cultura lÚdica do povo tembÉ do alto rio … como um complexo de padrões de comportamento e sim...

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CULTURA LÚDICA DO POVO TEMBÉ DO ALTO RIO GUAMÁ Débora Pantoja dos Santos¹ Acadêmica do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade do Estado do Pará (UEPA). Email: [email protected] Profa. Dra Joelma Cristina Parente Monteiro Alencar² Doutora em Educação (UFNR). Licenciada Plena em Educação Física pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). Professora Orientadora. Email: [email protected] RESUMO O artigo trata da cultura lúdica das crianças indígenas da etnia Tembé do Alto do Rio Guamá da aldeia Sede. Podemos denominar a cultura lúdica como um conjunto de práticas lúdicas realizadas por um povo, assim como compreendemos a cultura tradicional indígena como a transmissão de costumes entre as gerações. O presente estudo trata a cultura tradicional Tembé, respeitando os hábitos e costumes próprios que precisaram ser levados em consideração para o decorrer da pesquisa de acordo com Cohn (2009). O objetivo geral foi analisar que elementos da cultura tradicional estão presentes na cultura lúdica das crianças Tembé. O tipo de estudo é explicativo, a pesquisa contém elementos da etnografia com uma abordagem qualitativa. A coleta dos dados foi realizada por meio da observação participante, conversas informais e registros fotográficos que foram necessários para o enriquecimento da pesquisa. A análise do material se deu através da análise do conteúdo, para ser possível a compreensão da cultura lúdica dos indígenas na aldeia. Palavras-chaves: Cultura lúdica. Indígena. Jogo. Tembé. INTRODUÇÃO Este artigo apresenta uma leitura da cultura tradicional indígena relacionada a cultura lúdica vivenciada pelas crianças Tembé do Alto do Rio Guamá. As comunidades Tembé do Alto do Rio Guamá vivem no Estado do Pará, próximo a cidade de Capitão Poço, é formada por quinze aldeias, sendo elas Frasqueira, Itaputyry, Tauari, São Pedro, Muricyty, Jacaré, Sede, Pira, Ituaçu, Ipidho, Wrapé ladu, Pinawa, Itahu, Itawa e taitetuwa, porém a Aldeia Sede foi escolhida para o contexto da pesquisa. Devido a proximidade dos Tembé com a população que residem na cidade de Capitão Poço, houve um processo de miscigenação muito forte, principalmente através de casamentos com não indígenas, alterando o modo de vida e os costumes, assim os indígenas começaram a adquirir algumas influências dos hábitos da cidade. Portanto, foi necessário entender se a cultura lúdica das crianças também sofreram alterações com a proximidade da cidade ou se os elementos

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CULTURA LÚDICA DO POVO TEMBÉ DO ALTO RIO GUAMÁ

Débora Pantoja dos Santos¹ Acadêmica do curso de Licenciatura em Educação Física da

Universidade do Estado do Pará (UEPA). Email: [email protected]

Profa. Dra Joelma Cristina Parente Monteiro Alencar² Doutora em Educação (UFNR). Licenciada Plena em Educação Física pela Universidade do

Estado do Pará (UEPA). Professora Orientadora. Email: [email protected]

RESUMO

O artigo trata da cultura lúdica das crianças indígenas da etnia Tembé do Alto do Rio Guamá da aldeia Sede. Podemos denominar a cultura lúdica como um conjunto de práticas lúdicas realizadas por um povo, assim como compreendemos a cultura tradicional indígena como a transmissão de costumes entre as gerações. O presente estudo trata a cultura tradicional Tembé, respeitando os hábitos e costumes próprios que precisaram ser levados em consideração para o decorrer da pesquisa de acordo com Cohn (2009). O objetivo geral foi analisar que elementos da cultura tradicional estão presentes na cultura lúdica das crianças Tembé. O tipo de estudo é explicativo, a pesquisa contém elementos da etnografia com uma abordagem qualitativa. A coleta dos dados foi realizada por meio da observação participante, conversas informais e registros fotográficos que foram necessários para o enriquecimento da pesquisa. A análise do material se deu através da análise do conteúdo, para ser possível a compreensão da cultura lúdica dos indígenas na aldeia.

Palavras-chaves: Cultura lúdica. Indígena. Jogo. Tembé.

INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta uma leitura da cultura tradicional indígena relacionada a

cultura lúdica vivenciada pelas crianças Tembé do Alto do Rio Guamá. As

comunidades Tembé do Alto do Rio Guamá vivem no Estado do Pará, próximo a

cidade de Capitão Poço, é formada por quinze aldeias, sendo elas Frasqueira,

Itaputyry, Tauari, São Pedro, Muricyty, Jacaré, Sede, Pira, Ituaçu, Ipidho, Wrapé

ladu, Pinawa, Itahu, Itawa e taitetuwa, porém a Aldeia Sede foi escolhida para o

contexto da pesquisa.

Devido a proximidade dos Tembé com a população que residem na cidade de

Capitão Poço, houve um processo de miscigenação muito forte, principalmente

através de casamentos com não indígenas, alterando o modo de vida e os

costumes, assim os indígenas começaram a adquirir algumas influências dos

hábitos da cidade. Portanto, foi necessário entender se a cultura lúdica das crianças

também sofreram alterações com a proximidade da cidade ou se os elementos

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tradicionais ainda são vivenciados.

Diante disto, a pesquisa teve algumas questões a investigar, tais como: De

que forma se dá a relação entre a cultura lúdica e a cultura tradicional indígena?

Quais são as atividades lúdicas que as crianças da etnia Tembé vivenciam no

acontecer de suas brincadeiras? Quais elementos da cultura tradicional Tembé se

relacionam com a cultura lúdica das crianças?

Neste contexto, diante das questões norteadoras, a pesquisa teve como

objetivo geral analisar que elementos da cultura tradicional estão presentes na

cultura lúdica das crianças Tembé. E os objetivos específicos que constituem o

estudo foram: Compreender de que forma se dá a relação entre a cultura lúdica e a

cultura tradicional indígena, descrever quais são as atividades lúdicas que as

crianças da etnia Tembé vivenciam no acontecer de suas brincadeiras; avaliar até

que ponto os elementos lúdicos presentes nas brincadeiras das crianças se

relacionam a cultura tradicional Tembé.

A pesquisa contém elementos da etnografia utilizando um estudo de cunho

explicativo e uma abordagem qualitativa dos dados, a coleta de dados se deu a

partir da observação das crianças na aldeia, assim como conversas informais e

registros fotográficos. Na análise dos dados foi utilizada a análise do conteúdo.

Acreditamos que o estudo contribui para o meio cientifico, pois, o processo

cultural indígena que perpassa pela cultura lúdica, é uma temática pouco estudada

na área da Educação Física.

Tem relevância social por entender que a sociedade precisa dialogar com as

comunidades indígenas, principalmente quando tratamos de crianças que são o

futuro e serão as grandes responsáveis por difundir a tradição de seu povo as novas

gerações. Portanto, este estudo aborda a cultura lúdica com um olhar voltado aos

jogos, brinquedos e brincadeiras que fazem parte do repertório lúdico das crianças

tradicionais indígenas Tembé da aldeia Sede.

1. CULTURA LÚDICA

A cultura é responsável pela manutenção da identidade, dos valores, herança,

do patrimônio cultural, dessa forma para Geertz (1989), a cultura não pode ser

considerada como um complexo de padrões de comportamento e sim um conjunto

de mecanismos de controle de planos, receitas, regras, instruções para governar o

comportamento. Assim, todos os homens estão aptos a mudanças exteriores e

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facilmente adaptáveis com a cultura do outro.

Huizinga (1938, p.32) apresenta o jogo como elemento fundamental da

cultura, estando presente na linguagem, na guerra, na ciência, na poesia, na filosofia

e nas artes. O autor acrescenta: “A existência do jogo não está ligada a qualquer

grau determinado de civilização ou a qualquer concepção do universo”.

O autor reportado trata o jogo como uma prática lúdica séria, que tem

manifestações anteriores à cultura, desde os povos primitivos, mostrando que os

animais também brincam, porém, diferente dos homens, os animais não tem

consciência da prática, já os homens conseguem demonstrar a intensidade, o poder

de fascinação que são essenciais ao jogo quando se é compreendido em sua

totalidade.

Diante de um estudo em que o objeto é a criança indígena, destacamos Conh

(2009) que trata da cultura da criança identificando que ela também é responsável

pela construção da cultura como um sistema simbólico, elaborando sentidos, não

sendo apenas uma cópia do mundo adulto, criando elementos próprios para interagir

e vivendo momentos de aprendizagens.

De acordo com a autora a visibilidade social, econômica e cultural no ocidente

sobre as crianças, possibilitou a elas se tornarem seres atuantes ativamente,

interagindo com os adultos e com outras crianças, sendo importante para a

consolidação dos papéis que assumem e de suas relações. As crianças possuem

uma particularidade em relação às outras categorias geracionais, se entendendo

como um ser que é capaz de formular sentidos sobre o mundo que a rodeia

interagindo com ele principalmente através de suas brincadeiras.

Por meio da brincadeira a criança manifesta a sua cultura, permitindo a

afirmação do seu eu, tornando-se importante para a personalidade que está sendo

formada para a vida, assim, a criança deixa o mundo de inibições se desenvolve a

partir da realidade criada através do lúdico proporcionado pelas brincadeiras.

É importante compreender que as práticas lúdicas de um povo expressam

sua cultura. Na ludicidade os indígenas realizam uma inserção de costumes

valorizando a identidade cultural e social com características próprias, trazendo para

as danças, mitos, narrativas, jogos e brincadeiras a história do sujeito individual e

coletivo tendo como base a tradição.

O aprendizado diário depende da transmissão de conhecimento de

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uma geração para outra, ou seja, da cultura base para as transformações e adequações que o mundo exterior exige, compreendendo desde as técnicas engendradas na manipulação do natural até o conjunto de valores e crenças necessárias para a convivência e a manutenção do grupo". (BROUGÈRE, 2000, p. 65)

Brougère (1998, p.24) constrói o conceito de cultura lúdica como sendo o

acumulo de referências com experiências que permitem interpretar o jogo em

qualquer situação, definindo-o como “um conjunto de procedimentos que permitem

tornar o jogo possível”, apontando-o como um elemento enriquecedor cultural que

promove a participação social, possibilitando a apropriação da cultura pelas

crianças.

Segundo Santin (1994), as práticas lúdicas se constituem das vivências da

ludicidade obtidas através de ações vividas e sentidas, na qual as palavras não

definem, mas podem ser compreendidas na observação das fantasias, imaginações

e pelos sonhos que se articulam pelos materiais simbólicos, pois as práticas não se

preocupam com o produto final e sim com os momentos vivenciados.

Podemos compreender os jogos e as brincadeiras como práticas lúdicas que

pertencem ao acervo cultural das crianças. Para melhor elucidar, iremos tratar a

seguir sobre os temas para melhor compreensão.

1.1. JOGOS E BRINCADEIRAS

Segundo Meireles (2015, p.64) “a criança brinca como forma de se apropriar

do mundo, do outro e de si mesmo”. Assim ela expõe desejos que estão escondidos

dentro da sua intimidade, socializando a partir do momento que ela se integra com o

ambiente, construindo base para a comunicação com os demais da sociedade.

Bougère (1998) não distingue o brincar do jogo, ele mostra que ambos são

dotados de interpretações, significações e características que são adquiridas pelo

jogador através do lúdico, enriquecendo a cultura lúdica. A brincadeira precisa ser

de caráter livre, não podendo ser imposta, ela é movida apenas pelo prazer

proporcionado a criança.

Seguindo este raciocínio o autor mostra que a cultura é difundida através dos

brinquedos e brincadeiras que o mundo oferece, dialogando com diferentes

gerações, transmitindo símbolos, representações e imagens da sociedade em que

ela vive, assim como de outras sociedades.

Na mesma direção, a partir de uma abordagem filosófica de Santin (1994), ele

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compreende o brincar como um conjunto de atividades humanas designadas pela

sociedade e somente o jogo torna a natureza completa. Para o autor, a vida infantil é

constituída por um mundo lúdico que precisa ser respeitado e só é entendido

quando o observador se coloque no lugar de uma criança, pois a maneira de viver

da criança é diferente do adulto, até pela lógica da vida e muitos não entendem isso.

Os jogos e as brincadeiras são essenciais para todas as sociedades, no

contexto da cultura tradicional indígena eles são importantes para a preparação da

vida adulta, pois geralmente as crianças brincam se espelhando nos seus pais, os

jogos realizados além de proporcionar a ludicidade, constrói conhecimentos que

servirão no futuro, pois as brincadeiras estão ligadas aos trabalhos dos pais e

inconscientemente eles aprendem.

1.2. O BRINQUEDO COMO REPRESENTAÇÃO SIMBÓLICA DE UM POVO

Brougère (2000) mostra que o brinquedo tem sua função simbólica que

funciona como um objeto dotado de significação originando brincadeiras sem

funções pré-estabelecidas, pois a criança é quem define qual será a função, ou seja,

um brinquedo pode ter diversos papéis na brincadeira.

O brinquedo é o desencadeador de várias brincadeiras, mas elas não

precisam do brinquedo para existir, podendo dizer que um objeto só passa a ser

brinquedo quando é destinado para uma brincadeira. Desta maneira, “tudo neste

sentido pode se tornar um brinquedo e o sentido do objeto lúdico só é dado por

aquele que brinca enquanto a brincadeira perdura” (BROUGÈRE, 2000, p. 62).

De acordo com o autor mencionado, o brinquedo precisa ser palpável, o seu

significado quem determina é quem está brincando, tudo pode virar brinquedo desde

que a imaginação tenha criatividade para tal, um lápis pode virar um avião, uma lata

vira um carro, criando possibilidades para todos brincarem independente da situação

financeira, assim como por tradição cultural.

Compreende-se também que o brinquedo faz parte da apropriação cultural,

retratando a realidade, transmitindo imagens, símbolos e costumes, pois os traços

culturais são evidentes quando é analisado o contexto vivido. Segundo o autor:

O brinquedo é dotado de um forte valor cultural, se definimos a cultura como o conjunto de significações produzidas pelo homem. Percebemos como ele é rico de significados que permitem

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compreender determinada sociedade e cultura (BROUGÈRE, 2000, p.8).

Algumas sociedades possuem brincadeiras que são comuns no país, mas são

estruturadas de acordo com a cultura de tal local, portanto a cultura lúdica das

crianças precisa ser entendida com particularidade, pois ela é influenciada pelo

cotidiano e não igual para todos os lugares, estando infiltrada no espaço e está

inserida na cultura à qual a criança pertence.

1.3. CULTURA LÚDICA NO CONTEXTO TRADICIONAL INDÍGENA

Quando se trata de povos tradicionais, surgem dúvidas sobre o que seria

esse tradicional que distingue dos outros povos, na qual precisa deixar claro o

conceito para melhor compreensão.

Para Callois (2006, p. 20) “o tradicional não é sua antiguidade, mas a maneira

como é adquirido e como é usado, ou melhor, formas particulares, continuamente

colocadas em prática na produção dos conhecimentos”. As práticas sociais estão

ligadas a tradição sendo transmitidas de uma geração à outra, seja de pais para

filhos, podendo ser transmitida na integra, como em gesto e movimento.

A cultura indígena conforme destaca Cohn (2009, p.11), pode ser

compreendida como “aquilo que é transmitido entre as gerações e aprendido pelos

membros da sociedade”. No entanto, o processo de socialização das crianças não é

pensado como nas teorias clássicas, nas quais as crianças são vistas como sujeitos

passivos de papéis funcionais. Pelo contrário, as crianças indígenas são vistas como

parte ativa na consolidação e definição de seu lugar na sociedade.

De acordo com Meireles (2015, p.62) é necessário entender a criança a partir

dela mesmo, pela observação de seus gestos espontâneos realizado na

informalidade, sem mediações, assim será encontrado a essência da criança.

Há jogos e brincadeiras que são manifestações lúdicas que revelam os

códigos ou elementos tradicionais de um povo. Para tanto, na ludicidade a criança

se expressa, reproduz e transmite cultura, se apropriando de elementos culturais

para recriar e transformar os saberes. Ao brincar ela dialoga com o mundo,

representando as funções dos diferentes papéis sociais da vida adulta.

Segundo Ribeiro (1988, p. 290), para os povos indígenas “o brinquedo é um

elemento cultural que é relacionado às atividades e tarefas cotidianas do mundo

adulto, para ele a criança é um adulto em miniatura que vive de maneira lúdica o seu

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futuro”.

Muitos dos brinquedos utilizados pelas crianças indígenas são produzidos por

elas com os recursos da fauna e flora, principalmente por viverem em contato direto

com a natureza. Segundo Meirelles (2015, p.18) “o brincar com a natureza, as

arvores, a terra, com a água, com flores e cascas, os frutos e sementes aproxima a

criança das impressões mais íntimas a imaginação”. Desses materiais saem

brinquedos incríveis que é necessário um olhar cuidadoso para perceber as

significações que eles contêm no momento que as crianças brincam.

Segundo Grando (2010), a cultura lúdica indígena fala do local que as

pessoas vivem sua história, os valores, afazeres, a vida cotidiana e as relações do

homem e da mulher desde a infância, que se estabelecem com o seu meio que é

social, principalmente na relação com a natureza.

Uma das grandes diferenças entre as brincadeiras convencionais e as

tradicionais são em relação a competitividade, pois os indígenas procuram a

satisfação pessoal, segundo Teixeira, Rocha e Silva (1999, p. 3):

As crianças indígenas brincam de um modo peculiar, o jogo não possui o mesmo sentido que as outras culturas, pois não há a figura do vencedor, não há desavença entre eles, predominando as brincadeiras junto à natureza. As brincadeiras funcionam como uma preparação da vida adulta, tendo as crianças a oportunidade de terem seu arco e flecha e realizar pequenas caçadas, para os meninos e as meninas realizam pequenas tarefas domésticas como descascar a mandioca, pegar lenha e levar barro para a mãe oleira.

Para Melia (1975) o jogo é um elemento essencial para a educação indígena,

pois é na brincadeira que as crianças aprendem a se preparar para o futuro,

brincando de trabalhar, os brinquedos geralmente são os instrumentos de trabalhos

dos pais, que dependendo do sexo eles se diferenciam, não trazendo um mundo de

ilusões e sim de realidades, que são aceitas desde criança.

Dentre a cultura lúdica indígena é possível identificar os jogos tradicionais

indígenas, tais quais são disseminados pelos mais velhos para que não se percam

com o passar do tempo, sendo praticados pelas gerações. Para Zimmerman (2014)

o jogo para os indígenas é a celebração do passado junto ao futuro, transcrevendo a

história e não apenas conservando e assim renovando a tradição.

Podemos considerar os jogos tradicionais como as manifestações que

pertencem a uma determinada cultura de um grupo social, desenvolvidos e

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preservados pelo processo de transmissão oral e que são praticados por uma

comunidade durante um determinado período de tempo podendo ser extintos ou

perdurar muitas gerações. (MARIN, RIBAS, 2013).

Para Grando et all (2010), os jogos indígenas são intercâmbios de diversas

culturas entre as etnias indígenas, ocasionando a difusão do conhecimento cultural

aos demais brasileiros que assistem e permitindo a transmissão do conhecimento da

história das etnias quando através da mistura dos povos com as pinturas e danças,

além servir como estimulo para os índios mais novos.

Mas como todo povo que aprende com o outro, com os indígenas não são

diferentes, suas referências lúdicas também são providas de elementos da cultura

convencional, “a cultura lúdica não está fechada em torno de si mesma, ela integra

elementos externos que influenciam a brincadeira, atitudes e capacidades, cultura e

meio social” (BROUGÈRE, 2000, p. 51).

Ainda de acordo com a autora o aprendizado nas aldeias é diário, todos

ensinam e todos aprendem de maneira simples, mas eficaz que é no dia a dia, os

grandes rituais, a tradição passada de geração para geração é ensinada mantendo o

valor cultural.

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Segundo Corsaro (2002) a pesquisa com crianças requer alguns cuidados,

principalmente na metodologia utilizada, para fazer o uso apropriado de técnicas e

métodos possibilitando uma coleta e registros de dados satisfatórios. Portanto, para

que os objetivos citados neste estudo fossem alcançados, foi necessário fazer uma

abordagem qualitativa, não podendo traduzir em números os dados que foram

registrados na aldeia, obtendo várias interpretações da análise.

Atendendo ao objetivo principal fez-se necessário um estudo de cunho

explicativo, pois segundo Gil (2007, p.42) “a pesquisa explicativa preocupa-se em

identificar os fatores que determinam ou que contribui para a ocorrência dos

fenômenos, a mesma aprofunda-se no conhecimento da realidade e o porquê das

coisas”.

Diante disto, a pesquisa trouxe elementos da etnografia, pois foi um método

particularmente útil, permitindo que a criança indígena participasse de maneira mais

direta na produção dos dados.

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Para Moreira e Caleffe (2006) a etnografia enfoca o comportamento social do

sujeito no cenário cotidiano, a partir de dados qualitativos obtidos nas observações e

interpretações feitas no contexto da totalidade das interações humanas realizadas

em campo para assim os resultados da pesquisa serem interpretados com

referência ao grupo, conforme as interações no contexto social e cultural e a partir

do olhar dos sujeitos participantes da pesquisa.

Baztán (1995) trata a etnografia como a realização de um estudo descritivo

sobre uma determinada comunidade que o trabalho de campo de modo particular a

observação. A pesquisa foi além da descrição da comunidade Tembé, explica a

cultura lúdica das crianças indígenas da comunidade.

O significado do nome da etnia Tembé quer dizer “Donos do cocar”. Segundo

Gomes (1977), durante os séculos XVII e XVIII o grupo também é conhecido como

Tenetehara, que significa “seres humanos verdadeiros”, eles habitavam a região do

vale do Alto Rio Pindaré localizado no Maranhão. De acordo com o autor, no século

XIX como consequência das migrações dos extratores de óleo de copaíba e com as

invasões das terras indígenas, os Tenetehara se dispersaram e se subdividiram em

três grupos: O Tembé Turiwara, Tembé do Alto Guamá e o Tembé do Gurupi.

Dessa forma, participaram da pesquisa diretamente as crianças indígenas

Tembé do Alto do Rio Guamá com idade entre 5 e 10 anos, sendo 12 meninas e 8

meninos que residem na aldeia Sede e com autonomia para escolherem suas

brincadeiras. Foram excluídos da pesquisa de forma direta, as crianças menores de

5 e maiores de 10 anos por não se enquadrarem no perfil e as crianças que residem

nas outras aldeias próximas.

Fomos a primeira vez na aldeia pedir autorização a liderança indígena, assim

como conversamos sobre os povos para obter um conhecimento prévio sobre a

comunidade indígena Tembé, após a primeira ida passamos dez dias, com intervalo

de duas semanas.

Para tanto, o percurso para chegar até a aldeia é de difícil acesso, devido à

má conservação da estrada, mas ao se aproximar da aldeia o cenário muda, a mata

densa nas margens do Rio Guamá marca a chegada, na qual precisamos chamar

por alguém para atravessar o rio de canoa.

A organização da Aldeia tem como base casas de taipa e alvenaria. A entrada

principal da aldeia é pela margem do Rio, onde avistamos a escola Estadual

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Indígena Félix Tembé, o Posto de Saúde e a casa dos professores na qual ficamos

hospedada no decorrer da coleta de dados.

A coleta de dados foi por meio da observação participante, do que foi

observado na escola, no campo, no igarapé e nas casas, além dos outros locais da

aldeia, assim como conversas informais com as crianças e registros fotográficos.

O primeiro contato foi importante para o decorrer da permanência em campo,

pois foi possível entrar em sintonia com a comunidade, porque apenas ir durante o

dia e não viver o dia-a-dia poderia trazer resultados superficiais e com a

permanência tivemos a oportunidade de acompanhar desde o amanhecer até o

anoitecer, sempre observando, analisando e interagindo com os indígenas.

Conhecer as brincadeiras, os locais das brincadeiras e os recursos utilizados

pelas crianças foram parte fundamental da pesquisa, assim como a observação de

pequenas manifestações, para a descrição de um olhar campal dotado de

significações. Utilizaremos no decorrer do texto fala de indígenas, na qual por

questão de preservação da identidade usaremos nomes fictícios.

A análise dos dados se deu por meio da análise do conteúdo, Bardin (2009, p.

38) refere que “a análise de conteúdo consiste em: um conjunto de técnicas de

análise das comunicações utilizando procedimentos sistemáticos para descrever o

conteúdo”, assim utilizamos para obter as respostas para a compreensão do modo

de vida da aldeia e assim alcançar as respostas de investigação da pesquisa.

A seguir será apresentada a análise das categorias que foram sistematizadas

a partir do estudo em campo.

3. A BRINCADEIRA TEMBÉ

De acordo com o analisado na aldeia, podemos destacar várias brincadeiras

que compõe a cultura lúdica Tembé da aldeia sede. Diante do observado afirmamos

que o acervo de brincadeiras das crianças Tembé é muito rico, muitas brincadeiras

observadas não foram possíveis de renomear por serem inventadas na hora, de

acordo com a imaginação, mas que sabemos o sentido e a importância para quem

brinca no momento brincado.

Portanto, ao dialogar com as crianças sobre as brincadeiras que elas mais

gostavam de brincar, a “bola” como elas falavam, que se remete ao futebol, foi a

mais ouvida, tanto dos meninos quanto das meninas, mas elas brincam também de

bonecas, de carrinhos, de “pira”, na água, subindo arvores e com menos ênfase as

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brincadeiras indígenas, tais como arco e flecha, lança e peteca. Porém, os traços

indígenas sempre os acompanham nas brincadeiras, com as cantorias das músicas

indígenas, a aproximação com os animais e brinquedos produzidos pelas crianças.

Jogos de “pira”, futebol, carrinho, “casinha”, carro de mão, pata cega, assim

como outras brincadeiras bem comuns de se ver, tais como boneca, porém,

utilizando alguns traços indígenas, trazendo elementos culturais como as roupas dos

rituais para as bonecas, simulando a realidade para a boneca dentro do contexto

indígena e se aproveitando do mundo imaginário com inúmeros desejos.

As crianças acompanham os pais nos afazeres diários, quando vão para a

casa de farinha, lavar roupa no rio, apanhar o açaí eles levam as crianças e o mais

interessante são que as crianças brincando fazem as atividades dos pais, que já fica

de aprendizado para quando maiores assumirem as tarefas.

Uma das observações que mais nos chamou atenção foi ver as mulheres

fazendo saias de imbira para as moças que participam de rituais e uma criança

fazendo uma saia igual para o seu animal de estimação que é uma guariba, essa

saia que requer muita técnica artesanal para que a imbira não se solte e desmanche

a saia, percebendo que ela fazia a técnica igual a mãe.

Através das informações verbais coletadas nas observações da aldeia, a

criança ao ser perguntada o que estava fazendo Thayná respondeu:

Eu amo minha “guaribinha” ela anda comigo para todo lugar e é muito ciumenta, ninguém pegar nela além de mim. Eu faço as roupas dela para andar arrumada e cheirosa, às vezes eu prefiro brincar com ela do que com minha boneca porque ela é de verdade, anda, posso da comida e ainda gosta de mim. (THAYNÁ, 10 ANOS, 2015)

Podemos evidenciar a aproximação com dos animais com as crianças em

toda aldeia e inclusive os animais se fazendo presente nas brincadeiras com as

crianças. Como podemos evidenciar na foto abaixo.

Imbira é a denominação para plantas da família das timeliáceas, que possuem característica de formar cordas rústicas (imbiras) com a casca ou ramos delgados, geralmente, os índios as secam no sol e utilizam para fazer saias, entre outras coisas. Denominação a macacos de cinco espécies no Brasil. Corpulentos ágeis, que caracterizam-se pela cabeça maciça e pelo queixo barbado dos machos.

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Imagem 1: Crianças brincando de carro de mão no campo

Fonte: Débora Santos.

Os jogos tradicionais indígenas foram citados como brincadeiras de menos

ênfase dentro da cultura lúdica das crianças Tembé, mas que aos poucos está

sendo resgatado e ganhando seu espaço através da prática na escola, devido a

contratação de professores indígenas, trazendo para a aldeia as brincadeiras de

arco e flecha, lança, peteca, cabo de guerra e o jogo do jabuti, jogos esses que até

pouco tempo não se falava mais e era desconhecido pelos mais novos, mas a

escola está com a missão de resgatar esses jogos para o estimulo das crianças a

praticarem, não apenas pelo brincar, mas a fim de buscar entender sua história por

meio da tradição que os jogos são dotados.

Podemos mostrar a importância da prática dos jogos indígenas tradicionais

para a comunidade através da fala de Uíuí, um representante da aldeia sede através

da informação verbal coletada nas observações.

Os jogos tradicionais são de grande importância para nós indígena da aldeia Sede, por trazer união para a comunidade, o incentivo de praticar a própria cultura, no mesmo tempo em que se interagi com a comunidade, fazendo com que o povo passe a se caracterizar, mostrando para os mais novos que não devemos nos envergonhar do que realmente somos, pois os que não jogávamos antes, hoje precisaram resgatar com a ajuda da pratica dos jogos tradicionais indígenas (UÍUÍ, 42 ANOS, 2015).

Não se deve confundir os Jogos tradicionais indígenas que são jogos culturais vivenciados nas aldeias que são transmitidos de geração em geração com os Jogos dos Povos Indígenas que é um evento de competição esportiva criado em 1996 através de uma iniciativa indígena brasileira, do Comitê Intertribal, com o apoio do Ministério do Esporte do Brasil.

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Foi evidente o interesse das crianças pelos jogos indígenas, não só na escola

com as aulas de Educação Física, mas como nos momentos lúdicos com a

comunidade, o entusiasmo com arco e a flecha, em conseguir acertar o alvo, a

concentração com que os meninos ficavam na hora, com garra de caçador.

É importante analisar que quando a criança brinca o conhecimento construído

não se restringe a brincadeira, esse conhecimento ajuda ao crescimento individual,

perpassando por saberes culturais, como na lança, meninos e meninas disputando

quem conseguia arremessar a lança mais longe. Mas o aprender jogar a lança pode

fazer com que essas crianças usem na caça e na pesca para a alimentação da

família, que requer muita concentração e a força de guerreiro. A imagem a seguir

mostra as crianças brincando de arremessar a lança.

Imagem 2: Criança brincando de lança no campo

Fonte: Débora Santos

O que reforça a ideia de Brougère (2000) na qual compreende que as

brincadeiras sempre precisam dialogar com as gerações para não serem extintas,

pois nelas são transmitidos os símbolos e as representações da sociedade. Assim é

perceptível a importância dos jogos tradicionais para a manutenção da vida de

determinada população, ensinando questões de sobrevivência até para a etnia

através das brincadeiras.

3.1. OS ESPAÇOS DAS BRINCADEIRAS DOS TEMBÉ

A aldeia sede conta com um amplo espaço para as crianças brincarem livres

e sem correr risco. O ambiente arborizado torna qualquer espaço propício para uma

brincadeira, basta utilizar a criatividade.

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O rio Guamá perpassa por toda aldeia sede, os índios mais velhos lavam

roupas no rio e sempre levam suas crianças, enquanto eles lavam as crianças

brincam e também ajudam. O banho no rio é rotina para os indígenas já que o sol é

muito intenso no verão e observando eles tomarem banho foi possível perceber

diversas manifestações, o rio é cenário de diversas brincadeiras inventadas, seja

com as pedras, as sementes de tucumã que viram bolas e as crianças fazem rodas

para brincar de passar uma pra outra pelo alto.

No verão o rio baixa, fazendo com que as crianças consigam atravessa-lo, ele

possui uma parte mais rasa e outra mais funda, por isso ele se torna perigoso para

quem não conhece, pois têm muitas pedras e tocos de árvores no fundo, porém as

crianças já são acostumadas, então elas adoram brincar de se pendurar nas árvores

e galhos e pular no rio, tivemos a oportunidade de brincar com elas na água e foi

uma experiência incrível de diversão e energias positivas diante de um calor intenso

que estava fazendo.

Outro espaço que é cenário das brincadeiras é a escola, ela é responsável

por difundir a cultura de um povo, aumentando o acervo cultural dos indígenas, é lá

que as crianças passam a manhã. Na escola também é um espaço de socialização

das crianças, inclusive com as aldeias mais próximas, pois há crianças de outras

aldeias que também estudam lá, então nos momentos de descontração as crianças

sempre brincam das brincadeiras já citadas acima.

Porém, de acordo com a comunidade, a Escola indígena Estadual Felix

Tembé não está de acordo com o plano de educação proposto pela comunidade,

pois está deixando de fora os elementos culturais que são de extrema importância

para a comunidade Tembé. Além disso, a Secretaria Estadual de Educação não

disponibiliza materiais de acordo com a realidade, tornando a prática dos jogos

tradicionais indígenas mais difíceis, portanto é necessário o incentivo do Estado para

fazer a escola de acordo com os interesses indígenas.

Podemos também destacar o campo de futebol, na qual é o local em que a

comunidade se encontra para jogar, assistir, torcer e socializar todas as tardes. Os

homens e as mulheres jogam bola e os filhos os acompanham, eles ficam brincando

de futebol ao lado com as outras crianças também, assim como brincam com as

árvores de se pindurar, as folhas, na areia e aos arredores do campo como

podemos mostrar na foto a seguir.

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Imagem 3: Crianças brincando de futebol enquanto os pais estavam jogando.

Fonte: Débora Santos

Destacamos por fim a Ramalha, que é o cenário dos grandes eventos da

aldeia e também de socialização com as aldeias vizinhas, os festejos, além das

aulas de artesanatos e de diversão para crianças e adultos. O local é dotado de

significados, marcando a tradição indígena, representando a união da etnia, assim

como é palco de discussões para a melhoria e busca de benefícios para a aldeia.

3.2. O BRINQUEDO E A REPRESENTAÇÃO TEMBÉ

Um grande destaque precisa ser dado para os animais de pequeno porte tais

como a guariba, tracajás e quati que além de animais de estimação, que em

determinados momentos são os brinquedos das crianças, quando brincam de

casinha com eles, de arrumar, pintar, eles ganham personagens e funcionalidade

para a brincadeira.

Assim como no Rio foi possível avistar as crianças brincando com as pedras

do fundo e sementes de frutas, colocando atribuições a elas, como de bola e

significações não compreendidas, que só tem significados até enquanto há

brincadeira, depois voltam a ser meros objetos da natureza, mas que na imaginação

da criança, pode ser qualquer coisa que ela desejar.

O que reafirma na ideia de Brougère (2000) que qualquer objeto pode virar

brinquedo, pois as significações são dadas a partir do sujeito que brinca e que para

um adulto ter esse olhar e poder compreender as vezes pode ser difícil, é possível

compreender o autor na aldeia quando observamos as frutas, sementes, árvores,

madeiras, animais, pedras, qualquer elemento natural virar brinquedo.

Todavia podemos perceber que muitos brinquedos são industrializados, mas

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as crianças na sua maioria utilizam elementos indígenas para parecer um pouco

mais com a realidade, um dos exemplos são as bonecas, que as meninas constroem

“caminhas”, “carrinhos” de madeiras para elas, atribuindo e simulando a vida diária

dos mais velhos na aldeia, esses brinquedos são construídos na própria aldeia pelas

crianças, assim como as lanças, os maracas, os arcos e flechas, carrinhos,

barquinhos, remo, entre outros, assim como outros são comprados na cidade, como

as bolas e as bonecas.

Embora alguns elementos tradicionais já tenham sido extintos, o caê,

utilizado nos rituais acompanhando maraca, que é o chocalho indígena,

protagonizando os eventos Tembé. A tradição ainda se mantém através do

professor de linguagem que reúne três vezes na semana os homens da aldeia para

ensinar o caê e por acompanharem aos pais nos ensaios as crianças também

aprendem. Na foto abaixo podemos visualizar as crianças brincando com o maraca

cantando o caê.

Imagem 3: Crianças brincando com o maracá e cantando.

Fonte: Débora Santos

E assim como os homens cantam as crianças também cantam as músicas do

caê, mas apenas os meninos podem cantar com o maraca, por que dizem que se as

meninas cantarem com o maraca o cabelo delas cai, elas só podem acompanhar o

canto e dançar, assim a tradição vai se firmando na aldeia, pois a brincadeira é um

aprendizado que provavelmente não será perdido com o passar da infância,

assumindo futuramente então a posição dos cantores dos grandes rituais, tais como

É uma dança tradicional do povo Tembé com músicas indígenas que falam dos animais da floresta e os maracas são usados para acompanhar as vozes. A dança é uma roda, que se faz aos pares em volta do centro do barracão. Algumas vezes se dançava do lado de fora, avançando de mãos dadas, formando uma longa barreira.

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a festa da moça.

A festa da moça ou festa do moqueado, que marca a passagem da criança

para a mulher com a puberdade, a festa acontece durante a semana inteira com

muitas danças e brincadeiras, são escolhidos os cantores e os homens que vão

dançar, esses terão que passar a noite inteira no festejo junto com as moças, são

vários cantos, sendo acompanhado por mulheres e crianças, tivemos a oportunidade

de participar como observadoras do ritual.

CONCLUSÃO

Ainda que alguns elementos da cultura tradicional já estejam esquecidos,

podemos visualizar elementos importantes presentes na cultura lúdica das crianças

Tembé, principalmente na maneira de brincar, pois as brincadeiras são quase

sempre coletivas, explorando a natureza. As brincadeiras que apesar de

proporcionarem o lúdico, elas são preparações para a vida adulta, como o arco e

flecha que prepara as crianças para a caça, ainda que o intuito da brincadeira seja a

ludicidade, entendendo que a cultura lúdica apesar de ser autônoma ela se interliga

com a cultura tradicional indígena.

As práticas lúdicas que as crianças da etnia Tembé vivenciam são as

brincadeiras de “pira”, de bola, de carro de mão, arco e flecha, a lança, as

brincadeiras com animais, imitando os pais nos trabalhos, na água, o que já foi

descrevidos acima com mais ênfase.

Os elementos lúdicos presentes nas brincadeiras das crianças que se

relacionam com a cultura tradicional Tembé são as brincadeiras, os jogos, as

danças, assim como todas as manifestações lúdicas que foram possíveis serem

visualizadas nas observações na aldeia.

Portanto, é necessário que a comunidade entenda a importância de preservar

a cultura Tembé e um dos elementos culturais são os jogos que as crianças

precisam de estímulos para aprender, os pais são grande incentivadores dos filhos e

precisam repassar os conhecimentos que vem desde os ancestrais para seus filhos

transmitindo a sua cultura.

Assim como, é importante que os mais velhos da comunidade mostrem para

as crianças que apesar de tudo que o mundo oferece, a tradição precisa ser

preservada na aldeia para a continuidade da construção da história, pois assim

como as danças, os cantos, os rituais, os jogos são manifestações culturais que

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marcam a identidade da aldeia e que é importante esse resgate para que não se

percam com o passar dos anos.

Finalizo este artigo com a convicção de que apesar das dificuldades de

deslocamento e das intercorrências que aconteceram ao longo do percurso da

pesquisa, cumprimos da maneira possível, a missão da qual a pesquisa nos trouxe.

O conhecimento na prática sobre a cultura lúdica Tembé, na qual em partes se

difere do que a literatura mostra, assim como as contribuições obtidas em benefício

a essa comunidade que precisa ser analisada de maneira singular.

Todas as etapas da pesquisa foram alcançadas, a instalação no campo foi

importantíssima para entender a dinâmica da aldeia, é necessária uma continuidade

a fim de ajudar o mundo cientifico com mais evidencias proporcionada diante das

vivências. A pesquisa atendeu as expectativas, respondendo as perguntas

norteadoras de maneira satisfatória, a metodologia utilizada foi essencial para

entender todo o processo da aldeia para e analisar com propriedade a cultura lúdica

Tembé.

ABSTRACT

The article deals with the play culture of indigenous children from Alto Rio Guama Tembé

ethnicity of the village Sede, We may call the play culture as a set of playful practices carried

out by a people as well as understand the traditional indigenous culture as a transmission

habits between generations. This study deals with the traditional culture Tembé respecting

the habits and customs that had to be taken into account in the course of research according

to Cohn (2009). The general objective was to analyze which elements of traditional culture

are present in the play culture of Tembé children. The type of study is explanatory research

contains elements of ethnography with a qualitative approach. Data collection was carried

out through participant observation, informal conversations and photographic records that

were needed to enrich the research. The material analysis was done through content

analysis, to be able to understand the play culture of the indigenous people in the village.

Keywords: Play culture. Indigenous. Play. Tembé.

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