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: RELATÓRIO ESPECIAL Cuba – EUA Um degelo irreversível que ainda deve encontrar o seu ritmo Madrid, março 2016 BARCELONA BOGOTÁ BUENOS AIRES LIMA LISBOA MADRID CIDADE DO MÉXICO MIAMI PANAMÁ QUITO RIO J SÃO PAULO SANTIAGO STO DOMINGO

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RELATÓRIO ESPECIAL

Cuba – EUAUm degelo irreversível

que ainda deve encontrar o seu ritmo

Madrid, março 2016

BARCELONA BOGOTÁ BUENOS AIRES LIMA LISBOA MADRID CIDADE DO MÉXICO MIAMI PANAMÁ QUITO RIO J SÃO PAULO SANTIAGO STO DOMINGO

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CUBA – EUAUM DEGELO IRREVERSÍVEL QUE AINDA DEVE ENCONTRAR O SEU RITMO

1. INTRODUÇÃO

O anúncio realizado em dezembro de 2014 pelo presidente Obama e pelo presidente Raúl Castro de uma normalização das relações entre os Estados Unidos e Cuba supôs um marco histórico. Após mais de 50 anos de distanciamento, em junho de 2015 começaram a restabelecer-se as relações diplomáticas entre os dois países.

No entanto, não é possível determinar ainda quando é que este processo de aproximação, cujos primeiros passos já se deram há algum tempo, poderá culminar. Em 2007, o governo cubano come-çou a implementar algumas reformas que têm propiciado uma atitude mais aberta por parte do governo dos EUA, coincidindo com o desenvolvimento da administração Obama. Ao longo de todo este período têm-se registado avanços, embora o cumpri-mento das principais exigências de ambas as partes esteja longe de se alcançar.

O estreitamento dos laços diplomáticos tem vindo acompanhado de mudanças que significam uma melhoria qualitativa da vida dos cidadãos de Cuba, como a maior acessibilidade à telefonia móvel ou a aceitação dos cartões de débito pela parte cubana, ou as maiores facilidades de deslocamento ou de envio de remessas por parte dos EUA, mas não há dúvida de que o processo apenas começou. O avanço da democracia em Cuba e o fim do embargo americano são as metas que marcarão o sucesso final da evolu-ção empreendida e cuja culminação, com toda a probabilidade, encontrará grandes dificuldades.

Relativamente a este processo, existe uma dinâmica política inter-na em ambos os países e outra na relação mútua, que interagem mas que apresentam sensíveis diferenças em formas e tempos. Por isso, são relevantes os pequenos gestos, medidas, palavras e silêncios, sobretudo num regime como o cubano, imerso no debate interno sobre uma possível transição –tanto no que diz respeito às reformas económicas como à inevitável sucessão à frente do governo–, que se entrecruza com o processo de degelo das relações com os Estados Unidos.

A aproximação entre os Estados Unidos e Cuba gera, além disso, um forte debate no país norte-americano, já que alguns setores da sua opinião pública mantêm que o regime cubano deve dar ainda muitos passos antes que seja possível consolidar uma rela-ção estável e duradoura com os Estados Unidos.

1. INTRODUÇÃO2. CONTEXTO3. CARACTERÍSTICAS QUE

DÃO FORMA E EXPLICAM O PROCESSO

4. INCENTIVOS NOS ESTADOS UNIDOS E EM CUBA PARA LEVAR A CABO UMA NOVA FASE DE APROXIMAÇÃO

5. COMO ENTENDER AS REFORMAS INTRODUZIDAS EM CUBA

6. O FIM AO EMBARGO RESOLVE TODOS OS PROBLEMAS ESTRUTURAIS DE CUBA?

7. AS INCERTEZAS DE UM PROCESSO IRREVERSÍVEL

8. CONCLUSÕESAUTORES

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2. CONTEXTO

A normalização das relações com os Estados Unidos exer-ce uma influência crucial no processo de mudança que está a ocorrer em Cuba, assim como o rumo para o qual se orienta. No entanto, à complexidade do processo cubano soma-se a incerteza sobre o alcance e o futuro que possa ter a nova relação bilateral, devido a dois fatores-chave: o primeiro, a renúncia ao poder de Raúl Castro que, como ele próprio anunciou, ocorrerá em 2018; e o segundo: a realização das eleições presidenciais nos Es-tados Unidos em novembro do presente ano de 2016.

Relativamente ao primeiro, se considerarmos as caracterís-ticas do regime cubano, pode-mos intuir que a orientação

do processo de mudança não dependerá tanto da aplicação de um projeto integral previa-mente concebido, mas em gran-de medida das decisões que o novo Executivo terá de tomar. Portanto, do lado cubano, é imprescindível poder antecipar as possibilidades de as mu-danças acelerarem ou ficarem mais lentas e para onde podem orientar-se. Quanto aos Estados Unidos, uma possível vitória do Partido Republicano poderia limitar o processo de aproxima-ção e cooperação aberto desde dezembro de 2014 entre ambos os países, o que teria influência no processo aberto de mudan-ças em Cuba.

A abertura cubana é uma ques-tão submetida a um forte de-bate entre visões contrapostas. Tomando como referência os extremos, existem setores entre os cubanos exilados nos Esta-dos Unidos que consideram que a aproximação a Cuba unica-mente proporciona um balão de oxigénio às atuais autori-dades cubanas. Estes setores mantêm um persistente empe-nho em negar que esta aproxi-mação vá favorecer as mudan-ças que consideram necessárias na ilha. Os acordos alcançados até agora não deixariam de ser, para eles, mais do que mera retórica. Por este motivo, são extraordinariamente críticos com as relações estabelecidas e, é claro, negam taxativamente a possibilidade de levantar o embargo. Essa também seria a abordagem de muitos membros do Partido Republicano.

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Neste sentido, foi muito signi-ficativa a reação de políticos republicanos proeminentes ao anúncio da abertura da em-baixada americana em Cuba. Os congressistas pela Florida Ileana Ros-Lehtinen, Mario Díaz-Balart e Carlos Curbelo qualificaram o facto como “recompensa sem benefícios”. A retomada das relações diplo-máticas entre ambos os países “nunca deveria ter acontecido até que víssemos reformas substantivas em Cuba como as eleições independentes, justas e multipartidárias, a liberdade de imprensa e a liberação de todos os presos políticos”, expressou Ros-Lehtinen.

Uma posição muito diferente é a que mantém boa parte do povo cubano, que conside-ra que o fim do embargo é a solução às carências e difi-culdades que afetam a vida quotidiana dos cubanos. De acordo com esta abordagem, dão-se poderes quase mágicos a esta decisão, considerando que todos os problemas cubanos se solucionariam, ipso facto, com a normalização dos vínculos comerciais. Deve-se ter em con-ta que as autoridades cubanas, há muito tempo, têm vindo a responsabilizar tal bloqueio por todos os problemas de funcio-namento do país. Num discurso pronunciado na Cimeira de Desenvolvimento Sustentável, Raúl Castro dedicou as pala-vras finais da sua intervenção à menção do restabelecimento das relações diplomáticas com os Estados Unidos e disse que "constituem um importante

avanço”, mas ao mesmo tempo recordou que “persiste o blo-queio económico, comercial e financeiro contra Cuba há mais de meio século”, o qual é “o principal obstáculo para o desenvolvimento económico" do seu país.

Perante ambas as interpretações, neste relatório pretende-se apre-sentar uma posição intermediá-ria, onde se matize boa parte das simplificações de ambas as abor-dagens para se propor uma visão multidimensional que contribua para esclarecer a enorme quan-tidade de fatores que intervêm neste processo.

3. CARACTERÍSTICAS QUE DÃO FORMA E EXPLICAM O PROCESSO

AS MUDANÇAS EM CUBA ANTE-CEDEM O DEGELO COM OS EUA

As autoridades cubanas estão a introduzir mudanças impor-tantes no funcionamento do país, muito particularmente desde que Raúl Castro sucedeu ao irmão Fidel. Tais mudanças deram-se sobretudo na esfera económica e são anteriores à normalização das relações com os Estados Unidos. Conforme assinala o economista Carmelo Mesa Lago (catedrático emé-rito de Economia e Estudos Latino-Americanos, Universi-dade de Pittsburgh), “as refor-mas de Raúl são importantes e vão na direção correta. Mas o seu ritmo é muito lento, não têm toda a profundidade que se requer e enfrentam fortes desincentivos –altos impostos

“As autoridades cubanas estão a introduzir

mudanças importantes no funcionamento

do país, muito particularmente desde

que Raúl Castro sucedeu ao irmão Fidel”

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para o setor privado, restrições ao emprego de assalariados, na propriedade, etc.–, pelo que não têm gerado resultados macroeconómicos. A unifica-ção monetária é essencial por causa das enormes distorções que provoca e das dificuldades que o investimento estrangeiro impõe; isto já se admitiu em 2011, e em 2014 aprovou-se uma resolução sobre tal reforma, mas passaram quatro anos e ainda não foi realizada. Econo-micamente, o mais importante que ocorreu até agora é que o turismo americano aumentou 50% no primeiro semestre de 2015, e espera-se um crescimen-to maior no ano. Como este tu-rismo gera mais rendimentos, haverás recordes no número de turistas e nos respetivos rendimentos brutos”.

A NATUREZA DAS MUDANÇAS ESTÁ A SER DE CARÁTER FUNDA-MENTALMENTE ECONÓMICO

De facto, quem está contra a normalização das relações de Cuba com os Estados Unidos alude fundamentalmente ao imobilismo político. O para-digmático exemplo da China tem revelado que pode haver transição ao capitalismo sem avanços democráticos.

A transição política em Cuba iniciar-se-á neste próximo biénio (2016-2018), e culminará com a saída do poder de Raúl Castro. Peter Hakim (presiden-te emérito da Inter-American Dialogue) indica que “o prin-cipal candidato para o cargo é Miguel Díaz Canel, que foi

nomeado primeiro vice-presi-dente do país três anos atrás. No entanto, dado que Cuba não tem uma tradição ou pro-cesso definido para a seleção da direção do país, ninguém pode ter a certeza de que a transferência de poder, de facto, acontecerá em 2018, de quem será o sucessor ou como o mesmo será selecionado”.

De qualquer modo, ninguém duvida do importante papel que o exército continuará a exercer: “o exército cubano poderá emergir como o ator dominante no próximo perío-do. Liderados por Raúl Castro há muitos anos, os militares já tiveram um enorme papel na economia do país, incluindo o setor turístico, de vital im-portância, que é considerado maioritariamente a instituição mais poderosa do país”. De acordo com algumas estimati-vas, o Grupo de Administración Empresarial S.A. (GAESA), o ramo de negócios do exército cubano, controlaria 80% da economia do país, incluindo hotéis, indústrias, restaurantes e empresas aéreas.

Duas figuras emergem deste âmbito e podem ter uma gran-de relevância para o futuro político de Cuba. São, por um lado, Alejandro Castro Espín, filho de Raúl Castro, coronel do Ministério do Interior e princi-pal assessor de inteligência do presidente cubano. Alejandro Castro interveio decisivamente no processo de restabelecimen-to das relações entre Cuba e os Estados Unidos. Por outro

“A transição política em Cuba iniciar-se-á neste

próximo biénio”

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lado, temos Luis Alberto Rodrí-guez López-Callejas, genro de Raúl Castro, brigadeiro-general das forças armadas de Cuba e dirigente da GAESA. É o encar-regado do desenvolvimento do porto de Mariel, bem como das relações do regime cubano com os investidores estrangeiros.

Com todos estes fatores em jogo, verifica-se que já houve mudanças reais na sociedade cubana que estão a favorecer o processo de transição, embo-ra ainda não se possa afirmar nem em que direção exata evoluirá este processo nem que ritmo terá. Mas não parece que possa haver uma volta atrás e, portanto, pode-se falar de um processo irreversível. Nesse contexto, os Estados Unidos têm um papel que, desde de-zembro de 2014 quando se fez pública a normalização das re-lações entre os dois países, está a ter uma influência decisiva na transição posta em marcha no país caribenho.

4. INCENTIVOS NOS ESTADOS UNIDOS E EM CUBA PARA LEVAR A CABO UMA NOVA FASE DE APROXIMAÇÃO

Por esta altura, são evidentes o interesse e a vontade das administrações americana e cubana de concluir as negocia-ções e consolidar acordos que têm demonstrado não serem só retórica.

No entanto, é preciso ter pre-sente que, apesar dos avanços concretos e das positivas expec-

tativas de avanços, por enquan-to, nenhum dos dois países deu o passo decisivo relativamente às exigências irrenunciáveis formuladas pelo outro.

No caso dos Estados Unidos, não parece possível por agora o fim do embargo, exigência e objetivo último para Cuba. Por seu turno, as autoridades cuba-nas não se comprometeram a introduzir mudanças políticas voltadas a uma maior demo-cratização do sistema político, condição sine qua non para os Estados Unidos. Se nenhuma destas posições se modificar, existe o risco de se chegar a uma situação de desgaste onde tanto o presidente Obama como as autoridades cubanas estariam submetidos a uma crescente perda de credibilida-de. Com isso, todas as con-quistas e avanços realizados poderiam ficar desprovidos de conteúdo essencial. Talvez parte desta incerteza possa es-clarecer-se no decisivo biénio 2016-2018, quando se esclarece-rem as incógnitas relacionadas com a personalidade de quem ostentará o Poder Executivo tanto em Cuba como nos Esta-dos Unidos no futuro próximo. No entanto, sejam quem forem estes dirigentes, não poderão descartar este processo e não parece fácil desfazer passos tão importantes.

Vistas as incertezas, convém conhecer os interesses que apoiam a vontade de Cuba e dos Estados Unidos, dado que de acordo com sua importância poderemos saber o que ganham

“São evidentes o interesse e a vontade

das administrações americana e cubana”

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ou o que perdem e, portanto, o nível de compromisso que podem chegar a assumir para impulsionar o processo.

No tocante a Cuba, o processo de mudanças iniciado previa-mente e as necessidades eco-nómico-financeiras que gera favoreceram uma predisposi-ção à aproximação à potência norte-americana, impensável há não muito tempo atrás. Além disso, Cuba quer crescer e prosperar e para isso precisa de investimento estrangeiro, entre outras coisas.

No caso dos Estados Unidos, parece transcendental a aspira-ção de Barack Obama de conso-lidar uma liderança baseada na aposta na multilateralidade e na cooperação, já que a excecio-nalidade cubana questionava permanentemente tal forma de liderança. Assim, os motivos dos Estados Unidos partem da

convicção do seu presidente de uma necessária aproximação a Cuba, uma abordagem em absoluto improvisada. Obama mostrou este interesse desde o seu primeiro mandato, quando se alinhou com uma aborda-gem baseada na cooperação e não na confrontação como o melhor método para se conse-guir a transformação do regime cubano. Esta era a intenção que motivava a mudança de política. O giro foi importante, já que, desde a rutura de rela-ções, apesar de alguns gestos conciliadores, a política exte-rior norte-americana para com Cuba sempre se baseou em endurecer o isolamento.

Por isso, já em 2009 o presi-dente dos EUA, Barack Obama, lançava um chamamento para abrir “una nova era de coo-peração” perante os desafios internacionais: “defenderei os interesses do meu país e do meu povo e não vou pedir des-culpas por isso, mas é minha firme crença que nos tempos que vivemos, mais que nunca, os interesses dos nossos países e dos nossos povos são co-muns. É chegado o momento de adotar uma nova era de aproxi-mação baseada nos interesses mútuos e no respeito mútuo, e esta tarefa deve começar já".

Além disso, o processo iniciado pelos EUA vê-se reforçado e legitimado a partir da altura em que a União Europeia em-preende um caminho análogo. A UE e o governo de Cuba assinaram em março um novo acordo de diálogo político e de

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cooperação, que põe ponto final a dois anos de negociações para normalizar a relação bilateral. A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, e o chance-ler de Cuba, Bruno Rodríguez, presidiram ao ato formal da ratificação do documento. A alta representante da UE para a política exterior assinalou que o acordo com Cuba “assenta as bases que permitem pôr fim à posição comum”.

Como assinala o pesquisador principal do Real Instituto Elca-no, Carlos Malamud, “A segunda visita de Mogherini a Havana desde que é alta representan-te dos Assuntos Exteriores e Política de Segurança da União Europeia serviu para fechar um acordo de diálogo político e cooperação negociado entre as partes desde 2015. Também será o preâmbulo para eliminar defi-nitivamente a política comum que regia a relação europeia com Cuba desde 1996. Duran-te a conferência de imprensa concedida conjuntamente por Mogherini e Bruno Rodríguez, a linguagem diplomática cuidada empregue por ambos os fun-cionários serviu para expressar quanto avançara a relação nos últimos tempos. Como não po-dia deixar de ser, deixaram-se transparecer igualmente alguns pontos de desacordo ainda pen-dentes na agenda”.

Neste sentido, o interesse dos Estados Unidos por Cuba não depende tanto da ilha em si mesma, nem necessariamente de um interesse prioritário pela região, ou não apenas, mas da

tentativa de manter a coerên-cia, do ponto de vista america-no, dos princípios que devem reger tal liderança, principal-mente com um país vizinho. Sem esquecer que a comunida-de internacional explicitou a sua oposição ao embargo sobre Cuba, na ONU, e que a América Latina tem apresentado uma posição fechada e firme no mesmo sentido.

Não obstante, se Cuba não esti-vesse num processo aberto de mudanças, este acordo não teria podido levar-se a cabo. O primei-ro elemento a assinalar é o pro-cesso de transição iniciado na ilha desde que Raúl Castro chegou ao poder na qualidade de presi-dente do Conselho de Estado e de Ministros, em 2008. A partir desse exato momento, as mudanças introduzidas na ilha têm estado voltadas a liberalizar a economia de maneira progressiva. Mesmo assim, sob a perspetiva governa-mental, tais mudanças significam uma marcha para o “aperfeiçoa-mento do sistema socialista” e não a sua transformação em economia de mercado.

Ora, os passos dados e os pro-jetados geram novas necessi-dades de caráter económico-fi-nanceiro que tornam cada vez mais insuportável o embargo. Na altura em que viu neces-sário o acordo com os Estados Unidos, o governo cubano começou a perder um dos prin-cipais pilares que justificam o regime político de Cuba. O sistema socialista cubano cons-truiu-se por negação ao sistema capitalista norte-americano,

“Os passos dados e os projetados geram novas necessidades de caráter

económico-financeiro”

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através de uma forte retórica anti-imperialista, e o acordo procurado desmonta boa parte desta justificação. Também têm sido relevantes os efeitos políticos do embargo, visto que, mais do que asfixiar o regime, tem-lhe proporcionado oxigé-nio, pois permitiu ao governo cubano responsabilizar ao longo de 50 anos os Estados Unidos por todos os problemas da ilha.

5. COMO ENTENDER AS REFORMAS INTRODUZIDAS EM CUBA

Embora alguns analistas con-siderem as reformas introdu-zidas como meramente cos-méticas, parece evidente que as mudanças introduzidas por Raúl Castro desde 2008, orien-tadas a liberalizar a economia de maneira progressiva, chega-ram a modificar, nalgum caso, os princípios fundamentais da ortodoxia comunista.

Estamos a assistir a um pro-cesso transformador, apesar da sua lentidão. Assim, por exem-plo, Carmelo Mesa Lago numa análise para o Real Instituto Elcano assinalava que “o maior problema que Cuba enfrenta é seu ineficiente sistema eco-nómico e a incapacidade para gerar exportações a fim de pagar as importações; recor-de-se que o défice do comér-cio de mercadorias foi de 8,57 milhares de milhões de euros em 2013 e, além disso, as ex-portações caíram durante dois anos consecutivos e seu valor em 2013 era 12 % menor que seu

nível em 1985, sem contar com a inflação. A lista de importações no Anuário Estatístico de 2013 ocupa 27 páginas, enquanto a lista de exportações tem apenas seis (ONEI, 2014). As reformas estruturais de Raúl Castro são positivas e as mais importantes durante a revolução mas lentas, sufocadas pelas excessivas regulações, controlos, impostos e desincentivos e, portanto, até ao momento não geraram efeitos económicos”.

Sem dúvida, o ritmo de imple-mentação das reformas vai mais devagar do que o que demandam as urgentes necessi-dades da ilha (o Comité Central do Partido Comunista concluiu que, no último quinquénio, implementaram-se 21 % das 310 linhas previstas), mas é indiscu-tível que as mudanças econó-micas estão a gerar, por sua vez, diferentes transformações no seio da sociedade cubana. Algu-mas destas mudanças viram-se refletidas em:

• Medidas administrativas, destinadas a melhorar a eficiência na gestão, tais como o aperfeiçoamento empresarial, a luta contra a corrupção e a indisciplina trabalhista e maior abertu-ra à crítica.

• Mudanças não estruturais que, embora não modifi-quem o “cerne do sistema”, corrigem exclusões e proi-bições tais como o acesso a hotéis e lugares turísticos pelos cidadãos cubanos, autorizações a transporta-

“As mudanças económicas estão a gerar,

por sua vez, diferentes transformações no seio

da sociedade cubana”

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dores privados, aumento de salários, reforma da previdência e eliminação de gratuidades e subsídios.

• Reformas estruturais desti-nadas a modificar “as bases materiais e organizacio-nais do funcionamento da economia”, que requerem longo prazo, como pode ser o caso da entrega de terras em usufruto.1

Além destas reformas, no VI Congresso do Partido Comunis-ta foram anunciando-se medi-das que modificaram significa-tivamente a vida quotidiana. Permitiram-se a aquisição de telemóveis e a entrada dos cidadãos nacionais nos hotéis em 2008, o acesso limitado à internet em 2009 e a liberaliza-ção da venda de materiais de construção em 2010. O Congres-so liberou a compra e venda de casas e automóveis em 2011, viagens ao exterior em 2013 e criou novas normas aduaneiras para a importação de bens do exterior em 2014.

Sem dúvida, o conjunto des-tas mudanças modificou, de maneira impensável até há não muito tempo atrás, a vida dos cubanos, como se pode cons-tatar na própria capital. Em Havana é evidente a ebulição da iniciativa privada, que se espalhou com especial rapidez, desde 2010, quando entraram em vigor as primeiras reformas

de Raúl Castro –a autorização dos negócios por conta própria e os empregos em empresas não estatais–.

Neste contexto, reveste-se de especial importância a apro-vação da Lei do Investimento Estrangeiro de 2014, uma das reformas que se encontravam em aberto. Com ela, atualizou--se a norma anterior de 1995 para diversificar a estrutura de produção, o desenvolvimento tecnológico e a integração da economia cubana nas cadeias globais de valor. A nova lei permite o investimento estran-geiro direto (IED) em todos os setores, salvo em educação, saú-de e defesa, e introduz vários incentivos fiscais. Estabelece, além disso, salvaguardas legais para os investidores e permi-te-lhes controlar participações maioritárias nas empresas.

Sem dúvida, a lentidão das reformas é um inconveniente, mas a afirmação de que “não está a haver mudança” e que a realidade cubana se encontra “congelada” pelo regime não se sustenta no âmbito económico. As mudanças económicas estão a gerar mudanças sociais e estas podem provocar, por seu turno, mudanças políticas. O modelo de transição chinês, baseado em transformações unicamente económicas e não políticas, é uma possibilidade, mas a rea-lidade cubana não é igual à da China. Certamente, embora haja

1 Mesa Lago, Carmelo, Cuba en la era de Raúl Castro. Reformas económico-sociales y sus efectos, Madrid, Colibrí, 2012.

“As mudanças económicas estão a gerar mudanças

sociais e estas podem provocar, por seu turno,

mudanças políticas”

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setores do Partido Comunista que aspiram a esta forma de transição, está por ver a forma como a população cubana as-sumirá estas mudanças e quais são suas aspirações globais.

6. O FIM AO EMBARGO RESOLVE TODOS OS PRO-BLEMAS ESTRUTURAIS DE CUBA?

É neste contexto que deve entender-se o interesse de Cuba pela normalização das relações com os Estados Unidos. Um interesse que, sem dúvida, vai para além da atual conjuntura regional e internacional.

Quando em dezembro de 2014 se anunciou a aproximação dos dois países, muitos analistas con-sideraram que a ideia do governo cubano era substituir a Venezue-la pelos Estados Unidos como principal parceiro. O motivo era dado pela baixa dos preços do petróleo e pelas dificuldades económicas que os venezuela-nos já padeciam. Isto fazia com que fosse difícil supor que o governo da Venezuela pudesse continuar a apoiar o governo cubano, que importa o dobro do que exporta e encontra na Ve-nezuela, desde 1999, o seu apoio mais importante. Como recorda Carmelo Mesa Lago:

• Em 2012, a Venezuela con-centrou 44 % do volume total do comércio externo cubano, apesar de este ter diminuído 35 % em 2013.

• A Venezuela compra serviços profissionais cubanos (médi-

cos, enfermeiras, professores) num valor de 4,7 mil milhões de euros, o que compensa o défice no comércio de bens (8,9 mil milhões).

• Caracas fornece 105 000 barris diários de petróleo a preços preferenciais, que cobrem 60 % das necessida-des da ilha. Além disso, refi-na o petróleo venezuelano em Cienfuegos, o que deixa um excedente que Havana exporta para o mercado mundial.

• O investimento direto venezuelano chegou a uma média, até 2012, de 1,5 mil milhões de euros anuais e tem sido crucial para Cuba.

No entanto, como já se pôde comprovar, a política de refor-mas cubanas inicia-se com an-terioridade e este é um processo que ultrapassa as conjunturas pontuais, estando orientado a gerar um mudança estrutural. Este é o autêntico motivo da aproximação aos Estados Uni-dos e não substituir a Venezuela por outra potência que “subsi-die” o regime. Uma probabili-dade, por outro lado, de todo o modo impossível tratando-se dos Estados Unidos, indepen-dentemente de quem ocupar a presidência dessa nação.

Cuba depende, para conseguir di-visas, do turismo e das remessas, o que torna os EUA uma alterna-tiva económica perante a desa-celeração chinesa e a profunda crise venezuelana. Como tam-bém Hakim aponta “de médio a

“A política de reformas cubanas inicia-se com

anterioridade e este é um processo que ultrapassa

as conjunturas pontuais, estando orientado a gerar

um mudança estrutural”

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longo prazo, os cubanos têm a esperança de que a normaliza-ção da relação com os Estados Unidos gere maior investimen-to estrangeiro e traga novos fluxos de comércio e turismo. Levará tempo, no entanto, e dependerá de quando e se, por um lado, os EUA finalmente decidirem levantar o embargo comercial e, por outro, Cuba levar a cabo um programa sério

de reforma económica. Quase todos os cubanos com quem falei, incluindo funcionários governamentais, concordam que serão precisos importantes fluxos de investimento estran-geiro e de crédito para que a economia da ilha comece a crescer e prosperar”.

No processo de normalização das relações Cuba-EUA, foram--se especificando compromis-sos e acordos adquiridos que contribuem para o processo de abertura económica, a partir de:

• Uma série de sessões de negociações formais mui-to divulgadas (duas em Washington e duas em Havana) para trabalhar nos pormenores logísticos e políticos das mudanças diplomáticas.

• Um forte aumento, bem superior ao quádruplo, do montante das remessas que indivíduos e famílias podem enviar para Cuba.

• O transporte aéreo para Cuba ampliou-se, abriram-se novas oportunidades comerciais, e os EUA autorizaram o serviço de ferryboat entre a Florida e Cuba (que agora requer a aprovação de Havana).

• Além disso, a retirada de Cuba da lista de nações patrocinadoras do terroris-mo, pelos Estados Unidos, significou a eliminação de um obstáculo crucial para o restabelecimento das rela-ções diplomáticas.

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• O ato mais simbólico que expressou esta aproxima-ção foi a abertura de embai-xadas. Um facto que, não obstante, para alguns obser-vadores não tem transcen-dência alguma, visto que existe há anos um escritório dos Estados Unidos aberto em Havana.

A reivindicação principal e objetivo último reclamado por Cuba, é a anulação do embargo, juntamente com a recuperação da soberania sobre Guantána-mo, até ao ponto de, caso não se alcançar, poder pôr-se em risco tudo o que se obteve du-rante a negociação. Contudo, é difícil que esta exigência seja atendida a curto prazo, dada a posição do Partido Republi-cano dos Estados Unidos, que conta, neste momento, com maioria no Congresso e poderá ganhar a presidência nas pró-ximas eleições.

Pois bem, é cabível pergun-tar se a anulação do embargo resolverá todos os problemas da economia cubana, como crê boa parte da população cuba-na. Não há dúvida de que será um elemento transcendental para melhorar a difícil situação económica da ilha, mas não parece provável que resolva os problemas estruturais arras-tados pelo modelo económico cubano. Para isso, entre outras questões, seria conveniente:

• Uma transformação da base produtiva, que até ao momento se baseou

na exportação de açúcar e níquel e na importação de produtos elaborados. Esta transformação do modelo produtivo deverá garantir crescimentos da produtividade, superiores aos salários reais, que gere lucros de competitividade, para permitir a substitui-ção de importações e uma unificação monetária com custos amortizados.

• A eliminação da dualidade monetária.

• O aumento do salário real.

• O fortalecimento da pro-priedade cooperativa e da sua autonomia.

• Descentralização da em-presa estatal e desenvolvi-mento de outras formas de gestão não estatais.

Com efeito, não se podem negar as mudanças introduzidas, apesar do seu ritmo pausado, o que não significa reconhecer que sejam suficientes. Há refor-mas ainda por fazer de grande importância mas inclusivamen-te as já realizadas, sirva como exemplo a Lei de Investimento Estrangeiro anteriormente mencionada, contêm restrições importantes tais como a neces-sidade de aprovação dos proje-tos por parte da administração cubana que, além de conside-rá-los convenientes, favorece as empresas conjuntas ou a contratação através dos orga-nismos de emprego estatais.

“Há reformas ainda por fazer de grande

importância”

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Em resumo, o fim do embargo é fundamental para se iniciar um processo de transformação profunda em Cuba, perante a necessidade de investimento estrangeiro e de procura por mercados, mas não é suficiente se não se realizarem reformas estruturais inevitáveis e im-prescindíveis para se garantir a mudança de modelo económico.

7. AS INCERTEZAS DE UM PROCESSO IRREVERSÍVEL

Tudo o que aconteceu entre os Estados Unidos e Cuba desde 17 de dezembro de 2014 até hoje é não só muito significativo a nível simbólico, como também tem profundas repercussões sobre o presente e o futuro a médio e longo prazo da ilha. Barack Obama tem dado passos importantes neste ano e meio: tirar Cuba da lista de países patrocinadores do terrorismo, flexibilizar as viagens de ame-ricanos à ilha, reabrir as em-baixadas e facilitar que bancos estrangeiros façam transações com Cuba e pedir ao Congresso o fim do embargo.

Raúl Castro, por seu turno, pôs em liberdade 53 presos políticos, e na Cimeira do Panamá reco-nheceu a mudança de atitude dos EUA com relação a Cuba graças à gestão de Obama: “na minha opinião, o presidente Obama é honesto. Admiro sua origem humilde e penso que a sua forma de ser condiz com essa origem humilde". Além disso, tem havido mudanças menos simbólicas e mais cla-ramente tangíveis na relação

bilateral. Entre elas, sobressaem os acordos recentemente pac-tuados por ambos os governos para estabelecer uma “ponte aérea” de voos comerciais. Desde o anúncio da normalização das relaciones, os Estados Unidos deram quase 500 autorizações de negócios em Cuba, com um valor que ultrapassa 4 mil mi-lhões de dólares.

Além disso, o governo de Obama está a suavizar indire-tamente o embargo oferecendo licenças que abrem espaço ao comércio e às viagens entre os dois países. Entretanto, em matéria de liberdades, o go-verno cubano não respondeu às iniciativas de Obama com nenhum tipo de concessão, e os desencontros entre ambos os governos são muito importan-tes em temas como a devolução da base de Guantánamo e a exigência, por parte de Cuba, de compensações pelos danos causados pelo embargo.

É nesse contexto que se deve pôr a viagem de Obama a Cuba. Uma viagem que em si mes-ma gerou muitas expectativas quando, na realidade, embora seja muito importante, tem mais de impulso a uma situa-ção já dada que de gerador por si só de uma transformação profunda do status quo. Tal como aponta Arturo López Levy (professor das universidades de Denver e Colorado), “a viagem do presidente Obama a Cuba é então mais um incentivo para a mudança de política do que o seu culminar. Contra os que recomendaram ao presidente

“O fim do embargo é fundamental para se

iniciar um processo de transformação profunda

em Cuba”

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Obama ir no fim do mandato, depois de culminar o ciclo elei-toral, a Casa Branca decidiu usar a relevância em política exterior que a primeira magistratura ainda tem no último ano do seu mandato. O presidente Obama sabe que a desmontagem do embargo é uma tarefa que ainda está por terminar, e que se não der impulso ao curso de política adotado, não poderá torná-lo irreversível face às posições de vários candidatos republicanos com substanciais possibilidades de levar a nomeação”.

E é que, na realidade, não é de maneira nenhuma um caminho fácil o que o espera no progresso das relações entre Cuba e EUA. Tudo indica que o processo é, efetivamente, irreversível – em-bora possa haver alguma volta atrás pontual –mas que vai ser mais lento do que as enormes expectativas suscitadas suge-rem– a não ser que um colapso do regime em Cuba precipite os acontecimentos, algo nos dias de hoje pouco provável, mas não impossível. Isto deve-se a duas razões que se expõem a seguir:

A INCERTEZA POLÍTICA NOS EUA E EM CUBA

As eleições nos EUA e a saí-da iminente de Raúl Castro da presidência em 2018 criam um ambiente onde as grandes expectativas coincidem também com grandes interrogantes.

As eleições presidenciais nos EUA criam um impasse no degelo Cuba-EUA sobretudo porque esse realinhamento foi

produto de uma política exte-rior muito vinculada ao presi-dente Obama, que não estará na Casa Branca a partir do início de 2017. A diplomacia presidencial, diferentemente da que de forma institucional leva uma Secreta-ria de Estado ou um Ministério de Assuntos Exteriores, é muito dependente das apostas pes-soais, estratégicas e ideológicas de cada presidente.

Em 2017 haverá um novo inqui-lino na Casa Branca e a conti-nuidade do processo aberto com Cuba não corre perigo, mas sim a sua velocidade. Assim, em caso de triunfo democrata, a aposta de Obama ver-se-á reforçada; não ocorrerá o mesmo em caso de uma vitória republicana.

A candidata democrata Hillary Clinton está na linha aberta por Obama. Defendeu que é necessário “aproveitar a oportu-nidade” que se apresenta com a normalização das relações com Cuba e pôr fim, “de uma vez por todas”, ao embargo sobre a ilha: “temos que decidir entre interagir e o embargo, entre apostar numa maneira nova de pensar ou voltar ao ponto mor-to da Guerra Fria. Chegámos a um momento decisivo. O povo cubano esperou o suficiente para uma mudança. O embargo tem de acabar de uma vez por todas e deveríamos substituí-lo por uma estratégia mais inte-ligente”. Hillary Clinton teria pedido apoio ao Brasil para contactar o governo de Raúl Castro em Cuba, segundo in-formações do jornal brasileiro Folha de São Paulo.

“Em 2017 haverá um novo inquilino na

Casa Branca”

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Dos pré-candidatos mais destacados no Partido Republi-cano, Trump, feroz detrator do regime cubano há uma década, tem mostrado posturas menos marcadas na atual campanha. Numa entrevista, respondeu sobre o degelo nas relações EUA-Cuba dizendo que “tudo bem (à aproximação de Cuba), mas deveríamos ter feito um melhor acordo. O aspeto de ter-mos uma abertura relativamen-te a Cuba –50 anos é suficien-te– é uma boa ideia. Creio que deveríamos ter feito um acordo mais enérgico”.

O senador Ted Cruz, por seu turno, colocou-se claramente contra as medidas de aproxima-ção a Cuba e atacou o presiden-te Barack Obama pela visita a Cuba, chamando inclusivamen-te de “maria-vai-com-as-outras” os defensores do regime cubano.

No caso de Cuba, tudo indica que a transição será controlada pelo regime e que o sucessor de Raúl Castro será um homem mais ou menos próximo a ele

que apostará na aproximação dos EUA. A transição pôr-se-á a caminho no VII Congresso do Partido Comunista de Cuba, reunião-chave da elite comu-nista, onde se decidirá a traje-tória da reforma para os próxi-mos cinco anos. Nesse tempo terá lugar a primeira transição intergeracional na cúpula pós-revolucionária. Uma cú-pula que é consciente de que a sobrevivência do regime depen-de da diversificação das fontes de financiamento da ilha e do comércio, onde claramente en-tra a intensificação de relações com os EUA. Nesse sentido, a viagem de Obama significará um claro apoio aos setores mais reformistas, às novas gerações e às aspirações da sociedade cubana atual.

“Não se trata de uma visita como a de Nixon à China, pois o presidente não tem o pedigree de furibundo anticomunista do seu antecessor, mas, tal como na-quela ocasião, projetar-se-á uma imagem diferente sobre Cuba à prevalente nas coberturas de hostilidade”, conclui Arturo López Levy.

De todas as formas, não é de descartar que o resultado das eleições americanas, bem como fortes tensões dentro da luta pelo poder na ilha, possam atra-sar e inclusivamente obstacu-lizar o processo. Em especial, a atual direção cubana tem diante de si um desafio muito complexo: dirigir e canalizar uma mudança ordenada de governo e de transferência de poder ao próximo presidente.

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Como Peter Hakim aponta, “duas forças deram forma à política e à sociedade cubana no último meio século, a lide-rança de Fidel e Raúl Castro e a amarga hostilidade dos Estados Unidos relativamente à ilha. Nos próximos anos, ambos te-rão passado à história. Será um período de incerteza. O futuro de Cuba é imprevisível. Embora a maioria dos cubanos esteja a prever mudanças importan-tes, poucos esperam alterações radicais num curto período de tempo. Ninguém espera que a democracia ou a prosperida-de surjam rapidamente. Mas a maioria dos cubanos tem a esperança de que ambas estão nalguma parte do seu futuro”.

O EXCESSO DE EXPECTATIVAS ANUVIA O CAMINHO

A mudança da relação entre os EUA e Cuba é já um facto irreversível que teve como efeito não desejado gerar grandes expectativas que, em muitas ocasiões, dificultam mais do que contribuem para que esse degelo progrida adequadamen-te e culmine. Para Ben Rhodes, vice-assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, a viagem do presidente Barack e Michelle Obama a Cuba indica que a normalização das relações com a ilha é uma “política irre-versível”. O governo dos Estados Unidos procura a maneira de tornar inalterável o processo, e a visita de Obama ajudará nessa direção, segundo Rhodes.

Nisso coincidem muitos analis-tas, como Peter Hakim (presi-

dente emérito da Inter-Ameri-can Dialogue): “com tudo isto em mente, é difícil imaginar um retrocesso importante nas re-lações. Sem dúvida, uma volta atrás na política dos Estados Unidos deixaria Washington bastante mal e levantaria preocupações acerca da sua fiabilidade como parceiro inter-nacional. Surpreendentemente, tem havido pouca oposição nos EUA a qualquer das medidas da Casa Branca. Apesar de os repu-blicanos terem ampla maioria em ambas as câmaras, não têm tentado impedir, nem inclusi-vamente atrasar, as mudanças. Até à data, as únicas propostas apresentadas no Congresso dirigem-se a debilitar, não a bloquear o fim do embargo. Também não surgiu nenhuma resistência séria em Miami, bastião do sentimento anticas-trista, nem um único protesto ou manifestação significativa. De facto, a maioria dos cida-dãos dos EUA aprova as mu-danças, entre eles a maiorias dos eleitores republicanos e dos cubano-americanos”.

Por parte de Cuba, cada mu-dança social, económica e política que se impulsiona na ilha requer por parte do regi-me uma delicada análise para avaliar se põe em risco a sua sobrevivência. Como recorda Carmelo Mesa Lago, “as refor-mas de Raúl são importantes e vão na direção correta. […] Vá-rios economistas cubanos, cuja opinião partilho, consideram há tempos a necessidade de acelerar as reformas devido ao risco que representa a depen-

“Embora a maioria dos cubanos esteja a prever mudanças importantes,

poucos esperam alterações radicais num curto período de tempo”

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dência da Venezuela. Mas até agora o lema de Raúl foi que as reformas vão lentamente mas sem pausa”.

Por seu turno, as mudanças impulsionadas pela adminis-tração Obama devem passar pelo filtro da Câmara de Repre-sentantes, onde os equilíbrios partidários são altamente complexos, ainda mais no ano eleitoral de 2016. Barack Obama trabalha, até agora sem suces-so, para que o Congresso acabe por suspender o embargo eco-nómico e comercial que pesa sobre a ilha caribenha. “Tenho a certeza de que o Congresso levantará inevitavelmente um embargo que já não deveria existir”, foram as palavras do presidente americano neste sentido. Obama pôs a nova política dos Estados Unidos relativamente a Cuba como exemplo de que o diálogo é efe-tivo, visto que oferece resulta-dos concretos face à tradicional política de isolamento da ilha. Para evitar a resistência do Congresso, Obama tem recor-rido a medidas executivas que tentam flexibilizar as restri-ções ao intercâmbio económico entre os Estados Unidos e Cuba em setores tais como os servi-ços empresariais, as viagens, as telecomunicações, os bancos e as remessas. Mas a suspensão definitiva do embargo só pode ser decidida pelo Congresso, onde o Partido Republicano controla ambas as câmaras.

Tudo indica que existem muito poucas probabilidades de que o Congresso dos EUA levante o

embargo por agora, em espe-cial enquanto Raúl Castro se mantiver no poder. O presiden-te da Comissão das Relações Exteriores do Senado america-no, Bob Corker, sustenta que “[O levantamento do embargo] não sucederá este ano, mas creio que é algo que poderá realizar-se quando se iniciar (um governo) de um novo presidente", e acrescenta: “se Cuba evoluir no seu compor-tamento e as pessoas puderem ver os resultados do que está a suceder a partir das mudanças que os decretos estabeleceram, então creio que é possível”.

Além disso, não se trata so-mente de um assunto de personalidades ou nominalis-mo, já que existem problemas consideráveis por resolver. Em primeiro lugar, quanto a direitos humanos –aspeto que ressaltam os republicanos no Congresso– Peter Hakim assinala que “Cuba, não menos que os Estados Unidos, tem a responsabilidade de alinhar as suas políticas e práticas às normas internacionais. Cuba é o único país do hemisfério ocidental que se recusa a rea-lizar eleições livres para eleger seus dirigentes. Embora a prática democrática e o Estado de Direito sejam violadas com regularidade em muitos países da América Latina e frequen-temente também nos Estados Unidos, o historial de Cuba em matéria de direitos humanos, liberdade de expressão e inde-pendência judicial continua a ser especialmente deplorável e deve ser melhorado”.

“Obama tem recorrido a medidas executivas

que tentam flexibilizar as restrições ao

intercâmbio económico”

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Por outro lado, existe a ques-tão da base de Guantánamo, dado que o presidente Castro transformou a devolução do território numa condição sine qua non da normalização das relações com os Estados Unidos. “Para alcançar a nor-malização, será indispensável também que se devolva o terri-tório ilegalmente ocupado pela base naval em Guantánamo”, declarou o presidente cubano em 2015.

Por último, há as indemniza-ções que o governo cubano tem exigido “pelos danos humanos e económicos pro-vocados pelas políticas dos Estados Unidos”, bem como as compensações que os Estados Unidos reclamam do regime cubano pelos bens america-nos desapropriados depois do triunfo da revolução em 1959. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos acumula 8 821 reivindicações de empresas e particulares de nacionalidade americana por terem perdido propriedades, e que em con-junto somam 2 mil milhões de dólares desde 1960.

Em suma, apesar de se ter avançado muito desde 2014, os obstáculos que persistem no caminho podem atrasar o tra-jeto e mesmo bloqueá-lo. Carl Meacham, diretor do Programa América Central de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), adverte que “é muito improvável ir para trás, mas o grande desafio é não perder força enquanto se avança”.

8. CONCLUSÕES

AS QUESTÕES DE FUNDO QUE PODEM PÔR A NEGOCIAÇÃO EM PERIGO

Além da retórica, o processo de negociação entre os EUA e Cuba tem dado resultados concretos de caráter histórico, que con-tribuem para inaugurar um novo ciclo nas relações cubano--estadunidenses e na história de Cuba. A culminação deste processo seria o levantamento do embargo e os avanços demo-cráticos em Cuba. E estes são os principais empecilhos e as questões que fazem temer um bloqueio desta nova relação.

Certamente, o discurso de Oba-ma caracteriza-se mais pela mu-dança do que pela permanência. Uma orientação que não coin-cide com a do discurso de Raúl Castro, sempre mais centrado no que permanecerá inalterado em Cuba do que no que vai mudar. O governo cubano continua a resistir à introdução de mu-danças políticas e as mudanças económicas, impulsionadas pelo fim do embargo, não teriam porque garanti-las. Contudo, não se pode esquecer que existe essa possibilidade. Há uma oposição interna, embora pouco articulada e dividida, uma população com expectativas de mudança alimen-tadas pelo próprio governo, tanto no âmbito económico como no internacional que, sem dúvida, abrem novos espaços e oportu-nidades para que, se não for o governo, os cidadãos comecem a tomar cada vez mais iniciativas e

“Além da retórica, o processo de negociação

entre os EUA e Cuba tem dado resultados concretos de caráter

histórico”

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a aspirar a impulsionar uma mu-dança mais integral orientada em direção à conformação de uma sociedade com mais liberdade económica, mas também política.

Insiste-se em que nenhum pre-sidente norte-americano nem cubano poderá vedar, em qual-quer caso, o caminho iniciado, depois dos avanços alcança-dos. Não têm cabida negações taxativas, pois seria um suicídio político. A maioria da popu-lação norte-americana e boa parte dos cubano-americanos, e mesmo setores republicanos, apoiam a normalização destas relações e o fim do embargo. Por seu turno, a população cubana tem todas suas expec-

tativas voltadas para o fim do bloqueio, e a maior parte da co-munidade internacional apoia também a cessação do embar-go. Não parece fácil, portanto, que esta etapa possa terminar sem mais avanços, por algum dos protagonistas pretender manter posições inalteráveis.

Não é possível prever comple-tamente, neste momento, os obstáculos e as dificuldades do caminho, a atuação dos protago-nistas do processo nem o ritmo ou a maneira como se darão as mudanças por fazer, mas podemos afirmar que não há volta atrás, que já não é possível. A sociedade cubana mudou e a americana também.

“A sociedade cubana mudou e a

americana também”

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AutoresJoan Navarro é Sócio e Vice-Presidente de Assuntos Públicos na LLORENTE & CUENCA. Dirige a área de Assuntos Públicos desde abril de 2010 e é sócio da empresa desde 2012. Durante esses anos conseguiu criar o principal departamento de Assuntos Pú-blicos do mercado espanhol. Foi diretor e porta-voz da Associacão de Criadores e Indústrias de Conteúdos Audiovisuais e ocupou diversos cargos na Administração Pública espanhola, entre eles,

Diretor de Relações Institucionais da Sociedade Estatal Aguas das Bacias Me-diterrânicas (2006-2008) e Diretor do Gabinete do Ministro das Administrações Públicas (2004-2006).

[email protected]

Pau Solanilla é Diretor geral para Cuba em LLORENTE & CUENCA. Possui um Master em Direção, Gestão e Organização de Empresas, uma pós-graduação em Comércio Exterior e Gestão Internacional de Empresas, e conta com uma vasta experiência na internacionalização de empresas, assuntos públicos e negociações em entornos internacionais e multicul-turais.Domina o inglês, o francês e o italiano e entre os anos 1999

e 2005 trabalhou em Bruxelas, da delegação do Parlamento Europeu para a América Central e Cuba.

[email protected]

Juan Carlos Gozzer é Diretor-Geral na LLORENTE & CUENCA Brasil. Especialista em gestão de reputação e estratégias de comu-nicação, Juan Carlos colaborou no projeto de planos de comunica-ção estratégica para vários clientes, como a Sonae Sierra Brasil, a Organização Cisneros, a Light Energía, a Embratur, entre outros. Trabalhou como professor de Especialização em Estratégias Digitais na Universidade do Pacífico e no Programa de Especiali-

zação Gerencial da Universidade San Martin de Porres. Também colaborou com a Fundação Friedrich Ebert (FES). Juan Carlos é licenciado em Ciências Políticas. Além disso, tem uma especialização em Informação Internacional na Univer-sidade Complutense de Madrid e um mestrado em Relações Internacionais, na Universidade de Bolonia.

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Iban Campo é Diretor Geral de LLORENTE & CUENCA na Repú-blica Dominicana. Licenciado em Ciências da Informação pela Uni-versidade de Navarra, conta com uma excelente trajetória profis-sional na República Dominicana, onde trabalhou para a American Chamber of Commerce (Câmara de Comércio Americana) como Gerente de Comunicação Corporativa. Foi também Diretor de Comunicação da Fundação Global Democracia e Desenvolvimento

(FUNGLODE), e correspondente do diário El País de Espanha, editor do Listín Diario e Editor Geral de El Caribe, onde também exerceu as funções de Diretor de Serviços Multimédia. Iban combina o melhor do conhecimento do mundo dos meios de comunicação, com o melhor do mundo da comunicação corporativa.

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Santiago Rossi é Diretor de Assuntos Públicos de LLORENTE & CUENCA Argentina. É licenciado em Jornalismo (Salvador), e possui um Master em Gestão da Comunicação das Organizações (Austral). Foi Diretor de Comunicação em ANSES e no Ministério do Turismo da Argentina. Previamente exerceu as funções de Diretor de Opinião Pública no IPSOS e na agência Dell'Oro Trigo, tendo ainda sido assessor do Congresso da Nação

e na Câmara Legislativa da Cidade de Buenos Aires. É membro fundador da Organização de Consultores Políticos Latino-americanos (OCPLA) e foi Diretor de Imagem Pública de Rotary Internacional. Além disso, escreveu e colaborou em numerosas publicações sobre comunicação e política.

[email protected]

José Carlos Antón é Diretor Sênior em LLORENTE & CUENCA Peru. Licenciado em Ciências da Informação e Jornalismo, e espe-cialista em jornalismo econômico pela universidade Complutense de Madrid, José Carlos Antón acumula mais de 17 anos de expe-riência na área da consultoria de comunicação, dos quais 15 anos no Peru e na América Latina, tendo liderado equipas de gestão e preparação de crise para o setor energético da mineração (SAVIA

Peru, Gran Tierra Energy, Pluspetrol, Cormin, Volcan, Milpo, Votorantim Metais, Cerro Verde, Newmont, Barrick), hidrocarbonetos (Pluspetrol, Mobil, PDVSA, Repsol), telecomunicações (Telefónica, BellSouth, AT&T), consumo de massas (Procter & Gamble, Unilever, Colgate), IT (Microsoft, HP), alimentação (SAB Miller), banca (BBVA Banco Continental, BCP), legal e da indústria farmacêutica.

[email protected]

Mariana Campero é Diretora Sênior de Promoção e Novos Negó-cios de LLORENTE & CUENCA México desde 2015, onde também coordena a rede global AMO, de que a firma é membro. AO longo dos seus 10 anos de experiência profissional, Mariana prestou serviços de assessoria a empresas mexicanas e internacionais, no âmbito da sua comunicação com o mercado dos EUA. Previamen-te, fundou uma empresa dedicada à promoção do design mexica-

no na Suíça. Mariana começou a sua carreira profissional em Zemi Communi-cations, uma empresa com sede em Nova Iorque, fundada por Alan Stoga, onde exerceu as funções de vice-presidente encarregada das relações com alguns dos principais clientes e com os meios de comunicação. É licenciada em Adminis-tração pelo Instituto Tecnológico Autônomo do México (ITAM), e possui um Máster em Artes da Universidade de Columbia, de Nova Iorque.

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DIREÇAO CORPORATIVA

José Antonio LlorenteSócio Fundador e [email protected]

Enrique GonzálezSócio e [email protected]

Adolfo CorujoSócio e Diretor Geral Corporativo de Talento, Organização e Inovaçã[email protected]

DIREÇAO ESPANHA E PORTUGAL

Arturo PinedoSócio e Diretor [email protected]

Goyo PanaderoSócio e Diretor [email protected]

DIREÇAO AMÉRICA LATINA

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Marjorie BarrientosGerente de RH para Região [email protected]

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Karina SanchesGerente de RH para Cone [email protected]

Sergio CortésSócio. Fundador e Presidente da [email protected]

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ESPANHA E PORTUGAL

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Quito

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