currÍculos prescritos de matemÁtica … universidade anhanguera de sÃo paulo yara florÊncio...

112
1 UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983 - 2010 SÃO PAULO 2013

Upload: phungthien

Post on 29-Apr-2018

218 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

1

UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES

CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983 - 2010

SÃO PAULO 2013

Page 2: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

2

YARA FLORÊNCIO SALES MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983 - 2010

Dissertação apresentada à banca examinadora do Programa de Pós-graduação em Educação Matemática da Universidade Anhanguera de São Paulo como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação Matemática, sob a orientação da Profª. Drª. Aparecida Rodrigues Silva Duarte.

SÃO PAULO 2013

Page 3: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

3

Sales, Yara Florêncio Currículos prescritos de matemática para a educação de jovens e adultos: 1983 - 2010/ Yara Florêncio Sales. São Paulo: [s.n]. 2013. 112f. II.; 30 cm.

Dissertação de Mestrado para a obtenção do título de Mestre em Educação Matemática. Programa de Pós-graduação em Educação Matemática da Universidade Anhanguera de São Paulo. Orientador: Profª. Drª. Aparecida Rodrigues Silva Duarte.

1. Educação Matemática 2. Educação de Jovens e Adultos 3. Formação de Professores 4.

Centros Supletivos I. Título

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total

ou parcial desta tese por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

Page 4: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos Mestres que acompanharam esta minha jornada que agora chega ao fim. Aos meus filhos, para que sigam estes passos nos seus estudos e a todos meus amigos que me incentivaram a prosseguir.

Page 5: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

5

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me dado forças por ter vencido mais uma etapa de minha vida. A minha orientadora, Professora Aparecida Rodrigues Silva Duarte, pela paciência, pelas palavras de incentivo, pelo apoio, pelas sugestões e correções nos textos e pelo carinho em todos os momentos do curso. Aos professores doutores Lucia Maria Aversa Villela e Ruy Cesar Pietropaolo, por aceitarem fazer parte da banca examinadora, pela leitura, comentários e sugestões no exame de qualificação. Aos professores do programa de pós-graduação em Educação Matemática da Universidade Anhanguera de São Paulo - UNIAN, pelas valiosas contribuições no decorrer do curso. À Secretaria de Educação do Estado de São Paulo pela concessão da bolsa de estudos, sem a qual não seria possível fazer o curso. Aos meus companheiros do Mestrado, pelo carinho, amizade e troca de experiências. Aos funcionários da secretaria da Unian/SP, pela presteza em atender todas as minhas solicitações. Aos professores, coordenadores, direção e funcionários do Centro Supletivo da cidade de Registro/SP por ter incentivado, contribuído e colaborado com vários documentos para a escrita deste trabalho. À minha família, meus filhos pela paciência e incentivo durante o tempo dedicado a este trabalho.

Meus sinceros agradecimentos a todos.

Page 6: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

6

RESUMO

SALES, Yara Florêncio. Currículos prescritos de matemática para a educação de jovens e adultos: 1983 - 2010. 2013. 112f. Dissertação

(Mestrado em Educação Matemática). Programa de Pós-graduação em Educação Matemática da Universidade Anhanguera de São Paulo, São Paulo, 2013. O presente estudo, de cunho bibliográfico e qualitativo, tem como objetivo analisar os recentes currículos prescritos para a EJA, segmento Ensino Fundamental II, no período compreendido entre 1983 a 2010, verificando as permanências e as inovações ocorridas no ensino de matemática do estado de São Paulo, particularmente no que tange ao conteúdo algébrico. Para esta investigação, foram utilizadas o material de apoio para a EJA denominado “Unidades Escolares”, dos anos de 1983; o material de orientações para professores da EJA distribuído pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo em 2010 e o Caderno do Professor para o ensino de matemática, integrante da Proposta Curricular de 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental – Ciclo II do Estado de São Paulo, publicado em 2009. Fundamenta-se teoricamente nos princípios da Educação Matemática Escolar como processo de “enculturação” elaborados por Bishop (1997) e nas ideias de Dario Fiorentini (1995), que descreve algumas tendências pedagógicas passíveis de serem verificadas na educação matemática brasileira. Palavras-chave: Educação Matemática. Educação de Jovens e Adultos. Formação de professores. Enculturação. Tendências Pedagógicas.

Page 7: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

7

ABSTRACT

SALES, Yara Florêncio. Prescribed Mathematics Education Resumés for

Youngs and Adults - 1983 – 2010. 2013. 112f. Dissertação (Mestrado em

Educação Matemática). Programa de Pós-graduação em Educação

Matemática da Universidade Anhanguera de São Paulo, São Paulo, 2013.

The current study, of bibliographic and qualitative nature, aims to analyze the

recent settled resumés from EJA, Elementary II segment, from 1983 to 2010,

checking the permanence and innovation in Mathematics teaching in São Paulo

state, mainly the one that concerns the algebraic function. It has been used for

this research, an appropriate supporting material for EJA named “School Units”

from 1983. The guidelines material for the adults’ and youth’s education

teachers of EJA were provided by the São Paulo State Department of

Education in 2010 and the Mathematics Teacher’s Guide, part of the Curricular

Proposal from the 5th to the 8th grades in Elementary School – Level II from São

Paulo State, was published in 2009. The theory is based on the principlesof

Mathematics Education as a enculturation process which was prepared by

Bishop (1977) and also by Dario Fiorentini’s ideas (1995), which describes

some pedagogical trends that can be examined in Brazilian Mathematics

Education

Keywords: Mathematics Education. Adult and youth education.Teacher

training.Enculturation.Pedagogical Trends.

Page 8: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

8

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Ensino de adultos no Brasil Império(1822-1889)............................................. 18

Quadro 02 Ensino Fundamental ......................................................................................

36

Quadro 03 Ensino Médio...................................................................................................

36

Quadro 04 Porcentagem de concluintes 2008-2009.......................................................... 37

Quadro 05

Porcentagem de desistência 2008-2009.......................................................... 37

Page 9: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

9

LISTA DE FIGURAS

Imagem 01 Cidade de Registro/SP.........................................................................................

30

Imagem 02 Unidade Escolar 24 (frente) .................................................................................

53

Imagem 03 Unidade Escolar 24 (verso).................................................................................. .

54

Imagem 04 Exemplo de álgebra da Unidade 01 .....................................................................

58

Imagem 05 Exemplo de álgebra da Unidade 02......................................................................

59

Imagem 06 Exemplo de álgebra da Unidade 09......................................................................

60

Imagem 07 Exemplo de álgebra da Unidade 15 ....................................................................

62

Imagem 08 Apresentação de Produto Notáveis da Unidade 16............................................. .

63

Imagem 09 Exemplo simplificação de fração algébrica da Unidade 16 ...............................

64

Imagem 10 Exemplo de atividade de equação do primeiro grau da Unidade 17...................

65

Imagem 11 Exemplo de atividade de representação simbólica da Unidade 19.....................

66

Imagem 12 CPEJA...................................................................................................................

69

Imagem 13 Exemplo da atividade “Fórmulas na Geometria” do CP – 6.ª série....................

80

Imagem 14 Exemplo da atividade “Fórmulas na Geometria” do CP – 6.ª série......................

81

Imagem 15 Exemplo de atividade algébrica do Caderno do professor – 6.ª série..................

83

Imagem 16 Exemplo de atividade algébrica do Caderno do professor – 6.ª série.................. 84

Imagem 17 Exemplo de atividade algébrica do Caderno do professor - 7.ª série..................

86

Imagem 18 Exemplo de álgebra do Caderno do professor - 7.ª série.................................... 86

Imagem 19 Exemplo de atividade algébrica do Caderno do professor - 7.ª série.................. 87

Imagem 20 Exemplo de atividade algébrica do Caderno do professor – 7.ª série.................. 89

Imagem 21 Exemplo de atividade algébrica do Caderno do professor – 7.ª série.................. 90

Imagem 22 Exemplo de atividade algébrica do Caderno do professor – 7.ª série..................

92

Imagem 23

Exemplo de álgebra do Caderno do professor - 8.ª série.....................................

95

Page 10: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

10

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CA – Caderno do Aluno

CEAA – Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos

CEB – Câmara de Educação Básica

CEE – Conselho Estadual da Educação

CEEJA – Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos

CEES – Centro Estadual de Ensino Supletivo

CENP – Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas

CFE – Conselho Federal de Educação

CNE – Conselho Nacional de Educação

CNEA – Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo

CNER – Campanha Nacional de Educação Rural

CONFINTEA – Conferência Internacional de Educação de Adultos

CP – Caderno do Professor

CPCs – Centro Populares de Cultura

CPEJA – Caderno do Professor da Educação de Jovens e Adultos

DCN – Diretrizes Curriculares Nacionais

DCNs – Diretrizes Curriculares Nacionais

EJA – Educação de Jovens e Adultos

ENCCEJA – Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos

ENEM – Exame Nacional de Ensino Médio

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

KKKK – Kaigai Kogyo Kabukushi Kaisha

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MCP – Movimento de Cultura Popular

MEB – Movimento de Educação de Base

MEC – Ministério da Educação

MMM – Movimento da Matemática Moderna

MNCA – Programa da Mobilização Nacional contra o Analfabetismo

MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização

NRB – Normas Regimentais Básicas

ONGs – Organizações Não-Governamentais

PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais

PCOP – Professor Coordenador da Oficina Pedagógica

PE – Programa de Emergência

PNAC – Programa Nacional de Ação e Cidadânia

SEE – Secretaria de Estado da Educação

UE – Unidade Escolar

UNE – União Nacional dos Estudantes

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura

UNIAN – Universidade Anhanguera de São Paulo

Page 11: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

11

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO TRAJETÓRIA DA PESQUISA...............................................................................................

12

CAPÍTULO I TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL, EM GERAL, E NA REGIÃO DE REGISTRO/SP EM PARTICULAR

16

1.1 Considerações sobre a educação de jovens e adultos no Brasil.............................. 16

1.2 O Centro Supletivo de Registro.......................................................................... 28

CAPÍTULO II TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS E PRINCÍPIOS DA ENCULTURAÇÃO MATEMÁTICA: as contribuições de Fiorentini (1995) e Bishop (1997) .....................................................

40

2.1 Tendências pedagógicas no ensino da Matemática................................................. 40 2.1.1 A tendência formalista clássica..................................................................... 41 2.1.2 A tendência empírico-ativista........................................................................ 42 2.1.3 A tendência formalista moderna.................................................................... 43 2.1.4 A tendência tecnicista e suas variações....................................................... 44 2.1.5 A tendência construtivista............................................................................ 45 2.1.6 A tendência sócioetnocultural....................................................................... 46

2.2 A Matemática como um fenômeno cultural: cinco princípios.................................... 48

CAPÍTULO III OS MATERIAIS DE ENSINO PARA A EJA..........................................................................

52

3.1 As propostas de Matemática destinadas à EJA........................................................ 52

3.2 As Unidades Escolares de Matemática do Supletivo de primeiro grau, década de 1980........................................................................................................................................

53

3.3 Apresentação do caderno de Orientações para o professor da EJA...................... 68 3.3.1 EJA no Ensino Fundamental........................................................................... 74

3.3.2 EJA: Proposta pedagógica de reorganização................................................. 74

3.3.3 Critérios de organização das orientações para o professor de EJA............... 76

3.3.4 Critérios de seleção dos conteúdos e das atividades de Matemática............. 76

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................... 99

REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 103

ANEXOS................................................................................................................................. 107 Anexo 1. Conteúdos de Matemática das 24 Unidades Escolares (UE)................................. 107

Anexo 2. Conteúdos de Matemática do Caderno de Orientações para o Professor ............. 109

Page 12: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

12

INTRODUÇÃO

TRAJETÓRIA DA PESQUISA

Iniciei a função docente na rede pública estadual de São Paulo em 1989,

quando lecionei a disciplina Matemática, tanto para a segunda parte do

primeiro grau, quanto para o segundo grau, chamados hoje, respectivamente,

de Ensino Fundamental e Ensino Médio.

Em vinte e três anos de magistério, já trabalhei com alunos de Educação

Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos

(EJA) em escolas do ensino regular e Centro Supletivo da cidade de

Registro/SP. Adquiri experiência em escolas da zona rural e urbana e pude

lecionar em diversos períodos, dentre eles, tive a oportunidade de exercer a

função em um turno intermediário, das 11h15min às 15h15 min.

O trabalho no Centro Supletivo de Registro exigia a disponibilidade

integral no que tangia aos turnos, pois as turmas em geral eram dispostas

entre manhã, tarde e noite. Para atender toda a clientela, em sua maioria

formada por estudantes que trabalhavam, a escola ficava aberta durante todo o

dia.

As atividades que exerci como docente na Escola de Educação

Supletiva em Registro, cidade do Estado de São Paulo, despertaram meu

interesse para a realização de uma pesquisa sobre a Educação de Jovens e

Adultos (EJA).

Em 2010, ingressei como aluna especial no Mestrado em Educação

Matemática pela UNIBAN, uma vez que não podia arcar com as despesas de

um mestrado. Resolvi cursar disciplinas isoladas e aguardar a seleção para a

bolsa Stricto Sensu da Secretaria de Educação de São Paulo, processo que

começou somente em maio de 2011. Em setembro de 2011, depois de cumprir

com as condições específicas exigidas para o ingresso no Mestrado, fui

contemplada com a Bolsa pela Secretaria Estadual.

Page 13: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

13

Desde o início de meu percurso no Mestrado, pude conhecer e

experimentar a equidade nas salas de aula da Pós-graduação, aprendendo e

sendo incentivada a continuar, sem esmorecer, mesmo tendo a distância de

187 km da cidade onde resido até a capital paulista como um elemento

dificultador.

As sugestões do professor Ubiratan D’Ambrosio, proferidas em suas

aulas no Programa de Pós-graduação, fizeram com que suas aulas fossem

particularmente proveitosas e, de maneira descontraída, confirmou o que os

professores relatam ocorrer nas salas do Ensino Fundamental e Médio, qual

seja, um homérico receio quando o assunto é o aprendizado da disciplina

Matemática. Os alunos mostram-se repletos de lembranças e marcas de um

passado de retrocessos, dificuldades, frustrações, exclusões, injustiças, não só

com a Matemática, mas com todo o processo educacional e fatores sociais,

causadores de baixa autoestima, do fracasso e evasão escolar. Fonseca

(2002, p.32) confirma estas palavras dizendo:

Não é raro tomar-se o fracasso em Matemática como causa da evasão escolar. Por mais infeliz que tenha sido, porém, a experiência ou o desempenho do sujeito no aprendizado da Matemática, dificilmente essa acusação, na verdade, procede. Na realidade os que abandonam a escola o fazem por diversos fatores de ordem social, extrapolando as paredes da sala de aula e ultrapassam os muros da escola.

Ainda segundo Fonseca (2002) existem outros problemas que afastam

os alunos da escola e nós, professores, dentro da nossa área, tentamos

amenizar o problema observando que a Matemática está presente no dia a dia.

Por meio de exemplos, tentamos motivar os alunos, mostrando-lhes que têm

capacidade de aprender a aprender de forma significativa, prazerosa e

interessante.

As aulas do Mestrado em Educação Matemática me proporcionaram

adotar uma postura mais crítica e reflexiva em relação à minha docência,

enquanto atuante na área da EJA no Centro Supletivo de Registro/SP. O meu

desafio era o de motivar os alunos, incentivá-los e contribuir no seu

aprendizado, fazendo com que refletissem sobre o vasto conhecimento que

eles detinham sobre a Matemática, pois a usavam no seu cotidiano, quando

Page 14: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

14

pagavam a passagem de ônibus, ao caminhar até a escola alguns quilômetros,

nas compras no supermercado e outras situações nas quais a Matemática está

presente.

Desse desafio profissional nasceram minhas inquietações sobre o

ensino e aprendizagem da Álgebra para a modalidade EJA. Quais são as

permanências e transformações ocorridas nos currículos prescritos para a EJA

do segmento do Ensino Fundamental II de 1983 até 2010, no estado de São

Paulo? Mais especificamente, quais foram as orientações pedagógicas para o

ensino da Álgebra propostas para a EJA no estado de São Paulo, a partir de

1983?

Nesse sentido, essa investigação, de cunho bibliográfico e qualitativo,

tem como principal objetivo analisar os recentes currículos prescritos para a

EJA, segmento Ensino Fundamental II, no período compreendido entre 1983 a

2010, verificando as permanências e as inovações metodológicas propostas no

conteúdo algébrico, no estado de São Paulo.

A opção por analisar os conteúdos algébricos nos referidos currículos

prescritos para a EJA deveu-se pelo entendimento de que a Álgebra permite ao

aluno desenvolver e exercitar sua capacidade de abstração e generalização,

além de adquirir uma poderosa ferramenta para resolver problemas (PCN,

1998).

Estudos realizados por Kern e Gravina comprovam que

Os alunos não costumam questionar a necessidade de aprender a trabalhar com números negativos, unidades de medidas, números decimais, porcentagens ou proporções, por exemplo. Porém quando se inicia o estudo de conteúdos algébricos (equações, polinômios, produtos notáveis, fatoração), há um questionamento sobre a necessidade da formalização algébrica, sobre a utilidade do conteúdo trabalhado. A mudança de um trabalho voltado para a Matemática concreta, diretamente ligada a situações do dia a dia, para um trabalho voltado para aspectos mais abstratos, mais afastados do cotidiano, é um dos motivos para as dificuldades no ensino e na aprendizagem da Matemática. Em particular, o aprendizado da álgebra tem se constituído como um dos maiores desafios no ensino de Matemática do Ensino Fundamental (2012, p.54).

Além disso, Araújo (2007) constata que alunos para a EJA, em geral,

ignoram os conhecimentos escolares, especialmente os algébricos, quando

Page 15: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

15

são solicitados a resolver problemas. Esses alunos procuram resolvê-los

buscando formas próprias (a maioria das vezes por tentativa e erro) e alegam

que o modo como os professores ensinam é muito difícil e desnecessário para

a vida cotidiana.

Metodologicamente falando, este estudo realiza uma análise

comparativa entre duas propostas metodológicas publicadas pelo estado de

São Paulo, ambas destinadas à EJA, relativamente aos conteúdos algébricos.

O primeiro, denominado “Matemática: Supletivo de primeiro Grau”, subdividido

em 24 “Unidades de Matemática” (UE), sendo publicado a partir de 1983 e

passou a ser utilizado no Centro Supletivo de Registro em 1985, até o ano de

2009. O segundo diz respeito ao Caderno de Orientações para Professor,

específico para a EJA (CPEJA). Nesse sentido, a partir de 2010, o Centro

Supletivo de Registro/SP passou a utilizar, além das orientações para o

professor para a EJA, o “Caderno do Professor” (CP) e o Caderno do Aluno

(CA).

Considerando que a escola não é um lugar isolado, desarticulado da

sociedade, no primeiro capítulo procuro caracterizar o Centro de Educação

Supletiva de Registro, palco da minha trajetória profissional, em relação à

cidade que o abriga. Ainda nesse capítulo, apresento um panorama histórico

da Educação de Jovens e Adultos no Brasil.

No segundo capítulo discuto a fundamentação teórica adotada nesta

investigação, destacando os estudos realizados por Dario Fiorentini (1995) e

Allan J. Bishop (1997).

No terceiro capítulo analisamos as unidades de Matemática do supletivo

de primeiro grau, utilizadas no centro supletivo de Registro/SP a partir da

década de 1980 e o novo material de orientação para os professores na

educação de jovens e adultos no Estado de São Paulo (os materiais de ensino

para a EJA).

Finalizando, apresentamos nossas conclusões, procurando responder

às questões estabelecidas.

Page 16: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

16

CAPÍTULO I

TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL, EM GERAL, E NA REGIÃO DE REGISTRO/SP EM PARTICULAR

1.1 Considerações sobre a educação de jovens e adultos no Brasil

Percorrendo a história da Educação de Jovens e Adultos pode-se

perceber que, embora em um ritmo lento, teve alguns avanços desde o período

do Brasil colônia até os dias de hoje. Nesse sentido, este tópico realiza uma

concisa trajetória histórica dessa modalidade de ensino, em conformidade com

o parecer CNE/CEB 11:

O que se intenciona é oferecer alguns elementos históricos para relembrar alguns ordenamentos legais já extintos e possibilitar o apontamento de temas e problemas que sempre estiveram na base das práticas e projetos concernentes à EJA e de suas diferentes formulações no Brasil.(2000, p.13).

Paiva (1973) define a educação de jovens e adultos, anteriormente

conhecida como educação popular:

A educação de jovens e adultos é toda educação destinada àqueles que não tiveram oportunidades educacionais em idade própria ou que a tiveram de forma insuficiente, não conseguindo alfabetizar-se e obter os conhecimentos básicos necessários (PAIVA, 1973, p. 16).

Este estudo adota essa mesma definição, posto que a forma como foi

explicitada por Paiva (1973) se mostra conveniente para os interesses, ou seja,

entendemos que os alunos da EJA são aqueles que não tiveram oportunidade

de estudar no período regulamentar.

Alguns sinais da educação de jovens e adultos são percebidos na época

do Brasil Colônia, ou seja, a educação para a camada não infantil como era

referida na época essa camada da população, pois, segundo Cunha (1999), a

denominação “educação de jovens e adultos” é atual no país.

Na época do Brasil Colônia podemos ver que havia o interesse de

educar esta população, todavia esse interesse era maior quanto à parte

Page 17: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

17

religiosa, pois neste período havia um caráter mais religioso do que

educacional (CUNHA,1999).

Soares (2002), baseado no parecer CEB 11/2000, faz um sucinto

histórico sobre a educação de jovens e adultos. Começando com a

Constituição Imperial de 1824 até a LDB 9394/96. Inicia comentando sobre o

artigo 179, p.32, em que faz referência sobre a educação a esta população.

Reservava a todos os cidadãos a instrução primária gratuita. Contudo, a

titularidade da cidadania era restrita aos livres e aos libertos.

Nesse período não se pensava a educação como sendo prioridade,

principalmente quando se tratava de adultos. A educação escolar era só para a

elite, restando aos menos favorecidos (os excluídos) o trabalho pesado, e a

educação escolar era apenas doutrinária sem caráter educativo.

Num país pouco povoado, agrícola, esparso e escravocrata, a educação escolar não era prioridade política e nem objeto de uma expansão sistemática. [...] A educação escolar era apanágio de destinatários saídos das elites que poderiam ocupar funções na burocracia imperial ou no exercício de funções ligadas à política e ao trabalho intelectual. Para escravos, indígenas e caboclos – assim se pensava e se praticava – além do duro trabalho, bastaria a doutrina aprendida na oralidade e a obediência na violência física ou simbólica (SOARES, 2002, p.44).

Segundo Beisiegel (1974), na época do Império, ouvia-se falar da

educação realizada pelos jesuítas, quando iam catequizar os adolescentes e

adultos. Segue dizendo:

Atraindo os meninos índios às suas casas ou indo-lhes ao encontro nas aldeias; associando na mesma comunidade escolar, filhos de nativos e de reinóis – brancos, índios e mestiços – e procurando na educação dos filhos conquistar e reeducar os pais, os jesuítas não estavam servindo apenas à obra de catequese, mas lançavam as bases da educação popular... [grifo do autor] BEISIEGEL (1974, p.59).

Esse autor ainda relata a iniciativa adotada por parte de algumas

Províncias do Império em estender o ensino primário, pois, estavam

preocupados com a formação dos mestres e o número elevado da taxa de

analfabetos entre o ensino de adolescentes e adultos. O quadro abaixo mostra

as medidas tomadas por algumas Províncias, no período do Brasil Império

(1822-1889), para minimizar o analfabetismo entre adolescentes e adultos:

Page 18: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

18

Quadro 01. Ensino de adultos no Brasil Império (1822-1889)

Províncias Ano Ensino de jovens e adultos

Amazonas 1877 4 escolas noturnas, sendo 3 delas na capital com 129 alunos.

1878 3 escolas no Município da Capital, com 146 alunos.

Grão-Pará 1871 1 escola noturna – “em cada uma das cidades e duas na Capital...”, desde que pudessem reunir na Capital, pelo menos 20 alunos por escola, e nas outras cidades, pelo menos 10.

1873 Funcionavam ao todo 14 escolas noturnas.

1878 Existência de 7 escolas noturnas.

Mato Grosso s/d Referência de escolas primárias nas cadeias públicas.

Goiás s/d Iniciativa de fundação de uma escola para indígenas.

Maranhão 1871 57 alunos frequentavam às escolas noturnas.

1872 Registrava 10 aulas noturnas .

1884 Mencionava a existência de 6 escolas noturnas.

1887 5 escolas noturnas, com 60 alunos.

Piauhy 1883 1 escola noturna, com mais de 30 discípulos

Ceará 1879 3 cursos noturnos.

Rio Grande do Norte 1877 4 escolas noturnas.

Parahyba 1870 Designação de um professor de primeiras letras para lecionar das 6 às 10 horas da noite.

1876 Escolas noturnas onde os professores recebiam vencimentos dos cofres públicos, foram abolidas.

Pernambuco 1870 Instrução e aperfeiçoamento profissional de artífices, com 198 alunos nas escolas noturnas.

1886 135 alunos de escolas noturnas.

Alagoas 1873 171 alunos, em escolas com cadeiras noturnas. Sergipe 1874 Criação de curso noturno.

Bahia 1872 26 escolas,onde 11 são criadas pelo governo e 15 por espontaneidade dos professores públicos primários. Com frequência regular, termo médio, com 881 indivíduos, onde 547 nas oficiais e 312 nas particulares, criadas por professores e outras pessoas.

1876 7 escolas noturnas, mantidas pelos cofres públicos, com diminuição da frequência dos alunos

Rio de Janeiro 1872 150 adultos nas classes primárias noturnas.

1874 233 adultos matriculados.

Espírito Santo 1871 1 aula noturna elementar par adultos.

1874 2 aulas noturnas, uma na Capital, com 26 artesãos, e outra na cidade de São Mateus.

Minas Gerais 1873 1 aula noturna.

São Paulo s/d Não há informações sobre a existência de cursos noturnos para adultos. São criadas associações destinadas à disseminação do ensino de adultos, como a “Sociedade Propagadora da Instrução Popular” e a “Associação Operária Propagadora da Instrução”.

Espírito Santo 1871 Criação de uma aula noturna elementar para adultos.

1874 Havia duas aulas noturnas com frequência de 26 na Capital. Na cidade de São Mateus ocorria a outra aula, sendo que não há registro do número de alunos.

Paraná 1882 42 operários e uma aula mantida por alguns escravos.

1886 230 frequências em 5 escolas noturnas.

Rio Grande do Sul 1857 Primeiras iniciativas para educação de adultos.

Fonte: Acervo pessoal, baseado em Beisiegel (1974)

Page 19: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

19

O Quadro 01 foi elaborado a partir da obra de Beisiegel (1974), sendo

que as fontes utilizadas pelo autor foram: “A instrução e as províncias” de

autoria de Primitivo Moacyr e a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos,

volume XIII nº 37. Pode-se observar que havia, por parte do Império, uma

preocupação com o analfabetismo brasileiro, em especial a dos adolescentes e

adultos, com maior incremento nas últimas décadas do Império.

Segundo Cunha (1999), uma das recomendações da época do Brasil

Império, nas diversas reformas educacionais era a necessidade de ter classes

noturnas de ensino elementar para adultos analfabetos. Vê-se diretamente esta

necessidade do ensino noturno para adulto no relatório apresentado pelo

ministro José Bento da Cunha Figueiredo, informando a quantidade de alunos

adultos frequentes nas escolas noturnas no ano de 1876, num total de 200 mil

alunos. Fica evidente, naquela época, a divulgação do ensino noturno para

adultos, como também mostra o Quadro 01.

A primeira Constituição Republicana foi proclamada no ano de 1891. O

texto estabelecia a gratuidade da instrução e, concomitantemente, o

condicionamento do voto à alfabetização, sendo isso anteriormente

recomendado na Lei 3.029/1881 do Conselheiro Saraiva (SOARES, 2002).

Durante a década de 1940 a educação de adultos evoluiu no país,

sendo tarefa do Estado a educação dessa população analfabeta. Houve vários

marcos significativos neste período. Segue relação da criação de alguns

órgãos citados por Beisiegel (1974, p.68):

A criação do Ministério da Educação e Saúde Pública, em 1930; a fixação da ideia de um plano nacional de educação, na Constituição de 1934; a criação do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, no Ministério da Educação e Saúde, em 1938; os resultados do Recenseamento Geral do Brasil, de 1940; a instituição do Fundo Nacional de Ensino Primário, em 1942, e sua regulamentação, em 1945; e, acima de tudo, a criação de um Serviço de Educação de Adultos, no Ministério da Educação e Saúde, em 1947, e a aprovação, nesse mesmo ano, de um plano nacional de educação

supletiva para adolescentes e adultos analfabetos.

A “Revolução de Trinta” contribuiu para estimular o crescimento da

educação escolar. Nesse sentido, várias reformas foram elaboradas tendo o

Estado como órgão centralizador, sendo que uma das reformas mais

Page 20: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

20

importantes para a educação secundária e superior foi efetuada pelo Ministro

da Educação e Saúde Francisco Campos (SOARES, 2002).

Na Constituição de 1934, houve, pela primeira vez em nível nacional, o

reconhecimento de que a educação era um direito de todos e (que ela) deve

ser ministrada pela família e pelos poderes públicos (art. 149) e no seu artigo

150 quando se refere ao Plano Nacional de Educação, dizendo que ele deve

obedecer, entre outros, ao princípio do ensino primário integral, gratuito e de

frequência obrigatória, extensivo aos adultos (parágrafo único, “a”). Neste

mesma Constituição é estendido aos adultos o ensino primário, como sendo

parte da educação e como dever do Estado e direito do cidadão (SOARES,

2002, p.51).

Destaque-se ainda o “Manifesto dos pioneiros da Educação Nova”, no

ano de 1932, com a pretensão de defender “o direito a educação integral para

cada indivíduo”, e também a obrigatoriedade do ensino primário, estendendo

progressivamente até os 18 anos, a qual ficou só no papel (SOARES, 2002).

Nos anos de 1936/1937, na proposta do Plano Nacional de Educação

havia uma parte voltada para o ensino supletivo, onde seu destino era para

adolescentes e adultos analfabetos, extensivo também aqueles que não tinham

pretensão de instrução profissional e os silvícolas. Mas devido ao golpe que

estabeleceu o Estado Novo, não chegou a ser votado (SOARES, 2002).

Em 1940 cria-se um fundo destinado à alfabetização e à educação da

população adulta analfabeta, devido ao elevado índice de analfabetismo no

país (CUNHA, 1999).

Em 1945, no final da ditadura da Era Vargas, nacionalmente aparece

um movimento dos princípios democráticos, e neste mesmo ano, à nível

internacional, temos a criação da Organização das Nações Unidas para a

Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), onde foi solicitado aos países

integrantes empenho no sentido de educar a população adulta analfabeta.

Conforme explicita Beisiegel (1974), os trabalhos desenvolvidos pelo

Ministério da Educação e Saúde para o ensino de adultos após a Segunda

Page 21: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

21

Guerra Mundial, mostram uma grande influência internacional vinculada com a

UNESCO que, desde sua criação em 1945, vem incentivando a realização de

programas nacionais de educação de adultos analfabetos.

No Brasil, somente em 1947 essa camada populacional teve sua

identidade reconhecida através da Campanha de Educação de Adultos, aonde

em três meses poderia ser alfabetizado. Em seguida, após essa alfabetização,

implantaria o curso primário em duas etapas de sete meses cada uma e, por

último, a ação em profundidade que era a capacitação profissional e

desenvolvimento comunitário (CUNHA, 1999)

Juntamente com esta Campanha de Educação de Adultos foi aberta

uma discussão em torno do tema analfabetismo e a educação de adultos no

Brasil. Sendo o analfabetismo a razão do pouco desenvolvimento brasileiro, fez

com que o país não participasse do conjunto das “nações de cultura” (CUNHA,

1999, p. 11).

Cunha (1999) comenta sobre a discriminação em cima do adulto

analfabeto, sendo reconhecido como elemento incapaz e marginal social e

psicologicamente. Graças à campanha citada, que teve bons êxitos, esta visão

preconceituosa foi vencida, onde houve o reconhecimento do analfabeto como

pessoa produtiva, capaz de pensar e solucionar problemas.

Outras campanhas foram citadas por Casério (2003, p.43-44), com o

objetivo de erradicar o analfabetismo Brasil no período de 1947 a 1963:

1947- Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), que foi justificada em dois níveis: político, pela necessidade de promover a integração das camadas populares analfabetas; e econômico, pela premência de se “incrementar” a produção, visto que o analfabetismo era considerado um sério entrave para o crescimento econômico do país; 1952- Campanha Nacional de Educação Rural (CNER), cujo objetivo era despertar o “espírito comunitário”, para que se pudessem resolver os problemas coletivos do homem do campo; 1958- Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo (CNEA), que foi resultado de um processo de busca de soluções alternativas. Ao rejeitar o princípio de que a educação seria capaz de provocar o desenvolvimento econômico (ideia contida nas experiências anteriores) partiu do pressuposto de que o “desenvolvimento econômico e a mudança da sociedade brasileira dependiam, principalmente da formação do homem”; (PAIVA, apud CASÉRIO, 2003, p.44).

Page 22: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

22

1962- Programa da Mobilização Nacional contra o Analfabetismo (MNCA), criado com o objetivo de incorporar todos os serviços das campanhas federais já existentes que, e essa altura, já estavam em pleno processo de estagnação; 1963- Programa de Emergência (PE), que tinha por objetivo a ampliação e melhoria tanto do ensino primário, quanto da educação popular adulta.

Por não conseguir atingir as finalidades propostas, todas as campanhas

acima citadas foram extintas no mês de março de 1963 (CASÉRIO, 2003).

Cunha (1999) cita que a nova pedagogia de alfabetização de adultos

teve como principal referência o educador Paulo Freire, que relacionava um

novo entendimento da relação entre o problema educacional e o problema

social. Na percepção de Paulo Freire, os conceitos de alfabetização e

educação se aproximam.

Ainda, Paulo Freire fala do momento de mudanças em que a educação

estava passando, onde o povo estava participando mais ativamente para

mudar a sua história de um passado sem experiências onde não acontecia o

diálogo e nem participação nas decisões. Seguia dizendo:

Cada vez mais sentíamos, de um lado, a necessidade de uma educação que não descuidasse da vocação ontológica do homem, a de ser sujeito, e, por outro, de não descuidar das condições peculiares de nossa sociedade em transição intensamente mutável e contraditória. Educação que tratasse de ajudar o homem brasileiro em sua emersão e o inserisse criticamente no seu processo histórico. Educação que por isso mesmo libertasse pela conscientização. Não aquela educação que domestica e acomoda. Educação, afinal, que promovesse a “ingenuidade”, característica da emersão, em criticidade, com a qual o homem opta e decide (FREIRE,1979, p.66) [grifo do autor].

O golpe militar de 1964 causou uma interrupção nesse trabalho de

alfabetização que estava sendo feito pela sua ação conscientizadora (CUNHA,

1999).

Segundo Soares (2002), a educação de adultos teve diversas

experiências anteriores ao golpe de 1964, as quais são ignoradas como se

nunca tivessem existido. São elas: Os Centros Populares de Cultura (CPCs) da

União Nacional dos Estudantes (UNE), o Movimento de Cultura Popular (MCP)

da Prefeitura de Recife, a Campanha de Pé no Chão também se aprende a ler,

Page 23: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

23

da Prefeitura de Natal, o Movimento de Educação de Base (MEB), nas regiões

Norte e Nordeste e a Alfabetização de Adultos, de Paulo Freire.

A Lei 5.379/67 criou o Movimento Brasileiro de Alfabetização, conhecido

como Mobral, que tinha como objetivo erradicar o analfabetismo e promover a

educação continuada para os adolescentes e adultos (SOARES, 2002).

Segundo Cunha (1999), inicialmente o Mobral era voltado para a

população analfabeta entre 15 e 30 anos. Durante a década de 1970, houve o

aumento do Mobral, tanto em extensão territorial, quanto em termos de

continuar os estudos através da “educação integrada”, que na época

significava a conclusão do curso primário, tanto para os recém-alfabetizados,

quanto para os alfabetizados funcionais no pouco uso da leitura e da escrita.

Em 1985, o Mobral foi extinto e surgiu a Fundação Educar, que apoiava

financeira e tecnicamente as iniciativas governamentais, entidades civis e

empresas conveniadas a ela.

Para Ribeiro (2001), a Fundação Educar (1985), que buscava ampliar o

espaço deixado pelo Mobral, com criação no ano de 1967, foi um dos

programas que, no período do governo militar, mais contribuiu para o

desenvolvimento da EJA no Brasil, pois a concepção que tinha sobre a

educação de adultos estava de acordo com o posterior conceito de educação

funcional que a Unesco pronunciou em Teerã, durante o Congresso Mundial de

Ministros da Educação, no ano de 1995:

A educação é vista como formadora de mão de obra para atender às necessidades do desenvolvimento econômico (Castro, no prelo). O educando inserido nesta perspectiva não pôde assumir o papel de sujeito do conhecimento em construção, pois o modelo do Mobral “... mantém a nossa tradição: educador de um lado, o que tudo sabe, e educando de outro, o que tudo ignora; educador que conduz o educando que é conduzido; elite que decide, povo que deve ser conduzido”. É a continuação de nossa tradição antidialógica (JANUZZI apud RIBEIRO, 2001 p. 155).

No início da década de 1990, com a extinção da Fundação Educar,

surgem outros programas e projetos nacionais sem vínculo federal, que

propiciaram uma ação em conjunto, evitando assim a duplicidade de papéis.

Surge em lugar da Fundação Educar, o Programa Nacional de Ação e

Cidadania (Pnac), que nem chegou a ser confirmado (RIBEIRO, 2001).

Page 24: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

24

Ainda, Ribeiro (2001), comenta que um dos problemas que acontece

nos países de terceiro mundo é a desigualdade na distribuição de

oportunidades educacionais. Desigualdade esta que já vinha acontecendo

desde as primeiras séries do ensino básico, tornando-se um problema grave

para a educação continuada. Ainda segundo Ribeiro (2001), devido a esse

problema, em 1996, em questão à defasagem escolar, tínhamos um percentual

de 89% de homens com 19 anos, e o percentual das mulheres um pouco

menor, 86%. Nesse mesmo ano, no Nordeste, por exemplo, o índice de

analfabetismo entre brasileiros com mais de 15 anos chegava a 23% e na

região Sul de 7,7%. Para resolver este problema, segundo Ribeiro (2001),

precisamos de políticas corretivas, que percebam onde a defasagem é mais

grave, atendendo assim estes grupos necessitados.

Ribeiro (2001) infere que a avaliação que o governo faz da educação

durante a década de 1990, como sendo positiva, devido ao aumento do

número de crianças na escola, sendo isso um dado quantitativo e não

qualitativo da educação.

As reformas educativas, na verdade, vêm dando ênfase aos aspectos econômicos e de controle administrativo. Importa mais a formação da mão de obra para o capital do que a formação do cidadão para a sociedade. Importa mais o ajuste econômico dos sistemas escolares públicos à lógica neoliberal da reforma do estado do que o investimento social que a educação continuada proporciona para a sociedade em geral. As instâncias centrais estabelecem os currículos e critérios mínimos de assimilação de conteúdos, assim como o sistema de avaliação também centralizado, e deixa muitas vezes para o jogo do mercado a melhoria da qualidade do ensino. (RIBEIRO, 2001, p.198).

Com a Lei 5.692/71 criou-se o supletivo entendendo-o como um ensino

destinado a “suprir a escolarização regular para adolescentes e adultos, que

não a tinham seguido ou concluído na idade própria” (SOARES, 2002, p.57).

Em relação à sua abrangência e organização,

... este ensino podia, então, abranger o processo de alfabetização, a aprendizagem, a qualificação, algumas disciplinas e também a atualização. Os cursos poderiam acontecer via ensino a distância, por correspondência ou por outros meios considerados adequados. Os cursos e os exames seriam organizados dentro dos sistemas estaduais de acordo com seus respectivos Conselhos de Educação (SOARES, 2002, p.57).

Page 25: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

25

Ainda, o número de horas seria ajustado de acordo com o alunado que

frequentaria essa instituição. Sendo assim, haveria a flexibilidade nos

currículos.

A Constituição de 1988 mostrou-se preocupada com a população que

por vários motivos não tiveram acesso a educação no passado e garante a

escolaridade a eles.

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria (BRASIL, 1988). Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzam à: I - erradicação do analfabetismo; II - universalização do atendimento escolar... (BRASIL, 1988, p. 35).

E a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996, fala sobre o

acesso à educação, que outrora foi negado, e a sua permanência, sempre de

acordo com sua disponibilidade e necessidade.

Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996, s/p.).

E ainda:

Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII - oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola (BRASIL, 1996, s/p). .

Nos anos 90 houve um estabelecimento de uma política e de

metodologias criativas com a finalidade de garantir aos adultos analfabetos e

aos jovens que tiveram passagens fracassadas pelas escolas o acesso à

Page 26: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

26

cultura letrada, possibilitando uma participação mais ativa no universo

profissional, político e cultural.

A Lei de Diretrizes de Bases (9.394/96) em seu artigo 3º reza que

devem servir de base ao ensino:

O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII - valorização do profissional da educação escolar; VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX - garantia de padrão de qualidade; X - valorização da experiência extraescolar; XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. XII - consideração com a diversidade étnico-racial. (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) (BRASIL, 1996, s/p )

Destaque-se ainda que a primeira Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, Lei 4.024/61, já reconhecia a educação como direito de

todos e, no artigo 27, seguia dizendo:

O ensino primário é obrigatório a partir dos 7 anos e só será ministrado na língua Nacional. Para os que o iniciarem depois dessa idade poderão ser formadas classes especiais ou cursos supletivos correspondentes ao seu nível de desenvolvimento. (apud SOARES, 2002, p.55)

A dificuldade de efetivação da educação de jovens e adultos dentro de

um padrão de qualidade está mais na questão metodológica, aí se incluindo o

problema de formação inicial e continuada dos profissionais e a falta de

material didático pedagógico adequado.

Soares (2002) relaciona vários documentos importantes sobre a

Educação de Jovens e Adultos no Brasil, documentos esses que

regulamentam e normatizam a EJA. Essa mobilização para que estes

documentos acontecessem e fossem implantados surgiu de vários segmentos

educacionais, tais como: estudantes de graduação, coordenadores de

programas, pesquisadores, enfim, educadores de um modo geral.

Page 27: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

27

A LDB 5.692/71 criou um padrão de como deveria ser essa educação de

adultos. Devido aos momentos de mudanças que estamos passando, esses

padrões estão sendo modificados com projetos, propostas e programas. O

ensino supletivo era um dos padrões que está sendo mudado. Ele era

conhecido como um projeto para acelerar o ensino. O que se busca hoje para

essas pessoas é uma educação de qualidade por ser um direito deles

(SOARES, 2002).

Soares (2002), também apresenta dois momentos pelos quais o ensino

de jovens adultos passou. Nas décadas de 60 e 70, houve censura,

perseguição e repressão, mas em meados de 80 e mais precisamente na

década de 90 houve a explosão dessa educação em todo o País.

A atual legislação, por outro lado, incorpora diversas discussões que caracterizam o debate sobre a educação de adultos no Brasil na atualidade, na medida em que é exatamente nesse contexto de efervescência e explosão da área EJA no Brasil, observado sobretudo na década de 1990, que se deu a elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e

Adultos. (SOARES, 2002, p.10).

Foram diversos segmentos que contribuíram para essa propagação

sendo que houve iniciativas municipais, grupos populares, organizações não

governamentais, como o Movimento de Educação de Base (MEB), que foi um

referencial, pois fez com que as instituições estivessem representando o

segmento das ONGs do Brasil na V Conferência Internacional de Educação de

Adultos (V CONFINTEA), realizado em Hamburgo, Alemanha, no ano de 1997.

Nesta conferência houve a preocupação da articulação das diversas iniciativas

ligadas à educação de adultos em diversos estados, os quais promoviam

encontros anuais e fóruns estaduais para discussão sobre essa educação.

Anterior a este ano houve outros encontros no âmbito estadual, com o objetivo

de mapear as ações envolvidas com a EJA.

Segue abaixo alguns indicadores sobre a situação do EJA no Brasil

relativos às matrículas e estabelecimentos, de acordo com dados fornecidos

pelo MEC/Inep/SEEC.

Em 1999, o número de alunos matriculados em cursos presenciais da EJA em salas de alfabetização era de 161.791; em ensino fundamental, 2.109.992; em ensino médio, 656.572; e em cursos

Page 28: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

28

profissionalizantes, 141.329. O número de estabelecimentos que oferecem a EJA, de acordo com os dados de 1999, no Brasil, é de 17.234. Deste total, os Estados oferecem a EJA em 6.973 estabelecimentos, os Municípios em 8.171, a União em 15 e a rede privada em 2.075 estabelecimentos. O número de matrículas vem crescendo no âmbito municipal. Se em 1997 era de 683.078 matrículas, em 1999 era de 821.321. Já para os mesmos anos, o número de matrículas nos entes federativos passou de 1.808.161 para 1.871.620 (SOARES, 2002, p. 112).

A educação de jovens e adultos tem avançado na sua trajetória escolar,

mas ainda falta muito para alcançar as metas estipuladas na Lei de Diretrizes e

Bases, como uma educação permanente a serviço do pleno desenvolvimento

do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação

para o trabalho.

Bobbio (apud SOARES, 2002) confirma estas palavras:

A possibilidade de escolha aumenta na medida em que o sujeito da opção se torna mais livre. Mas esta liberdade só se efetua quando se elimina uma discriminação que impede a igualdade dos indivíduos, entre si. Assim, tal eliminação não só libera, mas também torna a liberdade compatível com a igualdade fazendo-as reciprocamente condicionadas. A superação da discriminação de idade diante dos itinerários escolares é uma possibilidade para que a EJA mostre plenamente seu potencial de educação permanente relativa ao desenvolvimento da pessoa humana face à ética, à estética, à constituição de identidade, de si e do outro e ao direito ao saber. Quando o Brasil oferecer a esta população reais condições de inclusão na escolaridade e na cidadania, os “dois brasis”, ao invés de mostrarem apenas a face perversa e dualista de um passado ainda em curso, poderão efetivar o principio de igualdade de oportunidades de modo a revelar méritos pessoais e riquezas insuspeitadas de um povo e de um Brasil uno em sua multiplicidade, moderno e democrático (p. 131-132).

Avançando no sentido apontado por Bobbio (apud Soares, 2002), o

Parecer CNE/CEB nº 11/2000 entende que a nova formulação legal da EJA é

uma “conquista e um avanço cuja efetivação representa um caminho no âmbito

da colaboração recíproca e na necessidade de políticas integradas” (BRASIL,

2000, p. 53).

1.2 O Centro Supletivo de Registro

De acordo com o plano de gestão (2007/2010) do Centro Supletivo de

Registro/SP, a região do Vale do Ribeira é composta de quatorze municípios:

Barra do Turvo; Cajati; Cananéia; Eldorado; Iguape; Ilha Comprida; Itariri;

Page 29: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

29

Jacupiranga; Juquiá; Miracatu; Pariquera-Açu; Pedro de Toledo; Registro e

Sete Barras. A região, em termos de território, ocupa uma área pequena sendo

inferior a 5% da área do Estado de São Paulo. A população desta região, em

2008, era de 282.680 pessoas, o que equivale a 0,7% da população do Estado

e uma densidade demográfica abaixo de 23,3 habitantes por km² (SÃO

PAULO, 2010a).

Sua economia é pautada na agricultura, pecuária, indústria de

beneficiamento e comércio. No setor agrícola, a banana é o grande destaque,

monocultura que coloca a região como a maior produtora no estado, seguida

pelo cultivo do chá, tangerina e maracujá. A pecuária e a pesca também são

relevantes. No setor industrial, trabalha-se com o processamento de banana e

chá.

Com o extrativismo mineral, a região é destaque porque possui o maior

parque industrial do Vale do Ribeira, na cidade de Cajati/SP. Essa cidade é

responsável pela produção de cimento, argamassa, ácido sulfúrico e fosfórico,

fertilizante e ração animal. Na região do Vale do Ribeira o único Centro de

Suplência está localizado na cidade de Registro, a qual apresenta maior

desenvolvimento em relação às outras cidades do Vale do Ribeira. A maior

parte dos alunos que frequentam o Centro Supletivo pertence ao Município de

Cajati/SP.

Ainda de acordo com o plano de gestão (2007-2010) do Centro

Supletivo, no município de Registro a agricultura da banana esteve em crise

neste período, o que ocasionou a migração das pessoas que moravam na zona

rural para a zona urbana, buscando melhores condições de vida e de emprego.

Ainda, o município de Registro é detentor dos piores indicadores paulistas, que

apesar dos esforços para o seu desenvolvimento social e econômico, ainda

permanece insuficiente para elevar significativamente os padrões de vida local.

O município de Registro se localiza no Sul do Estado de São Paulo, 15

metros acima do nível do mar, sendo cortada pela Rodovia Régis Bittencourt

(BR-116).

Page 30: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

30

Imagem 01. Cidade de Registro/SP Fonte: HTTPS://www.maps.google.com

As cidades vizinhas de Registro/SP são: Juquiá, Jacupiranga, Pariquera,

Iguape e Sete Barras. Com uma população de mais de 54 mil habitantes é o

polo regional do Vale do Ribeira. A cidade inicialmente era conhecida como

Porto de Registro, ou seja, um bairro que intermediava as embarcações para

Iguape. Posteriormente, mediante as atividades desenvolvidas no século XVIII,

surgiu a origem do nome de Registro, em decorrência às embarcações

carregadas de ouro que navegavam pelas águas do Rio Ribeira de Iguape

rumo à cidade de Iguape, cidade que detinha um agente da metrópole que

“registrava” as cargas advindas de outros lugares e cobrava impostos que

deveriam ser recolhidos para Portugal (REGISTRO/SP, 2012a; 2012b; 2012c).

Entretanto, o desenvolvimento da cidade de Registro e região, só

começou a se intensificar em 1920, com a vinda dos imigrantes japoneses

recém-chegados para trabalhar na filial brasileira da Companhia Ultramarina de

Empreendimentos Kaigai Kogyo Kabukushi Kaisha, conhecida com K.K.K.K.

Esta companhia desempenhou, durante muito tempo, o beneficiamento de

arroz, empregando e apoiando os imigrantes japoneses. A empresa foi

responsável pelo cultivo do chá preto e pelo estabelecimento da grande

maioria dos imigrantes na região, de tal forma que a cidade foi reconhecida

Page 31: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

31

como município acolhedor dos imigrantes japoneses (REGISTRO/SP, 2012a;

2012b; 2012c).

Atualmente, a cidade é atendida por mais 68 instituições de ensino,

desde a pré-escola, nível fundamental, médio, supletivo e superior. A taxa de

analfabetismo do município de Registro/SP apresenta a média de 8,60%,

dados acima da estadual, representada por quase menos dois pontos

percentuais: 6,64%. Portanto, a taxa de alfabetização é de 92,3%,

aproximadamente. Além desta taxa, ainda denotamos outra muito importante

para o nosso estudo: a média de pessoas com menos de oito anos de estudo e

maiores de 25 anos. Este índice já se mostrava preocupante em 2000 por ser

um percentual maior que o do Estado de SP. Em Registro, o índice era de

65,11%, em contraposição à média estadual, de 55,55% (SÃO PAULO,

2010a).

O estado de São Paulo conta com um total de dezenove Centros

Estaduais de Educação Supletiva, sendo que o primeiro a ser criado foi o

Centro Estadual de Estudos Supletivos “Dona Clara Mantelli”, na cidade de

São Paulo, no ano de 1977, sob o Decreto 9.855, de 2 de junho de 19771. O

Supletivo “Ricardo José Poci Mendes” foi o 4º Centro criado nas delimitações

estaduais, uma iniciativa precursora para a região do Vale do Ribeira (SÃO

PAULO, 2012).

1 Aos poucos foram criados outros centros supletivos: em 1984, o Centro Estadual de

Educação Supletiva de Ribeirão Preto e o Centro Estadual de Educação Supletiva de Bauru; em 1985, o Centro Estadual de Educação Supletiva de Registro, o Centro Estadual de Educação Supletiva de Marília, o Centro Estadual de Educação Supletiva de Americana e o Centro Estadual de Educação Supletiva "Maria Aparecida Pasqualeto Figueiredo", em Santos; em 1986, o Centro Estadual de Educação Supletiva "Prof. Dr. Archimedes José Bava", no Conjunto Habitacional "Dale Coutinho" em Santos e em Sorocaba, surge o Centro Estadual de Educação Supletiva "Leonor Pinto Thomaz"; em 1988, o Centro Estadual de Educação Supletiva no Conjunto Habitacional da Vila Costa e Silva, COHAB – Campinas; em 1989, o Centro Estadual de Educação Supletiva de Ribeirão Pires, o Centro Estadual de Educação Supletiva de Taubaté e o Centro Estadual de Educação Supletiva de Campinas; em de 1990, o Centro Estadual de Educação Supletiva de Bebedouro, o Centro Estadual de Educação Supletiva de Piracicaba e o Centro Estadual de Educação Supletiva “Max Dada Gallizzi”, em Praia Grande; em 1996, foram criados dois Centros Estaduais de Educação Supletiva: o de São José de Campos e o de Presidente Prudente. Finalizando, em 1997, criou-se o Centro Estadual de Educação Supletiva de Votorantin, totalizando 19 Centros Supletivos ao final da década de 1990 no estado de São Paulo (SÂO PAULO, 2012).

Page 32: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

32

De acordo com o plano de gestão (2007-2010) do Centro Supletivo de

Registro/SP, ano base 2010, temos:

Em primeiro de fevereiro de 1985 foi criado o Centro Estadual de Educação Supletiva de Registro, denominado “Ricardo José Poci Mendes”, sito a Rua Eric Verhuslt, nº 30, Vila Cabral, na cidade de Registro, sendo a capital São Paulo. Esta escola pertence a Diretoria de Registro. Sob o decreto nº 23.252/85, obteve a aprovação e o Parecer dado pelos Proc. C.E.E. 1.695/87 (Ensino Médio) e Parecer C.E.E. 1.820/87, e a instalação do Ensino Fundamental na resolução S.E. nº 239/86 com o oferecimento das modalidades no Ensino Fundamental, Médio e Suplência nos períodos Diurno e Noturno (SÃO PAULO, 2010a, p.1).

O C.E.E.J.A “Ricardo José Poci Mendes” tem uma clientela formada por

alunos de todo o Vale do Ribeira, exigindo-se dos alunos a idade mínima de 16

anos completos para cursarem o ciclo II do Ensino Fundamental e 18 anos

completos para o curso do Ensino Médio. A partir de tais idades não há limite

etário para o atendimento de alunos que desejem reiniciar seus estudos. Além

da exigência da idade mínima, é necessário também um período,

respectivamente, de 24 e 18 meses de integralização.

Os alunos são oriundos de todas as cidades que compõem o Vale do

Ribeira. Moradores da zona urbana ou rural, em sua grande maioria

apresentam baixo poder aquisitivo e muitos são migrantes, fato que caracteriza

a não efetuação dos estudos na idade regular pelos mais variados motivos.

Atende também, porém em menor número, a alunos encaminhados por

diversos órgãos públicos correcionais ou assistenciais tais como a Fundação

Casa, e entre outros, também alunos com necessidades especiais, mas já

alfabetizados.

Mesmo tendo tal perfil a clientela escolar não conta com serviços gratuitos para transporte e merenda escolar. A falta de perspectiva de inclusão, no mercado de trabalho faz com que muitos não priorizem os estudos, abandonando-os quando encontram trabalhos temporários, mesmo que atuando de forma irregular e desprotegidos por lei. Em ambos os sexos, o número de desempregados por desalento é grande (SÃO PAULO, 2010a, p.5).

Os objetivos que o Centro Estadual de Educação Supletiva de Registro

(CEEJA) têm junto aos alunos são o reconhecimento do direito de estudar e

dar continuidade aos estudos, desenvolvendo assim suas capacidades seja ela

cognitiva, ética, afetiva, estética e a relação interpessoal, e despertar o lado da

Page 33: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

33

curiosidade intelectual fazendo que o senso crítico seja sempre estimulado, e a

autonomia para a convivência solidária e responsável plano de gestão do

Centro Supletivo de Registro/SP. A preocupação com relação à qualidade de

ensino, sua elevação, os conteúdos como meio para aquisição de saberes, e

também como objetivo, fundamenta-se nos quatro pilares da Educação

expresso no Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre

Educação para o Século XXI, coordenada por Jacques Delors, quais sejam,

aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros,

aprender a ser. Também se baseia nas três funções básicas para o ensino

supletivo segundo o Parecer CNE/CEB nº. 11/2000 e do Parecer CFE nº.

699/72, classificada como a função reparadora, a função equalizadora e a

função permanente ou qualificadora (SÃO PAULO, 2010a).

Segundo o projeto político pedagógico do Centro Supletivo de

Registro/SP, além desses objetivos elencados, ainda é necessário considerar

para essa modalidade de educação, outras finalidades:

Não deve ter como finalidade somente prover os alunos com os conteúdos dos quais fora privados na idade própria de escolarização, mas também favorecer o desenvolvimento das competências necessárias para que possam participar dos bens e conhecimentos, exercer a cidadania e inserir-se nas diferentes dimensões da vida social e produtiva (SÃO PAULO, 2011, p.3).

Os cursos oferecidos pelo CEEJA são: o Ensino Fundamental ciclo II,

com duração mínima de 24 meses, ou quatro semestres letivos e 1600 (mil e

seiscentas) horas de efetivo trabalho escolar e o Ensino Médio, com duração

mínima de 18 (dezoito) meses com integralização de estudos ou três

semestres letivos e 1200 (mil e duzentas) horas de efetivo trabalho escolar.

Ambos os cursos têm a presença flexível, atendimento individualizado e

coletivo. Os alunos de diferentes séries se agrupam na mesma sala, isto é,

frequentam ao mesmo tempo a mesma disciplina, mesmo apresentando

diferentes graus de conhecimento. A escola disponibiliza três turnos para esse

atendimento, em que o aluno tem que frequentar pelo menos duas vezes por

semana (SÃO PAULO, 2010a).

Page 34: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

34

No curso de Ensino Fundamental, ciclo II, a idade mínima para matrícula

inicial, tanto para os alunos classificados como para aqueles que ainda não

concluiram os estudos, é de:

...16 ( dezesseis) anos completos para o primeiro semestre; 16 ( dezesseis) anos e meio completos para o segundo semestre; 17 ( dezesete) anos completos para o terceiro semestre; 17 ( dezesete) anos e meio completos para o quarto semestre; Em se tratando de rematrícula, para continuidade de estudos, no segundo ou terceiro ou quarto semestre, a idade mínima poderá ocorrer ao longo do respectivo semestre. Plano de Gestão do Centro Supletivo de Registro/SP (SÃO PAULO, 2010a, p.6b).

Já para o Ensino Médio,

...18 ( dezoito) anos completos para o primeiro semestre; 18 (dezoito) anos e meio completos para o segundo semestre; 19 ( dezenove) anos completos para o terceiro semestre;Em se tratando de rematrícula, para continuidade de estudos, no segundo ou terceiro ou quarto semestre, a idade mínima poderá ocorrer ao longo do respectivo semestre.Plano de Gestão do Centro Supletivo de Registro/SP (SÃO PAULO, 2010a, p.6b).

O material pedagógico adotado pela escola é aquele que a Secretaria da

Educação determina, ou seja, os consolidados como Propostas Curriculares

dos respectivos cursos: Ensino Fundamental, ciclo II, e do Ensino Médio do

Estado de São Paulo, tanto para os alunos que estão ingressando quantos aos

alunos que estão dando continuidade aos estudos (SÃO PAULO, 2010a).

Dentre outros objetivos, a avaliação interna da escola serve para

diagnosticar e registrar os avanços que os alunos obtiveram, bem como suas

dificuldades, e como superá-las. Tem também a função de fazer com que os

alunos se auto-avaliem. Esta avaliação tem também a finalidade de direcionar

o planejamento e replanejamento quanto aos conteúdos curriculares.

Para observar os avanços dos alunos são determinados vários

instrumentos de avaliações, tais como: avaliação contínua, cumulativa e

sistemática, sendo esta última (sistemática) aplicada no final do semestre ou

dos estudos das disciplinas. Cada disciplina, conta com uma avaliação final

aplicada alguns dias antes de terminar o semestre (a partir de 20 dias antes ),

somam-se ainda as avaliações periódicas, que devem ser no mínimo duas. Na

avaliação final, deve prevalecer os aspectos qualitativos, embora para

promoção tenha a exigência de aproveitamento final igual ou superior a 05

Page 35: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

35

(cinco) pontos em uma escala numérica de de 0 (zero) a 10.0 (dez) e além do

cumprimento do tempo de integralização e de horas de efetivo trabalho escolar

(SÃO PAULO, 2010a).

O Plano de Gestão do Centro Supletivo de Registro/SP (SÃO PAULO,

2010a) explana igualmente sobre algumas dificuldades por parte dos alunos

quanto ao uso do material didático usado em sala de aula, que é o mesmo

utilizado no ensino regular: a apostila do aluno, com quatro volumes, sendo um

volume para cada bimestre. Assim, a escola encarou como sendo um desafio

as mudanças propostas pela Secretaria do Estado da Educação; além de ser

um objetivo, esta unificação dos conteúdos educacionais entre todos os

CEEJAs, também foi vista como um desafio, pois exigiu adequações e

reformulações das atividades propostas e das avaliações, adaptando-as ao

novo material.

Houve vários tipos de reações por parte dos alunos para se chegar à

aceitação do uso do novo material. Alguns alunos aceitaram sem questionar,

outros reclamaram, porque teriam que cursar todas as disciplinas ao mesmo

tempo. Outra mudança foi quanto à matrícula, que até então podia ser efetuada

em qualquer época do ano e isso aconteceu durante vinte e cinco anos, e

agora passou a acontecer semestralmente, ou seja, estabeleceu-se um

período preciso para efetuar as matrículas.

O término do curso, que também ocorria em qualquer época em que o

aluno concluísse todas as disciplinas do curso, a partir de então só podia

terminar no final dos semestres. Ainda segundo as novas orientações da

Secretária da Educação, quanto aos exames realizados, só podem ser

aproveitados aqueles feitos no Ensino Fundamental e no Ensino Médio do

Ensino Regular ou no Ensino de Educação de Jovens e Adultos (SÃO PAULO,

2010a).

Esta mudança ocasionou a desistência de muitos alunos. No final do

ano de 2009 a escola contava com 1700 alunos que frequentavam as aulas,

sendo que no primeiro semestre de 2010 esse número diminuiu para 1243

alunos frequentes (SÃO PAULO, 2010a).

Page 36: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

36

Para entendermos melhor a situação, segue abaixo os quadros com os

índices de aproveitamento na disciplina de Matemática, tanto no Ensino

Fundamental, ciclo II, quanto no Ensino Médio. O período descrito foi de 2005

a 2009. Além do ano, contabilizou-se o número dos alunos que estavam

estudando, que seriam os ativos, os alunos transferidos, os desistentes, os

concluintes e os que continuavam no ano seguinte. (SÃO PAULO, 2010a).

Quadro 02. Ensino Fundamental

Disciplina Matemática

Ano Ativos* Transferidos Desistentes Concluintes Em continuidade

2005 640 42 208 181 209

2006 500 18 165 143 171

2007 429 06 54 149 220

2008 530 24 100 212 194

2009 417 18 121 118 160

Fonte: São Paulo, 2010a, p.10

Quadro 03. Ensino Médio

Disciplina Matemática

Ano Ativos* Transferidos Desistentes Concluintes Em continuidade

2005 688 25 138 337 188

2006 588 20 116 291 161

2007 527 14 45 252 216

2008 631 17 98 334 182

2009 521 17 116 246 142

Fonte: São Paulo, 2010a, p.11

Até 2009, as matrículas eram efetuadas durante o ano todo e

consequentemente os alunos não tinham tempo delimitado para terminar as

disciplinas em que se encontravam matriculados. Desta forma, não se podia

trabalhar com índices de promoção e retenção ao final do ano como nas

Page 37: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

37

escolas regulares. Para se ter uma ideia da porcentagem de concluintes nas

disciplinas, confeccionamos os quadros abaixo:

Quadro 04. Porcentagem de Quadro concluintes 2008-2009

Matemática Ensino Fundamental Ensino Médio

2008 68% 77%

2009 49% 68%

Fonte: São Paulo, 2010a, p. 14-15

Quadro 05. Porcentagem de desistência 2008-2009

Matemática Ensino Fundamental Ensino Médio

2008 32% 23%

2009 32% 23%

Fonte: São Paulo, 2010a, p. 15-16

Analisando o quadro acima, podemos perceber o grande número de

alunos evadidos e transferidos. Isto ocorreu porque no decorrer do ano foram

surgindo alunos com problemas de saúde, outros que trabalhavam em serviço

com turnos e precisavam mudar de horários. Havia ainda o problema

financeiro. Muitos alunos dependiam de transporte e alimentação e a escola

não os fornecia.

Outro motivo dessa evasão refere-se aos exames supletivos que os

alunos faziam. Eles conseguiam eliminar algumas disciplinas que estavam

faltando, ou até mesmo o curso todo, sem ao menos terem visto os conteúdos

propostos. Entretanto, não comunicavam a conclusão das disciplinas à escola,

para regularizar sua situação, constando no sistema como evadidos. Os alunos

apareciam apenas quando necessitavam do certificado de conclusão.

Nos quadros percebe-se que em alguns anos esses números de

evadidos e transferidos não foi tão gritante. Ao que tudo indica, isso se deve ao

fato de uma melhor adequação do material de estudos, recursos disponíveis na

escola, novas estratégias, uma preocupação maior quanto ao cotidiano do

Page 38: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

38

aluno, refletindo assim em uma melhora quanto à frequência. Também à

necessidade ou mesmo a conscientização de concluir o curso para obtenção

de um melhor emprego, ou mesmo para inserção no mercado de trabalho e

uma melhor compreensão sobre o mundo podem ser fatores que fizeram

diminuir o número de evadidos.

O projeto político pedagógico para a EJA do CEEJA de Registro arrola

os materiais que a escola disponibiliza para o enriquecimento do aluno e

favorecer sua aprendizagem.

Em busca de constante qualidade de ensino, a escola dispõe de materiais de adequação e enriquecimento curricular, livros didáticos exclusivamente para o EJA (Ensino Fundamental), caderno do aluno para todas as disciplinas, materiais de apoio, dicionários, enciclopédias, revista atualidades, vestibular, complementando com projetos e eventos que vem sendo desenvolvidos pela equipe escolar, na busca de alicerçar o conhecimento e fortalecer a aprendizagem do nosso alunado (SÃO PAULO, 2011, p. 12).

Pode-se relacionar o número de concluintes com a matrícula dos alunos

e o tempo de duração para cada disciplina. Próximo ao final do ano, alguns

alunos não conseguem concluir todas as disciplinas deixando-as para o ano

seguinte. Geralmente as disciplinas que ficavam para o ano seguinte eram as

de Matemática e Língua Portuguesa, por serem as que os alunos

apresentavam maior dificuldades, talvez em ter ficado muito tempo sem

estudar, ou tinham algum problema quanto à leitura, interpretação e produção

de textos. Para superar essas dificuldades foram utilizadas diversas estratégias

pelos professores. Além do atendimento individualizado, utilizavam-se também

os materiais da classe de aceleração, para depois inserir o material do curso

da série correspondente.

A rematrícula geralmente acontecia para os alunos que estão evadidos.

Quando retornavam à escola, era dado um atendimento especial, para

esclarecimento de dúvidas e tentar sanar suas dificuldades junto aos

professores.

Na elaboração dos planos de cursos foram utilizados os Parâmetros

Curriculares Nacionais, para indicar os objetivos do Curso do Ensino

Fundamental.

Page 39: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

39

Com relação ao ensino de Matemática, o aluno do Ensino Fundamental

ciclo II, deveria ser levado à:

Ampliar o significado do número natural pelo seu uso em situações-problema e pelo reconhecimento de relações e regularidades;

Construir o significado do número racional e desuas representações ( fracionária e decimal), a partir de seus diferentes usos no contexto social;

Interpretar e produzir escritas numéricas, considerando as regras do sistema de numeração decimal e estendendo-as para a representação dos números racionais na forma decimal (SÃO PAULO, 2010a, p.45-47).

Até o ano de 2009, o Centro Supletivo de Registro/SP utilizou as

chamadas “Unidades de Matemática” (UE). A partir de 2010, passou a utilizar o

“Caderno do Professor” (CP) e o Caderno do Aluno (CA), ambos distribuídos

gratuitamente pela Secretaria de Estado da Educação. Cabe destacar ainda

que essa Secretaria também lançou um “Caderno de Orientações para

Professor” específico para a EJA (CPEJA). As Unidades de Matemática e o

Caderno de orientações do Professor, destinado ao professor de Ensino

Fundamental para a EJA são descritos e analisados no capítulo seguinte.

Page 40: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

40

CAPÍTULO II

TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS E PRINCÍPIOS DA ENCULTURAÇÃO MATEMÁTICA: as contribuições de Fiorentini (1995) e Bishop (1997)

Neste capítulo, apresentamos as teorias que dão suporte a este estudo.

Primeiramente, destacamos o artigo intitulado “Alguns modos historicamente

produzidos de ver e conceber o ensino da Matemática no Brasil” de autoria de

Dario Fiorentini (1995), quando descreve algumas tendências pedagógicas

passíveis de serem verificadas na educação Matemática brasileira, em

particular, na EJA.

Em seguida, discutimos cinco princípios da educação Matemática

escolar, descritos por Alan J. Bishop na obra intitulada “Mathematical

enculturation: a cultural perspective on mathematics education”, publicada em

1997. Nela, o autor defende que as propostas curriculares para a educação

Matemática devem incluir conhecimentos ligados à cultura Matemática.

2.1 Tendências pedagógicas no ensino da Matemática

Ao publicar o artigo “Alguns modos historicamente produzidos de ver e

conceber o ensino da Matemática no Brasil” a pretensão do autor, Dario

Fiorentini (1995), foi de explicar e descrever a melhoria do ensino de

Matemática no Brasil. Essa tarefa depende de como se vê e entende a

Matemática e varia de acordo com o grau de valor que se atribuí a cada

situação: a aprendizagem, a educação, ao ensino da Matemática, a relação

entre professor e aluno, e a visão de mundo, homem e sociedade.

Existem diferentes modos de ver e conceber a questão da qualidade do ensino da Matemática. Alguns podem relacioná-la ao nível de rigor e formalização dos conteúdos matemáticos trabalhados na escola. Outros, ao emprego de técnicas de ensino e ao controle do processo ensino/aprendizagem com o propósito de reduzir as reprovações. Há ainda aqueles que a relacionam ao uso de uma Matemática ligada ao cotidiano ou à realidade do aluno, ou aqueles que colocam a Educação Matemática a serviço da formação da cidadania. O conceito de qualidade do ensino, na verdade, é relativo e modifica-se devido a história sociocultural e política. Em termos

Page 41: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

41

mais específicos, varia de acordo com as concepções epistemológicas, axiológico-teleológicas e didático-metodológicas daqueles que tentam produzir as inovações ou as transformações do ensino.(FIORENTINI,1995, p.2).

Fiorentini (1995) apresenta seis tendências, consideradas as mais

marcantes e baseadas em várias forças ou movimentos ocorridos na história

do Brasil os quais envolveram psicopedagogos e pedagogos, matemáticos e

educadores matemáticos, documentos extraídos de anais de congresso,

encontros sobre o ensino da Matemática, propostas oficiais e em livros

didáticos.

As tendências descritas e analisadas pelo autor são: a formalista

clássica, a empírico-ativista, a formalista moderna, a tecnicista, a construtivista

e a sócioetnoculturalista. Como categorias descritivas dessas tendências, o

autor escolheu:

... a concepção de Matemática; a crença de como se dá o processo de obtenção/produção/descoberta do conhecimento matemático; as finalidades e valores atribuídos ao ensino da Matemática; a concepção de ensino; a concepção de aprendizagem: a cosmovisão subjacente; a relação professor-aluno e, sobretudo, a perspectiva de estudo/pesquisa com vistas à melhoria do ensino da Matemática (FIORENTINI, 1995, p. 5)

Passamos, então, a descrever as tendências estipuladas por Fiorentini

(1995), com a pretensão de verificar, qual(is) delas podem ser percebidas nas

salas de aula de EJA, do Centro Supletivo de Registro/SP.

2.1.1 A tendência formalista clássica

Essa tendência predominou até o final da década de 50. O ensino da

Matemática no Brasil, segundo essa tendência, tem como características as

ideias e forma da Matemática Clássica; o modelo euclidiano (elementos

primitivos: definições, axiomas, postulados) e a concepção platônica (visão

estática, a-histórica e dogmática das ideias Matemáticas), ou seja, uma

concepção inatista, em que o homem pode descobrir as ideias Matemáticas

que preexistem em um mundo ideal e que estão adormecidas em sua mente.

Nesse caso, o “papel do aluno, nesse contexto, seria o de ‘copiar’, ‘repetir’,

Page 42: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

42

‘reter’ e ‘devolver’ nas provas do mesmo modo que ‘recebeu’. [Grifos do autor]

(FIORENTINI,1995, p.7).

De acordo com essa tendência, a finalidade do ensino da Matemática é

o desenvolvimento do espírito, da disciplina mental e do pensamento lógico-

dedutivo. “Tudo deveria ser justificado e argumentado, ou melhor, demonstrado

logicamente” (FIORENTINI,1995, p.6).

A didática do ensino da Matemática é baseada em livros, sendo que o

professor é considerado o elemento fundamental do ensino e tem a tarefa de

transmitir e expor o conteúdo. Essa tendência procura aproximar a matemática

escolar da matemática tomada como área de conhecimento

(FIORENTINI,1995).

2.1.2 A tendência empírico-ativista

Essa tendência surgiu a partir da década de 20 no Brasil, em oposição à

tendência clássica tradicional. Considera a natureza da criança em

desenvolvimento e as suas características biológicas e psicológicas, bem como

suas diferenças. Acredita que as ideias Matemáticas são obtidas pela

descoberta, não estando em um mundo ideal. Sua preexistência está no

próprio mundo natural e material em que vivemos.

Nessa tendência o professor torna-se orientador ou facilitador de

aprendizagem. O aluno é o centro da aprendizagem, é considerado um ser

ativo. O currículo, além de ser organizado a partir dos interesses do aluno

também deve atender ao seu desenvolvimento psicobiológico. Os métodos de

ensino são atividades a serem desenvolvidas em pequenos grupos com rico

material didático em ambiente que favoreça a realização de jogos,

experimentos ou contato visual e táctil com materiais manipulativos. Além

disso,

A forma como estas atividades são organizadas e desenvolvidas nem sempre é a mesma. Há aqueles que tendem a realizar uma prática mais espontaneista, geralmente não diretiva, e com a desculpa de procurar respeitar o ritmo e a vontade da criança reduzem suas aulas a jogos, brincadeiras, visitas ou passeios de

Page 43: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

43

estudo do meio ambiente ou de uma atividade produtiva (indústria, lavoura, usina de tratamento de água...). Outros, entretanto, procuram organizar atividades mais diretivas, envolvendo a aplicação do método da descoberta ou da resolução de problemas (FIORENTINI, 1995, p. 12).

Surge no seio do movimento escolanovista, associada às ideias de John

Dewey. Como principais representantes dessa corrente no Brasil, Fiorentini

destaca Euclides Roxo e Everardo Backheuser. Roxo também se filiou ao

movimento renovador de ensino da Matemática na Europa, de concepção

pragmática, liderada por Félix Klein. Essa tendência, no Brasil, contribuiu para

unificar a Matemática em uma única disciplina bem como formular as diretrizes

metodológicas desse ensino na reforma Francisco Campos (1931). Também

favoreceu o surgimento de livros-didáticos com figuras ou desenhos sob um

ponto de vista mais pragmático.

2.1.3 A tendência formalista moderna

Devido à realização dos cinco congressos brasileiros de ensino de

Matemática entre o período de 1955 a 1966, a educação Matemática brasileira

passou por um período de intensa mobilização. A partir do quarto congresso,

ocorrido em 1962, essa mobilização contribuiu para o engajamento dos

matemáticos e professores brasileiros no movimento internacional de

reformulação e modernização do currículo escolar, conhecido como Movimento

da Matemática Moderna (MMM). Segundo Fiorentini (1995), esse Movimento

surgiu como resposta à constatação de uma substancial defasagem entre o

progresso científico-tecnológico da sociedade e o currículo escolar vigente, em

especial nas áreas de ciências e Matemática após a Segunda Guerra Mundial.

Esse movimento promoveu o retorno ao formalismo matemático, com

um novo fundamento: as estruturas algébricas e linguagem formal da

Matemática contemporânea, ou seja, uma Matemática autossuficiente,

fechando-se em si mesma. O MMM procurou destacar o uso preciso da

linguagem matemática, o rigor e as justificativas das transformações algébricas

por meio das propriedades estruturais. Tinha como finalidade dar mais ênfase

aos aspectos estruturais e lógicos da Matemática, introduzindo elementos

Page 44: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

44

unificadores como teoria dos conjuntos, estruturas algébricas e relações e

funções. Pretendia, ainda, que o ensino de primeiro e segundo graus refletisse

o espírito da Matemática contemporânea.

O processo de ensino e aprendizagem é centralizado na figura do

professor autoritário, suas demonstrações e exposições de conteúdos são

feitas no quadro negro. O aluno, por sua vez, é considerado passivo, tendo

que, na maioria das vezes, reproduzir a linguagem e os raciocínios lógicos

estruturais prescritos pelo professor.

O ensino, de modo geral, continua sendo acentuadamente autoritário e centrado no professor, que expõe/demonstra rigorosamente tudo no quadro-negro. O aluno, salvo algumas poucas experiências alternativas continua sendo considerado passivo, tendo que reproduzir a linguagem e os raciocínios lógico-estruturais ditados pelo professor (FIORENTINI, 1995, p. 14).

Nesta tendência e na clássica, considerou-se como fundamental a forma

de organizar e sistematizar os conteúdos matemáticos. Nelas, o significado

histórico-cultural dos conteúdos ficou colocado em segundo plano.

2.1.4 A tendência tecnicista e suas variações

Essa tendência tem como objetivo aprimorar os resultados da escola e

torná-la “eficiente” e “funcional”. Para tanto, emprega técnicas especiais de

ensino e de administração para tentar solucionar problemas do ensino e da

aprendizagem. Encontra-se fundamentada no funcionalismo, para o qual a

manutenção da ordem seria considerada uma condição para o progresso.

Nesse sistema, a função da escola é preparar e integrar o indivíduo para

pertencer a essa sociedade organizada e funcional.

A aprendizagem nessa tendência baseia-se no behaviorismo, que

consiste em mudanças comportamentais através de estímulos. A “instrução

programada” era a técnica do ensino desenvolvida e privilegiada por essa

tendência, dando início à era da informática aplicada à educação, com as

“maquinas de ensinar”.

Page 45: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

45

Baseando-se nessa concepção os conteúdos aparecem em sequência e

em forma de instrução programada onde o aluno deve realizar uma série de

atividades do tipo: “resolva os exercícios abaixo, seguindo o seguinte

modelo...” (FIORENTINI, 1995, p. 16).

O tecnicismo mecanicista caracteriza-se por enfatizar uma

aprendizagem voltada para a memorização de regras e técnicas de ensino, em

detrimento a aspectos importantes como o compreender, o analisar, o refletir.

Reforçava-se a fixação de conceitos ou princípios por meio de jogos e outras

atividades como fundamentais para o aprendizado.

A tendência tecnicista está centralizada nos objetivos instrucionais, nos

recursos, como por exemplo, a calculadora e os materiais instrucionais; e

também nas técnicas de ensino, diferentemente do ensino formal-moderno e

do ensino tradicional, onde a centralização está no professor ou na escola ativa

ou construtivista que está centrada no aluno. Os conteúdos nesta tendência

encontram-se disponíveis “nos livros didáticos, nos módulos de ensino, nos

jogos pedagógicos, em “kits” de ensino, nos dispositivos audiovisuais, em

programas computacionais”. Nessa tendência o professor e o aluno ocupam

posição secundária, são apenas executores de um processo organizados por

especialistas, responsáveis por descobrir, avaliar, experimentar e oferecer

novas técnicas de ensino e materiais instrucionais considerados eficientes para

o desempenho dos alunos (FIORENTINI, 1995, p. 18).

2.1.5 A tendência construtivista

Segundo Fiorentini (1995) essa tendência emergiu como tendência

pedagógica a partir da epistemologia genética de Piaget, o qual influenciou

substancialmente as inovações ocorridas no ensino da Matemática. Esta

influência trouxe um maior embasamento teórico para o início dos estudos da

Matemática. Trabalha com materiais concretos, com vistas à construção das

estruturas do pensamento lógico-matemático e/ou à construção do conceito de

número e dos conceitos relativos às quatro operações em substituição à uma

prática mecânica na Aritmética.

Page 46: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

46

A principal finalidade do ensino da Matemática para essa tendência é de

natureza formativa. Os conteúdos são os meios úteis, contudo não

indispensáveis para a construção e desenvolvimento das estruturas básicas da

inteligência. Ou seja, o importante é “aprender a aprender e desenvolver o

pensamento lógico-formal” (FIORENTINI, 1995, p. 21). Para tanto, utiliza-se de

atividades com materiais estruturados, como os blocos lógicos, envolvendo

operações lógicas sobre conjuntos e procurando respeitar o dinamismo

construtivo da criança.

A tendência construtivista toma a psicologia como núcleo central de

orientação pedagógica, da mesma forma que as tendências ativa e tecnicista.

Entretanto, adverte Fiorentini, a psicologia não é uma pedagogia, nem uma

teoria educacional. Embora forneça subsídios importantes para a pedagogia,

não é a única fonte de orientação para a prática pedagógica. O papel da

pesquisa nessa tendência seria investigar como a criança aprende ou constrói

determinados conceitos matemáticos e, também, como desenvolve atividades

ou materiais ricos que permitem desencadear conflitos cognitivos e abstrações

reflexivas, proporcionando a construção de conceitos ou o desenvolvimento de

estruturas cognitivas.

2.1.6 A tendência sócioetnocultural

As pesquisas educacionais que aconteceram nos Estados Unidos nos

períodos de 1950 e 1960 e no Brasil na década de 1970 revelaram que as

crianças de classes economicamente menos favorecidas não estavam obtendo

sucesso na educação formal. Aliada a essa constatação, o enfraquecimento do

Movimento da Matemática Moderna levou os estudiosos a voltarem sua

atenção aos aspectos socioculturais da educação Matemática.

A partir desses estudos surgiu a teoria da diferença cultural. Segundo

essa teoria, as crianças de classes pobres não têm habilidades formais tão

desenvolvidas em relação à escrita e a representação simbólica, mas elas não

são carentes de conhecimentos e de estruturas cognitivas. Na vida cotidiana

possuem experiências muito ricas e fazem uso de procedimentos matemáticos

Page 47: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

47

não formais. No que tange à Educação Matemática, a tendência pedagógica

sócioetnocultural apoia-se na Etnomatemática, que tem como seu principal

representante Ubiratan D’Ambrosio2. No âmbito das ideias pedagógicas, apoia-

se em Paulo Freire.

Nesta tendência, a Matemática passa a ser vista como “um saber

prático, relativo, não universal e dinâmico, produzido histórico-culturalmente

nas diferentes práticas sociais, podendo aparecer sistematizado ou não”.

Devido a esta visão, a Etnomatemática trouxe profundas transformações no

modo de conceber e tratar a Educação Matemática (FIORENTINI, 1995, p.26).

Alguns pressupostos mais frequentes nessa tendência refere-se ao

ensino da Matemática como tendo por finalidade a desmistificação e a

compreensão da realidade, que seria um requisito fundamental para a

libertação dos oprimidos ou marginalizados socioculturalmente.

Nesse sentido, os problemas da realidade seriam o início para o

processo de ensino e aprendizagem, reconhecidos e estudados

concomitantemente entre professores e alunos.

A relação entre professor e aluno acontece por meio do diálogo,

ocorrendo a troca de conhecimento entre ambos. O método de ensino

escolhido nessa tendência seria a problematização e a modelagem

Matemática, ou seja, um método de ensino que considera o estudo de

problemas que falam sobre a realidade dos alunos. Nessa perspectiva, a

aprendizagem da Matemática torna-se mais significativa quando relacionada

entre a Matemática tradicional com a Matemática do dia a dia e a cultura do

aluno.

Para a tendência sócioetnocultural o currículo é flexível, de acordo com

as conveniências e motivações do contexto sociocultural de cada escola.

Assim, vem sendo trabalhada em alguns lugares, de forma isolada, e em geral,

na Educação de Adultos.

22

D’Ambrosio define Etnomatemática como “a arte ou técnica de explicar, de conhecer, de

entender nos diversos contextos culturais” (apud FIORENTINI,1995, p.25)

Page 48: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

48

Para finalizar o artigo, Fiorentini observa que, embora alguns aspectos

sejam predominantes em atividades de indivíduos ou grupos, outras tendências

também são evidenciadas. Além disso, não teve pretensão de arrolar todas as

tendências presentes no ensino da Matemática. Somente almejou discutir

aquelas que mais se sobressaem na educação Matemática, objetivando que o

professor verifique aquela a qual mais se identifica com a sua prática

pedagógica, suas ideias, seus conceitos, convicção ou representações.

2.2 A Matemática como um fenômeno cultural: cinco princípios

Na obra “Mathematical enculturation: a cultural perspective on

mathematics education”, Alan Bishop (1997), considera a Matemática como um

fenômeno cultural. Nesse sentido, discute princípios ligados à Educação

Matemática escolar, que deveriam compor os currículos, de tal forma que o

currículo de Matemática promova o processo de Enculturação.

Para Bishop (1997), “Enculturação Matemática” pode ser entendida

como um processo interativo entre pessoas no qual ocorre uma transmissão de

valores de conhecimentos matemáticos. Sendo assim, a Enculturação

Matemática trata da incorporação de valores e atitudes ligadas ao

desenvolvimento do saber Matemático por meio da discussão e interação

constantes entre as pessoas (BISHOP, 1997).

Em seguida apresentamos os cinco princípios da Educação Matemática

escolar, tendo como processo de “Enculturação” para a Educação Matemática

discutidos por Bishop (1997), quais sejam: a representatividade, o formalismo,

a acessibilidade, o poder explicativo, e a concepção ampla e elementar.

O princípio da representatividade, conforme Bishop (1997) evidencia que

toda ação que visa o ensino deve representar adequadamente a cultura da

Matemática tanto na perspectiva de seus valores como na perspectiva de sua

tecnologia simbólica: “ou seja, não deve apenas se preocupar com a tecnologia

simbólica da Matemática, mas também evidenciar explícita e formalmente os

Page 49: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

49

valores da cultura Matemática”3. [Tradução nossa] (BISHOP, 1997, p.95).

Desse modo, entende-se que a cultura matemática não deve estar somente

presente na escola. Ela deve estar representada também no currículo.

O princípio do formalismo considera que um currículo deve ter como

finalidade o trabalho no nível formal da Cultura Matemática, fazendo as

conexões com o nível informal (quando símbolos e conceitos da Matemática

são usados de forma implícita e imprecisa) e oferecendo introdução ao nível

técnico (quando ocorre o desenvolvimento da Matemática como área

científica).

Para tanto, “deve, por exemplo, refletir as conexões entre a Matemática

e a sociedade atual, bem como a Matemática como um fenômeno cultural...”4

[Tradução nossa] (BISHOP, 1997, p.95-96). Para alcançar estes objetivos

deve-se fazer articulações entre a Matemática com a Matemática do dia a dia,

ou seja, trabalhar com problemas e situações concretas que possibilitem a

experienciação, construção e validação de propriedades Matemáticas antes

mesmo de serem formalizadas.

A ideia que o autor destaca da acessibilidade é que,

independentemente dos problemas que aos alunos apresentem em relação à

Matemática, sua acessibilidade deve ser assegurada para todos. Não se deve

privilegiar os alunos que tem mais facilidade em seguir os estudos mais

aprofundados e sim respeitar o ritmo de aprendizado de cada um. Também

não se deve ter como exemplos apenas as situações da vida do aluno, mas

exemplos de outros grupos ou setores da sociedade. Os conteúdos também

merecem uma especial atenção, devendo estar de acordo com as

necessidades e a capacidade intelectual de cada aluno.

Bishop (1997) enfatiza que a

enculturação deve ser para todos - A educação Matemática deve ser para todos. É claro que haverá necessidade de criar oportunidades individuais para as crianças buscar algumas ideias novas de acordo

3 Texto original: “That is, it must not just be concerned with the symbolic technology of

Mathematics, but must also attend explicitly and formally to values of the Mathematical culture.”. 4 Texto original: “It should, for example, reflect the connections between mathematics and

present society, as well as Mathematics as a cultural phenomenon...”

Page 50: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

50

com os seus interesses e experiências , mas tal disposição não nega o princípio.

5 [Tradução nossa] (BISHOP, 1997, p.96).

O princípio denominado poder explicativo considera que a Matemática,

como um fenômeno cultural, e deve ser uma rica fonte de explicações,

caracterizando o saber Matemático em diferentes culturas. Os problemas

devem ter significado e ser conhecidos pelos alunos, de modo que possam

saber explicá-los. A explicação matemática torna-se uma ferramenta

importante para compreender a realidade e nela atuar. Para Januário (2012)

quando o aluno expõe suas ideias, estabelece relação entre suas experiências

e a Matemática, dando suporte à argumentação, apoio à tomada de decisão e

também encontra justificativas conceituais aos conceitos matemáticos6.

Assim, o currículo de Matemática precisa de alguma forma ser baseado no ambiente da criança e na sociedade em que vive. Isto implica, aliás, que em diferentes países e em diferentes sociedades se espera encontrar diferentes currículos de Matemática, refletindo as diferenças de necessidades ambientais e sociais. Não há nenhuma razão , mesmo com uma abordagem cultural para o currículo de Matemática, de esperar um currículo universalmente aplicável.

[Tradução nossa] (BISHOP, 1997, p.96,97).

A Visão Ampla e Elementar orienta que se deve ofertar aos alunos uma

grande variedade de contextos, sendo acompanhados do poder explicativo

para fazer as conexões entre os grupos por meio de conceitos elementares,

respeitando o limite cognitivo de cada aluno. Este conteúdo vai contra as

grandes exigências do alto nível de alguns conteúdos e suas especificidade.

Em relação aos conteúdos, devemos ter uma visão mais ampla e conceitual,

possibilitando ao aluno a percepção do todo e a compreensão dos conceitos

elementares.

Não é desejável aprofundar poucos assuntos, mas sim, ter um

conhecimento amplo de vários conteúdos. Esta visão geral é importante para o

5 Texto original: “Enculturation must be for all – Mathematical education should be for all. Of

course there will be a need to create opportunities for individual children to pursue some ideas further than other children according to their interests and backgrounds, but such provision does not negate the principle”. 6 Texto original: “Thus the Mathematics curriculum needs in some way to be based in the

child’s environment and in the chid’s society. This implies moreover that in different countries and in different societies one would expect to find different Mathematics curricula, reflecting the differences in environmental and societal needs. There is no reason, even with a cultural approach to the Mathematics curriculum, to expect a universally applicable curriculum”.

Page 51: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

51

aprendizado dos principais conceitos e da linguagem por parte do aluno. Fica a

critério dos alunos a necessidade um maior aprofundamento dos em pontos

mais específicos. “Mas se a "Enculturação " é o objetivo, e a "explicação" é o

poder da tecnologia simbólica da cultura, então a complexidade excessiva que

a tecnologia não consegue explicar e não consegue convencer e, portanto, em

última instância, vai deixar de enculturar”, adverte Bishop. 7 [Tradução nossa]

(1997, p.97-98).

Bishop (1997) ainda apresenta um resumo dos cinco princípios que caracterizam a enculturação curricular:

- Deveriam representar a cultura Matemática, tanto de uma perspectiva de seus valores como de sua tecnologia simbólica; - Deveriam objetivar o nível formal dessa cultura; - Deveriam ser acessíveis para todas as crianças; - Deveriam enfatizar a Matemática como explicação; - Deveriam ser relativamente amplos e elementares em vez de limitado e exigente em sua concepção

8 [Tradução nossa]

(BISHOP, 1997, p.98).

No que diz respeito aos conteúdos algébricos, quais foram os princípios

de Enculturação (BISHOP, 1997) presentes nos recentes currículos prescritos

para a EJA, no Ensino Fundamental II, do estado de São Paulo? Quais foram

as mudanças e permanências que podemos observar nesses currículos, em

relação à Álgebra, levando em conta as tendências formuladas por Fiorentini

(1995)?

7 Texto original: “But if “enculturation” is the goal, and “explanation” is the power of the symbolic

technology of the culture, then undue complexity in that technology will fail to explain, fail to convince and, therefore ultimately, it will fail to enculturate”. 8 Texto original: “- It should represent the Mathematical culture, in terms of both symbolic

technology and values; - It should objectify the formal level of that culture; - It should be

accessible to all children; - It should emphasise Mathematics as explanation; - It should be

relatively broad and elementary rather than narrow and demanding in its conception”.

Page 52: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

52

CAPÍTULO III

OS MATERIAIS DE ENSINO PARA A EJA

3.1 As propostas de Matemática destinadas à EJA

Este estudo realiza uma análise comparativa entre duas propostas

metodológicas publicadas pelo estado de São Paulo, ambas destinadas à EJA.

A primeira, denominada “Matemática: Supletivo de primeiro Grau” foi publicada

a partir de 1983 e passou a ser utilizada no Centro Supletivo de Registro em

1985. A segunda trata de orientações para o professor da EJA do Ensino

Fundamental do Estado de São Paulo, publicado em 2010.

Nos anos de 1970, estavam em vigor os Guias Curriculares para o

Estado de São Paulo, conhecidos como "Verdão". Esse guia servia de

norteador para a elaboração dos planejamentos escolares e uma de suas

características era a definição dos conteúdos que deveriam ser desenvolvidos

nas escolas regulares. Esses conteúdos foram trabalhados em outros materiais

usados na rede pública, como por exemplo, as apostilas do Centro Supletivo

de 1983.

Em 1983 vigoravam os Guias Curriculares e Subsídios de

Implementação Curricular, os quais permaneceram até 1991. Nessa época, os

conteúdos saíam no Diário Oficial elencados por série. Era muito extenso e

deveria ser cumprido bimestralmente. Depois deste período, vieram as

Propostas Curriculares e, em 2008, apareceu a Proposta Curricular do Estado

de São Paulo (Currículo), que apresentava os conteúdos programáticos a

serem contemplados pelos professores bem como um material pedagógico

denominado Caderno do Professor (CP). Os professores da EJA deviam

utilizar o Caderno do Professor, fazendo adaptações de acordo com sua

clientela. No entanto, em 2010, foi lançado um manual de orientação para

professores da EJA (CPEJA).

Desde 2010, o Centro Supletivo de Registro/SP vem utilizando as

“Orientações para o professor-Ensino Fundamental” destinado à Educação de

Page 53: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

53

Jovens e Adultos, que contem orientações para o professor do Ensino

Fundamental, nessa modalidade de ensino. Utiliza-se ainda o “Caderno do

Aluno”, destinado ao ensino regular, onde são feitas adaptações para a EJA.

Assim sendo, o professor promove modificações no Caderno do Aluno de uso

geral para todo o Ensino Fundamental, baseando-se nas orientações contidas

no Caderno do Professor para a EJA para serem utilizadas em sala de aula.

Que semelhanças e contrastes esses documento de 1983 e as

orientações para o professor do Ensino Fundamental para a EJA apresentam?

Para obtenção de respostas para esse questionamento, foram feitas análises

comparativas entre esses dois materiais.

3.2 As Unidades Escolares de Matemática do Supletivo de primeiro grau,

década de 1980

Como já mencionado, no ano de 1983, foi lançado no Estado de São

Paulo as Unidades Escolares (UE),

Matemática para o supletivo primeiro grau,

com um total de 24 unidades, com o objetivo

de subsidiar os conteúdos matemáticos.

Em média cada UE contém 30

páginas, em letras miúdas, com poucas

ilustrações e todo o texto grafado na cor

preta. As apostilas medem,

aproximadamente, 13,5 cm (treze

centímetros e meio) de comprimento por 21

cm (vinte e um centímetros) de altura. A

espessura gira em torno de meio milímetro.

Ou seja, trata-se de manuais escolares de

pequenas dimensões e pouco volume,

contendo breves explicações dos conteúdos

Imagem 02- Unidade Escolar 24 (frente)

Fonte: SÃO PAULO, 1983.

Page 54: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

54

matemáticos a serem abordados, vários exemplos e, tomando a maior parte do

espaço interno, apresentam-se atividades de memorização dos conteúdos. Ao

final, as apostilas trazem as respostas das atividades propostos.

As capas das apostilas (UE) são nas cores verde e branca com listras.

Do lado esquerdo, encontra-se o brasão de armas do Estado de São Paulo, na

cor preta. Do lado direito do brasão destaca-se, em negrito e em letras

maiúsculas, a referência ao setor responsável pela produção: o Governo do

Estado de São Paulo e a Secretaria de Estado da Educação. Logo abaixo, em

letras maiúsculas, sem estar em negrito, a Coordenadoria de Estudos e

Normas Pedagógicas e Serviço de Ensino Supletivo.

Ao centro, aparece o nome da disciplina Matemática com um tamanho

bem maior e também em negrito. O número da apostila vem abaixo, com

algarismos em tamanho maior do que o utilizado na palavra “disciplina” e maior

que todas as outras informações da capa.

A informação do grau de escolaridade aparece na apostila logo abaixo

do número de seu exemplar, como sendo Supletivo Primeiro Grau, em outra

fonte que não está em negrito. Seguindo

com a descrição, aparece agora, em

negrito e em tamanho pequeno, ou seja, o

menor tamanho da capa, o nome da

pessoa que assinou as apostilas, qual

seja, Ivete Mitiko Sunamoto. No rodapé da

apostila vem o símbolo em formato circular

seguido da sigla Centro Estadual de

Ensino Supletivo (CEES). Finalizando,

aparece o nome do Estado de São Paulo e

o ano da publicação, 1983.

O verso da capa da apostila

apresenta a ficha catalográfica, com os

dados colocados em dois retângulos. No

primeiro retângulo encontra-se em negrito

Imagem 03 - Unidade Escolar 24 (verso)

Fonte: SÃO PAULO, 1983.

Page 55: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

55

e em letras maiúsculas o “Centro de Educação Supletiva”, informando que se

trata de um projeto destinado à elaboração e impressão de material Ensino-

Aprendizagem, coordenado por Ademar Fogaça Pereira, assessorado por José

Carlos Neves Lopes, na área de Estudos Sociais. As ilustrações foram

assinadas por Arnaldo Bentivenha, Ennio Angelo Bertoncini, Marcus Antonius

de Marsilac Fontes Barbosa, Maria Celeste Mamede de Carvalho, Maria

Regina Padovani Senna Alves e Roberto Maria Netto. O trabalho de revisão

ficou a cargo de Paulo de Tarso Galembeck.

No segundo retângulo, as informações mostram que a elaboração das

apostilas (denominadas por UE, que significa Unidade Escolar) ficou a cargo

da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e da Coordenadoria de

Estudos e Normas Pedagógicas (CENP), na disciplina de Matemática para o

Ensino Supletivo, no ano de 1983, em um total de 24 módulos (UE).

A catalogação foi realizada pelo Serviço de Documentação e

Publicações da CENP. A penúltima linha, em negrito, indica que a publicação

foi amparada pela Lei nº 5.988, de 14 de dezembro de 1973. No rodapé,

informa-se que a Produção Gráfica foi realizada pela ZMC2- Promoções,

Propaganda e Publicações Ltda, que naquela época funcionava na Rua

Fradique Coutinho, 825, Pinheiros – São Paulo- SP. Os telefones da firma

também se fazem presentes: 813 5614 e 2100502.

Todas as apostilas começam com um breve plano de ensino,

denominado “Roteiro da unidade”. Esse roteiro contém os seguintes subtítulos:

Finalidade, Pré-requisito, Objetivos, Instruções para as atividades e Pós-

avaliação. Tanto o título quanto os subtítulos estão grafados em negrito e em

letras maiúsculas. Para cada uma das UE, os dizeres de cada subtítulo variam,

de acordo com o assunto a ser tratado na apostila.

As instruções para as atividades, em geral, são as mesmas para todas

as UE. Exemplificando:

Para estudar e aprender convenientemente o conteúdo da UE, você deverá ler atentamente as explicações. Talvez seja necessário ler mais de uma vez. Siga as instruções dadas em cada parte da UE. Somente comece a resolver os exercícios de fixação após ter entendido as explicações.

Page 56: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

56

Os exercícios devem ser copiados e respondidos em seu caderno. Não escreva na UE, pois ela também servirá de material de estudo para outra pessoa. No final, há uma lista de exercícios (exercícios de revisão), que você deverá responder somente após terminar o estudo de toda UE. Ao final da correção você terá uma ideia de seu desempenho na pós-avaliação. Se, no decorrer do estudo da UE, você encontrar alguma dificuldade, consulte o Orientador de Aprendizagem no CEES. Assim, você poderá eliminar essa dificuldade. (SÃO PAULO, 1983, UE 1, p.1)

Em seguida, considerando que os alunos fizeram todos as atividades

propostas, compararam com as respostas contidas no final do livro e

verificaram se seu desempenho foi satisfatório, segue a recomendação de que

o aluno deveria procurar o CEES e solicitar a avaliação. Existe um lembrete

para a obtenção de sucesso na avaliação, que seria 75 acertos em 100: “Após

terminar todas as atividades da UE e se sentir capacitado para a avaliação,

dirija-se ao CEES e solicite-a. Não esqueça que, para obter sucesso na

avaliação, são necessários 75 acertos em 100”. (SÃO PAULO, 1983, UE 1,

p.1)

Apresentamos a seguir um resumo dos conteúdos do Ensino

Fundamental II que foram trabalhados com os alunos no C.E.E.J.A “Ricardo

José Poci Mendes”, no período de 2007 a 2010, em conformidade com o Plano

de Gestão, alertando que estes conteúdos estão agrupados sob a

denominação de “termos”:

primeiro Termo 1. O sistema de numeração decimal e suas operações 2. Explorando os naturais 3. Na medida certa: dos naturais às frações 4. Equivalência e operações com frações 5. Equivalências e operações com números decimais 6. Medidas e transformações 7. Definir e classificar experimentando 8. Planificando o espaço 9. Geometria e frações com geoplanos ou malha quadriculadas 10. Perímetro, área e arte usando malhas geométricas 11. Tabelando a informação 12. A linguagem dos gráficos 13. Medidas de tendência central.

2º Termo 01. Frações e decimais :um casamento com significado 02. A multiplicação e a divisão de frações 03. Números negativos: desvendando as regras de sinais 04. A geometria dos ângulos 05. Polígonos e ladrilhamento do plano

Page 57: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

57

06. Classificação, montagem e desenho de poliedros 07. A noção de proporcionalidade 08. Razão e proporção 09. Gráfico de setores e proporcionalidade 10. Investigando sequências por aritmética e álgebra 11. Equações e fórmulas 12. Equações, perguntas e balanças 13. Proporcionalidade, equações e a regra de três.

3º Termo 01. Os racionais como mostruário das frações e decimais 02. Dízima periódica 03. Potenciação 04. Aritmética com álgebra – As letras com números 05. Produtos notáveis : significados geométricos 06. Álgebra: fatoração e equações 07. Expandido a linguagem das equações 08. Coordenadas cartesianas e transformações no plano 09. Sistema de equações lineares 10. Área de figuras planas 11. Teorema de Tales 12. Teorema de Pitágoras 13. Prismas.

4º Termo 01. Conjuntos e números 02. Números reais e frações contínuas 03. Potências, notação científica e ordem de grandeza 04. Métodos para resolver equações do segundo grau 05. Equações de 2º grau n resolução de problemas 06. Grandezas proporcionais: Estudo funcional, significados e

contexto 07. Semelhança entre figuras planas 08. Triângulo: Um caso especial de semelhança 09. Relações métricas nos triângulos retângulos; Teorema de

Pitágoras 10. A razão π no cálculo do perímetro e da área do círculo (SÃO

PAULO, 2010a, p.45 - 48).

Esses “Termos” foram abordados nas 24 unidades escolares. Destaque-

se que as UE de 01 a 08 correspondem à 5ª série (sexto ano do Ensino

Fundamental) - primeiro termo, as UE de 9 a 13 correspondem à 6ª série

(sétimo ano do Ensino Fundamental) - 2º termo, as UE de 14 a 18

correspondem à 7 ª série (oitavo ano do Ensino Fundamental) - 3º termo e as

UE de 19 a 24 correspondem à 8ª série (nono ano do Ensino Fundamental) -

4º termo.

A seguir, apresentamos tópicos das unidades escolares de 1983, que

tratam de conteúdos algébricos, quais sejam a UE 01, UE 02, UE 09, UE 13,

UE 15, UE 16, UE 17 e UE 19.

Page 58: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

58

Na UE 01, a primeira sessão, intitulada “Roteiro da Unidade”, apresenta

a finalidade da apostila, qual seja, a utilização de sinais para comparar

números, resolver expressões numéricas e determinar o valor desconhecido

em uma adição ou subtração. Um dos objetivos descritos nessa unidade

refere-se à determinação do “valor de uma parcela desconhecida em uma

adição ou subtração” (SÃO PAULO, 1983a, p. 1).

O conteúdo de Álgebra encontra-se no item 4, denominado

“Determinação de um valor desconhecido em uma adição ou subtração”.

Primeiramente, o autor define o que vem a ser a adição de dois elementos.

Após breve explicação, seguem-se vários exemplos, enfatizando a operação

inversa e a determinação de um valor desconhecido de uma das parcelas da

operação. Em seguida aos exemplos, a apostila apresenta uma série de

exercícios repetitivos, em conformidade com os exemplos exibidos. Ao final,

assim como as demais, a apostila traz as respostas dos exercícios propostos.

Nessa apostila, a representação da parcela desconhecida é indicada

por uma letra ou um símbolo geométrico. Segue exemplo de atividade para

determinação de um valor desconhecido:

Imagem 04. Exemplo de álgebra da Unidade 01 Fonte: São Paulo,Unidade 01, 1983a, p.10

Page 59: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

59

Note-se que o autor da apostila sugere que o aluno corrija as atividades

de acordo com as respostas que são apresentadas no final da unidade. Ainda,

comenta que, se o aluno acertou todos as atividades deve prosseguir, caso

contrário, solicita ao aluno refazê-las usando a mesma metodologia feita

anteriormente. Após isso pede para resolver as atividades em anexo.

Na segunda unidade (EU 02) tem-se a continuidade do assunto, ou seja,

contempla-se a mesma finalidade da primeira unidade, sendo que o aluno

deverá encontrar o valor desconhecido para uma multiplicação ou divisão.

Imagem 05. Exemplo de álgebra da Unidade 02 Fonte: São Paulo,Unidade 02, 1983b, p.17

As outras unidades de ensino utilizam o mesmo procedimento,

discorrendo da mesma forma, sempre procurando o valor desconhecido,

primeiramente de números naturais e passando em seguida para a

determinação de números inteiros. A partir da UE 09, o autor introduz a letra “x”

como símbolo para achar o valor desconhecido. Um dos objetivos a ser

alcançado é fazer com que os determinem “corretamente o valor desconhecido

Page 60: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

60

em equações do tipo x + a = b, x – a = b, x . a = b e x : a = b sendo a e b

números inteiros” (SÃO PAULO, 1983c, p. 1).

Observa-se que a forma como são apresentados atividades a serem

desenvolvidas é puramente mecânica. Não contém nenhum tipo de problema,

nenhuma referência ao cotidiano do aluno. O método utilizado foi passar os

termos desconhecidos, de um lado para outro, usando a operação inversa para

descobrir o valor de “x”.

Exemplo:

Imagem 06. Exemplo de álgebra da Unidade 09 Fonte: São Paulo,Unidade 09, 1983c, p.19

A UE 13 tem como finalidade “resolver alguns problemas práticos da

vida cotidiana, os quais envolvem números racionais”. Dentre os objetivos a

serem alcançados, tem-se:

Page 61: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

61

Dada uma série de proporções, das quais não se conhece um dos termos, calculá-lo utilizando a propriedade fundamental.[...]

Dada uma situação problema envolvendo grandezas proporcionais, resolvê-la utilizando regra de três.

Resolver problemas simples de porcentagem.

Resolver problemas que envolvem cálculo de juros simples (SÃO PAULO, 1983d, p. 01).

Ressalte-se que, embora nos objetivos seja mencionado que a UE

contém situações-problema, não se encontra em qualquer uma das 24

apostilas qualquer menção sobre o que o autor entende por “situação

problema”. O que se observa, nesta UE 13 como nas demais unidades, é que

se apresentam a definição do conceito Matemático a ser trabalhado, alguns

exemplos e exercícios simples, indicando uma vontade de imediata fixação do

conteúdo tratado.

Exemplificando, para trabalhar o conteúdo “Regra de Três”, item 13 da

UE 13, a explicação é feita por meio de um exemplo: “Roberto comprou 15

lápis por 45 cruzeiros. Se comprasse 32 lápis, quanto pagaria?” (SÃO PAULO,

1983d, p.14-15). Para a resolução desse problema, descreve-se passo a

passo o método que o aluno deve usar, sem a preocupação de instigá-lo a

utilizar estratégias próprias ou conhecimentos prévios que possibilitem resolver

o problema. Em seguida, são propostos alguns problemas semelhantes,

solicitando que o aluno os resolva tomando como base o exemplo

apresentado. Pode-se notar que, após breve explicação de como determinar o

valor desconhecido de um dos termos de uma proporção, imediatamente

propõem-se exercícios de memorização.

Na UE 15, aparece pela primeira vez o termo “expressões algébricas”. A

finalidade dessa unidade é fazer com que o aluno aprenda “as expressões, as

operações e também as expressões algébricas racionais e inteiras” (SÃO

PAULO, 1983e, p.1).

Conforme explicitado no manual, espera-se que ao final dessa unidade o

aluno saiba fazer a distinção entre várias expressões, ou seja, saiba identificar

quais são as expressões algébricas e quais são as expressões numéricas.

Relativamente às expressões algébricas, o aluno deve saber distinguir as

racionais e as irracionais, as inteiras e as fracionárias; saber calcular o valor

Page 62: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

62

numérico de uma expressão algébrica; identificar o coeficiente e a parte literal

de um monômio; usar todas as operações com os monômios; determinar o

grau de um polinômio e usar as operações com ele (SÃO PAULO, 1983e).

A introdução do assunto se faz de maneira conceitual sobre cada termo,

seguida de exemplos e depois de várias atividades dando a entender que o

aluno deveria memorizar o que aprendeu. Os tipos de atividades para todo o

tema são as mesmas: Copie (escreva) em seu caderno, classifique as

expressões, calcule e efetue.

Eis um exemplo de como a unidade trabalha o valor numérico de uma

expressão algébrica.

Imagem 07. Exemplo de álgebra da Unidade 15 Fonte: São Paulo, Unidade 15, 1983e, p.06

A UE 16 trata dos produtos notáveis, mais precisamente de “regras para

desenvolver produtos que são muito utilizados e fatorar expressões algébricas”

(SÃO PAULO, 1983f, p. 1). Um dos objetivos a ser atingido é fazer com que o

aluno aprenda a desenvolver produtos notáveis, fatorar expressões algébricas

usando os casos de fatoração, calcular o maior divisor comum e o menor

múltiplo comum de duas ou mais expressões algébricas e por fim efetuar as

operações básicas de frações algébricas.

Inicia apresentando exemplos de produtos de dois termos. Em seguida,

solicita que os alunos copiem e efetuem em seus cadernos cinco produtos de

expressões algébricas. Na sequência, apresenta as respostas dos referidos

Page 63: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

63

produtos e instiga o leitor a deduzir uma semelhança nos resultados

encontrados:

O que você percebeu? Você deve ter percebido uma semelhança nos resultados. Para efetuar (a + b) . (a + b), você precisa fazer todos os cálculos? Isso mesmo! O resultado é direto. (a + b) . (a + b) = a

2 + 2ab + b

2

Você sabe que 5 . 5 = 52

Então (a + b) . (a + b) = (a + b)2

Assim:

(a + b) . (a + b) = a2 + 2ab + b

2

(SÃO PAULO, 1983f, p.02)

Na UE 16, o mesmo modo como o “Quadrado da Soma de Dois

Termos”, os outros produtos notáveis são tratados. Na sequência apresentam-

se atividades repetitivas com os mesmos dizeres “copie e efetue, utilizando a

regra prática”. O autor da unidade conversa com o leitor, fazendo perguntas

sobre o que ele percebeu sobre as regras ensinadas e, em seguida, responde

o que o leitor deveria ter percebido e acrescenta que a memorização das

regras serve para facilitar os cálculos:

Imagem 08. Apresentação de Produto Notáveis na Unidade 16 Fonte: São Paulo,Unidade 16, 1983f, p.10

O autor apresenta o conteúdo de fatoração algébrica perguntando ao

aluno se ele sabe o que é uma fração algébrica e em seguida dá uma definição

utilizando terminologia Matemática (quociente, divisor, simplificação,

equivalente, numerador e denominador) admitindo de antemão que esse

vocabulário é do conhecimento do aluno. Segue com exemplos, atividades e

inclui um lembrete para que o aluno verifique a resposta no final da unidade.

Caso não tenha acertado, o autor pede para refazer com mais atenção

Page 64: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

64

tomando como base os exemplos. As operações com frações algébricas são

trabalhadas da mesma forma na UE 16.

Imagem 09. Exemplo simplificação de fração algébrica na Unidade 16 Fonte: São Paulo,Unidade 16, 1983f, p.21-22

Nas unidades que se seguem, observa-se que, embora o assunto faça

parte da álgebra, os temas são trabalhados de maneira isolada, dando

Page 65: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

65

continuidade ao ensino de técnicas para solucionar sentenças Matemáticas

abertas do primeiro grau, com uma variável ou com duas variáveis, para o

aluno resolver problemas. Sugere que o aluno resolva as equações pelo

princípio de equivalência para facilitar a resolução de outros tipos de equações.

Nesta unidade também se trabalham inequações usando-se os mesmos

métodos daqueles utilizados para as equações.

Exemplo de atividade para resolver equações do primeiro grau com uma

variável.

Imagem 10. Exemplo de atividade de equação do primeiro grau da Unidade 17 Fonte: São Paulo,Unidade 17, 1983g, p.14

A unidade 19 tem como finalidade ensinar o aluno a utilizar equações

para resolver problemas aplicando os conhecimentos anteriormente

Page 66: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

66

explicitados nas outras unidades. O aluno deveria escrever a representação

simbólica de expressões e sentenças Matemáticas usando apenas uma

variável ou fazer o inverso. Também deveria resolver problemas, onde teria

que escrever e resolver as equações ou sistemas de equações

correspondentes.

Verifica-se que a aprendizagem estava focada na exposição dos

conteúdos, seguidos de resolução de exercícios pelos alunos. Assim sendo, a

unidade inteira trabalhou com o procedimento de apresentar um exemplo como

modelo e em seguida uma série de exercícios semelhantes ao modelo para o

aluno memorizar o aprendizado.

Exemplo de exercício de representação simbólica:

Imagem 11. Exemplo de atividade de representação simbólica da Unidade 19 Fonte: São Paulo,Unidade 19, 1983h, p.04

No geral, a leitura das unidades escolares nos possibilita inferir que a

metodologia recomendada para o ensino da Matemática caracterizou-se pela

memorização e mecanização concretizadas por meio de apresentação de

Page 67: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

67

extensas listas de exercícios, no incentivo à repetição de conceitos e fórmulas.

Ao que parece, nas unidades escolares predominam a tendência tecnicista, em

que a aprendizagem baseia-se na memorização e na reprodução, na imitação

e repetição dos procedimentos e raciocínios do livro-texto. Nota-se ainda que

a Matemática é apresentada como um conjunto de técnicas, regras e

algoritmos para capacitar o aluno para a resolução de atividades e problemas

padrão, de tal forma que reforça a memorização e os conteúdos se apresentam

em sequência e em forma de instrução programada onde o aluno deve realizar

uma série de atividades do tipo: “resolva os exercícios abaixo, seguindo o

exemplo” (FIORENTINI, 1995, p.16).

No que se refere às orientações relativas ao processo de ensino e de

aprendizagem da álgebra contidas nas unidades escolares de 1983,

consideramos que, em grande medida, os princípios da Enculturação,

propostos por Bishop (1997), não foram considerados.

Quanto ao princípio de acessibilidade, percebemos a sua ausência nas

estratégias usadas nas unidades, uma vez que a metodologia apresentada

sempre se manifestava do mesmo modo, não respeitando o ritmo de

aprendizado que cada aluno possui, privilegiando assim, os que têm mais

facilidade de aprendizado.

Não acontece, igualmente, uma articulação entre os saberes informais e

formais conforme sugere o princípio do formalismo. Em relação aos conteúdos,

a maioria das unidades de ensino não trabalhou com situações do cotidiano

dos alunos e de outros grupos. Nas atividades Matemáticas (nível formal) não

se percebeu conexão com o nível informal (saberes dos alunos) nem com o

nível técnico (quando ocorre o desenvolvimento da Matemática como área

científica), de modo que não se observa o princípio de formalismo nesses

manuais.

Ao que tudo indica, também não ocorre o princípio explicativo, uma vez

que as atividades propostas aplicam conceitos e ideias matemáticas utilizando

tão somente regras e técnicas, dificultando a explicação dos conceitos

matemáticos em situações vivenciadas pelos alunos em seu cotidiano.

Page 68: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

68

Por não partir da realidade do aluno para a construção de ideias mais

aprofundadas e não dando uma visão ampla, ou seja, a percepção do todo e a

compreensão dos conceitos elementares dos saberes matemáticos, também

não se observa a presença do princípio da visão ampla e elementar.

Por fim, o princípio da representabilidade também se faz ausente porque

nas atividades propostas enfatiza apenas na linguagem matemática, em um

corpo de conhecimentos prontos, impossibilitando a compreensão da

construção das ideias matemáticas, as explicações por parte dos alunos de

determinados fenômenos, e as teorizações, contrariamente ao princípio da

representatividade defendida por Bishop (1997).

3.3 Apresentação do Caderno de Orientações para o Professor da EJA

Um novo material de ensino foi lançado no Estado de São Paulo, em

2010 e direcionado aos professores da EJA, tanto de Ensino Fundamental

quanto de Ensino Médio para a Educação de Jovens e Adultos. Para tanto,

houve necessidade de muitas pesquisas, levando-se em consideração as

características próprias desta população que seria atendida e também a

garantia ao acesso aos bens e valores culturais contidos no Currículo Oficial do

Estado de São Paulo. Tem como objetivo a reestruturação curricular da

Educação Básica dessa Secretaria e o regaste de uma dívida histórica antiga

com esta população em relação à educação. Com esse material, seus

organizadores esperam contribuir para a realização efetiva da escolarização

necessária para a população de jovens e adultos, de modo que prossigam em

seus projetos de realização profissional e pessoal (SÃO PAUL0, 2010b).

Segue uma breve apresentação descritiva do novo material de

orientação para os professores na educação de jovens e adultos do Estado de

São Paulo.

O referido caderno de orientações para a educação de jovens e adultos

(CPEJA) é composto por 95 páginas e mede, aproximadamente, 27,5 cm (vinte

e sete centímetros e meio) de altura por 20,5 cm (vinte centímetros e meio) de

Page 69: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

69

comprimento. A espessura gira em torno de 80 mm (oitenta milímetros). Ou

seja, trata-se de manual escolar de dimensões bem maiores e com mais

volume do que as Unidades Escolares publicadas em 1983. As cores utilizadas

para a capa do referido material foram a amarela e a branca. Na parte

inferior interna, ao centro, a capa evidencia a quem se destina o caderno:

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – orientações para o professor –

Ensino Fundamental.

Do lado direito, na vertical, segue a descrição com o nome da disciplina

Matemática com um tamanho bem maior, e abaixo, em letras menores, vem

escrito: Matemática e suas tecnologias.

Imagem 12 – CPEJA Fonte: SÃO PAULO, 2010b

Na parte inferior do verso desse caderno de orientações para o

professor da EJA encontra-se a figura da bandeira do Estado de São Paulo e

os dizeres em letra maior e em negrito: Governo de São Paulo. Na sua lateral,

no sentido vertical um código de barra.

Na parte interna do caderno consta a equipe responsável pela

elaboração do material. Os autores responsáveis pela área da Matemática e

Page 70: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

70

suas tecnologias foram: Nilson José Machado, Carlos Eduardo de Souza

Campos Granja, José Luiz Pastore Mello, Roberto Perides Moisés, Rogério

Ferreira da Fonseca, Ruy César Pietropaolo e Walter Spinelli.

O então Secretário da Educação do Estado de São Paulo, Paulo Renato

Souza, escreveu a apresentação do novo material de orientação para uso dos

professores em todas as disciplinas do Ensino Fundamental e Médio para a

EJA, no Estado de São Paulo. Informa que a obra foi resultado de várias

pesquisas, quando se procurou respeitar as características próprias da EJA e

também garantir o acesso aos mesmos bens e valores culturais inseridos no

Currículo Oficial do Estado de São Paulo, para o Ensino Fundamental (Ciclo II)

e Ensino Médio.

Ainda segundo este Secretário, até o início da década passada não

havia uma qualidade de ensino específica para atender a esta população.

Sendo assim, enfrentaram-se vários desafios quanto à oferta de educação para

esta camada populacional. Segue dizendo,

Por esse motivo, ainda como ministro da educação, criamos o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA), oferecido aos diferentes sistemas de ensino como apoio à estruturação da oferta de cursos e dos exames de certificação para os alunos da EJA. Essas referências de avaliação foram acompanhadas de materiais de apoio aos professores e alunos disponibilizados para utilização pelas secretarias de educação. (SÃO PAULO, 2010b, p.3).

Souza (SÃO PAULO, 2010b), sentiu-se desafiado para o enfrentamento

do desafio da reorganização da oferta dos cursos da EJA, procurando, assim,

suportes necessários à reposição das aprendizagens da educação básica para

os professores e alunos.

A Educação de Jovens e Adultos representa uma dívida histórica ainda a ser resgatada pela educação em todas as esferas de governo de nosso país. Com estes materiais de orientação, esperamos contribuir para a realização efetiva da escolarização necessária para que jovens e adultos possam prosseguir em seus projetos de realização pessoal e profissional.(SOUZA, 2010, p.3).

Ainda sobre a seleção de materiais de apoio para os alunos de EJA, nas

diversas modalidades de cursos regulares oferecidos pela SEE do Estado de

São Paulo, a Coordenadora Geral do “Projeto São Paulo Faz Escola”, Maria

Inês Fini, que também fez parte da equipe que elaborou essa nova proposta,

Page 71: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

71

viu como um grande desafio esta etapa de reestruturação curricular da

educação básica.

Para definir uma proposta para a população de jovens e adultos, as

equipes da CENP e uma comissão de especialistas avaliaram os materiais

pedagógicos para esse segmento. Também foi avaliado, para definir a

proposta, o Currículo Oficial do Estado de São Paulo e as possibilidades de

sua utilização como referência para a EJA.

De acordo com Fini, foram também analisados os materiais de apoio ao

trabalho do professor e as aprendizagens dos alunos para a implementação da

proposta curricular do Estado de São Paulo, a qual foi considerada adequada a

sua utilização nos quatro termos da EJA – Ensino Fundamental e nos três

termos da EJA – Ensino Médio, com as necessárias e devidas orientações.

Ainda, os direitos previstos para a educação escolar da população na Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e nas Diretrizes Curriculares

Nacionais (DCNs) para a Educação de Jovens e Adultos foram contemplados

neste projeto, que envolvia a busca por oportunidades de aprendizagem no

sistema público de ensino do Estado de São Paulo. O novo projeto pretende

que os professores que trabalham com turmas de EJA possam desenvolver

habilidades pessoais e de trabalho em equipe, tendo como beneficiário os

jovens e adultos de nosso Estado. Além disso, intenta que o processo de

autoaperfeiçoamento profissional seja constante na equipe do corpo docente.

(SÃO PAULO, 2010b).

Como dito anteriormente, o caderno pretende contemplar os direitos

previstos à educação desta clientela da EJA, dentro da busca de aprendizagem

neste sistema de ensino e de acordo com os pressupostos descritos pela

Constituição, na LDB e nas DCNs.

Na apresentação do caderno, encontra-se uma parte histórica, que

esclarece que a oferta de EJA direciona-se àqueles que não tiveram acesso

aos bens educacionais por razão de desigualdades. Cita que a reparação

dessa dívida é uma das metas do sistema estadual, destacando assim o

princípio constitucional da educação para todos, o desenvolvimento de todas

Page 72: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

72

as pessoas, em todas as idades, sem discriminação, nem prejuízo ao processo

de apropriação de conhecimentos.

Comenta sobre as causas da defasagem educacional. Considera que o

não acesso à educação formal, ou abandono precoce da escola por problemas

socioeconômicos diversos, tendo como reflexão na qualidade de vida e na

prática social desses indivíduos, resulta assim numa busca de alternativas de

estudos pela maioria desses jovens e adultos (SÃO PAULO, 2010b).

Os elaboradores do caderno entendem que essa oferta de educação a

essa população poderá promover o acesso dessas pessoas aos bancos

escolares e também criar oportunidades diversas de estudos para suprir a

defasagem escolar. Essa modalidade de educação, além da finalidade de

prover aos alunos os conteúdos que não tiveram acesso na idade própria da

escola, deve também ter como finalidade favorecer o desenvolvimento das

competências necessárias para exercer a cidadania, para que possam

participar dos bens e conhecimentos e inserir-se nas diferentes dimensões da

vida social e produtiva (SÃO PAULO, 2010b).

Como os materiais pedagógicos de orientação para o trabalho dos

professores, os livros de apoio às aprendizagens dos alunos também foram

adequados de acordo com base na avaliação positiva. Da mesma forma houve

a necessidade de adequação das políticas de certificação dos níveis de ensino

no Estado de São Paulo a fim de que se contemplasse um exame nacional

cujas matrizes de referência da avaliação correspondiam às diretrizes da EJA.

Além de ofertar os cursos, a Secretaria deve disponibilizar exames aos que se

preparam individualmente, sem ter o apoio da escola. Sendo assim, as

referências seriam as únicas para a Educação dessa população de Jovens e

Adultos no Estado de São Paulo. Houve por parte da SEE-SP, a adoção deste

material do ENCCEJA, aos exames nacionais anuais a partir de 2008. Com

isso teve a redução de gastos públicos estaduais com exames na mesma

modalidade e com a mesma população (SÃO PAULO, 2010b).

O Ministério da Educação decidiu unificar as provas do Exame Nacional

do Ensino Médio (Enem) e as do Encceja. As referências do exame único

Page 73: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

73

(novo Enem), em meados de 2009 não atenderiam apenas à Educação de

Jovens e Adultos, passariam a objetivar as demandas de concursos de seleção

ao Ensino Superior, perdendo a sua estrutura específica de qualificar para

certificar os conhecimentos dos jovens e adultos. Como consequência, a

Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (Cenp) precisou renovar

sua proposta para a EJA (SÃO PAULO, 2010b).

Para a reestruturação da oferta dos cursos de EJA, a CENP optou em

utilizar os materiais já feitos pela SEE-SP de uma forma reorganizada, para o

novo currículo do ensino regular, implantando a partir de 2008. Esta

reorganização proposta pela SEE-SP para os currículos de EJA e os materiais

de apoio a sua implementação, teve como pressuposto resgatar a autoestima

dos jovens e adultos e de seus professores, por meio do desenvolvimento de

procedimentos de ensino-aprendizagem próprios a esta população. Segundo

foi informado no documento, os professores passariam a ter total apoio técnico

para que suas práticas estejam de acordo com o processo vivido pelos alunos

(SÃO PAULO, 2010b).

De acordo com a pesquisa, foi possível verificar que a população que

busca esta modalidade do EJA, tem suas idades entre 18 e 30 anos, sendo

que já estudaram no ensino regular na idade própria e, por diversos motivos,

não concluíram o ensino regular. Devido à exigência do mercado de trabalho,

essa população retornou à escola. A opção pela modalidade da EJA,

provavelmente deveu-se às elevadas taxas escolares de repetências e evasão

nas últimas décadas do século XX, onde muitos alunos não tiveram sucesso no

sistema de ensino regular (SÃO PAULO, 2010b).

Algumas questões foram formuladas para a proposta de EJA: Como

recuperar as aprendizagens escolares e valorizar as aprendizagens vividas?

Quais conhecimentos esses jovens e adultos devem aprender? Como

desmitificar o sentimento negativo pessoal da culpa por não aprender? Como

recuperar as aprendizagens escolares e valorizar as aprendizagens vividas?

Que sujeitos históricos queremos formar? Quais pré-requisitos são necessários

para a promoção entre Ensino Fundamental e o Médio? Quais critérios devem

Page 74: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

74

ser adotados para que possamos transformar essa realidade de seleção e

exclusão? (SÃO PAULO, 2010b).

As respostas a estas questões fizeram com que a SEE-SP repensasse

sobre os objetivos específicos da EJA no Ensino Fundamental e Médio.

3.3.1 EJA no Ensino Fundamental

A natureza dos conteúdos mínimos referentes às noções e aos

conceitos essenciais sobre fenômenos, processos, sistemas e operações

escolhidos para esse segmento, segundo as orientações para o professor da

EJA, contribui para a constituição de saberes, conhecimentos, valores e

práticas sociais indispensáveis ao exercício de uma vida de cidadania. Em

relação aos conteúdos mínimos a serem ensinados nas sequências didáticas

escolhidas, deve-se levar em conta temas como a cidadania, a identidade da

escola, dos alunos, professores e outros profissionais que trabalham na escola.

O Currículo agora proposto concorre para a promoção de sequências didáticas, que deem oportunidade para os jovens e adultos aproveitem o que aprenderam na sua vida prática, trabalhando com aspectos básicos da vida cidadã, como a tomada de decisões, a identificação e a resolução de problemas, a descrição de propostas e a comparação entre ideias expressas por escrito, considerando valores e direitos humanos. (SÃO PAULO, 2010b,p. 08).

Pelo fato desta proposta curricular enfatizar o desenvolvimento de

competências e habilidades (articulações entre operações lógicas com

conteúdos relevantes), os organizadores dessas orientações consideram que

essa proposta não negligencia as exigências básicas de domínio de conteúdos

mínimos e da capacidade de ler e escrever.

3.3.2 EJA: proposta pedagógica de reorganização

Relativamente à nova organização proposta para a EJA, o documento

esclarece que se trata da mesma proposta curricular prevista para o ensino

regular, com as ênfases especiais nas sequências didáticas determinadas,

onde os temas e habilidades e competências a serem desenvolvidas atendem

Page 75: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

75

mais diretamente aos interesses dos jovens e adultos que abandonaram

precocemente a escola.

A proposta está pautada no desenvolvimento de competências e

habilidades descritas nas áreas de conhecimento e também nos componentes

curriculares. As orientações passadas para cada uma das disciplinas e termos

são que o desenvolvimento das aulas deve estar ligado ao dia a dia dos

alunos.

Assim, os cursos de EJA da rede estadual de ensino, com frequência

flexível, presencial e atendimento individualizado, devem enfatizar em sua

organização os princípios do currículo, indicados no Currículo Oficial do Estado

de São Paulo:

Currículo é cultura.

Currículo referido a competência.

Currículo que tem como prioridade a competência leitora e escritora.

Currículo que articula as competências para aprender.

Currículo contextualizado no mundo do trabalho. (SÃO PAULO, 2010, p.11).

Esses princípios se expressam no desenvolvimento pleno das seguintes

competências cognitivas em todas as áreas e em todos os níveis:

I- Dominar a norma-padrão da língua portuguesa e fazer uso das linguagens Matemática, artística e científica; II- construir e aplicar conceitos da várias áreas do conhecimento para a compreensão de fenômenos naturais, de processos histórico-geográficos, da produção tecnológica e das manifestações artísticas; III- selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e informações representados de diferentes formas,para tomar decisões e enfrentar situações-problemas; IV- relacionar informações, representadas em diferentes formas, e conhecimentos disponíveis em situações concretas, para construir argumentação consistente; V- recorrer aos conhecimentos desenvolvidos para elaboração de propostas de intervenção solidária na realidade, respeitando os valores humanos e considerando a diversidade sociocultural. (SÃO PAULO, 2010b, p.10)

O Currículo Oficial do Estado de São Paulo ficou incumbido de propor

uma organização ao ensino e à aprendizagem dos alunos na EJA em todos os

termos que oferecem os cursos presenciais e nos Centros Estaduais de

Educação de Jovens e Adultos (Ceejas) da Secretaria (SÃO PAULO, 2010b).

Page 76: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

76

3.3.3 Critérios de organização das Orientações para o professor de EJA

Além dessas orientações específicas para a EJA, em suas aulas, o

professor desse nível de ensino poderia utilizar o caderno destinado ao

professor do ensino básico regular denominado por Caderno do Professor (CP)

e o destinado ao aluno, denominado por Caderno do Aluno (CA), na

preparação das aulas para a EJA e como apoio para o desenvolvimento de

suas aulas (SÃO PAULO, 2010b).

O caderno de orientações para o professor da EJA encontra-se dividido

em quatro termos. Apresentam possibilidades para o desenvolvimento de

situações de aprendizagem referentes aos quatro blocos de conteúdos:

Números e Operações, Geometria, Medidas e Tratamento da Informação. Os

termos apresentam uma síntese a respeito do enfoque temático, onde são

sugeridas situações de aprendizagem referentes aos quatro volumes do CA,

cujos procedimentos encontram-se explicitados no CP, os quais são

alternativos para sua implementação, levando em conta as características

específicas da EJA.

Após o término das orientações sobre cada termo, o material de

orientação para a EJA apresenta a seção “Para saber mais”, que contém a

síntese de referências, onde aparece as indicações e filmes, sites, livros etc... e

um quadro-resumo onde o professor poderá, de forma rápida, usar para

mapear as Situações de Aprendizagem e as respectivas seções sugeridas

(Lição de Casa, Pesquisa Individual,etc....). Essas seções citadas podem ser

modificadas de acordo com o tempo disponível para o desenvolvimento de

cada Situação de Aprendizagem.

3.3.4 Critérios de seleção dos conteúdos e das atividades de Matemática

Além de identificar as noções, conceitos e procedimentos que são

relativos ao processo de ensino e aprendizagem da Matemática, o caderno de

orientação também tem como objetivo apontar quais e em que medida os

conteúdos matemáticos podem favorecer o desenvolvimento intelectual dos

Page 77: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

77

alunos e sua formação como cidadãos. Esse caderno procura contribuir para

que ocorram essas finalidades, pois nele estão contidos as respostas das

questões básicas como: Quais são as competências necessárias para a

formação do cidadão, que podem ou devem ser desenvolvidas por meio da

Matemática na Educação Básica? O que é necessário aprender no Ensino

Fundamental?

Segue a fundamentação dos critérios de seleção das atividades

Matemáticas para a EJA, denominadas no referido caderno por “Situações de

Aprendizagem”:

As atividades devem ter relevância social. O conteúdo a ser desenvolvido deve manter suas características de objeto sociocultural real, sem se transformar em objeto escolar totalmente vazio de significado social;

as atividades devem favorecer o desenvolvimento de capacidades cognitivas. Os conteúdos e as metodologias envolvidas devem favorecer o desenvolvimento dos raciocínios quantitativo, espacial, estatístico, probabilístico e da competência métrica;

as atividades indicadas para um termo devem favorecer a construção de novos conceitos e procedimentos nos termos que o sucedem. Assim, serão privilegiadas não apenas as atividades que envolvem a aprendizagem de técnicas e procedimentos essenciais para aprendizagem posteriores;

as atividades devem ser adequadas às faixas etárias dos alunos. Desse modo, é importante que as propostas envolvam contextos bastante significativos para que os alunos possam pôr em jogo o que sabem e pensam sobre o conteúdo que se ensinar;

as atividades não podem demandar muito tempo para estudos fora do ambiente escolar e para investigações e produção de materiais concretos pelos alunos. Assim, serão excluídas as propostas que envolvem pesquisas extensas e/ou construção, pelos alunos, de materiais manipuláveis (geoplanos, caixinhas, jogos etc...). Isso não quer dizer que se deve evitar o uso de materiais concretos em suas aulas; pelo contrário, se esses materiais forem relevantes para ensinar determinada noção, você poderá oferecê-los – já prontos – para o desenvolvimento das atividades com seus alunos (São Paulo, 2010b, p.11-12).

As atividades selecionadas apresentam o conhecimento matemático em

suas múltiplas relações, quer seja por meio de diferentes textos,

representações e registros, como por exemplo, esquemas, figuras, gráficos e

tabelas. Sendo assim, procura-se atender às finalidades da Matemática no

Ensino Fundamental, quais sejam, levar o aluno a fazer observações

sistemáticas de aspectos quantitativos e qualitativos da realidade e resolver

problemas, utilizando o conhecimento Matemático, que são: aritmético,

Page 78: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

78

geométrico, métrico, algébrico, estatístico, combinatório e probabilístico. Essas

seleções de sugestões de atividades poderão ser ampliadas ou reduzidas,

sendo o professor, o condutor dessas adequações.

Seguimos com uma breve análise dos materiais de trabalhos vinculados

a estas orientações para o professor de Ensino Fundamental da Educação de

Jovens e Adultos (SÃO PAULO, 2010b). A parte dos materiais analisados

nesse estudo foi aquela relativa aos conteúdos ligados à álgebra no Ensino

Fundamental.

Além dessas orientações específicas para a EJA, o CPEJA, os

professores também poderiam utilizar para preparar suas aulas o Caderno do

Professor (CP) e o Caderno do Aluno (CA). As atividades apresentadas no CA

são comentadas no CP e dos fascículos deste último caderno extraímos

algumas situações de aprendizagem, com o objetivo de verificar como esses

manuais recomendam trabalhar com os conteúdos algébricos, levando-se em

consideração as orientações para a EJA.

Destaque-se que, o Caderno do Professor (CP) apresenta as mesmas

características físicas daquelas do Caderno de Orientações para os

professores da EJA: mesma altura e mesmo comprimento, com

aproximadamente 55 páginas. Para cada ano escolar (da 5º a 8ª série) foram

publicados quatro fascículos, um para cada bimestre.

De acordo com o quadro resumo exibido no final de cada CP e também

no caderno de orientações para o professor de Ensino Fundamental da EJA as

noções de álgebra se iniciam no 7º ano - 2º termo, no volume 4, na Situação de

Aprendizagem 2 (sequência didática), embora apareça no final da situação de

aprendizagem 1, com o objetivo de investigar sequências numéricas para

aprimorar a percepção indutiva de regularidades e para iniciar um trabalho com

o uso de letras para representar o padrão identificado (SÃO PAULO, 2009b, p.

11).

No CPEJA na situação de aprendizagem 2, do volume 4, o conteúdo

abordado envolve equações e fórmulas em que o objetivo é levar os alunos a

desenvolverem e exercitarem sua capacidade de abstração, generalização e a

Page 79: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

79

aquisição para resolverem problemas dentro do estudo de álgebra. Essa

atividade tem como meta a exploração da relação entre fórmulas e equações,

sendo que o trabalho com fórmulas foi considerado pelos autores como uma

estratégia muito eficaz para trabalhar com equações sem ter a preocupação de

“resolvê-las” (2010, p. 48).

De acordo com o CPEJA, o contexto de uma fórmula fornece significado

às letras que nela estão envolvidas e os alunos também podem, ao manusear

as fórmulas, fazerem a substituição de letras por números. Dependendo do

caso, podem encontrar alguns procedimentos para a resolução de uma

equação. A ideia principal nesse trabalho com fórmulas é que o aluno perceba

que as letras servem para representar um valor numérico qualquer.

Os exemplos sugeridos são os mais variados possíveis, usando como

estratégia a resolução de problemas com fórmulas relacionadas em diferentes

contextos que podem ser exploradas em sala de aula. Temos as fórmulas na

Geometria, onde o aluno deve substituir letras por números e depois resolver

as equações.

Uma das atividades propostas no CP solicita propõe aos professores

trabalhar com seus alunos numa pesquisa sobre fórmulas relacionadas ao

cálculo de áreas e perímetros:

Podemos iniciar esta atividade solicitando aos alunos que procurem no livro ou no caderno todas as fórmulas relacionadas ao cálculo de áreas e perímetros que eles aprenderam. A partir desta lista, o professor pode desenvolver uma série de atividades exploratórias, envolvendo a interpretação da sentença Matemática presente na fórmula, o significado das letras que a compõem, a obtenção de resultados a partir de valores numéricos, etc. (SÃO PAULO, 2009c, p.22).

Em seguida, trabalha com uma situação concreta para calcular o

perímetro do retângulo. Note-se que, embora a atividade se intitule “Fórmulas

na Geometria”, ela enfatiza o cálculo do perímetro conceitualmente e não

propriamente as fórmulas.

Page 80: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

80

Imagem 13. Exemplo da atividade “Fórmulas na Geometria” do CP – 6.ª série Fonte: São Paulo,6.ª série/7.ºano,vol.04, 2009c, p.22

Em cada situação de aprendizagem trabalha de uma maneira diferente a

ideia do conteúdo.

Page 81: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

81

Imagem 14. Exemplo da atividade “Fórmulas na Geometria” do CP – 6.ª série Fonte: São Paulo,6.ª série/7.ºano,vol.04, 2009c, p.23

O manual para o professor da EJA recomenda que os professores

estimulem seus alunos a resolver as atividades expressas no 2º Termo, volume

4, nas Situações de Aprendizagem 2, por meio de tentativas ou por processo

não formal de resoluções de problemas, onde o aluno usará raciocínio não

Page 82: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

82

convencional, por meio da utilização de diferentes estratégias. Depois então,

mostrar a resolução com a fórmula do perímetro.

Trabalha-se também com leituras e análises de texto relacionadas com

outras áreas de conhecimento:

As ciências, em geral, principalmente a Física, possuem um vasto repertório de fórmulas que podem ser usadas. Fórmulas ligadas ao cotidiano, como o cálculo do Imposto de Renda ou do consumo de energia em uma residência, constituem exemplos bastante significativos para trabalhar com os alunos (SÃO PAULO, 2009b, p.22).

O CPEJA sugere, para trabalhar com a fórmula do cálculo do Imposto de

Renda, dois textos intitulados “Para onde vai seu dinheiro do Imposto de

Renda?” e “O surgimento do Leão”. Sugere-se ainda que o aluno leia,

interprete e analise uma dada tabela, para em seguida calcular o imposto de

um determinado contribuinte e escrever a fórmula para o cálculo do imposto de

renda de uma determinada alíquota dada na referida tabela. Nesta atividade há

sugestão do uso da calculadora.

Na situação de aprendizagem 3, do volume 4, 2º Termo, o estudo da

álgebra se inicia com o desenvolvimento de procedimentos para resolução de

equações de primeiro grau com uma incógnita.

Uma das atividades sugeridas ao professor diz respeito aquela em que o

aluno deverá escrever a equação que se apresenta em linguagem Matemática

em forma de uma pergunta, usando a língua materna. Tem como objetivo

desenvolver a capacidade do aluno de resolver uma determinada equação por

meio do pensamento lógico.

Page 83: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

83

Imagem 15. Exemplo de atividade algébrica do Caderno do professor – 6.ª série Fonte: São Paulo,6.ª série/7.ºano,vol.04, 2009d, p.31

Para obter a resposta, o aluno poderá usar um raciocínio

exclusivamente aritmético, partindo do resultado final, invertendo as operações

das equações e chegar ao valor procurado, desfazendo a equação pelo

processo de operação inversa. Nesta situação simples, com coeficientes

inteiros, o aluno pode usar o cálculo mental, tomando cuidado na interpretação

do problema para evitar erros.

Percebemos que a atividade proposta contempla o princípio da

acessibilidade de Bishop (1997), uma vez que valoriza a capacidade intelectual

do aluno e respeita o seu ritmo de aprendizagem. Sendo assim, o conteúdo

está de acordo com as suas necessidades e capacidade intelectual.

Na situação de aprendizagem 4, volume 2, 2º Termo, são trabalhadas

noções de proporcionalidade, equações e a regra de três, por meio de

resoluções de problemas. A noção de proporcionalidade já foi assunto tratado

no volume anterior por meio da análise de tabelas e pelo conceito de razão.

Nessa situação de aprendizagem é introduzida a regra de três.

Page 84: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

84

A expectativa nesta situação de aprendizagem é fazer com que o aluno

consiga resolver problemas elementares com regra de três simples e

composta, com grandezas direta e inversamente proporcionais. Este tema é

retomado nas séries seguintes, com o aprofundamento do estudo.

Nesse sentido, antes do professor apresentar o método prático da “regra

de três”, o CP incentiva o professor a refletir sobre erros típicos que os alunos

cometem, e exemplifica: “Observe o seguinte erro típico cometido por muitos

alunos ao resolver uma equação como 32

1 x

. Resolução da equação

32

1 x

com erro típico 61 x , onde x = 5”. (2009d, p. 39). Comenta que

esse tipo de erro é bastante comum (“multiplicação em cruz”), entre o número 3

e o denominador da fração x/2.

Nas explicações contidas no CA evitou-se o uso da expressão “passa

para lá e muda de sinal”, fonte de inúmeros erros típicos dos alunos. Neste tipo

de atividade, a orientação dada é que se deve tomar bastante cuidado com a

forma de procedimento dos alunos na resolução de problemas de regra de três,

verificando se as grandezas se são diretamente ou inversamente

proporcionais. Para evitar estes tipos de erros os cadernos sugerem o uso o

principio da balança. Segue exemplo com procedimento correto da equação.

Imagem 16. Exemplo de atividade algébrica do Caderno do professor – 6.ª série Fonte: São Paulo,6.ª série/7.ano,volume 4, 2009e, p.40

Dentre as atividades comentadas no CPEJA para o 7º ano algumas

delas relacionam-se à ideia de equivalência. Para tanto, os autores defendem o

uso da imagem da balança, considerando que se trata de um recurso que pode

favorecer a compreensão das transformações utilizadas para resolver

Page 85: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

85

equações. Faz uso da analogia entre a manutenção do equilíbrio dos pesos de

dois pratos de uma balança e a igualdade dos lados de uma equação.

No 3º termo (7ª série/8º ano), a álgebra é comentada no volume 2, na

situação de aprendizagem 2, intitulada “Produtos notáveis: significados

geométricos”. A estratégia usada para aprender produtos notáveis que é o uso

da geometria, uma vez que os autores das orientações consideram que muitos

alunos enfrentam dificuldades na aprendizagem dos produtos notáveis. Essas

dificuldades não raro estão associadas à forma como aprenderam esse

conteúdo, com técnicas algébricas, sem atribuição de nenhum significado e

nem aplicações. O caderno do professor aconselha:

É importante que o aluno entenda que a igualdade (a + b)² = a² + 2ab + b² é uma forma simplificada de se calcular o produto ( a+b).(a+b) sem ter que fazer o seu desenvolvimento completo. Contudo, a simples memorização dessas expressões, desprovida de significado, não constitui o melhor caminho para a compreensão da álgebra pelos alunos (SÃO PAULO, 2009b,p.19).

As orientações para o professor da EJA afirmam que o uso da

linguagem geométrica (produtos notáveis) é um recurso importante para a

apropriação de significados dentro do contexto da álgebra. Um dos

procedimentos citados para facilitar o aprendizado de noções algébricas é a

visualização destas expressões por meio do cálculo de áreas e perímetros de

retângulos.

Entretanto, essa interpretação geométrica dos cálculos algébricos é

limitada e o trabalho do professor não pode apoiar-se exclusivamente nelas. As

orientações informam que há relatos de professores em relação a essa

visualização, indicando que as mesmas funcionam muito bem nas expressões

que envolvem apenas as adições, não acontecendo a mesma eficiência com

relação às subtrações.

O CP e o CPEJA recomendam várias atividades com problemas em

diferentes contextos tais como: expressões algébricas para áreas de

retângulos, quadrado da diferença de dois números, dentre outros.

O CP, na atividade 4, propõe que o professor discuta com sua turma a

representação geométrica da expressão algébrica (x + a) . (x + b), fazendo-os

Page 86: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

86

encontrar a expressão algébrica equivalente. Explica que esse produto pode

ser interpretado como a área de um retângulo cujas medidas dos lados são

(x + a) e (x + b). Ao decompor a figura pelas medidas x, a e b obtêm-se um

quadrado de lado x, um retângulo de lados x e a, um retângulo de lados x e b e

um retângulo de lados a e b, conforme representado na figura:

Imagem 17. Exemplo de atividade algébrica do Caderno do professor - 7.ª série Fonte: São Paulo,7.ª série/8.ºano,vol.02, 2009f, p.22

O que possibilita escrever a equação abxbxaxbxax 2)).(( , em

que a soma xa + xb pode ser interpretada (a + b)x, uma vez que os retângulos

podem ser realocados do seguinte modo:

Imagem 18. Exemplo de álgebra do Caderno do professor - 7.ª série Fonte: São Paulo,7.ª série/8.ºano,vol.02, 2009f, p.22

Page 87: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

87

Esse arranjo permite obter a seguinte configuração:

Imagem 19. Exemplo de atividade algébrica do Caderno do professor - 7.ª série Fonte: São Paulo,7.ª série/8.ºano,vol.02, 2009f, p.23

Ou seja, abxbaxbxax )()).(( 2.

O que se espera dos alunos ao finalizar este tópico é fazer com que eles

consolidem a combinação entre a álgebra e a geometria de modo a identificar e

fazer a aplicação de produtos notáveis em várias situações. O CPEJA lembra

ainda que esse assunto será retomado em outros momentos.

Contrariamente ao uso de técnicas sem nenhum significado e nem

aplicações, entendemos que essas propostas aderem ao princípio do poder

explicativo elaborado por Bishop (1997) que considera que na Matemática os

problemas devem ter significado e ser conhecidos pelos alunos, de modo que

possam compreender a realidade em que vivem. E, ainda, o princípio da

representatividade, quando afirma a importância da visualização de expressões

algébricas por meio da geometria para explicar os produtos notáveis,

procurando evidenciar explícita e formalmente os valores da cultura

matemática. Além disso, comparece o princípio da Visão Ampla e Elementar de

Bishop (1997), uma vez que essa abordagem combinando álgebra e , ao que

tudo indica, possibilita ao aluno a percepção do todo e a compreensão de

conceitos elementares.

No conteúdo da Situação de Aprendizagem 3, volume 2, 3º Termo,

expressa no CPEJA sob o título de “Álgebra: fatoração e equações”, em que o

foco é um trabalho contextualizado com produtos notáveis, fatoração, frações

algébricas e simplificações de forma contextualizada. De inicio, trabalha-se

Page 88: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

88

com a tradução de problemas na linguagem materna para a linguagem

algébrica. Também é abordada, neste tema, a distinção entre as ideias de

igualdade e identidade, sendo um importante passo para que o aluno

compreenda o uso de letras com o significado de incógnita e de variável. A

ideia é fazer a aproximação entre os conteúdos citados, onde um auxilia o

outro.

As atividades propostas envolvem o cálculo do valor numérico de um

polinômio, bem como o seu significado, tendo como contexto a área ou o

perímetro de retângulos e quadrados. Trabalha-se também nesta atividade

com a noção de identidade de polinômios. Outra atividade refere-se a um

problema cuja resolução deveria ser feita com cálculo mental e depois ser

traduzida em uma equação. Discutem-se ainda outros problemas onde as

respostas dependem de simplificações das frações algébricas.

A metodologia proposta no CPEJA consiste na exploração de uma forma

integrada das diversas funções da álgebra e na valorização do uso das

diversas linguagens sendo uma estratégia para aprender com significado e não

mecanicamente como regras. As atividades apresentadas valem-se de

conhecimentos algébricos, geométricos e aritméticos. No nosso entender,

destaca-se o princípio da representatividade de Bishop (1997) pois nessas

atividades não ocorre somente a preocupação com a tecnologia simbólica da

Matemática, mas sim, evidencia explícita e formalmente os valores da cultura

matemática com significados para explicar determinados fenômenos da

linguagem matemática.

Tomamos como exemplo uma atividade que relaciona a escrita de

expressões algébricas com o cálculo de áreas e de perímetros de retângulos e

também se refere à interpretação do valor numérico de um polinômio e à

igualdade entre dois polinômios, contidas no CP. Essa atividade é feita

inicialmente por cálculo mental – operação inversa para, em seguida, usar a

resolução da equação pela fatoração.

Page 89: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

89

A atividade solicita que os alunos leiam nos quadrinhos o problema que

Paulo propôs a João:

Imagem 20. Exemplo de atividade algébrica do Caderno do professor – 7.ª série Fonte: São Paulo,7.ª série/8.ano,vol.02, 2009g, p.36

Em seguida, o CP apresenta várias questões e suas soluções e comentários:

Page 90: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

90

Imagem 21. Exemplo de atividade algébrica do Caderno do professor – 7.ª série Fonte: São Paulo,7.ª série/8.ano,vol.02, 2009g, p.36.

A meta esperada nesta situação de aprendizagem é que “o aluno saiba

efetuar transformações em uma expressão algébrica por meio de fatorações,

simplificações e cancelamento, permitindo, de certa forma, uma generalização

de procedimentos aplicados nos cálculos aritméticos” (SÃO PAULO, 2009b,

p.42).

Page 91: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

91

No volume 3, 3º Termo do CPEJA, a Situação de Aprendizagem 2

também destaca a importância da leitura, da interpretação de enunciados e da

tradução das informações para uma linguagem algébrica. Nesse sentido,

trabalha-se, entre outros conteúdos, com sistemas de equações lineares, nos

métodos da substituição e da adição, sendo retomada a ideia da balança. A

estratégia é de desenvolver no aluno um caráter de compreensão do uso das

linguagens algébrica e gráfica aliados à análise e interpretação de um

problema com equações lineares.

Nas atividades de resolução de equações a princípio pede-se ao

professor não usar técnicas algébricas, mas sim, estimular os alunos a resolvê-

las por tentativas, cálculo mental, operação inversa, etc. Posteriormente poderá

ser proposta a resolução de algumas delas por meio de técnicas.

Um dos desafios sugeridos na Situação de Aprendizagem 2 é

apresentar o sistema de coordenadas cartesianas através de mapas e guias de

cidade, com objetivo de saber os conhecimentos prévios que os alunos

possuem sobre este assunto e consequentemente dentro do conteúdo de

álgebra trabalha-se a ideia de que para esta localização é necessária a

combinação de letras e números para poder encontrar a informação desejada.

Os alunos devem perceber que ó o cruzamento de duas informações que possibilita a localização da região em que se encontra a rua no mapa. Essas duas informações poderiam ser expressas também por duas letras ou por dois números, dependendo da convenção estabelecida pelo guia (SÃO PAULO, 2010b, p.66).

Segue exemplo da Situação de Aprendizagem 2, contido no Caderno

do Professor, volume 3, 7ª série, 8º ano:

Page 92: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

92

Imagem 22. Exemplo de atividade algébrica do Caderno do professor – 7.ª série Fonte: São Paulo,7.ª série/8ºano,vol.03, 2009h, p.27

A atividade permite a exploração e a construção de novas ideias, como

por exemplo, a representação de figuras, os deslocamentos no plano

cartesiano por meio de coordenadas usadas nos guias e mapas de ruas e as

transformações de translação e rotação no plano. Pretende-se com esta

situação de aprendizagem que os alunos compreendam o sistema de

coordenadas com sendo um jeito organizado e convencionado para fazer a

representação de objetos e a relações Matemáticas. O objetivo destas

atividades é fazer com que os alunos se familiarizem com as coordenadas

cartesianas e também com as representações gráficas de pontos no plano,

para posteriormente fazer as representações de equações e resolver sistemas

(SÃO PAULO, 2010b).

Page 93: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

93

O respeito que se tem ao ritmo do aluno, ao seu saber Matemático

extraescolar, às suas necessidades e capacidades cognitivas, nos dá a

perceber nesta atividade o princípio de acessibilidade proposto por Bishop

(1997). A atividade parte do contexto do aluno ou de seu grupo social para o

contexto Matemático, articulando os 3 níveis: formal, informal e técnico.

Na Situação de Aprendizagem 3, volume 3, 3º Termo CPEJA sugere que

o professor trabalhe com uma grande variedade de problemas e situações de

aprendizagens de resolução de sistemas de equações, que podem ser

resolvidos em duplas de alunos. Alguns desses problemas são apresentados

no CP, para a 7ª série, volume 3. A representação gráfica das equações no

plano e a análise das soluções do sistema, destacando quando o mesmo não

tiver solução, ou ainda, quando a solução é indeterminada, permite-nos

observar a presença do princípio da visão ampla e elementar proposto por

Bishop (1997), quando a oferta de uma grande variedade de situações de

aprendizagens e o incentivo às análises das situações Matemáticas

apresentadas estimulam o senso de investigação dos alunos envolvidos nas

atividades.

As atividades propostas no CPEJA envolvem diferentes métodos de

resolução de sistemas lineares, podendo o aluno escolher qual método deseja

aplicar. De acordo com o CP, muitos alunos aplicam o método da adição de

maneira automática, sem perceber a preservação da equivalência. O aluno

também “deve evitar a simples memorização ou automatização dos

procedimentos, pois isso acaba por gerar um aprendizado precário da álgebra,

potencializando erros e dificuldades posteriores” (SÃO PAULO, 2009a, p.38).

Aqui se percebe a presença do princípio da representatividade, quando afirma

que as ações devem evidenciar explícita e formalmente os valores da cultura

matemática (BISHOP. 1997).

O 4º Termo, volume 2, na Situação de Aprendizagem 1 do CPEJA,

explora as noções equação de segundo grau, seus métodos de resolução e

aplicação. Enfatiza procedimentos envolvendo a fatoração, entendendo ser

essencial que os alunos tenham uma visão mais abrangente dos processos de

resolução de uma equação. Também é trabalhada a fórmula de da equação

Page 94: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

94

polinomial do segundo grau. Porém, antes de desenvolver essa fórmula, que

sejam discutidos vários procedimentos e métodos na resolução de equações

de segundo grau. Para tanto, faz-se necessário a retomada de diversos

assuntos como, por exemplo, a fatoração e produtos notáveis, bem como a

interpretação geométrica em situações algébricas. Propõe que os alunos leiam

e discutam texto sobre o desenvolvimento histórico das equações, fazendo

relações envolvendo aspectos geométricos e algébricos.

O aprofundamento solicitado em relação aos processos de resolução de

uma equação possibilita que os alunos obtenham uma visão ampla e

conceitual, proporcionando ao aluno a compreensão do todo e o entendimento

dos conceitos elementares. Podemos entender que o princípio da visão ampla

e elementar de Bishop (1997) se faz presente nas atividades propostas no

CPEJA e no CP.

Combinações da álgebra com a geometria já foram exploradas

anteriormente e segue-se outro exemplo.

Page 95: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

95

Imagem 23. Exemplo de álgebra do Caderno do professor - 8.ª série Fonte: São Paulo,8.ª série/9.ºano,vol.02, 2009k, p.15.

O CP destaca que nas situações de aprendizagem propostas o aluno

pode construir uma série de habilidades algébricas e geométricas relacionados

com a Matemática. Ressalta ainda que, “enquanto o método geométrico

permite a escrita da equação na forma fatorada conhecida, o método algébrico

Page 96: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

96

permite a determinação de todas as soluções reais da equação, quando

existirem” (São Paulo, 2009k, p.24).

Além disso, o registro das conclusões dos alunos é muito importante

nessas atividades, pois podem expor suas dúvidas, opiniões e conclusões.

Através desta exposição com a participação do aluno, o professor perceberá a

compreensão do aluno, a necessidade de uma retomada de conteúdo ou ainda

um maior aprofundamento sobre o tema.

Neste tópico percebemos a presença do princípio do formalismo

(BISHOP, 1997), quando evidencia o trabalho com atividades e situações

concretas que possibilitem as construção e validação das propriedades

Matemáticas, as conclusões, opiniões, experienciação, antes mesmo de serem

formalizadas e fazendo as conexões entre a Matemática formal com a

Matemática informal do cotidiano do aluno.

Nos cadernos apresentados para a análise do conteúdo de álgebra

percebemos que de uma maneira geral os princípios propostos por (BISHOP,

1997), foram contemplados nas situações de aprendizagens de várias

maneiras. Segundo o entendimento de Januário (2012), os princípios estão

presentes porque,

... ao identificar capacidades, como indicadoras do desenvolvimento curricular, que promovem no aluno o posicionamento critico e responsável, a tomada de decisões, a busca de conhecimento e o exercício da cidadania o uso de diferentes linguagens para produzir e comunicar suas ideias, o questionamento de sua realidade, os saberes matemáticos desse aluno deve ser produto da enculturação entre aspectos formais e informais da cultura Matemática. Nessa perspectiva de formação, estão presentes nas diversas atividades Matemáticas os princípios de representatividade, formalismo, acessibilidade, poder explicativo e concepção ampla e elementar (2012, p.121).

A grande variedade de exemplos em diferentes contextos onde a

álgebra pode ser trabalhada e das relações que podem ser feitas com outras

áreas do conhecimento sugeridas no CPEJA e apresentadas no CP, a nosso

ver, possibilitam aprendizagens em diversas situações, articuladas com outros

contextos em diferentes áreas do saber, de modo que nesses manuais os

Page 97: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

97

princípios da concepção ampla e elementar e o poder explicativo se fazem

presentes.

Dentre os princípios propostos por (BISHOP, 1997), a acessibilidade

está presente no CPEJA e no CP, pois as atividades partem do contexto social

do aluno ou de seu grupo para o contexto da Matemática, articulando assim, os

níveis entre a cultura informal e técnica, estando de acordo com a capacidade

e necessidades intelectual de cada um. E também percebemos o princípio do

formalismo, pois as recomendações dos manuais sugerem que os alunos

apresentem diferentes estratégias para a resolução dos problemas, revelando

seus saberes matemáticos no nível informal conectando-os com os saberes

formal e técnico. Ainda, as propostas e atividades presentes no CPEJA e no

CP aderem igualmente ao princípio da representatividade elaborado por Bishop

(1997), quando afirmam a importância da visualização de expressões

algébricas por meio da geometria para explicar os conteúdos matemáticos,

procurando evidenciar explícita e formalmente os valores da cultura

Matemática.

Dentre as tendências descritas por Fiorentini (1995) (a formalista

clássica, a empírico-ativista, a formalista moderna, a tecnicista, a construtivista

e a sócioetnoculturalista), verificamos que os cadernos (CPEJA e CP)

observam a tendência empírico-ativista, uma vez que as atividades envolvem a

aplicação do método da descoberta ou da resolução de problemas,

trabalhando com situações de seu dia a dia.

Os cadernos não enfatizaram a tendência formalista clássica, pois não

se observou uma preocupação relativa à justificação e argumentação, de modo

que as situações de aprendizagem destacassem as demonstrações, de forma

acentuadamente técnica e formal.

A tendência formalista moderna não se faz presente, na medida em que

as abordagens discutidas nos cadernos não estão centralizadas nas estruturas

algébricas não tendo como finalidade maior a formação do especialista

matemático.

Page 98: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

98

A tendência tecnicista também não é enfatizada nos referidos cadernos

pois as situações de aprendizagem propostas nesses manuais tinham a

preocupação de fundamentar, justificar, dar significados aos conteúdos, não

trabalhando apenas com regras, técnicas para capacitar o aluno a resolver

atividades de acordo com modelos, sem nenhuma discussão.

A presença da tendência construtivista é percebida nesses manuais pois

nas atividades apresentadas são propostas a discussão, a análise e a

experimentação das situações problemas. Procura-se construir os conceitos

matemáticos e as estruturas cognitivas desenvolvidas de acordo com o ritmo

de cada aluno. A Matemática informal é explorada e contextualizada com a

Matemática formal. Sendo assim, percebemos também a presença da

tendência sócioetnoculturalista, onde a Matemática é produzida nas diferentes

culturas, ocorrendo a troca de conhecimentos e a realidade dos alunos é

aproveitada para trabalhar os conteúdos propostos, tornando a aprendizagem

da Matemática mais significativa.

Page 99: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

99

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração deste estudo partiu das inquietações sobre como auxiliar

os jovens e adultos em seu aprendizado de Matemática, verificando as

permanências e as inovações ocorridas, particularmente no que tange ao

conteúdo algébrico, dentro dos currículos prescritos para a EJA no segmento

do Ensino Fundamental II de 1983 até 2010, no Estado de São Paulo.

Primeiramente procuramos conhecer um pouco mais sobre o ambiente

escolar em que jovens e adultos buscam seu aprendizado. Para este estudo

realizamos uma pesquisa junto ao Centro Supletivo de Registro/SP, onde se

concentra grande parte desses alunos moradores das cidades vizinhas, num

total de quatorze municípios. Os documentos oficiais analisados para os dados

da pesquisa foram o Plano de Gestão (2007/2010) e a Proposta Pedagógica

(2011) daquela unidade escolar.

Os documentos apresentados dizem respeito à cidade de Registro/SP,

sobre sua fundação, localização, economia e outras informações concernentes

à população de jovens e adultos. Citamos a criação de outros centros

supletivos cujo objetivo é o reconhecimento do direito de estudar dos jovens e

adultos e de dar continuidade aos seus estudos, desenvolvendo assim suas

capacidades, sejam elas cognitiva, ética, afetiva, estética e suas relações

interpessoais.

Apresentamos também um breve panorama histórico sobre a educação

de jovens e adultos no Brasil, a qual foi marcada por ser um ensino excludente,

onde os saberes foram negados por muito tempo, com seu inicio no período do

Brasil Colônia. Para esse relato utilizamos documentos oficiais como

Constituições brasileiras, Plano Nacional de Educação, Leis, inclusive a Lei de

Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996.

As teorias que fundamentam este estudo foram extraídas do artigo de

autoria de Dario Fiorentini (1995) intitulado “Alguns modos historicamente

produzidos de ver e conceber o ensino da Matemática no Brasil”, o qual

descreve algumas tendências pedagógicas passíveis de serem verificadas na

Page 100: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

100

educação Matemática brasileira, em particular, na EJA e os cinco princípios da

Educação Matemática escolar analisados por Alan J. Bishop na obra intitulada

“Mathematical enculturation: a cultural perspective on mathematics education”,

publicada em 1997, quando o autor defende que as propostas curriculares para

a Educação Matemática devem incluir conhecimentos ligados à cultura

Matemática.

O que se depreende nesta pesquisa sobre permanências e inovações

ocorridas no período de 1983 até 2010, nos currículos de Matemática para a

EJA prescritos no estado de São Paulo é que, em relação às permanências,

os conteúdos algébricos continuaram a ser tratados numa linguagem formal e

rigorosa. As permanências cessam nesse ponto, pois os cadernos publicados a

partir de 2009 apresentaram uma abordagem inovadora para o estudo da

Álgebra, proporcionando uma aprendizagem mais motivadora e significativa

para os alunos, por meio da utilização de variados recursos metodológicos.

Das análises efetuadas nas Unidades Escolares de 1983 podemos

inferir que, de uma maneira geral, o ensino dos conteúdos algébricos

caracterizou-se pela memorização, mecanização e na reprodução através das

enormes listas de exercícios, na repetição de conceitos ou fórmulas. Os

conteúdos algébricos são apresentados de maneira conceitual, exemplificado e

com exercícios repetitivos que levam a memorização dos conteúdos. Em

outras palavras as Unidades Escolares trabalham com a chamada “Matemática

Tradicional”, pois se percebe a ênfase na memorização de regras e a

valorização do conteúdo desvinculado da prática.

Nesse caso, o papel do professor era sanar as dificuldades

apresentadas pelo aluno, para que o mesmo obtivesse sucesso na resolução

dos problemas e posteriormente fosse avaliado. Na exposição dos conteúdos

não são sugeridos outros materiais para enriquecer ou complementar os

assuntos tratados nas Unidades Escolares. Caso não atingisse os objetivos

propostos para os conteúdos algébricos, solicitava-se ao aluno refazer as

atividades propostas e, posteriormente, efetuar uma autoavaliação de seu

aprendizado.

Page 101: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

101

Ao que tudo indica, essas unidades escolares tinham como objetivo

fazer com que o aluno estudasse sozinho (autodidata), em que a

aprendizagem baseia-se na memorização e na reprodução, na imitação e

repetição dos procedimentos e raciocínios do livro-texto. Percebeu-se, dessa

forma, a presença da tendência tecnicista, pois nas atividades propostas nas

Unidades Escolares para o ensino da Álgebra enfatizam-se técnicas, regras e

algoritmos para capacitar o aluno para a resolução de exercícios. Os

conteúdos aparecem em sequência e em forma de instrução programada, onde

o aluno deve realizar uma série de exercícios em conformidade com um

modelo explicitado, enfatizando a memorização.

Não se verificou, nas análises efetuadas nas Unidades Escolares de

1983, os princípios da Enculturação, na forma proposta por Bishop (1997).

Quanto ao Caderno de Orientações para Professores da EJA (CPEJA),

publicado em 2010, e os problemas especificados no Caderno do Professor

(CP), publicados em 2009, pudemos observar que ambos trabalham com

situações de aprendizagem de conteúdos algébricos, relacionando-os a

assuntos de outras áreas de conhecimento; apresentam informações

complementares que vão além dos conteúdos; fazem sugestões tanto para se

trabalhar em sala de aula quanto para realizar pesquisas. Também apresentam

desafios, elaboram comentários sobre os problemas propostos e enfatizam o

procedimento de revisões regulares para verificar o que o aluno aprendeu.

Além disso, apresenta textos extraídos de revistas, livros, jornais, internet e

outros meios, estimulando assim a leitura e interpretação dos mesmos.

Os conteúdos são retomados em vários momentos e articulados entre si.

Os autores dos referidos cadernos também têm a preocupação de abordar os

conteúdos algébricos em um contexto atual, procurando deixar o mais próximo

possível da realidade do aluno, valorizando seus conhecimentos prévios como

ponto de partida para introduzir novos conteúdos.

No início de cada atividade são descritos os conteúdos, as

competências, as habilidades, as estratégias metodológicas e o que se espera

dos alunos em cada série/ano. Os Cadernos de Orientação do Professor para

Page 102: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

102

a EJA sugerem situações de aprendizagem que auxiliam o profissional no

ensino dos conteúdos disciplinares específicos e na aprendizagem dos alunos.

Nesse sentido, o CPEJA procura trabalhar a interação entre os conteúdos

matemáticos e a promoção das competências indispensáveis ao enfrentamento

dos desafios sociais, culturais e profissionais do mundo contemporâneo.

As análises efetuadas levam a crer que o CPEJA e o CP evidenciam o

conjunto dos cinco princípios da Enculturação propostos por Bishop (1997). A

representatividade, ao evidenciar valores da cultura Matemática, ou seja, ideias

simbólicas e teóricas; o formalismo, ao fazer conexões entre a Matemática

formal e a Matemática do dia a dia; a acessibilidade, pois as sugestões de

atividades estavam acordadas com as necessidades e a capacidade intelectual

do aluno; o poder explicativo, ao sugerir problemas algébricos acessíveis a

todos os alunos e que poderiam promover a compreensão da realidade em que

vivem; e a concepção ampla e elementar, ao recomendar atividades que

proporcionassem ao aluno a compreensão do todo e o entendimento dos

conceitos algébricos em diferentes áreas do saber . Quanto às tendências

pedagógicas descritas de Fiorentini (1995), foram percebidas de forma

destacada, duas delas: a tendência construtivista e a sócioetnoculturalista.

Assim, finalizamos este trabalho na expectativa de que as análises

efetuadas possam abrir novas possibilidades de investigação, concorrendo

para melhoria da prática do professor de Matemática, ao refletir sobre os

processos de ensino e da aprendizagem, dando significado à Matemática

escolar e incentivando os jovens e adultos a prosseguir em sua trajetória de

formação.

Concluindo, depreende-se que o Caderno de Orientação do Professor

para a EJA e o Caderno do Professor procuram auxiliar o professor de modo a

propiciar ao aluno condições de construir seu aprendizado, enquanto que as

Unidades Escolares voltavam-se a uma prática que, provavelmente, faziam

com que o aluno transcrevesse os exemplos aplicados, sem favorecer a

compreensão dos conceitos matemáticos apresentados.

Page 103: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

103

REFERÊNCIAS

ARAUJO, Nelma Sgarbosa Roman. A educação de jovens e adultos e a solução de problemas matemáticos. Dissertação (Mestrado em Educação

para a Ciência e o Ensino de Matemática). Universidade Estadual de Maringá, 2007.

BEISIEGEL, Celso de Rui. Estado e educação popular: um estudo sobre a educação de adultos. São Paulo: Pioneira, 1974.

BISHOP, Alan J. Mathematical enculturation: a cultural perspective on

Mathematics education. 3. ed. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, 1997. 195 p. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB. Disposições Gerais da Lei 9394/96.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. Brasília: Senado Federal, 2013. Disponível em <

http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988_05.10.1988/CON1988.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2013.

BRASIL. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei de diretrizes e bases da educação nacional. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/ L9394.htm>. Acesso em: 17 de out. 2012.

BRASIL. Ministério da educação/Conselho nacional da educação. PARECER CNE/CEB 11/2000. Diretrizes curriculares nacionais para a educação de jovens e adultos. Diário Oficial da União, 2000.

Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares

nacionais: Matemática /Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília : MEC

/SEF, 1998.p.148

CASÉRIO,Vera Mariza Regino. Educação de jovens e adultos: pontos e

contrapontos, Bauru: EDUSC,2003.

CUNHA, Conceição Maria da. Introdução - discutindo conceitos básicos. In: _____. Salto para o futuro: educação de jovens e adultos. Brasília: Ministério

da educação, SEED, 1999. p. 9-17.

FIORENTINI, Dario. Alguns modos de ver e conceber o ensino da Matemática no Brasil. Revista Zetetiké, Campinas, ano 3, n. 4, p. 01-37, 1995.

FONSECA, Maria da Conceição. Educação Matemática de jovens e adultos: especificidades, desafios e contribuições. primeiroed. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

FREIRE,Paulo. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

Page 104: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

104

JANUÁRIO, Gilberto. Currículo de Matemática da educação de jovens e adultos: análise de prescrições na perspectiva cultural da Matemática. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2012.

KERN, Newton Bohrer; GRAVINA, Maria Alice. Introdução ao Pensamento Algébrico por Meio de Relações Funcionais. In: BÚRIGO, Elisabete Zardo et.al. A Matemática na escola: novos conteúdos, novas abordagens. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2012.

PAIVA, Vanilda Pereira. Educação popular e educação de jovens e adultos. Rio de Janeiro: Edições Loyola,1973.

REGISTRO/SP. Câmara Municipal de Registro. Disponível em: <http://www.camararegistro.sp.gov.br/historiacidade/historia/historia-dacidade/> Acesso em: 05 de Jun. 2012a.

REGISTRO/SP. Prefeitura Municipal de Registro. Disponível em:

<http://www.registro.sp.gov.br/ >. Acesso em: 05 de jun. 2012b.

REGISTRO/SP. SEADE: perfil da cidade de Registro. Disponível em: <http://www.seade.gov.br/produtos/perfil/perfil.php>. Acesso em: 05 de jun. 2012c.

RIBEIRO,Vera Masagão. Educação de jovens e adultos: novos leitores, novas leituras,Campinas:Mercado de Letras, 2001.

SÃO PAULO. Plano de gestão escolar 2007- 2010 da unidade de Registro/SP. Secretaria de Estado da Educação, 2010a.

SÃO PAULO. Projeto político pedagógico do C.E.E.J.A. “Ricardo José Poci Mendes”. Diretoria de Ensino – Região de Registro/SP, 2011.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo Coordenação Geral. Educação de jovens e Adultos: orientação para o professor, Ensino

Fundamental. São Paulo: SEE, 2010b.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Central de Atendimento. Cadastro dos CEEJAS com data de criação. Disponível em <HTTP://www.https://blu176.afx.ms/att/GetAttachment.aspx?file=51642896-6371-41f3-8f0c-f9b14fb2>. Acesso em 23 out. 2012.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Matemática: Supletivo primeiro grau. Unidades 01, 1983a.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Matemática:

Supletivo primeiro grau. Unidades 02, 1983b.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Matemática:

Supletivo primeiro grau. Unidades 09, 1983c.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Matemática: Supletivo primeiro grau. Unidades 13, 1983d.

Page 105: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

105

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Matemática:

Supletivo primeiro grau. Unidades 15, 1983e.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Matemática: Supletivo primeiro grau. Unidades 16, 1983f.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Matemática:

Supletivo primeiro grau. Unidades 17, 1983g.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Matemática: Supletivo primeiro grau. Unidades 19, 1983h.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.Proposta Curricular. Caderno do aluno. Matemática.Ensino Fundamental – 8.ª série/9.º ano 1.º volume. São Paulo: SEE, 2009a.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.Proposta Curricular. Caderno do Professor. Matemática. São Paulo: SEE, 2009b.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.Proposta Curricular. Caderno do Professor. Matemática. São Paulo: SEE, 2009c

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.Proposta Curricular. Caderno do Professor. Matemática. São Paulo: SEE, 2009d.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.Proposta Curricular. Caderno do Professor. Matemática. São Paulo: SEE, 2009e.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.Proposta Curricular. Caderno do Professor. Matemática. São Paulo: SEE, 2009f.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.Proposta Curricular. Caderno do Professor. Matemática. São Paulo: SEE, 2009g.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.Proposta Curricular. Caderno do Professor. Matemática. São Paulo: SEE, 2009h.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.Proposta Curricular. Caderno do Professor. Matemática. São Paulo: SEE, 2009i.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.Proposta Curricular. Caderno do Professor. Matemática. São Paulo: SEE, 2009j.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.Proposta Curricular. Caderno do Professor. Matemática. São Paulo: SEE, 2009k.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.Proposta Curricular. Caderno do Professor. Matemática. São Paulo: SEE, 2009l.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.Proposta Curricular. Caderno do Professor. Matemática. São Paulo: SEE, 2009m.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.Proposta Curricular. Caderno do Professor. Matemática. São Paulo: SEE, 2009n.

Page 106: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

106

SOARES, Leôncio José Gomes. Diretrizes curriculares nacionais: educação

de jovens e adultos, Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2002.

Page 107: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

107

ANEXOS

ANEXO 01- Conteúdos de Matemática das 24 Unidades Escolares (UE)

UEs Assuntos abordados

1 Uso dos sinais = (igual), ≠ (diferente), ‹ (menor) e › (maior); Ordem crescente e decrescente; Expressão numérica que envolve adição, subtração, multiplicação e divisão; Determinação de um valor desconhecido em uma adição e subtração.

2 Sistema de numeração; Sistema de numeração decimal (unidade simples, dezenas e centenas); Classes; Valor relativo e valor absoluto; Sistema de numeração romano; Expressões numéricas usando sinais de fechamento; Determinação de um valor desconhecido em uma multiplicação e em uma divisão.

3 Numerais decimais; Comparação de decimais; Adição de numerais decimais; Subtração de numerais decimais; Multiplicação de numerais decimais.

4 Divisão de dois numerais decimais; Multiplicação de numerais decimais por 10,100 ou 1000; Divisão de numerais decimais por 10, 100 ou 1000.

5 Sistema monetário brasileiro; O cheque; As operações adição, subtração, multiplicação e divisão e a porcentagem.

6 Contagem e medida; Unidades de medida de comprimento; Sistema métrico-decimal; Medidas de capacidade; Medidas de massa; Operações e problemas.

7 Elementos e conjuntos; Formação de conjuntos; Relação de pertinência entre elemento e conjunto; Subconjunto; Conjuntos iguais; Operações com conjuntos; Diferença de dois conjuntos.

8 Sistema de numeração decimal; Conjunto dos números naturais; Subconjuntos de N; Reta numerada; Adição em N e propriedades; Subtração em N; Multiplicação em N e propriedades; Divisão em N; Potenciação em N e propriedades; Radiciação em N; Expressões numéricas em N.

9

Números inteiros relativos ou números inteiros; Conjunto dos números inteiros; Representação de números inteiros na reta numerada; Simétrico de um número inteiro; Módulo ou valor absoluto de um número; Operações com números inteiros; Adição, subtração, multiplicação,divisão,potenciação, Propriedades da adição e multiplicação; Expressões numéricas; Cálculo de número desconhecido.

10 Divisibilidade; Divisores e múltiplos; Números primos e números compostos; Decomposição de um número em fatores primos; Cálculo do MDC de dois ou mais números, através da decomposição em fatores primos; Cálculo do MMC de dois ou mais números através da decomposição em fatores primos; Regra prática para determinar o menor múltiplo comum.

11 Conceito de fração; Leituras de frações; Tipos de frações; Classes de equivalência; Simplificação de frações; Redução a um mesmo denominador; Comparação de frações; Frações negativas; Números racional; Conjunto dos números racionais; Reta numerada dos números racionais; Subconjuntos de Q.

12 Módulo ou valor absoluto de um número; Adição e subtração em Q; Propriedades dos números racionais; Multiplicação em Q e propriedades; Divisão em Q; Potenciação em Q e propriedades; Radiciação em Q; Expressões numéricas em Q.Frações decimais; Dízimas periódicas;

13

Razão; Razões inversas; Razões inversas; Razão de duas grandezas; Escala; Proporção; Proporção contínua; Proporção múltipla; Quarta proporcional; Propriedade fundamental das proporções; Cálculo de um termo desconhecido; Grandezas diretamente proporcionais e grandezas inversamente proporcionais; Regra de três simples e regra de três composta; Porcentagem; Juros simples.

14 Conjunto dos números reais; Subconjunto de R; Radicais; Propriedades dos radicais; Simplificação de radicais; Comparação de radicais; Radicais semelhantes; Adição e subtração de radicais; Multiplicação e divisão de radicais; Potenciação de radicais; Radiciação de radicais; Racionalização de denominadores.

15

Variáveis; Expressões algébricas; Valor numérico de uma expressão algébrica; Monômios; Monômios semelhantes; Adição de monômios; Subtração de monômios;

Multiplicação de monômios; Divisão de monômios; Potenciação de monômios; Radiciação com monômios; Polinômios; Redução de termos semelhantes; Grau de um polinômio; Grau de um polinômio em uma variável; Adição de polinômios;

Page 108: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

108

Fonte: SÃO PAULO, 1983.

Subtração de polinômios; Dispositivo prático para a adição de dois polinômios; Dispositivo prático para a subtração de dois polinômios; Multiplicação de monômio por polinômio; Multiplicação de polinômio por polinômio; Divisão de um polinômio por um monômio;

Divisão de polinômio por polinômio.

16 Produtos Notáveis; Fatoração algébrica; Maior divisor comum de duas ou mais expressões algébricas; Menor múltiplo comum de duas ou mais expressões algébricas; Frações algébricas; Adição e subtração de frações algébricas; Multiplicação de frações algébricas; Divisão de frações algébricas.

17

Sentenças Matemáticas; Sentenças Matemáticas abertas e sentenças Matemáticas fechadas; Equação; Princípios de equivalência; Equações equivalentes; Técnicas para resolução de equações do 1° grau com uma variável; Técnica para resolução de equações do 2° grau com uma variável; Inequação; Princípios de equivalência de desigualdade, princípio aditivo e princípio multiplicativo.

18 Par ordenado; Produto cartesiano; Relação; Função; Técnicas de resolução de sistemas de equações do 1°grau com duas variáveis, método da substituição, método da adição.

19 Representação simbólica; Resolução de problemas.

20

Entes primitivos, ponto, reta e plano; Posições relativas de duas retas coplanares; Subconjuntos da reta: semi-reta, segmento de reta, segmentos colineares,, segmento consecutivos, segmentos adjacentes, segmentos congruentes ; Subconjuntos do plano; Curvas.

21

Ângulos; Ângulos consecutivos; Ângulos adjacentes; Ângulos opostos pelo vértice; Medida de um ângulo; Ângulos congruentes; Ângulos agudos; Ângulo reto; Ângulos obtusos; Ângulos suplementares; Ângulos complementares; Adição e subtração de ângulos; Ângulos formados por duas retas coplanares e uma transversal; Propriedades dos ângulos; Polígono; Polígono convexo: elementos dos polígonos.

22 Triângulos; Classificação dos triângulos; Razão de segmentos; Segmentos proporcionais; Triângulos semelhantes.

23 Congruência de triângulos; Teorema, teorema de Tales; Triângulo retângulo; Razões trigonométricas no triângulo retângulo;

24 Relações métricas no triangulo retângulo; Teorema de Pitágoras; Aplicações do teorema de Pitágoras; Quadriláteros; Trapézios; Paralelogramo; Circunferência; Áreas de regiões planas.

Page 109: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

109

ANEXO 02– Conteúdos de Matemática do Caderno de Orientações para o

Professor

Caderno de Orientações para o Professor - TERMO 1 (6º ano do Ensino Fundamental) SITUAÇÃO

DE APRENDI-

ZAGEM

VOLUME 1

1

Sistema de numeração decimal; Ordem (unidade, dezena, centena etc); Problemas envolvendo as 4 operações; Desfazendo operações (operação inversa); Expressões numéricas; Tabuadas; Comutatividade; Cálculo Mental (ou escrito, exato ou aproximado, estimativas).

2

Múltiplos; Divisores Comuns e máximo divisor comum; Sequências numéricas; Mínimo múltiplo comum e divisores de um número natural; Números primos; Sequências numéricas e múltiplos; MMC; MDC; Potenciação.

3

Representação fracionária; Numerador e denominador; Nomenclatura: Décimos, meios, terços, quartos, avós...; Números mistos; Fração; Medidas.

4

Equivalência; Fração de um número natural; Escritas fracionárias; Fração equivalentes; Comparação de frações; Adição e subtração de frações.

VOLUME 2

2

Notação decimal; Frações decimais; Números decimais; Operações de adição e subtração de números racionais; Representação decimal com números decimais; Sucessor e antecessor nos naturais; Representação de um número racional; Decomposição de números decimais; Linguagem mista (número natural e língua materna); Submúltiplos: décimos, centésimos e milésimos; Equivalência entre submúltiplos da unidade; Multiplicação e divisão de números decimais por 10,100,1000...; Localização dos números decimais na reta; Comparação de números decimais; Operações com decimais.

4

Unidades padronizadas de comprimento e de massa; A criação do metro; Unidade de massa; Estimativas; Estimativa de medidas de massa; Transformação de medidas; Múltiplos e Submúltiplos do metro; Relação entre centímetro e polegada; Conversão de medidas: polegadas e centímetro.

VOLUME 3

1 Figuras planas e espaciais; Quadro com 50 figuras; Vocabulário geométrico.

2 Sólidos geométricos; Planificação do cubo.

3

Área de um polígono; Raciocínio lógico; Polígonos; Perímetro de um polígono; Operações com frações; Quadriláteros; Quadriláteros convexos e não-convexos; Triângulos: isósceles, escaleno e triângulo retângulo isósceles; Trapézios; Proporcionalidade com figuras geométricas; Desenhando na malha quadriláteros e triângulos; Desenhando polígonos na malha segundo medidas solicitadas; Desenhando polígonos na malha, que tenham determinada área; Desenhando em outra malha.

4

Áreas e perímetros de polígonos desenhados em malhas; Vocabulário geométrico; Ampliação e redução de figuras; Mosaicos; Medidas com o cálculo de área e perímetros a partir de unidades pré estabelecidas; Paralelismo e perpendicularismo; Ângulo; Figuras semelhantes; Gráficos; Problemas envolvendo porcentagem.

VOLUME 4

1 Tabelas; Gráficos; Porcentagens; Distribuição da água no mundo e quantidade de água per capita.

2 Gráficos :coluna, pictóricos; Leitura e interpretação de gráficos de colunas; Trabalho infantil no Brasil; Gráficos de linhas e de setores.

4 Média, mediana e moda.

Fonte: São Paulo, 2010b

Page 110: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

110

Caderno de Orientações para o Professor - TERMO 2 (7º ano do Ensino Fundamental)

SITUAÇÃ

O DE

APRENDI

-ZAGEM

VOLUME 1

2 Representação fracionária; Representação decimal; Frações equivalentes; Situações problemas envolvendo números racionais (fração e decimais); Divisão com decimais.

3 Multiplicação e divisão de frações; Problemas envolvendo multiplicação ou divisão de frações.

4 Números inteiros negativos; Números negativos e as operações bancárias; Números negativos na resolução de problemas; Números negativos e as operações monetárias; Cálculos com números negativos; Multiplicação e divisão com números negativos; Expressões numéricas envolvendo números negativos.

VOLUME 2

1

Medida de ângulo; Ângulo reto, agudo, obtuso e raso; Polígonos; Desenhando polígonos; Utilizando o transferidor.

3

Soma dos ângulos internos de um polígonos; Ladrilhamento do plano; Polígonos regulares; Polígonos convexos; Ângulos externos; Triângulos equiláteros; Quadrados; Hexágonos regulares; Mosaicos.

4

Poliedros regulares- leitura e análise de texto; Faces, arestas e vértices; Poliedros convexos; Figuras bidimensionais e tridimensionais; Figuras planas ; Figuras espaciais; Sólidos Geométricos; Relação de Euler.

VOLUME 3

1

Reconhecendo a proporcionalidade e os limites da proporcionalidade; Reconhecendo a proporcionalidade;Grandezas diretamente ou inversamente proporcionais; Duplex, tabelas e a proporcionalidade; Proporcionalidade entre duas grandezas; Razão da proporcionalidade.

2

O conceito de razão e escala; Densidade e PIB per capita; Probabilidade; Razão e proporcionalidade.

4

Gráficos, o relógio e a proporcionalidade; Gráficos de setores; Tabela; Proporcionalidade na circunferência, entre ângulos e arcos; Ângulos centrais correspondentes; Ângulos; Porcentagens; Medida de Ângulo central.

VOLUME 4

2

Fórmulas na Geometria; Fórmulas de Média Aritmética; Para onde vai seu dinheiro do Imposto de Renda? e O surgimento do Leão- leitura e análise de texto; A fórmula do imposto de Renda; Valor numérico; Resolução de equações por tentativas.

3

Representação de problemas: o equilíbrio na balança e a igualdade na equação; Resolução de equações fazendo as transformações solicitadas; Equação do primeiro grau com uma incógnita; Operação inversa; Equivalência.

4 Identificar a equação resolvida de maneira incorreta; Equações e proporcionalidade; Regra de três.

Fonte: São Paulo, 2010b

Page 111: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

111

Caderno de Orientações para o Professor – TERMO 3 (8º ano do Ensino Fundamental)

SITUAÇÃ

O DE APRENDI-

ZAGEM

VOLUME 1

1 Relação de equivalência; Organizando em classes de equivalência e a localização dos números racionais na reta; Fração equivalente; Representação fracionária dos números racionais.

2 Atividades sobre dízimas periódicas; Questões sobre dízimas periódicas; Geratriz; Fração irredutível.

VOLUME 2

2 Expressões algébricas para áreas de retângulos;Expressões algébricas; Quadrado da diferença de dois números; Fatorações; Produto notáveis; Cálculo de áreas e perímetros de retângulos; Cálculo algébricos.

3 Tradução algébrica de problemas; Problemas; Cálculo mental e equações; Propriedade comutativa e distributiva; Trinômio quadrados perfeitos; Diferença entre dois quadrados.

VOLUME 3

1

Tradução para a linguagem algébrica de problemas; Resolução de equações; Sentenças Matemáticas expressas na língua materna para a representação algébrica; Fatoração; Produtos notáveis; Frações algébricas; Simplificação; Polinômio; Cálculo do valor numérico de um polinômio; Área do retângulo e do quadrado; Perímetros do retângulo e do quadrado; Problemas representado por equações; Problemas com simplificações de frações algébricas.

2 Guia da cidade e coordenadas; Representação de figuras e deslocamento no plano; Transformação no plano(rotação e reflexão); Coordenadas dos vértices no polígonos desenhados em um plano.

3

Tradução de um problema por equações; Problemas; Balanças; Método da substituição; Método da adição; Sistemas; Equações, tabelas e gráficos; Sistemas e gráficos; Discussão de sistemas; Equações com mais de uma incógnita; Resolução de sistemas de equações; Representação de um sistema de equação no plano cartesiano; Equações lineares com duas incógnitas no plano cartesiano; Tipos de sistemas.

VOLUME 4

1

Equivalência de figuras planas; Área e perímetro do retângulo; Calculando áreas de figuras irregulares ou não poligonais; As fórmulas das áreas de figuras planas; Noção de equivalência de polígonos; Composição e/ou decomposição de polígonos; Cálculo de áreas de regiões poligonais; Equivalência de áreas de figuras planas.

Fonte: São Paulo, 2010b

Page 112: CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA … UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO YARA FLORÊNCIO SALES CURRÍCULOS PRESCRITOS DE MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 1983

112

Caderno de Orientações para o Professor – TERMO 4 (9º ano do Ensino Fundamental)

SITUAÇÃO

DE APRENDI-

ZAGEM

VOLUME 1

1

Problemas e conjuntos; Conjuntos e diagramas; Diagramas e lógica; Problemas, conjuntos e diagramas; Conjuntos numéricos dos naturais aos racionais; O número PI; Intersecção de conjuntos; Conjunto diferença; Relação de inclusão entre conjuntos; União dos conjuntos.

VOLUME 2

1

Problemas: Solucionadas por uma equações do 2 grau; Equações: irracional,exponencial, 3ºgrau e 4º grau; Representação geométrica, completando quadrados; Trinômios quadrados perfeitos e resolvendo equações de 2º grau; Completando quadrados; Métodos de resolução e aplicação na equação de 2º grau; Soma e produtos das raízes; Fórmula de Bhákara; Fatoração; Quadrado da soma; Quadrado da diferença de dois números.

2 Problemas que podem ser resolvidos por uma equação de 2º grau; Equações de 2º grau superior a 2; Perímetro, área, número de diagonais de um polígono, etc.

VOLUME 3

1 Ampliação e redução: o que se altera e o que não se altera? ; Razão de Semelhança; Ampliações e reduções: perímetros e áreas; Escala e razão; Ângulos correspondentes de duas figuras semelhantes; Congruência; Noção de homotetia.

2

Triângulos semelhantes: reconhecimento; Triângulos semelhantes: contextos e aplicações; Ângulos correspondentes congruentes; Congruência entre ângulos; Retas paralelas e transversais; Ângulos alternos; Ângulos opostos pelo vértices;Sugestão: semelhança entre cordas, arcos e ângulos.

3 Pitágoras: significado, contextos; Triângulos retângulos: métrica e semelhança; Teorema de Pitágoras; Semelhança entre dois triângulos; Semelhança de triângulo retângulo e relação métrica de triângulo retângulo.

VOLUME 4

2 Área do círculo;Fórmula da área do círculo; Circunferência, diâmetro e o número PI; Proporcionalidade entre figuras geométricas simples; Cálculo de áreas e perímetros de figura circulares; Área do círculo inscrito em quadrado.

Fonte: São Paulo, 2010b