cuidados na infância -...
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ano XV | nº 66 | outubro de 2013 - distribuição gratuita
Seca Núcleo reúne trabalhos sobre o
tema que traz efeitos sociais
mas é pouco estudado
Página 5
CriatividadeLeitura fortalece a potência
que todo ser humano tem
para vencer desafios
Página 11
Pesquisa aponta que ruídossonoros comprometem audição
e aprendizagem escolar
Cuidados na infância
“Poesia”Composição de professor de
Santa Cruz vence Juri Popular no
festival de música da FMU
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Páginas 6 e 7
Por Júnior Marinho
Qual o papel das instituições frente à responsabilidade socioambiental? Como contribuir para
um processo de educação ambiental que integre as organizações e a sociedade? Para respon der a esses anseios, há cerca de dois anos, o Projeto de Extensão “Conhecendo a ETE” é desenvolvido na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Todas as terças e quintasfeiras, por meio de agendamento prévio, as portas da ETE estão abertas à sociedade. O projeto leva grupos para conhecer todas as etapas do tratamento dos 400.000 litros de afluentes sanitários gerados pelo Campus Central e seu reuso, que irriga o campo de futebol da UFRN e parte da vegetação exis tente na própria sede da ETE.
“Inicialmente era para os próprios alunos da Universidade conhecerem a Estação, porque muitos pegam ônibus aqui na frente e não conhecem a ETE”, comenta a técnica em saneamento, Flaviane de Oliveira Silva, responsável por orientar a visita. Flaviane explica que a meta anual é atrair 1000 visitantes, o que levou à divulgação do trabalho em outros estados. “Já vieram alunos da Universidade Federal da Paraíba e da Universidade Federal Rural do Semiárido, de Mossoró. Estamos divulgando, também, nas escolas públicas e privadas”, diz a técnica.
O passeio pela Estação dividese em três etapas: Concepção, que discute o processo de criação da ETE e sua importância ambiental; Operação, em que se visitam todas as etapas do tratamento in loco; e Processos de Tratamento, quan
do se conhe cem as dependências do laboratório de análises.
Para a professora Sarita Silva, técnica em edificações, que levou à Estação de Tratamento onze alunos do Curso de Instalador Hidráulico do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), a visitação é uma oportunidade que agrega conhecimento aos estudantes. “Com a mudança de perfil do mercado, o instalador hidráulico não tem mais só a função de execução. Hoje, é necessário ir além: não apenas fazer a instalação do encanamento e retirar o esgoto do local, mas saber pra onde vai e como se faz o tratamento”, afirma.
De acordo com a orientadora do projeto, Flaviane Silva, grande parte dos visitantes desconhece a importância de ações
que levem a um desenvolvimento sustentável. A orientadora cita como exemplo a surpresa dos participantes do Curso de Ins talador Hidráulico ao saber sobre o reuso da água de esgoto para irrigação.
Ações de educação ambiental despertam nos participantes reflexões acerca da sua realidade cotidiana, como comenta Edson Araújo, aluno do curso do SENAI. “A visita nos dá uma visão de como as águas servidas devem ser tratadas. Em nosso cotidiano, e em nosso trabalho, é importante aprender e disseminar esse conhecimento, incentivando a reutilização da água”, acredita. “O ideal seria que, quando se liberasse uma área para cons trução, fosse pensada conjuntamente uma forma correta de descartar o esgoto”, completa.
HistóricoO projeto Hidráulico Sanitário da ETE
do Campus Universitário foi ela borado em 1979, com o objetivo de a dequar o esgotamento do campus central, substituindo a utilização de fossas sépticas e sumidouros, que poluem o solo e o lençol freático, que abastece a Instituição, por um sistema de caráter sustentável.
A escolha do sistema de estação de tratamento da UFRN baseouse nas seguintes vantagens: pequena área para implantação, fácil operação e manutenção, custo inferior aos sistemas convencionais, elevada eficiência na remoção de Sólidos em Suspensão e DBO (Demanda Biológica ou Bioquímica por Oxigênio), lodo mineralizado que dispensa a digestão anaeróbica.
A ETE opera desde 1983, subordinada à Superintendência de Infraestrutura (SIN) da UFRN, coletando, tratando e dando um destino final a 95% de todos os efluentes do Campus Central.
Além disso, o capim irrigado com a água de esgoto tratada na área da ETE é doado a pequenos agricultores da região.
“A pretensão é tratar 100% dos afluentes do campus central e colocar esse sistema de irrigação em todo o Campus Universitário, irrigando toda a área de jardim com água de esgoto tratada, substituindo, assim, o uso de água potável para essa atividade” conta o engenheiro químico Antônio Hermes Bezerra, 63, coordenador da ETE.
AgendAmentoPara participar do projeto “Conhe
cendo a ETE”, é necessário formar pequenos grupos de 10 a 15 pessoas. A visita deve ser agendada por meio do endereço eletrônico: www.meioambiente.ufrn.br/ete ou pelo telefone (84) 32153368.
Jornal da UFRN
EXPEDIENTEReitora Ângela Maria Paiva CruzVice-reitora Maria de Fátima Freire de Melo XimenesSuperintendente de Comunicação José Zilmar Alves da CostaDiretor da Agência de Comunicação Francisco de Assis Duarte GuimarãesEditora Enoleide FariasJornalistas Antônio Farache, Cledna Bezerra, Enoleide Farias, HellenAlmeida, Juliana Holanda, Luciano Galvão, Marcos Neves Jr., Regina Célia CostaFotógrafos Anastácia Vaz e Wallacy MedeirosRevisoras Regina Célia Costa e Karla Jisanny (bolsista)Foto de capa Wallacy Medeiros
Diagramação Setor de Artes/ComunicaBolsistas de Jornalismo Ana Clara Dantas, Auristela Oliveira, Catarina Freitas, Ingrid Dantas, João Paulo de Lima, Júnior Marinho, Kalianny Bezerra, Rozana Ferreira, Silvia Paulo, Thyara DiasBolsista de Letras Karla JisannyArquivo Fotográfico Saulo Macedo (bolsista)Endereço Campus Universitário - Lagoa Nova, Natal/RN - CEP 59072-970Telefones (84) 3215-3116/3132 - Fax: (84) 3215-3115E-mail [email protected] – Home-page www.ufrn.brImpressão EDUFRN Tiragem 3.000 exemplares
ano XV | nº 66 | outubro de 20132
Visitas à Estação de Tratamento de Esgoto da UFRN despertam consciência ambiental
MEIO AMBIENTE
Projeto leva grupos de visitantes a conhecer etapas do tratamento de afluentes sanitários
anastácia Vaz
Por CEZar BarroS
Revelar e divulgar obras musicais inéditas, compostas por artistas norte riograndenses, promovendo a músi
ca potiguar e valorizando a cultura local. É com esse objetivo que o Festival Música Potiguar Brasileira (FMPB) é promovido anualmente pela Rádio Universitária FM 88,9 (FMU) da Superintendência de Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
O festival, criado em 2011, chegou à terceira edição com a participação de 144 composições que disputaram a premiação. Além da valorização que concede aos artistas e produções o FMPB distribui prêmios em di nheiro às obras escolhidas nas categorias “Musica com letra” e “Música instrumental”, do primeiro ao terceiro lugar. Uma única composição, escolhida pelos ouvintes da emissora recebe o prêmio do Juri Popular, que neste ano ofereceu 40 horas de música em um estúdio profissional de Natal.
A seletiva do festival teve início em maio, quando a Universitária FM lançou o edital, anunciando todo o processo. Durante o período de inscrições, os artistas submeteram à apreciação da comissão julgadora suas canções nas duas categorias. Um grupo de profissionais da área ouviu todas as músicas e escolheu 13, de cada categoria, para serem veiculadas na programação da Universitária FM, para que os ouvintes pudessem escolher a sua preferida, por meio de um sistema na internet. Ao mesmo tempo, os jurados emitiram as notas para cada música classificando as 3 primeiras, também em cada grupo.
O resultado foi anunciado no dia 27 de setembro, em cerimônia de premiação com a presença dos candidatos e transmissão ao vivo pela Universitária FM e pela TV Universitária, diretamente do auditório da Escola de Música da UFRN. O grupo vocal Acorde, abriu as apresentações com um repertório bem humorado, com músicas populares, de variados ritmos musicais como brega, romântico, pop e, até mesmo, funk.
Depois da apresentação do Acorde, teve início a premiação dos primeiros lugares de cada categoria. A cantora Krystal encerrou a festa com uma apresentação que envolveu um repertório popular e agitou o público presente no auditório.
PremiAçãoA música “Poesia” foi a escolhida pelo pú
blico, que votou pela internet. A composição
é do artista Joman Ricardo, graduado em História pela UFRN e professor na cidade de Santa CruzRN, onde mora.
Integrante da Banda de Música Torre de Marfim, ele disse que o resultado dá “uma alegria tremenda, um sentimento de satisfação de ter o trabalho reconhecido, de gratidão também, pelas pessoas que a ouviram e a votaram”.
Joman Ricardo foi premiado com a oportunidade de gravar 40 horas de música em um estúdio profissional de Natal. Nas categorias Música instrumental e Música com letra os campeões de cada categoria receberam o prêmio de três mil reais. Os segundos e terceiros lugares receberam dois mil reais e mil reais, respectivamente.
O primeiro lugar da categoria instrumental foi para o artista e professor Raphael de Almeida, que compôs a música “Chora, Chorão”. Ele disse ser a primeira vez que concorreu em um festival como compositor e que a música surgiu de uma forma irreverente, atendendo a um pedido da diretora da escola na qual trabalha, num dia em que estava desocupado. “O ócio criativo deu no Chora, Chorão”, riu.
O prêmio de vicecampeão foi para o artista Manuel de Azevedo, natural de Santana do Matos, com a canção “Riacho do Cardeiro/Serra de Cajarana”. E o terceiro lugar da categoria foi para o músico Alexandre Atmarama, com a composição “Shant”, que teve inspiração no movimento religioso do qual participa, o Hare Krishna.
Na categoria com letra, o primeiro lugar coube ao compositor Mário Lúcio, com “Toada para Cecília”. Ele disse que fez a música há
13 anos, em homenagem à terceira neta. Para Mário Lúcio, o festival da UFRN se destaca: “de todos os festivais que participo, o mais organizado é este aqui”, elogiou.
“Chicos do Brasil” do artista Stênio Carvalho, integrante do grupo Quarteto Linha, foi a música premiada em segundo lugar. Ele também destaca que “o FMPB é um festival que lança os artistas locais e dá a oportunidade de eles mostrarem o seu trabalho”.
O terceiro lugar foi para o compositor Luiz Renato, com a música “Marchinha pra Tita” que se disse surpreso com a premiação, pois faz música muito mais por diversão mesmo.
o FestiVALPara o Superintendente de Comunicação
da UFRN, professor José Zilmar da Costa, o FMPB “é mais uma contribuição que a Universidade vem oferecer para a classe artística e para a sociedade, no sentido de promover a música, favorecendo a cultura potiguar que sempre foi muito carente de apoio”.
A reitora da UFRN, Ângela Paiva Cruz, reforça as palavras do superintendente, e afirma que “O FMPB representa mais um esforço da Universidade no sentido de valorizar e propiciar apoio à produção cultural de nosso estado. Os músicos têm essa oportunidade de divulgar o trabalho que fazem. E essas pessoas, certamente, a partir de um prêmio como esse, vão ter outra visibilidade. É uma realização muito importante do ponto de vista da interação e da participação da UFRN na cultura do estado”, avaliou a reitora.
Segundo o diretor da Universitária FM, o festival já é um marco no calendário anual da rádio. “Desde o primeiro, a procura e o interesse dos nossos músicos locais foi crescendo. O salto de qualidade dos concorrentes também está avançando e isso é bom para a cultura local”, destacou o diretor.
Um dos parceiros do festival foi o Núcleo de Arte e Cultura (NAC) da UFRN. “O FMPB tem uma importância enorme, sobretudo, porque oportuniza a participação de muitos músicos que estão na cena cultural do estado e nem sempre têm oportunidade de mostrar o seu trabalho. No festival, eles podem fazer isso”, ressaltou a diretora do NAC, Teodora Alves.
A avaliação feita pela coordenação do festival é positiva. Segundo o Chefe de Produção da Universitária FM, Rodrigo Santos, que presidiu a Comissão Organizadora do Festival, o evento atingiu os objetivos com êxito. Para ele, agora “fica o desafio, para o próximo ano, de fazer uma festa cada vez melhor e mais bonita”, prenunciou o coordenador.
Canções locais são destaqueem festival da Rádio Universitária FM
MÚSICA
ano XV | nº 66 | outubro de 20133Jornal da UFRN
Cantora Krystal: repertório popular parao público presente
Fotos: Wallacy Medeiros
raphael de almeida, 1º lugar da categoria instrumental com “Chora, Chorão”
Joman ricardo, autor de “Poesia”, vencedorado juri popular
Mário Lúcio, vencedor da categoria comletra - “Toada para Cecília”
Grupo acorde abriu as apresentações
Jornal da UFRN
NOTASAniversárioa direção do CErES Caicó abre oficialmente no dia 29 de novembro, as comemorações dos 40 anos da presença da UFrn no município e na região do Seridó com a inauguração do auditório do CErES. Pessoas que contribuíram para o fortalecimento da instituição serão homenageadas. os festejos se estendem até março de 2014, culminando com o V Seminário de Ensino Pesquisa e Extensão do CErES (SEPE). Conferênciaa Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí (FaCiSa) realiza a i Conferência regional de Saúde ambiental e do Trabalhador, de 27 a 29 de novembro, em Santa Cruz. informações: www.mundouf.wix.com/facisa ou pelo telefone: 3291-2411.
Culturala música “Fantasia”, dos compositores Wagner de Paula e Chico de Paula, de Sorocaba (SP), foi a vencedora do Concurso Cultural de Música Popular “Teu Sonho não acabou”, em homenagem ao cantor e compositor Taiguara. a música será gravada no CD que vai receber o título “Um Canto para Taiguara”. o projeto é uma promoção da ProEX, com coordenação da professora Tânia regina Barbosa de oliveira. Fotografiaas inscrições do concurso fotográfico “acessibilidade e respeito. Eu posso. Você deixa?” foram prorrogadas até o dia 18 de novembro. Podem participar fotógrafos amadores e profissionais. não é necessário pagar taxa de inscrição. as fotografias devem ser entregues na sede da CaEnE. informações: 3342.2501.
ENADEa prova do Exame nacional de Desempenho dos Estudantes (EnaDE) será aplicada no dia 24 de novembro, às 13h, no horário de Brasília (12h - horário local, em razão do horário de Verão). Concluintes de várias graduações da UFrn participam do exame que tem por objetivo avaliar o rendimento dos estudantes.
CorreçãoNa edição passada, de setembro, a matéria “Cientista aponta construção de reator RMB como um dos grandes projetos do país”, publicada à página 10, saiu como sendo de autoria de Thaisa Mendonça/Enoleide Farias. Na verdade, a matéria é do jornalista Erik de Oliveira.
Por João PaULo DE LiMa
Melhorar a qualidade de vida dos idosos que fazem parte do Lar do Ancião Evangélico, por meio da
utilização de técnicas da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), é o principal objetivo do projeto “Terapias Orientais no Lar do Ancião Evangélico (LAE)”, coordenado pela professora Lúcia de Fátima Amorim, do Departamento de Biofísica e Farmacologia do Centro de Biociências (CB) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
A iniciativa visa à aplicação dos conhecimentos do conjunto de práticas de medicina tradicional em uso na China, buscando proporcionar melhores condições ao dia a dia dos idosos do LAE, por meio do uso de métodos, como a reflexologia (massagem nos pontos reflexos dos pés e mãos), shiatsu (massagens), moxabustão (queima de ervas nos pontos de acupuntura) e acupressura (pressão nos pontos de acupuntura).
Com a crescente demanda pelo atendimento de outras áreas no LAE, Lúcia Amorim tem iniciado um projeto multidisciplinar, que contempla as áreas de Comunicação, Nutrição, Fonoaudiologia, Enfermagem e Fisioterapia. “A participação dos acadêmicos nesse projeto de extensão é de grande importância porque proporciona uma vivência do conteúdo trabalhado na sala de aula e o retorno para a população, além de oportunizar o exercício da cidadania, levandoos à percepção do seu papel de agente social em sua área de atuação profissional”, explica.
sobre A mtcCaraterizada pelo conhecimento teóri
co, sistemático e abrangente e de natureza filosófica, a Medicina Tradicional Chinesa inclui entre seus princípios: o estudo da relação de yin/yang, da teoria dos cinco elementos e do sistema de circulação da energia pelos meridianos do corpo humano. As técnicas aplicadas na MTC tem como base o conceito das leis fundamentais que gerem o funcionamento do organismo humano e sua interação com o ambiente, segundo os ciclos da natureza, procurando aplicar esta compreensão tanto ao tratamento das doenças, quanto à manutenção da saúde. As terapias da MTC atuam preservando e regulando os sistemas internos, melhorando a qualidade de vida dos indivíduos e prevenindo doenças. Essas técnicas são bastante indicadas às pessoas da terceira
idade pelos benefícios relatados. Os alunos envolvidos no projeto, obri
gatoriamente, têm que cursar as disciplinas de Fundamentos da Acupuntura e Acupuntura Avançada e Terapias Alternativas e, também, participam de cursos de capacitação com técnicas da MTC, que funcionam como uma forma de habilitar os discentes para o atendimento adequado aos idosos.
Segundo a professora Lúcia Amorim, a MTC não tem contraindicação e proporciona resultados imediatos e eficazes em seus tratamentos, além de não ter custos altos para utilização. Entre os resultados mais observados nos idosos atendidos com as terapias orientais no LAE está a melhoria no sono, dos sintomas de depressão, da disposição e das dores de uma maneira geral.
Medicina Tradicional Chinesa ajuda idososa melhorar a qualidade de vida
TERAPIA ALTERNATIVA
Divulgação
resultados: melhoria do sono, da depressão e das dores em geral
o LaE é uma entidade filantrópica com mais de 20 anos de atuação. Fica localizado no conjunto Pirangi, zona sul de natal-rn, e tem capacidade para 40 pessoas, abrigando atualmente 36 idosos. os anciãos, a partir dos 60 anos, são levados ao local pela família ou encaminhados pelo SoS idoso, onde uma triagem é feita e há um período de três meses de adaptação. Muitos dos internos têm problemas de saúde, como mal de Parkinson, de alzheimer, hipertensão, diabetes e problemas de visão. no abrigo, os idosos são tratados por uma equipe multiprofissional que inclui cuidadoras, profissionais da área de enfermagem, nutricionista, assistente social, entre outros profissionais.
ano XV | nº 66 | outubro de 20134Jornal da UFRN
Por JULiana hoLanDa
“Não restará uma única joia na Coroa, mas nenhum nordestino morrerá de fome”, afir
mou o imperador Dom Pedro II no século XIX. A frase foi cunhada após o período que ficou conhecido como “A Grande Seca” (1877 1879), responsável pela morte de 600 mil pessoas no Nordeste do Brasil. A declaração do imperador, no entanto, não seria suficiente para resolver o problema em anos futuros.
Com relatos desde o século XVI, o fenômeno continua atingindo a região: em 2013, a estiagem foi considerada a pior dos últimos 50 anos, gerando estragos na economia do país e na vida de milhares de pessoas.
Apesar da problemática ter um desdobramento em áreas sociais, econômicas e políticas, “o tema é pouco estudado”, ressalta a diretora do Núcleo Temático da Seca e do Semiárido (NUTSeca), Mônica Marques Carvalho, que coordena o setor desde 2007, com o auxílio da vicediretora Renata Passos Filgueira de Carvalho.
Criado em 1992, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o NUTSeca foi uma iniciativa pioneira no Nordeste e reúne características de biblioteca, de acervo e de museu, além de trabalhar com arquivos tridimensionais e digitalização de informações.
Mônica Carvalho explica que praticamente inexistem centros de documentação em universidades federais que se dediquem a disseminar e guardar informação sobre a temática. “Nós somos um
dos poucos núcleos que se dedicam ao tema no país. O impacto é muito positivo para o Rio Grande do Norte porque nós promovemos a socialização de informações sobre a seca e isso pode gerar ideias mais bem elaboradas para combater o problema”, analisa.
As pesquisas que deram origem ao Núcleo começaram a ser realizadas na década de 1980. Após mais de trinta anos de coleta e produção de dados, hoje o NUTSeca possui o maior acervo do Norte e do Nordeste sobre seca, semiárido e assuntos afins.
digitALizAçãoLocalizado no Centro de Convivência
do campus central da UFRN, o Núcleo é
um local de consulta para estudantes, pesquisadores e interessados no tema. “Todo o acervo fica disponível para o público”, informa a diretora.
Para ampliar o acesso, o material está sendo digitalizado. O processo teve início em 2007, quando foi criado o laboratório de Tecnologia da Informação do Núcleo, após parceria com a Agência Brasileira de Inovação (FINEP). Cerca de 30% de todo o acervo já está disponível para pesquisa online no site do NUTSeca (www.nutseca.ufrn.br).
Dois projetos receberam financiamento do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), um deles sobre a Carnaúba, árvore característica do semiárido. O BNB identificou
que o NUTSeca possui o maior arquivo do país sobre a planta e, há um ano, o Núcleo organiza e digitaliza informações específicas sobre a árvore. “Foi um reconhecimento importante para a UFRN e, em breve, todo o material referente à Carnaúba estará disponível em nosso site”, explica Mônica Carvalho.
A digitalização do acervo é realizada de forma especial: a equipe trabalha com a “indexação” das palavras, método que facilita a recuperação de dados no futuro. “É um trabalho mais minucioso”, destaca a diretora.
AcerVoPioneira na região em formar um
centro de documentação sobre a seca, a UFRN possui um arquivo diversificado. São livros, artigos de periódicos, fotografias, dissertações, DVDs, fitas cassete, fitas de vídeo, mapas, cera e papel de Carnaúba e uma coleção de peixes da Lagoa do Piató, localizada no Vale do Assu.
Além dos dados sobre a seca no Brasil e no Rio Grande do Norte, há uma seção sobre estudiosos do tema e outra com tudo o que é publicado na mídia sobre o assunto. “A Hemeroteca da Seca mostra um panorama nacional e internacional”, explica o pesquisador do Núcleo, Márcio Carvalho de Brito.
O NUTSeca está aberto das 8h às 18h, de segunda a sextafeira. Não é necessário agendar a ida ao local, mas quem quiser adiantar a pesquisa pode ligar antes da visita para o número (84) 32153462, indicando o tema de interesse para que a equipe separe o material antecipadamente. O arquivo físico pode ser copiado e quem utilizar o acervo digital pode guardar as informações em dispositivos móveis.
ano XV | nº 66 | outubro de 20135Jornal da UFRN
NUT-SECA
Núcleo da UFRN guarda maior acervo do Norte e do Nordeste sobre a seca
Mônica Marques Carvalho - a seca é uma temática pouco estudada
Fotos: anastácia Vaz
Para ampliar acesso, acervo do nUT-Seca está sendo digitalizado
Por inGriD DanTaS
É comum haver muito barulho nos locais onde há muitas crianças. Também é comum, ao se analisar mais
detalhadamente esses ambientes, verificar que o excesso de ruído pode causar prejuízo à saúde e ao aprendizado delas.
“A criança é prejudicada por causa do ambiente auditivo muito hostil”. A afirmação é da professora do Departamento de Fonoaudiologia (DEPFONO) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Joseli Soares Brazorotto, e diz respeito aos vários ambientes em que é exposta, particularmente, ao ambiente escolar.
Para tentar identificar problemas que atingem as crianças em fase escolar o DEPFONO colocou em prática uma pesquisa denominada Programa de Saúde Auditiva do Escolar: etapa de identificação, diagnóstico e acompanhamento, coordenado pela professora Sheila Andreoli Balen. Segundo ela, como não há um procedimento padrão a ser aplicado em todo o Brasil, o projeto também objetiva criar um protocolo eficaz e de fácil aplicação para tal finalidade.
Para tanto, a equipe desenvolveu e está testando o Sistema de Triagem Auditiva em Crianças (SISTAC), um programa desenvolvido para iPad, que permite uma avaliação mais rápida e com baixo custo.
Em geral, os testes de audição são realizados por meio de audiômetro, equipamento que pode custar até R$ 20 mil a unidade, o que, segundo os pesquisadores, torna inviável disponibilizar para cada escola ou grupo de pesquisa.
O professor Selan Rodrigues dos Santos, do Departamento de Informática e Matemática Aplicada (DIMAP), coorde
nador da equipe que desenvolveu o SISTAC, diz que pretende adaptar a plataforma para que funcione em qualquer tablet e não só no iPad. Segundo explicou, se o programa mostrar que é tão eficaz quanto o audiômetro, os custos serão reduzidos.
sistAcO aplicativo desenvolvido pela equipe
de pesquisadores, o SISTAC, permite uma avaliação audiológica nas crianças da Escola Juvenal Lamartine de forma lúdica e interativa. Durante o exame, o aplicativo em forma de vídeo conta a história de um tatu chamado Bolota, sua família e seus amigos. Bolota precisa recolher pedaços de sua armadura para poder andar no subsolo.
Antes de o tatu seguir seu destino, o
Para a professora Joseli Soares Brazorotto, do Departamento de Fonoaudiologia, ambiente auditivo hostil prejudica as crianças
ano XV | nº 66 | outubro de 20136Jornal da UFRN
SAÚDE
Fotos: Wallacy Medeiros
Testes auditivos com alunos da Escola Juvenal Lamartine
aplicativo SiSTaC: exemplo de medicina lúdica e interativa
Pesquisa estuda como os ruídos comprometem audição e aprendizado na infância
7Jornal da UFRN ano XV | nº 66 | outubro de 2013
sistema emite pequenos sons, em diferentes frequências, para que a criança identifique a presença ou ausência deles. Desta forma, todos os comandos são ativados por ela, tornando o procedimento divertido e mais parecido com um jogo, com uma brincadeira.
Ao iniciar o procedimento, o pai do Bolota aparece na tela e conversa com a criança, explicando como tudo vai funcionar. Ao final, dois tatus aparecem e a escolha é feita quanto à escuta do som: se ouviu alguma coisa o aluno aperta no tatu que faz gesto afirmativo com a cabeça, se não ouviu, toca no que faz gesto negativo.
Atendimento juntoà rede municiPALDesenvolvido junto à Escola Munici
pal Juvenal Lamartine, em Natal, o Programa de Saúde Auditiva do Escolar: etapa de identificação, diagnóstico e acompanhamento, avalia a acuidade auditiva das crianças desde 2011, quando passou a funcionar como polo de pesquisa e aplicação de diferentes procedimentos, num mesmo grupo de alunos, para testar os que são mais eficazes. “O intuito é desenvolver um procedimento de triagem auditiva para o escolar que possa se adequar ao programa Saúde do Escolar, proposto pelo Ministério da Saúde em parceria com o Ministério da Educação”, diz a professora Sheila Andreoli Balen .
Para que o SISTAC seja considerado eficaz, o projeto precisa aplicar outros ti
pos de sistemas de triagem auditiva, de modo que possa comparar os resultados obtidos nos procedimentos convencionais com os do novo sistema. Durante a avaliação são aplicados, além do SISTAC, os seguintes protocolos: Emissões Otoacústicas, Audiometria Pediátrica, Questionário, Imitância Acústica, Audiometria Tonal e Logoaudiometria.
Os resultados obtidos no ano passado mostram que das 70 crianças avaliadas na escola, 24,28% apresentaram alterações auditivas. O percentual é quase o dobro da média dos estudos nacionais, que é de 14%. Segundo a professora Sheila Andreoli, a maior parte das alterações registradas são decorrentes de infecção no ouvido, o que poderia ser tratada facilmente, se detectado de forma precoce.
Para a professora do DEPFONO Joseli Brazorotto, os altos níveis de ruído no ambiente escolar podem causar danos muitas vezes irreversíveis. “Mesmo que a exposição seja temporária já causa prejuízo para a aquisição da linguagem da criança, porque por um período, mesmo que seja curto, ela não vai ouvir”, diz. Além dos riscos para perda de audição, o ruído pode causar prejuízo na fala e na aprendizagem.
A triagem é aplicada em crianças assintomáticas e feita de forma a identificar as perdas leves ou moderadas, pois são mais difíceis de detectar. Teoricamente, as severas e profundas são identificadas mais rapidamente devido aos sintomas serem mais visíveis – como falta de atenção e
de resposta a estímulos básicos, como responder quando chamado pelo nome.
Todos os alunos avaliados são encaminhados para tratamento adequado com profissionais de Fonoaudiologia e Otorrinolaringologia, de acordo com a necessidade verificada.
Além da avaliação audiológica realizada nas crianças, a equipe também analisa as condições ambientais e os níveis de barulho presente dentro das salas de aula. A estrutura e localização da escola podem contribuir para o aumento do nível de ruído interno, interferindo na atenção e na aprendizagem, além de prejudicar a audição dos alunos e a voz dos professores.
A professora Joseli Brazorotto explica que todos os fatores ruidosos acarretam um efeito cascata que foge ao controle. O ambiente desfavorável acusticamente leva o aluno ao stress e a não prestar atenção, e leva o professor a falar mais alto pra se fazer escutar, o que pode gerar problemas com a voz.
interdisciPLinAridAdeA diversidade de abordagens do proje
to Programa de Saúde Auditiva do Escolar implica num trabalho coletivo que conta com o trabalho e colaboração de pesquisadores e alunos de diversas áreas. A parceria para desenvolvimento das atividades envolve o DEPFONO, DIMAP, Programa de PósGraduação em Sistema e Computação (PPGSC), Instituto do Cérebro (ICe) e Departamento de Artes (DEART).
Tudo começa com a análise sócioeconômica. Para compreender melhor a realidade das crianças e das famílias que participam do projeto, a equipe aplica um questionário junto aos pais, onde obtêm informações que vão desde a renda familiar até a percepção ou não de que a criança apresenta dificuldades auditivas. Os pais também preenchem uma ficha e assinam um termo de consentimento, autorizando os filhos a fazerem os testes.
Após o consentimento dos pais, o primeiro exame realizado nas crianças é a otoscopia. No projeto, a responsável por realizar esse procedimento é a estudante do 8º período de Medicina Acynelly Dafne da Silva Nunes. A função desse exame é verificar o conduto auditivo, avaliando a integridade da membrana e perviabilidade do canal auditivo. “Hoje, a gente viu uma criança com um corpo estranho no ouvido. Isso não é coisa que geralmente chega no hospital pra gente ver, porque isso é resolvido em outros níveis. Então é sempre uma experiência nova”, conclui a estudante.
Acynelly Nunes diz que a experiência de participar do projeto é muito especial e gratificante, pois além de contribuir com as pesquisas através do atendimento às crianças, ela pode crescer em sua formação. “Hoje é muito importante essa questão da interdisciplinaridade, das diferentes profissões saberem conviver entre si e cada um respeitar o seu espaço e as suas competências. Todo mundo se unir pra fazer o seu melhor e ajudar o paciente”, afirma.
Por LUCiano GaLVão
“Nenhuma ciência sozinha é competente para tratar de algo tão complexo”. É ao fenômeno
dos desastres que se refere, sem hesitar, o professor Pitágoras Bindé, docente do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). “Isolados, os saberes não fazem nada para resolver o problema”, assegura.
Cientes da questão, pesquisadores da Universidade querem propor a criação do Centro de Estudos e Pesquisas sobre Desastres (CEPED), projeto que pretende reunir cientistas de diversas áreas do conhecimento para desenvolver investigações sobre a temática na UFRN, assim como oferecer suporte técnico às instituições públicas que atuam em situações de catástrofes, como a Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros e o Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).
Coordenador da iniciativa e professor do Departamento de Geografia, Lutiane Almeida explica que o projeto tem sido conversado com a Reitoria e as defesas civis Estadual e Nacional. A ideia é estabelecer um convênio de cooperação entre a Universidade e os serviços de emergência. O acordo formal deve ser firmado durante o 1º Seminário Multidisciplinar sobre Desastres, a ser realizado nos dias 4 e 5 de novembro deste ano.
Desde 2011, Lutiane coordena na UFRN o Grupo de Pesquisa Dinâmicas Ambientais, Riscos e Ordenamento Territorial (GEORISCO), no qual são desenvolvidos estudos que examinam as relações entre a transformação do ambiente e as fragilidades sociais no Rio Grande do Norte. O mapeamento das regiões vulneráveis de Natal e a proposta de instalação de um sistema de alerta de risco na cidade são exemplos de análises conduzidas dentro do Grupo.
As pesquisas se dispõem a avaliar perigos para comunidades, apontar onde há ocorrência dos fenômenos e relacionálos com fatores sociais e naturais. “Os primeiros resultados de um de nossos estudos in
dicam que há coincidência entre os desastres e áreas com falta de serviços urbanos”, relata Lutiane.
interdisciPLinAridAdeNo Rio Grande do Norte são registra
dos variados tipos de riscos naturais: afogamentos nas praias do litoral, deslizamento de barreiras, escorregamento de dunas, terremotos na região da Baixa Verde, inundações no Vale do Assu e a estiagem na região semiárida são exemplos. Há também perigos provocados pela ação humana, como os decorrentes do trânsito e das grandes aglomerações de pessoas, sobretudo na capital.
A necessidade de interação entre os saberes para abordar tema tão amplo é consenso entre os professores. “Quando a gente fala de risco, estamos falando de interdisciplinaridade”, afirma Ermínio Fernandes, do Departamento de Geografia. “As áreas têm que sentar juntas, entender o fenômeno e buscar possíveis soluções. Não tem como ser diferente”, sustenta o docente, que também colabora com o GEORISCO.
Ermínio explica que sua contribuição para as pesquisas sobre catástrofes é entender o fenômeno do ponto de vista técnico, ao examinar as características físicas do solo. “Estudamos questões como ‘que parâmetros uma duna tem que ter para começar a escorregar’, ‘qual a carga que ela suporta de peso’ ou ‘quanto tempo leva para deslocarse’”, exemplifica.
Segundo o professor, a Geografia tem participação relevante no estudo dos perigos por observar os mecanismos da natureza e, ao mesmo tempo, oferecer respostas às fragilidades sociais nas comunidades. “Nossa disciplina é um leque de contribuições porque tem um grande arcabouço teóricometodológico de pesquisa nesses temas. Agora, claro que a gente não é suficiente”, ressalva.
Para Ermínio, a Universidade deve sempre manter contato com entidades públicas que atuem em situações de desastres. “Elas precisam saber quais são as áreas vulneráveis e quais os riscos que cada uma apresenta. Alguns lugares carecem de estudos mais detalhados, tanto do ponto de vista socioam
biental quanto geomorfológico, para dar base ao trabalho dos órgãos responsáveis”, diz.
serViços de emergênciA
Ricardo Matos, do Departamento de Engenharia de Produção, aponta para outro aspecto do problema. O professor explica que embora haja alguma interlocução entre os sistemas públicos de resposta a emergências, as atividades poderiam ser mais bem organizadas.
“Os serviços de emergência no País precisam de um trabalho de aglutinação, um trabalho coordenado”, defende. “É importante definir quais os limites de atuação de cada um e de que maneira eles podem atuar juntos, inclusive fazendo treinamentos de ação mútua para cenários determinados”, afirma Ricardo.
De acordo com o pesquisador, desastres são fenômenos complexos, que precisam de uma abordagem conjunta para serem compreendidos. “É algo que não cabe em uma única disciplina e que diz respeito a todo cidadão. Por isso nossa proposta é reunir pessoas interessadas em desencadear investigações sobre o assunto”, pontua.
O docente entende que é necessário promover uma “maturidade” nas organizações de maneira que elas possam dar respostas eficientes às situações críticas. Formas de trabalhar em equipe, ferramentas que facilitem o raciocínio dos atores envolvidos e processos que diminuam a fadiga e os erros são exemplos de elementos a serem estudados.
Ricardo lembra que a colaboração da Universidade não deve resumirse à pesquisa. “Esse Centro de Estudos terá também o papel de desenvolver atividades de extensão junto à sociedade e formar pessoas para atuar na área de desastres”, diz.
PessoAsPitágoras Bindé, do Departamento de
Psicologia, explica que sua área preocupase com o componente humano das catástrofes, ao ocuparse de vítimas e coautores dos acontecimentos extremos, além de pessoas que atuem diretamente com os riscos.
O professor esclarece que a contribuição da Psicologia acontece em três momentos: na prevenção dos desastres, no combate ao problema e na reparação de possíveis danos psicológicos ocasionados pelos eventos.
Como exemplo de trabalho desenvolvido, Pitágoras cita a avaliação de planos de evacuação, quando pesquisadores confrontam os perfis de comportamentos previstos nos documentos com relatos e gravações de casos reais.
Segundo o docente, projetos de emergência normalmente presumem que as pessoas irão agir de um modo determinado nos momentos de perigo, mas nem sempre esses comportamentos se confirmarão. “Se você pegar qualquer plano desses, a primeira diretriz é ‘não entre em pânico’. Mas o que a gente verifica, na prática, é exatamente o contrário”, relata.
Sobre o CEPED, Pitágoras vê na iniciativa a adoção, pela UFRN, de um compromisso institucional. “Queremos que o esforço deixe de ser dos professores individualmente e a Universidade, como instituição, passe a desenvolver estudos e a disponibilizar pessoas de todas as áreas para ajudar nas atividades dos órgãos públicos”, ressalta o professor.
PREVENÇÃO
ano XV | nº 66 | outubro de 20138Jornal da UFRN
“a ideia é estabelecer um convênio de
cooperação entre a Universidade
e os serviços de emergência“
Lutiane AlmeidaCoordenador do
GEORISCOW
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Pesquisadores articulam criação de centro de estudos interdisciplinar sobre desastres
Por JULiana hoLanDa
Uma crise de apendicite levou Antônio Luiz Dantas, de 11 anos, ao hospital. Um dia após passar pela
cirurgia de remoção do apêndice, o garoto estava se divertindo na brinquedoteca do local. “Estou gostando daqui porque posso brincar. Na cama eu iria ficar só sentindo dor. Agora já parou de doer”, contou Antônio sorrindo, enquanto ganhava uma partida de um jogo de tabuleiro.
Preocupados com a recuperação do garoto, os pais acompanhavam o filho de perto. “Só o fato de poder sair da enfermaria e vir brincar já mudou o ânimo dele. Ele estava inquieto e com dor e agora está mais tranquilo. Acho que esqueceu um pouco de onde está”, afirmou o pai da criança, Ivan Dantas de Souza.
A brinquedoteca funciona no centro onde estão localizados o Hospital Regional Dr. Mariano Coelho, a Fundação Hospitalar Padre João Maria e a Maternidade Ananília Regina, em Currais Novos. O local é um núcleo de referência regional e atende a pacientes de todo o Seridó.
Chefe do serviço de humanização do complexo hospitalar, Benigna da Silva
explica que o espaço estava fechado por falta de profissionais, mas foi reaberto em 2012, por meio de uma parceria com o curso de Turismo do Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES) de Currais Novos, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Tornar a brinquedoteca ativa era um antigo sonho dos funcionários do hospital. “É visível o efeito que esse espaço tem no tratamento das crianças. Elas ficam mais abertas às terapias e a recuperação é mais rápida”, avalia Benigna da Silva.
Coordenadora da inciativa, a professora do CERES Currais Novos, Josemery Araújo Alves enfatiza o aspecto social do projeto Os Turismólogos e as Atividades de Lazer no âmbito da Brinquedoteca Hospitalar. “Proporcionamos a prática para os alunos e, também, incentivamos o contato com ações sociais, ajudando na recuperação de crianças. A experiência está sendo rica para todos”, analisa a coordenadora.
A brinquedoteca funciona todos os dias da semana com alunos voluntários e bolsistas do curso de Turismo do CERES Currais Novos. A cada ano, cerca de 30 estudantes participam de um curso de capacitação de brinquedistas em ambientes hospitalares, promovido pela própria Universidade. A partir da formação, eles se tornam voluntários do projeto, que também funciona como experiência profissional na área de recreação.
“Alguns alunos gostam tanto das atividades que não querem parar de ajudar”,
ressalta Josemery Alves. É o caso da estudante Karine Álvares da Silva. Há
um ano no projeto, a aluna entrou como voluntária, agora é bolsista
e diz que pretende permanecer
até terminar a graduação.Karine explica os cuidados que os
brinquedistas têm no hospital. De início, vêem quantas crianças estão internadas, abordam cada uma nos leitos e verificam se podem ir para o espaço brincar. Os voluntários fazem a higienização dos brinquedos e das mãos dos pequenos, participam das brincadeiras e os levam de volta ao leito, fazendo nova higienização do material utilizado antes de guardálo. “Em alguns casos, os que não podem ir até à brinquedoteca são atendidos na própria enfermaria”, destaca Karine Silva.
A futura turismóloga diz se sentir feliz por participar de um projeto que contribui diretamente na recuperação das crianças. “É muito gratificante poder ajudar alguém”, ressalta Karine.
Entusiasmada com os resultados obtidos pela brinquedoteca, a coordenadora Josemery Alves espera que a iniciativa estimule outros hospitais a adotar a ideia, ampliando o campo de atuação profissional dos turismólogos.
doAçõesAlém do trabalho com as crianças no
hospital, a equipe de voluntários também realiza campanhas de arrecadação de brinquedos. As datas principais de doação são o Dia das Crianças e o Natal, mas os donativos podem ser entregues em qualquer época do ano.
“Quando a gente começou o trabalho, o espaço estava muito defasado e os brinquedos não atendiam às exigências de um ambiente hospitalar”, relembra Josemery Alves. Os moradores de Currais Novos responderam às solicitações do grupo e contribuíram formando o estoque atual.
A professora explica que a defasagem ainda é grande porque o uso dos brinquedos é intenso, fazendo com que eles precisem ser renovados constantemente. “Às vezes, a criança está tão triste que deixamos que ela vá com o brinquedo para o quarto e, nesse processo, alguns acabam levando as peças para casa. Por isso estamos sempre em campanha”, relata.
Quem tiver interesse em ajudar o projeto pode doar brinquedos diretamente para o hospital de Currais Novos ou entrar em contato com a coordenadora pelo email: [email protected].
Brinquedoteca auxilia recuperação de crianças em complexo hospitalar de Currais Novos
INTERIOR
ano XV | nº 66 | outubro de 20139Jornal da UFRN
Professora Josemery alves espera que a iniciativa inspire outros hospitais
Fotos: Wallacy Medeiros
Pacientes que não podem ir à Brinquedoteca são atendidos nas enfermarias
ano XV | nº 66 | outubro de 201310Jornal da UFRN
Por EMiLi a. roSSETTi
Ver o que não está lá, ouvir uma voz que ninguém emitiu, entrar numa história impossível sem perceber
que não pode ser verdade: talvez esse seja um caso de alucinação, ou, se estivermos dormindo, um sonho. Essas características são ainda mais presentes durante os pesadelos, quando as histórias são até mais improváveis e, mesmo assim, não nos damos conta de que é apenas imaginação.
Mas há uma exceção para essa fuga da realidade: os sonhos lúcidos, também
conhecidos no meio científico pela sigla SL. O
sonho lúcido
ocorre quando a pessoa que dorme percebe que não está acordada. Sérgio Arturo Rolim, médico do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), estuda o sono há cerca de 13 anos, e desde 2007 pesquisa esse “tipo especial de sonho”.
Os primeiros resultados apontam para aplicações clínicas do trabalho, o que poderá auxiliar no tratamento de pessoas com pesadelos recorrentes. O problema é comum em pacientes com depressão grave, esquizofrenia, surtos psicóticos ou que estejam sob grande estresse póstraumático. Isso porque “o sonho lúcido é o contrário da psicose: esta é patológica e o sonho lúcido é fisiológico. É como um acordar no sonho, enquanto a psicose é um sonho durante a vigília”, explica Rolim.
Sem sucesso na indução de SL em voluntários psicologicamente saudáveis, que era seu primeiro objetivo de pesquisa, o
médico passou a observar a atividade cerebral de pessoas que os têm com maior frequência. Para isso, foi utilizado o método de Laberge, no qual uma espécie de touca com eletrodos superficiais é utilizada por voluntários, que sinalizam com o movimento dos olhos quando entram em sonho lúcido e, assim, as ondas cerebrais emitidas durante o SL são comparadas àquelas de antes e depois do evento.
“O sonho acontece durante o sono REM (sigla inglesa para Movimento Rápido dos Olhos), fase de relaxamento dos músculos”, explica o neurocientista sobre o método. Se os músculos não perdessem o tônus, nos mexeríamos conforme o que
estivéssemos sonhando, já que estaríamos mentalmente vi
venciando os fatos. “Mas os músculos dos olhos não re
laxam”, continua o médico, o que permite que os voluntários possam usálos
para sinalizar ao cientista que começaram a ter um sonho lúcido.
Além das observações feitas nos laboratórios do Instituto do Cérebro (ICe)
da UFRN, Rolim teve colaboração de pesquisadores alemães, que lhe enviaram
resultados de exames para análises.As observações realizadas levaram
a encontrar características curiosas que opõem a psicose e o sonho lúcido: no primeiro caso, ocorre uma significante diminuição da atividade cerebral na parte
frontal do cérebro, aquela que se associa à tomada de decisão e à autoconsciência, incluindo, por exemplo, movimentos voluntários e o reconhecimento do seu nome quando o estão chamando. Quando alucinado, por sua vez, o cérebro tem uma hiperfrontalização. “Os psicóticos de longa data têm pouca atividade no lobo frontal, e as pessoas saudáveis também são assim durante o REM, a não ser quando estão tendo um sonho lúcido”, conta o médico.
Ainda durante a pesquisa, a equipe de neurocientistas composta por Sérgio Rolim, Sidarta Ribeiro (orientador) e John Fontenele (coorientador), todos pesquisadores da UFRN, perceberam a carência de trabalhos sobre os hábitos de sonho na América Latina, incluindo o Brasil. Assim, mesmo utilizando resultados de exames de eletroencefalograma para suas análises, com o intuito de ter um resultado menos dependente de relatos, os pesquisadores criaram, aplicaram e publicaram o primeiro estudo sobre sonhos na América Latina, no ano de 2011.
o sonHo do brAsiLeiroInvestigações sobre sonhos lúcidos
por muito tempo foram baseadas em descrições feitas por voluntários, que respondiam a questionários sobre seu sono. No entanto, os dados utilizados eram de populações dos Estados Unidos e Europa: “não há estudos do tipo sobre sonhos na América Latina”, aponta o pesquisador.
Interessado em saber mais sobre o as
sunto, Rolim elaborou o primeiro questionário latinoamericano sobre o sonho, que foi enviado a milhares de pessoas pela internet: “simples, barato e sem necessidade de equipamentos complexos”, diz. As 20 perguntas feitas abordavam, por exemplo, a frequência com que ocorriam, lúcidos ou não, se eram coloridos ou em preto e branco, quais os temas e o que aparece neles.
Mais de quatro mil respostas foram recebidas, o que ofereceu ao estudioso a possibilidade de apurar, por exemplo, que o estímulo que mais invade os sonhos é o auditivo – como quando o despertador toca e o barulho passa a fazer parte da imaginação durante o sono – e que a maioria das pessoas já teve entre um e dez SL, mas que, embora frequentes, não tendem a ser recorrentes. Ainda assim, “algumas pessoas até acham que os sonhos lúcidos são o normal”, comenta o médico sobre os resultados.
Os respondentes que relataram mais frequência de SL dizem que adormecer pensando em têlos favorece o evento. O segundo maior motivo para acontecerem é o estresse. Uma explicação, segundo o médico, é que, embora tenhamos muitos sonhos durante a noite, só lembramos daqueles que são interrompidos porque acordamos. Embora ainda seja um estudo em andamento, “uma hipótese para o sonho lúcido é de que ele seja uma transição entre o sono e a vigília”, diz Rolim, já que é possível sonhar e, ainda assim, estar “acordado” ao longo do evento.
Vigilante de sonhos: médico estudatratamento para quem sonha acordado
NEUROCIÊNCIA
Sérgio arturo rolim, médico do hUoL, estuda o sonho lúcido desde 2007
Fotos: Wallacy Medeiros
Por LUCiano GaLVão
jornal da uFrn: o tema des ta edição do seL é “desafios e criatividade”. Qual a ligação desse as-sunto com a educa-ção e a leitura?
Amarilha: A ligação é seminal. A educação apresenta enormes desafios para sua plena re
alização e para atingir suas metas, que vão desde incluir todos os brasileiros na escola a oferecer oportunidades de leitura de qualidade. Nessa interface educação e leitura, que nós sempre trabalhamos, nos deparamos com grandes desafios: o de ter uma sociedade mobilizada em torno da educação, ou ain da o de sistemas de educação, principalmente públicos, que se deparam com dificuldades de qualificação dos professores e de infraestrutura. Por exemplo, os governos dizem, por meio de novas leis, que até 2020 tem que haver bibliotecas em todas as escolas. Mas o que está sendo feito para que, quando chegue essa data, realmente se cumpra essa exigência legal?
Quanto à criatividade, muitas vezes temos uma visão de que ela é privilégio de pessoas que nascem com o talento, e que a criatividade existe somente no campo das artes. Na verdade, ela é uma potência que todo ser humano tem para resolver problemas. Quando nos deparamos com dificuldades, para resolvêlas nós acionamos a memória, os conhecimentos prévios e os exemplos que a gente conhece. A criatividade precisa ser enfocada para que tenhamos consciência de todo o potencial que nós temos para enfrentar os desafios, e para que tenhamos ferramentas para criar soluções, tenhamos postura e atitude adequada.
juFrn: Qual a participação da universidade, mais especificamente do centro de educação, no trabalho
com os desafios da área?Amarilha: Penso que o Centro de
Educação está muito engajado, por meio de seus grupos de pesquisa, no enfrentamento a esses diferentes desafios. Trabalhamos sempre com a leitura, estamos nas escolas e existe oferta de capacitação de professores nas áreas de alfabetização, educação inclusiva e matemática. Diferentes grupos estão articulados com as problemáticas que a sociedade traz e que vão surgindo na sua própria dinâmica.
Nosso evento é também uma convocação para a sociedade discutir conosco os desafios e, sobretudo, conhecer mais sobre a criatividade. Queremos explorar este capital humano: o conhe cimento sobre como enfrentar os proble mas. É esse o papel da Univer
sidade, oferecer um fórum e convocar especialistas, pesquisadores, estudantes e a sociedade em geral para pensar sobre a temática. Nossa expectativa é que as pessoas, estando mais conscientes desse potencial, possam utilizálo. A criatividade é uma capacidade que temos o tempo todo, mas às vezes nós nos acomodamos e não procuramos descobrir novos caminhos, experimentar ou arriscar outras atitudes.
juFrn: dentre os temas do semi-nário, está a educação para a sensibi-lidade, que será debatido pela senhora. Poderia falar-nos mais sobre o assunto?
Amarilha: Às vezes nós adormecemos a sensibilidade, que é também uma contribuição para o enfrentamento dos problemas. A poesia é um caminho, uma maneira criativa e diferente, que estimula o pensamento divergente. O leitor de poesia é colocado numa posição de descobridor das possibilidades da língua, e esse aprendizado também se transfere para o enfrentamento dos obstáculos que a vida apresenta.
Nossa pesquisa trabalha a poesia na escola. Trabalhamos uma escola de Natal, da Rede Pública, com todas as dificuldades que podese encontrar: precariedade de infraestrutura, alunos com problemas de disciplina, alunos pouco motivados por terem problemas na família. Uma escola desafiadora.
A educação para a sensibilidade, que entendemos ser possível implementar, quer oportunizar a esses alunos, primeiro, contato com o livro, com a literatura, com a palavra na sua dimensão lúdica, na sua dimensão para percepção sensível, com a sonoridade, com o fato de olhar a palavra como se fosse um desenho.
Após a leitura em sala de aula, a gente vai para o laboratório de informática. Lá eles postam as percepções deles em um fórum eletrônico, as impressões sobre o livro que a gente lê aos poucos. Eles vão também dialogar com os colegas, comentar o que acharam, argumentar sobre se gostaram ou não. A atividade tem o lado de estimular as crianças a terem voz, a mostrarem a percepção sobre o texto. Nós enten
demos que esse é um aprendizado para a vida, que o alunos podem levar para outros momentos.
Como resultados temos, primeiro, o envolvimento das crianças. Elas gostam do momento de ir para o laboratório de informática, onde têm protagonismo, porque vão postar o que pensam. O diferencial nesse tipo de pesquisa é que as crianças são solicitadas a expressar sua opinão. Elas dizem que, às vezes, o professor só diz “fique quieto, menino”, mas nessa aula elas são convidadas a participar, a dizer o que acham do que ele leu.
Isso é educação para a sensibilidade, para a cidadania, porque o aluno tem que ser responsável por aquilo que lê, e por aquilo que vai escrever. Ele tem que expressar seu pensamento de uma forma organizada, e é um momento estimulante.
juFrn: Quais as expectativas para o seminário de educação e Leitura?
Amarilha: Teremos pesquisadores e professores vindos do Brasil inteiro e nossa expectativa é muito positiva. Muitas organizações agregaramse ao projeto como a CAPES, o CNPq e o IFRN. O empresariado do estado apoiou a iniciativa, a Secretaria de Educação do Rio Grande do Norte favoreceu a vinda de seus professores. Isso mostra a liderança da UFRN no estado, e traz a expectativa de boas discussões e de uma efervescência criativa.
Nossos minicursos serão também um momento de arejar a prática dos professores que atuam no cotidiano: quanto mais a gente se informa, mais a gente alimenta a capacidade de ser criativo. Em contato com pesquisadores altamente qualificados, ganhamos bagagem para adaptar os conhecimentos às circustâncias e vislumbrar caminhos. E a diversidade de temas que nós teremos nos minicursos é também um ponto a ser ressaltado.
Estamos muito felizes que a UFRN seja esse polo que agrega estudantes e pesquisadores. Que eles venham seguindo a inspiração de Paulo Freire, de tornar o Rio Grande do Norte um lugar onde se estuda a leitura. Ele foi um modelo de professor que enfrentou desafios e é um ícone dessa situação de desafios e criatividade.
“A criatividade precisa ser enfocada para que tenhamos consciência do nosso potencial para enfrentar desafios”
entrevista
ano XV | nº 66 | outubro de 201311Jornal da UFRN
Marly amarilha, coordenadora do Seminário
Wallacy Medeiros
Marly Amarilha é doutora em Letras. Professora do Departamento de Fun-damentos e Políticas da Educação (DFPE) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Marly é coordenadora do 7º Seminário de Educação e Leitura (SEL), evento que traz como tema “Desafios e Criatividade”. O Seminário acontece entre os dias 11 e 14 de novembro, em Natal, e reúne pesquisadores e estudantes de todo o Brasil.
Em sua sala no terceiro andar do Centro de Educação, a docente recebeu a reporta-
gem do Jornal da UFRN para conversar sobre os desafios do ensino no País, e acerca do uso da criatividade para a superação das dificuldades. Para Marly, a criatividade não deve ser entendida como um talento inato, mas trabalhada como um potencial que as pessoas têm para resolver problemas. Segundo a pesquisadora, tornar os professores conscientes dessa capacidade criativa é o primeiro passo para que eles possam utilizá-la contra os desafios que a sala de aula lhes apresenta todos os dias.
Por roZana FErrEira
Ariano Suassuna afirma que “Diversidade é riqueza”. Com essa frase é possível traduzir o que o Grupo
Parafolclórico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) tem feito ao longo de seus 22 anos de existência: destacar a diversidade cultural brasileira. Essa ênfase está intimamente ligada à memória, uma vez que a disseminação das diferentes danças populares são fatores importantes para a preservação das tradições locais.
Criado em 1991, o Grupo surgiu após uma mudança na grade curricular do curso de Educação Física, com a inserção da disciplina Folclore. Rita Luzia Santos, professora do Departamento de Educação Física (DEF) da UFRN e idealizadora da iniciativa, conta que os alunos começaram a demonstrar grande interesse pela cultura popular e que, a partir das várias descobertas, nasceu a ideia de criar um grupo que representasse as manifestações culturais do Nordeste. Inicialmente, foi trabalhada a releitura das danças folclóricas do Rio Grande do Norte.
O Grupo é classificado como um projeto de extensão da UFRN, mas também, agrupa atividades de ensino e pesquisa, servindo como estágio supervisionado para os estudantes do curso de Educação Física. Um dos seus objetivos é pesquisar as manifestações tradicionais do Bra
sil e difundilas por meio da linguagem própria da dança. Surgem assim novas releituras e outras formas de expressar a tradição popular.
Famoso por fazer ressignificações de danças tradicionais, o Grupo participou de diversos festivais em vários estados do Brasil, tendo também reconhecimento internacional em passagens por países como Alemanha, Portugal, Espanha, China e Paraguai. Além disso, o Parafolclórico interage com a comunidade, pois ultrapassa os muros da Universidade e gera constantes trocas de experiências entre meio acadêmico, setores de produção cultural e com a população local.
Para Rosie Marie Medeiros, diretora artística do Parafolclórico, é importante para a Universidade trabalhar elementos populares por meio das danças. “Costumamos dizer que nos aproximamos do povo quando a cultura é apresentada em diferentes contextos, já que não trabalhamos apenas a tradição do Rio Grande do Norte, mas de todo o País”.
Quem FAzA seleção para
participar do Grupo Parafolclórico acontece uma vez ao ano, aberto à comunidade universitária e pessoas da comunidade em geral. Em média, 30 artistas compõem o elenco, incluindo a equipe de direção. A coordenação explica que existe uma certa rotatividade, o que ocorre quando os alunos em alguns casos tem incompatibilidade entre os horários de aula e ensaios, que chegam a ter até 12 horas semanais.
Neste ano, a coordenação conta que foi necessário realizar um processo seletivo extra para composição do elenco masculino. Segundo Rita Luzia, a composição masculina às vezes se torna difícil, pois segundo ela, ainda existe um certo pre
conceito por parte dos homens em relação à dança.
Rosie Marie está no Grupo há 12 anos e já desempen
hou diversas funções nesse período. Foram sete anos como bailarina, um ano como assistente de direção e quatro na direção artística, posto que ocupa atualmente junto com Fátima Sena, professora do Ballet Municipal de Natal.
Para a montagem de cada show são ne
cessários, em média, dois anos
para ensaios, montagem
de figurino e cenário. Ainda assim, o Grupo mantém uma rotina de apresentações, conciliando com as demais atividades.
brAsiL com sAmbA no PéO samba, além de ser o gênero musi
cal mais popular no Brasil, é muito conhecido no exterior e está associado, assim como o futebol e o carnaval, ao nosso país. Esses foram requisitos motivadores para a pesquisa e escolha do estilo para compor o novo espetáculo do Parafolclórico, “Ensaiei o meu samba o ano inteiro. “Porque o samba faz parte do Brasil, não é só uma expressão do carioca, nem só do Rio de Janeiro, mas de todo o País”, completa Rita Luzia.
Nessa nova atuação, o público vai conhecer a evolução histórica do samba desde suas origens como o lundu até a atualidade. A apresentação não se limita ao sambaenredo, modalidade famosa pelos desfiles de carnaval, mas abrange todos os estilos em diferentes conjunturas.
De origem africana, o termo samba tem seu significado ligado às danças típicas tribais do continente, adaptados à realidade dos escravos brasileiros e, ao longo do tempo, sofreu inúmeras transformações de caráter social, econômico e musical até atingir as características conhecidas hoje.
Um recorte desse espetáculo foi apresentado na programação cultural da XIX CIENTEC Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura, neste mês de outubro, na Praça Cívica da UFRN.
ano XV | nº 66 | outubro de 201312Jornal da UFRN
DANÇA
Parafolclórico: diversidade da cultura brasileira inspira novo espetáculo da companhia
Wallacy Medeiros