cultura de seguranÇa e suas implicaÇÕes

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Luiz Carlos de Souza Pontes

CULTURA DE SEGURANA E SUAS IMPLICAES NA PREVENO DE ACIDENTES DO TRABALHO:ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA DO SETOR METALRGICO

Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado Acadmico em Administrao da Faculdade Novos Horizontes, como requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Administrao. rea de Estratgia Concentrao: Organizao e

Linha de Pesquisa: Relaes de Poder e Dinmica das Organizaes Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Honrio

Belo Horizonte 2008

17

quela que, com seu apoio irrestrito e incondicional, conseguiu tornar essa jornada mais leve, graas ao amor a mim dedicado. Ana Mrcia, esposa, amiga e companheira, voc personificou o amor, atravs do filho amado que me presenteou. Por vocs, procuro ser uma pessoa melhor a cada dia e, sem os quais, no saberia mais viver. Amo vocs!!!

18

AGRADECIMENTOS

Ao programa de Mestrado Acadmico da Faculdade Novos Horizontes, pela oportunidade de crescimento intelectual. Prof. Dra. Marlene Catarina de Oliveira Lopes Melo, por suas primeiras orientaes como tutora.

amizade do Professor Dr. Luiz Carlos Honrio, orientador atencioso, sempre disposto a aprimorar este trabalho com sugestes e questionamentos.

Aos membros da banca examinadora, pela gentileza de participarem desta etapa da dissertao. A minha esposa e filhos, pelo aceite e compreenso da ausncia de marido e pai, todo meu amor.

Aos meus pais, meu amor, respeito e admirao, por tudo que me permitiram ser. Esta obra parte de vocs. A todos os meus familiares e amigos, pela torcida na superao e conquista de mais este desafio. Empresa X e a todos os envolvidos na pesquisa. Agradecimento especial ao seu diretor industrial que abriu as portas da empresa, permitindo, assim, a realizao e concluso desta pesquisa.

Aos amigos do mestrado que se solidarizaram ao longo dessa jornada, pelo salutar convvio, bem como pelas inestimveis trocas de experincias e conhecimentos. Muito Obrigado!!!

19

Minha esperana que voc deixe de ser aquele que busca e se torne aquele que traz a luz. (Neale Donald Walsch)

20

RESUMO

O presente trabalho buscou identificar as implicaes da cultura de segurana na preveno de acidentes do trabalho em uma empresa do setor metalrgico localizada em Minas Gerais. Para a realizao da pesquisa adotou-se o modelo de Cooper (2000), que sugere que a cultura de segurana pode ser avaliada atravs de trs elementos: clima de segurana do trabalho, comportamento de segurana do trabalho e sistema de gesto de segurana do trabalho. O referencial terico baseou-se em duas sees. A primeira, mais conceitual, procurou nivelar o leitor a respeito dos principais termos usados na rea de segurana do trabalho, alm de fornecer um histrico do assunto. J, a segunda seo, trata dos temas relativos cultura organizacional e de segurana. Para alcanar os objetivos propostos, realizou-se um estudo de caso de natureza exploratria, onde os dados foram coletados de maneira qualitativa, atravs da realizao de entrevistas semiestruturadas com um diretor industrial, um gerente de RH e um tcnico de segurana do trabalho e, de forma quantitativa, mediante aplicao de um questionrio numa amostra de 95 empregados diretamente ligados produo. Para a anlise dos dados, foram utilizadas algumas tcnicas estatsticas descritivas e de associao de dados com a ajuda do software SPSS em todo o processo. A anlise dos dados mostrou que, com relao ao clima de segurana do trabalho, os empregados percebem a segurana, como algo importante e que auxilia o trabalho dirio, devendo ser uma preocupao de todos. J, com relao ao comportamento de segurana do trabalho, os empregados reconhecem o ato inseguro como o maior causador de acidentes, considerando a presso da produo uma das grandes vils no assunto. E, finalmente,com relao ao sistema de gesto de segurana do trabalho, observou-se existir um conflito entre produo versus segurana do trabalho, algo latente e que, se no for trabalhado poder, futuramente, ser a causa de srios acidentes do trabalho.

Palavras-chave: cultura de segurana, segurana do trabalho, acidente do trabalho.

21

ABSTRACT

The present work looked for to identify the implications of the safety culture in the prevention of accidents of the work in a company of the section metallurgist located in Minas Gerais. For the accomplishment of the research the model of Cooper (2000) was adopted, that suggests that safety's culture can be evaluated through three elements: climate of safety work, behavior of safety work and system of administration of safety work. The theoretical based on two sections. The first, more conceptual, tried to level the reader regarding the principal we have used in the area of safety of the work, besides supplying a report of the subject. Already, the second section, treats from the relative themes to the organization and safety culture. To reach the proposed objectives, took place a study of case of exploratory nature, where the data were collected in a qualitative way, through the accomplishment of interviews semi-structured with an industrial director, a manager of RH and a technician of safety of the work and, in a quantitative way, by application of a questionnaire in a sample of 95 used directly linked to the production. For the analysis of the data, some descriptive statistical techniques were used and of association of data with the help of the software SPSS in whole the process. The analysis of the data showed that, with relationship to the climate of safety of the work, the employees notice the safety, as something important and that it aids the daily work, should be a concern of all. Already, with relationship to the behavior of safety of the work, the employees recognize the insecure act as the largest cause of accidents, considering the pressure of the production one of the big ones villainous in the subject. And, finally, with relationship to the system of administration of safety of the work, was observed a conflict to exist among "production x safety of the work", something latent and that, if it be not worked it will be able to, hereafter, to be the cause of serious accidents at work.

Key words: safety culture, safety work, accident at work

22

LISTA

DE

QUADROS

QUADRO 1 - Acidentes versus crenas...........................................................

37 76 96

QUADRO 2 - Ambiente seguro.........................................................................

QUADRO 3 - Dimensionamento do SESMT.....................................................

23

LISTA

DE

FIGURAS

FIGURA 1 FIGURA 2 FIGURA 3 FIGURA 4 FIGURA 5 FIGURA 6 FIGURA 7 FIGURA 8

- Informaes sobre os riscos no trabalho.................................... - Pirmide de Henrich (1931)........................................................ - Pirmide de Bird (1966).............................................................. - Pirmide de Insurance Company of North American (1969)......

35

- Elementos do acidente................................................................ 39 49 - Os cinco fatores na seqncia do acidente ............................... 50 53 55 71 84

- Modelo recproco da cultura de segurana................................. - Fluxo produtivo da Empresa X....................................................

24

LISTA

DE

GRFICOS

GRFICO 1 - Distribuio da amostra - setor de trabalho................................ GRFICO 2 - Distribuio da amostra - grau de escolaridade......................... GRFICO 3 - Distribuio da amostra - estado civil......................................... GRFICO 4 - Distribuio da amostra - cargo ocupado................................... GRFICO 5 - Distribuio da amostra - faixa etria......................................... GRFICO 6 - Distribuio da amostra - tempo de trabalho na Empresa.........

117 118 118 119 120 121

25

LISTA

DE

TABELAS

TABELA 1 TABELA 2 TABELA 3 TABELA 4 TABELA 5 TABELA 6 TABELA 7 TABELA 8 TABELA 9

- Anlise descritiva do clima de segurana do trabalho................

122

- Anlise descritiva do comportamento de segurana do trabalho 123 - Anlise descritiva do sistema de gesto de segurana do trabalho........................................................................................ 125 - Itens significativamente diferentes para a varivel idade............ 127 - Itens significativamente diferentes para a varivel cargo............ 127 - Itens significativamente diferentes para a varivel escolaridade - Itens significativamente diferentes para a varivel tempo de 129 - Itens significativamente diferentes para a varivel estado civil... 130 trabalho na Empresa................................................................... 131 132 134

TABELA 10 - KMO e teste de Bartlett para clima de segurana do trabalho...

- Itens significativamente diferentes para a varivel setor............

TABELA 11 - Comunalidades e Alpha de Cronbach para clima de segurana do trabalho.................................................................................. 135 TABELA 12 - Variabilidade das variveis clima de segurana do trabalho...... TABELA 13 - Matriz de componentes rotacionadas para clima de segurana TABELA 14 - KMO e teste de Bartlett para comportamento de segurana do trabalho.................................................................................. 138 TABELA 15 - Comunalidades e Alpha de Cronbach para comportamento de de segurana do trabalho........................................................... 136

trabalho....................................................................................... 137

139

TABELA 16 - Variabilidade das variveis comportamento de segurana do TABELA 17 - Matriz de componentes rotacionadas para comportamento de TABELA 18 - KMO e teste de Bartlett para sistema de gesto de

trabalho....................................................................................... 140 segurana do trabalho................................................................. segurana do trabalho................................................................. de segurana do trabalho.........................................................

140

142

TABELA 19 - Comunalidades e Alpha de Cronbach para sistema de gesto

143

26

TABELA 20 - Variabilidade das variveis sistema de gesto de segurana do trabalho................................................................................... 144 TABELA 21 - Matriz de componentes rotacionadas para sistema de gesto de segurana do trabalho............................................................

145

27

LISTA

DE

ABREVIATURAS

E

SIGLAS

ABNT AIEA APR BTX CA Cd ATQ

ACSNI

- Associao Brasileira de Normas Tcnicas - Agncia Internacional de Energia Atmica - Anlise Preliminar de Riscos - Benzeno / Tolueno / Xileno - Certificado de Aprovao - Cdmio - Autorizao de Trabalho a Quente

- Advisory Committee on the Safety of Nuclear Installations

CIPA CLT Cr

CIPATR CNAE CTPP DOU DRT EPI Fe EPC

- Comisso Interna de Preveno de Acidentes - Consolidao das Leis do Trabalho - Cromo - Comisso Tripartite Paritria Permanente - Dirio Oficial da Unio - Delegacia Regional do Trabalho - Equipamento de Proteo Coletiva - Ferro - Her Majesty`s Stationery Office - Health and Safety Commission - Health and Safety Executive - Kaiser-Meyer-Olkim - Mangans - Equipamento de Proteo Individual

- Comisso Interna de Preveno de Acidentes do Trabalho Rural - Classificao Nacional de Atividades Econmicas

HMSO HSC HSE

INSS Mn

- Instituto Nacional da Seguridade Social

KMO MPAS MTE NR NBR

- Ministrio da Previdncia e Assistncia Social - Ministrio do Trabalho e Emprego - Norma Brasileira - Norma Regulamentadora

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NRR OIT OMS ONU Pb PCA PIB

- Norma Regulamentadora Rural - Organizao Internacional do Trabalho - Organizao Mundial de Sade - Chumbo - Programa de Conservao Auditiva - Produto Interno Bruto - Programa de Gerenciamento de Resduos de Servio de Sade - Perfil Profissiogrfico Previdencirio - Programa de Proteo Respiratria - Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional - Organizao das Naes Unidas

PCMSO PGRSS PPP PPR

PPRA PSA RH

- Programa de Preveno de Riscos Ambientais - Planejamento de Segurana da Atividade - Recursos Humanos - Servio Social da Indstria do Trabalho - Servios Especializados em Engenharia de Segurana e em Medicina - Semana Interna de Preveno de Acidentes do Trabalho - Statistical Package for the Social Sciences - Segurana e Sade no Trabalho - Total Productive Maintenance - Zinco - World Class Manufacturing

SESI

SESMT SIPAT SPSS SSST SST Zn TPM WCM

SEPATR

- Servio Especializado em Preveno de Acidentes do Trabalho Rural - Secretaria de Segurana e Sade no Trabalho

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SUMRIO

1 INTRODUO................................................................................................. 16 1.1 Problematizao......................................................................................... 19 1.2 Objetivo geral.............................................................................................. 21 1.3 Objetivos especficos................................................................................. 21 1.4 Justificativa................................................................................................. 22

2 REFERENCIAL TERICO.............................................................................. 2.1.1 Histrico sobre a segurana do trabalho........................................ 2.1.3 Causas de acidentes do trabalho................................................... 2.1.4 Diferentes contribuies para os estudos de SST.......................... 2.2 Cultura organizacional e de segurana do trabalho............................... 2.2.1 Cultura organizacional....................................................................

26

2.1 Segurana do trabalho............................................................................... 26 26 34 43 48 57 57 2.1.2 Conceitos e consideraes gerais em SST....................................

2.2.2 Cultura de segurana do trabalho................................................... 63 2.2.3 Modelo de Cooper para cultura de segurana................................ 71 2.2.3.1 Clima de segurana........................................................... 73 2.2.3.2 Comportamento de segurana.......................................... 2.3 Sntese......................................................................................................... 3 EMPRESA PESQUISADA.............................................................................. 3.1 Dados gerais............................................................................................... 3.3 Segurana e sade no trabalho................................................................ 3.2 Cultura organizacional............................................................................... 2.2.3.3 Sistema de gesto de segurana...................................... 74 78 80

82 82 85 87

3.3.1 Aspectos gerais da SST na Empresa X.......................................... 87 3.3.2 Estrutura do SESMT....................................................................... 3.3.3 Principais procedimentos de SST adotados pela Empresa X........ 3.3.4 Programas de SST......................................................................... 96 97 103

30

3.4 Prticas e polticas de RH para a SST......................................................

105 109

3.5 Sntese.........................................................................................................

4 METODOLOGIA.............................................................................................. 111 4.1 Tipo de pesquisa........................................................................................ 111 4.2 Populao e amostra da pesquisa............................................................ 112 4.3 Instrumentos de coleta de dados.............................................................. 113 4.4 Tratamento dos dados............................................................................... 5 DESCRIO E ANLISE DOS RESULTADOS............................................ 5.2 Anlise descritiva dos elementos da cultura de segurana 115

117 117

5.1 Anlise descritiva das variveis demogrficas e ocupacionais............ segundo COOPER (2000)...........................................................................

121

5.2.1 Clima de segurana do trabalho...................................................... 122 5.2.2 Comportamento de segurana do trabalho..................................... 123 5.2.3 Sistema de gesto de segurana do trabalho................................. 124 126 132 134 138

5.3 Associao entre os indicadores de segurana do trabalho e

5.4 Anlise fatorial............................................................................................ 5.4.1 Fator clima de segurana do trabalho............................................ 5.4.2 Fator comportamento de segurana do trabalho............................

as variveis demogrficas e ocupacionais..............................................

5.4.3 Fator sistema de gesto de segurana do trabalho........................ 142 6 CONSIDERAES FINAIS............................................................................ REFERNCIAS.................................................................................................. 147

153

APNDICES....................................................................................................... 165 ANEXOS............................................................................................................. 194

16

1 INTRODUO

Premidas pela nova ordem nas relaes de negcios, as empresas tiveram que alterar suas filosofias, estruturas e principalmente seus sistemas de gesto, na tentativa de tornarem-se mais enxutas, geis e competitivas.

Contudo, algumas empresas ainda no conseguiram o mesmo desempenho,

especialmente na rea prevencionista. Os acidentes e doenas do trabalho tm gerado reflexos negativos tanto para os empregados e a sociedade em geral, como para as organizaes. Do ponto de vista de organizao do trabalho e das condies do trabalho, pode-se dizer que algumas empresas realizam investimentos atrasadas nesse processo. Para De Cicco e Fantazzini (1988), com a modernizao dos parques industriais, e melhorias constantes em segurana do trabalho. Entretanto, algumas ainda esto

tem-se observado um rpido crescimento dos riscos de acidentes decorrentes da utilizao de tecnologias mais avanadas e complexas, maior quantidade de insumos, utilizao de novos produtos, transporte e armazenagem de grandes quantidades de produtos perigosos etc. O trabalho humano vem-se desenvolvendo sob condies em que os riscos so em quantidade e qualidade mais numerosos e humano na busca diria de prover a prpria subsistncia. mais graves do que aqueles em que h muito tempo atrs eram ameaa ao ser

Ainda, segundo De Cicco e Fantazzini (1988), as empresas vm sofrendo, cada vez mais, presses para que adotem medidas de preveno de acidentes e doenas ocupacionais. Devido, porm, pouca ateno destinada pelos gestores, a grande obrigao legal, focada para as questes do dia-a-dia das relaes de trabalho, desvinculada das aes do negcio da empresa, que no agrega valor e nem

maioria das empresas ainda enxerga a segurana do trabalho apenas como uma

contribui para a gerao de lucro e preveno de perdas financeiras. Os setores prevencionistas so considerados apenas como mais um centro de custo e que,

17

muitas vezes, atrapalham a produo devido a sua interveno quando so verificados riscos nos locais de trabalho.

Segundo Oliveira (1999), o princpio em que se fundamenta qualquer iniciativa gerencial o conhecimento pleno daquilo que se gerencia. Porquanto somente se qualquer sistema de gesto. Tal princpio de, certa forma, observado em nosso meio, nas aes voltadas para o negcio. No campo da Segurana e Sade no de forma equivocada. Segundo Geller (1994b), os gestores tm cometido um grande equvoco quando analisam a segurana do trabalho separadamente dos aspectos administrativo, econmico, ambiental e social das empresas. Atualmente, notria a falta de compreenso por parte dos executivos, dos custos dos acidentes e dos outros acontecimentos que ocasionam perdas, comprometendo a imagem da empresa e, muitas vezes, a sua sobrevivncia. Poucos so os executivos que compreendem eficincia bem como problemas de qualidade, custos e de imagem da empresa (SOUZA, 2000). Contudo, necessria uma boa poltica de preveno de acidentes, adequada para atuar, corrigir e prevenir os pequenos acidentes e os incidentes. A idia de um sistema de gesto em SST no supre a necessidade do desenvolvimento de uma cultura de segurana, pois o funcionamento de tal sistema subcomponente da cultura coorporativa que faz referncia aos indivduos, ao trabalho e s caractersticas da organizao que afeta e influencia a sade e a segurana. Nessa linha de raciocnio, Hinze (1997) comenta que, para o desenvolvimento da cultura de segurana, no basta que a segurana seja assumida apenas pelos empregados, mas que o apoio e incentivo para a sua prtica devem partir do topo, ou seja, toda a direo da empresa deve estar comprometida com a SST, pois s assim a cultura de segurana se torna slida. Ainda, conforme Duff (1994), citado por Gibb e Foster (1996), as melhorias do desempenho da segurana somente podero ser alcanadas se todos os envolvidos nos trabalhos dela depende. Para Cooper (2000, p. 113), [...] cultura de segurana um que os mesmos fatores que ocasionam acidentes esto tambm criando perdas de administra eficazmente o que se conhece, essa a regra bsica que orienta

Trabalho (SST), nem sempre esse princpio levado a termo e, quando o , se faz

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mudarem seus comportamentos. Essa afirmao parte do princpio de que segurana no somente resultado de medidas de segurana claras e rigorosas, mas tambm, conseqncia da cultura organizacional.

Os empregados devem ter segurana to enraizada em si de forma a pensar somente em mtodos seguros para executar as tarefas. Estabelecer uma cultura de segurana prev que todas as partes estejam comprometidas com a segurana. Todo esse processo tambm requer uma adaptao da SST com controle de custos, com prazos, com controle de qualidade e, assim por diante, pois a segurana um elemento inerente a tudo o que feito nas empresas.

A preservao da integridade e da sade dos empregados uma grande oportunidade de melhoria de desempenho organizacional, pois se insere no contexto empresarial como um indicador de desempenho, competitividade e como um dos elementos que compem a responsabilidade social do negcio e que podem ser perfeitamente gerenciveis, assim como todo o resto (produo, custos e qualidade preveno de leses e acidentes para se tornar uma unidade de gerenciamento de perdas: deixa de ser um custo extra e mostra-se como um investimento (DE CICCO e FANTAZZINI, 1988). Uma cultura de segurana no local de trabalho compreende todos os valores, de produtos). A SST entendida dessa forma deixa de ser apenas uma unidade de

sistemas, prticas de gesto e condutas de trabalho que favoream a criao de um

ambiente de trabalho saudvel e seguro. A Conveno n. 155 da Organizao Internacional do Trabalho (OIT)1 sobre segurana e sade dos empregados, de 1981, um marco importante para potencializar uma cultura de segurana e sade no trabalho. Segundo a Revista Proteo (1997, p. 22-24), [...] as empresas que no investirem em segurana e que continuarem achando que isso apenas um custo comearo a andar na contramo da histria [...].

Agncia do sistema da Organizao das Naes Unidas (ONU) criada com o propsito de dar s questes trabalhistas um tratamento uniforme, com fundamento na justia social.1

19

1.1 Problematizao

Para Sell (2002), as empresas que submetem seus empregados a condies de trabalho inadequadas perdem em termos de qualidade, produtividade, competitividade e imagem perante a sociedade. Empregados em ms condies de trabalho no contribuem para a melhoria de processos e produtos, reduzem sua disposio para o trabalho, no tm comprometimento com a empresa por no se organismos do governo, tais como as Delegacias Regionais do Trabalho (DRT`s) e o Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS), bem como passveis de demandas na Justia do Trabalho, como indenizaes, aes cveis e criminais. sentirem partes do processo. Essas empresas esto sujeitas fiscalizao de

Em um cenrio em que a competio entre organizaes premente, ao mesmo tempo em que apresenta muitos riscos e incertezas, tambm proporciona grandes oportunidades. Com essa dimenso, os chamados empreendedores e gestores de mais de pessoas empreendedoras, que sejam os agentes de mudana dentro e fora das organizaes, buscando agregar valor para o cliente. Buscar novas tcnicas de gesto para a melhoria do desempenho da organizao constitui tarefa importante custo adicional ao que teriam se estivessem sendo decididas dentro de uma anlise geral de todas as questes envolvidas (DE CICCO e FANTAZZINI, 1977). Logo, ainda existe um espao muito grande para se empreender em tcnicas de gesto na rea de SST, dentre elas, o desenvolvimento de uma cultura de segurana, pois as empresas precisam incessantemente se preocupar com os seus resultados, no s financeiros, como tambm os advindos da percepo que seus clientes tm com relao quilo que recebem, seja ele resultado em produto, servio para eles. As decises tomadas a partir de anlises isoladas acabam gerando um negcio passam a ser os grandes agentes desse cenrio. O mundo precisa cada vez

ou a combinao deles. Em contrapartida, os clientes, a todo o momento, analisam o custo-benefcio daquilo que compram, avaliando a qualidade recebida e comparando com o preo pago e a que custo, obtendo-se como resultado a percepo ou no de algum valor agregado.

20

Acredita-se que os meios existentes atualmente sejam suficientes para evitar a grande maioria das situaes de risco a que os empregados se expem diariamente. No faltam leis e equipamentos. Entretanto, apesar de todo o conhecimento e aparato, os ndices de acidente do trabalho no diminuem em propores equivalentes. Segundo Oliveira (2007a) outros fatores, dentre eles, a existncia de uma cultura de segurana na empresa, impactam de alguma forma o sucesso da SST. Locais seguros so locais produtivos. O incentivo aos empregados a aperfeioar a parte deles como por parte da empresa. Isso ir refletir diretamente na melhoria da qualidade, tanto no produto como na qualidade de vida dos empregados, pois, segundo Seymur e Rooke (1995), citados por Meijer e Schaefer (1996), a cultura nos fornece uma forma de interpretao e construo de uma realidade social. A cultura, ambiente organizacional (TAMAYO, 1997). O modelo utilizado por Cooper (2000) considera que a cultura de segurana est integrada por trs componentes principais: em outras palavras, proporciona elementos que d sentido e estruturao ao

segurana do local de trabalho cria um comportamento comprometido tanto por

1. pessoas: clima de segurana do trabalho (percepes e atitudes); 2. comportamento observveis); 3. organizao: sistema de gesto de segurana do trabalho. Nesse modelo, cada elemento proposto pode ser analisado individualmente ou combinado com outro. Os fatores psicolgicos so identificados com o clima de segurana da empresa e as caractersticas situacionais com o sistema de gesto da de gesto disponvel so os elementos que, combinados, compem a cultura de segurana da organizao. Esta pode ser vista como um produto de relaes recprocas. SST. As percepes e crenas dos empregados, seus comportamentos e o sistema relacionado com a segurana do trabalho (elementos

21

Em uma cultura de segurana, a segurana no uma prioridade que pode ser mudada dependendo das exigncias da situao; ao contrrio, a segurana um valor que est ligado a todas as outras prioridades. Isto, porm, mais fcil de ser dito do que de ser feito. Geller (1994b) afirma que a segurana deveria estar ligada, produtividade, qualidade, lucratividade ou eficincia. Este trabalho est entre aqueles poucos que buscam compreender a cultura de segurana e suas implicaes comportamentais na preveno de acidentes, com o intuito de proporcionar um melhor entendimento da matria para que, assim, as na rea prevencionista, como tambm promover um comprometimento do empregado voltado para a sua segurana no trabalho. Portanto, nessa perspectiva, assume-se como de modo consistente, a todos os aspectos do trabalho, quer se referindo

empresas possam trabalhar de forma a alcanar melhores ndices de desempenho

pergunta

de

pesquisa

da

dissertao... Em que medida a cultura de segurana afeta a preveno de acidentes do trabalho em uma empresa do setor metalrgico localizada no estado de Minas Gerais?

1.2 Objetivo geral

A partir das consideraes feitas at aqui, o objetivo geral do trabalho busca investigar a cultura de segurana e suas implicaes na preveno de acidentes do trabalho em uma empresa do setor metalrgico.

1.3 Objetivos especficos

Considerando o objetivo geral mencionado, cabe manifestar os objetivos especficos da forma que se segue:

22

descrever o sistema de gesto em SST adotado na empresa; empresa, segundo o modelo proposto por Cooper (2000);

identificar os elementos componentes da cultura de segurana existentes na identificar a estrutura subjacente dos fatores de cultura de segurana presentes identificar os fatores demogrficos e ocupacionais da amostra estudada, relacionando-os aos elementos de cultura de segurana de Cooper (2000). na empresa, relativa ao modelo de Cooper (2000);

1.4 Justificativa

Segundo pesquisa realizada pela OIT e que tem como base o ano de 2001, cerca de 2,2 milhes de pessoas morrem anualmente em todo o mundo em decorrncia de de 6 mil mortes por dia, afora o exrcito de mutilados resultante da ocorrncia anual acidentes do trabalho e acometidos por doenas de origem ocupacional. So mais de 120 milhes de acidentes, numa populao ativa de 2,7 bilhes de pessoas no

mundo. A OIT ainda alerta que essa estimativa pode estar subestimada, j que muitos pases tm sistemas ineficientes de notificao de acidentes de trabalho. Os Amrica Latina, sem contar as mortes por doenas ocupacionais. dados do estudo informam que o nmero de acidentes fatais subiu 33,0% na

Estudos do Health and Safety Executive (HSE)2 indicam que o custo global para os empregadores, decorrentes de acidentes do trabalho com ferimentos pessoais, com doenas relacionadas ao trabalho e acidentes evitveis no causadores de ferimentos, estimado como equivalente a 5,0 a 10,0% do lucro bruto das empresas. Estima-se, tambm, que os custos no segurados decorrentes de perdas por acidentes situam-se entre 8 e 36 vezes maiores do que os custos dos prmios de seguros. H, portanto, slidas razes econmicas para reduzir os acidentes e doenas relacionadas com o trabalho, assim como motivos ticos e legais. Alm de reduzir os custos, um sistema de SST eficaz promove a eficincia do negcio.Comisso responsvel pela regulamentao sobre sade e segurana na Gr-Bretanha.

2

23

Estatsticas oficiais mostram os alarmantes ndices de acidentes e doenas relacionados ao trabalho no Brasil3. Conforme dados da Dataprev (2006), podemos verificar que mais da metade (56,6%) dos acidentes do trabalho ocorridos no Pas esto localizados no sudeste, regio onde est localizada a maior parte do parque industrial do Pas. Essa regio ainda fica com o trgico ndice de 49,0% dos acidentes do trabalho que resultaram em incapacidade permanente e 47,0% dos acidentes do trabalho que culminaram em bito. Entretanto, essas estatsticas no ocupacionais. Alm do custo humano, os acidentes e doenas relacionados ao empregadores e sociedade em geral. representam toda a extenso do prejuzo causado pelos acidentes e doenas trabalho impem custos financeiros cada vez maiores aos indivduos, aos

Conforme o Anurio Brasileiro da Revista Proteo (2002), os acidentes do trabalho e as doenas ocupacionais abrem rombos expressivos nos cofres pblicos. Segundo avaliaes da OIT, em nvel mundial, estima-se que 4,0% do Produto Interno Bruto absentesmo, tratamento mdico e benefcios previdencirios. (PIB) das naes so perdidos com o custeio dos mesmos na forma de

Em matria publicada pelo Dirio Oficial da Unio (DOU) em 10 de maio de 2004, o custo anual de acidentes no Brasil atinge 32 bilhes de Reais. J o custo anual dos benefcios acidentrios pagos pela Previdncia chega a 4 bilhes, acrescido de mais 5,3 bilhes para pagamento de aposentadorias especiais. O Brasil est entre um dos maiores do mundo em mortes por acidentes do trabalho. Estimativas indicam que ocorrem em mdia 10 acidentes de trabalho potenciais por empregado / ano no Brasil. Em nosso Pas, temos freqentes pleitos relativos SST na Justia do Trabalho,

pertinentes aos adicionais de insalubridade / periculosidade, alm dos de reintegraes por acidente do trabalho. Frente s constantes modificaes da legislao e das relaes no trabalho, hoje existem vrios casos de processos contra de indenizaes, tanto pela Previdncia Social, como pelo empregador em caso de3

empresas, principalmente os motivados por acidentes do trabalho, que so passveis

Anexo A - Acidentes do Trabalho Registrados no Brasil em 2006.

24

culpa. Na alada civil, a empresa pode arcar com elevadas indenizaes por danos

estticos, morais, psquicos, alm da penso propriamente dita. No mbito criminal, segurana e o mdico do trabalho respondem processo criminal, na eventual existncia de negligncia, impercia ou imprudncia.

os representantes da empresa, seus prepostos e, at mesmo, o engenheiro de

A legislao brasileira evoluiu muito no que diz respeito s melhoras das condies no sentido da preveno de acidentes e preservao da sade ocupacional

de trabalho, seguindo uma tendncia mundial. A cada dia, est ficando mais rigorosa compelindo, desde as mais singulares empresas, a aplicar recursos em SST. Esse tema vem ocupando, cada vez mais, posio de destaque e importncia dentro das etc. Portanto, um bom desempenho na gesto de SST no obtido de forma casual. As organizaes devem dispensar a mesma importncia dada a outros aspectos-chave estruturada para com a identificao, avaliao e controle dos riscos relacionados de suas atividades empresariais. Isso requer a adoo de uma abordagem com o trabalho de uma forma geral, alm dos presentes especificamente na organizao devido sua atividade-fim. o que alerta o coordenador do Servio Social da Indstria (SESI) para as questes de SST. pautas de acordos coletivos, processo de fuses, aquisies de empresas, licitaes

[...] essencial conectar o trabalho em SST com a produo da empresa, buscando dar-lhe maior competitividade, pois este o objetivo fundamental da empresa. A ocorrncia de um acidente o sinal mais claro de que algo no vai bem na cadeia produtiva da empresa e, neste sentido, evit-lo ou preveni-lo significa que a produo melhorar, que os ambientes sero mais saudveis e que os trabalhadores sobrevivero melhor (PINTO, 2002, p. 12).

Com o intuito de promover melhorias na rea de SST, faz-se necessria a mudana de uma abordagem pontual para uma abordagem sistmica. Dessa forma, passa-se a ter uma viso macro da organizao, integrando todos os nveis de forma a propiciar o desenvolvimento e a consecuo de um objetivo maior, garantir a sade e a segurana de todos os elementos da organizao.

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Finalizando, uma das principais tarefas a ser buscada pelo administrador preparar a organizao para uma cultura voltada para a segurana. Conhecimentos tcnicos satisfatoriamente atingido em termos de prazo, custo e efetividade. Entretanto, todas as ferramentas hoje existentes para preveno de acidentes do trabalho so insuficientes quando o ser humano no est consciente de que ele pode expor toda equipes e promover a educao em termos de segurana o passo inicial desse a estrutura empresarial ao risco. Estimular a cooperao entre as pessoas e as processo. A existncia ou a criao de uma cultura de segurana um dos principais pilares para alcanar esse objetivo. Numa cultura de segurana, todos os envolvidos respeitam o direito a um ambiente de trabalho saudvel e sem riscos. Todas as partes devem trabalhar em conjunto no sentido de apoiar ativamente a cultura de segurana, exercendo os direitos que lhes cabem e assumindo responsabilidades e deveres sustentados em valores, atitudes e comportamentos adequados a todos os nveis. Portanto, do acima exposto, levando-se em considerao todos os dados e aspectos apontados, justifica-se a realizao da pesquisa. Procurou-se nesta Introduo destacar a relevncia da cultura de segurana, bem como o contexto em que se insere a problemtica do tema. Outros cinco captulos compem a pesquisa. O captulo 2 introduz a teoria utilizada na dissertao. A primeira parte apresenta as questes relacionadas diretamente segurana do trabalho, enquanto que a segunda, mostra as questes relativas cultura organizacional e de segurana. No final deste captulo apresentado o modelo de Cooper (2000) que serviu de base para toda a pesquisa. A empresa pesquisada apresentada no captulo 3, onde descrita sua cultura organizacional, aspectos gerais da segurana do trabalho, procedimentos, programas e as prticas e polticas de RH, todos relativos SST. O captulo 4 discrimina a metodologia utilizada, tais como o tipo de pesquisa, populao e amostra da pesquisa, os instrumentos de coleta de dados e as tcnicas utilizadas para o tratamento dos dados. O captulo 5 descreve e analisa os resultados encontrados. E, por fim, as consideraes finais da pesquisa so apresentadas no captulo 6. e criatividade so os requisitos bsicos indispensveis para que esse objetivo seja

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2 REFERENCIAL TERICO

Este captulo ser dividido em duas partes distintas. A primeira parte trata de questes relativas segurana do trabalho e a segunda das questes relativas cultura organizacional e de segurana do trabalho.

2.1 Segurana do trabalho

Esta parte inicia-se com um histrico da evoluo da segurana do trabalho, desde as suas primeiras aparies, at sua evoluo no Brasil. Em seguida, estabelece-se uma introduo aos principais conceitos utilizados em SST, as principais causas de

acidentes do trabalho e as principais contribuies na rea, de forma a proporcionar um nivelamento de conhecimento e, assim, evitar qualquer dvida ou m interpretao do texto.

2.1.1 Histrico sobre a segurana do trabalho

Segundo Oliveira (1996, p. 49), [...] os romanos foram os primeiros a estabelecer a relao existente entre trabalho e doenas. Perceberam algumas doenas mais comuns entre os escravos e a utilizao, pelos refinadores de mnio4, de membranas

de pele de bexiga como mscaras. Registraram doenas especficas dos que trabalhavam com enxofre, as veias varicosas dos augures e as doenas dos ferreiros. Tambm fizeram referncia dura sorte dos mineradores de ouro, alm dos riscos dos mineiros nas minas de sulfato de cobre na ilha de Chipre.

4

xido vermelho de chumbo, usado como pigmento [Frmula: Pb3O4].

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Ainda em 1556, Georg Agrcola escreve um tratado sobre minerao5 mencionando os padecimentos dos mineiros, indicando preveno e tratamento para as doenas das juntas, pulmes e olhos.

Segundo Oliveira (1996), o marco de maior evidncia com relao sade dos

empregados ocorreu, sem dvida, no ano de 1700, na cidade de Mdena, na Itlia, diatriba (As doenas dos trabalhadores), com a primeira edio escrita em latim, obra que o imortalizou. Esse livro, com os acrscimos da segunda edio em 1713, estudou 54 grupos de trabalhadores, abrangendo mais de 60 profisses,

quando o mdico italiano Bernardino Ramazzini publicou o livro De morbis artificum

relacionando as atividades, as doenas conseqentes e as medidas de preveno e tratamento. Segundo Weindling (1985), Bernardino Ramazzini era um clnico geral com grande interesse em ajudar, e seu mtodo de diagnstico envolvia investigao direta dos trabalhadores. Seu trabalho permaneceu por mais de um sculo como a mais citada,

copiada e traduzida base para compreenso das doenas causadas pelo trabalho. pequeno de empregados e, por esse motivo, com pequena incidncia de doenas valor, aproximadamente um sculo mais tarde.

Porm, como na poca ainda predominavam as corporaes de ofcio, com nmero ocupacionais, sua obra s pde ser devidamente avaliada, recebendo o seu devido

Segundo a Fundacentro (1981), a Revoluo Industrial (1760 - 1830) na Inglaterra foi um marco de extrema importncia para toda a humanidade. O incremento da produo em srie deixou mostra a fragilidade do ser humano na competio desleal com a mquina. Cabia ao prprio empregado zelar pela sua defesa frente ao ambiente de trabalho agressivo e perigoso. Diante de tal cenrio, os acidentes de proteo, mo-de-obra despreparada, bem como devido s condies ambientais do local (rudo, calor, poeira etc.).5

trabalho eram uma constante, sendo provocados por maquinrio rudimentar e sem

AGRICOLA, Georg, 1494 - 1555: De Re Metallica, translated from the first latin edition of 1556, with biographical introduction, annotations and appendices upon the development of mining methods, metallurgical processes, geology, mineralogy and mining law from the earliest times to the 16th century (London: The Mining Magazine, 1912). Ed. by Herbert Clark Hoover and Lou Henry Hoover.

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No decorrer da histria, muitas mortes, doenas e mutilaes de empregados tiveram como causa o seu ruidoso ambiente de trabalho, que s revestiu de importncia junto aos governantes quando, em virtude de seu elevado nmero, tomaram as dimenses de um problema social. A situao chegou ao caos de tal forma que os empregados comearam a exigir uma soluo. Com o grande programas, passou a ser estabelecida a favor da segurana do trabalho, deixando as medidas de segurana e preveno de acidentes do trabalho de ser voluntrias, para gradativamente tornarem-se obrigatrias (FUNDACENTRO, 1981). Segundo Gandra (2004, p. 33), porm, [...] a lei sobre higiene e segurana demorou aprovada (1883 - 1898), enquanto que a lei para a jornada de 8 horas nas minas levaria vinte e trs anos para sua aprovao (1890 - 1913). Em 1919, criada a OIT pela Conferncia da Paz que aprovou o Tratado de uniformizado com fundamento na justia social (OLIVEIRA, 2001). desenvolvimento industrial, uma srie de medidas legais, assim como a criao de

onze anos para aprovao e a lei sobre acidentes do trabalho, quinze anos para ser

Versalhes, com o propsito de dar s questes trabalhistas um tratamento

Em 1946, criada na cidade de Nova York a Organizao Mundial de Sade (OMS),

que estabelece que a sade o completo bem-estar fsico, mental e social, e no somente a ausncia de afeces ou enfermidades e que [...] o gozo do grau mximo de sade que se pode alcanar um dos direitos fundamentais de todo ser ou social (OLIVEIRA, 2001, p. 67).

humano, sem distino de raa, religio, ideologia, poltica ou condio econmica

Conforme afirmam Ansell e Wharton, citados por Alberton (1996), o risco uma caracterstica inevitvel da existncia humana. Nem o homem nem as organizaes existncia de tarefas perigosas. e a sociedade aos quais pertencem podem sobreviver por um longo perodo sem a

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Portanto, torna-se imperativo para o progresso de toda sociedade que os governos, bem como a iniciativa privada, vejam no ser humano o seu bem mais precioso, conscientizando-se de que investir em segurana do trabalho lhes traz benefcios. insistirem em desconsiderar a pessoa e trat-la como um recurso esto com os dias contados. Raiva, medo, tristeza, frustraes adoecem as pessoas, reduzem a sua criatividade, reduzem a sua produtividade e o prazer de trabalhar. Como adverte Bom Sucesso, citado por Oliveira (2001), os cticos e cartesianos que

Segurana do trabalho no Brasil

Conforme Moreira (2003), no Brasil Colonial, os escravos trabalhavam at 18 horas pordia, estando os proprietrios no direito de aplicar castigos para garantir uma melhor quase que descartvel, j que, em 1730, a vida til de um escravo jovem era de apenas doze anos. A partir do sculo XIX, com as limitaes impostas ao trfico de escravos e com a produtividade e submisso ao trabalho. Essa situao tornava a mo-de-obra escrava

transformao de uma economia escravista em um sistema econmico baseado no trabalho assalariado, os proprietrios esboaram alguma preocupao com a sadesuas propriedades.

dos escravos, tentando garantir um tempo maior de espoliao da fora de trabalho de

Para Drumond (1988), pode-se dividir a evoluo histrica da segurana do trabalho em trs partes:

1. de 1919 - 1940 Caracterizada essencialmente pela definio de aes 2. de 1941 - 1972 Caracterizada pela interveno dos organismos pblicos junto s empresas compelindo-as adoo de medidas corretivas e preventivas para o resguardo integridade de seus empregados; reparadoras e / ou indenizatrias frente aos acidentes de trabalho;

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3. de 1972 at Hoje Caracterizada pela normalizao orientativa, tendendo a uma consolidao dos aspectos de higiene, medicina e segurana do trabalho.

Em sntese, ainda conforme Drumond (1988), pode-se observar que historicamente a legislao brasileira sobre higiene, segurana e medicina do trabalho apresenta como caractersticas fundamentais:

uma grande profuso de instrumentos legais (leis, decretos-leis, decretos, baixa longevidade desses instrumentos gerada principalmente por mudanas filosficas, ideolgicas ou at mesmo resultantes do embate dos interesses econmicos, polticos e sociais envolvidos; portarias etc.) emanados dos vrios nveis decisrios sobre o assunto;

mudanas de postura governamental frente ao empresariado, uma vez incentivando, outra vez compelindo adoo de medidas que no perduram tempo suficiente para produzir resultados ou comprovar sua ineficcia;

adoo de medidas no consensadas, indicadas muitas vezes por trabalhos de gabinete, produzidas ora com extremo rigor e detalhamento, ora de cunho orientativo e, portanto, mais genrico, de difcil adequao s situaes especficas de um pas de dimenses continentais como o nosso.

Esse conjunto de caractersticas tem dificultado sobremaneira a adoo dessas normas pelas empresas, seja em nvel principalmente se considerar a grande diferenciao de cultura empresarial, entre empresas de um mesmo setor produtivo. A Constituio Federal dispe, especificamente, sobre SST6. A regulamentao se d pela Consolidao das Leis do Trabalho (CLT)7 que dedica o seu captulo V Segurana e Medicina do Trabalho, de acordo com a redao dada pela Lei n. 6.514, de 22 de dezembro de 1977. O Ministrio do Trabalho, por intermdio daCaptulo II (Dos Direitos Sociais), artigo 6 e artigo 7, incisos XXII, XXIII, XXVIII e XXXIII, da Constituio Federal Brasileira. 7 Consolidao das Leis do Trabalho (CLT) - aprovada pelo Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943.6

organizacional,

seja

operacional,

maturidade gerencial, condies tecnolgicas e econmicas existentes at mesmo

31

Portaria n. 3.214, de 8 de junho de 1978, aprovou as normas regulamentadoras que dispem sobre os preceitos presentes no captulo V da CLT. Tambm se incorporam s leis brasileiras, as Convenes da OIT, quando ratificadas pelo Brasil por decretos aps serem submetidas e aprovadas pelo Congresso Nacional. Com efeito, as trs principais Convenes da OIT ratificadas pelo Brasil no que tange segurana e medicina do trabalho so:

1. a Conveno 148 adotada na 63 reunio da Conferncia Internacional do Trabalho, realizada em 1977, tem o propsito de prevenir e limitar os riscos profissionais no local de trabalho, provenientes da contaminao do ar, do rudo e vibraes. Ela consagra a tendncia moderna de eliminar o risco, em vez de procurar neutraliz-lo (art. 9), privilegiando tambm o direito informao, tendo o empregado o direito de receber informaes sobre os riscos a que est exposto (art. 13). (Decreto n. 93.413, de 15 de outubro de 1986); 2. a Conveno 155 adotada na 67 Conferncia Internacional do Trabalho, realizada em 1981, adota um conceito de sade mais objetivo, abrangendo no somente a ausncia de afeces, mas tambm elementos fsicos e mentais que afetam a sade e esto diretamente relacionados com a segurana e a higiene do trabalho (art. 3). O artigo 5 fala do ambiente, abordando os agentes que podem afetar ou proteger os empregados. Estabelece, ainda, a realizao de sindicncia sempre que ocorrer acidente de trabalho ou doena profissional (art. 11). Prev ainda (art. 16) a obrigao do empregador de garantir que os locais de trabalho, o maquinrio, os equipamentos e as operaes e processos que estiverem sob seu controle sejam seguros e no envolvam riscos. (Decreto n. 1.254, de 29 de setembro de 1994); 3. a Conveno 161 adotada na 71 Conferncia Internacional do Trabalho, realizada em 1985, observa que os [...] servios de sade no trabalho devero agir preventivamente (art. 5), aconselhando empregados e empregadores a questes dos servios de sade devem ser trabalhadas em conjunto com os preconizar o atendimento nos servios de sade em bases multidisciplinares. (Decreto n. 127, de 22 de maio de 1991). alcanar um ambiente de trabalho seguro e salubre. Alm disso, as demais empregados e seus representantes em bases eqitativas (art. 8), alm de

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No campo da fiscalizao do trabalho, o Brasil tambm ratificou a Conveno n. 81 da OIT (Decreto n. 95.461, de 11 de dezembro de 1987). Conforme mencionado mais acima, o captulo V da CLT trata exclusivamente da medicina e segurana do trabalho. Alm disso, o Ministrio do Trabalho tambm editou a Portaria n. 3.214, de 8 de junho de 1978, que trata especificamente dos preceitos constantes do captulo V da CLT, isto , a preveno e proteo contra acidentes, equipamentos de proteo individual, normas de segurana para a trabalho e contaminao ambiental entre outros. construo civil, transporte e manuseio de materiais, condies insalubres de

A Portaria n. 3.214 / 78 constituda de 33 Normas Regulamentadoras (NR)8, as quais tratam de matrias especficas. Dentre elas, pode-se destacar a NR-4 que trata dos Servios Especializados em Engenharia de Segurana e em Medicina do Trabalho (SESMT), a NR-5 que trata da Comisso Interna de Preveno de Acidentes (CIPA), a NR-6 que trata de Equipamento de Proteo Individual (EPI), a NR-7 que trata do Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional (PCMSO) e a NR-9 que trata do Programa de Preveno de Riscos Ambientais (PPRA).

As NR`s relativas SST so de observncia obrigatria pelas empresas privadas e pblicas, pelos rgos pblicos das administraes direta e indireta, bem como pelos rgos dos poderes legislativo e judicirio que tenham empregados regidos pela CLT. O cumprimento das regras contidas nas NR`s passvel de verificao representado localmente pelas Delegacias Regionais do Trabalho (DRT`s). No mbito governamental, claro o reconhecimento de que a estruturao legal da SST no corresponde mais a situaes de fato. Sucessivas tentativas de corrigir Paritria Permanente (CTPP), encarregada de revisar as NR`s.8

peridica pela fiscalizao do Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE)

distores vm sendo adotadas desde 1996, com a criao da Comisso Tripartite

Anexo B - Relao completa.

33

Oliveira (2007) nos afirma que o corpo da legislao trabalhista em geral e a forma como so empregadas, geridas e fiscalizadas as normas de SST (NR`s) so apontados como causa do grande ndice de acidentes e doenas ocupacionais no Brasil, relativamente a outros pases. O modelo brasileiro monetiza, isto , transforma em remunerao a deteriorao da sade. Os adicionais de insalubridade e periculosidade constituem uma forma dissimulada de compra do direito ao dano, seja doena ou acidente, da mesma forma que a aposentadoria especial. Uma evoluo responsabilidade civil e criminal questo das doenas e acidentes do trabalho. natural dessa situao seria a aplicao da

Ainda, segundo Oliveira (2007), o excesso de formalismo na estrutura das NRs considerado quase que, unanimemente, um entrave. Nos pases europeus, as formas de organizao do trabalho formal, genericamente, privilegiam maior autonomia do empregado para deliberar tarefas e responsabilidades, e as redes de informao propiciam facilidades de acesso ao treinamento e recolocao profissional. No Brasil, diversamente, grande parte das empresas fica at mesmo margem do conhecimento e da implantao de normas.

Um dos grandes problemas ao avano tanto da representatividade trabalhadora funcionamento dos diversos programas previstos nas normas - que as reformas da legislao, na rea trabalhista, vm sendo pontuais. Por outro lado, a busca de mudanas que extrapolem o sentido normativo obrigatrio tambm latente. Na esfera do trabalho formal, as empresas que se antecipam em termos de gesto colocam a SST como um ativo patrimonial ao invs de custo, embora ela seja a realidade de uma minoria (OLIVEIRA, 2007). Essa a grande dicotomia identificada atualmente em relao qual o Brasil no pode fugir: conviver com a crescente sofisticao dos mecanismos de gesto integrada da SST e fazer frente s formas deterioradas de trabalho que se disseminam com o problema do desemprego e da excluso social.

quanto ao aumento da integrao das NR`s entre si - o que permitiria melhor

34

2.1.2 Conceitos e consideraes gerais em SST

Com o intuito de facilitar a compreenso deste trabalho, sero apresentados alguns

conceitos de termos amplamente utilizados na SST e que poderiam causar, devido sua abrangncia, confuso no entendimento do texto e / ou seu emprego equivocado. Os termos referem-se a: segurana do trabalho, acidente do trabalho, incidente, acidente x incidente (quase acidente), perigo, risco e dano.

Segurana do trabalho

A atividade de segurana do trabalho, como hoje conhecida, uma cincia

relativamente nova no mundo. Sua finalidade bsica levantar e detectar todos os

possveis riscos de acidente existentes na empresa de forma a salvaguardar no s a sade, mas tambm a integridade fsica do empregado e o patrimnio do empregador de forma a evitar gastos desnecessrios oriundos dos infortnios no trabalho, ou seja, os riscos devem ser administrados, deve-se ter segurana de que esto sob controle e so aceitveis.

Conforme Gandra (2004, p. 62) [...] para a segurana do trabalho, o objetivo final ter um sistema cuja organizao do trabalho no exponha o empregado a riscos desnecessrios durante a realizao de suas tarefas.

Espera-se que as pessoas sejam pr-ativas, que desempenhem suas atividades com total responsabilidade e segurana. O acidente s traz dissabores, tanto para a empresa como para o empregado e seus familiares. E perfeitamente possvel trabalhar sem acidentes. questo de formao, cultura, educao e conscientizao.

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A segurana do trabalho tem como finalidade preservar a vida do empregado na sua plena fora de trabalho at a aposentadoria, cumprindo duas funes: uma prevencionista e outra social. Entretanto, Oliveira (2007a), adverte.[...] de cem situaes de riscos (no conformidades) conhecidas dos trabalhadores, os gerentes de rea conhecem de 45% a 60%. E destes diretoria, o volume de informaes reduz para 4% a 6%. Esses dados mostram por que muitos dirigentes de empresas, ao abordar publicamente o tema SST, no vacilam em sustentar a boa performance de suas empresas nesse terreno. [...] A filtragem de informaes sobre as reais condies de trabalho, na maioria das empresas brasileiras, foi e certamente continuar sendo um problema cuja soluo esbarra na cultura de SST ainda fortemente predominante (OLIVEIRA, 2007a, p. 30).

.

FILTRO

4,0% a 6,0% de Conhecimento da Alta Administrao

.

45,0% a 60,0% de Conhecimento das Gerncias das reas

.

80,0% a 100,0% de Conhecimento dos Trabalhadores

Figura 1 - Informaes sobre os riscos no trabalho Fonte - OLIVEIRA, 2007a, p. 30.

Segundo Zocchio (2002), segurana do trabalho uma forma abrangente de acidentes e doenas ocupacionais no transcorrer da rotina diria das empresas. Tais motivacional, alm de medidas de cunho administrativo.

preveno, ou seja, um conjunto de medidas e aes aplicadas para prevenir medidas e aes so de carter tcnico, educacional, mdico, psicolgico e

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Cardella (1999) amplia a definio acima, definindo segurana como uma varivel de estado dos sistemas vivos, organizaes, comunidade e sociedade, sendo algum dano ao ser humano, ao meio ambiente e ao patrimnio. Sua natureza diversa engloba aspectos fsicos, biolgicos, psicolgicos, culturais e sociais. Portanto, a segurana requer uma abordagem holstica dentro das organizaes, pois o todo est nas partes e as partes esto no todo. abrangente e holstica. Quanto maior a segurana, menor as chances de ocorrer

De forma a sintetizar a compreenso sobre o tema, Sounis (1991) fornece uma

definio simples e objetiva de segurana do trabalho, onde diz tratar-se de uma cincia que visa preveno dos acidentes do trabalho por meio de medidas prevencionistas (anlises dos riscos do local e dos riscos da operao), atravs de normas, cuja finalidade proteger o empregado, bem como a empresa (mquinas e ferramentas de trabalho).

Acidente do trabalho

Roeder (2003) diz que o acidente associado a uma imagem de azar e que seria irreal acreditar que os acidentes so coisas do destino ou fruto da causalidade e que, por conseguinte, esto fora de controle e nada se pode fazer para evit-los.

No passado, acreditava-se que o acidente fosse um acontecimento fortuito que obedecia regras impossveis de serem controladas. Felizmente, hoje em dia, os especialistas constataram que os acidentes no so acontecimentos fortuitos e dependentes da sorte, mas, sim, seguem parmetros caractersticos de distribuio, recebeu a devida ateno (ROEDER, 2003). No quadro 1, podem-se ver indicaes do binmio Acidente e Crenas e o Acidente como cincia, ou seja, o acidente como se acreditava antigamente no algo inevitvel, mas, sim, algo para ser trabalhado, prevenido e evitado. ou seja, os acidentes sempre so conseqncias de um processo anterior e que no

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Acidente e Crenas

Acidente Como Cincia

Quadro 1 - Acidentes versus crenas Fonte - Adaptado de ROEDER, 2003, p. 82.

Acidentes e Crenas Escapa do nosso controle imprevisvel No depende de ns inevitvel fortuito coisa do destino coisa do azar um problema de sade No acidental controlvel evitvel um processo uma conseqncia preventivo

Portanto, conforme mostrado acima, os acidentes so perfeitamente evitveis, ou seja, desde que os processos sejam analisados a fundo, sob um olhar prevencionista de forma a evitar as condies de risco, bem como um tratamento adequado dos comportamentos de risco. Logo, os possveis acidentes so evitveis, que constituem o pilar fundamental na sua origem. Apesar de muitos estudos, ainda h divergncia sobre os conceitos de acidentes do trabalho, tendo algumas afirmaes mais ou menos corretas e outras mais ou menos completas. Assim, deve-se reconhecer que a maioria dos conceitos abrange apenas aspectos especficos do acidente do trabalho, permanecendo muito aqum de toda a sua extenso. Segundo Tambellini (1978, p. 101), [...] em se tratando de acidente, a literatura cientfica mostra-se de tal modo atomizada em vises parcializadas do problema que se torna difcil compreend-lo em sua totalidade. pois, diferentemente de outros fenmenos, eles apresentam indicadores de alerta

A Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT), por meio da Norma Brasileira (NBR) 14.280 (2001, p. 2), define acidente do trabalho como [...] ocorrncia imprevista e indesejvel, instantnea ou no, relacionada com o exerccio do trabalho, de que resulte ou que possa resultar leso pessoal.

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Este trabalho considera a definio sob o aspecto legal, fornecida pela Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, do Ministrio da Previdncia e Assistncia Social (MPAS), que, em seu artigo 19, define acidente do trabalho como.[...] acidente do trabalho o que ocorre pelo exerccio do trabalho a servio da empresa, ou pelo exerccio do trabalho dos segurados... [o segurado empregado, trabalhador avulso, bem como com o segurado especial, no exerccio de suas atividades], provocando leso corporal ou perturbao funcional que cause a morte, perda, ou reduo temporria ou permanente, da capacidade para o trabalho (MPAS, Lei n. 8.213, 1991, art. 19).

A definio prevencionista de acidente do trabalho mais abrangente do que o conceito legal, posto que este se restringe s hipteses de ocorrncia de leses e ou perturbaes de ordem funcional ou mental nos empregados acidentados, ao passo que aquele contempla no s a hiptese legal como tambm as situaes em que ocorrem, de forma isolada ou simultnea, perda de tempo til e / ou danos materiais. Segundo Bird (1974):[...] um acidente um acontecimento no desejado e inesperado que tem por resultado uma leso, uma doena ou danos ao patrimnio. Geralmente o resultado de um contato com uma fonte de energia (cintica, qumica, trmica, etc.), acima do limite de resistncia do corpo ou estrutura (BIRD, 1974, p. 21).

A Lei n. 8.213 / 91 tambm considera como acidente do trabalho a doena doena profissional (tecnopatia) a produzida ou desencadeada pelo exerccio do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relao elaborada pelo MPAS. Tem no trabalho a sua causa nica, eficiente por sua prpria natureza, ou seja, a insalubridade. J a doena do trabalho (mesopatia) a adquirida ou desencadeada em funo de condies especiais em que o trabalho realizado e com ele se relaciona diretamente. Aquelas doenas que no tm no trabalho sua causa nica ou exclusiva resultam de condies especiais em que o condies excepcionais ou especiais do trabalho determinam a quebra da resistncia orgnica fazendo eclodir ou agravar a doena. O ponto de distino bsico que, na doena profissional, o fator determinante a atividade, enquanto,

profissional e a doena do trabalho, ambas chamadas de doenas ocupacionais. A

trabalho executado (pneumopatias, tuberculose, bronquites, sinusite etc.). As

39

na doena do trabalho, a relevncia est nas condies em que a atividade exercida. Portanto, os elementos que compem um acidente do trabalho (fato) podem ser representados conforme a figura 2, em que a sua causa sempre ter um componente de origem humana e / ou material. Em decorrncia do acidente do trabalho, como conseqncia (efeito), aparecem os danos de origem humano e / ou material e / ou econmico.

CAUSA------------------------ FATO -------------------------- EFEITO Humana Origem MaterialFigura 2 - Elementos do acidente Fonte - DE CICCO e FANTAZZINI, 1977.

Acidente (Evento Catastrfico) Danos

Humanos Materiais Econmicos

Com o fito de ampliar o rol dos acidentes do trabalho e amparar o empregado, o legislador enumera outras situaes diversas das condies especficas

determinadas pela natureza do trabalho. Os artigos 20 e 21 da Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, do MPAS trazem definies de acidentes que, em funo de caractersticas especficas, se equiparam ao acidente do trabalho.

Portanto, equivale ao acidente do trabalho aquele ligado ao trabalho que, embora no tenha sido a causa nica, haja contribudo diretamente para a morte do leso que exija ateno mdica para a sua recuperao. segurado, para reduo ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido

Outros autores definem acidente do trabalho de maneira diversa. Por exemplo, Brown (1976, p. 972) define acidente como o [...] resultado no planejado de um comportamento inapropriado. J Sanders e McCormikc (1993a, p. 662) definem acidente como [...] um evento no antecipado que prejudica o sistema e / ou o

40

indivduo ou afeta a realizao da misso do sistema ou de uma tarefa individual. J para Guimares e Costella (2004), o acidente o incidente que tem como conseqncia a ocorrncia de leso corporal, com perda ou reduo da capacidade, permanente, temporria ou morte.

Incidente (quase acidente)

A ocorrncia no planejada, mas que no manifesta dano, porm, com potencial de levar a um acidente, tambm chamada de Incidente Crtico ou Quase Acidente. (NEVES, 1996) Os quase acidentes, assim como os acidentes que no causam

ferimentos ou outros tipos de leso, tambm devem ser investigados quando observados ou reportados. Eles se constituem em avisos daquilo que pode ou provavelmente vai acontecer. Um acidente quase sempre acontece mais tarde, quando tais avisos so ignorados. Segundo Wickens, Gordon e Liu, (1998, p. 442), [...] um incidente a ocorrncia de algum evento que poderia ter resultado em

ferimento ou morte, mas no ocorreu. Noyes (2001) define incidente, simplesmente, como um acidente menor. J De Cicco e Fantazzini (1988, p. 19) utilizam o termo incidente crtico e o definem como [...] qualquer evento ou fato negativo com potencialidade para provocar dano. A utilizao dos termos incidente e quase acidente como sinnimos tambm

verificada em Reason (1997), para quem um incidente ou quase acidente qualquer evento que poderia resultar em conseqncias graves e que no apresenta nenhum prejuzo significativo. Para Guimares e Costella (2004), incidente e quase acidente so eventos distintos. Incidente a ocorrncia no desejada que modificou ou ps acidente o incidente que interrompe o processo normal de uma atividade, perturbao funcional no trabalhado. fim ao andamento normal de qualquer tipo de atividade, ao passo que o quase provocando perda de tempo ou de material, mas sem provocar leso corporal ou

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Hoje em dia, a investigao do acidente est focada no incidente, com os seguintes

objetivos: decompor o acidente para entend-lo como foi construdo e a elaborao de estratgias de interveno preventiva. O que fica claro que existe uma relao direta entre incidentes e acidentes, uma vez que a ocorrncia dos primeiros sugere a probabilidade de que aconteam os acidentes dentro das mesmas circunstncias.

Acidente x incidente (quase acidente)

O conhecimento da definio dos termos acidente e quase acidente de fundamental importncia. Tambm se faz necessrio, porm, conhecer a relao existente entre os dois para que se possa ter uma atuao mais eficiente na rea de SST. Segundo Neves (1996), graas a diversos estudos, a engenharia de segurana passou a ter um outro enfoque, dando surgimento s doutrinas preventivas de segurana. Segundo essa nova viso, a atividade de segurana s eficaz quando essencialmente dirigida para o conhecimento no foco, nas causas dos acidentes, envolvendo para isso toda a estrutura organizacional, desde os nveis mais altos de compreenso dos problemas relativos segurana, propondo metodologias para mudana no estilo de abordagem e trabalhando na obteno de melhores resultados, que o termo acidente passa a ter outra conotao, que de causas por causas indesejveis que podem ser conhecidas previamente e, portanto, chefia e superviso at os mais baixos. Com esses estudos, buscando melhor

fortuitas, desconhecidas e incontrolveis passou a ser visto como sendo acontecido controladas. O acidente passa a ser visto como todas aquelas situaes que, de forma direta ou indireta, podem comprometer o bom andamento do processo produtivo, ou seja, perda de tempo, quebra de equipamento ou qualquer outro incidente envolvendo ou no o homem, provocando ou no leso, mas que tenha provocado desperdcio, tanto em nvel monetrio quanto pessoal.

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Para Llory (1999a), o acidente tambm pode ser entendido como.[...] algo enraizado na histria da organizao: uma srie de decises, ou ausncia de decises; a evoluo do contexto organizacional, institucional, cultural que interfere no futuro do sistema; a evoluo (a degradao) progressiva de condies ou fatores internos organizao; alguns eventos particulares que tm um impacto notvel sobre a vida e o funcionamento do sistema scio-tcnico, criando uma situao desfavorvel: um terreno no qual o acidente (ou um incidente) poder se inserir e se desenvolver. [...] o acidente incuba. O perodo de incubao pode ser longo [...] (LLORY, 1999a, p. 113).

Perigo (Danger)

Para Neves (1996), perigo pode ser entendido como fonte ou situao com potencial

para provocar danos em termos de leso, doena, dano propriedade, dano ao meio ambiente ou uma combinao desses. Para Sanders e McCormick (1993a, p. 675), [...] perigo uma condio ou um conjunto de circunstncias que tm o potencial de causar ou contribuir para uma leso ou morte. Os autores dizem tambm que os termos perigo e risco apresentam conceitos distintos e que eles so utilizados com conotao similar. Os termos perigo e risco, em diversos casos, inclusive em algumas leis e normas, costumam ser aplicados como sinnimos sem freqentemente considerado sinnimo de risco.

qualquer tipo de distino. Segundo Wickens et al. (1998, p. 430), [...] perigo

Risco (Hazard)

Risco a combinao da probabilidade de ocorrncia e da conseqncia de um determinado evento perigoso, ou seja, tudo o que pode causar acidente ou com potencialidade / probabilidade de causar acidente. (NEVES, 1996) De um modo geral, os riscos so bastante visveis nas tarefas e podem ser controlados. Por vezes, o risco est oculto no processo que envolve a realizao das tarefas. Pode-se descobri-lo preventivamente (por meio de conhecimento, estudo, pesquisa, testes,

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etc. - o que sempre difcil) ou corretivamente (aps algum acidente), como, por exemplo, defeito de fabricao de um equipamento (existem riscos que dificilmente sero descobertos).

Ainda, segundo Neves (1996), o risco pode ser entendido de algumas formas: risco pessoal (humano) que pode causar os mais variados acidentes a qualquer instante; risco material (condio insegura) que o risco no ambiente, mquinas, equipamentos, ferramentas etc. e o risco administrativo (a administrao, a gerncia, a superviso ou quem os representar diretamente) que o risco mais crtico da

empresa. Quando o gerente competente, o trabalho e a segurana funcionam a contento. Um grande nmero de acidentes na empresa indica sempre uma superviso falha ou inexistente. Sanders e McCormick (1993a, p. 675) dizem que [...] risco a probabilidade ou chance de leso ou morte.

Dano (Damage)

O dano considerado uma conseqncia, produto ou resultado negativo do acidente (prejuzo). O dano pode ser pessoal (leso, perturbao etc.), material (aparelho, etc.) (NEVES, 1996). equipamento, etc.) ou administrativo (prejuzo monetrio, desemprego em massa

2.1.3 Causas de acidentes do trabalho

A causa do acidente do trabalho considerada aquela que ocasionou o fato, no momento do ocorrido. Anteriormente ocorrncia, so identificados os riscos ou perigos de acidentes (ZOCCHIO, 2002).

Um acidente, de acordo com Geller (1994a), nunca tem origem em apenas uma causa, mas em diversas, as quais vo se acumulando, at que uma ltima precede o ato imediato que ativa a situao do acidente. Segundo Moraes e Pilatti (2005),

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podem-se dividir as causas dos acidentes em causas humanas, materiais e fortuitas. As causas humanas se assentam-se em aes perigosas criadas pelo homem, cuja origem pode residir em diversos fatores tais como incapacidade fsica ou mental, falta de conhecimento, experincia, motivao, stress, no cumprimento de normas,

regras e modos operatrios, dificuldade em lidar com a figura de autoridade e vivncias de sofrimento, dentre outras. As causas materiais fundamentam-se em questes tcnicas e fsicas perigosas, apresentadas pelo meio ambiente quer as mais raras, mas que, por vezes, constituem a causa nica dos acidentes, nada tendo a ver com causas humanas e tcnicas.

natural, quer construdo e ainda por defeitos dos equipamentos. Causas fortuitas so

Vale ressaltar que para Saurin (2002), diversos autores tais como Sanders e McCormick (1993), Hinze (1997), Wickens et al. (1998), Loosemore (1998) e Howell et al. (2002), afirmam que no existe uma teoria que explique completamente os mecanismos de ocorrncia dos acidentes. As principais crticas s teorias existentes so resumidas a seguir.

isoladamente, cada teoria explica somente alguns dos fatores contribuintes para a ocorrncia dos acidentes (SANDERS e McCORMICK, 1993). Isso pode teoria vlida; decorrer, em parte, pela falta de definio clara dos limites dentro do qual cada

necessrio o desenvolvimento de teorias causais adaptadas s diferentes reas de atividade humana (BROWN, 1995; LAWTON e PARKER, 1998);

os estudos que investigam o papel do erro humano nos acidentes devem

considerar os indivduos no seu contexto de trabalho, focando os fatores que contriburam para a ocorrncia dos atos inseguros. Tais estudos devem ainda reconhecer as diferentes exposies dos indivduos aos riscos de acidentes, (LAWTON e PARKER, 1998); levando em conta fatores como os requisitos da tarefa, a idade e a experincia

embora apresentem diversos fatores causais, as teorias no explicam a sua importncia relativa. O combate aos fatores causais requer maior conhecimento a aqueles fatores e como tal controle pode eficientemente ser atingido (SURAJI, respeito de quais so os fatores mais importantes, quem pode melhor controlar

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DUFF e PECKITT, 2001). As teorias ainda deveriam explicitar as razes que as teorias no tm discutido a extenso pelas quais os fatores causais podem ser as teorias no tm identificado e / ou discutido a causa raiz dos acidentes (HOWELL et al., 2002; GIBB et al., 2001), dando nfase excessiva ao papel das aes dos empregados (HOWELL et al., 2002). erradicados, reduzidos ou evitados (SURAJI, DUFF e PECKITT, 2001); justificam os fatores escolhidos, assim como discutir suas inter-relaes;

Ato inseguro

O ato inseguro reside, exclusivamente, no fator humano, isto , na maneira pela qual, consciente ou inconscientemente, a pessoa fsica ou jurdica expe-se ao risco de acidente ou expe pessoa (fsica ou jurdica) e outras coisas ao risco. O ato inseguro, simplesmente, cometido por pessoa fsica (exemplo: lanamento de pessoa jurdica (exemplo: ordem da chefia para transportar mercadoria em caminho com carga superior sua capacidade). falsa a idia de que no se pode predizer nem controlar o comportamento humano. Na verdade, possvel analisar os fatores relacionados com a ocorrncia de atos inseguros e control-los (NEVES, 1996). pontas de cigarro aceso pela janela), j o ato inseguro administrativo cometido por

De acordo com a NBR 14.280 (2001, p. 3), [...] o ato inseguro decorrente de uma ao ou omisso pessoal que contraria normas e / ou procedimentos de segurana, (2002), os atos inseguros so os fatores pessoais dependentes das aes dos atos inseguros so os ingredientes dos quais os acidentes so feitos. podendo causar ou contribuir para a ocorrncia de um acidente. Segundo Zocchio homens que so fontes causadoras de acidentes. Para Reason (1997, p. 120), [...]

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Segundo Oliveira (2007a, p. 36).[...] a figura do ato inseguro, rebatizado com a nomenclatura de atitude incorreta, atitude abaixo do padro ou erro humano, que tanto serviu e ainda continua, em alguns ambientes, servindo para responsabilizar e at mesmo culpar trabalhadores pelos acidentes sofridos, mais tem servido para ocultar, em alguns ambientes de trabalho, sinais de agravos sade do trabalhador e, da mesma forma, inadequaes na organizao do trabalho, do que propriamente atendido s finalidades a que se prope, que estabelecer nexo verdadeiro entre os acidentes ocorridos e suas reais causas, com vistas correo (OLIVEIRA, 2007a, p. 36).

de conhecimento que grande parte dos acidentes do trabalho acontece em funo do comportamento das vtimas. Entretanto, o que interpretado de forma errnea ou mal compreendido, s vezes propositalmente, o motivo que leva as pessoas a assumirem um comportamento de risco, de maneira passiva e sem cuidado, com potencial para les-las ou at mat-las (OLIVEIRA, 2002).

Condio insegura

Condio insegura significa uma condio do meio que pode causar ou favorecer a ocorrncia de acidente (risco) ou a condio do meio que causou ou favoreceu o acidente (causa). A condio insegura antes do acidente risco e, aps o acidente, causa (NEVES, 1996).

A NBR 14.280 (2001, p. 3) utiliza a expresso condio ambiente de insegurana, ou seja, [...] condio existente no ambiente de trabalho que pode causar ou contribuir para a ocorrncia de um acidente. O termo ambiente inclui, aqui, tudo o que se refere ao meio, desde a atmosfera do local de trabalho at as instalaes, equipamentos, substncias utilizadas e mtodos de trabalho empregados.

Essas causas so apontadas como responsveis pela maioria dos acidentes. No entanto, deve-se levar em conta que, s vezes, os acidentes so provocados pela presena de condies inseguras e atos inseguros ao mesmo tempo. Hoje em dia,

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comum falar-se em Condies Inadequadas do Trabalho que engloba atos inseguros e condies inseguras.

Fator pessoal de insegurana

Fator pessoal de insegurana o que pode-se chamar de problemas pessoais do indivduo e que, agindo sobre o empregado, podem vir a provocar acidentes, levando o ser humano a cometer um ato inseguro e / ou criar uma condio insegura e / ou colaborar para que eles continuem existindo. Pode ser consciente ou inconscientemente, bem como inerente ou no ao ser humano, pelo seu modo de agir como indivduo ou profissional (medo / insegurana) (NEVES, 1996).

Segundo a OIT (1996), o fator humano fundamental para se conseguir uma boa produtividade, alm de apontar que os empregados, de todos os nveis, devem ter a sensao de pertencer empresa, devem desenvolver um sentido de segurana e sentir que trabalham num ambiente seguro, saudvel e enriquecedor.

Sanders e McCormick (1993) dizem que o erro humano uma deciso humana indesejvel ou inapropriada ou comportamento que reduz ou tem o potencial de (1998, p. 427), o erro humano pode ser definido [...] como um comportamento reduzir a eficcia, a segurana ou o desempenho do sistema. Para Wickens et al. humano inapropriado que diminui o nvel de eficincia ou segurana do sistema, que pode ou no resultar em acidente ou dano. J no prefcio que escreve para Acidentes industriais. O custo do silncio, de Llory (1999b), Gerard Mendel afirma que [...] pode-se achar que, nessa cegueira macia, existe mais do que a preocupao, sem dvida presente, de poupar a hierarquia. considera surpreendente a persistncia da concepo restrita de fator humano e

Segundo Moraes e Pilatti (2005), o fator humano condicionado pelo meio ambiente isoladamente e em grupo. Diversos estudos demonstram que muitos acidentes so

interno, influindo e afetando o comportamento dos indivduos considerados

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atribuveis a esses condicionamentos, separadamente ou, na maior parte das vezes, cumulados (LPLAT, 2000).

Os comportamentos, as atitudes e as reaes dos indivduos em ambientes de trabalho no podem ser interpretados de maneira vlida e completa sem se as diferentes variveis incluem o meio, o grupo de trabalho e a prpria organizao. considerar a situao total a que eles esto expostos. Todas as inter-relaes entre O acidente de trabalho, nesse sentido, pode ser visto como expresso da qualidade da relao do indivduo com o meio social que o cerca, com os companheiros de trabalho e com a organizao. Dela Coleta (1991a) defende que uma perturbao sintoma de desequilbrio afetivo e que pode gerar acidentes. Conclui que o trao caracterstico dos indivduos freqentemente acidentados justamente a revolta contra a autoridade. Dentre os diversos estudos realizados sobre acidentes do trabalho, no se encontrou um que defina uma estratgia de preveno dos acidentes de trabalho a partir de uma tica que procure entend-los sob os mais variados aspectos que os mdicos e tcnicos (DELA COLETA, 1991b). envolvem, desde os aspectos psicolgicos, sociolgicos at os aspectos legais,

2.1.4 Diferentes contribuies para os estudos de SST

Herbert William Heinrich

Em qualquer discusso sobre causas e modelos para estimativa de custo de acidentes, no se pode esquecer o trabalho pioneiro de Heinrich (1959).

Segundo Heinrich (1959), para certos autores, pode-se descrever uma seqncia lgica de fatos e acontecimentos que, partindo da hereditariedade e do meio, passa pela inadequao pessoal e chega, por um ato perigoso, ao acidente e leso.

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H. W. Heinrich e Roland P. Blake foram os primeiros a apontar que apenas a reparao de danos no era suficiente e, sim, a necessidade de aes to ou mais importantes, que alm de assegurar o risco de leses, tendessem a prevenir os acidentes. Em 1931, Heinrich (1959), desenvolveu o primeiro e mais conhecido modelo de causa, bem como estimativa de custo de acidentes a partir de concluses baseadas na anlise de cerca de 5.000 casos de empresas seguradas na The Travelers Insurance Company, uma companhia de seguro americana, alm de servios de administrao e produo. realizar nas prprias empresas participantes entrevistas com membros do staff dos

Heinrich, citado por Hemritas (1998), em sua obra Industrial accident prevention,

indica que os acidentes de trabalho com ou sem leses so devidos:

personalidade do empregado, prtica de atos inseguros e existncia de condies inseguras nos locais de trabalho. Disso resulta que as medidas preventivas devem assentar-se sobre o controle desses trs tipos de causas de identificadas por meio da coleta de dados durante a investigao dos acidentes. O portanto, como fundamental para a programao de preveno de acidentes. acidentes. As medidas dependem do reconhecimento das causas que podem ser uso dos quadros estatsticos (baseados nos dados coletados) pode ser considerado,

As propores entre os tipos de acidentes, com leso incapacitante, com leses no incapacitantes e acidentes sem leso obtidos pelos estudos de Heinrich (1959) so os apresentados na figura 3.

Figura 3 - Pirmide de Heinrich (1931) Fonte - DE CICCO E FANTAZZINI, 1977.

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Segundo Heinrich, citado por Raouf (1998) e Brauer (1994), 88,0% dos acidentes so provocados por atos humanos inseguros, 10,0% por condies inseguras e 2,0% por causas fortuitas / imprevisveis. De acordo com a pirmide de Heinrich, notava-se que, para um acidente com leso incapacitante, correspondiam 29 acidentes com leses no incapacitantes e 300 considerada, at ento, em nenhum aspecto, nem no financeiro e nem no que tange acidentes sem leso. Essa grande parcela de acidentes sem leso no vinha sendo a riscos potenciais que implicariam dano sade e vida do empregado, caso algum fator contribuinte (ato ou condio insegura) os transformasse em acidentes com perigo de leso. Entretanto, considerando as limitaes das teorias causais, neste trabalho

apresentada apenas a teoria de viso multicausal mais conhecida (teoria do domin), visto ser amplamente aceito que a grande maioria dos acidentes tem mltiplas causas (BROWN, 1995; LAWTON e PARKER, 1998).

Heinrich (1959) props uma seqncia cronolgica de cinco passos para a ocorrncia de um acidente, conforme demonstrado na figura 4:

Figura 4 - Os cinco fatores na seqncia do acidente Fonte - HEINRICH, 1959.

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1. 2. 3. 4. 5.

personalidade; falhas humanas no exerccio do trabalho; acidente; leso. causas de acidentes (Atos Inseguros e Condies Inseguras);

Cada fator atua, de forma seqencial, na seguinte. Para Heinrich (1959), assim que:

como na matemtica, existe uma seqncia lgica na ocorrncia de um acidente, em

1. 2. 3. 4.

uma leso pessoal ocorre somente como resultado de um acidente; um acidente ocorre somente como resultado de um perigo pessoal ou fsico; o perigo pessoal ou fsico somente existe devido falha das pessoas; as falhas das pessoas so inerentes ou adquiridas no ambiente social.

Portanto, segundo Heinrich (1959), basta remover uma nica pea do domin para

que a seqncia seja interrompida, evitando, assim, a ocorrncia do acidente.

Ainda, segundo o mesmo autor, as aes de preveno deveriam se concentrar nos fatores que antecedem a ocorrncia do evento indesejvel, ou seja, o domin fundamental a inseguro junto com um perigo mecnico e fsico constitui o fator central na seqncia do acidente (HEINRICH, 1959, p. 16). Para Heinrich (1959), o erro humano o ponto central, porm, subdividido em quatro ser retirado era o de nmero trs, ou seja, o que representa o ato inseguro. O ato

modos de falha: conhecimento, atitude, aptido e habilidade, que so as causas nessa teoria, o autor mostra que [...] 88,0% de todos os acidentes industriais so causados primariamente por atos inseguros das pessoas (HEINRICH, 1959, p. 21).

do que se convencionou chamar de atos inseguros e condies inseguras. Baseado

Segundo Gandra (2004) e Theobald (2005), essa teoria teve grande impacto na explicao da causalidade dos acidentes, influenciando de forma significativa as teorias subseqentes, principalmente pela nfase dada pedra central: os atos e condies inseguros. O ato inseguro ou condio insegura precedido pela falha da

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pessoa. Esse conceito o ponto crucial dos estudos posteriores, em que a falha humana se tornaria o ponto principal dos estudos para explicao da causalidade dos acidentes. Zocchio (2002) elaborou a seguinte sntese das idias que Heinrich apresentou, j caractersticas que lhe so inerentes, fatores hereditrios, sociais e de educao, que so prejudiciais quando falhos; do meio, com os riscos que lhe so peculiares,

na dcada de 50. Tudo se origina do homem e do meio: o homem, por meio de

ou que nele so criados e que requerem aes e medidas corretas por parte do de acidentes. Assim comea a seqncia de fatores com o homem e o meio como os dois nicos fatores inseparveis de toda a srie de acontecimentos que d origem ao acidente e a todas as suas indesejveis conseqncias.

homem para que sejam controlados, neutralizados e no se transformem em fontes

Frank Bird Jr.

Outro estudioso da rea prevencionista foi o engenheiro norte-americano Frank E.

Bird. Jr., que, no princpio da dcada de 50, tomando por base a indstria de seu contra acidentes estivesse limitada somente preveno contra leses

pas, verificou que muitos profissionais do seu ramo acreditavam que a preveno incapacitantes. Julgava que, para haver algum progresso, no se poderia esperar primeiro correr sangue para depois reconhecer que houve um acidente ou que havia um problema, pois j se sabia, por intermdio da teoria de proporcionalidade de Heinrich (1:29:300), que ocorriam aproximadamente 300 acidentes sem leso e 29 acidentes com leso no incapacitante (sem perda de tempo), para cada acidente com leso incapacitante, em um mesmo grupo de acidentes semelhantes, originados pela mesma causa prxima. Dessa forma, passou a se preocupar tambm com os

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acidentes que provocavam leses sem perda de tempo9 e com os acidentes sem leso. Assim, em 1954, Bird deu um notvel passo no desenvolvimento prevencionista,

quando iniciou, na companhia siderrgica Luckens Steel Company, com mais de 5.000 empregados situada na Filadlfia, um programa de controle de danos propriedade. A implantao de um programa de Controle de Danos, segundo Bird, requer identificao, registro e investigao de todos os acidentes com danos

propriedade, bem como a determinao de seus custos para a empresa, para, em Steel Company estabeleceu um programa de controle de todos os acidentes, acidentes com leses, dos quais 145 se classificaram com incapacitantes.

seguida, serem tomadas as devidas aes preventivas. De 1959 a 1966, a Luckens envolvendo uma anlise de 75.000 acidentes com danos propriedade e 15.000

Esses fatos que se basearam em 90.000 acidentes, durante um perodo de sete teoria tinha como finalidade principal reduzir ou eliminar as perdas dos acidentes com danos materiais, sem descuidar dos acidentes com danos pessoais. Os quatro aspectos principais em que se baseava o desenvolvimento de programas de controle

anos, serviram de base para a teoria de Bird, intitulada Controle de Danos. Esta

de perdas eram: informao, investigao, anlise e reviso do processo. Assim, deu origem chamada Pirmide de Bird, como mostra a figura 5.

Bird chegou proporo entre acidentes pessoais e com danos propriedade, que

Figura 5 - Pirmide de Bird (1966) Fonte - DE CICCO E FANTAZZINI, 1977. Acidente em que o acidentado pode exercer sua funo normalmente, ou seja, retorna ao trabalho no mesmo dia do acidente ou no dia seguinte, no incio do expediente normal de trabalho, pelo que se diz que no houve nenhum dia de trabalho perdido, pois o dia da ocorrncia do acidente se considera como dia trabalhado integralmente, independentemente da hora em que tenha ocorrido na jornada laboral.9

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Na pirmide de Bird (1966) acima, observa-se que para cada acidente com leso incapacitante, ocorriam 100 acidentes com leses no incapacitantes e outros 500 acidentes com danos propriedade. Bird (1966) estabeleceu tambm em seu trabalho a proporo entre os custos indiretos (no segurados) e os custos diretos