culto a orfeu - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/337964.pdf ·...

141
CULTO A ORFEU POEMAS TEMPLO DE ORFEU ADILSON PINTO ,TH

Upload: phungnhi

Post on 08-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

CULTO A ORFEU

POEMAS

TEMPLO DE ORFEU

ADILSON PINTO ,TH

ÍNDICE DOS POEMAS

0 - Apresentação

1- Fidelidade

2- Deslize

3- Zen

4– Indomáveis

5– Flor na Lapela

6– O Príncipe

7- Cantiga Para Localizar Hécate

8- Tai Chi

9- Questão de Confiança

10– Aulas de Felicidade

11– In Totum

12– Revogação

13– O Domador

14 - Prendas Domésticas

15 - Ego Sun

16– Romântica Espanhola

17 - Café

18- Tua Voz

19- Mentira

20- Exorcismo

21- Balada do Perdido na Selva

22- Álibi

23– Ode ao Dia da Independência

24– Lytton Strachey

25 - Safo

26 - Culto a Orfeu

27 - Instintual

28 - Poema Excedente

29 - Relatividade

30 - Soteropolitanamente Feliz

31 - Moído na hora

32 - Ladainha Para o Dia Consagrado ao Sal

33– Platônica Sacrificial

34– Aos infernos Contigo!

35– O Enfezado

36– Nos braços de Eurídice

37– Aulas de Oratória

38– A Inteligência do Burro

39– O soldado

40– Definições

41– A alegria do Rio

42– Causa e Efeito

43– Jennifer Lopes

44– Ícone

45– Profissão de Fé

46– O Ejacular dos Gênios

47– Sem Rodeios...

48– Projeto Arquitetônico

49– Suprema Alegria

50– Medalhas de Ouro

51– Mesmice

52– Aulas de Prudência

53– Arquétipos

54– Aulas de Filosofia

55– Aulas de Sobrevivência

56– Esotérica

57– Orunmilá Ifá

58– O Mantra

59– Via Crucis

60– Double Faces

61– De leve...

62– Definições II

63– Romântica Italiana

64– Projeto de Lei

65– Cordel

66– Construção da Definitiva Ausência

67– Rosa Negra

68– Black Blues

69– Oxum

70– O Menestrel

APRESENTAÇÃO

Este livro nasceu de um momento peculiar de alegria, leveza e serenidade: pode-se tranqüilamente chamá-lo de “festejo do espírito” ou “brincadeira poética”. Foi redigido de um modo que se faça dos textos, objeto de leitura declamatória. Do mesmo modo, nenhuma atenção especial foi dirigida aos temas, muito menos se pretendeu aderir a escolas; tentou-se, isto sim, trabalhar a frase da maneira mais criativa possível, buscando a surpresa vocabular, a colocação Ímpar, expressa inesperadamente! Despretensioso, portanto, nem por isso deixa de apresentar atitude solene quando pretende pagar tributo a Orfeu, a partir de um culto exato, devido e procedente. Que o Mestre o receba como suave perfume de incenso, é tudo o que desejamos para este momento em que Eurídice deve também ser lembrada e reverenciada, para que o ofício místico, religioso, mágico e poético se apresente completo e irrepreensível.

O AUTOR

À GUISA DE INTRODUÇÃO

FIDELIDADE

Ao poeta

Que

Se

Feliz,

Contente,

A este

Uma

Vertente

De

Inspir

Ação

Flui

Do

Inigua-

Lável

Cor

Ação

De

Orfeu!

DESLIZE

A gente

Falta

Falta

Falta

Quando esta em alta;

Até perceber

Que

Não

Faz

Mais

Falta;

Então a gente se agarra

E quer permanecer

Na marra!

Ato louvável,

Porém inútil,

Não fosse fútil

E dispensável

A gente

Que falta

Quando

Esta

Em alta!

ZEN

No mar

Há certa

Cal

Maria:

O vento

Sopra

E

Não

Estufa

As velas,

O

Marinheiro

Dorme

E

Nenhum

Sonho

Lhe

Sacode

A alma!

INDOMÁVEIS

O sol quis aparecer:

Naquela manhã

Estava especialmente

Esplendoroso.

Porém , de súbito apareceram

Massas de nuvens cinzentas

Cobrindo todo o céu

Numa extensão imensa,

Quase estadual.

E então esfriou

E quando olhamos pela janela

A garoa caía,

Depois a coisa engrossou

E choveu mesmo

De verdade!

Então

Fomos comer pipocas

E colocamos na radiola

Um vinil

De Johnny Mathis,

E cantamos com ele,

E dançamos

Ao som

De

Song Sung Blue

Trezentas

Vezes!

FLOR NA LAPELA

Ele nascera

Com uma flor

Na lapela.

De quando em vez

Lhe perguntavam :

Que flor

era aquela?

Ele não sabia

responder

até por não ver

a tal:

ainda que olhasse

no espelho,

horas a fio,

não via nada

de especial!

Mas, meu Deus

Que flor era

Aquela

Que ele

Trazia

Na lapela,

Cultuada

Pela balzaquiana,

Pela donzela,

E por quem mais ?...

E por que

Só ele?

Por que não

Eu e você?

Mas, pensando

Bem,

Uma flor

Na lapela

Igual aquela

-que coisa estúpida!

(embora bela !)

-que fiasco!

-Que asco!

-Que imbecilidade!

-Que esparrela!

O PRÍNCIPE

Certa feita me levaram

A conhecer um príncipe e,

Para acontecimento tão solene,

Vesti a melhor roupa que possuía.

Com paciência

Arrumada na hora,

Esperei numa fila enorme

A minha vez de reverenciar

Vossa Alteza o Príncipe.

Foi quando

Aproximei-me do trono e,

Observando o olhar encantado

Da multidão a ele dirigido

- não vi ninguém ali!

Eis o Príncipe!

Eis o Príncipe!

Ajoelhe-se! Disse alguém.

Ajoelhar-me? A troco de quê?

Diante de uma cadeira vazia?

Eu não sou doido não!

Redargüi, atônito.

Uns riram da minha afirmação.

Outros deploraram.

E todos continuaram reverenciando

Extasiados,

Aos pés de Vossa Alteza,

Solícitos e apaixonados.

Todos viam o Príncipe!

Menos eu,

O próprio!

CANTIGA PARA VER HÉCATE

Eu quis ver

Hécate

Num canto

Qualquer

Da lua;

Num canto

Qualquer

Na rua;

Num canto

Na casa

Sua...

Mas, mano,

Que desencanto:

Ninguém

Mais canta

Na casa sua;

Ninguém

Mais canta

Feliz!

Na rua,

E mesmo

Os astronautas

Que passearam

Na lua

Trouxeram

De lá, Oh! Hécate

Qualquer

Notícia

Sua!

TAI CHI

Talvez lento

Demais

Para uma

Paciência de menos

Talvez

Demasiadamente

Reflexivo

Para um

Pensar atômico

Tavez

Quintessenciado

Em excesso

Para um

Agudo sentido

Da navalha

Na carne.

QUESTÃO DE CONFIANÇA

A gente

Diz

Quanto

Tem

Para

Não

Dizer

Quanto

Falta;

Cuidadosos

Mostramos

Apenas

A ponta

Do iceberg;

Um detalhe

Da ferida,

Uma face

Da vida

E, ao menos

Que nos

Conforte,

Um tanto

Da nossa

Morte!

AULAS DE FELICIDADE

Desnecessárias

As pessoas

De Sócrates

Platão

Ou Emerson;

Desnecessárias

As horas infindas

Dedicadas

Às profundas

Meditações;

Desnecessárias

As providências

Cabíveis

Na elaboração

De debates;

Tudo tão

Franciscanamente

Simples:

Para ser feliz

E gozar de paz,

O homem deve ser amado

Naquilo que faz!

E para que não perca

Jamais sua fé,

Ele deve ser amado

Naquilo que é!

IN TOTUM

Amar

Não o pedaço,

A fração,

Mas cada pedaço,

Cada fração;

Amar

Por satisfação

E gozo,

Por ter

Encontrado

O paraíso

Num simples

Sorriso

Ou numa

Elucubração

Filosófica;

Amar

Ipsis litteris

E com

Insuspeitavel

Bona fides;

Amar

Para escrever

Uma história

Absolutamente

Distinta

De uma

Vida estéril.

REVOGAÇAO

Não um ...e comerás

Flagelo do suor do seu

Que se rosto. GÊNESIS

Suporta;

Não uma

Cruz

Que se

Carrega;

Não um

Suplício

No qual

Se morre;

Nada que

Lembre

As work-songs

Os sharecroppers

E o bossman

No Delta

Do Yazoo,

Nem o

Pelourinho

Em Salvador;

Nada que

Lembre

Um carroceiro

Num transporte

De tração

Animal.

O DOMADOR

Se tem à frente

Um tigre

Dirá ao animal:

Aqui bichano,

Aqui,

Nos meus pés...

Se o tigre

Não o obedecer

Ficará indignado

Estalará

O chicote

E,

Com a face

Vermelha de raiva

Ordenará:

Aqui bichano,

Aqui,

Nos meus pés!!!

Então

O animal ficará

Com medo

( a despeito de

sua força

e poder)

e obedecerá

incontinenti !

Um vacilo, porém,

no estalar

do chicote,

no tom da voz,

na postura

do corpo

e o animal

o engolirá

incontinenti!

PRENDAS DOMÉSTICAS

Não sou serviçal

À disposição

Da sua arrogância;

Mas posso ser escravo

Da sua humildade!

EGO SUN

É preciso fé

Para ser

O que se é,

Posto que ser

Pressupõe envolver- -se

Consigo,

Seu melhor amigo;

Aceitar sua essência

Como autor

Idade

Suficiente e

Máxima

Para salvá-lo

Seja lá

Do que for;

Crer

Na flor

Que se abre,

No

Sol que

Se mostra,

Na

Estrela

Que brilha,

Na maravilha

Da manhã

Da alma,

Na

Calma

Dos ventos

Prósperos,

Nas

Torrentes

Das inspirações

Ávidas...

ROMÂNTICA ESPANHOLA

Suave

O

Vinho

Desce

Pela

Garganta

Como

Um

Consolo

Ao

Drama

Solo

De

Um

Violino

Cigano.

CAFÉ

Saborosa

Negritude

Deliciosa

Negridão

Fumegante

Escuridão

Pó mágico

Líquida vertente

Que despenca

Do

Bule

E

Cai

Sem pre conceitos

Na xícara alva

Pura porcelana

Parisiense

Para

O deleite

Das madames

Dos intelectuais

E de quem mais...

Cerebral pretitude

Precursora

Do cigarro

Do charuto

Da cigarrilha

E do

Poema.

Incentivadora

Das tertúlias

Madrugadas

Adentro...

Noite sem estrelas

Pecado sem

Remissão

Senzálicas negras

-África!

Voluptuosa

Pretidão!

TUA VOZ

A tua voz

Ferina

Voz de menina

Mal educada

Dói na

Minha alma;

Fere,

Transfere

O meu

Momento

De prazer

Para depois;

Sangra

Esfola

Faz escola

Irrita;

Entristece

Tanto

Que nem

Uma prece

Me ressuscita

Do desencanto.

MENTIRA

A tua doçura

Oh! Melíflua!

Sai da boca

Do esqueleto

De Ransés...

Logo se vê

Que tu não és,

Logo se vê

Que vós não sois,

Que não serias

Presentemente,

E muito menos depois!

EXORCISMO

O que me pese

Na alma

O que me faça

Chorar,

Que se desfaça

Na calma

Da luz

Do luar;

O que

Porventura

Me traga

Agonia

E muita

Aflição,

Que morra

Nas cordas

Do meu

Violão;

E se assim

Mesmo

Um baixo

Astral

Quiser dominar

E me

Roubar

A alegria,

Que seja

Anulado

Pelo verso

Encantado

Da minha

Poesia!

BALADA DO PERDIDO NA SELVA

A quem

Esconde

A selva,

Senão ao que

Se perdeu?

A quem

Esconde

A selva

Senão ao que

A selva

Escondeu?

A quem

A selva

Se deu

Senão ao que

A selva

Escolheu

Para que fosse

Só seu

Num selvático

Himeneu?

Aonde

Aonde

É que se

Esconde?

Esconde

O segredo

Da selva

(talvez

não seja

tão virgem!)

quem na

selva

pretendeu

brincar

de

esconde

esconde?

ou embora

agora

saiba

onde

tanta

gente

se

perdeu

perdido

também

se

encontre

e siga

às cegas

seu destino,

destino

que a selva

lhe

concedeu?

talvez

de nada

saiba:

só que o

céu

escureceu,

e que a

saudade

de casa

agora

recrudesceu,

que a

esperança

de quem

se perde

nele nunca

se perdeu

mas que

em face

da noite

fria

tornou-se

tão vazia

e aos

poucos

desvaneceu?...

II

Mas quem

Nesta festa

A

Comemorar

O que

Se deu:

O encontro

Da selva

Escura

Com a infeliz

Criatura

Que, tola ,

Se atreveu?

Por

Certo

Que virá

Gente de todo

Canto,

Gente de todo

Lado

Nesse conúbio

Encantado!

O que foi

Convidado,

O que a

Selva esqueceu

De convidar;

Todo aquele

Que, em síntese,

Cometeu

Um tal acinte

E que por isto

Morreu!

ÁLIBI

Quem

Trai

Traz

Um tê

Na testa?

Sai

Por

Fazendo

Festa?

Come

Mora

A

Traição

No

Estilo

Ga

Ra

Nhão?

Ou

Age

Na

Sur

Dina

Sem

Jamais

Fazer

Alarde,

E diz

Que

Estava

Em Paris

Justa

Mente

Naquela

Tarde?

ODE AO DIA DA INDEPENDÊNCIA

( CANTO PRIMEIRO )

I

Sofro

De um mal

Terrível

Que não

Me faz mal

Absoluta

Mente:

Não se

Trata

De problemas

Nas cordas

Vocais

Posto que

Ando

Falando

Bem demais

- de todos;

não se

trata

de defi-

ciência

nas vistas,

que eu

esteja

ficand o cego,

pois

ainda vejo

os males

do mundo:

não cultuo

tanto

o ego!

Não

Se

Trata

De dor

De ouvido,

Que eu

Esteja

Ficando surdo:

Fale

(ainda

que longe

de mim)

um absurdo

pra você

ver!

Não se

Trata

De avaria

No coração

Pois

Ainda amo

Maria,

E a cada

Homem

Meu irmão;

II

Sofro

De um mal

Que me

Corrói

O corpo

A alma

O espírito

( e qualquer

outra

coisa

que

ainda

exista

em mim)

e que,

a despeito

disto,

não me

faz mal

absoluta

mente:

sofro

a influência

do espírito

de indepen-

dência

embora não

seja

oficial

mediúnico

de Dom

Pedro I ;

Sofro

De

Rebel-

Dia

Diária

Crônica

Em

Estágio

Avançado;

Melhor:

Ter

Mi

Nal;

E não

Admito

( sob a

certeza

de vertigens,

ataques

coléricos

e falta

de ar)

que me

queiram

subtrair

a liberdade

de ser,

característica

doentia

mórbida

funeral

de:

líderes

políticos

sifilíticos;

lideres

religiosos

capciosos;

lideres

familiares

neuróticos

e toda

a gama

de capitães

de areia...

CANTO SEGUNDO

I

Ser:

Não ser

Com

Os dedos

Dos outros ;

Não se

Conde

Corar

Com

Meda

Lha

Roubada

A peito

Alheio:

Não

Subir

No

Podium

Quando

Se

Pode

No lugar

De

Quem

Não pôde ;

II

Ser:

Fluir

Natural

Mente

Crescer

Feito

Semente

No

Útero

Da vida

Mãe,

Para

Ser

Total

Mente

Fruto

Maduro,

De sabor

Distinto,

De

Aroma

Peculiar,

De

Design

Único

E

De

Cores

Ímpares ;

III

Ser:

Evocar

A possibilidade

De ser

Louco e

Mais

Um pouco,

Quando

Então

Aos

Grupos

De exceção

Se

Aceita

E

Ama;

Se reverencia

De

Pijama

Ao sol

E se

Conversa

Com

A

Lua

Tendo

A alma

Toda

Nua

E

O

Pênis

De fora...

CANTO TERCEIRO

I

Sofro

De um mal

Terrível

Que não

Me faz mal

Absoluta

Mente:

Ter

Vestido

Por

Inteiro

A camisa

De Dom

Pedro

Primeiro:

Independência

Ou morte

E que se dane a corte

Dos

Dês

Per

Son

Al

Isa

Dos!

Sofro

De uma

Doença

Fatal

Incurável ;

Que não

Corrói,

Doença

De menino

Travesso:

Grito de alegria,

Canto de amor e

Poesia:

Câncer

Pelo avesso!

LYTTON STRACHEY

Flor

Da literatura

Inglesa,

Delicada

Figura,

Pesadelo

Da Realeza

Vitoriana:

O coração

Nunca

Se engana:

Dora

Te adora!

A despeito

De seres

Confuso

Consorte,

Que sorte

Que sorte

A tua!

Pois Dora

Silente e

Nua,

Dora

Te adora!

Com nada

Que realmente

Importe,

Sem rumo

Sem norte

Dora

Te ama

Lytton

- até a morte!

SAFO

Um

Alguém

Suficiente

Mente

Hábil

A

Ponto

De

Apanhar

Uma flor

Sem

Jamais

Esmagá-la

E de,

Com

Desme

Dido

Carinho,

Reter-

Lhe

O perfume

Único:

Safo

Senhora de

Lesbos,

Rainha

Da

Poesia,

Mito

Maldito

E

Vergonhosa

Escuridão

Para as

Que não.

CULTO A ORFEU

É chegada a hora

Do culto da madrugada,

Da vigília espiritual...

O incenso aqui está,

O papel em branco,

A pena e o tinteiro...

O sacerdote se debruça

Sobre a mesa,

Toma seu primeiro gole

De café,

Acende seu primeiro cigarro,

Relaxa o corpo e a alma

E espera...

Virão os deuses visitá-lo

Nesta noite especial ?

Alguma musa casual

Passará por ele

Célere e inspiradora?

Estará a sua mente

Virgem de pensamentos

Pré-concebidos?

De conceitos arrumados?

De filosofias prontas?

De dogmas ordinariamente

Organizados?

Estará ungido esse sacerdote

De suficiente humildade,

Para ser instrumento passivo,

Fiel e obediente ao fluxo

De pensamentos transcendentais

Nesta hora sagrada?

Entenderá esse servo inútil

Que, ao toque da divina essência

Sua mão correrá por sobre o papel

Tal como se fora um médium

Em estado de transe,

A favor da concepção literária?

E que esse exercício sacerdotal

É o que faz dele pessoa íntegra

Única e, portanto, extremamente

Forte e capaz e magnética

Diante de seu público leitor e ouvinte

Que igualmente busca o imponderável

E que neste culto, nesta missa,

Neste ritual encontra essa paz

E se plenifica e se estabelece ?

Entenderá esse sacerdote órfico

Que a poesia é o ofício de Profeta

- gloriosa missão?

................

shiii...

calemo-nos:

ele começa a escrever...

INSTINTUAL

Pouco Mais

Que um animal;

Aquém

De um ser

Celestial

Anos-luz;

Desconhece

Os requintes

Da ponderação

Que

Movimentam

A razão

Como peça

De um

Jogo de

Xadrez;

Com a

Delicadeza

De uma

Pedra,

Trabalha

O subjetivo

Qual

Um

Maquinista

De trem

Faria

Uma

Cirurgia;

De outro

Modo,

Mexe com

O objetivo

Melhor

Do que

Cassios Clay;

Não ama:

Apaixona-se!

Não verbaliza:

Grunhe!

Não universaliza:

Só vive

Em razão

Do grupo

E de

Si ;

Sabe, no entanto

O que é caçar,

Sabe procurar

O que quer,

E sabe o

Que quer!

Se lhe

Apraz

O que tem,

Se lhe

Faz bem,

Se lhe

Sacia

A fome

Acaricia;

Mas se

lhe quer

Escapar

Do

Domínio,

Por

Bem

Desloca

As estrelas

Para

Agradar;

Por mal

Rosna

E mostra

Os dentes;

E se

A situação

Lhe é

Adversa,

Se perde

A sua

Posse

(a seu

ver perversa

e ingrata)

não

pensa

uma

vez:

simplesmente

mata!

POEMA EXCEDENTE

Os meus

Pertences

São escassos:

Alguns livros

Alguns discos

Algumas roupas...

Nada em

Mim excede

Exceto

Um otimismo

No mínimo

Notável!

Não um

Otimismo

Barato,

Gerado por livros

De auto-ajuda

Que ajudam – e

Muito! –

A seus

Autores:

Falo

De uma alegria

Contagiante,

De uma

Energia vivaz,

De uma

Disposição

Eloqüente

Tudo isto acompanhado

-de lado a lado-

por

uma verve

que ferve

nas veias

ferina e doce

feito leoa

e melancia,

e que

deságua em

monólogos,

diálogos,

poesias

e que

embriaga

e seduz

tanto reluz...

O que

em mim

excede

não se encontra

em livros:

procede

de Orfeu!

RELATIVIDADE

No tic-tac

Do relógio

Meu amor

Inda não veio:

Tic tac tic tac tic tac...

Nesse

mesmo

Tic tac

Meu amor

Já foi embora!

Tic tac tic tac tic tac…

SOTEROPOLITANAMENTE FELIZ

Um tumor

Se instaura

No corpo

De Laura:

Um tumor

Maligno,

Malvado,

Absolutamente

Mal-humorado.

Laura

De nada sabe

De nada desconfia

Até que um dia

Descobre uma bolinha

No lado esquerdo

Do seio.

Vai ao médico

E ele lhe diz:

É um tumor

Maligno,

Malvado,

Absolutamente

Mal-humorado.

E para que

Ele se alegre

Mude de humor

E eu me salve

Desta dor

O que será preciso

Doutor?

Indaga Laura.

Amor.

Amor desbragado.

Desavergonhado.

Amor acompanhado

De alegria

E muita

Poesia!

Isto como

Preventivo

Posto que

Este tipo de tumor

Não muda fácil

De humor:

Será mais producente

Arrancá-lo

Do que alegrá-lo!

E o tumor

Rabugento

Foi de pronto

Extirpado:

Maligno,

Malvado e

Mal-humorado!

Para o deleite

De Laura

Que resolveu

Mudar

De vida

E de

Cidade:

Foi pra Salvador

Dançar ao som

De Trio Elétrico,

Com as filhas de Oxum

Na avenida,

E no Jangada

Em Itapuã,

De lá saindo apenas

Quando o sol

Doura a manhã!

E Salvador

Salvou

A dor

De Laura

Que aprendeu

A ser

Sotero-

Politana-

Mente

Feliz;

E que agora

Canta até

Num restaurante

Do Abaeté!

MOÍDO NA HORA

Tomá-lo

Não por uma

Simples convenção

Social;

Sorvê-lo

Não sem

Compromisso

Real;

Bebê-lo

Não como

No oásis

O beduíno

Bebe a água;

Nem por razões de

Inconsolável

Mágoa,

Mas com

Profundidade

Com reverência

Até!

Assim se toma

O café!

Degustando,

Degustando,

Sentindo

O sabor

Marcante

Na boca,

Sem pressa...

Esta a

Atitude

Correta,

Perfeita,

Ainda que,

Muito embora,

Não tenha

Sido

Moído

Na hora!

LADAINHA PARA O DIA CONSAGRADO AO SAL

Sal salgado

Sal sagrado

Nunca nos falte à mesa

O sal da terra

Com tudo o que ele

Encerra;

Sal salgado

Sal sagrado

Nunca nos falte à mesa

O sal no corpo

Depois de se tomar

Banho de mar;

Sal salgado

Sal sagrado

Nunca nos falte à mesa

O sal da lágrima

Que cai

Dos olhos do velho

Pai;

Sal salgado

Sal sagrado

Nunca nos falte à mesa

O sal do suor

Do corpo do pescador

Exposto ao vapor do sol;

Sal salgado

Sal sagrado

Nunca nos falte à mesa

O sal na saleira

Na cara

Da cozinheira

Sal salgado

Sal sagrado

Nunca nos falte à mesa

Que procura pelo sal

No bolso do avental

Sal salgado

Sal sagrado

Nunca nos falte à mesa

O sal no copo d’água

O sal jogado

Ao chão

Sal salgado

Sal sagrado

Nunca nos falte à mesa

Espanta macumbaria

Bicho feio e

Assombração

Sal salgado

Sal sagrado

Nunca nos falte à mesa

O sal presente

Numa pessoa

Atraente

Sal salgado

Sal sagrado

Nunca nos falte à mesa

O sal ausente

Numa pessoa

Sem sal

Sal salgado

Sal sagrado

Nunca nos falte à mesa

E para que o sal

Não passe da

Medida,

Nem nunca nos falte

À mesa,

Dá-nos, Senhor,

Por gentileza

Um med idor

De sal,

Em qualquer

Eventual!

PLATÔNICA SACRIFICIAL

Sal-

Picado

De lama

À porta

De quem

Ele ama ;

Sal-

Picado

De estrelas

Só para

Contemplá-la!

AOS INFERNOS CONTIGO!

Como o mal

É mau!

Como o mal

Protela

A felicidade

E esfacela

A esperança!

Como o mal

Agride

Uma criança

Um adulto

Um animal...

Oh! Elemento

Infernal

Do bem

Absolutamente

Marginal:

Quem te criou,

Maldito?

Em que lugar

Do infinito

Espaço sideral

Deu-se a tua gênese?

Que pai bizarro

Te ejaculou?

Que mãe monstruosa

Te gerou?

De que abominável

De que desprezível

Útero

Saíste

E deste

O primeiro vagido?

Foste parido

Ou foste cagado

Oh! Amaldiçoado?

Que metafísica

Te explica

Satisfatoriamente?

Que mente

Iluminada

Decifra essa charada

De mau gosto?

E posto que

És mau

E laboras

Na maldade

Crônica ,

Das raízes

Do meu canto

A sua expressão

Total

Execrado sejas,

Mal;

Para sempre

Preterido!

De cada sílaba

Excluído!

Aos infernos

Contigo

Mau,

Das origens

Do poema

Até seu

Ponto

Final!

O ENFEZADO

Oh! Enfezado

O que reténs

Dentro de ti ?

O sorriso cordial ?

O abraço

Caloroso,

Apertado,

Demorado?

O que reténs

Oh! Enfezado?

Ah! Estás de

Mal

De alguém!

Pois então

Anote,

E bem:

Ainda que

Rezes

Duzentas

Ave-marias,

O melhor

Que fazes

É fazer

As pazes

Pra liberar

As fezes!

NOS BRAÇOS DE EURÍDICE

Aonde

Andará

Orfeu ?

Que denso

Nevoeiro

Entre

Ele e eu!

Algo

Absoluta-

Mente

Grave

Acaso

Aconteceu ?

Que nada!

O Mestre

Resolveu

Dar uma cochilada

E, claro,

Em sonhos

Se perdeu

Nos braços de Eurídice

Via Morfeu!

AULAS DE ORATÓRIA

I

Fincar

A palavra

No ouvinte

(posto não

haver outro

jeito)

como se ela

fosse

uma estaca

dessas que

Van Helsing

Finca

No peito

De Drácula;

Vê-lo

Sangrar;

Vê-lo

Extertorar;

Vê-lo

Expressionar

A dor

E o

Gozo;

Vê-lo

Sofrer

A

Metamorfose,

O fim

Da

Maldição:

Verbo:

Estaca no

Seu

Coração!

II

Para

Tanto

Emitir

A

Sílaba

Como

Se ela,

Súbito,

Se transformasse

Em

Ciclope.

III

Quan-

Do

Convir

Colo-

Rir

A fra-

Se;

IV

E

Ter a

Postura

Da

Sólida

Figura

Cuja

Atitude

Medra

Em

Forma

De

Pedra!

A INTELIGÊNCIA DO BURRO

“Daqui não

Saio, daqui

Ninguém me

Tira”

Modinha

Popular

Reni-

Tência:

Máxi-

Ma

Expres-

São

Da

Inte-

Ligên-

Cia

Do

Burro.

O SOLDADO(QUESTAO DE JUSTIÇA)

O sol-

Dado sonha

Com o soldo

Que lhe deve

Ser dado

Em razão

Não de um

Jogo de dado

Onde se

Contou com a

Sorte;

Mas porque

Ele, soldado,

(dado a

dar-se por

inteiro

a seu ofício)

num momento

difícil,

esbarrou

na

morte!

DEFINIÇÕES

Moscou

Céu de cinza

Chumbo

E chão

Cor da mais

Absoluta

Paz.

São Paulo

Cinza cidade

Sinceridade

Que me

Invade

Plenamente;

Garoa a

Me acariciar

O rosto

Em pleno

Agosto

Mansamente...

Tóquio

Avanço

Dos samurais

Que já não

Precisam mais

Praticar

Harakiri!

Nova Iorque

Cruel

Desespero

No céu;

Fatal

Manhã

Sem

Amanhã;

Tudo

Somado:

Ego

Despedaço.

Nova Delhi

Deus

Passeando

Nos

Ghats,

Vacas

Sagradas

Passeando

Nas

Ruas;

Lindas

Espáduas

Nuas,

Corpos

Esculturais:

Belíssimas

Padmines

Espirituais.

A ALEGRIA DO RIO

O rio

Corre

Como nas

Veias

O sangue;

Como

Caranguejo

No mangue;

Corre

Serpenteia

Como

Rabo

De sereia;

Feliz

Sonoro

Espumante

Como

Festa de

Debutante;

Como

Os dedos

De Miles

Davis

No trompete

Corre

O rio;

Como

Os dedos

De Bill

Haley

No

Topete

A base

De gomalina;

Como

Dos

Olhos

Da menina

Que, enfim,

Conquista

A paz,

A lágrima

Pertinaz.

CAUSA E EFEITO

Dizer a

Palavra

No cume

Da montanha;

Emiti-la

Como quem

Lança

Atleticamente

Uma bola

De aço;

Aguardar

O eco

Que a

Devolverá;

Suportar

O peso

Extraordinário

Do que ela

Trouxer

Consigo.

JENNIFER LOPES

Tão

Linda

Quanto

A Ferrari

Que

Não

Tenho;

Tão

Desejável

Quanto

A

Fortuna

Que

Me

Foge;

Tão

Rica

Quanto

A

Fama

Que

Me

Falta;

Por

Tudo

Isto,

Freqüentadora

Assídua

Da

Cama

Onde

Não

Durmo.

ÍCONE

Um gato

Siamês

Salta

Corajosa-

Mente

Sobre

O abajur

Colocado

No canto

Da sala

E o

Derruba

E quebra;

Felino

Acossado

Lança

Um olhar

Desafiador

Aos presentes

E desaparece

Célere

Causando

Espanto

Tremor

E taquicardia;

E

Se torna

Famoso

Quando

Um poeta

Revolucionário

O celebra

Num livro

Sobre

Ernesto

Che

Guevara

E uma

Tal

Guerra

Ocorrida

No Vietnã!

PROFISSÃO DE FÉ

Que a frase

Inspirada

(súbito relâmpago

que nos

surpreende

de quando em vez)

seja escrita,

abordada,

com a elegância

do cavalheiro

Inglês;

Que nela repouse

Toda a beleza

Do arrebol,

Mas também

A valentia

Do toureiro

Espanhol;

Que transpire

Sensualidade

Paixão e

Nonsense

Particularidades

Do cidadão

Parisiense;

E para que

Não haja

Engano

E dela seja

Expulso

O teor

Do mal,

Que lembre

O Taj Mahal

E a sabedoria

Do homem

Indiano!

O EJACULAR DOS GÊNIOS

Ao que se

Masturba

Que não se

Turbe

Que não se

Perturbe

Seu coração,

Posto

Que a

Mente

Se exercita

Se

Perquire

Se se excita

Em cada

Reflexão;

Mesmo

Porque

Sendo

Tão vasto

E

Tão

Profundo

O problema

Capital

Da

Filosofia,

Há quem se

Masturbe

Noite

E dia

Em busca

De uma

Solução!

Portanto

Alegrai-vos

Oh! Homens

Dedicados

Ao exercício

Cerebral:

Não se

Trata de

Um vício

E é certo

Que não

Faz mal

Pensar

Pensar

E pensar

A exemplo

De Sócrates

E Platão

Que, juntos

Ejaculavam

Idéias

Pra lá

De nobres

Depois

De intensa

Masturbação!

SEM RODEIOS

Tanto ou quanto

Me compete

Aliso;

Tanto ou quanto

For

Preciso

Volteio

E sem

Nenhum

Ciso

Eu meto

A mão

No seio

Generoso

De Gertrudes,

Mulher

Cheia

De viço

E de virtudes

E

Louco

De prazer

Eu mando

A fava

Saber

Se acaso ela

Não

Lava

(tanto ou quanto

lhe compete

lavar)

a íris,

a íris

preclara

no

azul

marinho

do

mar.

PROJETO ARQUITETÔNICO

Abstrair-se

No silêncio

Entre árvores;

Retomar

O caráter

Da personalidade;

Centralizar

Energias divergentes,

Dispersas;

Formar

Alicerce,

Plataforma;

Edificar

Extraordinária mansão

Existencial!

SUPREMA ALEGRIA

Ser maestro,

Mas de palavras...

MEDALHAS DE OURO

Não sei

A quem

Agrado

Ou deixo

De agradar:

Sei que

Me agrido

Se me

Ignoro,

Se choro

Me sentindo

Fracassado

Debruçado

Sobre

A visão

Daquilo

Que

Ainda

Não...

Não sei

A quem

Entristeço

Ou faço

Muito feliz:

Sei que

Me afago

Se me

Reverencio,

Se rio

Se gargalho

Satisfeito

Pra caralho

Tocando

Em tudo

O que já

Debruçado

Sobre

A visão

Daquilo

Que se

Fará!

MESMICE

A nota

Que se

Repete

Me entedia:

Ouvi-la

Assim

Mal rompe

O dia

Mal se dispersa

A madrugada

- que maçada!

Corrói

A alma

Que exulta

E chora

Embriagada

Pelos

Eflúvios

Do poema;

Apaga

A luz

Da inteligência

Que

Recria

O mundo

Em torno;

Acentua

O contorno

Da bestialidade

Suavizado

Pela ternura

Pelo amor...

A nota

Que se

Repete

É um horror!

Uma

Suástica

Selvagem,

Uma parvática

Doutrina

Concebida

Na latrina!

AULAS DE PRUDÊNCIA

Sela

Teus sonhos

Com o selo

Do silencio;

Não os

Traga a público

Em cordial

Vernissage;

Deixa

As passarelas

Para Yves

Saint Laurent:

Como segredo

De Estado

Como paixão

Proibida

Como tudo

Na vida

Que se queira

Incólume;

Como

Elementos

Que devem

Permanecer

Intactos,

Sela

Teus sonhos

( felizes

risonhos!):

vigia

teus

actos!

ARQUÉTIPOS

Não como

Se fora

Um mágico

A retirar

Da cartola

O coelho,

Ou da

Manga

Da casaca

O ás de

Baralho

Para a

Alegria

De todos,

Não!

Mas como

Se fora

Uma fêmea

Na sagrada

Hora

De dar

À luz

Um novo

Ser,

Para a

Alegria

Primeira

Mente

Dela

- isto sim!

Não se

Trata de

Um engodo,

Tripulias

De Mandrake

Revoluções

De araque,

Mas de

Entidades

Legítimas

Forças que

Habitam

A escuridão

Abismal

E que

Anelam

A luz,

Em convulsivas

Revoluções,

Em gritos,

Em contrações:

Parto

Existencial!

AULAS DE FILOSOFIA

Apreender

O pensamento;

Grafá-lo

No branco

Do papel;

Volver

A ele

Para fixá-lo

No branco

Da memória;

Executar

Seus direciona-

Mentos

Para inseri-lo

No contexto

Da história;

No final

De uma vida

Deixar

Para uma

Civilização

Bárbara,

Altamente

Tecnológica,

A fragrância

Do bálsamo

Filosófico,

Que terá

Pensado

Todos os seus

Traumas!

AULAS DE SOBREVIVÊNCIA

A este

Um animal

De tiro,

Um bom

Arado e a

Fidelidade

Das chuvas;

Àquele

Um bisturi,

Um estetos-

Cópio

E um

Paciente

Regular;

Àquele

Outro

Uma toga,

Um tribunal

E um

Réu,

Confesso

Ou não;

E àquele

Ainda

Uma esfero-

Gráfica,

Um guarda-

Napo

De papel

Que se

Encontre

Em torno

- e uma

belíssima

dor de

corno!

ESOTÉRICA

Um menino

Quando

nasce

Traz

desenhado

Nos

contornos

Da face

O

sagrado

Rumo

De sua

Vida?

Revela

Nas linhas

Das mãos

A sua

Particular

História

Que ainda

Será vivida?

A data

O local

Em que

Ocorre

Seu nascimento

São planejados

Pela engenharia

Cósmica

A partir

Da formação

Dos astros?

O número

De letras

Do seu nome

(A soma

Das vogais

E das consoantes)

Definirá

O sucesso

Que o aguarda

Em dias

Do seu porvir?

Ou tudo

O que ele será

E fará,

As nuances

Os matizes

Das suas

Futuras

Atitudes,

São segredos

Contidos

No contexto

Do Odú

Que somente

Opelê

Poderá

Revelar

De acordo

Com Ifá ?

Talvez

Fosse bom

Entender

Que um

Menino

Quando

Nasce

Viverá

A luz

Do carma,

Instruído

Pelo Dharma :

Sim

Ou

Não?

Se tudo

Em

Sua vida

Anteci-

Pada-

Mente

Se

Define,

A ele

Caberá

Apenas

Caminhar?

Ou tudo

Se

Definirá

Suces-

Siva-

Mente

A

Cada

Passo

Que

Der?

Laborará

Em

Confusão

Esse menino

Trans-

Gredindo

O seu

Destino?

E que

Preço

Pagará

Por

Tamanha

Ousadia:

Desconhecer-

Se

Por

Um

Dia,

Por

Um ano,

Sendo

“Sedentarísta”

Quem já

Nasceu

Artista

E cigano,

Por exemplo?

Um menino

Quando

Nasce

Traz

Desenhado

Nos

Contornos

Da face

O

Sagrado

Rumo

De sua

Vida?

Ou as

Tramas

Do destino

(se se

achar

que não

convém)

devem se

quedar

veladas

e não

serem

reveladas

nem

a si

nem

a

ninguém?

ORUNMILÁ IFÁ (CANTO AFRICANO)

Opelê:

Odú !

Opelê:

Odú !

Olorum

Olorum

Babalorixá

Babá

Babalorixá

Babá

Aluô

Axé!

Orun

Aiyê

Orun

Aiyê

Orunmilá

Ifá:

Obará!

Obará!

Egbó:

Ori:

Kaô

Xangô

Oxé ;

Juntó:

aguê

oquê arô!

Ofá

Abebé

Loci

Loci

Logum !

Ipondá

Erinlé

Orun

Aiyê!

Orun

Aiyê!

O MANTRA

Nunca pensei

Que houvesse

Algo a ser dito

Sobre um tal assunto;

Jamais me houvera

Passado pela cabeça

Que fosse tão absolutamente

Relevante!

Para mim

Tão banal quanto

O entediante

Transcorrer das horas...

Mas,

Para ela, no entanto,

A soma de valores e poderes

A força

De um verdadeiro

Mantra

Que se recita

Quando se quer

Brilhar.

VIA CRUCIS

Se assimilo

O açoite

O sangue;

Se introjeto

O profundo

Desafeto;

Se me fixo

Igualmente

No madeiro

E se fico

Impregnado

De calvário;

Se nos dias

Que se arrastam

Introduzo

O signo

Supremo

Da dor,

Então

Terei sido

Suicida

Terei

Rejeitado

A vida

Senhor!

Mas,

Se assimilo

A sinfonia

Se introjeto

Seus compassos

Se me fixo

Nos acordes

Transmutado

Em melodia;

Se nos dias

Que deslizam

Introduzo

As energias

Do mais

Profundo amor

Então,

Terei sido

Otimista

Um maestro

Um artista...

Acusado

Deicida

Terei amado

A vida

Senhor!

DOUBLE FACES

Temos

(via de regra)

duas faces:

uma

a que

mostramos

aos parentes

aos amigos,

tradicional;

e a

outra:

a incompreendida

a pressentida

face

da loucura,

absoluta-

mente

parecida

com

a rosa

verde

que

plantamos

ontem!

DE LEVE...

Carta

De um

Desertor

A seu

Coman-

Dante

Herói

Morto

Na guerra:

Este

covarde

vivo

ainda

pode

escrever

poemas!

DEFINIÇÕES

I

Teu

Beijo:

Uma

Tatuagem

Impressa

Nos meus

Lábios

Num

Delicado

Tom

Carmesim...

II

Tuas

Mãos:

Singelezas

De Ikebana ,

Doçuras

De afagos,

Carícias

De quem

-apaixonada!-

colhe

ao

chão

a rosa

abandonada...

ROMÂNTICA ITALIANA

O quarto

A cama

Nós:

-Eu Paganini.

-Você violino.

PROJETO DE LEI

(ÀS GATAS

NOVA GERAÇÃO

DE MULHERES)

Parágrafo

Único

Revoga-se

Os poemas que

As situem

Amantes em

Alcova de cetim

Sob luzes cálidas

De abajur

Inglês...

Felinas, que

A partir de

De agora os seus

Amores

Sejam celebrados

Por poemas

Que as situem

- Sobre telhas quebradas.

- E raios de luar.

CORDEL

Morena do juazeiro

Deste sertão nordestino

Deste sol quente e dourado

Senhora do meu destino

Das noites, das madrugadas

Nas quais me faço menino

Deitado sobre o teu seio

Sem medo e sem desatino...

Morena dona de casa

Casa de barro e sapé

De frestas pelas paredes

Tão simplesinha ela é

Que a lua – tão carinhosa

Vertendo raios, até

Faz lume sobre o teu rosto

Que, lindo, reflete a fé

Que tens nessa poesia

Da vida vivida assim

Feita de simplicidade

Morena – flor de jardim

Teus olhos de sertaneja

Olhando só para mim

São duas belas estrelas

Que brilham no céu sem fim...

Morena dos lábios doces

Doce doçura sem par

Dos beijos enlouquecidos

Trocados à beira mar

Às vistas dos jangadeiros

Que sempre estão a sonhar

Com lindas, belas sereias

Dormentes no imaginar

Que o mundo, morena linda

É sonho – não pesadelo!

É flor vermelha que cheira

Perfumando o teu cabelo

É desejo de teu corpo

Ao saber que posso tê-lo

Loucamente apaixonado

No mistério do desvelo...

Morena do Juazeiro

Cantiga dos cantadores

Doce musa inspiradora

Dos versos dos trovadores

Vejam quantos que te adoram:

Mais de doze mil amores!

Mas tu és somente minha

Maria Helena das Dores!

A CONSTRUÇÃO DA DEFINITIVA AUSÊNCIA

A ausência

Faz-se construir

A partir de

Silêncios deliberados

Olhares desviados

Dirigidos

A pontos opostos...

Dialoga

Diálogos vazios,

Sendo simples e sórdida

Cruel e piedosa...

Ela deixa

Sobras de comida

No prato,

Acelera ou diminui

O ritmo

Dos relógios,

Esquece

O endereço

Do florista...

Constrói-se

A ausência

Com perfeita

Paciência

Percebida

Ou ignorada

Sendo que, por vezes

Corrói a vida

A ponto de

Dar dó.

Concluída ,

Ei-la de todo

Edificada:

Fazer o quê ?

Nada !

Você está

Definitivamente

Só!

ROSA NEGRA

Tu és o perfume espalhado na cama,

Essência de flores e cores de ébano,

Delícias de praias desertas e sonhos

De búzios da sorte jogados na areia...

Tu és o mistério da África antiga,

Gemidos nas matas de velhos Obís,

Um transe gostoso de embalo sereno,

Um grito de orgasmo perdido na noite...

Tu és um murmúrio no quarto silente,

Sorrisos expressos e preces ocultas

Talvez para Ogum – ou será pra Xangô?

Tu és rosa negra vestida de branco,

Fazendo magias em contas e velas,

Mucama e rainha de babalaôs...

BLACK BLUES

Mulher de pele escura e passos leves,

Em cujo olhar há luz de estrelas tristes,

Em cuja voz um tom bem melancólico

Me faz lembrar um Blues de B.B.King...

Mulher de corpo quente e perfumado,

No qual me deito como se deitasse

Nas praias africanas, nas areias

Queimadas pelo sol oriental...

Mulher de lábios trêmulos e doces,

Que tocam nos meus lábios de poeta,

Com hálito de frutas campesinas...

Mulher, minha mulher – como te adoro!

Em tua voz há solos de anjos negros

E há luz de estrelas tristes nos teus olhos...

OXUM

Nua, linda, na beira desses rios

Em noites de magia, à lua cheia

Oxum mirando as águas se penteia

Em chispas de cabelos luzidios...

E há som de braceletes, de pulseiras,

Essências de mil flores perfumadas,

E Sílfides, Ondinas, lindas Fadas

Que bailam ao luar em brincadeiras...

As águas serpenteiam nessas horas

Em loucas gargalhadas – tão sonoras! –

Depois, é o silêncio de uma prece...

A noite encobre a lua cor de prata,

Os gênios se debandam pela mata:

Envolta em luz Oxum desaparece.

O MENESTREL

Eu fui menestrel em castelos da França,

Em dias remotos que o tempo apagou...

Cantava meus versos às lindas donzelas

Fazendo sucesso nas cortes reais:

Eu fui menestrel em castelos da França...

Chegava montado num belo cavalo

Trazendo a guitarra no alforje de couro,

Nos lábios poemas, canções, serenatas

Nos olhos a luz de esperanças, e sempre

Chegava montado num belo cavalo...

Avante poeta, pedia Luize!

Encanta minh’alma com versos de amor,

Meu peito reclama delícias dos céus,

Nas trovas renovas o meu coração...

Avante poeta! Pedia Luize...

Num canto da sala, escondida de todos,

Eu via Simone de olhares distantes,

Dois lagos serenos de prantos discretos:

Simone sofria de amores perdidos

Num canto da sala, escondida de todos...

E vendo a tristeza das duas donzelas

(As duas carentes do amparo da lira)

Na Sala Real eu cantava diversos

Poemas, sorrindo, brincando, querendo

Findar co’a tristeza das duas donzelas...

O apoio das musas jamais me faltou:

Nas horas de embalo das trovas de luz,

Simone e Luize da dor se esqueciam,

E riam contentes, bailavam até!

O apoio das musas jamais me faltou!

A vida de artista de encantos se faz:

É dono da noite, senhor das estrelas,

Na brisa se perde, no sonho se encontra...

O sol o desperta no seio da amada:

A vida de artista de encanto se faz!

Oh! Céus dessa França tão bela e querida!

Castelos e moças, segredos, canções...

Simone e Luize no quarto comigo

Tão nuas, singelas, rezavam poemas

Aos céus dessa França tão bela e querida...

Eu fui menestrel de mil versos fatais!

FIM

26-04-2004

11-10-2004

ABOUT ADILSON PINTO

I was born in São José dos Campos, São Paulo, Brazil, in 5/4/1959 being, therefore ,of Signo of Aries!

In 1976 I began my career writing texts for friends that studied the University. In 1979 a newspaper of my city publishes with prominence my poem Rotten Bananas. In 1980 a newspaper of my city publishes wiht prominence my poems Nocturne and Sofuco. In 1982 I publish my first book: The Love of the Wild Animal (poems).

In 1980 I publish my second book: Rose Color of Peace (Stories, chronicles and

poems). In 1985 my premiere happens in the theater as writer. In 1986 work as Columnist of the Newspaper Valeparaibano, SJC. In 1987 I am considered one of the best poets of my city. In 1995 I talk in television about literature.

In 1997 I publish my third book: Serenade for Sofia (poems) In 1999 I publish my fourth book: Lamp of the Lord (spiritual poems ). In 2002 I participated of a poetic anthology in Madrid, Spain. In 2002 my literary site was elaborated in Miami, United States, by Symonset Foundation.

In 2002 my poems were presented in Symonset Foundation official site. In 2005 I publish my first digital book (Ebook) Orfeu Cults . In 2006 my poems are published in France with success. In 2006 my articles are published in California, United States, for the www.articlesgratuits.com (Top Writers)