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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE LETRAS - PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGÜÍSTICA Curso de Lingüística Geral : Notas de Aula do Dr Prof Jorge Campos por GILBERTO KELLER DE ANDRADE MARIA JOSÉ SANCHEZ DE SKLIAR NEIVA FONTOURA FREITAS ROSANY SCHWARZ RODRIGUES Outubro de 1998

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE LETRAS - PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGÜÍSTICA

Curso de Lingüística Geral : Notas de Aula do Dr Prof Jorge Campos

por

GILBERTO KELLER DE ANDRADE MARIA JOSÉ SANCHEZ DE SKLIAR

NEIVA FONTOURA FREITAS ROSANY SCHWARZ RODRIGUES

Outubro de 1998

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Apresentação: Este trabalho foi realizado por iniciativa dos alunos Gilberto Andrade, María José Sánchez, Neiva Freitas e Rosany Rodrigues, todos matriculados no programa de pós-graduação de Lingüística do Instituto de Letras da PUCRS. O objetivo é disponibilizar para futuros alunos da disciplina de Lingüística Geral deste curso, bem como permitir que estudantes e professores interessados em Lingüística possam desfrutar dos conhecimentos do Professor Jorge Campos. Com a devida autorização do professor, passamos a gravar suas aulas ( a partir da quarta ) e as compilamos nestas notas. Tomamos a liberdade de buscar em bibliografia recomendada pelo professor alguns conceitos que consideramos relevantes. Devido ao seu conhecimento de Lingüística, o professor tem uma dinâmica que permite abordar os conteúdos da disciplina de forma não-linear, isto é, uma abordagem típica para um hipertexto. Esta é a característica essencial do ponto de vista de formatação. Para finalizar, queremos expressar o nosso profundo agradecimento ao professor Jorge que nos permitiu editar suas aulas e por ter-nos brindado com o seu vastíssimo conhecimento.

OS AUTORES

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Lingüística Geral – 1998

Sumário

Apresentação: ......................................................................................................................... 2 Introdução ............................................................................................................................... 4 I Contexto Histórico-Teórico da Disciplina ........................................................................... 5

1.1. As Origens Clássicas da Lingüística e da Gramática .................................................. 5 1.1.Gregos e Latinos ....................................................................................................... 5

1.2 Pré-Socráticos: Heracliteanos e Eleatos ....................................................................... 6 1.3 Platão ............................................................................................................................ 6

1.3.1 Diálogos de Platão ................................................................................................. 6 1.3.2 Teoria das Formas – O problema dos Universais .................................................. 7

1.4 Aristóteles ..................................................................................................................... 8 1.5 Estóicos......................................................................................................................... 9 1.6 As Idades Médias ..................................................................................................... 10 1.7 Séculos XVI e XVII ................................................................................................. 11 1.8 Séculos XVIII e XIX .................................................................................................. 13 1.9 Século XX – Saussure e a 1a Revolução Metodológica: O Estruturalismo Lingüístico .......................................................................................................................................... 13 1.10 O Estruturalismo Europeu ....................................................................................... 16 1.10 O Estruturalismo Americano .................................................................................... 17 1.11 Contexto das relações interdisciplinares relevantes para a Lingüística .................... 18 1.12 A Revolução Metodológica do Programa Gerativista / Noam Chomsky ................. 19 .13 A Evolução dos Modelos............................................................................................ 21

2 Tendências Contemporâneas ............................................................................................. 23 3 Teorias Lógicas: Lógica de Predicado de Primeira Ordem ............................................... 24

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Introdução

O conhecimento científico é o conhecimento cujo refinamento é gradual. A diferença entre o que é científico e o que não é científico não é determinado com precisão. Não existe a Ciência! Ciência é uma metáfora. Para cada área o nível de formalização será diferente, o rigor será definido sempre de acordo com a área. As propriedades gerais que caracterizam a Ciência (rigor, verificação e sistematização) não são condições necessárias e suficientes para determinar o que é e o que não é científico. Não existem condições necessárias e suficientes para dizer o que é Ciência.

A Lingüística como Ciência ainda não está estabelecida por completo; tal definição ainda é problemática . Devemos tentar ver como a Lingüística se encaixa na Ciência, nas diferentes áreas: social, formal e natural. É importante notar a diferença entre disciplina e filosofia da disciplina. O conhecimento filosófico de uma disciplina permitirá, entre outras coisas, a criação de novos paradigmas. A filosofia da Lingüística tem rigor diferente da disciplina Lingüística. Não se pode falar, na Filosofia, em termos de V ou F, que corresponde a um rigor da Física e da Matemática. Em Filosofia, assume-se o critério de plausibilidade que é uma questão de interpretação e coerência. O critério de plausibilidade é uma propriedade fundamental da Filosofia. O objeto da Lingüística é a linguagem, e o objeto da Filosofia da Lingüística é a Lingüística. A história da Lingüística está dentro da Filosofia da Lingüística. A Filosofia da Lingüística não é uma Ciência. A abordagem filosófica é explanatória e a abordagem científica é descritiva e explanatória.

São os fundamentos filosóficos da Ciência que determinam a natureza de seu objeto. Se o objeto é de natureza social, formal ou natural é uma discussão da Filosofia.

O objeto não existe fora da teoria, é uma construção intra-teórica. Se o objeto de estudo é a linguagem, entendida como Chomsky a entende, uma propriedade do cérebro,, o objeto é natural. Se o objeto é concebido como objeto historicamente construído, assim como Saussure concebia a língua, o objeto é de natureza social. Esta é uma discussão que está dentro da Filosofia. Chomsky e Saussure assumiram filosofias diferentes. A discussão filosófica sempre está implícita na discussão teórica. Esquemas sobre ordem hierárquica dos fundamentos....

Fundamentos Filosóficos

Fundamentos Metateóricos

Fundamentos Teóricos

Classe de Aplicações

Chomsky Fodor

Naturalismo Naturalismo

Inatismo/Princípio de Economia

Linguagem do Pensamento

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Física é a Ciência mais básica das Ciências Naturais e a Lógica é a mais básica das

Ciências Formais. Ciências Sociais não têm uma ciência mais básica. As Ciências Naturais e Formais têm mais credibilidade porque têm propriedades universais.

I Contexto Histórico-Teórico da Disciplina

1.1. As Origens Clássicas da Lingüística e da Gramática Este é um roteiro histórico-conceptual, não-linear a respeito de tópico considerados

relevantes para contexto histórico-teórico da disciplina. Vamos examinar a história das Lingüística dentro da Filosofia.

1.1.Gregos e Latinos A tradição grega teve uma forte influência na Lingüística. A história anterior não foi significativa. Lingüística e Gramática têm a mesma origem: as especulações filosóficas acerca de questões sobre conhecimento, linguagem e verdade. Muitos dos problemas tratados pela Ciência na atualidade foram questões levantadas na antiguidade

A Gramática, no sentido tradicional, é normativa e social, e a Lingüística é descritiva, explanatória e científica. A gramática representava um mecanismo de preservação da cultura helênica. Do ponto de vista político, desde a sua origem, foi um instrumento para a dominação das classes. Tudo o que estava fora do modelo da linguagem correta não era considerado, portanto, foi excluído o barbarismo (língua não grega), como também os dialetos ( as línguas gregas que não constituíam o padrão recomendável). Não se deve esquecer que os filósofos gregos ainda não faziam distinção entre os níveis de sintaxe e semântica.

Enunciado x Sentença x Proposição: Enunciado nível pragmático (entidade física) ocorrência espaço-temporal da sentença

Fundamentos Filosóficos da Lingüística

Filosofia da Lingüística Ciência Natural Chomsky

Filosofia da Lingüística Ciência Formal Montague

Filosofia da Lingüística Ciência Social Saussure

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Sentença nível sintático (estrutura abstrata por detrás do enunciado)

Proposição nível semântico (conteúdo da sentença)

Ao fazer menção a uma palavra deve-se usar aspas simples: Recife é grande à estou usando a palavra ‘Recife’ tem três sílabas à estou mencionando a palavra

1.2 Pré-Socráticos: Heracliteanos e Eleatos Heráclito: Pai da Dialética. O movimento é essencial. Não há um ser estático das coisas, o que há é um ser dinâmico. Nenhuma coisa pode ter a pretensão de ser o ser em si. Tudo flui, nada persiste, nem permanece o mesmo. A perspectiva de tempo/movimento está presente nos estudos diacrônicos realizados no século XIX

Parmênides: Mundo imóvel. É preciso haver uma estrutura que sustente o movimento. O ser está em repouso. A realidade é vista abstraída do tempo. Está visão sincrônica será privilegiada no estruturalismo do século XX.

Os estruturalistas preocuparam-se com a noção de sistema. Saussure era um

estruturalista. Antes de Saussure a ênfase era no método histórico/comparativo. Lingüística Diacrônica X Lingüística Sincrônica

1.3 Platão

Platão foi o primeiro filósofo que identificou, através de seus diálogos, a questão da linguagem como um problema filosófico autônomo.

1.3.1 Diálogos de Platão “Crátilo”– Relação linguagem-mundo

A linguagem, pela primeira vez, vai ser objeto de discussão. Debate que discute naturalismo x convencionalismo. No momento em que Platão

reflete se a linguagem é produto da natureza ou produto da cultura, conclui que a discussão

SN SV

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está mal colocada, porque não teríamos como decidir esta questão. A busca da verdade se faz através da forma semântica das palavras. Há uma base estável que é a forma semântica profunda. A linguagem externa é anômala, produto do contato com a cultura.

“Teeteto”- Interpretação / A questão da verdade.

Platão reflete sobre a questão do paradoxo de falar sobre o que não existe. O problema dos existenciais negativos: ‘O rei de Porto Alegre não existe’ Como posso falar de uma coisa que não existe. Se a frase for verdadeira é

“nonsense”, não tem sentido. Paradoxos semânticos são uma questão lingüística, dependem dos significados.

O problema dos existenciais negativos está relacionado ao paradoxo da teoria dos conjuntos.

Noção de pressuposição : ‘O rei da França é calvo’ Não afirmo, mas pressuponho que o rei exista. Da pressuposição de existência depende o seu valor de verdade.

“Sofista”- Relação linguagem-mundo-retórica “Sofismo” –É tentar provar que é verdade algo que não corresponde à realidade.

Para os sofistas tudo é questão do dizer. É retórico, não sabemos quais são as coisas. Platão discute até que ponto a linguagem tem relação com a verdade ou se a linguagem é a verdade em si mesma (a realidade do fato corresponde ao que se relata. )

Os filósofos gregos acharam que deviam distinguir a linguagem que permite expressar a verdade daquela que não o faz. Essa operação foi a primeira a colocar a linguagem como objeto de estudo. Começou a idéia de que algumas pessoas tinham a arte de dizer a verdade: os gramáticos.

1.3.2 Teoria das Formas – O problema dos Universais Platão levantou a questão dos universais. Os substantivos comuns envolvem uma

questão de natureza filosófico-lingüística: ‘árvore’ designa um conjunto de coisas. Pertence ao conjunto de árvore todo o objeto que tenha a propriedade da arboricidade. A ‘arboricidade’ não está em nenhuma árvore específica, então não é físico. Platão concluiu que arboricidade é uma propriedade abstrata, existe fora da mente. Platão dizia que deveria haver algo que não está no espaço nem no tempo, que é o mundo das formas, uma propriedade abstrata. Como não fomos nós que inventamos, também não pode ser uma propriedade mental. A universalidade está na forma. Esta concepção é conhecida como realismo platônico. Há outras duas hipóteses que posteriormente foram postuladas sobre a questão dos universais:

-Nominalismo O rótulo 'árvore' é o que conjuga este objeto que está no mundo. Não há nada por

trás do rótulo. Não existem entidades nem conceitos abstratos, os nomes são usados para designarem entidades concretas.

-Conceptualismo A 'árvore' não seria só um nome ou um objeto, mas um conceito que a nossa mente

constrói . A nossa mente é que conceptualiza a idéia.

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Articulado a essa questão dos universais está o compromisso ontológico das teorias , os primitivos que subjazem à teoria que são de alguma natureza. Em Chomsky, por ex. a “Logical Form” é uma propriedade invariante da linguagem. As línguas têm a mesma forma lógica, mas ao mesmo tempo essa forma lógica está ligada a um “programa” no cérebro.

Anomalismo X Analogismo é um debate importante. Os filologistas alexandrinos, baseados nos princípios aristotélicos, sustentavam

que a língua era essencialmente sistemática e regular foram identificados como analogistas. Consagraram seus esforços no estabelecimento de diversos modelos em virtude dos quais as regularidades da língua puderam ser classificadas (o termo tradicional de paradigma é a palavra grega que indica modelo ou exemplo).

Os estóicos, seguidores do pensamento de Heráclito e Platão, sustentavam que a língua, como produto da natureza, era só parcialmente suscetível de ser descrita em termos de modelos analógicos de formação, era necessário conceder a devida atenção ao uso. Não negavam a existência de regularidades na formação de palavras na língua, mas destacavam os numerosos exemplos de palavras irregulares cuja formação não era possível explicar por intermédio do raciocínio analógico. Se a língua fosse realmente um produto da convenção humana, não seria esperável que se encontrassem irregularidades, e se estas existissem deveriam ser corrigidas.

As diferenças entre as duas escolas eram profundas, os anomalistas eram filósofos e não lingüistas práticos, como os analogistas.

Chomsky tende a pensar numa tradição mais platônica. No cérebro está a universalidade da linguagem. As línguas são idiossincráticas/anômalas.

1.4 Aristóteles Aristóteles foi o primeiro filósofo antigo que realmente tentou organizar a ciência. ·Os fundamentos da Lógica Aristóteles delineou o primeiro sistema lógico da história. Lógica como disciplina

formal, reguladora de todas as ciências. Uma lógica silogística, baseada na linguagem natural.

·A noção de verdade como correspondência A relação entre a linguagem e os fatos é conhecida como a teoria da

correspondência. Na Metafísica, Aristóteles definiu a verdade como a relação de correspondência entre a proposição e o mundo, e a falsidade como a ausência dessa correspondência.

“Dizer do que é, que é, é verdade. Dizer do que não é, que não é, é verdade. Mas dizer do que é, que não é, e dizer do que não é , que é , isto não é verdade."

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‘A neve é branca’ é verdadeira sse ( se e somente se) a neve é branca

proposição fato Apresentou a noção de proposição como unidade semântica básica, a proposição, e

não a sentença, é que é verdadeira ou falsa. A maior contribuição lingüística de Aristóteles é para a semântica das condições de

verdade. ·As categorias filosóficas e gramaticais Aristóteles teve a intuição epistemológica de explicar a natureza do conhecimento

humano. O homem para conhecer deve categorizar, isto é, construir o conhecimento. Acreditava que qualquer realidade pode ser conhecida, pensada ou falada

As categorias são, no sentido lógico, estruturas do pensar, e, no sentido ontológico, estruturas do ser. Sob o ponto de vista lógico, categoria se traduz por predicação, maneira ou modos de predicar o ser, de atribuir um predicado ao sujeito. Sob o ponto de vista ontológico são as formas elementares do ser, as formas impressas na matéria.

Estabeleceu um sistema de 10 categorias: substância, quantidade, qualidade, relação, lugar, tempo , posição , estado, ação e sentimento .. As categorias de Aristóteles serviram de base a Kant, cuja filosofia deu origem ao cognitivismo. Kant estabeleceu as categorias dentro da mente.

1.5 Estóicos

Os estóicos foram os primeiros que desenvolveram uma teoria explícita do signo como unidade da linguagem. O signo formado por significante, significado e objeto real. O signo tripartite distinguia entre linguagem, mundo e pensamento:

Os estóicos disseram que há uma conexão entre significante, significado e referente.

O significante é o som vocal, o significado é o pensamento expresso por sons vocais, o referente é o correspondente externo do objeto.

A idéia de signo tripartite (conceito – palavra – objeto ) foi retomada por Pierce e, mais tarde, por Richard [Semiótica]. A idéia de signo em Saussure é bipartite (significante e significado), o objeto do mundo real não é considerado objeto da Lingüística.

Os estóicos fizeram uma clara distinção entre a sentença como uma estrutura lingüística e o pensamento subjacente como estrutura cognitiva e mental.

Óculos ---à palavra

Mundo/físico

$

Conceito/Pensamento

$

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Nas idéias dos estóicos vemos os primórdios das ciências cognitivas, pois entenderam o mundo enquanto representação.

O que é verdadeiro? Se a verdade está na relação entre a palavra e a coisa, Þ tradição lógica, se a verdade está na relação entre a realidade e pensamento Þ perspectiva cognitivista.

ORIGENS DA GRAMÁTICA TRADICIONAL

A gramática normativa surge a partir da cultura helênica. A situação histórico-cultural condicionou o surgimento da gramática que representava um mecanismo de dominação cultural.

Aristóteles foi mestre de Alexandre da Macedônia. Este último, em suas grandes conquistas, estabeleceu a língua grega, língua de governo em cada território conquistado. A Alexandria se tornou foco de ensino do grego.

A lingüística alexandrina foi estritamente normativa e prescritiva. As análises e descrições gramaticais foram usadas e interpretadas como prescrições para o uso apropriado da língua. O termo gramática, que teve sua origem no termo grego ”techne grammatike”_ a arte de escrever_ , começa a ser usado, neste período, com conotações normativas _ a arte de escrever corretamente _.

A gramática grega chega ao seu auge no período helenístico. Suas formulações foram resumidas por Dionisio de Tracia. É o primeiro documento da história ocidental que objetiva prover uma descrição gramatical de uma língua. Este foi o modelo para todas as gramáticas subseqüentes de línguas européias.

Embora já tratando, dentro da gramática, de questões lingüísticas, a gramática antiga estava muito centrada na palavra, unidade básica essencial. As categorias gramaticais eram baseadas na palavra.

Antiguidade tardia Apolonio Discolo Donato Prisciano

1.6 As Idades Médias O predomínio do mundo religioso, neste período, repercutiu no ensino da

gramática. A Lingüística não evoluiu muito, só houve expansão das gramáticas pedagógicas. O fato mais importante para a evolução da Lingüística foi a vinculação da Lógica com a linguagem decorrente da gramática especulativa. As idéias de Aristóteles passam para a gramática especulativa. A teoria destes gramáticos relaciona as idéias dos estóicos às de Aristóteles. O termo especulativo deriva da concepção que a linguagem é como um espelho que proporciona uma reflexão da realidade subjacente aos fenômenos do mundo físico. Seus objetivos foram de estabelecer uma relação regular entre as categorias

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metafísicas e ontológicas do pensamento e a estrutura do mundo real, entre as categorias mentais do pensamento e as categorias gramaticais da linguagem. O termo dado às categorias foi o de modus.

q Essendi (mundo) q Intelligendi (pensamento) q Significandi (linguagem)

Os modos de ser foram ponto de partida para os modos de pensar e significar, se

espelham num e noutro. A partir das características das coisas mesmas, cada objeto do mundo real tem, não só uma essência que a faz ser o que é, mas também, um conjunto de modos essendi, várias propriedade que permitem que seja concebido de várias maneiras. É a partir dessas propriedades do objeto que o intelecto tem acesso aos modos inteligendi, vários modos de compreender. O signo lingüístico significa o conceito e os modos de compreensão, as propriedades co-significadas são chamadas de modos significandi.

Os elementos e estruturas lingüísticas são vistos sob a ótica das categorias de ser e de pensar. Isto foi o ponto de partida para séculos de teorização especulativa sobre o sistema subjacente, a linguagem humana em geral e as línguas específicas em particular. Os gregos e os romanos não trataram diretamente das propriedades universais da linguagem. Foi na Idade Média e depois, que os filósofos da linguagem começaram a responder questões sobre a unidade da linguagem como tal, em oposição à diversidade de línguas, e a desenvolver teorias sobre a gramática universal. Entre os antigos e a Idade Média, o grau de evolução foi pequeno, mas entre a Idade Média e os séculos XIX e XX, o grau de evolução é grande.

Platão e Aristóteles Descartes Frege, Russel, Witghenstein Kant

Santo Agostinho S T de Aquino Antigos Séculos XVI, XVII e XVIII Séculos XIX e XX

1.7 Séculos XVI e XVII

As questões colocadas por Descartes passam a ser marcas fundamentais para a história da Lingüística. Faz uma retomada em relação aos modus e às especulações sobre a linguagem e o pensamento. As idéias que em Platão estavam situadas fora da mente, e em Aristóteles, nas coisas, com Descartes estão localizadas na mente, onde se convertem em conceitos em relação íntima com a noção de significado.

Revitalizou o dualismo platônico. Mente e corpo são de substâncias diferentes. É necessário atribuir um espírito aos seres humanos, substância cuja essência é o pensamento. Descartes sustenta que a linguagem é utilizável para a livre expressão do pensamento e para

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a resposta adequada em qualquer novo contexto. Descartes afirmou que uma substância pensante tem que ser postulada para explicar o aspecto criador do uso da linguagem.

A questão do dualismo cartesiano corpo/mente- é o paradoxo que se apresenta na epistemologia moderna nos termos de cérebro/mente.

Descartes argumentou que todo nosso conhecimento do mundo externo é mediado por representações, objetos mentais que, de alguma forma representam as coisas externas. “Como posso garantir a objetividade do conhecimento se só eu tenho acesso a minha mente?” A questão solipsista aborda o problema de que, no conhecimento, objeto e instrumento são o mesmo. Como podemos conhecer alguma coisa se não conhecemos a mente?

Descartes propôs a noção de inatismo. Não podemos aprender tudo, por isso temos idéias inatas. Chomsky retoma a idéia do inatismo na década de 60 com o livro Lingüística Cartesiana. Recupera do cartesianismo a idéia do inatismo e não a do dualismo.

Idealismo, Behaviorismo, Materialismo, Dualismo são variações para o problema Mente X Corpo.

Chomsky é anti-reducionista e anti-dualista. Reducionismo pende para o cérebro. O verdadeiro não – dualista é o que considera mente/cérebro como uma coisa só.

Kant é o filósofo mais importante para as ciências cognitivas. “ Que significa conhecer objetivamente?” . “ Como se relaciona o cognitivismo com

a realidade?” As respostas a estas questões constituíram sua tese que serviu de fundamento a todas as ciências cognitivas.

Kant fez os maiores insights entre conhecimento e experiência. Compatibilizou racionalismo com empirismo. Tentou mostrar como é a relação entre indivíduo e mundo. A nossa capacidade organiza a experiência como conhecimento. Nascemos com certas propriedades cognitivas que se expressam pelo nosso cérebro. As coisas em si mesmas e o nosso cérebro não são o objeto de conhecimento. Todo conhecimento tem como objeto o fenômeno.

A capacidade cognitiva é afetada pela relação com o objeto e tem condições de representá-lo. A interação entre o mundo e o indivíduo constitui um fenômeno. As coisas têm propriedades que afetam o cérebro, e o cérebro tem propriedades para representar as coisas. Por exemplo, a noção de espaço e tempo. Esta visão é crucial para a passagem para o século XX e a atual concepção da Lingüística como área das ciências cognitivas.

Para Kant, nascemos com propriedades cognitivas. Todo o conhecimento tem uma forma de representação.

Chomsky foi o segundo grande revolucionário das ciências cognitivistas. Francisco Sanches é um precursor da relação linguagem e pensamento e da

Gramática Universal. Se a língua expressa o pensamento, deve existir um nível onde ela contate com o pensamento, e portanto, deve ser comum a todas as línguas. Deve haver uma maneira da estrutura do pensamento se transpor às diversas línguas.(Seria a parte lógica da linguagem)

Os gramáticos de Port-Royal, Lancelot e Artaud, tomam as idéias de Sanches sobre Lógica e Linguagem. As línguas são diferentes, mas os pensamentos não o são, necessariamente. Algum nível da língua deve ser comum.

Arnaud, lógico, discípulo de Descartes, quis demonstrar que a linguagem, imagem do pensamento, está fundada na razão. Os ideais da gramática especulativa foram reavivados na França durante o século XXVII pelos mestres da Port Royal. Em 1660

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publicaram “Grammaire Generale et Raizonnee”, cujo propósito era demonstrar que a estrutura da linguagem é um produto da razão e que as distintas línguas não são mais que variantes de um sistema racional e lógico mais geral.

A idéia de Gramática Universal, Chomsky atribui à Port Royal

1.8 Séculos XVIII e XIX O século XIX caracteriza-se de início pelo desenvolvimento da gramática

comparada que atinge seu apogeu por volta de 1880, com os neogramáticos. O problema essencial torna-se o parentesco genético das línguas. Caracteriza-se em seguida pela matematização da lógica.

Do ponto de vista da filosofia da linguagem, o panorama do século é bem característico: a diferença do século precedente, e contrariamente à expectativa da escola dos ideólogos, praticamente nenhum daqueles que consideramos como os grandes filósofos trouxe contribuição decisiva, nem mesmo fez da linguagem um ponto fundamental de sua reflexão. A Ciência da Lógica de Hegel, que é uma vasta ontologia, não comporta uma palavra sobre a linguagem, contrariamente a toda tradição aristotélica. Ela segue nisso um procedimento inaugurado pela idéia kantiana da lógica transcendental , exposta na Crítica da Razão Pura, que tem por objetivo dar conta do modo como um objeto é pensável.

F Schlegel: faz do sânscrito um objeto de estudo privilegiado. A. Schelegel: propõe uma tipologia das línguas: línguas sem nenhuma estrutura

gramatical, línguas que empregam afixos(aglutinantes) e línguas de inflexão. Humboldt: tentativa para conciliar as diversidades das línguas, sua historicidade e seu

papel no pensamento humano como um idealismo herdado de Kant Darwin foi quem provocou o primeiro impacto com uma visão evolucionista. A

perspectiva naturalista é uma perspectiva nova, se considerar que, anteriormente, não se tinha pensado em evolução biológica, nem zoológica. Isto teve repercussão na Lingüística que propõe conhecer a linguagem do ponto de vista evolutivo.

Segundo Schleicher, a linguagem é um organismo vivo que vem independentemente do desejo do homem, cresce de acordo com certas leis, as quais também determinam seu desenvolvimento, crescimento e morte. Esboçou analogia com a biologia.

1.9 Século XX – Saussure e a 1a Revolução Metodológica: O Estruturalismo Lingüístico

Saussure foi o primeiro a explicitar a existência de uma Ciência da Linguagem.

Dizer que Saussure é o pai da Ciência Lingüística é uma metáfora que serve para marcar a evolução histórica da disciplina. Existem razões para que Saussure seja apontado como fundador da Lingüística Científica. Uma delas é que fez, ao mesmo tempo, Lingüística e Filosofia da Linguagem. Com Saussure começam a aparecer os fundamentos da disciplina: diz o que é a Lingüística e como ela deve ser. Para ele, uma ciência deve estabelecer o seu método e o seu objeto. “É o método que cria o objeto”. A tradição kanteana está na base do pensamento de Saussure. Kant se perguntava “O que é conhecimento?” “O que é

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conhecer?”. Saussure em vez de se perguntar o que é a linguagem, questionou como deve ser a Lingüística, para então responder o que é a linguagem. A teoria modela o objeto, que não é mais o objeto real, é um objeto científico, teórico, formal. Problemas científicos são problemas criados , abordáveis e possíveis. Os problemas são construídos e não observados. Ciência criada a partir do objeto é uma forma de observacionalismo grosseiro. O problema científico é universal, nunca local ou regional.

método Teoria Científica Objeto A Lingüística é a Ciência da Linguagem. Linguagem é uma metáfora, pois envolve

aspectos sociais, psicológicos, antropológicos, econômicos. A linguagem é um fenômeno multiforme e heteróclito. A Lingüística vai construir, projetar seu objeto e enxergar propriedades universais que representem a linguagem no passado e no futuro. Fazer Ciência é construir objetos reais, universais. A revolução provocada por Saussure foi uma ruptura metodológica com a sua própria formação. Metaforicamente, Saussure fez uma revolução com respeito ao método.

A idéia de método em Saussure era primitiva se comparada com a atual concepção de Ciência. Mas Saussure compreendeu o caráter da abstração e não sucumbiu ao empirismo tradicional, que examinava fragmentos de línguas e comparava dados. Compreendeu que era necessário construir conceitos, e que tudo começa pela teoria. Os conceitos dicotômicos eram o método de Saussure. Serviram para focalizar certas propriedades.

As dicotomias de Saussure ·Langue x parole, esse binômio permitiu passar para a fala o que era particular e

para a língua o que era social. A essência da linguagem é a langue, sistema de signos organizados de natureza

social. A língua é, ao mesmo tempo, instrumento e produto da fala. A langue é construída historicamente pela parole, mas a parole é inteligível porque existe a langue.

A distinção entre competência e performance de Chomsky, pode ser comparada à noção de língua e fala. Não são iguais, mas análogas. Língua e competência seriam as propriedades universais da linguagem. A diferença é que, para Saussure, o que é universal é social, e, para Chomsky, o universal é uma propriedade do cérebro.

·Forma x substância A língua é forma, não substância. Funciona como uma estrutura, os elementos da língua devem ser analisados em seu inter-relacionamento. Todos os elementos da língua se relacionam entre si, formando um sistema, ou estrutura, onde cada elemento só tem valor em virtude de se opor aos outros e com os outros poder combinar-se. As relações de oposição são chamadas relações paradigmáticas, e o nível paradigmático é definido como o nível das seleções, das substituições, onde uma dada unidade se opõe àquelas que poderiam substituí-la no mesmo contexto, sendo que a escolha de uma exclui a realização das outras. As relações combinatórias são intituladas relações sintagmáticas, e o nível sintagmático é definido como o nível das combinações na seqüência do discurso, onde o valor de uma dada unidade lingüística é determinada pela relação entre ela e as outras unidades concorrentes.

Deve ter propriedades homogêneas

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Saussure compreendeu também que se havia uma série de relações, estas não estavam sujeitas ao tempo. Este afeta primeiro as substâncias, as coisas que estão no tempo e no espaço, por exemplo, os sons (isto vai mexendo só indiretamente na estrutura). A estrutura permanece estável e equilibrada, porque a estrutura é forma, é sincrônica por natureza, está fora do tempo.

·Sincronia x diacronia ·Significante e significado estão numa relação de arbitrariedade, não há nenhuma

propriedade intrínseca que una o significante ao significado. A arbitrariedade é também do signo, como um todo, em direção ao objeto. A relação entre o significante e o significado é arbitrária, mas necessária. A relação entre o signo e o objeto também é necessária mas complementar. O objeto é externo ao signo e irrelevante para a Lingüística. Saussure dá uma resposta convencionalista para o problema do Crátilo (mais próximo a Aristóteles).

( objeto físico real

Significado Objeto Teórico

‘telefone’ Significante árvore x erovrá Saussure postulou o princípio da linearidade do significante. A materialização do

significante é linear (é um significante após o outro e não como uma imagem). Para descrever a árvore, é preciso apresentá-la linearmente, diferentemente da visão.

Saussure também postulou a mutabilidade e imutabilidade do signo. O signo muda no decorrer do tempo, mas também é, o seu valor, imutável. Ele é um jogo de relações e a forma não está sujeita ao tempo.

Saussure pode ser considerado um filósofo da Lingüística. (As maiores revoluções da Lingüística foram feitas por quem praticava Filosofia da Lingüística). Não desenvolveu uma sustentação filosófica, mas usou na sua metodologia a Filosofia.

Saussure também compreendeu que era necessário situar a disciplina no contexto interdisciplinar, foi pioneiro nisto. Chomsky manteve a tradição.

Visão de Saussure, do ponto de vista da Filosofia da Lingüística: Sociologia Psicologia Social Semiologia Lingüística

Não tem significado

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Lógica, Computação e Cognição são emergentes na época de Chomsky e não na época de Saussure. Chomsky ignora o lado social da linguagem, como estratégia, porque não existem propriedades homogêneas na linguagem social, mas não a considera irrelevante. Sociologia para Chomsky não é uma ciência como as ciências formais, naturais, porque não tem propriedades homogêneas. A linguagem é um fenômeno estável na história da humanidade, pode ser estudada pelas ciências naturais. Atualmente, sabe-se que a linguagem é universal e que as línguas são particulares, mas Saussure não percebeu esta distinção. Linguagem Universal (Linguagem – I) e a Linguagem – E (são as línguas). A langue é um código social, a GU é código genético-biológico.

As duas teorias são sistemas diferentes, portanto não se podem comparar. Só são comparáveis no nível dos fundamentos. A fundamentação da lingüística de Chomsky já está em outro contexto de evolução da Ciência: ciências cognitivas e computação. Na época de Saussure a ciência emergente era a Sociologia, o método era o histórico.

Para Chomsky existe uma diferença entre Problema e Mistério: o problema é tratável cientificamente e o mistério é tratado por especulação, por isso deve ser remetido para o futuro. Se a linguagem é natural? É um mistério, não um problema. Distingue entre problemas que podem ser tratáveis , abordáveis e mistérios que são problemas que podem ser levantados mas que, por hipótese, são não selecionados. Não têm como ser abordados. Não temos respostas a não ser por especulações. Desde o ponto de vista metodológico o mistério não pode ser objeto de Ciência. A Ciência trabalha com problemas. Todo problema que não está dentro de uma teoria é um mistério. Chomsky afirma que há mistérios que nunca vamos a resolver , por hipótese, nossa cognição é limitada. Tudo o que cai fora dessa limitação nunca compreenderemos. Gramática Universal é uma limitação. O cérebro tem uma limitação que permite só uma classe de línguas. A Sociologia para Chomsky é um mistério.

1.10 O Estruturalismo Europeu

A análise do estruturalismo saussureano do início do século XX deve ser vista com o pano de fundo de uma tradição milenar de estudos sociais: gramática tradicional, filologia, historicismo. Saussure representa uma ruptura com relação àquele passado.

As escolas que deram seqüência ao pensamento saussureano: A Escola de Praga contribuiu sobretudo na Fonologia. Os nomes relevantes são

Trubetzkoy e Jacobson. Este último levou para os Estados Unidos a tradição européia. Escola de Copenhague – A glossemática de Hjelmslev- A noção de forma e

substância de Saussure foi levada ao extremo por Hjelmslev que distinguiu o plano da expressão do plano do conteúdo e em cada um desses planos, a substância e a forma. Os sons são a substância da expressão e as idéias são a substância do conteúdo. Assim como Saussure, diz que a língua é forma e não substância. Hjelmslev diz que a Lingüística não é nem Fonética, nem Semântica. Para Hjelmslev, a Lingüística é Fonologia e Morfosintaxe.

A relação entre ’A’ e ‘O’ em Português tem conseqüências para o gênero. É Fonologia. Isto é Lingüística.

A presença ou ausência do ‘S’ no artigo tem valor lingüístico. Isto é Lingüística. É Morfosintaxe.

Hjelmeslev tem um papel importante na Lingüística Formal

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A tradição na Inglaterra tem várias correntes. Cada uma das correntes tentou aplicar as idéias de Saussure.

Escola de Londres : estudos de línguas exóticas. Sweet – Jones: Foneticistas e fonólogos, contemporâneos de Saussure. Firth- Precursor da análise do discurso “todo significado é situacional” ( Semântica

situacional). Gardiner- Egiptólogo. Estudo sobre os nomes próprios. Pós-Estruturalistas: O estruturalismo de Saussure gerou varias tendências pós-estruturalistas. Suas idéias

ao respeito do Método alimentaram uma esperança para as áreas humanas: a existência de um método estrutural para a abordagem de seus objetos de estudo.

Barthes- Semiologia. Lacan- Psicanálise Levi-Strauss –Antropologia Foucault-Epistemologia Todorov- Teoria Literária Althusser- Marxologia

1.10 O Estruturalismo Americano No estruturalismo europeu a questão era como a linguagem era usada socialmente.

A linguagem sendo o resultado de uma convenção social. No estruturalismo americano a linguagem é inerente ao ser humano. A lingüística, nos EUA, se desenvolveu questionando a linguagem como parte da natureza do homem e não da sociedade, assumindo um perfil mais naturalista. Entender Chomsky como naturalista é entender essa tradição. Nos EUA não existiu a ruptura que Saussure teve que fazer com a gramática tradicional, com o comparativismo e historicismo. A Lingüística entra na "Associação Filosófica Americana" como uma Ciência, ciência da linguagem, linguagem como fenômeno antropológico. O objetivo da Lingüística era o estudo das línguas indígenas. Historicamente se vincula ao processo de colonização que envolveu milhares de tribos.

No final do século XIX , princípio do XX, o antropólogo Franz Boas foi contratado para trabalhar com as línguas indígenas. Sua obra gigantesca descreve as línguas, compara vocabulário e estruturas morfológicas. A lingüística americana tem duas tradições que compõem esse quadro antropo-lógico: uma tendência mentalista (Sapir) e mecanicista (Bloomfield) . Sapir era mentalista, acreditava que a forma comum à fala e suas variedades era uma forma interna, abstrata, existente dentro da mente das pessoas. Distinguiu uma linguagem abstrata, que é a parte mental, ligada ao pensamento das falas que têm existência externa. É, em um sentido, antecessor de Chomsky: a linguagem é uma abstração para explicar e para entender as formas variadas de fala. Se deve entender fala e linguagem diferentemente de Chomsky atualmente. Quando Sapir se refere à linguagem, se refere tanto à linguagem quanto à língua, uma palavra para dois significados. Fez uma lingüística voltada para aplicação antropológica, cuja metodologia está na dependência de uma psicologia da mente.

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Bloomfield foi contemporâneo de Sapir, mas suas tendências eram completamente diversas. Foi o grande nome da Lingüística americana. Sua obra Language faz considerações à História da Lingüística, à Fonética, à Fonologia e à Sintaxe.

Coloca a linguagem dentro de um contexto comportamental. A Lingüística filiada à psicologia beheavorista, dedicada ao estudo do comportamento complexo, baseada em idéias como estímulo-resposta. A Lingüística vinculada ao estudo do comportamento lingüístico; a língua como fenômeno do comportamento. A adequação explanatória, para Bloomfield, era via psicologia beheavorista. Adotou, entretanto, a metodologia descritiva da tradição lingüística. Defendia que o significado estava fora da mente, e não podia ser considerado objeto da Lingüística. A Lingüística de Bloomfield não tem semântica latu sensu, pois o significado depende do conhecimento científico e do desenvolvimento do conhecimento. Não conseguiu estabelecer a distinção entre um significado lingüístico de um extra-lingüístico.

Para os beheavioristas, o interior não é tratável, apenas as ações são observáveis e tratáveis. Com o surgimento do computador, o interior passou a ser estudado.

Skinner foi o grande behaviorista moderno. O contexto da Lingüística nos EUA, na década de 50, que precedeu Chomsky foi o

do estruturalismo americano com tendência beheavorista e descritivista. Nos EUA a lingüística era uma Lingüística antropológica.

1.11 Contexto das relações interdisciplinares relevantes para a Lingüística

No final do século XlX, surgiu o Projeto Logicista: Frege-Russel-Wittgenstein 0 Objetivo: dar fundamentação lógica à Matemática. A Lógica era calcada na

linguagem natural. Frege procurou examinar se a Matemática era lógica, ou melhor, se os fundamentos da Matemática eram lógicos. Em 1874 escreveu um trabalho chamado “Conceitografia” onde propõe uma nova Lógica que tentava apreender o ideal de Leibniz: uma linguagem universal, científica, com a qual tudo poderia ser dito. Uma língua lógica. Estes estudos permitiram as construções das linguagens artificiais/formais.

Constatou que a Lógica aristotélica era muito elementar para trabalhar com a Matemática. Contestou a estrutura, consagrada por Aristóteles, de sujeito-predicado e criou o par função–argumento.

Depois de Frege, a Lógica passa a ser mais matematizada e a Matemática cada vez mais lógica.

Boole criou a álgebra booleana, encontro da Lógica com a Matemática. Surge a computação. Surgem as máquinas para cálculos de balísticas e outras aplicações.

O computador representou uma conexão entre estrutura de máquinas e estrutura de operações, o hard e o soft; esta conexão começou a sugerir um modelo para a relação entre cérebro e mente.

O beheavorismo colapsa com a evolução da Lógica –Matemática, o surgimento da computação e a possibilidade de modelar as relações cérebro-mente sob um ponto de vista mais formal. O computador significou a base tecnológica que oportunizou a emergência das Ciências Cognitivas.

A revolução da Lógica, o surgimento da computação, a emergência das Ciências Cognitivas, o colapso da lingüística beheavorista é o quadro que pré-existia nos Estados Unidos independente de Chomsky.

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1.12 A Revolução Metodológica do Programa Gerativista / Noam Chomsky O contexto de emergência de Chomsky é muito diferente do contexto de Saussure

que era historicista, baseava-se em pesquisas de campo, e a Lingüística era presa a idéias taxonômicas, à gramática tradicional e ao comparativismo.

Chomsky recebeu influências de: Harris : 1947 foi o orientador de Chomsky, que criticou com radicalidade o método

estruturalista de Harris. Goodman Nelson: Foi seu mentor filosófico, pioneiro na crítica à indução. Quine: 1953 Um dos dez filósofos mais importantes do mundo moderno. Bar-Hillel: Pesquisador na área da tradução automática em máquinas. Criou a

linguagem matemático-aritmética para traduzir a linguagem natural em linguagem de máquina.

Jakobson: 1957 Professor de Morris Halle no MIT, que levou também Chomsky para o MIT.

1947- Começa a graduação em Lingüística por influência de Harris/ Harvard. 1951- Dissertação de Mestrado/ Morfofonêmica do Hebreu. 1951- Ingressou no MIT no Departamento de Línguas Modernas 1955- Tese de Dotourado sobre Teoria Transformacional 1957- Publicação de Syntactic Structures. 1959- Artigo contra Skinner “ Verbal Behavior” A emergência das Ciências Cognitivas possibilitou um tratamento mais sofisticado

das relações cérebro-mente. Através do modelo de computação, foi possível compatibilizar a base física com a formal, a máquina com os programas. Nesse quadro, surge a Lingüística Gerativa. Chomsky faz Lingüística com essas bases novas.

Em um primeiro momento, inicia um programa formal, que dá continuidade ao programa estrutural. Dentro dessa tradição, Chomsky deu um passo à frente. É um passo formal em direção à Sintaxe. Estendeu à sentença o mesmo tipo de descrição que já havia para a Morfologia e Fonologia. Fez uma revolução sintaxista, já com o aparato do avanço da lógica. Num primeiro momento, tenta aplicar certas noções de Lógica e Matemática ao estudo da estrutura da sentença. Acrescenta o componente transformacional que permite relacionar estruturas através de regras de transformação. Com essa idéia de transformação faz uma revolução técnica da Lingüística. Até então predominava a descrição, sem enfocar as relações entre as frases, por exemplo, frase ativa e passiva.

Chomsky faz um programa formal, mas ao mesmo tempo não assume a Lógica e a Matemática como fundamentos para um modelo cognitivista. A Matemática e a Lógica, como disciplinas formais, independem do conteúdo, podem ser usadas em qualquer área de estudo enquanto instrumentos. Enquanto fundamentos a situação é diferente. Chomsky assume a primeira observação e nega a segunda. Já que a lógica da linguagem natural tem leis empíricas do cérebro, diferentes da lógica das linguagens construídas.

Chomsky , no final da década de 50, buscou os fundamentos da sua disciplina na área interdisciplinar da Psicologia Cognitiva. Surgiram as noções de competência e performance. Essa dicotomia é um símbolo da conexão feita por Chomsky entre as propriedades formais da linguagem e as propriedades cognitivas do cérebro humano.

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Podemos, a partir disso, descrever a linguagem formalmente. A sintaxe das línguas representa uma estrutura formal que pode ser descrita. Se quisermos explicar o que é a linguagem humana, temos que ir além da descrição, temos que dar uma explicação. No caso, a hipótese inatista tem um caráter explanatório. Quando Chomky postula os fundamentos cognitivos de sua lingüística faz um deslocamento do objeto formal para o objeto natural. A linguagem como código programático do cérebro_ gramática universal. Esta vai ser a conexão entre a estrutura descritiva da linguagem e sua base cognitiva. Neste segundo momento do programa gerativista, Chomsky questiona sobre a base mente-cérebro da sintaxe. Sintaxe deve ter uma base natural, um programa no cérebro. Supondo que o cérebro seja modular. A conseqüência de não assumir a hipótese modular do cérebro é o comprometimento com uma abordagem especulativa. Uma hipótese holística pretende colocar o todo antes das partes. Como tentativa metodológica, não existe pensar o todo antes das partes, pois a definição de todo é uma construção a partir das partes. A proposta holística tem um paradoxo lógico: é impossível construir um todo a não ser pelas partes.

Assumir a hipótese inatista é uma restrição metodológica. A hipótese inatista é a hipótese de que existem propriedades específicas da linguagem, a priori. É decorrente da modularidade. Desde que se estabeleça o módulo, este terá propriedades específicas, se não não será o módulo. Supor a hipótese de que existe o módulo da linguagem é supor a hipótese inatista. Inatismo decorre da modularidade. Então, por que escolher a modularidade? Porque a hipótese modular é, metodologicamente, mais útil que a não modular. A hipótese inatista é uma hipótese e não uma tese, porque tese é decorrente de uma demonstração. Uma hipótese será abandonada quando aparecer uma melhor, isto é, uma explicação melhor.

A linguagem construída como um objeto natural, por hipótese é caracterizada por uma Gramática Universal em oposição às gramáticas particulares de cada língua. É um erro pensar que deve-se estudar as línguas para concluir o que elas têm em comum - wrong view. Chomsky não é indutivista. Toda visão observacional é indutiva, um caso apenas pode desconfirmar a teoria. A Gramática Universal é uma hipótese de trabalho, é uma construção. Se constrói uma teoria, certas leis que dizemos ser universais. Assume-se uma hipótese inatista exatamente para que se suponha a base universal, o ônus de não assumir a hipótese inatista é que a base universal deverá ser externa, toda aquisição da linguagem deverá ser adquirida. Como explicar, então, o fato das crianças em diferentes partes do mundo começarem a falar na mesma época e a utilizar gramáticas semelhantes independentemente dos inúmeros contextos. Se a linguagem é uma propriedade humana, supostamente universal, deve ser uma propriedade do cérebro.

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1.13 A Evolução dos Modelos Modelo Clássico: (1957) Syntactic Structures Regras Sintagmáticas Estrutura Profunda Regras Transformacionais Estrutura de Superfície Fonológico Semântico Observação: R. Sintagmáticas: Sujeito – Predicado Os estruturalistas não haviam se preocupado com a estrutura Modelo Padrão: (1965) Aspects of The Theory of Syntax Regras de Estrutura Fraseal Léxico Estrutura Profunda – Interpretação Semântica Regras de Transformação Estrutura de Superfície Regras Fonéticas Observação: o léxico era inserido para formar a estrutura profunda Modelo Padrão Ampliado: (1972/1973) Language and Mind, Conditions on Transformation e Studies on Semantics in Generative Grammar Teoria X Léxico Estrutura Profunda Regras de Transformação Interpretação Semântica Estrutura de Superfície Representação Fonética Observação: Pessoas mostram que as transformações alteram o significado.

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Exemplo: ‘Todas as pessoas falam duas línguas ‘ e ‘Duas línguas são faladas por todos’ Têm alteração no significado. Modelo Padrão Ampliado Revisado: (1975/1976) Reflections on Language e Questions on Formand Interpretation Teoria X Léxico Estrutura Profunda Mover a Estrutura de Superfície Forma Fonética Forma Lógica Observação: ‘João viu quem’ e ‘Quem João viu’. Houve uma transformação. Descreve a Estrutura de Superfície indicando o que deve ser mudado. O significado

está na superfície na profunda. Toda significação deve ser estudada na Estrutura de Superfície.

Trocou o nome de Estrutura Profunda para EP. São níveis teóricos e nada a ver com profundidade no cérebro.

De Regras (modelos) passou para a Teoria X. Isto já havia acontecido no modelo III.O próximo passo foi acabar com as regras de transformação, substituindo por Mover a. Representa todas as formas de transformação, independente das línguas particulares.

Ele passa para a noção de princípios, quando percebeuque regras servem para descrever e são particulares.

Modelo Regência e Ligação:(1981) Lectures on Government on Biding Teoria X Léxico Estrutura Profunda Mover a Estrutura de Superfície Forma Fonética Forma Lógica Observação: Chomsky recusa. Este modelo não é dele

Modelo de Princípios e Parâmetros: (1991) Principles and Parameters Theory

Teoria de Caso Teoria da Regência Teoria de Ligação TeoriaTeta Teoria da Fronteira

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Teoria X Léxico Estrutura Profunda Mover a Estrutura de Superfície Forma Fonética Forma Lógica Modelo Minimalista: (1993) Minimalist Program Léxico Spell-out Forma Fonética Forma Lógica Articulatória Conceptual Perceptível Intencional Observação: A idéia central deste modelo é criar um modelo mais simples possível,

a partir dos anteriores.

2 Tendências Contemporâneas Na Semântica, Jaeckendoff faz uma Semântica Cognitiva, Labov faz uma

Semântica voltada para a Antropologia, Montague desenvolveu uma teoria conhecida como Semântica de Montague que é uma teoria puramente formal. Greimas faz uma Semântica Antropológica.

Na Pragmática Cognitiva, destaque para Sperber e Wilson com a Teoria da Relevância e Grice com a Teoria das Implicaturas.

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3 Teorias Lógicas: Lógica de Predicado de Primeira Ordem Semântica Lógica Lógica Clássica – Aristóteles (fundador da Lógica) Lógica Moderna - Frege, Russel e Wittgeinsten Silogística Aristotélica// Sujeito e Predicado A(Todos As são Bs) E(Nenhum A é B) I(Alguns As são Bs) O(Alguns As não são Bs) Frege: Argumento e Função Sentido X Referência Conceito X Objeto ex.: 2=1+1, 2=2, 2=4-2,....todos referem-se ao mesmo número mas com sentido (forma) diferente ex.: ‘A Estrela da Manhã é a Estrela da Tarde’, referem-se ao mesmo planeta. Sentido é o caminho que leva à referência. ‘Onássis é europeu’ e ‘Todos os gregos são europeus’ têm a mesma forma

gramatical, mas diferentes formas lógicas: Eo e ("´) (G´®E´) Lógica Elementar: ‘Platão é filósofo’ P ou Fp ‘Chomsky é lingüista e Clinton não gosta dele’ P Ù ~ Q LckÙGctck Se João ama Maria, então ele sente atração por ela P ® Q João não sente atração por Maria ~Q João não ama Maria ~P Todos os políticos são oportunistas João é político João é oportunista A idéia de Lógica no sentido tradicional é a idéia de forma, como uma disciplina

abstrata, é expressão da racionalidade. Semântica Formal: significado está na forma. Não há nenhuma relação com o

mundo real. Frege observou que a forma gramatical não é igual à forma lógica. A FL está

escondida na FG. Para fins de raciocínio lógico, as frases são muito diferentes.

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Frege criou a noção de argumento e função. Segundo ele é melhor que usar a noção de sujeito e predicado.

ex.: ‘João ama Maria’ Ajm -------- ama --------- função/expressão funcional < Aline, Henrique> é um par ordenado Para interpretar se a proposição é verdadeira, precisamos saber quem é Aline, quem é Henrique, quando foi dito,... Aline ama Henrique e Aline odeia Henrique, do ponto de vista formal são idênticas. Conjunto: Extensional: Intensional: Filósofos gregos Noção de Função: Indivíduo CPF Domínio Contradomínio (argumento) (valor) Função

Sócrates Platão Aristóteles .......

João S Pedro M Maria C

123456 543678 789654

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Cálculo Proposicional Léxico: Variáveis proposicionais: A,B,C,... Conetivos Lógicos: ~, Ù, Ú, ®, « Sintaxe: Regra de Formação: A Ù B, A Ú B, A ® B, ~A, A « B Regra de Derivação: A ® B, A Þ B A ® B, ~B Þ ~A Semântica: A Ù B A ® B V V V V V V V F F V F F F F V F V V F F F F V F Simbolização: a) Se Kant escreveu CRP, então Kant é filósofo P ® Q Kant escreveu a CRP P Kant é filósofo Q b) Chomsky é lingüista ou filósofo implica que Chomsky é um intelectual ( P Ú Q) ® R Cálculo de Predicados Léxico: Variáveis individuais: x, y, z.... Nomes próprios: m, n, ... Sintaxe: Quantificadores: Universal ("´) : ("´) ( Fx ® Gx) Existencial ($´): ($´) ( Fx Ù Gx) Semântica: Fa é V em I se a designa um objeto na extensão de F em I.

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Exemplo: Todos os políticos são oportunistas ("´) (R´®O´) FHC é político Pfhc FHC é oportunista Ofhc Exemplo: Se Chomsky ataca Labov, então ele não é sociolingüista. Acl ® ~Sc Não há verdade. O que existe são várias interpretações. Nada acontece fora da

teoria. Os fatos não são capturáveis. Fatos são fatos. Uma análise mais sofisticada permite explicar os fatos. Teorias são especulativas.

Arbitrárias. Pode-se usar teorias já existentes para explicar novos fenômenos, não é necessário construir uma teoria para cada fenômeno.

IntenCional está relacionado à intenção das pessoas, crenças,... IntenSional relaciona-se à propriedade que permite identificar os elementos do

conjunto. A noção de conjunto é fundamental para compreender um estado de coisas. É abstrata. Conjunto vazio: tem como propriedade ser vazia.

Visão extensional é mais observável. Mais primitivo. ‘João ama Maria’ Ajm predicado de dois argumentos João é filósofo. Pela gramática tradicional o sujeito é João e é dele que estamos

falando, mas nada me impede de dizer que é dos filósofos que estamos falando. Aristóteles criou a Lógica para ser aplicada na Linguagem Natural. Léxico, sintaxe e semântica são partes de toda a teoria. símbolos válidos como combinar os símbolos como interpretar os símbolos A Ù B = B Ù A, mas em LN nem sempre isto é verdade. Exemplo: Maria casou e teve filhos ¹ Maria teve filhos e casou. Conjunto dos Valores de Verdade: Não tem nada a ver com a realidade. Poderia ser 1 ou 0 Princípio da Bivalência: Toda proposição é V ou F Lógica é formal, não tem conteúdo.

V F

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Existem argumentos válidos internamente e proposicionalmente Cálculo de Predicados Cálculo Proposicional Semântica Lógica aproxima o Cálculo de Predicados com o Cálculo Proposicional,

para interpretar propriedades lógicas da Linguagem Natural. São modelos de competência. Não levam em conta o sujeito.

Linguagem é um meio de pensar Chomsky acha que a LN não é bem descrita pela Lógica. Isto fez com que ele

desenvolvesse um formalismo específico para a Lingüística.. Para ele as palavras se mexem na LN

Semântica Cognitiva: Jackendoff Sistema Fonológico Sistema Sintático Sistema Conceitual Regras de Correspondência Toda a questão é mapear os sistema sintático, conceptual e fonológico. Jackendoff é um chomskiano, mas formata de outra maneira. Para ele o cérebro é

modular. Relações entre os módulos Sistema conceptual se expressa na linguagem. Linguagem e pensamento são

diferentes. Acredita que o Léxico é constituído de propriedades semânticas. (Pustejovski também)

Semântica séria deve levar em conta a Sintaxe. Pragmática: Lógica: Gazdor Cognitiva: Sperber e Wilson Semântica lógica ou cognitiva que leve em conta o contexto, (intenção. crenças,...) é

pragmática Sperber e Wilson: cérebro é controlado por leis onde a maior quantidade de

informação deve ser obtida com o menor processamento. Relevância: maior quantidade de informação com o menor custo de processamento.

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1 As línguas são construídas.

1 Objetos da Lingüística não são construídos, mas são objetos naturais. 1 Linguagem é diferente de Língua. 1 Linguagem é uma propriedade da natureza. 1 Ser naturalista significa compromisso com a Física 2 O cérebro é a propriedade fundamental (Universal) da linguagem. Línguas são

2

O pai: era lingüista – escreveu uma obra sobre Hebreu Formação política: luta contra o anti-semitismo O contexto político era desfavorável durante a sua juventude. 1947 – começa a graduação em Lingüística por influência de Z Harris/Harvard Dissertação de mestrado em 1951 Crítica ao Modelo Transformacionalista de Harris 1951 – MIT – Departamento de Línguas Modernas/Lab. Eletrônica Influência de Jakobson, Morris Halle, Bar-Hillel, Goodman,Quine,...

Conviveu com as idéias de Quine ainda na sua graduação Bar-Hillel estudava tradução automática. Era matemático. As Gramáticas Categoriais foram criadas por Bar-Hillel Um dos alunos de Jakobson é Morris Halle que introduz Chomsky no MIT

1955 – Tese de doutorado sobre a Teoria Transformacional Recusa da publicação: obra sairá com o título LSLT em 1975 Publicações de Syntatic Structures – 1957 (aulas ministradas no MIT) Na década de 60 lançou os conceitos de competência e performance. Artigo contra Skinner em 1959 “Lingüística não é a ciência das línguas, mas a ciência do conhecimento que o cérebro tem da linguagem”

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Ferdinand de Saussure (1857-1913): lingüista suiço, cujas idéias acerca da estrutura da linguagem cimentaram as bases para o progresso da lingüística e das ciências relacionadas, durante o século XX. Escreveu “Memoire sur le systemè primitif des voyelles dans les langues indo-européennes” (1879). Após apresentar a sua dissertação de doutorado em Leipzig em 1880, sobre o Genitivo Absoluto em Sânscrito, radicou-se em Paris e trabalhou como professor da Ècole des Hautes Etudes desde 1881 a 1891. Anos mais tarde, voltou para Genebra e assumiu a cátedra de Sânscrito e Filologia Comparativa. Após a sua tese de doutorado, nunca mais voltou a publicar outros livros; somente alguns poucos artigos sobre história da lingüística. Convidado pela Universidade de Genebra, Saussure deu três cursos sobre Lingüística Geral entre 1906 e 1911. Os textos das conferências, junto com outros materiais, foram compilados por dois dos seus alunos (Charles Bally e Albert Sechehaye). O texto definitivo foi publicado em 1916 como “Cours de Linguistique Gènèrale” um dos trabalhos mais citados na literatura lingüística deste século. Uma língua não é só lingüística, pois envolve aspectos políticos, culturais, psicológicos,... A língua é social e a fala individual.

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Saussure estava construindo o objeto, sua metodologia baseou-se nas dicotomias (conceitos): Langue X Parole Sincronia X Diacronia Relações Sintagmáticas X Relações Paradigmáticas Significante X Significado Langue Parole Sistema Realização Psíquica Psicofísica Social Individual

Língua X Fala:

Língua Fala Conjunto de signos1 Tudo que é particular Social Individual Forma Substância Sistema Manifestação

.

1 O signo lingüístico é uma entidade psíquica resultante da combinação de duas faces: conceito e imagem acústica

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Nasceu Platão em Atenas no ano de 427 a. C. . Filho de família aristocrática e abastada, entregou-se na juventude ao estudo das ciências, sob o magistério de Crátilo, discípulo de Heráclito, passando mais tarde para a escola de Sócrates a quem ouviu por quase dez anos. Por morte do mestre, retirou-se para Megara, de onde empreendeu uma série de viagens ao Egito, à Itália e à Sicília. De volta à Grécia, estabeleceu-se definitivamente em Atenas, abrindo sua escola, que recebeu o nome de Academia. De então até a morte, ocorrida em 347, ocupou-se exclusivamente em ensinar e escrever. A forma dos escritos platônicos é o diálogo. O mais conhecido é a República. que aborda questões referentes à linguagem há Crátilo, Teeteto, Sofista e Fédon. FRANCA, P. Leonel. Noções de História da Filosofia. 9ª ed. 1943. São Paulo Nacional.

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Aristóteles (384 – 322 a C), um dos maiores pensadores de todos os tempos, nasceu em Stagira na Grécia e suas obras em ciências natural e social, influenciaram, virtualmente, todas as áreas do pensamento moderno. Suas principais obras foram Organon (tratados de Lógica), Rhetoric, Poetics, History of Animals, Metaphysics, De Anima (sobre Psicologia) e Constitutio of Athens.

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Gramática Universal (GU):

Conjunto de restrições no cérebro para aquisição da linguagem. Por exemplo, sujeito e predicado. A aquisição é determinada pela GU que é uma propriedade inata. É de natureza sintática.

A GU é uma hipótese formulada por Chomsky, para explicar a aquisição da linguagem. Caracteriza-se por um conjunto de restrições no cérebro, no módulo específico da linguagem. É um conjunto de princípios e parâmetros, não de regras. (Os princípios são mais universais e os parâmetros são as formas pelas quais os princípios aparecem nas línguas. Ex. Princípio: de que todas as línguas têm sujeito – Parâmetro: algumas línguas não explicitam o sujeito)

A restrições que caracterizam a GU determinam que o ser humano desenvolva um número X de gramáticas e não X+1. Por seu aspecto “ criativo” , esta gramática permite que a partir de um número finito de estruturas sejam gerados infinitas estruturas.

Para Chomsky a linguagem é independente de estímulo. Propriedade da criatividade. Distingue os homens das máquinas.

Por vários motivos a GU no sentido tradicional foi desprezada no decorrer do século XIX. Ela foi revivificada nos últimos 20 anos por Chomsky.

A versão de Chomsky de GU tem os mesmos pressupostos que as versões anteriores têm a respeito da universalidade da lógica e sobre a interdependência da linguagem e do pensamento.

É um programa formal. Segundo John Fell (1784), o objetivo de uma gramática é descobrir, e não fazer, as

leis de uma língua. Estas leis, que pertencem a todas as línguas humanas, representam as propriedades universais da linguagem: Gramática Universal.

Em 1630, o filósofo germânico Alsted usou o termo Gramática Geral para diferenciar de Gramática Especial. Acreditava que a GG era o modelo de toda a gramática particular..

GU contém as propriedades universais da linguagem. Estas leis pertencem a todas as línguas humanas.

Por volta de 1300, Robert Kilwarby defendia a idéia de que os lingüistas deveriam preocupar-se com a natureza da linguagem em geral.

Chomsky viu que existe uma GU que é parte da faculdade biológica do ser humano. Pode ser enunciada como um sistema de princípios que caracterizam as classes das possíveis gramáticas, pela especulação de como gramáticas particulares são organizadas (quais são os componentes e suas relações), como as diferentes regras destes princípios são construídas, como elas interagem,...

O grande objetivo da teoria lingüística é descobrir a natureza desta GU, cujos princípios caracterizam todas as línguas humanas.

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Aquisição da Linguagem: Quando as crianças aprendem uma língua, elas aprendem a gramática desta

língua, isto é, regras de fonologia, morfologia, sintaxe e semântica, bem como as palavras ou vocabulário. Ninguém as ensina estas regras.

A aquisição da linguagem, para Chomsky, está determinada pela Gramática Universal

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Duas tradições: analogismo e anomalismo A tradição desenvolvida por Heráclito, Platão e os Estóicos, anomalistas, amantes da exceção e a tradição de Aristóteles e dos filologistas alexandrinos, analogistas, amantes das regularidades. O termo ' analogia' era usado em particular para as regularidades expressas nos paradigmas morfológicos. A diferença entre as duas escolas era profunda. Os anomalistas eram filósofos, e não lingüistas práticos, como os analogistas. A ausência de demandas práticas habilitava-os a engajarem-se em argumentos puramente teóricos sobre a natureza da linguagem, a relação entre linguagem e pensamento, o entre linguagem e lógica, a noção de signo e como a linguagem pode ser considerada como um sistema de signos, a origem da linguagem como parte da natureza humana. A linguagem para eles era um produto da natureza , governada por um sistema subjacente que explica tudo. A função semântica da linguagem era primordial e superior. Detrás da estrutura superficial de cada sentença há uma estrutura semântica refletindo o pensamento expresso pela sentença em questão.

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O século XX caracteriza-se pelo desenvolvimento dos sistemas lógicos que conduz, na Segunda metade do século, à construção de máquinas gerais para tratar a informação (computadores). No meio dos anos 30, começa a se construir a teoria das linguagens formais. Pouco a pouco os lingüistas interessam-se pela lógica, assim como pela teoria da informação. Depois da Segunda Guerra Mundial, começa um movimento de matematização da gramática das línguas naturais que tenta situá-la em um domínio vizinho daquele da teoria das linguagens formais. Esse movimento, dominado sociologicamente pela gramática gerativa, é contemporâneo de um crescimento sem precedente das universidades e de uma especialização extrema das pesquisas. Geograficamente, ele é marcado pela hegemonia americana.

W. Dilthey: em O Nascimento da Hermenêutica (1900) propõe distinguir entre a

explicação e a compreensão; as ciências da natureza resultam do primeiro procedimento e as ciências humanas do segundo.

Russel: em 1901 descobre antinomias no sistema de Frege (paradoxo do conjunto de todos os conjuntos que deve e não deve ser incluído nele mesmo)

Naville, em 1901, na sua Nova classificação das ciências , conta com uma concepção deSaussure, segundo a qual a sociologia compreenderia uma disciplina, a semiologia, da qual a lingüística é a parte mais avançada.

Curso de Lingüística Geral, publicado em 1916 pelos alunos de Saussure, a partir de notas de aulas proferidas em Genebra.

Ogden & Richards, em 1923, publicaram uma vasta síntese sobre a natureza do signo lingüístico. Eles popularizaram a concepção ternária clássica do signo como relação de um som com um pensamento (um conceito) e uma referência externa.

Círculo Lingüístico de Praga- 1929 - publicação das teses, notadamente de Mathesius, Becker, Jakobson, Trubetzkoy e Karcevski. “Não se pode compreender nenhum fato de língua, sem se ter em vista o sistema ao qual ele pertence.”

Bloomfield, em 1933, escreveu A Linguagem. Seus trabalhos, juntamente com os de Z. Harris, definem o que se chama “estruturalismo americano”.

Tarski, em 1944, escreveu “A concepção semântica da verdade e os fundamentos da semântica”

Chomsky –1957- em Syntatic Struture retoma a idéia de uma teoria gramatical baseada na geração das frases conforme um duplo processo: de início são engendradas estruturas de base ( estrutura profunda) e, em seguida, estas são objetos de transformações (estruturas de superfície). A gramática é concebida como um conjunto de componentes algorítmicos que engendra as frase da língua. O componente sintático é o primeiro e autônomo em relação ao componente semântico. As regras de gramática são semelhantes às regras de reescrita das línguas formais.

Skinner - 1957 -desenvolve uma teoria behaviorista sofisticada da linguagem (Verbal Behavior) Em 1959, Chomsky contesta a idéia de que o desenvolvimento lingüístico da criança depende de estímulos externos e defende uma posição inatista.

Bar-Hillel – 1960- publica um artigo que põe em jogo o caráter quimérico da tradução automática. Os trabalhos nesse domínio não serão abandonados totalmente, mas reorientados em direção à tradução por computador.

Chomsky -1965- em Aspects of Theory of Syntax, propõe uma versão mais sistemática de sua teoria: introdução da noção de competência e performance; abandono das transformações generalizadas em favor das estruturas de frase; separação entre, de um

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lado, as regras lexicais e as subcategorizações e, de outro lado, as regras relativas às estruturas de frase. Ele defende que as considerações semânticas não desempenham nenhum papel na escolha da estrutura-sintática ou fonológica de uma língua. Esse modelo é chamado modelo padrão.

Chomsky –1967- Depois da publicação de Aspects, alguns desenvolvimentos do modelo gerativo se distanciam das proposições de Chomsky. Seus alunos Ross e Lakoff, principalmente, desenvolvem a “semântica gerativa”: o nível da estrutura profunda, extremamente abstrato, contém toda a informação semântica. A inserção dos elementos lexicais é posterior, há uma só estrutura de base para todos os derivados morfológicos. Em resposta à semântica gerativa, diferentes modificações da teoria-padrão conduzirão à teoria padrão estendida. Em seu artigo Remarks on Nomonalization, adota a hipótese lexicalista que fornece uma dimensão mais concreta à estrutura profunda: em uma expressão como “a partida”, “partida”não é mais derivado de um verbo, mas entra diretamente como um nome na estrutura profunda. Em Deep structure, surface structure and semantic interpretation (1971) e Conditions on transformations (1973) formulam-se um certo número de novos elementos: aplicação cega das regras de transformação sem consideração das relações gramaticais ou semânticas; as regras semânticas (componente interpretativo da gramática) aplicam-se sobre a estrutura profunda e a estrutura de superfície; algumas propriedades da linguagem são tomadas por princípios muito gerais: as restrições que não têm a forma das regras de reescrita (por exemplo: "nenhum sintagma nominal ramificado à esquerda sob um outro sintagma nominal pode ser extraído deste último"); as regras de transformação são substituídas por uma regra geral de deslocamento dos elementos da estrutura profunda ("move alpha", onde alpha pode ser qualquer categoria); os elementos deslocados deixam "traços"; entre a estrutura de superfície e a representação semântica toma lugar um novo componente: a forma lógica.

Montague -1968- em um artigo “Pragmatics” expõe uma teoria formal das expressões indexais que ele desenvolverá em 1970 em um outro artigo “Pragmatics and Intensional Logic”

Montague – 1970 - em um artigo intitulado “English as a Formal Language”, defende que não há diferença teórica importante entre uma linguagem formal e uma linguagem natural.

Labov- 1972- em seus Sociolinguistics patterns, apresenta um estudo empírico das relações entre a estrutura social e a variação lingüística. Fodor – 1975- em The Language of Thought, defende a existência de um “mentalês”, linguagem inata do pensamento que estaria para as línguas naturais assim como a linguagem-máquina está para as linguagens de programação. Chomsky -1979- durante conferências em Pisa, introduz novos conceitos, cujo conjunto constitui a teoria da regência e da ligação que se designa por vezes, mais geralmente, pela expressão princípios e parâmetros. A gramática é composta de módulos que interagem e provêm de diferentes teorias: teoria da ligação(estabelece os domínios de validade das regras de movimento) ; teoria da regência ( estabelece a relação entre o núcleo de um sintagma e as categorias que dependem dele); teoria dos papéis-teta ( estabelece as funções da tematização); teoria dos casos (atribui casos abstratos e estuda sua realização morfológica); teoria X-barra (define as restrições das categorias de base da gramática como o substantivo ou a frase, admitindo a hipótese de que todas funcionam do mesmo modo: um núcleo (X=cachorro), ao qual se pode juntar um especificador ( X”=SX=o cachorro) e um complemento (X’’’=SXC= o cachorro preto)). Essas teorias permitem formular o

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princípio da gramática universal, que é aplicado nas diferentes línguas em função de parâmetros específicos. Sperber e Wilson –1986- Relevance Chomsky -1993- em um artigo “A minimalist program for linguist theory”, defende que o único papel da sintaxe é verificar a compatibilidade morfológica dos constituintes da proposição.