custas juntadas na apelação recurso desprovido

Apelação Cível n. 2012.050888-8, da CapitalRelator: Des. Raulino Jacó Brüning

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE.AUSÊNCIA DE RECOLHIMENTO DAS CUSTAS INICIAIS.INTIMAÇÃO DA PARTE AUTORA PARA COMPROVAR OPAGAMENTO. TRANSCURSO DO PRAZO SEMMANIFESTAÇÃO. SENTENÇA DE EXTINÇÃO ECANCELAMENTO DA DISTRIBUIÇÃO, COM ESPEQUE NOART. 257 DO DIPLOMA PROCESSUAL CIVIL. JUNTADA DOCOMPROVANTE DE PAGAMENTO DO PREPARO INICIAL NASRAZÕES DA APELAÇÃO. PRECLUSÃO TEMPORAL.RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.

- O autor deve fazer o pagamento das custas iniciais parapoder ingressar com a ação. Trata-se de taxa pela prestação dosserviços judiciários, regulada pelo RCJF e pelas leis estaduaisrespectivas. Sem esse pagamento, os serviços judiciários nãopoderão ser prestados. A guia de recolhimento deve ser juntadacom a petição inicial como documento essencial à propositura daação (CPC 283). Caso não tenha sido juntada, não tenha sidofeito o pagamento ou feito irregularmente, o juiz deverá daroportunidade ao autor para emendar a petição inicial (CPC 284),sob pena de indeferimento e cancelamento da distribuição (NERYJUNIOR, Nelson. Código de Processo Civil Comentado eLegislação Extravagante. 11. ed., São Paulo: Revista dosTribunais, 2010. p. 516).

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n.2012.050888-8, da Comarca da Capital (1ª Vara de Direito Bancário), em que éapelante HSBC Bank Brasil S.A. - Banco Múltiplo e apelada M. P. B.:

A Segunda Câmara de Direito Comercial decidiu, por votação unânime,conhecer do recurso e negar-lhe provimento. Custas legais.

O julgamento realizado no dia 14 de agosto de 2012, foi presidido pelaDesembargadora Rejane Andersen, com voto, e dele participou o DesembargadorRobson Luz Varella.

Florianópolis, 14 de agosto de 2012.

Raulino Jacó Brüning

RELATOR

Gabinete Des. Raulino Jacó Brüning

RELATÓRIO

Na Comarca de Florianópolis, HSBC Bank Brasil S.A. - Banco Múltiploajuizou ação de reintegração de posse em face de M. P. B., postulando, em síntese,reaver o veículo Chevrolet, modelo Tracker, ano 2008/2008, placa MEV 2877, objetode contrato de arrendamento mercantil celebrado entre as partes, em razão doinadimplemento da parte adversa (fls. 02/05).

A instituição financeira trouxe aos autos cópia do contrato dearrendamento mercantil (fls. 11/28), da notificação extrajudicial (fl. 29), da consultaconsolidada de veículo - documento extraído do site do Órgão de Trânsito Estadual -(fl. 17) e planilha do débito (fls. 31/32).

Por meio de ato ordinatório (fl. 36), determinou-se a intimação da parteautora para que efetuasse o pagamento das custas iniciais, no prazo de 05 (cinco)dias.

O processo foi retirado em carga pelo defensor da parte autora (fl. 38),porém não houve qualquer manifestação nos autos (fl. 39).

Diante disto, o Togado a quo proferiu decisão nos seguintes termos (fls.40/41):

No caso, o autor não recolheu as custas iniciais.Com efeito, competia ao autor preparar o feito em 30 dias.[...]Por tais razões, decreto a extinção do presente processo, o que faço forte no

art. 257 do CPC, condenando o autor ao pagamento das custas finais, na forma doart. 20, caput, do mesmo Diploma Legal.

P. R. I.Transitando em julgado, pagas as custas, arquivem-se.

Inconformada com o provimento jurisdicional, a casa bancária apela eobjetiva a reforma da sentença para que a demanda seja regularmente processada,bem como deferida a liminar de reintegração de posse. Para tanto, aduz que efetuouo pagamento das custas iniciais em 01/02/2010, juntando a guia paga na apelação,sendo que, na sua visão, o Cartório se equivocou em não certificar o recolhimentorespectivo (fls. 44/50).

Sem contrarrazões, por não ter havido a triangularização processual, osautos ascenderam a esta Corte de Justiça.

Este é o relatório.


VOTO

O recurso é tempestivo (fl. 70) e se encontra devidamente preparado (fl.45).

Da análise dos autos verifica-se que a casa bancária foi devidamenteintimada para recolher as custas iniciais, conforme determinado no ato ordinatório(autorizado pelo art. 185, inciso I, do Código de Normas da Corregedoria Geral daJustiça do Estado de Santa Catarina) de fl. 36.

Não bastasse, após a publicação do ato ordinatório respectivo, aprocuradora da parte autora retirou o processo em carga (fl. 38), contudo, nãocomprovou o recolhimento das custas iniciais.

Com efeito, por não ter sido cumprida a determinação judicial, oMagistrado decretou a extinção do processo com fundamento no art. 257 do Códigode Processo Civil.

Correta se mostra a sentença de primeiro grau.Inicialmente, cabe registrar que o recolhimento das custas iniciais

constitui requisito de admissibilidade da ação, a não ser que a parte autora sejabeneficiária da justiça gratuita, conforme determina o art. 19 do Código de ProcessoCivil.

O artigo 257 do Código de Processo Civil prevê o cancelamento da"distribuição do feito que, em 30 (trinta) dias, não for preparado no cartório em quedeu entrada". Isto é, o advogado, ao propor a ação, deve comprovar o pagamento dascustas iniciais, em nome de seu constituinte, sob pena de cancelamento dadistribuição.

Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery, sobre o tema, assimexplicitam:

O autor deve fazer o pagamento das custas iniciais para poder ingressar com aação. Trata-se de taxa pela prestação dos serviços judiciários, regulada pelo RCJF epelas leis estaduais respectivas. Sem esse pagamento, os serviços judiciários nãopoderão ser prestados. A guia de recolhimento deve ser juntada com a petiçãoinicial como documento essencial à propositura da ação (CPC 283). Caso nãotenha sido juntada, não tenha sido feito o pagamento ou feito irregularmente, ojuiz deverá dar oportunidade ao autor para emendar a petição inicial (CPC 284),sob pena de indeferimento e cancelamento da distribuição (NERY JUNIOR,Nelson. Código de processo civil comentado e legislação extravagante. 11. ed., SãoPaulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 516). (Sem grifo no original)

E o artigo 513 do Código de Normas da Corregedoria Geral da Justiçado Estado de Santa Catarina dispõe que "o interessado comprovará o recolhimentojunto ao juízo onde tramita a ação, sob pena de arcar com o consequente ônus".

Na apelação, a instituição financeira aduz que "efetuou o pagamento dascustas iniciais, no dia 01 de fevereiro de 2010, conforme cópia da guia em anexo,sendo assim um equívoco do cartório em não informar sobre o recolhimento dascustas iniciais." (fl. 48).

Os argumentos da parte apelante não procedem.Primeiro, porque, como dito, o comprovante de pagamento das custas


iniciais deve ser juntado com a petição inicial (trata-se de documento essencial aoingresso da ação). Frisa-se que restou oportunizado ao Banco a juntada posterior docomprovante, sendo que permaneceu inerte (apesar de ter levado o processo emcarga).

Segundo, porque não compete aos serventuários da justiçadiligenciarem acerca do pagamento das custas iniciais, uma vez que é dever da parteautora comprovar o recolhimento, sob pena de arcar com ônus da sua inércia.

Ademais, a GRJ quitada e juntada com o recurso de apelação - nossonúmero 10000231146305833 - (fls. 51/52) sequer coincide com a guia, semcomprovação de pagamento, juntada com a petição inicial - nosso número10000231145970043 - (fls. 33/35).

Assim, a ação de reintegração de posse fora interposta pela instituiçãofinanceira em 27/01/2011 (fl. 02-v) e o comprovante de pagamento do preparo inicialsó foi apresentado nas razões do recurso de apelação, em 19/08/2011. Esta situação,implica na preclusão temporal e consequente cancelamento da distribuição.

Neste diapasão, não tendo sido comprovado o recolhimento das custasiniciais com a petição inicial e na oportunidade concedida posteriormente para tanto,transcorrido o prazo superior a 30 dias, a medida cabível a ser tomada é a aplicaçãodo art. 257 do Código de Processo Civil, independentemente de intimação pessoal daparte interessada.

É bem verdade que esta Corte de Justiça possui decisões no sentido deque, para o cancelamento da distribuição, em razão da ausência de pagamento dascustas iniciais complementares, seria necessária a intimação pessoal do autor, emobservância ao que preceitua o art. 267, § 1º, do Diploma Processual Civil. Todavia,tal posicionamento encontra-se superado.

Em caso assemelhado ao dos autos, esta Corte de Justiça já decidiu:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO - CONTRATO DEALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA - SENTENÇA QUE INDEFERIU A INICIAL EDETERMINOU O CANCELAMENTO DA DISTRIBUIÇÃO, NOS TERMOS DO ART.257 DO CPC - INSURGÊNCIA RECURSAL DA PARTE AUTORA. ALEGADOEXCESSO DE RIGOR E FORMALISMO EXACERBADO, EM VIRTUDE DAAUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO PARA RECOLHIMENTO DAS CUSTAS INICIAIS -TESE RECHAÇADA - OPORTUNIZADA A EMENDA DA INICIAL ECOMPLEMENTAÇÃO DAS CUSTAS, HAJA VISTA A RETIFICAÇÃO DO VALOR DACAUSA - INTIMAÇÃO EFETUADA NA PESSOA DO ADVOGADO CONSTITUÍDONOS AUTOS - DETERMINAÇÃO NÃO ATENDIDA - SITUAÇÃO QUE ENSEJA OCANCELAMENTO DA DISTRIBUIÇÃO E ARQUIVAMENTO DOS AUTOS, EMCONSONÂNCIA COM O DISPOSTO NO ART. 257 DO CÓDIGO DE PROCESSOCIVIL - DESNECESSIDADE DE INTIMAÇÃO PESSOAL DA PARTE AUTORA -PRECEDENTES DA CORTE ESPECIAL DO C. SUPERIOR TRIBUNAL DEJUSTIÇA - SITUAÇÃO QUE INVIABILIZA A APLICAÇÃO DO DISPOSTO NO ART.267, § 1º, DO CPC.

Segundo entendimento firmado na Corte Especial do eg. STJ, o cancelamentoda distribuição por falta de recolhimento das custas processuais, não exige a préviaintimação pessoal da parte autora (...) RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO(TJSC, Apelação Cível n. 2009.012607-1, de Araranguá. Relator: Des. CláudioValdyr Helfenstein. Data: 12/05/2011).


Não é outro o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. BRASILTELECOM. SUBSCRIÇÃO COMPLEMENTAR DE AÇÕES. IMPUGNAÇÃO AOCUMPRIMENTO DE SENTENÇA. RECOLHIMENTO DE CUSTAS. INTIMAÇÃOPESSOAL. DESNECESSIDADE PARA CANCELAMENTO DA DISTRIBUIÇÃO.PRECEDENTES DO STJ. 1. "Quem opõe embargos do devedor deve providenciar opagamento das custas em 30 dias; decorrido esse prazo, o juiz deve determinar ocancelamento da distribuição do processo e o arquivamento dos respectivos autos,independentemente de intimação pessoal" (EREsp nº 264.895) (STJ, AgRg noAREsp 114442/RS.Relator: Min. Luis Felipe Salomão. Data: 16/02/2012).

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO. EXTINÇÃO DO PROCESSO. PRÉVIAINTIMAÇÃO. PAGAMENTO. CUSTAS. DESNECESSIDADE. RECURSOMANIFESTAMENTE IMPROCEDENTE. IMPOSIÇÃO DE MULTA. ART. 557, § 2º,DO CPC. 1. A extinção do processo em razão da ausência de pagamento de custasindepende de prévia intimação da parte. (STJ, AgRg no AREsp 66679/RS. Relator:Min. Antonio Carlos Ferreira. Data: 13/12/2011).

PROCESSUAL CIVIL – COMPLEMENTAÇÃO DAS CUSTAS – INTIMAÇÃOPESSOAL – ART. 257 DO CPC – PRECEDENTE DA CORTE ESPECIAL. 1. Édesnecessária a intimação pessoal da parte para a complementação das despesasprocessuais quando formada a relação processual com a citação, nos termos do art.257 do Código de Processo Civil, bastando para a regularidade processual aintimação pelo diário oficial do respectivo advogado. (STJ, AgRg no REsp1149509/MG. Relator: Min. Humberto Martins. Data: 18/05/2010).

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUSTAS INICIAIS.INTIMAÇÃO PESSOAL DA PARTE. DESNECESSIDADE. RECURSO NÃOPROVIDO.

1- Na conformidade do atual entendimento deste Superior Tribunal, ocancelamento da distribuição por falta de pagamento das custas iniciais prescinde daintimação pessoal do autor.

2- O cancelamento da distribuição por ausência de pagamento das custasiniciais é regido pelo art. 257 do CPC, sem que haja, para isso, previsão legal queobrigue o magistrado a intimar pessoalmente o autor da demanda. Precedentes doSTJ.

3- Agravo regimental a que se nega provimento (STJ, AgRg no Ag1089412/SP. Relator: Min. Maria Isabel Gallotti. Data: 23/11/2010).

Neste passo, correta se mostra a sentença recorrida, pois a advogadada parte, embora tenha sido devidamente intimada para recolher as custasprocessuais, manteve-se inerte, restando prejudicada as demais teses recursais.

Assim, a única solução possível para o caso seria o cancelamento dadistribuição, com fulcro no art. 257 do Código de Processo Civil, como corretamentedecidiu o Magistrado sentenciante. De qualquer modo, a parte autora poderá intentarnova ação para ver garantido seu direito.

CONCLUSÃO


Diante do exposto, o voto é no sentido de conhecer do recurso enegar-lhe provimento, mantendo-se inalterada a sentença de primeiro grau.

Este é o voto.


custas juntadas na apelação recurso desprovido

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