curso de especial ização em saúde mental: gestão, atenção

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MINISTÉRIO DA SAÚDE GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO CENTRO DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA E PESQUISA EM SAÚDE – ESCOLA GHC INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL – CÂMPUS PORTO ALEGRE A ASSISTENCIA PSICOLÓGICA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL EM UM HOSPITAL GERAL NO INTERIOR DO RIO GRANDE DO SUL FABIANI RAMOS DE MORAES ORIENTADOR: FERNANDA ZANOTO KRAEMER PORTO ALEGRE 2013 Curso de Especialização em Saúde Mental: Gestão, Atenção, Controle Social e Processos Educacionais

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Page 1: Curso de Especial ização em Saúde Mental: Gestão, Atenção

MINISTÉRIO DA SAÚDE

GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO

CENTRO DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA E PESQUISA EM SAÚDE – ESCOLA GHC

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO

GRANDE DO SUL – CÂMPUS PORTO ALEGRE

A ASSISTENCIA PSICOLÓGICA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE

MENTAL EM UM HOSPITAL GERAL NO INTERIOR DO RIO GRAN DE

DO SUL

FABIANI RAMOS DE MORAES

ORIENTADOR: FERNANDA ZANOTO KRAEMER

PORTO ALEGRE

2013

Curso de Especial ização em Saúde Mental: Gestão, Atenção, Controle Social e Processos Educaci onais

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A ASSISTENCIA PSICOLÓGICA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE MENT AL EM UM

HOSPITAL GERAL NO INTERIOR DO RIO GRANDE DO SUL

Fabiani Ramos de Moraes1

Fernanda Zanoto Kraemer2

RESUMO

O presente artigo apresenta um relato de experiência a partir das práticas instituídas no Serviço de Psicologia em um hospital geral no interior do Rio Grande do Sul. Tal proposta se justifica frente à necessidade de reflexão a cerca do fazer do psicólogo no ambiente hospitalar. O projeto divide-se em três momentos: a reflexão sobre a assistência psicológica no hospital geral; um relato de experiência; e a reflexão sobre uma nova possibilidade de fazer a assistência psicológica onde a clínica se faz presente. A partir deste trabalho pretende-se contribuir com a construção da identidade da psicologia dentro da instituição hospitalar e estimular a reflexão de novas práticas para proposições de ações de intervenção rumo aos novos modos de operar o cuidado em saúde. Descritores: psicologia hospitalar, saúde mental, humanização

ABSTRACT

This article presents an experience report from the practice established in the

Department of Psychology at a general hospital in the state of Rio Grande do Sul. This proposal is justified due to the necessity of reflection about the making of the psychologist in the hospital environment. The project is divided into three stages: a reflection on the psychological care in general hospital, an experience report; reflection on a new possibility of psychological assistance where the clinic is present. From this work we intend to contribute to the identity construction of psychology within the hospital and to encourage discussion of new practices for propositions of intervention actions toward new ways of operating the health care. Descriptors: hospital psychology, mental health, humanization

1 Especializanda em Saúde Mental: Gestão, Atenção, Controle Social e Processos Educacionais; Pós – Graduada em Psicologia Jurídica, Psicóloga, atua em Hospital Geral no interior do Rio Grande do Sul – e-mail: [email protected] 2 Mestre Profissional em Gestão de Tecnologia em Saúde do Programa de Pós – Graduação em Epidemiologia da UFRGS, Enfermeira do Hospital Cristo Redentor, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil , professora e orientadora de trabalho de conclusão de curso na Escola GHC.

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3

INTRODUÇÃO

Este artigo descreve a vivência de um profissional psicólogo no Serviço de Psicologia

num Hospital Geral do interior do Rio Grande do Sul. A motivação pela realização desse

trabalho deu-se a partir da necessidade de reflexão a cerca do reconhecimento da importância

da escuta clínica do Psicólogo em uma instituição hospitalar. A escuta clínica vai além do

fazer do Psicólogo Hospitalar, um não se faz sem o saber do outro. Os psicólogos que compõe

as equipes em hospitais, na maioria das vezes, realizam trabalho de consultoria por

interconsulta, onde o médico solicita sua avaliação e se necessário o acompanhamento.

Quando solicitado para tal avaliação o sofrimento psíquico do paciente já se faz presente e

com tal intensidade que sinais e sintomas são evidenciados. O diferencial deste relato de

vivencia é a escuta clínica através da presença da psicologia em todos os setores do hospital,

sendo eles: emergência e pronto atendimento, participação nos grupos de ouvidoria e

humanização, na saúde mental, na internação, adulta e pediátrica, maternidade, UTI e bloco

cirúrgico.

Quando inicie o trabalho como psicóloga no hospital, o fazer psicologia hospitalar era

um desafio, um caminho novo a ser percorrido, havia transitado por outras Políticas Públicas.

Mesmo contratada para prestar assistência a todo o hospital, permanecia na Unidade de Saúde

Mental. Atrás daquela porta restava-me esquecida. Por não ser uma cultura da instituição? Ou

pela grande demanda na Saúde Mental? Esquecida talvez não, mas “a psicóloga DA saúde

mental”. Os atendimentos fora da Saúde Mental ocorriam esporadicamente como consultoria

por solicitação médica para avaliação do grau de sofrimento psíquico. Com o passar do

tempo surge à necessidade de mais um profissional para trabalhar nos recursos humanos. Esta

profissional chega também para fazer a análise institucional, a partir deste momento, a direção

passa a refletir sobre a necessidade de um Serviço de Psicologia e contrata mais duas colegas,

uma psicóloga para assistência aos demais setores do hospital e outra para agregar à equipe da

saúde mental. A psicologia começa a tomar seu espaço, a demanda cresce, e com ela a

necessidade de expandir o serviço. Na saúde mental, permanece uma psicóloga, e eu divido

com a outra colega os demais setores, passando a ser referência na maternidade, pediatria e

bloco cirúrgico, onde também está o centro obstétrico. Neste momento sinto-me tomada pelo

receio do novo. E o que fazer com os pacientes em intenso sofrimento psíquico? Para onde

encaminhar, se necessário acompanhamento psicológico? A rede de atendimento psicológico

na atenção básica não consegue atender toda a demanda. Para atender os pacientes pré e pós-

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cirúrgicos, a emergência e o ambulatório de psicologia, dois novos colegas integram a equipe.

Hoje o serviço de psicologia conta com nove profissionais.

O hospital vive um outro momento de sua história, com uma gestão inovadora, e um

olhar visionário que aproxima a instituição do Estado e da União. O Estado visando sanar

suas necessidades de atendimento à média complexidade, dentro da região de saúde nº8,

propõe em parceria com a União na condição do hospital aderir à portaria do Ministério da

Saúde, nº 929, de 10 maio de 2012, o incentivo financeiro 100% SUS. A portaria institui que

o incentivo financeiro seja destinado às unidades hospitalares que se caracterizam como

pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos e que destinam 100% de seus serviços

de saúde, ambulatoriais e hospitalares, exclusivamente ao Sistema Único de Saúde – SUS.

A partir deste momento passa a ser o primeiro hospital filantrópico 100% SUS no Estado do

Rio Grande do Sul, abrangendo 160 mil usuários do serviço. Com a implantação do SUS na

instituição a gestão passa a se ocupar também do programa de Humanização. O olhar

humanizado ao paciente tem como objetivo assistir o ser humano na sua integralidade

preocupando-se com o sofrimento físico e psíquico.

Segundo Oliveira (2007), a humanização da assistência ao paciente hospitalizado

adotou o significado de um processo de transformação da cultura institucional, onde se

reconhece e valoriza os aspectos subjetivos, históricos e socioculturais de usuários e

profissionais, assim como funcionamentos institucionais importantes para compreensão dos

problemas e elaboração de ações que promovam boas condições de trabalho e qualidade de

atendimento.

Em um estudo que analisa o discurso do Ministério da Saúde sobre a proposta de

humanização na assistência à saúde, Deslandes (2004), define o termo humanização como

sendo um amplo conjunto de iniciativas que abrange a assistência que valoriza a qualidade do

cuidado do ponto de vista técnico; o reconhecimento dos direitos, da subjetividade e da

cultura do paciente; o valor do profissional da saúde. Dentro desta perspectiva, as idéias

centrais de humanização do atendimento na saúde são as de: oposição à violência,

compreendida como a negação do outro, em sua humanidade; necessidade de oferta de

atendimento de qualidade; articulação dos avanços tecnológicos com acolhimento; melhorias

nas condições de trabalho do profissional e ampliação do processo de comunicação.

A Humanização em saúde é uma possibilidade política de se alterar uma lógica

utilitária e autoritária que produz sujeitos cerceados, fragmentados e incapazes. Ao considerar

dimensões subjetivas e singulares, a implantação do atendimento humanizado poderá

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instaurar, nas organizações, espaços de liberdade de acolher, amparar, sustentar e dar

significado à presença e às ações de profissionais de saúde, gestores e pacientes. (Reis,

Marazina, Gallo, 2004)

A partir do aumento do quadro profissional do serviço de psicologia e da

sensibilização para uma prática humanizada, a lógica do cuidado passa a ser vista como um

fazer transdisciplinar e a atenção psicológica passa a focar na promoção da saúde mental.

Assim, este relato de vivencia tem como objetivo contribuir com a construção da

identidade da psicologia dentro da instituição hospitalar e estimular a reflexão de novas

práticas para proposições de ações de intervenção rumo aos novos modos de operar o cuidado

em saúde.

A psicologia no contexto hospitalar

No final dos anos 50 e durante toda e década de 60, a atuação do psicólogo na saúde

púbica brasileira esteve ligada à área da saúde mental, principalmente junto aos hospitais

psiquiátricos, tendo como modelo de atuação o enfoque clínico.

Em 1986, 1992 e 1996, durante as Conferências Nacionais de Saúde e nas

Conferencias Nacionais de Saúde Mental, ocorrem através da mobilização de movimentos

sociais, representados por várias categorias profissionais e pela comunidade em geral, uma

discussão publica e democrática sobre a situação precária da saúde e da rede de assistência no

País.

A partir da mobilização política nacional e das Conferências, na década de 70, um

conjunto de ações específicas foram implementados pelo governo brasileiro. A primeira ação

foi à discussão sobre a atenção primária à saúde e à sua implantação no interior do Brasil. Em

seguida foi à criação de uma rede de assistência interligada, composta por unidades básicas de

saúde, ambulatórios e hospitais gerais e especializados. A terceira ação, já proposta pela

Constituição Federal de 1988, foi à criação de um novo modelo de atenção à saúde,

regulamentado a partir da lei 8080 em 1992, denominado de SUS – Sistema Único de Saúde,

refletindo a reorganização do sistema de saúde pública brasileiro. (Seidl e Costa, 1999).

A Psicologia foi progressivamente entrando no contexto do hospital geral “em

resposta às novas tendências que assinalavam a necessidade de expansão do saber

biopsicossocial na compreensão do fenômeno da doença, visando modificar as concepções

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habituais, cristalizadas pelo modelo biomédico”, que passara a ser questionado (Chiattone,

2000). A doença passa a ser vista como um estado de crise agravado pela hospitalização, que

interfere diretamente sobre o estado emocional do indivíduo. Neste momento, o principal

objetivo da atuação de psicólogos no contexto hospitalar é a minimização do sofrimento

gerado pelo adoecimento e a hospitalização, evitando as possíveis seqüelas emocionais dessa

vivência (Angerami-Camon, 1995).

Romano (1999) refere que há basicamente quatro tipos de relação que interessam à

psicologia hospitalar. Primeiro - pessoa com pessoa - quem é o paciente e que é o cuidador;

segundo - paciente com grupos – seu grupo familiar, a equipe multiprofissional, o grupo dos

outros pacientes; terceiro – paciente com o processo do adoecer e com a situação da

hospitalização; quarto – paciente consigo mesmo – personalidade, necessidades, mitos e

fantasias.

Segundo o Conselho Federal de Psicologia3, o psicólogo especialista em Psicologia

Hospitalar tem sua função centrada nos âmbitos secundário e terciário de atenção à saúde,

atuando em instituições de saúde e realizando atividades como: atendimento psicoterapêutico;

grupos psicoterapêuticos; grupos de psicoprofilaxia; atendimentos em ambulatório e unidade

de terapia intensiva; pronto atendimento, enfermarias em geral; psicomotricidade no contexto

hospitalar; avaliação diagnóstica; psicodiagnóstico; consultoria e interconsulta.

Chiattone (1991) refere que a Psicologia Hospitalar trata-se apenas de uma estratégia

de atuação em Psicologia da Saúde, e que deveria ser chamada de Psicologia no contexto

hospitalar.

Segundo Simonetti (2004), “os aspectos psicológicos não existem soltos no ar, e sim

encarnados em pessoas”, sejam estas pacientes, familiares ou os próprios profissionais de

saúde. Logo, a atuação do psicólogo hospitalar deve se dar essencialmente ao nível da

comunicação, das relações interpessoais sobre a tríade paciente-família-equipe.

E, ao ampliar seu modelo assistencial ao paciente, aos familiares e às equipes de

saúde, o psicólogo hospitalar engaja-se definitivamente na essência da sua prática: a

humanização da assistência prestada ao nível da saúde (Chiattone, 2000).

Uma equipe transdisciplinar, que visa à unidade do conhecimento, articulando

elementos que passam entre, além e através das disciplinas, é um dispositivo importante e

necessário para o acolhimento humanizado. Num hospital esta equipe ainda faz o papel de

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integrar os diferentes momentos do atendimento, naquilo que muitas vezes resulta na

internação hospitalar. Para tanto, o trabalho transdisciplinar requer que as diferentes áreas

façam as trocas de seus saberes sem perder a especificidade. Os diferentes olhares de cada

saber são importantes para a escuta e o cuidado de quem ali esta.

Carvalho (2005) refere que o trabalho do psicólogo em ambiente hospitalar é

evidenciado pela atuação clínica. A autora refere ainda que este é um ponto que merece maior

consideração, pois encontra dois detalhes conflitantes. A literatura expõe o debate acerca da

definição do campo da psicologia hospitalar, ou seja, a própria psicologia ainda não conseguiu

estabelecer um paradigma científico do contexto hospitalar, o que gera ambigüidade, e

confusão de papeis profissionais.

Segundo Borges (2009), para o psicólogo hospitalar a entrevista clínica prima pela

questão avaliativa e terapêutica. Levando em consideração sempre as questões éticas,

humanas e profissionais envolvidas. A entrevista tem como objetivo fazer uma aliança com o

paciente, através do estabelecimento do vínculo inicial. O autor utiliza o termo atendimento,

como sinônimo de entrevista clinica, entende que além das coletas de dados e do estudo

destes, no atendimento temos o objetivo de sermos terapêuticos de alguma forma, por meio da

empatia, do atendimento, da aceitação da pessoa do paciente como um todo, com suas

dificuldades e potencialidades.

No ambiente hospitalar não sabemos se veremos novamente o paciente, por este

motivo temos que otimizar ao máximo a escolha do momento, o tempo, mesmo que tenhamos

um objetivo, o planejamento terapêutico para demais encontros, a incerteza se faz presente.

“A arte de conhecer alguém é algo especial na psicologia, pelo fato de que jamais

conheceremos alguém na sua totalidade, nem mesmo teremos certezas a respeito desse nosso

suposto conhecimento”. (Borges, 2009, p.18) Cada momento com o paciente é único em seu

tempo, mesmo que tenhamos visto mais de uma vez em setores diferentes, seu tempo é outro.

Figueiredo (1997) refere que muitos autores versam sobre pontos comuns quanto à

concepção do adoecer psíquico e do tratamento. Quem adoeceu e sofre é, antes de tudo um

sujeito e não um corpo. Logo a fala deve ser privilegiada não como manifestação patológica

que exige correção ou resposta imediata, mas como possibilidade de fazer aparecer uma outra

dimensão da queixa que singulariza o pedido de ajuda. Consequentemente o tratamento

3 Resolução CFP Nº 02/01 Altera e regulamenta a Resolução CFP nº 014/00 que institui o título profissional de especialista em psicologia e o respectivo registro nos Conselhos Regionais. Dados extraídos do site do Conselho Federal de Psicologia - http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2006/01/resolucao2001-2.pdf

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consiste nesta etapa inicial, em acolher e escutar ao invés de apenas ver e conter quando

necessário.

O Serviço de Psicologia num Hospital Geral no interior do Rio Grande do Sul4

Trata-se de um Hospital Geral5 de média complexidade, situado no interior do Rio

Grande do Sul, 100% SUS, referencia para 14 municípios, privado, mantido por uma entidade

filantrópica, sem fins lucrativos, a demanda é espontânea e referenciada. Possui 157 leitos em

funcionamento, presta serviço ambulatorial, internação, urgência e emergência. Em média o

hospital realiza 240 procedimentos mensais no bloco cirúrgico, 4 mil atendimentos ao mês na

emergência e 577 internações mensais.

O Serviço de Psicologia é composto por seis psicólogos, quatro com 30 horas

semanais e duas com 40 horas semanais, uma exerce o cargo de coordenação do serviço e a

outra coordena a Saúde Mental. Duas assistentes sociais que trabalham 30 horas semanais

cada uma e uma assistente administrativa com 44 horas semanais.

Pinto (2004) endossa a discussão acerca da necessidade da implementação e da

padronização de procedimentos de atendimento psicológico, visando à melhoria do serviço

prestado no contexto hospitalar. Dessa forma, apresentamos algumas possibilidades de

atuação da equipe de Psicologia no trabalho com os pacientes, seus familiares e funcionários

da instituição. O protocolo do serviço de psicologia foi criado a partir da análise institucional

e do desejo de implantação do serviço, demanda esta inovadora na instituição.

Segundo o protocolo do Serviço de Psicologia6, o psicólogo que atende na Emergência

do hospital, realiza, junto com a assistente social, o Grupo de Acolhimento na sala de espera.

O tempo de espera pelo atendimento médico é um espaço muito rico para abertura à fala do

paciente. As pessoas encontram-se à espera para serem atendidas e muitas vezes a

necessidade é de que as escutem. Durante esse momento, muitas situações/sentimentos

surgem e encaminhamentos podem ser realizados, inclusive diminuindo o fluxo de

4 O presente texto foi produzido pela equipe do Serviço de Psicologia para apresentar na 1ª Jornada de Psicologia Hospitalar do Hospital de Clínicas de Porto Alegre – Formação, Intervenção e indicadores de qualidade, em setembro de 2013. 5 Dados disponível no site do Ministério da Saúde – CNES – Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, endereço eletrônico, visitado em novembro de 2013. http://cnes.datasus.gov.br/Exibe_Ficha_Estabelecimento.asp?VCo_Unidade=4312402257556 6 Protocolo de Psicologia criado pela Psicóloga Adriana Cardoso Bandeira

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atendimento médico ou ambulatorial. O paciente que busca o pronto atendimento ou a

emergência possui características de urgência, seja ela de fator emocional ou física. Neste

sentido, a escuta do paciente é de suma importância e em muitos casos deve ser individual. O

familiar também pode ser atendido, pois é um momento de escuta para suas duvidas e

aflições. Emocionalmente encontra-se em um momento diferenciado, tendo muitas vezes que

tomar decisões nunca antes experimentadas.

Os pacientes que tem procedimento cirúrgico7 eletivo agendado são contatados por um

psicólogo, quem oferece um atendimento antecedendo a cirurgia, do qual resulta um parecer

sobre o estado emocional do paciente nesse momento. Assim, busca-se acolher a pessoa, com

suas expectativas e ansiedades referentes ao procedimento a ser realizado. Após a cirurgia é

realizada visita ao leito do paciente oferecendo suporte conforme a necessidade identificada.

Na unidade de Internação Clínica8 é realizado atendimento ao leito dos pacientes

internados, assim como dos seus familiares. Com o propósito de oferecer suporte emocional,

favorecendo o processo de despedida são acompanhados de forma específica os pacientes em

fase terminal e seus familiares. Três vezes na semana, com a assistente social, nutricionista,

enfermeira e recepcionista, o psicólogo participa do Grupo de Acompanhantes ou Roda de

Conversa como também é chamado. Este é um espaço de escuta e troca, quando a equipe

também fornece informações importantes sobre o funcionamento e as rotinas do hospital.

Nesse setor são promovidos discussões de casos interdisciplinarmente, dos quais o psicólogo

também participa.

A UTI do hospital, também conta com o psicólogo. Este realiza atendimento ao leito e

acompanha os familiares através de um grupo, com freqüência de três vezes na semana,

levando em consideração o momento de crise. Também serão realizados atendimentos

individuais dos membros da família, assim como de cada família, se necessário.

Na Unidade de Saúde Mental9 a psicóloga realiza acompanhamento diário dos

pacientes. Esses são atendidos individualmente uma vez na semana, ou quando houver outra

demanda. Além disso, ocorre semanalmente uma atividade de grupo específica para

dependentes químicos de álcool e outras drogas, e um Grupo Terapêutico para pacientes com

outros transtornos psiquiátricos. Cabe ainda à psicóloga desse setor a coordenação da

7 Extrato do texto produzido em equipe escrito pela Psicóloga Rafaela Cassol da Cunha. 8 Extrato do texto produzido em equipe escrito pela Psicóloga Magliane Freitas da Rosa. 9 Extrato do texto produzido em equipe, escrito e apresentado pela Psicóloga Carla Vanessa da Silva Giuliani na 1ª Jornada de Psicologia Hospitalar do Hospital de Clínicas de Porto Alegre – Formação, Intervenção e indicadores de qualidade, em setembro de 2013.

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assembléia junto aos pacientes com o objetivo de escutá-los quanto as suas necessidades em

relação à estrutura, às solicitações administrativas e esclarecimentos das normas durante a

internação, às suas reivindicações, elogios, sentimentos, dentre outros aspectos relacionados

com o funcionamento do tratamento oferecido. A assembléia ocorre uma vez na semana com

dia e horário estabelecido, assim como os demais grupos. Junto da assistente social do setor, é

desenvolvido o Grupo de Familiares, organizado em um dos dias de visita, antes desse

horário. Os familiares também são atendidos individualmente conforme a procura dos

mesmos, ou pela indicação da equipe ou do próprio profissional. A psicóloga participa das

reuniões semanais de equipe e de discussões de casos multidisciplinares, esses acontecendo

duas vezes na semana, com objetivo de integrar os olhares de cada membro da equipe que

acompanha o paciente. Para cada pessoa é estabelecido um Plano Terapêutico Individual que,

como os demais profissionais, o psicólogo preenche no prontuário. Na ocasião da alta

hospitalar é preenchido também o documento de Referência e Contra-Referência, o que

embasa o encaminhamento para a rede extra-hospitalar.

No Ambulatório10 de Psicologia atua um dos psicólogos da equipe. Para o ambulatório

são encaminhados pelos colegas psicólogos dos setores do hospital pacientes pós-alta que

necessitam de acompanhamento, assim como seus familiares. O psicólogo que atua na

assistência aos trabalhadores, também faz seus encaminhamentos para o ambulatório sempre

que julgar indicado, ou conforme o pedido e interesse do funcionário.

O Serviço de Psicologia atua também junto ao Setor de Recursos Humanos 11 (RH),

onde faz entrevistas de seleção, visando à escuta do sujeito na relação com o seu fazer,

compondo com essa entrevista o processo de seleção. Dessa resulta um laudo contendo um

aconselhamento para a chefia, objetivando orientar sobre a melhor forma de o funcionário ser

acolhido e já, desde o início, poder desenvolver suas potencialidades. Durante o período de

experiência são feitas duas avaliações de desenvolvimento, quando são levantados aspectos

que possam melhorar e os que estão satisfatórios. Após essa avaliação de desenvolvimento

realizada junto das chefias o funcionário é chamado pelo psicólogo para uma auto avaliação,

na qual são ponderadas as notas atribuídas pela chefia, sendo o funcionário também ouvido

nesse momento. O coordenador também pode encaminhar o funcionário para auto avaliação

junto ao psicólogo fora do período de contrato. Desse atendimento resulta uma devolução

para a coordenação somente das questões da vida funcional do colaborador. O atendimento

10 Extrato do texto produzido em equipe escrito pelo Psicólogo Saulo Nascimento Medeiros. 11 Extrato do texto produzido em equipe escrito pela Psicóloga Adriana Cardoso Bandeira.

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também pode ser sugerido pelos colegas psicólogos que trabalham nos setores. Assim, o

funcionário marca seu horário, é atendido, porém desse atendimento não há devolução para as

coordenações. O colaborador também pode procurar o psicólogo do trabalho

espontaneamente. Esse realizará a escuta e, conforme demanda ou desejo do funcionário, fará

encaminhamento ao ambulatório para acompanhamento terapêutico. Ainda no setor de

Recursos Humanos é tarefa do psicólogo a entrevista de desligamento na ocasião da

demissão. Nesse momento visa-se estabelecer um diálogo, elucidando as causas do

desligamento e se está bem resolvida à ação a que se propõe. Atualmente, o mesmo

profissional que atua no Setor de Recursos Humanos realiza um trabalho de Psicologia

Institucional no hospital. O principal instrumento dessa intervenção são os grupos de

ouvidoria. Esses são espaços de escuta solicitados pelos coletivos, geralmente setores, que se

reúnem e encaminham sugestões sobre fluxos e melhores formas de trabalho, resultando em

encaminhamentos para direção e outros setores. Quando é detectado pelo RH ou alguma

coordenação à necessidade de intervenção em determinado setor é realizada avaliação

individual de todos os funcionários que ali trabalham, resultando em uma análise dos

sintomas do setor. Assim, vislumbra-se alguma possibilidade de mudança contando com as

potencialidades de cada um.

O Serviço de Psicologia também está à frente do Grupo de Humanização do hospital.

Como um dispositivo de Educação Permanente12 trabalha com pequenos grupos que ao final

de um semestre fazem propostas de ações que possam fazer parte do dia a dia da instituição.

As ações têm objetivo de humanizar o atendimento na assistência ao público do hospital, bem

como de melhorar as relações interpessoais também entre os trabalhadores.

Todos os integrantes do Serviço de Psicologia encontram-se duas vezes na semana em

reunião de equipe, a fim de problematizar questões referentes à prática, dando o melhor

encaminhamento, e trocar experiências dos diferentes setores, objetivando o desenvolvimento

e o aprimoramento do trabalho. Além disso, os psicólogos também propõem um grupo de

estudos quinzenal na instituição, para o qual são convidados os colaboradores, e, com o apoio

do Grupo de Educação Continuada, propõe capacitações periodicamente levando em

consideração temas que possam ser importantes no contexto do hospital.

Os setores da maternidade, pediatria e bloco cirúrgico serão apresentados mais

detalhadamente, pois se trata da área de atuação da autora.

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No Bloco Cirúrgico é realizado acolhimento dos pacientes no momento anterior e

posterior aos procedimentos. Com as crianças é feito um grupo juntamente com seus

acompanhantes, geralmente a mãe. Além disso, na sala de espera é realizado juntamente com

a assistente social um grupo de acolhimento aos familiares e acompanhantes que ali

aguardam.

No setor de Pediatria todas as crianças internadas são acompanhadas com objetivo de

fornecê-las suporte emocional, levando em conta a especificidade do acompanhamento

também dos pais nesse caso.

É observado o sintoma familiar, o lugar que a criança ocupa nessa família. São

realizados também os encaminhamentos necessários pós-alta hospitalar. Estamos em processo

de implantação da brinquedoteca, espaço que será utilizado para atendimento de uma forma

lúdica.

Alves (2008), em seu texto “Ostra feliz não faz pérolas” nos faz refletir sobre o

processo de criação da pérola, onde a ostra, para fazer uma pérola, precisa ter dentro de si um

grão de areia que a faça sofrer. Sofrendo, a ostra diz para si mesma: preciso envolver essa

areia pontuda que me machuca com uma esfera lisa que lhe tire as pontas... ostras felizes não

fazem pérolas... pessoas felizes não sentem a necessidade de criar. O ato criador, seja na

ciência ou na arte, surge sempre de uma dor. Não é preciso que seja na dor doída.

Fazendo uma analogia com a ostra, assim como uma ostra, a mulher durante a

gestação sofre com ansiedades, medos, angústias, frustrações, crises emocionais, baixa auto-

estima, maior sensibilidade, rejeição, impaciência, choro, depressão, sofre com os sintomas

fisiológicos como náuseas e vômitos, aumento de saliva, aumento freqüência urinária,

sonolência, cefaléia, azia, alterações da acuidade visual e auditiva, constipação intestinal. Em

cada trimestre gestacional, alterações são evidenciadas sendo elas físicas ou emocionais. É um

período de mudanças que fazem parte do processo natural do desenvolvimento humano.

Assim como ostras a mulher precisa criar uma maneira dentro de si para ultrapassar esta dor

da transformação, onde deixa de ser filha, passa a ser mãe.

Na maternidade as mães são acompanhadas pela psicóloga desde a gestação, através

do grupo de gestantes em parceria com a atenção básica do município. No centro obstétrico as

gestantes são acolhidas, em algumas vezes, minutos antes do parto.

12 Fonte: PORTARIA Nº 198/GM em 13 de Fevereiro de 2004, O Ministério da Saúde Instituiu a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde como estratégia do Sistema Único de Saúde para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor.

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Basta o silêncio, olhos nos olhos e o afago das mãos, mãos que em silêncio são

recebidas e apertadas como uma simples forma de amenizar a dor do trabalho de parto. Este

momento é vivenciado na sala de pré-parto, a psicóloga deseja um bom parto, lembrando que

em seguida estará com seu bebê nos braços. Receber assistência terapêutica considerando o

momento imediatamente posterior ao nascimento do bebê e as demandas que possam daí

resultar, atenta-se para a prevenção da saúde mental e detecção de possíveis desgastes e

conflitos emocionais inerentes ao contexto. Sempre que se observa necessidade é realizado

encaminhamento pós-alta. As gestantes internadas também são acompanhadas, sobretudo

àquelas gestantes que por terem sua gestação classificada como “de risco” aguardam

transferência para outros hospitais. Juntamente com a assistente social e a enfermeira, a

psicóloga realiza diariamente uma roda de conversa com os acompanhantes. É um momento

importante onde se entende que os acompanhantes e familiares também possam ser parte da

equipe de trabalho, nas rodas de conversa além de orientações em relação ao ambiente

hospitalar, é realizada uma aliança com o participante dando ênfase de que estamos à sua

disposição.

A preocupação em relação às primeiras horas após o parto se dá porque se entende que

o primeiro contato afetivo da mãe com o bebê é um momento de suma importância para

maturação emocional do recém nascido, neste momento o olhar do psicólogo não está voltado

apenas para uma possível depressão pós-parto, mas sim para a relação mãe-bebê. A relação

mãe-bebê e a formação do vínculo e do apego foram profundamente estudadas por autores da

Psicanálise e da Teoria das Relações Objetais, como Margareth Mahler, Renné Spitz, Serge

Lebovici, Donald Winnicott e Jonh Bowlby.

O bebe permanece com a mãe no quarto e neste momento a forma como se estabelece

o contato visual mãe-bebê determina o que Bee (1996), chama de ligação afetiva é o desejo de

estabelecer ou manter contato com uma pessoa específica, assim, os comportamentos de

vínculo são as diversas formas que fazemos para estabelecer contato visual. A autora

apresenta duas etapas no desenvolvimento da ligação afetiva entre a criança e os pais, onde,

primeiramente, há um vínculo que se forma no nascimento ou logo depois desse, de forma

que é fortalecido pela oportunidade de engajamento em comportamentos de ligação mútuos

com o bebê.

Para Klein (1986) a hora do nascimento, o afastamento da vida intra-uterina e a

necessidade do bebe adaptar-se as novas condições do período pós-natal geram no bebê uma

ansiedade persecutória, vivenciada pela angústia de separação do útero da mãe e um grande

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medo de morte e aniquilamento. O bebê passa a projetar todas as suas ansiedades e

frustrações no seio mau, que é ao mesmo tempo fonte de nutrição e prazer.

Na entrevista clínica, na maioria das vezes, fica evidenciado que a gestação não foi

planejada, mas sim desejada, ao ser questionado se a gestante estava utilizando algum método

anticonceptivo, ao responder que não, seguidamente a paciente se dá conta de que, sim, foi

planejada, de uma forma talvez, não consciente.

De acordo com autores como Winnicott (1983) e Maldonado (2002) mesmo no ventre

o bebê já é um ser humano distinto de qualquer outro e, no momento em que nasce já teve

uma grande soma de experiências, tanto agradáveis como desagradáveis. A mãe já conhece

algumas das características do seu bebê a partir dos movimentos que ela se habituou a esperar

dele no útero. A interpretação dos movimentos fetais pela gestante constitui mais uma etapa

da formação da relação materno-filial em que, na fantasia materna, o feto já começa a adquirir

características peculiares e a se comunicar com a mãe por meio da variedade dos seus

movimentos. As representações mentais e as fantasias que a gestante faz de si mesma como

mãe e de seu futuro bebê influenciam o estilo de vínculo que ela formará com o filho. Aqui,

pode-se pensar que a mãe com culpa de um dia ter rejeitado seu feto, possa ser influenciada

por esse sentimento negativo na hora de comunicar-se com seu filho e esse, um dia, sofrer as

possíveis conseqüências dessa relação sensível entre a rejeição, a culpa e a tentativa de

compensação disso tudo por parte da mãe. Neste momento o dar-se conta de que a gestação

talvez tenha sido sim planejada, torna o sentimento de culpa menos negativo.

Para Bee (1996), essas relações que se estabelecem levam tempo e ensaios, mas o

resultado é a calma e o prazer mútuo, pois quanto mais fácil e previsível se torna o processo,

maior satisfação os pais sentem e mais forte se torna o vínculo com o filho, proporcionando

assim um crescimento saudável.

Conclusão

Esse lugar consiste, portanto, essencialmente em um lugar de escuta, mas de uma

escuta diferenciada e privilegiada, na medida em que é a porta de entrada para um mundo de

significados e sentidos. Esse lugar é o do psicólogo no contexto hospitalar, esse lugar é o do

sujeito que ali está, para ser acolhido, para ser escutado, para ser muitas vezes apenas visto,

olhado.

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Segundo Botega & Smaia (2002) o tratamento psicológico de pacientes internados em

hospital geral pode acarretar importantes benefícios terapêuticos e vantagens, tais como uma

melhor adesão ao tratamento médico, recuperação mais rápida e, consequentemente, menor

tempo de permanência no hospital, menor utilização de serviços médicos e, por conseguinte,

redução de custos com assistência à saúde.

Por este motivo é crescente a valorização e o reconhecimento da necessidade de

atenção aos aspectos psicológicos envolvidos no contexto hospitalar. Nesse ambiente estão

relacionadas diversas situações de intensa mobilização psíquica com demanda de acolhimento

e continência, necessitando da intervenção do psicólogo.

Em cada setor onde a psicologia se faz presente podemos notar mudanças, mudança no

modo de tratamento da equipe com o paciente, na forma de olhar para o paciente, mudanças

em relação à forma como o paciente se relaciona com a equipe, percebemos que a família

sente-se mais acolhida, menos solitária neste processo. A pesquisa de satisfação do

atendimento aponta índices satisfatórios em relação ao atendimento do serviço de psicologia.

Nas rodas de conversa percebemos que os participantes sentem-se de fato acolhidos e mais a

vontade para questionar ou reivindicar o que discordam.

Quanto ao processo de Humanização implantado no referido hospital, Martins (2001)

refere que percebe a humanização em saúde, como um processo amplo, demorado e

complexo, devido às resistências, pois envolvem mudanças de comportamento onde padrões

já conhecidos são percebidos como mais seguros. Assim, cada profissional, equipe ou

organização passa por um processo singular de humanizar, pois se não for singular não será

humanização.

Percebemos no inicio desse trabalho resistências, até mesmo em relação à implantação

do serviço de psicologia, questionamentos como: para que tanto psicólogos? seguidamente

nos eram feitos. Com o passar do tempo, com a implantação do grupo de humanização, onde

os colaboradores puderam se capacitar, favorecendo o processo singular de humanização

percebemos mudança e maior aceitação.

O trabalho em equipe multiprofissional consiste uma modalidade de trabalho coletivo

que se configura na relação recíproca entre as múltiplas intervenções técnicas e a interação

dos agentes de diferentes áreas profissionais. Por meio da comunicação, ou seja, da mediação

simbólica da linguagem, da-se a articulação das ações multiprofissionais e a cooperação

(Peduzzi, 2001).

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Romano (1999) nos diz que o psicólogo também intermedia a relação equipe/paciente:

devendo ser o porta voz nas necessidades, desejos, e intervir de forma que os desencontros da

informação sejam minimizados. Na prática diária do serviço de psicologia discordamos da

autora, entendemos que não devemos ser o porta voz dos desejos do paciente e sim devemos

empoderá-lo a ser protagonista de sua história, onde seus desejos possam ser expressos por ele

mesmo. O que nos cabe é sugerir a equipe, em registro no prontuário, algumas atitudes em

relação à determinada situação.

Penso que em relação à atuação na maternidade, os caminhos trilhados têm

demonstrado resultados que vão ao encontro dos autores estudados. Bolwlby (2002) refere

que é essencial para a saúde mental e desenvolvimento da personalidade do bebê a vivencia

de uma relação calorosa, íntima e continua com a mãe. O bebê sofre privações quando a mãe

é incapaz de proporcionar-lhe as cuidados amorosos necessários, como acontece nas situações

em que a mãe sofre de depressão pós-parto, ou nos casos em que a gestação não foi desejada,

gestação precoce, ou até mesmo por identificação com uma história de vida dolorosa e

recheada de privações.

A interação da mãe-bebê, a importância do vínculo materno são imprescindíveis à

construção do psiquismo e da subjetividade do sujeito.

Como diz Winnicott (1988) o primeiro espelho da criatura humana é o rosto da mãe: a

sua expressão, o seu olhar, a sua voz. É como se o bebê pensasse: olho e sou visto, logo

existo. Se este rosto estiver passando tranqüilidade, alegria, bem-estar a sua existência mais

facilmente terá significado.

Borges (2009) nos faz refletir sobre sua colocação, “se alguma vez o paciente foi

amado e foi capaz de amar, foi capaz de criar e construir algo, mesmo que não lembre ou não

se considere apto a identificar esta sua capacidade, então cabe a nós auxilia-lo a se reconhecer

como um ser criativo e desejante.” Como dizia o psicanalista Jacques Lacan “O desejo é a

essência da realidade” e ainda como Sigmund Freud “O pensamento é o ensaio da ação”.

Sejamos nós enquanto profissionais da saúde mental, um facilitador para que o sujeito possa

buscar dentro de si o desejo de criar, e que esse desejo se transforme do pensamento à ação

para uma nova realidade.

Como sugestão para novos estudos, este trabalho é finalizado com o desejo de pensar

mais sobre o fazer do psicólogo na pediatria, na UTI, na emergência, enfim em cada setor.

Este estudo desperta a vontade de saber mais, de pensar mais sobre o Humano que para nós se

apresenta cada dia diferente e único.

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