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www.gazetarural.com Director: José Luís Araújo | N.º 360 | Periodicidade Quinzenal | 15 de Abril de 2020 | Preço 4,00 Euros Grupo de produtores da região quer abrir loja em Viseu Crónica Rural - Um dia no monte - Meu querido mês de Agosto Adega de Borba comemora 65 anos HÁ QUEIJO DOP ‘ONLINE’! Ministra da Agricultura e a situação atual: “O sector e todos os que nele trabalham serão ainda mais valorizados”

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w w w . g a z e t a r u r a l . c o m

Director: José Luís Araújo | N.º 360 | Periodicidade Quinzenal | 15 de Abril de 2020 | Preço 4,00 Euros

• Grupo de produtores da região quer abrir loja em Viseu

• Crónica Rural - Um dia no monte - Meu querido mês de Agosto

• Adega de Borba comemora 65 anos

Há queijo DoP ‘online’!

• Ministra da Agricultura e a situação atual:

“O sector e todos os que nele trabalham serão ainda mais valorizados”

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“O que é nacional ...é bom”

Nunca, como agora, fez tanto sentido apelar ao consumo dos pro-dutos nacionais. O célebre anúncio de uma marca de massas “O

que é Nacional é bom”, poderia agora ter uma nova versão, do tipo: “O que é nacional é muito bom e ajuda o País”.

Durante tanto tempo ouvimos falar da globalização e, de repente, percebemos que afinal o tal ‘mundo encantado’ para onde nos qui-seram levar não passa de uma miragem. Nas últimas quatro décadas a Europa, e o mundo, preocupou-se apenas e tão só com o bem--estar dos cidadãos, sem nunca perceber que isso só não chega. O bem-estar dos cidadãos não é permitir que estes tenham tudo à mão, desde o que comem e vestem, até à origem do automóvel ou da tecnologia que usam no dia a dia. Verdadeiramente, nunca nos preocupámos de onde vêm a maior parte daquilo que consumimos e usamos todos os dias.

De repente damos connosco a pensar que mundo andámos a construir no último meio século.

Por exemplo, percebemos que coisas tão simples como uma máscara cirúrgica ou um medicamento como o paracetamol são produzidos do outro lado do mundo.

Hoje, o que verdadeiramente importa é reforçar a importância de cada vez mais consumirmos o que é nosso, que em Portugal se produz. Dessa forma, estaremos a gerar riqueza e a construir um futuro melhor para nós e para os nossos filhos e netos.

Afinal, o que é nacional é muito bom.

José Luís Araújo

Editorial

Ficha técnica

Ano XV | N.º 360Periodicidade: Quinzenal

Director: José Luís Araújo (CP n.º 7515)E-mail: [email protected] | 968 044 320

Editor: Classe Média C. S. Unipessoal, LdaSede: Lourosa de Cima - 3500-891 Viseu

Redacção: Luís PachecoOpinião: Paulo Barracosa | Rita Barata |

Catarina SimõesDepartamento Comercial: Beatriz Fonte

Sede de Redacção: Lourosa de Cima3500-891 Viseu | Telefone: 232 436 400

E-mail Geral: [email protected]: www.gazetarural.com

ICS: Inscrição nº 124546Propriedade: Classe Média - Comunicação e

Serviços, Unip. LdaAdministrador: José Luís Araújo

Sede: Lourosa de Cima - 3500-891 ViseuCapital Social: 5000 Euros

CRC Viseu Registo nº 5471 | NIF 507 021 339Detentor de 100% do Capital Social:

José Luís AraújoDep. Legal N.º 215914/04

Execução Gráfica: NovelgráficaR. Cap. Salomão, 121 - Viseu | Tel. 232 411 299

Estatuto Editorial: http://gazetarural.com/estatutoeditorial/

Tiragem Média Mensal: 2000 exemplaresNota: Os textos de opinião publicados são da

responsabilidade dos seus autores.

04 O sector e todos os que nele trabalham “serão mais valorizados”, diz

ministra da Agricultura

06 Produtores de queijo de Castelo Branco com quebras de 50% nas

vendas

07 Ministra da Agricultura inaugurou Feira Digital do Queijo DOP

08 ANCOSE negoceia com grande superfície o escoamento de queijo

‘Serra da Estrela’

10 Arroz de Sarrabulho à Moda Ponte de Lima distinguido pelo segundo

ano consecutivo

11 Monsanto ganha pela terceira vez o Prémio Cinco Estrelas

12 Edição Especial – Visão Global II

18 Grupo de produtores da região quer abrir loja em Viseu

22 Adega de Borba comemora 65 anos e “cumpre a missão e os objetivos

para que foi criada”

24 Macedo de Cavaleiros lança campanha de incentivo ao consumo de

produtos concelhios

25 Idanha adia eventos para 2021 e canaliza apoios para famílias e eco-

nomia

26 A Ervital “para ter qualidade não precisa de sofisticação tecnológica”

30 United Resins exporta derivados da resina para os principais merca-

dos europeus

32 Festas da Flor e do Vinho da Madeira terão lugar em Setembro

33 Câmara de Viseu cancelou festas e marchas populares

34 Opinião Vítor Monteiro – Covid-19 e ambiente

38 Crónica Rural - Um dia no monte - Meu querido mês de Agosto

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Numa altura difícil para a humanidade, o setor primário disse presente, garantindo o abastecimento de bens essenciais. A

agricultura e o sector agroalimentar não pararam, apesar de todas as condicionantes que a pandemia obrigou.

Em entrevista, por email, à Gazeta Rural, a ministra da Agricultu-ra realça a resposta dada, reconhecimento, contudo, “alguns cons-trangimentos”, como “o fecho do canal HoReca e da retração da procura e de ajustes no comportamento de consumo”. Mária do Ceu Albuquerque diz que há “negociação com a Comissão Euro-peia no âmbito de um conjunto adicional de medidas de apoio ao setor”, e que está a trabalhar “para garantir respostas às neces-sidades que sejam identificadas” no setor do vinho. Quanto ao futuro, e uma vez ultrapassado este período, a ministra acredita que “a Agricultura, o setor agroalimentar e os seus profissionais serão ainda mais valorizados”.

Gazeta Rural (GR): O setor respondeu bem aos efeitos que a actual situação provocou?

Mária do céu albuquerque (Mca): No atual contexto, mar-cado pela pandemia COVID-19, verificou-se que, generica-mente e graças ao empenho e dedicação de quem trabalha no setor, a produção agrícola e agroalimentar manteve o seu funcionamento. Contudo, registaram-se alguns constran-gimentos, essencialmente decorrentes do fecho do canal HoReca, da retração da procura e de ajustes no comporta-mento de consumo. Assim, estamos, em permanência e,

claro está, em articulação com as restantes áreas governativas, a acompanhar e a analisar eventuais novas medidas ou atualizações no que respeita às já em vigor.

Atualmente, além das medidas transversais no âm-bito do apoio ao emprego, tesouraria e diferimento de pagamento de impostos e contribuições, foram adotadas medidas específicas para o setor.

GR: haverá medidas adicionais para o sector?Mca: Para já foram implementadas medidas relacio-

nadas com os projetos PDR2020 (adiantamentos) e de apoio à promoção de vinhos (mercado externo e inter-no), foram criadas regras de não penalização de projetos por baixa taxa de execução, foi garantida a elegibilidade de despesas em ações não executadas, a atribuição de adiantamentos e a prorrogação de prazos para cumpri-mento de obrigações, tendo ainda sido estabelecidos apoios à retirada de produtos do mercado, sem esquecer os frutos vermelhos, e implementadas medidas relaciona-das com o reforço dos circuitos curtos. Para além destas medidas, que já estão no terreno, o Ministério da Agricul-tura está ainda em negociação com a Comissão Europeia no âmbito de um conjunto adicional de medidas de apoio ao setor.

Também neste contexto, e visando garantir o essencial

acompanhamento do funcionamento do abastecimento, com o Ministério da Economia e Transição Digital, foi criado um Grupo de Acompanhamen-to e Avaliação das condições de abas-tecimento de bens nos setores agroa-limentar e do retalho em virtude das dinâmicas de mercado determinadas pela COVID-19. Deste grupo fazem par-te, além dos organismos relevantes da Administração Pública, as Associações re-presentativas da Indústria Agroalimentar, Retalho, Distribuição e Logística.

O grupo tem reunido periodicamente com a finalidade de acompanhar eventuais situações de perturbação e analisar a apli-cação de medidas destinadas a manter ou restabelecer as normais condições de abas-tecimento.

Foi também constituído um grupo interno no Ministério da Agricultura, para acompa-nhamento do funcionamento dos organis-mos tutelados e da cadeia de abastecimento alimentar, visando ainda assegurar uma mo-nitorização efetiva da evolução da situação ao nível de recursos e da implementação de pla-nos de contingência, e acompanhamento das empresas do setor. Neste grupo participam as entidades representativas dos setores e ativida-des que, pela sua relevância em termos setoriais, têm contacto direto com os operadores e detêm um conhecimento mais efetivo da situação. Este grupo está a fazer um acompanhamento regular do setor.

Além destes grupos, diariamente está a ser feito um levantamento de todas as situações que pos-sam ser objeto de constrangimentos e estão a ser acompanhadas todos as solicitações que chegam ao Ministério da Agricultura. Desta forma, o Minis-tério da Agricultura está a levar a cabo a articulação necessária com vista à manutenção de todas as ati-vidades do setor, da produção à distribuição agroali-mentar, trabalhando em proximidade com os vários intervenientes, nomeadamente com os Municípios e com os grupos associados às grandes superfícies co-merciais.

GR: há problemas no sector do vinho, com quebras não só no mercado nacional como internacional. há, ou vão haver, medidas especificas de apoio para este sector?

Mca: Especificamente no que diz respeito ao setor do vinho e já tendo sido referidas as medidas em desenvolvi-mento e em estudo, temos efetivamente reporte de uma redução no nível de atividade das empresas do setor.

Destacam-se o setor cooperativo e as PME, entidades menos exportadoras e mais dependentes do mercado na-

cional, do canal HoReca e do turismo, que registam quebras e níveis de stock elevados. Contudo, como referimos, estamos a trabalhar, em per-manência, para garantir respostas às necessidades que sejam identifi-cadas.

GR: após esta crise, as pessoas vão olhar de outra forma para a agricultura?

Mca: Para que seja garantido o bem-estar das famílias, e como já sa-lientámos, são imprescindíveis todos os profissionais do setor agroa-limentar. E, por isso, reforçamos, aqui, o nosso reconhecimento e a nossa gratidão por todo o trabalho, esforço e dedicação, num contex-to que nos coloca, a todos, à prova.

Aliás, esse foi também um dos motes da campanha que está a decorrer: “Alimente quem o alimenta”, a qual pretende incentivar o consumo de produtos locais. Por isso, no âmbito desta mesma campanha, o Ministério está a preparar uma plataforma que con-tribuirá para a agilização da venda de cabazes de produtos agroa-limentares.

Por isso, inaugurámos a primeira Feira Digital de Queijo DOP, resultante de uma iniciativa conjunta do Município de Oliveira do Hospital, da CIM da Região de Coimbra, dos CTT e da plataforma Dott. Ou seja, este período difícil deixará, certamente, marcas, obrigando-nos a repensar o funcionamento da nossa sociedade e a criar alternativas, soluções (como o teletrabalho, por exem-plo). Alternativas e soluções que ficarão para o futuro.

E, olhando para a adesão e para a reação que tem havido pe-rante as iniciativas que estamos a levar a cabo em prol do setor e do seu bom funcionamento, sentimos que a mensagem está a passar. Isto é, não podemos antever o que irá acontecer, mas estamos certos de que, no futuro e uma vez ultrapassado este período, a Agricultura, o setor agroalimentar e os seus profis-sionais serão ainda mais valorizados num país que também é reconhecido pelo que produz.

A Ministra da Agricultura à Gazeta Rural

O sector agrícola e todos os que nele trabalham “serão mais valorizados”

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A ministra da Agricultura inaugurou a primeira Feira Digital do Queijo DOP

e defendeu uma aliança entre a tradição e a inovação para responder aos desafios do setor face à pandemia da covid-19, dando o exem-plo da primeira feira digital do queijo DOP.

Após ter visitado uma exploração de leite, em Castelo Branco, e uma queijaria, em Oli-veira do Hospital, por forma a acompanhar o escoamento destes produtos, Maria do Céu Albuquerque esteve em Oliveira do Hospital no lançamento da primeira Feira Digital no âmbito do setor da agricultura. Na sua intervenção a mi-nistra da Agricultura salientou que a iniciativa re-sulta de “uma parceria feliz”, entre diferentes en-tidades, para “colocar à disposição de todos um produto que faz parte” da identidade nacional.

A primeira Feira Digital do Queijo com deno-minação de origem protegida (DOP) visa ajudar produtores de diferentes queijos certificados do Centro de Portugal. “Temos de responder ra-pidamente às mudanças de hoje, já a pensar no amanhã”, afirmou a ministra da Agricultura, numa cerimónia nos Paços do Concelho de Oliveira do Hospital que foi transmitida em direto por plata-forma digital. Na sua opinião, as iniciativas digitais nesta área para vencer as restrições sociais de com-bate à pandemia constituem uma experiência que, também no futuro, pode contribuir para “aproximar os produtores dos consumidores”.

Cerimónia decorreu em oliveira do Hospital

Ministra da Agricultura inaugurou a primeira

Feira Digital do Queijo DOPAo defender a importância de a retoma da economia poder “acontecer de

forma mais célere”, Maria do Céu Albuquerque insistiu na necessidade de “promover os produtos nacionais” de qualidade, como os diversos queijos DOP das comunidades intermunicipais (CIM) da Região de Coimbra, Região das Beiras e Serra da Estrela, Região de Viseu, Dão e Lafões e a Região da Beira Baixa.

As novas tecnologias e a inovação são “a maior arma para vencer” as dificuldades colocadas pela atual pandemia, mas igualmente, em geral, os desafios que a economia nacional vier a enfrentar no futuro, disse.

A ministra expressou “todo ao apreço” aos empresários e trabalhadores do setor agroalimentar, que se mantêm em laboração para “garantir que nada falte na mesa” dos portugueses. “A agricultura não pode parar, para benefício de todas e de todos”, sublinhou.

Na sessão inaugural da primeira Feira Digital do Queijo DOP, intervie-ram ainda João Bento e Gaspar d’Orey, das duas empresas parceiras na iniciativa, CTT e Dott, respetivamente, além de José Carlos Alexandrino, presidente da CIM da Região de Coimbra.

O também presidente da Câmara de Oliveira do Hospital salientou a “riqueza” da região, evidente na montra online já disponível, destacou o papel das autarquias e a importância do trabalho em parceria, de-signadamente com as empresas e com o Governo, e louvou o apoio e a resposta do Ministério da Agricultura. “Temos de resolver os pro-blemas recorrendo à proximidade e, assim, estaremos a apoiar os nossos produtores e os nossos agricultores. Os nossos queijos são produtos de excelência e, graças a este projeto, passarão a poder chegar às casas do nosso país. Temos de valorizar o que é nosso. E as vendas que já realizámos através da plataforma são um bom sinal”, sublinhou José Carlos Alexandrino.

Dirigente faz balanço “dramático” da situação

Produtores de queijo de

Castelo Branco com quebras de 50% nas vendas

A Associação dos Produtores de Queijo do dis-trito de Castelo Branco (APQDCB) queixou-

-se de quebras de 50% nas vendas de queijo e fez um balanço “dramático” da situação que o sector está a atravessar.

“O balanço é dramático. As vendas de queijo di-minuíram mais de 50%. Aquilo que me tem chegado ao conhecimento é que há gente muito próximo de fechar as portas, sobretudo ao nível dos fabricantes”, explicou Carlos Godinho, da APQDCB.

Este responsável sublinhou que a situação que se vive desde o início da pandemia da covid-19 é muito grave e tem um efeito de cascata, ou seja, se não se vende queijo, não se pode comprar leite. “Os produto-res estão muito apreensivos. Não sabem o que devem fazer ao leite e ao queijo. A maior parte não sabe o que vai acontecer. É uma alteração muito grande na vida das pessoas”, frisou.

Já quanto a apoios ao sector, Carlos Godinho explicou que, para as queijarias, os bancos concedem linhas de crédito para apoio à tesouraria: “Para a parte da produ-ção, ainda não ouvimos nada. Espero que venham a dar apoios”. Para já, este responsável adiantou que a única so-lução passa por pedir que haja uma diminuição na produ-ção, “para ver se se consegue aguentar”.

A Associação dos Produtores de Queijo do Distrito de Cas-telo Branco é responsável pelos queijos de Denominação de Origem Protegida (DOP), queijo de Castelo Branco, Amarelo da Beira Baixa e Picante da Beira Baixa.

Preço do leite também baixou drasticamente

Queijo do Rabaçal com perdas acentuadas na produçãoA produção de leite e de queijo do Rabaçal, concelho de Penela, pro-

duto de Denominação de Origem Protegida (DOP), está a sofrer quebras na ordem dos 40% com a situação criada pela pandemia da covid-19.

Alice Pereira, proprietária da Serqueijos, uma das duas grandes quei-jarias daquela freguesia do distrito de Coimbra, disse que a produção diária de queijo baixou 50%. A produtora considera que houve uma redução do consumo pelo facto de as grandes superfícies comerciais não terem o queijo tão exposto no período em que as famílias por-tuguesas se abasteceram de produtos de primeira necessidade para um longo período de tempo.

A redução na produção teve consequências imediatas na produ-ção de leite, sobretudo no de ovelha, que é utilizado na produção do Queijo do Rabaçal DOP juntamente com o de cabra. O presidente da Associação de Produtores do Rabaçal (APRORABAÇAL), Fernan-do Brás, diz que a produção de leite de ovelha reduziu mais de 40% e o preço baixou drasticamente, baixando de 1,20 euros por litro até aos 70 cêntimos.

Com cerca de 1.300 ovelhas, Fernando Brás diz que, neste pe-ríodo, “é trabalhar para aquecer, porque as rações estão ao mes-mo preço e tem de se alimentar o gado, embora não seja como era”. No entanto, alerta que os produtores “não aguentam mais do que dois ou três meses” nesta situação.

Fernando Brás lamenta, contudo, que muitos dos produtores de queijo estejam a utilizar muito leite de cabra e vaca numa zona de DOP. “Os produtores do queijo de cabra não estão a sofrer tanto”, salienta o produtor, que critica a inexistência de medidas para o setor. “Somos obrigados a trabalhar e não po-demos fazer ‘lay-off’, porque não dá para fechar os portões e deixar o gado sozinho lá dentro”, enfatiza o dirigente associa-tivo.

O Queijo Rabaçal DOP é um queijo curado de pasta semi-dura a dura, branco-mate, produzido de forma artesanal a partir de uma mistura de leites de ovelha e cabra por ação do coalho de origem animal.

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A Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Serra da Estrela (ANCOSE) está a negociar com uma grande superfície nacional,

da área alimentar, a venda de queijo Serra da Estrela, com o compro-misso de fazer a entrega nos centros de distribuição.

A informação foi avançada à Gazeta Rural pelo presidente da AN-COSE (nr, a 15 de Abril). Manuel Marques adiantou que as conver-sações estão em estado avançado e espera que, logo que possível, as entregas possam ser feitas, “o que permitirá o escoamento de uma boa parte do queijo”.

É que o presidente da Associação está preocupado com a situa-ção dos pastores, dadas as dificuldades no escoamento do leite, lamentando que a indústria tenha baixado o preço de 1,25 euros para 80 cêntimos por litro. “Estamos preocupados com a situa-ção dos pastores. Um rebanho com 100 ovelhas dá mil euros de prejuízos por mês”, disse o presidente da associação, Manuel Marques, a propósito da crise que afeta o setor devido à pan-demia da covid-19.

Os associados da ANCOSE, com sede no concelho de Oliveira do Hospital, “enfrentam problemas no escoamento do leite” para as queijarias com denominação de origem protegida (DOP), mas também para as fábricas que produzem queijo não certificado, embora estas continuem a importar leite de Espanha.

Manuel Marques disse ter conhecimento que “apenas uma empresa” que produz queijo DOP Serra da Estrela, em Mangualde, manteve o preço do leite. “Não há saída para o

Associação compromete-se a fazer a entrega nos Centros de Distribuição

ANCOSE negoceia com grande superfície escoamento de queijo ‘Serra da Estrela’

leite de ovelha”, acentuou o dirigente, explicando que a ANCOSE, a pedido dos pastores, tem vindo a “congelar muito leite” nas suas instalações, em cujas câmaras frigoríficas está acumular igualmente queijo que os criadores “não conseguem vender” na atual conjuntura.

Entretanto, a sede da ANCOSE, na Bobadela, foi reaberta ao público, após ter sido encerrada durante três semanas, permitindo “reorganizar os serviços e criar condições de segurança” para dirigentes, traba-lhadores e sócios, face à atual pandemia.

O presidente da associação distinguiu a atual situa-ção dos criadores de ovelhas da Serra da Estrela da cri-se desencadeada pelos grandes incêndios de 15 e 16 de Outubro de 2017, que atingiram cerca de 30 municípios do Centro de Portugal, incluindo concelhos da região demarcada do queijo DOP Serra da Estrela. “Nessa tra-gédia, conseguimos ajudar-nos uns aos outros. Mas ago-ra não. É uma crise em todo o país, com toda a gente a sofrer”, sublinhou Manuel Marques.

Quanto à Feira Digital do Queijo DOP o dirigente “louva a iniciativa” para “ajudar a últrapassar a situação dificil que atra-vesamos”. Contudo, Manuel Marques coloca algumas reser-vas quanto à sua funcionaliodade, uma vez que “o transporte de queijo ‘Serra da Estrela’ exige alguns cuidados e pode não chegar nas melhores condições ao consumidor”, alerta.

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Com o prémio Cinco estrelas Regiões

Arroz de Sarrabulho à Moda de Ponte de Lima distinguido pelo segundo ano consecutivo O Arroz de Sarrabulho à Moda de Ponte de Lima voltou este ano a

ser distinguido de entre as várias marcas portuguesas e ícones de referência nacional, com o “Prémio Cinco Estrelas Regiões”. Consi-derado merecedor desta distinção pelos consumidores portugueses, o Sarrabulho à Moda de Ponte de Lima é já uma marca identitária do concelho e da gastronomia portuguesa.

O savoir faire e a autenticidade deste prato ancestral, atraem anual-mente milhares de visitantes à vila mais antiga de Portugal. Num con-ceito ligado à terra e à tradição, este que é o ex-líbris da gastronomia limiana, faz-se acompanhar de enchidos e fumados, tornando-se num verdadeiro motor do desenvolvimento económico da região.

Arroz, sangue, carnes (de galinha, vaca e de porco desfiadas) res-petivamente das raças minhotas e bísaro são os ingredientes essen-ciais desta iguaria que terá nascido em meados do século XIX, com uma receita que as gentes da terra souberam manter inalterável ao longo dos anos. Intimamente ligado à agricultura, à época das colheitas e à matança do porco, este prato nasceu num contexto ligado ao trabalho no campo, e posteriormente passou da cozinha familiar, para a profissionalização.

O Arroz de Sarrabulho à Moda de Ponte de Lima havia sido já distinguido em 2019 pelo “Prémio Cinco Estrelas Regiões”, um sistema de avaliação que distingue marcas, produtos, recursos patrimoniais e serviços de grande relevo e potencial de valori-zação.

O prémio com elevado nível de exigência e rigor da metodo-logia, destaca um grupo restrito de marcas que se evidenciam pela sua excelência e elevado nível de satisfação global junto dos consumidores. Esta distinção pretende não só reconhecer empresas portuguesas que se diferenciam a nível regional, mas também identificar o que de melhor existe em Portugal ao nível de gastronomia, sítios e património, cultura e lazer, hotelaria, tecnologia, desporto e diversos outros ícones de referência e interesse nacional.

Aconteceu pela primeira vez

Cabrito Estonado

de Oleiros recebeu

‘Cinco Estrelas Regiões 2020’

O Cabrito Estonado de Oleiros foi galardoado, pela primeira vez, com o prémio ‘Cinco Es-

trelas Regiões 2020’, que avalia produtos, serviços e marcas que em 2020 foram considerados pelos consumidores portugueses como extraordinários, realmente Cinco Estrelas.

O suculento e estaladiço Cabrito Estonado de Olei-ros conta anualmente, por altura da Páscoa, com um Festival onde - aliado ao Vinho Callum – junta cen-tenas de pessoas de todos os pontos do país para provar esta iguaria. Este ano, o Festival foi cancelado dado o contexto atual do Estado de Emergência, devi-do à pandemia de Covid-19.

O Município de Oleiros encara esta distinção “não só como um reconhecimento, mas também como um incentivo para que o Festival se volte a realizar no próxi-mo ano, e para que possamos retomar – Município, res-tauração e produtores – o trabalho de dignificação deste que é um marco na gastronomia regional e nacional”.

O elevado nível de exigência da metodologia Cinco Estrelas destacou 119 vencedores, entre as 952 marcas avaliadas organizadas em 171 categorias. De acordo com a organização, o Prémio Cinco Estrelas Regiões é um siste-ma de avaliação que identifica, segundo a população por-tuguesa, o melhor que existe em cada uma das 20 regiões (18 distritos + 2 regiões autónomas) ao nível de recursos naturais, gastronomia, arte e cultura, património e outros ícones regionais de referência nacional; bem como premeia empresas portuguesas que se diferenciam a nível regional.

A aldeia histórica de Monsanto, no concelho de Idanha-a-Nova, venceu

o Prémio Cinco Estrelas Regiões 2020, pelo terceiro ano consecutivo. Numa votação nacional que envolveu mais de 300 mil par-ticipantes, Monsanto foi novamente eleito Ícone de Referência Nacional na categoria de Aldeias e Vilas.

Em 2018 e 2019, a denominada ‘Aldeia Mais Portuguesa de Portugal’ já havia conquistado o Prémio Cinco Estrelas, renovando o título nesta terceira edição do concurso.

“No contexto atual do Estado de Emergência em Portugal, devido à pandemia de Covid-19, esta distinção dá ânimo para continuarmos a trabalhar para um futuro melhor, que permita a retoma do dinamismo turístico de Portugal e, em

particular, do concelho de Idanha-a-Nova”, refere a autarquia, que “expressa a sua satisfação por mais este prémio atribuído a Monsanto e congratula-se com todos os monsantinos, idanhenses, empresários, investidores, agen-tes culturais e turísticos, visitantes e turistas que orgulhosamente fazem de Monsanto um destino de referência em todo o Mundo”.

De acordo com a organização, o Prémio Cinco Estrelas Regiões é um siste-ma de avaliação que identifica, segundo a população portuguesa, o melhor que existe em cada uma das 20 regiões (18 distritos + 2 regiões autóno-mas) ao nível de recursos naturais, gastronomia, arte e cultura, património e outros ícones regionais de referência nacional; bem como premeia em-presas portuguesas que se diferenciam a nível regional.

Através de uma votação nacional, que contou com 313 450 participan-tes, os portugueses identificaram, para cada região, o que consideram Cinco Estrelas a vários níveis.

Tendo em conta a atual conjuntura em Portugal e no Mundo, a orga-nização adianta que este ano não se irá realizar a habitual Cerimónia de Entrega dos Prémios.

não haverá a habitual cerimónia de entrega de galardões

Monsanto ganha pela terceira vez

o Prémio Cinco Estrelas

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uma iniciativa da CiM Beiras e Serra da estrela

Marca “Serra da Estrela” vai promover território de forma organizada

Edição EspEcial

O presente e o futuro: Visão global IINesta edição continuamos a auscultar a opinião dos diversos sectores sobre o momento que o

mundo atravessa. Percorremos o país e perceber o que se passa em cada região e os efeitos que já se notam nos diversos sectores.

Câmaras Municipais

“ApostAr nA recuperAção dA produção nAcionAl e A criAção de emprego”

GR: Que efeitos está a ter a actual situação no con-celho?

RG: O Concelho da Moita, enquanto município da Área Metropolitana de Lisboa, está a ter os impactos que são comuns a esta região, desde logo na saúde pú-blica, mas também na economia local.

Acompanhamos com preocupação o evoluir desta situação, criando as melhores condições possíveis no atual quadro, para que as respostas públicas, de higiene e salubridade, mas também de apoio social ou o trata-mento dos espaços públicos, não deixem de existir.

GR: Esta situação pode vir a provocar uma ‘fuga’ das pessoas dos grandes centros para o interior do país?

RG: As medidas tomadas no quadro da mitigação dos efeitos desta pandemia, desde logo o Estado de Emer-gência, como é conhecido, obrigam ao confinamento em casa de todos aqueles cujos trabalhos não são es-senciais. Assim, não se prevê, até pelo quadro legal, que seja possível essa “fuga” massiva das pessoas para o in-terior do país.

GR: Sendo uma situação inusitada, que mudanças antecipa no futuro próximo?

RG: O próximo futuro, sendo completamente impre-visível, e dependente da evolução da situação de saúde pública que atravessamos, trará certamente desafios a que será necessário responder de forma solidária, entre as várias instituições e as populações, de forma a que a esta crise não se some um desastre económico.

Será necessário apostar decididamente numa recupe-ração que privilegie a produção nacional e a criação de emprego. Mas também em políticas de defesa do Servi-ço Nacional de Saúde que invertam o percurso de dela-pidação a que este tem estado sujeito. Se alguma coisa fica desta pandemia é que só as respostas públicas de saúde serão capazes de enfrentar de forma sólida situa-ções como a presente.

Rui GarciaPresidente da Câmara da Moita

“um mundo mAis unido e solidário”

GR: Que efeitos imediatos está a ter a atual situação no concelho?

SO: A atual situação levou de imediato ao encerra-mento dos equipamentos municipais, ao cancelamento das Festas do Concelho/Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem, a alteração dos procedimentos, dos horários dos trabalhadores da autarquia e ao encerramento par-ticamente de todo o comércio tradicional.

GR: como avalia as medidas do Governo para mini-mizar a situação?

SO: Penso que têm sido tomadas todas as medidas necessárias com vista a dar resposta a uma situação nova, difícil e complexa.

GR: Que repercussões esta crise pode ter a curto/médio prazo?

SO: Poderá levar no imediato ao aumento considerável da taxa de desemprego e a problemas sociais graves na s o c i e -dade Portuguesa. É preciso que todas as Instituições, incluindo obviamente as autarquias, estejam atentas e despertas paras estas situações procurando soluções para as mesmas.

GR: Que mudanças antecipa no futuro próximo?SO: A nível dos comportamentos e da forma de pen-

sar de cada um de nós dentro da sociedade onde es-tamos inseridos. Acho que existe um mundo antes do COVID-19 e emergirá um novo/reformulado após o CO-VID-19. Um mundo mais unido e solidário.

Sérgio Oliveira Presidente da Câmara de Constância

“tem de hAver um enorme espírito de solidAriedAde nAs instânciAs internAcionAis”

GR: Que efeitos imediatos está a ter a actual situa-ção no concelho?

PJi: À semelhança do todo o país, está a ser imple-mentado pelo município de Alcobaça um plano de con-tingência que consequentemente se materializou-se em várias medidas, como o encerramento dos espaços públicos municipais; a suspensão da agenda cultural; a higienização das ruas do concelho; a reorganização do Mercado Municipal de Alcobaça; a doação por parte da Câmara Municipal de 50 mil euros ao Centro Hospitalar de Leiria para aquisição de ventiladores e outro mate-rial médico; a coordenação entre autarquia, Juntas de Freguesia e entidades de âmbito social, para reforçar o apoio aos munícipes mais vulneráveis e/ou sem apoio familiar direto, entre outras medidas.

GR: como avalia as medidas do Governo para mini-mizar a situação?

PJi: Situações-limite como esta implicam sempre mui-tas dificuldades na sua gestão, o que de resto se tem

visto em todos os países. Tanto o Governo como as autarquias e a sociedade civil, estão em sinto-nia para fazer todos os possíveis de modo a apoiar o Sistema Nacio-nal de Saúde e, consequentemente, os cidadãos portugueses.

GR: Que repercussões esta crise pode ter a curto/médio prazo?

PJi: A principal consequência desta pandemia é a crise económica que já está instalada no contexto internacio-nal. Tem de haver um enorme espírito de solidariedade nas instâncias internacionais pois ninguém sairá incólu-me.

GR: Que mudanças antecipa no futuro próximo?PJi: A pandemia do Covid-19 irá seguramente introdu-

zir novas rotinas sociais que têm de ser implementadas para garantir a prevenção de futuras pandemias. Toda a sociedade irá ajustar-se a uma nova realidade que nun-ca experienciámos sendo, portanto, de difícil antevisão.

Paulo Jorge InácioPresidente da Câmara de Alcobaça

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“Nos momentos difíceis estamos juntos.”

“vAmos sAir destA crise mAis fortes e com o espíri-to comunitário renovAdo”

GR: Que efeitos imediatos está a ter a actual situação no concelho?

JFn: Neste momento, a situação no concelho é de re-lativa tranquilidade. Temos um número residual de infe-tados e as pessoas têm respeitado as indicações para se manterem em confinamento social e só saírem de casa para trabalhar ou para irem às compras. Também o Mu-nicípio da Sertã tem colocado em marcha uma série de ações que pretendem sinalizar a situação que estamos a atravessar e aconselhar para uma série de boas práticas que devem ser seguidas durante esta pandemia. Além disso, decorrem com grande regularidade diversas ações de desinfeção de espaços públicos por parte dos nossos serviços de limpeza.

Estamos, igualmente, atentos aos efeitos que esta si-tuação pode vir a ter no tecido empresarial local e vamos monitorizar com extremo rigor tudo o que acontecer.

GR: como avalia as medidas do Governo para minimi-zar a situação?

JFn: No geral, pensamos que o Governo e as autorida-des de saúde têm estado à altura da situação, aplicando

um conjunto de medidas que contribuíram para mitigar os efeitos desta terrível pandemia. A aplicação do Esta-do de Emergência, a resposta dos serviços de saúde e a forma como os portugueses têm sabido reagir a tudo o que tem sucedido são sinais muito encorajadores.

GR: Que repercussões esta crise pode ter a curto/médio prazo?

JFn: Entendemos que ainda é cedo para antecipar repercussões futuras resultantes dos efeitos desta pan-demia, embora seja certo que a nossa economia se vai ressentir bastante. No entanto, o foco agora deve ser o combate ao Covid-19.

GR: Que mudanças antecipa no futuro próximo?JFn: Este é claramente um exercício de futurologia,

pois é extemporâneo perspetivar o futuro. Contudo, acredito que vamos sair desta crise mais fortes e com o espírito comunitário renovado. Além disso, também será importante aprender com algumas lições que esta pandemia e os seus efeitos nos tem revelado.

José Farinha NunesPresidente da Câmara da Sertã

Edição EspEcial

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“necessitAmos dumA união europeiA mAis proAtivA nA resolução dos problemAs europeus”

GR: Que efeitos já se notam fruto na situação actual?JR: Já começam a surgir constrangimentos ao nível da

expedição de gado vivo e de carne, a suspensão da ex-portação de próteas para a Holanda e a perspetivar-se tempos ainda mais complicados no sector do leite.

O encerramento dos estabelecimentos de restauração, de unidades hoteleiras, de cantinas e outros serviços in-troduzem naturalmente distúrbios na cadeia de distribui-ção local e no território continental, por isso, as empresas e as cooperativas têm de reorientar os seus produtos e ir ao encontro das novas tendências e necessidades dos consumidores.

GR: Como avalia as medidas do Governo, nomeada-mente o ministério da Agricultura, para minimizar a si-tuação?

JR: As medidas implementadas pelo Governo da Repú-blica, embora importantes, são insuficientes e as resolu-ções adotadas não são totalmente ajustadas à realidade regional e aos agricultores em particular, pelo que, neces-sitamos que sejam mais abrangentes e criadas outras a nível regional, pelo que já apresentámos várias propostas que entendemos serem imprescindíveis para fazer face à atual situação, decorrente da pandemia do covid-19.

Da União Europeia aguardamos maior flexibilização e simplificação dos programas comunitários, nomeada-mente, ao nível das candidaturas e controlo de campo e a antecipação das ajudas aos agricultores, com níveis de percentagem superiores aos usualmente aplicados e medidas de intervenção nos mercados.

GR: Que repercussões esta crise pode ter nos próximos tempos?

JR: A pandemia afecta todos os Estados-Membros e isso está a introduzir perturbações em cadeia e nos mais diversos sectores de atividade. A crise económica já se

Edição EspEcial

Agricultura

começa a sentir sem que os países tenham ultrapassado a crise de saúde pública.

A União Europeia está a mostrar esforços, mas é impor-tante ajustar a Política Agrícola Comum para que se man-tenha o abastecimento e que não existam perturbações de mercado nas trocas comercias intra e inter-comunitá-rias, assim como é incontornável a necessidade de uma intervenção na zona Euro para a economia, não apenas as dos países do sul, não colapse.

O futuro da própria União Europeia pode estar em cau-sa se não existirem soluções capazes de resolver os pro-blemas existentes nos diversos países europeus. Necessi-tamos duma União Europeia mais proativa na resolução dos problemas europeus.

GR: Que mudanças prevê que possam vir a acontecer?JR: Até que se encontre uma vacina para o covid-19,

muito vai mudar no nosso quotidiano. Teremos de en-contrar compromissos na governação, na economia e na reorganização social. Será imperativo ter em conta que a crise não tocará a todos de forma igual, mas que o Estado e a sociedade continuarão a ter obrigações sociais e que isso representará sacrifícios.

Que de uma vez por todas se dê o devido valor e o re-conhecimento que a actividade agrícola tem sido; apesar de todas as restrições, medos e ansiedades um pilar es-sencial em tempos de crise e de incerteza. Os Agriculto-res não baixarão os braços, porque para alimentar toda a sociedade, a agricultura não pode parar.

Jorge RitaPresidente da Federação Agrícola dos Açores

“os efeitos são cAtAstróficos económicA e finAnceirAmente”

GR: Que efeitos imediatos está a ter a actual situação no sector?

JR: No imediato os efeitos são catastróficos económica e financeiramente.

GR: como avalia as medidas do Governo, nomeadamen-te o ministério da agricultura, para minimizar a situação?

“será fundAmentAl A criAção imediAtA de umA medidA concretA de destilAção de crise”

GR: Que efeitos imediatos está a ter a actual situação no sector?

JMa: Assistimos a uma descida de cerca de 40% nas vendas do sector, à data de hoje. Este decréscimo era es-perado, visto que os bens de primeira necessidade não incluem o vinho, embora seja um produto consumido culturalmente. Não nos podemos esquecer que este é um flagelo mundial.

GR: como avalia as medidas do Governo, nomeada-mente o ministério da agricultura, para minimizar a si-tuação?

JMa: Todas as medidas são de saudar e seguramente muitas delas serão aproveitadas pelas empresas. Concre-tamente em relação ao setor vitivinícola, e analisando a situação em que nos encontramos, acho que será funda-mental a criação imediata de uma medida concreta de Destilação de Crise. Esta, terá efeitos de regulação do se-tor, com efeitos benéficos ao nível dos stocks de vinho face a uma vindima que se aproxima, assim como um efeito extremamente positivo na disponibilização de álcool para o mercado.

GR: Que repercussões esta crise pode ter a curto/mé-dio prazo?

JMa: O primeiro é, sem sombra de dúvida a liquidez

Setor do Vinho

das empresas, o segundo o de-semprego, e poderá existir um terceiro que é a falta de matéria prima.

Todas as empresas estão su-jeitas a ver um decréscimo no seu capital financeiro, mesmo as finan-ceiramente sólidas podem chegar a uma situação de falta de liquidez. E obviamente as PME que es-tão expostas ao mercado, sem falar nas microempresas ou nas empresas que vivem do seu rendimento diário, que se encontram numa situação critica. Com isto, muitas empre-sas vêm a sua sobrevivência em risco, o que levará a en-cerramentos, e por sua vez ao aumento do desemprego.

GR: Que mudanças antecipa no futuro próximo?JMa: As empresas terão de ter em conta que o consumi-

dor passará a ter um maior cuidado com aquilo que com-pra e consome, que vai haver uma mudança drástica das estratégias de comunicação e, obviamente, a “guerra das vendas”, ou seja, quando voltarmos à normalidade social todos vão querer vender e o consumidor estará demasia-do debilitado, seja financeiramente seja emocionalmente para se preocupar com compras de segunda necessidade, pelo que irá procurar o mais barato.

Também acredito que as pessoas terão uma maior cons-ciência do que os rodeia e do seu bem-estar individual, as-sim como uma maior preocupação pelo ambiente. E com esta fase pela qual passamos, sem sobra de dúvida que o consumo digital está a ter uma mudança rápida, que se manterá no futuro.

José Miguel Almeida Presidente da Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba

e Alvito

JR: Não tenho uma visão global sobre as medidas do Governo e seus efeitos na agricultura da re-gião.

GR: Que repercussões esta crise pode ter a curto/médio prazo?

JR: Uso o mesmo adjectivo da respos-ta 1, no curto e médio prazo.

GR: Que mudanças antecipa no futuro próximo?JR: As mudanças são tão imprevisíveis como o desejadís-

simo controle do agente (novo coronavírus).Jorge Reis - Quinta de Reis

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novo projecto deve arrancar nos próximos meses

Grupo de produtores da região do Dão quer abrir loja em ViseuNuma altura de grandes mudanças, há também novas ideias e projectos em

marcha. É o caso de um grupo de produtores da região do Dão que quer avançar com a abertura de uma loja física em Viseu, com o objectivo de vender os seus produtos diretamente ao consumidor.

O projeto, que está em fase de arranque, terá também outras vertentes e junta, para já, produtores de vinho e queijo, mas está aberto a que outros se juntem à iniciativa. O objectivo é oferecer ao consumidor final uma diversidade variada de produtos de qualidade.

Fonte ligada ao projecto adiantou à Gazeta Rural que, para já, “o segredo é a alma do negócio”, uma vez que “estão a ser definidos os princípios que vão juntar os promotores”, desde o objeto social até à forma de gestão.

Contudo, os objectivos estão bem definidos e passam pela “venda direta ao consumidor, que assim passa a ter acesso a produtos de qualidade a preços mais convenientes”. Um dos aspectos que reputam de “muito importante” é a qualidade dos produtos, bem como forma como são conservados até à sua entrega ao consumidor. “Vamos ter vinhos acessíveis, organolepticamente corretos, assim como topos de gama”, garantem os promotores. Um produ-tor de queijo ‘Serra da Estrela’ também aderiu à iniciativa.

O projecto contempla ainda outras vertentes, como a criação de uma loja online, dinâmica e com informação detalhada, para os produtores tão im-portante como a loja física. Os promotores pretendem praticar, por exem-plo, preços variáveis em função da quantidade adquirida de um mesmo produto e programas de fidelização. Outra aposta será a organização de eventos, que não ficarão apenas por provas dos produtos dos associados.

Para já o objectivo imediato é a organização funcional e a abertura do espaço de venda, mas a ideia é, futuramente, a abertura de lojas noutras localidades, quer por administração directa, quer por franchising.

A mensagem é “aproximar produtores e consumidores”, permitindo “aos primeiros ter a rentabilidade necessária para produzir cada vez com mais qualidade e aos segundos melhores produtos a bons preços, tudo num só espaço, com os mesmos funcionários e a otimização de recursos”. Afinal, “porque permitimos que produtores vivam com difi-culdades dando a intermediários a maior fatia do negócio?”, questio-nam os promotores.

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A Adega de Borba está a comemora 65 anos. Foi a 24 de Abril de 1955 que um grupo de viticultores se reuniu pela primeira vez

com a intenção de fundar uma cooperativa na região. Seis dias depois tomava posse a primeira direcção da Adega Cooperativa de Borba.

Após uma época em que só o grande valor das castas regionais e a excelência das condições naturais permitiam que a produção de vinho no Alentejo se mantivesse, os anos oitenta, do século passado, mostraram todo o potencial da região para a produção de vinhos, avaliado e confirmado pelo consumidor.

Seis décadas depois a Adega de Borba tem cerca de 270 asso-ciados e produz 1,2 milhões de caixas de 9 litros, sendo um dos maiores produtores do seu sector. Os seus vinhos provêm de 2 300 hectares de vinha, distribuídos por 70% de castas tintas e 30% de castas brancas.

Em entrevista à Gazeta Rural, o director geral da Adega faz um balanço positivos dos 65 anos da Adega, que “cumpre a mis-são e os objetivos para que foi criada”. Delfim Costa diz que a cooperativa “cresceu, ganhou reputação no mercado, lançou e consolidou um conjunto de marcas de vinho de qualidade com notoriedade e excelente aceitação”.

Gazeta Rural (GR): Que balanço faz dos 65 anos da adega?Delfim Costa (DC): O balanço é inegavelmente positivo, pois

passados 65 anos constata-se que a Adega de Borba cumpriu a missão e os objetivos que levaram à sua criação: substituir--se aos intermediários que não valorizavam devidamente a produção vinícola Regional.

A Adega de Borba cresceu, ganhou uma boa reputação no mercado, lançou e consolidou um conjunto de marcas de vinho de qualidade com notoriedade e excelente aceitação

e, desta forma, mantém a estabilidade e sustenta-bilidade dos 270 produtores associados da Adega.

GR: Um dos segredos para o sucesso da adega foi ter entendido, no tempo certo, a importância da profissionalização dos diferentes sectores?

Dc: Acreditamos que sim, foi um dos pilares im-portantes e, por isso mesmo, vamos continuar a aprofundar essa linha estratégica: profissionalizar os setores e valorizar os recursos humanos da empresa.

GR: com cerca de 270 produtores, a adega de Bor-ba é das maiores a nível nacional. O segredo passa pelo acompanhamento de proximidade e pela retri-buição justa do valor das uvas?

Dc: Procuramos acompanhar de muito perto os tra-balhos dos nossos sócios, conhecemos detalhadamente o potencial de todas as parcelas de vinha que produzem para a Adega. Isso permite-nos tentar melhorar perma-nentemente a produção e planear correta e atempada-mente as vindimas, e os vinhos que daí vão resultar.

Depois temos uma política de preços das uvas assente em inúmeros parâmetros de avaliação, orientados para fa-vorecer a produção de qualidade. Tentamos pagar as uvas a um preço remunerador e, ultimamente, temos consegui-do pagar aos sócios mais cedo do que está definido. Nos últimos anos, a vindima começa com a anterior totalmente paga. Isso é importante para o nosso sócio.

GR: a adega de Borba tem algumas referências que são

icónicas, como a do rotulo de cortiça. Há marcas que po-dem ‘sustentar’ um produtor ou o mercado, hoje, exige que este tenha que ter diferente vinhos para mercados diversos?

Dc: Há hoje uma enorme oferta de marcas e vinhos, das mais diversas origens. Acreditamos que a solução para esta injustificada proliferação de novas marcas é contrapor mar-cas fortes, com história e com notoriedade, pois acredita-mos que o consumidor vê essas marcas como uma aposta segura.

Por outro lado, e voltando à missão que a Adega recebeu na sua fundação, outro dos nossos pilares estratégicos é a “promoção e valorização dos vinhos produzidos no terroir de Borba” e isso é um fator de diferenciação e de qualidade, que passados 65 anos, temos a certeza que o consumidor aprecia.

Estes dois fatores têm norteado a nossa política de marcas e levam a que privilegiemos marcas como o Adega de Borba, o Rótulo de Cortiça, o Convento da Vila, o Montes Claros e, mais recentemente, o Quintas de Borba.

GR: a adega abriu recentemente um restaurante. O eno-turismo e a enogastronomia são cada vez mais importan-tes para os produtores?

Dc: Acreditamos que o enoturismo e a enogastronomia começaram como uma vertente do marketing de vinhos, uma forte ferramenta de promoção, mas que rapidamente se tornaram negócios em si mesmo. Para a Adega de Borba, as duas vertentes continuam a ser importantes: dar a conhe-cer as nossas marcas e vinhos, associar a estes vinhos uma Região com uma história, promover a gastronomia regional e a forma perfeita como se conjuga com os nossos vinhos.

Somos hoje com certeza o principal polo de atração de visitantes a Borba, pois recebemos alguns milhares de visi-tas anuais na Adega, em visitas agendadas a pagas, o que mostra o interesse e a intencionalidade. Esta crise que o CO-VID-19 provocou, suspendeu tudo isto, mas queremos acre-ditar que é uma suspensão apenas temporária.

Delfim Costa, Director Geral, à Gazeta Rural

Adega de Borba comemora 65 anos e “cumpre a missão e objetivos para que foi criada”

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«Consuma Local» é o nome da campanha que o Município de Macedo de Cavaleiros lançou, de incentivo ao consumo de

produtos agrícolas e de pecuária produzidos no concelho. Para o efei-to, está já a ser criada, uma base de dados com todos os produtores interessados em participar, e assim escoar os seus produtos. “Sabe-mos das dificuldades sentidas por muitos produtores nesta fase, ra-zão pela qual queremos servir de elo de ligação entre quem produz e quem pretende comprar, mas, neste momento, não pode sair de casa”, refere o presidente da autarquia, Benjamim Rodrigues.

Para facilitar este intercâmbio comercial entre produtor e consu-midor final, o autarca explica que a autarquia está a contactar os produtores do concelho “e a fazer um levantamento dos produtos que têm para venda”. Posteriormente “será criada uma base de dados com os contactos a divulgar na página da autarquia, nas nossas redes sociais, assim como pelos presidentes de junta de freguesia, de forma a facilitar a ponte com os produtores agríco-las e de pecuária”.

“Na nossa região estamos, naturalmente, a falar de produto-res que até aqui vendiam para pequenas superfícies comerciais ou mesmo para o consumidor final”, sustenta Benjamim Rodri-gues. Mesmo assim, frisa, “já se inscreveu cerca de uma dezena de produtores”.

Consciente da estrutura demográfica do setor primário no concelho, o autarca acrescenta que, “através do Gabinete de Empreendedorismo e Desenvolvimento Rural (EDRU), estão já a ser feitos contactos com as pessoas que vivem da terra e da criação de gado e que, como sabemos, não têm redes sociais nem usam a internet”.

Ainda de acordo com Benjamim Rodrigues, esta iniciati-va já começou a surtir efeitos. “Os técnicos do EDRU foram

A Câmara de Idanha-a-Nova decidiu adiar para 2021 os eventos da agenda munici-

pal deste ano, para mitigar os efeitos a curto e médio prazo da crise pandémica da Covid-19 na vida das famílias, das empresas e das instituições do concelho.

A medida foi aprovada por unanimidade em reunião de Câmara e está em linha com o esfor-ço nacional para dar resposta às necessidades ex-traordinárias do combate à epidemia de COVID-19. O objetivo é canalizar as verbas que estavam alo-cadas à generalidade dos eventos previstos até fi-nal de 2020, “para consagrar medidas robustas de forma a prevenir a infeção por coronavírus, conter a pandemia, ajudar a salvar vidas e ajustar as políti-cas municipais de desenvolvimento socioeconómico às necessidades mais imediatas do sector produtivo e empresarial, com vista a reforçar a sua capacidade de resistência às contingências atuais e alavancar a sua futura recuperação económica”, explica o presidente da Câmara de Idanha-a-Nova.

Numa fase em que ainda há uma grande incerteza sobre o real im-pacto da Covid-19, Armindo Jacinto sustenta que a autarquia “não he-sitará em fazer os investimentos necessários para proteger ao máximo a saúde da população, bem como reforçar os apoios sociais e criar me-canismos de apoio à liquidez das empresas e, mais tarde, de apoio ao relançamento da economia”.

Armindo Jacinto realça que “as medidas dirigidas ao tecido econó-mico pretendem complementar os apoios nacionais e comunitários que existem e venham a existir”. Alguns exemplos são a distribuição de equipamentos de proteção individual por lojas de bens essenciais, a prorrogação de prazos de pagamento e a campanha ‘Alimente quem o Alimenta’, destinada a apoiar os produtores locais no escoa-mento de produtos agroalimentares, muito em especial os frescos e os perecíveis.

A autarquia está ainda a preparar outras ações direcionadas às empresas e instituições do concelho, incluindo linhas de assistên-cia no acesso às medidas temporárias do Governo para apoiar o emprego e as empresas durante a pandemia. Ao mesmo tempo, estão já a ser planeadas ações de relançamento da economia após este período.

contactados por uma grande superfície do conce-lho que quer saber que produtos e quantidades os nossos produtores têm para venda, estando em cima da mesa a possibilidade de comprarem par-te desses produtos”, revela Benjamim Rodrigues, acrescentando que “é este espírito de entreajuda no território que pretendemos incentivar e que está na base do desafio lançado pela ministra da Agricul-tura e que serviu de inspiração para o lançamento do “Consuma Local”. Quem sabe se não será possível re-plicar esta iniciativa após o final de todas as restrições impostas por esta crise sanitária”.

Dos contactos estabelecidos até ao momento, o EDRU revela que os principais produtos disponíveis são os queijos, azeite e morangos. Do trabalho no terreno que irá ser feito nos próximos dias e semanas espera-se que seja igualmente possível acrescentar a criação de animais.

“Estou convicto de que esta iniciativa vai ser um su-cesso e que assim iremos evitar que muitos agricultores sejam obrigados a deitar fora o que produzem por não terem quem lhes compre os produtos”, admite Benjamim Rodrigues. “Os produtos locais têm muita qualidade e faz todo o sentido que compremos o que é nosso, até porque, assim, estamos a animar o nosso mercado interno e a enri-quecer a economia do concelho”, conclui.

“Consuma local” visa ajudar pequenos produtores

Macedo de Cavaleiros lança campanha de incentivo ao consumo de produtos do concelho

Para mitigar os efeitos a curto e médio prazo da crise

Idanha adia eventos para 2021 e canaliza apoios para famílias e economia

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A Ervital, sedeada em Mezio, no concelho de Castro Dai-re, tem-se destacado no mercado de produtos biológicos,

numa aposta na origem dos mesmos, vindos de “uma exploração no meio do nada”, como referiu Joaquim Morgado, administrador da empresa, em entrevista à Gazeta Rural.

Criada em 1997, “de um ‘acidente’”, a Ervital tornou-se numa referência, nacional e internacional, na produção biológica, pro-curando a originalidade e aproveitando as condições únicas que o Mezio oferece. “Para termos qualidade não precisamos de ter sofisticação tecnológica”, refere Joaquim Morgado, que defen-de a produção biológica “como forma de atingir a qualidade máxima dos produtos”.

GR: como nasceu a Ervital? Joaquim Morgado (JM): A empresa nasceu formalmente

em 1997, embora o seu processo de criação remetesse ao ano de 1991. A Ervital é uma empresa multifuncional, lide-rada por três sócios, desde a sua génese, e nasceu de um ‘acidente’.

A primeira atividade surgiu de um desafio de experimen-

website ou e-mailtodos os dias

tação que a empresa decidiu fazer com a espécie hortelã-pimenta (Mentha piperita). Os resultados não foram muito positivos, mas, à luz do pouco conheci-mento da altura, decidimos avançar com o projeto. Foi feita então a primeira instalação de um campo, que já teria um cliente destinado. No entanto, mais uma vez, o negócio não correu como planeado. Surgiu então a necessidade de comercializar o produto por outras vias, designadamente criando marca e embalagem próprias.

GR: A Ervital nasceu para inovar no cultivo das plan-tas aromáticas?

JM: Em 1997 não havida tradição de cultivo de plantas medicinais e aromáticas e, como tal, a Ervital foi pioneira no uso das plantas de uma forma completamente dispare, deixando para trás a rudimentar coleta na natureza. Esta tem muitas desvantagens, nomeadamente o contributo para a extinção das plantas, fatores externos que não per-mitem fazer um controlo da qualidade e com contaminação frequente. A forma de cultivo que a Ervital implantou veio,

de certa forma, mudar todo esse processo, embora não tivéssemos inventado nada fomos pioneiros neste setor de atividade.

GR: a qualidade e diferenciação dos produ-tos depende da região em que são produzidos?

JM: A empresa nasceu em Mezio, uma fregue-sia do concelho de Castro Daire, uma zona pobre e isolada mas com características únicas e não ex-ploradas. Numa zona rural, afastada de qualquer foco de poluição e de qualquer modo de produção que não seja biológico, a Ervital manteve-se assim ao longo dos anos. Uma exploração no meio do ‘nada’ dá-nos tudo, incluindo a segurança da qua-lidade dos nossos produtos.

GR: Que fatores contribuem para a qualidade dos produtos?

JM: Os campos destinados ao cultivo são fundamentalmente ao ar livre, embora também tenhamos algumas estufas. Apostamos com inovação num tipo de cultura, num modo de produção diferente dos já existentes, e na agricultura biológica.

Sempre fui agricultor e defendo a agricultura biológica como forma de atingir a qualidade máxima dos produtos.

A qualidade dos produtos Ervital é conseguida através de uma boa gestão dos vários recursos inerentes ao processo produtivo, nunca va-lorizando excessivamente a produtividade. Os produtos primam pela elevada intensidade de sabor e aroma e isso não é compatível com uma produção em massa.

GR: Fazem visitas guiadas às vossas instalações?JM: Temos uma zona de exploração com cerca de 10 hectares, em-

bora não esteja toda a ser explorada. Ninguém que visite as nossas instalações fica impressionado com a extensão das áreas ou com uma grande produção, mas ficam genuinamente impressionados com a simplicidade dos nossos processos que nos permitem obter

joaquim Morgado, em entrevista à Gazeta Rural

A Ervital “para ter qualidade não precisa de sofisticação tecnológica”

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uma qualidade de excelência. Para termos qualidade não precisamos de ter sofisticação tecnológica.

Fazemos também vários workshops, pelo menos uma vez por ano, com um carácter muito prático, e uma sala onde as pessoas possam assistir também a palestras, mas damos mais importância ao contacto com os produtos. A nível externo também temos parcerias com vá-rias entidades, que nos permitem fazer atividades também noutras instalações.

Estamos também envolvidos em vários projectos de I &D, tendo como parceiros instituições de ensino, centros de investigação e empresas de vários setores. A intenção é podermos participar em processos de partilha de informação e saberes de modo a potenciar o conhecimento e o melhor aproveitamento deste tipo de plantas.

GR: Onde se podem encontrar os produtos da Ervital? JM: Para além do nosso site, temos vários pontos de revenda

em todo o país, mas os produtos Ervital são encontrados com grande facilidade. Naturalmente que em centros urbanos possuí-mos mais pontos de revenda. Tentamos sempre que cada consu-midor tenha acesso aos nossos produtos, de qualidade, e tenha em mente uma decisão mais capaz e mais educada para optar pelos nossos produtos e por produtos biológicos no geral.

GR: como passam essa mensagem ao consumidor? JM: Nós recebemos frequentemente pessoas nas nossas

instalações e organizamos também workshops, precisamente para fazer esse processo educativo relativamente aos nossos produtos. Especialmente convidamos também quem tem os nossos produtos à venda, para conseguir passar uma infor-mação adequada.

GR: como estão no mercado nacional e internacional? JM: Estamos no mercado internacional, nomeadamente

em França. Somos ainda fornecedores de outros clientes, sem perder o nome de origem, tanto para o estrangeiro como a nível nacional. Mas ainda temos bastante para crescer a nível interno, ainda temos muito para explorar, porque apesar de sermos experientes nesta área, ainda somos uma empresa pequena.

GR: apostam mais na vertente medicinal e ali-mentar, mas estendem-se por outras áreas?

JM: Temos mais de uma centena de produtos no mercado. Somos tendencialmente curiosos e vamos desde a semente ao produto final. Fazemos o apro-veitamento das nossas próprias sementes, replicamos e produzimos plantas e temos a autorização por parte do Ministério da Agricultura como Viveiristas, assim como temos a certificação BIO por uma das Entidades Certificadoras.

O nosso mercado passa muito pelo uso medicinal e alimentar, no entanto, os nossos produtos tenden-cialmente começam a ser usados em outras áreas, por exemplo, na indústria têxtil.

GR: Já receberam uma distinção importante?JM: Sim. A Ervital foi reconhecida como a melhor em-

presa de Agricultura Biológica num concurso de âmbito nacional, o que foi uma surpresa. Por outro lado, temos conseguido prémios a nível internacional, em concursos de análise da qualidade alimentar, designadamente em Ingla-terra.

Candidaturas apresentadas pela Câmara de Tondela

Louça preta de Molelos e Festas das Cruzes nomeadas para as “7 Maravilhas de Portugal”

A louça preta de Molelos e a Festas das Cruzes foram nomeadas para as “7 Maravilhas de Portugal*”, tendo sido recentemente certificadas

com o selo oficial de nomeadas. O tema da edição deste ano do concurso é a Cultura Popular, tendo como grande objetivo a promoção do património cultural imaterial do país, nomeadamente o artesanato, as feiras e roma-rias, músicas e danças, e outras tradições populares.

Neste contexto, a Câmara de Tondela candidatou às 7 Maravilhas de Portugal, na categoria Procissões e Romarias, a Festa das Cruzes, que se realiza no Guardão, 40 dias após a Páscoa. Trata-se de uma celebração que acontece no Dia da Ascensão do Senhor e que tem como propósito a devoção e preces para proteção dos campos agrícolas.

As 4 ladainhas - a dos anfitriões (Freguesia do Guardão) e as forasteiras (Santiago de Besteiros, Castelões e Santa Eulália de Besteiros- refletem exatamente essas súplicas. Estas juntam-se, com as cruzes devidamente engalanadas e proporcionam o momento alto da festividade, o abraço das cruzes e dos pendões.

As referidas comemorações têm registo bibliográficos com mais de 300 anos, e realizam-se em todas as quintas-feiras da Ascensão, ano após ano, juntando as populações das Terras de Besteiros numa ma-nifestação de fé e, em simultâneo, associando festejos profanos de convívio e partilha dos célebres “farnéis”.

Já a candidatura da louça preta de Molelos, na categoria Artesana-to, foi promovida pela ADICES, em estreita colaboração com o Muni-cípio de Tondela. Esta candidatura tem na “bilha do segredo” a sua peça mais emblemática.

Depois destas duas nomeações, segue-se agora um período em que as candidaturas serão avaliadas por um grupo de especialistas, devidamente qualificados e independentes, sendo posteriormente votadas pelo público em geral.

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A empresa de produtos de derivados de resina de pinheiro Uni-ted Resins, instalada na Figueira da Foz, exporta praticamente

toda a sua produção para os mercados mais desenvolvidos da União Europeia.

Quase 100 por cento da sua produção destina-se aos cinco prin-cipais mercados da União Europeia - Alemanha, Benelux, Suécia, França, Itália, “que são os mais desenvolvidos industrialmente”, salienta à agência Lusa o diretor executivo e presidente Mendes Ferreira. Os dois por cento remanescentes são consumidos no mercado nacional em dois “pequenos clientes”, acrescenta o em-presário.

A laborar desde o final de 2010, num espaço com 12 hectares, é uma das poucas empresas químicas nacionais que sintetiza derivados da resina de pinheiro, comercializando um conjunto de produtos sob a marca registada Unik. “O nosso primeiro ano completo foi em 2011, portanto posso dizer que a United Re-sins não é uma filha da crise, mas foi gerada e nasceu num contexto absolutamente de crise a todos os níveis”, sublinhou Mendes Ferreira, engenheiro químico de formação.

Os derivados da resina produzidos pela empresa constituem a matéria-prima principal das tintas de impressão (livros, re-vistas, jornais), todo o tipo de adesivos, desde rotulagem a adesivos de termo-fusão, e colas de madeiras e sapatos, en-tre outras. Entre o portfólio de produtos, estão também as substâncias para as tintas de marcação de estradas e pavi-mentos, pastilhas elásticas e ceras depilatórias para mulher.

Em 2019, a empresa apresentou um volume de faturação de 34 milhões de euros, transformando 25 mil toneladas de resina, que atualmente é com-prada a 12 mil quilómetros de distância no Brasil e na Argentina, que nos últimos anos se tornaram grandes produtores.

“No primeiro ano de atividade faturámos 25 mi-lhões de euros. Em Portugal, não há muitos exemplos de empresas que comecem e faturem logo no primei-ro ano 25 milhões de euros, e se os valores da matéria--prima se mantivessem ao preço de 2011 estaríamos com um volume de negócios superior a 60 milhões de euros”, destaca Mendes Ferreira.

Nesse ano, explica o empresário, a matéria-prima atingiu um preço recorde de 3.500 dólares por tonelada. “Para se ter a noção da volatilidade, hoje estamos na casa dos 850 dólares, que é o preço, mais ou menos, de há 12 anos. Portanto, a volatilidade nesta matéria foi elevada, foi digamos, exagerada, e foi muito promovida pela carte-lização chinesa”, sublinha.

“Quando começámos a atividade importávamos exclusi-vamente da China, depois começámos a importar da Indo-nésia e passados 10 anos importamos quase exclusivamen-te do Brasil e da Argentina”, detalha Mendes Ferreira.

Além de estar “a 10 ou 12 mil quilómetros de distância, mudou-se do quadrante Este para Oeste, o que é uma coisa

extraordinária em termos de experiência, que ninguém per-cebe isto, como é que uma empresa, um nicho de mercado do qual pouco se fala, consegue ter este tipo de experiên-cia”, frisa.

Na década de 80 do século XX, Portugal foi o segundo maior produtor mundial de resina, com 150 mil toneladas, mas atualmente produz entre cinco a seis mil toneladas. “Tí-nhamos cerca de 15 mil pessoas direta e indiretamente na nossa floresta e passámos para cerca de 500/600 atualmen-te”, observa o diretor executivo da United Resins.

Para o empresário, a quebra da produção nacional a partir da década de 1980 deveu-se ao abandono da floresta por parte das pessoas, que procuraram trabalho na construção de grandes infraestruturas realizadas a partir da segunda metade dessa década, através dos fundos estruturais a que Portugal teve acesso.

Mendes Ferreira não tem dúvidas de que “toda essa in-jeção de fundos da União Europeia levou a que as pessoas fizessem uma passagem das atividades agrícolas e florestais para a construção e produção de infraestruturas, que desca-racterizou e despovoou completamente o interior e a área florestal”.

“Isso explica bem a mudança do tecido florestal a nível na-cional e a propagação do eucalipto, que continua a ter uma aplicação industrial de forma mais ou menos protegida ou estimulada pelas grandes papeleiras que fazem a sua utili-zação, o que não aconteceu na fileira do pinheiro”, realça.

A floresta de eucalipto “é desabitada, pois a presença hu-mana é muito reduzida, ao contrário da resinagem, que era uma atividade que obrigava a presença física e contínua das pessoas de pelo menos 10 meses por ano”.

A construção da United Resins, que emprega atualmente 60 trabalhadores [começou com 25], representou um inves-timento superior a 20 milhões de euros, tendo sido com-participada pelo Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), que considerou o projeto um “caso de estudo no Programa Operacional do Centro”.

empresa está instalada na Figueira da Foz

United Resins exporta derivados da resina para os principais mercados europeus

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Terão lugar entre os dias 3 e 27, em simultâneo

Festas da Flor e do Vinho da Madeira

terão lugar em Setembro

As datas da realização da Festa da Flor, marcada para Maio, e a do Vinho da Madeira, dois importantes cartazes do calendário da

animação do Governo Regional, foram reprogramadas e vão coincidir em Setembro, anunciou o executivo madeirense.

A informação veiculada pela secretaria regional de Turismo e Cultu-ra, através da direção do Turismo, informa que o Governo da Madeira “decidiu reajustar o calendário de Animação Turística 2020 em resul-tado da pandemia mundial da Covid-19”.

Destacando “todo o efeito que tem causado nos mercados emis-sores e no destino Madeira”, este departamento do executivo in-sular refere que “na realidade impediu que decorresse conforme programado”.

Sobre a Festa da Flor que estava programada para entre 30 de Abril e 25 de Maio, a secretaria regional sublinha ser uma “decisão sensata” o seu adiamento para o mês de Setembro. “Esta recalen-darização da Festa da Flor para o nono mês do ano fez com coinci-disse com a Festa do Vinho da Madeira, que decorre anualmente neste mês das vindimas”, realça.

Por esta razão, a secretaria regional de Turismo e Cultura da Madeira “decidiu realizar os dois eventos em Setembro, reorga-nizando toda a programação”, decorrendo entre os dias 03 e 27.

Os momentos altos destes cartazes, nomeadamente o cortejo da Festa da Flor, fica agendado para dia 6 de Setembro, enquan-to a Vindima ao vivo no Estreito de Câmara de Lobos deverá acontecer a 12 do mesmo mês.

O secretário regional de Turismo e Cultura, Eduardo Jesus, considera que “a junção do grande evento que constitui já a Festa da Flor, com a Festa do Vinho da Madeira, no mesmo mês, a título excecional e só para 2020, vai potenciar um mo-mento muito importante para a Região a nível turístico”.

Também considera que “vai permitir que seja o grande mo-mento de relançamento do destino Madeira junto dos mer-

A Câmara de Viseu anunciou o cancela-mento das festas das freguesias e mar-

chas populares de Santo António, assim como os cortejos de São João, com as seculares cava-lhadas de Vildemoinhos e de Teivas.

“Face à pandemia da covid-19, que nos obrigou ao isolamento social, e tendo em conta as previsões das autoridades de saúde, o Município de Viseu decidiu cancelar o cartaz ‘Festas & Marchas Populares’, programado para o mês de Junho”, adianta a autarquia, em comunicado.

O documento explica que “o município reconhece não estarem reunidas, no atual contexto, as condições para a preparação, organização e realização, quer das marchas populares, quer da festa das freguesias”. “Esta é uma de-cisão dolorosa, mas que deve ser assumida desde já”, refere o presidente da Câmara de Viseu, António Almeida Henriques.

No caso das Cavalhadas de Vildemoinhos e de Teivas, que integram o car-taz das “Festas & Marchas Populares”, também os seus promotores - res-ponsáveis pela organização dos cortejos - comunicaram o cancelamento de ambos os eventos. “Quero deixar uma palavra às organizações destas seculares tradições. Sei o quanto lhes custou optar pelo cancelamento, mas estamos perante uma crise sanitária, o que nos obriga, em primeira instância, a preservar a saúde pública”, destacou o autarca.

A autarquia deverá aprovar um aviso para a apresentação de propostas de reprogramação e reagendamento de projetos aprovados no ‘Viseu Cultura’ que tenham sido ou sejam afectados pela crise gerada pela pan-demia.

incluindo as seculares cavalhadas de Vildemoinhos e de Teivas

Câmara de Viseu cancelou

festas e marchas

populares

Últimas

cados de origem de turistas, quer nacionais, quer internacionais”. “O efeito pretendido decorre da ne-cessidade de impor ao mercado um grande aconte-cimento que constitua a viragem de uma página face à crise em que nos fez mergulhar a covid-19”, vinca o governante insular. Eduardo Jesus pretende que estes eventos “devolvam a confiança do mercado, o bem--estar e a alegria às pessoas, residentes ou visitantes”, sublinha no mesmo documento.

A secretaria regional também anunciou que fica can-celada a edição 2020 do Festival do Atlântico, que de-corre usualmente em Junho, em que em cada sábado do mês, na baía do Funchal, há espetáculos piromusicais, conjugando o fogo de artifício com a música. “A realida-de que ainda vivemos da pandemia da covid-19 não se coaduna com a característica do Festival”, pois a alegria que transmite “colide, em parte, com o quadro atual que vivemos, a exigir algum recato e consideração por quem sofre”, indica a secretaria.

O calendário de animação da Madeira ainda inclui até ao final do ano o Festival Colombo, na ilha do Porto Santo (23 a 27 Setembro), o Festival da Natureza (06 a 11 de Outubro) e as Festas do Fim do Ano (01 de Dezembro a 10 de Janeiro).

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opinião

Cientistas, ambientalistas, amantes da Natureza e cidadãos co-muns, todos comungam da ideia de que este período de grande

sofrimento e de sérios constrangimentos por que passamos, é tam-bém o tempo em que, nas últimas décadas, ar menos poluído respi-ramos.

Lemos e vemos nos Media, que os peixes voltaram aos canais de Veneza, que as aves mais arredias (e outros animais que nos temem) se aproximam das urbes (quase) desertas, que o ar que respiramos, dentro e fora das cidades é mais puro, permitindo-nos mesmo sen-tir o perfume das flores primaveris, impondo-se ao cheiro desa-gradável dos escapes dos automóveis. Tudo isto em resultado de uma brutal diminuição do tráfego aéreo e automóvel, bem como de alguma redução da atividade industrial.

A origem desta terrível doença tem sido explicada pela conta-minação de humanos por um vírus proveniente de morcegos e/ou pangolins que, na China, são utilizados pela medicina popu-lar, e até como alimento.

Aqui chegados, lembraria que, em resultado do nosso estatu-to de predadores nº1 do Planeta, temos, ao longo da História, sido castigados por vários vírus (Ébola, SARS, VIH), presentes (mas inócuos) em diferentes animais (morcegos, chimpanzés, etc.).

A nossa relação com a Natureza tem sido de total desrespei-to para com os seus equilíbrios e a sua lógica e, no sentido de reverter a situação, muitos ambientalistas e cientistas têm-se dedicado a demonstrar que é possível e desejável andar me-nos de avião ou de carro, sem daí resultar sensível mal-estar ou desconforto. Atentemos nos países, mais ricos do que nós, onde os cidadãos fazem as deslocações diárias para o

trabalho ou escola, a pé, de bicicleta, em transpor-te público ou partilhando o carro. Sabemos que muito poucos o fazem no nosso país. Os Municípios (com exceção do de Lisboa, e apenas nos últimos 3 anos), insistem em não infraestruturar as cidades com vias que permitam o uso seguro e quotidiano de bicicletas (normais ou elétricas). Têm multiplica-do ciclovias e passadiços vocacionados para o lazer. Viseu, com uma ecopista por todos elogiada, não avançou ainda no sentido da implementação de faixas cicláveis urbanas.

Podemos e devemos ter uma indústria mais limpa, apenas com uma eventual ligeira diminuição de lucros, investindo em tecnologias que permitem emissões muito reduzidas. Temos que nos consciencializar de que o processo de aquecimento global em que vivemos (e que dramaticamente afetará as futuras gerações) tem de ser mitigado já. As tempestades inusitadas, as secas e as inundações, a irrespirabilidade do ar nas grandes ur-bes e parques industriais, são sinais de que o Ambiente não está bem.

Finda a pandemia, resolvidas as inadiáveis urgências so-cioeconómicas, seremos capazes de avançar por novos ca-minhos de desenvolvimento que nos permitam diminuir as desigualdades sociais, e construir um Planeta mais limpo e seguro para os nossos filhos e netos?

Vítor Monteiro

Covid-19 e ambiente

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GazEta auto

Guidelines Esta foi a minha primeira experiência de ensaio com uma viatura

de 9 lugares. É certo que ensaiei outras viaturas com 7 lugares, mas esta tem subjacente uma ideia enraizada de que foi feita para tra-balhar e, em consequência, não tem as valências que encontramos num familiar.

Mas como o comprova o texto, tudo isso é errado. Saí do ensaio a querer passar mais tempo com a Toyota Proace.

Estética – Exterior e Interior Desenhar uma viatura de 9 lugares que sirva para utilização

em trabalho, mas também como viatura de passageiros, não é um exercício fácil. Exige-se em ambos os casos um desenho que proporcione espaço interior abundante e poucos obstáculos.

E foi isso mesmo que a Toyota fez. Criou uma estética que serve esse mesmo propósito, mantendo a linhagem da frente que identifica atualmente a marca, onde sobressaem atribu-tos como robustez e fluidez, com uma transição para a tra-seira que se faz com pequenos detalhes estilísticos de modo a criar harmonia no desenho e, na traseira, uma porta direita mas estilizada.

No interior desaparece por completo a ideia de se con-

duzir um furgão. É certo que alguns detalhes ainda não estão com a ergonomia dos mais recentes fa-miliares da marca, mas “caminham para lá”.

Os materiais utilizados são robustos e a qualida-de de construção é evidente. O tablier é de desenho tradicional sem grandes concessões ao design. Fun-cional será a palavra mais correta, mas com todos os ingredientes necessários para trabalho e lazer.

Materiais, user experience, interiorTodos os materiais são de plástico rijo, mas com qua-

lidade na sua montagem. A aposta na funcionalidade em prol da longevidade.

Com amplo espaço interior e dotado de bancos con-fortáveis (o do condutor com apoio de braço), somente o duplo banco dianteiro direito é mais restritivo pela sua posição mais vertical, algo que na versão de 8 lugares de-saparece pois são oito os bancos individuais.

De resto todos os acessos ao interior se realizam de modo fácil e simples

Em estrada O estereótipo criado provavelmente ain-

da vem da minha infância e foi com ele que entrei na Proace. Confortavelmente ins-talado, não esperava tanto conforto numa viatura, nem tão pouco uma insonorização tão cuidada.

Os primeiros kms foram feitos com caute-las redobradas pois o veículo é longo e são necessários cuidados redobrados em curva. Mas passados os primeiros kms e a aprendi-zagem e habituação necessária, a simplicidade de condução é efetiva, a entrada em curva faz--se de modo preciso para o que contribui uma direção que lê bem a estrada e aposta na pre-cisão.

Os bancos são confortáveis, mesmo após 700 kms de utilização e a PROACE fez um trajeto in-teressante. Desde Lisboa à Ericeira, em direção a Cantanhede, Bairrada, Figueira da Foz e Leiria e, no final, o cansaço existiu mas não adveio do mo-delo. Mesmo no mau piso é confortável, a caixa de velocidades é precisa e bem escalonada e dei por mim a acreditar que o motor não podia ser 1.5 a diesel com 120Cv, tal a disponibilidade do mesmo para o peso do conjunto.

Consumos e preçoNuma viatura com quase 2.000kg conseguir consu-

mos em estrada perto dos 6 litros aos 100kms é de-veras interessante. Podemos referir que o ensaio foi feito sem peso adicional (2 ocupantes ao invés dos 9 ocupantes e bagageira carregada). Certamente o fulgor aqui demonstrado será substancialmente menor, bem como os consumos irão aumentar.

Mas o que retive deste ensaio é que temos hoje viatu-ras deste segmento com um nível de evolução enorme, com uma qualidade de condução de bom nível, um chas-sis e suspensões preparados para qualquer piso e uma insonorização de qualidade.

Seja na versão ou longa (a do ensaio), na versão de 3, 8 ou 9 lugares (a do ensaio) o certo é que a avaliação foi bas-tante positiva. Na versão ensaiada o valor é de 39.000 €.

Toyota Proace L 1.5D

Por Jorge Farromba

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crónicas rurais

Já fazia semanas que andava por casa entre leituras acadê-micas e organização de notas de viagem. Um estranho vazio

havia-se instalado no meu cotidiano que nem mesmo o sol do verão chegava a preencher, quando minha esposa, fortuitamen-te, declarou: “preciso de férias!”. Talvez pensara ela em algum hotel de charme na costa algarvia; talvez almejara explorar uma rota gastronômica de queijos e vinhos pelo Douro; ou talvez quisera descobrir os Açores; o fato é que não perguntei! Apro-veitei a deixa para entusiasmadamente propor-lhe um outro programa: a festa da Aldeia do Alvão!

A festa da Aldeia já foi uma referência na região. Era comum massas se deslocarem para lá durante um fim de semana de agosto e desfrutar de um parêntese de partilha e intercâmbio em suas rotinas agrícolas.

Com o tempo, porém, a Aldeia foi murchando, sua popu-lação emigrou e os que ficaram perderam lentamente a ale-gria e mobilização conjunta para receber. A festa se extin-

guiu e caiu no esquecimento por quase duas décadas. A história me havia sido contada pela Dona do café

da Aldeia em minha última estada e confirmada pelo Pastor nas nossas caminhadas. Hoje, no entanto, disse--me o Pastor, uma nova dinâmica estava a formar-se com uma juventude bem-disposta que, entre outras iniciativas, resolveu reativar a festa e dar-lhe o brilho de outrora.

Dentre esses jovens, um informático agora criador de maronesas me havia particularmente tocado pelo mili-tantismo e engajamento na revitalização do mundo rural. Filho da terra, ele viveu anos no Porto até perceber que, longe da Aldeia, tornava-se pequeno.

Esse movimento de retorno dos filhos da terra não foi único à Aldeia e tem se repetido em muitas outras locali-dades por Trás-os-Montes afora. São eles informáticos, ad-ministradores, zootécnicos, etc., que concluíram que “nas

cidades a vida é mais pequena” que “no cimo do outeiro” e regressaram às casas, retomaram as terras familiares e insuflaram novo fôlego a povoados adormecidos.

A festa da Aldeia do Alvão estava em todas as bocas dos aldeãos. Esse ano se-ria sua reinauguração e todos pareciam comprometidos com seu êxito.

A programação que decorria durante um fim de semana se estruturava em tor-no de dois momentos fortes -o concurso do gado maronês, no sábado, e o concur-so das cabras bravias, no domingo-, pon-tuados por torneios de malhão, de sueca, ranchos folclóricos, arraiais... e, claro, mui-ta comida! O entusiasmo na Aldeia era tão genuíno e intenso que não pude evitar de ser contagiado: queria também comparecer à festa!

Esposa convencida pelo discurso (ou sim-plesmente resignada), viajamos até a Aldeia. Ao chegar, deparei-me com um retrato bem diferente daquele que tinha guardado. A Al-deia pulsava: janelas abertas e floridas, ruas to-madas por famílias e crianças a transbordar por todo lado, carros enfileirados ostentando matrí-culas diversas (belgas, francesas, luxemburgue-sas, suíças, etc.) e um bilinguismo ambiente. Não se conseguia mais dizer se a língua oficial da Al-deia era o português ou o francês (em todas suas declinações regionais).

O Café também estava metamorfoseado. Ponto central do torneio de sueca, o Café vibrava ao som de copos e interjeições, enquanto a Dona, bela e alegre, atendia e servia os clientes com o apoio da irmã e da filha. Não pude esconder a felicidade quando esta me reconheceu e recebeu-me com um sorriso.

Apresentei-lhe a minha esposa e ela à sua irmã e à sua filha. Pedimos um Beirão. Ao nosso lado da bar-ra, um casal, ele, português, ela, francesa, puxou a conversa e rapidamente simpatizamos. Ele, emigran-te português residente na França, estava lá para pas-sar agosto em sua terra natal. Fã de sueca, ele estava eletrizado pelo torneio.

Confesso que não entendo nada de sueca, mas mi-nha esposa, ao oposto, queria conhecer tudo do jogo e até considerou inscrever-se no torneio. É certo que os prêmios eram tentadores -cabras, leitões, galos e coe-lhos- porém um tanto inoportuno para levar ao nosso apartamento caso ela ganhasse. Despedimo-nos mo-mentaneamente do casal que viera a ser uma constante companhia durante o restante do fim de semana.

Nesse sábado, não tive a oportunidade de ver o Pastor que se encontrava no monte a pastorear. Conheci, porém, sua esposa. Muito simpática, ela estava a servir sandes

de maronesa enquanto o concurso do gado maronês decorria. Era um desfile de vacas ornamentadas e criadores orgulhosos perante juízes escrupulosos. As regras nem as diferentes modalidades me eram co-nhecidas e apenas admirava a beleza dos animais e as rivalidades entre criadores.

Foi no domingo que reencontrei o Pastor. Ocupado e entretido, ele estava a ajudar na descarga de animais participantes no concurso das cabras bravias. Ele mesmo concorria com meia-dúzia deles em diver-sas categorias -chibos, cabras reprodutoras, cabras isoladas, etc.- en-quanto sua esposa lhe havia substituído no monte. Festa ou concur-so, às cabras de seu rebanho pouco lhes importava e o imperativo era alimentarem-se.

Trocamos poucas palavras naquele momento, mas o convite nos foi feito para juntarmo-nos a ele e a família logo no jantar. O dia es-tava frio e o concurso de bravias parecia-me ainda mais enigmático do que o de maronesas: juízes zootécnicos passavam de cercado em cercado a avaliar cada animal com relação ao padrão da raça (aspecto geral, cabeça, tronco, membros e pelagem). Após deli-berações e as premiações das quais o Pastor também saiu conde-corado, dirigimo-nos à casa de seus pais. Não era a primeira vez que tinha a oportunidade de compartilhar com eles a mesa farta e a companhia alegre e desta vez não foi diferente: um ambien-te caloroso e acolhedor.

No caminho de volta à nossa casa, a saudade já me subia e só se dissipava na certeza de que um dia voltaria.

*Texto original Por: Júlio Sá Rego

Um dia no monte: meu querido mês de Agosto

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,Porque eu sou do tamanho do que vejoE não do tamanho da minha altura...

(Alberto Caeiro, 1925, poema VII)

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CONSUMA O QUE é PORTUGUêS!