cunha, c. e cinitra. l., sintaxe dos modos e tempos verbais

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NOVA GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CONTEMPORÁNEO SINTAXE DOS MODOS E DOS TEMPOS Entende-se por MODO, como vimos, a propriedade que tem o verbo de indi- car a atitude (de certeza, de dúvida, de suposição, de mando, etc.) da pessoa que fala em relação ao fato que enuncia; e, por TEMPO, a de localizar o processo verbal no momento de sua ocorrência, referindo-o seja à pessoa que fala, seja a outro fato em causa. MODO INDICATIVO Com o MODO INDICATIVO exprime-se, em geral, uma ação ou um estado con- siderados na sua realidade ou na sua certeza, quer em referência ao presente, quer ao passado ou ao futuro. É, fundamentalmente, o modo da oração principal. Emprego dos tempos do indicativo Presente o PRESENTE DO INDICATIVO emprega-se: 1.0) para enunciar um fato atual, isto é, que ocorre no momento em que se fala (PRESENTE MOMENTÂNEO): Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa Substitui o calor. (F. Pessoa, OP,474.) o céu está limpo, não há nenhuma nuvem acima de nós. (R. Braga, CR, 51.) .0) para indicar ações e estados permanentes ou assim considerados, como N 'ja lima verdade científica, um dogma, um artigo de lei (PRESENTE DURATIV ): A Terra gira em torno do próprio eixo. Deus é Pai! Pai de toda a criatura: E a todo o ser o seu amor assiste: De seus filhos o mal sempre é lembrado ... (A. de Quental, SC, 4.) A I .i n: o distingue ntr nacionais e Slrallgl'il"Os quuulu 111'11,11' . [\0 gOí~O dos dir ritos ivis. ((;( tli~() Civíl Brusilcir«; Art. 1,11) VERBO 3.°) para expressar uma ação habitual ou uma faculdade do sujeito, ainda que não estejam sendo exercidas no momento em que se fala (PRESENTE HABI- TUAL ou FREQÜENTATIVO): Sou tímido: quando me vejo diante de senhoras, emburro, digo bes- teiras. (G. Ramos, A, 31.) Como pouquíssimo ... (M. Torga, V, 50.) 4.°) para dar vivacidade a fatos ocorridos no passado (PRESENTE HISTORICO ou NARRATIVO), como nesta descrição de um carnaval antigo, inserta num romance de Marques Rebelo: A Avenida é o mar dos foliões. Serpentinas cortam o ar carregado de éter, rolam das sacadas, pendem das árvores e dos fios, unem com os seus matizes os automóveis do corso. "Sai da frente! Sai da frente!" - o grupo dos cartolas empurra para passar, com a corneta que arrebenta os ouvidos. O chão é um espesso tapete de confetes. Há uma loucura de pandeiros, de cantos e chocalhos ... E o corso movimentava-se vagarosamente com estampidos de mo- tores. (M, 48 e 51.) 5.°) para marcar um fato futuro, mas próximo; caso em que, para impedir qualquer ambigüidade, se faz acompanhar geralmente de um adjunto adverbial: Amanhã mesmo vou para Belo Horizonte e lá pego o avião do Rio. (A. Callado, Me, 19.) Outro dia eu volto, talvez depois de amanhã, ou na primavera. (A. Bessa Luís, QR, 277.) VaLores afetivos I, Ao .mpr garrnos o PRESENTE HISTORICO ou NARRATrVO (denominaçõ s prove ni '111 'S do S LI lradicional e largo uso nas narrativas históri as), imn tin:1I11O nos 110 passado, visualizando os fatos que descrevemos ou narramos. f.: 11111 I IOll", li de lrumnt ização lingiHsl i ri d alta fi i n ia, s ' IIIilizuclo (Il- 101'11111 1111'(11111111 í' (1IlI tu, pois qll(' (l ('il V1111I' ~'xpr 'ssivo dl\\\' "~'ti 11111111'1'1\1(' 111

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Um resumo objetivo e demarcado sobre a Sintaxe dos Tempos e Modos Verbais nos estudo s de Celso Cunha e Lindley Cintra.

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  • NOVA GRAMTICA DO PORTUGUS CONTEMPORNEO

    SINTAXE DOS MODOS E DOS TEMPOS

    Entende-se por MODO, como vimos, a propriedade que tem o verbo de indi-car a atitude (de certeza, de dvida, de suposio, de mando, etc.) da pessoaque fala em relao ao fato que enuncia; e, por TEMPO, a de localizar o processoverbal no momento de sua ocorrncia, referindo-o seja pessoa que fala, seja aoutro fato em causa.

    MODO INDICATIVO

    Com o MODO INDICATIVO exprime-se, em geral, uma ao ou um estado con-siderados na sua realidade ou na sua certeza, quer em referncia ao presente, querao passado ou ao futuro. , fundamentalmente, o modo da orao principal.

    Emprego dos tempos do indicativo

    Presente

    o PRESENTE DO INDICATIVO emprega-se:1.0) para enunciar um fato atual, isto , que ocorre no momento em que se

    fala (PRESENTE MOMENTNEO):

    Cai chuva. noite. Uma pequena brisaSubstitui o calor.

    (F. Pessoa, OP,474.)

    o cu est limpo, no h nenhuma nuvem acima de ns.(R. Braga, CR, 51.)

    .0) para indicar aes e estados permanentes ou assim considerados, comoN 'ja lima verdade cientfica, um dogma, um artigo de lei (PRESENTE DURATIV ):

    A Terra gira em torno do prprio eixo.

    Deus Pai! Pai de toda a criatura:E a todo o ser o seu amor assiste:De seus filhos o mal sempre lembrado ...

    (A. de Quental, SC, 4.)

    A I .i n: o distingue ntr nacionais e Slrallgl'il"Os quuulu 111'11,11'. [\0 gO~Odos dir ritos ivis.

    ((;( tli~() Civl Brusilcir; Art. 1,11)

    VERBO

    3.) para expressar uma ao habitual ou uma faculdade do sujeito, aindaque no estejam sendo exercidas no momento em que se fala (PRESENTE HABI-TUAL ou FREQENTATIVO):

    Sou tmido: quando me vejo diante de senhoras, emburro, digo bes-teiras.

    (G. Ramos, A, 31.)

    Como pouqussimo ...(M. Torga, V, 50.)

    4.) para dar vivacidade a fatos ocorridos no passado (PRESENTE HISTORICO ouNARRATIVO), como nesta descrio de um carnaval antigo, inserta num romancede Marques Rebelo:

    A Avenida o mar dos folies. Serpentinas cortam o ar carregado deter, rolam das sacadas, pendem das rvores e dos fios, unem com osseus matizes os automveis do corso. "Sai da frente! Sai da frente!"- o grupo dos cartolas empurra para passar, com a corneta quearrebenta os ouvidos. O cho um espesso tapete de confetes. Huma loucura de pandeiros, de cantos e chocalhos ...E o corso movimentava-se vagarosamente com estampidos de mo-tores.

    (M, 48 e 51.)

    5.) para marcar um fato futuro, mas prximo; caso em que, para impedirqualquer ambigidade, se faz acompanhar geralmente de um adjunto adverbial:

    Amanh mesmo vou para Belo Horizonte e l pego o avio do Rio.(A. Callado, Me, 19.)

    Outro dia eu volto, talvez depois de amanh, ou na primavera.(A. Bessa Lus, QR, 277.)

    VaLores afetivos

    I, Ao .mpr garrnos o PRESENTE HISTORICO ou NARRATrVO (denomina s proveni '111'S do S LI lradicional e largo uso nas narrativas histri as), imn tin:1I11Onos 110 passado, visualizando os fatos que descrevemos ou narramos. f.: 11111I IOll", li de lrumnt izao lingiHsl i rid alta fi i n ia, s ' IIIilizuclo (Il- 101'111111111'(11111111' (1IlItu, pois qll(' (l ('il V1111I'~'xpr 'ssivo dl\\\' "~'ti 11111111'1'1\1('111

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelSublinhado

    Papai ManoelSublinhado

    Papai ManoelSublinhado

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelRetngulo

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelSublinhado

    Papai ManoelSublinhado

    Papai ManoelRetngulo

    Papai ManoelRetngulo

    Papai ManoelRetngulo

    Papai ManoelRetngulo

    Papai ManoelRetngulo

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelSublinhado

    Papai ManoelDestacar

  • NOVA GRAMTICA DO PORTUGUS CONTEMPORNEO

    propriedade, de ser acidental num contexto organizado com formas nor-mais do pretrito. O abuso que dele fazem alguns romancistas contempor-neos contraproducente: torna invarivel o estilo e, com isso, elimina a suaintensidade particular.Como nos ensinam aqueles que o souberam usar com mestria, quando seemprega o presente histrico numa srie de oraes absolutas, ou coorde-nadas, deve a ltima orao conter o verbo novamente no pretrito.Observe-se, porm, que, sendo o perodo composto por subordinao,no se deve empregar na principal o pretrito e na subordinada o presen-te histrico, ou vice-versa. No so de imitar exemplos clssicos, como oseguinte:

    Vi logo por sinais e por acenosQue com isto se alegra grandemente.

    (Cames, Lus., V, 29.)

    2. O emprego comedido do presente para designar uma ao futura pode serum meio expressivo de valioso efeito por emprestar a certeza da atualidadea um fato por ocorrer. particularmente sensvel tal expressividade em afir-maes condicionadas do tipo:

    Se ele partir amanh, sigo com ele.Se ele parte amanh, sigo com ele.Mais um passo e s um homem morto!

    forma delicada de linguagem, e denota intimidade entre pessoas, um pe-lido feito no presente do indicativo quando, logicamente, deveria s-lo noimperativo ou no futuro. Exemplo:

    Voc me resolve isto amanh (= Resolva-me isto amanh; ou: Vome resolver isto amanh.)

    ~. Para atenuar a rudeza do tom imperativo, costuma-se empregar o prcs 111'd verbo querer seguido do infinitivo do verbo principal:

    - Quer sentar-se, minha senhora? ..(C. Castelo Branco, CC, 198.)

    - Quer me dar minha carteira?( . Drurnmond de Andrade, , 921.)

    VERBO 4' I

    Pretrito imperfeito

    A prpria denominao deste tempo - PRET~RITO IMPERFEITO - ensina-noso seu valor fundamental: o de designar um fato passado, mas no concludo(imperfeito = no perfeito, inacabado). Encerra, pois, uma idia de continuida-de, ~e.durao do processo verbal mais acentuada do que os outros tempospretent~s, razo por que se presta especialmente para descries e narraes deacontecimentos passados. Empregamo-lo, assim:

    1.0) quando, pelo pensamento, nos transportamos a uma poca passada edescrevemos o que ento era presente:

    Debaixo de um itapicuru, eu fumava, pensava e apreciava a tropilhade cavalo~,que retouavam no gramado vasto. A cerca impedia queeles me VIssem.E alguns estavam muito perto.

    (Guimares Rosa, 5,216.)

    O frio ia aumentando e o vento despenteava o cabelo de ambos.(M. J. de Carvalho, A V, 104.)

    2.o) para indicar, entre aes simultneas, a que se estavaprocessando quandosobreveio a outra:

    Falava alto,"e algumas mulheres acordaram.(M. Torga, V, 183.)

    Quando se aproximava a Noite para me servir o sono, meteram-menum conflito ...

    (A. M. Machado, CI, 165.)

    3.) para denotar uma ao passada habitual ou repetida (IMPERFEITOFREQENTATIVO):

    Se o cacique marchava, a tribo inteira o acompanhava.(J. Corteso, lHB, lI, 178.)

    Quando eu no a esperava, e ela aparecia, o corao vinha-me tiboca, dando pancadas emotivas.

    (L. Jardim, MP, 36.)

    11. I (Ira dignar fatos passados concebidos corno nt nuos Ou p .rm I111'111 :

    Papai ManoelSublinhado

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelSublinhado

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelSublinhado

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelRetngulo

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

  • NOVA GRAMTICA DO PORTUGUS CONTEMPORNEO

    As ndias adaptavam-se mais facilmente civilizao, pois se con-sideravam elevadas pela unio com os brancos, que no as desde-nhavam.

    (A. Peixoto, NHLB, 38.)

    Sentou-se no muro que dava para o rio, o jornal nas mos.(A. Abelaira, CF, 173.)

    5.) pelo futuro do pretrito, para denotar um fato que seria conseqnciacerta e imediata de outro, que no ocorreu, ou no poderia ocorrer:

    - O patro porque no tem fora. Tivesse ele os meios e isto vira-va um fazendo.

    (Monteiro Lobato, U,236.)

    - Se eu no fosse mulher, ia tambm!(M. Torga, V, 307.)

    6.) pelo presente do indicativo, como forma de polidez para atenuar umaafirmao ou um pedido (IMPERFEITO DE CORTESIA):

    - Tive alta ontem, e vinha agradecer a V. Ex.s.(M. Torga, V,279.)

    iz-lhe:- Pedro, eu vinha exclusivamente para tratar de negcios.

    (C. dos Anjos, M, 192.)

    7.(j) para situar vagamente no tempo contos, lendas, fbulas, etc. (caso J1lqu se usa o imperfeito. do verbo ser, com sentido existencial):

    Era uma vez uma mulher que queria ver a beleza.(G. de Almeida, N, 25.)

    Era uma vez uma rapariga chamada Iudite.(Almada Negreiros, NG, 13.)

    V lor afetivos

    I. Por 'XPI\.'SSl1r um f:110 inn abade, irnpr iso, '111 ontnuu 1'('111'111, 111 1111I111111do 1 ISS Ido pllr'l () pr S 'II! " () IMPil.II!iIl.I'I'() 1\ I 01110 ti iSHCllI!Ir 1 Il 11'11111111/111

    VERBO

    melhor se presta a descries e narraes, sendo de notar que nas narraesserve menos para enumerar os fatos do que para explic-los com mincias."O imperfeito faz ver sucessivamente os diversos momentos da ao, que, semelhana de um panorama em movimento, se desenrola diante de nossosolhos: o presente no passado" (C.-M. Robert).Com os escritores naturalistas este imperfeito descritivo assume importn-cia capital na lngua literria e , hoje, um dos recursos mais eficazes de quedispem os romancistas do idioma. Veja-se, por exemplo, o seguinte passodo romance Mar morto, de Jorge Amado:

    Como um monstro estranho um guindaste atravessou a chuva e ovento, carregando fardos. A chuva aoitava sem piedade os homensnegros da estiva. O vento passava veloz, assoviando, derrubando coi-sas, amedrontando as mulheres. A chuva embaciava tudo, fechavaat os olhos dos homens. S os guindastes se moviam negros.

    (MM,18.)

    Este outro,.do romance Vindima, de Miguel Torga:

    Outros ranchos desciam por outros caminhos em direo a outrasquintas. Vinham numa nuvem de p e num redemoinho de som detodos os lados da serra. Nos rostos ossudos de cada bando lia-se amesma felicidade nmada de ciganos libertos, cornos haveres umasaca. Cantavam, riam, paravam a danar nas encruzilhadas, comiam,bebiam, sem horas e sem ave-rnarias. E do Senhor Jesus a Terra-feita, de Favaios a Vale de Mendiz, era um poo de alegria, de canti-gas e de sol. A grande festa do mosto ia comear.

    (V, 15.)

    E tambm este, de A vida verdadeira de Domingos Xavier, de Jos LuandinoVieira:

    Francisco Joo desceu sem as olhar. O mar vinha de longe, murmu-rante, se roar nos ps da areia. Trazia o bom cheiro da costa angola-na Na praia, as cubatas dos pescadores se desenhavam na S0111-bra Redes dormiam embaixo da capa das folhas de coqueiros napraia deserta e canoas descansavam das longas viagens nos seus dor-mentes de mafumeira ... Mulheres sopravam seus fogareiros d laia,assavam peixe ou cozinhavam panela de feijo. Velhos pes ador 'Sachimbavam nas portas ou filosofavam em grupo. Moas ti . P'I

    nos, 0111 heiro d . 111111'(0 sol, riam m SU

  • VERBONOVA GRAMTICA DO PORTUGUS CONTEMPORNEO

    tarde calma, o fumo e o murmrio das falas subiam da sanzala beira-mar.

    (WDX, 40-41.)

    Ergui-me tonto, e vi em rebolo no cho os dois faroleiros.(Monteiro Lobato, U, 103.)

    2. Relevncia particular tem o IMPERFEITO DO INDICATIVO no chamado DISCURSOINDIRETO LIVRE, em que autor e personagem se confundem na narrao vivade um fato. Leia-se o que, a propsito de tal meio de expresso, escrevemosno captulo 20.

    A FORMA COMPOSTA exprime geralmente a repetio de um ato ou a sua con-tinuidade at o presente em que falamos. Exemplos:

    Alm dos empregos a que nos referimos, o IMPERFEITO pode ter outros, jque, sendo um tempo relativo, o seu valor temporal comandado pelos verboscom os quais se relaciona ou pelas expresses temporais que o acompanham.Nos casos em que a poca ou a data em que ocorre a ao vem claramentemencionada, ele pode indicar at um s fato preciso.

    Assim:

    - Tenho lutado contra a adversidade e tenho compreendido oshomens.

    (Cochat Osrio, CV, 134.)

    Tenho escrito bastantes poemas.(F. Pessoa, OP, 175.)

    - Eu tenho cruzado o nosso Estado em caprichoso ziguezague.(Simes Lopes Neto, CGIS, 123.)

    Em um momento do sculo XVII colocava-se o autor da Ulissiaacima do Cames!

    (J. Ribeiro, PE, 8.)

    Em sntese:O PRETIli'l"O PERFEITO SIMPLES, denotado r de uma ao completamente con-

    cluda, afasta-se do presente; o PRETRITO PERFEITO COMPOSTO, expresso de umfato repetido ou contnuo, aproxima-se do presente. 8s 6 horas em ponto batia sua porta.

    (M. de S-Carneiro, CF, 230.)

    No dia seguinte Geraldo Viramundo era expulso do seminrio.(F. Sabino, GM,42.)

    Observaes:l.a) Para exprimir uma ao repetida ou contnua, o PRET~IUTO PERFEITO SIMPLES

    exige sempre o acompanhamento de advrbios ou locues adverbiais, como sem-pre, freqentemente, vrias vezes, muitas vezes, todos os dias, ete. Assim:

    Dentro em pouco os capinhas, salvando a pulos as trincheiras, fu-giam velocidade espantosa do animal...

    (Rebelo da Silva, CI, 177.)

    Os homens do mar tiveram sempre uma grande ternura pelas aves.(R. Brando, P, 164.)

    Ao contrrio do que ocorre em algumas lnguas romnicas, h em portu-ius clara distino no emprego das duas formas do PRETRIT PERFL'.I'i' : a SIM-PLES C a OMPOSTA, constituda do presente do indicativo do auxiliar ter ' dopnrti pio do verbo principal.

    A JI RMA IMPLES indica uma ao que se produziu em certo 1110111 nro dopassa 10. ~ a que se emprega para "descrever o passado tal C0l110 upur '(,'1111111observador situado no presente e que o considera do presente":

    Ai, quantas noitesno fundo da casalavei essa mo,poli-a, escovei-a.

    (C. Drummond de Andrade, R. 71.)

    Pretrito perfeito .

    Em tais casos, a idia de repetio ou continuidade dada no pelo verbo 111,ISpelo advrbio que o modifica.

    Iunte] '0111 um up Ll d v rador dormi '01110 II 111 l111;0.(M. 'I'orgu, V, IOR.)

    1\ vele-se Manuel de Paiva Boi o. O p rjeito e o pretrito em por/lIgll~s 1'111 ('(ll/ji'(lII/o (,()IIII/'1111//'11$Ifll.~II(/S romnicns (/i'lIlIlo til' C'IIrn/1'r si1'1t/im-l's/ilf.'/;co). Coimhrn, 1IIIllltll!'III dll\lllivrl'sldlld(', !Y3,

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelRetngulo

    Papai ManoelRetngulo

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelRetngulo

    Papai ManoelRetngulo

  • (Sttau Monteiro, FHL, 162.)

    IfI NOVA GRAMTICA DO PORTUGUS CONTEMPORNEO VERBO

    2.a) Na linguagem coloquial no raro o emprego do PRETRITO PERFEITO SIMPLESpelo FUTURO DO PRESENTE COMPOSTO. Assim:

    Samuel aproximou-se para avisar que o txi tinha chegado.(C. Drummond de Andrade, CA, 130.)

    Quando virmos, l em baixo, o claro da fogueira, j ele morreu ... (= termorrido).

    2. Alm desse valor normal, o MAIS-QUE-PERFEITO pode denotar:a) um fato vagamente situado no passado, em frases como as seguintes:

    Distines entre o pretrito imperfeito e o perfeito.Casara, tivera filhos, mas nada disso o tocara por dentro.

    (M. Torga, NCM, 55.)

    Convm ter presentes as seguintes distines de emprego do PRETRITO IM-PERFEITO e do PRETRITO PERFEITO SIMPLES DO INDICATIVO:a) o PRETRITO IMPERFEITO exprime o fato passado habitual; o PRETRIlfO PERFEITO,

    o no habitual:

    At que afinal conseguira o meu carneiro para montar.O. Lins do Rego, ME, 73.)

    No cu azul as ltimas arribaes tinham desaparecido.(G. Ramos, VS,l77.)

    Quando o via, cumprimentava-o.Quando o vi, cumprimentei-o.

    b) um fato passado em relao ao momento presente, quando se deseja ate-nuar uma afirmao ou um pedido:

    b) o PRETRITO IMPERFEITO exprime a ao durativa, e no a limita no tempo; oPRETRITO PERFEITO, ao contrrio, indica a ao momentnea, definida no tem-po. Comparem-se estes dois exemplos:

    -"'- Eu tinha vindo para convenc-lo de que Pedro seu amigo epedir-lhe que apoiasse Hermeto.

    (C. dos Anjos, M, 243.)

    o mancebo desprezava o perigo e pago at da morte pelos sorrisos,que seus olhos furtavam de longe, levava o arrojo a arrepiar a testado touro com a ponta da lana.

    3. Na linguagem literria emprega-se, vez por outra, o MAIS-QUE-PERFEITO SIM-PLES em lugar:

    a) do FUTURO DO PRETRITO (SIMPLES ou COMPOSTO):

    o mancebo desprezou o perigo e pago at da morte pelos sorrisos,que seus olhos furtaram de longe, levou o arrojo a arrepiar a testa dotouro com a ponta da lana.

    Um pouco mais de sol - e fora l= teria sido] brasa,Um pouco mais de azul- e fora l= teria sido] alm,Para atingir, faltou-me um golpe de asa ...

    (M. de S-Carneiro, P, 69.)

    Pretrito mais-Que-perfeito

    I. pretrito MAIS-QUE-PERFEITO indica uma ao que ocorreu antes de outraa o j passada:

    Oh! se lutei!. .. mas devera l= deveria]Expor-te em pblica praa,Como um alvo populaa,Um alvo aos dictrios seus!

    (Gonalves Dias, PCPE, 270.)monlogo tomara-se to fastidioso que o Barbaas desintcr 'SSOII Hl',

    (F. Namora, TI, 193,) h) do PRETRITO IMPERFEITO DO SUBJUNTIVO:

    uundo voltei111 'ISU Hinos tinham desaparecido da cidade.

    (Ago tinho N to" n, 121.)S propcia para mim, socorreuern te adorara, se adorar pudera!

    (A. de Cuimnra ns, O ,1 9.)

    Papai ManoelRetngulo

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

  • Prouvera a Deus que eu no soubesse tanto!(F. Pessoa, OP, 544.)

    VERBONOVA GRAMTICA DO PORTUGUS CONTEMPORNEO

    Assistimos divina Tragdia, como se framos, no prodigioso qua-dro, os ltimos personagens pstumos do Mestre.

    (Teixeira de Pascoaes, VE, 193.)

    - "Meu Anjo!" - dizem de mim.Serei, talvez, porque enfimEu vejo Deus em meus Pais ...

    (A. Correia d'Oliveira, M, 91.)Na linguagem corrente este emprego fixou-se em certas frases exclamativas:

    Quem me dera! l= Quem me desse!]Prouvera a Deus! l= Prouvesse a Deusl]Pudera!Tomara (que)!

    H uma vrzea no meu sonho,Mas no sei onde ser ...

    (A. Meyer, P, 265.)

    - Quem est aqui? Ser um ladro?(G. Ramos, Ins., 9.)

    Exemplos literrios: - Ser que desta vez ele fica mesmo?(M. Torga, CM,47.)

    Quem me dera ser como Casimiro Lopes!(G. Ramos, SB, 178.) 3.) como forma polida de presente:

    No, no posso ser acusado. Dir o senhor: mas como foi que acon-teceram? E eu lhe direi: sei l. Aconteceram: eis tudo.

    (C. Drummond de Andrade, CA, 141.)

    Tomara eu ser-lhe til.(J. de Arajo Correa, FX, 53.) - E que vou eu fazer para Angola, no me dir?(J. Pao d'Arcos, CVL,699.)

    Futuro do presente 4.) como expresso de uma splica, de um desejo, de uma ordem, caso '/11que o tom de voz pode atenuar ou reforar o carter imperativo:

    I. PUTURO DO PRESENTE SIMPLES emprega-se:1.0) para indicar fatos certos ou provveis, posteriores ao momento em que

    HC fala:

    As aulas comearo depois de amanh.rc. dos Anjos, DR, 222.)

    Lers porm algum diaMeus versos, d' alma arrancados,D' amargo pranto banhados ...

    (Gonalves Dias, PCPE, 273.)

    Mudaremos de casa. Uma casa inteiramente nua quando l entrar-mos.

    Morrers da tua beleza!(Teixeira de Pascoaes, OC, VII, 88.)

    (A. Abe1aira, QPN, 19.)Honrars pai e me.

    N O escreverei po ma.(A restinho N to, E, 98.)

    5.0) nas afirmaes condicionadas, quando se referem a fatos de realizaoI rovav 1:

    ,o) pllnl exprimir li inc 'ri 'ZlI (probabilidade, dvida, suposi ,o) solll\' IIIlll 1111li :

    V m, dizia ele na ltima carta; se no vieres depr sso, achnrs IlIlI111. morta!

    (Ma .hudo ti Assis, ,1,1\14;)

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

  • NOVA GRAMTICA DO PORTUGUS CONTEMPORNEO

    - Se pensares bem, vers que no isto.(Sttau Monteiro, APJ, 87.)

    Se assim fizeres, dominars como rainha.ro. Ribas, U, 21.)

    Observaes:1.a) Convm atentar nos efeitos estilsticos opositivos: se o emprego do presente

    pelo futuro empresta ao fato a idia de certeza, o uso do futuro pelo presente provo-ca efeito contrrio, por transformar o certo em possvel.

    2.a) Em alguns escritores modernos, talvez por influncia francesa, vai encon-trando guarida o emprego do futuro para indicar que uma ao foi poster~or a outrano passado. Assim:

    Joo casou-se em 1922, mas Pedra esperar ainda dez anos para constituirfamlia.

    Tal uso se assemelha ao do presente histrico.

    Substitutos do futuro do presente simples

    Na lngua falada o FUTURO SIMPLES de emprego relativamente raro. Preferi-IllOS, na conversao, substitu-Ia por locues constitudas:I') do PRESENTE DO INDICATNO do verbo haver + PREPOSIO de + INFINITNO do

    vcrh principal, para exprimir a inteno de realizar um ato futuro":

    Ai roupas que hei-de vestir,Ai gestos que hei-de fazer,Ai frases que hei-de tecer,Ai palavras que hei-de ouvir ...

    (J. Rgio, ED, 30.)

    Hei de castig-Ias; havemos de castga-los.(Machado de Assis, OC, I, 653.)

    - Eu sou nov e sei trabalhar. .. Hei-de arranjar mpr '110 ...( O har srio, V,226.)

    ~ ,',,111'(' outl'ON vulur 'Sti 'sta p irfrnsc, prin .ipulm 'nl 'quondo o sujl'llo n 111 1111 1,111'1'~~1I111VI')1I N(' !o110 d 'AIIlI ,ido. 11/lrodlll1l1l/o osuulo dn fll'rlfrllSI's II'rll(I/,~ til' /11/ li/I 1'11, :Ifi 11 1'111111III,IIPA 1I1I

  • NOVA GRAMTICA DO PORTUGUS CONTEMPORNEO

    2.o) para exprimir a certeza de uma ao futura:

    Pelgio! se dentro de oito dias no houvermos voltado, ora

  • 1M NOVA GRAMTICA DO PORTUGUS CONTEMPORNEO

    Observaes:l.a) Como dissemos, o FUTURO DO PRETRITO pode ser substitudo pelo IMPERFEIT~

    DO INDICATIVO nas afirmaes condicionadas. Comparem-se as seguintes asseres:

    Sem a sua interferncia, eu estaria perdido.Sem a sua interferncia, eu estava perdido.

    Na primeira, o fato principal (estar perdido) apresentado como conseqnciaprovvel da condio que no ocorreu; na segunda, ele aparece como o efeito ime-diato e inelutvel dela.

    Freqente tambm esta substituio com os verbos modais, como poder, dever,saber, querer, desejar, sugerir, ete.

    Que mveis lhe sugeria para uma sala?(M.1. de Carvalho, AV, 104.)

    Que palavras um sujeito podia usar para responder ao Vieirinha?(F. Namora, TJ, 261.)

    2.a) Sobre o uso do MAlS-QUE-PERFEITO SIMPLES pelo FUTURO DO PRETRITO, leia-se oque dissemos ao tratar daquele tempo.

    3.a) A Nomenclatura Gramatical Brasileira eliminou a denominao de MODO NDICIONAL para o FUTURO DO PRET(JRlTO. Apesar de, no projeto de Nomenclatura Gra-matical Portuguesa no se ter adotado esta ltima designao, decidimos optar peloS LI emprego nesta obra porque, em nossa opinio, se trata de um tempo (e no deum modo) que s se diferencia do FUTURO DO PRESENTE por se referir a fatos passados,[\0 pa so que o ltimo se relaciona com fatos presentes. E acrescente-se que ambosaparecem nas asseres condicionadas, dependendo o emprego de um ou de outrod sentido da orao condicionante. Comparem-se:

    Se ele vier, no sairei.Se ele viesse, no sairia.

    2. JlUTURO DO PRETRITO COMPOSTO emprega-se:1.0) para indicar que um fato teria acontecido no passado, mediante rtn

    'ondi

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    2. Em decorrncia dessas distines, podemos, desde j, estabelecer os seguin-tes princpios gerais, norteadores do emprego dos dois modos nas oraessubordinadas substantivas: .1.0) O INDICATIVO usado geralmente nas oraes que completam o sentido

    de verbos como afirmar, compreender, comprovar, crer (no sentido afirmativo),dizer, pensar, ver, verificar.

    2.) O SUBJUNTIVO o modo exigido nas oraes que dependem de verboscujo sentido est ligado idia de ordem, de proibio, de desejo, de vontade,de splica, de condio e outras correlatas. o caso, por exemplo, dos verbosdesejar, duvidar, implorar, lamentar, negar, ordenar, pedir, proibir, querer, rogare suplicar.

    Emprego do subjuntivo

    Como o prprio nome indica, o SUBJUNTIVO (do latim subjunctivus "que ser-ve para ligar, para subordinar") denota que uma ao, ainda no realizada, concebida como dependente de outra, expressa ou subentendida. Da o seuemprego normal na orao subordinada. Quando usado em oraes absolutas,ou oraes principais, envolve sempre a ao verbal de um matiz afetivo queacentua fortemente a expresso da vontade do indivduo que fala. A Nomencla-tura Gramatical Portuguesa preferiu a SUBJUNTIVO a designao sinnima CON-J NTlVO (do latim conjunctivus "que serve para ligar").

    Subjuntivo independente

    Empregado em oraes absolutas, em oraes coordenadas ou em oraesprincipais, o SUBJUNTIVO pode exprimir, alm das noes imperativas que exa-minaremos adiante:a) um desejo, um anelo:

    Chovam hinos de glria na tua alma!(A. de Quental, SC, 35.)

    Que as horas voltem sempre, as mesma horas!(A. Meyer, P, 254.)

    h) urna hipt S , Lima 011 sso:

    S 'jll li minha agonia lima nl 'Ih"I) , gl Hinl...

    (O, lIiln , '!', 197.)

    VERBO

    Que a tua msicaseja o ritmo de uma conquista!E que o teu ritmoseja a cadncia de uma vida nova!

    (F. J. Tenreiro, OP, 62.)

    c) uma dvida (geralmente precedido do advrbio talvez):

    Paula talvez lhe telefonasse noite.(M. J. de Carvalho, PSB, 34.)

    Um cachorro talvez rosnasse ou mordesse.(Adonias Filho, LBB, 101.)

    d) uma ordem, uma proibio (na 3." pessoa):

    Que levem tudo no caixo:fi. alma e o suporte!

    (M. Torga, CH, 31.)

    Que no se apague este lume!(A. Meyer, P, 126.)

    e) uma exclamao denotadora de indignao:

    Raios partam a vida e quem l ande!(F. Pessoa, OP,316.)

    - Diabos te levem!(F. Botelho, X, 198.)

    Observaes:

    1a ) Vemos que estas oraes geralmente se iniciam por que, partcula de classificao difcil, pois o seu valor, no caso, mais afetivo do que lgico. uma csp .icde prefixo conjuncional, peculiar ao subjuntivo.

    2.-) A exclamao viva! um antigo subjuntivo, que outrora con ordava s '1111)1"orn o sujeito. Hoje a concordncia facultativa, porque o singular adquiriu O vnlorI interjeio:

    Viva s heris!Vivam os h ris!

    Papai ManoelRetngulo

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelRetngulo

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelRetngulo

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    3.a) Observe-se, por fim, que alguns lingistas, principalmente os da escolagerativo-transformacional, negam a existncia do SUBJUNTIVO INDEPENDENTE, interpre-tando-o como o efeito do apagamento, na superfcie, da orao principal. Leia-se, apropsito, L Hub Faria. Conjuntivo e a restrio da frase-mais-alta. Separata doBoletim de Filologia, XXIII, Lisboa, 1974.

    Subjuntivo subordinado

    o SUBJUNTIVO por excelncia o modo da orao subordinada. Emprega-setanto nas SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS, como nas ADjETIVAS e nas ADVERBIAIS.

    Nas oraes substantivas

    Usa-se geralmente o SUBJUNTIVO quando a ORAO PRINCIPAL exprime:a) a vontade (nos matizes que vo do comando ao desejo) com referncia ao

    fato de que se fala:

    No quero que ele me julgue sem pudor, uma mulher de prendasdesoladas, nada tendo a defender.

    (N. Pifion, CC, 145.)

    Em todo o caso, gostava que me considerasse um amigo.(M. J. de Carvalho, AV, 119.)

    h) um sentimento, ou uma apreciao que se emite com referncia ao prprioral em causa:

    - Pior ser que nos enxotem daqui ...(A. Peixoto, RC, 273.)

    - Eu bem queria que tu fosses como empregado.(Ferreira de Castro, OC, I, 94.)

    .) a dvida que se tem quanto realidade do fato enunciado:

    Receava que eu me tornasse ingrato, que o tratasse mal na v lhi(A. Abelaira, NC, 14.)

    - N,O a redito que ela chore aqui.(Autran urado, TA, 75.)

    VERBO 4

    Nas oraes adjetivos

    o SUBJUNTIVO de regra nas ORAOES ADjETIVAS que exprimem:a) um fim que se pretende alcanar, uma conseqncia:

    Humana, mulher, a companheira tentava cham-Io a uma realidadeque reanimasse fogueiras mortas, sonhos desfeitos.

    (M. Torga, NCM, 59.)

    - Portanto, quero coisa de igreja, coisa pia, que d gosto a um bomsacerdote como padre Estvo.

    (A. Callado, MC, 99.)

    b) um fato improvvel:

    Ainda que eu discordasse deles no diria nada para os no aborrecer,mas que sabia eu que pudesse contrariar essa opinio de amigos?

    (Machado de Assis, OC, I, 1081.)

    Gerson saiu rapidamente, e durante bastante tempo no houve quemo convencesse a voltar l.

    (A. Bessa Lus, AM, 139.)

    Tristo podia resolver esta minha luta interior cantando alguma coi-sa que me obrigasse a ouvi-Ia.

    (Machado de Assis, OC, I, 1098.)

    . c) uma hiptese, uma conjectura, uma simulao:

    Ento no havia um direito que lhe garantisse a sua casa?(J. Lins do Rego, FM, 159.)

    Estaria ali para dar esperana aos que a tivessem perdido?(M. J. de Carvalho, AV, 138.)

    Sonhara apenas com uma fazenda de gado onde pudesse viver notrato da criao, sentindo o cheiro da terra, o contato com a natur 'za, tendo a companhia de uma mulher ("Ah, Alzira" - suspirou) IIqu 111 amasse e 0111 'lu '11"1 partilhasse de tudo isso.

    (}. ,011

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    Nas oraes adverbiais

    I. Nas oraes SUBORDINADAS ADVERBWS o SUBJUNTIVO, em geral, no tem valorprprio. um mero instrumento sinttico de emprego regulado por certasconjunes.Em princpio, podemos dizer que o SUBJUNTIVO de regra depois das con-junes:

    11) AUSAIS, que negam a idia da causa (no porque, no que):

    No que no quisesse amar, mas amar menos, sem tanto sofrimento.(L. Fagundes Telles, DA, 107.)

    Eu deixei-me ir atrs daquela ternura, no que a compartisse, masfazia-me bem.

    (Machado de Assis, OC, I, 1124.)

    Foi a nica coisa grandiosa da minha vida. No porque me sentisseapaixonado, ela tambm no se apaixonara por mim.

    (A. Abelaira, B, 49.)

    h) NCESSIVAS (embora, ainda que, conquanto, posto que, mesmo que, se bemque, etc.):

    o povo no gosta de assassinos, embora inveje os valentes.(C. Drummond de Andrade, CA, 7.)

    - Ainda que o morto se chamasse Adalardo, no seria o nosso.(G. Frana de Lima, JV, 19.)

    Por muito que eu desejasse ter aqui uma burra, no trocava a amiza-de do Barbaas por todas as burras desta freguesia.

    (F. Namora, TI, 165.)

    c) I'INAIS (para que, a fim de que, porque):

    Para que tudo retomasse a quietude inicial, e os coelhos s rcsolv /1-sem" vir g zar a fresca, seriam precisas horas, e enu j< ru () t 'rio 11I~

    (M. Torga, NCM, 64.)

    HJlhi(jo IH!O .nt ind li; mas o scio explicou-lh que '1"1I (1111dt'llllf) Ii '1\1 ) 1 so icdn I a fim d qu le sozinho liquidns '" til I.

    (M ,I hu 10 d ' Assis, _, I. 170.)

    VERBO 47J

    d) TEMPORAIS, que marcam a anterioridade (antes que, at que e semelhantes):

    - Vamos embora, antes que nos veja.(Machado de Assis, OC, I, 1030.)

    Deu para freqentar, pela manh, a rua Er e fica a conversar comEmlia at que eu me levante.

    (C. dos Anjos, DR, 183.)

    Usa-se tambm o SUBJUNTIVO, em razo de ser o modo do eventual e do ima-ginrio, nas:a) ORAOES COMPARATIVAS iniciadas pela hipottica como se:

    As pernas tremiam-me como se todos os nervos me estivessem gol-peados.

    (C. Castelo Branco, OS, I, 761.)

    Cantavam os galos no poleiro como se fosse de madrugada.~. (J. Lins do Rego, FM, 135.)

    b) ORAOES CONDICIONAIS, em que a condio irrealizvel ou hipottica:

    Se lhe tivessem dado ensino, encontraria meio de entend-Ia.(G. Ramos, VS,47.)

    o morte, dava-te a vida,Se tu lha fosses levar!. ..

    (Guerra Iunqueiro, 5, 74.)

    Se viesse o sol, tudo mudava.(. Verssimo, LS, 138.)

    c) ORAOES CONSECUTIVAS que exprimem "simplesmente uma concepo, um fima que se pretende ou pretenderia chegar, e no uma realidade" (Epifnio Dias):

    - Que quer vomec? - perguntou rudemente, de longe, interrom-pendo a marcha de modo que ela pudesse chegar at junto dele.

    (F. Namora, TJ, 70.)

    Ps-lhe uma nota voluntariamente seca, em maneira que Ih apa-gasse a cor generosa da lembrana.

    (Ma hndo ti Assis, OC, I, 1122.)

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelRetngulo

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

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    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

  • " NOVA GRAMTICA DO PORTUGUS CONTEMPORNEOSubstitutos do subjuntivo

    Por vezes a construo com o SUBJUNTIVO pesada ou malsoante. Convm,n sses casos, substitu-Ia por uma forma expressional equivalente.

    Entre os substitutos possveis do SUBJUNTIVO, devem ser mencionados:

    I. O INFINITIVO. Comparem-se estas frases:

    O professor mandou que o aluno lesse um romance.O professor mandou o aluno ler um romance.Exortava os companheiros a que continuassem a resistncia.Exortava os companheiros a continuarem a resistncia.

    2. O GERNDIO, principalmente nas oraes condicionais. Comparem-se estasfrases:

    Se seguisses o caminho normal, chegarias primeiro.Seguindo o caminho normal, chegarias primeiro.Se andarmos depressa, ainda o alcanaremos.Andando depressa, ainda o alcanaremos.

    \. Um SUBSTANTIVO ABSTRATO. Comparem-se estas frases:

    Se tivesses voltado, serias bem recebido.Tua volta seria bem recebida.

    Acredito que ele esteja inocente.Acredito em sua inocncia.

    I. ma ONSTRUO EL!PT.ICA. Comparem-se estas frases:

    Quer sejam ricos ou pobres, quer sejam brancos ou pretos, so to-dos iguais perante a lei.Ricos ou pobres, brancos ou pretos, todos so iguais perante a lei.Se fosse de ferro, a ponte suportaria o peso.De ferro, a ponte suportaria o peso.

    Ob rvoo:( 1111)10 l substitui ,0 do IMPERI'ElT 1 S\lI'IIINIIV,1 Ih-I" MAIS-QI/l(-I'I',HI'I(1i11 111)

    INIIII ""VIl, V ')1' se o qu diss 'mos no tr: tur di' li' li IIIJIII

    VERBO

    Tempos do subjuntivo

    Dissemos anteriormente que as formas do SUBJUNTIVO enunciam a ao doverbo como eventual, incerta, ou irreal, em dependncia estreita com a vonta-de, a imaginao ou o sentimento daquele que as emprega. Por isso, as noestemporais que encerram no so precisas como as expressas pelas formas doINDICATIVO, denotadoras de aes concebidas em sua realidade."

    Feita essa advertncia, examinemos os principais valores dos tempos do SUB-JUNTIVO.

    1. O PRESENTE DO SUBJUNTIVO pode indicar um fato:a) presente:

    No quer dizer que se conheam os homens quando se duvida deles.(A. Bessa Lus, QR, 33.)

    Pena que os meninos estejam to mal providos de roupa.(O. Lara Resende, BD, 128.)

    b) futuro:

    No dia em que no faa mais uma criana sorrir, vou vender abacaxina feira.

    (N. Pifion, CC, 152.)

    Meus olhos apodream se abenoar voc.(Adonias Filho, LF, 140.)

    2. O IMPERFEITO DO SUBJUNTIVO pode ter o valor:a) de passado:

    Todos os domingos, chovesse ou fizesse sol, estava eu l.(H. Sales,DBFM, 112.)

    " A modalidade subjuntiva , por princpio, uma modalidade de oposio modalidud 'indicativa. Logo, "os tempos do subjuntivo no representam noes de poca da formapor que o fazem os do indicativo. Pode-se, no entanto, falar de certos hbitos de'011 ordncia dos tempos, que no procedem de um automatismo rgido e purum '111urmul.unt 'S resultam do funcionamento de mecanismos delicados e compl xos", (; I'lIl'dMoifllll'1. tissni IIr le 1I1Or/1' $lIlJjlll/cti[ en latin post-classique et ri audeu [mnni I. !'.,d/IAIIII"" 1'. li. ti., 19 9, p, I li.)

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

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  • NOVA GRAMTICA DO PORTUGUS CONTEMPORNEO

    No. havia inteno. que ele no. lhe confessasse, conselho. que lheno. pedisse.

    (A. Bessa Lus, S, 58.)

    Cuido. que quisesse mostrar-me as cartas do. rapaz, uma s que fos-se, ou um trecho, uma linha, mas o. temor de enfadar fez calar o.de-sejo..

    (Machado. de Assis, Oe, I, 1059.)

    h) de futuro:

    Alberto era inteligente e se no. se deixasse engazupar, talvez aquilo.at lhe fosse um bem ...

    (Ferreira de Castro, OC, I, 87.)

    Aos domingos, treinava o. discurso. destinado. ao. pretendente quechegasse primeiro.

    (N. Pifion, CC, 144.)

    ) d presente:

    Tivesses corao, terias tudo,(Guimares Passos, VS, 166.)

    orno imaginar um ser que no. precisasse de nada?(C. Lispector, ME, 148.)

    I, ( I'1(I('!'r\RITOPERFEITO DO SUBJUNTIVO pode exprimir um fato:I) pnssud (supostamente concludo):

    - Espero que voc tenha encontrado esse algum na rua, d poisdaquela cena pattica do. carro.

    (F. Sabino, EM, 193.)

    Esp r que no. a tenha ofendido.(M. J. de Carvalho, A V, 109.)

    li) IlItlllo (terminado '111r lao a litro. fato. futuro):

    1\ P 'ro qu ' lodo Imhn filo () cxnmr 111111111111 J II volt li',

    VERBO

    4. O PRETRITO MAlS-QUE-PERFEITO DO SUBJUNTIVO pode indicar:a) uma ao. anterior a outra ao. passada (dentro. do. sentido. eventual do.modo

    subjuntivo):

    Esperei-a um po.uco, at que tivesse terminado sua toillette e puds-sernos sair juntos,

    (C. dos Anjos, DR, 167.)

    Estaria ali para dar esperana ao.s que a tivessem perdido.(M. J. de Carvalho, A V, 135.)

    b) uma ao. irreal no. passado:

    Se a vitria os houvesse coroado com os seus favores, no. lhes falta-ria o. aplauso. do. mundo. e a solicitude dos grandes advogados.

    (R. Barbosa, EDS, 794.)

    E'a arca estremecia corno se de novo se houvessem aberto as catara-tas do. cu.

    (Machado. de Assis, OC, II, 303.)

    5. O FUTURO DO SUBJUNTIVO SIMPLESmarca a eventualidade no. futuro, e empre-ga-se em oraes SUBORDINADAS:

    a) ADVERBIAIS (CONDICIONAIS, CONFORMATIVAS e TEMPORAIS), cuja PRINCIPAL vemenunciada no. futuro. ou no. presente:

    Se quiser, irei v-lo.Se quiser v-Io, v a sua casa.

    Farei conforme mandares.Faa como souber.

    Quando. puder, passarei por aqui.Quando. puder, venha ver-me.

    b) A lETIVAS, dependentes de uma PRINCIPAL tambm enunciada no. futur ouno. presente:

    Direi uma palavra amiga ao.s que me ajudarem.Digo lima palavra arnign nos qu o. ajudarem.

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

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    ). O FUTURO DO SUBJUNTNO COMPOSTO indica um fato futuro como terminadoem relao a outro fato futuro (dentro do sentido geral do MODO SUBJUNTI-VO): '.

    - D. Sancha, peo-lhe que no leia este livro; ou, se o houver lidoat aqui, abandone o resto.

    (Machado de Assis, OC, 855.)

    Quando tiverdes acabado, sereis desalojados de vosso precrio pou-so e devolvidos s vossas favelas.

    (R. Braga, CCE, 250.)

    MODO IMPERATIVO

    Formas do imperativo

    I. H em portugus, como sabemos, dois IMPERATIVOS: um AFIRMATNO, outroNEGATNO.

    O IMPERATNO AFIRMATNO possui formas prprias somente para as segundaspessoas do singular (sujeito tu) e do plural (sujeito vs). As demais pessoaso expressas pelas formas correspondentes do presente do subjuntivo.

    IMPERATNO NEGATNO no tem nenhuma forma prpria. integralmenteuprido pelo presente do subjuntivo.

    orno no IMPERATNO o indivduo que fala se dirige a um interlocutor, sadmite este modo as pessoas que indicam aquele a quem se fala, isto :

    o) as 2:". pessoas do singular e do plural;b) as 30'. pessoas do singular e do plural, quando o sujeito expresso por pro-

    nome de tratamento, como voc, o senhor, Vossa Senhoria, etc.;a I". pessoa do plural; que no caso denota estar o indivduo que fala disposto ass ciar-se ao cumprimento da ordem, conselho ou splica que dirig aoutro.

    .I. .umpr distinguir das correspondentes do fMPllRATIV certas ~ rrn IS do1'1(I\SI!NTli 1)( S li) NTIV empregadas sem a anteposio do que. IMI'I',I\A'I'IVO, no nso, ixprirn ord 111, ou cx ria ; o S Il)UNTIV), cI S 'jo, ou 0111'1\1.i\ ss i J)):

    C liun I, bl'lI,IlSI (IMI'I'I(A'I'IVO)(: 11111I Nllhn' v6, I. li 11\ Os divinusl (SIIlIIlIN'I'IVO)

    VERBO

    Emprego do modo imperativo

    1. Embora a palavra IMPERATNO esteja ligada, pela origem, ao latim imperare"comandar", no para ordem ou comando que, na maioria dos casos, nosservimos desse modo. H, como veremos, outros meios mais eficazes paraexpressarmos tal noo. Quando empregamos o IMPERATNO, em geral, te-mos o intuito de exortar o nosso interlocutor a cumprir a ao indicadapelo verbo. , pois, mais o modo da exortao, do conselho, do convite, doque propriamente do comando, da ordem.

    2. Tanto o IMPERATIVO AFIRMATNO como o NEGATNO usam-se somente em ora-es absolutas, em oraes principais, ou em oraes coordenadas. Ambospodem exprimir:

    a) uma ordem, um comando:

    Cala-te, no lhe digas nada.(C. de Oliveira, AC, 98.)

    Cavem, cavem depressa!(L. Jardim, MP, 47.)

    b) uma exortao, um conselho:

    S todo em cada coisa. Pe quanto sNo mnimo que fazes.

    (F. Pessoa, OP, 239.)

    No olhes para trs quando tomareso caminho sonmbulo que desce.Caminha - e esquece.

    (G. de Almeida, PV; 24.)

    c) um convite, uma solicitao:

    Georges! anda ver meu pas de romariasE procisses!

    (A. Nobre, S, 32.)

    Vind v ri Vlnd III1Vil\ homens de terra tranhal() rvlll 111111, 'IV!>, I, 7 .)

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

    Papai ManoelDestacar

  • 'I NOVA GRAMTICA DO PORTUGUS CONTEMPORNEO

    li) uma splica:

    Sossegai, esfriai, olhos febris.(C. Pessanha, C, 44.)

    Jesus, valha-me Nossa Senhora!(B. Santareno, TPM, 25.)

    No me deixes s, meu filho! ...(Luandino Vieira, NM, 82.)

    Emprega-se tambm o IMPERATNO para sugerir uma hiptese em lugar deasseres condicionadas expressa por se + FUTURO DO SUBjUNTNO:

    Leia este livro, e conhecer o Brasil.(Se ler este livro, conhecer o Brasil.]

    Suprima a vrgula, e o sentido ficar mais claro.(Se suprimir a vrgula, o sentido ficar mais claro.]

    Note-se que a voz se eleva no fim da primeira orao, e retoma a segundairn tom sensivelmente mais baixo.

    11. IIs diversos valores dependem do significado do verbo, do sentido geraldo ntexto e, principalmente, da entoao que dermos frase imperativa.I'or xernplo, em frases como:

    Desce da, moo!(C. Drummond de Andrade, FA, 64.)

    Deixe-me ficar sozinha.(Alves Redol, BC, 56.)

    Saiam da chuva, meninos!(L. Jardim, MP, 47.)

    onforrn t m da voz, a noo de comando pode enfraquc r-sc ntc 111'K"II' I ti' spli a.

    I,. I clevu pondcrur nin Ia qu o IMPIlRj\'I'IV enun indo no I 'Il1PO !ln'Il'lllt',1111 111 I'l didlld 'SI' "PI"S .ntc 10 imp rativo" tem valor di' 11111 111111111,1'11 li 1~.\iI qll' (' 111illll' ('sI por n-ulizur N(',

    VERBO

    Substitutos do imperativo

    A lngua oferece-nos outros meios para exprimir os diversos matizes apre-sentados pelo IMPERATNO.

    Assim:

    1. Uma ordem pode ser enunciada por frases nominais, ou por simples inter-jeies:

    Fogo! Silncio! Avante! Mos ao alto!

    Saliente-se, porm, que nessas frases, em que a supresso do verbo refora otom de comando, as palavras ou locues vocabulares perdem o seu valorprprio para denotar uma idia verbal de ao. Podemos, portanto, estabe-lecer as seguintes equivalncias:

    Fogo! l= Atire! Faa fogo!]Silncio! l= Cale-se! Faa silncio']vante! l= Siga avante!]Mos ao alto! l= Levante as mos! Ponha as mos ao altol]

    2. Certos tempos do INDICATNO, como dissemos ao estudar este modo, podemser utilizados com valor de IMPERATNO.Assim:

    a) com o PRESENTE atenuamos a rudeza da forma imperativa em frases como:

    o senhor me traz o dinheiro amanh. l= Traga-me o dinheiro ama-nh.]Voc toma o remdio indicado. l= Tome o remdio indicado.]

    b) com o FUTURO DO PRESENTE SIMPLES atenuamos ou reforamos o carter impe-rativo de frases do tipo:

    Tu irs comigo. l= Vem comigo.]No matars. l= No mates.]

    de acordo com a entoao que lhes emprestarmos.

    IMIERFEITO DO SUBjUNTNO transforma a ordem numa simples sugesto '111Ira s c mo as seguintes:

    (E) s voc se calasse!? r= Cale-sel](1\) se h gasscs 11:1 hurn 'x:llnl? ! h 'g 111" horu cxut I,!

    Papai ManoelDestacar

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  • NOVA GRAMTICA DO PORTUGUS CONTEMPORNEO

    Exemplos literrios:

    E se fosses dar leis para a cozinha?(M. Torga, V, 298.)

    E se tentasses compreender?(J. Rgio, SM,275.)

    4. Com o valor de IMPERATIVO IMPESSOAL, usam-se: . .ti) o INFINITIVO (principalmente na expresso de um comando, de uma proibi-

    o):

    Marchar!Direita, volver!Sublinhar os verbos do texto.No assinar a prova.No falar ao motorista com o carro em movimento.No fumar.

    I ) o GERNmo (construo elptica, freqente na linguagem popular, de valorgeralmente depreciativo para quem recebe a ordem):

    Andando! l= V andando! Andel]Correndo! [= V correndo! Corra!]

    r: R ssalta sobremaneira o sentido do verbo a perfrase formada de ir (no IM-PIZRATIVO) e do verbo principal (no INFINTTIVO):

    - No v se afogar, moo.(A. "M. Machado, JT, 72.)

    _ No v me dizer que foi o Diabo.(O. Lara Resende, BD, 121.)

    (1, Em Iras s d entoao interrogativa, usa-se no raro o INf'INI'I'IVO 10 v 'I'linIlI' xprin a rd 111 antecedido de formas do PRESENTE U 10 IMI'I'J\JlIIJ 1'(li 111INllICi\'I'1VO do v rb (J/I r r:

    VERBO !til I

    7. Para se fazer sentir a interveno do indivduo que fala, costuma-se subor-dinar o verbo denotador da ao que deve ser cumprida a outro verbo, oqual marca a vontade do locutor:

    Quero que retomes ao Colgio. l= Retoma ao Colgio.]Ordeno-te que me respondas. l= Responde-rne.]

    Reforo ou atenuao da ordem

    Alm dos processos que examinamos, dispe a lngua de variados recursosestilsticos para reforar ou atenuar a vontade expressa pelo IMPERATIVO. A suaeficcia, porm, est sempre condicionada ao tom de voz, que , nas formasafetivas da linguagem, um elemento essencial.

    Reforo

    Pode tambm ser obtido pelo emprego:a) da forma verbal repetida:

    - Calai-vos! Pela Virgem! calai-vosl(Machado de Assis, OC, n, 1114.)

    - V embora, v embora, gritou de repente.(D. Silveira de Queirs, FS, 118.)

    - Sente-se, meu amigo, sente-se.(O. Mendes, P, 166.)

    - Fale, fale, que eu vou ouvindo ...(D. Mouro-Ferreira, I, 44.)

    b) de um advrbio, de uma expresso de insistncia, ou de imprecaes:

    Escreva por amor de Deus imediatamente para Barcelona!. ..(M. de S-Carneiro, CFP, n, 9.)

    - Abre a porta, cachorro, seno te mando fogo.(I, Lins do Rego, C, 269.)

    ra, v amolar o hoi - disse Marta.(A. ,nll,l(lo, file', I 1,)

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    - Deixe-me dormir, seu bbado.(C. de Oliveira, PB, 21.)

    ,) da 3." pessoa do subjuntivo aplicada ao interlocutor:

    Pega ... Pega ... L se foi ... Que o leve o diabo.(Martins Pena, T, I, 36.)

    Atenuao

    Por dever social e moral, geralmente evitamos ferir a suscetibilidade de nos-interlocutor com a rudeza de uma ordem. Entre os numerosos meios de que

    nos servimos para enfraquecer a noo de comando, devemos ressaltar (almdos j estudados), pela sua eficincia, o emprego de frmulas de polidez ou deivilidade, tais como: por favor, por gentileza, digne-se de, tenha a bondade de,tc.:

    - Fale mais alto, por favor!(F. Botelho, X, 177.)

    Entrem, por favor, que no ocupam lugar - exclamava Seu Pio.(A. F. Schmidt, GB, 165.)

    - Tenham a bondade de sentar e esperar um momento l= Sen-tem-se e esperem um momento].

    (R. Braga, CCE,272.)

    ~ I, r que tambm aqui o tom de voz de suma importncia. Qualquerdl'ss:ls frases pode, no obstante as frmulas de cortesia empregadas, tornar-se1'11 lc c a, ou mesmo insolente, com a simples mudana de entoao.

    MPREGO DAS FORMAS NOMINAIS

    Caractersticas gerais

    Suo ilORMAS N MINAlS do verbo o INFINITIVO, o GERNDIO e o PARTIC!PI ).; \1':\ I .rizam- t das por no poderem exprimir por si n m O I .mpo n '1\\

    1I1110do, (), 'U valor I mp ral e modal est sempre em depenei n in do WIII('X10 ('11\ '111' np Ir' rn.

    I) I "1\\11111 Sl', flllld un -uiulm '11Ie, p 'Ios IlI'l\\1 1111' I ('! ull lrid ld(' :

    VERBO 48 I

    a) o ~FINITIVO. apresenta o processo verbal em potncia; exprime a idia daaao, aproximando-se, assim, do substantivo:

    No dizer nada, chorarAt o pranto coalharNa retina.

    (M. Torga, CH,29.)

    Sofrer por sofrer,Somente eu sofria.

    (C. Meireles, OP, 581.)

    b) o GER.NDIO apresenta o processo verbal em curso e desempenha funesexercidas pelo advrbio ou pelo adjetivo:

    Metendo o barco pela terra dentro, mesmo possvel ir mais alm.(M. Torga, P, 86.)

    Ouvia-se o cantar de carros de boi, chorando, de muito longe.(J. Lins do Rego, FM, 146.)

    c) o PARTIC!PIO apresenta o resultado do processo verbal; acumula as caracters-ticas de verbo com as de adjetivo, podendo, em certos casos, receber comoeste as desinncias -a de feminino e -s de plural:

    Umas vezes, tais gaiolasVo penduradas nos muros.

    (J. Cabral de Melo Neto, AP, 32.)

    Uma das cenas fora filmada numa loja do bairro, ampla, bem ilumi-nada, com prateleiras carregadas dos mais diversos produtos.

    (Sttau Monteiro, AP1, 47.)

    Tens os olhos encovados,De fundos visos cercados,Sinistros sulcos deixadosPor atros vcios talvez;A fronte escura e abatida,Roxa a boca comprimida,A face magra tingidaDa morte na palid r:

    (Fngllnd' V 11'('11, P .r, 211.)

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    Papai ManoelRetngulo

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  • NOVA GRAMTICA DO PORTUGUS CONTEMPORNEO

    Acrescente-se, ainda, que:n) o INFINITNOe o GERNDIOpossuem, ao lado da forma simples, uma forma

    composta, que exprime a ao concluda; apresentam, pois, internamente,uma oposio de ASPECTO:

    ASPEOO CONCLUDOASPEOO NO CONCLUDO

    INFINITIVOGERNDIO

    lerlendo

    ter lidotendo lido

    b) o INFINITNOassume, em portugus, duas formas: uma no flexionada; outraflexionada, como qualquer forma pessoal do verbo;

    ) o GERNDIO invarivel;d) o PARTIClPIOno se flexiona em pessoa.

    Feitas essas consideraes de ordem geral, passemos ao exame de alguns dosvalores e empregos particulares das FORMASNOMINAIS.

    Emprego do infinitivo

    Infinitivo impessoal e infinitivo pessoal

    A par do INFINITNOIMPESSOAL,isto , do infinitivo que no tem sujeito, por-[uc no se refere a uma pessoa gramatical, conhece a lng~a portuguesa o INFI-Ni'I'lVOPESSOAL,que tem sujeito prprio e pode ou no flexionar-se.

    Assim, em:

    Se criar criar-se,cantar ser.

    (E. Moura, IP, 187.)

    Amar a eterna inocncia.(F. Pessoa, OP, 139.)

    () INPINI'I'IV IMPESSOAL.J. I1(lSfrases:

    dif il estarmos atentos.(V. r rreira, NN, 128.)

    Illdisp 'nSt v 'I os m nines entrarem no bom caminho, suh 'r '11\(1)1\.\1' mun 1.\ ,\1'\1pnrn o gudo, "OI1Srtar r as, aman:>nr 1))';\1 o, ,

    (:, It IIIIOS, S. 11.)

    estamos diante de formas do INFINITNOPESSOAL.O INFINITNOPESSOALFLEXIONADOpossui, como dissemos, desinncias espe-

    ciais para as trs pessoas do plural e para a 2.a pessoa do singular.

    Emprego distintivo

    O emprego das formas flexionada e no flexionada do INFINITIVO uma dasquestes mais controvertidas da sintaxe portuguesa. Numerosas tm sido asregras propostas pelos gramticos para orientar com preciso o uso seletivo dasduas formas. Quase todas, porm, submetidas a um exame mais acurado, reve-laram-se insuficientes ou irreais. Em verdade, os escritores das diversas fases dalngua portuguesa nunca se pautaram, no caso, por exclusivas razes de lgicagramatical, mas se viram sempre, no ato da escolha, influenciados porponderveis motivos de ordem estilstica, tais como o ritmo da frase, a nfasedo enunciado, a clareza da expresso.

    Por tudo isso, parece-nos mais acertado falar no de regras, mas de tendn-cias que se observam no emprego de uma e de outra forma do INFINITNO.

    So algumas destas tendncias que passamos a indicar...'Emprego da forma no flexionada

    1. O INFINITNOconserva a forma NOFLEXIONADA:1.0) quando IMPESSOAL,ou seja, quando no se refere a nenhum sujeito:

    Viver exprimir-se.(G. Amado, TL,9.)

    Jurar falso grande crime.(A. Ribeiro, V, 415.)

    Amar os homens sempre uma alegria dolorosa.(Luandino Vieira, NM, 135.)

    2.) quando tem valor de imperativo:

    E Deus responde - "Marchar!"(Castro Alves, EF, 2.)

    - Formar! - ordenou o sipaio Jacinto.(Castro Soromenho, V, 197.)

    indez morre, deix-lo, ..(M.d S,-COIIII'IIII, 1.1'1 .)

    VERBO 48'

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    3.) quando, em frase nominal de acentuado carter afetivo, tem sentidonarrativo ou descritivo (INFINITIVO DE NARRAO):

    o pai nos cabars, nas casas das mulheres, gastando com raparigas,jogando nos hotis, nos bares, com amigos bebendo. A me a fene-cer em casa, a ouvir e a obedecer.

    (J. Amado, GCC, 277.)

    Mais dois dias. E Catarina a piorar.(O. Ribas, U,243.) -

    4.o) quando, precedido da preposio de, serve de complemento nominal aadjetivos como fcil, possvel, bom, raro e outros semelhantes."

    J no transitam pelo correio aquelas cartas de letra miudinha, im-possveis de ler, gratas de ler, pois derramavas nelas uma intactaternura ...

    (C. Drummond de Andrade, CB, 137.)

    H decises fceis de manter, lembranas difceis de afastar.(J. Pao d'Arcos, CVL,890.)

    5.) quando, regido da preposio a, equivale a um gerndio em locuesformadas com os verbos estar, andar, ficar, viver e semelhantes:

    Olha, triste viuvinha, j estou a ouvir teus passos nos surdos corre-dores da memria.

    (Luandino Vieira, NANV, 80.)

    II Est emprego da forma no tlexionada deve ser includo, como ensina Th odor II 'l1I"iqurMaurcr [r., entre aqueles nos quais o INFINITIVO depende "de um adjetivo, I' umsubstantivo ou de um verbo em construes em que correspondc a UI11supino '111 /I ()IIn UIl infinitiv passivo da lngua latina. Exemplos: 'As crianas 5(0 [ri 'ci rll' 1"1I1//1'11/11/';'Iis/"s 1I0Z '5 (O bons de abrir; 'Ficaram algumas peas por cortar'; 'Llnvin I/I/li/II\ ('(/1/(/\ '1/11'I'~ rev('r'; "t'nis resultados rarn de prever;' Ele mandou podarasjigllcims'; '(,'01//11\ (I IUI,II/II'"() il/jil/i/ivo fie tiouadn por/I/gl/O ; estudo histrico-descritivo, S' o Puulo. COlll!lIIIIIIII Ii,d 1I1111NII iOIl,I11 USP, 19611,p, ).)1'1111111iI\lNtn' III I\lHO pnulistu, que neste ponto o ompanhn O p 'JlSIIIlI\'lItO dI' NyIll1' I111'1

  • 1111 NOVA GRAMTICA DO PORTUGUS CONTEMPORNEO

    Vi teus vestidos brilharemsem qualquer claro do dia.

    (C. Meireles, OP,615.)

    Finalmente, viu os trs pastores pegarem nos alforjes e dirigirem-seao regato, para lavar as mos.

    (Ferreira de Castro, oe, I, 404.)

    E, mais raramente, quando o sujeito um pronome oblquo:

    Ele viu-as entrarem, prostrarem-se de braos estendidos, choran-do, e no se comoveu ...

    (Coelho Netto, OS, I, 1328.)

    Construes do tipo:

    Vi surgirem os primeiros brotos nas rvores, nascerem as primeirasflores, e chegarem enfim os frutos inocentes e verdes.

    (A. F. Schmidt, AP, 170.)

    nr so comuns e explicam-se pelo realce que, no caso, se concede ao sujeitodo infinitivo.

    mprego da forma flexionada

    infinitivo assume a forma FLEXIONADA:1.0) quando tem sujeito claramente expresso:

    Mas o curioso tu no perceberes que no houve nunca "iluso"alguma.

    (V:Ferreira, NN, 312.)

    Vila N va I mbrou qu o melhor era irem todos logo falar ao BomJ sus,

    (1\. Arinos, OC, 207.)

    , .xpr '850, que se quer dur a 'olllwI er,o) quundn S I'el 'r' 11 IIIll Ill\l'lll ' 11:,01H'll di'Mil\ I" iu verbul:

    1\1 hu 1111'111111 111111 I !:t,I!'I' qli' t.ro,(1'1'1\1' i I di (,1\ 1111, ()( " 1,'11\,)

    Bom seria andarmos nus como as feras.(Adonias Filho, LBB, 108.)

    VERBO 1113Il

    3.) quando, na 3." pessoa do plural, indica a indeterminao do sujeito:

    Ouvi dizerem que Maria Ieroma, de todas a mais impressionante,pelo ar desafrontado e pela pintura na cara, ganhara o serto.

    (G. Amado, HMI, 143.)

    - O culpado de tudo aquele tal de Doutor Reinaldo. Por que nodeixou levarem a sujeita para o Recife?

    (]. Cond, Te,247.)

    4.) quando se quer dar frase maior nfase ou harmonia:

    Tomar um tema e trabalh-lo em variaes ou, como na forma so-nata, tomar dois temas e op-los, faz-los lutarem, embolarem, fe-rirem-se e estraalharem-se e dar a vitria a um ou, ao contrrio,apazigu-Ios num entendimento de todo repouso ... creio que nopode haver maior delcia em matria de arte.

    (M. Bandeira, PP, n, 37.)

    Aqueles homens gotejantes de suor, bbedos de calor, desvairados deinsolao, / a quebrarem, / a espicaarem, / a torturarem a pedra, /pareciam um punhado de demnios revoltados na sua impotnciacontra o impassvel gigante.

    (A. Azevedo, e, 66.)

    Observao:O uso do infinitivo flexionado parece ser mais freqente no portugus europeu

    do que no do Brasil em razo da vitalidade, em Portugal, do tratamento tu e, porconseqncia, da flexo correspondente a esta pessoa no infinitivo pessoal. Predo-minando na maior parte do Brasil o tratamento ntimo voc, que se constri C0111 overbo na 3.a pessoa do singular - pessoa desprovida de desinncia, ou melhor, comdesinncia zero 0 -, da decorre a identificao desta forma do infinitivo pessoaIcom a do impessoal.

    Concluso

    ,01110 vemos, "a escolha da forma infinitiva depende de cogitarmos som '111 'd,1 1I~'110ou do intuito ou nc .cssidnd I pormos em cvid n 'ia o:t(4 '111 . d" U\,IO"

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  • 1)0 NOVA GRAMTICA DO PORTUGUS CONTEMPORNEO

    (Said Ali)". No primeiro caso, preferimos o INFINITIVO NO FLEXIONADO; no se-gundo, o FLEXIONADO,

    Trata-se, pois, de um emprego seletivo, mais do terreno da estilstica doque, propriamente, da gramtica.

    Emprego do gerndio

    Formasimples e composta

    Vimos que o GERNDIO apresenta duas formas: uma SIMPLES (lendo), outraOMPOSTA (tendo ou havendo lido).A forma COMPOSTA de carter perfeito e indica uma ao concluda ante-

    riormente que exprime o verbo da orao principal:

    No tendo conseguido dormir, fui escaldar um ch na cozinha e deide cara com a Rosa e a Idalina.

    (O. Lara Resende, BD, 112.)

    J o sol, tendo dado volta s ameias da catedral, vinha muito baixo, poralta fresta, espojar-se no meio dos casacos pretos e vestes eclesisticas.

    (A. Ribeiro, AFPB, 265.)

    Sem que eu soubesse, ele acabava de chegar do Rio, havendo regres-sado s pressas, por causa de complicaes polticas.

    (C. dos Anjos, M, 126.)

    A forma SIMPLES expressa uma ao em curso, que pode ser imediatamenteanterior ou posterior do verbo da orao principal, ou contempornea dela.

    IJ aid Ali. Gramtica secundria da lngua portuguesa. So Paulo, Melhoramentos, s. d., p.180. Sobre a origem e o emprego das formas flexionada e no flexionada do infinitivo,consulte-se a excelente monografia histrico-descritiva de Theodoro Henriquc Maurcr)r.: O infinito flexionado portugus; estudo histrico-descritivo. S o Paulo, rnpanhiaI2ditora Nacional I USP, 1968. A propsito, leiam-se tambm: Said Ali. I ifi uldade dnUugua portuguesa. 5'. ed. Rio de Janeiro, Acadmica, 1957, p. ~5-76; Ilolg 'I' St n.1.'111fi 11itivo impessoal et l'infinitivo pessoal en portugais modern . Boletiut til' l:i/o/ORit/,I : 8 -142,201-256, 1952; Maurice Molho. Le problme de l'infinitif n P(lIll1l\lds,II/1/1,.t/tlIli~pflllifJue,61: 26-73,1959; Knud Togeby. L'enigrnatique infinitif p 'I'sonn -I \"IIIH)IIIII\III ,SI/I/lifl Neophiologica, 27: 211-218,1955; Jos Maria Rodrigues. Sohr o \I iI do 1IIIIIIIvolrul 'SSOl\1' 10p ssoal m s lusladas. Boletim de Filo/agia, 1: 3-7, 177 IHiI, 1'11 1'1\ II II ,19 U I ~JiI; Zd 11.k l lnrnp is, Nota sinttico-estilstica sobre illl li 1VII II"H 1111)d"[1011111\11S. 1~,'visl(1 I/m~ill'i"'lI/(' Jo'i/%f.iit/, 5: 115-118, 19~9-19 ,Oi)tll 11111dlll'lIltlllt :01111"() ulullu ul: 11111111110ItolllillHl'il'O l'opulur, Holl'Illll d,'I"/lO/1I8ir/, 1/: 1\\ 1/111,IIJIIII

    VERBO

    Este valor temporal do GERNDIO depende quase sempre de sua colocao nafrase.

    Gerndio anteposto orao principal

    Colocado no incio do perodo, o GERNDIO exprime:a) uma ao realizada imediatamente antes da indicada na orao principal:

    Proferindo estas palavras, o gardingo atravessou rapidamente a ca-verna e desapareceu nas trevas exteriores.

    (A. Herculano, E, 180.)

    Ganhando a praa, o engenheiro suspirou livre.(A. M. Machado, HR, 41.)

    b) uma ao que teve comeo antes ou no momento da indicada na oraoprincipal e ainda continua:

    9talandode dor de cabea, insone, tenho o corao vazio e amargo.(O. Lara Resende, BD, 51.) .

    Estremecendo, vejo um casal de sessenta anos.(A. Abelaira, QPN, 131.)

    Gerndio ao lado do verbo prindpal

    . Co:ocado junto do verbo principal, o GERNDIO expressa de regra uma aosimultnea, correspondente a um adjunto adverbial de modo:

    Maciel ouvia sorrindo.(Machado de Assis, aG, 11,506.)

    Chorou soluando sobre a cabea do co.(Castro Soromenho, TM,203.)

    Arrastou-se penosamente, gatinhando na areia.(C. de Oliveira, AG, 91.)

    Gerndio posposto orao principal

    locado depois da orao principal, o GERNDIO indica uma as O pOS( 'riO!', .quival , na maioria das vezes, a uma orao coordenada ini inda p('11I 011JIIII\' () (':

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  • NOVA GRAMTICA DO PORTUGUS CONTEMPORNEO VERBO

    As trajectrias recomearam, processando-se a um ritmo regular.(F. Botelho, X, 158.)

    o gerndio na locuo verbal

    No regresso para os musseques elas cantavam-na bem perto da casa,deturpando intencionalmente a letra da cano.

    (A. Santos, KOP, 53.)

    o GERNDIO combina-se com os auxiliares estar, andar, ir e vir, para marcardiferentes aspectos da execuo do processo verbal.

    1. Estar seguido de GERNDIO indica uma ao durativa num momento rigoroso:

    No quintal as folhas fugiam com o vento, danando no ar em revira-voltas de brinquedo.

    (L. Jardim, MP,47.)

    Estavam todos dormindo,Estavam todos deitados,Dormindo,Profundamente.

    (M. Bandeira, PP, I, 211.)Gerndio antecedido da preposio em

    Precedido da preposio em, o GERNDIO marca enfaticamente a anteriori-dade imediata da ao com referncia do verbo principal:

    Estas delongas esto afligindo a curiosidade de quem me ler.(C. Castelo Branco, OS, I, 461.)

    Eu tinha umas asas brancas,Asas que um anjo me deu,Que, em me eu cansando da terra,Batia-as, voava ao cu.

    (Almeida Garrett, 0,11, 123.)

    2. Andar seguido de GERNDIO indica uma ao durativa em que predomina tlidia de intensidade ou de movimento reiterado:

    Joo Fanhoso andava amanhecendo sem entusiasmo, sem corag '111para enfrentar os problemas que enchiam aqueles dias compridos.

    (M. Palmrio, VC,97.)Em se lhe dando corda, ressurgia nele o tagarela da cidade.

    (Monteiro Lobato, U, 127.) Andei buscando esse diapelos humildes caminhos ...

    (C. Meireles, OP, 277.)Construes afetivas

    1. O aspecto inacabado do GERNDIO permite-lhe exprimir a idia de progres-so indefinida, naturalmente mais acentuada se a forma vier repetida, comonestes passos:

    A populao andava agora vivendo dias grandes de chuva, ainda 111 10arrelampada com aquela prodigalidade da natureza.

    (M. Ferreira, HB, 146.)

    Viajando, viajando, esquecia-se o mal e o bem.(Adonias Filho, LBB, 101.)

    3. Ir seguido de GERNDIO expressa uma ao durativa que se realiza progr ssi-vamente ou por etapas sucessivas:

    Andando, andando, escureceu-nos.(A. Ribeiro, M, 137.)

    Chamas novas e belas vo raiando,Vo-se acendendo os lmpidos altaresE as almas vo sorrindo e vo orando ...

    (Cruz e Sousa, OC, 218.)Na linguagem popular, j o dissemos, o GERNDIO substitui pllr Vl':t,l'1l11 101111;1 IMPIlIV\'I'IVi\:

    Andnndol ] Vri andandol And !IV;1 ;1I"OSO, o tempo foi passando.

    (M. 'l'oIWI, N( 'MI, I.

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  • I I NOVA GRAMTICA DO PORTUGUES CONTEMPORNEO

    A terra ia crescendo e a mata fechando-se cada vez mais.(Ferreira de Castro, oe, I, 125.)

    11. Vir seguido de GERNDIO expressa uma ao durativa que se desenvolve gra-dualmente em direo poca ou ao lugar em que nos encontramos:

    Vinha amanhecendo, ainda havia um resto de escurido, era difcilenxergar as coisas afastadas.

    (G. Ramos, AOH, 109.)

    A noite vem chegando de mansinho.(F. Namora, RT, 86.)

    Emprego do particpio

    Elemento de tempos compostos

    o PARTICpIO desempenha importantssimo papel no sistema do verbo comp rmitir a formao dos tempos compostos que exprimem o aspecto conclusi-v do processo verbal.

    Emprega-se:u) com os auxiliares ter e haver, para formar os tempos compostos da voz ativa:

    Temos estudado muito ..Havia escrito vrias cartas.

    h) om o auxiliar ser, para formar os tempos da voz passiva de ao:

    A carta foi escrita por mim.

    .) om o auxiliar estar; para formar tempos da voz passiva de estado:

    Estamos impressionados com a situao.

    Participio sem auxiliar

    I, I) .sn ( mpanhado de auxiliar, o PARTlClplO exprime fundamentalm ntc o 'SI Ido r .sultant d uma ao acabada:

    A chnda :t soluao do I robl ma, no mais torturou a uh '~:t,(A. AriI1OS, () ;," ).)

    VERBO

    Crucificada em mim, sobre os meus braos,Hei de poisar a boca nos teus passosPra no serem pisados por ningum.

    (F. Espanca, 5, 115.)

    Meia lgua andada, todos eram irmos.n. Saramago, Me, 303.)

    Chegada a casa, no os encontrou.(]. Pao d'Arcos, eVL, 358.)

    2. O PARTICpIO dos VERBOS TRANSITIVOS tem de regra valor passivo:

    Lidas uma e outra, procedeu-se s assinaturas.(]. Pao d'Arcos, eVL, 550.)

    Pouco a pouco os bichos se finavam, devorados pelo carrapato.(G. Ramos, VS, 177.)

    3. O PARTICpIO dos VERBOS INTRANSITIVOS tem quase sempre valor ativo:

    Chegado aos ps, olhava-me para cima.(V. Ferreira, NN, 66.)

    Era um burrinho pedrs, mido e resignado, vindo de Passa Tempo,Conceio do Serro, ou no sei onde no serto.

    (Guimares Rosa, 5, 7.)

    4. Exprimindo embora o resultado de uma ao acabada, o PARTICPIO no in-dica por si prprio se a ao em causa passada, presente ou futura. S ocontexto a que pertence precisa a sua relao temporal. Assim, a mesmaforma pode expressar:

    a) ao passada:

    Aberta uma exceo, estvamos perdidos.

    b) ao presente:

    Aberta uma exceo, estamos perdidos.

    ) l\~ t futura:

    Ab '1'10 uma 'X (',' li, "/lI.lr '\11 s p rdidos.

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  • NOVA GRAMTICA DO PORTUGUS CONTEMPORNEO

    Nos casos acima, vemos que a orao de PARTICPIO tem sujeito diferente daprincipal e estabelece, para com esta, uma relao de anterioridade.Mas a relao temporal entre as duas oraes pode ser de simultaneidade;'principalmente se o sujeito for o mesmo:

    Embaraado, no consegui chegar porta.(O. Lara Resende, BD, 121.)

    Rodeada do bando, Mariana comia em paz na cozinha o caldocaridoso.

    (M. Torga, NCM, 126.)

    Deitada na terra, a chuva na manta, Imboti no enxerga o cu denuvens pesadas e escuras.

    (Adonias Filho, LP, 24.)

    5. Quando o PARTICpIO exprime apenas o estado, sem estabelecer nenhumarelao temporal, ele se confunde com o adjetivo:

    O vento enfurecido aoitava a rancharia.(A. Meyer, SI, 15.)

    Os gritos das gentes desoladas atroavam a vila revolvida.(V. Nemsio, MTC, 365.)

    O corpo torturado do tratorista cara em cima dos presos j ador-mecidos quela hora da noite.

    (Luandino Vieira, WDX, 76.)

    CONCORDNCIA VERBAL

    I. A solidariedade entre o verbo e o sujeito, que ele faz viver no tempo,xterioriza-se na CONCORDNCIA, isto , na variabilidade do verbo para con-formar-se ao nmero e pessoa do sujeito.

    1\ c N RDNCIA evita a repetio do sujeito, que pode ser indicada pela fl x: ov rbal a ele ajustada:

    Eu acabei por adormecer no regao de minha tia. Quan 10 a ordel,j '1"1 ta r I , n O vi meu pai.

    (1\. Rib ir, .RG, 257.)

    VERBO 491

    - Tu tens razo. Agora, tudo se clareou para mim. No precisasvoltar aqui. No quero que te exponhas.

    (J. MontelIo, DP, 296.)

    A chuva caa violenta no quintal, ensopava a areia vermelha doscaminhos e invadia mesmo a cela, colando-lhe a roupa no corpodorido.

    (Luandino Vieira, WDX, 72.)

    REGRAS GERAIS

    Com um s sujeito

    O verbo concorda em nmero e pessoa com o seu sujeito, venha ele claroou subentendido:

    A paisagem ficou espiritualizada.Tuha adquirido uma alma. E uma nova poesiaDesceu do cu, subiu do mar, cantou na estrada ...

    (M. Bandeira, PP, 70.)

    Nada sou, nada posso, nada sigo.Trago, por iluso, meu ser comigo.

    (F. Pessoa, OP, 675.)

    Vieste de um pas que no conheo.(C. Nejar, OP, I, 26.)

    Com mais de um sujeito

    verbo que tem mais de um sujeito (SUJEITO COMPOSTO) vai para o plural e,quanto pessoa, ir:n) para a L" pessoa do plural, se entre os sujeitos figurar um da 1.a pessoa:

    6 eu e Florncio ficamos calados, margem.(C. dos Anjos, DR, 39.)

    Tu por um lado e eu por utro o acautelaremos das horas ms,1\. Rib iro, V, ti 1 "'.)

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  • ( 2001 by titulares dos direitos de Celso Ferrcira da Cu-nha c Luis Filipe Lindley Cinrra

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    CIP-Brasi\. Catalogao-na-fonteSindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

    C977n3.ed.

    Cunha, Celso, 1917-1989Nova gramtica do portugus contempor-

    neo /Celso Cunha, Lus F. Lindley Cintra. 3.ed.- Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

    Inclui bibliografiaISBN 85-209-1137-4

    1. Lngua portuguesa - Gramtica. I. Cintra,Lus F. Lindley (Lus Filipe Lindley). 11. Ttulo.

    CDD 469.5CDU 806.90.5

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    memria de Serafim da Silva Neto,amigo comum e mestre daFilologia Portuguesa.

    A Ioseph M. PieI,Jacinto do Prado Coelho,Jos V. de Pina Martins,companheiros e amigos.