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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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A RÁDIO COMUNITÁRIA COMO PROCESSO DE ENSINO DE LÍNGUA

PORTUGUESA1

Autor: Prof. Flávio Miguel Prigol 2

Orientador: Prof. Dr.Ciro Damke 3

Resumo

O presente artigo é resultado de um projeto de construção de uma proposta metodológica para o uso dos recursos da rádio comunitária como processo de aprendizagem da variedade padrão da língua portuguesa, pois se percebe que no convívio cotidiano os alunos utilizam mais a linguagem informal. Desta forma, esta proposta vem atender a comunidade escolar, motivando os discentes a utilizarem a linguagem padrão. Ressalta-se que a proposta está fundamentada na utilização da língua portuguesa formal, num programa de rádio onde o aluno redige o texto e lê ao vivo, desta forma estabelecendo um canal de comunicação com os ouvintes. Os alunos realizaram programa de rádio durante o intervalo de aula. A comunidade escolar acompanha a programação com som ambiente no pátio da escola e os pais e os ouvintes em geral em casa, na frequência FM 104.9 Radio Pato FM. Durante a apresentação, segue uma sequência de abertura e apresentação do tema escolhido pelo professor e os alunos e o encerramento. No presente artigo o tema escolhido e apresentado na rádio comunitária foi ―A semana farroupilha‖ e através da apresentação do mesmo visa-se desenvolver a competência oral e escrita na modalidade padrão da língua portuguesa.

Palavras-chave: ensino de língua portuguesa; textos orais e escritos; rádio comunitária.

1 Introdução

1 Artigo Científico apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE – Turma 2009.

2 Professor de língua Portuguesa da Rede Pública Estadual de Ensino do Estado do Paraná, formado

pela UNIOESTE Campus Marechal Cândido Rondon, PR. pós Graduado em Gestão Escolar pelo ISEPE e em Didática Metodológica do Ensino pela UNOPAR. 3 Doutor em Sociolinguistica e Dialetologia pela Universidade Ruprecht-Karls Universität de

Heidelberg, Alemanha, professor da UNIOESTE - Marechal Cândido Rondon - PR.

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As etapas deste projeto consistem em criar condições para treinamento e

formação de equipes de comunicadores no intuito de tornar possível o uso da

linguagem radiofônica no processo de ensino escolar. Outro objetivo é colaborar

como ferramenta de transmissão de conhecimentos interdisciplinares e

transdisciplinares, permitir e aproximar o acesso à informação cotidiana e de

utilidade pública, construir modelo operacional para tornar o projeto núcleo de

comunicação permitindo assim a realização de produções que possam atender às

necessidades internas da escola e da comunidade em geral. Visa-se também

estimular a produção de materiais de apoio pedagógico bem como levar à toda a

sociedade informações diversas que dizem respeito a esta instituição de ensino.

Acima de tudo o educando terá oportunidade de se apropriar da língua padrão,

como também afirma Moço:

É por isso que não faz sentido pedir para os estudantes escreverem só para o professor ler (e avaliar). Quando alguém escreve uma carta, é porque outra pessoa vai recebê-la. Quando alguém redige uma notícia, é porque muitos vão lê-la. Quando alguém produz um conto, uma crônica ou um romance é porque espera emocionar, provocar ou simplesmente entreter diversos leitores. E isso é perfeitamente possível de fazer na escola (Moço 2009).

Continuando este raciocínio percebemos que a Rádio Escolar pode ser um

veículo de comunicação entre amigos, parentes ou colegas de outras turmas, o

aluno no ato de escrever e ler para alguém que está ouvindo no outro lado, tem

preocupação maior no uso da variedade padrão da língua portuguesa.

2 Considerações Teóricas

Com este projeto, não podemos deixar de lado as aulas tradicionais, e sim

usá-lo como um complemento à educação, tornando a aula mais prazerosa,

dinâmica e que o aluno perceba o real significado do aprendizado e que este não é o

único processo de aprendizagem, conforme Barbero, MORAN, 2007:

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A simples introdução dos meios e das tecnologias na escola pode ser a forma mais enganosa de ocultar seus problemas de fundo sob a égide da modernização tecnológica. O desafio é como inserir na escola um ecossistema comunicativo que contemple ao mesmo tempo: experiências culturais heterogêneas, o entorno das novas tecnologias da informação e da comunicação, além de configurar o espaço educacional como um lugar onde o processo de aprendizagem conserve seu encanto (BARBERO In: MORAN, 2007).

Toda atividade realizada deve antes partir de uma conscientização do real

conhecimento dos alunos e acima de tudo valorizar o conhecimento adquirido e

trazido de casa. Na proposta específica, a rádio faz parte do cotidiano familiar da

criança desde sua infância. Na maioria dos lares dos educandos sempre tem um

rádio ligado por algumas horas do dia. Portanto ele já consegue interpretar a fala do

locutor e muitas informações transmitidas pela emissora. Conforme Moran:

Antes de pensar em produzir programas específicos para as crianças, convém retomar, estabelecer pontos com os produtos culturais que lhes são familiares. Fazer re-leituras dos programas infantis, re-criação desses mesmos programas, elaboração de novos conteúdos a partir dos produtos conhecidos. Partir do que o rádio, jornal, revistas e televisão mostram para construir novos conhecimentos e desenvolver habilidades. Não perder a dimensão lúdica da televisão, dos computadores. A escola parece um desmancha-prazeres. Tudo o que as crianças adoram a escola detesta, questiona ou modifica. Primeiro deve-se valorizar o que é valorizado pelas crianças, depois procurar entendê-lo (os professores e os pais) do ponto de vista delas, crianças, para só mais tarde, propor interações novas com os produtos conhecidos. Depois podem-se exibir programas adaptados à sua sensibilidade e idade, programas que sigam o mesmo ritmo da televisão, mas que introduzam alguns conceitos específicos que, aos poucos, irão sendo incorporados (Moran, 2007).

Portanto, as atividades realizadas através da rádio são uma ajuda importante

ao próprio processo de letramento dos educandos.

Por letramento, compreendemos, de acordo com Kleiman (1995, p. 19), ―um

conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e

enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos‖. As

atividades envolvendo a escrita, realizadas na escola, são apenas uma das práticas

sociais de uso da escrita de que fala Kleiman, ao conceituar o complexo processo do

letramento. Na escola, frequentemente, é trabalhado apenas o letramento escolar.

Portanto, se a escola focaliza ou enfatiza apenas essa prática, contribui pouco para

a formação do cidadão diante das diversas demandas sociais envolvendo a escrita,

que configuram um verdadeiro hipertexto.

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Na prática interdisciplinar, a distância entre as disciplinas escolares e o dia a

dia dos alunos pode ser aproximada pelos temas transversais, que são temas da

vida diária e facilitam soluções para necessidades da atualidade, como a busca pela

paz, igualdade de direitos e oportunidades, preservação do meio ambiente,

desenvolvimento da afetividade e da sexualidade entre outros. Assim como

realizado nos estudos de letramento, nos estudos da interdisciplinaridade, segundo

Busquets:

as pessoas não sabem utilizar as aprendizagens escolares em situações concretas e cotidianas, porque as realizam no contexto asséptico de um laboratório ou de um livro de texto, muito afastado de qualquer uso extra-escolar e sem nunca chegar a estabelecer uma relação entre o que aprenderam na escola e o que acontece todos os dias em seu ambiente situado fora da instituição de ensino (Busquets, 1997, p.46-47).

Pela legislação somos iguais perante a lei, porém, sabemos que as relações

sociais se configuram de outra forma, assim o direito e as oportunidades não se dão

de formas igualitárias, sendo que a mídia é mais um espaço de perpetuação destas

desigualdades. Segundo Marilena Chauí:

Ora, esse conjunto de critérios políticos e sociais configura a democracia, como uma forma de vida social (cidadania, direito, eleições, partidos e associações, circulação das informações, divisão de grupos majoritários e minoritários, diversidade de reivindicações, etc.) que se manifesta apenas no processo eleitoral, na mobilidade do poder e sobretudo, em seu caráter representativo (CHAUÍ, 1997, p.141).

Assim a autora diz que a democracia ao se restringir a esta esfera acaba

sendo reduzida a uma discussão que se concentra, em última instância, nas

transformações do aparelho do Estado, isto é, discutida ―pelo alto‖ e com as lentes

dos dominantes. O aluno deve já na escola conhecer a força das informações

acerca da democracia, pois o voto nem sempre a garante participação nas decisões

políticas.

É no processo dialógico de sala de aula que professor e alunos irão

constituindo a leitura de mundo, por prática centrada na interação e na interlocução,

onde o aluno alterna papéis de leitor, produtor e revisor de textos, a partir de

metodologia que valoriza sua experiência linguística e de vida.

É fundamental que se trabalhe com a expressão dos alunos abrindo espaço

na sala de aula para as vivências do grupo, tais como valores, conceitos e questões

relativas ao cotidiano. É necessário se abrir espaço para que o aluno conte histórias

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ouvidas e reinventadas em sua comunidade, tanto do presente como do passado;

aos quais vai mesclando a sua própria história.

A rádio atende mais propriamente o que diz Bakhtin sobre a realidade

concreta no trabalho com os alunos, entre a significação linguística e a realidade

concreta:

apenas o contato entre a significação linguística e a realidade concreta, apenas o contato entre a língua e a realidade - que se dá no enunciado - provoca o lampejo da expressividade. Esta não está no sistema da língua e tampouco na realidade objetiva que existiria fora de nós (Bakhtin, 1997, p. 311).

O aluno produzindo o texto para um leitor/ouvinte real faz com que a

produção seja mais próxima possível da linguagem formal e na medida do possível

com um número mais reduzido de erros. Tendo em mente o destinatário concreto,

que são os colegas, familiares e a comunidade, mais prazeroso é o ato de produção

de texto e o ato de estabelecer a comunicação.

A realidade mostra que, ao lado das atividades rotineiras em sala de aula se

faz necessária a construção de outras oportunidades para a prática da linguagem na

construção do conhecimento. O professor vive este grande dilema. Toda e qualquer

metodologia articula uma opção política, que envolve uma teoria de compreensão e

interpretação da realidade.

Quando nos comunicamos, sempre temos em mente um destinatário, e

quanto mais concreto o nosso destinatário (para nosso aluno) mais fácil e prazerosa

é a comunicação e neste caso com a produção de texto do aluno para um ouvinte

real que está na outra ponta do rádio tem uma significação maior. Conforme Bakhtin:

Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro. Através da palavra, refino-me em relação ao outro, isto é, em última análise, em relação à coletividade. A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apoia sobre mim numa extremidade, na outra apoia-se sobre o meu interlocutor. A palavra é o território comum do locutor e do interlocutor (BAKHTIN, 1997, p.113).

O aluno deverá refletir no momento de sua produção que no seu texto, a

palavra será esta ponte entre ele e o interlocutor que não o está vendo, porém existe

na realidade e não é apenas ficcional e que cada texto é único e é com isto que ele

remete ao real. Vemos isto em Bakthin onde diz também que não há textos puros:

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Não há textos puros, nem poderia haver. Qualquer texto comporta, por outro lado, elementos que se poderiam chamar técnicos (aspecto técnico de grafia, da elocução, etc.). Assim, por trás de cada texto, encontra-se o sistema da língua; no texto, corresponde-lhe tudo quanto é repetitivo e reproduzível, tudo quanto pode existir fora do texto. Porém, ao mesmo tempo, cada texto (em sua qualidade de enunciado) é individual, único e irreproduzível, sendo nisto que reside seu sentido (seu desígnio, aquele para o qual foi criado). É com isso que ele remete à verdade, ao verídico, ao bem, à beleza, à história (BAKTHIN, 1997, p. 331).

Tendo a necessidade de instigar o desenvolvimento da linguagem padrão

temos vários estudos que justificam o porquê de se ensinar a língua padrão nas

escolas. Nas aulas de língua portuguesa, sempre paira a dúvida, de o quê ensinar

nas aulas de língua portuguesa, sabendo da evolução conceitual dos últimos anos.

Conforme alguns autores o objetivo principal da escola é ensinar a variedade

padrão. Assim afirma Possenti (1997, p. 17): ―o objetivo da escola é ensinar o

português padrão‖. Também Geraldi (1997b, p. 45): diz que ―o objetivo das aulas de

língua portuguesa é oportunizar o domínio do dialeto padrão‖. Da mesma forma,

Soares (1994, p. 49) afirma que os ―falantes de dialetos não-padrão devem aprender

o dialeto-padrão, para usá-lo nas situações em que ele é requerido‖. A mesma ideia

é defendida por Bortoni-Ricardo (2006, p. 14) quando diz que: ―se a padronização é

impositiva, não deixa de ser também necessária. Ela está na base de todo estado

moderno‖.

Durante os programas de rádio, deve prevalecer a língua padrão, a menos

que seja um programa humorístico ou que não se exija tal formalidade e sem

desmerecer a linguagem informal.

Se é ao aluno que cabe o aprendizado da língua materna, é ao professor que

cabe a responsabilidade de criar uma escola em que esse aprendizado possa

ocorrer de maneira espontânea. É no professor que deve começar a mudança de

atitude que permitirá um ensino de língua mais eficaz e democrático, e a primeira

condição é que ele se familiarize de forma mais espontânea. Também cabe ao

professor oportunizar espaços para promover outras atividades de ensino-

aprendizagem, como por exemplo, através da rádio escolar para proporcionar a seus

alunos práticas pedagógicas efetivamente enriquecedoras. O professor deve

perguntar o que os alunos já sabem, planejando seu ensino em função desse

conhecimento, mas não é isso o que acontece normalmente: o ensino de língua

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materna, tal como vem sendo praticado, mostra, ao contrário, que se gasta um

tempo enorme trabalhando fora de contexto coisas que o aluno já domina em

prejuízo de atividades mais provocativas como ler, expor e descobrir a variabilidade

da língua a partir das amostras disponíveis em classe.

Quando trabalhamos os textos em sala de aula, devemos buscar sua

aplicabilidade na prática. Nesta proposta o aluno vai produzir seu texto para seus

ouvintes, não apenas com o objetivo para uma nota a ser computada, e assumem

uma importância maior às condições de produção do texto e ensino. A rádio atende

as duas pontas do processo. Temos o ponto de partida que é a produção do texto,

onde o aluno prepara seu programa, e o ponto de chegada que é o ouvinte.

Também Geraldi considera a produção de textos:

o ponto de partida (e ponto de chegada) de todo o processo de ensino/aprendizagem da língua. Porque é no texto que a língua – objeto de estudos – se revela em sua totalidade quer enquanto conjunto de formas e de seu reaparecimento, quer enquanto discurso (GERALADI, 19970, p.135).

Percebe-se que nos trabalhos de produção textual o professor precisa ter um

norte para estar conduzindo suas atividades. Porque é no texto que a língua – objeto

de estudos – se revela em sua totalidade quer enquanto conjunto de formas e de

seu reaparecimento, quer enquanto discurso.

O aluno vai produzir o texto e depois apresentá-lo. Dando um motivo ainda

maior para realizar uma boa produção textual, pois será avaliado também pela

comunidade que o está ouvindo através da rádio.

Geraldi apresenta os seguintes passos para se produzir um texto:

a) se tenha o que dizer; b) se tenha uma razão para dizer o que se tem a dizer; c) se tenha para quem dizer o que se tem a dizer; d) o locutor se constitua como tal, enquanto sujeito que diz o que diz para quem diz; e) se escolham as estratégias para realizar (a), (b), (c) e (d) (GERALDI, 1997a, p. 137).

A rádio vem atender todos estes itens motivando os alunos por ser uma

prática ainda pouco usada na maioria das aulas de língua portuguesa. Na prática é

uma atividade com gêneros textuais. Neste sentido Koch afirma:

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em termos bakhtinianos, um gênero pode ser assim caracterizado: são tipos relativamente estáveis de enunciados presentes em cada esfera de troca: os gêneros possuem uma forma de composição, um plano composicional; além do plano composicional, distinguem-se pelo conteúdo temático e pelo estilo; trata-se de entidades escolhidas tendo em vista as esferas de necessidade temática, o conjunto dos participantes e a vontade enunciativa ou intenção do locutor (Koch, 2003, p. 54).

Da mesma forma a autora continua:

Schneuwly (1994) aponta que, nessa concepção, encontram-se os elementos centrais caracterizadores de uma atividade humana: o sujeito, a ação, o instrumento. Segundo ele, o gênero pode ser considerado como ferramenta, na medida em que um sujeito – o enunciador – age discursivamente numa situação definida – a ação – por uma série de parâmetros, com a ajuda de um instrumento semiótico – o gênero, (KOCH, 2003, p. 54-55).

A aprendizagem da linguagem se situa, precisamente, no espaço situado

entre as práticas e as atividades de linguagem. Nesse lugar, produzem-se as

transformações sucessivas da atividade do aprendiz, que conduzem à construção

das práticas de linguagem. Os gêneros textuais, por seu caráter genérico, são um

termo de referência intermediário para a aprendizagem. Do ponto de vista do uso e

da aprendizagem, o gênero pode, assim, ser considerado um mega-instrumento que

fornece um suporte para a atividade nas situações de comunicação e uma referência

para os aprendizes. A autora diz:

Schneuwly & Dolz (s.d.) desenvolvem a ideia de que o gênero é utilizado como meio de articulação entre as práticas sociais e os objetos escolares, particularmente no que diz respeito ao ensino da produção e compreensão de textos, escritos ou orais. Definindo-se atividade como um sistema de ações, uma ação de linguagem consiste em produzir, compreender, interpretar e/ou memorizar um conjunto organizado de enunciados orais ou escritos, isto é, um texto (KOCK, 2003, p. 56).

Na missão de ensinar os alunos a escrever, a ler e a falar, a escola,

forçosamente, sempre trabalhou com os gêneros, pois toda forma de comunicação,

cristaliza-se em formas de linguagem específicas. A particularidade do momento

escolar reside no fato que torna a realidade bastante complicada: há um

desdobramento que se opera em que o gênero não é mais instrumento de

comunicação somente, mas, ao mesmo tempo, objeto de ensino/aprendizagem. O

educando percebe o processo em parte, uma vez que ela é instaurada com fins de

aprendizagem, a missão do professor é transformar o processo da produção textual

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em algo real onde o aluno encontre algo palpável. Esta situação deve alertar para

que isto esteja claro para o aluno, como enfatiza Koch:

Podem-se distinguir, na escola, segundo Schneuwly & Dolz, três maneiras principais de abordar o ensino da produção textual, que evidentemente, não aparecem em estado puro: gênero torna-se uma pura forma linguística e o objetivo é o seu domínio: [...] os gêneros são estudados totalmente isolados dos parâmetros da situação de comunicação; a escola é tomada como autêntico lugar de comunicação e as situações escolares como ocasiões de produção/recepção de textos. [...] Os gêneros são [...] resultado do próprio funcionamento da comunicação escolar e sua especificidade é o resultado desse funcionamento. Nega-se a escola como lugar particular de comunicação, ou seja, age-se como se houvesse continuidade absoluta

entre o exterior da escola e o seu interior (Koch, 2003, p. 56-57).

Atualmente, a definição de gênero é bem diferente das antigas definições

mais rigorosas, limitadas aos gêneros propriamente literários. Eles ilustram os tipos

de textos a que devemos e podemos expor os alunos na fase da sua escolaridade e

desenvolvimento. É importante que o aluno conheça os variados usos dos textos. A

atividade de linguagem funciona como um elo entre o sujeito e o meio e como

representação da comunicação e atribui às práticas sociais um papel determinante

na explicação de seu funcionamento. Koch diz que o ensino de gêneros objetiva:

levar o aluno a dominar o gênero, primeiramente para melhor conhecê-lo ou apreciá-lo, para melhor saber compreendê-lo, produzi-lo na escola ou fora dela; para desenvolver capacidades que ultrapassam o gênero e são transferíveis para outros gêneros próximos ou distantes; colocar os alunos, ao mesmo tempo, em situações de comunicação o mais próximo possível das verdadeiras, que tenham para eles um sentido, para que possam dominá-las como realmente são (KOCH, 2003, p. 58).

Dentro desta perspectiva, Kleiman enaltece a importância de se trabalhar com

textos e atividades que se originam de interesse real, que faz parte do dia a dia dos

alunos, percebemos isto em Kleiman: (2000, p. 238).

[…] um conjunto de atividades que se origina de um interesse real na vida dos alunos e cuja realização envolve o uso da escrita, isto é, a leitura de textos que, de fato circulam na sociedade e a produção de textos que serão lidos, em um trabalho coletivo de alunos e professor, cada um segundo sua capacidade […] (KLEIMAN, 2000, p. 238).

Sobre os gêneros escolares e os escolarizados, Rojo apud KOCH, esclarece:

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Gêneros escolares (propriamente ditos): instrumentos de comunicação na instituição escolar, dos quais a instituição necessita para poder funcionar (regras explicações, exposições, instruções etc.); Gêneros escolarizados: objetos de ensino/aprendizagem (gêneros secundários do discurso, transpostos para a sala de aula) - narração escolar, descrição escolar, dissertação (ROJO apud KOCH, 2003, p. 59-60).

Dessa forma, de acordo com a autora, sob a rubrica gênero estão todos os

textos concebidos socialmente nas mais diversas comunidades linguísticas, portanto

em número ilimitado, por exemplo: um telefonema, uma ata de reunião, um

romance, uma mensagem de celular, um anúncio publicitário, uma carta, um editorial

de jornal, uma bula de remédio, uma conta de telefone, um registro de nascimento,

uma resenha, um e-mail, um artigo, nos programas de rádio etc. Portanto é

perfeitamente possível a produção de textos através de programas de rádio na

escola, como concebemos no nosso projeto.

Nos programas de rádio, um gênero muito utilizado é a música. A música se

subdivide em vários subgrupos, gauchesco, popular, internacional entre outros. Mas

um estilo que se destaca ainda e por influência da colonização alemã é a música

alemã. Essa explicação encontramos em Damke, Francener e Gundt:

O fato de os descendentes de imigrantes alemães ainda cantarem, depois de quase dois séculos de aculturação, músicas populares alemãs com a intensidade que se conhece no oeste do Paraná, mostra justamente que tem um profundo significado para eles, em outras palavras, estas fazem parte da própria identidade, a identidade, conforme Schneider in Damke (1997, p.277), de brasileiros descendentes de imigrantes alemães. A importância da música e da arte de cantar é vastamente conhecida pelo mundo afora, até sob seu aspecto moralista. Quem não conhece o provérbio ‗Quem canta, seus males espanta‘? (DAMKE, FRANCENER, GUNDT, 2007, p. 97).

Alguns aspectos regionais em músicas populares alemãs e o ensino foram

analisados por Damke (2007, p. 97-100).

A música quando trabalhada de forma criativa desenvolve o raciocínio,

criatividade e outros dons e aptidões dos alunos, por isso, o professor deve

aproveitar para explorar na rádio escolar esta tão rica atividade educacional durante

as aulas. A música desempenha importante papel na vida recreativa de toda criança

e adulto, e desenvolve sua criatividade, promove a autodisciplina e desperta a

consciência rítmica e estética. Outra função da música é criar um terreno favorável

para a imaginação, despertar as faculdades criadoras de cada um. A educação

através da música proporciona uma educação profunda e abrangente.

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Assim, diversos outros gêneros textuais podem ser trabalhados através de

programas na Rádio Comunitária.

3 A Rádio Comunitária e Ensino de Língua Portuguesa

Nos tópicos seguintes explicitaremos como a rádio comunitária foi por nós

utilizada como forma de aprendizagem da língua portuguesa por alunos da escola.

O plano de trabalho no qual está alicerçando este projeto foi desenvolvido

com suporte da Rádio Pato FM e com uma linha de dados (contratada da operadora

telefônica), até o Colégio Estadual Pato Bragado, onde tem uma mesa (de som) de 4

canais, microfones e um rádio para retorno. As músicas foram rodadas no estúdio da

rádio. Antes do início do programa, os alunos ligaram do colégio e solicitaram a

música selecionada para o programa. Os alunos ajudaram nos preparativos,

deixaram o texto pronto e digitado para ler ao vivo. Tudo foi avaliado e

acompanhado pelo professor. Foi seguida a ética e a lei a que esta atividade está

sujeita e o espaço foi usado dentro do planejamento escolar e pedagógico.

3.1 Rádio Pato Fm

O projeto foi desenvolvido através da Rádio Comunitária Pato FM que foi

fundada no dia 04 de junho de 1999, e está situada na Avenida Willy Barth, centro

de Pato Bragado, Estado do Paraná. A sintonia é no canal 285, frequência 104.9. A

entidade mantenedora é denominada Associação Comunitária Bragadense (ACCB),

é uma sociedade civil sem fins lucrativos, que conta com 15 sócios, devidamente

inscrita no CGC/MF sob o número 03.287.189/0001-33. O processo que a legitima é

de número 53740.000700/99.

O Serviço de Radiodifusão Comunitária foi criado pela Lei 9.612, de 1998,

regulamentada pelo Decreto 2.615 do mesmo ano. Trata-se de radiodifusão sonora,

em frequência modulada (FM), de baixa potência (25 Watts). Podem explorar esse

serviço somente associações e fundações comunitárias sem fins lucrativos, com

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sede na localidade da prestação do serviço. As estações de rádio comunitária

devem ter uma programação pluralista, sem qualquer tipo de censura, e devem ser

abertas à expressão de todos os habitantes da região atendida, desta forma entra o

trabalho com a classe estudantil.

A programação diária de uma rádio comunitária deve conter informação,

lazer, manifestações culturais, artísticas, folclóricas e tudo aquilo que possa

contribuir para o desenvolvimento da comunidade, sem discriminação de raça,

religião, sexo, convicções político-partidárias e condições sociais. A programação

deve respeitar sempre os valores éticos e sociais da pessoa e da família, prestar

serviços de utilidade pública e contribuir para o aperfeiçoamento profissional nas

áreas de atuação dos jornalistas e radialistas. Além disso, qualquer cidadão da

comunidade beneficiada terá o direito de emitir opiniões sobre quaisquer assuntos

abordados na programação da emissora, bem como manifestar ideias, propostas,

sugestões, reclamações ou reivindicações (BRASIL, 2009).

As etapas deste projeto consisten em criar condições para treinamento e

formação de equipes de comunicadores no intuito de tornar possível o uso da

linguagem radiofônica no processo de ensino escolar, colaborar como ferramenta de

transmissão de conhecimentos interdisciplinares e transdisciplinares, permitir e

aproximar o acesso a informação cotidiana e de utilidade pública.

No desenvolvimento do nosso projeto o programa de rádio na Rádio

Comunitária Pato FM foi apresentado por três alunos do Ensino Médio do período

vespertino do Colégio Estadual Pato Bragado, no dia 20 de setembro de 2010 às

15h45. Foi utilizado um microfone, uma mesa de som, um rádio para retorno e uma

linha de dados do colégio até a rádio. Os alunos pesquisaram sobre o tema proposto

que foi sobre a data 20 de setembro que é o ―Dia do Gaúcho‖ feriado no Rio Grande

do Sul e comemorado em todas as cidades do Brasil onde tem grupos de

tradicionalistas através dos seus Centros de Tradições Gaúchas (CTGs). Deve-se

destacar que há centenas de CTGs espalhados pelo Brasil e que existem vários

CTGs fora do Brasil também.

Foi escolhida esta data, visto que uma grande maioria dos colonizadores

terem vindo do Rio Grande do Sul para Pato Bragado e também a importância que a

Revolução Farroupilha teve para o Brasil. Os alunos ao estudarem sobre a história

da Revolução Farroupilha, perceberam que os revolucionários não venceram a

batalha, mas ficou claro que esta luta foi de muita importância para a sociedade

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brasileira, onde alguns direitos foram garantidos e o povo brasileiro foi beneficiado

com a revolução.

O programa começou com a saudação dos apresentadores e a música de

Elton Saldanha ―Eu sou do Sul‖ com os Serranos (2003):

Eu sou do sul É só olhar pra ver que eu sou do sul A minha terra tem um céu azul É só olhar e ver Nascido entre a poesia e o arado A gente lida com gado e cuida da plantação A minha gente que veio da guerra Cuida dessa terra Como quem cuida do coração

Esta música retrata muito bem a procedência da população bragadense,

como era a atividade dos agricultores (A gente lida com gado e cuida da plantação)e

destaca a guerra, (A minha gente que veio da guerra) dando ênfase à Revolução

Farroupilha e se orgulha das conquistas.

Pesquisaram sobre o ―tratado de Poncho Verde‖, Convenção de Poncho

Verde ou Paz de Poncho Verde que é o nome dado a um acordo que findou a

Revolução Farroupilha e à República Rio-Grandense, voltando o território litigante a

fazer parte do Império do Brasil, de D. Pedro II. É aceita como data de sua

assinatura o dia 1° de março de 1845, quando foi anunciada a paz. Ponche Verde ou

Poncho Verde é uma região assim intitulada pelas suas verdes campinas, ótimas

para o pastoreio do gado; atualmente o lugar tem como sede o município de Dom

Pedrito, no estado do Rio Grande do Sul.

Em 18 de dezembro de 1844, D Pedro II elaborou um decreto, de conteúdo

reservado, dispondo sobre as condições de paz. As condições poderiam ser

adaptadas pelo Barão de Caxias nas negociações.

Artigo 2°: Recorrendo à minha imperial clemência aqueles de meus súditos que, iludidos e desvairados, tem sustentado na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, uma causa atentatória da Constituição Política do Estado, dos decretos de minha Imperial Coroa firmados na mesma Constituição e reprovado pela nação inteira; que real e valorosamente se tem empenhado em debelá-la; e não sendo compatível com os sentimentos do meu coração o negar-lhes a paternal proteção a que os ditos meus súditos se acolhem arrependidos: Hei por bem conceder a todos, e a cada um deles, plena e absoluta anistia, para que nem judicialmente, nem por outra qualquer maneira, possam ser perseguidos ou de alguma sorte inquietados pelos atos que houverem praticado até a publicação deste decreto nas diversas povoações da Província (BRASIL, 1845).

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O que motivou a Revolução Farroupilha foi a batalha pelos impostos

altíssimos cobrados no local de venda (normalmente outros Estados) sobre animais,

couro, charque e trigo produzido das estâncias do Rio Grande. Charqueadores e

estancieiros reclamavam, ainda, de outros impostos: sobre o sal importado e sobre a

propriedade da terra.

O Tratado é objeto de muita discussão. O território foi plenamente reintegrado ao Império e, posteriormente, à República brasileira. Entretanto, a República Rio-grandense está simbolicamente perenizada na bandeira e no brasão do estado do Rio Grande do Sul, da mesma forma que outros estados brasileiros mantiveram em seus símbolos cívicos sinais de movimentos emancipadores, como por exemplo, Pernambuco, Minas Gerais, Bahia, São Paulo e Paraíba. Por sua vez, a cidade de Porto Alegre mostra em seu brasão o título de Mui Leal e Valerosa que lhe foi conferido por D. Pedro II, pela resistência ao cerco imposto pelos republicanos farroupilhas. No interior do estado desenvolveram-se posteriormente cidades cujos epônimos evocam alguns dos protagonistas da época: Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Garibaldi, Farroupilha (BRASIL, 1845).

Esta história da luta do povo do sul interferiu e contribuiu muito para a história,

o desenvolvimento, o progresso não só do Rio Grande do Sul, mas também para

todo território nacional. Seu legado foi de extrema importância e a luta, conforme os

estudos realizados tiveram seus méritos reconhecidos.

Foi realizado o estudo sobre a bebida mais apreciada pelos sulistas que é o

chimarrão. Os gaúchos o apreciam pela manhã, à tarde ou à noite, e isto é passado

de geração a geração. Uma bebida muito fácil de ser feita não exige muita idade

para ser feita nem tomada.

De acordo com pesquisa dos alunos na página da wikipedia, o chimarrão (ou

mate) é característica da cultura do sul da América do Sul, costume deixado pelos

indígenas quíchuas, aimarás e guaranis. Hoje ainda é hábito fortemente arraigado

no Brasil (Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia,

Acre e principalmente Rio Grande do Sul), parte da Bolívia e Chile, Uruguai,

Paraguai e Argentina. É uma bebida acessível para todas as classes sociais e é

composta por uma cuia, uma bomba, erva-mate e água quente (CHIMARRÃO,

2010).

Foi abordado também a indumentária, que é muito característica dos

tradicionalistas. Estes trajes são usados nos eventos típicos, pouquíssimos são os

que utilizam todos os dias.

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A bombacha é uma peça de roupa, calças típicas abotoadas no tornozelo,

usada pelos gaúchos. O nome foi adotado do termo espanhol "bombacho", que

significa "calças largas". Pode ser feita de brim, linho, tergal, algodão ou tecidos

mesclados; de padrão liso, listrado ou xadrez discreto. As cores podem ser claras ou

escuras, fugindo-se de cores agressivas, chocantes e contrastantes.

No Rio Grande do Sul, a bombacha, juntamente com toda a indumentária

característica do gaúcho, é considerada traje oficial desde 1989, e foi aprovada a Lei

Estadual da Pilcha pela Assembleia Legislativa. Conforme a Lei, a pilcha gaúcha – o

conjunto de vestes tradicionais tanto masculino quanto feminino – pode substituir

trajes sociais – ex. terno e gravata para os homens e vestidos de tecidos mais

nobres para as mulheres – em todos os eventos formais que ocorra no Rio Grande

do Sul, inclusive reuniões da Assembleia Legislativas estadual e municipais, desde

que se observe as recomendações ditadas pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho.

Esta indumentária também já passou a ser traje oficial para participar em eventos

oficiais no Paraná (BOMBACHA, 2010).

O vestido da mulher gaúcha (da prenda) é um traje típico brasileiro, pode ser

um vestido inteiro para todas as prendas, ou saia e blusa, com ou sem casaquinho,

para as prendas adultas e senhoras. A saia pode ser godê, meio-godê, em panos,

em babados ou evasê; pode apresentar cortes na cintura, cadeirão ou corte-

princesa, dependendo da idade e estrutura física da prenda, e com o comprimento

da saia alcançando o peito do pé.

Os tecidos para a execução dos vestidos variam de acordo com as estações

climáticas, podendo ser lisos ou com estampas florais miúdas, xadrezinho, com

riscas discretas, de bolinhas etc. Não são permitidos tecidos transparentes sem forro

e nem brilhantes, como lamê ou lurex. Não é aconselhável o uso do preto, que

remete ao luto, e a cor branca é reservada para o uso das noivas e debutantes. Não

devem ser usadas também combinações com as cores da bandeira do Rio Grande

do Sul.

O vestido da prenda geralmente não é decotado; porém, é admitido um leve

decote, com ou sem gola, sem expor os ombros e o seio. Pode apresentar enfeites

com renda, aplicações, bordados, fitas, gregas, babadinhos, plissês, botõezinhos

forrados, nervuras ou favos. As mangas podem ser compridas, três-quartos ou até o

cotovelo; podem ser lisas ou levemente franzidas, com ou sem aplicação, mas sem

muito exagero (VESTIDO, 2010).

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A pesquisa ainda foi referente ao churrasco, conforme os estudos, na

alimentação o prato mais apreciado é o churrasco, nome dado ao prato feito à base

de carne in natura ou processada, assada sobre fogo ou brasas, com a utilização de

estacas de madeira ou metal — chamados de espetos — ou de grelhas. Difundido e

apreciado também em todo território nacional. Não se sabe com certeza exata sobre

como se originou o churrasco, mas presume-se que a partir do domínio do fogo na

pré-história, o homem começou a assar a carne de caça quando percebeu que o

isso a deixava mais macia. Com o passar do tempo as maneiras foram

aperfeiçoadas, principalmente entre os caçadores e criadores de gado, dependendo

sempre do tipo de carne e lenha disponíveis.

Na América do Sul a primeira grande área de criação de gado foi o pampa,

extensa região de pastagem natural que compreende parte do território do estado do

Rio Grande do Sul, no Brasil, além da Argentina e Uruguai. Foi ali que os vaqueiros,

conhecidos como gaúchos tornaram o prato famoso e típico. A carne assada era a

refeição mais fácil de preparar quando se passava dias fora de casa, bastando uma

estaca de madeira, uma faca afiada, um bom fogo e sal grosso, ingrediente

abundante que é utilizado como complemento alimentar do gado.

Posteriormente o costume cruzou as regiões e se tornou um prato nacional,

multiplicando-se as formas de preparo, o que gera entre os adeptos muita discussão

sobre o verdadeiro churrasco, como por exemplo, a utilização de lenha ou carvão,

de espeto ou grelha, temperado ou não, com sal grosso ou refinado, de gado, suíno,

aves ou frutos do mar. Afinal, encontramos constantemente assadores com seus

segredos e técnicas próprias para um bom churrasco. O correto é afirmar que não

existe fórmula exata, uma vez que cada região desenvolveu um tipo diferente de

carne assada, mas, sem dúvidas, a imagem mais famosa no Brasil é o churrasco

preparado pelos gaúchos, expressão que virou nome do cidadão nascido no estado

do Rio Grande do Sul. Na Argentina e no Uruguai o churrasco típico é chamado

―asado‖, e é o prato nacional de ambos os países. Tradicionalmente é feito na grelha

com uso de lenha, mas também se usa carvão pela praticidade.

No programa que foi apresentado, na conclusão tocaram a música ―O Canto

Alegretense‖ que é uma conhecida canção do Rio Grande do Sul, escrita por

Antônio Augusto Fagundes e Bagre Fagundes em homenagem ao município de

Alegrete, é mais popular que o próprio hino da cidade e interpretada pelos Os

Serranos (1985).

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[...] Ouve o canto gauchesco e brasileiro Desta terra que eu amei desde guri Flor de tuna, camoatim de mel campeiro Pedra moura das quebradas do Inhanduy [...]

Os alunos destacaram, principalmente, o vocabulário utilizado, que exige

certo conhecimento para compreender seu significado. Depois de feita a pesquisa,

explicaram o seu significado. Enaltecendo que a linguagem rio-grandense é bem

rebuscada e enriquecedora para a língua portuguesa.

4 Considerações Finais

Os meios de comunicação inseridos no processo educativo podem ser

usados como uma ferramenta útil, desde que os educadores e estudantes saibam

usá-los adequadamente e tenham critério para utilizá-los. A comunidade escolar,

crianças e os jovens participantes do processo de produção radiofônico-escolar

estão em constante relação com o ambiente sociocultural que os circundan,

conforme se verificou ao analisar o programa transmitido pela Rádio Comunitária

Pato Fm.

O rádio pode contribuir expressivamente com o processo de ensino-

aprendizagem, sendo uma das portas de entrada ao conhecimento de novos estilos,

formatos, linguagem, fazendo com que a metodologia de ensino escolar se torne

mais dinâmica e interessante.

O trabalho sobre o programa possibilitou reconhecer a importância do projeto

rádio escola como ferramenta educativa e do rádio como veículo indispensável para

sua sociabilização participativa.

O uso do rádio no ambiente escolar, neste caso no intervalo das aulas,

constitui-se numa modalidade que possibilita a toda a comunidade escolar a

oportunidade de analisar, com critérios objetivos e a partir de um contato real com

um meio de comunicação, a grande quantidade de informações que se recebe

diariamente dos meios massivos e trabalhar datas comemorativas e outros temas

pertinentes.

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As apresentações do programa de rádio podem contribuir para o

desenvolvimento de competências e habilidades em língua portuguesa, além da

criatividade. As atividades radiofônicas desenvolvidas no projeto da Rádio

Comunitária renovaram e reestruturam o sentido e a história de vida de cada

participante da comunidade escolar, estabelecendo uma constante relação com o

ambiente social e cultural em que estão inseridas crianças, jovens, escola e

sociedade promovendo a inclusão social desses sujeitos.

Como dissemos, este artigo tem o objetivo de apresentar um trabalho

realizado no Colégio Estadual Pato Bragado, ou seja, num programa transmitido ao

vivo pela Rádio Comunitária Pato FM durante o intervalo de aulas.

No modelo deste programa, foram realizados programas semanalmente

apresentados por alunos interessados. Foi estabelecido um cronograma onde cada

série se responsabilizou por fazer dois programas semanais. Estendeu-se o projeto

desde a quinta série do Ensino Fundamental ao terceiro ano do Ensino Médio. As

turmas matutinas foram responsáveis por dois programas semanais no período da

manhã e as vespertinas pelos programas da tarde. Os programas eram preparados

para serem apresentados durante o intervalo das aulas.

A utilidade da rádio como meio de aprendizagem da língua portuguesa foi

comprovadamente verificada nos 58º Jogos Escolares do Paraná (JEPS). Alguns

alunos foram convidados para fazer as reportagens nos jogos escolares que

aconteceram entre os dias 20 a 26 de maio em Pato Bragado e Entre Rios do Oeste.

Os alunos, com um celular passavam as informações com os resultados e

anunciavam os próximos jogos, deixando toda comunidade informada sobre o

andamento dos JEPS.

A utilidade da rádio verifica-se nas palavras de Araújo (2003 apud AMEIDA,

2010), onde diz: ―Há décadas o rádio educa, aproxima, apaixona, entretém, informa,

sugere, mobiliza, confunde, liberta, e anima‖. Percebemos isto ao fazer o convite aos

alunos em participar dos programas radiofônicos.

A partir dessa e de outras experiências, percebe-se como é interessante para

a formação cidadã dos educandos um trabalho que relacione a educação e a

comunicação, pois com a utilização de práticas educativas através da comunicação

social o papel de estudantes e professores se renova e se reestruturam no ambiente

escolar e cada um se sente responsável em interferir e transformar a realidade que o

circunda.

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Referências

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