da escola pÚblica paranaense 2009 · docentes de educação física o histórico e a criação de...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
Ficha para Catálogo de Produção Didático- Pedagógica
Professor PDE/2009
Título CANTOS E ENCANTOS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR - CANTOS EDUCACIONAIS NA EDUCAÇÃO FÍSICA
Autor MARLENE APARECIDA FORNACIARI MACEDO
Escola de Atuação COLÉGIO ESTADUAL PEDRO MACEDO - EFMP
Município da escola CURITIBANúcleo Regional de Educação CURITIBAOrientadorInstituição de Ensino Superior UTFPRÁrea do Conhecimento EDUCAÇÃO FÍSICAProdução Didático-Pedagógica (indicar o tipo de produção conforme Orientação disponível na página do PDE)
CADERNO TEMÁTICO –
CANTOS EDUCACIONAIS NA EDUCAÇÃO FÍSICA
Relação Interdisciplinar ( indicar caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)
EDUCAÇÃO FÍSICA
Público alvo( indicar o grupo com o qual o professor PDE desenvolveu o trabalho: professores, alunos, comunidade...)
PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Localização( identificar nome e endereço da escola de implementação)
AV. ARGENTINA, 2376 - Portão
Apresentação: (descrever a justificativa, objetivos e metodologia utilizada. A informação deverá conter no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)
Este projeto pretende enfocar junto aos docentes de Educação Física o histórico e a criação de espaços alternativos, para as aulas práticas como fonte de enriquecimento de ação pedagógica. Utiliza-se o conteúdo estruturante Esporte como importante ferramenta para o processo de ensino e aprendizagem e
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consequentemente oferecer a possibilidade aos discentes de maior participação, envolvimento e inclusão, contrapondo o modelo esportivizante como possibilidade de intervenção de ensino. Para a prática dos conteúdos, propõe-se tomar conhecimento sobre o histórico dos espaços destinados à Educação Física e transformar e viabilizar todo e qualquer espaço da escola em quadra desportiva.
Palavras-chave (3 a 5 palavras) Esporte. Espaços alternativos. Inclusão
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CONTRATO DE CESSÃO GRATUITA DE DIREITOS AUTORAIS
Pelo presente instrumento particular, de um lado MARLENE APARECIDA
FORNACIARI MACEDO, brasileira, casada, professora, CPF 582.133.849-20,
Cédula de Identidade RG nº 3.558.807-8 residente e domiciliado à Rua Dario
Velozo, 110 – Ap. C-01- B, na cidade de Curitiba, Estado do Paraná, denominado
CEDENTE, de outro lado a Secretaria de Estado da Educação do Paraná, com sede
na Avenida Água Verde, no
2140, Vila Izabel, na cidade de Curitiba, Estado do Paraná, inscrita no CNPJ sob no
76.416.965/0001-21, neste ato representada por seu titular Yvelise Freitas de Souza
Arco-Verde, Secretária de Estado da Educação, brasileiro, portadora do CPF no
392820159-04, ou, no seu impedimento, pelo seu representante legal, doravante
denominada simplesmente SEED, denominada CESSIONÁRIA, têm entre si, como
justo e contratado, na melhor forma de direito, o seguinte:
Cláusula 1ª – O CEDENTE, titular dos direitos autorais da obra (Caderno Temático -
Cantos e Encantos na educação Física Escolar – Unidade Temática- Cantos
Educacionais na Educação Física), cede, a título gratuito e universal, à
CESSIONÁRIA todos os direitos patrimoniais da obra objeto desse contrato, como
exemplificativamente os direitos de edição, reprodução, impressão, publicação e
distribuição para fins específicos, educativos, técnicos e culturais, nos termos da Lei
9.610 de 19 de fevereiro de 1998 e da Constituição Federal de 1988 – sem que isso
implique em qualquer ônus à CESSIONÁRIA.
Cláusula 2ª – A CESSIONÁRIA fica autorizada pelo CEDENTE a publicar a obra
autoral
ao qual se refere a cláusula 1.a deste contrato em qualquer tipo de mídia, como
exemplificativamente impressa, digital, audiovisual e web, que se fizer necessária
para
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sua divulgação, bem como utilizá-la para fins específicos, educativos, técnicos e
culturais.
Cláusula 3ª – Com relação a mídias impressas, a CESSIONÁRIA fica autorizada
pelo CEDENTE a publicar a obra em tantas edições quantas se fizerem necessárias
em
qualquer número de exemplares, bem como a distribuir gratuitamente essas
edições.
Cláusula 4ª – Com relação à publicação em meio digital, a CESSIONÁRIA fica
autorizada
pelo CEDENTE a publicar a obra, objeto deste contrato, em tantas cópias quantas
se
fizerem necessárias, bem como a reproduzir e distribuir gratuitamente essas cópias.
Cláusula 5ª - Com relação à publicação em meio audiovisual, a CESSIONÁRIA fica
autorizada pelo CEDENTE a publicar e utilizar a obra, objeto deste contrato, tantas
vezes
quantas se fizerem necessárias, seja em canais de rádio, televisão ou web.
Cláusula 6ª - Com relação à publicação na web, a CESSIONÁRIA fica autorizada
pelo CEDENTE a publicar a obra, objeto deste contrato, tantas vezes quantas se
fizerem
necessárias, em arquivo para impressão, por escrito, em página web e em
audiovisual.
Cláusula 7ª – O presente instrumento vigorará pelo prazo de 05 (cinco) anos
contados da
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data de sua assinatura, ficando automaticamente renovado por igual período, salvo
denúncia de quaisquer das partes, até 12 (doze) meses antes do seu vencimento.
Cláusula 8ª – A CESSIONÁRIA garante a indicação de autoria em todas as
publicações
em que a obra em pauta for veiculada, bem como se compromete a respeitar todos
os
direitos morais do autor, nos termos da Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998 e da
Constituição Federal de 1988.
Cláusula 9ª – O CEDENTE poderá publicar a obra, objeto deste contrato, em
outra(s)
obra(s) e meio(s), após a publicação ou publicidade dada à obra pela
CESSIONÁRIA,
desde que indique ou referencie expressamente que a obra foi, anteriormente,
exteriorizada (e utilizada) no âmbito do Programa de Desenvolvimento Educacional
da
Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED-PR.
Cláusula 10ª – O CEDENTE declara que a obra, objeto desta cessão, é de sua
exclusiva
autoria e é uma obra inédita, com o que se responsabiliza por eventuais
questionamentos judiciais ou extrajudiciais em decorrência de sua divulgação.
Parágrafo único – por inédita entende-se a obra autoral que não foi cedida,
anteriormente, a qualquer título para outro titular, e que não foi publicada ou utilizada
(na
forma como ora é apresentada) por outra pessoa que não o seu próprio autor.
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Cláusula 11ª – As partes poderão renunciar ao presente contrato apenas nos casos
em
que as suas cláusulas não forem cumpridas, ensejando o direito de indenização pela
parte prejudicada.
Cláusula 12ª – Fica eleito o foro de Curitiba, Paraná, para dirimir quaisquer dúvidas
relativas ao cumprimento do presente contrato.
E por estarem em pleno acordo com o disposto neste instrumento particular a
CESSIONÁRIA e o CEDENTE assinam o presente contrato.
Curitiba, 20 de julho de 2010.
______________________________________
CEDENTE
______________________________________
CESSIONÁRIA
______________________________________
TESTEMUNHA 1
______________________________________
TESTEMUNHA 2
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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA: CADERNO TEMÁTICO
CANTOS E ENCANTOS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Curitiba - PR
2009
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Marco Vanderley Bianchessi
Marlene A. Fornaciari Macedo
Milene Torres Gonçalves Stall
PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA: CADERNO TEMÁTICO
CANTOS E ENCANTOS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Trabalho apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE da Secretaria de Estado da Educação do Paraná.Orientador Prof. Ms. Carlos Eduardo da Costa Schneider – UTFPR.
Curitiba - PR
2009
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APRESENTAÇÃO
O caderno temático, Cantos e Encantos na Educação Física Escolar têm
como objetivo compartilhar os temas e textos tratados com todos os professores e
professoras da Rede Estadual de Educação do estado do Paraná interessados na
melhoria do processo de ensino e aprendizagem, provocando algumas reflexões
sobre os espaços arquitetônicos e a prática pedagógica em Educação Física
escolar, numa verificação, após este longo período de estudos e questionamentos,
de que algo pode ser acrescentado a partir de nossas ações. E ao refletir sobre as
nossas próprias práticas pedagógicas, numa tentativa de mudança de olhar e
atitude, estamos contribuindo com a qualidade de nossas aulas de Educação Física.
Este caderno temático permite-nos ter uma compreensão mais aprofundada
em relação aos cantos educacionais que são os espaços físicos constituídos nas
instituições de ensino para as aulas de Educação Física, assim como, apresenta
possibilidades de se trabalhar com atividades mais recreativas, lúdicas e de forma
coletiva, que motivam e vão de encontro aos interesses dos nossos educandos.
Na primeira unidade, temos o texto: Cantos Educacionais na Educação Física, onde a professora busca mostrar a constituição e delineamento dos espaços
escolares existentes, faz também uma abordagem quanto as relações interpessoais
por entender que a escola é um espaço de encontro entre muitas pessoas, podendo
haver positivamente o estreitando destes relacionamentos para a aprendizagem,
com um diagnóstico e desafios para que possamos “reconstruir” e inovar em nossa
prática pedagógica.
A segunda unidade, A Ludicidade em todos os cantos, a autora procura
mostrar a importância de se pensar “ludicidade” em todos os momentos da escola, e
da vida. Neste sentido, apresenta uma cultura corporal escolar aberta e atenta as
múltiplas possibilidades, tornando uma escola fértil para novas produções e novos
saberes.
Na terceira e última unidade deste caderno temático temos o texto:
Gincana Escolar: encantando a Educação Física e a Escola, onde o professor
estabelece relações e alternativas de se desenvolver, de forma educativa, recreativa
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e interdisciplinar, por meio da gincana escolar, os conteúdos da Educação Física
(DCEs), ampliando assim, as estratégias, formas e possibilidades de se trabalhar
estes conhecimentos e práticas corporais junto aos educandos na escola.
Desta forma, apresentamos aos professores e professoras da rede de
ensino estadual este estudo, procurando auxiliar no dia a dia escolar dos
profissionais de Educação Física e demais disciplinas, que poderão desenvolver e
ter uma nova visão sobre a sua práxis no ambiente escolar, sendo assim, merecedor
de satisfação e toda a confiança.
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UNIDADE 1
CANTOS EDUCACIONAIS NA EDUCAÇÃO FÍSICA
Marlene Aparecida Fornaciari Macedo1
Carlos Eduardo da Costa Schneider2
O espaço físico na escola
Para que haja uma compreensão mais aprofundada em relação aos cantos
educacionais que são os espaços físicos constituídos nas instituições de ensino para
as aulas de Educação Física, se faz necessário entender como se criou as escolas e
estes espaços.
Historicamente na época do império estudar era um privilégio dos nobres, as
escolas existiam somente para essa classe dominante. Com o advento da República
e o seu progresso, o projeto pedagógico era transformar os serviçais, as pessoas
sem atividades, também aquelas sem instrução em cidadãos, trabalhadores e
civilizados para atender o mercado de trabalho livre, havia-se então a preocupação
de se construir mais escolas, ou seja, lugares específicos para funcionar como
instituições de ensino, mas que ainda foram insuficientes para atender a demanda
para instrução pública. (TEIXEIRA, 1971)
No início do século XX, apontava-se novamente a necessidade de investir
mais em educação como conseqüência do desenvolvimento industrial e a
transformação do país, mais pessoas eram requisitadas para serem instruídas
tecnologicamente e preparadas para qualificarem-se para as atividades das fábricas.
Com a Constituição Federal de 1946, a educação torna-se obrigatória e
gratuita (ROMANELLI, 2003), pois até neste momento somente os que tinham
condições financeiras podiam estudar. Em 1988 as leis mudaram e tornaram a
educação um direito de todos e um dever do Estado e da família, fazia-se neste
momento um esforço para que a maioria dos brasileiros fosse alfabetizada e
consequentemente foram construídas mais escolas, mas sem êxito nos padrões
mínimos de qualidade, principalmente quanto a estrutura física, mantendo a 1 Professora PDE – Colégio Estadual Pedro Macedo. Curitiba - PR.2 Professor Orientador – UTFPR. Curitiba - PR.
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arquitetura, rígida e fria com poucos estímulos, nos mesmos moldes de domínio,
poder e produção, com salas retangulares, carteiras enfileiradas, um aluno atrás do
outro com pouco contato com os colegas, para se aprender o conteúdo mais rápido
sem perder tempo com as relações interpessoais, evidenciando a restrição entre os
educandos às trocas de experiências e atividades, obedecia-se o que era imposto e
com o máximo de rendimento e corredores de fácil vigilância, similares a hospitais,
presídios, exércitos e fábricas. (FOUCAULT, 1987)
As edificações eram delimitadas para fins específicos, não se pensava em
espaços para atividades para o corpo inteiro (mente e corpo), somente a mente tinha
que trabalhar exaustivamente para aprender tudo que era proposto e o corpo tinha
que ser forte para suportar a carga de trabalho exigida realizava-se exercícios físicos
repetitivos para obtenção da mesma de forma calistênica.
À luz deste contexto histórico, nos faz refletir que com a intensificação
progressiva da indústria capitalista, o homem se incorpora as máquinas, como se
fosse uma peça no processo de produção, limitando-se ao fazer sem ter a reflexão
de todo o processo em que está inserido. Vale a pena lembrar que na antiguidade
grega, oferecer um corpo saudável era o mínimo necessário para abrigar uma mente
reflexiva, para eles corpo e mente são inerentes ao corpo humano intimamente.
Para Rodrigues (2003), com a demanda cada vez maior de alunos
matriculados nas escolas e estas que na sua maioria foram construídas em lugares
impróprios, sem segurança, com as salas de aula e seus espaços distribuídos de
forma irracional, seria um problema social urgente com necessidades de políticas
públicas para solucioná-lo.
Já para Souza (1998), a aprendizagem fica comprometida quanto à falta de
espaços e a forma estrutural arquitetônica que foi desprezada nas escolas até os
dias atuais. Também o isolamento com muros, o que deixa claro a demarcação de
mundos distintos (o de dentro da escola e o de fora da escola), e a escola compõe
este mundo externo, juntar-se a ele integralmente em uma única realidade seria
mais prudente e produtivo.
O espaço físico pode ser considerado como fundamental e muito importante
nas relações interpessoais, nas interações e consequentemente para a
aprendizagem, exemplifica-se que na aplicação do conteúdo esporte, participar do
jogo em período integral durante uma aula prática de Educação Física, é
praticamente impossível pela restrição deste. Com esta abordagem reducionista
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pode-se desfavorecer a potencialização da cultura corporal e da invenção, a maioria
das escolas tem grande preocupação de executar uma boa manutenção dentro das
salas de aula, talvez por entender que mente e corpo não formam um único corpo.
Despreza-se o espaço externo e não possuem espaço adequado para as aulas de
Educação Física, para atender o fluxo de alunos matriculados.
Há escolas que ainda estão desprovidas de quadra esportiva, ainda
praticam suas aulas no chão de terra batido ou em locais que não pertencem as
mesmas, e as instituições de ensino que tem quadras esportivas construídas, na
maioria das vezes, estão em péssimas condições de uso, com desníveis, ásperas,
esburacadas, sem cobertura, iluminação precária, entre outros.“[...] o espaço jamais é neutro: em vez disso, ele carrega em sua configuração como território e lugar, signos, símbolos e vestígios da condição e das Relações Sociais de e entre aqueles que o habitam. O espaço comunica; mostra, a quem sabe ler, o emprego que o ser humano faz dele mesmo.” (FRAGO e ESCOLANO,1998, p.64)
O aluno que não tem em sua escola área verde, árvores para dar a sombra,
o vento, um jardim com flores, bancos para sentar-se e para uma conversa informal,
horta para o seu lanche, pode ter consciência ecológica?
Provavelmente não conseguirá agregar dentro da sua instituição de ensino
valores ecológicos como a preservação do meio ambiente a admiração da beleza de
uma flor, a valorização do alimento e a não destruição da natureza, pois o que ele
aprende nos livros a sua escola não realiza na prática. Isto se transporta para o
esporte, se o mesmo não tem uma quadra de basquete, logo não possuirá
elementos simbólicos para estabelecer pontos de referência para a sua assimilação.
Não basta realizar jogos parecidos com a modalidade para suprir a falta do espaço
correto para praticar o basquete, é necessário que o aluno vivencie o esporte para
que realmente assimile e aproprie com melhor eficácia o conhecimento.
Corrobora-se com Souza no que diz respeito ao quanto fica limitada a
possibilidade de aprendizagem na questão da falta de espaço físico apropriado. O
aluno de uma forma inconsciente, todos os dias alerta que necessita de mais
espaços físicos e temporais, quando no horário do intervalo para o lanche e nos
interstícios das aulas formais, grita, corre, pula, chora, canta, joga, conversa entre
outros e ao retornar à sala de aula encontra-se mais agitado do que descansado e
relaxado, com o desejo de mais vivência lúdica e relacionamentos interpessoais.
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Para Frago (1996), a Educação Física tem uma relação estreita com o
espaço e ao trocar ou modificá-lo, seja físico ou de uma aula, abre novas
possibilidades, limites, maneiras e funções de educar, comenta ainda que o
professor ao configurá-los se torna arquiteto dos seus espaços educacionais. Esta é
uma disciplina que necessita de espaço físico, instalações, materiais peculiares para
a realização das suas aulas, pois a matéria prima se baseia no ser humano e no
movimento. Uma escola construída só de concreto sem área verde, ventilações,
bancos para sentar, espaços livres para as mais variadas atividades pode prejudicar
e muito a aprendizagem e o desenvolvimento das relações interpessoais
necessários para o exercício da cidadania.
Tentar solucionar os problemas estruturais nas escolas, para que o aluno
não tenha prejuízos educacionais do ponto de vista político pedagógico, com a
criatividade do professor pode ser o que sustenta esse direito do educando e
também a importância e a permanência da Educação Física na Educação Básica até
hoje, mas fazer uso da criatividade pela falta de compromisso e respeito político com
a população, no mínimo banaliza esse ato, por não ser esta a finalidade do mesmo.
Entende-se que a escola seria o lugar para adquirir conhecimento e rica em
espaços relacionados aos estímulos, sensoriais, motores, cognitivos, afetivos,
sociais, para atingir o desenvolvimento global do aluno.
Pensar, planejar e organizar o espaço arquitetônico escolar de forma
satisfatória, pode contribuir para um aprendizado diferenciado, que segundo a Lei de
Diretrizes e Bases, Lei 9.394 de 1996, “o Estado tem o dever de garantir padrões
mínimos de qualidade de ensino com a variedade e quantidade mínimas por aluno,
de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo ensino e
aprendizagem”.
A Educação Física faz parte do processo educacional da escola e para o
seu desenvolvimento, proporcionar o espaço físico (quadras esportivas, área verde,
entre outros) como facilitador na busca da autonomia corporal, senso crítico e que o
educando possa ter a oportunidade de expressar a sua experiência e sua cultura, é
de seu direito e garantido por Lei.
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As relações interpessoais na escola
Ao pensar em escola automaticamente em nossas mentes pensamos em
pessoas e segundo Dayrell (2006), a escola é essencialmente um espaço coletivo
de relações grupais. As relações humanas são todos os contatos entre seres
humanos que se realizam em todas as situações e a capacidade de se relacionar de
forma harmoniosa e equilibrada, determina o nível de relacionamento que se
estabelece, isto é, a associação mútua de interação interindividual e coletiva que
resulta na dinâmica de grupo. Este processo mobiliza as energias entre as pessoas,
à medida que evolui, a troca se estabelece e as relações se ampliam, faz com que
todos sintam-se parte integrante da atividade e consequentemente do grupo numa
aceitação mútua.
Este processo mobiliza as energias entre as pessoas, a medida que evolui, a
troca se estabelece e as relações se ampliam, faz com que todos sintam-se parte
integrante da atividade e consequentemente do grupo numa aceitação mútua.
Para Oliveira (1997) é inerente a natureza do ser humano a vida em grupo. As
boas relações se dão na atitude de prevalecer o estabelecimento e a manutenção
dos contatos entre as pessoas, respeitar a personalidade de cada uma e as
reconhecer como seres humanos. Isso ocorre quando se tem autoconhecimento,
heteroconhecimento, comunicação e liderança.
O autoconhecimento permite uma visão externa de si mesmo em relação ao
outro. Conhecer o outro e também a si mesmo, se comunicar com certa capacidade
de influência, pode acontecer o bom relacionamento humano de acordo com o grau
de autonomia e iniciativa que se tem. A ausência do bom relacionamento pode
resultar em ressentimento, incompreensão, resistência, ausência de iniciativa e
colaboração, o que não obtém um resultado positivo na relação que se estabelece.
Ressalta-se oportunamente que as relações interpessoais sofreram sérios prejuízos
com a negação de espaços coletivos públicos, deixando à escola como uma das
poucas opções de espaço para convívio social.
Cada indivíduo atuará conforme a sua experiência de vida, a sua cultura,
cabe a ele respeitar as diferenças, nas quais se constituem de enormes riquezas.
A personalidade de cada ser humano descreve e determina as suas
características individuais, abrange-se a constituição psicológica do indivíduo,
mostra o que cada um é, seus hábitos, motivações psíquicas e relacionamentos
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interpessoais, que a aptidão intelectual com mais ou menos intensidade, a riqueza e
a variedade de conhecimentos ajudam a diferenciar e caracterizar os indivíduos.
O desejo de encontrar significado à vida leva o indivíduo à busca de valores
onde a ética que se ocupa com a reflexão a respeito dos fundamentos da vida moral
e o comportamento que é regido pelo conjunto de regras vivenciadas na sociedade
surgem com maior intensidade.
A inteligência interpessoal se dá pela capacidade de compreender, discernir
e responder de forma equilibrada ao estado de espírito, temperamento, motivação e
desejo do outro indivíduo; já a do autoconhecimento numa visão interna de si, com
ação eficaz na vida é a intrapessoal.
A comunicação entre as pessoas é de grande relevância para a qualidade
de vida. A intolerância com as dificuldades, o imediatismo, a violência, ficam mais
destacados pela falta de comunicação, das relações interpessoais, em que o
indivíduo aliena-se cada vez mais de si mesmo, isola-se em seu mundo do ter,
reflexo muitas vezes da sua conexão às tecnologias virtuais, diminuindo cada vez
mais o relacionamento com os seus semelhantes.
O ser humano comporta-se de forma irracional à medida que deixa de
utilizar os recursos que lhe são próprios, como a fala, a boa conversa, o convívio
entre as pessoas. Descaracteriza-se desta forma a sociedade, na qual é formada
por reunião de pessoas e estas determinam as suas regras baseadas na
comunicação entre elas.O principal meio de comunicação que o homem possui é a linguagem. Através da linguagem ele atribui significados aos sons articulados que emite; isso é possível porque ele é dotado de inteligência. (OLIVEIRA, 1997, p.21)
A comunicação pode ser de forma oral, escrita, corporal ou através de sinais
e varia conforme a heterogeneidade dos indivíduos, e às mudanças e problemas
que ocorrem em suas vidas.
Estabelecer relações positivas se vive melhor. Ser capaz de resolver
problemas sem muito desgaste, com inteligência, buscar através da comunicação a
melhor forma de ser entendido, pode contribuir para uma boa e feliz relação
interpessoal.
O sucesso nas relações interpessoais depende do exercício do respeito com
as pessoas que se convive. Ouve-se mais do que fala-se, entende-se mais do que
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critica-se e dessa forma pode haver uma interferência no comportamento da
sociedade, no modo de pensar e sentir das pessoas resultando em uma mudança
de conduta, bem como aprendendo com essas relações.
Através da educação se potencializa o que indivíduo tem de melhor nas
suas dimensões humanas, atinge o seu desenvolvimento integral, que guia o ser
racional, inteligente e consciente, evidenciando o seu crescimento, a sua liberdade,
criticidade e a formação do caráter.“[...] ainda que, por si só, a educação não assegure a justiça social, nem a erradicação da violência, o respeito ao meio ambiente, o fim das discriminações sociais e outros objetivos humanistas que hoje se colocam para as sociedades, ela é sem dúvida, parte indispensável do esforço para tornaras sociedades mais igualitárias, solidárias e integradas.” (MELLO, 1994, p.43)
É a partir de como o indivíduo reflete seu comportamento que se nota quais
valores foram passados ou deixados de realizá-los.
Na escola, por exemplo, a conduta de um aluno perante a forma como
respeita as regras, as normas, participa das atividades propostas, como trata os
funcionários, professores, a maneira de se referir à instituição ignorando, criticando
ou elogiando o local que lhe proporciona a aprendizagem, mostra se recebeu ou não
valores de dignidade, participação, trabalho, respeito, cooperação, responsabilidade,
autonomia, solidariedade entre outros que poder-se-ia continuar listando.
O esporte neste contexto pode contribuir com a escola no sentido de:[...] resgatar os valores que privilegiam o coletivo sobre o individual, defendem o compromisso da solidariedade, respeito humano, a compreensão de que o jogo se faz a dois, e de que é diferente jogar com o companheiro e jogar contra o adversário. (COLETIVO DE AUTORES, 1993, p.71)
Vale a pena ressaltar o valor da autoestima que se torna primordial para
alcançar os demais valores, pois é com esta elevada que sente-se fazer parte da
vida, enfrenta-se todos os problemas de cabeça erguida, supera-se as dificuldades,
ousa-se, cria-se, acha-se merecedor e digno da felicidade sem culpa nenhuma.
(INSTITUTO BRASILEIRO, 2002)
Para que esses valores surjam, ou que não se apaguem necessita-se
sempre de combustível para os enfrentamentos da vida, onde o comodismo de
maneira nenhuma faz parte.
Ter confiança na sua capacidade de pensamento e estar certo que seus
valores estão voltados para o lado do bem, para o otimismo e do respeito, farão com
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que as ideias do ser humano sejam fortalecidas e valorizadas, adquirindo o
reconhecimento daqueles que o cercam.
Com uma autoeficiência que é a confiança no funcionamento da nossa
mente, em nossa capacidade der pensar, entender e decidir dentro da realidade e
um autorrespeito saudáveis, a auto estima não ficará comprometida e contribuirá de
maneira essencial para o processo da vida, no desenvolvimento humano, sendo
indispensável para qualquer relação, seja de trabalho, estudo, amizade, enfim, para
um excelente desenvolvimento psicológico fornecendo força e capacidade de
regeneração.
A autoestima permite o fortalecimento, a energia e a motivação para se
obter resultados e a satisfação diante as realizações da vida, o fato de permitir que o
indivíduo se sinta e viva melhor e que consiga responder aos desafios e às
oportunidades de forma consciente é de grande valor.
A prática de viver conscientemente, da autoaceitação, do senso de
responsabilidade, da autoafirmação e de viver objetivamente, são raízes da
autoestima essenciais para mantê-la elevada e como consequência realizar uma
plena vivência psicológica.
Para Kruppa (1994) a socialização e a interação social, elementos do
processo educativo, são também condições e o resultado da vida social. Não é o
seu fim inserir o educando na sociedade, é um processo constante evolutivo fazendo
parte da vivência do mesmo.
O ser humano pode assumir suas funções na sociedade a partir do
momento em que se sente inserido no contexto desta, com potencial de
transformação e construção de comportamento.
Já para Ferreira (1986) com a socialização pode-se adquirir independência,
confiança em si adaptabilidade e rendimento intelectual, vantagens que favorecem
os estudos posteriores.
Os espaços físicos restritos podem significativamente influenciar na falta de
oportunidade para a realização das relações interpessoais, onde o aluno troca
experiências, culturas, dúvidas, conhecimentos, enfim pode evoluir como cidadão ao
se relacionar efetivamente com outras pessoas.
À luz destas colocações, em nossas aulas práticas há uma forma para que
essa integração se efetive para agregar homogeneamente mais alunos?
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Oportunizar e criar espaços alternativos para realizar essas relações
interpessoais pode ser uma forma de atingi-las.
O século XXI sinaliza para a necessidade de recuperação das relações
interpessoais, que hoje está fragilizada e debilitada, ameaçada pelo individualismo.
A linguagem, que tem papel importante na comunicação, transmissão de
conhecimento, ideias, crenças e emoções, determina o processo de relacionamento
social, que pelo diálogo e harmonia nas relações, a arte de compreender e ser
compreendido instala-se, e com isso pode-se recuperar a dignidade humana, num
esforço de resgatar valores.
Acredita-se que as condições de aprendizagem podem melhorar numa fonte
de perspectiva construtiva de vida para substituir padrões destrutivos de
comportamento, construir seu caminho consciente de mudança própria, numa troca
pela expressão transformadora de reflexão crítica com influência ambiental, familiar
e social, sair de um ser passivo para um ser ativo, com maior participação, inclusão
e envolvimento nas práticas desportivas ao transformar e multiplicar os espaços
físicos, material lúdico, pedagógico e enriquecedor, numa tentativa de mudança de
ação pedagógica efetiva.
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REFERÊNCIAS
ALVES, Nilda. O Espaço escolar e suas marcas. Rio de Janeiro: DP&A, 1998.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Diretrizes curriculares da educação básica para a rede pública estadual de ensino. Brasília MEC/ Departamento de ensino Médio. Departamento de Educação Física. 2006.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da educação física. São Paulo: Cortez, 1992.
DAYRELL, Juarez. Múltiplos Olhares sobre Educação e Cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1996.
FRAGO, Antonio Viñao. Espacio y Tiempo, Educación e Historia, Morelia: IMCED, 1996. FRAGO, Antonio Viñao. Espacio y Tiempo, Educación e Historia, Morelia: IMCED, 1996.
FRAGO, Antonio Viñao; ESCOLANO, Agustín. Currículo, Espaço e Subjetividade: A Arquitetura como Programa, [Tradução Alfredo Veiga Neto]. Rio de Janeiro: DP&A, 1998.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura).
FERREIRA, Idalina L., CALDAS, Sarah P. Souza. Atividades na Pré - Escola, 11ª edição, São Paulo: Editora Saraiva, 1986.
FOUCAULT, M. Vigiar e Punir. Petrópolis, Vozes,1987.
KRUPPA, Sonia M. Portella. Sociologia da Educação, São Paulo, Editora Cortez, 1994.
KUNZ, Eleonor Org. Didática da educação física – 3.ed. – Ijuí: Ed. Unijuí,2003 – 160p. : il. (Coleção educação física).
MELLO, Guiomar Namo de; MADZA Julita Nogueira. Cidadania e Competitividade: desafios educacionais do terceiro milênio. 2ed. São Paulo: Cortez, 1994.
OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. 17ª edição, São Paulo: Atica, 1997.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. V. Título. Livro Didático Público: Educação Física Ensino Médio / vários autores. Curitiba: SEED-PR, 2008. 232p.
21
PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Educação Física para os Anos Finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio. Curitiba: SEED-PR, 2008. Disponível em: www.diaadia.pr.gov.br.
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ROMANELLI, O. História da Educação no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2001.
SOUZA, Lima, M.W. Espaços Educativos: Usos e Construções. MEC, 1998.
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22
UNIDADE 2
A LUDICIDADE EM TODOS OS CANTOS
Milene Torres Gonçalves [email protected]
Carlos Eduardo da Costa Schneider4
O desafio permanente dentro da Educação Física Escolar, é produzir uma
cultura corporal que, afirmem valores e sentidos que ampliem a prática educativa,
dando causa, condição e consequência de uma consciência corporal efetiva.
Considerando sempre a cultura originária dos alunos, aceitando sempre como fonte
de conhecimento e ponto de partida. Deve-se potencializar e consolidar linhas de
pesquisa, constituindo novos campos de investigação. Organizar dessa forma uma
cultura corporal escolar aberta e atenta as múltiplas possibilidades, tornando uma
escola fértil para novas produções e novos saberes. O mundo hoje se apresenta das
mais diversas formas: o social, o cultural, o econômico, e mais formas que
poderíamos enumerá-las sem limite.
Trazendo ludicidade para a sala de aula é muito mais uma ‘atitude’ lúdica do educador e dos educandos. Assumir essa postura implica sensibilidade, envolvimento, uma mudança interna, e não apenas externa, implica não somente uma mudança cognitiva, mas, principalmente, uma mudança afetiva. A ludicidade exige uma predisposição interna, o que não se adquire apenas com a aquisição de conceitos, de conhecimentos, embora estes sejam muito importantes. Uma fundamentação teórica consistente dá o suporte necessário ao professor para o entendimento dos porquês de seu trabalho. Trata-se de ir um pouco mais longe ou, talvez melhor dizendo, um pouco mais fundo. (ALMEIDA, 2009, p.83)
O ser humano obrigatoriamente possui duas funções: a lúdica e a
pedagógica. Deve-se primeiro trabalhar o lúdico e só depois promover as atividades
pedagógicas. O lúdico nem sempre é prazeroso. Quando perde, a criança
experimenta o sofrimento. Por isso, a palavra chave do lúdico é liberdade. Ao impor
o jogo, o adulto faz com que parte da ludicidade se perca, prejudicando a
aprendizagem. Uma vez que o lúdico é o meio para a aprendizagem potencialmente
3Professora PDE – CEEBJA. Rio Negro - PR.4 Professor Orientador – UTFPR. Curitiba - PR.
4
23
significativa. Aprendizagem significativa não é aquela necessariamente importante,
mas sim a que faz conexão com conceitos ou habilidades pré-existentes. É
brincando que revelamos situações reais dentro da problematização real dos
impulsos pessoais.
O brincar proporciona a troca de pontos de vista diferentes, ajuda a perceber como os outros o veem, auxilia a criação de interesses comuns, uma razão para que se possa interagir com o outro. Ele tem em cada momento da vida da criança, uma função, um significado diferente e especial para quem dele participa. Aos poucos os jogos e brincadeiras vão possibilitando às crianças a experiência de buscar coerência e lógica nas suas ações governando a si e ao outro. Elas passam a pensar sobre suas ações nas brincadeiras, sobre o que falam e sentem, não só para que os outros possam compreendê-las, mas também para que continuem participando das brincadeiras. Aí está o difícil e o fácil que é o brincar e o conviver com o outro. (DORNELLES, 2001, p.101)
De acordo com Huizinga (1980) apud Ornelas, desde que o mundo é
mundo, o homem sempre manifestou uma tendência lúdica – uma competência inata
para brincar e jogar - sendo por isso denominado, além de homo sapiens, homo
ludens. Para este historiador, o jogo é um fenômeno presente em todas as
sociedades, sendo inegável a sua existência como elemento da cultura. Nesse
sentido, reconhecer e dar lugar ao lúdico na sociedade e na educação significa
buscar satisfazer a um impulso natural do ser humano.
Quando falamos do lúdico desencadeia a alma dessa ação que é o bom
humor e o mau humor. Pessoas mal humoradas não as vejo trabalhando dentro da
educação,pois não acredito que possam trabalhar com pessoas, que é o nosso foco
de ação! Devemos lembrar que ser uma pessoa de bom humor não significa estar
em permanente estado de alegria, gargalhando por qualquer coisa, mas sim estar
num estado de espírito que o leva a caminhos e soluções compartilhadas. Aprender
a compartilhar problemas e ouvir outras formas de pensar é uma boa maneira de
buscar bons humores. A equipe pedagógica deve, também, incentivar um momento
de lazer e de descontração entre os educandos e funcionários principalmente
esclarecer a cada um seus objetivos e metas. Isso pode não ajudar no bom humor,
mas com certeza as pessoas bem informadas e responsáveis terão menor
probabilidade de ficar mau humoradas.
24
O bem humorado ri dos próprios erros e dificuldades. As pessoas que
convivem com ele se sentem à vontade para arriscar, ousar e inovar, sem medo de
serem criticadas.
Aprendem a rir. As pessoas e organizações que praticam o bom humor têm
obtido maior lucro que as outras. Não consegui enxergar uma única que obtivesse
obtido lucro ou existência longa com o uso do mau humor. Quando as organizações
incentivam o bom humor nos seus funcionários, as equipes ficam mais energizadas.
Ficam mais humanas.
O homem como ser pensante, está cada vez mais em constante e infinito
desafio, os desafios se apresentam nas mais diversas formas, a Educação como um
todo deve dar ao indivíduo condições para superá-los, não importando o nível em
que se encontra.
Ensinar é muito difícil. Empolgar os jovens e transmitir-lhes o prazer por aprender e o quanto isso pode lhes ser bom para a vida íntima é algo que faz muito bem ao professor. A interação é riquíssima; ensinar é aprender; alimentar o outro é se sentir alimentado; dar é receber. A troca que se estabelece é de uma riqueza humana rara. Na verdade deveríamos apreciar perguntas que não sabemos responder, porque elas determinam uma inquietação que nos instiga a curiosidade e nos leva à busca do conhecimento novo. Agora transmitir com paixão é privilégio do professor que ama seu ofício e os assuntos em que se especializou. Transmitir valores é prerrogativa de quem os tem. Assim, o ‘bem’ tenderá a vencer o ‘mal’ pela mais inesperada das razões: o avanço tecnológico. Viver é mesmo uma aventura curiosa e fascinante! (GIKOVATE, 2001, p.92)
A organização do trabalho pedagógico na Educação Física escolar, a
disciplina como mestra propulsora de todo desenvolvimento e trabalho escolar, deve
estar atenta a todos os aspectos envolventes dos educandos, auxiliando nas demais
áreas, no desenvolvimento integral, intelectual e corporal dos mesmos, tornando-os
capazes de discernir atividades e atitudes que venha de encontro à sua formação,
um ser útil a sociedade, com escolhas certas e direcionadas ao seu bem estar físico
e mental.
O lúdico é o melhor caminho para conseguir superar e ele deverá surgir de
modo descontextualizado, fazer parte integrante do cotidiano escolar, sendo assim,
o grande desafio da educação é, promover a socialização do saber, vinculado ao
contexto que se origina e se destina, para assim, ocorrer a transformação do
indivíduo, para um indivíduo pleno, com capacidade de inserção no mundo,
25
enquanto cidadão, tendo como foco a vida, no respeito à coletividade e a dignidade
humana. “A educação pela via da ludicidade propõe-se a uma nova postura
existencial, cujo paradigma é um novo sistema de aprender brincando inspirado
numa concepção de educação para além da instrução.” (SANTOS, 2001)
O ensinar/aprender, na sua organização, planejamento e atuação deve estar
centrado numa práxis (relação teoria /prática) transformadora, buscar a autonomia
de um ser em movimento, tendo como objeto de estudo o próprio movimento
humano, o qual irá direcionar todos os saberes da educação física.
A articulação da ludicidade é essencial em todos os conteúdos estruturantes
porque ela nos proporciona prazer ao executá-la com motivação.
A ludicidade é qualquer atividade que nos dá prazer ao executá-la. Através da ludicidade a criança aprende a conviver, a ganhar e perder, a esperar sua vez, lidar com as frustrações, conhecer e explorar o mundo. Ela facilita a convivência entre a criança e o professor. A ludicidade se processa em torno do grupo como, das necessidades individuais, recrear é educar, pois permite criar a satisfazer o espírito estático do ser humano, oferece ricas possibilidades culturais. (BRANDÃO, 2004, p.74)
Na organização do trabalho pedagógico devemos ter em mente que o
indivíduo se humaniza na convivência com outros seres humanos, nesta relação ele
aprende a colaborar, repartir, ceder, expor sua idéias e compartilhar sua
experiências.
Na convivência coletiva, tanto os tímidos quanto os agressivos podem ser
beneficiados com os aspectos sociais em que a ludicidade possibilita.
É relevante resgatar o lúdico nas aulas de educação física, de modo que esse processo trabalhe com a diversidade cultural e desperte a vontade e aprender nas crianças. Com isto aprendem a verdadeira finalidade da educação física, que é desenvolver e fortificar o corpo sob o ponto de vista estático e dinâmico, contribuir para o aperfeiçoamento total do indivíduo. (BRANDÃO, 2004, p.98)
Estas questões têm o intuito de demonstrar a compreensão das práticas
corporais na escola, identificar as múltiplas possibilidades de intervenção sobre a
corporalidade que surgem no cotidiano de cada cultura escolar com a sua
especificidade. Essas situações propiciam tanto a potencialização quanto a
interdição das formas de expressão do corpo, por isso devemos estar atentos a
forma como encaminhamos, pois segundo Snyders (1988) “[...] o despertar para o
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valor dos conteúdos das temáticas trabalhadas é que fazem com que o sujeito
aprendiz tenha prazer em aprender". Conteúdos estes despertados pelo prazer de
querer saber e conhecer.
Deve-se despertá-los para, com sabedoria, poder exteriorizá-los na sua vida
diária. Tendo como respaldo as DCES/SEED, se ganha mais força como projeto de
intervenção escolar, dentro de um trabalho pedagógico. Esse elemento articulador
ganha relevância porque, ao vivenciar os aspectos lúdicos que emergem das e nas
brincadeiras, o aluno torna-se capaz de estabelecer conexões entre o imaginário e o
real, e de refletir sobre os papéis assumidos nas relações em grupo.
Reconhece e valoriza, também, as formas particulares que os brinquedos e
as brincadeiras tomam em distintos contextos e diferentes momentos históricos, nas
variadas comunidades e grupos sociais.
Dessa maneira, a ludicidade, como elemento articulador, apresenta-se como
uma possibilidade de reflexão e vivência das práticas corporais em todos os
Conteúdos Estruturantes, desde que não esteja limitada a uma perspectiva
utilitarista, na qual as brincadeiras surgem de modo descontextualizado, em apenas
alguns momentos da aula, relegando o lúdico a um papel secundário.
Torna-se de fundamental importância discutir com os alunos a ideia, por
exemplo, de que brincadeira é coisa de criança, isso porque:
O lúdico não se situa numa determinada dimensão do nosso ser, mas constitui-se numa síntese integradora. Ele se materializa no todo, no integral da existência humana. Da mesma forma que não existe uma essência humana divorciada da existência, também não existe um lúdico descolado das relações sócias. (ACORDI; SILVA; FALCÃO, 2005, p.35)
Assim, o lúdico se apresenta como parte integrante do ser humano e se
constitui nas interações sociais, sejam elas na infância, na idade adulta ou na
velhice. Essa problemática precisa ser discutida e vivenciada pelos alunos, para que
a ludicidade não seja vivida através de práticas violentas, como em algumas
brincadeiras que ocorrem no interior da escola. O professor deve lançar mão das
diversas possibilidades que o lúdico pode assumir nas diferentes práticas corporais,
conforme discutem os autores:
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A experiência lúdica constitui-se numa referência significativa que pode contribuir para a construção de possibilidades emancipatórias justamente pela sua característica fundamental de resistência à produção de algo que remete para além de si mesma, ou seja, o lúdico não satisfaz nada que não ele próprio, é compreendido não como meio, mas, necessariamente, como um fim. (ACORDI; SILVA; FALCÃO, 2005, p.35)
Os aspectos lúdicos representam uma ação espontânea, de fruição, que
interfere sobre e na construção da autonomia, a qual é uma das finalidades da
escolarização.
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REFERÊNCIAS
ACORDI, Leandro de Oliveira; SILVA, Bruno Emmanuel Santana da; FALCÃO, José Luiz Cirqueira. As Práticas Corporais e seu Processo de Re-signficação: apresentado os subprojetos de pesquisa. In: SILVA, Ana Márcia; DAMIANI, Iara Regina (Org.). Práticas corporais: gênese de um movimento investigativo em educação física. 1.ed. Florianópolis: Nauemblu Ciência & Arte, 2005, v. 01.
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GIKOVATE, Flávio. A arte de Educar. Curitiba: Nova Didática, 2001
LUCKESI, Cipriano Carlos. Educação, ludicidade e prevenção das neuroses futuras: uma proposta pedagógica a partir da Biossíntese. In: LUCKESI, Cipriano Carlos (Org.) Ludopedagogia. Salvador: Gepel, 2000. (Ensaios 1: Educação e Ludicidade)
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MORIN, E. Amor, Poesia e Sabedoria. Lisboa: Instituto Piaget, 1999.
29
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná – Educação Física. Curitiba, SEED, 2008.
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URBANSKI, Luiz. A importância da Ludicidade, jogos e brincadeiras no desenvolvimento da psicomotricidade, São Paulo, 25 out. 2007. Disponível em: <http://www.universoautista.com.br/autismo/modules/articles/article.php?id=27> (Acesso em: 23 set. 2009).
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UNIDADE 3
GINCANA ESCOLAR: ENCANTANDO A EDUCAÇÃO FÍSICA E A ESCOLA
Marco Vanderley [email protected]
Carlos Eduardo da Costa Schneider6
A Gincana Escolar apresenta-se como uma excelente atividade recreativa e
facilitadora do processo de ensino e aprendizagem dentro da escola, podendo
desenvolver diversas atividades, provas e tarefas (educativas, recreativas,
esportivas, artísticas, culturais, entre outras), e ser capaz de atingir as três
dimensões do conteúdo/ensino: procedimental, atitudinal e conceitual. Constitui-se
numa atividade abrangente e de grande aceitação no contexto e ambiente da
Educação Física e da Escola.
O brincar e o recrear está intrínseco na criança, despertando grande
interesse, aceitação e motivação, podendo ainda, contemplar a participação dos
“menos-habilidosos” e promover a integração dos alunos que possuem alguma
deficiência ou necessidade especial. De acordo com as Diretrizes Curriculares
Estaduais de Educação Física (PARANÁ, 2008), o esporte, o jogo e as brincadeiras
são conteúdos que podem ser trabalhados valorizando as diversas manifestações
corporais e culturais de um indivíduo ou grupo, e também, considera como um dos
objetivos da Educação Física o de promover experiências significativas aos
educandos, constituindo-se o lazer numa das possibilidades para ampliar a vivência
corporal e o conhecimento.
Neste sentido, a Gincana Escolar constitui-se um dos elementos articulares
do efetivo trabalho pedagógico na escola, onde os alunos são conduzidos a agir e
modificar a sua realidade, construindo relações, conhecimentos, elevação da
autoestima, resgate de valores, entre outros, interagindo assim com o mundo real e
tendo uma vivência mais crítica, afetiva e social tanto dentro da escola como na
sociedade.
5 Professora PDE – Colégio Estadual Pilar Maturana. Curitiba - PR.6 Professor Orientador – UTFPR. Curitiba - PR.6
31
A relevância da Gincana no âmbito escolar consiste na resposta aos anseios
que a disciplina de Educação Física e a Escola carecem de um novo meio de
atuação, ou seja, um novo instrumento e prática de ensino e aprendizagem,
possibilitando atividades planejadas com intencionalidade educativas, tendo a
participação efetiva dos alunos, professores e demais envolvidos da comunidade
escolar, tornando assim, numa excelente atividade complementar e extracurricular
dentro das Escolas Públicas do Estado do Paraná.
As atividades físicas, os jogos e as brincadeiras na escola
A escola constitui-se na educação formal, de conhecimento sistematizado e
socializado, onde o profissional de Educação Física deve assumir o seu papel e
buscar novas concepções, estudos e atividades de ensino, devidamente
fundamentadas, com uma perspectiva crítica, que venham de encontro às
expectativas e necessidades dos alunos, facilitando assim, o processo de ensino e
aprendizagem.
Segundo as DCEs (PARANÁ, 2008), a Cultura Corporal é considerada o
objeto de estudo e ensino da disciplina de Educação Física e através dos Conteúdos
Estruturantes (esporte, dança, ginástica, lutas, jogos e brincadeiras) e seus
elementos articuladores, o professor de Educação Física tem o compromisso de
organizar e sistematizar o conhecimento, contribuindo assim, para que o aluno
possa se expressar, conhecer e refletir criticamente sobre as práticas corporais.
Ainda, o professor deve transcender a dimensão motriz e enriquecer os conteúdos
com experiências corporais das mais diferentes culturas, valorizando as
particularidades de cada grupo/comunidade.As atividades físicas, com fins educativos, nas suas possíveis formas de expressão, reconhecidas em todos os tempos como os meios específicos da Educação Física, constituem-se em caminhos privilegiados de Educação. Pelo seu conceito e abrangência, deve ser considerada como parte do processo educativo das pessoas, seja dentro ou fora do ambiente escolar, por constituir-se na melhor opção de experiências corporais sem excluir a totalidade de pessoas, criando estilos de vida que incorporem o uso de variadas formas de atividades físicas, sendo assegurada e promovida durante toda a vida. (MELHEM, 2009, p.22)
A prática do esporte na escola é uma excelente oportunidade de formação
integral do aluno, pois permite o desenvolvimento corporal, melhora o raciocínio,
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estabelece regras de jogo, institui normas de comportamento e cria situações que
reforçam o caráter e a moral. O esporte, como prática social que institucionaliza temas lúdicos da cultura corporal, se projeta numa dimensão complexa de fenômeno que envolve códigos, sentidos e significados da sociedade que cria e o pratica. Por isso, deve ser analisado nos seus variados aspectos, para determinar a forma em que deve ser abordado pedagogicamente no sentido de esporte “da” escola e não como o esporte “na” escola. (CASTELLANI FILHO et. al., 2009, p.69-70)
O jogo desperta nos participantes sentimentos e ações de aprendizagem,
superação, melhoria da autoestima, felicidade, socialização e, além de seu aspecto
lúdico, pode servir de conteúdo para que o professor discuta as possibilidade de
flexibilização das regras e da organização coletiva. É interessante reconhecer as
formas particulares que os jogos e as brincadeiras tomam em distintos contextos
históricos, de modo que cabe à escola e ao professor de Educação Física valorizar
pedagogicamente as culturas locais e regionais que identificam determinada
sociedade. Quando a criança joga, ela opera com significado das suas ações, o que a faz desenvolver sua vontade e ao mesmo tempo tornar-se consciente das suas escolhas e decisões. Por isso, o jogo apresenta-se como elemento básico para a mudança das necessidades e da consciência. (CASTELLANI FILHO et. al., 2009, p.65-66)
As crianças e os jovens devem ter oportunidade de produzirem as suas
formas de jogar e brincar, isto é, ter condições de produzirem suas próprias culturas,
tendo como ponto de partida a valorização das manifestações corporais próprias
desse ambiente cultural. Os jogos e as brincadeiras são de grande relevância para o
desenvolvimento do ser humano, pois atuam como maneiras de representação do
real através de situações imaginárias, e compõem um conjunto de possibilidades
que ampliam a percepção e a interpretação da realidade, além de intensificarem a
curiosidade, o interesse e a intervenção dos alunos envolvidos nas diferentes
atividades, enriquecendo-os com vivências e práticas corporais. Assim, a Educação
Física ocupa lugar relevante e essencial na sociedade e na escola, visto ocupar
papel de agente formador e transformador das pessoas e, tendo nos jogos, em sua
origem e desenvolvimento, um carater educacional e sociocultural.A Educação Física ao se apresentar dentro de uma filosofia “para todos”, permite que todas as etapas possam acontecer, criando para a criança um espaço de desenvolvimento corporal livre de exclusão e do preconceito. (MELHEM, 2009, p.22)
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A Gincana como meio da Educação Física
A Educação Física constitui-se numa atividade prazerosa, envolvente e de
movimentos, sendo fundamental para o desenvolvimento físico, social e mental do
ser humano, como parte da Educação Básica, deve priorizar uma proposta
pedagógica participativa, crítica e progressista, com atividades agradáveis,
recreativas e estimulantes, como as brincadeiras, jogos, dança, esportes, entre
outras, que levem em consideração a cultura, as características individuais e a
satisfação dos educandos, garantindo assim, o sucesso do processo de ensino e
aprendizagem.
Para Melhem (2009), as atividades físicas, com fins educativos, nas suas
possíveis formas de expressão, reconhecidas em todos os tempos como os meios
específicos da Educação Física, constituem-se em caminhos privilegiados de
Educação.Na escola, é preciso resgatar os valores que privilegiam o coletivo sobre o individual, defendem o compromisso da solidariedade e respeito humano, a compreensão de que jogo se faz “a dois”, e de que é diferente jogar “com” o companheiro e jogar “contra” o adversário. (CASTELLANI FILHO et. al., 2009, p.70)
Neste sentido, a “gincana escolar” organizada no ambiente educacional,
contando com atividades que visam criar condições de sociabilizar e desenvolver, e
sendo utilizados os diversos espaços disponíveis na escola, poderá trazer resultados
significativos aos alunos, à comunidade escolar e à sociedade como um todo.
Segundo Ferreira (2006), a gincana é uma modalidade recreativa muito
atrativa, quer pelo seu dinamismo e pela variedade de provas, quer pela
possibilidade de participação de muitas pessoas de idade, sexo e habilidades
diferentes.A gincana pode ser individual ou por equipe e as provas devem ser reveladas somente na hora da execução. Colocar atividades de fácil, moderada e de difícil execução (corridas, saltos, obstáculos, etc.). Escolha provas que possam ser realizadas por duas ou mais pessoas do grupo, e vá marcando os pontos para cada tarefa. Ao final, o grupo que fizer mais pontos vencerá. (FERREIRA, 2006, p.47)
Podemos considerar a gincana como uma atividade lúdica e recreativa, com
características intrínsecas ao jogo, conforme afirma Huizinga:
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[...] “é uma atividade livre, conscientemente tomada como ‘não-séria’ e exterior à vista habitual, mas ao mesmo tempo capaz de absorver o jogador de maneira intensa e total. É uma atividade desligada de todo e qualquer interesse material, com o qual não se pode obter qualquer lucro, praticada dentro de limites espaciais e temporais próprios, segundo uma certa ordem e certas regras.” (HUIZINGA, 2001, p.16)
A gincana pode, também, ser entendida como uma atividade de lazer, onde
exerce uma variedade de ações e atuações humanas, como uma atividade física
(manual ou desportiva), intelectual, artística, social, entre outras, tendo função
significativa no Sistema de Educação Física Escolar, ao assumir a importância na
formação do cidadão, da recreação e dos jogos, que tem papel fundamental no
desenvolvimento neuropsiquicomotor da criança/adolescente... (COLETIVO DE
AUTORES, 2008)
Para Cavallari e Zacharias (2007), gincanas são atividades com caráter
lúdico predominante e onde há sempre a busca da vitória. As gincanas podem ser
consideradas atividades físicas e/ou mentais, sempre com regras e possuem
características específicas como sequência de várias tarefas ou provas interligadas,
sendo levadas em conta não só a habilidade como também a rapidez na sua
realização e, onde, quase sempre, busca-se a diversão e o lúdico, podendo ter
objetivos educacionais, beneficentes, de integração dos participantes, de divulgação
de entidades, e outros.
Para Melhem (2009), as provas de uma gincana podem ser classificadas nas
seguintes categorias:
• Esportivas – São as provas que as equipes participam de uma atividade
esportiva tradicional (futebol, ciclismo, vôlei, etc.) ou adaptada (futebol com
pernas amarradas, corrida do saco, cabo de guerra, etc.).
• Culturais – São as provas que visam testar os conhecimentos gerais dos
participantes, através de perguntas e respostas. Podem ser culturais normais
(lista de perguntas difíceis – respostas em algumas horas) ou culturais rapidinhas
(lista com perguntas fáceis – respostas em 15 minutos).
• Buscas – As equipes devem trazer determinadas pessoas, animais ou objetos
(coleções, foto, raridades, etc.). Existem as buscas tradicionais: lista de itens
para apresentação (nível médio e difícil) e as buscas rapidinhas: lista de itens ou
individualmente (nível médio e fácil - menor tempo possível).
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• Artísticas – Testar a capacidade de criação e de interpretação dos participantes
da gincana. Em geral, existem 3 tipos de provas: interpretação (apresentação
peça teatral, dublagem ou vídeoclip, etc.), caracterização (componente
caracterizado de certa coisa ou personagem) e criação (equipes devem construir
alguma coisa, usando a criatividade).
• Filantrópicas – Provas de cunhos sociais e beneficentes. Auxiliar instituições de
caridade e ter um contato mais próximo com a nossa realidade social. Podem ser
doação (10 doadores sangue, 50 kg arroz, etc.) e visita (asilo, apresentação na
escola, etc.).
• Caça ao tesouro – É a prova mais esperada pelos participantes de gincana
(pistas – charadas – enigmas). Normalmente encerra e decide a equipe
vencedora.
Os valores e as interrelações no desenvolvimento da gincana
As relações interpessoais na escola são complexas e muitas vezes a rotina
das nossas atribuições no cotidiano não permite uma maior reflexão das
dificuldades, desejos e ações dos alunos. Assim, devemos concebê-los em processo
de desenvolvimento e mudança, procurando dar a atenção necessária às suas
expectativas para que a aprendizagem constitua-se como instrumento permanente
de inovação e melhoria da sua situação pessoal e coletiva. (BRASIL, 2006)
O processo de aprendizagem está intrínseco às relações interpessoais, seja
ela familiar, social, entre professor-aluno, etc., podendo afetar negativamente ou
estimular positivamente o desenvolvimento do conhecimento, com as atividades
coletivas e dinâmicas de grupo caracterizando-se em importante instrumento de
trabalho na escola.
A sociabilização é um processo de troca de experiências e um fenômeno
natural e típico dos grupos, onde as pessoas se sentem integradas e motivadas para
reflexão e ação. “O mundo nos oferece vários tipos de experiências, e toda a informação que adquirimos acrescenta conhecimento, que precisamos valorar de acordo com o que é bom e melhor para nossas vidas e coletividade. Os valores não são medida de comportamento, eles têm tarefa muito mais nobre que é a de formar caráter, desenvolver sentimento e conscientizar cada um de seu papel importante enquanto indivíduo capaz de mudar o seu ambiente ao qual pertence”. (COSTA, 2006, p.63-64)
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A atividade de “gincana” surge com o propósito de oferecer aos alunos uma
alternativa educativa (extracurricular), que propicie momentos de satisfação,
vivências e experiências em todos os sentidos, englobando diversão, lazer, saúde,
cooperação, fraternidade, paz, e muito mais.
Através da gincana escolar, a qual desperta grande motivação aos
participantes, podemos atingir os alunos no sentido que participe e se interesse mais
pelas disciplinas e atividades propostas na escola. Caberá ao professor desenvolver
um comportamento educacional efetivo (físico e presencial), incentivando e
estimulando, em todos os momentos, as relações de amizade, cooperação, respeito,
solidariedade, entre outros, e assim, teremos êxito em nosso projeto educacional. A relação entre o educador e o aluno deve ser de interação. O educador não deve estar ausente do processo de desenvolvimento do aluno, nem se impor de forma autoritária. Ele é o responsável pela organização da relação com os educandos, cuidando para preservar sua espontaneidade. A ele compete ajudar o aluno a se livrar da dispersão que o contato com as coisas provoca em seus interesses ou em sua atividade. (BRASIL, 2006, p.48)
Gincana escolar: características e possibilidades
A “Gincana Escolar” possibilita envolver toda a comunidade da escola,
proporcionando diversos momentos concretos de vivência da cultural corporal, de
sociabilização e formação geral, procedendo a inclusão de gênero e dos menos
aptos fisicamente, e garantindo oportunidades de conhecimento e aprendizagem nas
três categorias de conteúdos, ou seja: conceitual (conceitos e princípios), atitudinal
(valores e atitudes positivas) e procedimental (fazer e participar).
Para Awad (2008), gincana é uma atividade recreativa que é composta por
uma variedade de provas (determinadas, pré-determinadas ou surpresas)
caracterizadas por regras fixas, que devem ser cumpridas com eficácia e rapidez.
Assim, propomos e sugerimos a seguinte forma de organização, ações e
atividades (provas e tarefas) a serem desenvolvidas na Gincana Escolar, como
elementos integrantes do Regulamento Geral:
Tema Central:
Escolha de um tema central, relacionado a datas especiais, conceitos, objetivos
ou valores para os alunos e escola.
Encontro com a Comunidade Escolar:
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Reunião de apresentação inicial do Projeto “Gincana Escolar” à comunidade
(Conselho Escolar). Na oportunidade serão definidos e esclarecidos todos os
detalhes e critérios da gincana a ser desenvolvida (calendário, tipos de
atividades, normas e regras, participação, etc.).
Comissão Organizadora:
A Direção, Equipe Pedagógica e Professor(es) constituirão a “Comissão
Organizadora” da Gincana Escolar, sendo considerada a responsável direta pela
organização e acompanhamento, tendo soberania em suas decisões e devendo
dirimir quaisquer dúvida de interpretação e decidir sobre os Casos Omissos do
Regulamento. A Coordenação Geral da gincana ficará a cargo do professor PDE,
com o auxílio dos demais professores de Educação Física.
Participação/Inscrição:
A participação e inscrição de cada aluno/equipe será automática, sendo
composta por todos os alunos da sua respectiva turma, devendo somente ser
confirmado o nome de 1(um) professor-representante e de 2(dois) alunos que
serão considerados os capitães da equipe. As turmas participantes, caso
necessário, poderão ser misturadas ou integradas.
Etapas e Pontuação:
A Gincana Escolar e as atividades poderão ser realizadas em mais de uma
Etapa, com Sistema de Pontuação (normal e extra) em todas as modalidades e
provas desenvolvidas e cumpridas (Ex.: primeira equipe a cumprir uma prova ou
tarefa – 100 pts., segunda – 80 pts., terceira – 60 pts., e assim sucessivamente.
Classificação Geral:
A classificação Geral (final) será conhecida através da somatória de pontos de
cada equipe (sistema de pontuação), conforme os resultados/colocações nas
diversas atividades e provas desenvolvidas na(s) etapa(s) da gincana.
Premiação Especial (a ser previamente definida):
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- A todos os participantes: alegria, prazer e diversão inerentes nas atividades propostas e crescimento e desenvolvimento biopsicosocial resultante das práticas corporais realizadas;
- A todos os participantes ou aos vencedores das provas/tarefas: medalhas;
- A todos os participantes e envolvidos na gincana: Certificado de Participação (Honra ao Mérito);
- Para a equipe/turma vencedora da gincana: foto/poster com o nome de todos os alunos, a ser fixada na Galeria da Fama da escola;
- Outras premiações: Passeio, Piquenique, Acantonamento, etc., aos alunos e turma vencedora.
Relação de atividades, tarefas e/ou provas que poderão ser desenvolvidas:
Atividades Artísticas e Culturais (apresentação e pesquisa) :
- Abertura e desfile geral da equipes (hasteamento bandeiras, hino, exposição que representa, etc.)
- Concurso de fantasias
- Perguntas e respostas de conhecimento geral
- História do colégio (texto)
- Lista de tarefas (variadas)
- Danças
- Outras
Atividades Esportivas:
- Corrida de revezamento (atletismo)
- Arremessos de basquete
- Torneio de voleibol
- Torneio de futsal
- Xadrez
- Outras
Atividades Educativas / Sensibilização:
- Tijolinho / Carinhas (atitudes dentro e fora da sala de aula)
- Aprendizagem (média 6,0 ou mais em todas as disciplinas)
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- Colaboração em atividades gerais e campanhas na escola
- Outras
Atividades Recreativas:
- Estafeta com materiais
- Corrida da colher
- Pular corda gigante
- Jogo de vôlei-cego
- Dança da maçã
- Outras
Atividades Sociais:
- Arrecadação de roupas e acessórios
- Arrecadação de garrafas pet
- Arrecadação de brinquedos
- Outras
Outras Atividades, Provas e/ou Tarefas:
Poderão ser incluídas ou definidas outras modalidades de atividades na gincana.
Em todo o processo da Gincana Escolar (planejamento, desenvolvimento e
execução), através da realização das inúmeras atividades e ações possíveis, de
forma coletiva e no decorrer do ano letivo, estará sendo estimulado uma nova
mentalidade de cultura corporal e de educação no sentido dos nossos alunos
conquistarem novos horizontes, bom comportamento e possibilitar usufruir do tão
decantado bem estar físico e mental da Educação Física.
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REFERÊNCIAS
AWAD, Hani Z. A. Brinque, jogue, cante e encante com a recreação. Jundiaí: Fontoura Editora, 2008.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Relações Interpessoais: abordagem psicológica (Regina Lúcia Sucupira Pedroza). Brasília: Universidade de Brasília, 2006.
CASTELLANI FILHO, Lino... [et. al.]. Metodologia do Ensino de Educação Física. 2. ed. rev. São Paulo: Cortez, 2009.
CAVALLARI, Vinicius R.; ZACHARIAS Vany. Trabalhando com Recreação. 9. ed. rev. São Paulo: Ícone, 2007.
COLETIVO DE AUTORES. Questões do Esporte. Rio de Janeiro: LECSU, 2008.
COSTA, Marília R. M. Valores: reflexões e práticas no dia-a-dia da sala de aula. 2. ed. Rio de Janeiro: WAK Editora, 2006.
FERREIRA, Vanja. Educação Física, recreação, jogos e desportos. 2. ed. Rio de Janeiro: SPRINT, 2006.
HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2001.
MELHEM, Alfredo. A Prática da Educação Física na Escola. Rio de Janeiro: Sprint, 2009.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná – Educação Física. Curitiba, SEED, 2008.
Sites consultados:
http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Gincana&oldid=16490628. Acesso em 19 de setembro de 2009.
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/diretrizes_2009/edfisica.pdf. Acesso em 27 de janeiro de 2010.
http://www.educacaofisica.com.br/especiais/educacaofisica/definicao.asp. Acesso em 29 de janeiro de 2010.