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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN ´ A ELIAKIM CLEYTON MACHADO ULTRADIFERENCIABILIDADE EM VARIEDADES COMPACTAS E HIPOELITICIDADE GLOBAL DE OPERADORES INVARIANTES CURITIBA 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANA

ELIAKIM CLEYTON MACHADO

ULTRADIFERENCIABILIDADE EM VARIEDADES COMPACTAS E HIPOELITICIDADE

GLOBAL DE OPERADORES INVARIANTES

CURITIBA

2021

ELIAKIM CLEYTON MACHADO

ULTRADIFERENCIABILIDADE EM VARIEDADES COMPACTAS E HIPOELITICIDADE

GLOBAL DE OPERADORES INVARIANTES

Dissertacao de Mestrado apresentada ao curso de Pos-

Graduacao em Matematica, Setor de Ciencias Exatas, Uni-

versidade Federal do Parana, como requisito parcial a ob-

tencao do Tıtulo de Mestre em Matematica.

Orientador: Prof. Dr. Fernando de Avila Silva.

CURITIBA

2021

Catalogação na Fonte: Sistema de Bibliotecas, UFPRBiblioteca de Ciência e Tecnologia

M149u

Machado, Eliakim Cleyton Ultradiferenciabilidade em variedades compactas e hipoeliticidade global de operadores invariantes [recurso eletrônico] / Eliakim Cleyton Machado. – Curitiba, 2021. Dissertação - Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Exatas,Programa de Pós-Graduação em Matemática, 2021.

Orientador: Fernando de Avila Silva 1. Funções (Matemática). 2. Teoria das distribuições. 3. Fourier, Operadores integrais de. 4. Variedades (Matemática). I. Universidade Federaldo Paraná. II. Silva, Fernando de Avila. III. Título.

CDD: 515.7

Bibliotecário: Elias Barbosa da Silva CRB-9/1894

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃOSETOR DE CIENCIAS EXATASUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁPRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃOPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MATEMÁTICA -40001016041P1

ATA Nº100

ATA DE SESSÃO PÚBLICA DE DEFESA DE MESTRADO PARA A OBTENÇÃO DOGRAU DE MESTRE EM MATEMÁTICA

No dia vinte e dois de fevereiro de dois mil e vinte e um às 14:00 horas, na sala https://meet.google.com/kcb-oaoh-rqn, remoto,

foram instaladas as atividades pertinentes ao rito de defesa de dissertação do mestrando ELIAKIM CLEYTON MACHADO,

intitulada: ULTRADIFERENCIABILIDADE EM VARIEDADES COMPACTAS E HIPOELITICIDADE GLOBAL DE OPERADORES

INVARIANTES, sob orientação do Prof. Dr. FERNANDO DE AVILA SILVA. A Banca Examinadora, designada pelo Colegiado do

Programa de Pós-Graduação em MATEMÁTICA da Universidade Federal do Paraná, foi constituída pelos seguintes Membros:

FERNANDO DE AVILA SILVA (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ), PAULO LEANDRO DATTORI DA SILVA

(UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO), GABRIEL CUEVA CANDIDO SOARES DE ARAÚJO (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO). A

presidência iniciou os ritos definidos pelo Colegiado do Programa e, após exarados os pareceres dos membros do comitê

examinador e da respectiva contra argumentação, ocorreu a leitura do parecer final da banca examinadora, que decidiu pela

APROVAÇÃO. Este resultado deverá ser homologado pelo Colegiado do programa, mediante o atendimento de todas as indicações

e correções solicitadas pela banca dentro dos prazos regimentais definidos pelo programa. A outorga de título de mestre está

condicionada ao atendimento de todos os requisitos e prazos determinados no regimento do Programa de Pós-Graduação. Nada

mais havendo a tratar a presidência deu por encerrada a sessão, da qual eu, FERNANDO DE AVILA SILVA, lavrei a presente ata,

que vai assinada por mim e pelos demais membros da Comissão Examinadora.

CURITIBA, 22 de Fevereiro de 2021.

Assinatura Eletrônica

22/02/2021 17:12:24.0

FERNANDO DE AVILA SILVA

Presidente da Banca Examinadora (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ)

Assinatura Eletrônica

22/02/2021 20:02:42.0

PAULO LEANDRO DATTORI DA SILVA

Avaliador Externo (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO)

Assinatura Eletrônica

22/02/2021 22:23:20.0

GABRIEL CUEVA CANDIDO SOARES DE ARAÚJO

Avaliador Externo (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO)

Coordenação PPGMA, Centro Politécnico, UFPR - CURITIBA - Paraná - BrasilCEP 81531990 - Tel: (41) 3361-3026 - E-mail: [email protected]

Documento assinado eletronicamente de acordo com o disposto na legislação federal Decreto 8539 de 08 de outubro de 2015.Gerado e autenticado pelo SIGA-UFPR, com a seguinte identificação única: 76089

Para autenticar este documento/assinatura, acesse https://www.prppg.ufpr.br/siga/visitante/autenticacaoassinaturas.jspe insira o codigo 76089

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃOSETOR DE CIENCIAS EXATASUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁPRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃOPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MATEMÁTICA -40001016041P1

TERMO DE APROVAÇÃO

Os membros da Banca Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Pós-Graduação em MATEMÁTICA da

Universidade Federal do Paraná foram convocados para realizar a arguição da Dissertação de Mestrado de ELIAKIM CLEYTON

MACHADO intitulada: ULTRADIFERENCIABILIDADE EM VARIEDADES COMPACTAS E HIPOELITICIDADE GLOBAL DE

OPERADORES INVARIANTES, sob orientação do Prof. Dr. FERNANDO DE AVILA SILVA, que após terem inquirido o aluno e

realizada a avaliação do trabalho, são de parecer pela sua APROVAÇÃO no rito de defesa.

A outorga do título de mestre está sujeita à homologação pelo colegiado, ao atendimento de todas as indicações e correções

solicitadas pela banca e ao pleno atendimento das demandas regimentais do Programa de Pós-Graduação.

CURITIBA, 22 de Fevereiro de 2021.

Assinatura Eletrônica

22/02/2021 17:12:24.0

FERNANDO DE AVILA SILVA

Presidente da Banca Examinadora (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ)

Assinatura Eletrônica

22/02/2021 20:02:42.0

PAULO LEANDRO DATTORI DA SILVA

Avaliador Externo (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO)

Assinatura Eletrônica

22/02/2021 22:23:20.0

GABRIEL CUEVA CANDIDO SOARES DE ARAÚJO

Avaliador Externo (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO)

Coordenação PPGMA, Centro Politécnico, UFPR - CURITIBA - Paraná - BrasilCEP 81531990 - Tel: (41) 3361-3026 - E-mail: [email protected]

Documento assinado eletronicamente de acordo com o disposto na legislação federal Decreto 8539 de 08 de outubro de 2015.Gerado e autenticado pelo SIGA-UFPR, com a seguinte identificação única: 76089

Para autenticar este documento/assinatura, acesse https://www.prppg.ufpr.br/siga/visitante/autenticacaoassinaturas.jspe insira o codigo 76089

Dedico este trabalho a minha famılia.

AGRADECIMENTOS

Antes de tudo, agradeco a todos que demonstraram apoio no momento em que decidi ir

em busca do sonho de ser Mestre pela UFPR, pois cada dia foi uma batalha contra minhas proprias

limitacoes, entao qualquer incentivo foi fundamental durante a jornada.

A minha mae, Ana Matilde, por toda a dedicacao e amor, por tudo que fez e faz pela famılia.

Sem a senhora, eu jamais teria chegado tao longe.

Ao meu irmao, Junior, por ser o irmao mais velho mais legal que eu conheco. Muito obrigado

por ter sido, alem de irmao, um grande amigo durante toda a vida.

A minha esposa, Fernanda, que foi minha principal fonte de coragem, inspiracao e incentivo

a sair da zona de conforto e dar o primeiro passo.

Aos meus sogros, Ovidio e Delci, por todo o apoio que tem nos dado neste perıodo longe de

casa e por nos acolher durante as visitas ao sudoeste do Parana.

A todos os professores do departamento de Matematica da UTFPR de Pato Branco que

participaram de minha formacao durante a graduacao. Em especial ao Professor Carlos pelo incentivo

e pelas conversas encorajadoras antes de deixar Pato Branco rumo a Curitiba. Aos professores Fredy,

Delfino, Alexandre Reis e Cristina por terem me incentivado desde o primeiro ano de graduacao a seguir

carreira na pos-graduacao (hoje vejo que voces estavam cobertos de razao e que deveria ter seguido seus

conselhos ainda mais cedo).

Aos professores do PPGM-UFPR pelas excelentes aulas que tive a honra de participar: Fer-

nando, Cleber, Olivier, Pedro, Elias e Higidio. Ao Professor Kirilov e ao Wagner por terem me dado a

oportunidade de apresentar-lhes uma previa da dissertacao e compartilhado dicas valiosas.

Aos professores Paulo e Gabriel, por terem participado de minha banca de defesa e por todas

as correcoes, dicas e contribuicoes para o aperfeicoamento da mesma.

Ao meu orientador, Professor Fernando, por ter me acolhido como orientando, ter proposto o

tema e ter me guiado durante toda a construcao da dissertacao. Serei eternamente grato a sua dedicacao

em me ajudar a realizar este trabalho.

A CAPES pelo apoio financeiro.

“Follow your steps and you will find

the unknown ways are on your mind...”

Andre Matos

RESUMO

Neste trabalho apresentamos um estudo das classes de funcoes ultradiferenciaveis dos

tipos Roumieu e Beurling definidas sobre variedades compactas e suas respectivas classes

de ultradistribuicoes. Como aplicacao, e analisada a hipoeliticidade global de operadores

fortemente invariantes em variedades.

Palavras-chave: Funcoes ultradiferenciaveis e ultradistribuicoes, classes de Roumieu e

Beurling, hipoeliticidade global, operadores invariantes, variedades fechadas.

ABSTRACT

In this work we present the study of classes of ultradifferentiable functions of Roumieu

and Beurling types defined on compact manifolds and its respectives ultradistributions

classes. As an application, we analyze the global hipoellipticity of strongly invariant

operators on manifolds.

Keywords: Ultradifferentiable functions and ultradistributions, Roumieu and Beurling

classes, global hypoellipticity, invariant operators, closed manifolds.

SUMARIO

Introducao 12

1 Preliminares 15

1.1 Formulas binomiais e multi-ındices . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

1.2 Variedades suaves e espacos de funcoes sobre variedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

1.3 Operadores pseudodiferenciais em variedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

1.4 Analise de Fourier gerada por operadores elıticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

2 Funcoes Ultradiferenciaveis em Variedades 23

2.1 A sequencia M . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

2.2 A funcao associada M . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

2.3 O espaco ΓM (X) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

2.3.1 A classe γs(X) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

2.4 O espaco Γ(M )(X) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

3 Ultradistribuicoes 40

3.1 α-duais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

3.2 O espaco Γ′M (X) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

3.2.1 O espaco Γ′(M )(X) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

4 Hipoeliticidade Global 49

4.1 Operadores invariantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

4.2 M -hipoeliticidade global . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

4.2.1 O caso Gevrey γs(X) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

4.3 (M )-hipoeliticidade global . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

REFERENCIAS 58

INTRODUCAO

Neste trabalho apresentamos um estudo das classes de funcoes ultradiferenciaveis dos tipo

Roumieu e Beurling definidas sobre variedades compactas e suas respectivas classes de ultradistribuicoes,

conforme a caracterizacao apresentada por A. Dasgupta e M. Ruzhansky em [3]. Como aplicacao deste

estudo apresentamos uma analise sobre a hipoeliticidade global de operadores fortemente invariantes em

variedades, estendendo entao alguns resultados obtidos por A. Kirilov e W. A. A. de Moraes em [10].

Para apresentar uma visao geral dos estudos realizados, considere X uma variedade fechada,

isto e, suave, compacta e sem bordo. Seja E um operador pseudodiferencial elıtico, positivo, de ordem

ν ∈ N. Fixada uma sequencia M = Mkk∈N0, satisfazendo certas condicoes (conforme Secao 2.1),

define-se por ΓM (X) o espaco das funcoes φ ∈ C∞(X) para as quais existem constantes h > 0 e C > 0

satisfazendo

‖Ekφ‖L2(X) 6 ChνkMνk, ∀k ∈ N0. (1)

Observamos que a caracterizacao de ΓM (X) nos da a vantagem de nao precisarmos nos referir

as coordenadas locais para introduzir tais classes. Isto permite apresentar definicoes analogas para

funcoes analıticas e Gevrey, mesmo se a variedade X for apenas suave. Por exemplo, tomando Mk = k!,

obtemos a classe Γk!(X) das funcoes suaves φ tais que

‖Ekφ‖L2(X) 6 Chνk(νk)!, ∀k ∈ N0. (2)

No caso em que X e E sao analıticos, ao tomarmos Mk = (k!)s, ve-se que Γ(k!)s(X) coincide

com o espaco das funcoes Gevrey em X, para s > 1, e analıticas quando s = 1.

Veremos ainda que (1) nos permite estudar diversas propriedades destes espacos em termos

da analise de Fourier gerada pelo operador elıtico, isto e, analisando-se os coeficientes de Fourier das

expansoes em series determinadas pelas autofuncoes de E. Por outro lado, ao considerarmos um re-

ferencial de campos vetoriais suaves ∂1, ..., ∂N em X, prova-se no Teorema 2.1 que φ ∈ ΓM (X) se, e

somente se, existem h > 0 e C > 0 tais que

‖∂αφ‖L∞(X) 6 Ch|α|M|α|,

sendo ∂α = ∂α1j1· · · ∂αKjK , com jr ∈ 1, ..., N, para cada r = 1, ...,K, e |α| = α1 + · · ·+αK , recuperando

assim a caracterizacao classica de espacos presentes na literatura como, por exemplo, nos trabalhos de

H. Komatsu [11, 12, 13].

Apos uma detalhada caracterizacao dos espacos acima, apresentamos resultados obtidos acerca

da hipoeliticidade global para uma classe de operadores em X. Para introduzir uma descricao desta

nossa contribuicao, citamos duas referencias:

12

(i) o artigo Remarks on global hypoellipticity [7] de S. J Greenfield e N. R. Wallach, no qual e inves-

tigada a hipoeliticidade global de operadores definidos em variedades e invariantes com respeito a

um operador elıtico;

(ii) o artigo Global hypoellipticity for strongly invariant operators [10] de A. Kirilov e W. A. A. de

Moraes, onde os autores estudaram a hipoeliticidade global de operadores definidos em variedades

e fortemente invariantes com respeito a um operador elıtico.

Em ambas as referencias, tem-se como objetivo estudar a hipoeliticidade, no sentido C∞, de

operadores lineares que comutam com um operador elıtico E fixado. Um operador linear P que satisfaz

tais condicoes pode ser estudado atraves da expressao

Pf(x) =

∞∑`=1

⟨σP (`)f(`), e`(x)

⟩,

sendo σP (`) ∈ Cd`×d` os sımbolos matriciais de P , f(`) os coeficientes de Fourier de f e e`(x) =(e1`(x), ..., ed`` (x)

)∈ Cd` , com em` uma base de autofuncoes para o autoespaco H` do operador elıtico

E.

Tendo como inspiracao estes dois trabalhos, considerando um operador linear P que comuta

com E e satisfaz certas condicoes, analisamos a validade da implicacao

u ∈ D ′(X) e Pu ∈ ΓM (X) =⇒ u ∈ ΓM (X)

atraves de um estudo do comportamento dos sımbolos matriciais σP (`) ∈ Cd`×d` .

Este trabalho esta organizado da seguinte forma:

No Capıtulo 1, sao estabelecidos conceitos, notacoes e resultados fundamentais para o desen-

volvimento do trabalho, dando enfase a Secao 1.4 onde e apresentada a analise de Fourier em que toda

a teoria se baseia. Em particular, destacam-se a decomposicao dos espacos L2(X) em funcao dos auto-

espacos de um operador elıtico e tambem a construcao dos coeficientes de Fourier, conforme a Definicao

1.9.

No Capıtulo 2 sao apresentadas as classes de funcoes ultradiferenciaveis ΓM (X) e Γ(M )(X).

A princıpio, sao fixadas condicoes sobre a sequencia M = Mkk∈N0 e estudadas diversas propriedades

da funcao

M(r) = supk∈N

logrνk

Mνk, ∀r > 0.

Por fim, apresentamos o Teorema 2.2, no qual os elementos de ΓM (X) sao caracterizados atraves de

estimativas sobre seus coeficientes de Fourier. Um resultado analogo ao Teorema 2.2 para a classe

Γ(M )(X) e dado no Teorema 2.4.

No terceiro capıtulo, serao estudados os espacos de ultradistribuicoes. Primeiramente, sao

construıdos os α-duais, conforme Definicoes 3.1 e 3.6. Apos este passo, sao entao fixadas as classes das

13

ultradistribuicoes Γ′M (X) e Γ′(M )(X). Nos Teoremas 3.3 e 3.4, as distribuicoes sao entao caracterizadas

em virtude da analise de seus coeficientes de Fourier.

Finalmente, no Capıtulo 4, fazemos o estudo da hipoeliticidade global de operadores forte-

mente invariantes (veja Definicao 4.1). Os Teoremas 4.1 e 4.3 exibem condicoes necessarias e suficientes

para a hipoeliticidade em termos do comportamento dos sımbolos matriciais de tais operadores.

14

Capıtulo 1

PRELIMINARES

Neste capıtulo fixamos algumas notacoes, conceitos e resultados utilizados no desenvolvimento

do trabalho.

1.1 Formulas binomiais e multi-ındices

Denotamos por N o conjunto dos numeros naturais e por N0 os inteiros nao negativos, isto e,

N0 := N ∪ 0. Qualquer n-upla α := (α1, ..., αn) ∈ Nn0 sera denominada multi-ındice. O comprimento

do multi-ındice α, denotado por |α|, e o numero

|α| := α1 + · · ·+ αn.

Dado x = (x1, ..., xn) ∈ Rn, definimos, para qualquer α = (α1, ..., αn) ∈ Nn0 , o numero real xα pondo

xα := xα11 · · ·xαnn .

Em Rn define-se o operador j-esima derivada parcial ∂∂xj

, j = 1, ..., n. Quando nao houver

duvidas sobre a variavel utilizada, escrevemos ∂j := ∂∂xj

. Para cada j = 1, ..., n, temos Dj = −i∂j , com

i =√−1. Dado α = (α1, ..., αn) ∈ Nn0 , define-se

∂α := ∂α11 ∂α2

2 · · · ∂αnn e Dα := Dα11 Dα2

2 · · ·Dαnn .

As notacoes acima ainda podem ser vistas como ∂α = ∂|α|

∂xα11 ···∂x

αnn

e

Dα = Dα11 · · ·Dαn

n = (−i∂1)α1 · · · (−i∂n)αn = (−i)|α|(∂α11 · · · ∂αnn ) = (−i)|α|∂α.

Se α = (α1, ..., αn) e β = (β1, ..., βn) sao multi-ındices, dizemos que α e menor do que ou

igual a β se, e somente se, as todas as componentes de α sao menores do que ou iguais as componentes

correspondentes de β, isto e,

α 6 β ⇐⇒ αj 6 βj , ∀j = 1, ..., n.

O fatorial de α = (α1, ..., αn) ∈ Nn0 e definido por

α! := α1! · · ·αn!.

15

Tambem podemos estender o conceito de numero binomial para multi-ındices:

β

):=

α!(α−β)!β! , se α > β

0, se α < β,

com α− β := (α1 − β1, ..., αn − βn).

Dados N ∈ N e x1, ..., xn ∈ R temos a formula de Newton generalizada

(x1 + · · ·+ xn)N =∑|α|=N

N !

α!xα, (1.1)

tambem conhecida por Teorema multinomial. Tomando xj = 1, para todo j = 1, ..., n, obtem-se de (1.1)

a identidade

nN =∑|α|=N

N !

α!. (1.2)

Por fim, considerando a expansao de Taylor da funcao exponencial

et =

∞∑k=0

tk

k!, t ∈ R,

segue imediatamente que

tk 6 k!et, ∀t ∈ R,∀k ∈ N0.

1.2 Variedades suaves e espacos de funcoes sobre variedades

Ao longo deste trabalho, a menos de mencao contraria, vamos considerar X uma variedade

C∞ fechada (compacta e sem bordo) de dimensao n equipada com um elemento de volume fixo dx.

Seguindo a teoria desenvolvida na Secao 5.2 de [17], relembramos que um atlas suave sobre X e uma

famılia H = (Uα, ϕα)α∈Λ, sendo Uα ⊆ X um aberto e ϕα : Uα → Ωα e um homeomorfismo sobre o

subconjunto aberto Ωα ⊆ Rn, para cada α ∈ Λ, tal que:

1. Para quaisquer Uα, Uβ com Uα ∩ Uβ 6= ∅, as aplicacoes de transicao

ϕβ ϕ−1α : ϕα(Uα ∩ Uβ)→ ϕβ(Uα ∩ Uβ)

sao difeomorfismos suaves entre abertos de Rn.

2. A famılia Uαα∈Λ e uma cobertura de X, isto e,⋃α∈Λ

Uα = X.

O par (U,ϕ) ∈H e chamado de carta de coordenada local suave em X.

Na sequencia sao listados alguns espacos que serao frequentemente utilizados neste trabalho.

16

C∞(X) e o espaco das funcoes definidas na variedade X que sao infinitamente diferenciaveis.

Frequentemente nos referimos a C∞(X) simplesmente como o espaco das funcoes suaves sobre X.

Denotamos por D ′(X) o espaco das distribuicoes em X. E possıvel mostrar que D ′(X) pode ser

identificado com o dual topologico de C∞(X), sob certas condicoes (veja a Secao 6.3 de [9] para

mais detalhes).

L2(X) e o espaco das funcoes f : X → C que sao mensuraveis e satisfazem∫X

|f(x)|2dx <∞.

Em particular, recordamos que L2(X) e um espaco de Hilbert quando munido do produto interno

〈f, g〉L2 :=

∫X

f(x)g(x)dx, f, g ∈ L2(X).

L∞(X) e o espaco das funcoes f : X → C que sao mensuraveis e satisfazem

‖f‖L∞(X) <∞,

sendo ‖f‖L∞(X) := ess supx∈X |f(x)|.

Definicao 1.1. Seja U ⊆ X um subconjunto aberto e f : U → C. Definimos o suporte de f por

suppf := x ∈ U ; f(x) 6= 0. Quando suppf for compacto, dizemos que f tem suporte compacto.

Denotamos o conjunto de todas as funcoes suaves com suporte compacto em U por C∞0 (U).

Proposicao 1.1. Seja (X,F , µ) um espaco de medida tal que µ(X) <∞. Entao L∞(X) ⊆ L2(X) e

‖f‖L2(X) 6 ‖f‖L∞(X)µ(X)12 .

Demonstracao. Veja referencia [6], Proposicao 6.12.

1.3 Operadores pseudodiferenciais em variedades

Nesta secao fixaremos algumas notacoes e resultados referentes a teoria dos operadores pseudo-

diferenciais em variedades. Para tanto, fazemos um breve resumo sobre operadores diferenciais em Rn.

Novamente, nao apresentamos as demonstracoes dos resultados aqui exibidos, sendo que estes podem

ser encontrados na Secao 5.2 de [17].

Definicao 1.2 (A Classe de Sımbolos Sm(Rn×Rn)). Dizemos que uma funcao suave σ definida sobre

Rn × Rn pertence ao espaco Sm(Rn × Rn) se satisfaz a estimativa

|∂βx∂αξ σ(x, ξ)| 6 Aα,β(1 + |ξ|)m−|α|,

para quaisquer α, β ∈ Nn0 e quaisquer x ∈ Rn e ξ ∈ Rn, sendo Aα,β uma constante que pode depender

de α e β, mas nao depende de x e ξ. Neste caso, dizemos que σ e um sımbolo de ordem m ∈ R.

17

Definicao 1.3. Dado um sımbolo σ ∈ Sm(Rn×Rn), definimos o operador pseudo-diferencial com

sımbolo σ, denotado Tσ, pondo

Tσf(x) :=

∫Rn

e2πi〈x,ξ〉σ(x, ξ)f(ξ)dξ, x ∈ Rn, f ∈ C∞0 (Rn), (1.3)

com f(ξ) =∫ nR e−2πi〈y,ξ〉f(y)dy denotando a transformada de Fourier de f . A classe dos operadores da

forma (1.3) com sımbolos em Sm(Rn × Rn) e denotada por Ψm(Rn × Rn). Ainda podemos nos referir

ao operador Tσ como operador pseudodiferencial de ordem m e Ψm(Rn×Rn) como a classe dos

operadores pseudodiferenciais de ordem m.

Por definicao, a classe de sımbolos Sm(Rn × Rn) e localmente invariante por mudancas de

variaveis suaves, isto e, se tomarmos uma mudanca local da variavel x num sımbolo pertencente a classe

Sm(Rn×R), este ainda pertencera a mesma classe Sm(Rn×Rn). Na Secao 2.5.2 de [17] sao encontrados

mais detalhes sobre este fato.

Definicao 1.4. Um sımbolo σ ∈ Sm(Rn×Rn) e elıtico se existem constantes C > 0 e n0 > 0 tais que

|σ(x, ξ)| > C|ξ|m, sempre que |ξ| > n0,

para todo x ∈ Rn. Dizemos que o operador pseudodiferencial Tσ e elıtico se seu sımbolo σ for elıtico.

Definicao 1.5. Sejam A : C∞(X) → C∞(X) um operador linear e φ, ψ ∈ C∞(X). Definimos o

operador φAψ : C∞(X)→ C∞(X) pondo

(φAψ)u(x) := φ(x)A(ψ · u)(x), x ∈ X,u ∈ C∞(X).

Definicao 1.6. Se (U,ϕ) e uma carta em X, entao para um operador A : C∞(U)→ C∞(U) definimos

Aϕ : C∞(ϕ(U))→ C∞(ϕ(U)) pondo

Aϕu := A(u ϕ) ϕ−1, u ∈ C∞(ϕ(U)).

Definicao 1.7. Dizemos que um operador linear A : C∞(X) → C∞(X) e um operador pseudodi-

ferencial de ordem m ∈ R em X se, para toda carta (U,ϕ) em X e para quaisquer φ, ψ ∈ C∞0 (U),

o operador (φAψ)ϕ e um operador pseudodiferencial de ordem m em Rn. Como a classe de operadores

pseudodiferenciais de ordem m em Rn e difeo-invariante, segue que a classe correspondente em X e bem

definida. Denotamos a classe dos operadores pseudodiferenciais de ordem m em X por Ψm(X).

Ainda no contexto da Definicao 1.7, note que, se u ∈ C∞(ϕ(U)), entao

(φAψ)ϕu = (φAψ)(u ϕ) ϕ−1.

18

Portanto, se x ∈ ϕ(U) e, denotando x := ϕ−1(x) ∈ U , temos

(φAψ)ϕu(x) =((φAψ)(u ϕ) ϕ−1

)(x)

= (φAψ)(u ϕ)(ϕ−1(x))

= (φAψ)(u ϕ)(x)

= φ(x)A(ψ · (u ϕ))(x).

Definicao 1.8. Um operador A ∈ Ψm(X) e elıtico se (φAψ)ϕ for elıtico em Rn, para toda carta

(U,ϕ) e para quaisquer φ, ψ ∈ C∞0 (U). Denotamos a classe dos operadores pseudodiferenciais elıticos

de ordem m ∈ R sobre X por Ψme (X).

Note que, dados Tσ ∈ Ψm(X) e Tτ ∈ Ψp(X), entao Tσ Tτ ∈ Ψm+p(X). Em particular, se Tσ

for elıtico, isto e, Tσ ∈ Ψme (X), existe Tρ ∈ Ψ−m(X) tal que

Tσ Tρ = I +R e Tρ Tσ = I + S,

sendo R e S termos regularizantes tais que R,S ∈⋂m∈R Ψm(X).

Dizemos que Tρ e uma parametriz de Tσ. Em particular, segue que

Tσ Tρ, Tρ Tσ ∈ Ψ0(X).

1.4 Analise de Fourier gerada por operadores elıticos

Seja X uma variedade fechada de dimensao n equipada com um elemento de volume dx.

Considere um operador pseudodiferencial E elıtico e positivo definido de ordem ν ∈ N, isto e, E ∈

Ψν+e(X). Nestas condicoes, mostra-se que os autovalores de E formam uma sequencia de numeros reais,

digamos λjj∈N, a qual podemos reordenar de modo que

0 < λ1 < λ2 < · · · → +∞.

Para cada λj , denota-se o autoespaco correspondente por Hj := ker(E − λjI) ⊆ L2(X), o

qual consiste de funcoes suaves devido a eliticidade de E. Denotamos ainda

H0 := kerE.

λ0 := 0.

dj := dimHj , para todo j ∈ N0.

Como E e elitico, E e Fredholm, logo d0 <∞. Ainda sobre os autovalores de E e as dimensoes

dos autoespacos Hj , temos o seguinte resultado:

19

Proposicao 1.2. Sejam X uma variedade fechada de dimensao n e E ∈ Ψν+e(X), com ν ∈ N. Entao

existe uma constante C > 0 tal que

dj 6 C(1 + λj)nν , ∀j ∈ N. (1.4)

Ademais, temos que∞∑j=1

dj(1 + λj)−q <∞⇐⇒ q >

n

ν. (1.5)

Demonstracao. Veja referencia [4], Proposicao 2.3.

Para cada j ∈ N0, como dj = dimHj <∞, podemos considerar uma base ortonormal ekj djk=1

para Hj , com respeito ao produto interno 〈·, ·〉L2 , aplicando o processo de Gram-Schmidt se necessario.

Pode ser mostrado (ver [19]) que L2(X) decompoe-se como a soma direta hilbertiana (completamento

da soma direta algebrica)

L2(X) =∞⊕j=0

Hj ,

logo o conjunto B := ekj ; j ∈ N0, 1 6 k 6 dj e uma base ortonormal para L2(X). Entao, qualquer

f ∈ L2(X) pode ser expressa por

f =

∞∑j=0

dj∑k=1

〈f, ekj 〉L2ekj ,

devido a ortonormalidade da base B.

Definicao 1.9. Para cada j ∈ N0 e 1 6 k 6 dj , definimos o coeficiente de Fourier de f ∈ L2(X),

denotado por f(j, k), pondo

f(j, k) := 〈f, ekj 〉L2 .

Observacao 1.1. Em particular, podemos reescrever

f =

∞∑j=0

dj∑k=1

f(j, k)ekj .

Definicao 1.10. Definimos, para cada j ∈ N0, o coeficiente total de Fourier de f ∈ L2(X)

correspondente a Hj , denotado por f(j), como sendo o vetor coluna

f(j) :=

f(j, 1)

...

...

f(j, dj)

∈ Cdj .

Para cada j ∈ N0, definimos a norma de Hilbert-Schmidt de f(j) ∈ Cdj , a qual representamos

por ‖f(j)‖HS, como sendo a norma euclidiana classica de f(j) em Cdj , isto e,

‖f(j)‖HS := ‖f(j)‖Cdj =

√〈f(j), f(j)〉Cdj =

dj∑k=1

|f(j, k)|21/2

.

20

A formula de Plancherel, frequentemente utilizada, e dada por

‖f‖2L2(X) =

∞∑j=0

dj∑k=1

|f(j, k)|2 =

∞∑j=0

‖f(j)‖2HS.

Uma consequencia imediata e a desigualdade

‖f(j)‖HS 6 ‖f‖L2(X), ∀j ∈ N0.

Utilizando a formula de Plancherel e a eliticidade do operador E, obtem-se a seguinte carac-

terizacao para funcoes suaves em termos de seus coeficientes de Fourier e dos autovalores de E (para

mais detalhes, ver referencias [4, 5]):

f ∈ C∞(X)⇐⇒ ∀N, ∃CN t.q. |f(j, k)| 6 CNλ−Nj , ∀j > 1, 1 6 k 6 dj .

Se alem de todas as hipoteses sobre X e E, estes tambem forem analıticos, podemos reformular

o resultado de Seeley [18] como

f e analıtica⇐⇒ ∃L > 0,∃C t.q. |f(j, k)| 6 C exp(−Lλ1/νj ), ∀j > 1, 1 6 k 6 dj . (1.6)

Nas demonstracoes dos proximos capıtulos sera bastante util a estimativa dada abaixo, cuja

demonstracao e dada na referencia [5], Lema 8.5.

Lema 1.1. Sejam X uma variedade fechada e E ∈ Ψν+e(X) um operador elıtico. Entao

‖ek` ‖L∞(X) 6 Cλn−12ν

` , ∀` ∈ N. (1.7)

Sera necessario determinar os coeficientes de Fourier da acao de potencias de E numa funcao

de L2(X), isto e, Emφ(j, k), j ∈ N0 e 1 6 k 6 dj , para φ ∈ L2(X) e m ∈ N0, bem como relacionar os

coeficientes de Fourier de combinacoes lineares de duas (ou mais) funcoes em L2(X) com os coeficientes

das mesmas. O resultado que supre essas necessidades e dado em seguida.

Lema 1.2. Sejam φ, ψ ∈ L2(X) e m ∈ N0. Entao:

(i) vale a igualdade

Emφ(j, k) = λmj φ(j, k), ∀j ∈ N0, 1 6 k 6 dj ;

(ii) para quaisquer z, w ∈ C, vale

(zφ+ wψ)(`, j) = zφ(`, j) + wφ(`, j), ∀` ∈ N0, 1 6 j 6 d`.

Demonstracao. (i) Sejam m ∈ N0 e φ ∈ L2(X). Lembrando que B = ekj ; j ∈ N0, 1 6 k 6 dj e uma

base ortonormal de L2(X), φ pode ser expressa por

φ =

∞∑`=0

d∑r=1

φ(`, r)er` ,

21

logo

Emφ =

∞∑`=0

d∑r=1

φ(`, r)Emer` =

∞∑`=0

d∑r=1

φ(`, r)λm` er` .

Entao, para cada j ∈ N0 e k ∈ 1, ..., dj, segue que

Emφ(j, k)Def.= 〈Emφ, ekj 〉L2 =

⟨ ∞∑`=0

d∑r=1

φ(`, r)λm` er` , e

kj

⟩L2

=

∞∑`=0

d∑r=1

φ(`, r)λm` 〈er` , ekj 〉L2

= λmj φ(j, k),

sendo que a ultima igualdade ocorre pelo fato de que 〈er` , ekj 〉L2 nao se anula somente quando ` = j e

r = k e 〈ekj , ekj 〉L2 = ‖ekj ‖2L2(X) = 1, pela ortonormalidade de B.

(ii) Utilizando a linearidade do produto interno 〈·, ·〉L2 , temos

(zφ+ wψ)(`, j) = 〈zφ+ wφ, ej`〉L2

= z〈φ, ej`〉L2 + w〈ψ, ej`〉L2

= zφ(`, j) + wψ(`, j),

quaisquer que sejam φ, ψ ∈ L2(X), z, w ∈ C e ` ∈ N0, j ∈ 1, ..., d`.

Vamos precisar de algumas relacoes entre normas e produto interno, as quais sao apresentadas

nos proximos resultados (Proposicoes 1.3 e 1.4), cujas demonstracoes sao facilmente encontradas em [8]

ou [14]. Fixado m ∈ N, denotamos o produto interno usual em Cm por 〈·, ·〉 := 〈·, ·〉Cm .

Proposicao 1.3. Para quaisquer x, y ∈ Cm, m ∈ N, vale a desigualdade de Cauchy-Schwarz

|〈x, y〉| 6 ‖x‖HS‖y‖HS.

Proposicao 1.4. Para todo x ∈ Cm vale

‖x‖HS 6m∑j=1

|xj | 6√m‖x‖HS. (1.8)

22

Capıtulo 2

FUNCOES ULTRADIFERENCIAVEIS EM VARIEDADES

Neste capıtulo exibimos a construcao das classes de funcoes ultradiferenciaveis conforme de-

finido na referencia [3]. A construcao e a caracterizacao destes espacos e dada em termos da expansao

em autofuncoes de um operador elıtico em X.

2.1 A sequencia M

Estamos interessados em sequencias de numeros reais postivos Mkk∈N0que satisfacam: exis-

tem constantes H > 0 e A > 1 tais que

(M.0) M0 = M1 = 1.

(M.1) Mk+1 6 AHkMk, para todo k ∈ N0.

(M.2) M2k 6 AH2kM2k , para todo k ∈ N0.

(C.L) M2k 6Mk−1Mk+1, para todo k ∈ N.

A condicao (M.2), chamada de estabilidade, sera util na caracterizacao de espacos funcionais.

Note ainda que (M.1) e (M.2) sao uma versao mais fraca da condicao

Mk 6 AHk min06q6k

MqMk−q, ∀k ∈ N0

assumida por Komatsu, a qual garante estabilidade sob aplicacao de operadores ultradiferenciais. Na

verdade, em [16] Lema 5.3, mostra-se que a condicao acima e equivalente a (M.2). A condicao (C.L) e

chamada de convexidade logarıtmica, a qual juntamente com (M.0) nos garante que Mkk∈N0e uma

sequencia nao-decrescente.

Exemplo 2.1. A sequencia Mkk∈N0 dada por Mk := k! satisfaz as propriedades (M.0), (M.1), (M.2)

e (C.L), tomando A = 1 e H = 2.

(M.0) M0 = 0! = 1! = 1.

(M.1) Para todo k ∈ N0, tem-se

(k + 1)!

k!=

(k + 1)k!

k!= k + 1 6 2k =⇒ (k + 1)! 6 2kk!.

23

(M.2) Provemos por inducao em k ∈ N0. Para k = 0 e k = 1, a desigualdade e imediata. Suponha que

(M.2) vale para k > 2, ou seja, nossa hipotese de inducao e (2k)!(k!)2 6 22k. Entao

(2(k + 1))!

((k + 1)!)2=

(2k + 2)!

(k + 1)!(k + 1)!=

(2k + 2)(2k + 1)(2k)!

(k + 1)k!(k + 1)k!=

2(k + 1)(2k + 1)

(k + 1)(k + 1)

(2k)!

(k!)2

(h.i.)

62(2k + 1)

k + 122k =

2k + 1

k + 122k+1 6 2 · 22k+1 = 22(k+1),

sendo que a ultima desigualdade decorre de (2k + 1)/(k + 1) 6 2, para todo k ∈ N. Portanto,

temos que (2k)! 6 22k(k!)2.

(C.L) Para todo k ∈ N, temos

(k − 1)!(k + 1)!

(k!)2=

(k − 1)!(k + 1)k!

k(k − 1)!k!=k + 1

k> 1 =⇒ (k − 1)!(k + 1)! > (k!)2

Observacao 2.1. Com o objetivo de nao mencionar a todo momento que a sequencia Mkk∈N0

satisfaz as propriedades (M.0), (M.1), (M.2) e (C.L), faremos o uso da notacao M := Mkk∈N0para

indicar tal fato.

Temos ainda a seguinte propriedade:

Lema 2.1. Seja Mkk∈N0uma sequencia de numeros reais positivos satisfazendo a propriedade (M.1).

Entao, dado k ∈ N0, sendo A > 1 e H > 0 as constantes de (M.1), vale

Mk+` 6 A`(H`)kH`(`−1)

2 Mk, ∀` ∈ N.

Demonstracao. Fixado k ∈ N0, procedemos por inducao em ` ∈ N. Se ` = 1, utilizando a propriedade

(M.1), temos

Mk+1 6 AHkMk = A1(H1)kH1(1−1)

2 Mk.

Suponha agora que a propriedade vale para ` > 1 (hipotese de inducao), e mostremos que a mesma vale

para `+ 1. De fato, utilizando (M.1) e a hipotese de inducao (H.I.), temos

Mk+(`+1) = M(k+`)+1

(M.1)

6 AHk+`Mk+`

(H.I.)

6 AHk+`A`(H`)kH`(`−1)

2 Mk

= A`+1HkH`H`kH`(`−1)

2 Mk = A`+1(H`+1)kH`+`(`−1)

2 Mk

= A`+1(H`+1)kH2`+`2−`

2 Mk = A`+1(H`+1)kH`+`2

2 Mk

= A`+1(H`+1)kH(`+1)((`+1)−1)

2 Mk,

e segue o desejado.

Decorre deste resultado que existem constantes C := A`H`(`−1)

2 e h := H` tais que

Mk+` 6 ChkMk.

24

Observacao 2.2. Poderıamos ainda obter esta estimativa aplicando a propriedade (M.1) sucessiva-

mente, isto e,

Mk+` 6 AHk+`−1Mk+`−1 6 AHk+`−1AHk+`−2Mk+`−2

= A2H2(k+`)−1−2Mk+`−2 6 · · · 6 A`H`(k+`)−(1+···+`)Mk+`−`

= A`(H`)kH`2−(1+···+`)Mk = A`(H`)kH`(`−1)

2 Mk,

sendo que na ultima igualdade utilizamos a identidade (1 + · · ·+ `) = `(`+1)2 .

Observacao 2.3. Antes de iniciarmos o estudo de classes de funcoes definidas em variedades, vamos

citar trabalhos e ideias que foram desenvolvidos para funcoes definidas em Rn. Em [11], [12] e [13], foram

estudadas classes de funcoes ultradiferenciaveis em Rn associadas a sequencia M , mais especificamente,

o espaco das funcoes ψ ∈ C∞(Rn) tais que para todo subconjunto compacto K ⊆ Rn existem constantes

h > 0 e C > 0 satisfazendo

supx∈K|∂αψ(x)| 6 Ch|α|M|α|, α ∈ Nn0 . (2.1)

Dado um espaco de funcoes ultradiferenciaveis satisfazendo (2.1), podemos definir um espaco

de ultradistribuicoes como sendo seu dual topologico. Em [12], mostra-se que sob as condicoes (M.0),

(C.L), (M.1) e a condicao adicional∑∞k=1

Mk−1

Mk<∞, u e uma ultradistribuicao suportada em K ⊆ Rn

se, e somente se, existe constantes L e C tais que

|u(ξ)| 6 C exp(M(Lξ)), ξ ∈ Rn,

e, alem disso, para cada ε > 0 existe uma constante Cε > 0 tal que

|u(ζ)| 6 Cε exp(HK(ζ) + ε|ζ|), ζ ∈ Cn,

onde

u(ζ) := 〈e−iζ·x, u(x)〉

e a transformada de Fourier-Laplace de u,

M(r) := supk∈N

logrk

Mke HK(ζ) := sup

x∈KIm〈x, ζ〉.

2.2 A funcao associada M

A fim de introduzir os espacos alvo de nosso trabalho, considere um operador elıtico E ∈ Ψνe (X)

e uma sequencia M := Mkk∈N0(sequencia de numeros reais positivos Mkk∈N0

satisfazendo (M.0),

(M.1). (M.2) e (C.L).

25

Definicao 2.1. Fixada uma sequencia M := Mkk∈N0, define-se a funcao associada M : [0,∞)→ R,

pondo M(0) := 0 e

M(r) := supk∈N

logrνk

Mνk, ∀r > 0.

Observacao 2.4. M e uma funcao nao-decrescente.

Destacamos algumas propriedades da funcao M : [0,∞)→ R nos proximos Lemas.

Lema 2.2. Se λ` e um autovalor de E, entao para quaisquer q, L > 0 e δ ∈ (0, 1), existe C > 0 tal que

λq`e−δM(Lλ

1/ν` ) 6 C uniformemente em ` > 1. (2.2)

Demonstracao. Da definicao da funcao M, temos que

λq`e−δM(Lλ

1/ν` ) 6 λq`

M δνp

Lνpδλpδ`, ∀p ∈ N, (2.3)

pois, para cada p ∈ N, tem-se

M(Lλ1/ν` ) > log

(Lλ1/ν` )νp

Mνp= log

Lνpλp`Mνp

,

donde segue que, para δ > 0,

−δM(Lλ1/ν` ) 6 −δ log

Lνpλp`Mνp

= log

(Lνpλp`Mνp

)−δ= log

M δνp

Lνpδλpδ`

e, aplicando exp nesta desigualdade e multiplicando por λq` , obtemos (2.3). Em particular, usando a

desigualdade obtida logo acima com p satisfazendo pδ > q + 1 se Lνλ` > 1 e p = 1 se Lνλ` < 1, segue

que

λq`e−δM(Lλ

1/ν` ) 6 λq`

M δνp

Lν(q+1)λq+1`

=M δνp

Lν(q+1)λ`6 C

uniformemente em ` > 1, o que implica em (2.2).

Lema 2.3. Se infk∈NMνk

rνk6= 0, para todo r > 0, entao

supk∈N

rνk

Mνk=

(infk∈N

Mνk

rνk

)−1

.

Demonstracao. Por um lado, para todo p ∈ N, temos

1

infk∈NMνk

rνk

>1

Mνp

rνp

=rνp

Mνp

e, como a desigualdade acima e valida para todo p ∈ N, segue que

1

infk∈NMνk

rνk

> supp∈N

rνp

Mνp.

26

Por outro lado, para todo k ∈ N, e verdade que

1

supp∈Nrνp

Mνp

61rνk

Mνk

=Mνk

rνk,

o que implica em1

supp∈Nrνp

Mνp

6 infk∈N

Mνk

rνk=⇒ sup

p∈N

rνp

Mνp>

1

infk∈NMνk

rνk

.

Das duas desigualdades obtidas, segue o resultado.

Lema 2.4. Para todo r > 0 valem as igualdades

exp(M(r)) = supk∈N

rνk

Mνke exp(−M(r)) = inf

k∈N

Mνk

rνk.

Demonstracao. Da definicao de M(r), r > 0, temos

exp(M(r)) = exp

(supk∈N

logrνk

Mνk

)= sup

k∈N

(exp log

rνk

Mνk

)= sup

k∈N

rνk

Mνk.

Segue disto que

exp(−M(r)) =1

supk∈Nrνk

Mνk

Lem. 2.3= inf

k∈N

1rνk

Mνk

= infk∈N

r−νkMνk,

isto e,

infk∈N

r−νkMνk = exp(−M(r)), r > 0.

Lema 2.5. Para quaisquer ` ∈ N e L > 0, se L2 := L√AH

, sendo A e H como em (M.2), entao

e−12M(Lλ

1/ν` ) 6 e−M(L2λ

1/ν` ).

Demonstracao. De fato, temos

exp

(−1

2M(Lλ

1/ν` )

)= exp

(−1

2supp∈N

log(Lλ

1/ν` )νp

Mνp

)= exp

(infp∈N

(−1

2log

(Lλ1/ν` )νp

Mνp

))

= infp∈N

exp logM

1/2νp

(Lλ1/ν` )

νp2

= infp∈N

M1/2νp

Lνp2 λ

p/2`

6 infq∈N

M1/22νq

Lνqλq`, (2.4)

com a ultima desigualdade vindo do fato de que inf A 6 inf B, quando B ⊆ A. Agora, utilizando a

propriedade (M.2), existem constantes positivas A e H tais que

M2νq 6 AH2νqM2νq.

27

Da desiguadade acima e de (2.4), para todo q ∈ N segue que

exp

(−1

2M(Lλ

1/ν` )

)6

M1/22νq

Lνqλq`6

(AH2νqM2νq)

1/2

Lνqλq`=A

12HνqMνq

Lνqλq`

6Aνq2 HνqMνq

Lνqλq`=

Mνq

Lνq

(√A)νqHνq

λq`

=Mνq(L√AH

)νqλq`

=Mνq

Lνq2 λq`,

para L2 := L√AH

. Por fim, como a desigualdade acima vale para todo q ∈ N, tomando o ınfimo, tem-se

exp

(−1

2M(Lλ

1/ν` )

)6 infq∈N

Mνq

Lνq2 λq`= exp

(−M(L2λ

1/ν` )

).

2.3 O espaco ΓM (X)

Estamos agora em condicoes de introduzir uma classe analoga a definicao de H. Komatsu para

uma variedade compacta C∞. Para tanto, considere fixados um operador elıtico E ∈ Ψνe (X) e uma

sequencia M := Mkk∈N0. Durante todo o trabalho, sempre vamos assumir algum dos casos:

Caso Roumieu: Existem constantes ` > 0 e C` > 0 tais que

k! 6 C``kMk, ∀k ∈ N0.

Caso Beurling: Para todo ` > 0 existe C` > 0 tal que

k! 6 C``kMk, ∀k ∈ N0.

Definicao 2.2. A classe das funcoes ultradiferenciaveis em X do tipo Roumieu, denotada por

ΓM (X), e o espaco das funcoes φ ∈ C∞(X) tais que existem constantes h > 0 e C > 0 satisfazendo

‖Ekφ‖L2(X) 6 ChνkMνk, ∀k ∈ N0. (2.5)

Observacao 2.5. Podemos fazer algumas observacoes sobre a Definicao 2.2.

(1) A princıpio, a notacao ΓM (X) pode parecer equivocada, uma vez que precisamos de um operador

E ∈ Ψνe (X) para definirmos tal classe. Entao deverıamos denotar

ΓE,M (X) :=φ ∈ C∞(X);∃h > 0,∃C > 0 t.q. ‖Ekφ‖L2(X) 6 ChνkMνk,∀k ∈ N0

.

Entretanto, veremos que ΓE,M (X) nao dependera da escolha de E.

28

(2) Em (2.5), tomamos L2-normas por motivos que ficarao mais claros no decorrer de nosso estudo.

Entretanto, o Teorema 2.1 estabelece que podemos utilizar L∞-normas em vez de L2-normas,

obtendo um resultado equivalente; alem disso, no lugar de utilizar apenas potencias de um unico

operador agindo em funcoes, podemos avaliar a acao de um referencial de campos vetoriais suave

em funcoes de ΓM (X).

(3) As classes da Defincao 2.2 sao equivalentes as classes de funcoes que pertencem aos correspondentes

espacos de funcoes em cartas de coordenadas locais (veja o item (v) do Teorema 2.1). Ademais, a

fim de cobrir os casos analıtico e Gevrey, pode-se supor X e E analıticos.

(4) A Definicao 2.2 nos da a vantagem de que nao precisamos nos referir as coordenadas locais para

introduzir a classe ΓM (X). Isso nos permite apresentar definicoes analogas para funcoes analıticas

e Gevrey, mesmo se a variedade X e apenas suave. Por exemplo, tomando Mk = k!, obtemos a

classe Γk!(X) das funcoes φ tais que

‖Ekφ‖L2(X) 6 Chνk(νk)! ∀k ∈ N0. (2.6)

Se X e E forem analıticos, mostraremos no Corolario 2.3 que tal espaco e precisamente o espaco

das funcoes analıticas em X.

Observacao 2.6. O caso Beurling e apresentado na Secao 2.3.

O Teorema a seguir resume algumas propriedades essenciais do espaco de funcoes do tipo

Roumieu ΓM (X). Tais propriedades formalizam a discussao iniciada na Observacao 2.5.

Teorema 2.1. Sao validas as seguintes propriedades:

(i) O espaco ΓM (X) indepedende da escolha do operador E ∈ Ψνe (X), isto e, φ ∈ ΓM (X) se, e

somente se, (2.5) vale para algum (e consequentemente para todo) operador pseudodiferencial elıtico

E ∈ Ψνe (X).

(ii) Tem-se φ ∈ ΓM (X) se, e somente se, existem constantes h > 0 e C > 0 tais que

‖Ekφ‖L∞(X) 6 ChνkMνk, ∀k ∈ N0. (2.7)

(iii) Seja ∂1, ..., ∂N um referencial de campos vetoriais suave em X (logo∑Nj=1 ∂

2j e elıtico). Entao

φ ∈ ΓM (X) se, e somente se, existem h > 0 e C > 0 tais que

‖∂αφ‖L∞(X) 6 Ch|α|M|α|, (2.8)

para todo multi-ındices α, sendo ∂α = ∂α1j1· · · ∂αKjK , com 1 6 j1, ..., jK 6 N e |α| = α1 + · · ·+ αK .

29

(iv) Tem-se φ ∈ ΓM (X) se, e somente se, existem h > 0 e C > 0 tais que

‖∂αφ‖L2(X) 6 Ch|α|M|α|, (2.9)

para todo multi-ındices α como em (iii).

(v) Assuma que X e E sao analıticos. Entao a classe ΓM (X) e preservada por mudancas de variaveis

analıticas, e consequentemente e bem definida em X. Alem disso, em toda carta de coordenada

local, esta consiste de funcoes pertencendo localmente a classe ΓM (Rn).

Demonstracao. (i) Considere um operador elıtico E ∈ Ψνe (X) e seja φ ∈ C∞(X) tal que

‖Ekφ‖L2(X) 6 ChνkMνk, ∀k ∈ N0. (2.10)

Mostraremos que se P e outro operador elıtico em Ψνe (X), entao podemos substituir E por P em (2.10).

Para tanto, para cada k ∈ N0, denote por E−k uma parametriz de Ek. Neste caso, temos

E−k Ek = I +Rk, (2.11)

sendo Rk um operador pseudodiferencial regularizante. Segue de (2.11) que

P kφ = (P k E−k)(Ekφ)− (P k Rk)(φ). (2.12)

Note que os operadores P k E−k e Pk Rk tem ordem zero, para cada k ∈ N0, logo sao

contınuos em L2(X). Pelo Teorema de Calderon-Vaillancourt, apos fazermos algumas adaptacoes (veja

[1] e o Teorema 5.2.23 de [17]), podemos encontrar constantes positivas A e B, que nao dependem de k

e nem de φ, mas somente de um numero finito de derivadas dos sımbolos de E e P , tais que

‖(P k E−k)(Ekφ)‖L2(X) 6 Ak‖Ekφ‖L2(X)

e

‖(P k Rk)(φ)‖L2(X) 6 Bk‖φ‖L2(X).

Assim, utilizando a desigualdade triangular e o fato de que M := Mkk∈N0 e nao-decrescente,

segue de (2.12) e das estimativas acima que

‖P kφ‖L2(X) 6 Ak‖Ekφ‖L2(X) +Bk‖φ‖L2(X)

6 AkChνkMνk +BkCMνk

= C(Akhνk +Bk)Mνk

6 C((A1/νh1)νk + (B1/νh1)νk)Mνk

6 2ChνkMνk

= C1hνkMνk,

30

sendo h1 := maxh, 1, C1 := 2C e h := maxA1/νh1, B1/νh1, 1.

(ii) Queremos mostrar que (2.5)⇔(2.7).

(2.7)=⇒(2.5). Por hipotese, existem R > 0 e h > 0 tais que ‖Ekφ‖L∞(X) 6 RhνkMνk, para

todo k ∈ N0. Pela Proposicao 1.1, existe c > 0 tal que ‖Ekφ‖L2(X) 6 c‖Ekφ‖L∞(X). Combinando estas

desigualdades, segue que

‖Ekφ‖L2(X) 6 c‖Ekφ‖L∞(X) 6 RchνkMνk = ChνkMνk,

para todo k ∈ N0, sendo C := cR, e isto implica em (2.5).

(2.5)=⇒(2.7). Seja φ ∈ ΓM (X), logo vale (2.5), ou seja, existem R > 0 e s > 0 tais

que ‖Ekφ‖L2(X) 6 RsνkMνk, para todo k ∈ N0. Se φ =∑∞j=0

∑djk=1 φ(j, k)ekj , utilizando (1.7), as

Proposicoes 1.3 e 1.4, a desigualdade triangular, o Lema 1.2 e a formula de Plancherel, segue que

‖φ‖L∞(X) = ‖∞∑j=0

dj∑k=1

φ(j, k)ekj ‖L∞(X)

6∞∑j=0

dj∑k=1

|φ(j, k)‖ekj ‖L∞(X)

=

d0∑k=1

|φ(0, k)|‖ek0‖L∞(X) +

∞∑j=1

dj∑k=1

|φ(j, k)|‖ekj ‖L∞(X)

(1.7)

6d0∑k=1

|φ(0, k)|(

max16k6d0

‖ek0‖L∞(X)

)︸ ︷︷ ︸

:=C′

+

∞∑j=1

dj∑k=1

|φ(j, k)|(C ′′λ

n−12νj

)

= C ′d0∑k=1

|φ(0, k)|+ C ′′∞∑j=1

dj∑k=1

|φ(j, k)|λn−12νj

Pro. 1.46 C ′

√d0︸ ︷︷ ︸

:=C

‖φ(0)‖HS + C ′′∞∑j=1

dj∑k=1

|φ(j, k)|λ`+n−12ν −`

j

Pro. 1.36 C‖φ(0)‖HS + C ′′

∞∑j=1

dj∑k=1

(|φ(j, k)|λ`j)2

1/2 ∞∑j=0

dj∑k=1

(λn−12ν −`j

)2

1/2

= C‖φ(0)‖HS + C ′′

∞∑j=1

dj∑k=1

|λ`j φ(j, k)|21/2 ∞∑

j=0

dj∑k=1

λn−1ν −2`

j

1/2

Lem. 1.2= C‖φ(0)‖HS + C ′′

∞∑j=1

dj∑k=1

|E`φ(j, k)|21/2 ∞∑

j=0

λn−1ν −2`

j

dj∑k=1

1

1/2

= C‖φ(0)‖HS + C ′′

∞∑j=1

‖E`φ(j)‖2HS

1/2 ∞∑j=0

djλn−1ν −2`

j

1/2

︸ ︷︷ ︸converge por (1.5)

6 C‖φ‖L2(X) + C?‖E`φ‖L2(X),

31

com C? := C ′′(∑∞

j=0 djλn−1ν −2`

j

)1/2

e a ultima desigualdade decorrendo da formula de Plancherel e do

fato de que a serie no ultimo termo converge ao tomarmos ` suficientemente grande (devido a (1.5)).

Portanto, obtemos

‖φ‖L∞(X) 6 C‖φ‖L2(X) + C?‖E`φ‖L2(X). (2.13)

Usando (2.13) e a propriedade (M.1) da sequencia M = Mkk∈N0repetidamente, tem-se,

para todo m ∈ N0,

‖Emφ‖L∞(X) 6 C‖Emφ‖L2(X) + C?‖Em+`φ‖L2(X)

6 CRsνmMνm + C?Rsν(m+`)Mν(m+`)

6 CRsνmMνm + C?Rsνmsν`Arν(m+`)−1Mν(m+`)−1

6 CRsνmMνm + C?Rsνmsν`Arν(m+`)−1Arν(m+`)−2Mν(m+`)−2

= CRsνmMνm + C?Rsνmsν`A2r2ν(m+`)−1−2Mν(m+`)−2

...

6 CRsνmMνm + C?Rsνmsν`Aν`rν`ν(m+`)−1−···−ν`Mνm

= CRsνmMνm + C?Rsνmsν`Aν`(rν`)νmrν`2−(1+···+ν`)Mνm

= CRsνmMνm + C?R(srν`)νm(sA)ν`rν`2−(1+···+ν`)Mνm

6(CR+ C?(sA)ν`rν`

2−(1+···+ν`))hνmMνm

= ChνmMνm

com C := CR+ C?(sA)ν`rν`2−(1+···+ν`) e h := maxs, srν`, e isto implica na validade de (2.7).

De maneira totalmente analoga a demonstracao feita em (ii), prova-se que sao equivalentes

(2.8) e (2.9), o que sera util para demonstrarmos os demais itens.

(iii) Aqui, precisamos mostrar que (2.5)⇔(2.8).

(2.8)=⇒(2.5). Se mostrarmos que (2.8)⇒(2.7), por (ii) teremos(2.8)⇒(2.5). Seja φ ∈ C∞(X)

e suponha que vale (2.8), ou seja, existem C > 0 e s > 0 tais que ‖∂αφ‖L∞(X) 6 Cs|α|M|α|, para todo

α.

Considere o operador elıtico L :=∑Nj=1 ∂

2j , o qual pertence ao espaco Ψ2

e(X). Entao, com

Yj ∈ ∂iNi=1, para j = 1, ..., |α|, para todo x ∈ X e todo k ∈ N0, utilizando o Teorema multinomial

adaptado a nao comutatividade de campos vetoriais, podemos fazer a estimativa

|Lkφ(x)| = |(N∑j=1

∂2j )kφ(x)| 6

∑|α|=k

k!

α!|Y 2

1 · · ·Y 2|α|φ(x)|

(2.8)

6∑|α|=k

k!

α!Cs2|α|M2|α|

= Cs2kM2k

∑|α|=k

k!

α!

(1.2)= Cs2kM2kN

k = C(s√N)2kM2k = Ch2kM2k,

32

sendo h := s√N . Da desigualdade obtida acima, segue que

‖Lkφ‖L∞(X) = supx∈X|Lkφ(x)| 6 Ch2kM2k,

para todo k ∈ N0, donde vale (2.7), implicando, por (ii), em (2.5). Portanto, segue do item (i) que (2.5)

vale para todo operador pseudodiferencial elıtico em Ψ2e(X).

Finalmente, mostremos que φ ∈ ΓM (X). Para tanto, note que Lν/2 ∈ Ψνe (X), entao segue

pelo item (i) que Lν/2 tambem define a classe ΓM (X). Ainda pelos itens anteriores, sabe-se que ΓM (X)

independe da norma tomada (em L2 ou L∞). Observe que

‖(Lν/2)kφ‖2L2(X) = ‖Lνk/2φ‖2L2(X) = 〈Lνk/2φ,Lνk/2φ〉

= 〈φ,Lνkφ〉

6 ‖φ‖L2(X)‖Lνkφ‖L2(X)

6 CA2νkM2νk.

Pela propriedade (M.2), temos que

M2νk 6 A′H2νkM2νk,

e portanto, concluımos que existem C ′ > 0 e h > 0 tais que

‖(Lν/2)kφ‖L2(X) 6 C ′hνkMνk,

o que implica em φ ∈ ΓM (X).

(2.5)=⇒(2.8). Como (2.8) ⇔ (2.9), basta mostrar que (2.5)⇒(2.9). Seja φ ∈ C∞(X) e

suponha que vale (2.5), isto e, existem C > 0 e s > 0 tais que ‖Ekφ‖L2(X) 6 CsνkMνk, para todo k ∈ N0.

Denotando por E−k uma parametriz de Ek e por Rk o termo regularizante tal que E−k Ek = I +Rk,

podemos escrever

∂α = Pα Ek +Qα,k,

sendo Pα := ∂α E−k e Qα,k := ∂α Rk.

Por um argumento analogo ao que utilizamos na demonstracao de (i), existem H1 > 0 e H2 > 0

tais que ‖Pαφ‖L2(X) 6 Hk1 ‖φ‖L2(X) e ‖Qα,kφ‖L2(X) 6 Hk

2 ‖φ‖L2(X), sempre que |α| 6 νk. Portanto,

temos

‖∂αφ‖L2(X) 6 ‖(Pα Ek)φ‖L2(X) + ‖Qα,kφ‖L2(X)

6 Hk1 ‖Ekφ‖L2(X) +Hk

2 ‖φ‖L2(X)

6 C ′hνkMνk

com C ′ e h independentes de k e de α, donde segue a validez de (2.9) e, consequentemente, a de (2.8).

33

(iv) Queremos mostrar que (2.5)⇔(2.9). Como (2.5)(iii)⇔ (2.8) e (2.8)⇔(2.9), segue imediata-

mente o resultado desejado.

(v) Dada φ ∈ ΓM (X), representemos por ψ alguma localizacao de φ em Rn, isto e, existe

uma carta de coordenadas (U,ϕ) tal que ψ = φ ϕ−1 em ϕ(U). Uma vez que vale (2.8), o resultado

segue diretamente ao utilizarmos a desigualdade Mk > Ck! e a regra da cadeia (Nao vamos nos ater

aos detalhes dos calculos, pois nao temos o objetivo de revisitar todas as propriedades e resultados

estabelecidos para localizacoes em variedades; isso pode ser encontrado nas referencias [15] e [17]).

Exemplo 2.2. Este exemplo diz respeito a parte (v) do Teorema 2.1. Note que a classe Gevrey de ordem

s > 1, γs(X), de funcoes ultradiferenciaveis pode ser vista como γs(X) = ΓM (X) com M = Mkk∈N0

tal que Mk = (k!)s, para s > 1. Pelo Teorema 2.1, parte (v), este e o espaco das funcoes Gevrey φ em

X, isto e, funcoes que pertencem as classes Gevrey γs(U) em toda carta de coordenada local, ou ainda,

tais que existem constantes h > 0 e C > 0 satisfazendo

‖∂αψ‖L∞(U) 6 Ch|α|(|α|!)s,

para toda localizacao ψ de φ em X e para todo multi-ındices α. Se s = 1, este e o espaco das funcoes

analıticas.

Nosso proximo passo e caracterizar a classe de funcoes ultradiferenciaveis do tipo Roumieu

ΓM (X) em termos dos autovalores do operador E ∈ Ψν+e(X) atraves de estimativas sobre os coeficientes

de Fourier. Aqui estamos supondo que E e positivo definido a fim de utilizar a teoria desenvolvida na

secao 1.4. Assumimos que E e X sao apenas suaves e nao necessariamente analıticos (deixaremos

explıcito quando se fizer necessario assumir analiticidade).

Teorema 2.2. Tem-se φ ∈ ΓM (X) se, e somente se, existem constantes C > 0 e L > 0 tais que

‖φ(`)‖HS 6 C exp(−M(Lλ

1/ν` )

), ∀` > 1.

Demonstracao. Lembremos que, dada φ ∈ C∞(X), tem-se

φ ∈ ΓM (X)⇐⇒ ∃C > 0,∃h > 0 t.q. ‖Emφ‖L2(X) 6 ChνmMνm, ∀m ∈ N0.

Suficiencia: Seja φ ∈ ΓM (X). Queremos provar que, para todo ` ∈ N, existem C > 0 e

L > 0 tais que ‖φ(`)‖HS 6 C exp(−M(Lλ

1/ν` )

). Dado m ∈ N0, pela formula de Plancherel, temos que

‖Emφ‖2L2(X) =

∞∑`=0

‖Emφ(`)‖2HS.

34

Do Lema 1.2, temos que Emφ(`) = λm` φ(`); logo,

‖Emφ‖2L2(X) =

∞∑`=0

‖λm` φ(`)‖2HS =

∞∑`=1

λ2m` ‖φ(`)‖2HS.

Como φ ∈ ΓM (X), existem C > 0 e h > 0 tais que ‖Emφ‖L2(X) 6 ChνmMνm, o que nos da

∞∑`=1

λ2m` ‖φ(`)‖2HS = ‖Emφ‖2L2(X) 6 (ChνmMνm)2

=⇒ ∀` > 1, (λm` ‖φ(`)‖HS)2 6 (ChνmMνm)2,

donde obtemos

‖φ(`)‖HS 6ChνmMνm

λm`, ∀` > 1. (2.14)

Defina r := λ1/ν` /h e note que de (2.14) podemos fazer

‖φ(`)‖HSC

6Mνm(λ1/ν`

h

)νm =Mνm

rνm,

e utilizando o Lema 2.4

‖φ(`)‖HSC

6 infk∈N

Mνk

rνkLem. 2.4

= exp(−M(r)) = exp(−M(h−1λ

1/ν` )

),

o que implica, tomando L := h−1, que

‖φ(`)‖HS 6 C exp(−M(Lλ

1/ν` )

),

para todo ` > 1.

Necessidade: Seja φ ∈ C∞(X), de modo que existam C > 0 e L > 0 tais que

‖φ(`)‖HS 6 C exp(−M(Lλ

1/ν` )

), ∀` ∈ N.

Precisamos mostrar φ ∈ ΓM (X), ou seja, que existem constantes R > 0 e h > 0 tais que

‖Emφ‖L2(X) 6 RhνmMνm, para todo m ∈ N0. Pela formula de Plancherel e por hipotese, temos

‖Emφ‖2L2(X) =

∞∑j=0

‖Emφ(j)‖2HS =

∞∑j=0

λ2mj ‖φ(j)‖2HS

=

∞∑j=1

λ2mj ‖φ(j)‖2HS 6

∞∑j=1

λ2mj

[C exp

(−M(Lλ

1/νj )

)]2= C ′

∞∑j=1

λ2mj exp

(−M(Lλ

1/νj )

)exp

(−M(Lλ

1/νj )

), (2.15)

com C ′ = C2.

35

Para cada j ∈ N, note que

λ2mj exp

(−M(Lλ

1/νj )

)=

λ2mj

supk∈N(Lλ

1/νj )νk

Mνk

6λ2mj

(Lλ1/νj )νp

Mνp

=λ2mj

LνpλpjMνp,

para todo p ∈ N. Em particular, tomando p = 2m + 1 na desigualdade acima e usando a propriedade

(M.2) da sequencia M = Mkk∈N0 , segue que

λ2mj exp

(−M(Lλ

1/νj )

)6

λ2mj

Lν(2m+1)λ2m+1j

Mν(2m+1)

(M.2)

6 λ−1j Ah2νmM2νm,

para A, h > 0. Voltando em (2.15),

‖Emφ‖2L2(X) 6 C ′∞∑j=1

λ−1j Ah2νmM2νm exp

(−M(Lλ

1/νj )

)= C ′Ah2νmM2νm

∞∑j=1

λ−1j exp

(−M(Lλ

1/νj )

). (2.16)

Para cada j ∈ N,

λ−1j exp

(−M(Lλ

1/νj )

)6 λ−1

j

Mνp

λpjLνp

=Mνp

Lνp1

λp+1j

,

para todo p ∈ N. De (1.5), sabemos que∑∞j=1

dj(1+λj)q

<∞⇔ q > nν ; entao, tome p grande o suficiente,

de modo que para cada j ∈ N, tenhamos

λp+1j >

(1 + λj)q

dj⇐⇒ 1

λp+1j

6dj

(1 + λj)q.

Logo, pelo teste de comparacao, a serie∑∞j=1

1

λp+1j

converge.

Voltando em (2.16) e usando a propriedade (M.2) da sequencia M = Mkk∈N0 , obtemos

‖Emφ‖2L2(X) 6 C ′Ah2νmM2νm

∞∑j=1

Mνp

Lνp1

λp+1j

= C ′Ah2νmM2νmMνp

Lνp

∞∑j=1

1

λp+1j︸ ︷︷ ︸

=C′′<∞

=C ′C ′′AMνp

Lνph2νmM2νm

6 Rh2νmM2νm,

o que implica em ‖Emφ‖L2(X) 6 RhνmMνm, ou seja, φ ∈ ΓM (X).

2.3.1 A classe γs(X)

A partir do Teorema 2.2 podemos obter a caracterizacao para a classe Gevrey

γs(X) = Γ(k!)s(X), s ∈ [1,∞),

36

em que M = (k!)sk∈N0. Para verificar isto, mostremos primeiramente que

M(r) ' r1/s.

De fato, usando a desigualdade tN

N ! 6 et, para N ∈ N0 e t ∈ R, que decorre da expansao de

Taylor da funcao exponencial, temos

M(r) = supk∈N

logrνk

((νk)!)s= sup

k∈Nlog

((rνk)1/s

(νk)!

)s6 sup

`∈Nlog

((r1/s)`

`!

)s6 sup

`∈Nlog(er

1/s

)s

= sr1/s. (2.17)

Por outro lado, temos a desigualdade (veja a formula (3.20) de [2])

infp∈N

(2p)2psr−2p 6 exp(− s

8er1/s

).

Analogamente, para quaisquer ν ∈ N e k > ν, usando a desigualdade (k + ν)k+ν 6 (4ν)kkk, obtemos a

desigualdade (basta seguir a mesma ideia da deducao de (3.20) em [2])

infp∈N

(νp)νpsr−νp 6 exp(− s

4νer1/s

).

Por fim, utilizando a desigualdade acima e p! 6 pp, segue que

exp(M(r)) = exp

(supk∈N

logrνk

((νk)!)s

)= sup

k∈Nexp

(log

rνk

((νk)!)s

)= sup

k∈N

1

((r1/s)−νk(νk)!)sLem. 2.3

=1

infk∈N((r1/s)−νk(νk)!)s

>1

infk∈N((r1/s)−νk(νk)νk)s=

1

infk∈N (r−νk(νk)νks)

>1

exp(− s

4νer1/s) = exp

( s

4νer1/s

),

e segue pela monotonicidade da funcao exponencial que

s

4νer1/s 6 M(r). (2.18)

Combinando (2.17) e (2.18), obtemos

s

4νer1/s 6 M(r) 6 sr1/s. (2.19)

Podemos entao formular uma caracterizacao para os espacos Gevrey:

Teorema 2.3. Suponha que X e E sao analıticos e seja s ∈ [1,∞). Entao, temos que φ ∈ γs(X) se, e

somente se, existem constantes C > 0 e L > 0 tais que

‖φ(`)‖HS 6 C exp(−Lλ1sν

` ), ∀` > 1.

Em particular, para s = 1, recuperamos a caracterizacao de funcoes analıticas dada em (1.6).

37

Demonstracao. A primeira parte da demonstracao segue imediatamente do Teorema 2.2 juntamente

com o fato de que M(r) ' r1/s (ver (2.19)) para a classe γs(X), s > 1. Portanto, basta provar (1.6).

Sejam X uma variedade compacta fechada e E um operador diferencial analıtico, elıtico, positivo e de

ordem ν. Considere φk e λk as respectivas autofuncoes e autovalores de E, isto e,

Eφk = λkφk, ∀k.

De acordo com [18], uma funcao suave f =∑∞j=0 fjφj e analıtica se, e somente se, existe uma

constante C > 0 tal que, para todo k > 0, temos

∞∑j=0

λ2kj |fj |2 6 ((νk)!)2C2k+2,

que pode ser vista como a formula de Plancherel

‖Ekf‖2L2(X) =

∞∑j=0

λ2kj |fj |2 6 ((νk)!)2C2k+2,

pois f =∑j fjφj implica em

Ekf =∑j

fjEkφj =

∑j

fjλkjφj =⇒ ‖Ekf‖2L2(X) =

∑j

λ2kj |fj |2.

Em virtude da Definicao 2.2, para a classe de funcoes analıticas, podemos tomar Mk = k! e,

pelo Teorema 2.2, f e analıtica se, e somente se,

‖f(j)‖HS 6 C exp(−Lλ1/νj ) ou |fj | 6 C ′ exp(−L′λ1/ν

j ),

com M(r) = supp log rνp

(νp)! ' r, considerando (2.19).

Observacao 2.7. No Teorema 2.3 assumimos X e E analıticos com o objetivo de interpretar o espaco

γs(X) localmente como um espaco Gevrey, baseando-se na ideia do item (v) do Teorema 2.1.

2.4 O espaco Γ(M )(X)

Finalizamos este capıtulo introduzindo as classes de funcoes do tipo Beurling.

Definicao 2.3. A classe das funcoes ultradiferenciaveis em X do tipo Beurling, denotada por

Γ(M )(X), e o espaco das funcoes φ ∈ C∞(X) tais que para cada h > 0 existe uma constante Ch > 0

satisfazendo

‖Ekφ‖L2(X) 6 ChhνkMνk, ∀k ∈ N0.

O Teorema a seguir caracteriza os espacos de funcoes do tipo Beurling de modo semelhante

ao que e feito no Teorema 2.2.

38

Teorema 2.4. Tem-se φ ∈ Γ(M )(X) se, e somente se, para todo L > 0 existe CL > 0 tal que

‖φ(`)‖HS 6 CL exp(−M(Lλ

1/ν` )

), ∀` > 1. (2.20)

Demonstracao. A demonstracao deste resultado segue as mesmas ideias apresentadas para a prova do

Teorema 2.2, fazendo-se as devidas modificacoes. Sendo assim, mostramos apenas que a estimativa

(2.20) e necessaria. Para tanto, seja L > 0 qualquer. Fixado m ∈ N0, pela formula de Plancherel, dada

φ ∈ Γ(M )(X) temos que

‖Emφ‖2L2(X) =

∞∑j=0

‖Emφ(j)‖2HS =

∞∑j=1

λ2mj ‖φ(j)‖2HS,

donde segue que, para todo j ∈ N,

λ2mj ‖φ(j)‖2HS 6 ‖Emφ‖2L2(X) =⇒ ‖φ(j)‖HS 6 λ−mj ‖Emφ‖L2(X).

Como φ ∈ Γ(M )(X), existe CL > 0 tal que

‖Ekφ‖L2(X) 6 CLLνkMνk, ∀k ∈ N0,

logo

‖φ(j)‖HS 6 CLLνmMνmλ

−mj = CLL

2νm Mνm

(Lλ1/νj )νm

6 CLMνm

(Lλ1/νj )νm

o que implica em

‖φ(j)‖HSCL

6Mνm

(Lλ1/νj )νm

,

com CL := CL ·max1, L2νm. Portanto, segue que

‖φ(j)‖HSCL

6 infk∈N

Mνk

(Lλ1/νj )νk

= exp(−M(Lλ

1/νj )

),

e assim

‖φ(j)‖HS 6 CL exp(−M(Lλ

1/νj )

), ∀j > 1.

39

Capıtulo 3

ULTRADISTRIBUICOES

Neste capıtulo estudamos os espacos de ultradistribuicoes, ou seja, dos funcionais lineares

contınuos sobre ΓM (X), no caso Roumieu, e sobre Γ(M )(X), no caso Beurling. O principal objetivo

e caracterizar tais espacos atraves dos coeficientes de Fourier (Teoremas 3.3 e 3.4). Para tanto, se faz

necessaria a construcao dos espacos α-duais, apresentados a seguir.

3.1 α-duais

Em primeiro lugar, sera apresentada a definicao formal do α-dual do espaco ΓM (X) e, em

seguida, estabelecemos um resultado que nos da caracterizacoes alternativas de elementos do α-dual.

Definicao 3.1. O α-dual do espaco ΓM (X) de funcoes ultradiferenciaveis, denotado por [ΓM (X)]∧,

e definido como v = v``∈N0;

∞∑`=0

d∑j=1

|(v`)j ||φ(`, j)| <∞, v` ∈ Cd` ,∀φ ∈ ΓM (X)

.

Podemos ainda usar a notacao v(`, j) := (v`)j (a j-esima coordenada do vetor v` ∈ Cd`) e

‖v`‖HS =

d∑j=1

|v(`, j)|21/2

.

Observacao 3.1. Cada elemento v ∈ [ΓM (X)]∧ e uma sequencia de vetores da forma v = v``∈N0

tal que, para cada ` ∈ N0, v` ∈ Cd` . Por exemplo,

v0 = ((v0)1, (v0)2, ..., (v0)d0) = (v(0, 1), v(0, 2), ..., v(0, d0)) ∈ Cd0

v1 = ((v1)1, (v1)2, ..., (v1)d1) = (v(1, 1), v(1, 2), ..., v(1, d1)) ∈ Cd1

v2 = ((v2)1, (v2)2, ..., (v2)d2) = (v(2, 1), v(2, 2), ..., v(2, d2)) ∈ Cd2... .

Definimos o segundo dual de ΓM (X), denotado por ([ΓM (X)]∧)∧

, como o espaco das sequencias

w = w``∈N0, com w` ∈ Cd` , tais que

∞∑`=0

d∑j=1

|(w`)j ||(v`)j | <∞, ∀v ∈ [ΓM (X)]∧.

40

Observacao 3.2. Uma discussao acerca do α-dual para o caso Beurling e apresentada na Secao 3.2.1.

O proximo resultado, e o mais importante desta secao, nos fornece caracterizacoes alternativas

para [ΓM (X)]∧.

Teorema 3.1. As afirmacoes a seguir sao equivalentes.

(i) v ∈ [ΓM (X)]∧.

(ii) Para todo L > 0 tem-se∞∑`=1

exp(−M(Lλ

1/ν` )

)‖v`‖HS <∞.

(iii) Para todo L > 0, existe K = KL > 0 tal que

‖v`‖HS 6 K exp(M(Lλ

1/ν` )

)vale para todo ` ∈ N.

Demonstracao. (i)=⇒(ii). Dados v ∈ [ΓM (X)]∧ e L > 0, seja φ uma funcao em C∞(X) satisfazendo

φ(`, j) = exp(−M(Lλ

1/ν` )

), ∀` ∈ N0, 1 6 j 6 d`.

Afirmacao: φ ∈ ΓM (X). De fato, por (1.4), existem q ∈ N e C > 0 tais que√d` 6 Cλq` ,∀` > 1,

entao

‖φ(`)‖HS =

d∑j=1

|φ(`, j)|21/2

=

d∑j=1

(exp

(−M(Lλ

1/ν` )

))2

1/2

= exp(−M(Lλ

1/ν` )

)d∑j=1

1

1/2

= exp(−M(Lλ

1/ν` )

)√d`

(1.4)

6 Cλq` exp

(−1

2M(Lλ

1/ν` )

)exp

(−1

2M(Lλ

1/ν` )

),

para todo ` > 1. Pela estimativa (2.2), temos que λq` exp(− 1

2M(Lλ1/ν` )

)6 C uniformemente em

` > 1; logo,

‖φ(`)‖HS 6 C ′ exp

(−1

2M(Lλ

1/ν` )

)vale para todo ` > 1. Pelo Lema 2.5, para L2 = L√

AH, temos que

exp

(−1

2M(Lλ

1/ν` )

)6 exp

(−M(L2λ

1/ν` )

),

donde obtemos

‖φ(`)‖HS 6 C ′ exp(−M(L2λ

1/ν` )

), ∀` > 1,

o que nos da φ ∈ ΓM (X) pelo Teorema 2.2, e isto prova a afirmacao.

41

Usando a desigualdade (1.8) e o fato de que φ ∈ ΓM (X), segue que

∞∑`=1

exp(−M(Lλ

1/ν` )

)‖v`‖HS 6

∞∑`=1

exp(−M(Lλ

1/ν` )

) d∑j=1

|v(`, j)|

=

∞∑`=1

d∑j=1

exp(−M(Lλ

1/ν` )

)|v(`, j)|

=

∞∑`=1

d∑j=1

|φ(`, j)||v(`, j)| <∞,

com < ∞ vindo da hipotese (i), uma vez que φ ∈ ΓM (X) e v ∈ [ΓM (X)]∧, donde segue a validez de

(ii).

(ii)=⇒(i). Seja v = (v`)`∈N0, com v` ∈ Cd` , de modo que

∞∑`=1

exp(−M(Lλ

1/ν` )

)‖v`‖HS <∞,

para todo L > 0. Devemos mostrar que v ∈ [ΓM (X)]∧, ou seja, que∑∞`=0

∑d`j=1 |(v`)j ||φ(`, j)| < ∞,

para toda φ ∈ ΓM (X). Para tanto, seja φ ∈ ΓM (X). Pelo Teorema 2.2, existem C > 0 e L > 0 tais que

‖φ(`)‖HS 6 C exp(−M(Lλ

1/ν` )

), ∀` > 1.

Entao, podemos fazer a seguinte estimativa utilizando a hipotese e a desigualdade de Cauchy-

Schwarz (C.S.),

∞∑`=0

d∑j=1

|(v`)j ||φ(`, j)|(C.S.)

6∞∑`=0

‖v`‖HS‖φ(`)‖HS

= ‖v0‖HS‖φ(0)‖HS +

∞∑`=1

‖v`‖HS‖φ(`)‖HS

6 ‖v0‖HS‖φ(0)‖HS︸ ︷︷ ︸<∞

+C

∞∑`=1

‖v`‖HS exp(−M(Lλ

1/ν` )

)︸ ︷︷ ︸

<∞, por hipotese

< ∞,

donde segue que v ∈ [ΓM (X)]∧.

(ii)=⇒(iii). Esta implicacao e imediata devido a convergencia da serie, que e nossa hipotese.

De fato, se∞∑`=1

exp(−M(Lλ

1/ν` )

)‖v`‖HS <∞,

para todo L > 0, entao existe K = KL > 0 tal que, para todo ` > 1

exp(−M(Lλ

1/ν` )

)‖v`‖HS 6 K,

42

o que implica em

‖v`‖HS 6 K exp(M(Lλ

1/ν` )

), ∀` ∈ N,

donde segue (iii).

(iii)=⇒(ii). Seja v ∈ Cd` , ` > 1. Dado L > 0, tomando L2 := L√AH

como no Lema 2.5, temos

que

exp

(−1

2M(Lλ

1/ν` )

)6 exp

(−M(L2λ

1/ν` )

), (3.1)

e para tal L2, segue da hipotese que existe K = KL2 > 0 tal que

‖v`‖HS 6 K exp(M(L2λ

1/ν` )

)⇐⇒ exp

(−M(L2λ

1/ν` )

)‖v`‖HS 6 K. (3.2)

Alem disso, por (2.4), temos

exp

(−1

2M(Lλ

1/ν` )

)6

M1/2νp

Lνp2 λ

p/2`

, ∀p ∈ N.

Por fim, da desigualdade acima, (3.1) e (3.2), segue que

∞∑`=1

exp(−M(Lλ

1/ν` )

)‖v`‖HS

=

∞∑`=1

exp

(−1

2M(Lλ

1/ν` )

)exp

(−1

2M(Lλ

1/ν` )

)‖v`‖HS

(3.1)

6∞∑`=1

exp

(−1

2M(Lλ

1/ν` )

)exp

(−M(L2λ

1/ν` )

)‖v`‖HS

(3.2)

6 K

∞∑`=1

exp

(−1

2M(Lλ

1/ν` )

)6 K

∞∑`=1

M1/2νp

Lνp2 λ

p/2`

= KM

1/2νp

Lνp2

∞∑`=1

1

λp/2`

<∞

sendo que a serie∑∞`=1

1

λp/2`

converge ao tomarmos p grande o suficiente, utilizando (1.5) e o criterio de

comparacao.

3.2 O espaco Γ′M (X)

Finalmente, introduzimos o espaco das ultradistribuicoes sobre ΓM (X).

Definicao 3.2. A classe das ultradistribuicoes sobre ΓM (X), denotada por Γ′M (X), e o conjunto

de todos os funcionais lineares u : ΓM (X)→ C tais que para todo ε > 0 existe Cε > 0 satisfazendo

|u(φ)| 6 Cε supα∈Nn0

ε|α|M−1ν|α| sup

x∈X|E|α|φ(x)|, ∀φ ∈ ΓM (X).

Observacao 3.3. Podemos usar a notacao alternativa 〈u, φ〉 := u(φ).

43

Definicao 3.3 (Convergencia em ΓM (X)). Considere uma sequencia φmm∈N ⊆ ΓM (X) e uma

funcao φ ∈ ΓM (X). Entao, φm → φ, quando m→∞, se existe ε > 0 tal que

supα∈Nn0

ε|α|M−1ν|α| sup

x∈X|E|α|(φm − φ)(x)| → 0, quando m→∞.

Observacao 3.4. Temos ainda que u ∈ Γ′M (X) se, e somente se, u(φm) → 0 quando m → ∞, para

toda sequencia φmm∈N ⊆ ΓM (X) convergindo para zero em ΓM (X).

Definicao 3.4. Definimos os coeficientes de Fourier de u ∈ Γ′M (X) pondo

u(`, k) := u(ek` ) e u(`) := u(e`) :=

u(`, 1)

...

...

u(`, d`)

∈ Cd` ,

para ` ∈ N0 e 1 6 k 6 d`. Define-se ainda

‖u(`)‖HS :=

(d∑k=1

|u(`, k)|2)1/2

, ∀` ∈ N0.

Definicao 3.5. Sejam u``∈N uma sequencia em Γ′M (X) e u ∈ Γ′M (X). Dizemos que u` converge

para u em Γ′M (X) se uj(φ) converge para u(φ) em C, para toda φ ∈ ΓM (X).

No que segue, vamos provar que o espaco de ultradistribuicoes Γ′M (X) coincide com o α-dual

[ΓM (X)]∧, no sentido de identificacao de elementos em cada um dos espacos. Em outras palavras, a

partir de qualquer v ∈ [ΓM (X)]∧ e possıvel determinar um elemento de Γ′M (X) e, reciprocamente, a

partir de qualquer elemento v ∈ Γ′M (X) e possıvel determinar um elemento de [ΓM (X)]∧.

Teorema 3.2. v ∈ Γ′M (X) se, e somente se, v ∈ [ΓM (X)]∧.

Demonstracao. (⇐=). Seja v ∈ [ΓM (X)]∧ arbitrario. Dada uma funcao φ ∈ ΓM (X), vamos definir

v(φ) :=

∞∑`=0

φ(`) · v` =

∞∑`=0

d∑j=1

φ(`, j)(v`)j .

Pelo Teorema 2.2, como φ ∈ ΓM (X), existem constantes C > 0 e L > 0 tais que

‖φ(`)‖HS 6 C exp(−M(Lλ

1/ν` )

), ∀` ∈ N.

44

Alem disso, pelo Teorema 3.1, tem-se

|v(φ)| =

∣∣∣∣∣∣∞∑`=0

d∑j=1

φ(`, j)(v`)j

∣∣∣∣∣∣ 6∞∑`=0

d∑j=1

|φ(`, j)||(v`)j |

6∞∑`=0

‖φ(`)‖HS‖v`‖HS = ‖φ(0)‖HS‖v0‖HS +

∞∑`=1

‖φ(`)‖HS‖v`‖HS

6 ‖φ(0)‖HS‖v0‖HS︸ ︷︷ ︸<∞

+C

∞∑`=1

exp(−M(Lλ

1/ν` )

)‖v`‖HS︸ ︷︷ ︸

<∞, pelo Teorema 3.1

<∞

o que nos diz que v(φ) e bem definido.

Para verificar que v e contınuo, seja φj → φ em ΓM (X) quando j →∞, isto e,

supαε|α|M−1

ν|α| supx∈X|E|α|(φj(x)− φ(x))| → 0 quando j →∞.

Segue que

supαε|α|M−1

ν|α| supx∈X|E|α|(φj(x)− φ(x))| = sup

αε|α|M−1

ν|α|‖E|α|(φj − φ)‖L∞(X) 6 Cj ,

com Cj → 0 quando j →∞. Isto implica que para todo α

ε|α|M−1ν|α|‖E

|α|(φj − φ)‖L∞(X) 6 Cj

=⇒ ‖E|α|(φj − φ)‖L∞(X) 6 CjAν|α|Mν|α|,

com Cj → 0 quando j →∞ e A := ε−1/ν . Segue da prova do Teorema 2.2 e do Lema 1.2 que

‖φj(`)− φ(`)‖HS = ‖(φj − φ)(`)‖HS 6 C ′j exp(−M(Lλ

1/ν` )

),

com C ′j → 0. Logo

|v(φj)− v(φ)| = |v(φj − φ)|

=

∣∣∣∣∣∞∑`=0

d∑k=1

(φj − φ)(`, k)(v`)k

∣∣∣∣∣6

∞∑`=0

d∑k=1

|(φj − φ)(`, k)||(v`)k|

(C.S.)

6∞∑`=0

‖(φj − φ(`)‖HS‖v`‖HS

6 C ′j

∞∑`=0

exp(−M(Lλ

1/ν` )

)‖v`‖HS → 0,

quando j →∞, o que implica em v ∈ Γ′M (X).

45

(=⇒). Seja v ∈ Γ′M (X). Por definicao, para todo ε > 0 existe Cε > 0 tal que

|v(φ)| 6 Cε supα∈Nn0

ε|α|M−1ν|α| sup

x∈X|E|α|φ(x)|, ∀ ∈ ΓM (X).

Em particular, tomando φ = ej` e usando a desigualdade (1.7), segue que

|v(ej`)| 6 Cε supα∈Nn0

ε|α|M−1ν|α| sup

x∈X|E|α|ej`(x)|

= Cε supα∈Nn0

ε|α|M−1ν|α| sup

x∈X|λ|α|` ej`(x)|

= Cε supα∈Nn0

ε|α|M−1ν|α|λ

|α|` sup

x∈X|ej`(x)|

(1.7)

6 C ′ε supα∈Nn0

ε|α|M−1ν|α|λ

|α|` λ

n−12ν

`

= C ′ε supα∈Nn0

ε|α|λ|α|+k`

Mν|α|, (3.3)

para k := n−12ν . Usando a propriedade (M.1) da sequencia M = Mkk∈N0 , podemos fazer a estimativa

(utilizando o Lema 2.1)

Mν(|α|+k) 6 AHν(|α|+k)−1Mν(|α|+k)−1

6 · · ·

6 AνkHνkν(|α|+k)−(1+···+νk)Mν|α|

= AνkHνkν|α|+ν2k2H−(1+···+νk)Mν|α|

= Aνkhνk|α|+νk2

Hf(ν,k)Mν|α|,

com h := Hν e f(ν, k) := −(1 + · · ·+ νk) independente de α. Logo a desiguadade acima implica em

1

Mν|α|6AνkHf(ν,k)hνk|α|+νk

2

Mν(|α|+k).

Esta desigualdade e (3.3) implicam em

|v(ej`)| 6 C ′ε supα∈Nn0

ε|α|+k−kλ|α|+k` AνkHf(ν,k)hνk|α|+νk

2

Mν(|α|+k)

= C ′εε−kAνkHf(ν,k)︸ ︷︷ ︸

:=C′′ε

supα∈Nn0

ε|α|+k(hk)ν(|α|+k)λ|α|+k`

Mν(|α|+k)

= C ′′ε supα∈Nn0

(ε1ν hk)ν(|α|+k)λ

|α|+k`

Mν(|α|+k)6 C ′′ε exp

(M(Lλ

1/ν` )

),

com L := ε1/νhk. Ao mesmo tempo, segue pelo Lema 2.5 que

exp(M(Lλ

1/ν` )

)6 exp

(1

2M(L3λ

1/ν` )

),

46

tomando L = L3√AH

.

Por fim, dado L3 > 0, tome ε > 0 tal que L3 =√AHε1/νhk, entao a desigualdade acima, (1.4)

para algum q, e (2.2) implicam que existe CL3= C ′′ε > 0 satisfazendo

‖v(e`)‖HS =

d∑j=1

∣∣∣v(ej`)∣∣∣21/2

6

d∑j=1

C ′′ε exp(M(Lλ

1/ν` )

)2

1/2

= Cd1/2` exp

(M(Lλ

1/ν` )

)6 Cλq` exp

(1

2M(L3λ

1/ν` )

)6 C exp

(1

2M(L3λ

1/ν` )

)exp

(1

2M(L3λ

1/ν` )

)= C exp

(M(L3λ

1/ν` )

),

ou seja, v ∈ [ΓM (X)]∧ pelo Teorema 3.1.

Finalmente, podemos caracterizar uma ultradistribuicao u ∈ Γ′M (X) em termos de seus coe-

ficientes de Fourier e dos autovalores do operador E ∈ Ψν+e(X).

Teorema 3.3. Temos que u ∈ Γ′M (X) se, e somente se, para todo L > 0 existe K = KL > 0 tal que

‖u(`)‖HS 6 K exp(M(Lλ

1/ν` )

), ∀` ∈ N.

Demonstracao. Basta combinar os Teoremas 3.1 e 3.2. De fato, se por um lado u ∈ Γ′M (X), segue pelo

Teorema 3.2 que u ∈ [ΓM (X)]∧; logo, pelo Teorema 3.1 (iii), dado qualquer L > 0 existe K = KL > 0

tal que ‖u(`)‖HS 6 K exp(M(Lλ

1/ν` )

), para todo ` > 1.

Reciprocamente, se para todo L > 0 existeK = KL > 0 tal que ‖u(`)‖HS 6 K exp(M(Lλ

1/ν` )

),

para todo ` > 1, segue novamente pelo Teorema 3.1 (iii), que u ∈ [ΓM (X)]∧, o que implica pelo Teorema

3.2 que u ∈ Γ′M (X).

3.2.1 O espaco Γ′(M )(X)

De modo analogo ao que foi feito para as classes do tipo Roumieu, o primeiro passo para

o estudo do espaco Γ′(M )(X), das ultradistribuicoes do tipo Beurling, e introduzir o espaco α-dual

correspondente,

Definicao 3.6. O α-dual do espaco Γ(M )(X) de funcoes ultradiferenciaveis, denotado por [Γ(M )(X)]∧,

e definido como v = v``∈N0;

∞∑`=0

d∑j=1

|(v`)j ||φ(`, j)| <∞, v` ∈ Cd` ,∀φ ∈ Γ(M )(X)

.

47

Definimos o segundo dual de Γ(M )(X), denotado por([Γ(M )(X)]∧

)∧, como o espaco das

sequencias w = w``∈N0 , com w` ∈ Cd` , tais que

∞∑`=0

d∑j=1

|(w`)j ||(v`)j | <∞, ∀v ∈ [Γ(M )(X)]∧.

Definicao 3.7. A classe das ultradistribuicoes sobre Γ(M )(X), denotada por Γ′(M )(X), e o

conjunto de todos os funcionais lineares u : Γ(M )(X)→ C tais que existem ε > 0 e C > 0 satisfazendo

|u(φ)| 6 C supαε|α|M−1

ν|α| supx∈X|E|α|φ(x)|, ∀φ ∈ Γ(M )(X).

Teorema 3.4. Temos que u ∈ Γ′(M )(X) se, e somente se, existem K > 0 e L > 0 tais que

‖u(`)‖HS 6 K exp(M(Lλ

1/ν` )

), ∀` ∈ N.

Teorema 3.5. As afirmacoes a seguir sao equivalentes.

(i) v ∈ Γ′(M )(X).

(ii) v ∈ [Γ(M )(X)]∧.

(iii) Existe L > 0 tal que∞∑`=1

exp(−M(Lλ

1/ν` )

)‖v`‖HS <∞.

(iv) Existem L > 0 e K > 0 tais que

‖v`‖HS 6 K exp(M(Lλ

1/ν` )

)vale para todo ` ∈ N.

48

Capıtulo 4

HIPOELITICIDADE GLOBAL

Neste capıtulo apresentamos um estudo para a hipoeliticidade global de certos operadores

lineares sobre as classes de funcoes ultradiferenciaveis estudadas nos capıtulos anteriores.

4.1 Operadores invariantes

Analisamos aqui a classe dos operadores invariantes com respeito ao operador elıtico E ∈

Ψν+e(X), como introduzido por J. Delgado e M. Ruzhansky em [5].

Sejam X uma variedade compacta suave e E ∈ Ψν+e(X) um operador elıtico. Como visto em

[5], os espacos C∞(X) e D ′(X) sao caracterizados em termos de seus coeficientes de Fourier da seguinte

forma:

f ∈ C∞(X)⇐⇒ ∀N ∈ N,∃CN > 0 t.q. ‖f(`)‖HS 6 CN (1 + λ`)−N , ∀` ∈ N (4.1)

e

u ∈ D ′(X)⇐⇒ ∃N ∈ N,∃C > 0 t.q. ‖u(`)‖HS 6 C(1 + λ`)N , ∀` ∈ N. (4.2)

Proposicao 4.1. Seja P : C∞(X) → C∞(X) um operador linear. Se o domınio do operador adjunto

P ∗ contem C∞(X), entao as seguintes condicoes sao equivalentes:

(i) Para cada j ∈ N0, temos P (Hj) ⊆ Hj.

(ii) Para cada j ∈ N0 e 1 6 k 6 dj, tem-se PEekj = EPekj .

(iii) Para cada ` ∈ N0, existe uma matriz σ(`) ∈ Cd`×d` tal que, para todo ekj , tem-se

P ekj (`,m) = σ(`)mkδj`, 1 6 m 6 d`. (4.3)

(iv) Para cada ` ∈ N0, existe uma matriz σ(`) ∈ Cd`×d` tal que

P φ(`) = σ(`)φ(`), φ ∈ C∞(X). (4.4)

As matrizes σ(`) em (4.3) e (4.4) coincidem, logo podemos usar a notacao σP (`) := σ(`). Alem disso, se

P pode ser estendido a um operador linear contınuo P : D ′(X)→ D ′(X), entao as propriedades acima

tambem sao equivalentes a:

49

(v) PE = EP em L2(X).

Demonstracao. Veja o Teorema 4.1 em [5].

Introduzimos agora as classes de operadores fortemente invariantes, conforme definidas em

[10].

Definicao 4.1. Ainda no contexto da Proposicao 4.1, diremos que:

P e invariante com relacao a E (ou simplesmente E-invariante) se alguma das propriedades

(i)-(iv) for satisfeita.

A sequencia de matrizes σP (`) ∈ Cd`×d` , que aparece nas propriedades (iii) e (iv), e o sımbolo

matricial de P .

P e fortemente invariante com relacao a E quando P puder ser estendido a um operador

linear contınuo P : D ′(X)→ D ′(X) e satisfaz qualquer uma das propriedades (i)-(v).

Para manter nossas notacoes organizadas, observe que podemos reformular (4.4) como

P φ(`) = σP (`)φ(`), φ ∈ C∞(X) ` ∈ N0, (4.5)

donde, em termos de coordenadas do vetor P φ(`), ` ∈ N0, para cada m ∈ 1, ..., d`, temos

P φ(`,m) = (σP (`)φ(`))m, φ ∈ C∞(X).

Com estas notacoes, note que a acao de qualquer operador E-invariante P numa funcao

φ ∈ C∞(X) pode ser escrita como

Pφ =

∞∑`=0

d∑m=1

P φ(`,m)em` =

∞∑`=0

d∑m=1

(σP (`)φ(`))mem`

o que implica em

Pφ(x) =

∞∑`=0

d∑m=1

(σP (`)φ(`))mem` (x) =

∞∑`=0

[σP (`)φ(`)

]e`(x), x ∈ X,

sendo e`(x) :=(e1`(x), ..., ed`` (x)

)∈ Cd` e

[σP (`)φ(`)

]e`(x) pode ser visto como o produto interno usual

em Cd` entre os vetores σP (`)φ(`) e e`(x), isto e,[σP (`)φ(`)

]e`(x) :=

⟨σP (`)φ(`), e`(x)

⟩Cd`

.

Em particular, para cada ekj ,

Pekj (x) =

dj∑m=1

σP (j)mkemj (x), x ∈ X,

50

pois

Pekj (x) =

∞∑`=0

d∑m=1

(σP (`)ekj (`)

)mem` (x)

=

∞∑`=0

d∑m=1

(d∑i=1

σP (`)miekj (`, i)

)em` (x)

=

∞∑`=0

d∑m=1

d∑i=1

σP (`)mi〈ekj , ei`〉L2em` (x)

=

∞∑`=0

d∑m=1

d∑i=1

σP (`)miδj`δkiem` (x)

=

dj∑m=1

σP (j)mkemj (x).

Na Proposicao 4.1, foi visto que (apos reformularmos em (4.5)), para cada ` ∈ N0 existe uma

matriz σP (`) ∈ Cd`×d` tal que

P φ(`) = σP (`)φ(`), ∀φ ∈ C∞(X). (4.6)

Pode ser provado que (4.6) se mantem valida para elementos de D ′(X), isto e, se P : D ′(X) → D ′(X)

e um operador fortemente invariante, entao

P u(`) = σP (`)u(`), ∀u ∈ D ′(X),∀` ∈ N0, (4.7)

o que pode ser consultado em [10].

A classe de todos os sımbolos matriciais sera denotada por Σ, isto e,

Σ :=σ;N0 3 ` 7→ σ(`) ∈ Cd`×d`

.

Para o estudo da hipoeliticidade de um operador, vamos usar as definicoes dadas em [7] e

algumas propriedades sobre numeros associados a sımbolos matriciais.

Definicao 4.2. Seja σ ∈ Σ um sımbolo matricial. Para cada ` ∈ N0, definimos

m(σ(`)) := inf‖σ(`)v‖HS; v ∈ Cd` e ‖v‖HS = 1

e

M(σ(`)) := sup‖σ(`)v‖HS; v ∈ Cd` e ‖v‖HS = 1

.

Observacao 4.1. Sobre a definicao acima, destacamos que:

M(σ(`)) = ‖σ(`)‖L (Cd` ).

σ(`) e invertıvel ⇐⇒ m(σ(`)) 6= 0.

Se σ(`) e invertıvel, entao M(σ(`)−1) = m(σ(`))−1.

51

4.2 M -hipoeliticidade global

Estabelecemos a seguir a nocao de hipoeliticidade global considerada neste trabalho e, em

seguida, exibimos o resultado que a caracteriza em termos dos sımbolos matriciais.

Definicao 4.3. Um operador P : D ′(X)→ D ′(X) e dito globalmente M -hipoelıtico em X quando

u ∈ D ′(X) e Pu ∈ ΓM (X) implicarem em u ∈ ΓM (X).

Teorema 4.1. Seja P : D ′(X)→ D ′(X) um operador fortemente invariante com relacao a E. Entao,

P e globalmente M -hipoelıtico se, e somente se, para todo ε > 0 existe Cε > 0 tal que

m(σP (j)) > exp(−M(ελ

1/νj )

), sempre que j > Cε.

Demonstracao. Necessidade: Considere u ∈ D ′(X) tal que Pu = φ ∈ ΓM (X). Como precisamos

mostrar que P e globalmente M -hipoelıtico, precisamos concluir que u ∈ ΓM (X). Para tanto, vamos

recorrer a caracterizacao dada no Teorema 2.2. Por (4.7), temos que

φ(`) = σP (`)u(`), ` ∈ N0.

Por hipotese, para cada ε > 0 existe Cε > 0 tal que m(σP (j)) 6= 0, sempre que j > Cε ou,

equivalentemente, para cada ε > 0 existe Cε > 0 tal que σP (j) e invertıvel sempre que j > Cε; logo,

podemos escrever

u(j) = σP (j)−1φ(j), j > Cε.

Como φ ∈ ΓM (X), segue pelo Teorema 2.2 que existem C > 0 e Lφ > 0 tais que

‖φ(`)‖HS 6 C exp(−M(Lφλ

1/ν` )

), ∀` ∈ N.

Da desigualdade acima e utilizando o Lema 2.5 com Lφ =Lφ√AH

, para cada ` ∈ N, temos

‖φ(`)‖HS 6 C exp(−M(Lφλ

1/ν` )

)= C exp

(−1

2M(Lφλ

1/ν` )

)exp

(−1

2M(Lφλ

1/ν` )

)6 C exp

(−M(Lφλ

1/ν` )

)exp

(−M(Lφλ

1/ν` )

). (4.8)

Entao, tomando ε0 := Lφ, existe Cε0 > 0 tal que, sempre que j > Cε0 vale

‖u(j)‖HS = ‖σP (j)−1φ(j)‖HS 6 ‖σP (j)−1‖L (Cdj )‖φ(j)‖HS

= m(σP (j))−1‖φ(j)‖HShip.

6 exp(M(Lφλ

1/νj )

)‖φ(j)‖HS

(4.8)

6 C exp(M(Lφλ

1/νj )

)exp

(−M(Lφλ

1/νj )

)exp

(−M(Lφλ

1/νj )

)= C exp

(−M(Lφλ

1/νj )

)52

e segue pelo Teorema 2.2 que u ∈ ΓM (X); logo, P e globalmente M -hipoelıtico.

Suficiencia: Vamos proceder por contrapositiva, isto e, negando a tese e construindo um

elemento u ∈ D ′(X)\ΓM (X) para o qual Pu ∈ ΓM (X), contrariando a hipotese de que P e globalmente

M -hipoelıtico. Suponha que existe ε0 > 0 tal que, para todo C > 0 existe j > C de modo que

m(σP (j)) < exp(−M(ε0λ

1/νj )

).

Em particular, tomando C = 1, existe j1 > 1 tal que m(σP (j1)) < exp(−M(ε0λ

1/νj1

))

; logo,

existe vj1 ∈ Cdj1 tal que ‖vj1‖HS = 1 e ‖σP (j1)vj1‖HS < exp(−M(ε0λ

1/νj1

))

. Em seguida, tomando

C = j1, existe j2 > j1 tal que m(σP (j2)) < exp(−M(ε0λ

1/νj2

))

e, consequentemente, existe vj2 ∈ Cdj2

com ‖vj2‖HS = 1 e ‖σP (j2)vj2‖HS < exp(−M(ε0λ

1/νj2

))

. Indutivamente, obtemos uma sequencia vjkk∈Ncom vjk ∈ Cdjk , ‖vjk‖HS = 1 e

‖σP (jk)vjk‖HS < exp(−M(ε0λ

1/νjk

)), ∀k ∈ N. (4.9)

Defina

u :=

∞∑`=0

d∑m=1

u(`,m)em` ,

de modo que

Cd` 3 u(`) =

vjk , se ` = jk para algum k ∈ N

0, se ` 6= jk para todo k ∈ N.

Por construcao, temos que ‖u(`)‖HS 6 1 6 (1 + λ`), para todo ` ∈ N0, o que implica por (4.2)

que u ∈ D ′(X). Claramente u /∈ ΓM (X) (uma vez que ΓM (X) ⊆ C∞(X)), pois ‖u(jk)‖HS = ‖vjk‖HS = 1,

para todo k ∈ N, ou seja, nao e satisfeita a condicao (4.1), logo u /∈ C∞(X).

Notemos que, como u(`) = 0 sempre que ` 6= jk, podemos escrever

u =

∞∑k=1

djk∑r=1

u(jk, r)erjk.

Por fim, vamos mostrar que Pu ∈ ΓM (X). De fato, sendo P fortemente invariante, segue da

igualdade logo acima que

Pu =

∞∑k=1

djk∑r=1

P u(jk, r)erjk

=

∞∑k=1

djk∑r=1

(σP (jk)u(jk))r erjk.

Segue de (4.9) que

‖P u(jk)‖HS = ‖σP (jk)u(jk)‖HS = ‖σP (jk)vjk‖HS(4.9)< exp

(−M(ε0λ

1/νjk

)), ∀k ∈ N,

logo tomando C = 1 e L = ε0, concluımos pelo Teorema 2.2 que Pu ∈ ΓM (X), isto e, P nao e

globalmente M -hipoelıtico, o que contradiz a hipotese.

53

4.2.1 O caso Gevrey γs(X)

A partir dos resultados obtidos ate o momento, vamos construir um exemplo para uma classe

de funcoes ja conhecida, a saber, a classe das funcoes Gevrey sobre a variedade X. Relembremos que a

classe de funcoes Gevrey em X pode ser compreendida como

γs(X) = Γ(k!)s(X), s ∈ [1,∞),

ao considerarmos a sequencia M := Mkk∈N0 com Mk = (k!)s,∀k ∈ N0. Por (2.19), temos que para

γs(X) a funcao associada fica M(r) ' r1/s e que

φ ∈ γs(X)⇐⇒ ∃C > 0,∃L > 0 t.q. ‖φ(`)‖HS 6 C exp(−Lλ1sν

` ), ∀` ∈ N.

Portanto, segue do Teorema 4.1 que, a hipoeliticidade global para a classe γs(X) e obtida atraves do

seguinte resultado:

Teorema 4.2. Seja P : D ′(X)→ D ′(X) um operador fortemente invariante em relacao a E. Entao P

e globalmente γs-hipoelıtico se, e somente se, para todo ε > 0 existe Cε > 0 tal que

m(σP (j)) > exp(−ελ1sνj ), sempre que j > Cε.

4.3 (M )-hipoeliticidade global

Podemos obter um resultado analogo ao da secao aterior para a classe de funcoes do tipo

Beurling, com as adaptacoes naturais. Vejamos.

Definicao 4.4. Um operador P : D ′(X) → D ′(X) e globalmente (M )-hipoelıtico em X quando

u ∈ D ′(X) e Pu ∈ Γ(M )(X) implicarem em u ∈ Γ(M )(X).

Podemos caracterizar a (M )-hipoeliticidade global de um operador fortemente invariante P

atraves de seu sımbolo utilizando o Teorema a seguir.

Teorema 4.3. Seja P : D ′(X)→ D ′(X) um operador fortemente invariante com relacao a E. Entao,

P e globalmente (M )-hipoelıtico se, e somente se, existem K > 0, r > 0 e C > 0 tais que

m(σP (j)) > K exp(−M(rλ

1/νj )

), sempre que j > C.

Demonstracao. Necessidade: Queremos provar que, se u ∈ D ′(X) com Pu = φ ∈ Γ(M )(X), isto

implica que u ∈ Γ(M )(X). Para tanto, vamos recorrer a caracterizacao dada pelo Teorema 2.4, ou seja,

mostremos que, dado L > 0, existe CL > 0 tal que ‖u(`)‖HS 6 CL exp(−M(Lλ

1/ν` )

), para todo ` > 1.

Por (4.7), segue que

φ(`) = σP (`)u(`), ∀` ∈ N0.

54

Por hipotese, para todo j > C

m(σP (j)) 6= 0 ⇐⇒ σP (j) e invertıvel,

entao, para j > C, podemos escrever

u(j) = σP (j)−1φ(j),

o que implica em

‖u(j)‖HS = ‖σP (j)−1φ(j)‖HS 6 ‖σP (j)−1‖L (Cdj )‖φ(j)‖HS

= m(σP (j))−1‖φ(j)‖HShip.

61

Kexp

(M(rλ

1/νj )

)‖φ(j)‖HS, j > C. (4.10)

Como φ ∈ Γ(M )(X), dado L′ > 0, existe CL′ > 0 tal que

‖φ(`)‖HS 6 CL′ exp(−M(L′λ

1/ν` )

), ∀` > 1;

logo, de (4.10) segue que

‖u(j)‖HS 6CL′

Kexp

(M(rλ

1/νj )

)exp

(−M(L′λ

1/νj )

). (4.11)

Seja L > 0 dado. Entao, podemos ter r 6 L ou r > L. Vamos analisar cada um dos casos.

r 6 L: Como exp e M sao funcoes nao-decrescentes, segue que

exp(M(rλ

1/νj )

)6 exp

(M(Lλ

1/νj )

), ∀j.

Entao, de (4.11),

‖u(j)‖HS 6CL′

Kexp

(M(rλ

1/νj )

)exp

(−M(L′λ

1/νj )

)6

CL′

Kexp

(M(Lλ

1/νj )

)exp

(−M(L′λ

1/νj )

).

Escolha L′ := L√AH. Pelo Lema 2.5, temos que

exp(−M(L

√AHλ

1/νj )

)6 exp

(−2M(Lλ

1/νj )

), ∀j.

Portanto, para todo j > C,

‖u(j)‖HS 6CLK

exp(M(Lλ

1/νj )

)exp

(−M(L

√AHλ

1/νj )

)6

CLK

exp(M(Lλ

1/νj )

)exp

(−2M(Lλ

1/νj )

)=

CLK

exp(−M(Lλ

1/νj )

),

e segue o desejado.

55

r > L: Escolha agora L′ := r√AH. Novamente, pelo Lema 2.5,

exp(−M(r

√AHλ

1/νj )

)6 exp

(−2M(rλ

1/νj )

), ∀j.

De (4.11) tem-se, para todo j > C

‖u(j)‖HS 6CLK

exp(M(rλ

1/νj )

)exp

(−M(r

√AHλ

1/νj )

)6

CLK

exp(M(rλ

1/νj )

)exp

(−2M(rλ

1/νj )

)6

CLK

exp(−M(rλ

1/νj )

)6

CLK

exp(−M(Lλ

1/νj )

),

donde, novamente, a ultima desigualdade veio do fato de que exp e M sao funcoes nao-decrescentes.

Portanto, para todo L > 0, existe CL > 0 tal que ‖u(j)‖HS 6 CL exp(−M(Lλ

1/νj )

), sempre

que j > C, o que implica pelo Teorema 2.4 que u ∈ Γ(M )(X).

Suficiencia: Procederemos por contrapositiva, isto e, negando a tese e construindo um ele-

mento u ∈ D ′(X) \ Γ(M )(X) tal que Pu ∈ Γ(M )(X), contradizendo a hipotese de que P e globalmente

(M )-hipoelıtico. Suponha que para quaisquer K > 0, r > 0 e C > 0, pode-se encontrar j > C tal que

m(σP (j)) < K exp(−M(rλ

1/nuj )

).

Em particular, tomando K = C = r = 1, existe j1 > 1 tal que m(σP (j1)) < exp(−M(λ

1/νj1

))

.

Logo, existe vj1 ∈ Cdj1 com ‖vj1‖HS = 1 e ‖σP (j1)vj1‖HS < exp(−M(λ

1/νj1

))

. Agora, tome K = 1,

C = j1 e r = 2, entao existe j2 > j1 tal que m(σP (j2)) < exp(−M(2λ

1/νj2

))

e, consequentemente, existe

vj2 ∈ Cdj2 com ‖vj2‖HS = 1 e ‖σP (j2)vj2‖HS < exp(−M(2λ

1/νj2

))

.

Procedendo de forma indutiva, obtemos uma sequencia vjkk∈N, com vjk ∈ Cdjk , ‖vjk‖HS = 1

e

‖σP (jk)vjk‖HS < exp(−M(kλ

1/νjk

)), para todo k ∈ N. (4.12)

A seguir, vamos definir

u :=

∞∑`=0

d∑m=1

u(`,m)em` ,

tal que

u(`) =

vjk , se ` = jk para algum k ∈ N

0, se ` 6= jk para todo k ∈ N.

Temos que ‖u(`)‖HS 6 1 6 (1 + λ`), para todo ` ∈ N0, o que implica por (4.2) que u ∈ D ′(X).

Alem disso, a condicao do Teorema 2.4 nao e satisfeita, pois ‖u(jk)‖HS = ‖vjk‖HS = 1, o que implica que

u /∈ Γ(M )(X). Desconsiderando os coeficientes de Fourier que se anulam, reescrevemos

u =

∞∑k=1

djk∑m=1

u(jk,m)emjk .

56

Mostremos agora que Pu ∈ Γ(M )(X). Como P e fortemente E-invariante, temos que

Pu =

∞∑k=1

djl∑m=1

P u(jk,m)emjk =

∞∑k=1

djk∑m=1

(σP (jk)u(jk))memjk.

Segue por (4.12) que

‖P u(jk)‖HS = ‖σP (jk)u(jk)‖HS = ‖σP (jk)vjk‖HS < exp(−M(kλ

1/νjk

)), ∀k ∈ N.

Dado qualquer L > 0, sempre que k > L, como as funcoes exp e M sao nao-decrescentes,

temos que

exp(M(Lλ

1/νjk

))6 exp

(M(kλ

1/νjk

))⇐⇒ exp

(−M(kλ

1/νjk

))6 exp

(−M(Lλ

1/νjk

)),

donde segue que

‖P u(jk)‖HS < exp(−M(kλ

1/νjk

))6 exp

(−M(Lλ

1/νjk

)), ∀k > L.

Portanto, dado L > 0, existe CL := 1 tal que ‖P u(jk)‖HS 6 exp(−M(Lλ

1/νjk

))

, para todo

k > L. Por outro lado, quando k < L, existe CL,k > 0 tal que

exp(−M(kλ

1/νjk

))6 CL,k exp

(−M(Lλ

1/νjk

)).

Logo, escolhendo CL := maxCL,k; exp

(−M(kλ

1/νjk

))6 CL,k exp

(−M(Lλ

1/νjk

)), 1 6 k < L

, temos

‖P u(jk)‖HS 6 CL exp(−M(Lλ

1/νjk

))

, sempre que k < L.

Pelo Teorema 2.4, concluımos que Pu ∈ Γ(M )(X), o que prova que P nao e globalmente

(M )-hipoelıtico, donde segue o resultado.

57

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