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http://i40.tinypic.com/346pczn.jpg Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da SEESP Ensino Fundamental II e Ensino Médio Rede São Paulo de Fluxos e Redes no Campo e na Cidade d04

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    Cursos de Especializao para o quadro do Magistrio da SEESPEnsino Fundamental II e Ensino Mdio

    Rede So Paulo de

    Fluxos e Redes no

    Campo e na Cidade

    d04

  • Rede So Paulo de

    Cursos de Especializao para o quadro do Magistrio da SEESP

    Ensino Fundamental II e Ensino Mdio

    So Paulo

    2012

  • 2012, by Unesp - Universidade estadUal paUlista

    PR-REITORIA DE PS-GRADUAOrua Quirino de andrade, 215Cep 01049-010 so paulo sptel.: (11) 5627-0561www.unesp.br

    SECRETARIA ESTADUAL DA EDUCAO DE SO PAULO (SEESP) praa da repblica, 53 - Centro - Cep 01045-903 - so paulo - sp - brasil - pabx: (11)3218-2000

    Produo Grficalili lungarezi

    Produo Audiovisualpamela bianca Gouveia tlio

    Rede So Paulo de

    Cursos de Especializao para o quadro do Magistrio da SEESP

    Ensino Fundamental II e Ensino Mdio

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    sumarioTEMAS

    Unesp/R

    edefor Mdulo II D

    isciplina 04ficha sumrio bibliografia

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    SumrioA Propriedade da Terra Rural e Urbana, Trabalho e Renda Fundiria ......................................................................................6

    A Formao das Cadeias Agro-Industriais e os Circuitos Econmicos Globais ....................................................................18

    Fluxos de Mercadorias, Redes de Circulao e Logstica ............32

    Mobilidade Populacional Campo/Cidade e Transformaes Recentes da Rede Urbana ............................................................44

    Referncias .................................................................................65

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    dulo II Disciplina 04

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    tema1

    Texto Gerador

    Fluxos e redes no campo e na cidade

    Introduo

    Este texto tem como objetivo geral analisar os fluxos e as redes que ocorrem no campo e na cidade no perodo atual. Os fluxos de capitais, mercadorias, pessoas e informaes, sem-pre foram significativos, todavia, eram bem menos intensos do que na atualidade. As redes tambm eram menos densas e com menor nvel de complexidade. O grande desenvolvimento cientfico e tecnolgico associado sofisticao e a maior fluidez propiciadas pelos modernos e rpidos sistemas de transportes e comunicaes, especialmente aps o trmino da Segunda Guerra Mundial, favoreceram o aprofundamento das articulaes entre os agentes econmicos e as diferentes fraes do espao geogrfico. Os capitais produtivos e especulativos se expandi-ram mundialmente em direo aos pontos do planeta com maior potencial de acumulao de capital, situados em diferentes pores do globo. A partir desses pontos, os investimentos se dispersaram, com maior ou menor intensidade, para reas mais prximas ou mais distan-tes, dependendo da atratividade econmica e da ao dos Estados nacionais na realizao de investimentos diretos e/ou na induo dos investimentos privados. As grandes empresas multinacionais e os Estados nacionais foram os protagonistas deste processo de expanso dos capitais que resultaram na crescente expanso dos fluxos de mercadorias, de capitais, de infor-maes e de pessoas em mbito global. A maior densidade das redes e intensidade dos fluxos ocorre no Hemisfrio Norte, entre os Estados Unidos da Amrica (EUA), Europa e Japo, que concentra mais de 70% dos fluxos de mercadorias e capitais.

    O objetivo deste mdulo tratar de maneira integrada os fluxos e as redes globais conside-rando as suas especificidades e as articulaes nos espaos rurais e urbanos.

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    A Propriedade da Terra Rural e Urbana, Trabalho e Renda Fundiria

    Um incio de conversa

    A terra um recurso disponibilizado pela natureza, no sendo passvel de reproduo pelo trabalho, diferentemente do que ocorre com a maioria dos bens apropriados e utilizados pelos seres humanos. No sendo produto do trabalho humano, a terra no tem valor, mas ela tem preo e comercializada de acordo com as condies dadas pelo mercado e com o que esta-belecido pelo poder pblico nas diferentes escalas (municipal, estadual e nacional).

    A terra rural e urbana, embora interconectada, desempenha funes diferenciadas, sendo que o volume, a densidade da infra-estrutura e dos equipamentos pblicos costuma ser maior nas reas urbanas do que nas zonas rurais.

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    A concentrao da propriedade da terra eleva os preos deste bem, onerando toda a so-ciedade. No caso brasileiro o nvel de concentrao da propriedade da terra e a especulao fundiria tanto nas cidades quanto no meio rural so elevados. As relaes de trabalho no campo brasileiro so bastante heterogneas, convivendo lado a lado relaes capitalistas mod-ernas representadas pelo trabalho assalariado, regido por contrato formal, com relaes arca-icas que normalmente so marcadas pelo compadrio e clientelismo poltico.

    1.1. A propriedade da terra rural e urbana

    A terra rural e urbana se constitui no substrato bsico sobre o qual so estabelecidas todas as relaes. A terra um bem disponibilizado pela natureza que no passvel de reproduo pelo trabalho, diferentemente da maioria dos bens utilizados pela sociedade. Em virtude de tais caractersticas, a terra no tem valor, mas a sua propriedade e uso tm preo e so comer-cializados nas sociedades capitalistas.

    A terra urbana se constitui no substrato sobre o qual so desenvolvidas as atividades econmicas ligadas aos diferentes ramos produtivos que requerem espaos de diferentes di-menses e localizaes. Alm das atividades econmicas, na terra urbana so estabelecidas estruturas que do sustentao a outras dimenses da vida humana. Para que a produo se realize necessrio que a mo-de-obra seja reproduzida e, para isto, parte das terras urbanas alocada para as habitaes dos diferentes estratos sociais. Alm disso, na terra urbana so estabelecidas estruturas voltadas ao atendimento de necessidades coletivas, tais como vias de circulao, lazer, instituies de ensino, rgos pblicos etc.

    Pode-se dizer que, no urbano, os servios e equipamentos urbanos (redes de infra-estrutura, servios, transporte pblico, atividades comerciais e indus-triais) esto consolidados e so contnuos; h alta densidade populacional e as propriedades imobilirias so fragmentadas. Definido dessa forma, o ur-bano pode ser reconhecido pela extenso e oferta de servios pblicos e pela densidade populacional e viria. Nesse urbano, pode ou no existir produo agrcola (...) (SPAROVEK; LEONELLI; BARRETTO, 2004, p. 16).

    A terra rural tambm se constitui no substrato bsico sobre o qual so estabelecidas rela-es sociais de diferentes ordens, mas ela possui feies diferentes da terra urbana. Na terra

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    rural, a diversidade e a densidade de atividades econmicas costumam ser menores do que na terra urbana. Sobre a terra rural se desenvolvem, principalmente, as atividades agropecurias, as quais so realizadas em espaos abertos e amplos, com maior exposio e dependncia s condies climticas, topogrficas, hidrolgicas, pedolgicas etc. do que as atividades urbanas que, normalmente, so desenvolvidas em reas edificadas. Alm da agropecuria, na terra rural so estabelecidas estruturas que do sustentao a outras dimenses da vida humana. Para que a produo seja realizada tambm necessrio que a mo-de-obra seja reproduzida e para isto uma pequena parcela da terra rural utilizada para a implantao de habitaes. Na terra rural so estabelecidas algumas estruturas, como unidades de processamento de alimentos, de fibras e de outras matrias-primas industriais. H tambm vias de circulao, reas destinadas preservao ambiental, reservas indgenas, instituies pblicas e privadas, organizaes reli-giosas etc., mas a diversidade das atividades e a sua densidade normalmente so inferiores do que nas terras urbanas.

    No rural, a extenso dos servios e equipamentos pblicos restrita ou parcial, a dimenso das propriedades muito maior e predominam as ativ-idades agrcolas e reas de preservao. Nesse espao, h enclaves urbanos (colnias, loteamentos, condomnios), mas no h continuidade espacial entre eles (SPAROVEK; LEONELLI; BARRETTO, 2004, p. 16).

    Na terra urbana, a densidade populacional elevada e as estruturas necessrias normal-mente so dispostas de maneira concentrada no espao, com o intuito de maximizar o uso e reduzir os custos de instalao e manuteno da infra-estrutura coletiva. Na terra rural, a densidade populacional baixa, sendo necessria uma menor quantidade de estruturas, sendo elas, normalmente, implantadas de maneira dispersa.

    A comercializao da terra urbana feita por metro quadrado, ao passo que a terra rural comercializada com base em outras unidades de medida, tais como o hectare, unidade re-conhecida internacionalmente, cuja dimenso de 10.000 metros quadrados. H tambm outras unidades de medida que so utilizadas em determinados pases, a exemplo do Acre, equivalente a 4.046,8564224 metros quadrados, que utilizada na Inglaterra e nos Estados Unidos da Amrica (EUA); do alqueire paulista, que equivale a 24.200 metros quadrados; e do alqueiro, que equivale a 48.400 metros quadrados, sendo estes ltimos utilizados em dife-rentes regies do Brasil.

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    O maior ou menor preo da terra urbana decorre principalmente da sua situao geogrfica, sendo importantes alguns fatores como a distncia em relao ao centro da cidade, a maior ou menor proximidade das principais vias de circulao, a disponibilidade ou no de infra-estrutura e servios bsicos etc. Os aspectos naturais, especialmente as condies topogrficas, tambm so importantes no estabelecimento do preo dos terrenos.

    O preo da terra rural estabelecido com base num conjunto de fatores. Alm da situao geogrfica e da disponibilidade de infra-estrutura (rede de energia eltrica, dotao ou no de telefonia fixa, recepo ou no de sinal de telefonia mvel), as condies naturais tm grande influncia, especialmente a topografia, a disponibilidade de gua e a fertilidade dos solos.

    A apropriao da terra, tanto urbana quanto rural, por uma parcela da populao, limita o acesso a este bem, tornando-o raro e caro. Tal domnio propicia que os detentores das terras se apropriem da chamada renda fundiria, ou seja, do aluguel que cobrado para que a terra seja utilizada. O preo cobrado pelo uso da terra ser maior ou menor dependendo de um conjunto de fatores, os quais esto ligados basicamente ao nvel de rentabilidade que possvel ser obtido a partir da explorao econmica ou uso social de uma determinada rea, seja ela rural ou urbana.

    A localizao, a situao em relao s vias de circulao e o acesso a infra-estrutura e aos servios bsicos so fatores importantes no estabelecimento da renda fundiria urbana, enquanto que a renda fundiria rural deriva alm destes fatores, das condies topogrficas, hidrolgicas, climticas e pedolgicas. Quanto mais escassa a terra, maior costuma ser o seu preo e maior a renda fundiria por ela gerada. No caso brasileiro, dada a sua dimenso conti-nental, a reduzida densidade demogrfica e o baixo desenvolvimento das foras produtivas, a renda fundiria costuma ser inferior a de pases desenvolvidos, onde a densidade demogrfica maior, as superfcies territoriais normalmente so menores e as foras produtivas mais avan-adas. H que se ressaltar, entretanto, que a renda fundiria muito varivel de pas para pas e mesmo de regio para regio, dependendo das diferentes condies e atributos locais.

    A apropriao e controle do acesso a terra por uma parcela da populao onera toda a socie-dade, pois o pagamento da renda fundiria incide sobre os custos e, consequentemente, sobre os preos finais dos bens e servios. Assim, a terra, que um bem originalmente disponibili-zado pela natureza, convertida em mercadoria e apropriada por uma parcela da sociedade,

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    com a anuncia dos Estados que regulam a compra e venda e o direito de uso. O Estado no somente regulamenta a propriedade e o uso da terra, como tributa a propriedade e os diferen-tes usos das terras urbanas e rurais. No caso brasileiro, incide sobre as terras urbanas o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e sobre as terras situadas nas zonas rurais incide o Im-posto Territorial Rural (ITR).

    1.2. A concentrao da propriedade e a democratizao do acesso a terra

    Em muitos pases europeus, a democratizao do acesso a terra rural se deu quando da passagem do feudalismo para o capitalismo, sendo esta uma forma eficaz de distribuir renda, ampliar os mercados internos e garantir a oferta de alimentos a baixos preos, reduzindo o custo de reproduo da fora de trabalho.

    Para que isto ocorresse foi necessrio que a burguesia assumisse o poder poltico e promovesse a reforma agrria, ferindo profundamente os interesses da aristocracia que exercia o monoplio sobre as terras rurais e limitava o acesso a este meio de produo. A reforma agrria se constituiu, nestes pases, em condio fundamental para o estabelecimento do capitalismo moderno.

    Nos EUA, o Estado promoveu a distribuio mais equitativa das terras aos colonos que se estabeleceram nas zonas de fronteira agrcola, decretando no ano de 1862, o chamado Homes-tead Act, por meio do qual foram concedidas posses de 160 acres (65,98 hectares) a quem cul-tivasse a terra por cinco anos. Isto favoreceu o acesso terra pelos imigrantes e fez com que o pas se convertesse no maior produtor e exportador de produtos agrcolas do mundo, conforme ressalta Guimares (1978).

    No Brasil, a propriedade de vastas extenses de terra foi, e continua sendo, sinnimo de prestgio e poder. Desde 1530, quando Portugal introduziu o cultivo de cana-de-acar teve incio o processo de doao de vastas pores de terra a quem se aventurasse a se estabelecer na colnia. A doao das terras por meio do chamado sistema de sesmarias se dava aps a aval-iao do pretendente pelo rei com base no status social, nas qualidades pessoais e nos servios prestados coroa portuguesa.

    As pessoas que residiam na colnia brasileira normalmente eram proprietrias de terras ou escravas. Contudo, havia uma pequena quantidade de trabalhadores livres que no eram pro-prietrias de terras nem escravas. Tratava-se dos poucos assalariados que trabalhavam como

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    tcnicos nos engenhos, dos religiosos, dos mascates e de pessoas sem posses que se estabele-ciam em pequenas reas e se dedicavam ao cultivo de subsistncia e a produo de alimentos para abastecer os engenhos e minas. As pessoas que se dedicavam a explorao agrcola em pequenas reas no dispunham do ttulo das terras, sendo esta uma das origens de pequenas unidades produtivas agrcolas no Brasil colonial e imperial.

    As pequenas propriedades com titulao reconhecida pelo poder pblico resultaram basi-camente de cinco processos:

    1. Regularizao de reas ocupadas por pequenos posseiros;

    2. Colonizao oficial em reas de matas nos atuais Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina no decorrer do Sculo XIX para assentar os imigrantes provenientes da Europa;

    3. Loteamento de antigas fazendas de caf nos vales do paraba fluminense e paulista no incio do Sculo XX;

    4. Expanso da fronteira agrcola por meio, principalmente, da atuao de empresas privadas de colonizao no decorrer do Sculo XX no interior do Estado de So Paulo, no Norte do Paran, no Tringulo Mineiro e no Sul de Minas Gerais;

    5. Colonizao oficial em zonas estratgicas com doao de lotes a colonos nacionais, especialmente nordestinos e mineiros, a partir dos anos 1940.

    O sistema de sesmaria foi suprimido em 1822, no sendo elaborada, em seu lugar, nenhuma legislao relativa posse da terra. A propriedade da terra durante os primeiros 28 anos de independncia poltica do pas era oficialmente reconhecida desde que o pretendente ao ttulo comprovasse a posse efetiva sobre a rea por meio de moradia habitual e cultivo das terras.

    No ano de 1850 foi instituda a Lei de Terra, por meio da qual foi estabelecida que a pro-priedade da terra se daria somente por meio da compra, dificultando que escravos libertos e imigrantes pudessem ter acesso propriedade da terra.

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    A Lei de terras significou, na prtica, a possibilidade de fechamento para uma via democrtica de desenvolvimento capitalista, na medida em que impediu ou, pelo menos, dificultou o acesso terra a vastos setores da populao. Ao mesmo tempo, criava condies para que esse contingente estivesse disponvel para as necessidades do capital. sob a gide da Lei de Terras, pois, que se processaro as transformaes capitalistas no Bra-sil, cujo centro ser sempre o privilgio da grande propriedade territorial (SILVA, 1978, p. 26).

    Aps a instituio da Lei de Terras a apropriao de grandes reas nas zonas de fronteira agrcola continuou sendo feita por grileiros que se utilizavam de documentao falsa, emitida por parquias e cartrios. Com base nesses documentos se procurava comprovar que o preten-dente ao ttulo de propriedade tinha morada habitual e exercia o domnio de tais reas antes de 1850, quando a nova lei entrou em vigor. Tais aes geraram disputas judiciais e imbrglios, alguns dos quais se arrastam, sem soluo, at hoje.

    Apesar de algumas iniciativas que deram origem a pequenas propriedades, a poltica oficial sempre protegeu e deu guarida s grandes propriedades, permanecendo as pequenas proprie-dades sombra das grandes.

    O nvel de concentrao fundiria do pas sempre foi muito elevado, havendo um grande nmero de pequenas propriedades que ocupam reas reduzidas e um nmero relativamente pequeno de grandes propriedades que ocupam vastas extenses de terra.

    Na dcada de 1950 houve a intensificao dos processos de industrializao e urbanizao do pas, o que provocou a elevao da demanda por alimentos bsicos, se refletindo negativa-mente sobre os seus preos que apresentaram grande elevao. Nesta mesma dcada, houve uma forte movimentao em favor da reforma agrria, destacando-se o movimento empreen-dido no Nordeste do pas pelas ligas camponesas. Tais movimentos foram apoiados por in-telectuais e por parte do empresariado urbano que consideravam a estrutura agrria do pas arcaica e pouco eficiente, o que representava um empecilho para o desenvolvimento do capi-talismo moderno no pas.

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    No incio da dcada de 1960 assumiu a presidncia do pas Joo Goulart, em decorrncia da renncia do Presidente Jnio Quadros. Joo Goulart se propunha a realizar reformas de base no pas, configurando dentre elas a reforma agrria. Num contexto de guerra fria e de crise econmica interna, o referido presidente foi deposto por meio do golpe militar ocorrido no ano de 1964, com apoio da classe mdia brasileira e dos Estados Unidos da Amrica (EUA).

    O governo militar, de imediato, reprimiu os movimentos em favor da reforma agrria, mas cedeu parcialmente presso popular e criou o Estatuto da Terra, instrumento jurdico que possibilitava que a reforma agrria fosse realizada de forma pacfica.

    Por meio do Estatuto da Terra ficou estabelecido que a terra deveria cumprir a sua funo social. O objetivo expresso no Estatuto da Terra era eliminar progressivamente o latifndio e o minifndio, ambos considerados ineficientes por desperdiarem recursos fundamentais: terra no caso dos latifndios e mo-de-obra no caso dos minifndios.

    No contexto do Estatuto da Terra foi estabelecida a definio de Mdulo Rural que con-siste numa rea explorvel suficiente para absorver a fora de trabalho e garantir a subsistncia e o progresso social e econmico de conjunto familiar constitudo por quatro pessoas adultas. A dimenso do mdulo fiscal varia de regio para regio, dependendo das condies naturais, do padro tecnolgico e do tipo de explorao predominante. Todos os imveis rurais foram classificados. Os imveis com reas inferiores ao mdulo rural estabelecido para a regio em que se localizavam foram classificados como minifndios. Os imveis cujas reas superavam a 600 vezes o mdulo rural foram classificados como latifndios por dimenso. Os imveis com rea entre 1 e 600 vezes o mdulo rural que eram mantidos inexplorados ou inadequadamente explorados, considerando as suas caractersticas regionais, foram classificados como latifndios por explorao. Os imveis com rea entre 1 e 600 vezes o mdulo rural explorados econmica e racionalmente foram classificados como empresas rurais.

    Apesar de todo o aparato jurdico representado pelo Estatuto da Terra e a classificao de todos os imveis rurais com base na noo de mdulo rural, a reforma agrria no foi realizada e os movimentos em seu favor foram enfraquecidos pela forte represso exercida pelos suces-sivos governos militares, at pelo menos o final dos anos 1970.

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    Na dcada de 1980, a depresso econmica mundial, a elevao das taxas de juros interna-cionais e a reduo dos investimentos produtivos no pas, provocaram a estagnao e recesso econmica, o descontrole das taxas de inflao e a perda de autonomia do pas no estabeleci-mento de sua poltica econmica, o que agravou ainda mais os problemas sociais do pas.

    No ano de 1985 os militares deixaram o governo do pas e os civis retomaram o poder poltico na esfera nacional, sendo eleitos de forma indireta Tancredo Neves e Jos Sarney, respectiva-mente, presidente e vice-presidente do pas. Com a morte de Tancredo Neves, mesmo antes da sua posse, assumiu a presidncia Jos Sarney, historicamente identificado com a oligarquia rural.

    No governo Sarney foi lanado o I Plano Nacional de Reforma Agrria e criado o Minis-trio da Reforma e do Desenvolvimento Agrrio. O referido plano pouco avanou durante o governo Sarney e nos demais que o sucederam, apesar de ter havido a expanso do processo de regularizao fundiria, especialmente nas reas de fronteira agrcola e de terem sido implan-tados muitos assentamentos rurais.

    Os movimentos sociais em favor da reforma agrria voltaram a se fortalecer a partir do final dos anos 1970 com a abertura poltica do pas, ainda durante a fase da ditadura militar. Dentre os movimentos sociais demandantes da reforma agrria passou a se destacar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que fora oficialmente criado somente no ano de 1984 por meio de um congresso realizado na cidade de Cascavel, no Estado do Paran. O MST passou a implantar acampamentos margem de rodovias, a realizar marchas e atos pblicos, a ocupar latifndios improdutivos ou com titulao duvidosa, com o intuito de pressionar o governo para que ele efetuasse a desapropriao de fazendas e promovesse a reforma agrria.

    Os sucessivos governos civis, desde o fim da ditadura militar, no empreenderam uma polti-ca clara e objetiva de reforma agrria e se limitaram a alocar recursos pblicos para a desap-ropriao de fazendas com o intuito de realizar assentamentos rurais, atendendo s demandas emergenciais e cedendo presso exercida pelos movimentos sociais, notadamente pelo MST. Nos ltimos anos o MST tem questionado e exercido presso no somente sobre as reas sob o domnio de latifndios improdutivos, mas tambm sobre as reas com forte presena do chamado agronegcio, a exemplo das reas cultivadas com monoculturas de cana-de-acar, de laranja, de eucalipto, de soja etc.. O movimento passou a questionar abertamente o modelo de agricultura empresarial que exige muito capital e escala para se viabilizar economicamente, alm de gerar graves problemas ambientais.

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    Alm da elevada concentrao da propriedade da terra, o campo brasileiro continua marcado pela submisso dos trabalhadores rurais em relao aos grandes proprietrios de terra. Neste aspecto, o Estado brasileiro, sob o comando de Joo Goulart, em 1963, instituiu o Estatuto do Trabalhador Rural, por meio do qual se estabeleceu que os direitos trabalhistas urbanos, tais como frias, descanso semanal remunerado, dcimo terceiro salrio, fossem estendidos aos tra-balhadores rurais. Apesar de alguns avanos, o grau de explorao do trabalhador rural ainda bastante elevado no pas e as relaes clientelistas ainda so fortes, especialmente nas zonas rurais mais profundas e mais pobres do pas.

    1.3. Relaes de trabalho no campo

    H no campo brasileiro uma grande diversidade de relaes de trabalho. Ao mesmo tempo em que as relaes de trabalho capitalistas modernas se expandiram, foram mantidas relaes arcaicas, s quais normalmente no envolvem o pagamento em dinheiro.

    Dentre as relaes de trabalho capitalistas modernas se destacam o arrendamento, o assala-riamento permanente e o assalariamento temporrio. Dentre as relaes de trabalho arcaicas se destaca a parceria. O assalariamento permanente normalmente ocorre com a mo-de-obra que possui maior nvel de qualificao profissional, a exemplo de engenheiros agrnomos, mdicos veterinrios e tcnicos agrcolas, alm de tratoristas, operadores de mquinas e de implementos agrcolas que normalmente trabalham em grandes fazendas. O assalariamento temporrio muito comum em algumas lavouras que ainda so colhidas, pelo menos em parte, manualmente, a exemplo da cana-de-acar, da laranja, do caf e do algodo. Nestes casos, os contratos de trabalho so firmados por tempo determinado. A parceria se constitui em associa-o estabelecida entre proprietrios e trabalhadores na qual o pagamento realizado por meio de uma parte da produo. A proporo desta participao nos resultados pode ser a metade, um tero, um quarto, dependendo do que for combinado de maneira formal (por contrato) ou informal (palavra).

    Alm dessas h outras formas de relaes de trabalho, tais como o arrendamento em que o trabalhador paga aluguel pelo uso da terra. Entre os trabalhadores temporrios, h os que no possuem contratos de trabalhos, a exemplo dos diaristas.

    O poder econmico e, principalmente, poltico da chamada aristocracia rural continua forte e, at o momento, a relao entre ela e a burguesia urbana industrial tem sido marcada por

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    alianas de interesse, o que impediu e impede, o acesso terra por muitos trabalhadores rurais que dela (da terra) poderiam retirar o seu sustento e ampliar a oferta de produtos agrcolas.

    A reforma agrria foi, e continua sendo, um tema controverso no Brasil e em outros pases subdesenvolvidos. Alguns pases latino americanos, tais como Mxico, Guatemala, Nicargua e Cuba, promoveram a reforma agrria, mas os seus resultados econmicos foram menos exi-tosos do que se esperava.

    No caso brasileiro, a elevada concentrao da propriedade da terra persiste e, at hoje, no foi realizada uma reforma agrria massiva, apesar de, nos ltimos 25 anos, ter havido a im-plantao de muitos assentamentos rurais em reas especficas do pas, tais como no Pontal do Paranapanema no Estado de So Paulo, no Sudeste do Par, no Sul da Bahia, no Serto do Cear, na Zona Canavieira Nordestina (HEREDIA et al, 2002).

    No que concerne reforma agrria, os militares ao assumirem o governo, aps o golpe no ano de 1964, instituram o Estatuto da Terra, por meio do qual foi estabelecido o aparato legal para a sua realizao. No entanto, ela no foi implementada, sendo institudas, em seu lugar, polticas agrcolas que fomentaram a modernizao da agricultura por meio da incorpora-o do pacote tecnolgico da Revoluo Verde. O Estado criou linhas especiais de crdito para que mdios e grandes produtores rurais adquirissem insumos qumicos, implementos e mquinas agrcolas. Com isso, criou-se, artificialmente, mercado para as indstrias, por um lado e ampliou-se a dependncia da agricultura em relao aos setores urbano-industriais. Nesse processo, a estrutura fundiria concentrou-se ainda mais, em virtude da dificuldade para que os pequenos produtores rurais tivessem acesso s polticas agrcolas, especialmente ao crdito rural subsidiado.

    Finalizando

    A terra um bem disponibilizado pela natureza. Nas sociedades capitalistas a terra foi con-vertida em mercadoria, passando a ter preo, embora no tenha valor, porque no passvel de reproduo por meio do trabalho humano, diferentemente da grande maioria dos bens uti-lizados pela sociedade. O monoplio da terra por uma parcela da sociedade faz com que este recurso se torne escasso e caro. O direito de uso da terra tambm objeto de comercializao. Para se utilizar a terra urbana ou rural, normalmente cobrado um aluguel, o qual se constitui

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    na chamada renda da terra. Na terra urbana so desenvolvidas inmeras atividades econmicas, sociais, culturais, religiosas etc., s quais esto associadas a diferentes formas e modalidades de uso. A terra rural foi historicamente identificada com o uso agrcola, mas nela esto presentes outras dimenses, o que implica numa certa diversidade do seu uso. A sociedade, at o advento da Revoluo Industrial, no final do Sculo XVIII, era essencialmente rural e a produo de riqueza derivava basicamente da explorao da terra. No campo se produziam tanto os alimen-tos, quanto as ferramentas e as manufaturas bsicas. A industrializao provocou a urbaniza-o da sociedade e a consequente reduo da importncia econmica e demogrfica do campo. O modo de produzir racional da indstria e da cidade atingiu o campo na virada do Sculo XIX para XX, quando foi institudo o padro moto mecnico e qumico na agricultura, por meio da incorporao de inovaes tcnicas geradas pela indstria. Nos pases subdesenvolvi-dos, a exemplo do Brasil, as alteraes na base tcnica da agricultura, decorrente da sua maior articulao com a indstria, ocorreu somente depois da Segunda Guerra Mundial.

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    A Formao das Cadeias Agro-Industriais e os Circuitos Econmicos Globais

    Um incio de conversa

    As relaes estabelecidas entre a agricultura e a indstria se intensificaram a partir do incio do Sculo XX, quando foi estabelecido um novo padro tecnolgico na agricultura dos EUA consubstanciado no uso de mquinas e implementos agrcolas e produtos agroqumicos, tais como fertilizantes, herbicidas, inseticidas, fungicidas etc. A atuao de grandes empresas mul-tinacionais que produzem esses bens e que processam alimentos e matrias-primas provenien-tes do campo deu origem a cadeias produtivas agroindustriais que compem importantes cir-cuitos econmicos globais. O grande desenvolvimento cientfico e tecnolgico e a sofisticao dos sistemas de transportes e de comunicaes nas ltimas dcadas resultaram na reduo das distncias relativas, contribuindo para que houvesse uma maior articulao entre os agentes

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    econmicos e os espaos. Os significativos avanos nas telecomunicaes, na microeletrnica e na informtica, fizeram com que o processo de reestruturao produtiva tambm atingisse determinados segmentos da agricultura, que cada vez mais esto articuladas e dependentes dos interesses dos grandes grupos internacionais que atuam em escala global.

    2.1. A intensificao das relaes entre agricultura e indstria

    Desde a Revoluo Industrial iniciada na Inglaterra na segunda metade do Sculo XVIII tem havido a intensificao das relaes estabelecidas entre a agricultura e os setores urbano-industriais. Aps a II Revoluo Agrcola ocorrida na virada do Sculo XIX para o XX nos EUA e, depois, disseminada para a Europa e outras pores do globo terrestre, a articulao entre a agricultura e a indstria se intensificou, atingindo, inclusive, alguns pases subdesen-volvidos, em virtude da disseminao do chamado pacote tecnolgico da Revoluo Verde.

    Os agentes econmicos hegemnicos, representados por grandes empresas multinacionais, disseminaram a idia de que a adoo desse pacote tecnolgico resultaria na expanso do vol-ume da produo agropecuria graas elevao dos nveis de produtividade, o que resultaria na eliminao do flagelo da fome, problema que sempre afligiu e ainda aflige parte da popula-o mundial, notadamente em pases subdesenvolvidos.

    Na esteira deste discurso, ocorreram profundas alteraes na base tcnica e econmica da agricultura de muitos pases, tanto desenvolvidos quanto subdesenvolvidos, sendo constitudas cadeias agroindustriais que integram importantes circuitos econmicos globais.

    As empresas multinacionais produtoras de mquinas, implementos agrcolas e produtos agroqumicos, bem como as empresas voltadas ao primeiro processamento de matrias-primas agropecurias e as indstrias alimentcias, apresentaram grande expanso no decorrer da se-gunda metade do Sculo XX, sendo, inclusive, implantadas subsidirias destas empresas em alguns pases subdesenvolvidos.

    Na dcada de 1950, a elevada integrao da agricultura s indstrias qumicas, mecnicas e de processamento de matrias-primas provenientes do campo, bem como a inmeros out-ros servios, estimulou os americanos David e Goldberg a estabelecerem anlises integradas dos diversos setores envolvidos na produo e processamento de produtos agropecurios. Os

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    referidos autores utilizaram tcnicas matriciais de insumo-produto que foram elaboradas por Leontief na dcada de 1940. Os dois autores divulgaram as suas idias na obra A concept of agribusiness publicada no ano de 1957 pela Harvard University.

    Em primeiro lugar, torna-se necessrio diferenciar agribusiness de cadeia produtiva. De acordo com Michellon:

    [...] o agribusiness representa o aspecto coletivo da agropecuria, enquanto a cadeia produtiva representa o aspecto singular, ou seja, quando se fala em agribusiness, complexo agroindustrial ou sistema agroindustrial refere-se ao todo e quando se fala em cadeia produtiva refere-se a um produto particular. Logo, pode-se afirmar que o agribusiness o conjunto de todas as cadeias produtivas existentes a partir dos produtos de origem agrcola. (MICHELLON, 1997, p. 43).

    Essa viso integradora passou a ser empregada sob diferentes denominaes. Na Frana, esta perspectiva recebeu a denominao de filire ou de cadeia agroalimentar.

    O conceito de filire agroalimentar, ou cadeia agroalimentar, diz respeito aos fluxos, encadeamentos e itinerrios por onde passa um produto dentro do sistema de produo-transformao-distribuio, e aos distintos fluxos que a ele esto ligados (MICHELLON, 1997, p. 48).

    Outra noo que passou a ser trabalhada foi a de cadeia produtiva. A cadeia produtiva no Brasil representa um recorte dentro do complexo agroindustrial mais amplo que privilegia as relaes entre agropecuria, indstria de transformao e distribuio, tendo como foco um produto definido (FARINA; ZYLBERZSTAJN, p. 3, 1992).

    A perspectiva de anlise das cadeias pressupe considerar a diviso das diferentes partes (ou etapas) que compem o processo de trabalho e produo, sendo que o resultado final ser uma mercadoria especfica, como por exemplo, o farelo e o leo de soja, a carne de frango ou de sunos etc. Segundo Khatounian, (2001, p. 56), o essencial na abordagem das cadeias produtivas que elas permitam visualizar todos os atores e etapas para se chegar ao produto final

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    No Brasil, alguns autores comearam a trabalhar com a noo de sistema ou complexo agroindustrial a partir do final dos anos 1970. Guimares (1978) foi o primeiro autor a em-pregar esta noo, ao incluir no seu livro intitulado A crise agrria, um captulo cognominado Complexo Agroindustrial. A partir dos anos 1980 outros autores, tais como Mller (1982 e 1989) e Delgado (1985), entre outros, tambm passaram a entender a agropecuria a partir das suas articulaes com outros setores produtivos. Nessa perspectiva, o complexo agroindustrial pode ser definido

    [...] como o conjunto dos processos tecno-econmicos e sociais que en-volvem a produo agrcola, o beneficiamento e sua transformao, a produo de bens industriais para a agricultura e os servios financeiros e comerciais correspondentes (MLLER, 1982, p. 106).

    A anlise da agricultura considerando a sua integrao e articulao aos demais setores da economia contribuiu para a superao da anlise setorial e compartimentada predominante at os anos 1970 e que, at o momento, ainda no foi integralmente superada.

    Silva destaca que:

    [...] parte significativa da agricultura agora cresce no mais apenas em funo dos preos das commodities no mercado externo, mas tambm em funo das demandas industriais que se estabelecem sobre a agricultura. De um lado, h a procura de matrias-primas pelas agroindstrias; de outro, a busca de mercado pelas indstrias de mquinas e insumos, mui-tas vezes aprisionadas pela ao direta do Estado (como a concesso de crdito vinculado compra de insumos modernos) (SILVA, 1996, p. 33).

    A agricultura moderna integra uma imbricada rede de empresas, na qual ela se situa em posio intermediria. Para que a produo agropecuria moderna se efetive se faz necessria a aquisio de mquinas, implementos e insumos que devem ser adquiridos das indstrias situadas a sua montante. Depois de realizada a produo agropecuria em moldes modernos, o produto gerado se constitui em matria-prima que dever ser processada pelas industriais situadas a sua jusante, pelas chamadas agroindstrias.

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    Alm das indstrias situadas sua montante e a sua jusante, a agricultura moderna depende de uma variada gama de servios de crdito, assistncia tcnica, armazenagem, transporte, dentre muitos outros, como se pode observar na tabela 1.

    Fornecedores de insumos e bens de

    produoProduo agropecuria

    Processamento e

    transformao

    Distribuio e

    consumo

    SementesCalcrioFertilizantesReaesDefensivos vegetaisProdutos veterinriosCombustveis

    TratoresColheitadeirasImplementosEquipamentosMquinasMotores

    Produo animal

    Lav. permanentes

    Lav. temporrios

    Horticultura

    Silvicultura

    Extrao vegetal

    Indstria rural

    Alimentos

    Txteis

    Vesturio, calado

    Madeira

    Bebidas

    lcool

    Papel, papelo

    Fumo

    leos, essncias

    Restaurantes, hotis

    Bares, padarias

    Feiras

    Supermercados

    Comrcio atacadista

    Exportao

    CONSUMIDORES

    Servios de apoioveterinrios agronmicos P&D bancrios marketing vendas transporte armazenagem porturios

    assistncia tcnica informao de mercados bolsas de mercadorias seguros outros

    Tabela 1 Elementos do Complexo Agroindustrial (Adaptado de Arajo;

    Wedekin; Pinazza, 1990, p. 209).

    No caso brasileiro, as primeiras indstrias de mquinas agrcolas se instalaram no pas a partir do final da dcada de 1950. Tais empresas integram o setor metal-mecnico e de transportes e produzem tratores, colheitadeiras, alm de outras mquinas. Nesse segmento predominam empresas multinacionais de grande porte, as quais exercem forte influncia sobre as tecnologias mecnicas utilizadas nos processos produtivos agrcolas. Entre as empresas que exploram o mer-cado brasileiro de mquinas agrcolas se destacam: Case New Holland, John Deere, Valtra, Agrale,

    http://www.agronline.com.br/cgi-local/agrolinks/ver.cgi?ID=601

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    AGCO, Jacto, Ford e Santal. Nesse mesmo perodo (dcadas de 1960 e 1970) foi implantado no pas um conjunto de empresas de diferentes magnitudes que produzem uma variedade de implemen-tos agrcolas a exemplo da Marchesan, Baldan, DMB, Stara, entre outras.

    As empresas que operam no mercado de fertilizantes qumicos, inseticidas, herbicidas, fun-gicidas e sementes se instalaram no pas a partir dos anos 1970, se destacando a Monsanto, a Basf, a Bayer e a Syngenta.

    As empresas ligadas ao processamento de matrias-primas, as chamadas agroindstrias, tambm apresentaram grande expanso a partir dos anos 1960, apesar de algumas delas j atu-arem no Brasil desde a primeira metade do Sculo XX, como so os casos da Nestl, que atua desde 1921, da SANBRA e da Bunge (ento Moinhos Santista). Nesse ramo predominam as grandes empresas que atuam no comrcio internacional de alimentos, destacando-se: a Bunge, a Cargill, a Nestl, a Danone e a Archer Daniels Midland Company (ADM), alm de grandes empresas nacionais, tais como a Votorantin, a CUTRALE, a Citrosuco, a Cosan e a Brasil Foods (empresa criada a partir da fuso entre a Perdigo e Sadia), entre outras.

    Algumas cooperativas agrcolas possuem importantes unidades de processamento agroindus-trial como so os casos da COAMO Agroindustrial Cooperativa de Campo Moro; da CO-CAMAR - Cooperativa Agroindustrial de Maring (PR); da COMIGO - Cooperativa Agro-industrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano; da COPACOL - Cooperativa Agrcola Consolata Ltda; da COOPAVEL - Cooperativa Agroindustrial de Cascavel, entre outras.

    Nos setores de armazenagem, transportes, distribuio e manuteno de mquinas agrco-las, distribuio de fertilizantes e biocidas, assistncia tcnica, informtica, propaganda, mar-keting e muitos outros servios, atuam tambm vrias empresas de portes variados, tanto de capital nacional quanto estrangeiro.

    2.2. A origem dos complexos, sistemas ou cadeias agroindustriais no Brasil

    Os complexos, sistemas ou cadeias agroindustriais se consolidaram no Brasil de forma mais intensa na dcada de 1970. Para entendermos como se deu o processo de consolidao desse segmento produtivo no pas, utilizaremos como referncia o trabalho de Silva (1996), que ao

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    analisar a agricultura brasileira identificou um processo histrico de passagem do denominado complexo rural ao complexo agroindustrial. Nesse processo, de acordo com o referido au-tor, deu-se a substituio da economia natural por atividades agrcolas integradas s modernas indstrias, a intensificao da diviso do trabalho e das trocas intersetoriais, a especializao da produo agropecuria e a substituio das importaes pelo consumo produtivo interno.

    Vinculado inicialmente aos interesses do capital comercial, a dinmica do complexo rural era comandada pelas oscilaes do comrcio exterior. Para atender as demandas do comrcio externo, a produo agropecuria utilizava apenas parte dos meios de produo disponveis, enquanto a outra parte era ocupada na produo de bens de consumo para a populao local e aos prprios bens de produo (SILVA, 1996). Assim, no complexo rural, as grandes unidades produtoras, como fazendas e engenhos, eram quase que auto-suficientes, pois para realizar a produo voltada exportao, elas fabricavam as manufaturas, os equipamentos e instru-mentos simples utilizados no trabalho, no transporte das mercadorias e na habitao. Neste contexto, a diviso social do trabalho apresentava-se bastante incipiente, j que as atividades agropecurias e manufatureiras apresentavam-se interligadas e tinham valor apenas de uso, pois o mercado interno inexistia (SILVA, 1996).

    A desagregao do complexo rural se inicia em 1850, com a Lei de Terras e a proibio do trfico negreiro, e se intensifica a partir de ento com a formao do complexo cafeeiro paulista, que marcada pela substituio gradativa do trabalho escravo e a introduo do trabalho livre por meio do sistema de colonato nas fazendas de caf do Oeste paulista. Outra caracterstica fundamental do complexo cafeeiro paulista diz respeito progressiva separao espacial das atividades e a crescente especializao produtiva. Esse processo de separao das atividades do complexo cafeeiro paulista, dando origem a novos setores produtivos, ocorreu de forma gradativa, tanto em termos temporais como espaciais, como observou Silva (1996).

    No que se refere ao surgimento das cadeias agroindstrias, este se vincula ao amplo e contnuo desenvolvimento do capitalismo no perodo ps Segunda Guerra Mundial que foi marcado pela crescente internacionalizao da economia capitalista com uma total interdependncia das diferentes economias nacionais e uma nova diviso internacional do trabalho (CASTELLS, 1986, p. 7).

    Nesse perodo, o setor industrial, para garantir a ampliao dos seus lucros necessitava do aumento da produo de matrias-primas sob determinadas condies ao mesmo tempo em

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    que vislumbrava na agricultura sobretudo dos pases subdesenvolvidos - um mercado con-sumidor em potencial para seus produtos industrializados (insumos qumicos adubos, her-bicidas etc. - e mquinas e equipamentos agrcolas tratores, colheitadeiras, aparelhos de irrigao etc.).

    O desempenho dos complexos industrial e agroindustrial encontra-se atrelado esfera do capital industrial e financeiro que opera, de modo simultneo e integrado, em escalas distintas, isto , regional, nacional, continental e internacional.

    Embora o processo de modernizao da agricultura brasileira tenha se tornado expressivo, ele foi marcado pela heterogeneidade: espacial - foi mais significativo no Centro-Sul do pas -; de produtos - atingiu mais amplamente as matrias-primas destinadas ao setor agroindus-trial (frangos, carnes, soja etc.) e/ou a produo de biocombustveis; de categoria de produ-tores - favoreceu os mdios e grandes produtores rurais que puderam oferecer as garantias exigidas pelo sistema financeiro para terem acesso s linhas de crdito rural subsidiadas e dis-ponibilizadas por intermdio do Sistema Nacional de Crdito Rural, operado principalmente pelo Banco do Brasil -; e de fases do processo produtivo as inovaes concentraram-se, ini-cialmente, sobretudo na fase do plantio e da colheita, aumentando a sazonalidade do trabalho.

    As mudanas derivadas da incorporao da cincia, da tecnologia e da informao no cam-po ocorreram sob a lgica, os objetivos e as estratgias do capital, em princpio comercial, em seguida industrial e, depois, financeiro. Os setores agrcolas ligados exportao, sobretudo caf, cana de acar e algodo, foram no passado os mais susceptveis adoo de inovaes, tanto em nvel tcnico como nas relaes de trabalho.

    Em termos espaciais, as transformaes na estrutura produtiva geraram as condies mate-riais e imateriais para aumentar a especializao do trabalho nos lugares. Assim, como observa Santos e Silveira (2001, p. 144) cada ponto no territrio modernizado chamado para oferecer aptides especficas produo. Essa nova diviso territorial do trabalho estruturada na ocu-pao de reas at ento consideradas como perifricas, a exemplo dos cerrados na Regio Centro-Oeste, com a produo de gros (soja e milho), e da produo de frutas no Nordeste brasileiro, e na remodelao de regies j anteriormente ocupadas, como a expanso recente da cana-de-acar na Regio Sudeste, especialmente no Oeste do Estado de So Paulo, Noroeste do Paran, Triangulo Mineiro e Sudeste de Gois.

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    2.3. As cadeias agroindustriais e os circuitos econmicos globais

    O territrio no perodo contemporneo, denominado por Santos (1996) de tcnico-cient-fico-informacional, supera o seu entendimento associado apenas noo de espaos homog-neos contguos e autnomos que caracterizavam as regies pelo menos at a Segunda Guerra Mundial. Isso porque, com a expanso dos transportes e das comunicaes, amplia-se a pos-sibilidade de especializao produtiva dos/nos lugares. Como observa Santos:

    O mundo encontra-se organizado em subespaos articulados dentro de uma lgica global. No podemos mais falar de circuitos regionais de produo. Com a crescente especializao regional, com os inmeros fluxos de todos os tipos, intensidades e direes, temos que falar de cir-cuitos espaciais da produo. Estes seriam as diversas etapas pelas quais passaria um produto, desde o comeo do processo de produo at chegar ao consumidor final (SANTOS, 1988, p. 51).

    Na perspectiva dos circuitos espaciais da produo, os lugares encontram-se cada vez mais articulados em virtude dos fluxos (capitais, pessoas, produtos, informaes etc.) que circulam, integrando seletivamente reas produtoras e/ou fornecedoras de matrias-primas e consumi-doras, realidades locais e mercados mundiais, conformando mltiplas redes.

    De acordo com DallAcqua (2003, p. 81), o espao econmico organizado hierarquica-mente, como resultado da tendncia racionalizao das atividades e se faz sob um comando que tende a ser concentrado em cidades mundiais (onde a tecnologia da informao desempenha um papel relevante) e por suas bases em territrios globais diversos.

    Na perspectiva dessa autora (DALLACQUA, 2003), a escala ampliada de investimentos necessrios liderana tecnolgica das grandes empresas e a formao de redes globais con-tinuaro forando um processo crescente de concentrao em que apenas um conjunto restrito de algumas centenas de empresas gigantes mundiais participam desse processo. Para a autora,

    [...] estas corporaes decidiro basicamente o que, como, quando, quanto e onde produzir os bens e os servios utilizados pela sociedade contem-pornea. Ao mesmo tempo, elas estaro competindo por reduo de preos e aumento da qualidade (...). Enquanto esta disputa continuar gerando lu-cros e expanso, parte da atual dinmica do capitalismo estar preservada (DALLACQUA, 2003, p. 41).

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    Assim, como parte desse processo de concentrao das grandes corporaes multinacionais e de uma estratgia global de reestruturao das empresas, verifica-se que, partir da dcada de 1990, os processos de fuses e aquisies1 se intensificaram. De acordo com Siffert Filho e Silva (1999, p. 377), o processo de globalizao, medida que ampliou os mercados por meio de quedas das barreiras aos fluxos de bens, servios e capitais, alter-aram o ambiente institucional em que as empresas es-tavam acostumadas a operar, alm de intensificar a concorrncia interempresarial.

    A agricultura brasileira, como mencionado, se tornou um importante mercado para as in-dstrias de mquinas, implementos, fertilizantes e biocidas e, ao mesmo tempo, grande for-necedora de matrias-primas para o processamento agroindustrial.

    Como a maior parte das empresas que atua no Brasil tambm o faz em outros pases, essa nova estruturao produtiva, com base na cincia, na tecnologia e na informao, segmenta o territrio, ao mesmo tempo em que preciso ligar, num nico processo, as parcelas do trabalho desenvolvidas em lugares distantes, impe-se mais cooperao entre pontos do territrio e a circulao ganha novo mpeto (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p. 144).

    Essas vrias empresas que atuam nos diferentes setores produtivos so geralmente associa-dos cadeias globais de commodities, controladas por empresas multinacionais que no apre-sentam vnculos ou apresentam relaes dbeis com as localidades em que esto situadas. So mercados tidos como despersonalizados, cuja marca a standardizao de produtos, processos e pes-soas (BUSH, 2000 apud NIERDELE, 2009).

    Um aspecto importante a se considerar na anlise das cadeias agroindustriais, segundo Ni-erdele (2009), refere-se a sua dimenso transnacional, expressa por meio da separao entre as partes constituintes das cadeias produtivas, notadamente, a partir da dcada de 1990. Assim, processos de liberalizao, globalizao e des-regulao (ou re-regulao com novas instituies e formas de governana) abriram caminho para a crescente incorporao dos mercados agroalimentares em amplas cadeias globais de commodities (BONANO, 2007; WILKINSON, 2006b apud NI-ERDELE, 2009).

    1. As fuses referem-se unio de duas ou mais

    companhias que passam a constituir uma nica

    empresa, geralmente sob o controle da maior ou

    mais prspera e as aquisies ocorrem quando h a

    compra do controle acionrio de uma empresa por

    outra (ROSSETTI, 2001).

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    Alguns impactos desse processo para o sistema agroalimentar no Brasil foram evidenciadas por Flexor

    Deste ano [2000] at 2004, o desempenho do setor agroexportador au-mentou 89,3%, superando o avano das exportaes totais do pas que ficaram em 75,13%. A pauta de exportaes continua basicamente con-stituda pelas commodities mais tradicionais (o complexo soja, acar, aves, caf, carnes bovina e suna), mas outros produtos tambm vm apre-sentando uma expanso importante, como o caso das cadeias de frutas e do prprio milho [...]. Grande parte deste crescimento tem respondido demanda do mercado asitico, sobretudo (...) China e ndia (FLEXOR apud NIERDELE, 2009, p. 9).

    O autor tambm destaca a expressiva expanso dos investimentos diretos de grupos trans-nacionais na indstria de alimentos. Assim, no ano de 1990, 14 das 20 maiores empresas de alimentos eram controladas por capital nacional, enquanto que em 2003, 7 das 10 maiores empresas eram firmas multinacionais (FLEXOR apud NIERDELE, 2009).

    Analisando o ltimo elo da cadeia, ou seja, o setor varejista, o autor destaca tambm a cres-cente concentrao, com os principais grupos transnacionais (CDB, Carrefour, Sonae, Wal-Mart) aumentando significativamente o seu mercado entre 1994 (20,9%) e 2004 (38,8%) (FLEXOR apud NIERDELE, 2009).

    Como observa Silva (2004, p. 1), at o final da dcada de 1980, a economia brasileira carac-terizava-se por ter sua dinmica relacionada ao

    [...] mercado interno, com pouca abertura ao comercio exterior e alto grau de proteo a industrial nacional. A exposio concorrncia externa (dev-ido a medidas de reduo de barreiras alfandegrias) e o funcionamento menos tutelado dos mercados obrigaram as empresas a reduzir os custos, acelerar o processo de inovao, buscar alianas estratgicas e adaptar-se a um quadro regulatrio distinto.

    Nesse contexto, como observa a autora (SILVA, 2004), se amplia o nmero de fuses e aquisies no perodo compreendido entre 1999 e 2003, como se observa na tabela 2:

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    Ano 1999 2000 2001 2002 2003

    Fuses e aquisies 9.357 23.013 7.003 5.897 5.271

    Tabela 2 Fuses e Aquisies transfronteiras (em milhes de dlares).

    (UNCTAD apud SILVA, 2004).

    As fuses e as aquisies, como mencionado, fazem parte da estratgia global de reestru-turao que as empresas colocaram em ao a partir da dcada de 1990. Um exemplo desse processo o que ocorreu no setor agroindustrial brasileiro nos anos 1990 em que houve a consolidao de grandes oligoplios internacionais por meio da aquisio e/ou associao de empresas que j atuavam no mercado nacional, como aponta SILVA (2004) ao analisar os ca-sos da Cargill Incorporated e da Bunge S.A.

    O grupo norte-americano Cargill Incorporated atua no processamento de sementes oleagi-nosas e de milho, comercializao de gros, nutrio para animais, produo e venda de fertili-zantes. A estratgia da empresa tem sido tanto a de consolidar sua posio naqueles segmentos em que ela j atua no mercado mundial, como de conquistar novos mercados naqueles em que ela no atuava at recentemente. Assim, como destaca Silva:

    No segmento de fertilizantes fosfatados e fosfato pecurio, a empresa pro-curou consolidar sua posio no mercado por meio da empresa Global Nutrition Solutions Inc. em mbito mundial. Com a compra das aes da Fertiza, empresa que possua participao acionria do Grupo Fortifs (que controlador das empresas Fosfertil e Ultrafrtil), a Cargill ampliou sua participao no grupo. E a aquisio do controle acionrio da empresa Solorrico representou a concentrao nos segmentos de misturas NPK e fertilizantes bsicos fosfatados, por parte da Cargill. A empresa por meio da aquisio da empresa Seara Alimentos entrou em um nicho de mer-cado que no atuava no Brasil produo e comercializao de carnes de aves e sunos in natura. Com a compra da Agribands (operao realizada em mbito mundial), a Cargill procurou consolidar sua participao no mercado de raes para animais (SILVA, 2004, p. 5).

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    A Bunge S.A. outro exemplo de grupo que passou por um processo de reestruturao. A empresa, holandesa, produz fertilizantes e ingredientes para nutrio animal, processa e com-ercializa soja, trigo e outros gros, fornece matria-prima para a indstria de alimentos e food service e produz alimentos para o consumidor final. No segmento de adubos e fertilizantes, a Bunge adquiriu a Dijon Participaes S.A. com o objetivo de ampliar sua participao na Fsfertil, ao mesmo tempo em que ao negociar a Companhia Nacional de Nutrio Animal, procurou deixar o mercado de nutrio animal. Visando consolidar sua participao no mer-cado de processamento de oleaginosas e na produo, distribuio e comercializao de leos comestveis, a empresa adquiriu 54,69% das aes da Cereol S.A. Para fortalecer sua partici-pao no segmento de produo de farinha para panificao, ela adquiriu o Moinho Jauense e transferiu as suas quotas da Plus Vita Alimentos Ltda. (produo, distribuio e comercial-izao de pes, bolos e torradas) para a Bimbo do Brasil Ltda., focando seus negcios na fase in-dustrial de fornecimento de matria-prima (farinha de trigo e farelo de trigo) (SILVA, 2004, p. 5).

    Constata-se, assim, por meio dos dois exemplos apresentados, como essas grandes corpora-es ao realizarem fuses e aquisies com outras empresas buscam consolidar-se no mercado nacional, concentrando suas atividades, cada vez mais verticalizadas, com o objetivo de garan-tirem a fonte dos insumos, a produo e a comercializao dos seus produtos.

    Simultaneamente a esse processo de concentrao, materializado por meio de fuses, aqui-sies, joint ventures2 e acordos tecnolgicos, que visa eficincia, a conquista de novos merca-dos e a diversificao produtiva, ocorre a fragmentao: no mbito das empresas, expressa por terceirizaes, franquias e informalizao, abrindo espao para uma grande quantidade de empre-sas menores que alimentam a cadeia produtiva central com custos mais baixos; (DALLACQUA, 2003, p. 41); e dos territrios, j que h tendncia crescente especializao produtiva dos/nos lugares, levando ao estabelecimento de relaes (econmicas, tecnolgicas, politicas etc.) e a intensificao dos fluxos com cidades, regies e/ou pases cada vez mais distantes. Esse processo ocorre porque, quanto maior a insero da cincia e tecnologia, mais um lugar se especializa, mais aumenta o nmero, intensidade e qualidade dos fluxos que chegam e saem de uma rea (SAN-TOS, 1988, p. 51).

    2. Joint ventures implica na criao de uma nova em-

    presa, formalmente separada daquelas que a criou,

    com governana, cultura, fora de trabalho e procedi-

    mentos prprios (MIRVIS; MARKS, 1998).

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    Finalizando

    As mudanas ocorridas no mundo a partir da Segunda Guerra Mundial levaram expanso das empresas multinacionais a pases subdesenvolvidos, como o Brasil. Essa expanso resultou na intensificao das relaes entre agricultura e outros setores urbano-industriais, por meio da incorporao do pacote tecnolgico da Revoluo Verde. Essas alteraes na base tcnica da agricultura brasileira redefiniram tambm as relaes campo-cidade, seja com o aumento das migraes e a concentrao da populao nas cidades, seja com o estabelecimento de novas demandas e fluxos que extrapolam a escala local e regional. Para Santos (1996), o espao tor-nado nico na medida em que os lugares se globalizam, uma vez que cada local, no importa onde se encontre, revela o mundo, j que todos os lugares so passveis de intercomunicao. A tcnica, a cincia e a informao so pontos cruciais do perodo atual, acarretando, por sua vez, numa maior competitividade entre as empresas e os lugares.

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    Fluxos de Mercadorias, Redes de Circulao e Logstica

    Um incio de conversa

    As redes tcnicas ocorrem com maior intensidade na e a partir das cidades, no entanto, se analisarmos as redes proporcionalmente em relao densidade demogrfica e entre campo e cidade possvel notar que no campo tambm ocorrem redes e fluxos com significativa intensidade. No entanto, podemos dizer que as redes concentram-se atualmente no espao urbano e que configuram uma topologia cada vez mais esparsa ao interagirem com as reas mais extensivas do campo. Isso se deve tanto ao contedo tcnico quanto ao contedo de-mogrfico do territrio, pois no caso do campo a regra que as estruturas comunicacionais apresentem maior extenso e, proporcionalmente, menor fluxo que em reas urbanas. Porm, algumas excees podem ser observadas. Em algumas reas do campo ocorrem redes dinmi-

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    cas que alm de constiturem canais de fluxos intensos, expressam-se tambm nas cidades, ora ao dinamizar o consumo, com os respectivos produtos provindos do campo, ora ao dinamizar o comrcio, ora ao gerar demanda por insumos ofertados nas cidades. Outro aspecto de interao em rede campo-cidade pode ser evidenciado na relao entre oferta e demanda de mo de obra qualificada. Os contedos tcnicos e cientficos presentes no campo no so gerados apenas por demandas urbanas, constituem sim resultados de relaes em redes que surgiram com base em inmeras possibilidades de produo e de consumo no campo. Os sistemas complexos presentes na relao campo-cidade elevaram o contedo tcnico-cientfico-informacional1 do espao do campo. Em se tratando de redes, campo e cidade possuem aspectos relacionais de proximidade intensos, constantes e dinmicos. Os fluxos de pessoas, objetos e informaes so constitutivos dos assentamentos humanos e desde a antigu-idade sofrem transformaes quanto aos avan-os nas formas e tcnicas de execuo. A cada novo perodo os meios e os componentes dos fluxos se alteram, muitas vezes contribuindo significativamente para novas formas de orga-nizao das sociedades.

    3.1. Novas caractersticas da economia capitalista urbana industrial

    As mudanas surgidas a partir da Revoluo Industrial2 implicaram transformaes tecnolgi-cas que alteraram as economias mundiais e as sociedades em geral. Tais transformaes foram incorporadas e assimiladas diferentemente por di-versos pases, iniciando pela Inglaterra no sculo XVIII. A industrializao, enquanto processo so-cioeconmico vai, assim, ocorrer diferentemente em termos de perodo, abrangncia territorial, de volume e valor de transformao industrial nos pases que a desenvolveram.

    1. Milton Santos sugere uma sequncia de etapas da his-

    tria do meio geogrfico na qual se pode identificar: o

    meio natural, o meio tcnico, o meio tcnico-cientfico-

    -informacional, este comearia aps a segunda guerra

    mundial, e sua afirmao, incluindo os pases de terceiro

    mundo, vai realmente dar-se nos anos 70 [...] neste pe-

    rodo, os objetos tcnicos tendem a ser ao mesmo tempo

    tcnicos e informacionais, j que, graas extrema inten-

    cionalidade de sua produo e de sua localizao, eles j

    surgem como informao (SANTOS, 1996, p. 238).

    2. As Revolues Industriais foram marcadas por

    transformaes ligadas ao desenvolvimento tcnico

    e tecnolgico em setores como o da gerao e uso

    de energia, do processo produtivo, da organizao

    empresarial, entre outros, que alteraram o modo de

    acumulao de capital em processos econmicos de

    abrangncia mundial, constituindo o que se estabe-

    lece enquanto perodo que compreende a Primeira,

    a Segunda e a Terceira Revoluo Industrial. A par-

    tir das novas condies do perodo atual, Anderson

    (1986) previu algumas caractersticas de uma quarta

    revoluo industrial, que seria marcada pelos siste-

    mas multiuso de informao, ligados aos escritrios

    e s residncias, a fuso nuclear, novos avanos na

    biotecnologia (euphenics) e o controle do tempo

    (SANTOS, 1996, p. 173).

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    No contexto do modo de produo capitalista, a industrializao constitui uma condio particular para o processo de urbanizao. Novas necessidades surgem a partir das aglomera-es urbanas das sociedades industriais capitalistas. As inovaes tecnolgicas vo constitu-ir-se a partir de avanos tcnicos e cientficos profundos a partir de meados do sculo XX, culminando com desenvolvimentos em diversos campos, como aqueles ocorridos na rea da informtica e amplos avanos na rea das telecomunicaes, alm das intensas transforma-es a partir da consolidao da internet. Nesse contexto vrios setores econmicos tm sua importncia redefinida, como no caso do setor financeiro, que alcana o estabelecimento de diversas transaes em tempo real a partir das novas possibilidades abertas pelas novas tecno-logias. Vale lembrar que o prprio sistema financeiro tambm impulsionou avanos tecnolgi-cos, ou seja, ocorre um sistema interativo a partir do qual se redefinem as formas de relaes socioeconmicas.

    Aps vrios avanos tecnolgicos formam-se novos sistemas comunicacionais3 por meio dos quais circulam pessoas, objetos e informaes, caracterizados pelos novos ritmos dos fluxos (agora possivelmente mais velozes) e pela quantidade e qualidade dos deslocamentos. Alguns exemplos podem caracterizar aspectos destes novos sistemas comunicacionais:

    1. A evoluo da capacidade e da qualidade dos meios de transportes;

    2. A evoluo da capacidade de transmisso das infovias; Considerando que a infovia possi-bilita o transporte de informaes de maneira rpida e eficaz, Dias, Monteiro e Rosa (2008) destaca que a Infovia apresenta as seguintes caractersticas e funes:

    Transportar dados e informaes do ponto de origem ao destino final atravs

    de vias tecnolgicas.

    Ser utilizada como um produto.

    Ser considerada uma ferramenta facilitadora em processos operacionais.

    Ser um meio de comercializao de transporte.

    Permitir aumento de valor agregado ao servio.

    Coletar, distribuir e organizar informaes.

    3. A comunicao aqui aquela mais ampla,

    prpria de diversas relaes sociais e das inten-

    cionalidades contidas nos objetos e nas aes.

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    Ser uma via de ligao entre os modais.

    Permitir a explorao de solues intermodais.

    Os cabos de fibra ptica constituem parte da tecnologia das infovias.

    1. A evoluo da capacidade dos processadores dos computadores no setor da informtica e a associao das tcnicas de telecomunicaes s de tratamento de dados.

    As redes de telecomunicaes adquirem uma potncia cada vez maior em ciclos mais cur-tos. Cada vez mais depressa os equipamentos eletrnicos aumentam a capacidade de armaze-namento e processamento de informaes.

    A constituio e respectiva difuso desses novos sistemas comunicacionais contribuem tambm para redefinir as cidades e regies:

    Com a difuso dos transportes e das comunicaes cria-se a possibilidade da especializao produtiva. Regies se especializam, no mais precisando produzir tudo para sua subsistncia, pois, com os meios rpidos e eficientes de transporte, podem buscar em qualquer outro ponto do pas e mesmo do Planeta, aquilo de que necessitam [...] Hoje, assistimos especializao funcional das reas e lugares, o que leva intensificao do movimento e possibilidade crescente das trocas. (SANTOS, 1988, p. 50)

    Para este autor os processos que inserem cincia e tecnologia nos lugares alteram os fluxos entre estes lugares podendo levar cidades pequenas estagnao ou ao desaparecimento (SANTOS, 1988).

    3.2. Fluxos de mercadorias

    No caso dos fluxos de mercadorias4, vrios sistemas atuais, em conjunto, permitem maior domnio dos ciclos de produo, circulao, consumo e reproduo. Os novos fluxos implicam alteraes nos fixos, ou seja, so as caractersticas dos fixos (corpos, objetos, lugares e canais) que dinamizam os fluxos. Esse processo de transformao constante confere novas caractersticas ao territrio.

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    Santos (1988) j chamava ateno sobre a necessidade de novas categorias de anlise para explicar as novas formas de organizao do territrio. Considerando as mudanas que estavam ocorrendo e a complexidade inerente ao novo perodo que se desenhava, Santos (1988, p. 17) j destacava a maior abrangncia que os circuitos espaciais de produo possuem para explicar as articulaes entre os diversos sub-espaos mundiais, inclusive permitindo compreender a redefinio das relaes cidade-campo, que passaram a apresentar maiores intensidades de contatos e interdependncias, gerando fluxos diversificados que constituem uma dinmica mais acelerada e ultrapassa o poder expli-cativo do par cidade-campo.

    Para Dias (2005, p. 11) os fluxos de mercadorias bens materiais e servios imateriais atraves-sam os territrios soberanos graas especializao produtiva e deslocalizao das implantaes industriais.

    importante observar que as redes ligadas aos fluxos de mercadorias, por exemplo, podem ser analisadas a partir de vrias especificidades. o que demonstra o trabalho de Corra (1997):

    4. A mercadoria pode ser definida como uma riqueza, mercantil, que possui valor de uso e valor de troca, ao mesmo tempo. Um produto (riqueza) que deixar de possuir alguma dessas duas propriedades no uma mercadoria. Qualquer produto que tenha a capacidade de satisfazer necessidades, mas no tenha a propriedade de ser trocado por outro, no pode ser levado ao mercado para a troca, no um elemento constitutivo de uma economia mercantil, embora at possa coexistir com ela. Logo, no uma mercadoria. [...] pode-se definir a mercadoria como a unidade de dois elementos: valor de uso e valor de troca (CARCANHOLO, 1998, grifo do autor).

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    Quadro 1 - Proposta de anlise de redes geogrficas (Adaptado de CorrA, 1997, p. 111)

    Assim, so diversas as variveis consideradas ao se analisar a dinmica de uma rede. Fatores tais como escala, espacialidade, temporalidade e natureza organizativa so apenas referncias iniciais a partir das quais se estabelecem especificidades diversas.

    Os limites das explicaes a partir do par cidade-campo devem-se ao modo como as di-versas redes se territorializam. Considerando que as redes do perodo atual possuem fixos complementares indissociveis nos espaos rural e urbano e que estes fixos, embora estejam em reas diferenciadas quanto ao uso do solo, apresentam nveis de inovao tecnolgica e padro de desenvolvimento, provenientes de modos de desenvolvimentos similares.

    Atualmente necessrio pensar os vrios modos de transportes e a integrao entre eles para se falar em fluxo de mercadorias. Os principais modais de transportes de mercadorias so:

    2. Areo;

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    3. Hidrovirio:

    Transporte martimo (via de comunicao: mares abertos);

    Transporte fluvial (via de comunicao: lagos e rios);

    4. Dutovirio;

    5. Ferrovirio;

    6. Rodovirio.

    Alguns equipamentos se destacam no transporte de cargas, o caso do continer, que utilizado para transportar cargas integrando vrios modais. Um mesmo continer pode, por exemplo, passar pelos modais rodovirio, ferrovirio e hidrovirio antes de chegar ao seu des-tino (veja aqui).

    Figura 2: Legenda: Foto de caminho carregando continer (continer no modal rodovirio)

    Fonte: http://img.youtube.com/vi/v__NFdLUesA/0.jpg

    Figura 3: Legenda: Foto de Trem carregando continers (continer no modal ferrovirio)

    Fonte: http://www.nationalcorridors.org/df/df05032004e.jpg

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    Figura 4: Legenda: Foto de navio carregando continers (continer no modal hidrovirio)

    Fonte: http://www.blogmercante.com/wp-uploads/2010/08/SAVANNAH-EXPrESS-

    8411TEU-Fred-Vloo.jpg

    3.3. Redes de circulao

    Dias (2005) apresenta o perodo atual como aquele caracterizado pela acelerao de pelo menos quatro grandes fluxos que atravessam o espao geogrfico: os movimentos de pessoas ou fluxos migratrios; os movimentos comerciais ou fluxos de mercadorias; os movimentos de informaes ou fluxos informacionais; e os movimentos de capitais ou fluxos monetrios e financeiros. Ela de-staca que estes fluxos, que outrora eram contidos nas fronteiras dos territrios nacionais, agora atravessam-nas e introduzem uma nova ordem menos presa ao territrio (DIAS, 2005, p. 11, grifo nosso).

    Para circular estes fluxos necessitam de canais, enquanto infra-estruturas: rodovias, ferrovias, infovias, dutovias, aerovias, torres de transmisso, redes de abastecimento de gua, tratamento de esgotos e energia entre outras. A escala de abrangncia dos fluxos depende dessa infra-estrutura. Desse modo, os fixos e os fluxos esto territorializados, proporcionando uma fluidez relativa, quando est limitada a certos canais de circulao.

    http://www.blogmercante.com/wp-uploads/2010/08/SAVANNAH-EXPRESS-8411TEU-Fred-Vloo.jpghttp://www.blogmercante.com/wp-uploads/2010/08/SAVANNAH-EXPRESS-8411TEU-Fred-Vloo.jpg

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    No perodo atual destacam-se novas formas de circulao de mercadoria devido ao sur-gimento tambm de novas mercadorias com a desmaterializao tanto da produo quanto dos produtos (SANTOS, 1988). Softwares, servios de telefonia, internet e programas ou filmes exigem novas formas de circulao de mercadoria. Assim, cabos, satlites e antenas diversas complementam a novssima caracterizao dos fluxos na constituio do espao geogrfico atual. Os transportes de mercadorias fazem parte de um processo mais amplo que envolve a circulao de mercadorias: a logstica.

    Figura 4: Legenda: Ilustrao de um satlite na rbita terrestre enquanto novo meio de

    circulao de fluxos de informao (Mundo Vestibular)

    3.4. Logstica

    Para Goebel (1996, p. 1):

    [...] entende-se por logstica o conjunto de todas as atividades de movi-mentao e armazenagem necessrias, de modo a facilitar o fluxo de produtos do ponto de aquisio da matria-prima at o ponto de consumo final, como tambm dos fluxos de informao que colocam os produtos em movimento, obtendo nveis de servio adequados aos clientes, a um custo razovel (GOEBEL, 1996, p. 1).

    Anderson (1990) apresenta um estudo realizado para a Unio Europia que distingue quatro revolues logsticas. A partir deste estudo, Sposito (1999) destaca a relao das rev-olues logsticas com a mundializao do capital:

    http://www.mundovestibular.com.br/content_images/satelite10.jpg

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    Assim, e ampliando mais nossa escala de enfoque, podemos dizer inicial-mente que a mundializao do capital faz-se, primordialmente baseada nas revolues logsticas, porque elas so decorrentes de: incorporao das tecnologias aos transportes; necessidade de aumentar a velocidade nos fluxos de capitais e na circulao das informaes, principalmente aquelas ligadas s novas idias, que podem gerar maiores lucros; criao de novas necessidades associadas ao consumo de bens no produzidos no circuito produtivo (paisagem para o turismo, misticismo para a paz individual, sep-arao crescente de pessoas para posies marginais) [...] As revolues logsticas ocorreram de maneira bem resumida, com o concurso associado entre Estado e empresas, cada um destes dois agentes respondendo, de sua maneira prpria, s decises dos atores situados nos lugares privilegiados da pirmide social por sua apropriao secular do excedente do trabalho social (SPOSITO, 1999, p. 105, grifo do autor).

    Silveira (2009a), dando continuidade s argumentaes relativas s revolues logsticas sugere a ocorrncia de uma quinta revoluo logstica.

    Figura 5 - revolues e Evolues Logsticas

    (Adaptado de Silveira, 2009b, p. 20).

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    Na dcada de 1990, quando houve o estabelecimento da quinta revoluo logstica, as conseqncias sobre o Brasil foram grandes. Tal fato vinculou-se ao advento das polticas globalizantes e da integrao territorial em larga escala (internacional), atravs do aumento, conforme Santos (1996), dos circuitos espaciais de produo (fluxos de bens materiais) e dos crcu-los de cooperao no espao (fluxos no-materiais dinheiro, informao, etc.). Nesse contexto delineado, o Brasil passou a ser incorporado, cada vez mais, ao sistema produtivo mundial. Destarte, sua participao foi hierar-quicamente pr-estabelecida, ou seja, produtor de commodities e paraso turstico. A abertura alfandegria e a desindustrializao atravs de uma srie de fuses, aquisies, falncias, privatizaes e concesses compro-varam tal afirmao (SILVEIRA, 2009a).

    Em sentido estrito, Silveira (2009a) apresenta a objetivao das transformaes logsticas no mbito dos transportes, relacionando logstica, sistemas de movimento e fluxos econmicos.

    Figura 6 - Correlao entre logstica, sistemas de movimento e fluxos econmicos

    (uma abordagem para a Geografia dos Transportes e Circulao). (SILVEIrA, 2009a)

    importante observar que a correlao entre logstica, sistemas de movimento e fluxos econmicos permite destacar a capacidade de circulao enquanto importante elemento da acumulao do capital, de acordo com a velocidade dos fluxos em diferentes meios.

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    Harvey (1992) apresenta uma ilustrao sobre o que denomina compresso do tempo-espao, o significado que o espao parece encolher com a ocorrncia de aceleraes como aquelas relativas aos transportes.

    Figura 7 - Compresso do tempo-espao.

    (Adaptado de Harvey, 1992, p. 220).

    um exemplo importante para questionar o prprio significado de pares conceituais como continuidades e descontinuidades, proximidade e distncia e lento e rpido, pois so transfor-maes que alteram elementos epistemolgicos.

    Finalizando

    A constituio da chamada sociedade em rede, ao modo apresentado por Castells (1999), permite-nos observar atualmente as caractersticas de complexas redes de circulao, nas quais ocorrem fluxos diversificados de pessoas, objetos e informaes. Nesta nova sociedade so alterados os significados da relao espao-tempo. Compreender estas alteraes tarefa con-tnua e indispensvel para uma adequada leitura geogrfica do mundo.

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    Mobilidade Populacional Campo/Cidade e Transformaes Recentes da Rede Urbana

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    Na atual fase do sistema capitalista de produo, na qual os fluxos e as redes (re)definem os papis dos diferentes centros urbanos e a escala de atuao do capital produtivo e financeiro atingem a escala global, compreender e analisar o impacto da globalizao na redefinio das redes urbanas de fundamental importncia. Tais aspectos so necessrios para entendermos a espacialidade e a espacializao do capital e da sociedade, pois como aponta Roberto L. Corra (1989), no bojo do processo de globalizao e da intensificao da urbanizao que a rede urbana passou a ser o meio atravs do qual produo, circulao e consumo se realizam efe-tivamente. A redefinio das redes urbanas influencia e influenciado pelo processo histri-co de modernizao da agricultura brasileira e a consequente reestruturao do espao rural

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    brasileiro e a transformao do Brasil num pas de populao predominantemente rural para um pas de populao urbana a partir da dcada de 1960. Dessa forma, dividiremos o tema em duas partes principais. Na primeira apresentaremos uma breve discusso acerca dos estudos sobre a mobilidade populacional brasileira e as diferentes fases pelas quais podemos definir o movimento migratrio. E, na segunda parte, procurando compreender a (re)definio e (re)configurao da rede urbana na atualidade, procuraremos, inicialmente, identificar os princi-pais referenciais tericos sobre rede urbana, enfatizando desde os estudos do alemo Walter Christaller, com a Teoria dos Lugares Centrais at as abordagens atuais, das configuraes complexas da Rede Urbana perante a Globalizao. Este ltimo enfoque importante para se compreender os processos atuais que (re)configuram e redefinem as redes urbanas, principal-mente no que se refere (des)articulao/integrao espacial e na diviso social e territorial do trabalho que atingem escalas inimaginveis at ento. Posteriormente, procuraremos expor uma anlise da rede urbana paulista a fim de dar um entendimento de como essa rede se (re)estruturou e qual o seu comportamento no perodo atual, trazendo elementos da nossa reali-dade para uma discusso emprica das diferentes teorias apresentadas anteriormente, demon-strando, a partir de mapas-esquemas, os desafios que surgem principalmente no que se refere representao cartogrfica das redes urbanas. E, finalmente, levantamos algumas questes da relao da emergncia da discusso da rede urbana e sua importncia para a vida do cidado comum.

    4.1. Mobilidade campo-cidade

    At meados da dcada de 1960 a populao brasileira era predominantemente rural, con-forme se observa na tabela 2. A partir de ento a populao urbana passa a predominar sobre a rural, numa ascenso constante e acentuada at os dias atuais.

    Total 2000 1996 1991 1980 1970 1960 1950

    Urbana 81,25 78,36 75,59 67,70 55,98 45,08 36,16

    Rural 18,75 21,64 24,41 32,30 44,02 54,92 63,84

    Tabela 2: Percentual da populao residente no Brasil (IBGE)

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    Esse predomnio da populao urbana sobre a rural foi fortemente influenciada pela rev-oluo tcnico-cientfica, iniciada a partir dos anos de 1950, a qual imprimiu uma nova com-plexidade aos processos de urbanizao e industrializao, promovendo o desenvolvimento do capitalismo no campo e a conseqente modernizao da agricultura, redefinindo os espaos rurais e imprimindo-lhes uma nova dinmica; diversificando os servios urbanos; intensifi-cando os fluxos de transportes e comunicaes; acelerando o processo de xodo rural e reestru-turando a interao das reas rurais com os espaos urbanos.

    Assim a modernizao da agricultura no Brasil proporcionou uma nova dinmica tanto nos espaos rurais como nos centros urbanos.

    Os principais reflexos dessa modernizao da agricultura foram o crescimento da sazon-alidade do trabalho agrcola advindo da modificao nas relaes tcnicas de produo e da intensificao do uso de mquinas, implementos e insumos de origem industrial , a concen-trao fundiria e o intenso fluxo migratrio (rural-urbano). Esse fluxo contribuiu, sobrema-neira, para o estabelecimento do novo padro demogrfico brasileiro, com o esvaziamento populacional do campo e o conseqente aumento da populao urbana, conforme apontamos anteriormente.

    Portanto, o avano capitalista no meio rural, que leva desenvolvimento econmico em algu-mas regies em detrimento de outras, intensifica a diviso de trabalho nestes espaos, sendo fator determinante para a compreenso de uma maior ou menor relao entre o rural e o urbano.

    Dessa forma, podemos afirmar que a mobilidade populacional campo-cidade constitui a contrapartida da reestruturao territorial, produtiva e econmica global do capital, determi-nando que o processo migratrio acompanhe a dinmica do mercado de trabalho e na fixao ou transferncia da fora de trabalho de uma regio para outra. E esta dinmica atinge de forma mais significativa e diferenciada os setores menos qualificados da fora de trabalho, que em grande parte integra o que se poderia chamar de mo-de-obra barata, desqualificada, com baixo nvel de escolaridade e disposta a aceitar todo e qualquer tipo de emprego.

    Nesse sentido poderamos apontar quatro fases no que tange ao processo histrico da mo-bilidade populacional no Brasil:

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    Primeiro: a sada do espao rural em direo s cidades;

    Segundo: o deslocamento inter-regional de uma cidade a outra a fim de acompanhar

    as oportunidades de emprego;

    Terceiro: em um nmero significativo de situaes, o retorno ao local de origem, uma

    vez esgotadas as oportunidades e possibilidades de emprego nos espaos dinmicos

    da economia;

    Quarto: a mobilidade pendular ou sazonal, principalmente na relao cidade (local

    de moradia) campo (local de trabalho) e interregionais, estaduais e entre diferentes

    cidades.

    Portanto, atualmente, intensifica-se o ritmo e a velocidade da mobilidade. A questo aponta

    para a sincronia entre fluxo de capital e fluxo de trabalho. So os investimentos produtivos

    capazes de mobilizar fora de trabalho no espao.

    4.2. Redes Urbanas: a construo terica

    Segundo Corra (1998) os primeiros estudos sobre a temtica das redes urbanas foram re-alizados por Richard Cantillon (1680 1734) na anlise da organizao espacial da sociedade. Nesta perspectiva, Cantillon apontava que toda a organizao social se encontrava subordina-da terra, resultando da, uma hierarquia social, resultante da posse ou no da terra, em maior ou menor escala. Considerando a organizao social associada a uma organizao espacial, o autor elaborou um sistema hierrquico entre aldeias burgos cidades capital, sendo que, de acordo com a expanso das reas agricultveis prximas s aldeias, estas podem ascender a burgos, que por sua vez podem ascender a cidades e assim sucessivamente.

    No entanto, a partir da dcada de 1930, com a teoria das Localidades Centrais do gegrafo alemo Walter Christaller (1933) que a teoria das redes urbanas surge com maior destaque. A anlise de Christaller est baseada na organizao esp