cultura.sul52

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50 anos de escrita com a assinatura de Vasco Graça Moura p. 10 DEZ | 2012 • Nº 52 • Mensal • O Cultura.Sul faz parte integrante da edição do POSTAL do ALGARVE e não pode ser vendido separadamente dEzEMbRO • Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PúbLiCO www.issuu.com/postaldoalgarve 8.783 ExEMPLARES

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Novo editor, nova dinâmica, por Henrique Freire » Reformar o pensamento, por Elsa Parreira » ESPAÇO CRIA: Inovar Algarve valorize conhecimento produzido na região, por Hugo Barros » CINECLUBE DE TAVIRA: Leilão ajuda cineclube » ESPAÇO AGECAL: O turismo e a gestão cultural, Jorge Queiroz » PANORÂMICA.S: Márcio Gonçalves estreia-se com “Falta escrever na lua” • O mundo intimista de Nanook, por Ricardo Claro/Pedro Ruas » MOMENTO.S: Feira de S. Martinho, por Vítor Correia » ESPAÇO ALFA: Captar os fogos-de-artifício com gosto pela fotografia nocturna, por José Filipe Sobral » ESPAÇO EDUCAÇÃO: Estatuto do Aluno e Ética Escolar - promoção da disciplina » CONTOS DE NATAL NA RIA FORMOSA: E mesmo assim…. o Natal, por Pedro Jubilot » LIVRO.S: Vasco Graça Moura: 50 anos de ficções e quase ficções, por Adriana Nogueira » PATRIMÓNIO CULTURAL IMATERIAL: A Pessoa e o Património Cultural – uma reflexão, por Artur Jorge de Jesus » Lugares Mágicos marca a diferença no acesso à

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50 anos de escrita com a assinatura de Vasco Graça Moura

p. 10

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dEzEMbRO • Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PúbLiCO www.issuu.com/postaldoalgarve

8.783 ExEMPLARES

07.12.2012 2 Cultura.Sul

Ficha Técnica

Direcção:GORDAAssociação Sócio-Cultural

Director:Henrique Dias Freire

Editor: Ricardo Claro

Paginação: Postal do Algarve

Responsáveis pelas secções:» juventude, artes e ideias: Jady Batista» livro.S: Adriana Nogueira

» momento.S: Vítor Correia» panorâmica.S: Ricardo Claro» patrimónios.S: Isabel Soares

Colaboradores:AGECAL, ALFA, CRIA, Cineclube de-Faro, Cineclube de Tavira, DRCAlg, DREAlg, António Pina, Pedro Jubi-

lot. Nesta edição: Artur Jorge Vieira de Jesus, Elsa Parreira, Hugo Barros, Jorge Queiroz e José Filipe Sobral

Parceiros:Direcção Regional de Cultura do Al-garve, Direcção Regional de Educa-ção do Algarve, Postal do Algarve

e-mail:[email protected]

on-line: www.issuu.com/postaldoalgarve

Tiragem: 8.783 exemplares

Henrique Dias FreireEx-editor do CULTURA.SUL

Com mais de quatro anos de existência, o Cultura.Sul prepa-ra-se para encarar o novo ano de 2013 com optimismo.

Como Caderno de Artes & Letras temos um compromisso assumido com as pessoas e a nossa Região.

Apesar de todas as crescentes dificuldades, graças ao empe-nho gracioso de todos os nos-sos colaboradores, o Cultura.Sul tem mantido a sua periodicida-de mensal.

Após quase um ano e meio como editor, chegou o momen-to do jornalista Ricardo Claro me substituir na tarefa.

A necessidade de ter que as-sumir outros tipos de compro-missos, por um lado, e a grande mais-valia da edição passar para a responsabilidade deste talen-toso colega garantem a conti-nuidade e uma nova chama aos nossos projectos.

O Ricardo Claro está na ori-gem e fundação do próprio tí-tulo Cultura.Sul, tal como eu.

Com a presente edição, o Cul-tura.Sul entra numa nova fase, onde o empenho de todos nós nunca será de mais.

Colaboradores e leitores, es-tamos certos de que o contribu-to do Cultura.Sul para as nossas gentes e Região, um dia, será devidamente reconhecido, as-sim como aqueles que tiveram a clarividência de estimular e apoiar esta publicação.

Mas mais importante do que ser reconhecido é deixar raízes e valores para que o mundo fique pelo menos um pouco melhor do que aquele que encontrá-mos. Bem-hajam!

Espaço CRIA

Inovar Algarve valoriza conhecimento produzido na região

Um discurso dominante no que diz respeito às Universidades é que o Conhecimento por elas produzi-do tem que seguir um caminho que necessariamente conduza à sua valorização.

Neste enquadramento, a valoriza-ção do Conhecimento tem assumi-do uma posição de destaque como estratégia para o desenvolvimento regional e nacional, nomeadamen-te através do impulso a uma econo-mia mais sólida e especializada, e ao aumento das qualificações dos recursos humanos que compõem

o mercado de trabalho. Contudo, o caminho traçado nem

sempre é linear, existindo muito por fazer e um esforço permanen-te por parte das entidades públicas e privadas, nomeadamente na me-lhoria da articulação entre a inves-tigação produzida e as necessidades das empresas.

Este configura um dos pontos ful-crais no qual a Universidade do Al-garve (UAlg), através da Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia (CRIA), tem procu-rado melhorar a sua performance, fomentando e potenciando ações de cooperação entre investigadores e empresas, com vista a estimular a criação de projetos de I&DT em conjunto.

Neste sentido, e com o intuito de evidenciar o potencial de comercia-lização do Conhecimento produzi-do na região do Algarve, a UAlg or-ganiza a INOVAR ALGARVE.

A INOVAR ALGARVE foi estrutu-rada em duas fases: a primeira, a decorrer entre 5 e 7 de dezembro de 2012, corresponde a um Ciclo de Conferências destinado a fortalecer a relação entre a Universidade e o tecido empresarial, promovendo o debate em torno de temáticas como Inovação, Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia, e em

simultâneo, promover o potencial de cooperação entre empreendedo-res, empresas e investigadores; a se-gunda, consistindo numa Mostra de Conhecimento e Tecnologia na qual a UAlg, nos dias 31 janeiro e 1 de fe-vereiro de 2013, terá oportunidade de mobilizar os seus recursos para expor a sua capacidade de oferta de serviços de I&D, fomentando o

aumento da competitividade da re-gião e do país.

É por isso tempo de nos dedicar-mos a estimular uma maior aplica-ção do Conhecimento produzido no tecido empresarial, para que seja possível minimizar os efeitos de uma cultura desgastada pela pas-sividade da relação Universidade--Empresa.

Juventude, artes e ideias

Frequentemente ouve-se dizer: é uma questão de mentalidade. Ou ainda: é uma questão cultural. A cultura e a mentalidade são po-derosas alavancas da ação social e educativa. De facto, o indivíduo vive num determinado contexto social e cultural e foi-se fazendo na família, na escola, nas organizações em que foi trabalhando. As pessoas não nas-cem como são; constroem-se ao lon-go da vida nas diversas interações que vão realizando, nas adversida-des que vão ultrapassando.

Por outro lado, não há mudança

sem pessoas. As pessoas – por exem-plo, na escola, os professores e os alunos – são imprescindíveis a um processo de melhoria das práticas educativas. Mas as transformações só acontecem quando eu mudo o meu pensar, a minha forma de me pensar e de pensar os outros. E vejo que essa mudança me é benéfica e por isso me disponibilizo para alterar a mentali-dade e a ação. E são estas alterações de modos de pensar e de agir que por sua vez fazem evoluir a cultura.

E é por isso que a reforma de pensamento é tão importante. E

decisivas as políticas que fazem as pessoas quererem mudar de modos de pensar.

Mudar não é fácil. Todas as mu-danças, por pequenas que sejam, provocam desconforto. A mudan-ça exige adaptação. Traz dúvidas, medos e ansiedades. Mas, se não se tentar mudar aquilo em que não se acredita, nunca se poderá dizer que se tentou tudo!

Já Kant dizia que “toda a reforma interior e toda a mudança para me-lhor, dependem exclusivamente da aplicação do nosso próprio esforço”.

Hugo BarrosCoordenador Executivo do CRIA – Divi-são de Empreendedorismo e Transferên-cia de Tecnologia

Reformar o pensamento

Elsa ParreiraDiretora do AVE Professor Paula Nogueira

Novo editor, nova dinâmica

07.12.2012  3Cultura.Sul

cinema

Cineclube de Tavira

SESSÕES REGULARESCine-Teatro António Pinheiro | 21.30 horas

8 DEZ | Casa das Artes em Tavira - 21.30 horas: Leilão de Obras de Arte, cuja receita total reverte ao vosso ci-neclube (entrada gratuita)Cineclube de Tavira - Portugal 2012 (120’) Todas as idades!

9 DEZ | The Iron Lady (A Dama de Ferro), Phyllida Lloyd – Reino Unido/França 2011 (105’) M/1213 DEZ | Swept Away - Travolti da un Insolito... (Por um Destino Insólito),

Lina Wertmuller - Itália 1974 (116’) M/12 (entrada gratuita)16 DEZ | Seeking a Friend for the End of the World (Até que o Fim do Mundo nos Separe), Lorene Scafaria – E.U.A./Singap/Maleisia/Indones. 2012 (101’) M/1220 DEZ | Shut Up and Play the Hits (O Fim dos LCD Soundsystem), Will Love-lace & Dylan Southern – Reino Unido 2012 (108’) M/1223 DEZ | Les Enfants du Paradis (Os Rapazes da Geral), Marcel Carné – França 1945 (190’) M/12 (entrada gratuita)27 DEZ | Cesare deve Morire (César deve Morrer), Paolo e Vittorio Taviani – Itália 2012 (76’) M/1230 DEZ | To Rome with Love (Para Roma com Amor), Woody Allen – E.U.A./Itália/Espanha 2012 (112’) M/12

PROGRAMAÇÃOwww.cineclube-tavira.com 281 320 594 | 965 209 198 | [email protected]

Pois, estamos com alguma dificul-dade em manter a cabecinha fora da água, essa não é nenhuma novidade. No próximo sábado, dia 8, às 21.30 horas, na Galeria Casa das Artes, em Tavira, iremos organizar um leilão de obras de arte. Todas as obras a leiloar (86) foram oferecidas ao cineclube pelos seus autores ou proprietá-rios. Temos uma grande variedade de peças: pinturas a óleo e acrílico; desenhos; águas-fortes; litografias; estampas antigas; esculturas, etc..., entre as quais peças antigas e valio-sas, a mais antiga data de 1845! O intuito é angariar fundos para con-seguirmos continuar com as nossas actividades regulares, numa época de inexistência de qualquer apoio ou subsídio autárquico ou institu-cional. Tudo será vendido, a qual-quer valor que seja, iniciaremos a

venda de cada peça com uma lici-tação mínima.

Para acabar este ano de 2012 em beleza, programámos mais um mês de cinema de grande qualidade no cine-teatro tavirense, e a melhor

notícia neste tempo de “crise” é que podem ver três destas maravilhas a custo zero, gratuito, à borlita. Um presente de Natal do vosso cineclu-be, esperamos que não o recusem! Até breve e boas entradas!

“ESCULTURA DE PEDRO FIGUEIREDO”Até 28 DEZ | Foyer do Auditório Municipal de OlhãoNa presente exposição encontramos uma ten-dência para a fantasia, para o universo imagi-nário e para a depuração da figura em que a reprodução do real não é a direcção plástica da sua obra

“PRESÉPIOS DE MARIA CAVACO SILVA”Até 5 JAN | Convento de Santo António - LouléA colecção de presépios da Primeira-Dama nas-ce de uma antiga paixão, construída ao longo dos anos, e que é fruto de uma recolha infor-mada e afectiva

dest

aque

O turismo e a gestão culturalEspaço AGECAL

As relações entre turismo e cultu-ra expressam muitas afinidades mas apresentam também alguns equívo-cos e contradições, resultado da exces-siva autonomização dos respectivos domínios.

Turismo e cultura, como outros fe-nómenos sociais, são realidades dinâ-micas, em permanente evolução nos seus conceitos, valores e modelos de intervenção.

Um equívoco mais frequente resi-

de no facto do turismo ter criado e induzido sistemas e lógicas de gestão, uma indústria que estabeleceu os seus próprios discursos e modelos ideoló-gicos que sobrevalorizaram aspectos quantitativos.

Durante o Séc. XX esta perspectiva colidiu com dimensões essenciais do desenvolvimento como a sustentabili-dade dos territórios, a gestão racional dos recursos naturais, a preservação de equilíbrios sociais e das culturas locais. Criaram-se áreas de “densificação lito-ralizada”, abandonos e “vazios demo-gráficos” nas zonas rurais

O turismo pressupõe condições pré-vias à sua existência, nomeadamente naturais e culturais.

Durante o século XX, acompa-nhando o processo de globalização, afirmou-se uma nova formulação que tudo considerava como “produtos tu-rísticos”, também as manifestações e práticas culturais de uma determi-nada comunidade, propondo e pro-movendo alterações de conveniência e introduzindo novos elementos for-mais e expressivos, com substituição

de designações histórico-identitárias e estrangeirismos vários,..

A “turistificação” é um fenómeno normalmente ligado à promoção de actividades de animação turística, utilizando recursos culturais descon-textualizados e deficientemente inter-pretados, com “espectacularização” da forma e secundarização dos conteúdos.

Foram estudados muitos casosde “invenção da tradição”

Nos últimos anos surgiram, também em Portugal, bons exemplos de coope-ração estratégica em turismo cultural, projectos que se fundamentam na ge-nuinidade, no conhecimento histórico e artístico, na integração de visitantes nas comunidades com respeito pelos valores locais, projectos de ecologia, de interpretação de patrimónios, de ciência e também de turismo solidário.

A Gestão Cultural, disciplina cientí-fica surgida nas últimas décadas como resposta aos problemas do desenvolvi-mento social, da gestão de infraestru-turas e das indústrias culturais, centra

a sua acção na investigação aplicada, na formação profissional e na gestão dos recursos culturais em sintonia com as convenções e recomendações da UNESCO, nomeadamente quanto à protecção da diversidade cultural do planeta.

A constituição da Economia da Cul-tura como ramo disciplinar autónomo no âmbito da Gestão Cultural, colocou em evidência realidades que transcen-dem a tradicional e errada visão da cul-tura como sector “não produtivo” ou meramente “espiritual”, subsidiado e complementar.

A especificidade dos bens culturais e valores associados, a forma como a sociedade os interpreta, valoriza e (re)produz, as relações entre oferta e pro-cura, a mensurabilidade da produção e recepção cultural, o impacto das in-dustrias culturais na formação do PIB nacional e na criação de empregos, são novas variáveis a ter em conta.

A Gestão Cultural para o Turismo é neste contexto um domínio do co-nhecimento adequado às necessidades actuais. Esta disciplina deveria ser in-

troduzida nas Universidades portugue-sas e sobretudo utilizada pelas regiões turísticas.

Encontramo-nos hoje perante uma acelerada mudança de paradigmas.

Por esgotamento de recursos e ina-dequação estratégica, as políticas auto--centradas e monoprodutivas serão a curto prazo inviáveis. O Algarve neces-sita reequacionar estratégias, valorizar o seu potencial, promover a gestão conjunta e coordenada de recursos ambientais, turísticos e culturais, com participação de investigadores, gestores de áreas de conhecimento e sobretudo das comunidades locais.

A riqueza cultural do Algarve, mate-rial e imaterial, sublinha a necessidade de complementaridades estratégicas entre as cidades algarvias e regiões vizinhas, com a valorização dos pro-dutos do mar e do mundo rural, subli-nhando identidades que evoluíram ao longo de muitos séculos e que podem ajudar a construir uma contempora-neidade personalizada, humanizada e equilibrada, por isso mais atractiva e sustentável.

Jorge QueirozSociólogo. Gestor CulturalPresidente da Direcção da AGECAL Associação de Gestores Culturais do Algarve

Leilão ajuda cineclube

Cena do filme Les Enfants du Paradis

07.12.2012 4 Cultura.Sul

O Algarve continua a ser profícuo em novos talentos e a música não é excepção. O fado desde cedo apai-xonou Márcio Gonçalves que, agora com 25 anos, tem vindo a ganhar espaço e visibilidade, quer no pa-norama musical local, quer no resto do país.

O Cultura.Sul foi ao encontro de Márcio Gonçalves e ouviu aquilo que a voz do fadista tem para dizer sem ser a cantar.

Márcio Gonçalves, fadista, licen-ciado em Ciências da Comunicação, pela Universidade do Algarve, mas também presidente de uma asso-ciação sócio-cultural, iniciou-se nas lides do canto aos nove anos, num grupo coral tavirense onde, como contou ao Cultura.Sul, começou por “aprender a cantar, a colocar a voz e a ganhar afinação”. Ainda jovem foi o karaoke que o manteve perto da sua paixão, a música. O fado surge naturalmente dado o gosto de Márcio pela música portuguesa, mas também, porque não raras ve-zes nesses mesmos karaokes lhe pe-diam “canta lá um fadinho” e assim nascia o fadista.

Certa noite e enquanto ouvia ao vivo a fadista Raquel Peters e o gui-tarrista Vítor do Carmo, foi lançado o repto à audiência para que se lhe juntassem e cantassem um fado, Márcio acedeu, começando a en-cantar logo ali. Findo o espectáculo, surge a proposta para marcar pre-sença num concurso de fado ama-dor, o que o jovem fadista aceitou e onde chegou à final.

Ganhou-lhe o gosto, garante, e durante “três ou quatro anos par-ticipei em concursos de fado um

pouco por todo o Algarve”, diz o fadista. Neste período conheceu pessoas ligadas ao meio e “comecei a trabalhar um repertório de fados com os quais me identificava e que, regra geral, são do conhecimento do público”.

Falar de um fadista é falar de um cantor, mas também dos músicos que o acompanham e Márcio Gon-çaves tem-se feito ouvir ao lado de Ricardo Martins (guitarra portugue-sa), a quem reconhece ser “um jo-vem prodígio da guitarra portugue-sa, quiçá o melhor do Algarve neste momento”, mas também de Aníbal Vinhas e Nuno Martins, ambos na viola de fado e de António Correia, no contrabaixo.

Com referências musicais como “António Zambujo, Marco Rodri-gues, Camané ou Carlos do Carmo”, Márcio Gonçalves diz que, apesar de cantar “fados tradicionais, com mú-sicas antigas, prefere contudo letris-tas contemporâneos que escrevam letras que façam sentido cantar, como amostra da realidade actual, sem esquecer os temas relacionados com o fado como a saudade ou o amor”, revela.

Ponto de viragem

Um dos momentos de viragem na sua carreira musical foi, segundo Márcio Gonçalves, a participação no concurso televisivo Grande Prémio do Fado RTP/Rádio Amália, onde venceu todas as etapas, semanal, mensal e trimestral e onde a 6 de Outubro de 2012, no Casino Esto-ril, participou na grande final. Esta

experiência foi, segundo o intérpre-te, “excelente e permitiu-me um pri-meiro contacto com o mundo tele-visivo onde conheci muitos músicos

e produtores”, tendo ainda sentido que este concurso lhe deu “mais vi-sibilidade, um maior interesse por parte do meio artístico pelo seu trabalho e consequentemente mais convites para trabalhar”.

Faltava contudo um novo e am-bicionado passo, o lançamento do seu primeiro álbum, “Falta escrever na lua”, que “compila alguns fados que achei que fazia sentido estarem juntos”. Segundo Márcio Gonçalves, há no disco “a tentativa de inovar e dar uma nova roupagem, numa fusão ibérica que reflecte diferentes estilos musicais”.

O fadista reconhece alguns riscos associados a este passo, contudo afirma que “apesar de não apresen-tar ainda um nível de maturidade elevado, esta é a compilação daqui-lo que aprendi até ao momento” e espera um dia mais tarde, “aquando do meu segundo trabalho, ver que evoluí enquanto artista”. Para Már-cio Gonçalves a identidade enquan-

to fadista é um processo contínuo, sobre a qual trabalha a cada dia, a cada espectáculo e que “mais tarde ou mais cedo saberei definir”.

Um motivo que muito orgulho traz ao jovem fadista passa pelo facto do álbum ter sido, todo ele, produzido na sua terra. “Todo o processo, o projecto, a produção fotográfica e a produção em estú-dio foi toda feita cá, por pessoas de cá”, afirma.

Perspectivas de futuro

Tecendo algumas críticas quan-to à escassez de oportunidades que um fadista pode almejar no Algar-ve, Márcio Gonçaves garante que “a grande massa fadista está em Lis-boa”, ao que acrescenta, “as pesso-as mais influentes e que podem dar credibilidade a um projecto mais sério e mais coeso passam sempre pela capital”.

Apesar do relevo que o fado teve aquando da classificação de patri-mónio imaterial da humanidade, pela UNESCO, Márcio Gonçalves encontra apenas um aspecto que considera ser mais positivo e que passa pelo facto de ajudar a “aguçar o interesse do público estrangeiro”, o que agrada ao cantor por ver neles “um público mais curioso”.

Não obstante, “por cá pouco mudou e todos os caminhos do fado profissional vão dar a Lis-boa”, revela o fadista, que, apesar de entender o chavão do “fado estar na moda”, considera que tal não resultou da classificação atri-buída pela UNESCO, mas sim “do trabalho que os fadistas tiveram para que este género musical es-tivesse novamente na moda e a classificação é apenas uma conse-quência disso mesmo”.

No futuro Márcio Gonçalves quer continuar a busca da sua identida-de enquanto artista e considera a hipótese de “arriscar um projecto de originais que me traga mais va-lias enquanto artista, quer a nível pessoal, quer a nível profissional”.

Para já, o jovem fadista algarvio actua semanalmente numa tasca santaluziense e entre espectáculos para os quais é convidado ou galas solidárias em que participa, tem já perspectivados concertos no Al-garve, Alentejo e Espanha, estando ainda aberta a possibilidade de vir a actuar em França e na Bélgica em 2013.

Márcio Gonçalves apaixonou-se desde cedo pelo fado

•Novo taleNto do Fado à coNversa

Márcio Gonçalves estreia-se com “Falta escrever na lua”

A guitarra portuguesa e a viola de fado a ladearem Márcio Gonçalves

panorâmica Ricardo Claro/Pedro Ruas

07.12.2012  5Cultura.Sul

panorâmica •Música

O mundo intimista de Nanook

Nanook assume a expressão do vagabundo neste segundo disco. O vagabundo no sentido daquele que calcorreia “itinerante” um mundo próprio cheio de diversidade e de “intimismo” e que propõe letras e sonoridades várias que interpretam a vida como só um vagabundo faz, de forma diferente.

Nem tudo são intimismos neste novo disco de Tércio Freire, os temas são diversos na métrica, na atitude e na persona que os interpreta. A melódica, influenciada pelos blues e pelo folk rock, tem ritmos inespe-rados de tango e traços diversos, de singularidade interpretativa.

Nascido nos Açores, ao Cultura.Sul Nanook reconhece no álbum traços do lamento próprio de ser ilhéu, apesar de confessar “nunca ter pensado nessa perspectiva e sempre na de quem assume uma posição de intimismo com o público”.

Mas as raízes não perdoam e as-sume que se sente verdadeiramen-te ilhéu. “Há na minha vida a noção do olhar para dentro e de lamentar qualquer coisa que não se sabe bem o que é”, diz como quem reconhece na vivência quotidiana a força bruta de uma identidade subliminar im-posta pela terra rodeada do imenso Atlântico.

Mundo XXI, o título do novo ál-bum, tem a marca dos arcanos. A úl-tima carta do tarot, arcano maior, não é uma escolha acidental.

“É a minha carta preferida do tarot”, diz Nanook que a entende como simbólica “da esperança” e “do acreditar que tudo vai ficar me-lhor”. Uma “fé” que o cantautor há muito fixado no Algarve reconhece como sua também, muito embora se diga “não religioso”.

Num trabalho em que Nanook sublinha o valor das letras, todas de sua autoria, bem como as melo-dias, o intérprete não esconde que este foi um enorme desafio imposto

a si mesmo. “Escrever em por-tuguês foi uma opção e um desafio

que me coloquei”, apesar de ter, con-fessa, “poucas influências da música portuguesa no seu registo”.

Na calha das influências, junto a nomes como Bob Dylan e Tom Waits, surgem os Entre Aspas e Vi-viane, António Variações e Heróis do Mar.

O álbum

O CD assume na imagem o intimis-

mo que se quer nota dominante na visão que Nanook faz do seu trabalho. As imagens carregadas de grão e ple-nas de cinzas e sépias, os caminhos e os horizontes solitários foram a visão do todo musical feita imagem fotográfica.

Por detrás dos instrumentos que ro-bustecem o corpo do álbum estão no-mes como Zé Eduardo, Pedro Gil, Elísio Donas, Sónia “Little B” Cabrita e Marco

Martins, respectivamente no contrabaixo, guitarra

eléctrica, teclados, ba-teria e baixo eléctrico.

Nanook ao comando assume a voz , a gui-tarra, a harmónica e

a percurssão num registo, que todos já conhecem no intér-

prete, de verdadeira “one man band”.

Tó Viegas e Tiago Lopes na grava-ção realizada nos estúdios ZipMix em Olhão, juntaram a sua mestria a Peer Neumann, que masterizou a obra em Berlim, na Alemanha, nos estúdios da Mainberlin Audioproduktion. Realce para a experiência de Viviane que Na-nook reconhece fundamental no tri-lhar deste novo momento da carreira.

O alinhamento inclui dez temas e

a edição de autor pode ser adquirida através dos sítios habituais na inter-net – iTunes, cdbaby, Amazon, iMusic – ou através de pedido directo para o facebook http://www.facebook.com/Nanook.ovagabundo.

Para ouvir alguns dos temas basta viajar na internet até www.coundcloud/nanook-o-vagabundo ou passar pelo sítio http://pt.myspace.com/nanookspace.

Nanook, o simbolismo

Tudo está carregado de simbolis-mo neste novo trabalho de Nanook (Tércio Freire). Se a escolha do Vaga-bundo para consubstanciar a con-ceptualização do ideário musical de destino do álbum não foi um aciden-te e se a imagem seguiu um trilho condicente, menos se não poderia esperar do próprio nome, “Nanook”.

A palavra da língua inuktitut, fala-da pelos inuits, povos das terras ge-ladas canadianas, tem entre os seus

múltiplos significados, diz Nanook, o sentido de solitário, ideia identi-tária em que o cantautor se revê e que se une no caso deste álbum ao Vagabundo enquanto solitário itine-rante que entende o mundo numa perspectiva única que importa parti-lhar por entre letras e acordes, notas e versos.

“Nanook é também - relembra

com um sorriso - urso polar, um animal de que gosto desde sempre”, uma referência ao lado biólogo do intérprete que deixou a licenciatura em Biologia Marinha “numa prate-leira bem guardadinha”.

Longe do Tércio que nos dá músi-cas pelos mais diversos espaços do Algarve, noite dentro em sucessivas versões de grandes temas da música anglo-saxónica, Nanook é em tudo diferente, feito reencarnação de um outro eu que habita um lado mais inquinado de sombras e de refúgios do homem que aos dez anos teve a guitarra como escolha longe de saber que a tinha já então como destino.

Mais do que cantor de bares, do que professor de música - que leccio-na desde 2005 -, muito para além do letrista e do músico, Nanook é uma fiel expressão do eu numa das suas múltiplas facetas e convida a uma experiência diferente num álbum que se afirma a si próprio longe de

comparações ou tendências mais ou menos seguidistas.

Para ouvir e repetir, porque se es-tranha e depois se entranha, a sono-ridade proposta por Nanook é a de um composto único, nascido, ilhéu, feito a pulso e vivido, em larga medi-da, algarvio. Sugestivo? Só falta ouvir e deixar-se arrebatar pelo som vaga-bundo de Mundo XXI.

Nanook, o Vagabundo, apresenta o seu segundo trabalho discográfico, Mundo XXI

Os temas de Mundo XXI:

1. A triste procura da alegria2. Mais perto só3. Tango do vagabundo4. Quem tem coração não ouve a razão5. Valsa Sombria6. Espero por amanhã7. Traça o mundo8. Corrente subterrânea9. Gastei10. Canção do velhinho

A capa de Mundo XXI

Ricardo Claro

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Sugestões de Natal

07.12.2012  7Cultura.Sul

momento Vítor Correia

Feira de

S. Martinho

Espaço ALFA

Captar os fogos-de-artifício com gosto pela fotografia nocturna

É um projecto que este ano irei experimentar para capturar os mo-mentos com muita luz de várias co-res produzidas no fogo-de-artifício que serão lançados no Algarve. É uma sugestão que dirijo às pessoas que captem estes momentos nos vá-rios sítios de destaque como Tavira ou Albufeira.

Este ano vou tentar captar bem e melhor os fogos-de-artifício através de um programa que existe para a Canon que se chama Magic Lantern, disponível gratuitamente na inter-net. É um programa que permite ter mais opções na câmara fotográfica

do que aquelas que traz de origem. Por exemplo, tem a detecção de mo-vimentos que é excelente para os fogos-de-artifício. Calcula-se onde o fogo irá rebentar, aponta-se para a zona a máquina fotográfica, é feita a pré-focagem e depois o programa vai detectar os movimentos que ac-tuam pelas variações de luz. A câ-mara fotográfica acaba por captar a imagem no momento certo.

Outro tipo de fotografia que gosto são as nocturnas dentro das cidades. A iluminação dá outro impacto no ambiente. Durante o dia não se re-para em determinados elementos porque a luz é mais dispersa. A luz é importante tanto de dia como de noite mas dá outro impacto, revela outros pormenores, outros detalhes que não se verificam de dia e que eu vou tentar captar à noite nos últimos momentos do ano.

Outra coisa também importante são as fotografias HDR – Alta Gama Dinâmica. Para ter uma boa foto HDR tem que captar várias fotografias com

exposições diferentes. Depois tem que se juntar as imagens captadas e vai dar uma imagem muito mais detalhada de pormenores e sombras, dando ou-

tro impacto à fotografia.Acrescento que gosto muito das

formações e dos passeios promovi-dos pela ALFA – Associação Livre Fo-

tógrafos do Algarve e aproveito para anunciar que este ano haverá ainda mais actividades. É uma questão de espreitar em www.alfa.pt.

José Filipe SobralSuplente da Direção da ALFA – Associação Livre Fotógrafos do Algarve

07.12.2012 8 Cultura.Sul

Na edição anterior foram evi-denciados os aspetos inovadores do atual Estatuto do Aluno e Éti-ca Escolar, aprovado pela Lei n.º 51/2012, de 5 de setembro, valori-zando-se os aspetos gerais e peda-gógicos das medidas de recupera-ção e de integração e o papel dos pais/encarregados de educação no cumprimento das mesmas.

Na presente abordaremos as medidas utilizadas na correção de comportamentos e reposição da disciplina, sendo que tanto as medidas corretivas como as san-cionatórias prosseguem finalida-des pedagógicas, preventivas, dis-suasoras e de integração e visam o cumprimento dos deveres do alu-no, o respeito pela autoridade dos professores e demais funcionários, bem como a segurança de toda a comunidade educativa.

O incumprimento e a ineficácia das medidas de recuperação e de integração ou a impossibilidade de atuação determina a comuni-cação obrigatória à respetiva co-missão de proteção de crianças e jovens ou, na falta desta, ao Minis-tério Público junto do tribunal de família e menores territorialmente competente, de forma a procurar encontrar com a colaboração da escola e, sempre que possível, com autorização e corresponsabilização dos pais/encarregados de educação, uma solução adequada ao processo formativo do aluno e à sua inserção social.

A violação pelo aluno de alguns dos deveres consagrados no Esta-tuto ou no regulamento interno da escola, de forma reiterada e/ou em termos que se revelem perturbado-res do funcionamento normal das atividades escolares ou das relações na comunidade educativa, consti-tui infração disciplinar passível da aplicação de medidas disciplinares corretivas e sancionatórias, confor-me se indica:

Ao nível do elenco das medidas disciplinares corretivas, a novidade reside na possibilidade de ser apli-cada ao docente a medida corretiva de realização de tarefas e ativida-

des de integração na comunidade, ou seja, fora do espaço escolar, a qual deverá ser executada em perí-odo suplementar ao horário letivo do aluno, sob supervisão da esco-

la, mas com o acompanhamento dos pais/encarregados de educa-

ção, ou de entidades locais, estas últimas mediante protocolo escrito a celebrar com o estabelecimento de ensino.

Para além da correção do com-portamento perturbador, podem ser aplicadas medidas disciplinares sancionatórias, dada a relevância e qualidade da infração praticada. A novidade reside na possibilidade de aplicar ao aluno a expulsão de es-cola, sendo que esta só poderá ser aplicada ao aluno maior de idade e quando se constate não haver ou-tra medida ou modo de responsabi-lização no sentido do cumprimento dos seus deveres.

Existe também a possibilidade do diretor da escola/agrupamen-to decidir sobre a reparação dos danos ou a substituição dos bens lesados ou, na sua impossibilidade, sobre a indemnização dos prejuízos

causados pelo aluno à escola ou a terceiros.

Reforça-se, assim, a responsabi-lidade dos pais/encarregados de educação, co-responsabilizando--os pelo incumprimento dos deve-res a que os seus educandos estão obrigados a respeitar no seio da comunidade educativa, bem como pelos efeitos pedagógicos e educa-tivos das medidas disciplinares que venham a ser aplicadas pela escola.

Para além da indemnização pe-los danos patrimoniais causados, o Estatuto consagra ainda expres-samente como deveres dos pais/encarregados de educação, os se-guintes:

- reconhecer e respeitar a autori-dade dos professores e incutir nos seus filhos ou educandos o dever de respeito para com os professores e demais membros da comunidade educativa;

- participar em todos os atos e procedimentos para os quais sejam notificados no âmbito de procedi-mento disciplinar;

- manter atualizados os seus contatos telefónicos, endereço postal e eletrónico, bem como os do seu educando, quando sejam diferentes.

Importa, ainda, referir que o não cumprimento pelos pais/encarre-gados de educação dos deveres gerais de acompanhamento e par-ticipação no processo educativo e formativo dos seus educandos, de-termina a comunicação aos serviços do Ministério Público e à Comissão de Proteção de Crianças e Jovens, para efeitos de eventual promoção de sessões de capacitação parental, sendo que poderá implicar a reava-liação dos apoios sociais atribuídos que se relacionem com a frequência escolar dos alunos.

O incumprimento reiterado dos pais/encarregados de educação dos deveres a que estão obrigados, pode dar origem à instauração de processos de contraordenação, com aplicação de coimas, cujo montan-te varia em função dos valores dos apoios da ação social escolar para aquisição de manuais escolares.

Estatuto do Aluno e Ética Escolar - promoção da disciplina

Espaço Educação

“CONCERTO COM A BANDA SINFÓNICA DA PSP”8 DEZ | 21.30 | Centro Cultural de LagosEste evento destina-se a obter fundos para a com-pra de uma cadeira de rodas, ou outras ajudas téc-nicas adequadas ao Pedro, um jovem que reside em Bensafrim, no concelho de Lagos, e que sofre de paralisia cerebral

“SEAREIROS DA RIA FORMOSA”Até 28 DEZ | Foyer do Auditório Municipal de OlhãoTelma Veríssimo é fotógrafa free-lancer desde 1993, mantendo colaborações regulares com publicações regionais e nacionais e diversas entidades públicas e culturais da regiãode

staque

MEDIDAS DISCIPLINARES CORRETIVAS

Advertência

Ordem de saída da sala de aula e demais locais onde se desenvolva o trabalho escolar

Realização de tarefas e actividades

de integração na escola ou na comunidade

Condicionamento no acesso a certos espaços escolares

ou na utilização de certos materiais e equipamentos

Mudança de turma

MEDIDAS DISCIPLINARES SANCIONATÓRIAS

Repreensão registada

Suspensão da escola até 3 dias úteis

Suspensão da escola entre 4 e 12 dias úteis

Transferência de escola

Expulsão da escola

07.12.2012  9Cultura.Sul

Contos de Natal na Ria Formosa

E mesmo assim…. o Natal

Terminados os dias de maior calor do ano, aqueles em que é recolhida à superfície da salina uma finíssima película de cristais de sal, chega o sempre difícil mês de Setembro. Os dias começam a ficar mais pequenos, as noites mais frescas. Há que acostu-mar de novo a ficar em casa, porque já se regressou ao trabalho e é tempo de refazer horários de sono. É preciso preparar o regresso das crianças à vida escolar. Todos os anos esta mudança causava a Álvaro um pouco de ansie-dade, que este ano se agravara devido aos problemas surgidos no trabalho.

No caminho de regresso a casa, como fazia todos os dias, conduziu vagarosamente o seu antigo carro de estimação até ao fim da estrada que vai acompanhando o rio desde a ci-dade até à foz. Saiu para contemplar a paisagem, sentir a aragem mais fresca e observar o curso das quatro correntes que ali naquele lugar se en-contram. Aquelas águas que ali fluem e confluem e que eram como que a imagem da sua própria vida, estavam hoje paradas no seu olhar, como se de uma lagoa estagnada se tratasse. Um amigo dos tempos de juventude que ali passava de barco, cumprimentou-o:

‘Eh! Alvinhas, queres ir à pesca?’. Apenas lhe acenou quase sem per-

ceber quem era que lhe falava, mas só assim realizou que tinha que sair dali e daqueles sórdidos pensamentos para onde a sua mente o estava a le-var, pois esperavam-no os outros três afluentes da sua vida.

Abriu a porta de casa mas sentou--se logo no cadeirão da sala mesmo sem despir o casaco. Tinha frio, estava exausto, arrasado, estoirado. Ele nun-ca tinha pensado que a crise global que todos os dias é anunciada pelos telejornais pudesse saltar do pequeno ecrã para a sua casa, para o seu sofá, para dentro de si. Mas chegara hoje esse dia, em que a sua empresa, uma pme como lhes chamam na imprensa, não resistiu…

Assim, o sr. Caetano, 45 anos, re-centemente apanhado na teia do de-semprego, começou a ficar cada vez mais tenso à medida que o Natal se fazia anunciar por todo o lado - na televisão, nas luzes brilhando na sua

própria rua, e sobretudo nas crianças lá de casa que começavam já a esbo-çar as cartas de pedidos de presentes. Como extremoso pai, da sua família, ocupava todo o tempo que agora já tinha, a magicar um modo de poder presentear os seus pequenos filhos, na próxima quadra natalícia. Os biscates que ia arranjando mal davam para a comida diária, mas o empreendedor Álvaro lembrou-se de algo que lhe po-dia ainda vir ajudar a salvar o Natal. Começou por contactar alguns ami-gos e conhecidos no sentido de averi-guar do interesse nos mágicos serviços que estaria disposto a prestar-lhes, ou caso não precisassem, que transmitis-sem a sua luminosa ideia a conheci-dos seus. Passada uma semana, apesar da sua actual baixa auto-estima, tinha como réstia de esperança qualquer coisa que se arranjaria. Mas não podia prever que a sua tarefa seria tão bem recebida quanto requisitada.

Então, já noite de 24, com a ajuda da mulher Isabel tentava por tudo despachar João e Filipe para a cama, com promessas de surpresas que surgiriam de caixas coloridas e enla-çadas, que pela manhã cedo seriam depositadas junto à lareira entre o pequeno presépio e a grande árvore de natal decorada a rigor. Assim que a sempre difícil missão foi consegui-da, Álvaro começou a vestir o fato de Pai Natal com que se dirigiria às casas dos seus efémeros clientes para distri-buir as aguardadas prendas da praxe, misturadas com as gargalhadas que a surpresa suscitaria nalguns, e mesmo por vezes pequenos choros nos mais pequenotes. A seguir a esses quinze minutos de magia e muitos flashes, partiria com mais trinta euros no bolso, para a morada seguinte onde repetiria o acto até às primeiras ho-ras do dia. Era mesmo bom para o negócio ter conseguido conciliar os diferentes horários a que as pessoas faziam a consoada e a que gostavam de receber os presentes, ou com a hora a que regressavam da missa do galo. Há muito que não se sentia assim tão

activo e prestável. Não tinha perdido o jeito. Deste modo conseguiria dinhei-ro para subsistir durante alguns dias e pagar algumas das prendas para os miúdos e para os familiares.

Quando voltou a casa ainda Isabel o esperava acordada para saber como tinha corrido a operação ‘barbas bran-cas’ e colocarem os presentes para os filhos junto à lareira, como prometi-do. Aí pela primeira vez se sentiu um verdadeiro Pai Natal. Apesar do mau jeito que a vestimenta dava, mes-mo assim vestido foi descansar um pouco. E pouco pareceu porque daí a duas horas o despertador do tele-móvel tocou para que se desse inicio à segunda ronda do seu percurso. Agora, para aqueles que gostavam de ser acordados pelo São Nicolau, a desejar-lhes um ‘Feliz e Santo Natal’, anunciando que os seus ajudantes duendes, já teriam ali deixado as prendas há poucos segundos atrás,

e que os meninos e meninas já po-diam ir a correr desembrulhar tudo. O velho transportador de sonhos ti-nha de partir.

Quando por fim regressava à casa, ao sair do carro, arrancou a barba pos-tiça que Isabel lhe havia colado à cara há já demasiadas horas, quando repa-rou no homem dentro do jipe topo de gama estacionado a seu lado. Tinha uma garrafa de whisky quase vazia na mão e meteu-se com ele: ‘Oh, oh! Oh! Oh!’

Ao que Álvaro retorquiu: ‘Bom dia amigo, se anda à procura dum Pai Natal, saiba que este já está a sair de turno.’

‘Eh! Alvinhas, és tu pá?! Ganda farra amigo, já despachaste as renas… E eu que pensava que era o único pai per-dido na noite de Natal.’

‘Não, não venho de nenhuma far-ra, fui só fazer um pequeno favor ao meu cunhado, uma brincadeira para os miúdos.’

‘Nã me venhas com tretas pá, tu tens lá algum cunhado. Conta lá onde é que largaste as… renas… Oh! Oh!... Ouh’

‘Bom, tenho que me ir embora’.‘Ena pá !?..., não digas mais nada,…

já percebi. Vens mesmo do trabalho. Não me digas que és tu o Pai Natal que o Casimiro e o Tó Vieira contra-taram… ainda estás sem nada?, eles disseram-me que tinhas ido ao fun-do… porque é que não falaste comigo, arranjava-se qualquer coisa, lá no sal, e tu que gostas tanto daquilo pá…’

‘Está bem, depois falo contigo. É muito fixe o teu novo jipão. Gostei de te ver Castro! Feliz Natal!’

‘Feliz Natal o caraças! Porque é que achas que estou para aqui na rua a esta hora. É o meu primeiro Natal sem os putos. Foram passar as festas a Lisboa com a mãe. Ela agora vive lá. Estou sozinho. A minha mãe está lá, para onde quer que Deus a tenha levado. O meu pai lá no lar mal me reconhece. O meu irmão continua em França, não quer saber desta por-ra de terra para nada… e eu estou para

aqui, com a bomba de 75.000 euros… como é que o Natal pode ser feliz…’

De repente, Álvaro olhou para o seu prédio e pareceu-lhe ver alguém sentado à sua porta. Era no mínimo estranho, àquela hora da madrugada. Dirigiu-se para casa seguido pelo ami-go. Álvaro ficou tão surpreendido que nem foi capaz de se zangar:

‘Joãozinho… querido… o que fazes aqui?

‘Estava a ver se o Pai Natal passava…’‘Onde estão a mamã e o maninho?’‘Ainda estavam os dois a dormir,

pai. …Pai? Tu não és o Pai Natal, pois não?’

‘Não! Claro que não! Esta roupa… estava só a experimentá-la para ver se ainda estava boa… para emprestar aqui ao meu amigo Castro. Toma Cas-tro! Agora é tua, pode ser que precises dela. Usa-a bem. Bom dia. E vê se des-cansas! …E nós João, vamos ver se já chegaram as nossas prendas.’

Álvaro e João entraram em casa, mesmo ao tempo que Isabel e Filipe saltavam da cama. Foram todos ver as prendas. Mas o que Álvaro precisa-va mesmo era de um duche quente,

uma chávena de chá, e de um pouco de descanso até à hora do almoço que juntaria toda a família. Esse teria de ser um dia feliz. Também porque teria pouco tempo para pensar na sua situ-ação actual e futura. E à noite, cansa-do de tudo, dormiria melhor do que nos dias antecedentes, e com toda a certeza sem dar tantas voltas na cama antes de adormecer, em busca de uma solução.

Com o novo ano já entrado e sem os miúdos que o entretinham, pois já haviam regressado à escola, tudo voltava ao normal nesta nova vida de Álvaro, que era sentir-se cada vez mais desanimado com a sua situação. Tive-ra uma ideia tão boa, mas tão sazonal que até se irritava de a ter tido. Afinal o Natal não depende da vontade do homem. Nada como ligar a televisão para repartir desgraças. Nisto o telefo-ne toca e ele atende.‘Estou!?’

‘Eh! Alvinhas!? Atão pá, como é que vai isso ?

‘Tudo bem, quer dizer, tudo na mes-ma. E tu, já estás melhor?’

‘Nem imaginas o bem que me fizes-te. Vesti o fato que me deste, fui para Lisboa, convenci os putos e também a Iara a irem comigo passar o révellion a Paris, para conhecerem o meu irmão e os únicos primos que têm. Foi fantásti-co, pá. Estamos todos juntos outra vez, vou ficar cá em cima por uns tempos para ver se as coisas se recompõem en-tre nós, tás a ver. Obrigado, Alvinhas!... Tá, Alvinhas !? Ainda tás aí, pá?

‘Sim Castro, estou a ouvir. Ainda bem que assim é. Fico feliz por ti.’

‘Ah! Já me esquecia, aparece ama-nhã aí no meu escritório. Estão à tua espera para me ires substituir. És o novo director da Sal.Sul. Não te es-queças pá, conto contigo. Há imenso trabalho. Depois falamos, tchau!’ E desligou.

Voltou então de novo a percorrer o caminho que sempre fazia no final de cada dia de trabalho, pela estrada cujas bermas se abrem de ambos os lados para as salinas que dão a flor mais branca, húmida e cristalina do país e quem sabe, como alguns dizem, de todo o mundo. Dum céu carregado de nuvens muito densas e escuras chovia com pouca intensida-de, mas o vento soprava de tal modo forte de oeste que a água sobre as salinas se começava a ondular. Já era noite quando chegou junto ao cais de embarque. Os poucos clientes do pequeno bar de madeira, abrigavam--se junto ao balcão para uma última bebida. Olhando para o lado esquer-do, já se acendiam as luzes da peque-na torre da igreja da unidade hote-leira, mas que outrora era o arraial que serviu de apoio aos pescadores da armação de atum que estava ali instalada. As gaivotas voavam sobre a terra sinalizando o mau tempo no mar. Mas mesmo assim Álvaro podia voltar a sorrir mais uma vez.

Pedro [email protected]

07.12.2012 10 Cultura.Sul

Este ano comemoraram-se os 50 anos de vida literária de Vasco Graça Moura, poeta, tradutor, romancista, crítico, político, gestor, melómano, enfim, um homem dos sete ofícios, todos eles exercidos de modo a não deixar ninguém indiferente.

Para estas colunas trago a sua fic-ção narrativa, os seus contos e roman-ces, em número superior à dezena. Todos os títulos estão disponíveis, a preços extremamente acessíveis, mas quase exclusivamente por encomen-da, pois, se formos a uma livraria (fiz a experiência há pouco tempo), um dos poucos que encontramos (nor-malmente o único) é Partida de So-fonisba às seis e doze da manhã, ree-ditado neste 2012 (pela Quetzal, que publica a maior parte destas obras), 19 anos depois da primeira edição. Se tivermos sorte, numa prateleira ou outra também se encontram alguns dos volumes da trilogia «O vermelho e as sombras» (O Pequeno-Almoço do Sargento Beauchamp (2008), O Mes-tre de Música (2010) e Os Desman-dos de Violante (2011), em edição da Alêtheia), conjunto de pequenos romances situados em Portugal, du-rante as Invasões Francesas. São três livros que se leem de uma assentada, com um humor cortante e descon-certante, cujas personagens, de uma amoralidade generalizada, se tornam o alvo da nossa crítica daqueles cos-tumes, influenciados pela narração, que, mais ou menos discretamente, nos leva a isso. Tome-se um exemplo, a propósito da sociedade britânica, mas que, facilmente, se aplicaria à portuguesa: casada com um general inglês, Joana «aprendera a regra de ouro das damas da alta-roda inglesa: casavam e tinham um ou dois filhos, para assegurarem a continuidade fa-miliar. E depois, desde que fossem discretas e não dessem escândalo, podiam fazer tudo o que lhes des-se na real gana, muito em especial ter os amantes que lhes apetecesse. Assim, tivera várias aventuras sem consequência, à imagem do que se ia passando com outras suas amigas da boa sociedade londrina, muito mais altamente colocadas do que ela» (O Mestre de Música, p. 50). O tipo de linguagem deste narrador aproxima-o de alguém também sem muitos escrúpulos, que usa metáforas populares, como «dar na real gana»,

referido atrás, ou «ser desgraçada por alguém», com o sentido de ser viola-da: Violante fora para Lisboa, «após ter sido desgraçada pelo padre-cura da aldeia»; ou «pôr com dono», no sentido de ser abandonada: «quando ele a pôs com dono, por a ter trocado por outra»; ou ficar «ao deus-dará», no sentido de ficar abandonado: «soube também que a rapariga ia fi-car desamparada e ao deus-dará», e aí por diante.

Em muitos dos romances encontra-mos marcas de classe na linguagem (como o uso de «beiços» em vez do popular «lábios», com consciência de que o seu uso se restringe a uma clas-se alta «sendo o termo “beiço”, com toda a evidência, muito mais bcbg». Morte no Retrovisor, 2008, p.23), o realce do valor que se dá à educação e à cortesia («aprendi […a] comer sem falar com a boca cheia, […a] oferecer o lugar às senhoras nos carros eléctri-cos, nas salas de espera, ou onde quer que elas precisem de lugar» (Partida de Sofonisba às seis e doze da manhã p.302), revelando uma cuidada ins-trução e cultura através das inúmeras referências, explícitas ou implícitas, à literatura, música, arte, entre outras áreas, não impedindo essa erudição que o leitor comum frua tanto o aspe-to literário como as histórias que são contadas. Sim, porque Vasco Graça Moura é um excelente contador de histórias, que nos consegue prender na narrativa e surpreender-nos com o desfecho que encontra.

Mas nos seus romances há mais do que histórias: há opiniões, teorias, ideias sobre as quais as personagens vão discorrendo e que também nos fazem pensar e, algumas vezes, tomar partido, outras vezes, rejeitar. É uma escrita que não nos deixa indiferentes e que dá vontade de ler mais.

E essa é outra boa surpresa destes romances. Apesar de se encontrarem linhas mestras que se repetem (a pre-sença de referências à literatura, à arte e ao amor), este autor consegue ser sempre diferente nas abordagens. No entanto, destacaria um tema im-possível de não notar na sua escrita: o amor por e o conhecimento de mú-sica. O seu primeiro romance, Quatro últimas canções (1987), é construído ao som das composições homónimas de Richard Strauss e eu aconselho o/a leitor/a a fazer o exercício – e verá que é um prazer – de ouvir estas peças an-tes, durante e/ou depois de ler o livro.

Descrever uma música não é fácil, pois os sons apelam a sentimentos e estes são o que mais individualiza-do existe. Mas Vasco Graça Moura consegue com mestria fazer aquilo a

que eu chamaria uma écfrase musi-cal (por extensão do significado de écfrase – descrição de uma pintura). Apresento um pequeno exemplo, re-tirado do livro de contos Morte no Retrovisor (que tem como subtítu-lo o nome que dei a esta crónica. E não, não é um livro policial, apesar do nome fazer pensar nesse género): «O acordeão sustentava algumas no-tas, fazia tremoli e glissandi noutras, retomava a melodia num rodopio, enriquecendo-a de acordes a coinci-direm com os tempos fortes marca-dos pela guitarra e pelo contrabaixo, enquanto a voz do cantor se entrega-va a melismas convencionais e quase segregados numa toada a ressumar transes de paixão, nostalgia rioplati-na e engates de putas melancólicas» (p.170). Nas suas palavras, até um ressonar (do deputado Araújo, per-sonagem secundária de Quatro Últi-mas Canções), durante um concerto, tem graça: «o seu ressonar, a prin-cípio um fino zumbido de besouro no cio, e depois, adequadamente ao contexto, um espesso contrabaixo em merencórias surdinas (…), estertores súbitos de motor a gasóleo em fase de arranque e velas sujas.»

Como não vou poder falar de todos

os seus romances, vou destacar ape-nas mais dois: A Morte de Ninguém (1998) e Naufrágio de Sepúlveda (1988).

A Morte de Ninguém começa e termina com uma carta sobre uns escritos de um falecido professor. No centro, a narrativa desenvolve-se na primeira pessoa, sendo este profes-sor a personagem que narra e conta duas outras histórias a um interlo-cutor que nunca aparece. Na verda-de, estamos perante um monólogo, mas a estrutura variada das histórias contadas não o dá a entender, pois intercala a correspondência de um seu irmão (que esteve na guerra de África) com uma amiga (mais uma conhecida) que vivia nos EUA, com os seus apontamentos sobre um es-pião inglês na 2ª Guerra, em Lisboa. As duas histórias, tão diferentes, vão--se cruzando nas memórias e palavras do narrador, que de uma salta para a outra, por fios que só ele tão bem sabe entrelaçar.

Pelo Naufrágio de Sepúlveda te-nho um carinho especial, por ter sido o primeiro livro que li de Graça Moura. Na altura, tinha acabado de ler a História Trágico-Marítima (re-lações de naufrágios do séc. XVI e

XVII, compiladas por Bernardo Go-mes de Brito, no séc. XVIII) e a his-tória do capitão Manuel de Sousa Sepúlveda e de sua mulher Leonor estava ainda fresca na minha memó-ria. O que penso do livro é descrito pelo próprio narrador (um diretor da Imprensa Nacional-Casa da Moe-da e, também ele, político e escritor, tal como), no final, quando descre-ve uma conversa que teve com a sua editora: «Disse-lhe que ainda tencio-nava escrever um texto ondulante de tempos encadeados sem costuras nem pausas, como um músculo de mar cujas vagas cinzentas continua-mente trariam à praia um latido re-moto, golfadas de figuras, espumas, fragmentos, ventos, sons, enlaçados nas algas, encalhados na rebentação, deixados à vista da ressaca ao longo das páginas, como detritos, seixos, acidentes nos declives de um areal em que a água, ao retirar-se, dividida por eles, fizesse represas de memó-rias, músicas, vozes, e que tudo isto se tornaria num fluxo e refluxo in-cessante sob a chuva, sob cortinas de chuva a desabarem ao longo de todo o texto. E será um romance?, pergun-tou ela. Tudo é ficção, respondi.»

Boas Festas, com muito boas leituras!

Vasco Graça Moura: 50 anos de ficções e quase ficções

Adriana NogueiraClassicistaProfessora da Universidade do [email protected]

livro

Vasco Graça Moura, personagem polifacetada da Cultura

07.12.2012  11Cultura.Sul

A reflexão que aqui propomos é o reconhecimento da Pessoa enquanto valor cultural. Poderá parecer absur-do, mas ao olharmos com mais aten-ção a nossa realidade, verificamos que, por entre o frenesim do mundo atual, ao Ser Humano é dado, normalmente, pouco valor. Cruzamo-nos com muitas pessoas diariamente, muitos circulam apressadamente, outros estão senta-dos em jardins, largos ou conversan-do em cafés, outros, ainda, jazem des-prezados e isolados, de forma mais ou menos escondida. Todos nós achamos uma certa graça aos idosos, isolados, ou em grupo, que encontramos nas localidades do mundo extraurbano. Contudo, esquecemo-nos de questio-nar o que está por detrás de uma pele enrugada e queimada pelo sol, ou de alguns dos olhares tristes e vazios, ou até de versos que cantam e até dos seus animados jogos. É aqui que os investigadores das Ciências Sociais e Humanas (sociólogos, antropólogos, museólogos, historiadores, etc.) têm um papel fulcral.

A Pessoa, numa sociedade materia-

lista e desumanizada, precisa urgen-temente de ser escutada. É imperativo efetuar a recolha dos seus depoimen-tos, das suas experiências de vida, do seu saber que é único, enriquecedor e que não se encontra em nenhuma das mais apetrechadas bibliotecas ou ar-quivos deste planeta. Desprezar essas fontes vivas de conhecimento é atirar para o terrível abismo da ignorância séculos de história e de memória coletivas e isso, especialmente num país tão culturalmente rico como é o

nosso, é uma tragédia. As Pessoas já não nos poderão ser úteis depois de partirem. No caso que apresentamos em seguida, a principal protagonista já não se encontra entre nós, mas foi possível ouvir o que nos quis trans-mitir atempadamente.

A Praia da Salema, em Vila do Bispo

Se não nos tivéssemos norteado pela ideia do valor da Pessoa e não

lhe dedicássemos parte do nosso tem-po livre, por exemplo, num serão na casa da Sra. Madalena de Jesus, habi-tante da Salema, então com 80 anos, realizado a 02.06.2007, na companhia da sua filha e genro, provavelmente, nunca saberíamos alguns pormeno-res relevantes. Se naturalmente não é nenhuma novidade que as origens da localidade estão relacionadas com a atividade piscatória - o tempo das Armações -, tendo-se estabelecido na zona famílias vindas de Quartei-ra, Albufeira e Alvor, por exemplo, o facto é que nem só da pesca viveu a Salema: “Tudo tinha bocadinhos de terra para semear umas favas, umas ervilhas para comer” e quem “…não tinha campo e tinha muitos filhos, era muita dificuldade. Muitos casais tinham seis e sete filhos e para se sus-tentarem iam às lapas, aos mexilhões para vender ou para trocar por figos (torrados) para os filhos”. Recordou--se que antes da chegada do Turis-mo “…o que começou a melhorar a aldeia foi o limo”. Ou seja, a apanha do limo, atividade dura que trouxe alguma prosperidade. Segundo o seu genro, José Modesto da Luz Correia, com 59 anos, o limo “Servia para os medicamentos e para a cosmética, basicamente. Era uma atividade ar-riscada. As pessoas dirigiam-se para as Furnas e Ponta da Torre muitas vezes com mau tempo. Era o ouro--negro naquela altura”, lembrou. As

embarcações com o limo eram des-carregadas em terra e as mulheres ajudavam nas tarefas seguintes: “…levavam-no em canastras e cestos, e depois punham-no a secar nos mon-tes e nos cerros”. O trabalho era cui-dadoso, pois o limo tinha de secar totalmente. Depois eram feitos far-dos, pesados e comprados. “A vida começou a melhorar para algumas pessoas: compraram-se terrenos, ele-trodomésticos, etc”.

Imagens de uma espiritualidade

Nesta arca de memórias que tive-mos a felicidade de abrir, ficámos a saber, também, algumas referências respeitantes à vivência espiritual das pessoas. Segundo a filha da D.ª Ma-dalena, Maria Margarida Correia (57 anos), o facto de na Salema não exis-tir nenhuma igreja tornava difícil a ligação dos locais com a religião: “Ia--se à igreja a Budens”. Recordou que com o aparecimento da “…Casa dos Pescadores houve mais cuidado nesse âmbito. Ensinava-se religião e moral.

A professora Maria Helena Águas (de Lagos) foi muito importante…”, promovendo “…muitas iniciativas”. E, assim, começou a vir um padre à escola (atual Clube da Salema) ce-lebrar missa”. Existiam “crenças” e “havia um senhor que vendia qua-dros e imagens nas ruas e as pesso-as compravam-lhe. Alguns herda-ram pequenos oratórios de família, mas isso não era muito frequente. A aquisição de uma imagem era uma atitude considerada religio-sa”. Mãe e filha recordaram, ainda, a importância do culto de N.ª Sra. de Guadalupe: “Chegaram a haver deslocações a pé para pedir água à senhora em períodos de seca. Várias vezes”. Na Salema: “A iniciativa era da Sra. Castanheira, que organizava a procissão e iam à Guadalupe pedir água para as colheitas…”.

Estes são apenas alguns dos ex-traordinários fragmentos da nossa memória e cultura locais que estão guardados numa Pessoa. E aqui fica o desafio: porque não começarmos nas nossas próprias casas o registo destas memórias?

•ViVências no algarVe - Património cultural imaterial

A Pessoa e o Património Cultural – uma reflexão

Artur Jorge Vieira de JesusLicenciado em HistóriaCâmara Municipal de Vila do Bispo

património

Salema: uma povoação intimamente ligada ao Mar

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07.12.2012 12

Lugares Mágicos marca a diferença no acesso à Cultura

Há projectos assim, que respiram envolvimento, de-dicação, enlevo no criar e no fazer, no pensar e no agir. Os “Lugares Mágicos”, pro-jecto de educação artística e patrimonial da Direcção Re-gional de Cultura do Algarve (DRCAlg), em parceria com o Atelier Educativo, é um caso destes, especial.

Sexta-feira da passada se-mana a Biblioteca Municipal de Faro foi o palco escolhido para receber o fórum de de-bate “Mesas em palco”, que analisou o trabalho desenvol-vido nas duas edições (2010 e 2012) deste projecto singular que pretende levar a Cultura até às franjas mais desfavoreci-das da sociedade algarvia, em particular às crianças e jovens institucionalizados.

Os trabalhos que se prolon-garam ao longo do dia deram prova da entrega de artistas, instituições e seus profissio-nais e dos inúmeros agentes que, lado-a-lado com a DR-CAlg e com o Atelier Educa-tivo, souberam levar a bom porto este ambicioso projecto de divulgação cultural.

Ambicioso porque raro, como reconheceu Teresa Ri-cou, líder do projecto Chapi-tô, convidada a participar no último painel do dia e que se surpreendeu com a latitude da iniciativa e com a sua impor-tância para uma maior igual-dade de acesso à Cultura.

Ambicioso, também, por-que o sonho não tem limites quando a vontade ultrapassa

as fronteiras das resistências e, em resumo, vencedor face aos resultados apresentados pelos agentes envolvidos.

Ouvir falar de como uma criança isolada se liberta das amarras dos seus ‘medos e contigências’ e regressa ao convívio com o outro, de como a rebeldia e a revolta se calam, sem se perderem no que delas deve existir em cada jovem, e ganham forma de armas maio-res para o desenvolvimento sócio-cultural de cada um, surpreende.

É disso mesmo que se tra-ta, quando se fala dos Luga-res Mágicos, é dessa magia de tornar a dificuldade mais-valia que se discorre e é nessa ambi-ção que se trabalha.

Pintores, fotógrafos, cera-mistas, arqueólogos, museó-logos e artistas e profissionais desse imenso mundo que é a Cultura assumem o papel chave face a quem mais im-porta no projecto, as crianças e jovens, numa união que se apresenta rara e que só peca

por não ser universal. A discriminação positiva no

acesso à Cultura é aqui a arma de arremesso para quebrar o fosso entre quem está institu-cionalizado e o mundo cultu-ral, e por via disso a pedra de toque de mais uma estratégia de integração.

Inestimável arma que se en-tende positiva mas que, neces-sariamente, deveria tornar-se também estratégia definida para os públicos jovens em geral. As técnicas e aborda-gens utilizadas com mestria por quem estabelece a pon-te entre a Cultura e os jovens neste projecto, nunca seriam de somenos importância se se generalizassem, pese embora o reconhecimento do esforço que para tal seria necessário. Não obstante o grande es-forço seria aqui um ‘menor trabalho’ face à importância que consubstancia a garantia pró-activa do acesso geral da-queles que constituem o nosso futuro à Cultura.

Ricardo Claro

Cultura.Sul

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Projecto pretende levar a Cultura às classes mais desfavorecidas