curso manejo de hortas orgÂnicas caseiras

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INICIATIVAS PARA O FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR CURSO MANEJO DE HORTAS ORGÂNICAS CASEIRAS. José Amilton Santos Júnior 1 , Luis Auriclelson Antas Miguel 2 , Cyntya Lorena 3 , Genival Barros Júnior 4 , Fernando Garcia de Oliveira 5 ( 1 ) Estudante do Curso de Engenharia Agrícola – Técnico em Agropecuária, Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola/UFCG, [email protected] ; ( 2 ) Estudante do Curso de Sociologia, Unidade Acadêmica de Ciências Humanas/UFCG, [email protected] ; ( 3 ) Estudante do Curso de Ciências Econômicas, Unidade Acadêmica de Ciências Humanas/UFCG, [email protected] ; ( 4 ) Engº Agrônomo e Doutor em Engenharia Agrícola pela UFCG, [email protected] ; ( 5 ) Engº de Produção e Doutor em Sociologia e Professor Titular do Departamento de Economia da UFCG, [email protected] RESUMO: O curso manejo de hortas orgânicas é uma das experiências do projeto “Universidades Cidadãs” na Paraíba. O referido Curso atendeu as comunidades rurais de Margarida Maria Alves e Uruçu, respectivamente nos municípios de Juarez Távora e Gurinhém, e contemplou ações que visam o aprimoramento de questões importantes na busca de um sistema de cultivo sustentável. Desta forma, os participantes tiveram acesso a informações sobre manejo sustentável de solo e água, cuidados no manejo de agrotóxicos e ao meio ambiente. Os jovens das duas comunidades responderam ao curso de maneira distinta sendo que, em uma das comunidades a iniciativa extrapolou a área física da horta comunitária para os cultivos praticados em toda a região do entorno. Palavras Chave: Desenvolvimento sustentado, Manejo de Solo, Matéria orgânica. INTRODUÇÃO Fruto da parceria entre o Comitê de Combate à Fome e Pela Vida – COEP e as Universidades UFCG, UFRPe, UFRN, UFS, UFPI e URCA com atuações efetivas nos Estados da Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Alagoas, Piauí e Ceará, o projeto “Universidades Cidadãs” tem como objetivo auxiliar no desenvolvimento de comunidades rurais através de processos de capacitação, que visam ampliar os horizontes de trabalho para os moradores das comunidades rurais, proporcionando novas oportunidades de geração de emprego e renda. A UFCG é responsável por um dos Pólos da Paraíba (Pólo de Juarez Távora), que abrange as comunidades rurais de Uruçu, Margarida Maria Alves I e Pedra de Santo Antônio, localizadas respectivamente nos municípios paraibanos de Gurinhém, Juarez Távora e Alagoa Grande e um segundo grupo composto pelas comunidades originadas pela remoção das famílias de suas áreas produtivas com a construção da Barragem de Acauã (Novo Pedro Velho, Cajá, Melancia, Costa, e Aguapaba), localizadas nos Municípios de Aroeiras, Itatuba e Natuba. A equipe de trabalho é composta por professores e alunos de diferentes áreas (Ciências Agrárias, Ciências Sociais e Desenho Industrial) o que confere ao trabalho uma característica multidisciplinar, agregando ao mesmo uma qualidade diferenciada nos resultados finais. O objetivo desse artigo é de retratar parte das atividades de capacitação desenvolvidas nas comunidades rurais de Uruçu e Margarida Maria Alves, respectivamente em Gurinhém e Juarez Távora, onde foi ministrado o curso de manejo de hortas orgânicas caseiras. O referido curso contemplou espaços para o aprofundamento de questões importantes na busca de um sistema de cultivo sustentável, de forma que seus participantes tiveram acesso a uma vasta quantidade de informações sobre o manejo sustentável do solo e da água, bem como do uso e manejo dos agroquímicos e dos cuidados mínimos que garantam a saúde do trabalhador(a) e do ambiente em que estão inseridos.

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Page 1: CURSO MANEJO DE HORTAS ORGÂNICAS CASEIRAS

INICIATIVAS PARA O FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR CURSO MANEJO DE HORTAS ORGÂNICAS CASEIRAS.

José Amilton Santos Júnior1, Luis Auriclelson Antas Miguel2, Cyntya Lorena3, Genival

Barros Júnior4, Fernando Garcia de Oliveira5

(1) Estudante do Curso de Engenharia Agrícola – Técnico em Agropecuária, Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola/UFCG, [email protected]; (2) Estudante do Curso de Sociologia, Unidade Acadêmica de Ciências Humanas/UFCG, [email protected]; (3) Estudante do Curso de Ciências Econômicas, Unidade Acadêmica de Ciências Humanas/UFCG, [email protected]; (4) Engº Agrônomo e Doutor em Engenharia Agrícola pela UFCG, [email protected]; (5) Engº de Produção e Doutor em Sociologia e Professor Titular do Departamento de Economia da UFCG, [email protected] RESUMO: O curso manejo de hortas orgânicas é uma das experiências do projeto “Universidades Cidadãs” na Paraíba. O referido Curso atendeu as comunidades rurais de Margarida Maria Alves e Uruçu, respectivamente nos municípios de Juarez Távora e Gurinhém, e contemplou ações que visam o aprimoramento de questões importantes na busca de um sistema de cultivo sustentável. Desta forma, os participantes tiveram acesso a informações sobre manejo sustentável de solo e água, cuidados no manejo de agrotóxicos e ao meio ambiente. Os jovens das duas comunidades responderam ao curso de maneira distinta sendo que, em uma das comunidades a iniciativa extrapolou a área física da horta comunitária para os cultivos praticados em toda a região do entorno. Palavras Chave: Desenvolvimento sustentado, Manejo de Solo, Matéria orgânica. INTRODUÇÃO

Fruto da parceria entre o Comitê de Combate à Fome e Pela Vida – COEP e as Universidades UFCG, UFRPe, UFRN, UFS, UFPI e URCA com atuações efetivas nos Estados da Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Alagoas, Piauí e Ceará, o projeto “Universidades Cidadãs” tem como objetivo auxiliar no desenvolvimento de comunidades rurais através de processos de capacitação, que visam ampliar os horizontes de trabalho para os moradores das comunidades rurais, proporcionando novas oportunidades de geração de emprego e renda. A UFCG é responsável por um dos Pólos da Paraíba (Pólo de Juarez Távora), que abrange as comunidades rurais de Uruçu, Margarida Maria Alves I e Pedra de Santo Antônio, localizadas respectivamente nos municípios paraibanos de Gurinhém, Juarez Távora e Alagoa Grande e um segundo grupo composto pelas comunidades originadas pela remoção das famílias de suas áreas produtivas com a construção da Barragem de Acauã (Novo Pedro Velho, Cajá, Melancia, Costa, e Aguapaba), localizadas nos Municípios de Aroeiras, Itatuba e Natuba.

A equipe de trabalho é composta por professores e alunos de diferentes áreas (Ciências Agrárias, Ciências Sociais e Desenho Industrial) o que confere ao trabalho uma característica multidisciplinar, agregando ao mesmo uma qualidade diferenciada nos resultados finais.

O objetivo desse artigo é de retratar parte das atividades de capacitação desenvolvidas nas comunidades rurais de Uruçu e Margarida Maria Alves, respectivamente em Gurinhém e Juarez Távora, onde foi ministrado o curso de manejo de hortas orgânicas caseiras.

O referido curso contemplou espaços para o aprofundamento de questões importantes na busca de um sistema de cultivo sustentável, de forma que seus participantes tiveram acesso a uma vasta quantidade de informações sobre o manejo sustentável do solo e da água, bem como do uso e manejo dos agroquímicos e dos cuidados mínimos que garantam a saúde do trabalhador(a) e do ambiente em que estão inseridos.

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Por outro lado, a realização deste curso possibilitou a nossa equipe iniciar um processo de otimização dos recursos da “Telesala” existente na Comunidade de Margarida Maria Alves I. Mesmo ainda muito tímidas, as intervenções propostas para os intervalos entre os eventos e direcionadas para assuntos específicos do meio rural, buscaram dar sentido a este importante instrumento ligado a rede mundial de computadores. Em Uruçu as ações direcionadas a Internet não foram solicitadas uma vez que a Comunidade ainda não dispunha de uma Telesala semelhante à de Margarida ou mesmo facilidade de acesso a computadores individuais (não existia se quer uma máquina disponível em toda comunidade). PERFIL DAS COMUNIDADES – Margarida Maria Alves

Localizada no Município de Juarez Távora, distante aproximadamente 48 km de Campina Grande, este assentamento, estruturado a partir da mobilização das famílias agricultoras residentes no local, teve a emissão de posse de seus lotes concretizada em 28 de janeiro e 1998 pela Superintendência do INCRA na Paraíba.

Com uma área total de 731 hectares, onde vivem hoje 44 famílias com lotes que variam de 12,5 a 21 hectares, além de uma área de 147 hectares destinados a Reserva Legal e outra de 18 ha para o cultivo coletivo das famílias associadas à organização comunitária de agricultores. A comunidade tem hoje aproximadamente 216 habitantes, sendo que, entre 2000 e 2001 foram construídas as casas dos agricultores no sistema de agrovila, entre as quais se instalaram dois bares e um mercadinho; 36 destas unidades de alvenaria foram financiadas pelo INCRA com seis famílias optando por ir morar nas suas parcelas.

Todas as casas são providas de energia elétrica, 97 % delas têm cisternas para armazenar água das chuvas, com 31 % recebendo reforço de água potável vinda dos 07 açudes comunitários existentes na área do assentamento, outras 9% também recebem água de barreiros e 13 % de poços ou cacimba. Em 91 % das residências registra-se a disponibilidade de sanitários. Sua economia baseia-se na agricultura de subsistência (feijão e milho) e no cultivo comercial do algodão. A área dos roçados varia de 01 a 06 hectares e todos os assentados têm título de posse da terra, nos quais existem 18 pequenos reservatórios de água. As atividades de criação direcionam-se a pecuária bovina e a criação de cabras que proporciona o leite para consumo das famílias; o cabrito é comercializado junto com o excedente do feijão e do milho e com o algodão. Os rebanhos das famílias variam de 02 a 28 bovinos e de 03 a 15 cabeças de caprinos. O gado se alimenta de cana, capim elefante e palma. Aproximadamente 15 agricultores possuem máquina forrageira.

Na área predominam dois tipos de solos: um pedregoso, com relevo ondulado, de textura arenosa a média, e um outro ainda pouco desenvolvido de textura argilosa, com uma declividade estimada variando entre 6 e 12 %, nos quais não se percebe problemas sérios de erosão. O período chuvoso na região vai de março a julho, com precipitações médias anuais de 950 mm.

Além de agricultores, os assentados também possuem algumas outras profissões, tais como: professores, pedreiros e agente de saúde. O Assentamento possui ensino até a 3ª série e os alunos seguem para Juarez Távora onde concluem os estudos.

O acesso saído de Campina Grande é de 35 km de estrada asfaltada até Juarez Távora (BRA 230 e PB 079), sendo que a partir da Cidade até a agrovila temos 13 km de estradas sem pavimentação, em estado precário e que dificulta em muito o acesso em épocas de chuvas.

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- Uruçu

A comunidade fica localizada no município de Gurinhém, a uma distância de aproximadamente 80 km de Campina Grande, tendo acesso pela BR-230 em direção a capital do estado, possuindo núcleo habitacional principal bastante homogêneo e concentrado.

Sua população é de aproximadamente 1.000 habitantes, distribuídos entre 189 famílias, tendo como uma de suas principais características a organização coletiva, existindo uma associação atuante desde 2001 denominada de Associação Comunitária dos Produtores Rurais de Uruçu, composta atualmente por 66 (sessenta e seis) associados. Grande parte desses associados trabalha em propriedades de terceiros e apenas 2 (dois) possuem terra própria.

A oposição entre libertos e sujeitos tem por referência, primeiramente, o espaço físico onde se situa a residência (grifo deste texto); entre os que são designados por libertos, pois moram em casas próprias ou alugadas fora das propriedades, e aqueles designados por sujeitos, por ocuparem “gratuitamente” uma casa situada no interior das propriedades. (Garcia Junior, 1989: 245-246)

As atividades produtivas são voltadas à agricultura de subsistência como: milho, fava, feijão, batata doce, além do algodão que é comercializado numa escala maior na própria região. Totalmente cercada por fazendas, para que tenham acesso ao cultivo, os agricultores alugam terra da seguinte maneira: na troca de serviço, ou seja, o uso da terra é permitido em contra - partida ao desmatamento e limpa das áreas que ocuparão ou pelo pagamento de um foro no valor R$ 100,00 por ha. O período de uso da terra geralmente é de um ano; após este tempo os fazendeiros/proprietários retomam as áreas para plantio de capim e criação de gado. Com a escassez cada vez maior de terras para o cultivo, cerca de 50 famílias agricultoras passaram a cultivar milho e feijão no alto das serras. Nas áreas baixas arrendadas a preparação da terra é feita com arado tracionado por animal, e algumas vezes por trator.

Bem estruturada, a comunidade conta com mercearias, bares, açougue, padaria e energia elétrica na grande maioria das residências; a água para suprimento da população e dos animais vem de 40 cisternas, um açude de porte razoável pertencente a um fazendeiro da região, um poço artesiano com água salobra e caminhões pipas fornecidos pelo governo municipal quando a situação torna-se critica durante os períodos de prolongadas estiagens.

Existe um posto médico e a comunidade recebe visitas das equipes do PSF duas vezes por semana, com os atendimentos de urgência sendo feitos em Gurinhém, de forma que os pacientes são transportados por carros particulares fretados pela Prefeitura. No que se refere ao transporte, existe apenas uma linha de ônibus que faz o trajeto da Comunidade a Cidade de Gurinhém apenas nos dias da feira (sábado), com os custos sendo bancados pela Prefeitura do Município.

Quanto à educação, existem escolas de ensino fundamental que garantem estudo até a 6º série do ensino fundamental; após esta série os alunos são transportados para a cidade em transporte fornecido pela prefeitura. METODOLOGIA

Partindo das temáticas consolidadas junto às famílias agricultoras nas reuniões específicas que aconteceram na fase anterior do Diagnóstico (Janeiro e Fevereiro de 2006), na qual estava incluso o curso de manejo hortas orgânicas caseiras – requisitado pelos jovens das comunidades - as atividades foram desenvolvidas em cada comunidade, de acordo com a Quadro 1:

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Quadro 1 – Curso de manejo de hortas orgânicas caseiras nas comunidades de Margarida Maria Alves I e Urucu – Campina Grande, julho de 2007.

Curso Comunidade Período de execução

Horas de preparação

Nº de eventos

Horas de

campo

Intervalo médio

em dias entre os eventos

Hortas Orgânicas

versus Informática

Assentamento Margarida

Maria Alves

05 de Julho a 11 de Outubro

38 05 32 19,6

Hortas

Orgânicas Uruçu 12 de Julho a 18 de Outubro - 05 32 20,0

TOTAL - - 38 10 64 19,8

Reuniões para elaboração dos roteiros pedagógicos e a avaliação dos conteúdos precederam todos os eventos. Essa metodologia subsidiou os trabalhos em campo, otimizando o tempo e facilitando a aprendizagem dos participantes. Periodicamente foram realizadas reuniões de equipe visando reavaliar as atividades já desenvolvidas e planejar os próximos módulos. Os principais pontos abordados ao longo dos eventos nas capacitações foram: identificação das aptidões e carências existentes na comunidade para condução da atividade; o solo numa perspectiva orgânica; importância da água no cultivo de hortaliça; produção e manejo de adubos orgânicos; produção de defensivos naturais e manejos das hortaliças. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na prática da extensão universitária com comunidades rurais está inserida a produção do conhecimento e sua apropriação pelo grupo de produtores e pelos estudantes acadêmicos como parte integrante de sua formação profissional (Brasil, 2006). Esse repasse de conhecimento produzirá resultados que podem ser a curto, médio ou longo prazo, possuindo portanto, grande valor.

O rendimento nas duas comunidades envolvidas nesse processo foi distinto. A seguir, encontra - se o desempenho dos participantes de cada uma das comunidades: nível de presença nos eventos, faixa etária dos participantes e encaminhamentos dados pelas próprias comunidades aos novos conhecimentos adquiridos. - Desempenho e rendimento dos jovens de Margarida Maria Alves

Diferentemente dos trabalhos realizados durante a realização do diagnóstico, a dedicação e o comprometimento dos jovens da comunidade ficou muito aquém das expectativas de nossa equipe e totalmente oposto ao desempenho dos jovens que participaram do mesmo curso em Uruçu, contrastando inclusive com os dados observados no Quadro 2, onde percebe-se uma ascendência significativa no nº de participantes no terceiro evento, cuja média final por evento ficou em 5,2 participantes. Quadro 2 - Evolução da participação dos jovens de Margarida durante os eventos de capacitação em Manejo de Hortas Orgânicas x Informática.

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1º evento 2º evento 3º evento 4º evento 5º evento TOTAL

08 07 11 04 01 31 É importante registrar ainda a constante rotatividade entre os participantes, de forma que apenas três jovens (Robervânia, Mª Betânia e Mª do Socorro) mantiveram-se presentes praticamente em quase todos os eventos, com exceção do último encontro, cujo programa previa uma forte intervenção prática do grupo de participantes; entretanto, também merece registro o empenho e compromisso da jovem Mª Betânia, que diferentemente dos demais participantes, interessou-se profundamente pela temática, fato que a motivou a impedir que os demais participantes do curso cancelassem o último evento através de um e-mail a ser enviado à equipe da UFCG, o que resultaria na ausência de nossos estagiários, e que desta forma não teriam como constatar que no quintal de sua residência tinha sido construída uma pequena horta em paralelo a uma composteira, numa clara evidência de que todo o nosso trabalho tinha valido a pena. - Desempenho e rendimento dos jovens de Uruçu

Diferentemente do desempenho mostrado pelo grupo de jovens de Margarida, o trabalho em Uruçu nesta temática pode ser considerado muito acima da expectativa, sendo coroado pela dedicação, comprometimento e engajamento efetivo dos jovens da comunidade, que sempre estiveram presentes nos eventos mostrando uma excelente regularidade conforme podemos observar no Quadro 3, que apesar de apresentar uma diminuição gradativa, principalmente nos eventos finais, apresenta média de participantes por evento de 9,4, praticamente o dobro da média obtida em Margarida. Quadro 3 - Evolução da participação dos jovens de Uruçu durante os eventos de capacitação em Manejo de Hortas Orgânicas.

1º evento 2º evento 3º evento 4º evento 5º evento TOTAL 12 13 09 07 06 47

O comprometimento do grupo evidenciou - se no afinco em que se empregavam nas atividades de fixação dos conteúdos que ficavam para serem executadas no intervalo entre os eventos, sempre trazendo para os encontros seguintes muitas questões a esclarecer. Nas atividades práticas, sempre apresentavam um bom domínio no emprego dos conceitos discutidos nas intervenções teóricas da equipe. Merece destaque a parte do curso destinada às discussões sobre o impacto do uso de agrotóxicos na saúde das famílias agricultoras e no meio ambiente, onde excelentes debates foram realizados, com o grupo tirando como encaminhamento a preparação de materiais didáticos na própria comunidade para difundir as informações ali discutidas com as demais famílias envolvidas com este tipo de produtos. Por outro lado, a divisão democrática e respeitosa das responsabilidades coletivas para construção da composteira e da própria horta é algo que merece registro, de forma que as mesmas tornaram-se uma realidade e estão em plena fase de desenvolvimento. Na Figura 1, podemos observar uma das razões para este comportamento diferenciado, que pode ser atribuído a uma concentração maior de jovens em Margarida Maria Alves na faixa etária entre 10 e 15 anos, que na sua maioria ainda não chegaram ao ensino médio, demonstrando pouca maturidade e um baixo envolvimento nas ações da comunidade. Diferentemente, os jovens da comunidade de Urucu, já mais experientes, e numa faixa etária

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Nº de Jovens participantes

0

5

10

15

20

25

0 a 9 10 a 15 16 a 21 22 a 39 40 a 70 acimade 70

Faixa etária

Qu

antit

ativ

o

Nº de Jovens participantes

0

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0 a 9 10 a 15 16 a 21 22 a 39 40 a 70 acimade 70

Faixa etária

Qua

ntit

ativ

o

mais avançada ( 16 a 21 anos) apresentaram um espírito cooperativo mais centrado, demonstrando um elevado grau de responsabilidade e participação nas ações diretas do curso ou de sua própria comunidade.

Margarida Maria Alves Uruçu Figura 1 – Faixa etária dos participantes no curso de manejo de hortas orgânicas caseiras em Margarida Maria Alves e Urucu – Campina Grande – PB, julho de 2007. CONCLUSÃO

Sendo ministrado em duas comunidades o curso de Manejo de Hortas Orgânicas caseiras obteve resultados distintos: em Margarida Maria Alves os jovens alegaram falta d’água e de incentivo dos próprios pais e não aplicaram os conhecimentos adquiridos para a confecção de uma horta. Em Uruçu os resultados foram opostos: aconteceram debates sobre vários temas como o uso de agrotóxicos, aquecimento global – que evoluiu para uma palestra ministrada pelos próprios participantes aos fazendeiros da região. O grupo de Uruçu que fez o curso, planeja fazer uma feira de produtos orgânicos no início do próximo ano e estão bastante entusiasmados com o novo projeto orgânico na sua comunidade. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA BRASIL, D. F. Técnicas de Extensão em Comunidades Rurais. Natal: URFN, 2006. GARCIA JÚNIOR, A. O sul: caminho do roçado. São Paulo: Marco Zero, 1989