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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
Secretaria de Estado da Educação do Paraná
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE
Núcleo Regional de Educação de Telêmaco Borba.
Parceria - Universidade Estadual de Ponta Grossa.
AS ATRIBUIÇÕES DO PEDAGOGO E SEU TRABALHO NA FORMAÇÃO CONTINUADA, IMPLICAÇÕES PARA AÇÕES
COLETIVAS NA ESCOLA1.
Professora Estela Fátima Baptistuci2
Orientadora: Profª. Drª. Marli de Fátima Rodrigues3
RESUMO
Este artigo objetiva discutir as atribuições do pedagogo, assim como refletir sobre as
implicações de seu trabalho na formação continuada na escola, considerando a
educação pública numa perspectiva progressista, emancipadora e crítica.
Perpassando por aportes teóricos, pretende-se resgatar a própria formação do
pedagogo, culminando na proposição de um plano de ações visando melhorar seu
trabalho e de um Plano de Formação Continuada, para ajudar a vislumbrar melhores
condições para sua atuação em conjunto com os professores no âmbito da escola
pública. A metodologia utilizada foi a elaboração de um projeto de implementação na
escola e de um Caderno Pedagógico produzido para aplicação do projeto. Realizou-
se também a análise qualitativa dos dados coletados durante a implementação do
Projeto de Intervenção na escola e a elaboração de artigo científico. A
implementação do projeto foi realizada com as pedagogas do Colégio Estadual Wolff
Klabin- EFMNP, no município de Telêmaco Borba, onde propôs-se a explicitar as
1 Esta produção constitui-se no trabalho final para conclusão do Programa de Desenvolvimento
Educacional do Paraná- PDE, turma 2009, proposto pela Secretaria de Estado da Educação do
Estado do Paraná.
2 Pedagoga da Rede Estadual, Colégio Estadual Wolff Klabin, Núcleo Regional de Educação
de Telêmaco Borba, contato [email protected] , [email protected]. 3 Doutora em Educação - Professora do Departamento de Educação, da Universidade Estadual
de Ponta Grossa – UEPG.
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atribuições dos pedagogos e a importância de seu trabalho na formação continuada
na escola. Os resultados obtidos com a implementação do projeto revelam a
necessidade da intencionalidade de todas as ações na escola, enfrentando,
criticamente, os limites presentes no cotidiano escolar com autonomia e ética.
Palavras-chave: Atribuições do pedagogo; formação continuada; educação básica.
1 Introdução
Este artigo constitui uma proposta de reflexão sobre as atribuições do
pedagogo e da importância do seu trabalho na formação continuada na escola,
como também procura discutir a necessidade de um Plano de Formação Continuada
para a escola.
Este estudo atende a problemática que existe nas escolas, é fruto de uma
experiência profissional como pedagoga do Núcleo Regional de Educação de
Telêmaco Borba, trabalhando na formação continuada para pedagogos da rede
estadual, compondo a equipe de Coordenação de Gestão Escolar.
Nasce, pois, pela necessidade de se propor ações sobre as atribuições do
pedagogo para melhorar suas condições de trabalho, pois na maioria das escolas
seu trabalho apresenta-se organizado em face das novas demandas colocadas aos
educadores na sociedade contemporânea, distanciando-se muitas vezes de sua
dimensão essencialmente pedagógica e de seu objetivo precípuo que é a
organização do trabalho pedagógico para a democratização do ensino,
expressando, assim, por vezes, uma visão reducionista e simplista da Pedagogia.
Neste sentido, considera-se este pedagogo, sujeito epistêmico, produz e se
apropria do conhecimento, fundamenta sua prática pedagógica, devendo buscar
apoio junto com a direção da escola a Pedagogia expressa por FRANCO (2008,
p.22), que entende a “Pedagogia como ciência que transforma o senso comum
pedagógico, a arte intuitiva presente na práxis, em atos científicos, sob a luz de
valores educacionais, garantidos como relevantes socialmente, em uma comunidade
social”.
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Objetiva-se por meio de espaços permanentes de formação continuada, que
o pedagogo possa promover reflexão e investigação sobre a problemática
vivenciada no contexto escolar, sustentando junto com a direção da escola, a
Pedagogia Dialética4,buscando desenvolver capacidades humanas mais elevadas,
àquelas relacionadas com a compreensão crítica e que possibilitam a apreensão do
real e também mudanças na organização e na gestão da escola e da sala de aula.
2 Desenvolvimento
Para clarificar suas atribuições e sua identidade de sujeito epistêmico, o
pedagogo deve buscar os fundamentos de sua prática na Pedagogia, conceituando-
a com o que assevera FRANCO (2008), com sua epistemologia fundada na
dialética, será a pedagogia aquela parte da prática social destinada à formação de
indivíduos portadores de práxis social, cientes de seu papel na construção da
realidade. Segundo a autora a práxis é ativa, dá movimento à realidade, transforma-
a e por ela é transformada, culminando com o pensamento de Marx que afirma que
o homem é produtor de sua realidade social, produz-se historicamente e renova-se
continuamente.
FRANCO (2008) cita a Pedagogia Dialética, que incorporando o caráter
histórico-crítico, adquire um caráter social e político na construção do homem
coletivo, fruto e produtor das condições sócio-históricas.
Nesta pedagogia, FRANCO ainda discorre:
Essa tarefa – de formar indivíduos portadores da práxis, conscientes de seu papel na conformação e na transformação da realidade sócio-histórica – exige um trabalho educacional crítico, que pressupõe sempre uma ação coletiva pela qual os indivíduos tomarão consciência de que é possível e necessário, a cada um, a formação e o controle da constituição do modo
4 Pedagogia a serviço da humanização do homem, isso significa estar ao lado de sua emancipação, que se fará em
contínuas, dialéticas relações do homem com a cultura, do ser com o significado.[...]sabendo-se política[...]deve tornar-se um processo de formação de consciências, de mediação de interesses e de defesa e criação de mecanismos democráticos.(FRANCO, 2008) 4Pedagogia Dialética manifesta um interesse transformador das situações ou fenômenos estudados, resgatando sua dimensão histórica e desvendando suas possibilidades de mudanças.(GOMBOA,1989) 4 Saviani considera que a nomenclatura Pedagogia Histórico-crítica pode ser considerada como sinônimo de Pedagogia Dialética, pois tem como objetivo a busca de um pensamento crítico dialético para a educação. O sentido básico da Pedagogia Histórico-crítica é a articulação de uma Proposta Pedagógica que tenha compromisso não apenas de manter a sociedade, mas de transformá-la a partir da compreensão dos condicionantes sociais e da visão que a sociedade exerce determinação sobre a educação e esta reciprocidade interfere sobre a sociedade contribuindo para sua transformação.(Rodriguez, Ribeiro, 2005)
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coletivo de vida. A essência dessa tarefa é eminentemente política, social e emancipatória. (2008,p.46).
Nesta perspectiva, a organização da escola passa a ser local de
aprendizagens para todos os profissionais, tornando-se um espaço privilegiado de
formação continuada.
Discute-se quais são os limites e as possibilidades do trabalho do pedagogo
na formação continuada dos professores, funcionários e instâncias colegiadas, no
âmbito da escola pública; tendo em vista que esta necessidade apresenta-se como
fator relevante para conceber um Projeto Político Pedagógico participativo.
2.1 Elementos para configuração do papel do pedagogo
É preciso reconhecer a importância da educação com uma pedagogia
comprometida com a emancipação do ser humano e de educadores que tenham
clareza sobre a função social da escola pública, ou seja de acordo com PARO :
[...] o fim da educação pública é a apropriação do saber como um valor universal, uma escola com ensino de boa qualidade, não porque vai preparar para o trabalho ou para a universidade [...] a razão primeira é de que o acesso à cultura é direito universal do indivíduo, enquanto ser humano pertencente a determinada sociedade. (2008, p.87-88).
O trabalho coletivo na escola favorece o comprometimento de todos, para
que cada ação tenha uma intencionalidade, um fazer consciente, que possibilite a
emancipação dos alunos e da própria escola, por meio do conhecimento
sistematizado, numa perspectiva dialética, enfrentando e superando os limites que
estão presentes no cotidiano escolar.
2.1.1 O professor pedagogo: descompasso entre as suas atribuições reais e
existentes e as necessárias e desejáveis
Há necessidade de que o pedagogo tenha uma concepção clara de educação
pública, de ensino, de aprendizagem, da organização da escola, de currículo, de
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avaliação e de suas atribuições para consecução de seu trabalho dentro da escola,
pois mesmo havendo a definição das atribuições do pedagogo no Regimento
Escolar, no Portal Dia-a-Dia Educação e nos editais de concurso, há equívocos e
desconhecimentos destas atribuições nas escolas, por parte dos professores,
diretores e até mesmo dos próprios pedagogos.
Não obstante, segundo Lima (2007) a identidade e função do pedagogo na
escola também é caricaturizada, rotulada, chegando a ser chamados de bombril (mil
e uma utilidades), bombeiro (tendo que apagar todos os conflitos docentes e
discentes), salvador da escola (o profissional que tem de responder pelo
desempenho de professores e dos alunos).
Cabe esclarecer que, muitas vezes, o pedagogo acaba se rendendo a esse
imaginário, porquanto também é muito requisitado a se envolver com diversas
questões, em um ativismo que acompanha o ritmo ditado pelas rotinas arraigadas na
escola, deixando extrapolar o tempo e espaço do fazer pedagógico.
Para uma atuação dos pedagogos na perspectiva dialética, há necessidade
de se ter clareza de concepção do pedagogo unitário, que é aquele que pensa no
binômio ensino aprendizagem, ao fazer análise e contraposição da problemática das
práticas educativas.
Deve-se levar em conta também que a presença do pedagogo unitário nas
escolas, buscando superar a fragmentação da formação em habilitações tem uma
história recente, só a partir da Lei Complementar 103/2004- Plano de Cargos e
Carreira, é que se extingue os cargos de coordenação, administração escolar,
planejamento, supervisão e orientação educacional, citados em seu § 4º, Art. 5º do
Capítulo IV, assegurando tratamento igual ao que se oferece ao professor, sob nova
nomenclatura, a de professor pedagogo.
Segundo Libâneo (2004, p.221) as funções do pedagogo na coordenação da
escola podem ser sintetizadas: “planejar, coordenar, gerir, acompanhar e avaliar
todas as atividades pedagógico-didáticas e curriculares da escola e da sala de aula,
visando atingir níveis satisfatórios de qualidade cognitiva e operativa das
aprendizagens dos alunos.”
Há que se buscar na escola, segundo LIMA (2007) uma valorização, um
outro olhar sobre a relevância do trabalho do pedagogo e um equilíbrio de suas
atribuições.
Ainda, a esse respeito, PIMENTA enfatiza que:
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[...] a escola pública necessita de um profissional denominado pedagogo, pois entendemos que o fazer pedagógico, que ultrapassa a sala de aula e a determina, configura-se como essencial na busca de novas formas de organizar a escola para que esta seja, efetivamente, democrática [...] procurar avançar da defesa corporativista dos especialistas para a necessidade política dos pedagogos. Ou seja, admitimos que o pedagogo – o fazer pedagógico – cumpre uma função política necessária no processo de democratização da escolaridade. (1991, p. 7 e 8).
Verifica-se que hoje o pedagogo deve buscar um espaço que lhe permita
desempenhar seu papel na interlocução com os professores, sem parecer
formalismo ou burocracia, a partir dos elementos da organização do trabalho
pedagógico, com finalidade pedagógica, ciente de que essa interlocução expresse
uma concepção de pedagogo que atua em busca da unitariedade e que objetiva
superar a fragmentação, ou seja, a separação entre quem pensa e quem faz.
Neste sentido, na escola politicamente compromissada com seu grupo
social, há possibilidades de o pedagogo trabalhar na interlocução, sem verticalidade,
com todo seu fazer movido na intencionalidade, ou seja, não fazer porque sempre foi
feito, mas compreender de forma consciente com ações planejadas, pois ele é
aquele que estuda, pensa, produz, critica e propõe novas formas de transformação
da prática; não se deixando levar pelas ocorrências diárias, inesperadas, quando ele
age sem planejar, tornando-se um profissional multitarefa.
Numa outra dimensão, os professores pedagogos precisam refletir sobre seu
trabalho e sua própria formação, essa experiência buscará um diálogo com a sua
identidade e com a realidade, para se perguntarem: Qual é a perspectiva de
mudança nas funções do pedagogo, a partir das contradições vivenciadas na
escola? É possível inserir mudanças na práxis, partindo dos conceitos de pedagogo
unitário, intelectual orgânico e sujeito epistêmico?
Então de que pedagogo estamos falando? Do pedagogo como intelectual
orgânico, do pedagogo unitário que é um trabalhador que na perspectiva dialética
compreende a realidade e a fragmentação como reflexo da contradição básica do
capitalismo.
Este profissional também tem consciência da relação entre trabalho
pedagógico fragmentado e os interesses do capital, e busca as possibilidades de
ação e superação na contradição.
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Depreende-se que seu papel é de mediador da intencionalidade educativa da
escola que, por sua vez, é o espaço privilegiado de mediação entre os alunos e a
sociedade.
Esclarece KUENZER: “Este pedagogo possui conhecimento técnico e
compromisso político e busca a unitariedade possível, entendendo-a como condição
a ser construída.” (p.64, 2002).
Desta feita, a primeira discussão que se faz necessária ao analisar a
possibilidade da unitariedade do trabalho pedagógico é:
a da sua natureza enquanto trabalho no capitalismo.[...] a fragmentação do trabalho pedagógico é conseqüência da contradição fundamental entre trabalho e capital.[...] e o trabalho pedagógico, escolar e não-escolar, ocorre nas e através das relações sociais e produtivas, ele não está imune às mesmas determinações. Ou seja, enquanto não for historicamente superada a divisão entre capital e trabalho, o que produz relações sociais e produtivas que têm a finalidade precípua de valorização do capital, não há possibilidade de existência de práticas pedagógicas autônomas, mas apenas contraditórias, cuja direção depende das opções políticas da escola e dos profissionais da educação no processo de materialização do projeto político-pedagógico. Este, por sua vez, expressa os consensos e práticas possíveis em um espaço escolar ou não-escolar atravessado por relações de poder, concepções teóricas, ideológicas e políticas também contraditórias, para não falar dos diferentes percursos de formação profissional. Esta análise mostra que, nos espaços educativos capitalistas, a unitariedade do trabalho pedagógico não é historicamente possível. O que não significa que não se possa avançar. É preciso, contudo, considerar que a superação destes limites só é possível através da categoria contradição, que permite compreender que o capitalismo traz inscritas em si, ao mesmo tempo, as sementes de seu desenvolvimento e de sua destruição. Ou seja, é atravessado por positividades e negatividades, avanços e retrocessos, que ao mesmo tempo evitam e aceleram a sua superação. É a partir desta compreensão que se deve analisar a unitariedade como possibilidade histórica de superação da fragmentação. (KUENZER, 2002, p.63-66).
Com base na concepção progressista de educação, na concepção de
pedagogo que busca a unitariedade possível em reação à formação fragmentada das
habilitações, o pedagogo deve ser um intelectual orgânico, um sujeito epistêmico que
possa contribuir também para que a gestão da escola tenha uma dimensão política
pedagógica, seja de fato uma gestão democrática, discutindo com professores as
relações de poder, analisando-as e verificando as que desejam manter ou mudar,
além disso, discutir, ainda, a concepção de ensino aprendizagem nas bases histórico-
culturais.
SAVIANI aponta e conclama aos pedagogos:
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Empenhem-se no domínio das formas que possam garantir às camadas populares o ingresso na cultura letrada, vale dizer, a apropriação dos conhecimentos sistematizados. E, no interior das escolas, lembrem-se de que o papel próprio de vocês será provê-las de uma organização tal que cada criança, cada educando, em especial aquele das camadas trabalhadoras, não veja frustrada a sua aspiração de assimilar os conhecimentos metódicos, incorporando-os como instrumento irreversível a partir do qual será possível conferir uma nova qualidade às lutas no seio da sociedade. (SAVIANI, 1985, p135 apud FANK, 2008, p.6).
Nesta perspectiva, sobre o pedagogo, SAVIANI discorre:
Seu propósito sempre deve ser de elevar a prática educativa dos professores do nível de senso comum ao nível da consciência filosófica [...], o que significa passar de uma concepção fragmentária, incoerente, desarticulada, implícita, degradada, mecânica, passiva e simplista a uma concepção unitária, coerente, articulada, explícita, original, intencional, ativa
e cultivada. (1986, p.10).
O pedagogo pode articular uma orientação e uma atuação dentro de suas
atribuições com seu trabalho na formação continuada na escola, por meio de
estudos e discussões, de maneira que o coletivo da escola reconheça sua
identidade e verdadeira função, acabando com rotulações, indagações irônicas, não
se afastando de seu papel na gestão democrática e de seu referencial teórico
científico da Pedagogia.
O pedagogo também deve suscitar o debate e a discussão a respeito do seu
papel no âmbito da escola pública a fim de que se resgatem suas atribuições na
dimensão essencialmente pedagógica do seu trabalho; articulando o coletivo da
escola para elaborar um plano de formação continuada; e, num processo
permanente se proponha a pesquisar e investigar sua práxis para obter nos aportes
teóricos um amparo que o auxilie a responder aos problemas existentes no cotidiano
escolar.
Desta forma o pedagogo também necessita de hora atividade, mas semanal e
coletiva com todos os pedagogos da escola; para juntos estudarem e planejarem a
partir das dificuldades encontradas no cotidiano da escola.
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2.1.2 O processo de formação continuada na escola, implicações para ações
coletivas
Com efeito, a formação continuada na escola constitui uma estratégia para
articular a experiência cotidiana dos profissionais da educação aos aportes teóricos,
para dar conta da materialização das concepções expressas no Projeto Político
Pedagógico e para uma abordagem dialética da problemática educativa.
Neste sentido, PIMENTA (1991, P.8) ainda assevera e afirma “que o Projeto
Político Pedagógico da escola pública que queremos requer a competência do
pedagogo”, desta forma, a formação continuada torna-se crucial para a profissão de
pedagogo e de professor, uma vez que trabalham com a formação humana numa
época em que se acentuam problemas sociais e econômicos e com as novas
tecnologias surgem novas formas de ensinar e aprender.
Segundo LIBÂNEO:
[...] também o perfil dos alunos se modifica em decorrência da assimilação de novos valores, dos impactos dos meios de informação e comunicação, da urbanização, da propaganda, do crescimento dos problemas sociais e da violência, com evidentes repercussões nas salas de aula. (2004, p.228).
Para o enfrentamento desses determinantes que tornam as condições de
exercício da profissão tão difíceis é que a formação continuada pode contribuir ao
possibilitar mudanças nas práticas docentes e na organização da escola.
A educação apresenta-se permeada por manifestações sociais. Isso significa
que não se pode falar de educação em seu aparente isolamento, sem considerar a
realidade em sua totalidade concreta. A compreensão da educação em um dado
período histórico pressupõe a compreensão do desenvolvimento do conjunto dessa
época, não significa, portanto, a apreensão de todos os fatos, mas um conjunto
amplo de relações, particularidades e detalhes que são captados numa totalidade.
(MASSON, 2008).
Então, pedagogos e professores devem aprender a conhecer, analisar os
contextos sociais e institucionais para exercerem sua profissão com autonomia, e
desta forma não serem tutelados por decisões de forma inconsciente, mas que
sejam sujeitos, portadores da práxis.
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Na escola, esta visão tem sua importância, haja vista que com a formação
continuada dos professores, funcionários e instâncias colegiadas, todos podem
conhecer a problemática educativa para promover o acesso, a permanência e a
aprendizagem de todos os alunos, pois na maioria das escolas públicas observam-
se altos índices de evasão e reprovação, baixo desempenho no IDEB, dificuldades
na interação entre professores e alunos e expropriação das condições de trabalho
dos professores e do pedagogo.
Constata-se que nas escolas, os professores estão enfrentando condições
debilitantes para dar conta dos condicionantes que interferem na prática educativa.
Para alterar esse quadro, a formação continuada apresenta-se muito relevante,
porque oportuniza a criação de espaços coletivos dentro da escola, onde pode-se
desenvolver um processo de estudos, lutas e análises para tentar a proposição de
ações diferentes por parte dos educadores.
A partir de estudos, segundo PARO (2004), pode-se conhecer os
condicionantes internos: referentes às condições de trabalho onde se incluem a
estrutura física, mobiliário, equipamentos, acesso aos recursos tecnológicos;
institucionais que são as relações de poder, clareza das funções, organização dos
espaços e tempos escolares, conselhos de classes; condicionantes político-
escolares, entendendo aqui os interesses de grupos dentro da escola, socialização
de documentos escolares (PPP, Regimentos, Estatutos, etc), e; condicionantes
ideológicos que interferem nos encaminhamentos do Projeto Político Pedagógico e
da Proposta Pedagógica Curricular, uma vez que estão circunstanciados pelas
concepções assumidas, entre os quais concepção de educação, de avaliação, de
controle social, de público.
Também pode-se compreender os condicionantes externos que são as
condições de vida: miséria, desemprego, trabalho informal, falta de tempo dos pais
para ir à escola, espaço para discussões e reuniões, IDH; condicionantes culturais:
visão que a comunidade tem da escola, noção de participação, acompanhamento do
processo educativo e; condicionantes institucionais da comunidade que são os
mecanismos coletivos de participação, mobilização, divulgação de informações,
comunicação entre a instâncias colegiadas.
Conhecendo a forma como estes condicionantes internos e externos
interferem na prática pedagógica e docente, o pedagogo pode propor a formação
continuada, considerando esses elementos para estudos, fazendo com que sejam
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discutidos e compreendidos no coletivo, juntando direção, pedagogos, professores e
segmentos da gestão; para depois decidir quais serão, segundo Kuenzer (2000, p.7)
“as opções políticas da escola e dos profissionais no processo de materialização do
Projeto Político e Pedagógico”.
Assim, articulados pela “unitariedade possível” (Kuenzer, 2002) do trabalho
do pedagogo, estabelecendo-se a necessária mediação teórico-prática, os
professores poderão propor intervenções nos processos de tomada de decisões
pedagógicas na escola, cientes dos condicionantes inerentes à escola.
Este trabalho do pedagogo e a prática educativa devem ser tomados em sua
concepção, segundo Kuenzer (2008, p.55), “como práxis humana, material e não
material que objetiva a criação de condições de existência”, com vistas à sua
transformação, e, portanto, devem se adequar aos interesses da classe
trabalhadora.
Kuenzer narra dificuldades de alternativas para o enfrentamento de
situações imediatas e cita a necessidade de:
Processos de organização coletiva e construção de Propostas Pedagógicas mais orgânicas com os interesses dos trabalhadores, que naturalmente não se esgota na educação vinculada ao trabalho produtivo, mas abrange a discussão mais ampla das dimensões pedagógicas das relações sociais contemporâneas e do papel da educação para a cidadania, sem deixar de compreendê-las à luz das determinações das bases materiais capitalistas. (2008, p.72).
Neste sentido, o trabalho do pedagogo na formação continuada também
possibilita aos professores, funcionários e instâncias colegiadas obterem maior
clareza sobre a necessidade da intencionalidade dos seus planos de trabalho para o
processo ensino-aprendizagem, para não ficarem reproduzindo, mas sim assumindo
um posicionamento político sobre o modo de organização do trabalho pedagógico e,
até mesmo, sobre as políticas públicas educacionais e legislação educacional; por
estarem entendendo mais de perto como os determinantes estruturais do sistema
social se manifestam no contexto escolar.
Considerando especificamente importante esta reflexão e considerando o
que afirma FRIGOTTO, é preciso:
[...] interrogar as relações que se vêm estabelecendo entre mundo da produção, da tecnologia e educação [...] para não naturalizar as relações capitalistas que são eticamente inaceitáveis [...] pensar esta relação desde
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as condições efetivas mais globais de produção da existência humana. (2004, p.16).
Eis uma importante contribuição, ela aponta para a necessidade de
compreensão crítica dos educadores e do pedagogo, de se ter consciência da
subordinação da educação ao desenvolvimento econômico.
Com muita propriedade, FRIGOTTO explica:
No processo dialético de conhecimento da realidade, o que importa fundamentalmente não é a crítica pela crítica, o conhecimento pelo conhecimento, mas a crítica e o conhecimento que altere e transforme a realidade anterior no plano do conhecimento e no plano histórico social. (2004, p.81).
Partindo do pressuposto da necessidade de transformar a realidade,
depreende-se que somente com estudos, com a formação continuada é possível a
busca por melhores condições de trabalho para os pedagogos e professores,
inserindo mudanças a partir de uma percepção do real.
FRIGOTTO também acredita que:
O trabalho humano, enquanto atividade consciente, não é de caráter casual, mas teleológico. Engendra, por isso, escolha e liberdade. Não se trata, porém de uma escolha isolada, fora das condições históricas socialmente construídas.[...[ Trata-se pois de estruturas e determinações socialmente produzidas e, portanto, socialmente passíveis de serem alteradas pela ação consciente dos sujeitos humanos. (2002, p.63).
Assim, o pedagogo pode atuar no essencial, comprometido com as
transformações sociais, já que o valor pedagógico do seu trabalho não é meramente
ornamental, revela-se, pois, decisivo na sua dimensão essencialmente pedagógica e
intencional, para que a educação oferecida pela escola pública tenha uma
perspectiva progressista, formando um aluno crítico e emancipado e com condições
de atuar na sociedade para transformá-la.
Faz-se necessário um processo formativo, que à medida que se aprofunde
não se torne um modismo, mas possibilite formas de recompor a educação e as
condições de trabalho dos pedagogos e professores, e que contribuam para
“caminhos consistentes para a educação, superando as históricas mazelas que
redundam nas questões de fracasso escolar, de inadequação da escola e na
desvalorização da pedagogia e por conseqüência do
trabalho dos pedagogos” (FRANCO, 2008, p.12 ).
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A escola atual requer que sua equipe esteja atenta e disposta a buscar
outras formas de organização e gestão sempre que houver necessidade e para tanto
precisam conhecer teorias que embasem e possibilitem mudanças, bem como as
leis e regulamentos oficiais devem ser do conhecimento de todos.
Uma vez que as reformas educacionais para todos os níveis, etapas e
modalidades de educação e de ensino se coadunam ao processo de reestruturação
capitalista e, ainda, segundo KUENZER (1999, p.180) “descaracteriza o profissional
da educação como intelectual, reduzindo-o a uma dimensão tarefeira de “saber
fazer”, negando a sua identidade como cientista e pesquisador, da mesma forma
que nega o estatuto epistemológico da área da educação, constituída como ciência.”
Assim, fica muito clara a importância de se inserir a formação continuada na
escola, onde o pedagogo pode realizar essa coordenação objetivando articular
melhorias nos processos de organização da escola e no processo ensino
aprendizagem, juntamente com os professores, funcionários e instâncias colegiadas.
SANTOS (2008) com muita propriedade explicita:
Para avançar na compreensão da especificidade do trabalho pedagógico ou do trabalho do pedagogo, tendo em vista explicitar seu caráter científico, (...) poder-se-ia afirmar ser o trabalho pedagógico aquele voltado à articulação de todos os trabalhos educativos realizados diretamente na relação ensino aprendizagem, tendo em vista o atingir do intento educativo explicitado no projeto político pedagógico da instituição ou da entidade. Assim, cabe ao pedagogo o exercício de uma leitura de totalidade do percurso formativo intentado por todos que dele participam, de forma a assegurar a análise sistemática das ações encetadas por cada docente no âmbito das relações ensino/aprendizagem. (...) contudo, cabe ao pedagogo e ao corpo docente reverem e redefinirem os rumos da ação educativa. Sim, cada ação educativa encerra em si determinada direção ou trilha do percurso formativo, ou seja, o desenvolvimento das capacidades humanas a serem desenvolvidas e aprimoradas de forma intencional e sistemática, tendo em vista a elevação intelectual e moral para todos, isto porque o exercício formativo também encerra a possibilidade de educar aqueles que têm por profissão educar. (apud ARTIGAS e FANK, 2008).
O trabalho do pedagogo constitui-se, assim, em um modo de tornar a própria
escola um lugar de formação profissional que leva a mudanças organizacionais e
profissionais para promover uma educação voltada para as necessidades históricas
daqueles que vivem do trabalho e também como via emancipação humana e social.
Libâneo afirma que:
O desenvolvimento profissional e a conquista da identidade profissional dependem de uma união entre os pedagogos especialistas e os professores, assumindo juntos a gestão do cotidiano da escola, articulando num todo o projeto pedagógico, o sistema de gestão, o processo de ensino
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e aprendizagem, a avaliação. Fazendo assim, ter-se-á uma organização preocupada com a formação continuada, com a discussão conjunta dos problemas da escola, discussão que é de natureza organizacional, mas principalmente pedagógica e didática. (2004, p.41).
O pedagogo deve estar sempre atento sobre a necessidade de transformação
dos mecanismos internos da escola: hora atividade, conselhos de classes, reuniões
pedagógicas, avaliação, recuperação de estudos, reuniões de pais, plano de
trabalho docente; sempre tendo em vista a aprendizagem dos alunos; significando
que sua presença na escola se justifica por um Projeto Político Pedagógico com
concepções educativas claras, de maneira que seu trabalho possa contribuir para
cada atividade do currículo, o que requer uma formação pedagógica-política que lhe
permita compreender as relações da escola com a sociedade capitalista e a
finalidade da educação escolar.
O desenvolvimento pessoal, profissional e organizacional da profissão
docente e dos profissionais da educação (funcionários) interfere na organização do
trabalho pedagógico e na prática pedagógica. Os saberes docentes do pedagogo e
do professor se concretizam e se ampliam dentro do contexto escolar e dos demais
profissionais da educação também; por isso destaca-se a importância de se pensar
a formação continuada numa abordagem que vá além dos cursos ofertados pela
SEED - Secretaria de Estado da Educação e IES Instituição de Ensino Superior,
envolvendo a formação continuada em serviço, no âmbito da escola.
Esta formação continuada na escola deve envolver os pedagogos,
professores, direção, funcionários e membros das instâncias colegiadas, uma vez
que a clareza sobre a função de cada um advém da valorização da sua identidade e
do reconhecimento delas no ambiente escolar. Esta articulação corrobora com a
necessidade de encontrar o significado coletivo das ações educativas e com os
anseios da educação hoje, sempre cientes das condições concretas de trabalho.
Os objetivos de um plano podem ser pensados a partir da necessidade de se
aprimorar o trabalho coletivo e individual por meio de estudos sistemáticos durante a
hora atividade dos professores, nas reuniões da escola, na hora atividade dos
pedagogos, na hora pedagógica coletiva (a ser planejada com o grupo).
Outros objetivos podem ser traçados, como por exemplo: organizar
cronograma de atividades de estudos por semestres e turnos; fazer levantamentos
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das necessidades dos professores, pedagogos e funcionários por turnos; programar
temas e conteúdos por semestres, dentre outros que se fizerem necessários.
Para a fundamentação do Plano de Formação Continuada os pedagogos
devem se responsabilizar em oferecer condições para auxiliar o coletivo da escola,
sem normatizar, engessar as ideias, para que todos possam perceber as exigências
de cada situação pela quais estão passando dentro da escola pública e a
necessidade de estarem aptos para sua atuação na escola com autonomia e ética.
Para entender a importância do enfoque na formação continuada na escola,
considera-se muito relevante as definições que Libâneo apresenta dos seguintes
termos:
[...] profissionalidade como conjunto de requisitos profissionais que tornam alguém um professor, uma professora [...] profissionalização refere-se às condições ideais que venham a garantir o exercício profissional de qualidade. Essas condições são: formação inicial e formação continuada nas quais o professor aprende e desenvolve as competências, habilidades e atitudes profissionais, remuneração compatível com a natureza e exigência da profissão; condições de trabalho (recursos físicos e materiais, ambiente e clima de trabalho, práticas de organização e gestão). O profissionalismo refere-se ao desempenho competente e compromissado dos deveres e responsabilidades que constituem a especificidade de ser professor e ao comportamento ético expresso nas atitudes relacionadas à prática profissional. (2004, p.75).
Estas definições têm sua importância entendendo que um professor pode por
meio da formação continuada ampliar sua profissionalização e também alterar suas
convicções em relação à sua prática profissional a partir do momento em que a
organização da escola, por meio do trabalho do pedagogo consegue compor uma
equipe, um trabalho coletivo que favoreça o fortalecimento da identidade profissional
dos professores e da gestão democrática na escola pública.
LIBÂNEO discorre:
Pela participação na organização e gestão do trabalho escolar, os professores podem aprender várias coisas: tomar decisões coletivamente, formular o projeto pedagógico, dividir com os colegas as preocupações, desenvolver o espírito de solidariedade, assumir coletivamente a responsabilidade pela escola, investir no seu desenvolvimento profissional. Mas, principalmente, aprendem sua profissão.[...] É no exercício do trabalho que, de fato, o professor produz sua profissionalidade. Essa é hoje a idéia chave do conceito de formação continuada. (2004, p.34-35)
16
Segundo CHRISTOV (1998) apud LIBÂNEO:
A educação continuada se faz necessária pela própria natureza do saber e do fazer humanos como práticas que se transformam constantemente. A realidade muda e o saber que construímos sobre ela precisa ser revisto e ampliado sempre. Dessa forma, um programa de educação continuada se faz necessário para atualizarmos nossos conhecimentos, principalmente para analisarmos as mudanças que ocorrem em nossa prática, bem como
para atribuirmos direções esperadas a essas mudanças. (2004, p.79).
Há muitas formas de formação continuada e ela se apresenta indispensável
para a profissionalização, sendo requisito importante para a luta por melhores
salários, melhores condições de trabalho e para o profissionalismo (LIBÂNEO, 2004)
e o próprio professor deve buscar e administrar sua formação contínua, porém na
escola o trabalho do pedagogo pode possibilitar e atuar na formação continuada dos
professores para desenvolver atividades cognitivas e conhecimentos que melhorem
o trabalho dos professores e isso possibilita avanços na organização e gestão da
escola e fortalece o trabalho em equipe e a gestão democrática.
LIBÂNEO aponta:
O pedagogo escolar deverá ser o agente articulador das ações pedagógico-didáticas e curriculares, assegurando que a organização escolar vá se tornando um ambiente de aprendizagem, um espaço de formação continuada onde os professores refletem, pensam, analisam, criam novas formas práticas, como sujeitos pensantes, e não como meros executores de decisões burocráticas. (2004, p.40-41).
A equipe da escola deve reconhecer a importância das políticas educacionais,
da legislação que organiza e estrutura o ensino, mas elas devem ser analisadas
criticamente, é preciso confrontá-las com os objetivos da escola para exercer sua
autonomia, sabendo que é sempre relativa em razão da existência de outras
instâncias de gestão estadual, nacional. É muito útil que os diretores, professores
pedagogos, professores compreendam os processos de decisão que recebem do
Estado, pois a escola não está isolada do sistema social, político e cultural.
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3 A Implementação no Colégio Estadual Wolff Klabin
Antes da implementação desenvolveu-se o GTR - Grupo de Trabalho em
Rede, no Portal Dia-a-Dia-Educação, onde participaram pedagogas de diversas
regiões do Paraná, as quais contribuíram discutindo a viabilidade e a necessidade
do projeto, como também analisaram o Caderno Pedagógico produzido para efetivar
a implementação, foram participações preciosas que muito contribuíram para
melhorias no material produzido. Na implementação do projeto propôs-se um diálogo
entre os referenciais teóricos e a práxis dos pedagogos atuantes no Colégio
Estadual Wolff Klabin- EFMNP, no município de Telêmaco Borba. Para este
trabalho procurou-se utilizar uma abordagem crítica e dialética
Os encontros aconteceram no anfiteatro do Colégio Estadual Wolff Klabin, em
Telêmaco Borba, com a presença de 10 pedagogas da rede pública estadual,
iniciando-se com uma pequena retrospectiva do percurso histórico profissional dos
pedagogos, e com a seguinte pergunta: O que mais preocupa você no seu trabalho
de pedagogo? As respostas foram as seguintes: falta de tempo, despreparo de
alguns professores, excesso de atribuições, falta de trabalho coletivo, falta definição
de tarefas para os professores e alunos, pois as pessoas não sabem qual é a sua
função, queixaram de ironias por parte de alunos e professores, falha dos pais, há
condicionantes que interferem, não desempenhar suas atribuições a contento,
precisa de mais pedagogos, professores que acham que pedagogo tem que pôr
alunos na sala, falta de conscientização e compromisso de alguns professores,
professores que só fazem bico, não se dedicam, alunos chamando pedagogo de “pit
bull” e alguns professores reforçando e não se dá conta de discutir ironias.
Depois, com dinâmicas e utilizando as citações de Saviani (1985 e 1986)
sobre a importância do papel do pedagogo na escola pública e de Pimenta (1991)
que assevera que o PPP da escola pública requer a competência do pedagogo,
explicitou-se o motivo que levou a escolher esta temática, que foi o fato de
atualmente predominar nas escolas públicas, este profissional como multitarefa e até
mesmo, muitas vezes, rotulado com imagens negativas.
O caderno Pedagógico elaborado para esta finalidade, foi estudado na
íntegra, em cinco encontros presenciais, de quatro horas cada um e cinco etapas de
leituras prévias e complementares, discutindo-se a questão das vivências dos
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pedagogos em relação às suas atribuições essencialmente pedagógicas. Ressaltou-
se nestes encontros a importância da Pedagogia Dialética fundamentando o trabalho
do pedagogo e de se conceber o pedagogo como sujeito epistêmico e intelectual
orgânico, devido às necessidades que se impõem a eles no seu trabalho.
A proposta de implementação efetivou-se a partir de uma fundamentação
sobre a Pedagogia Dialética, desvelando as diversas concepções, que
historicamente permearam o trabalho dos pedagogos. Buscou-se constituir um olhar
diferenciado para a prática dos pedagogos. Olhar este que procurou sustentação na
concepção de pedagogo como intelectual orgânico, e que atende com seu trabalho
os alunos que são na sua maioria filhos da classe trabalhadora.
Neste processo analisou-se a fragmentação na formação dos pedagogos e
que também está presente na escola, exemplo disso é quando diante de problemas
na escola não se analisa o binômio ensino-aprendizagem, muitas vezes analisa-se
somente uma das partes no processo.
Os pedagogos participantes narraram dificuldades referentes à clareza de
suas atribuições no contexto escolar, pois muitas vezes eles precisam atender
situações diversas que não são pedagógicas, por falta de outros profissionais, e por
já existir na escola uma cultura de pedagogo multitarefa, que atende desde o portão
até visitas nas casas de alunos faltosos. Sendo assim, todos consideraram que se
faz necessária uma mudança coletiva no fazer pedagógico, para possibilitar uma
nova condição de trabalho para os pedagogos.
Na implementação, por meio de estudos e atividades reflexivas, foi possível
ouvir os pedagogos e também favoreceu a eles uma autocrítica, percebeu-se que há
necessidade de se articular um fazer pedagógico consciente e consoante com a
Pedagogia Dialética, e que até nas mais simples atribuições, o pedagogo não deve
perder de vista o foco no binômio ensino-aprendizagem, evitando o descompasso
entre as suas atribuições reais e existentes e as necessárias e desejáveis, tendo em
vista a dimensão essencialmente pedagógica de seu trabalho.
Nos encontros que se sucederam as vivências relatadas pelos pedagogos
participantes foram colocadas em contraposição à fundamentação teórica e
percebeu-se esse descompasso antes citado.
A fim de se prosseguir com as reflexões foram utilizados recursos didáticos
como recortes de filmes e músicas como “Bom Conselho” de Chico Buarque e “Não
vou me adaptar” dos Titãs, para pensar que não existe um bom conselho para
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melhorar nossas condições de trabalho, e em não se acomodar diante da rotina para
restabelecer o papel do pedagogo.
Instaurou-se um diálogo à respeito das experiências e narrativas de cada um
e também sobre os textos estudados, tentando desse modo, novos princípios e
novos patamares; e com a interlocução mais profícua durante esse processo de
partilha de nossas experiências; amparados pelos aportes teóricos, começou-se a
pensar no trabalho do pedagogo na formação continuada e suas implicações para
ações coletivas na escola.
Da perspectiva das atribuições necessárias e desejáveis, objetivando um
plano de formação continuada para a escola concreta e real, explicitou-se a
necessidade de se buscar abordagens teóricas e um novo referencial além daquele
estudado da época da formação acadêmica em Pedagogia.
Para o plano de formação continuada, discutiu-se e definiram-se um conjunto
de temas que precisam dos aportes teóricos para serem efetivados na escola e que
podem proporcionar oportunidades para mudanças e redefinições de conceitos e
práticas, papéis, relações de poder, identidades e funções. Esse espaço de
encontros possibilitou novas significações que podem levar à transformação dos
processos pedagógicos escolares, corroborando com as atribuições dos pedagogos
numa dimensão essencialmente pedagógica.
Aos poucos clarificou-se o papel do pedagogo unitário, intelectual orgânico,
sujeito epistêmico, e assim delinearam-se pistas sobre os caminhos que podem ser
trilhados para que os pedagogos possam realizar seu trabalho na perspectiva da
Pedagogia Dialética, cientes de seu papel no âmbito da escola pública. Ou seja
considerando este conceito de pedagogo que tem como pressuposto seu
compromisso com os alunos da escola pública, que é de formar sujeitos que façam
uso de sua aprendizagem de leitura e escrita, instrumentalizados pela apropriação
de conhecimentos historicamente acumulados.
Discutiu-se os conceitos apresentados e foram produzidos textos orais e
escritos. Analisou-se o trabalho do pedagogo, sua identidade e função e sobre a
necessidade de contextualização dos processos educacionais, para que possam ser
direcionados para a emancipação crítica e intelectual dos alunos. Apontou-se a
formação continuada como crucial para a profissão de pedagogo e de professor, por
trabalharem com a formação humana em uma época em que se acentuam
problemas sociais e econômicos e com as novas tecnologias surgem novas formas
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de ensinar e aprender. Comentou-se sobre o papel do pedagogo para a efetivação
de ações coletivas na escola, analisou-se a possibilidade da unitariedade possível
de seu trabalho, com base na concepção progressista de educação. Realizou-se
trabalhos individuais e em grupos e as atividades do caderno pedagógico. As
reflexões contidas neste texto, só foram possíveis pelo empenho das pedagogas
participantes, que apesar das dificuldades, acreditam na educação como o meio
mais digno de elevar a qualidade social na vida dos nossos alunos da escola
pública, sem as quais não teria sido possível este trabalho.
4 Considerações finais
A busca por uma escola que ofereça uma educação comprometida com um
projeto social de transformação, exige enfrentamento dos seus problemas com
maior criticidade. Assim considerado, o pedagogo pode suscitar necessidades de
estudos, para juntamente com a direção, os professores e membros das instâncias
colegiadas buscarem a superação de uma visão determinista para agir crítica e
historicamente.
Mesmo consciente de que a formação continuada em serviço não consegue
resolver a fragmentação presente no trabalho docente e os inúmeros problemas
presentes na escola é preciso acreditar neste processo como mais uma via, um
caminho a ser percorrido, tendo como horizonte a garantia da aprendizagem dos
nossos alunos das escolas públicas.
No entanto, para que se cumpra à função social da escola, deve-se refletir
sobre a organização escolar, entendendo-a contextualizada, vinculada ao sistema
econômico, político e social. Não obstante, é possível também sentir que as ações
realizadas muitas vezes não correspondem aos ideais, aos objetivos traçados no
início de cada ano e até de cada dia, que é sempre um recomeço.
Para os educadores pedagogos e professores da Educação Básica a
contextualização de seu trabalho apresenta-se determinante para que os processos
educacionais possam ser direcionados para a emancipação intelectual e crítica dos
alunos da escola pública.
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Partindo da compreensão dos processos pedagógicos escolares pode-se
buscar e revelar as possibilidades e os limites de se alterarem as condições
existentes e reais e, conscientemente, chegar àquelas intervenções desejáveis na
realidade da escola e que realmente interessam aos educadores e aos alunos que
hoje estudam nas escolas públicas.
Na perspectiva dialética, o processo de formação continuada a ser
instaurado pelo pedagogo precisa ser analisado para que se estabeleçam relações
entre o coletivo da escola e o individual, e também entre o pessoal e o profissional.
Neste esteio, o pedagogo na escola não pode ser visto como um ser que
por intermédio dele se reproduzem os interesses do capital, nem como aquele que
tem poderes para mudar a realidade sozinho; mas este profissional precisa ser visto
como aquele que por meio de ações intencionais busca contribuir para que se
cumpra a função social da escola.
Na escola, com o pedagogo articulando ações coletivas a partir da formação
continuada abrem-se possibilidades para todos agirem de forma consciente, não se
configurando desta forma o trabalho na organização, gestão, segmentos da gestão e
práticas docentes como alienado.
Os pedagogos e professores para inserirem mudanças na realidade, nesta
perspectiva sociocrítica necessitam pleno domínio e compreensão da realidade, com
consciência que possibilite interferir e transformar as condições da escola, da
educação e da sociedade; e para tanto tem fundamental importância a formação
continuada e as condições de trabalho, para que as ações da escola não sejam
inferidas só de proposições normativas, mas também a partir das situações
concretas que o coletivo problematizou.
Neste sentido a formação continuada deve ser com caráter emancipatório,
de maneira que permita a auto-organização dos professores para a construção de
um projeto coletivo de educação. Tal processo é entendido como unitário e orgânico
e, desta forma, objetiva contribuir para a autonomia da escola prevista na LDB
9394/96, corroborando para a emancipação humana e para a transformação social.
Os estudos e debates sobre a fundamentação teórica do Projeto Político
Pedagógico e do Plano de Formação Continuada são de fundamental importância
para que o coletivo da escola possa executar as ações na escola, sob pena de se
terem registradas no papel e não serem efetivadas por falta de aportes teóricos que
as sustentem.
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