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CV M Comissão de Valores Mobiliários -- Protegendo quem investe no futuro do Brosil PARECER/CVM/SJUIN° 009 - 29.01.82 REFERÊNCIA: MEMO/SEP/N° 03/82. INTERESSADA: SUPERINTENDÊNCIA DE RELAÇÕES COM EMPRESAS - SEP. ASSUNTO : PROCESSO CVM N" 81/7 527 PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO DE DECISÃO DA SEP. EMENTA: Alteração estatutária que importe em introdução nos estatutos sociais de autorização ou previsão para aumento do capital social sem guardar a proporção entre as espécies e/ou classes existentes, configura a hipótese prevista no artigo 136, I da Lei 6.404/76. Exige, portanto, g,uorum qualificado (art. 136, caput) e realização de assembléia especial de acionistas preferencialistas para o fim de ratificar a deliberação assemblear (art. 136, § l°), além de autorizar o exercício do direito de recesso pelo acionista dissidente, na forma estabelecida no artigo 137 daquele diploma legal. A companhia, cujas ações preferenciais tenham assegurado dividendo fixo ou mínimo calculado sobre o valor nominal, ao deliberar a extinção do valor nominal, deverá adaptar a cláusula estatutária referente àquele dividendo, estabelecendo a sua base de cálculo sobre o capital próprio das ações preferenciais, assegurado o rateio do dividendo assim apurado pelas ações preferenciais. A não adoção de tal procedimento importará em ai teração das vantagens patrimoniais asseguradas àquelas ações, enquadrável no inciso II do artigo 136 da Lei nO 6.404/76 para os efeitos capitulados no § deste artigo e no artigo 137 do mesmo diploma legal. Não obstante o disposto no artigo 17, § da Lei nO 6.404/76, a mera substituição da base de cálculo daquele di videndo por determinada quantia em cruzeiros, equivalente ao valor nominal na data de sua eliminação, não elide eventual prejuízo dos preferencialistas, vez que não considera os efeitos da incorporação de lucros ou reservas, realizada sem a emissão de novas ações como faculta o artigo 169 da Lei nO 6.404/76. É a CVM, nos termos do artigo 82, § c/c artigo 170, § da Lei nO 6.404/76, competente para subordinar a concessão Sede, Ruo Sele de Setembro,11l/26' 00 33' ondor - Cenlro - Rio de Joneiro - RJ - CEP 20159-900 - Brosil- Tel., 21 2120200 - Endereço Inlernet, httpJ/www.cvm.gov.br

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Page 1: CVM Comissão de Valores Mobiliários · convocação constasse menção a tal intençao, se tem uma hipótese de deliberação assemblear anulável." No mesmo sentido pronunciou-se

CVM Comissão de Valores Mobiliários--Protegendo quem investe no futuro do Brosil

PARECER/CVM/SJUIN° 009 - 29.01.82

REFERÊNCIA: MEMO/SEP/N° 03/82.INTERESSADA: SUPERINTENDÊNCIA DE RELAÇÕES COM EMPRESAS - SEP.ASSUNTO : PROCESSO CVM N" 81/7 527 PEDIDO DERECONSIDERAÇÃO DE DECISÃO DA SEP.

EMENTA: Alteração estatutária que importe em introduçãonos estatutos sociais de autorização ou previsão para aumentodo capital social sem guardar a proporção entre as espéciese/ou classes existentes, configura a hipótese prevista noartigo 136, I da Lei n° 6.404/76. Exige, portanto, g,uorumqualificado (art. 136, caput) e realização de assembléiaespecial de acionistas preferencialistas para o fim deratificar a deliberação assemblear (art. 136, § l°), além deautorizar o exercício do direito de recesso pelo acionistadissidente, na forma estabelecida no artigo 137 daquelediploma legal.

A companhia, cujas ações preferenciais tenham asseguradodividendo fixo ou mínimo calculado sobre o valor nominal, aodeliberar a extinção do valor nominal, deverá adaptar acláusula estatutária referente àquele dividendo,estabelecendo a sua base de cálculo sobre o capital própriodas ações preferenciais, assegurado o rateio do dividendoassim apurado pelas ações preferenciais.

A não adoção de tal procedimento importará em ai teraçãodas vantagens patrimoniais asseguradas àquelas ações,enquadrável no inciso II do artigo 136 da Lei nO 6.404/76para os efeitos capitulados no § l° deste artigo e no artigo137 do mesmo diploma legal.

Não obstante o disposto no artigo 17, § 3 ° da Lei nO6.404/76, a mera substituição da base de cálculo daqueledividendo por determinada quantia em cruzeiros, equivalenteao valor nominal na data de sua eliminação, não elideeventual prejuízo dos preferencialistas, vez que nãoconsidera os efeitos da incorporação de lucros ou reservas,realizada sem a emissão de novas ações como faculta o artigo169 da Lei nO 6.404/76.

É a CVM, nos termos do artigo 82, § 2° c/c artigo 170, §

6° da Lei nO 6.404/76, competente para subordinar a concessão

Sede, Ruo Sele de Setembro,11l/26' 00 33' ondor - Cenlro - Rio de Joneiro - RJ - CEP 20159-900 - Brosil- Tel., 21 2120200 - Endereço Inlernet, httpJ/www.cvm.gov.br

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Protegendo quem investe no futuro do Brasil

do registro de emissão pública ao cumprimento pela companhiaemissora da exigência legal de realizar assembléia especialde preferencialistas, para o fim de ratificar normaestatutária ineficaz.

CONSULTA:

Com o fim de instruir as informações a serem prestadas aoColegiado desta Comissão, solicita-nos a SEP exame e parecersobre a questão, de natureza eminentemente jurídica,suscitada pela SANO S/A - Indústria e Comércio no pedido dereconsideração de decisão daquela Superintendência, queexigiu da companhia a convocação de assembléia especial deacionistas preferenciais, para ratificar as alterações deseus estatutos sociais deliberadas nas AGE' s de 15.12.77 e29.01.80.

OS FATOS:

Por ocasião de Registro de Emissão Pública de Açõesrequeric!o em 17.09.81, a SEP, após analisar os estatutossociais da companhia, exigiu, como condição para a concessãodo registro, fossem as alterações estatutárias do artigo 3°,§§ 2° e 3°, letra a, introduzidas, respectivamente, pelas-AGE's de 15.12.77 e de 29.01.80, submetidas à apreciação deassembléia especial de preferencialistas, conforme previstono § l° do artigo 136 da Lei nO 6.404/76.

A companhia acatoude Carta Compromisso,evitar desnecessáriosolicitado, medianteformulada.

a exigência da SEP, o que fez atravésde 28.10.81, com o que se objetivavaatraso na concessão do registro

o prévio atendimento da exigência

As alterações estatutárias em questão dizem respeito àintrodução no estatuto social da companhia de:

(1) norma autorizando o aumentoações, inclusive preferenciais, semdemais, na conformidade do i tem I6.404/76;

de classes existentesguardar proporção com

do artigo 136 da Lei

deasnO

(2) . alteração da base de cálculo do dividendo mínimoassegur~do às ações preferenciais, em razão de deliberaçãoassemblear em que se eliminou o valor nominal das ações.

A primeira alteração estatutária acima referida ocorreuem 15.12.77, data em que a companhia adaptou seus estatutossociais à nova lei das sociedades por ações. A segunda foiintroduzida por deliberação assemblear de 29.01.80, em

Sede, Rua Sete de 5etembro,111/26' ao 33' andar - (entro - Ria de Janeiro - RJ - (EP 20159-900 - Brosil- TeL 21 2120200 - Endereça Internet http.//www.cvm.gav.br

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decorrência da extinção do valor nominal deliberada na AGE de26.10.79.

Alega, agora, a companhia ter assumido aquele compromisso"por pura coação", vez que discordava e discorda da exigênciadessa Comissão, que qualifica de não eqüitativa, unilateral eprejudicial, a curto e médio prazo, a todos os tipos deações, inclusive preferenciais, cuj a medida da CVM pretendebeneficiar.

Argumenta a companhia, resumidamente, o seguinte:

(a) a obrigação de realização de assembléia especial depreferencialistas, na hipótese prevista no artigo 136, I,decorre de efetiva deliberação assemblear que autorize aemissão de classe de ações existentes sem guardar proporçãocom as demais; e não da simples inclusão nos estatutosalterando-os - de autorização neste sentido.

(b) A reforma estatutária que modificou a redação doartigo 30, § 30, letra ~ dos estatutos não significa qualquerlesão a direi tos dos acionistas preferenciais ou alteraçãodas vantagens anteriormente asseguradas;

(c) A estabilidade da ordem jurídico-económica impede àCVM de, a cada instante, rever assuntos que já sofreram exameanteriormente, como, no caso em tela, os estatutos jáaprovados pela CVM em outra ocasião.

Estes os fatospronunciamento.

PARECER:

sobre os •quals se requer o nosso

Prel~inarmente, cumpre salientar que, nos termos daDeliberação CVM n° 07, de 25.10.79, item I, o prazo para ainterposição de recurso para o Colegiado das decisõesproferidas pelos Superintendentes é de 30 dias, contados dasua ciência pelo interessado.

Estando a "carta compromisso" datada de 28.10.81 - datada concessão do registro - é de considerar-se intempestivo opedido de reconsideração da Companhia, datado de 08.12.81,protocolado nessa Comissão em 11.12.81 e reiterado através dacarta datada de 05.02.82.

Não obstante a intempestividade do recurso, analisaremoso seu mérito, dividindo-a em dois tópicos básicos:

a) 'análiseestatutárias em

da legalidadequestão; e

e eficácia das alterações

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b)SEP.

análise da legitimidade da• A •

eXlgencla formulada pela

1. Lega1idade e eficácia das a1terações estatutárias.

1.1 A autorização estatutária para aumento de capitalcom quebra de proporcionalidade entre as ações existentes.

A questãoprecisar qualde aprovaçãoespecial:

suscitada, neste particular, circunscreve-se ema deliberação assemblear cuja eficácia dependepelos acionistas preferenciais em assembléia

- se aquela que inclui nos estatutos sociais - alterando-os previsão ou autorização para aumento de capital semguardar a proporcionalidade entre as classes existentes; OU

- se aquela, eventual e futura, que venha a efetivamentedeliberar um aumento de capital nessas condições.

A questão tem sido reiteradamente analisada por essaComissão, sendo de se salientar as manifestações anterioresdessa SJU em seus Pareceres nas 21/79, 47/79, 49/80 e 142/80.

A Ementa do Parecer/CVM/SJU/N° 21/79, por exemplo, écristalina no reconhecimento do direito de recesso doacionista que dissidir de deliberação assemblear que alteraos estatutos sociais, para o fim de nele incluir previsão ouautorização para aumento de capital sem respeitar aproporcionalidade das classes de ações existentes. lnverbis:

"A alteração estatutária consistente nainclusão de dispositivo claro e inequivoco quepreveja ou autorize a emissão de açõespreferenciais sem guardar proporção com as demaisclasses existentes dá ao acionista dissidente da AGque a promoveu o direi to de retirada estabelecidono art. 137 da Lei na 6.404/76.

No caso de a incl usão de tal disposi ti voter sido efetivada por ocasião da AG que adaptou osesta tutos à nova lei, e sem que do texto de suaconvocação constasse menção a tal intençao, se temuma hipótese de deliberação assemblear anulável."

No mesmo sentido pronunciou-se o Tribunal de Justiça doEstado do Rio Grande do Sul na Apelação Civel na 37.797 - laCâmara Cível ao apreciar a legitimidade do exercício dedireito de recesso por acionistas da Companhia Telefônica

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Melhoramentos e Resistência,seguintes termos:

lavrando a sua Ementa nos

"Al teração esta tutária que importa empermissão de aumento do número de açõespreferenciais desproporcional ao de ordinárias,exige guorum qualificado e autoriza o acionistadivergente a retirar-se. Embora a diferença entreas ações preferenciais e ordinárias seja deespécie, e não de classe, a lei não pode servisualizada literalmente, porque a desproporção noaumento de ambas afeta de tal forma o equilíbrio darelação societária, que, numa interpretaçãofinalística, só se pode entender que ela estejaabrangida pela necessidade de aprovação em votaçãoqualificada, permitindo o reembolso do valor desuas ações à minoria dissidente. Inteligência dosartigos 136, I, e 137 "caput" e seu parágrafo 1 ° ,da Lei nO 6.404, de 15.12.76, dentro de umaperspectiva teleológica.

Sentença confirmada. Apelação desprovida."

Anexamos ao presente a íntegra do referido acórdão, porabsolutamente cabível.

Aplicam-se ao caso em exame tanto o citado acórdão quantoo referido parecer dessa SJU. Isto porque a previsãoestatutária em questão, de acordo com o disposto no inciso Ido artigo 136 da Lei n° 6.404/76, tem por finalidade excluir,!!!! definitivo, não só a necessidade de guorum qualificado(art. 136, caput) e a possíbilidade do exercício do direitode recesso capitulado no artigo 137, mas também a necessidadede realização de assembléia especial de preferencialistas,para ratificar a deliberação assemblear que a introduziu nosestatutos sociais (art. 136, § 1°).

Esteportanto,em exame.

conjunto de direitos e obrigações consubstancia,as conseqüências imediatas da alteração estatutária

Ressalte-se, a propósito, as considerações tecidas, emseu voto na mencionada Apelação Cível, pelo Sr. Presidente doTribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Des. CristianoGraeff Junior:

"Realmente, esta disposição, como acentuouo eminente Relator, não está criando açõespreferenciais, nem aumentando o capital com ações

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preferenciais, mas abre a oportunidade de isso serfei to independentemente de qualquer assembléia. Eo que é mais grave, tranca a possibil.idade de, ~futuro, baver 9Ual.quer recl.amação .! esse respei to~ consta dos estatutos ~ assim estariacumprido ~ disposto !!! parte final. do art. 1.36, I,da Lei nO 6.404/76 " (Grifou-se).

Ora, no caso em tela, a previsão estatutária autorizatambém a realização de aumento de capital com emissão de,apenas, aç6es preferenciais, o que, sem ddvida, afeta osinteresses da comunidade acionária formada pelos titulares deações ordinárias.

Por conseguinte, imp6e-se a realizaçãoespecial determinada pelo § 1° do artigo 136,ter qualquer eficácia a alteração estatutária

da assembléiasob pena de nãoem questão.

Por estasquando afirma,

razões, concordamosem relação ao caso em

inteiramentetela, que:

com a GER

"Na forma definida pela lei, quando forpromovido aumento com quebra de proporcionalidadeentre classes (ou espécies) existentes, não haveránecessidade de Assembléia Especial dos acionistasinteressados caso exista previsão estatutária.Pelo que é absolutamente necessário que, para oatendimento àquele dispositivo legal, a introduçãode tal autorização nos Estatutos Sociais sejavalidado pela aprovação dos referidos acionistas."(Memo/GER/no 075/81).

A realização de assembléia especial, no caso, constituimedida de proteção aos acionistas preferencial istasrelativamente a decisão tomada pelos acionistas votantes queconfigura hipótese de situação de permanente prejuízo.

1. 2.preferencial

A alteração• •mlnlmo.

da base de cálculo do dividendo

A companhia, ao adaptar os seus estatutos sociais à novalei (AGE de 15.12.77), assegurou aos acionistas preferenciais"o dirl?ito de perceber anualmente o dividendo mínimo de 6%(seis por cento) sobre ~ val.or nominal. de Cr$ 1,00 (humcruzeiro) por ação, nunca inferior ao que for atribuído àsações ordinárias;" (art. 3°, § 3°, letra a) (Grifou-se).-

A AGE de 26.10.79 deliberou a extinção do valor nominaldas aç6es.

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A CVM, posteriormente, teria chamado a atenção dacompanhia para a necessidade de alterar a redação do § 3 ° ,letra !: do citado artigo 3 0 do Estatuto Social, emdecorrência da eliminação do valor nominal.

A companhia assim procedeu e, na AGE de 29.01.80, alteroua redação daquele dispositivo estatutário, que passou a ser aseguinte:

"O direito de perceber anualmente odividendo mínimo de 6% (seis por cento) sobre E!va~or referência de Cr$ I,OO (hum cruzeiro) poração, nunca inferior ao que for atribuído às açõesordinárias." (Grifou-se).

Alega a companhia não ter havido qualquer modificação nabase de cálculo do dividendo minimo prioritário assegurado àsações preferenciais, porque, já nos estatutos aprovados pelaAGE de 15.12.77, o valor referência era de Cr$ 1,00.

Ao contrário, entende a SEP que a base de cálculo dodividendo mínimo, conforme a redação aprovada pela AGE de15.12.77, era o valor nominal das ações que, naquela data erade Cr$ 1,00, mas que em 29.10.79, quando foi eliminado, serianecessariamente maior em razão da sistemática de correçãomonetária do capital social capitulada no artigo 167 da Leina 6.404/76.

Com efeito, a disciplina legal da correção monetáriaanual do capital social importa, para as companhias abertas,em necessária alteração do valor nominal de suas ações, emconformidade com o disposto no § 10 do citado artigo 167.

Assim sendo, poder-se-ia, num primeiro momento, entenderque a adaptação do dispositivo estatutário em exame ao fatosuperveniente da extinção do valor nominal requereria afixação do dividendo mínimo prioritário com base num valorreferência em cruzeiros igual ao do valor nominal ~ momentode sua extinção. Note-se, a propósito, permitir a Lei na6.404/76, em seu artigo 17, § 3 0 , a fixação do dividendomínimo prioritário em determinada importância em dinheiro,obrigando, ademais, a sua correção monetária anual pela AGO.

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Contudo, tal procedimento além de não retratarexatamente aquele adotado pela companhia ao contrário doque parece à primeira vista, significa alteração daspreferências ou vantagens para os efeitos do artigo 136, II,e § 1°, do artigo 137 da Lei nO 6.404/76. Isto porque nãoleva em consideração os efeitos de uma futura incorporação aocapital de lucros ou reservas sem emissão de novas ações,como faculta o artigo 169, da Lei n° 6.404/76, acarretando,ao final, inegável prejuízo aos titulares daquelas ações.

Neste sentido, trazemos as palavras do entãoSuperintendente Jurídico desta Comissão, Pedro HenriqueTeixeira, em conferência proferida na ABRASCA, São Paulo, em10.10.79, sobre ações sem VALOR NOMINAL, especificamente naparte que trata da eliminação do valor nominal em confrontocom os dividendos fixos ou mínimos de ações preferenciaiscalculados sobre seu valor nominal. ln verbis:-

"Para a eliminação do valor nominal detais ações, sem daí advir qualquer prejuízo aosacionistas, muitos têm entendido que bastaria, nocaso, converter-se o dividendo em cruzeiros eestatutariamente estipular que cada ação, já semvalor nominal, daria direito ao dividendo emcruzeiros, que estaria resolvida a questão. Alegamque não haveria prejuízo ao acionista porque taldividendo seria corrigido monetariamente todo ano,quando o capital também o fosse. Aliás, é o quedispõe a lei quando trata dos dividendosestipulados em dinheiro. Assim, não haveria que sefalar em recesso, vez que nenhum prejuízo teriaadvindo para os acionistas preferenciais. Esteprocedimento, porém, não está correto. E os queassim agirem, ao contrário, estarão gerando um casode recesso.

Em relação a esta problemática, a primeiracoisa que tem que ser esclarecida é onde ocorre oprejuízo aos acionistas preferenciais, se adotado oprocedimento que alguns preconizam. Ora, oprejuízo surge quando do aumento do capital atravésda incorporação de reservas. De fato, inexistindo

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valor nominal das ações, não há porque sedistribuírem novas ações, o que seria ilógico,ainda que possível em tese. Não se distribuindonovas ações, aqueles acionistas preferenciais quetiverem seus dividendos fixados em quantia emcruzeiros por ação, deixarão de receber novas açõesque lhe garantiriam novos dividendos. Aqui oprejuízo e aqui o mencionado fato gerador elegitimador do direito de recesso.

outro.o procedimento correto, ao contrário,

,e

Tomemos o exemplo de uma companhia quetenha um capi tal de Cr$ 1.000,00 dividido em 1.000ações com valor nominal de Cr$ 1,00, sendo 500ordinárias e 500 preferenciais, estas com umdi videndo de 10% sobre seu valor nominal, isto é,de dez centavos por ação.

Extinto o valor nominal de todas as ações,permanece a distinção entre o capital próprio dasações ordinárias (i.e. Cr$ 500,00) e o capital dasações preferenciais (Cr$ 500,00). O dividendo dasações preferenciais, a fim de que não se gerequalquer prejuízo, deve ser calculado na base de10%, como anteriormente, mas sobre o valor docapital próprio às ações preferenciais, o quecorresponde a um dividendo global de Cr$ 50,00, aser rateado entre as 500 ações na mesma taxa de dezcentavos por ação preferencial.

Este será o procedimento correto, nãoadvindo qualquer prejuízo aos titulares das açõese, conseqüentemente, não gerando qualquerfundamento para direitos de dissidência .

Quanto ao dividendo ser fixo ou mínimo, éfácil de ver que qualquer das hipóteses em nadaalterará a conclusão.

De qualquer modo, julgo deprático a exemplificação de umaestatutária que explicite o procedimentocomo correto.

interessecláusula

denunciado

Afiguremos o exemplo de uma companhia quepossua em seus estatutos a seguinte cláusula

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. disciplinadorapreferenciais:

dos dividendos de suas açoes

dividendocalculado

"As ações preferenciais têm direi toanual mínimo, não cumulativo, de

sobre seu valor nominal ... "

a um10%,

Eliminado o valor nominal de tais ações, eadotado o procedimento por nós preconizado comocorreto, esta seria uma formulação exemplificativada cláusula substitutiva da anterior:

"As ações preferenciais têm direito a umdividendo anual mínimo, não cumulativo, de 10%sobre o capital próprio a essa espécie de ações,dividendo a ser entre elas rateado igualmente."

Emde mínimo,esta tutáriaajustado.

se tratando de dividendoobviamente o textoacima exemplificada

fixo, ao invésda cláusuladeverá ser

Observe-se, porém, que subjacente àna tureza de qualquer fórmula esta tutária, como aacima exemplificada, estará sempre presente aqueleprincípio preliminarmente por nós enunciado que: ~e~iminação do va~or nomina~ das ações do capita~ de"ma companhia não ~orta ~ desaparecimento dadivisão do capita~ socia~ ~ ações ordinárias ~

;preferenciais. Bem conscientizado este princípio,como já nos referimos, fácil se torna solucionar os"problemas" advindos da eliminação do valor nominaldos ações."

A lição acima transcrita foi assimilada pelas companhiasabertas, tendo aquelas que extinguiram o valor nominal desuas ações - conforme informação da SEP - mantido inalterada

a base de cálculo do dividendo mínimo ou fixo, calculando-osobre o valor do capital social representado pela classe ouespécie de ação correspondente.

Aliá.s, igual entendimento manifestou a Consul toriaJurídica da Secretaria de Planejamento, quando da análise dasconseqüências que adviriam da extinção do valor nominal das

•ações de emissão da PETROBRAS, que, posteriormente, ensej ousolicitação de parecer a essa SJU por parte da ProcuradoriaGeral da Fazenda.

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Em resposta à consulta formulada, foi elaborado o ParecerCVM/SJU/N° 074/80, que, mais uma vez, confirmou oentendimento consubstanciado na conferência acima mencionada.Diz a Ementa do referido parecer:

"Não altera vantagem patrimonial de ações. preferenciais, nem dá direito de retirada a

dissidente, a simples extinção do valor nominal,desde que adaptados os estatutos sociais dacompanhia de forma a integrar à base de cálculo dosdividendos respectivos, futuras incorporações delucros ou reservas. Justifica-se a manutenção dadeliberação presidencial no sentido da extinção dovalor nominal das ações da PETROBRÁS."

No caso em exame, a companhia nem sequer se preocupou emfixar a base de cálculo do dividendo mínimo sobre o valor emcruzeiros correspondente ao valor nominal das ações nomomento de sua extinção. Tal procedimento afigura-se,portanto, ainda mais prejudicial aos acionistaspreferenciais, que tiveram que arcar, de imediato, com umprejuízo facilmente quantificável.

Note-se, a propósito, que em 30.10.81, era de Cr$ 4,00 ovalor nominal virtua1 das ações (capital social dividido pelonúmero de ações então existentes).

Nestas condições, não resta dúvida de que houve alteraçãodas vantagens patrimoniais conferidas às ações preferenciais,confígurando a hipótese prevista no artigo 136, I, para osefeitos do disposto no § 10 daquele mesmo artigo e do artigo137, da Lei na 6.404/76: A eficácia da deliberaçãoassemblear em questão depende de sua ratificação pelaassembléia especial dos preferencialistas e a sua aprovaçãodá ao acionista dissidente direito de recesso.

1. 3. Conclusão

As deliberações assembleares em questão, se presentes osrequisitos do artigo 124 da Lei na 6.404/76, no que tange ànecessidade de precisão na indicação da ordem do dia noedital de convocação da AG, configuram ato jurídico acabadoentre a sociedade e seus acionistas. Nestes termos, em

príncípio, atos jurídicos válidos.

Contudo, seus efeitos jurídicos estão suspensos pordeterminação legal. Com efeito, o § lado artigo 136 da LeinO 6.404/76 estabelece serem ineficazes as deliberaçõesassembleares enquadráveis nos incisos I e II do citado artigo- como ~o caso em exame - até sua posterior ratificação pela

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assembléia especial dos acionistas preferenciais, aossão, em conseqüência, inoponíveis para qualquer efeito.

•quals

2. A legitimidade da exigência formulada pela SEP.

• •um negoclo

É possível que a assembléia especial de preferencialistasnegue a ratificação daquelas deliberações assembleares queai teraram os estatutos sociais. Neste caso, tem-se negada asua eficácia, com efeitos retroativos equivalentes ao danulidade do ato.

Na prática, o que ocorre é a resolução dejurídico consubstanciado nos estatutos sociais.

Ora, as deliberações assembleares que aprovam ou alteramos estatutos sociais têm caráter normativo, e delas emanamuma série de relações jurídicas que se quer sempreválidas.

A manutenção nos estatutos sociais de disposições cuj aeficácia, por determinação legal, está suspensa, atéposterior e eventual ratificação por uma classe deacionistas, configura incorreta regulação de direitos deterceiros, dando margem a uma indevida disposição dessesdireitos pela assembléia geral.

Por outro lado, o risco de posterior resolução do negóciojurídico, expresso na norma estatutária ineficaz, impõe aconclusão de que esta norma veicula informações inverídicasque influenciam o mercado das ações de emissão da companhia,afetando a segurança das relações jurídicas entre a companhiae seus acionistas.

Por estas razões e nos termos do artigo 82, § 2 o c/ cartigo ~ 70 § 6 0 da Lei n° 6.404/76, é a CVM competente parasubordinar a concessão do registro de emissão pública aocumprimento pela companhia emissora da exigência legal derealização de assembléia especial de preferencialistas, parao fim de ratificar norma estatutária ineficaz e, portanto,inoponível aos titulares de ações preferenciais.

Legí tima, portanto, a exigência formulada pela SEP, porocasião do registro nessa Comissão da última emissão públicade ações da companhia, por se inscrever entre as atribuiçõeslegais conferidas a esta autarquia.

Antes de finalizarmos, gostaríamos de salientar que agrande maioria dos acionistas preferenciais da companhia sãoinvestidores institucionais: Fundos Fiscais 157, Entidadesde Previdência Privada, Seguradora e Fundos Mútuos .

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Relativamente ao que é exposto na letra a, sabe-se que-constitqi dever da CVM, ao analisar qualquer requerimento deregistro, verificar se os estatutos de companhia aberta ouque pretenda obter essa condição estão afinados com alegislação societária, pelo menos naqueles pontos em que

manifestamente ela é contrariadaacionistas minoritários.

com • •preJulzo para os

Por este motivo, a Lei nO 6.404/76 confere à CVM, em seuartigo 82 combinado com o 170, § 5°, poderes para condicionar~ registro de emissão ~ modificações ~ estatuto dacompanhia. Como se observa, a imposição de condicionantes aoregistro pela CVM deflui de poder/dever que emana da próprialei, desvinculado, naturalmente, de qualquer préviareclamação de acionista.

No tocante à afirmativa da SANO reproduzida na letra ~,

acima, também não apresenta ela qualquer procedência, vistoque o teor das exigências feitas por esta Comissão nada tem aver com dividendo obrigatório e, sim, com a emissão de açõespreferenciais sem guardar proporção às ordinárias e com aalteração nas vantagens atribuidas às ações preferenciais(alteração da base de cálculo para pagamento de dividendos).

Ambas as hipóteses, que se enquadram nos incisos I e I I doartigo 136 (e não no inciso IV como diz a SANO), exigem arealização da assembléia especial, prévia ou de ratificação,ao fundamento do disposto no § 1° do mesmo artigo 136 da Lein° 6.404/76.

Finalmente, no que concerne à alegada inexistência delesão a direito de acionista preferencial ou de açãoordinária, basta dizer, para refutar a afirmação, que, feitaa inserção da regra estatutária da forma como pretende aSANO, resultaria substancialmente reduzido o dividendo a serpago aos titulares de ações preferenciais. Isto significadizer que não só existe lesão a direito de acionistas comotambém ser este prejuizo perfeitamente mensurável, até mesmoem termos de moeda corrente.

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Estes os subsídios com que encaminho o parecer retro, queexpressa pontos de vista já sedimentados por outrospronunciamentos da Superintendência e por decisão judicial,que vai aqui anexada.

Em 2 5 . 01. 82 .

À consideração de V. Sa.

GERENTE DE CONSULTORIA E CONTENCIOSO

I•

Aprovo o parecer da Coordenadora Carmen Sylvia MottaParkinson, bem como a manifestação complementar do Sr.Gerente de Consultoria e Contencioso.

Restitua-se à SEP.

Em 28.01.82.

--::::::r:;t..- (: v

/~. ~~elson Nascimento Diz

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SUPERINTENDENTE JURIDICO

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