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73 81 Currículo, Inovação e Flexibilização na perspetiva académica Jesus Maria Sousa Universidade da Madeira Introdução Enquanto académica da área dos Estudos Curriculares, que analisa o fenómeno educativo de um ponto de vista macro, pretendo fundamentar, neste texto, a necessidade de o Currículo se adaptar às exigências dos nossos tempos e contextos, convidando-vos a refletir comigo sobre as opções político-filosóficas e sociais que têm marcado a escola em geral. Falo da escola porque existe uma relação direta com o Currículo (numa definição mais ampla, entendendo-o como tudo o que se aprende na escola, após as perdas que se operaram desde que foi idealizado (currículo ideoló- gico), passado a escrito (currículo formal, oficial, expresso), entendido pela escola (currículo percebido), posto em prática pelos professores (currículo operacional), até chegar ao que foi vivenciado pelos alunos (currículo experiencial) Como vemos, o currículo real abarca uma pequena parte do currículo oficial. Mas por outro lado, sendo tudo o que se aprende na escola, também abarca grande parte veiculada de forma sub-reptícia, como os papéis sociais, sexuais, através das atitudes, relações, organização e funcionamento da escola, ou seja, o currículo oculto Em todo o caso, o cerne do currículo é o conhecimento que se pretende passar às novas gerações (conhecimento significativamente construído), seja ele entendido como conteúdo em si, atitudes, habilidades, competências Por isso, a fundamentação académica de um currículo flexível e aberto à inovação não pode deixar de se basear na rutura de paradigma que atravessa o pensamento científico: o espaço-tempo que é o nosso já não é o mesmo do nascimento da escola pública, não podendo por isso funcionar nos mesmos moldes do seu passado Vejamos então porquê

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Currículo, Inovação e Flexibilização na perspetiva académica

Jesus Maria SousaUniversidade da Madeira

Introdução

Enquanto académica da área dos Estudos Curriculares, que analisa o fenómeno educativo de um ponto de vista macro, pretendo fundamentar, neste texto, a necessidade de o Currículo se adaptar às exigências dos nossos tempos e contextos, convidando-vos a refletir comigo sobre as opções político-filosóficas e sociais que têm marcado a escola em geral.

Falo da escola porque existe uma relação direta com o Currículo (numa definição mais ampla, entendendo-o como tudo o que se aprende na escola, após as perdas que se operaram desde que foi idealizado (currículo ideoló-gico), passado a escrito (currículo formal, oficial, expresso), entendido pela escola (currículo percebido), posto em prática pelos professores (currículo operacional), até chegar ao que foi vivenciado pelos alunos (currículo experiencial) Como vemos, o currículo real abarca uma pequena parte do currículo oficial. Mas por outro lado, sendo tudo o que se aprende na escola, também abarca grande parte veiculada de forma sub-reptícia, como os papéis sociais, sexuais, através das atitudes, relações, organização e funcionamento da escola, ou seja, o currículo oculto

Em todo o caso, o cerne do currículo é o conhecimento que se pretende passar às novas gerações (conhecimento significativamente construído), seja ele entendido como conteúdo em si, atitudes, habilidades, competências

Por isso, a fundamentação académica de um currículo flexível e aberto à inovação não pode deixar de se basear na rutura de paradigma que atravessa o pensamento científico: o espaço-tempo que é o nosso já não é o mesmo do nascimento da escola pública, não podendo por isso funcionar nos mesmos moldes do seu passado Vejamos então porquê

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1. A escola fabril dos tempos modernos

A escola que temos é fruto da Modernidade E sabemos que a Modernidade surge num quadro de rompimento com o passado, com raízes na Renas-cença, alicerçada pela Reforma, e mais tarde assumida como projeto social pela Revolução Francesa, rompimento esse que ganha um novo alento na transição do século XIX para o século XX, suportado numa crença absoluta na ciência e na tecnologia, como meios de resolução dos problemas sociais ou naturais que assolavam a humanidade Foram estes os quatro grandes pilares da Modernidade: a Renascença, a Reforma, a Revolução Francesa e a Revolução Industrial, em rutura com a tradição medieval dogmática e religiosa, a partir da defesa de uma ciência racional, de uma racionalidade “na ausência de toda a metafísica” (WEBER, 1968)

Para proceder a uma reflexão sobre a Modernidade, Andy Hargreaves (1998) socorre-se de quatro níveis de análise: o económico, o político, o organizacional e o pessoal

Ao nível económico, considera este autor que a Modernidade marca a passagem do locus de trabalho da família, onde se fazia de tudo um pouco, para a fábrica, onde a especialização se extremiza, dando início ao processo de produção em série, característico do capitalismo monopolista ou do socialismo de Estado, como formas de aumentar a produtividade e a eficácia. Os processos de trabalho passam a ser altamente especializados, separando os gestores dos trabalhadores, a planificação da execução, o trabalho de pensar do de fazer

Ao nível político, associa ele a Modernidade à consolidação do Estado Nação, enquanto força militar, e ao aparecimento do Estado Providência a regular a relação entre, por um lado, a educação, a saúde e a segurança social e, por outro, a economia. Afirma que a centralização do poder, diretamente ligada às tomadas de decisão, e a aplicação de políticas económicas Key-nesianas, tornam o Estado mais forte e intervencionista, isto é, um Estado planificado, paternalista, que “tanto protege como vigia a população em redes cada vez mais amplas de regulação, de controlo e de intervenção” (op cit : 30)

Refere, ao nível organizacional, que estes princípios se refletem em pesadas máquinas burocráticas, fortemente hierarquizadas e segmentadas em divisões de competência técnica

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Finalmente, ao nível pessoal, considera que a organização deste tipo de sistema, com este tipo de ordem, se por um lado pode conferir algum sentido de identidade e pertença coletiva, por outro, também pode conduzir à alienação ditada pela impessoalidade racional

A leitura destes princípios no plano concreto da escola da Modernidade parece ser evidente: determina-se que a aprendizagem deixe de ser natural, no seio da família, e se faça num local próprio, escola, com especialização de tarefas e abarcando o maior número possível de crianças e jovens, importando da fábrica a ideia de produção em série

O ensino em massa podia afinal ser um meio poderosíssimo de domestica-ção das mentes, disciplinador de atitudes e costumes (como a pontualidade, por exemplo, numa lógica de divisão do tempo em partes sempre iguais, quer fizesse sol ou chuva, o que não era assim tão fácil para quem estava habituado a trabalhar no campo, num tempo regulado pelas estações do ano), atitudes e costumes esses necessários a uma maior produtividade Tal como nas fábricas, importava alcançar um máximo de eficácia, com um mínimo de tempo e de custos A racionalidade técnica que impregnava o mundo do trabalho, num contexto de Revolução Industrial, acentuava assim a relação entre os meios e os fins.

Em 1911, Frederick Taylor havia desenvolvido, para a indústria, uma teoria de gestão científica (scientific management) partindo da chamada “job analysis”, ou seja, análise detalhada de gestos, sequências e tempos neces-sários para a execução de tarefas Lembremo-nos dos “Tempos Modernos” do Charlie Chaplin

Ora, o modelo curricular proposto por Franklin Bobbitt visava transferir para a escola esta cultura de eficácia científica, inspirado nas fábricas, uma vez que “a educação [era] um processo de moldagem, tanto quanto a manufactura de carris de aço ” (1918: 259)

O ordenamento lógico e o controlo através de elementos como a campai-nha, a sincronização, a concentração num edifício fechado, a estratificação por anos e níveis de ensino, a divisão dos alunos por idades, a assunção de duas classes sociais (professores, por um lado e alunos, por outro) e, acima de tudo, a compartimentação dos saberes, num alheamento total relativamente às emoções e aos afetos, marca assim a escola fabril dos tempos modernos

A “gestão científica” do ensino exigia um design preciso, tendo em vista alcançar objetivos gerais e específicos, categorizados em objetivos cogni-tivos (BLOOM et alli, 1956), afetivos (KRATWOHL, 1972), e psicomotores

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(HARROW, 1972), e desdobrados em comportamentais e operacionais (MAGER, 1976; 1977), sem qualquer tipo de questionamento social, político ou mesmo epistemológico. O Rationale Tyler, enquanto teoria linear e prescritiva de instrução inaugura o currículo tecnológico, centrado no “como?”, dos métodos e das técnicas de ensino, mais do que no “quê?” e no “para quê?”, não dando espaço para nos assumirmos como verdadeiros profissionais de educação.

Como diz Alvin Toffler, a “ideia geral de reunir multidões de estudantes (matéria-prima) destinados a ser processados por professores (operários) numa escola central (fábrica) foi uma demonstração de génio industrial” (TOFFLER, 1970: 393).

Portanto, podemos afirmar que essa escola estava em perfeita sintonia com o mundo moderno que glorificava a disciplinarização do saber, o tecnicismo, a objetividade, a simplificação, a produtividade e a eficácia sob o comando da instrução, atributos necessários para o mundo do trabalho de então

Mas serão estes os tempos que vivemos?

2. Rutura paradigmática

A resposta parece óbvia Todos nós sentimos que vivemos um tempo de mudança, e mudança em aceleração meteórica Sentimos isso não só nas pequenas coisas do dia-a-dia, nas rotinas, nos hábitos e comportamentos sociais, nas relações pessoais e familiares, como nas estruturas organiza-cionais, nas novas profissões e áreas científicas, nas missões e estratégias das instituições, nas ideologias político-partidárias que (já não) animam as tensões sociais, nos valores civilizacionais e, acima de tudo, na forma de organizar o pensamento Vivemos, como diz Boaventura Sousa Santos (1988), um momento de transição não só dos paradigmas societais como epistemológicos

E enquanto investigadora educacional, tenho a consciência de que neste novo cenário de transição paradigmática, já não há lugar para as certezas absolutas, nem para a segurança e estabilidade Predomina, pelo contrário, a certeza da incerteza, a dúvida sistemática, uma consciência crescente da descontinuidade, da rutura e da não-linearidade Para Edgar Morin (1990), estamos perante uma nova ordem que contempla igualmente a desordem; uma nova ordem que rejeita a divisão maniqueísta arrumada em razão e

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emoção; em direita e esquerda; em homem e mulher; em negro e branco, quando o nosso tempo é o tempo da mestiçagem

Poderíamos pensar que isso tem a ver particularmente com as ciências sociais e humanas, que “terão” uma visão muito particular do mundo Mas é toda a ciência que é ressignificada, com a participação das próprias ciências “duras” Edwin Hubble (1889-1953) provocou uma revolução, em 1929, quando conseguiu provar que a Via Láctea não era todo o universo… antes pelo contrário, que o universo se encontrava em plena expansão, comprovada pela existência de nebulosas de outras galáxias que se afastam de nós a velocidades tremendas Daqui à teoria do Big Bang de George Gamow (1904-1968) foi um passo

Será, no entanto, Albert Einstein (1879-1955), que inicialmente resistira à ideia de uma origem cósmica, a pôr em causa os conceitos newtonianos de espaço e tempo independentes, apresentando a ideia de espaço-tempo como uma única entidade geométrica, com a sua teoria da relatividade (rela-tividade especial em 1905, e relatividade geral, em 1915, em que acrescenta os efeitos da gravidade)

Gaston Bachelard (1993), quando se refere à era do novo espírito científico, em contraposição à fase pré-científica e científica, diz claramente que é essa primeira data (1905) a marcar o nascimento da “era do novo espírito científico”, pois a relatividade einsteiniana vem definitivamente alterar conceitos básicos que se julgavam até então inalteráveis, abrindo caminho a abstrações e raciocínios mais audaciosos São eles a mecânica quântica de Max Planck (1858-1947) e as teorias probabilísticas, a mecânica ondulatória de Louis de Broglie (1892-1987), o princípio de correspondência e o de complementaridade de Niels Bohr (1885-1962), o princípio da incerteza de Werner Heisenberg (1901-1976) e muitos mais que trouxeram consigo uma nova concepção da física que vem já contemplar as irregularidades, as desorganizações e as desintegrações, e reconhecer a interferência incon-tornável do sujeito na observação, derrubando assim uma visão absoluta do que é a “realidade”

As teorias científicas passam, deste modo, a ser encaradas como uma “possível” leitura da “realidade”, válida apenas até surgir uma outra expli-cação melhor e mais adequada Karl Popper (1984) defende a ideia de que “toda a ciência assenta em areia movediça”, pois segundo o seu princípio de falsificabilidade, uma teoria só é científica se for passível de ser refutada.

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A própria filosofia da matemática, a partir do teorema da incompletude (também chamado de teorema da indecidibilidade) de Kurt Gödel (1906-1978), reconhece que o rigor da medição matemática, como qualquer outra forma de rigor, assenta num critério de seletividade Existe sempre alguém, subjetivo, que procede à seleção de um instrumento, um método, um teste, em detrimento de outro

Uma nova ordem impõe-se agora, relativa e complexa, propagando-se do mundo físico e natural (das ciências duras) para o mundo humano e social

Jean-François Lyotard é o primeiro a utilizar a expressão “pós-moderna”, com a publicação do livro “La condition postmoderne”, em 1979 Entendendo o “conhecimento científico como uma espécie de discurso”, Lyotard (1984) considera a pós-modernidade como o fim das meta-narrativas, ou seja, o fim dos grandes esquemas explicativos do mundo, sejam eles ideologias ou sistemas de saber totalitários, como tem sido a ciência, caindo por terra as verdades absolutas e a ideia de ciência como “fonte de toda a verdade”

Estaremos nós então, em pleno século XXI, numa fase de rutura ou de evolução da modernidade? Anthony Giddens, por exemplo, considera que “Não avançámos para além da modernidade, mas estamos a viver precisa-mente uma fase da sua radicalização” (GIDDENS, 2000: 35) Também Gilles Lipovetsky (2004), ao preferir o termo hipermodernidade a pós-modernidade, defende que não houve de facto uma rutura com a modernidade, como o prefixo “pós” dá a entender, mas uma acentuação de características próprias da modernidade, tais como o individualismo, o consumismo e o hedonismo

Mas quer se chame de pós-modernidade (LYOTARD, 1984), modernidade radicalizada ou modernidade tardia (GIDDENS, 2000), modernidade líquida (BAUMAN, 2007) ou hipermodernidade (LIPOVETSKY, 2004), sabemos que o nosso tempo assiste ao colapso das componentes que formataram o pensamento e as instituições da modernidade, como é o caso da escola O que fazer então? Pode a escola ignorar todo este alvoroço epistemológico quando ela lida com o conhecimento? Pode ela assumir as certezas e as seguranças por si veiculadas até à data, se estamos num tempo de “mestiça-gem ético-filosófica, política e ideológica” (SOUSA, 2009)? Pode o currículo continuar a insistir na disciplinarização do conhecimento?

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3. O Currículo no cenário de rutura paradigmática

Para sermos coerentes com este quadro teórico, tem de haver uma alteração de natureza disruptiva, o que, tenho de reconhecer, não é nada fácil As instituições são pesadas e avessas a mudanças

A rutura, ou transição de paradigma que acabámos de descrever, obri-ga-nos, como educadores, a uma mudança ou viragem de foco, ao qual nos habituámos ao longo dos últimos séculos da Escola, por via de um Currículo Proponho, deste modo, o seguinte:

1 Uma viragem para a realização de projetos escolares interdisciplinares para resolução de problemas reais, que estão neste momento efeti-vamente a ocorrer no bairro, no município, no país ou no mundo, ao invés da fragmentação e do mecanicismo disciplinar sem significado pessoal;

2 Uma viragem para o desenvolvimento de competências, através da mobilização de conhecimentos, atitudes e valores, de forma integrada, em vez da mera insistência em conteúdos apenas a ser debitados pelo professor e devolvidos pelo aluno;

3 Uma viragem para o desenvolvimento transversal da consciência ecológica, para uma vida em harmonia com o meio ambiente, ao invés da alienação que permite a exploração dos recursos naturais à exaustão, como se fossem inesgotáveis;

4 Uma viragem para os processos socio-construtivistas de aprendizagem, centrados na matética, em vez da preocupação com os procedimentos instrucionais e didáticos das chamadas “boas práticas de ensino”;

5 Uma viragem para a comunicação sistémica, horizontal e grupal, com recurso à língua materna, línguas estrangeiras e literacia digital, ao invés da comunicação linear, vertical e monodirecional, controlada pelo professor;

6 Uma viragem para o desenvolvimento, nos alunos, de hábitos ali-mentares saudáveis e prática efetiva de exercício físico, como aspeto fundamental do Currículo, em vez de horas a fio sentados em silêncio, como ouvintes, em sala de aula;

7 Uma viragem para a interiorização do conceito de espécie humana (e sua sobrevivência), enquanto habitantes do planeta Terra, em vez da promoção de um nacionalismo histórico exacerbado;

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8 Uma viragem no sentido político e pedagógico da inclusão e da equi-dade, em vez da intolerância que busca a todo o custo a padronização do “outro” diferente, ou então, a sua exclusão;

9 Uma viragem para o trabalho cooperativo e participativo a diversos níveis (alunos, professores, diretores de escola, famílias, comunidade, investigadores e governantes), em vez da apatia cívica e da competi-tividade alimentada por um individualismo feroz;

10 Finalmente, uma viragem para o reconhecimento da necessidade de tempo, muito tempo, para a livre iniciativa do aluno, quer seja para descansar ou estar genuinamente com os amigos, a conversar, brincar, ou namorar, sem ser de forma organizada pela Escola

Sem querer desvalorizar os passos que já se estão a dar com o Projeto de Autonomia e Flexibilidade Curricular, defendo, todavia, que a possibilidade de gestão flexível no currículo, até um limite de 25% da carga curricular, não pode servir de pretexto para se criarem novas áreas disciplinares, reforçando desse modo a fragmentação do conhecimento

Referências

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