

elaboradas, visto que são escritas, em sua maioria, por um poeta como

Vinícius de Moraes, e, esse fato, possibilita ao aluno o contato com uma leitura

poética musicada, o que aguça mais os sentidos e canaliza as emoções,

tornando mais agradável a leitura, e com isso acontece a motivação necessária

a outras leituras poéticas de outros autores.

Postulamos, nesta Unidade Didática, que a leitura, assim como a escrita e a

oralidade sejam consideradas como possibilidades de manifestação e

ampliação da subjetividade e do conhecimento científico-cultural no espaço

escolar. O estudo da Bossa Nova contemplará esses três eixos de forma

compacta: a pesquisa do contexto histórico, dos cantores e compositores, a

5

leitura interpretativa das canções e as apresentações orais das pesquisas,

produções poéticas e paródias.

Desse modo, o professor, como mediador de todo o processo, deve propor aos

alunos atividades sequenciadas. Segundo os PCNs (BRASIL,1988), não se

trata de seguir uma progressão linear, mas de se ter em vista as necessidades

dos alunos. Dessa maneira, as categorias em pauta: leitura, escrita e oralidade

possibilitam que, de diferentes maneiras, os educandos construam padrões de

escrita, apropriando-se de diferentes arranjos composicionais, conteúdos

temáticos e estilos dos gêneros em circulação nas diferentes áreas de

atividade humana. E, gradativamente, desenvolvam seu estilo (marcas de

autoria).

Propomos, através do estudo da Bossa Nova, a prática da leitura, da escrita e

da oralidade, optando não por textos convencionais, mas sim pela leitura

interpretativa de músicas que fizeram parte de um momento de nossa história e

carregam consigo uma ideologia vivenciada pelos compositores, cantores e por

toda uma geração. As informações trabalhadas neste Projeto levam à produção

de textos, sejam estes textos críticos, comparativos ou até mesmo poesias e

paródias de própria autoria dos alunos.

Ensejamos confrontar o conhecimento musical inicialmente apresentado pelos

alunos com o conhecimento musical adquirido por eles no decorrer das

atividades. É importante que o professor de língua portuguesa crie, em sala de

aula, condições de uso real da linguagem, desenvolvendo atividades paralelas

ao conteúdo específico da série, com criatividade, no intuito de levar o aluno à

reflexão do uso da língua.

A palavra “bossa”, por exemplo, era um termo da gíria carioca que, no fim dos

anos cinquenta, significava “jeito”, “maneira”,”modo”. Quando alguém fazia algo

de modo diferente, original, de maneira fácil e simples, dizia-se que esse

alguém tinha “bossa” e por aí iniciamos o nosso conhecimento das

peculiaridades do estudo em questão. Surgirão outras palavras curiosas no

decorrer das leituras tanto das pesquisas realizadas quanto das letras das

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músicas estudadas, também com o valor conotativo e denotativo de

expressões; cabe ao professor inferir no momento certo, fazendo comparações

e questionamentos.

As atividades propostas têm como objetivo ampliar o conhecimento científico-

cultural dos alunos e devem ser trabalhadas na sequência a seguir

apresentada e o professor deve inteirar-se antecipadamente do conteúdo de

cada atividade.

“ O único homem que está Isento de erros, é aquele

que não arrisca acertar”

Albert Einstein

2 - DESENVOLVIMENTO DO CADERNO PEDAGÓGICO

1° MOMENTO

CONSIDERAÇÕES SOBRE AS CANÇÕES BRASILEIRAS DO MOVIMENTO

BOSSA NOVA

Em relação às canções do movimento, Mello(2001), ressalta que, para muitos

músicos americanos a Bossa Nova representou um sopro benéfico de

renovação, quando gravadas pela primeira vez, já recebiam um tratamento

mais elaborado, eram produtos acabados, exatos, sobre os quais nada havia

que fazer para embelezá-las mais. Nesse sentido, o autor esclarece:”uma

partitura de ‘Corcovado’ ou ‘Garota de Ipanema’ é como uma partitura de

Beethoven ou Bach: ninguém vai se aventurar a recriar em cima dessa obra. A

harmonia das melodias da Bossa Nova está implicitamente inserida, é

completa, não há mais nada a acrescentar.

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Diniz (2006) afirma que com a influência da música popular norte-americana,

do impressionismo europeu e das tradições musicais brasileiras, a Bossa Nova

de acordes dissonantes, notas alteradas e interpretações intimistas, no canto,

abriu uma nova página estética na história da música brasileira e,ainda,

assegura ser o estilo brasileiro mais difundido no mercado internacional.

ATIVIDADE

A primeira atividade privilegiará a prática oral. Os alunos serão convidados a

falar sobre suas preferências musicais. O que gostam de ouvir e por quê?

Cada aluno terá a oportunidade de demonstrar seu conhecimento musical.

Cabe ao professor abordar cada depoimento com perguntas que achar

necessárias à argumentação. Convidá-los a entrevistar as pessoas mais velhas

sobre as músicas que fizeram sucesso em sua época., quais músicas mais

gostavam e assim por diante.

Após explorar o conhecimento musical dos alunos, o professor fará uma breve

explanação sobre o movimento Bossa Nova, fazendo um recorte dos

momentos mais importantes, do sucesso que as músicas daquela época

fizeram no Brasil e no mundo. Todas essas informações podem ser

encontradas nos links abaixo:

www.almacarioca.com.br/mpb.htm

www.cliquemusic.uol.com.br

www.idealdicas.com/bossa-noa-origem-e-história]

O professor deve propor aos alunos uma pesquisa de no mínimo 25 linhas

sobre o contexto histórico que envolveu a Bossa Nova com a finalidade de que

o aluno identifique e compare os temas das músicas ao contexto em que foram

criadas. A linguagem musical reflete os ideais da época na qual está inserida.

Apresentação da pesquisa – A apresentação deve ser feita de maneira

simples: convidar os alunos à leitura de suas pesquisas. Ao final, o professor

deve direcionar os comentários da pesquisa no sentido de analogia,

comparação com as músicas da atualidade. Por exemplo: Comentar sobre os

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temas das músicas da favela, uma camada da sociedade que produz música

com uma marca característica de sua realidade. Esse exemplo será como uma

antítese de tudo o que o aluno viverá em sua experiência com a Bossa Nova,

quanto à melodia, estrutura, tema e principalmente ao vocabulário.

Nesse momento, o professor partilha com os alunos uma série de aspectos

verbais e musicais no campo discursivo da produção musical já apresentada,

pelos alunos no início da atividade, quando foram convidados a relatar suas

preferências musicais.

2° MOMENTO

COMO TRABALHAR AS LETRAS DAS MÚSICAS DA BOSSA NOVA

Para Castro(2001), as letras da Bossa Nova são uma montagem de imagens,

de ideias abstratas, com mais clima do que trama, ou mesmo sem trama

nenhuma, já Medaglia (2003), por sua vez, ao tratar das letras da Bossa Nova,

mostra que elas são identificadas pelo cuidado na elaboração dos textos e

certas intenções construtivas mais conscientes e intelectualizadas, além de

outros aspectos genéricos, tais como o linguajar simples, feito de elementos

extraídos do cotidiano da vida urbana, que revelam uma poética cheia de

humor, ironia e malícia, às vezes também melancólica, afetiva, intimista em

alguns momentos, socialmente participante, em tom de protesto e

inconformismo, nunca, porém, demagógica, dramática ou patológica, evitando

sempre o chavão poético, as frases feitas, a metáfora ou as palavras de “forte

efeito expressivo”.

ATIVIDADE

Para provar aos alunos que mesmo sem saber eles já conhecem e cantam

letras de músicas da Bossa Nova, lembrá-los do tema da novela Páginas da

Vida (Rede Globo) e do tema da também novela global, Viver a Vida.

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Aproveitar a ocasião e passar na TV Pendrive as aberturas originais das duas

novelas, disponíveis na íntegra no site http://www.youtube.com.

Para conseguir as letras de todas as músicas da Bossa Nova, acessar o site

http://www.bossanova.mus.br/letrasecifras.php ou ainda

http://www.baixaki.com.br e digitar em pesquisar, exatamente o que você

procura por exemplo: música tema de abertura da novela Páginas da Vida ou

Viver a Vida.

O objetivo dessa atividade é simplesmente a apresentação das músicas temas

de novela, não sendo necessária nesse momento a preocupação em se fazer

uma interpretação minuciosa das letras, apenas comentar sobre o linguajar

simples, a melodia suave e abrir espaço para outros comentários que os alunos

possam fazer sobre as impressões sensoriais das músicas em questão.

Segue a transcrição de fragmento da letra das músicas: Wave e Sei Lá “A Vida

Tem Sempre Razão”

WAVE – Tema da Novela Páginas da Vida (Rede Globo)

Composição : TOM JOBIM

Vou te contar

Os olhos já não podem ver

Coisas que só o coração pode entender

Fundamental é mesmo o amor

É impossível ser feliz sozinho...

SEI LÁ “ A VIDA TEM SEMPRE RAZÃO ”( com Tom Jobim

e Chico Buarque)

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Tem dias que eu fico pensando na vida

E sinceramente não vejo saída

Como é por exemplo que dá pra entender

A gente mal nasce e começa a morrer

Depois da chegada vem sempre a partida

Porque não há nada sem separação

Sei lá, sei lá

A vida é uma grande ilusão

3° MOMENTO

O CONTEXTO HISTÓRICO DA BOSSA NOVA

Em meados da década de 1950, marcada por um grande crescimento

industrial, aliado ao fortalecimento das instituições financeiras, havia no Brasil

um forte sentimento nacionalista, baseado no desenvolvimento do Governo de

Juscelino Kubitschek: “ 50 anos em 5” era a meta de JK no que se tratava do

“progresso” nacional marcado pela entrada da indústria automobilística. Como

observa Jorge Bassani, a intenção dessa política nacionalista era “trazer o país

para o hoje””. Oficializa-se um projeto que aspire o moderno em qualquer forma

e conteúdo que ela possa assumir desde que pareça

moderno.(BASSANI,2003, p. 81). A construção de Brasília foi um marco no

período, já demonstrando a absorção do conceito modernista em sua

arquitetura, em relação ao racionalismo formal, aliado à produção industrial e

desenvolvimento tecnológico que marcou o modernismo no mundo.

No eixo Rio,São Paulo, havia uma uma arte que ia de encontro a esse

modernismo – o concretismo. Sua linguagem geométrica marca, na arte

brasileira, seu caráter racionalista percebido na ideia do desenvolvimento

industrial e crescimento das cidades urbanas.

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Foi nesse contexto que a Bossa Nova surge e traz em suas origens o jazz

norte-americano, porém a Bossa, criada por um grupo de jovens da classe

média emergente do período pós guerra e, “(...) desligados da tradição musical

popular da cidade “ já não trazia o “impulso do ritmo dos negros”, como o

samba-canção. Jovens da classe média carioca como Nara Leão, Tom Jobim,

Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli dentre outros passaram a se reunir para

fazer, à exemplo das jazz-bands nas boates, as chamadas samba-sessions,

isto é , “ sessões de samba sem hora para começar nem acabar e com

liberdade de improvisação.

A Bossa Nova refletia o comportamento espiritual da juventude da zona sul

carioca e através de sua linguagem, o reflexo do espírito do seu tempo.

ATIVIDADE

Pesquisa como tarefa, propor aos alunos uma pesquisa de 10 a 15 linhas

sobre o contexto histórico que envolveu a Bossa Nova. Em que ano foi? Quem

era o Governador do Brasil à época? E os jovens? Como se vestiam? Quais

eram as gírias e as “baladas” da época ?

4° MOMENTO

O SUCESSO DA ‘GAROTA DE IPANEMA’

A música ‘Garota de Ipanema’ foi uma criação de dois grandes nomes da

música brasileira, surgiu em um dos muitos encontros de Tom Jobim e do

poeta Vinícius de Moraes, no bairro de Ipanema- RJ e, já foi considerada a

música mais tocada no mundo. Já foram feitas mais de 170 gravações em

várias línguas, e ganhou uma versão em inglês interpretada por Frank Sinatra.

A musa inspiradora da canção foi uma moça de apenas 15 anos, cheia de luz e

de graça, do tom de pele dourada, que passava diariamente em frente ao bar

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Veloso, Ipanema, que fazia os poetas suspirarem e foi assim, mediante olhares

discretos, entre uma cervejinha e outra, que a garota chamada Heloísa

Pinheiro, se tornou a musa de inspiração da canção ‘Garota de Ipanema’. Foi

comemorado em 1989 no Carneggie Hall o jubileu de prata da gravação de

‘Garota de Ipanema’, destacando que em vinte e cinco anos a música

ultrapassava as 3 milhões de execuções em emissoras de rádio e televisão e

fez do compositor o segundo autor estrangeiro mais executado nos Estados

Unidos.

GAROTA DE IPANEMA

Composição: Antônio Carlos Jobim/

Vinícius de Moraes

Olha que coisa mais linda

Mais cheia de graça

É ela menina

Que vem e que passa

Num doce balanço, a caminho do mar

Moça do corpo dourado

Do sol de Ipanema

O seu balançado é mais que um poema

É a coisa mais linda que eu já vi passar

Ah, porque estou tão sozinho

Ah, porque tudo é tão triste

Ah, a beleza que existe

A beleza que não é só minha

E também passa sozinha

Ah, se ela soubesse

Que quando ela passa

O mundo inteirinho se enche de graça

E fica mais lindo

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Por causa do amor

ATIVIDADE – Interpretação da música ‘Garota de Ipanema’

Faz-se mister, em se tratando de bossa nova, associar letra e melodia. Não se

deve apresentar a letra desacompanhada da melodia. Para tal, utilizando um

rádio ou a tv/pendrive, deve-se colocar a música na íntegra para os alunos

ouvirem acompanhando a letra. Após a execução da música, atentar para os

detalhes do todo da composição,como. por exemplo: o cantar baixinho, suave,

quase falando.

Em se tratando do gênero canção, é a melodia, o centro de elaboração da

sonoridade (do plano de expressão). Tatit (1996) postula que cantar é uma

gestualidade oral, ao mesmo tempo contínua, articulada, tensa e natural, que

exige um permanente equilíbrio entre os elementos melódicos, linguísticos.

Para o autor, é a .melodia, a responsável por imprimir o como ao que foi

sentido e que está expresso na canção.

A tematização melódica é um campo sonoro propício às tematizações

linguísticas, ou seja, às construções de personagens, o ethos. Maingueneau

(2001) afirma que toda fala procede de um enunciador encarnado, e mesmo

quando escrito, um texto é elaborado com uma maneira de dizer, um tom, pelo

qual a personalidade do sujeito da enunciação é mostrada e o que diz é

legitimado. Esse tom, essa voz mencionada, o mesmo autor chamou de ethos,

termo emprestado da Grécia Antiga, da Retórica( da tipologia de Aristóteles).

Como explicar e levar o aluno a identificar o ethos na interpretação das

músicas que virão a seguir nesta Unidade Didática? O ethos é identificado na

canção, na letra e na melodia, assim como, na voz do cantor. No caso da

Bossa Nova, Costa(2001) enfatiza um ethos como: o do jovem enamorado e

contemplativo, que convida à intimidade de sua música e de seu espaço; do

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sujeito carinhoso e amoroso, que anseia por carinho e amor, e com a sua

corporalidade compõe igualmente, um ethos emocionalmente frágil e sensível.

Tais características são identificadas no movimento, tanto nas letras sintéticas,

quanto na melodia do ‘cantar baixinho quase falando’, em uma música voltada

para o detalhe e em um jogo rítmico entre violão, a bateria e a voz do cantor.

Há um senso de suspensão melódica-harmônica no apelo irresistível da

‘Garota de Ipanema’ que talvez explique aquele estado de transe hipnótico no

qual o sujeito vocal contempla a garota a seu caminho do mar, como se

estivesse verdadeiramente hipnotizado pela graça e beleza do seu movimento.

Mesmo usando de uma linguagem coloquial, a música não perde a poesia, por

exemplo, o uso do termo “coisa” é algo comum na Bossa Nova, tornando

informal seu discurso ao utilizar uma linguagem mais próxima do cotidiano, no

caso em estudo a música ‘Garota de Ipanema’ o termo “coisa” ganha uma

conotação carinhosa, apaixonante, como se não houvesse palavra para definir

tamanha beleza.

Em - /Ah, se ela soubesse que quando ela passa, o mundo sorrindo se enche

de graça e fica mais lindo por causa do amor/ - A beleza é associada ao amor,

ou o amor e a beleza são uma coisa só, ideia reiterada nos versos - /A beleza

que não é só minha/ E também passa sozinha/ - ainda nestes versos há que

se ressaltar que aquele ideal hipnotizante, inatingível transcede o mero

contexto do olhar masculino, para mergulhar e encantar o mundo inteiro numa

espécie de estado de graça.

5° MOMENTO

O RIO DE JANEIRO

Em agosto de 1958, João Gilberto criou uma nova batida ao violão em ‘Chega

de Saudade’ e nunca mais a música popular brasileira foi a mesma. Nascia um

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novo ritmo que, há 50 anos, divulga o Brasil e mais especificamente o Rio de

Janeiro para o mundo. A Bossa Nova começou como um movimento intimista,

concentrado na Zona Sul. Algumas das noites musicais mais animadas

aconteciam no apartamento da cantora Nara Leão, em um prédio que está de

pé até hoje, na Avenida Atlântica. Rapidamente a Bossa Nova deixou os

pequenos apartamentos, para ganhar os bares e boates de Copacabana e

Ipanema. Surgia uma geração que mudou a história da cultura brasileira, em

encontros memoráveis no Beco das Garrafas, em Copacabana. De lá, a turma

costumava seguir para o La Fiorentina, retaurante do Leme.

As belezas da cidade do Rio de Janeiro são cantadas em muitas composições

da Bossa Nova, por se fazer tema de tantas canções torna-se importante e

imprescindível trabalhar com os alunos através de vídeos e slides a parte

geográfica da cidade, pois como diz a música: “...Rio é mar/Eterno se fazer

amar/O meu Rio é lua/ Amiga, branca e nua. É sol, é sal, é sul/ São mãos se

descobrindo em tanto azul”. – Rio.( Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli).

ATIVIDADE – Ouvir as canções selecionadas que tratam,entre outros

temas, da beleza do Rio de Janeiro

A Bossa Nova teve como tema por excelência a cidade do Rio de Janeiro, por

isso propomos ao professor que trabalhe nesta atividade a parte geográfica do

Rio, como era na época da Bossa Nova e as praias mais bonitas e mais

frequentadas da época, permanecem as mesmas?]

Professor, pesquise no google, imagens do Rio de Janeiro no governo de

Juscelino Kubitschek e compare-as com as imagens atuais, mostre como o Rio

de Janeiro há anos vem sendo o cenário de tantos filmes e novelas nacionais.

Quais os encantos do Rio de Janeiro?

A seguir, uma seleção das músicas que mais trataram sobre o tema para

serem apresentadas aos alunos. Após apresentação, propor aos alunos,

produção de paródia: o aluno escolhe dentre as músicas apresentadas a que

mais gostou e sozinho ou em grupo produz uma paródia com um desafio de

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colocar na letra dessa paródia elementos da cidade onde mora, de maneira

romântica ou bem humorada.A apresentação das paródias se dará em sala de

aula com escolha das três melhores da sala.

CARTA AO TOM

TOQUINHO, VINÍCIUS E TOM JOBIM

Rua Nascimento e Silva, cento e sete e você ensinando

pra Elizeth

As canções de “Canção de Amor Demais”

Lembra que tempo feliz, ai que saudades, Ipanema era

só felicidade

Nossa famosa garota nem sabia a que ponto a cidade

turvaria

Esse Rio de amor que se perdeu

Mesmo a tristeza da gente era a mais bela

E além disso se via da janela

Um cantinho de céu e o Redentor

COPACABANA

BRAGUINHA E ALBERTO RIBEIRO

Existem praias tão lindas, cheias de luz

Nenhuma tem o encanto que tu possuis

Tuas areias

Teu céu tão lindo

Tuas sereias sempre sorrindo

Copacabana princesinha do mar

Pelas manhãs tu és a vida a cantar

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CORCOVADO

ANTÔNIO CARLOS JOBIM

Um cantinho um violão

Este amor uma canção

Pra fazer feliz a quem se ama

Muita calma pra pensar

E ter tempo pra sonhar

Da janela vê-se o Corcovado

O Redentor que lindo

SAMBA DO AVIÃO

ANTÔNIO CARLOS JOBIM

Minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro

Estou morrendo de saudade

Rio teu mar praias sem fim

Rio você foi feito pra mim

Cristo Redentor

Braços abertos sobre a Guanabara

Este samba é só porque,

Rio eu gosto de você

RIO

ROBERTO MENESCAL / RONALDO BOSCOLI

Rio que mora no mar

Sorrio pro meu Rio que tem no seu mar

Lindas flores que nascem morenas

Em jardins de sol

Rio serras de veludo

Sorrio pro meu Rio que sorri de tudo

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Que é dourado quase todo o dia

E alegre como a luz

Rio é mar. É terno se fazer amar

6° MOMENTO

VINÍCIUS DE MORAES

“A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do

ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar

da vida humana(...)”

Vinícius de Moraes.

De Vinícius de Moraes, disse Carlos Drummond de Andrade: “Vinícius é o

único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão. Quer dizer, da

poesia em estado natural”. Consagrado no movimento da bossa nova, Marcus

Vinícius Cruz de Melo Moraes foi poeta, compositor e intérprete, destacando-se

na poesia, sendo considerado o último e um dos mais brilhantes poetas do

modernismo. Nascido no bairro do Jardim Botânico no Rio de Janeiro, cidade

que jamais cansou de cantar e louvar, formou-se em Direito em 1933. No

mesmo ano publicou seu primeiro volume de poemas, O Caminho para a

Distância e, em 1935, lançou Forma e Exegese. Escrevendo sonetos tensos e

versos pomposos, sua poesia inicial está tomada pela metafísica, com poemas

de acentos bíblicos. Em Novos Poemas, também escrito em 1938, abandonou

as imagens espirituais em favor de uma linguagem mais realista, coloquial e

lírica. Em 1958, com o lançamento do LP Canções do Amor Demais, gravado

por Eliseth Cardoso, de composições suas em parceria com Tom Jobim,

iniciou-se a bossa nova.

ATIVIDADE - VINÍCIUS DE MORAES – MOMENTO ”POESIA”

19

Antes de ser cantor e compositor na parceria com Tom Jobim, Vinícius era

poeta por excelência e muitas de suas poesias tornaram-se lindas canções. É

importante que o professor faça esse recorte no estudo da Bossa Nova para

conhecer melhor a vida e obra de Vinícius de Moraes, apresentando aos

alunos suas melhores poesias e composições musicais. Nessa atividade o

professor é convidado a valorizar e resgatar a arte de “declamar”,

Apresentar primeiramente aos alunos as poesias que viraram canção : ‘Minha

Namorada’, ‘A Rosa de Hiroshima’ e ‘Pela Luz dos Olhos Teus’, antes de

apresentar o vídeo com essas canções,ler com entonação, declamando os

versos, pedir voluntários nas leituras, interpretar com eles os versos

declamados. Apresentar a eles as melhores e mais famosas poesias de

Vinícius de Moraes e promover uma aula de leitura de poesias com direito a

escolha das melhores declamações.

MINHA NAMORADA

CARLOS LYRA E VINÍCIUS DE MORAES

Meu poeta eu hoje estou contente

Todo mundo de repente ficou lindo, ficou lindo de morrer

Eu hoje estou me rindo

Nem eu mesma sei de que

Porque eu recebi uma cartinhazinha de você

Se você quer ser minha namorada

Ah, que linda namorada você poderia ser

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A ROSA DE HIROSHIMA

VINÍCIUS DE MORAES

Pensem nas crianças

Mudas telepáticas

Pensem nas meninas

Cegas inexatas

Pensem nas mulheres rotas alteradas

PELA LUZ DOS OLHOS TEUS

VINÍCIUS DE MORAES

Quando a luz dos olhos meus

E a luz dos olhos teus resolvem se encontrar

Ai que bom que isso é meu Deus

Que frio que me dá o encontro desse olhar

Mas se a luz dos olhos teus

Resiste aos olhos meus só pra me provocar

Meu amor, juro por Deus, me sinto incendiar

SONETO DE FIDELIDADE

VINÍCIUS DE MORAES

E tudo, ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meus pensamentos

Quero vive-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

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DE REPENTE

VINÍCIUS DE MORAES

De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma

E das bocas úmidas fez-se a espuma

E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento

Que dos olhos desfez a última chama

A FELICIDADE

TOM JOBIM E VINÍCIUS DE MORAES

Tristeza não tem fim

Felicidade, sim

A felicidade é como a pluma

Que o vento vai levando pelo ar

Voa tão leve nas tem a vida breve

Precisa que haja vento sem parar

A felicidade do pobre parece

A grande ilusão do carnaval

7° MOMENTO

AS REAIS CONTRIBUIÇÕES DA BOSSA NOVA PARA A MÚSICA

BRASILEIRA

Os idiomas musicais que prevaleciam na era imediatamente anterior à Bossa

Nova – o declínio do Getulismo, do provincianismo, do populismo nacional

22

sentimental que havia sido identificado com as administrações de Getúlio

Vargas 1930-45-1951-4), eram as vozes do heroísmo e da tragédia,

representadas pelo samba – exaltação e o samba-canção respectivamente; o

primeiro um hino carnavalesco de celebração patriótica exemplificado por

‘Aquarela do Brasil’ de Ari Barroso, o segundo uma tradição da canção lírica

que houvera até então se tornado um veículo para as divas do drama

romântico-trágico, tais como Dalva de Oliveira e Maysa.

O som instrumental daquele período era clamoroso, extravagante,

emocionalmente efusivo, e feito para projetar no último volume um sujeito vocal

de grande magnitude – a persona épica de uma nação, ou a persona de uma

vítima-heroína sofredora ou cujo amor não fora correspondido.

A Bossa Nova conseguiu transpor todo aquele sentimentalismo e vulgaridade

populistas com suas melodias e harmonias “difíceis” notas dissonantes, suas

letras inteligentes. Pela primeira vez a estrutura musical, instrumentação e

performance pareciam feitas para por no centro do palco não a personalidade

do sujeito – cantor, que havia agora literalmente abaixado seu tom de voz ao

ponto do sussurro, mas a música em si.

Ouvir uma composição de bossa nova não era mais ouvir o drama pessoal

declamado em um estilo semelhante ao de uma ópera, mas participar

engajadamente em uma conversa inteligente, elegante e moderna. Outra

grande inovação trazida nas relações produtivas da bossa nova foi em relação

à apresentação gráfica nas capas dos discos, a foto que até então era muito

utilizada passou a dar lugar para ilustrações mais simples, muitas vezes

geometrizadas, influência da estética racional moderna e ainda passou-se a

valorizar os profissionais envolvidos na gravação, edição, composição gráfica

das capas dos LPs até sua finalização foram nominalmente citados.

ATIVIDADE – Interpretação da música Chega de Saudade de composição de

Tom Jobim e Vinícius de Moraes

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Chega de Saudade

Composição: Tom Jobim/Vinícius de Moraes

Composição: Tom Jobim/Vinícius de

Moraes

Vai minha tristeza

E diz a ela que sem ela não pode ser

Diz-lhe numa prece

Que ela regresse

Porque eu não posso mais sofrer

Chega de saudade

A realidade é que sem ela

Não há paz não há beleza

É só tristeza e a melancolia

Que não sai de mim

Não sai de mim

Não sai

Mas, se ela voltar

Se ela voltar que coisa linda!

Que coisa louca!

Pois há menos peixinhos a nadar no mar

Do que os beijinhos

Que eu darei na sua boca

Dentro dos meus braço, os abraços

Hão de ser milhões de abraços

Apertado assim colado assim, colado assim

Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim

Que é pra acabar com esse negócio

De você viver sem mim

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Não quero mais esse negócio

De você longe de mim

Vamos deixar esse negócio

De você viver sem mim

INTERPRETAÇÃO :

Chega de Saudade é uma arquicanção, isto é, constitui uma canção referência

no movimento, sendo considerada o seu marco inicial. A interpretação desta

música mostra com clareza comparativa a marca de originalidade do estilo

bossa nova de ser.

No início da canção, o eu-lírico dialoga com o seu sentimento, a “tristeza”, e

pede-lhe : ‘vai minha tristeza/ e diz a ela que/ sem ela não pode ser/ diz-lhe

numa prece que ela regresse/ porque eu não posso mais sofrer’.Para o eu-

lírico, basta de tantas saudades, já que na sua realidade : ‘sem ela não há paz,

não há beleza, é só tristeza e a melancolia/ que não sai de mim, não sai’. Até

este momento, a melancolia acompanha o tom de infelicidade da letra, a partir

daí, a canção se torna mais esperançosa e alegre, o eu lírico já anuncia as

alegrias da volta da mulher amada: ‘ mas se ela voltar, se ela voltar/ que coisa

linda, que coisa louca’. O uso do termo ‘coisa’, como já dissemos anteriormente

na interpretação da música Garota de Ipanema, é algo que se tornou comum

na bossa nova para deixar a linguagem próxima do cotidiano dos falantes, o

mesmo acontece no emprego da palavra ‘negócio’:” Que é pra acabar com

esse negócio/ De você viver sem mim”.

Como já vimos e tornamos a repetir no ato da interpretação dessa canção, o

exagero na expressão de sentimentos não é característico do movimento, há

uma quebra tal nesse exacerbamento que era vigente até então, pois até a

demonstração de afeto é mostrada de forma quase ‘infantil’ em “ pois há menos

peixinhos a nadar no mar/ do que os beijinhos que eu darei na sua boca.”

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Podemos perceber que tanto na música Garota de Ipanema quanto na música

Chega de Saudade o tratamento dado à mulher é de fineza, a mulher é a

companheira, a amiga, a figura admirada, e como é admirada, diferentemente

do período anterior à bossa nova, no qual a mulher era a traidora e a traída.

OUTRAS SUGESTÕES:

1. Professor , são várias as canções que você pode escolher para trabalhar

em sala de aula, por exemplo ‘Águas de Março’ é uma canção muito rica

no ponto de vista sonoro, a tematização melódica desta canção

associada à disposição lingüística interna exalta a natureza. A letra da

música ‘ Minha namorada’ de Vinícius de Moraes, já citada

anteriormente também é outra sugestão para interpretação, a letra fala

do amor desejado, porém inocente e grandioso como que se falasse do

primeiro amor, os adolescentes acabam por se identificar com a

experiência.

2. Para demonstrar a sofisticação inteligente na composição de harmonia

e letra sugerimos a música ‘Samba de uma nota só’ de Tom Jobim e

Newton Mendonça que revela uma relação afetiva e os excessos de

amores, voltando o indivíduo ao amor verdadeiro, dá para fazer a

analogia da letra com as idas e vindas de vários amores, suas ilusões e

desilusões, o arrependimento e o retorno, situações naturais na vida de

muitos jovens na busca de um amor verdadeiro ou na curiosidade por

novas experiências afetivas.

8° MOMENTO

ENCERRA-SE A ERA BOSSA NOVA

Os anos 50 chegaram ao fim, a nova década que começava já prometia

grandes mudanças no comportamento, iniciada com o sucesso do rock and roll

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e o rebolado frenético de Elvis Presley. Foi a partir de 1964 que a Bossa Nova

começou a perder espaço e ser ocupada por outras tendências, como o

Tropicalismo e a Jovem Guarda.

O Tropicalismo se caracterizou por associar elementos da cultura pop, como o

rock, e da cultura de elite como o concretismo, além de fazer uso muitas vezes

de um discurso politicamente engajado e de protesto contra a ditadura militar

que se instaurou na época, gerando perseguições e obrigando alguns de seus

integrantes ao exílio. “ A Tropicália foi o avesso da Bossa Nova”, assim o

compositor e cantor Caetano Veloso define o movimento que, ao longo de

1968, revolucionou o status quo da música popular brasileira. Diferentemente

da Bossa Nova, que introduziu uma forma original de compor e interpretar, a

Tropicália não pretendia sintetizar um estilo musical, mas sim instaurar uma

nova atitude, sua intervenção na cena cultural do país foi, antes de tudo de

crítica.

No início de 1967, os artistas que compunham este movimento sentiam-se

sufocados pelo elitismo e pelos preconceitos de cunho nacionalista que

dominavam o ambiente da chamada MPB, a intenção dos tropicalistas não era

superar a Bossa Nova, para eles, o objetivo era aproximar novamente a música

brasileira dos jovens, que se mostravam cada vez mais interessados no pop e

no rock dos Beatles, ou mesmo no iê – iê – iê que Roberto Carlos e outros

ídolos brazucas exibiam no programa de tv da Record que tinha o nome de

Jovem Guarda, nome que acabou designando o movimento que se ligava

basicamente ao rock americano e inglês.

O rock desembarcou no Brasil no início da década de 1960 e teve na Jovem

Guarda o primeiro movimento do rock no país e de sucesso entre boa parte da

juventude brasileira. Inspirado nas letras românticas e no ritmo acelerado

padrão nos EUA, a forma de composição musical baseava-se no total

abandono do conteúdo e banalidade musical, e como conseqüência teria uma

melhor descontração para se compor diferencia-se da Bossa Nova, pois havia

poucas notas e era parecido com o rock and roll. É a imagem do jovem de

blusão de couro, topete e jeans, em motos ou lambretas. A forma de se vestir

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se tornava cada vez mais ligada ao comportamento. A Jovem Guarda fazia

sucesso na televisão e ditava a moda. Wanderléia de minissaia, Roberto

Carlos, de roupas coloridas, usava botinhas sem meia e cabelo na testa como

os Beatles. As palavras de ordem eram: “ quero que vá tudo pro inferno”...

Nas letras das músicas da Jovem Guarda começavam a aparecer as “gírias”

tão significativas para a época, como “cara”, “barra limpa”,”mora”, “é uma

brasa”,”Papo Firme”, etc. e permaneceram por muito tempo na linguagem

popular e alguns a tem até hoje

ATIVIDADE

Como vimos no estudo do movimento da Bossa Nova e no breve resumo da

Jovem Guarda, sempre o fator social e político servem de inspiração para a

criação de um movimento, toda a alegria, nostalgia ou revolta de uma geração

são expressas através da música, ou seja, a linguagem musical está ligada ao

ambiente, à época em que foi criada. O autor , a finalidade e até para que

público se destina, poderão influenciar a postura e a carga expressiva da

execução musical. Portanto, professor, chegamos no objetivo maior do trabalho

até aqui apresentado, nesse momento o aluno será convidado a escrever suas

impressões de tudo o que foi estudado, as experiências sensoriais e emotivas

das canções, o conhecimento do contexto histórico dos movimentos, o antes e

o depois da Bossa Nova, enfim, elaborar uma resenha crítica de no mínimo 20

linhas.

ENCERRAMENTO – SUGESTÃO DE UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA

Para concluir as atividades, os alunos preparam, para toda a escola, uma

apresentação da Bossa Nova com cartazes significativos, juntamente a uma

apresentação breve do contexto histórico e dos principais expoentes do

movimento, Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Far-se –á uma pré seleção dos

alunos que apresentam maior desinibição para falar de maneira teatralizada

sobre o assunto assim como declamar algumas poesias de Vinícius de Moraes.

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A sala escolhe um repertório de três canções, as preferidas pela turma para

cantar no final da apresentação, com o acompanhamento do midi, programa do

computador que funciona como um karaokê. E ainda, gravam-se depoimentos

de alguns alunos, quantos quiserem falar, sobre o aproveitamento auto-

avaliativo do projeto, e esses depoimentos serão assistidos por todos durante a

apresentação.

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