dedilhados alternativos para flauta

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"Dedilhados Alternativos"Parte I: Introduo Marcos C. KiehlUma pergunta comum que os alunos costumam fazer aos seus professores sobre a utilizao dos chamados dedilhados alternativos, aqueles dedilhados que costumam facilitar algumas passagens difceis. Existe muita curiosidade sobre este assunto e at certa polmica: alguns professores se ope ao uso destes recursos, outros defendem sua utilizao, e h tambm aqueles que se utilizam destes recursos com exagero. Sem dvida alguma estes dedilhados devem ser usados e at mesmo praticados da mesma maneira que so praticados os dedilhados originais, pois s assim eles sero realmente teis ao flautista. Estes recursos viro enriquecer o instrumentista tecnicamente, permitindo que ele consiga vencer dificuldades e obtenha resultados melhores em sua performance, executando uma determinada passagem com maior velocidade, preciso e clareza, dominando melhor o som e o timbre do instrumento, afinando melhor, etc. Estes dedilhados devem ser aprendidos e praticados como quaisquer outros na flauta, e de preferncia sob a orientao do professor, pois muito comum que o aluno fique um pouco preguioso e comece a adotlos como se fossem os dedilhados principais, utilizando-os incorretamente em passagens onde no so realmente necessrios. Mais importante do que conhec-los saber o momento certo de us-los ou no us-los! Dedilhados alternativos, como o prprio nome j diz, so todos aqueles dedilhados que no pertencem tabela de posies estabelecida pelo sistema Boehm da flauta transversal. Existem algumas tabelas que sugerem algumas posies alternativas, mas o aluno sempre fica em dvida sobre a sua utilizao: quando usar determinado dedilhado, em qual passagem, e em que sentido este dedilhado pode auxiliar. So muitos os exemplos que poderamos discutir, pois so tambm inmeras as posies e geralmente existe para cada passagem uma soluo especfica. No existe uma regra, mesmo porque uma mesma passagem pode ser considerada difcil por um flautista e simples por outro. Os instrumentos tambm tm construes diferentes, portanto o que pode funcionar para uma determinada flauta muitas pode no servir para outra. Algumas flautas exigem que certos dedilhados alternativos sejam usados com ainda maior frequncia para a correo de eventuais imperfeies em sua escala. Mas os dedilhados alternativos no so apenas usados para facilitar passagens difceis, na verdade eles podem ser utilizados tambm com outras finalidades, como corrigir ou alterar a afinao de uma determinada nota, ou para facilitar a sua emisso e controle numa dinmica muito forte ou muito suave, e at mesmo para ajudar na estabilidade da flauta, ajudando a embocadura na execuo de uma passagem difcil.

Parte II: Simplificadores/facilitadores

Marcos C. Kiehl"Encurtando o caminho para os seus dedos"Um dos objetivos mais comuns para se recorrer utilizao de dedilhados alternativos sem dvida o de facilitar o movimento dos dedos atravs de posies alternativas buscando reduzir o nmero de dedos envolvidos, sobretudo nas passagens muito rpidas ou que exijam grande repetio entre determinadas notas que movimentam mais do que um dedo (por exemplo entre as notas d e r). Estas posies alternativas so verdadeiros "atalhos" que permitem que o flautista execute determinadas passagens com maior velocidade, segurana e clareza, mas por outro lado, podem tambm muitas vezes comprometer a qualidade do som e afinao, num grau maior ou menor dependendo do caso. Portanto importante que o flautista tenha isto em mente quando optar por sua utilizao. Um exemplo bastante conhecido dos flautistas o dedilhado alternativo para o f#, usando o dedo mdio da mo direita ao invs do dedo anular (figura 1): Figura 1: dedilhado alternativo para o f#:

Este dedilhado muito utilizado nas passagens rpidas que envolvem grande alternncia entre as notas mi e f#, reduzindo o nmero de dedos que se movimentam para apenas um. O problema aqui que este o dedilhado que mais traz dvidas, pois muitos alunos acabam se utilizando sem necessidade deste recurso. importante notar que, ao contrrio do que alguns pensem, este dedilhado prejudica tanto o timbre quanto a afinao do f#, e por isto mesmo ele s deve ser usado em passagens realmente rpidas, em que esta imperfeio no som no possa ser percebida. Esta imperfeio se d por uma razo acstica: quando tocamos uma nota como o f# em questo, quase todo o ar sai pela primeira chave que se encontra aberta no tubo da flauta, mas uma quantidade bem menor sai tambm pela abertura da chave seguinte, e uma ainda menor pela prxima e assim por diante. Quando fazemos esta posio alternativa para o f# notamos que esta segunda chave por onde o ar deveria sair se encontra fechada, o que causa faz com que o som tenha esta caracterstica mais "abafada" de timbre e uma afinao ligeiramente mais baixa. Portanto devemos procurar sempre manter pelos menos duas chaves abertas para que a afinao e o timbre no se comprometam. Tambm pesa contra a sua utilizao frequente o fato de que deste dedilhado alternativo do f# causar maior desconforto na mo e nos dedos da mo direita do que o dedilhado principal, por ser esta posio com os dedos indicador e anular "levantados" e dedo mdio "abaixado" menos natural que o dedilhado original. Mas apesar de tudo isto que foi dito, esta posio traz grandes benefcios e se faz necessria em inmeras passagens rpidas. Para exemplificar seu uso, vejamos algumas passagens a seguir, onde o nmero 2 no primeiro e no segundo compassos indica o uso do dedilhado alternativo (uma vez que existe uma repetio rpida), e no terceiro compasso o nmero 3 indica a volta ao dedilhado principal (uma vez que a nota mais longa):

Exemplo 1:

Existem muitos outros dedilhados interessantes, como os atalhos entre as notas d e r da primeira e segunda oitavas, respectivamente. Por envolver a troca de posio de todos os dedos das duas mos, passagens que exijam alternncia entre estas notas so difceis de executar com clareza, ento procuramos reduzir o movimento de alguns dedos para conseguir maior velocidade e preciso, alm de uma melhor estabilicade do instrumento, fundamental para que a emisso do som no seja prejudicada por deslocamentos da flauta na embocadura. Podemos comear por no usar o dedo mnimo da mo direita na nota d, deixando ao invs deste o dedo anular direito abaixado para que a flauta fique estvel. Se isto ainda no for suficiente por ser a passagem muito rpida, podemos tambm deixar o dedo mdio direito abaixado. Vejamos alguns exemplos: Exemplo 2:

Figura 2: Dedilhado para o d da passagem acima:

Exemplo 3: F. Benda, Sonata em f maior, 3 movimento: Presto

No 2 compasso, podemos omitir o movimento do dedo mnimo da mo direita entre as notas mi e r, conservando este dedo levantado, como mostra a figura 3.

Figura 3: dedilhado para o mi:

No 3 compasso podemos deixar os dedos indicador, mdio e anular direitos abaixados entre as notas r e d, conservando o dedo mnimo da mo direita levantado, como mostra a figura 4. Figura 4: dedilhado para o d:

importante notar que dentre todas as posies mostradas acima para a nota d, esta ltima, embora seja o que possibilita o menor movimento de dedos, a posio que resulta numa pior qualidade de som para esta nota, pois abaixando o dedo indicador direito estamos fechando atravs do mecanismo da flauta tambm a segunda chave de escape do ar (a primeira a do polegar esquerdo), prejudicando a emisso clara desta nota, como j foi dito anteriormante. Para evitar isto, devemos em passagens mais expostas utilizar a posio sugerida na figura 2. Exemplo 4: C. Chaminade, Concertino Op.107 (conservar o dedo anular direito abaixado sem o mnimo na passagem demarcada):

Outro exemplo bastante comum o uso do dedo anular direito em arpejos nas tonalidades de si maior, si menor e r maior. Na tonalidade de si maior podemos manter o anular sempre abaixado, o que alm de facilitar e reduzir os movimentos ainda ajuda na estabilidade da flauta em passagens rpidas. Exemplo 5a: arpejos de si maior:

Exemplo 5b: F. Schubert, Introduo e Variaes Op.160 (deixar o dedo anular direito abaixado a partir do r# at o d#)

Exemplo 6: arpejos de si menor: (deixar o anular abaixado por toda a passagem, ao invs do mnimo)

Exemplo 7: arpejos de r maior e si menor, J. J. Quantz, concerto em sol maior. (manter o anular abaixado ao invs do mnimo nas passagens sublinhadas):

Exemplo 8: J. S. Bach, Badinerie da Suite em si menor:

Os exemplos acima so apenas ilustrativos, e de maneira nenhuma devem ser obrigatoriamente executados com dedilhados alternativos. Tudo depende do andamento, e da destreza de cada flautista. Muitas vezes passagens aparentemente difceis so vencidas aps alguma insistncia e repetio. Os dedilhados originais so quase sempre preferveis embora nem sempre obrigatrios. Procure ser o mais gil possvel com eles antes de apelar para outros recursos que possam lhe facilitar. Pratique escalas e outros exerccios tcnicos primeiramente com os dedilhados originais, s depois experimente alguns dedilhados alternativos. Uma vez que na terceira oitava da flauta que os dedilhados so mais complexos, tambm neste registro que os dedilhados alternativos so ainda mais teis e necessrios. Existem aqui tambm uma infinidade de alternativas, sendo necessrio para cada caso um estudo das dificuldades para encontrar uma boa soluo. Para se encontrar esta soluo muitas vezes partimos das posies de trinados e harmnicos:

Exemplo 9: Fantasia sobre temas da pera Carmen, Borne-Bizet

No segundo e terceiro compassos podemos utilizar o dedilhado do trinado mi-f (levantando-se o dedo mdio da mo esquerda) para subistituir o dedilhado original do f, evitando assim a mudana de dedos mais complexa nesta passagem. Exemplo 10: Chant de Linos, A. Jolivet.

Usar o dedilhado do trinado si-d (levantando-se o polegar da mo esquerda) ao invs da posio original para o si# na passagem acima. Da mesma forma isto pode ser feito entre outras notas,

Exemplo 11: Carnaval dos animais, C. Saint-Saens.

Use aqui a posio de trinado f-sol (levantando o polegar esquerdo) ao invs de dedilhar o sol sublinhado. No caso da nota mi, podemos emit-la como um harmnico do l:

Exemplo 12: Carnaval dos animais, C. Saint-Saens.

Usar a posio do l da primeira oitava para o mi da passagem acima. Pratique estes dedilhados nesta difcil passagem do repertrio orquestral: Exemplo 13: Principe Igor, A. Borodin.

As posies das notas da terceira oitava so em geral derivaes das posies de notas da primeira oitava. O r da terceira oitava, por exemplo, derivado da posio do sol, mas para garantir sua clareza de emisso abrimos a chave do indicador esquerdo. Do r# ao sol# da terceira oitava as posies so derivadas de suas respectivas notas duas oitavas abaixo, sempre abrindo uma chave de ventilao para garantir sua emisso precisa. Portanto, quando for conveniente, podemos substituir estas posies originais pelas posies da primeira oitava visando facilitar uma determinada passagem rpida. Para tanto importante conhecer a srie harmnica na flauta para saber quais so as posies que emitem os harmnicos desejados. Alguns harmnicos bastante teis para substituies so: Exemplo 14 (a nota de baixo representa o dedilhado e a de cima a nota de efeito a ser emitida)

Exemplo 15: Suite Camponesa Hngara, B. Bartok.

Utilize os dedilhados das posies das notas de baixo (indicadas no primeiro compasso) para emitir as notas de cima nesta passagem extremamente rpida (observe a indicao metronmica!).

Outra questo que costuma gerar polmica entre alunos e professores sobre a utilizao da chave do polegar para o si bemol (tanto da primeira quanto da segunda oitava). Muitos professores so relutantes em ensinar este recurso aos alunos por temerem que seus alunos se tornem preguiosos e no pratiquem a posio do si bemol com o indicador, que realmente importante pois em diversos casos ela imprescindvel e melhor que a posio com o polegar. A questo aqui escolher certo qual a mais indicada para a passagem que se deseja executar. Na verdade so trs as possibilidades, pois existe uma terceira posio para o si bemol ainda menos conhecida e explorada: usando a esptula, uma pequena chave que deve ser acionada com o indicador (pressione-a usando a segunda falange, e no a ponta do dedo). Para os alunos j adiantados que j passaram por um estudo instensivo das escalas e esto bastante familiarizados com o si bemol de indicador eu aconselho que pratiquem ento o si bemol de polegar. Ele de uma enorme utilidade pois elimina a necessidade de sincronismo entre os dedos da mo esquerda com o indicador direito. O si bemol de indicador bastante perigoso, pois o menor descuido neste sincronismo pode significar um esbarro na nota f: Exemplo 16

(se o indicador no estiver em perfeito sincronismo com os dedos da mo esquerda ir aparecer uma nota f entre as notas sol-si bemol e/ou si bemol-sol) Experimente repetir agora a passagem acima utilizando o si bemol de polegar, muito mais fcil, no mesmo? Pode-se usar este recurso em praticamente todas as tonalidades em que o si bemol esteja presente, s no sendo recomendado quando existir um cromatismo envolvendo as notas si e si bemol, como por exemplo nas escalas cromticas (teramos que escorregar o polegar rapidamente de uma chave para outra), e nas escalas como sol bemol maior e mi bemol menor, por causa do d bemol: Exemplo 17

bastante util tambm nos arpejos com l#, como f# menor e arpejos diminutos: Exemplos 18a e 18b

Como nestas passagens: Exemplo 19 e 20: Fantasia sobre temas da pera Carmen, Borne-Bizet

Mas lembre-se de que o f# da terceira oitava no pode ser emitido se o polegar estiver fechando a chave de si bemol, ento voc dever mov-lo antes e retorn-lo depois de passar pelo f# da terceira oitava, como no exemplo seguinte: Exemplo 21

Tirar o polegar da chave de si bemol para emitir o f#. Neste exemplo fcil de ir e voltar com o polegar entre as duas chaves, pois aproveitamos para fazer a mudana quando no o estamos usando, ou seja, no momento em que estamos emitindo o d#. Mas em alguns casos isto no pode ser feito, ento precisamos treinar nosso polegar para que ele escorregue sem soltar a chave do si natural. Pratique nesta passagem este movimento do polegar: Exemplo 22

Em alguns casos podemos combinar o uso do polegar e do indicador, pratique isto nesta passagem seguinte: Exemplo 23: Fantasia sobre temas da pera Carmen, Bizet-Borne

Nos exemplos seguintes veremos passagens em que a melhor soluo talvez seja a utilizao da esptula de si bemol: Exemplo 24

Nesta passagem acima muito difcil ficar escorregando o polegar de uma chave para outra, e usando a chave do indicador direito quase certo que iremos esbarrar no f natural, ento use a esptula de si bemol para o l# da, o movimento do indicador o mesmo, mas com a esptula voc no ir esbarrar no f. O mesmo acontece aqui: Exemplo 25a e 25b: Sonata Op.94, 3 movimento, S. Prokofieff.

Exemplo 26: Concerto Op.10 n3, Il Gardelino, A. Vivaldi (1 movimento)

Neste exemplo podemos, para simplificar ainda mais, manter o indicador pressionando a esptula durante a execuo de todas as notas que esto includas no quadrado. Como voc pode perceber so muitas as passagens e dedilhados que podemos usar, e praticamente "cada caso um caso", isto , temos que pesquisar e experimentar cada alternativa para achar a melhor soluo, sempre ponderando suas vantagens (maior facilidade e preciso, etc.) e suas desvantagens (comprometimento da afinao e timbre). Estude as mesmas passagens com mais de um dedilhado, pois dependendo da velocidade poder ser melhor executar com uma ou outra posio. Devemos ter domnio da utilizao destes recursos e estar prontos a utiliz-los como "cartas tiradas da manga".

Parte III: Equalizando as diferentes resistncias entre as notas

Marcos C. KiehlVoc j deve ter notado que na flauta transversal algumas notas so mais difceis de emitir que outras, por exemplo, o mi e o f# da terceira oitava so tidos como notas de resposta mais lenta, e de maior dificuldade de emisso (muitas vezes obtemos um si da segunda oitava quando na verdade desejamos emitir o f# da terceira, ou um l da segunda oitava aparece ao invs do mi da terceira oitava). J uma outra nota vizinha como o f natural da terceira oitava pode ser considerada como de resposta rpida, e fcil emisso. Ento quando fazemos uma passagem entre o f natural e o f# da terceira oitava sentimos nitidamente esta diferena de resposta, o que nos obriga a fazer uma correo na embocadura como se o intervalo fosse maior do que realmente . O mesmo acontece com o sol natural e o sol# da terceira oitava. Na verdade estas diferenas acontecem por uma imperfeio na construo da flauta, mais precisamente no sistema Boehm. Theobald Boehm desenvolveu seu sistema de chaves no sculo passado, fazendo nascer um novo instrumento, mais afinado, com maior extenso e maior volume sonoro. At hoje seu sistema utilizado, com mnimas alteraes, na construo das flautas. Boehm sabia perfeitamente sobre estas imperfeies, mas sua preocupao era no sentido de simplificar o dedilhado para dar a flauta uma maior agilidade, ento quando teve de optar entre construir um sistema perfeito mas de difcil digitao e outro um pouco menos perfeito e de digitao muito mais fcil, optou pelo segundo. Isto porque para que estas imperfeies no existissem ele teria de acrescentar mais algumas chaves e acoplamentos mecnicos que deveriam ser acionados para determinadas notas, o que tornaria a execuo da flauta mais difcil e complicada (voc pode aprender mais sobre isto e conhecer um pouco sobre o desenvolvimento do sistema Boehm lendo o livro The Flute and Flute Playing escrito pelo prprio Theobald Boehm, que pode ser encontrado em boas livrarias numa edio bastante acessvel da editora Dover). Um mecanismo no entanto acabou sendo adotado e ficou bastante conhecido e largamente utilizado nas flautas at mesmo mais populares, pois no exige nenhuma mudana ou adaptao de flautista: o mi mecnico (ou split E, como conhecido nos Estados Unidos). Este mecanismo tem por finalidade corrigir uma destas imperfeies no sistema Boehm, melhorando a resposta da nota mi da terceira oitava. Para que possamos entender este problema na construo da flauta e o funcionamento do mi mecnico precisamos conhecer um pouco mais sobre a acstica do instrumento: os dedilhados das notas r#3 a sol#3 so derivados das posies de suas respectivas notas duas oitavas abaixo. Estas notas tem uma frequncia de vibrao que quatro vezes a frequncia das suas fundamentais (Figura 1), e o comprimento de onda um quarto do comprimento destas fundamentais. Ento para facilitar a emisso destas notas da terceira oitava e evitar que outra nota mais grave seja emitida, abrimos uma chave (chamada de chave de ventilao) que se encontre prxima um quarto da distncia entre a embocadura e

a primeira chave aberta na nota fundamental (Figura 2). por esta razo que no dedilhado do r#3 temos que abrir a chave do sol# (as setas mostram as chaves de ventilao): Figura 1: R#1

Figura 2: R#3

O mesmo acontece com a nota f da terceira oitava: seu dedilhado derivado do f da primeira oitava (Figura 3), com uma chave de ventilao aberta para ajudar sua emisso (Figura 4): Figura 3: F1

Figura 4: F3

Mas nem sempre podemos abrir apenas uma chave, e exatamente a que comeam os problemas: nas notas mi e f# da terceira oitava, por exemplo, notamos que so abertas duas chaves de ventilao ao invs de apenas uma (figura 5), onde a primeira (mais prxima do bocal) a chave de ventilao e a seguinte (que no deveria estar aberta), a que faz com que sua emisso seja prejudicada. Dizemos que estas notas so double- vented, ou duplamente ventiladas o que as torna menos responsivas e mais instveis. Figura 5: F#3

Mas para o problema do mi da terceira oitava foi encontrada uma soluo bastante simples: atravs de um mecanismo adicional, quando dedilhamos esta nota, a segunda chave que normalmente est aberta no sistema tradicional e que causa o problema fechada atravs de um acoplamento, eliminando por completo esta deficincia. Observe os desenhos abaixo onde so comparados os sistemas de duas flautas com e sem o mecanismo de mi mecnico: Figura 6: Mi3 numa flauta sem o sistema de mi mecnico (duas chaves abertas):

Figura 7: Mi3 numa flauta com sistema de mi mecnico (apenas uma chave aberta) onde a seta indica a chave que fechada por este mecanismo:

J para as flautas que no possuem este mecanismo de acoplamento, tambm foi encontrada uma soluo bem simples e satisfatria com a colocao de uma pequena arruela metlica na abertura desta mesma segunda chave (a seta da Figura 7 indica a chave a ser colocada a arruela), de forma a abafar um pouco a sada do ar e simular o efeito de um mecanismo de mi mecnico (algumas flautas j so fabricadas com este anel com dimetro menor que os demais, ou ainda com esta arruela j instalada como mostra a Figura 8). Qualquer tcnico experiente em flautas pode fazer esta adaptao, bastando fixar com cola de forma a no interferir no fechamento da sapatilha (nosso conhecido Luis Tudrey aqui em So Paulo tem prestado mais este servio aos flautistas incomodados com esta nota mi diablica). Suas dimenses devem ser testadas de maneira que no prejudique a emisso de outras notas como o l da 1 e 2 oitava. Figura 8: arruela instalada na chamin da flauta (o dimetro interno deve ter aproximadamente 6mm)

Se voc gosta de pesquisar e experimentar com a flauta e gostaria de aprender mais sobre este problema, faa a seguinte experincia: Primeiro execute esta passagem na sua flauta: Exemplo 1:

Agora cole cuidadosamente uma fita adesiva bem fina, destas transparentes, no tubo da flauta, de forma que esta tampe cerca da metade do anel sob a sapatilha da chave do l (Figuras 9 e 10). Figuras 9 e 10: colocao de uma fita adesiva sob a chave do l.

Agora execute novamente a passagem e veja como ficou muito mais fcil fazer o intervalo si- f#. Voc acabou de criar uma espcie de f# mecnico para o f#3! Retire a fita e agora execute esta outra passagem: Exemplo 2:

Coloque da mesma forma uma fita agora tampando metade da chave sob a sapatilha do polegar esquerdo e voc ver mais uma vez que a passagem fica muito mais fcil de executar. A fita diminui o efeito prejudicial da dupla ventilao destas notas. Pena que no d para ficar colando fitas por toda a flauta, no mesmo, pois elas interferem na afinao de outras notas. Outra forma de contornar estes problemas atravs da utilizao de dedilhados especiais, que afinal o nosso assunto principal aqui. Atravs deles podemos minimizar estas diferenas de resistncia entre as notas, que dificultam e atrapalham a uniformidade do som. Alguns dedilhados especiais melhoram a resposta de algumas notas fazendo com que fiquem mais semelhantes s notas vizinhas. Vejamos alguns exemplos: Para aquela passagem do Exemplo 1 experimente executar agora com o dedilhado sugerido na Figura 11. Figura 11: dedilhado alternativo para o f#3 do Exemplo 1 (a afinao da f#3 fica um pouco mais alta com esta posio)

Para o mi da terceira oitava podemos omitir o dedo mnimo da mo direita (Figura 12), o que faz com que sua resposta seja mais rpida. Figura 12: dedilhado alternativo para o mi3:

Nesta prxima passagem (Exemplo 3) notamos como difcil executar com segurana a ligadura entre o l e o mi sublinhados (isto se sua flauta no possui o mecanismo de mi mecnico). A omisso do dedo mnimo da mo direita (Figura 12) deve solucionar o problema. Exemplo 3: S. Prokofieff, Sonata Op.94 (1 Movimento: Moderato)

As duas passagens seguintes (Exemplos 4 e 5) apresentam a mesma dificuldade: o flautista nota muitas vezes que difcil conseguir ligar o l3 com o f3, sem que haja uma quebra no som ou ainda o que pior: a emisso de um harmnico agudo. Isto acontece porque o l uma nota de resposta muito diferente do f, o que significa que temos que assoprar com mais fora e quando mudamos rapidamente do l3 para o f3 este ltimo emitido com muito mais fora do que deveria, produzindo algumas vezes este harmnico. A sugesto aqui tentar aumentar a resistncia do f para que ele fique mais parecido com a nota l3, e para isto podemos acrescentar o dedo anular da mo direita no dedilhado original do f3 (Figura 13). Exemplo 4: S. Prokofieff, Sonata Op.94 (2 Movimento: Scherzo)

Exemplo 5: I. Stravinsky, O Pssaro de Fogo

Figura 13: dedilhado alternativo para o f3 dos Exemplos 4 e 5:

Existem tambm alguns dedilhados que so usados para melhorar a resposta de uma nota, o que pode ser desejvel em algumas passagens quando necessrio fazer um ataque preciso em dinmica muito suave. Bastante teis so os dedilhados para melhorar as respostas das notas da terceira oitava como f#3, sol#3 (exatamente as notas que tem ventilao dupla) e l3. Para tanto, basta deslocar o dedo mnimo direito da chave do mi bemol para a chave do d# grave (Figuras 14, 15 e 16), no p da flauta. Figura 14: dedilhado alternativo para o f#3

Figura 15: dedilhado especial para o sol#3

Figura 16: dedilhado especial para o l3

Um outro dedilhado bastante til para o sol#3 e que tambm facilita a sua emisso em dinmicas suaves mostrado na Figura 17.

Figura 17: dedilhado alternativo para o sol#3 (fechar a chave do d grave no p da flauta)

Este ltimo pode ser testado na passagem orquestral do Exemplo 6 (tambm a passagem do exemplo 2 ser mais facilmente executada com este dedilhado do sol#3). Exemplo 6: Romeu e Julieta, Tchaikovsky

Mais uma vez importante lembrar que estes dedilhados so sugestes e idias que devem ser experimentadas e testadas por cada flautista. As flautas so diferentes umas das outras e possuem particularidades individuais, bem como ns flautistas que tambm somos diferentes, no mesmo? Existem muitos outros dedilhados que podem ser encontrados em tabelas nos diversos mtodos de flauta, faa experincias com eles e v descobrindo suas vantagens e desvantagens para saber quando us-los.

Marcos C. KiehlProfessor de flauta transversal na Faculdade Metropolitanas Unidas-FMU-FAAM, na Faculdade de Msica Carlos Gomes e na Universidade Livre de Msica; Monitor de flauta da Orquestra Experimental de Repertrio. PRMIOS: Merit Scholarship Recipient (1987-1990), Manhattan School of Music, EUA; 2 Prmio Concurso Jovens Instrumentistas do Brasil, Piracicaba, 1979.