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VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 1402-1415 1402 PROPOSTA DE ATUAÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL ATRAVÉS DO BRINCAR DIANTE DA INDISCIPLINA ESCOLAR. NATÁLIA ANDRADE DE CAMARGO UNESP MARILIA 1 ANDRÉA RIZZO DOS SANTOS BOETTGER GIARDINETTO UNESP-MARÍLIA. 2 Introdução O ser humano é social por natureza. Desde o nascimento se encaixa em uma sociedade, sendo a família seu primeiro núcleo social, seguido da escola. Jurdi (2004) ao se referir à escola, aponta que este é, ‘’o lugar de intermediação entre a família e a sociedade, colocando a criança em contato com novas regras sociais, novos conhecimentos e experiências e diferentes convivências. Lugar para aprender a estar com o outro, a trocar afetos, ouvir e ser ouvido e capacitá-la a se sentir pertencente ao grupo social. E a atividade lúdica se torna um dos principais aliados para alcançar o aprendizado criativo, responsável, reflexivo e questionador do próprio contexto em que vivem’’ (JURDI, 2004, p.28) Assim, a escola tem um papel fundamental no desenvolvimento da criança e para que esse seja desenvolvido de maneira desejável, é necessário que haja qualidade no relacionamento professor-aluno, e para que sejam saudáveis alguns critérios são necessários, como, por exemplo, a confiabilidade e afetividade, uma vez que as relações sociais influenciam a história de vida e o comportamento /desenvolvimento das crianças. Diante disso, uma questão que vêm sendo bastante discutida entre os profissionais da escola é a indisciplina escolar, que de acordo com Amaral (2001, p.11), ‘’está havendo uma crise de indisciplina’’, Abrahim (2009) completa que esta se espalha em praticamente todos os níveis. Assim, o objetivo desse trabalho é identificar por meio dos relatos dos professores as causas da indisciplina escolar de alunos do 1º ano do Ensino Fundamental e propor uma atuação da Terapia Ocupacional através do brincar, a fim de auxiliá-los a diminuir a indisciplina dentro de sala de aula. O foco se dará na atuação do terapeuta ocupacional por meio do brincar, nas questões da indisciplina escolar, com o propósito de auxiliar na relação “professor-aluno’’ visando o aprendizado da criança. Relação professor-aluno’’ 1 [email protected] Discente do 4º ano de Terapia Ocupacional UNESP Marília. 2 [email protected] - Doutora em Educação, Departamento de Educação Especial da UNESP de Marília. Av. Hygino Muzzi Filho, 737 Cidade Universitária Marília Fone (14) 3402- 1331.

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VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 1402-1415

1402

PROPOSTA DE ATUAÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL ATRAVÉS DO

BRINCAR DIANTE DA INDISCIPLINA ESCOLAR.

NATÁLIA ANDRADE DE CAMARGO – UNESP – MARILIA1

ANDRÉA RIZZO DOS SANTOS BOETTGER GIARDINETTO – UNESP-MARÍLIA.2

Introdução

O ser humano é social por natureza. Desde o nascimento se encaixa em uma sociedade,

sendo a família seu primeiro núcleo social, seguido da escola.

Jurdi (2004) ao se referir à escola, aponta que este é, ‘’o lugar de intermediação entre a família e a sociedade, colocando a

criança em contato com novas regras sociais, novos conhecimentos e

experiências e diferentes convivências. Lugar para aprender a estar com o

outro, a trocar afetos, ouvir e ser ouvido e capacitá-la a se sentir

pertencente ao grupo social. E a atividade lúdica se torna um dos principais

aliados para alcançar o aprendizado criativo, responsável, reflexivo e

questionador do próprio contexto em que vivem’’ (JURDI, 2004, p.28)

Assim, a escola tem um papel fundamental no desenvolvimento da criança e para que esse

seja desenvolvido de maneira desejável, é necessário que haja qualidade no relacionamento

professor-aluno, e para que sejam saudáveis alguns critérios são necessários, como, por

exemplo, a confiabilidade e afetividade, uma vez que as relações sociais influenciam a

história de vida e o comportamento /desenvolvimento das crianças.

Diante disso, uma questão que vêm sendo bastante discutida entre os profissionais da escola é

a indisciplina escolar, que de acordo com Amaral (2001, p.11), ‘’está havendo uma crise de

indisciplina’’, Abrahim (2009) completa que esta se espalha em praticamente todos os níveis.

Assim, o objetivo desse trabalho é identificar por meio dos relatos dos professores as causas

da indisciplina escolar de alunos do 1º ano do Ensino Fundamental e propor uma atuação da

Terapia Ocupacional através do brincar, a fim de auxiliá-los a diminuir a indisciplina dentro

de sala de aula. O foco se dará na atuação do terapeuta ocupacional por meio do brincar, nas

questões da indisciplina escolar, com o propósito de auxiliar na relação “professor-aluno’’

visando o aprendizado da criança.

Relação “professor-aluno’’

1 [email protected] – Discente do 4º ano de Terapia Ocupacional – UNESP Marília.

2 [email protected] - Doutora em Educação, Departamento de Educação Especial da

UNESP de Marília. Av. Hygino Muzzi Filho, 737 – Cidade Universitária – Marília – Fone (14) 3402-

1331.

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‘’No processo de educação escolar, o vinculo professor/aluno nos parece

fundamental para que a relação aconteça. Sem ele nenhum referencial

adiantaria. Vinculo se constrói na Constância de tempo e espaço.

Regularidade de presença e compromisso (...). Este caminho também se dá

através da afetividade. A inteligência inicial da criança é profundamente

afetiva. Só aprendemos com quem gostamos”. (COSTA, 2002 apud

JURDI, 2004, p. 30)

Primeiro ocorre a internalização dos objetos culturais e depois o desenvolvimento

(VIGOTSKY, 2005). Por exemplo, primeiro a criança internaliza o que é a escola, o

professor e depois se desenvolvem os papéis, mesmo que estes sejam desapropriados, caso a

internalização seja de forma distorcida. E para que haja a internalização e o

desenvolvimento, deve haver o afeto como mediador.

Logo, a relação entre professor-aluno depende, fundamentalmente, do clima estabelecido

pelo professor, da relação empática com seus alunos, de sua capacidade de ouvir, refletir e

discutir o nível e compreensão dos alunos e da criação de pontes entre o seu conhecimento e

o deles.

Segundo Motta e Takatori (2001) o estado emocional da criança influencia em sua

aprendizagem e adaptação. Portanto, a criança precisa estar segura na relação com o

professor e com os outros que participam dessa sociedade.

Luckesi (2005, p.34) diz que, ‘’Muitas vezes, temos nos debatido entre dois focos da prática educativa; o

cognitivo e o afetivo. Tradicionalmente, na educação moderna (séc. XVI

ao XX), temos privilegiado a formação lógica da mente, através dos

conteúdos científicos, na crença iluminista de que ‘’conhecer é poder’’. E

aqui o termo ‘’conhecer’’ refere-se ao conhecimento cognitivo

considerado ‘’certo’’. Foi com esse olhar que realizamos a educação

predominante nas escolas dentro do período considerado da modernidade’’

Abrahim (2009) sugere que o professor conquiste e se comunique com seu aluno e para tal,

pode utilizar recursos que facilitem esse vínculo, sendo este significativo para a criança, para

que ela se interesse e interfira em sua qualidade de vida. O que vem de encontro com essa

afirmação é a proposta desse trabalho, que sugere o brincar como meio.

O Afeto

As ações não se constituem apenas objetivamente, sem a presença de emoções e afeto. Essas

paixões norteiam novos sentidos e significados que possibilitam a formação de um

relacionamento. (ROCHA, 2004).

Wallon (1968) diferencia emoção de afeto. Para esse autor, emoção é algo que se explica

através do comportamento orgânico, por exemplo, o medo de um animal que faz com que o

sistema parassimpático seja ativado e haja uma resposta orgânica. Já o afeto é mais amplo,

pois é a junção de dois componentes, o orgânico (emoções) e o psicológico (sentimentos).

Portanto, a afetividade controla a qualidade do vínculo professor- aluno. Leite e Tassoni

(2002, p.13) apontam que ‘’(...) é possível afirmar que a afetividade está presente em todos

os momentos ou etapas do trabalho pedagógico desenvolvido pelo professor, o que extrapola

a sua relação ‘tête-à-tête’ com o aluno’’.

O professor deve saber mensurar a autoridade, o respeito e a afetividade, ou seja, estabelecer

normas, respeitar a individualidade e liberdade, ajudar quando necessário, sem privilegiar um

ou outro, para que consiga criar no aluno um padrão de responsabilidade e interesse. Esse

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afeto, que gera uma amizade deve ser limitado para que a criança não confunda o professor

com um amigo comum.

Indisciplina

O conceito de indisciplina não é consensual, nem tão pouco estático, já que é um conjunto de

valores e expectativas que varia de acordo com o tempo, cultura, sociedade e história

(REGO, 1996). Millani (2000, p.11) diz que ‘’as idéias acerca da indisciplina estão longe de

serem consensuais’’.

A sociedade tem a tendência em explicar ‘’indisciplina’’ como sendo um comportamento de

‘’falta de educação’’ dos alunos pelos professores e autoridades (AMARAL, 2001).

Nérici (1989, p.253) diz que ‘’disciplina representa a maneira de agir do individuo, em sentido de

cooperação, bem como de respeito e acatamento ás normas de convívio de

uma comunidade. Em sentido didático, representa a maneira de agir do

educando, no sentido de cooperação no desenvolvimento das atividades

escolares e respeito pelos colegas’’.

De acordo com o dicionário Houaiss (2009), Indisciplina significa: ‘’falta de disciplina;

desobediência, insubordinação, rebeldia, violação de regras ou ordens impostas pelo

empregador ou por seus prepostos’’.

A indisciplina escolar se refere ao comportamento inadequado do aluno segundo as normas

estabelecidas pelos professores/diretores e nem os respeita, que não convive bem com os

colegas e/ou aquele que não se concentra naquilo que está sendo exposto em sala de aula

(ABRAHIM, 2009; REGO, 1996). ‘’Um aluno indisciplinado não é entendido como aquele que questiona,

pergunta, se inquieta e se movimenta na sala de aula, mas sim como aquele

que não tem limites, que não respeita a opinião e sentimentos alheios, que

apresenta dificuldades em entender o ponto de vista do outro e de se

autogovernar, que não consegue compartilhar, dialogar e conviver de

modo cooperativo com seus pares.’’ (REGO, 1996, p. 87).

Para Abrahim (2009) a sala de aula é um lugar muito difícil de esquecer, sendo o centro de

toda a história da criança e de todo professor. Portanto, vale ressaltar, que os acontecimentos

que ali surgirem podem refletir por toda a vida da criança e do professor. Ainda de acordo

com esse autor, se a criança é indisciplinada, ‘’as conseqüências da indisciplina são tais que

podem transformar negativamente a vida do ser humano, não apenas na fase escolar, mas por

toda a vida’’ (ABRAHIM, 2009, p.54).

De acordo com Taille (1996) a indisciplina não se limita apenas à desobediência das regras

e/ou normas, mas também ao fato da criança não conhecê-las.

Mas quais seriam as causas da indisciplina? Existem vários motivos e pontos de vista, ainda

em debates, que podem justificar tal comportamento. Um deles seria o resultado da violência

em desenhos apresentados na TV, em filmes e programas jornalísticos que mostram

claramente maneiras de agredir o outro; a desestrutura familiar; o desinteresse dos pais

quanto aos estudos dos filhos e seu desenvolvimento; a desvalorização da escola; a

personalidade do aluno; a fase do desenvolvimento em que a criança se encontra; a falta de

autoridade do professor; o autoritarismo por parte do professor; a qualidade das aulas;

matérias incompreensíveis; pouco tempo para socialização; espaços organizados, os horário

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das aulas, a maneira como o professor ministra a aula; a obrigação da criança em permanecer

horas sentado; ausência de regras claras, dentre outros. (REGO, 1996; ABRAHIM, 2009)

E de quem seria a culpa da indisciplina escolar? Os alunos culpam a escola e professores,

devido às aulas ministradas, os professores culpam os pais, por não apresentarem uma

organização familiar, que por sua vez culpam o professor por não ter autoridade dentro de

sala de aula, e este culpa os alunos que não são comportados, formando assim, um ciclo

vicioso. (AMARAL, 2001).

a escola também necessita de regras e normas que delineiam sua forma de funcionar e o

convívio das pessoas que ali se inserem.

Portanto, o professor tem o papel de disciplinador, já que quem ‘’educa, oferece parâmetros

e estabelece limites’’. (REGO, 1996, p. 86)

1. 4 Terapia Ocupacional, o brincar e a escola

De acordo com Chance (1979) o ‘’brincar é como o amor: todo mundo sabe o que é, mas

ninguém pode defini-lo’’, contudo Zen (2009) completa que é fácil de reconhecê-lo (ZEN,

2009).

Takatori (2003, p.09) ao se referir ao brincar, diz: “quando me refiro ao brincar não faço somente com relação às

brincadeiras tradicionais ou ao uso de jogos e brinquedos que compõem o

brincar como um espaço e tempo nos quais acontecem atividades que

possibilitam o sujeito estabelecer contato com a realidade interna e externa

de forma criativa [...]. Incluem-se nessas experiências o brincar com

brinquedos, cantar, ouvir música, comer, tomar banho, desenhar, pintar,

conversar, ou qualquer outra atividade que possibilite a entrada e

manutenção do sujeito na realidade social de forma singular.”

Rezende (2009) e Takatori (2003) afirmam que o brincar no cotidiano da criança é

fundamental à sua saúde, assim como outras atividades do dia a dia. Vial (1981 apud

FERLAND, 2006, p.1) diz que ‘’o brincar e o brinquedo são tão necessários à criança quanto

o ar ou a comida’’.

Ao brincar a criança vive os elementos externos e mistura com seu mundo interno. Segundo

Parham e Fazio (2000) através do brincar a criança revela suas capacidades cognitivas, sua

forma de se comunicar socialmente, sua fantasia, independência e reprodução. Takatori

(2003) diz que ao brincar a criança demonstra suas singularidades, que são essenciais para o

processo terapêutico. ‘’o brincar gera situações de interação e de construção de conhecimento da

realidade, de sociabilidade, de experimentação da relação com o outro, de

experimentação da cultura e de exercício da decisão e da interação,

permitindo á criança, colocar-se em contato com seus limites e

capacidades, bem como, com seus sentimentos, num clima favorável de

satisfação pela possibilidade de criação das próprias decisões, ação sobre

as situações concretas do cotidiano e realização de seus desejos e

escolhas’’. (JURDI, 2004).

O brincar como Recurso Terapêutico da Terapia Ocupacional foi reconhecido pela AOTA

(ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE TERAPIA OCUPACIONAL) em 2002 e compreende

uma dinâmica social e cultural da criança.

A Terapia Ocupacional tem saído do seu espaço terapêutico tradicional buscando uma

ampliação de sua intervenção, que tem por objetivo o entorno social, a autonomia e a

melhora da qualidade de vida das pessoas que, por motivos diversos, tem apresentado

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dificuldade na inserção e inclusão (participação efetiva - funcional) na sociedade. Partindo

desse raciocínio, a Terapia Ocupacional visa o cotidiano escolar além dos aspectos

pedagógicos.

O trabalho do terapeuta ocupacional é caracterizado pela interdisciplinaridade e o seu objeto

é toda a comunidade escolar, ou seja, os educadores, os estudantes, os funcionários, os

familiares, o ambiente, os materiais, e a comunidade. O mesmo se inspira na busca do

fortalecimento do potencial de pensar e agir das pessoas envolvidas, na facilitação do

processo de construção de soluções de problemas e do aprendizado, disponibilizando os

recursos necessários para que isso aconteça.

Assim, segundo Rocha (2003, pág. 76)‘’a meta da Terapia Ocupacional, no espaço escolar, é

o fortalecimento da potencia de ação dos educadores e dos educandos, facilitando a

emergência de soluções para os impasses a partir do próprio grupo, utilizando-se de

diferentes atividades, adequadas às necessidades de cada realidade’’.

Nesse sentido, o foco desse estudo se dará na atuação do terapeuta ocupacional por meio do

brincar, nas questões da indisciplina escolar, com o propósito de auxiliar na relação

“professor-aluno’’ visando o aprendizado da criança. Para tal, foram escolhidos os alunos do

1º ano do Ensino Fundamental, por ser este um ano muito importante na vida da criança, já

que é a transição do Ensino Infantil para o Fundamental e as atitudes que ali acontecem

podem repercutir por toda sua vida.

2 Obejtivo

Esta pesquisa tem por objetivos identificar por meio dos relatos dos professores as causas da

indisciplina escolar de alunos do 1º ano do Ensino Fundamental e propor uma atuação da

Terapia Ocupacional através do brincar, a fim de auxiliá-los a diminuir a indisciplina dentro

de sala de aula.

2.1 Objetivos Específicos

- identificar os motivos da indisciplina escolar de crianças do 1º ano do Ensino Fundamental

por meio do relato dos professores;

- apontar propostas de atendimento de Terapia Ocupacional para amenizar tal

comportamento por meio do brincar;

- auxiliar na relação “professor-aluno’’ visando o aprendizado da criança.

3 Método

3.1 Participantes

O estudo teve a participação de 10 professoras do 1º ano do Ensino Fundamental de escolas

particulares.

O critério de inclusão para a participação destes professores era atuar no 1º ano do Ensino

Fundamental de escolas particulares.

3.2 Local

A pesquisa foi realizada nas escolas particulares de uma cidade do interior do Estado de São

Paulo.

De acordo com Aquino (1996) os problemas decorrentes da indisciplina escolar não cabem

somente à escola pública ou à escola particular e muito menos em uma diferença

proporcional entre elas, muito pelo contrário. Ambas as escolas sofrem da mesma demanda

de problemas indisciplinares, mesmo que a problemática repercuta em significados

diferentes entre elas.

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Portanto, se justifica a escolha por professores de escolas particulares, também pela

disponibilidade destes em participarem da pesquisa.

3.3 Material e Instrumento

O material utilizado na pesquisa foi o Roteiro de Entrevista Semi-Estruturada sobre a

Indisciplina Escolar, que foi elaborado pelas pesquisadoras e é composto por 11 questões.

O Roteiro de Entrevista Semi-Estruturada sobre Indisciplina Escolar (Apêndice A) trata-se

de uma entrevista dirigida aos professores do 1º ano do Ensino Fundamental, que permite

analisar o que este professor entende por indisciplina e o que ela envolve; qual a

porcentagem de alunos indisciplinados que existem na sala de aula e se existe algum método

para diminuir a indisciplina. Também permite analisar se esse profissional conhece a Terapia

Ocupacional e sua atuação no contexto escolar.

3.4 Procedimento

3.4.1 Coleta de dados

Para fazer o levantamento dos participantes da pesquisa, inicialmente será realizado contato

com as diretorias das escolas particulares da cidade para autorização da pesquisa e para fazer

um levantamento dos professores que são responsáveis pelo 1º ano do Ensino Fundamental

dessas escolas.

A solicitação de autorização (Apêndice B) e o Termo de Consentimentos Livre e Esclarecido

(Anexo A) serão entregues à instituição e aos participantes da pesquisa com as explicações e

esclarecimentos sobre a mesma.

A aplicação do instrumento foi realizada com os professores no mês de agosto e setembro,

nos dias e local determinados por eles.

3.4.2 Análise de dados

A análise dos dados coletados foi realizada de forma qualitativa, analisando as respostas

dadas às questões pelos professores participantes.

4. Resultados e Discussão

Os resultados apresentados serão discutidos qualitativamente baseados nas respostas dadas

pelas professoras às questões relacionadas à indisciplina escolar.

A seguir, na tabela 1 serão descritos os dados demográficos das participantes na pesquisa.

Tabela 1. Características das professoras participantes da pesquisa. Professor Escola Há quantos

anos leciona Há quantos anos leciona nessa escola

Para qual turma leciona

Quantos alunos têm em

sala

Quantos alunos

indisciplinados em sala

P1 A 25 21 1º ano do E.F. 10 4 P2 A 25 21 1º ano do E.F. 13 0 P3 A 18 4 1º ano do E.F. 15 2 P4 C 18 3 1º ano do E.F. 22 3 P5 C 4 6* Maternal II, 1º

e 2º ano do E.F.

16 0

P6 C 7 3 Jardim I e 1º ano do E.F.

17 5

P7 N 4 4 1º ano do E.F. 8 1 P8 D 18 11 1º ano do E.F. 13 0 P9 D 23 5 meses 1º ano do E.F. 16 1 ou 2

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P10 T 3 6 meses 1º ano do E.F. 21 7

* antes de ser professora era Auxiliar de Classe.

Observando a tabela 1, pode-se perceber que dentre as 10 professoras entrevistadas o tempo

em que lecionam varia de 3 à 25 anos e quanto tempo lecionam na escola atual varia de 5

meses à 21 anos.

A quantidade de alunos em sala de aula varia de 8 a 22 crianças, e dentre essas crianças existe

de 1 a 7crianças que as professoras consideram indisciplinadas. Apenas 3 professoras

responderam que não têm alunos indisciplinados esse ano (figura 2), o que vai ao encontro dos

achados por Amaral (2001) que diz que atualmente está tendo uma ‘’crise de indisciplina’’.

De maneira geral, as resposta sobre indisciplina escolar se relacionavam a um comportamento

inadequado, falta de regras e o descumprimento destas, falta de limites e respeito, fatores

familiares e desinteresse por parte do aluno. Tais relatos podem se confirmar através de

Aquino, (1996) que traduz, através de outros professores, que indisciplina escolar é ‘’bagunça,

tumulto, falta de limites, maus comportamentos, desrespeito ás figuras de autoridade,

etc.’’(AQUINO, 1996, p.40)

A tabela 2 relaciona os agentes causadores da indisciplina que foram descritos pelas

professoras na resposta da pergunta: “Em sua opinião, qual (s) a (s) causa (s) da indisciplina?”

e a porcentagem que foram identificados.

Tabela 2. Causas da indisciplina escolar e porcentagem de respostas. Causas Porcentagem

Falta de Limites e Regras 40% Ausência dos Pais 10% Falta de Educação dada em Casa 20% Fatores de fundo emocional (falta de afeto e atenção, carência) 40% Estruturação familiar (separação de pais, por exemplo) 20% Nascimento de um irmão 10% Desinteresse dos pais á atuação dos filhos na escola 20% Dificuldade de aprendizagem (TDAH, por exemplo) 20% Fator externo ao aluno (insegurança do professor nos conteúdos, a forma em que a atividade é proposta, falta de planejamento de aula, falta de autoridade do professor)

40%

Analisando as respostas das professoras pode-se concluir que as causa podem se agrupar em 3

conjuntos: fatores familiares (falta de limites e regras, ausência dos pais, falta de educação

dada em casa, estruturação familiar, nascimento de um irmão, desinteresse dos pais à atuação

dos filhos na escola), internos à criança (fatores de fundo emocional e dificuldade de

aprendizagem) e instituição de ensino (fatores externos ao aluno). Sendo o que mais foi

destacado foi de origem familiar. “Muitos fatores podem contribuir com a indisciplina, problemas familiares, falta de limites, carência,

faz com que a criança apresente diferentes formas de comportamento.’’ – P8

“São vários! Dentre eles: falta de planejamento por parte de alguns professores, falta de limites dos

alunos, desvalorização da escola por parte de alguns pais, pois não aparecem na escola e muito menos

em reuniões. A falta de autoridade de alguns professores e lembro que ter autoridade não significa ser

autoritário, a dificuldade de aprendizagem também causa indisciplina, o TDAH, por exemplo.” – P9

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Comparando as respostas das professoras com um estudo feito por Zagury (2006 apud

ABRAHIM, 2009) com mil professores em várias regiões do país, as causas da indisciplina

são muito parecidas com este estudo, pois foi constatado, que em sua maioria os alunos não

têm limites, são rebeldes, agressivos, faltam com respeito, falta de educação familiar, liberdade

das famílias, falta de interesse e apoio da família, excesso de alunos em sala de aula, falta de

interesse e motivação dos alunos, desestrutura familiar, falta de autoridade do professor,

insegurança do professor e desvalorização do mesmo.

Uma série de fatores que levam à indisciplina tem origem no próprio aluno, podendo ser de

natureza biológica, social ou psicológica. Quando se refere à biológica pode citar como

exemplo, a desnutrição, esgotamento físico, problemas visuais e/ou auditivos, desordens

neurológicas, déficits, entre outras. Diante a natureza social pode-se levar em conta a condição

sócio-econômica da família da criança, tanto alta como baixa. Já a ordem psicológica se refere

às emoções, ou seja, a morte de alguém próximo, separação dos pais etc. (ABRAHIM, 2009).

Quando se refere à causa da indisciplina como questão familiar, o que vem sendo discutido é a

ausência dos pais na vida de seus filhos, falta de afeto em casa ou excesso de mimo, falta de

limites e regras, ciúme entre os irmãos, famílias desestruturadas, e a violência doméstica. O

relato de uma das professoras da pesquisa foi nessa direção: ‘’muitas vezes os pais ficam tanto

tempo fora de casa que para compensar a ausência enchem os filhos de brinquedos, fazem

todas as suas vontades’’.

Segundo Aquino (1996, p.46) o aluno é indisciplinado, supostamente, por ‘’um sintoma de

relações familiares desagregadoras, incapazes de realizar a contento sua parcela no trabalho

educacional das crianças e adolescentes ’’.

Quando se fala da questão de indisciplina relacionado ao professor, pode-se articulá-la à

questão didática do mesmo. Sua metodologia de ensino, se são sempre as mesmas aulas, se são

monótonas e desinteressantes, como é estabelecida as normas e regras em sala de aula.

(ABRAHIM, 2009)

Quando as regras são definidas com pouca clareza pela escola e/ou professores aos alunos, ou

que sejam seguidas de forma rígida, em excesso, refletem uma resistência da criança em

obedecê-las, o que se traduz em um comportamento indisciplinado pelos professores

(AMARAL, 2001), o que vai ao encontro da internalização proposta por Vigotsky (2005),

descrita na introdução. Leal (2003) aponta que ‘’a professora de educação infantil é, além de

professora, também educadora’’.

A estruturação da escola não pode ser separada da familiar, já que este é um eixo que compõe

um processo (AQUINO, 1996).

Outra questão investigada na pesquisa, foi se existe ou não na opinião dos professores,

atividades que possam aumentar ou diminuir o comportamento considerado indisciplinar.

Entre as entrevistadas, 60% das professoras relataram que sim, que existem atividades que

aumentam o comportamento indisciplinar, como as atividades extras, a educação física,

atividades de competição, atividades lúdicas em grupo, atividades que não chamem a atenção

da criança, a ociosidade e a falta de integração dentre os colegas.

Quanto às atividades que diminuem o comportamento considerado indisciplinar 90% delas,

afirmaram que existem atividades que podem auxiliar a diminuir tal conduta, dentre elas

atividades que gerem interesse da criança como, músicas, leitura, recorte e colagem, massinha

de modelar, jogo da memória, atividades recreativas que envolvam o conteúdo aplicado do dia

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e regras que tenha que respeitar o colega, jogos pedagógicos e combinados entre professor e

aluno.

Referente à questão de numero 10, sobre o conhecimento de estratégias que diminuam a

indisciplina em sala de aula, as professoras responderam que conhecem e aplicam em sua sala

de aula. “Falo que vai conversar com a diretora e lá resolvem o problema.” – P1

“Tratá-los com respeito, carinho e também sendo firme quando necessário.” – P3

“Pedir ao aluno que seja o auxiliar do dia’’ – P4

“No final da aula a criança que se comporta bem ganha uma estrela.” – P6

Abrahim (2009, p.55) refere que ‘’a melhor maneira de controlar o aluno é dando-lhe

responsabilidades, fazendo com que participe mais ativamente das atividades propostas, tenha

seu tempo sempre ocupado, sentindo-se importante e útil diante das tarefas que lhe são

atribuídas’’.

Ao serem questionadas se a indisciplina afeta as relações existentes (professor-aluno e/ou

aluno/aluno) todas responderam que sim, que afeta tanto que elas perdem a concentração,

ficam estressadas, desanimadas, podendo até gerar implicância com aquele aluno. Quanto aos

colegas de sala de aula, estes se afastam, não querem sentar perto, reclamam do colega o

tempo todo criando uma apatia entre o grupo, já que a criança indisciplinada cria tumulto, tira

a atenção dos outros, prejudicando o relacionamento afetivo entre eles e a aprendizagem. “Acredito que sim, às vezes, sinto ‘’implicância’’ do aluno indisciplinado.” – P1

3

“O professor acaba ficando estressado, desanimado em seu desempenho. As crianças brigam entre

si.” – P3

“Os colegas começam a se afastar, não querem sentar perto e reclama deles o tempo todo.” – P4

Outra questão abordada foi se elas consideram que as atividades lúdicas, como o brincar,

diminuem o comportamento indisciplinar e se favorecem as relações ‘’professor-aluno’’ e/ou

‘’aluno-aluno’’. Todas responderam que sim para ambas as questões, já que ao brincar a

criança se depara com as regras, e essas atividades ajudam a criança a aprender a ter paciência,

respeito, porque sai da rotina de ficar somente escrevendo, fazendo os deveres de apostilas e

cadernos, diminuindo as ‘’responsabilidades’’.

Quando a criança participa de atividades lúdicas, segundo as professoras da pesquisa, ela

mostra outro lado que o professor não vê nas tarefas pedagógicas, conhecendo melhor seu

aluno, suas necessidades e descobrindo suas dificuldades, sabendo como abordá-lo.

De acordo com as respostas das professoras, o brincar favorece a socialização, a boa

convivência, o respeito mútuo, aproxima as relações, pois aumenta o afeto e amor entre os

colegas e com o professor. Assim, de acordo com Ferland (2006) ao brincar a criança tem um

convívio social, já que se relaciona com os outros, pois dividi o brinquedo, se comunica,

espera um a vez do outro e de alguma forma se adapta para que a brincadeira seja agradável

para todos. Portanto, quanto mais a criança brincar, mais ela estará envolvida socialmente com

o grupo.

“Favorece a socialização, o respeito e através do brincar você conhece melhor o seu aluno,

sabendo como abordá-lo’’ – P3 “Porque sai da rotina de ficar somente escrevendo, fazendo os deveres de apostilas e caderno.

Ninguém se distancia, o afeto entre eles é maior, aproximando também o aluno do professor.” – P4

3 A professora demonstrou estar envergonhada em responder que sente ‘’implicância’’ do aluno indisciplinado.

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“O brincar revela ao professor as necessidades que o aluno apresenta de forma lúdica ele descobre

suas dificuldades, além de haver uma aproximação afetiva.” – P5

Para Sanders, Sayer e Goodale (1999 apud Ferland, 2006, p.3) ‘’é brincando que a criança

adquire habilidades que a ajudarão a enfrentar as situações que se apresentam, formando,

assim, as bases do comportamento adaptativo que lhe será útil’’.

Sendo assim, através do brincar a criança e reproduz aquilo que está vivenciando de alguma

maneira (PARHAM; FAZIO, 2000).

O RCNEI aponta que o professor é o elemento mediador na Educação Infantil para que

aconteça o brincar. “É preciso que o professor tenha consciência de que na brincadeira as

crianças recriam e estabilizam aquilo que sabem sobre as mais diversas esferas do

conhecimento, em uma atividade espontânea e imaginativa” (BRASIL, 1998, vol. 1, p. 29).

Em relação à questão sobre o conhecimento do trabalho da Terapia ocupacional no contexto

escolar, apenas duas professoras responderam que sim.

Terapia Ocupacional e o brincar como estratégia para diminuir a indisciplina

escolar.

Diante da discussão apresentada anteriormente segue uma proposta de atuação da Terapia

Ocupacional através do brincar a fim de diminuir a indisciplina escolar.

Jurdi (2004, p.30) relatou uma proposta em uma rede pública de ensino que transparece o que

esse trabalho propõe. A direção da intervenção era realizar atividades semanais que

enfatizassem o lúdico com os alunos da classe e discussões com os professores e coordenação

da escola, buscando juntos, soluções e alternativas para os problemas levantados.

Para Gomes (2010) o trabalho da terapia ocupacional pode ser desenvolvido com os

professores, os alunos, pais e funcionários da escola facilitando a resolução das dificuldades,

dos sentimentos e emoções que dizem respeito ao relacionamento desses atores diante da

indisciplina escolar.

A Terapia Ocupacional traz à compreensão do potencial de que as atividades podem trazer

respostas concretas à problemática, no caso, indisciplina escolar, e dar norte à intervenção

próxima ao cotidiano escolar com foco no aluno, respaldando as relações que ali existem.

(JURDI, 2006).

Para Jurdi (2004) O uso de atividades propicia modificações nas interações que se estabelecem

em determinados grupos, facilitando relações e possibilitando uma

comunicação que antes estava prejudicada. A escola não se diferencia nesse

sentido, e, portanto, a atividade poderia favorecer novas perspectivas de ação

comunitária entre as crianças e entre alunos e professores.

Como já visto o brincar é um recurso da Terapia Ocupacional e de acordo com Gomes

(2006) ao brincar a criança se insere no mundo, fala de si, desenvolve e absorve

conhecimento e aprende, expressa seus sentimentos e se insere na sociedade. Isso vai de

encontro com a proposta do trabalho e das falas das professoras que ao brincar a criança

revela suas necessidades ao professor e acaba exprimindo o porquê desse comportamento.

Por isso é muito importante que o professor participe desse brincar, já que ele está em contato

direto com a criança todos os dias, aproximando suas relações e de acordo com Abrahim

(2009) o aluno entenda que o professor é seu amigo, e este entenda o que se passa com a

criança, descobrindo o verdadeiro fator que causa a indisciplina e assim atuar com ela,

favorecendo a diminuição desse comportamento.

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Isso vai de encontro com algumas estratégias das professoras da pesquisa em diminuir a

indisciplina, que utilizam a atenção mais individualizada em dados momentos, o carinho, uma

comunicação mais direta, elogios, destacando este aluno. A proposta da Terapia Ocupacional é

que utilize o brincar, já que é lúdico para a criança como meio para as estratégias das mesmas.

De acordo com Leal (2003) ‘’a figura da professora na vida da criança pré-escolar é muito

importante, dada a conjuntura emocional e psicológica em que ela vive’’.

Para o mesmo autor o professor de Educação Infantil que atua com o brincar é ousado, já que

oferece uma educação lúdica.

O RCNEI destaca o valor do brincar para a criança, em especial se o professor sabe

diferenciar o brincar com objetivo didático do brincar como atividade livre, sem dar mais

importância para um do que para o outro.

O Terapeuta Ocupacional também pode atuar como um meio facilitador entre o professor e a

criança através do brincar. Pode, de acordo com Ferland (2006), criar uma situação agradável

para estes, por exemplo, criar uma história próxima da realidade em que esses personagens

se incluem e que sejam significativos para que ambos participem e aumente o afeto entre

estes, ajudando em seu relacionamento. Para Costa (2002, p.21) ‘’só aprendemos com quem

gostamos’’, por isso é importante esse brincar entre o professor e o aluno.

A Terapia Ocupacional trabalha junto com esses professores norteando o tipo de brincadeiras

consideradas mais adequadas para a faixa etária em que a criança se encontra, conciliando

com o objetivo terapêutico, podendo ou não juntar com o conteúdo pedagógico que o

professor quer trabalhar, bem como em adaptar as atividades pedagógicas para a idade em

que a criança se encontra, sendo essas mais motivantes, caso seja a conduta didática do

professor a causa da indisciplina.

Essas conversas com esses professores podem acontecer no momento em que forem fazer o

planejamento de aula ou também, de acordo com Rezende (2009) através de palestras

informando sobre a importância do brincar e seus benefícios no relacionamento ‘’professor-

aluno’’ e ‘’aluno-aluno’’ e para o desenvolvimento global do aluno. Também pode tematizar

algumas palestras sobre alguns distúrbios de aprendizagem que podem interferir no

comportamento do aluno, bem como sobre o desenvolvimento infantil.

Se a causa for familiar, a Terapia Ocupacional pode atender essa população com palestras e

conversas mais formais, na qual pode ser abordado sobre a importância do brincar para a

criança em seu desenvolvimento, comportamento e relacionamento, e também indicar

estratégias de como os pais podem ajudar a minimizar a indisciplina escolar (REZENDE,

2009), indo de encontro com o que é abordado na disciplina de ‘’orientação familiar’’.

Caso seja intrínseco à criança, o Terapeuta Ocupacional pode encaminhar se necessário, para

outros profissionais, como o médico, por exemplo.

É importante que outras crianças participem desse momento de brincar, pois favorecerá a

socialização entre elas, poderão perceber que o colega tem uma questão a ser resolvida e

podem compartilhar o momento com ele, entre outros, já que a atividade de brincar permite

que à criança se relacione com o outro, pois dividirão o brinquedo, se comunicarão, terão a

oportunidade de resolver os problemas, como já citado no estudo. (Ferland, 2006)

Dessa maneira é fundamental a atuação da Terapia Ocupacional no âmbito escolar, pois não

só dará suporte para diminuir a indisciplina, mas também à criança, à família, e à escola,

visando facilitar seus relacionamentos, com ajustes das expectativas de desempenho e

otimização da relação da criança com o ambiente. (REZENDE, 2009)

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CONCLUSÃO Nesse trabalho foi visto que a indisciplina escolar vem sendo um problema grave, que os

professores vêm enfrentando em seu dia a dia.

Abordou-se como tem sido o atual comportamento indisciplinar de alguns alunos em sala de

aula, as implicações dele nos relacionamentos ali existentes, e a importância do brincar para a

criança.

Conclui-se, portanto, a necessidade da Terapia Ocupacional no âmbito escolar, para ajudar o

professor a diminuir esse comportamento indisciplinar através do brincar, que é um de seus

recursos terapêuticos, entendendo o que ocasiona esse comportamento, favorecendo a

resolução desses fatores e das relações existentes através do afeto, que se cria ou aumenta entre

os participantes desta sociedade que é tão importante para a criança.

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