cruz e sousa - o livro derradeiro

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8/20/2019 Cruz e Sousa - O Livro Derradeiro http://slidepdf.com/reader/full/cruz-e-sousa-o-livro-derradeiro 1/279 Falares Literários http://www.falares.hpg.com.br O Livro Derradeiro Cruz e Sousa Cambiantes Supremo Anseio  E sta profunda e intérmina esperança  Na ual eu tenho o esp!rito seguro" A t#o profunda imensidade a$ança %omo é profunda a idéia do futuro. Abre&se em mim esse clar#o" mais puro 'ue o céu preclaro em matinal bonança: (sse clar#o" em ue eu melhor fulguro" (m ue esta $ida uma outra $ida alcança. Sim) *nda espero ue no fim da estrada +esta e,ist-ncia de iluses cra$ada (u $ea sempre refulgir bem perto (sse clar#o esplendoroso e louro +o amor de m#e 0 ue é como um fruto de ouro" +a alma de um filho no eternal deserto.

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O Livro DerradeiroCruz e Sousa

Cambiantes

Supremo Anseio

 E sta profunda e intérmina esperança Na ual eu tenho o esp!rito seguro"A t#o profunda imensidade a$ança%omo é profunda a idéia do futuro.

Abre&se em mim esse clar#o" mais puro'ue o céu preclaro em matinal bonança:

(sse clar#o" em ue eu melhor fulguro"(m ue esta $ida uma outra $ida alcança.

Sim) *nda espero ue no fim da estrada+esta e,ist-ncia de iluses cra$ada(u $ea sempre refulgir bem perto

(sse clar#o esplendoroso e louro+o amor de m#e 0 ue é como um fruto de ouro"+a alma de um filho no eternal deserto.

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Ap1s o Noi$ado

 E m flácido di$# ela res$ala Na alco$a 0 bem feli2" alegremente"

( o fresco penteador al$initente"+e nardo e benoim o aroma e,ala.

( o noi$o todo amor" assim lhe fala"3or entre $ibraçes do olhar ardente:3ertences&me afinal" pomba dormente3arece ue a ra2#o de go2o" estala.

4as eis 0 corre&se ent#o n!$ea cortina:( a plácida" a ideal" a branca lua+errama nos $ergéis a lu2 di$ina...

+epois... 5h) 4usa auda2" ousada" e nua" N#o rompas esse $éu de ga2e fina'ue encerra um madrigal 0 6amos... recua)...

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+ormindo...

 P álida" bela" escultural" clor1ticaSobre o di$# sua$!ssimo deitada"

(la lembra$a 0 a pálpebra cerrada 0 7ma ilus#o esplendida de 1tica.

A peregrina carnaç#o das formas" 0 o sensual e l!mpido contorno"8inham esse u- de a$érnico e de morno"+a$am a 9ola as mais corretas normas)...

(la dormia como a 6-nus casta( a negra coma a$eludada e bastaLhe res$ala$a sobre o doce flanco...

(nuanto o luar 0 pela anela aberta 0  0 como uma $aga e,clamaç#o 0 incerta(ntra$a a flu, 0 cascateado 0 branco))...

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 Nerah*nspirado no elegante conto de 6irg!lio 6ár2ea;

 A Vítor Lobato

 N erah n#o brinca mais" n#o dança mais. 0 ( agora'ue $#o&se apropinuando os tempos in$ernosos"

 Nerah tra2 uns receios t!midos" ner$osos"+e uem teme mudar&se em noite" sendo aurora.

Seus sonhos de cristal" transl<cidos" antigosSe $#o embora" embora = $inda dos in$ernos"Seguindo em debandada os <midos galernos 0 

 0 lembrando um roto bando informe de mendigos.

 N#o canta o sabiá ue triste na gaiola"3arece" com o olhar" pedir&lhe a casta esmola+e um riso 0 auela flor ue es$ai&se" branca e fria.

(m tudo a fina seta aguda de afliçes) Na pr1pria atmosfera um caos de intereiçes)(m tudo uma mortalha" em tudo uma agonia.

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Amor 

 N as largas mutaçes perpétuas do uni$erso5 amor é sempre o $inho enérgico" irritante...

7m lago de luar ner$oso e palpitante...7m sol dentro de tudo alti$amente imerso.

 N#o há para o amor rid!culos pre>mbulos" Nem mesmo as con$ençes as mais superiores?( $amos pela $ida assim como os noct>mbulos= fresca e,alaç#o sal<brica das flores...

( somos uns completos" célebres artistas Na obra racional do amor 0 na heroicidade"%om essa intrepide2 dos sábios transformistas.

%umprimos uma lei ue a sei$a nos dirige( amamos com $igor e com $italidade"A cor" os tons" a lu2 ue a nature2a e,ige)...

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(scra$ocratas

Oh) tr>nsfugas do bem ue sob o manto régio4anhosos" agachados 0 bem como um crocodilo"

6i$eis sensualmente = lu2 dum pri$ilégio Na pose bestial dum cágado tran@ilo.

(u rio&me de $1s e cra$o&$os as setasArdentes do olhar 0 formando uma $ergasta+os raios mil do sol" das iras dos poetas"( $ibro&$os a espinha 0 enuanto o grande basta

5 basta gigantesco" imenso" e,traordinário 0 +a branca consci-ncia 0 o r<tilo sacrário

 No t!mpano do ou$ido 0 auda2 me n#o soar.

(u uero em rude $erso alti$o adamast1rico"6ermelho" colossal" destrépito" gong1rico"%astrar&$os como um touro 0 ou$indo&$os urrar)

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+a Sen2ala...

 De dentro da sen2ala escura e lamacentaAonde o infeli2

+e lágrimas em fel" de 1dio se alimenta8ornando meretri2

A alma ue ele tinha" o$ante" imaculadaAlegre e sem rancor"3orém ue foi aos poucos sendo transformadaAos $i$os do estertor...

+e dentro da sen2alaAonde o crime é rei" e a dor 0 cr>nios abala(m !mpeto ferino?

 N#o pode sair" n#o"7m homem de trabalho" um senso" uma ra2#o...e sim um assassino)

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+ilema

 Ao Cons. Luís Álvares dos Santos

V ai&se acentuando"Senhores da ustiça 0 her1is da humanidade"5 $erbo tricolor da confraternidade...( uando" em bre$e" uando

Baiar o grande dia+os largos arreb1is 0 batendo o preconceito...5 dia da ra2#o" da lu2 e do direito

 0 solene trilogia 0 

'uando a escra$atura

Surgir da negra tre$a 0 em ondas singulares+e lu2 serena e pura?

'uando um poder no$o Nas almas derramar os m!sticos luares"(nt#o seremos po$o)

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C Be$olta

 A Cassiano César 

O século é de re$olta 0 do alto transformismo"+e +arwin" de Littré" de Spencer" de Laffite 0 'uem fala" uem dá leis é o rubro niilismo'ue tra2 como di$isa a bala&dinamite)...

Se é força" se é preciso erguer&se um e$angelho"4ais reto" ue instrua 0 estético 0 mais no$o(smaguem&se do trono os dogmas de um 6elho( lance&se outro sangue aos m<sculos do po$o)...

5 $!cio a2inha$rado e os cérebros rau!ticos"

D pE&los ao olhar dos sérios anal!ticos" Na ampla" social e espl-ndida $itrine)...

C frente)... 0 8rabalhar a lu2 da idéia no$a)... 0 3ois bem) Sea a idéia" uem lance o $!cio = co$a" 0 3ois bem) 0 Sea a idéia" uem gere e uem fulmine)...

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(scárnio 3erfumado

Quando no enleio+e receber umas not!cias tuas"

6ou&me ao correio"'ue é lá no fim da mais cruel das ruas"

6endo t#o fartas"+uma fartura ue ninguém colige"As m#os dos outros" de ornais e cartas( as minhas" nuas 0 isso d1i" me aflige...

( em tom de mofa"ulgo ue tudo me escarnece" apoda"Bi" me apostrofa"

3ois fico s1 e cabisbai,o" inerme"A noite andar&me na cabeça" em roda"4ais humilhado ue um mendigo" um $erme...

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Filetes

 A J. L.

 De cra$os" de rosas"+e l!rios" perfumes"+e beios" ci<mes"+e coisas formosas?

+e cantos sua$es+e m<sicas" $inhos+e aromas" arminhos+os trinos das a$es?

+as cismas radiadas"

+e esperanças aladas3or $agos escombros"

S#o feitos" s#o feitos8eus olhos perfeitos"Bepletos de assombros.

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Soneto

"Minha vida é um montão de ruínas em rido deserto!m abismo de ais e de suspiros".

 Da mundana lida" eis ue cansado"%oHa lira toda espedaçada"A alma de suspiros retalhada"%umpre o infeli2 seu triste fado.

Ai) ue $i$er mais desgraçado)...'ue sorte t#o crua e desa2ada)...'uem assim tem a $ida amarguradaAntes á morrer" ser sepultado.

S1 eu triste padeço feras dores"*mensas e de fel" sem terem fim"(n$olto no $éu dos dissabores.

5h) %risto eu n#o sei se s1 a mim+este essa $ida dHamargores"3ois ue é demais sofrer&se assim)

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SonetoIJ de2. KM;

 ieu a #ait la mer$ les oiseau%$ les cieu%$&oute la nature en#in' mais les hommes

ont découvert les sciences$ les arts et leslettres (ui les él)vent *us(u+, m-me ieu.

 De 4aseder gentil o $ulto ingente+e %orelli" de Spohr e de Nardini"+e 5le Gull supernal" de 6eracini*nspirados por +eus co plectro ardente?

+essa lira febril" áurea" potente+o artista sem par" de 3aganini?

+e 6iotti dinal" do her1i 8ardini"+e Lafont" de Gaillot" (cO e Laurenti:

Sois ri$al feli2) e nesse cr>nioPá em orros" oh céus) e,tra$asando5 ardor musical" o ardor tit>neo...

á bem cedo" $elo2" ides galgandoLá da gl1ria os degraus" o suped>neoSobre um trono de lu2 rindo e cantando.

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Soneto" Q+iatribeQ

 Dois 2oilos mui completos deste mundo"+ois 2oilos há terr!$eis e 2elosos"

'ue estando sem fa2er" mui ociososS1 tratam dum falar nauseabundo.

(u sei mui bem seus nomes 0 n#o confundo%om esses bem sensatos" talentosos"%om esses lidadores mui briosos'ue t-m estudo imenso e bem profundo)

4as ah) pra ue tempo hei&de gastar %om uem s1 $i$e imerso na caligem+Hin$ea torpe e $il a esbra$ear)

*sto" meus amigos" é impigem'ue uanto se procura mais coçar 8anto e tanto mais s1 dá prurigem)

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Soneto

 or ocasião dos #este*os em homena/em ao se%a/ésimo primeiro aniversario natalíciodo elo(0entíssimo tribuno sa/rado$ Joa(uim 1omes d+2liveira aiva.

 H á $ultos tamanhos ue n#o%abendo no globo" $#o uedos4as solenes" refugiar&se na campa.+a! embuçam&se num manto infinito+e gl1riasR...

4inhHalma está agora penetrandoLá na etérea plaga" cristalina)'ue m<sica meu +eus febril" di$ina

 Nos páramos a2uis $ai retumbando)

Além" dHáureo dossel se está rasgando%ustosa" de primor" esmeraldina+iáfana" sutil" longa cortina(nuanto céus se $#o duplando)

(m grande pedestal marmori2ado+e 3ai$a se di$isa o busto enormeSoberbo como o sol" de lu2 croado

+e um lado o por$ir 0 Antheu disforme+os lábios fa2 soltar puante bradoPosanas) n#o morreu) apenas dorme.

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Soneto de2. KI;

 4mbeberam5me a pena em #el6AntEnio 4endes Leal;

 Dei,ai ue deste álbum na folha delicada(u $enha difundir meus rudes pensamentos+ei,ai ue as pobres rimas" uns nadas poeirentos(u possa transudar da mente entrenublada)...

+ei,ai ue de minhHalma na fibra espedaçada(u busue inda $ibrar uns cantos tardos" lentos)...Gem cedo os $enda$ais" aspérrimos" cruentosAi) 8udo arroar#o = campa amargurada)

3orém uHimporta isso) dos mares desta $ida Nos pá$idos" estranhos" enormes escarcéusSe alguma coisa $al" és tu" 1 lu2 uerida)...

Basguemos do por$ir os áditos" os $éus)...Biamos sem cessar" embora em dor sentida)...8ambém as nu$ens negras conglobam&se nos céus)

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SonetoI no$. KI;

 A mocidade é a alavanca do templo da ci-ncia$ no #uturo' s7 ela tem o direito de ser a #or3a motri8 dos #en9menos intelectuais das /randes revolu3:es do pensamento.

+o Autor;

 Alçando o li$ro colossal ardente8raças no cr>nio um sulco luminoso"( $ais seguindo o remontar garboso+o sol fagueiro lá no espaço ingente)

(rgues a fronte u$enil potenteá como her1i ou lutador famoso( cHuma forma de pensar honroso

Fa2es&te esperança da bras!lea gente)

Seis $e2es astro de maior grande2a(nfim lá surges nos e,ames belos(nfim triunfas na brilhante empresa)

Seis $e2es uebras da ignor>ncia os elos"Seis $e2es $i$es com mais s# firme2a"Temem seis $e2es a lou$ar&te os prelos)...

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Soneto

C hegou enfim" e o desembarue dela%ausou&me logo uma impress#o di$ina)

D meiga" pura como s# bonina" Nos olhos $i$os doce lu2 re$ela)

D graciosa" sacudida e bela" N#o tem os gestos de ualuer menina:3arece um g-nio ue sedu2" fascina"8#o atraente" singular é ela)

%hegou" enfim) eu murmurei contente)Fe2&se em minhHalma purpurina aurora"5 entusiasmo me brotou fer$ente)

6imos&lhe apenas a construç#o sonora"6imos a lar$a" nada mais" somenteFalta&nos $er a borboleta agora)

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 Na 4a2urOa

 M ora$a num palácio 0 estranha GabilEnia+e arcadas colossais" de impá$idos 2imb1rios"

Alco$as de damasco e torrees marm1reos"6olutas primorais de aruitetura Enia.

Assim" uando surgia em meio aos peristilos+escendo" ual mulher de Séfora" $aidosa"(n$olta em ouropéis" em sedas" lu,uosa"%ercam&na do belo os m!sticos sigilos)

( uando nos saraus" assim como um rain<nculo"5 lábio lhe tremia e o olhar" $i$o carb<nculo"6ibra$a nos sales" como uma adaga turca"

5u como o sol em cheio e rubro sobre o G1sforo" 0 nos cr>nios os Pomens sentiam ter mais f1sforo...Ao $-&la escultural no passo da 4a2urOa...

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5 Final do TuaraniSantos" K ul. KU;

C eci 0 é a $irgem loira das brancas harmonias"

A doce&flor&a2ul dos sonhos cor de rosa"3eri 0 o !ndio ousado das bruscas fantasias"5 tigre dos sertes 0 de alma luminosa.

Amam&se com o amor indEmito e latente'ue nunca foi traçado nem pode ser descrito.%om esse amor sel$agem ue anda no infinito.( brinca nos uncais" 0 ao lado da serpente.

3orém... no lance e,tremo" o lance pa$oroso"Assim por entre a morte e os tons de um puro go2o"

+os leues da palmeira a note musical...

6#o ambos a sorrir" =s águas arroados"4ansos como a lu2" tran@ilos" enlaçados( perdem&se na noite serena do ideal)...

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*déia&4#e

 Laborare i/nus est operarius mercede sua.;A#. Lat.<

 E rgueis ousadamente o templo das idéiasAssim como uns her1is" por sobre os $ossos ombros( ides atra$és de um negro mar dHescombros"8raçando pelo ar as loiras epopéias.

A lu2 tem para $1s os filtros magnéticos'ue andam pela flor e brincam pela estrela.( $1s amais a lu2" gostais sempre de $-&la(m amplo cintilar 0 nuns -,tases patéticos.

D esse o aspirar do séclo ue deslumbra"'ue rasga da ci-ncia a tétrica penumbra( gera 6!tor Pugo" PaecOel e Littré.

D esse o grande 0 Fiat 0 ue rola no infinito)...D esse o palpitar" homérico e bendito"+e todo o ser ue $i$e" estuda" pensa e l-))...

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5 Seu Goné%orte" out. KU;

 = atri8 Adelina Castro

 É  um boné ideal" de feltros e de plumas"'ue ela usa agora" assim como um turbante8urco" a$eludado" doce como algumas

 Nu$ens matinais ue rolam no le$ante.

Lembro uando ao $-&lo a rubra marselhesa"Lembro sensaçes e cousas de prod!gio( penso ue ele tem a máscula grande2a+esse sedutor" $ital barrete fr!gio)...

Cs $e2es meu olhar medindo&lhe o contorno( a flácida plumagem ue ser$e&lhe dHadorno"

 0 sat>nico" $ora2" espl-ndido de fé)

(,clama num id!lio c>ndido e singelo"3or entre as con$ulses art!sticas do Gelo? 0 5h) tem coraç#o e alma" esse boné)...

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Soneto+esterro" KU an. KU;

 A Moreira de Vasconcelos

 N a luta dos imposs!$eis"do espirito e da matéria"tu és a águia sidéreados pensamentos terr!$eis)+o Autor;

D um pensar flameador" dard>nico7ma e,plos#o de rápidas idéias"'ue como um mar de estranhas odisséiasSaem&lhe do cr>nio escultural" tit>nico)...

3arece ha$er um cataclismo enormeLá dentro" em >nsia" a rebentar" fremente)...3arece ha$er a con$uls#o potente"+os rubros astros num fragor disforme)...

P#o de ruir na transfus#o dos mundos5s monumentos colossais profundos"As cousas $#s da brasileira hist1ria)

4as o seu $ulto" sobre a lu2 alçado"5h) há de erguer&se de arreb1is cHroado"%omo Atalaia nos umbrais da gl1ria))...

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5iseau, de 3assage

 Les r-$es" les grands r-$es ue moi touours adore"Les r-$es couleur rose" les r-$es éclatants?

Ainsi ue les colombes un autre ciel cherchantsHai $u les ailes ou$ertes" si belles ue lHaurore.

Autour de la nature" autour de la profonde(t mer$eilleuse mVre des fleurs" des harmonies"Les r-$es éblouissants" remplis dHamour et $ie"8rou$aient de lHespoir le plus doré des mondes.

Pélas)... 0 mais maintenant" par des chagrins" secrets"LHamour" les étoiles et tout ce uHil nous est%héri 0 le beau soleil" la lune et les nuages?

8out fut plongé dabordH plongé dans le mstVre"A$ec de mon coeur la douce lumiVre"Les r-$es de mon >me 0 un oiseau, de passage)...

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%olar de 3érolas

 Ao #eli8 cons7rcio dos estimveis cole/as$ . Jesuína Leal e >rancisco de Castro.

 A FHlicidade é um colar de pérolas"3érolas caras" de $alor puante"Gelas estrofes de 3etrarca e +ante4ais cintilantes ue as manh#s mais cérulas.

3ara ue enfim esse colar bendito"3erdure sempre" inteiramente egrégio"%omo uma tela do pintor %orreggio"Sem res$alar no lodaçal maldito:

Fa2&se preciso umas pai,es bem retas"

%heias de uns tons de muito sol 0 completas...Fa2&se preciso ue do amor na febre"

 Nos grandes lances de $igor preclaro"+esse colar esplendoroso e raro"

 Nem uma pérola" uma s1 se uebre)...

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Satanismo

 N #o me olhes assim" branca Arethusa"3eregrina inspiraç#o dos meus cantares?

 N#o me dei,es a ra2#o $agar confusaAo rel>mpago ideal de teus olhares.

 N#o me olhes" oh) n#o" poruanto eu penso(n$ol$ido no luar das minhas cismas"'ue o olhar ue me dardeas 0 doido" imenso8em a rápida e,plos#o dos aneurismas.

 N#o me olhes. 5h) n#o" ue o pr1prio inferno3roblemático" fatal" cálido" eterno"

 Nos teus olhos" mulher" se foi cra$ar)...

 N#o me olhes" oh) n#o" ue mentolece8anta lu2" tanto sol 0 e até parece'ue tens m<sicas cruéis dentro do olhar)...

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4etamorfose

 A Carlos >erreira

O sol em fogo pelo ocaso e,plode Nesse estertor" ue os cr>nios assoberba.6i$o" o clar#o" nuns frocos e,acerba+os ideais a original ne$rose.

+a nature2a os anafis mouriscosAnte o cari2 da atmosfera muda"Soam uei,osos" numa nota aguda"+a lu2 ue es$ai&se aos derradeiros discos.

5 pensamento ue flamea e luta

 Nos ares rasga aprofundado sulco...A sombra desce nos lisins da gruta?

( a lua no$a 0 a peregrina 5nfale"%omo em um plaustro luminoso" hiulco"Surge atra$és dos pinheirais do $ale.

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Auréola (uatorial

 A &eodoreto Souto

F undi em bron2e a estrofe augusta dos prod!gios"3oetas do (uador" art!sticos Garna$es?'ue o facho 0 Aboliç#o 0 rasgando as nu$ens gra$es+e raios e bulces 0 triunfa nos lit!gios)

 0 5 rei 4amoud" o Sol" $ibrou prauelas bandasdo Norte 0 a grande lu2 0 elétrico" e,plodindo"Assim como uem $ai" intrépido" subindoC lu2 da idade no$a 0 em claras propagandas.

 0 5s pássaros tit#s nos seus conciliábulos"

 0 %hilreiam" $#o cantando em m!sticos $ocábulos"Alargam&se os pulmes ne$rálgicos das 2onas?

Abri alas" abri) 0 'ue em t<nica de assombros"*rá passar por $1s" com a Liberdade aos ombros"%omo um colosso enorme o impá$ido Ama2onas)

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Anda&me a Alma

 Anda&me a alma inteira de tal sorte"4eus go2os" meu pesar" nos dela unidos

'ue os dela s#o também os meus sentidos"'ue o meu é também dela o mesmo norte.

7nidos corpo a corpo 0 um elo forte Nos prende eternamente 0 e nos ou$idosSentimos sons iguais. 6emos floridos5s sons do por$ir" em a2ul coorte...

5 mesmo diapas#o musicali2a5s seres de nos dois 0 um sol irisa5s nossos coraçes 0 dá lu2" constela...

Anda esta $ida" espirituali2ada3or este amor 0 anda&me assim 0 ligadaA minha sombra com a sombra dela.

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'uando (u 3artir 

Quando eu partir" ue eterna e ue infinitaPá de crescer&me a dor de tu ficares?

'uanto pesar e mesmo ue pesares"'ue comoç#o dentro desta alma aflita.

3or nossa $ida toda sol" bonita"'ue sentimento" grande como os mares"'ue sombra e luto pelos teus olhares5nde o carinho mais feli2 palpita...

 Nesse teu rosto da maior bondade'uanta saudade mais" ue atro2 saudade...'uanta triste2a por n1s ambos" uanta"

'uando eu ti$er á de uma $e2 partido"W meu amor" 1 meu muito ueridoAmor" meu bem" meu tudo" 1 minha santa)

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Sempre e... Sempre

 A M. ?. Au/usto Varela

Sempre se amando$ sempre se (uerendo.5li$eira 3ai$a;

 De longe ou perto" untas" separadas"5lhando sempre os mesmos hori2ontes"3resas" unidas nossas duas fontesT-meas" ardentes" no$as" inspiradas?

6endo cair as lágrimas prateadas"Sentindo o coro harmEnico das fontes"

Sempre fitando a c<spide dos montes( o rosicler das frescas al$oradas?

Sempre embebendo os l!mpidos olhares Na clarid#o dos humildes luares" No loiro sol das crenças se embebendo"

6#o nossas almas brancas e floridas3elo futuro a2ul das nossas $idas"Sempre se amando" sempre se uerendo.

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 Noi$a e 8riste

 Rola da lu2 do céu" solta e desfraldaSobre ti mesma o pa$ilh#o das crenças"

%onstele o teu olhar essas imensas6agas do amor ue no teu peito escalda.

A primorosa e l!mpida grinaldaPá de enflorar&te as amplides e,tensas+o teu pesar 0 há de rasgar&te as densasSombras 0 o $éu sobre a lu2ente espalda...

*nda n#o ri esse teu lábio rubroPoe 0 inda nalma" nesse a2ul delubro

 N#o fulge o brilho ue as pai,es enastra?

4as" amanh#" no sorridor noi$ado"A $ida triste por ue tens passado"+e madressil$as e asmins se alastra.

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4#e e Filho

 =s mães desamparadas

 J esus" meu filho" o encanto das crianças"'uando na cru2" de angustia espedaçado"(m sangue casto e l!mpido banhado"4anso" t#o manso como as pombas mansas?

(mbora as duras e afiadas lanças%om ue os udeus" tinham" de lado a lado"Seu coraç#o pur!ssimo $arado"*nda no olhar raia$am&lhe esperanças.

3or isso" 1 filho" 1 meu amor 0 se a esmola

+e algum conforto essencial n#o rola3or n1s 0 é forca condu2ir a cru2)...

4as" $olta 1 filho" pesaroso e triste.Se a nossa $ida s1 na dor consiste"Ah) minha m#e" por ue morreu esusR...

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 Nature2a

 Aos oetas

T udo por ti resplende e se constela"8udo por ti" sua$!ssimo" flamea?Ds o pulm#o da racional pelea"Sempre $iril" consoladora e bela.

8eu coraç#o de pérolas se estrela"( o bom falerno dás a uem desea6igor" sa<de a crença ue florea"'ue as e,panses do cérebro re$ela.

8oda essa lu2 ue bebe&se de um hausto

 Nos li$ros s#os" todo esse enorme fausto6em das $erduras brandas ue relu2em)

(sse da idéia espl-ndido eletrismo"5 forte" o grande" auda2 psicologismo"5s organismos naturais produ2em...

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Surdinas

 =s rapari/as tristes

V ais partir" $ais partir ue eu bem te $eo Na branca face os gélidos suores"6ais procurar as musicas melhores+o sol" da gl1ria e do celeste beio.

+entro de ti harpas do deseo N#o $ibram mais 0 embora ue tu chores 0  Nem pelas tuas afliçes maioresSe escuta um $ago e enfrauecido arpeo...

Gem) $ais partir" $ais demandar esferas

Amplas de lu2" feitas de prima$eras"3aisagens no$as e amplid#o florida...

4as ao chegar&te a lágrima infinita"Lembra&te ainda" 1 pálida bonita+e ue hou$e alguém ue te adorou na $ida.

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*rradiaçes

 =s crian3as

Qual da amplid#o fantástica e serenaC lu2 $ermelha e r<tila da aurora%ai" gota a gota" o or$alho ue a$igoraA imaculada e c>ndida açucena.

%omo na cru2" da triste 4adalenaAos pés de %risto" a lágrima sonora%aia" rolou" ual bálsamo ue irroraA negra mágoa" a indefinida pena...

%aia por $1s" espl-ndidas crianças

Gando feli2 de castas esperanças"Sonhos da estrela no infinito imersas?

%aia por $1s" as m<sicas formosas"%omo um dil<$io matinal de rosas"8odo o luar benéfico dos $ersos)

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Ambos

V #o pela estrada" = margem dos caminhosArenosos" compridos" salutares"

3or onde" a noite" os l!mpidos luares+#o =s $erduras le$es tons de arminhos.

 Nu$ens alegres como os al$os linhos%ortam a doce comprid#o dos ares"+entre as cançes e os tropos singulares+os inefá$eis" meigos passarinhos.

+o céu feli2 na branda cur$idade"A lu2 e,pande a inteira alacridade"5 mais supremo e encantador afago.

( com o olhar $ibrante de deseos6#o decifrando os tr-mulos arpeos"( as retic-ncias ue produ2 o $ago.

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3lenil<nio

V -s este céu t#o l!mpido e constelado( este luar ue em f<lgida cascata"

%ai" rola" cai" nuns borbotes de prata...6-s este céu de mármore a2ulado...

6-s este campo intérmino" encharcado+a lu2 ue a lua aos páramos desata...6-s este $éu ue branco se dilata3elo $erdor do campo iluminado...

6-s estes rios" t#o fosforescentes"%heios duns tons" duns prismas relu2entes"6-s estes rios cheios de ardentias...

6-s esta mole e transparente ga2e...3ois é" como isso me parecem uase*guais" assim" =s nossas alegrias)

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5s +ois

 Aos pobres

 0 M inha m#e" minha m#e" uanta grande2a Nesses plácidos" uanta maestade?%omo essa gente há de $i$er" como há deSer grande sempre na feli2 riue2a.

 Nem uma lágrima seuer 0 e = mesa+Hentre as bai,elas" dHentre a imensidade+a prata e do ouro 0 a a2ul felicidade+os bons manares de 1tima surpresa.

 Nem um instante os olhos rasos dHágua"

 Nem a ligeira oscilaç#o da mágoa Na $ida farta de pra2er" sonora.

 0 %omo o teu louco pensamento e,pandesFilho 0 a $entura n#o é s1 dos grandes3orue" olha" o mar também é grande e... chore)

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8riste

V ai&se e,tinguindo a $i$a labareda'ue te abrasa$a o coraç#o ridente...

3assas magoada pela rua e a gente7mas con$erses funerais segreda.

 N#o tens no olhar o sangue Hembebeda"Foram&se as rosas do $i$er contente...Segues" agora" pobre flor 0 somente+a sepultura a essencial $ereda.

( $em chegando o tenebroso in$erno...4as nesse mal de$orador e eterno"8eu organismo á n#o mais resiste

Cs punhaladas da estaç#o de gelo...( acabará como eu nem sei di2-&lo"8riste" bem triste" pesarosa" triste)

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%eleste

 Aos cora3:es ideais

 Lembra&me ainda 0 ao lado de um repu,o"3ela brancura de um luar de agosto"5 teu maninho" um loiro peuerruchoGrinca$a" rindo" te afagando o rosto...

Lembra&me ainda 0 as sombras do sol posto" Numa saleta sem brases de lu,o"+e alguns bordados de fine2a e gosto+elinea$as o gentil debu,o...

( o gás ue forte e cintilante ardia"

8e ilumina$a" te alaga$a... ria...+a lu2 fica$as no imponente abrigo.

( agora... dei,a ue ao cair da noite"(sta lembrança dentro de mim se acoite"%omo a andorinha no telhado amigo)

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(stas Bisadas

 E stas risadas l!mpidas e frescas'ue 3an trauteia em cálamos ma$iosos

 Nesta amplid#o dos campos $erdurosos" Nestas paisagens fl1reas" pitorescas?

8oda esta pompa e gala principescas+estas searas" destes altanosos4ontes e $ár2eas" prados $igorosos"Louros 0 tal$e2 como as $ises tudescas?

(ste lu,uoso e rico paramento"Feito de lu2 e de deslumbramento

 0 +o grande altar da nature2a imensa.

Aguarda o poeta sacerdote augusto"3ara cantar no seu missal robusto"A no$a 4issa da ra2#o ue pensa...

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Aos 4ortos

Oh) n#o é bom rir&se de um morto 0 brusca3ois de$e ser a sensaç#o ue aumenta

+esoladora" $agarosa" lenta+a negra morte tétrica $elhusca...

8udo ue em $ida" como um sol" corusca"'ue nos auece" ue nos acalenta"8udo ue a dor e a lágrima afugenta"5 olhar da morte nos apaga e ofusca...

 Nunca se de$e despre2ar os mortos... Nos regelados e sombrios portos"5nde a matéria se transforma e urge

(,uberar na planturosa lei$a"6i$em os mortos no $igor da sei$a"3orue d#o $ida ao ue da $ida surge)...

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Luar 

 P elas esferas" nu$ens peregrinas"Grandas de toues" encaracoladas"

3assam de longe" t!midas" ne$adas"%ru2ando o a2ul sereno das colinas.

Sombras da tarde" sombras $espertinas%omo escumilhas le$es" delicadas"%aem da serra oblonga nas uebradas"6#o penumbrando as coisas cristalinas.

Basga o sil-ncio a nota ch#" plangente"+a A$e&4aria" 0 e ent#o" ner$osamente"

 Nuns inefá$eis" espont>neos orros

(sbate o luar" de forma admirá$el"%laro" bondoso" elétrico" saudá$el"

 Na cur$il!nea comprid#o dos mortos.

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4ocidade

 Ah) esta mocidade) 0 'uem é moçoSente $ibrar a febre enlouuecida

+as iluses" da crença mais florida Na muscular artéria de %olosso...

+as incerte2as nunca mede o poço...Asas abertas 0 na amplid#o da $ida"3áramo a dentro 0 de cabeça erguida"6- do futuro o mais alegre esboço...

%hega a $elhice" a ne$e das idades( uem foi moço" $ol$e" com saudades"+o a2ul passado" o fulgido comp-ndio...

Ai) esta mocidade palpitante"Lembra um inseto de ouro" rutilante"(m derredor das chamas de um inc-ndio)

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Soneto

V #o&se de todo os pardacentos nimbos...%ho$em da lu2 as n!tidas fa!scas

( no esplendor de irradiaçes mouriscas"Abrem&se as flores em gentis corimbos.

4uito mais lestas do ue amigos fimbos"+o A2ul cortando as bordaduras priscas"3ombas do mato es$oaçando" ariscas"+o céu se perdem nos profundos limbos.

A nature2a pulsa como a fora...3ássaros $ibram no clarim da gora"As retumbantes" fortes clarinadas.

A grande artéria dos assombros pula...( do o,ig-nio" a força ue regula(nche os pulmes a largas baforadas.

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 Na Fonte

 Bem ao lado da gruta a fonte corre8repidamente" as águas encrespando"

(m murm<rios crebos" le$antando7ns chamalotes prateados 0 morre

 No monte o sol ue a lu2 no oceano escorre( ainda eu $eo" as sombras afrontando"7ma mulher ue la$a" mesmo uando5 sol mais rubro" mais $ermelho orre.

 0 D num s!tio afastado" um s!tio ermo...3ássaros cortam $astides sem termo"Gorboletas a2uis roçam nas águas.

 0 ( a mulher la$a" enrubescida a face?La$a" cantando" como se la$asseAs suas tristes e profundas mágoas.

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Soneto

 A fonte de águas cristalinas corre%hamalotes de prata le$antando"

( atra$és de ar$oredos murmurando"(ntre ar$oredos murmurando morre...

 No ocaso" o sol" a lu2 no oceano escorre( sempre $eo" as sombras afrontando"7ma mulher ue canta e ri" la$ando"4esmo ue o sol muito abrasado orre.

D $erde o campo" deleitá$el e ermo.3ássaros cortam $astides sem termo"Gorboletas a2uis roçam nas águas.

( cantando" a mulher" a rir a face"La$a cantando como se la$asseAs suas grandes e profundas mágoas.

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%ega

 P arece&me ue a lu2 imaculada'ue $em do teu olhar" todo doçuras"

 N#o $erte no meu ser auelas puras+el!cias de outra era á passada.

(u creio ue essa pálpebra adorada N#o mais um fl1reo emp!reo de $enturas+escobre&me 0 na noite de amarguras"+e d<$idas intérminas cortada.

 N#o olhas como olha$as" rindo" outrora" N#o abres a pupila" como a aurora Nascendo" abre" feli2" radiosa e calma.

A sombra" nos teus olhos" funda" e,iste)...8ualma de$e ser bem negra e tristeSe os olhos s#o" decerto" o espelho dHalma.

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(rmida

 Lá onde a calma e a placide2 e,iste"Sobre as colinas ue o $ergel encobre"

Auela ermida como está t#o pobre"Auela ermida como está t#o triste.

A minha musa" sem falar" assiste"+o meio&dia ante o aspecto nobre"5 $ago" estranho e murmurante dobre+auela ermida ue aos tro$es resiste

( as gargalhadas funéreas" sombrias"+os crus in$ernos e das $entanias"+o temporal desolador e forte.

+auela triste esbranuiçada ermida"'ue me recorda" me parece a $idaogada =s magoas e iluses da sorte.

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Xgua&Forte

 Do firmamento a2ul e cur$il!neo%ai" fecundando as tr-mulas ra!2es

+os laranais" dos p>mpanos" das li2es"A lu2 do sol procriador" sangu!neo.

3elo caminho agreste e retil!neo"+a tarde aos brandos" triunfais mati2es"A criançada" a chusma dos feli2es"(sse de auroras perfumado escr!nio"

6olta da escola" rindo muito" aos saltos"8repando" em bulha" aos ár$oredos altos(nuanto o sol desce os outeiros longos...

6ai dentre alados madrigais risonhos"+o abecedário u$enil dos sonhos"A soletrar os principais ditongos.

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Alma ue %hora

 A João Saldanha

 E m $#o do %risto aos olhos dulçurosos5nde há o sol do bem e da $erdade"%heios da lu2 eterna de saudade"%omo dois mansos coraçes piedosos"

(m $#o do %risto os olhos lacrimosos( auela doce e pura sua$idade+o seu semblante" casto" de bondade"%or do luar dos sonhos $enturosos"

Ser$em de e,emplo a dor escruciante

'ue te apunhala e fere a cada instante"A punhaladas r!spidas" austeras)

6iste partir a tua irm#" se" $iste"%omo num céu ené$oado e triste5 bando a2ul das f<lgidas uimeras...

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%hu$a de 5uro

 A Bainha desceu do %apit1lioAgora mesmo 0 $ede&lhe o regaço...

%omo tem flores" como tra2 o braçoFarto de 1ias" como pisa o s1lio

8riunfantemente" numa unç#o" num 1leo4ais santo e doce ue essa lu2 do espaço...( como desce com bra$ura de aço...3ois se a Bainha" como um rico esp1lio"

5 seu brioso coraç#o foi dandoAos pobre2inhos" ue inda est#o go2andoG-nç#os mais puras uos clares diurnos"

3or certo ue há de $ir descendo a escada+o %apit1lio da $irtude 0 olhada3elos Albergues infantis" noturnos)

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3rima$era a Fora

 E scute" e,celent!ssima: 0 'ue aragens8ra2 do ár$oredo a fresca romaria?

%omo este sol é rubro de alegria"'ue tons de lu2 nas l!mpidas paisagens.

3ois beba este ar e go2e estas $iagens+as brancas a$es" sinta esta harmonia+a nature2a e deste alegre dia'ue resplandece e ri&se nas er$agens.

+ei,e lá fora estrangular&se o mundo...(ncare o céu e $ea este fecundo%h#o ue produ2 e ue germina as flores.

6amos" senhora" o braço = prima$era"( numa doce m<sica sincera"%ante a balada eterna dos amores...

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I de 4arçoBecife" K;

 4m ernambuco para o Cear

 Bem como uma cabeça inteiramente nua+e sonhos e pensar" de arroubos e de lu2es"5 sol de surpreso esconde&se" recua"

 Na 1rbita traçada 0 de fogo dos obuses.

+a enérgica batalha est1ica do +ireito+esaba a escra$atura 0 a lei cuos fossosSe ergue a consci-ncia 0 e a onda em mil destroçosBes$ala e tomba e cai o branco preconceito.

( o No$o %ontinente" ao largo e grande esforço+e geraçes de her1is 0 presentes pelo dorsoC rubra lu2 da gl1ria 0 enuanto $oa e 2umbe.

5 inseto do terror" a tre$a ue amortalha"As lágrimas do Bei e os bra$os da canalha"5 $elho escra$agismo estéril ue sucumbe.

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 Ninho Abandonado

 = distinta #amília Simas$ pela morte de seu che#e$ o @lmo. Sr. João da Silva Simas.

O $osso lar harmEnico e tran@ilo(ra um ninho de lu2 e de esperanças'ue como abelhas iriadas" mansas"

 Nos $ossos coraçes tinham asilo.

Pa$ia lá por dentro tanta crença( tanto amor pur!ssimo" cantando"'ue parecia um largo sol faiscando3or maestosa catedral imensa.

Agora o ninho está desamparado)

Sumiu&se dele o pássaro adorado"5 mais ideal dos pássaros do ninho.

 N#o se ou$e mais a m<sica sonora+a sua $o2 0 dentro do ninho" agora"3aira a saudade como um bom carinho.

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%rença

F ilha do céu" a pura crença é isto'ue eu $eo em ti" na $astid#o das cousas"

 Nessa mude2 cast!ssima das lousas" No belo rosto sonhador do %risto.

A crença é tudo uanto tenho $isto Nos olhos teus" uando a cabeça pousasSobre o meu colo e ue di2er n#o ousas8odo esse amor ue eu $enço e ue conuisto.

A crença é ter os peregrinos olhosAbertos sempre aos r!spidos escolhos?8-&los = frente de ualuer farol

( conser$á&los" simplesmente acesos%omo dois fachos 0 engastados" presos

 Nas radiaçes prismáticas do sol)

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%risto e a Ad<lteraTrupo de Gernardelli;

 S ente&se a e,trema comoç#o do artista

 No grupo ideal de plácida candura" Nesse esplendor t#o fino da escultura3ara onde a lu2 de todo o olhar enrista.

'ue campo" ali" de r<tila conuista+e$e rasgar" do mármore na al$ura"5 estatuário 0 ue amplid#o segura8em 0 de alma e braço" de ra2#o e $ista)

6-&se a mulher ue implora" aoelhada"A mais serena compai,#o sagrada

+e um %risto feito a largos tons gloriosos.

+e um Na2areno compassi$o e terno"+olhos ue lembram" cheios de falerno"+ois inefá$eis coraçes piedosos)

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Y,tase de 4ármore

 = /rande atri8 Apol9nia.

O mármore profundo e cin2elado+e uma estátua $iril" deliciosa?(ssa pedra ue geme" anseia e go2a

 Num misticismo alt!ssimo e calado?

(ssa pedra imortal 0 campo rasgadoA comoç#o mais !ntima e ner$osa+a alma do artista" de um frescor de rosa"Feita do a2ul de um céu muito a2ulado?

Se te $isse o clar#o ue pelos ombros

8eus" rola" cai" nos m<ltiplos assombros+a Arte sonora" plena de harmonia?

5 mármore feli2 ue é muito artista8ambém 0 como tu és 0 = tua $ista+e humildade e ci<me" coraria)

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*n$erno

 Amanheceu 0 no topo da colina7m céu de madrepérola se arueia

Limpo" la$ado" relu2indo 0 ondeia5 perfume da sel$a esmeraldina.

7ma lu2 $irginal e cristalina"%omo de um rio a transbordante cheia"Alaga as terras culturais e arreia+e pingos douro os $erdes da campina.

7m sol pag#o" de um louro gema do$o"á t#o antigo e uase sempre no$oSurge na fr!gida estaç#o do in$erno.

 0 %hilreiam muito em ár$ores frondosas3ássaros 0 fulge o or$alho pelas rosas%omo o $igor no esp!rito moderno.

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Falando ao %éu

F alas ao %éu" Amor) (m $#o tu falas)4as o céu" esse é $elho" esse é $elhinho"

8odo ele é branco" fa2 lembrar o linho+os leitos al$os onde tu te embalas.

A alma do céu é como $elhas salasSem ar" sem lu2" como lares sem $inhoSem água e p#o" sem fogo e sem carinho"Sem as mais toscas" as mais simples galas.

Sempre surdo" hoe o céu é mudo" é cego...amais o coraç#o ao céu entrego"(u ue t#o cego $ou por entre abrolhos.

4as se ueres tornar o$em e louro+á&lhe o bord#o do teu amor um poucoFala e $ista" com a $ida dos teus olhos...

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Tloriosa

 A Ara*o >i/ueredo

 P omba) dos céus me di2es ue $ieste"8oda cHroada de astros e de rosas"4as há regies mais ue essas luminosas.

 N#o" tu n#o $ens da regi#o celeste

Pá um outro esplendor em tua $este"7ma outra lu2 nas tranças primorosas"5utra harmonia em teu olhar 0 ma$iosas%ousas em ti ue tu nunca ti$este.

 N#o" tu n#o $ens das célicas planuras"

+o Dden ue ri e canta nas alturas%omo essa $o2 ue dos teus lábios tomba.

6ens de mais longe" $ens doutras paragens"6ens doutros céus de m!sticas celagens"Sim" $ens de s1is e das auroras" pomba.

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5 %halé

 É  um chalé lu2ido e aristocrático"+e fulgurantes" ricos arabescos"

anelas li$res para os ares frescos"Talante" raro" encantador" simpático.

5 sol ue $ibra em rubro tom prismático" No resplendor dos lu,os principescos"+á&lhe uns alegres tiues romanescos"7m colorido ideal silforimático.

Pá um ardim de rosas singulares"L!rios o$iais e rosas n#o $ulgares"Grancas e a2uis e ro,as purp<reas.

( a lu2 do luar caindo em brilhos $agos" Na placide2 de adormecidos lagosAbre esuisitas radiaçes sulf<reas.

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+el!rio do Som

O Goabdil mais doce ue um carinho"5 teu piano eb<rneo soluça$a"

( cada nota" amor" ue ele $ibra$a"(ra&me nHalma um sol desfeito em $inho.

4e parecia a m<sica do arminho"5 perfume do l!rio ue canta$a"A estrela&dHal$a ue nos céus entoa$a7ma canç#o dulc!ssima bai,inho.

*ncompará$el" teu piano 0 e eu cria6er&te no espaço" em fluidos de harmonia"Gela" serena" $aporosa e nua?

%omo as $ises ol!mpicas do Beno"%antando ao ar um delicioso treno6ago e dolente" com uns tons de lua.

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*luses 4ortas

 A Vir/ílio Vr8ea

Os meus amores $#o&se mar em fora"( $#o&se mar em fora os meus amores"A murchar" a murchar" como essas floresSem mais or$alho e a doce lu2 da aurora.

( os meus amores n#o $ir#o agora" N#o bater#o as asas multicores"%omo as a$es mansas 0 dentre os esplendores+o meu pra2er" do meu pra2er de outrora.

8udo emigrou" rasgando a esfera branca

+as iluses" 0 tudo em re$oada franca3artiu 0 dei,ando um bem&estar saudoso

 No fundo ideal de toda a minha $ida"'ual numa taça a gota indefinida+e um bom licor antigo e saboroso.

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5 Sonho do Astr1logo

 As fulgurosas" r<tilas estrelas%omo mundos de mundos seculares"

Formando uns aruipélagos" uns mares+e lu2 0 como eu deslumbro o olhar ao $-&las.

Ah) se como eu sei compreend-&las"Sentir&lhes os seus filtros salutares"3udesse" da amplid#o fria dos aresArrancá&las" na m#o sempre tra2-&las?

'ue $agalhes de assombros palpitantes N#o me $iriam perpassar" faiscantes"+entro do ser" nuns doutros mur<rios.

(u saberia muito mais a causa+a e$oluç#o ue nunca te$e pausa"'ue é uma audácia transbordando em rios.

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%risto

C risto morreu" 1 tristes criaturas"(ra matéria como $1s" morreu?

( uando a noite sepulcral desceuTelou com ele o oceano das ternuras.

 Nunca outro sol de irradiaçes mais purasSubiu t#o alto e tanto resplendeu"

 Nunca ninguém t#o firme combateu+a humanidade todas as torturas.

4orreu" ue se ele" o +eus" ressuscitasse"Limpa de sangue e lágrimas a face"5s seus olhos tran@ilos" $irginais"

+ons inefá$eis" coraçes piedosos"8inham de abrir&se muito dolorosos"8ambém chorando uando $1s chorais)

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Frutas de 4aio

 M aio chegou 0 alegre e transparente%heio de brilho e m<sica nos ares"

+e cristalinos risos salutares"Frio" porém" 1 gota al$initente.

%orre um fluido sua$e e odorescente+as laraneiras" como dos altares5 incenso 0 e" como a ga2e a2ul dos mares"Le$e 0 há por tudo um beio" docemente.

*sto bem cedo" de manh# 0 adiante3ela tarde um sol calmo" agoni2ante"3e no hori2onte resplendentes franas.

Pá carinhos" da lu2 em cada raio"Filha 0 e eu ue adoro este frescor de maio4uito" mas muito 0 trago&te laranas.

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(terno Sonho

Buelle est donc cette #emme Je ne comprendrai pas.

Féli, Ar$ers

T al$e2 alguém estes meus $ersos lendo N#o entenda ue amor neles palpita" Nem ue saudade trágica" infinita3or dentro dele sempre está $i$endo.

8al$e2 ue ela n#o fiue percebendoA pai,#o ue me enle$a e ue me agita"%omo de uma alma dolorosa" aflita'ue um sentimento $ai desfalecendo.

( tal$e2 ue ela ao ler&me" com piedade"+iga" a sorrir" num pouco de ami2ade"Goa" gentil e carinhosa e franca:

 0 Ah) bem conheço o teu afeto triste...( se em minha alma o mesmo n#o e,iste"D ue tens essa cor e é ue eu sou branca)

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Bisadas

 =s criaturas ale/res

F antasia" 1 fantasia" tropo ardente+a aurora alegre undifla$ando as bandas+o adamascado e r<bido oriente"W fantasia" águia das asas pandas.

8u ue os clarins do sonho mais fulgente+as ulietas" feres" nas $arandas"W fantasia dos Bomeus" 1 crente"3or ue pa!ses meridionais tu andasR)

6em das esferas" entre os sons ue $ibras.

6em" ue deseo emocionar as fibras"'uero sentir como este sangue impulsas.

 Noi$a do sol ue os s1is preclaros go2as3ara rimar umas cançes de rosas"%omo risadas de cristal" a$ulsas...

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A$e) 4aria...

 A$e) 4aria das (strelas" A$e)%heia de graça do luar" 4aria)

Parmonia de c>ntico sua$e"+as harpas celestiais branda harmonia...

 Nu$em dincensos atra$és da na$e'uando o templo de pompas irradia( em prantos o 1rg#o $ai plangendo gra$eA profunda e gemente litania...

Sea bendito o fruto do teu $entre"esus" mais belo dentre os astros e entreAs mulheres udaicas mais amado...

W Lu2) (ucaristia da bele2a"%hama sagrada no ($angelho acesa"4ara$ilha do Amor e do 3ecado)

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*mpass!$el

T eu coraç#o de mármore n#o ama Nem um dia seuer" nem um s1 dia.

(ssa inclemente nature2a friaamais na lu2 dos astros se derrama.

4ares e céus" a imensidade clama3or esse olhar destrelas e harmonia"Sem uma né$oa de melancolia"+o amor nas pompas e na $ida chama.

A *mensidade nunca mais uer $-&lo"*ndiferente =s comoçes" de geloAo mar" ao sol" aos roseirais de aromas.

Ama com o teu olhar" ue a tudo encantas"5u se antes de pedra" como as santas"4udas e tristes dentro das redomas.

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6erEnica

 N #o a face do %risto" a macilentaFace do %risto" a dolorosa face...

5 mart!rio da %ru2 passou fugace( este 4art!rio" esta 3ai,#o é lenta.

7m $i$o sangue a face te ensang@enta"4ais $i$o ue se o +eus o derramasse?3orue esta $# pai,#o" para ue passe"D mister dos 8it#s a luta incruenta.

Se tu" 6is#o da Lu2" 6is#o sagrada'ueres ser a 6erEnica sonhada"%onsoladora dessa dor sombria

*mpressa ficara no teu sudário N#o a face do %risto do %al$ário4as a face con$ulsa da Agonia)

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S!miles+esterro;

 P edro traiu a fé do Apostolado.

4adalena chorou de arrependida?( nessa mágoa triste e indefinidaPa$ia ainda uns lai$os de pecado.

8udo ue a G!blia tinha decretado"8udo o ue a lenda humilde e dolorida+e esus %risto apregoou na $ida"%umpriu&se = risca" foi e,ecutado.

5 filho&+eus da c>ndida 4aria"+a flor de eric1" na cru2 sombria

5s seus dias amá$eis terminou.

3edro traiu a fé dos companheiros.4adalena chorou sob os olmeirosesus %risto sofreu e... perdoou.

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(,ilada

 Bela $iaante dos pa!ses frios N#o te sedu2am nunca estes aspectos

+estas paisagens tropicais 0 secretos" 0 5s teus receios de$em ser sombrios.

Ds branca e és loura e tens os ama$ios5s inc1gnitos filtros prediletos'ue podem produ2ir ondas de afetos

 Nos mais sens!$eis coraçes doentios.

Loura 6is#o" 5félia desmaiada"+ei,a esta febre de ouro" a febre ansiada'ue nos $enenos deste sol consiste.

(migra destes cálidos pa!ses"Foge de amargas" fundas cicatri2es"+as alucinaçes de um $inho triste...

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Sonetos

 Do som" da lu2 entre os o$iais duetos"%omo uma chusma alada de gai$otas"

6indos das largas amplides remotas"Gatem as asas todos os sonetos.

6#o 0 por estradas" por dif!ceis rotas"'uator2e $ersos 0 entre dois uartetos( duas belas e lu2idas frotasBias" seguras" de mais dois tercetos.

%om a brunida l>mina da lima"6#o céus radiosos" hori2ontes acima"3elas paragens l!mpidas" gentis"

Atra$essando o campo das uimeras"Aberto ao sol das fl1reas prima$eras"8odo estrelado de áureos colibris.

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+ecadentes

 Richepin" Bollinat) gritos sangrentos+a carne al$oroçada de deseos"

4osto de risos" lágrimas e beios"(stertores de abutres famulentos.

+esesperado fr-mito dos $entos"+e harpas" sutis" fantásticos harpeos"%larins de guerra" e c>nticos e adeos+e a$es 0 todos os $i$os elementos.

8udo flamea e nas estrofes canta"(struge" 2une" em borbotes le$anta

 Noites" luares" fulgurantes dias.

4as nessa ideal temperatura forte8udo isso é triste como a flor da morte'ue brota dentro das ca$eiras frias...

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5la$o Gilac

V im afinal para o solar dos astros"+e irradiaçes pur!ssimas e belas"

 Numa $iagem de alterosos mastros" Numa $iagem de saudosas $elas...

+as alegrias nos febris enastros'ue as almas prendem para perceb-&las"6im cantando e feli2" fugindo aos rastros+a terra de onde $i e ou$i estrelas.

( por aui" nas l<cidas paisagens"6estido das mais flu!dicas roupagens8ecido de ouro" nos clares imersos...

Ando a go2ar" entre lauréis e palmas"5 ue cantei na terra" unto =s almas"

 Na eterna floresc-ncia dos meus $ersos.

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+oente

 As unhas perigosas da bronuite Nas tuas carnes sensuais e moles

 N#o dei,ar#o ue o teu amor palpite Nem ue os olhares pelos astros roles.

D fatal a moléstia. S1 permite'ue te acabes por fim e ue te estioles.Sem ue em teu peito o coraç#o se agite"Sem ue te animes" sem ue te consoles.

6ai se e,tinguindo a polpa dessas faces...4as se ainda hoe em mim acreditasses"%omo no tempo $irginal de outrora"

8u curar&te&ias com peueno esforço+as serranias atra$és do dorso"3ela sa<de dos $ergéis afora.

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Lirial

V ens com uns tons de searas"+e prados enflorescidos

( tra2es os coloridos+as frescas auroras claras.

( tens as nuances raras+os bons pra2eres ser$idos

 Nos rostos enlourecidos+as parisienses preclaras.

%hapéu das finas elites"+e roses e clematites"%hapéu 3ierrette 0 entre o sol

3assando" esbelta e rosada"3areces uma encantada%anç#o a2ul do 8irol.

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8o Sleep" 8o +ream

 Dormir" sonhar 0 o poeta ingl-s o disse...Ah) 4as se a gente nunca mais sonhasse

Ah) 4as se a gente nunca mais dormisse( a iluses n#o mais acalentasseR

( o ue importa$a ue o futuro risse+e um $isionário ue tal cousa ideasse?Se n#o seria o <nico ue abrisse7ma e,ceç#o da $ida humana = faceR...

Se os imortais fil1sofos modernos'ue derrubaram todos os infernos"'ue destru!ram toda a teogonia.

5rientando a triste humanidade"+ei,aram" mais e mais" a piedade*nteiramente desolada e friaR

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 No %ampo

 Acordo de manh# cedo+a lu2 aos doces carinhos:

'ue rosas pelos caminhos)'ue rumor pelo ár$oredo)

3ara o a2ul radioso e ledoSobe" de dentro dos ninhos"5 canto dos passarinhos%heio de amor e segredo.

+entre moitas de $erdura6oam as pombas ne$adas"*maculadas de al$ura.

3elas margens das estradas'ue penetrante frescura'ue femininas risadas)

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Frutas e Flores

 Laranas e morangos 0 uanto =s frutas"'uanto =s flores" porém" ah) uanto =s flores"

8rago&te dálias rubras" dessas cores+as brilhantes auroras impolutas.

6enho de ou$ir as misteriosas lutas+o mar chorando lágrimas de amores?*sto é" $enho de estar entre os $erdores+e um s!tio cheio de aspere2as brutas"

4as onde as almas 0 pássaros ue $oam 0 6i$em sorrindo =s m<sicas ue ecoam+os campos li$res na rural pobre2a.

8rago&te frutas" flores" s1 apenas"3orue n#o pude" irm# das açucenas"8ra2er&te o mar e toda a nature2a)

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6is#o 4edie$al

Quando em outras remotas prima$eras" Na idade&média" sob fuscos tetos"

+ois amantes passa$am" mil aspectos8inham auelas medie$ais uimeras.

 Nas armaduras r!gidas e austeras" Na aérea perspecti$a dos obetosAnda$am sonhos e $ises" diletosSegredos mortos nas e,tintas eras.

5 fantasma do amor pelos castelos4udo $aga$a entre os luares belos"+os corredores nas paredes frias.

 N#o raro se escuta$a um som de passos"Bumor de beios" fr-mito de abraços3elas caladas" fundas galerias.

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Becordaç#o

F oi por aui" sob estes ár$oredos"Sob este doce e plácido hori2onte"

3erto da clara e peuenina fonte'ue murmura lá bai,o os seus segredos...

Becordo bem todos os cantos ledos+a passarada 0 e lembro&me da ponte3or sobre a ual $ia&se além" de fronte"5 mar a2ul batendo nos penedos.

Sinto a impress#o ainda da paisagem"+o tr-molo ...; da folhagem"+as culturas rurais" do s!tio agreste.

A lu2 do dia $inha ent#o morrendo...Foi por aui ue eu pude ficar crendo5 uanto pode o teu olhar celeste.

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Boma 3ag#

 N a antiga Boma" uando a saturnal fremente(,erceu sobre tudo o báuico dom!nio"

 N#o era raro $er nos go2os do tricl!nioA nude2 feminina imperiosa e uente.

5 corpo de alabastro" ol!mpico e fulgente"Lasci$amente nu" correto e retil!nio"

 Num doce tom de cor" espl-ndido e sang@!neo"8inha o assombro da came e a forma da serpente.

A lu2 atra$essa$a em frocos dHoiro e rosa3ela fresca epiderme" eb<rnea e setinosa"4acia" da macie2 dulc!ssima de arminhos.

4enos raro" porém" do ue a nude2 romana(ra $er borbulhar" em fér$ida espadanaA p<rpura do sangue e a p<rpura dos $inhos.

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(spiritualismo

Ontem" = tarde" alguns trabalhadores"Pabitantes de além" de sobre a serra"

%a$a$am" re$ol$iam toda a terra"+o sol entre os metálicos fulgores.

%ada um deles ali tinha os ardores+e febre de lutar" a lu2 ue encerra8oda a nobre2a do trabalho e 0 ue erraS1 na cabeça dos conspiradores"

+esses obscuros re$olucionários+o bem fecundo e cultural das lei$as'ue s#o da 6ida os maternais sacrários.

( pareceu&me ue do ch#o estuante6i porear um bálsamo de sei$asTeradoras de um mundo mais pensante.

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3lang-ncia da 8arde

Quando do campo as pr1fugas o$elhas6oltam a tarde" lépidas" balando

%om elas o pastor $olta cantando( fulge o ocaso em con$ulses $ermelhas.

 Nos beirados das casas" sobre as telhas+as andorinhas es$oaça o bando...( o mar" tran@ilo" fica cintilando+o sol ue morre as <ltimas centelhas.

5 a2ul dos montes $ago na dist>ncia... No bosue" no ar" a c>ndida fragr>ncia+os aromas $itais ue a tarde e,ala.

Cs $e2es" longe" solta" na esplanada"A o$elha errante" tonta e desgarrada"3erdida e triste pelos ermos bala...

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Alma Antiga

 P e a tua alma francamente abertaAo sol ue pelos páramos fa!sca"

'ue o sol para a tua alma $elha e prisca+e$e de ser como um clarim de alerta.

+esperta" pois" por entre o sol" desperta%omo de um ninho a pomba uente e ariscaC lu2 da aurora ue dos altos risca+e listres dHouro a $astid#o deserta.

6ai por abril em flores gorgeando%omo pássaro e,ul as cançes le$es'ue os $entos $#o nas ár$ores dei,ando.

( tira da tua alma" 1 doce amiga"Almas serenas" puras como a ne$e"Almas mais no$as ue a tua alma antiga)

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6anda

V anda) 6anda do amor" formosa 6anda"4aOu>ma gentil" de aspecto triste"

+ei,e ue o coraç#o ue tu polu!ste7m dia" se abra e re$i$esça e e,panda.

 Nesse teu lábio sem calor onde andaA sombra $# de amores ue sentiste5utrora" acende risos ue n#o $iste

 Nunca e as triste2as para longe manda.

(suece a dor" a l<brica serpente'ue" embora esmaguem&lhe a cabeça ardente"Agita sempre a cauda $enenosa.

+ei,a pousar na seara dos teus diasA cara$ana irial das alegrias%omo as abelhas pousam numa rosa.

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Y,tase

Quando $ens para mim" abrindo os braços Numa car!cia l>nguida e uebrada"

Sinto o esplendor de cantos de al$orada Na amorosa frem-ncia dos teus passos.

3artindo os duros e terrestres laços"A alma tonta" em del!rio" al$oroçada"Sobe dos astros a radiosa escadaAtra$essando a cur$a dos espaços.

6ens" enuanto ue eu" perple,o dHespanto"4al te posso abraçar" go2ar&te o encanto+os seios" dentre esses rendados folhos.

 Nem um beio te dou) abstrato e mudo+iante de ti" sinto&te" absorto em tudo"7ns rumores de pássaros nos olhos.

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Luar 

 Ao longo das lour!ssimas searas%aiu a noite taciturna e fria...

%essou no espaço a l!mpida harmonia+as infinitas perspecti$as claras.

As estrelas no céu" puras e raras"%omo um cristal ue n!tido radia"Abrem da noite na mude2 sombria5 cofre ideal de pedrarias caras.

4as uma lu2 aos poucos $ai subindo%omo do largo mar ao firmamento 0 abrindoLargo clar#o em flocos dHescomilha.

6ai subindo" subindo o firmamento)( branca e doce e n!$ea" lento e lento"A lua cheia pelos campos brilha...

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%eleste

V i&te crescer) tu eras a criança4ais linda" mais gentil" mais delicada:

8inhas no rosto as cores da al$orada( o sol disperso pela loira trança.

Asas tinhas também" as da esperança...( de tal sorte eras sutil e alada'ue parecias a$e arrebatada

 Na lu2 do (spaço onde a ra2#o descansa)

+epois" ent#o" fi2este&te menina"6is#o de amor" pur!ssima" di$ina"3erante a ual ainda hoe me aoelho.

%resceste mais) Ds bela e moça agora...4as eu" ue acompanhei toda essa aurora"Sinto bem uanto estou ficando $elho.

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A 3artida

 P artimos muito cedo 0 A madrugada%lara" serena" $aporosa e fresca"

8inha as nuances de mulher tudesca+e fina carne espl-ndida e rosada.

Seguimos sempre afora pela estradaFranca" poeirenta" alegre e pitoresca"+entre o frescor e a lu2 madrigalesca+a nature2a aos poucos acordada.

+epois" no fim" lá de algum tempo 0 uando%hegamos n1s ao termo da $iagem"Ambos o$iais" a rir" cantarolando"

+a mesma parte do le$ante" de ondeSa!mos" pois" faisca$a na paisagem5 sol" radioso e alti$o como um conde.

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%anç#o de Abril

V eo&te" enfim" alegre e satisfeita.5ra bem" ora bem) 0 6amos embora

3or estes campos e rosais afora+e onde a tribo das a$es nos espreita.

+ei,a ue eu faça a matinal colheita+os teus sonhos a2uis em cada aurora"Agora ue este abril nos canta" agora"A florida canç#o ue nos deleita.

Solta essa ful$a cabeleira de ouro( $em" subuga com teu busto louro5 sol ue os mundos $ai radiando e abrindo.

( $erás" ao raiar dessa bele2a" Nesse esplendor da $irgem nature2a"Astros e flores palpitando e rindo.

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5 4ar 

Que nostalgia $em das tuas $agas"W $elho mar" 1 lutador 5ceano)

8u de saudades !ntimas alagas5 mais profundo coraç#o humano.

Sim) +o teu choro enorme e soberano"+o teu gemer nas desoladas plagasSai o uer ue é" rude sult#o ufano"'ue abre nos peitos $erdadeiras chagas.

W mar) 1 mar) embora esse eletrismo"8u tens em ti o gérmen do lirismo"Ds um poeta l!rico demais.

( eu para rir com humor das tuas Ne$roses colossais" bastam&me as luas'uando fa2em lu2ir os seus metais...

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4anh#

 Alta al$orada. 0 5s <ltimos ne$oeirosA lu2 ue nasce le$emente espalha?

4o$e&se o bosue" a sel$a ue farfalha%heia da $ida dos clares primeiros.

+a passarada os $Eos condoreiros"5s cantos e o ar ue as ár$ores ramalhaLembram combate" estr!dula batalha+e elementos contrários e altaneiros.

6o2es" trinados" $ibraçes" rumores%rescem" $#o se fundindo aos esplendores+a lu2 ue orra de in$is!$el taça.

( como um rei num gale#o do 5riente5 sol pe&se a tocar bi2arramenteFanfarras marciais" trompas de caça.

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Bir)

 Rir) N#o parece ao século presente'ue o rir tradu2a" sempre" uma alegria...

Bir) 4as n#o rir como essa pobre gente'ue ri sem arte e sem filosofia.

Bir) 4as com o rir atro2" o rir tremente"%om ue André Til eternamente ria.Bir) 4as com o rir demolidor e uente+uma profunda e trágica ironia.

Antes chorar) 4ais fácil nos parece.3orue o chorar nos ilumina e nos auece

 Nesta noite gelada do e,istir.

Antes chorar ue rir de modo triste...3ois ue o dif!cil do rir bem consisteS1 em saber como Penri Peine rir)...

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Aspiraç#o

Quisera ser a serpe astuciosa'ue te dá medo e fa2&te pesadelos

3ara esconder&me" 1 flor lu,uriosa" Na floresta ideal dos teus cabelos.

'uisera ser a serpe $enenosa3ara enroscar&me em m<ltiplos no$elos"3ara saltar&te aos seios cor&de&rosa.( baulá&los e depois mord-&los.

8al$e2 ue o sangue impuro e rutilante+o teu di$ino corpo de bacante"Sangue febril como um licor do Beno

%ompletamente se purificasse3ois ue um $eneno org>nico e $orace3ara ser morto é bom outro $eneno.

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Sensibilidade

C omo os auda2es" rui$os argonautas"*ntrépidos" $iris e coraosos

'ue $oltam dos orientes fantasiosos"+os pa!ses de N<bios e Aranautas.

%omo esses bra$os" ue por naus incautas"Begressam dos oceanos borrascosos"*ndo encontrar nos lares harmoniosos+e lu2" $inho e alegria as mesas lautas.

8al o meu coraç#o" uando apareceA tua imagem" canta e resplandece"Sem lutas" sem pai,es" li$re de abrolhos.

A meu pesar" louco de $er&te" louco"As lágrimas me correm pouco a pouco"%omo o champanhe $irginal dos olhos...

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Tl1rias Antigas

 Rubras como gauleses arrui$ados"6oltam da guerra as hostes triunfantes"

8ra2em nas lanças dHaço lampeantes"5s louros das batalhas pendurados.

5s escudos e arneses dos soldadosButilam como lascas de diamantes( na armadura os m<sculos $ibrantes"Bios" palpitam" batem ner$urados.

+entre estandartes" fl>mulas de cores"8ra2em dos olhos rufos de tambores"Bu!dos de alegria estranha e louca.

%hegam por fim" = pátria $itoriosa...( ent#o" da ardente gl1ria belicosa"Pá um grito $ermelho em cada boca)

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3ássaro 4arinho

 M anh# de maio" rosas pelo prado"Toreios" pelas matas $erdurosas

( a lu2 cantando o id!lio de um noi$ado3or entre as matas e por entre as rosas.

7ma toilette matinal ue o alado%orpo te enflora em graças $aporosas"4ergulhas" como um pássaro rosado"

 Nas cristalinas águas murmurosas.

+ás o bom dia ao 4ar nesse mergulho( das águas salgadas ao marulhoSais" no esplendor dos l!mpidos espaços.

8ra2es na carne um reflorir de $inhas"Auroras" $irgens m<sicas marinhas"Acres aromas de algas e sargaços)

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A Freira 4orta+esterro;

 M uda" espectral" entrando as arcarias

+a cripta onde ela a2 eternamente No austero claustro silencioso 0 a gente+esce com as impresses das cin2as frias...

3elas negras ab1badas sombrias+onde pende uma l>mpada fulgente"3or entre a frou,a lu2 triste e dormenteSobem do claustro as sacras sinfonias.

7ma pa2 de sepulcro ap1s se estende...( no luar da l>mpada ue pende

Grilham clares de amores condenados...

%omo ue $em do t<mulo da morta7m gemido de dor ue os ares corta"Atra$essando os mármores sagrados)

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%laro e (scuro

 Dentro 0 os cristais dos tempos fulgurantes"4<sicas" pompas" fartos esplendores"

Lu2es" radiando em prismas multicores"arras formosas" lustres coruscantes"

3<rpuras ricas" galas flameantes"%intilaçes e c>nticos e flores?3romiscuamente fér$idos odores"41rbidos" uentes" finos" penetrantes.

3or entre o incenso" em l!mpida cascata"+os siderais tur!bulos de prata"+as sedas raras das mulheres nobres?

%lara e,plos#o fantástica de aurora"+eslumbramentos" nos altares) 0 Fora"7ma falange intérmina de pobres.

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4agn1lia dos 8r1picos

 A Ara*o >i/ueredo

C om as rosas e o luar" os sonhos e as neblinas"W magn1lia de lu2" coto$ia dos mares"Formaram&te tal$e2 os brancos nen<fares+a tua carne ideal" de correçes felinas.

5 teu colo pag#o de $irgens cur$as finasD o mais imaculado e fl1reo dos altares"+onde eu $eo ele$ar&se eternamente aos ares6iáticos de amor e preces diamantinas.

Abre" pois" para mim os teus braços de seda

( do $erso atra$és a l!mpida alameda5nde há frescura e sombra e sol e murmureo?

6em) com a asa de um beio a boca palpitando" No al$oroço febril de um pássaro cantando"6em dar&me a e,trema&unç#o do teu amor num beio.

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P1stias

 A 4mílio de Mene8es

 N os arminhos das nu$ens do infinito6amos noi$ar por entre os esplendores"%omo a$es soltas em $ergéis de flores"5u penitentes de um estranho rito.

'ue sea nosso amor 0 sidério mito) 0 5 l!mpido tur!bulo das dores"+erramando o incenso dos amores3or sobre o humano coraç#o aflito.

%omo num templo" numa clara igrea"

'ue o sonho nupcial go2ado sea"'ue eu durma e sonhe nos teus n!$eos flancos.

%ontigo aos astros f<lgidos alado"'ue seam h1stias para o meu noi$adoAs flores $irgens dos teus seios brancos)

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Goca *mortal

 A bre a boca morda2 num riso con$ulsi$oW fera sensual" lu,uriosa fera)

'ue essa boca ner$osa" em riso de pantera"'uando ri para mim lembra um capro lasci$o.

8eu olhar dá&me febre e dá&me um brusco e $i$o8remor as carnes" ue eu" se ele em mim re$erbera"Fico aceso no horror da pai,#o ue ele gera"*nflamada" fatal" dum sangue rubro e ati$o.

4as a boca produ2 tais sensaçes de morte"5 teu riso" afinal" é t#o profundo e forte( tem de tanta dor tantas negras ra!2es?

Bigolboche do tom" 1 flor pompadouresca)'ue és" para mim" no mundo" a trágica e dantesca*mperatri2 da +or" entre as imperatri2es)

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5s 4ortos

 Ao menos unto dos mortos pode a gente%rer e esperar nHalguma sua$idade:

%rer no doce consolo da saudade( esperar do descanso eternamente.

unto aos mortos" por certo" a fé ardente N#o perde a sua $i$a claridade?%antam as a$es do céu na intimidade+o coraç#o o mais indiferente.

5s mortos d#o&nos pa2 imensa = $ida"+#o a lembrança $aga" indefinida+os seus feitos gentis" nobres" alti$os.

 Nas lutas $#s do tenebroso mundo5s mortos s#o ainda o bem profundo'ue nos fa2 esuecer o horror dos $i$os.

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Floripes

F a2es lembrar as mouras dos castelos"As errantes $ises abandonadas

'ue pelo alto das torres encantadasSuspira$am de tr-mulos anelos.

8raços ligeiros" t!midos" singelosAcordam&te nas formas delicadasSaudades mortas de regies sagradas"%arinhos" beios" lágrimas" des$elos.

7m reuinte de graça e fantasia+á&te segredos de melancolia"+a Lua todo o l>nguido abandono...

+eseos $agos" ol$idadas uei,as6#o morrer no calor dessas madei,as"

 Nas $irgens floresc-ncias do teu sono.

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5 %ego do Parmonium

 E sse cego do harmonium me atormenta( atormentando me sedu2" fascina.

A minhHalma para ele $ai sedenta3or falar com a sua alma peregrina.

5 seu cantar nostálgico adormenta%omo um luar de m1rbida neblina.5 harmonium geme certa uei,a lenta"%erta esuisita e l>nguida surdina.

5s seus olhos parecem dois deseos4ortos em flor" dois luminosos beiosFanados" apagados" esuecidos...

Ah) eu n#o sei o sentimento $ário'ue prende&me a esse cego solitário"+e olhos aflitos como $#os gemidos)

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Poras de Sombra

 H oras de sombra" de sil-ncio amigo'uando há em tudo o encanto da humildade

( ue o ano branco e belo da saudadeBoga por n1s o seu perfil antigo.

Poras ue o coraç#o n#o $- perigo+e go2ar" de sentir com liberdade...Poras da asa imortal da (ternidadeAberta sobre tumular a2igo.

Poras da compai,#o e da clem-ncia"+os segredos sagrados da e,ist-ncia"+e sombras de perd#o sempre benditas.

Poras fecundas" de mistério casto"'uando dos céus desce" profundo e $asto"5 repouso das almas infinitas.

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Aleluia) Aleluia)

 Dentre um corteo de harpas e ala<desW Arcano sereno" Arcano n!$eo"

Gai,as&te = terra" ao mundanal con$!$io...3ois ue a terra te aude" e tu me audes.

'ue tu me alentes nas batalhas rudes"'ue me tragas a flor de um doce al!$ioAos báratros" =s brenhas" ao decl!$io+este caminho de >nsias e ata<des...

á ue desceste das regies celestes" Nesse clar#o flam!$omo das $estes"Atra$és dos troféus da (ternidade

8ra2&me a Lu2" tra2&me a 3a2" tra2&me a (sperança3ara a minhHalma ue de ang<stias cansa"(rrando pelos claustros da Saudade)

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Bosa Negra

 N er$osa Flor" carn!$ora" suprema"Flor dos sonhos da 4orte" Flor sombria"

 Nos labirintos da tuHalma fria+ei,a ue eu sofra" me debata e gema.

+o +ante o atro2" o tenebroso lema+o *nferno a porta em trágica ironia"(u $eo" com terr!$el agonia"Sobre o teu coraç#o" tor$o problema.

Flor do del!rio" flor do sangue estuoso'ue e,plode" poreando" caudaloso"+as $ol<pias da carne nos gemidos.

Bosa negra da tre$a" Flor do nada"+á&me essa boca ac!dula" rasgada"'ue $ale mais ue os coraçes proibidos)

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6o2inha

V elha" $elhinha" da doçura boa+e uma pomba ne$ada" etérea" mansa.

Alma ue se ilumina e se balança+entre as redes da Fé ue nos perdoa.

%abeça branca de serena leoa"%arinho" amor" meiguice ue n#o cansa"%oraç#o nobre sempre como a lança'ue n#o $ergue" n#o fira e ue n#o doa.

5lhos e $o2 de castidades $i$as"3#o á2imo das 3áscoas afeti$as"Simples" tran@ila" dadi$osa" franca.

4orreu tal ual $i$era" mansamente" Na al$ura doce de uma lu2 algente"%omo ue morta de uma morte branca.

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 No (gito

 S ob os ardentes s1is do ful$o (gito+e areia estuosa" de candente argila"

+os sonhos da alma o turbilh#o desfila"Abre as asas no páramo infinito.

5 (gito é sempre o amigo" o $elho rito5nde um mistério singular se asila( onde" tal$e2 mais calma" mais tran@ilaA alma descansa do sofrer prescrito.

Sobre as ru!nas dHouro do passado" No céu ca$o" remoto" ermo e sagrado"8or$a morte espectral pairou ufana...

( no aspecto de tudo em torno" em tudo"Xrido" pétreo" silencioso" mudo"3arece morta a pr1pria dor humana)

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5casos

 M orrem no A2ul saudades infinitas4istérios e segredos inefá$eis...

Ah) 6agas iluses imponderá$eis"(speranças acerbas e benditas.

Znsias das horas m!sticas e aflitas"+e horas amargas das interminá$eis%ogitaçes e agruras insondá$eis+e febres tredas" trágicas" malditas.

%ogitaçes de horas de assombro e espanto'uando das almas num rele$o santoFulgem de outrora os sonhos apagados.

( os bracos brancos e tentaculosos+a 4orte" frios" álgidos" ner$osos"Abrem&se pare mim torpori2ados.

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Bepouso

 A cabeça pendida docemente(m sonhos" sonha o sonhador inuieto"

Bepousa e nesse repousar discretoD sempre o sonho o seu bord#o clemente.

%ego desta 3ris#o impenitente+a 8erra e cego do profundo Afeto"5 sonho é sempre o seu bord#o secreto5 seu guia di$ino e refulgente.

 Nem no repouso encontra a pa2 ue espera"3ara lhe adormecer toda a uimera"5s c!rculos fatais do seu *nferno.

(ntre a calma aparente" a estranha calma"5 seu repouso é sempre a febre dHalma"5 seu repouso é sonho" e sonho eterno.

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+oce Abismo

C oraç#o" coraç#o) a sua$idade"8oda a doçura do teu nome santo

D como um cáli, de falerno e pranto"+e sangue" de luar e de saudade.

%omo um beio de mágoa e de ansiedade"%omo um terno crep<sculo dHencanto"%omo uma sombra de celeste manto"7m soluço subindo a (ternidade.

%omo um sudário de esus magoado"Li$idamente morto" desolado"

 Nas auréolas das flores da amargura.

%oraç#o" coraç#o) onda chorosa"Sinfonia gemente" dolorosa"Acerba e melanc1lica doçura.

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Parpas (ternas

 H ordas de Anos tit>nicos e alti$os"Serenos" colossais" flamipotentes"

+e grandes asas $!$idas" frementes"+e formas e de aspectos e,pressi$os.

3assam" nos s1is da Tl1ria redi$i$os"6ibrando as de ouro e de 4arfim dolentes"Finas harpas celestes" refulgentes"+a lu2 nos altos resplendores $i$os

( as harpas enchem todo o imenso espaço+e um c>ntico pag#o" lasci$o" lasso"5riginal" pecaminoso e brando...

( fica no ar" eterna" perpetuadaA l>nguida harmonia delicada+as harpas" todo o espaço a$assalando.

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+upla 6ia&Láctea

 S onhei) Sempre sonhar) No ar ondula$am5s $ultos $agos" $aporosos" lentos"

As formas al$as" os perfis ne$oentos+os Anos ue no (spaço desfila$am.

( alas $oa$am de Anos brancos" $oa$am3or entre hosanas e chameamentos...%laros sussurros de celestes $entos+os Anos longas $estes agita$am.

( tu" á li$re dos terrestres lodos"6estida do esplendor dos astros todos"

 Nas auréolas dos céus engrinaldada

+entre as 2onas de lu2 flamo&radiante" Na cru2 da 6ia&Láctea palpitanteApareceste ent#o crucificada)

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8it#s Negros

 H irtas de +or" nos áridos desertosFormidá$eis fantasmas das Legendas"

4archam além" sinistras e tremendas"As cara$anas" dentre os céus abertos...

 Negros e nus" negros 8it#s" cobertos+as bocas $is das chagas $is e horrendas"4archam" caminham por estranhas sendas"3assos $agos" son>mbulos" incertos...

3assos incertos e os olhares tredos" Na con$uls#o de trágicos segredos"+e agonias mortais" febres $ora2es...

8-m o aspecto fatal das feras bra$as( o rir pungente das legies escra$as"+e dantescos e tor$os Satanases)...

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(ntre %hamas...

 S onhei ue de astros no *nfinito presa6aga$as" brandamente adormecida"

 Nas chamas siderais resplandecida"A carne" em chamas" no *nfinito" acesa...

( eu pasma$a de encanto e de surpresa6endo a constelaç#o indefinida+a tua carne flameando $ida"+entre os !ris radiantes da bele2a...

( o teu corpo" nas chamas palpitando"5s astros em redor mara$ilhando"3or entre a auréola dos clares canta$a...

(nt#o" de sonho em sonho" absorto" mudo"(u senti alastrar" $ibrar por tudo8oda a infinita sensaç#o da la$a)...

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5 Ano da Bedenç#o

 S oberbo" branco" etereamente puro" Na m#o de ne$e um grande facho aceso"

 Nas ne$roses astrais dos s1is surpreso"+as tre$as deslumbrando o caos escuro.

3ortas de bron2e e pedra" o horrendo muro+a masmorra mortal onde estás preso+esce" penetra o Arcano branco" ileso+o 1dio bifronte" torso" tor$o e duro.

4ara$ilhas nos olhos e prod!gios Nos olhos" chega dos a2uis lit!gios+esce = tua ca$erna de bandido.

( sereno" agitando o estranho facho"3e&te aos pés e a cabeça" de alto a bai,o"Auréolas imortais de Bedimido)

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Sal$e) Bainha)...

Ó sempre $irgem 4aria" concebidasem pecado original" desde o

 primeiro instante do teu ser...

4#e de 4iseric1rdia" sem pecado5riginal" desde o primeiro instante)Sal$e) Bainha da 4ans#o radiante"6irgem do Firmamento constelado...

8eu coraç#o de espadas lacerado"Sangrando sangue e fel martiri2ante"(scute a minha +or" a torturante"A +or do meu soluço eterni2ado.

A minha +or" a minha +or suprema"A +or estranha ue me prende" algema

 Neste 6ale de lágrimas profundo...

Sal$e) Bainha) por uem brado e clamo( brado e brado e com ang<stia chamo"%hamo" atra$és das con$ulses do mundo)...

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Soneto

 Brancas Apariçes" 6ises renanas"*magens dos Ascetas peregrinos"

Pinos ne$oentos" neblinosos hinos+as brumosas igreas luteranas.

6ago mistério das regies indianas"Sonhos do A2ul dos astros cristalinos"%oros de Arcanos" claros sons di$inos+os Arcanos" nas tiorbas soberanas.

8udo ressurge na minhHalma e $aga Num fluido ideal ue me arrebata e alaga" No abandono mais l>nguido mais lasso...

'uando lá nos sacrários do %ru2eiroA lua rasga o tr-mulo ne$oeiro"4agoada de $ig!lias e cansaço...

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6iolinos

 P elas bi2arras" g1ticas anelas+e um tempo medie$al o sol ondula:

 Nunca os $itrais $iram $ises mais belas'uando" no ocaso" o sol os doura e oscula...

+oces" multicores auarelasSobre um saudoso céu ue além se a2ula...%alma" serena" di$inal" entre eras"A pomba ideal dos Zngelus arrula...

Be2am de oelhos anos de m#os postasAtra$és dos $itrais" e nas encostas+os montes sobe a claridade ondeando...

D a lua de +eus" ue as cur$es meigasFoi ondular pelos $ergéis e $eigas4agn1lias e l!rios desfolhando...

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Tuerra unueiro

Quando ele do 7ni$erso o largo suped>neoTalgou como os clares 0 uebrando o ue n#o ser$e"

Fa2endo ue e,plodissem os astros de seu cr>nio"As gemas da ra2#o e os m<sculos da $er$e?

'uando ele esfu2iou nos páramos as trompas"As trompas marciais 0 as liras do estupendo"3eadas de prod!gios" assombros e de pompas"%rescendo em proporçes" crescendo e recrescendo?

'uando ele retesou os ner$os e as artérias+o $erso orbicular 0 rasgando das misérias5 $entre do *deal na forte hematemese.

%lamando 0 é minha a lu2" ue o século propague&a"'uando ele a$assalou os p!ncaros da águia( o sol do (uador $ibrou&lhe auelas teses)

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Campesinas

Ao Ar Li$re

 A Vir/ílio Vr8ea

T u tra2es agora o peito%omo essas urnas sagradas"Bepleto de gargalhadas"Sonoro" bom" satisfeito.

3or dentro cantam assombros( causAs esplendorosas%omo latadas de rosas+os muros entre os escombros.

'uando o ideal nos alaga"(mbora as lutas do mundo"Le$anta&se um sol fecundo+o peito em cada uma chaga.

6oltou&se a sei$a de outrora"+e outro" mais forte e destro"*luminado maestro"+as harmonias da aurora.

Fulgurem por isso as musas"As belas musas" por isso...6oltou&te o passado $iço"Foram&se as mágoas" confusas.

Agora" uando eu dirio4eus passos" = tua porta"Sinto&te um bem ue conforta"6eo&te alegre e mais rio.

3orue afinal pela $ida Nem tudo se desmorona'uando se $aga na 2ona+a mocidade florida.

Tostas de $er pelos ramos+as $erdes ár$ores no$as"A chocalhar umas tro$as"%oleiros e gaturamos.

á podes bem comer frutas"

5s teus simpáticos ambos"( ou$ir alguns ditirambos

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+a nature2a nas grutas.

3odes olhar as esferas"%om ar direito e seguro"+e frente para o futuro"

+e lado para as uimeras.

 N#o tenhas cofres a$aros+e santos 0 na lu2 te afoga"( a alma arremessa e oga3or esses páramos claros.

Be<ne os sonhos dispersos%omo andorinhas $i$aces( o colorido das facesAo coberto dos $ersos.

%omo uns lábaros $ermelhos"%ontente como os lila2es"As crenças dos bons rapa2es8em prismas como os espelhos.

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 Nos %ampos

 P or entre campos de seara loura+e alegre sol pur!ssimo batidos"

3assam carros chiantes de la$oura( raparigas s#s" de coloridos'ue a lu2 solar ue as ilumina e douraLembram pomares e ardins floridos"3or entre campos de seara loura.

A Nature2a inteira re$erdece3elos montes e $ales e colinas?( o luar ue freme" anseia e resplandece"4o$ido por aragens $espertinas"3arece a alma dos tempos ue floresce...

(nuanto ue por prados e campinasA Nature2a inteira re$erdece.

A pa2 das coisas desce sobre tudo)( no $erde sereno dHespessuras"

 No doce e meigo e c>ndido $eludo"8remem cintilaçes como armaduras5u como o aço brunido dum escudo?(nuanto ue das l!mpidas alturasA pa2 das coisas desce sobre tudo)

A casa" a rude tenda constru!da"5nde habitam as m#es e as crianças3romiscuamente" nessa mesma $ida+e perfume lirial das esperanças"%omo é feli2" dos astros auecida)Auecida do Amor nas asas mansasA casa" a rude tenda constru!da.

As bocas impolutas e cheirosas+as raparigas" pr1digas bele2as

+e finos lábios p<rpuros de rosas"Abrem" cheias de angélicas pure2as"As cristalinas fontes murmurosas+e risos" refrescando em corrente2asAs bocas impolutas e cheirosas.

+a $ida aurora rica do seu sangueFlamea a carne em báuicas $ertigens)( uem ti$er uma epiderme e,angue3ara ficar com essas faces $irgens"3ara n#o ser mais pálida nem langue"

8em de beber das cálidas origens+a $i$a aurora rica do seu sangue.

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Lindas ceifeiras percorrendo. searas Nos campos" 1 bi2arras raparigas"3elas manh#s e pelas tardes claras61s desfolhais sorrisos e cantigas

'ue dei,am $er as pérolas mais raras+os dentes brancos" frescos como estrigas...Lindas ceifeiras percorrendo searas)

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A Gorboleta A2ul

 N o alegre sol de ent#o+e uma manh# de amor"

A borboleta solta no fulgor +a lu2" lembra$a um le$e coraç#o.

*a e $inha e a $oar Tentil e tr-fega" a2ul"Sonoramente a percorrer pelo ar"%omo um silfo tenu!ssimo e taful.

Sobre os frescos rosais3ousa$a débil" sutil"+oirando tudo de um risonho abril

Feito de beios e de madrigais.

'ue doce embriague25 $Eo assim seguir +a borboleta a2ul" correndo" a $ir +o espaço pela (térea candide2)

Fa2endo" tal e ual"5 mesmo giro assim"5 mesmo $Eo l!mpido" sem fim"

 Nos mundos $irgens de ualuer ideal.

*r como ela também(m busca das loucas( tropicais e fulgidas manh#s%heias de colibris e sol" além...

*r com ela na lu2+e mundos atra$és"Sem abrolhos nas m#os" cardos nos pés"W alma" minha" ue alegria a flu,)...

 No alegre sol de ent#o+e uma manh# de amor A borboleta solta no fulgor +a lu2" lembra$a um le$e coraç#o.

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Benascimento

C anta ao sol" como as cigarrasA tua no$a alegria.

 No A2ul ressoam fanfarra+a grande $ida sadia.

Alerta" um clarim de alertaCuela antiga sa<de:

 0 C clara anela aberta3ara o mar salgado e rude.

'ue $olte" ruidosa" agora"%omo um pássaro marinho"A tua sa<de" a aurora

+o teu sangue" estranho $inho.

( como espiga maduraFloresce outra $e2 a $ida"Besplandece = formosura"W torre de ouro florida)

'uero&te em rosas festi$asA polpa das carnes brancas.( rindo&te =s forças $i$as%om rubras risadas francas.

Formosa" soberba e nua" Nesse olhar ue tudo abrange" Na fronte um diadema" em lua Num talhe cur$o de alfane?

6em) o sol é teu amante)Ah) $em mergulhar nos braços+o fla$o sult#o radiante+o harém a2ul dos espaços.

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Abelhas

G otas de lu2 e perfume"Le$es" t-nues" delicadas"

Acesas no doce lume+e purp<reas al$oradas.

3ingos de ouro cristalinosAlados na esfera" ondeando"+ispersos por entre os hinos"+a nature2a $ibrando.

Sorrisos aéreos" soltos"Fla$as asas radiantes"'ue le$am consigo en$oltos

+a aurora os s1is fecundantes.

+a aurora ue a prima$eraFa2 cantar" brota no peito( floresce em folhas de hera5 coraç#o satisfeito.

(ssa aurora produti$a+o amor soberano e eterno"'ue é nas almas força $i$a( nas abelhas falerno.

 Nas doudeantes abelhas'ue dentre flores $olitam( do sol entre as centelhasBesplendem" fulgem" palpitam.

9umbem" fer$em nas colméias( rumoream no en,ame3elas fl1ridas aléias5nde um prado se derrame.

Assim mesmo peueninas( uase in$is!$eis" uase"%om as suas asitas finas"+e etérea de fluida ga2e.

Ah) uanto s#o adorá$eis5s fa$os ue elas fabricam)%om ue graças inefá$eisSe geram" se multiplicam.

 Nos af#s industriosos'ue enle$o" ue encanto $-&las

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%om seus corpos luminosos+iriante brilho destrelas.

( nas ondas murmurosas+os peregrinos adeos

6#o dar ao lábio das rosas5 mel doirado dos beios.

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Gesouros...

 M arche" marche" marche a $er$e)Gandeiras" clarins" tambores"

4archar)

A poncheira ideal" ue fer$e"Sons" aromas" chamas" cores)%antar)

'ue este diabo $em" saudoso"+as profunde2as do arcano"6i$er)

5 $inho mara$ilhoso

+a forma raro e renano"Geber)

6em beber o $inho iriado"5 Falerno" claro e uente"Paurir)

 Num paladar reuintado"8odo inflamado e frementeSentir)

'ue o sangue da $er$e $ibreBaa" raa" raa" raa"8aful)

( a alma do sol se euilibre3ara ue mais sonhos haa

 No a2ul)...

4as este diabo t#o fino"'ue de tudo dá o acorde

Tenial)(ste capr1ide genu!no"6erde" $erde" morde" morde"Fatal.

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3apoula

 A 2scar Dosas

 Assim loura és mais formosa+o ue se fosses trigueira:%orpo de efl<$ios de rosa%om esbelte2 de palmeira.

6estida de cor da auroraLe$e dos fluidos da graça"Ds uma estrela sonora'ue" em sonhos" pelo éter passe.

Besplandece em teu cabelo

7m fulgor de sol dourado"'ue s1 de senti&lo e $-&loFica tudo iluminado.

+o teu branco leue aberto'ue lembra uma asa de garça"Aspiro um perfume incerto"8al$e2 a tua alma esparsa.

 Num resplendor de madona( alti$e2 de corça ariscaSurges da lu2 entre a 2ona%om uebrantos de odalisca.

'ue $enha o duue normando+e castelos escoceses%om seu ar bi2arro e brandoAmar&te os olhos ingleses.

( entre aromas e frescores( re$oadas de abelhas"

%omo num campo de flores'ue esse olhar $ibre centelhas.

'ue cantem na tua bocaAs alegrias radiadas"

 Numa ideal raada louca+e $Eos de passaradas.

'ue como os astros no espaço"8eu encanto resplandeça...%om pel<cias no regaço

( asas de a$e na cabeça.

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( ue os teus dois seios puros'ue o amor fecundando beiaFiuem cheios e maduros%om dois bicos de cerea.

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Gra$o ao campo e bra$o a seara'ue deram&te a pele claraS#o rubores de al$orada.

'ue esses teus beios agora8enham sabores de amora( de rom# estalada.

IV

Atra$és das rom#2eiras( dos pomares floridos5u$em&se as $e2es ru!dos( bater dHasas ligeiras.

S#o as a$es forasteiras

'ue dos seus ninhos ueridos6-m dar ali os gemidos+as iluses passageiras.

6-m sonhar le$es uimeras"*d!lios de prima$eras"%ontar os risos e os males.

6-m chorar um seio de a$e3erdida pela sua$e%ar!cia $erde dos $ales.

V

+e manh# tu $ais ao gadoA cantar entre as giestas"%om tuas graças modestas"%orrendo e saltando o prado.

( a $eiga e o rio e o $alado'ue todos dormem as sestasAcordam&se ante as honestas

%ançes desse peito amado.As a$es nos ares go2am"(ntre abraços se desposam"

 No mais amoroso enlace.

( as abelhas matutinas'ue regressam das boninas6oam" te em torno da face.

VI

As u$as pretas em cachos+#o agora nas latadas...

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'ue lindo tom de al$oradas Na $inha" unto aos riachos.

(ste ano arados e sachos+ei,aram terras la$radas"

C espera das inflamadas5ndas do sol" como fachos.

6eio o sol e fecundou&as"+eu&lhes $igor" ensei$ou&as"8ornou&as férteis de amor.

(is ue as $inhas rebentaram( as u$as amaduraram"Sangu!neas" com sol na cor.

VII(ngrinaldada de rosas"Surge a manh# pitoresca...'ue linda auarela fresca

 Nas $eigas deliciosas)

'ue bom gosto e perfumosasFrutas tra2" madrigalescaA rapariga tudesca'ue $em das searas cheirosas)

%omo os rios $#o cantando"(m sons de prata" ondulando"Abai,o pelos marnéis)

'ue car!cia nas $erduras"'ue $igor pelas culturas"'ue de ouro pelos $ergéis)

VIII

5rgulho das raparigas"

(ncanto ideal dos rapa2es"Acendes crenças $i$a2es%om tuas belas cantigas.

 No louro ondear das espigas"Goca cheirosa a lila2es"%arne em polpa de ananasesLembras baladas antigas.

8ens uns tons ene$oados+e castelos apagados

 Nas eras medie$ais.

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Falta&te o paem na ameia+edilhando" a lua cheia"5 bandolim dos seus ais)

IX

No Campo Santo4orreste no campo um dia"%omo uma flor despre2ada.%larea$a a madrugadaA2ul" $aporosa e fria.

Sobre a agreste serrania" Numa ermida branueada3or uma manh# doirada7m sino repercutia.

8eu cai,#o" de camponesas( camponeses seguido"+esceu abai,o =s de$esas.

Tanhou o atalho comprido+e casas em corrente2as( entrou num campo florido.

Na Vila

 Nos er$açais $ibrou o sol agora" Nas fitas $erdes dos cana$iais...%omo rompesse loura e fresca a auroraAgora o sol $ibrou nos er$açais.

4urmuream de alegres os caminhos'ue até parecem" l!mpidos" cantar 

 Na m<sica mel1dica dos ninhos'ue $ai nos ares se cristali2ar.

Floresce tudo" em toda parte flores Neste maio feli2" e t#o feli2

'ue as plantas e,uberam de $igores+esde a profunda" pr1diga rai2.

 Noi$am as a$es unto dos riachos No seu alado al$orecer de amor?( o coueiral" com os amarelos cachos"3ompeia de riu!ssimo $erdor.

Fluem na sombra meigas fontes clarasSob o frondente e $asto laranal( para além magn!ficas searas

Se estendem como um leito $irginal.

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 Na serena pa2 $egetati$aFa2 docemente tudo adormecer 4as num sono de lu2 doirada e $i$a"'uase a dorm-ncia de uem $ai morrer...

Ah) ue o sil-ncio" a solid#o dos ermos"+as agrestes paragens do sert#oSe d#o sa<des a esp!ritos enfermos8ambém supremas nostalgias d#o)

A $ol<pia letal do meio&dia" Nas horas encalmadas" sob a lu2"+á duma campa a atro2 melancoliaAssinalada numa simples cru2.

+epois o campo na mude2 da $ila"

Auela eterna e soberana pa2+a imensa $astid#o sempre tran@ila%omo ue punge e ue entristece mais)

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5s Bisonhos

 P astores e camponesas+e rudes almas esui$as

3assam entre as candide2as+as estrelas fugiti$as.

3arece ue nada os punge" Nada os punge e sobressalta.A lua ue os campos unge

 No firmamento $ai alta.

( eles passam sob a lua"+e uei,as desafogados"A cabeça li$re e nua"

 Na floresc-ncia dos prados.

Seres meigos e singelos"4ulheres de lindo rosto"Lábios cálidos e belos"+o uente sabor do mosto.

3astores de te2 morena"'ueimados ao sol adusto:%laridade bem serena

 No fundo do olhar bem usto.

 Neles tudo é riso e festa" Neles tudo é festa e riso"Frescuras brandas de giesta( graças de 3ara!so.

Simples" toscas e feli2es"Sem ter um lai$o de mágoa:Almas das $erdes ra!2es"Limpide2 de gota dágua.

 Neles tudo é pa2 de aldeia( ri com os risos mais frescos...5 céu inteiro goreia*d!lios madrigalescos.

Sedu2ido por miragens%aminha o bando risonho+essas $irentes paragens"Le$ado na asa de um sonho.

 Nele tudo ri sem >nsia( com doçura secreta?

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( como uma no$a inf>ncia%antantemente irreuieta.

(ncantos de mocidade"Sa<de" fulgor" $igores"

+#o&lhe a doce sua$idade4ara$ilhosa das flores.

5s coraçes" florescentes"6#o nesses peitos cantando( rindo em festins ardentes( dentre os risos sonhando.

Bi na boca" ri nos olhos" Nas faces o bando" rindo5 bom riso sem abrolhos"

'ue lembra um campo florindo.

Bindo em sonoras risadas"Bindo em fr-mitos $i$a2es"Bindo em risos de al$oradas"Bindo em risos de lila2es.

5s campos entontecidos Nos $inhos da lua claraFicam bi2arros" garridos"+e $italidade rara.

As águas claras das fontes6ibram l>nguidas sonatas( as nu$ens $estem os montes+as $ises mais timoratas.

 Na copa dos ár$oredos" Nas or$alhadas $erdurasPá son>mbulos segredos( murmuradas ternuras.

( o bando festi$o passaBindo" alegre" casto e sua$e"*luminado de graça"4ais le$e ue um $Eo de a$e.

3odeis rir" almas ditosas"Almas no$as como frutos+e $inhas miraculosas+e pomares impolutos.

3odeis rir" almas eleitas'ue os anos percebem tanto

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Lá das esferas perfeitas Nas harmonias do (ncanto.

Almas brancas" 3áscoas le$es"Al$os p#es de áureos altares"

+e mais candide2 ue as ne$es( a madrugada nos mares.

Almas sem sombras fero2es Nem espasmos delirantes.(co das b!blicas $o2es"%aminhos re$erdeantes.

5 $osso riso é bendito"5s $ossos sonhos s#o castos"5 estrelamento infinito

+e mundos claros e $astos.

3odeis rir" peitos ufanos"Gelas almas feiticeiras"61s tendes nos risos lhanos5 trigo das $ossas eiras.

A $ossa $ida é plan!cie" N#o tem decli$es funestos:Sois torres ue a superf!cieAssenta nos dons modestos.

A nossa $ida é bem rasa"3reso = terra o $osso esforço?

 Nem mesmo um fr-mito de asa6os fa2 agitar o dorso...

Sois como plantas $encidas%onuistadas pela terra"+ando = terra muitas $idas( tudo ue a 6ida encerra.

D do $osso sangue moço'ue na terra se derrama"'ue sobe o rubro al$oroço+e ocasos de s1is em chama.

4anchas" ao certo" n#o tendes( nem trágico flag!cio"Almas isentas de duendes"La$adas no Sacrif!cio.

+as pedras" nos $ossos ombros"A rigide2 n#o carrega.

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(m ardins tornam&se escombros( em lu2 a crença ue é cega.

+esses perfis adorá$eis" Na cur$a casta dos flancos

Grotam $iços inefá$eis+os florescimentos brancos.

3odeis rir) 1 benfa2eaGondade de nobre ess-ncia"+eus $os chama e $os desea

 Na estrelada floresc-ncia.

7m ano $os acompanha Nessa estrada matutina( con$osco a ideal montanha

Sobe da graça di$ina.

5 flagelo deste mundo" Nesses coraçes n#o pesa.(nuanto o Porror $ai profundo6ossa alma tran@ila re2a.

%ontritos e de m#os postas"Pumildemente de oelhos"5 +emEnio" pelas costas"

 N#o $em $os dar maus conselhos.

61s sois as sagradas reses6otadas ao a2ul Sacrário.+eus $os olha muitas $e2es%om o seu olhar $isionário.

4as uando" como as estrelas"Adormecerdes um dia"6oando mais perto a $-&las

 Na 3aragem fugidia.

'uando na e,celsa GonançaAfinal adormecerdes"

 Nos olhos toda a esperançaLe$ando dos prados $erdes.

'uando lá fordes" subindo3ara as l!mpidas Alturas"3rofundamente dormindo"(m busca das almas puras.

3ra2a aos céus ue nos caminhos+a eterna Tl1ria" das palmas"

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4ais brancas ue os claros linhos3ossais encontrar as almas)

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Dispersas

A$anteK[ set. KM;

 Ao distinto e talentoso *ovem José Arthur ?oiteu%

 A$ante" sempre nessa lu2 serena"(mpunha a pena" sem temor" com fé)...(le$a as turbas as idéias dHoiro"'ue um tesouro tua fronte é)...

(ia" caminha nessa senda nobre Na pátria pobre" no teu berço aui)...3rossegue alti$o" sem parar" constante"Fa2&te gigante" di2 depois: 6enci)...

*mita os grandes" incansá$eis $ultos'ue lá sepultos no p1 negro est#o)...Anda" romeiro dos $ergéis di$inos"4ergulha em hinos a gentil ra2#o)...

(ia" ue sempre na bras!lea hist1ria+e alta gl1ria colherás o us)...5 li$ro augusto do 3or$ir descerra"

S- desta terra o precursor da lu2)...

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Awa)

 A meu distinto ami/o e talentoso *ovem José Arthur ?oiteu%

2 livro$ esse auda8 /uerreiro$

Bue con(uista o mundo inteiro$Sem nunca ter Eaterloo6...

%astro Al$es;

 A$ante" sempre" nessa lu2 serena"(mpunha a pena" sem temor" com fé)...(le$a as turbas as idéias dHouro"'ue um tesouro tua fronte é)...

(ia" caminha nessa senda nobre"

 Na pátria pobre" no teu berço aui)...3rossegue alti$o" sem parar" constante"Fa2&te gigante" di2 depois 0 6enci)...

Ala&te = gl1ria num $oar tit>neo"Gurila o cr>nio de fulgor sem fim)...( entre o li$ro dHimortais perfumes%alca os ci<mes dHimbecil %aim)

*mita os grandes" incansá$eis $ultos'ue lá sepultos no p1 negro est#o)...

Anda" romeiro dos $ergéis di$inos"4ergulha em hinos a gentil ra2#o)

(stás na uadra radiante e linda"D cedo ainda para enfim descrer)Ds o$em... pensas... és portanto um bra$oSer igna$o... é sucumbir... morrer)

6amos" caminha" mesmo embora e,angue+a fronte o sangue $á rolar&te aos pés)Agita a alma ual febris as $agas"'ue dessas chagas brotar#o lauréis)

Além do li$ro" colossal" enorme"'ue nunca dorme perscrutando os céus).Acima dele supernal" potente(stá somente" t#o&somente +eus)

6ai)... $ai rasgando" percorrendo os ares" No$os palmares" meu gentil condor)+epois de teres pedestal seguro

Lá do futuro te erguerás senhor)...

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'ual Ne ousado ue" ao $ibrar da lança" Nutre esperança de ganhar" $encer"Assim coHa idéia $ai lutar" trabalha"6ence a batalha do dinal saber.

(ia ue sempre na bras!lea hist1ria+e alta gl1ria colherás o us)...5 li$ro augusto do por$ir descerra"S- desta terra precursor da lu2)))

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3oesia

C+est la musi(ue la poesie de lFGme'et la /loire est ieu$ ce sont les

deu% choses les plus charmantes$ les

 plus belles$ les plus /randes de la vie6+o Autor;

 Da m<sica escutando preclaras harmonias6endo em cada lábio brilhar ledo sorriso6endo lu2 e flores e tanto entusiasmoulguei&me transportado ao célico 3ara!so)

Foi sonho na $erdade 0 mas hoe reali2ado6os dá" distintos s1cios" $enturas mais de mil"

A $1s ue = frente tendo 3enedo" grande" forte"Subis" alistridente" ual a$e mais gasil)

( uando e,ecutais as $ossas belas peçasAs notas uais gemidos $agam nHamplid#o3arece ue o infinito derrama sobre $1s%entelhas sublimadas s1 dHinspiraç#o)

+a arte de 4o2art $1s sois grandes romeirosLutais como nas $agas o triste palinuro"5s olhos tendes fitos na gl1ria ue dá brilho

 No li$ro tricolor e o$ante do futuro)

Poe ue os sorrisos assomam em $ossos lábios'ue da \Tuarani] alçais áureo pend#o"(u humilde e fraco 0 com flores inodorasSomente aui $os $enho fa2er uma o$aç#o)

'uando há s1 coragem" força" intrepide2'uando se alimenta no peito di$o ardor"5 homem n#o recua" caminha pHro progresso%oHa fronte sempre erguida" sem ter menor temor"

Sem ter algum trabalho amais sHalcança tronoSem ter $alor e força amais se tem lauréis3Hra $ossa grande gl1ria" além do gr# futuro+eus á tem erectos milhares de docéis)

4as dentre $1s $ulto sereno se destaca'ual Bodes portentoso" imenso" $erdadeiro'ue nunca recuou seuer um s1 momento'ue sempre em trabalhar foi pronto companheiro)

( este $osso s1cio" digno diretor 

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'ue forte n#o pensou amais em recuar)D osé Tonçal$es 0 águia $alorosaA uem" alti$amente" eu ouso aui lou$ar)

6encendo mil tropeços" alti$a os derribando

A bela \Tuarani] se mostra triunfanteFoi como esses her1is 0 na m#o sustenta o gládio 0 5 gládio da $it1ria serena e radiante)

3ortanto erguei ridente a fronte ao infinito)(rguei 1 grandes bra$os a fronte toda lu2)(is" a senda é bela" sublime" é grandiosaA$ante pois nessHarte" a$ante" a$ante" sus)

( agora concluindo pala$ras pobre2inhas'ue eu pronunciar humilde $im aui"

Sa<do fer$oroso 0 do imo de minhHalmaA essa t#o gentil" simpática \Tuarani])

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Saudaç#o+esterro" KJ no$. KM;

Bual o (ue não e%ulta ao ler uma epopéia6Bual o (ue a ver dor não lhe estremece o crGnio$

 4m con#us:es cruéis6 Bual o (ue tem #resca$ sublime$ pronta a idéia$ 4 do altar da caridade no supedGneo$

 Hão dei%a al/uns lauréis6+o Autor;

Ontem" grande desgraça'ue o po$o se abraça+H*taa! em geral)5ntem" o cetro di$ino'ue se tornando ferino

8udo esmaga afinal)

5ntem" prantos e dor...Trandes gritos dhorror...A fatal confus#o)5ntem" lampas perdidas+e centenas de $idas"'ue nas águas lá $#o)

5ntem" negras as $agas"5s belos céus" essas plagas"

 0 5nde e,iste o Senhor)5ntem" 0 fatalidade)A pobre2inha cidade8oda en$olta em negror)

Poe" oh) +eus sempiterno) 0 5 teu gládio superno+e bonança a irradir"6eio ao po$o esmagadoAo tredo peso do fadoFa2er do caos ressurgir)

Poe" o !ris brilhanteLá nos céus" radiante"á se fa2 di$ulgar)( todo o po$o prostrado8e agradece arroubado4as ainda a chorar)

( coraçes caridososFar#o a dar pressurosos

5s seus globos gentis)+ai) é doce a esmola)

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(la aos pobres consola"8orna&os ledos" gasis)

A miséria chora$a(m del!rio brada$a

3or um pouco de p#o)( eles foram di2endo 0 *de" pois $os mantendo"Aui tendes a m#o)

( $1s 0 lá no tablado"5 mor rasgo" ele$ado"+e fa2er acabais)( um rasgo de gl1ria+e brilhante mem1ria3ros $indouros anais)

61s fa2eis do cenário7m dinal santuário8rabalhando pHra pobres)4ostrais bem ue nas almas3ossu!s celsas palmas+e açes muito nobres)

3Hra lou$ar amadores"8antas lutas" labores"8anta e,celsa $irtude)Ah) me falta uma lira'ue um poema desfira...Ai) me falta ala<de)

S1 +eus pode dar louros+e mil gl1rias" tesouros"%omo $1s mereceis)3ois ue feitos s#o di$os"8#o imensos" alti$osS1 dHher1is ou de reis)

Amadores briosos)61s sois t#o $alorosos'ual os bra$os na guerra)Sois os nautas $alentesSocorrendo ridentes'uem cá gema na terra)

Amor" +eus" %aridade 0 ( a sublime trindadeBadiante de Lu2)

+onde $1s" amadores"Lá colheis os fulgores"

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+e mil graças a flu,)

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A *mprensa+esterro" IK no$. KM;

 A @mprensa e brilhante como o meteoro$ sublime como os arreb7is do cerleo

in#inito6+o Autor;

 A l>mpada gigantesca+as gl1rias do por$ir"8ur!bulo maestoso

 No mundo a irradir"D a imprensa tesouro( croa de $erde louroA fronte do escritor)

( centelha sublimada'ue $em do céu arroadaA tre$a dando fulgor)

 0 5 homem nasceu peueno4as com as letras cresceuFoi como o $ulto de Bodes'ue lá t#o alto sHergueu)Foi preciso 0 estudando%oHa pr1pria idéia lutando4ergulhar&se na lu2)

Foi preciso ter gl1ria"Grilhante" leda mem1ria"%olher renomes a flu,)

Foi preciso mil lutas4il labores insanos3ra descobrir nesses mundos+a di$a lu2 os arcanos)Foi preciso ue um bra$o

 N#o mostrando&se igna$o4as inspirado por +eus)A pedra bruta talhasse( a lu2 ent#o derramasse'ual sei$a santa dos %éus)

Foi preciso os séculosAinda um pouco nas tre$as(rguessem as frontes bem alto( de$astassem mil sel$as)Foi preciso ue o mundoSentisse abalo profundo

Ao des$endar&se o saber)Foi preciso ue os entes

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5u se erguessem potentes5u tombassem a morrer)

4as n#o) 0 o homem ergueu&se"'uase" uase com +eus

8irou a fronte da tre$a( s1 pregou&a nos %éus)6iu o futuro de louros( uis colher os tesouros'ue d#o renome sem fim)Sonhou" sonhou coHa $it1ria( o gládio te$e da gl1ria'ual o gr#o Gernardim)

5 homem" g-nio sublime"%aminha" com seu bord#o

Até achar o brilhanteA lu2" a lu2 da ra2#o)8ropeça um pouco" se tomba(rgue&se" $oa ual pomba( indo a lu2 descobrir"Gusca ou$ir no infinito+o eco ao longe este grito:8rabalha para o por$ir)

'uando os po$os modernos"Sentirem no coraç#o7ma ardente centelha'ue caia lá damplid#o)+ei,ar#o esses $!cios"*nsanos" negros" fict!cios'ue d#o s1 noite ao $i$er)( ir#o cur$ados a ela+epor&lhe $erde capelaFar#o ent#o por crescer)

%ames" 4ilton" Abreu"

á da $ida sem lampas"(rguei&$os cr>nios alti$os(spedaçai essas campas)+i2ei 0 se o homem caminhaSe na tre$a definhaA uem se de$e lou$arR)...SHas letras seguem o$antes+i2ei 1 nobres gigantesA uem se ergue alcaçarR))...

( Tuttemberg esse her1i"

(ssa $ergEntea dinal"'ue coescopro na destra)

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Foi das letras fanal)Ao descobrir a imprensa(ssa epopéia imensa3ara toda a naç#o"%om gl1ria ingente sonha$a

 Na lu2 por certo nada$aá tinha os louros na m#o)

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4ais ninguém 0 é s1 +eus)

 N#o fiueis igna$os'ue o futuro dá bra$os6os di2endo 0 estudai)

Sois humanos 0 portantoSe há de tre$as um mantoApressai&$os" rasgai)

 Nossa pátria uerida Necessita mais $ida" Necessita crescer)D preciso contudo'ue tenhais como escudo'uem $os mostra o saber)

( de obreiros alti$os"'ue sereis redi$i$os'ue sereis imortais"Achareis $ossos nomes6ossos grandes renomes

 Nas manses di$inais)

3erdoai&me estas flores'ue t#o murchas" sem cores

 Nada podem $aler)S#o ofertas sincerasArrancadas de$eras3ara $ir $os tra2er)

3alinuros 0 = frente(sse trilho é ridente+ás&$os honra" lou$or)'uem o braço $os guia

 Nunca" nunca entibia 0  0 D artista... e pintor)

D a $1s a uem falo( se hoe eu n#o calo(stas $#s e,presses)D ue a louca alegria(m minhalma irradia%om fulgentes clares)

5 trabalho enobreceTlorifica" engrandeceAos artistas uais $1s)'ue 2ombando da sorte

8-m a tela por norte5s pincéis por far1is)

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(ia) nessa carreira'ual a nau sobranceira*ndo o mar a fender)'uando há negros abrolhos"

4il cachopos" escolhosD mais belo o $encer)

Se o lutar é dos grandes'ue s#o g-meos dos Andes'ue n#o sabem tombar)%olhereis uma gl1ria4ais suprema mem1ria"8rabalhando" a lutar)

+eus" o +eus sublimado

+isse ao homem num brado"+a sidérea mans#o)

 0 6ai depressa arrimar&teAos arcanos da arte"'ue terás um bord#o)

5nde há braços dHartista( seu ponto de $ista+ecepar escarcéus)( seu gládio seguro6ai ca$ar o futuro6ai rasgar negros $éus)

( lá uando os $indouros6os croarem de louros6os erguerem docel)Gradar#o altaneiros:

 0 (,ultai brasileiros"Bessurgiu Bafael)

 N#o temais os insanos"

*nsensatos humanosGaulantes e maus)8rabalhai muito embora)Pá de $ir uma aurora3Hra arrancá&los do caos)

Awa" estudantesSois $ergEnteas puantesA lauréis tendes us)%aminhai com coragem"'uHesta é a romagem

+os ap1stolos da lu2)))...

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Ao +ec-nio de %astro Al$es'uem sempre $ence e o por$ir)

 N o espadanar das espumas

'ue $#o = praia saltar) Nos ecos das tempestades+a bela aurora ao raiar"7m brado enorme" profundo"'ue fa2 tremer todo o mundoSe dei,a logo sentir)( como o brado solene"*ngente" celso" perene"D como o brado: 0 3or$ir)

3ergunta a onda: 0 'uem éR...

Besponde o brado: 0 Sou eu)(u sou a Fama" ue $enho%Hroar o $ate" o %riseu)+ormi" meu +eus" por de2 anos( da natura os arcanos

 N#o posso todos saber)4as como ou$isse lou$ores+e gl1ria" gritos" clamores"8ambém $im louros tra2er.

Fatalidade) 0 +esgraça)Fatalidade" meu +eus)3assou&se um g-nio t#o cedo"Sumiu&se um astro nos céus)As catadupas dHidéias"+e pensamento epopéiasBolaram todas no ch#o)Saindo a alma pra gl1riaGradou pra pátria 0 $it1ria)á sou de $ultos irm#o)

Foi +eus ue disse: 0 3oeta"6em decantar a meus pés. Na eternidade há mais lu2"+#o mais $alor ao ue és.Se lá na terra tens louros"Beceberás cá tesouros+e muitas gl1rias até)8erás a lira adorada%Ho di$o plectro afinado+e +ante" 8asso e Tarret)

(nt#o na terra sentiu&se7m grande acorde final)

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5 belo $ate bras!leo3endeu a fronte imortal)5 negro espaço rasgou&se( auele g-nio internou&se

 Na sempiterna mans#o.

A sua fronte brilha$a( o áureo li$ro aperta$aSereno e ledo na m#o...

( o mundo ent#o sobre os ei,os5u$iu&se logo rodar)D ue ele mesmo estremeceA $er um $ulto tombar.D ue na ueda dos entes'ue s#o na $ida potentes"'ue t-m nas $eias ardor"

Pá cataclismos medonhos'ue s1 sentimos em sonhos4as ue nos causam terror)...

( o coraç#o sestortega( sentibia a ra2#o)

 No peito o sangue enregela( logo a hist1ria di2: 0 N#o)

 N#o chore a pátria esse filho"Se procurou outro trilho8ambém mais gl1rias me deu)( uando os séculos passaremSe h#o de tristes cur$arem(nuanto alegre s1 euR...

5h) Gasta) Gasta) Sil-ncio)Bepousa" $ate" nos %éus)'ue muito além dos espaços5s cantos subam dos teus)Se nesta $ida denganos

 N#o s#o bastante os humanos

3ra te render o$açes)3erdoa os fracos" 1 g-nio"'ue pra cantar teu dec-nioSomente (lmano ou %ames)

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(ntre Lu2 e Sombra

 Ao dia I de Setembro Libertas Lu% ei66...

 S urge enfim o grande astro'ue se chama Liberdade)...+os seclos na imensidade(terno perdurará)...%omo as dulias matutinas'ue reboam nas colinas"

 Nas sel$as esmeraldinas(m honra ao celso 8upá)...

(ram s1 cinéreas nu$ens

5s bras!leos hori2ontes)%ur$adas todas as frontes%aminha$am no descrer) 0 As brisas nem murmura$am...5s bosues nem soluça$am...5s peitos nem se arrouba$am...

 0 (sta$a tudo a morrer)...

+e repente" o sol formoso6ai as nu$ens esgarçando.As almas $#o palpitando"%intilam magos clares)...( o _ndio fraco" indolenteFa2endo esforço potente+os pulsos uebra a corrente"Giparte os acres grilhes)...

3or terra tomba gemendo5 $#o" atro2 ser$ilismo...Bui a dobre2 no abismo...(is a $erdade de pé)...

(nfim)... e,clama o sil$edo(nfim)... lá di2 uase a medoSel$agem" nu Aimoré)...

Assim" bras!lea coorte"Falange e,celsa de obreiros"Soberbos".almos lu2eiros+e nossa gleba gentil"'uebrai os elos dHescra$os'ue $i$em tristes" igna$os"Formando delas uns bra$os

 0 3ra gl1ria mais do Grasil)...

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Lançai a lu2 nesses cr>nios'ue $#o nas tre$as tombando( ide assim preparando7ns homens mais pro por$ir)Fa2ei dos pobres aflitos

Sem crenças" lares" proscritos"7ns entes puros" benditos'ue saibam $er e sentir)...

+o carro a2ul do progressoFa2ei girar essa mola)3rendei&os sim" 0 mas = escola4atai&os sim" 0 mas na lu2)( ent#o tereis trabalhado5 negro abismo sondado( em nossos ombros le$ado

Ao seu destino essa cru2))...

Fa2ei do gládio ala$anca( tudo ireis derribando?+ormi" coHa pátria sonhando( tudo a flu, se erguerá)( a funda tre$a cobardeSentindo homérico alarde"(mbora mesmo ue tarde%ur$ada assim fugirá)...

(nfim)... os $ales soluçam(nfim)... os mares rebramam(nfim)... os prados e,clamamá somos li$re naç#o))...'uebrou&se a estátua de gesso...(nfim)... 0 mas n#o... estremeço"6acilo... caio" emudeço...(nfim de tudo inda n#o))...

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Sete de Setembro

 Liberdade) *ndepend-ncia)...(is os brados grandiosos

'ue uais raios luminososFulguraram lá nos céus)...(is a mágica 0 5disséia'ue duns lábios rebentando"Foi o po$o transformando"Foi rompendo os negros $éus)...

As colinas" prados" montes"As florestas seculares

 0 5s sertes" os pr1prios mares(,ultaram com fer$or)

( os brados retumbaram3ela l<cida de$esa"3ela $irgem nature2a%om homérico clangor)...

'ual artista consumado"'ual um $elho estatuário+o Grasil no a2ul sacrário"(ssa data $os traçou"

 0 5 triunfo mais puante"A eleita das idéias"A maor das epopéias

 0 'inda igual n#o se gerou)...

4as embora" meus senhoresSe festee a Liberdade"A gentil Fraternidade

 N#o raiou de todo" n#o)...( a pátria dos Andradas+os 0 Abreu" Tonçal$es +ias*nda $- nu$ens sombrias"

6- no céu fatal bulc#o)...4uito embora Bio Granco"(sse cérebro profundo'ue passou por entre o mundo"+o Grasil como um 8up#)...4uito embora em catadupas+erramasse o $erbo augusto"+a naç#o no enorme busto*nda a mancha e,iste" há)...

D preciso com esforço"%olossal" estranho" ingente"

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*r o cancro" de repente(smagar ue nos corr1i)...D preciso ue essa +eusa"A e,celsa Liberdade"Baie enfim na *mensidade

4ais alti$a como s1i)...

Sai da lar$a a borboleta%om as asas auria2uis( um disco $ai 0 de lu2A dei,ar onde passou)

 No entanto o grande berço+as façanhas de %abrito*nda espera um no$o grito%omo o 0 Gasta 0 de `aterloo)...

(u bem sei ue Tuttemberg'ue esse Fulton primorosoFaust" epler grandioso8rabalharam té $encer)4as embora tropeçassemAcurando os seus e$entos"8inham sempre tais portentosA $ontade por poder)...

(ia) sim) 0 pHra Liberdade*rrompei ual $erbo eterno"%omo o 0 Fiat 0 superno3elos ares a rolar)(ia) sim) 0 ue nossa pátriaS1 precisa 0 mas de bra$os...( em prol desses escra$osSeu de$er é trabalhar))...

Somos filhos dessa gleba4aestosa aonde o g-nio%omo o astro do prosc-nio

Solta as asas" mui febril)+os sel$agens 8iarai<s( dos brEn2eos Tuaicurus...Somos filhos do Grasil)...

(speremos" tudo embora)...3ois ue a s# locomoti$a"+o progresso imagem $i$a

 N#o se fe2 a um sopro $#o).Aguardemos o momento+as mais altas epopéias"

'uando o gládio das idéias(mpunhar toda a naç#o)...

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(speremos mais um pouco'Hinda há almas brasileiras'ue se lembrar#o" sobranceiras"'ue é preciso progredir)...

*nda há peitos $alerosos'ue combatem descobertos3or florestas" por desertos"4as cos olhos no por$ir)...

*nda há l<cidas falangesLutadores denodados'ue se erguem transportadosGurilando a s# ra2#o)...*nda há uem se recorde+o (grégio 8iradentes

'ue do sangue as gotas uentes+erramou pela naç#o))...

á nas margens do *piranga3atri1ticos acentos6#o alados como os $entos3elos páramos a2uis))...6amos) 6amos) 0 eia) e,ulta"o$em pátria dos renomes...

 0 6ibra a lira" %arlos Tomes)Gocai<$a" espalha lu2))...

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8r-s 3ensamentos

 N asceste no Grasil 0 filha dHAmérica"8u sabes conser$ar nas débeis $eias

 No l<cido pulm#o5 sangue efer$escente e purpurinoA força de subir ao céu da hist1ria.As lutas da ra2#o)...

 Nasceste no Grasil 0 em meio =s plagas+a grande nature2a mais puante( cheia de arrebol)...( sabes obumbrar os astros ful$os( lanças raios mil por toda a parte"Soberba como o sol)...

 Nasceste no Grasil e o eco o$ante+as gl1rias sublimadas ue tu colhes3or este céu a2ul"6em fér$ido" $iril e acentuadoAssa2 repercutir com mais $erdadeAui... aui no sul)...

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'uest#o Grocardo

 0 P ife" pufe" pafe" pefe3afe" pefe" pife" pufe 0 

A cacholeta no chefe 0  0 3ife" pufe" pafe" pefe(stoure como um tabefe( o $entre de rai$a entufe 0 

 0 3ife" pufe" pafe" pefe3afe" pefe" pife" pufe)

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Sempre

 S e é certo ue o amor é um bem profundoSe é certo ue o amor é um sol ardente"

(u hei de amar&te sempre neste mundo( sempre" sempre" sempre 0 eternamente.

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Geios

 N esta 8ebaida infinita+a $ida" na sombra oculto"

(u gosto de olhar o $ulto+e uma criança bonita.

3orue afinal as crianças"%omo eu deslumbro&me ao $-&las"%intilam como as estrelas"Florescem como esperanças.

+entro de mim se proetaA lu2 cambiante dos prismas( batem asas as cismas

'ual passarada irreuieta.

( batem asas e ruflam"3elas art!sticas plagas"As auras ue as grandes $agas+os fundos mares insuflam.

( digo" 1 m#es" se uma auroraFosse a minhHalma sincera"5s clares todos eu deraA uma criança ue chora.

3orue se a lu2 fortaleceArbustos e as andorinhas"8ambém por certo =s criancinhas%onforta" a$igora" auece.

( eu ue aplaudo e ue rimo8udo isso ue a lu2 se regre"

 Na $ibraç#o mais alegreAs criancinhas estimo.

3ortanto" assim" sem refolhosGeiando a 5lga" beiando4eus sonhos $#o" irradiando"Se derramar em seus olhos)

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'uest#o Grocardo

T riolé fura essa pança+o +elegado 0 es um russo"

Be$oluç#o nHesta dança...8riolé fura essa pança"Fura" fura como a lança5u como no boi um chuço?8riolé fura essa panca+o +elegado 0 és um russo.

3into" pinta 0 ponta = ponta8anta ponta" 3into pinta'ue pinta se pinta a pinta3into 0 pinta 0 ponta = ponta.

3into é ponto mas n#o ponta4as se pinta por um pinto( á ue o 3into se pinta(u pinto&lhe a pinta ao 3into.

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3iruetas

F inou&se um tal ingl-sTastrEnomo e patife

'ue tanto 0 de uma $e2%omeu" comeu e esparramou&se em bife?'ue um dia de eum"3ela pança rotunda e ui,otesca"8e$e um parto... comum"7m feto original... de came fresca.

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As +e$otas

I

(nuanto o sino bimbalha"Gimbalha" bimbalha e tine"

Lançai do olhar a migalha 0 (nuanto o sino bimbalha 0 C raça ue se amortalha

 No horror ue n#o se define...(nuanto o sino bimbalhaGimbalha" bimbalha e tine.

II

3erto da *grea a sen2ala"5 %risto unto aos escra$os(" pois" de$eis $isitá&la"3erto da *grea" a sen2ala( procurar transfarmá&la+a lu2 =s palmas" aos bra$os)...3erto da *grea a sen2ala"5 %risto unto aos escra$os.

III

( t#o&somente por isto(nuanto o sino bimbalha"Gem antes de terdes $isto

 0 ( t#o&somente por isto 0 8odo o mart!rio do %risto"5 $osso amor ue lhes $alha"( t#o&somente por isto"(nuanto o sino bimbalha.

+e claue" casaca e lu$a"+e lu$a" casaca e claueAo rende2$ous da $i<$a"+e claue" casaca e lu$a"8u $ais 0 arrostas a chu$a

 No macadam 0 plaue" plaue...+e claue" casaca e lu$a"+e lu$a" casaca e claue.

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4eus espl-ndidos...

 M eus espl-ndidos deseos(migram" como beios"

3elo a2ul espaço" em cur$as"Basgando essas brumas tur$as?3elo sol das prima$eras"Gatendo as asas brancas"%omo" batem" uimeras......6oai" andorinhas francas)

 Nunca se cala o %allado( sempre o %allado" fala%allado ue n#o se cala"

 Nunca se cala o %allado"%allado sem ser calado"%allado ue é t#o falado...

 Nunca se cala o %allado( sempre o %allado" fala.

(stoure como o champagne5 triolé 0 pule e salte( como os gatos arranhe"(stoure como o champagne( a cara dos erros lanhe( como o sol nunca falte...(stoure como o champagne5 triolé 0 pule e salte.

3arece um céu estrelado(sta $ida de n1s dois+epois dHauele passado...3arece um céu estreladoLargo" puro" undifla$ado+epois do pesar" depois"

3arece um céu estrelado(sta $ida de n1s dois.

Le$antem esta bandeira+a posiç#o de farrapo?+a terra a2ul brasileiraLe$antem esta bandeira'ue sente o horror da esterueira+a escra$id#o 0 negro sapo.Le$antem esta bandeira+a posiç#o de farrapo.

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5lhares

T eus trauinantes olhinhos%ontinhas" 9i2a" parecem?

9ig2agam sempre" tontinhos8eus trauinantes olhinhos?8#o pretos" t#o redondinhos5lhinhos ue me embe$ecem"8eus trauinantes olhinhos%ontinhas" 9i2a" parecem.

 Nas e,ploses de bons risos5s triolés petulantes%hocalhem" tinam" precisos

 Nas e,ploses de bons risos"

8ilintem como mil guisosSonoros" raros" $ibrantes

 Nas e,ploses de bons risos"5s triolés petulantes.

8riolé 0 pega estes 2otes( dá&lhes de bai,o acima3reso ao trapé2io da rima

 Na mais art!stica esgrima+Hestouros e piparotes"3reso" ao trapé2io da rima8riolé 0 pega estes 2otes.

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Trito de Tuerra

 Aos senhores (ue libertam escravos

 Bem) A pala$ra dentro em $1s escrita(m colossais e rubros caracteres"D $alorosa" pr1diga" infinita"8em proporçes de claros rosicleres.

%omo uma chu$a ol!mpica de estrelas8odas as $idas li$res" fulgurosas"Besplandecendo" 0 $1s tereis de $-&lasBolar" rolar nas $astides gloriosas.

Gasta do escra$o" ao suplicante rogo"

Subindo acima das etéreas ga2as"+o sol da idéia no escaldante fogo"'ueimar" ueimar as rutilantes asas.

'ueimar nas chamas luminosas" francas(mbora o grito da matéria apague&as?3orue afinal as consci-ncias brancasS#o imponentes como as grandes águias.

Gasta na fora" no arsenal da idéia"Fundir a idéia ue mais bela achardes"%omo uma enorme e fulgida 5disséia+a humanidade aos imortais alardes.

'uem como $1s principiou na festa+a liberdade $itoriosa e grande"Pá de sentir no coraç#o a oruestra+o amor ue como um bom luar se e,pande.

6amos) S#o horas de rasgar das frontes5s $éus sangrentos das fatais desgraças

( encher da lu2 dos $astos hori2ontes8odos os tristes coraçes das raças...

A mocidade é uma falena de ouro"+ela é ue irrompe o sol do bem mais puro:6amos) (rguei $osso ideal t#o louro3ara remir o uni$ersal futuro...

5 pensamento é como o mar 0 rebenta"Fer$e" combate 0 herculeamente enorme( como o mar na maior febre aumenta"

8rabalha" luta com furor 0 n#o dorme.

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Abri portanto a agigantada lei$a"'uebrando a fundo os espectrais embargos"3ois ue entrareis" numa e,plos#o de sei$a"4uito melhor nos pantees mais largos.

6#o desfilando como a2uis coortes+e a$es alegres nas esferas calmas" Na atmosfera espiritual dos fortes"5s aguerridos batalhes das almas.

'uem $ai da sombra para a lu2 partindo'uanta amargura foi tal$e2 dei,ando3elas estradas da e,ist-ncia 0 rindoFora 0 mas dentro" ue iluses chorando.

+a tre$a o escuro e aprofundado abismo

(nchei" fartai de essenciais auroras"( o americano e fértil organismo+e retumbantes $ibraçes sonoras.

Fecundos germens racionais produ2am Nessas cabeças" clarides de maios...%ru2em&se em $1s 0 como também se cru2amBaios e raios na amplid#o dos raios.

5s britadores sociais e rudes+a lu2 $ital =s bélicas trombetas"P#o de formar de todas as $irtudesAs seculares" brEn2eas picaretas.

3ara ue o mal nos antros se contorçaAnte o pensar ue o sangue $os abala"3ara subir 0 é necessário 0 é força+escer primeiro a noite da sen2ala.

+a Lua aos raios prateados'ue no hori2onte se espargem"

%omo fulguram os prados+a lua aos raios prateados"Pá $agos silfos alados+o rio a2ul pela margem+a lua aos raios prateados'ue no hori2onte se espargem.

8eus olhos belos por dentro+e grandes coloraçes"3arecem ter pelo centro8eus olhos belos por dentro

A lu2 $ital onde eu entro( saio imerso em clares...

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8eus olhos belos" por dentro+e grandes coloraçes.

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Adal2i2a

T ens um olhar cintilante"8ens uma $o2 dulçurosa"

8ens um pisar fascinante"8ens um olhar cintilante%heio de raios" faiscanteW criatura formosa"8ens um olhar cintilante"8ens uma $o2 dulçurosa)...

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8eus 5lhos

T eus olhos 0 esses carinhos"(sse casal de iluses

8#o doces como os arminhos"8eus olhos 0 esses carinhos3arecem ser os dois ninhos+as minhas consolaçes"8eus olhos 0 esses carinhos(sse casal de iluses)...

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Ser 3ássaro

 Ah) Ser pássaro) ter toda a amplid#o dos ares3ara as asas abrir" ruflantes e ner$osas"

+os parues atra$és e dos moitais de rosas" Nos floridos ardins" nas hortas e pomares.

Ser pássaro" cantar" subir" $oar na altura"3elos bosues sem fim" perder&se nas florestas"+as folhagens do campo em meio da espessura"+as auroras de abril nas cristalinas festas.

8ecer no tronco seco ou no tronco $içoso5 uente lar do amor" o carinhoso ninho"+e onde sairá mais tarde o pipilar ma$ioso

+e um outro mais gentil e meigo passarinho.

 N#o temer o $er#o e n#o temer o in$erno3ara tudo alcançar na le$e subsist-ncia"

 No cont!nuo lidar" no labutar eterno"'ue é tal$e2 da alegria a mais feli2 ess-ncia.

6i$er" enfim" de lu2 e aromas delicados Nascido dentre a lu2" gerado dentre aromas"Sonori2ando o a2ul" sonori2ando os prados( dormindo da flor sob as cheirosas comas.

6oar" $oar" $oar" $oar eternamente"(,tinguir&se a $oar" no matinal goreio"( ser pássaro" é ter em cada asa fremente7m sol para auecer o frio de algum seio.

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5 Got#o de Bosa

 A uma atri8

O campo abrira o seio =s e,panses frementes+as ár$ores senis" dos galhos $iridentes.

%a!a a tarde frescaLoira" gentil" $i$a2 como a canç#o tudesca.A iluminada esfera%alma" profunda" a2ul como um sonhar de $irgem"+a$a um brilho&cetim =s $erdes folhas dHhera.

 No ar uma harmonia a$igorada e casta" No cr>nio uma $ertigem+uma idéia $iril" duma elo@-ncia $asta.

8ardes formos!ssimas"W grande li$ro aberto aos geniais artistas"%omo tanto alargais as crenças pante!stas"%omo tanto esplendeis e como sois riu!ssimas.

'uanta $italidade indefinida" uanta" Na peuenina planta" No doce $erde&mar dos tr-mulos arbustos"'ue misticismo" ustos"Gebia a alma inteira ao de$assar o arcano+as ár$ores tit#s" das ár$ores fecundas'ue tinham" como o oceano"Febris palpitaçes intérminas" profundas.

(spl-ndidas paisagens5punhas o largo campo =s $istas deslumbradas.As m<rmuras ramagens"C lu2 serena e terna" = lu2 do sol 0 ue espadas+e fogo arremessa$a" em fr-mitos ner$osos"3elo cEnca$o a2ul dos céus esplendorosos"

8inham falas de amor" segredos $acilantesFinos como os brilhantes.

A m<sica das a$es%orta$a o éter calmo" em notas multiformes"L!mpidas e gra$es'ue estoura$am no ar em con$ulses enormes.Aui e além um rioSerpea$a na sombra" em meio de um rochedoXspero e sombrio.5 olhar perscrutador" o grande olhar" sem medo

( o esp!rito mudo"%omo um her1i gigante a$assala$am tudo...

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 Nuns madrigais risonhosAbria&se o pa!s fantástico dos sonhos.Ala$am&se os aromasLeais" ine,aur!$eis

+as largas e in$is!$eisSel$áticas redomas.

A sei$a rebenta$a(m ondas 0 irrompia

 Na doce e ma$iosa e plácida alegria+e uma a$e ue canta$a"+os belos roseirais'ue ostenta$am a flu, as rosas $irginais.

( as ubilosas franças

+os ár$oredos altos"B!gidos" atléticos"+errama$am no campo uns fluidos magnéticos+umas $ontades mansas.

A doce alacridade ia e,plosindo aos saltos.( toda a nature2aBobusta de sa<de e estr-nua de grande2aLibérrima e $ital"(rguia&se puante" auda2 e redentora"

 No gérmen material da força criadora"+entre a $ida sel$agem m!stica" animal...

+os roseirais preciosos Nos renues primorosos" Numa linda roseira abria castamente"%omo um sonho de lu2 numa cabeça ardente"5 mais belo" o mais puro entre os botes de rosa.8inha essa cor formosa"8inha essa cor da aurora"'uando ensang@entada em rubro a $astid#o sonora

(ra um bot#o feli2Sorrindo para o A2ul" 2ombando da matéria.8inha o le$e uebranto e a macie2 etérea'ue uma estrofe n#o di2.+as pétalas macias"+as pétalas sangu!neas"+oces como harmoniasGrandas e $elut!neas7ns perfumes sutis se espirala$am" raros"3ela mans#o do Gem" pelos espaços claros.

3erfumes e,celentes"3erfumes dos melhores"

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3erfumes bons de inc1gnitos 5rientes.

4atéria" n#o deplores5 $i$er natural dos $egetais alegres?(les s#o mais ditosos

'ue os nababos e reis nos seus co,ins pomposos?( por mais ue tu regresW matéria fatal" a tua $ida inteira"

 No rigor da higiene?( por mais ue a maneira+o teu grande e,istir" desse e,istir 0 perene+e ironias e pasmos"(,ploses de sarcasmos8u completes" matéria 0 1 humanidade ousada 0 %om a ci-ncia altanada?( por mais ue no século"

8u mergulhes a idéia" o prodigioso espéculo"Será sempre maior e e,uberante e forte"W matéria fatal"(ssa $ida t#o rica'ue se corporifica

 Na $alente coorte+o poder $egetal.

(ra um bot#o feli2"%ua roseira" impá$ida"Dbria de aromas bons" ébria de orgulhos 0 á$ida+e completa fragr>ncia"3alpita$a com >nsia+esde a pr1pria rai2.

( entanto o sol tombara e triunfantemente%omo um supremo Bubens"orrando = cur$idade etérea do poente"5 ouro e o escarlate" aprimorando as nu$ens"

 Numa distribuiç#o simpática de cores"+e tintas e de lu2es

+e galas e fulgoresBubros como o estourar dos fer$idos obuses.

5 cérebro em ne$rose" No pasmo ue precede a augusta apoteose+e uma e,celsa $is#o perfeitamente bela"+e uma e,celsa $is#o em l!mpidos d1ceis"(,alta$a o acabado art!stico da 8ela( o gosto dos pincéis.

%a!am da amplid#o em né$oas singulares

5s pálidos crep<sculos.5s f<lgidos altares

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+o homem primiti$o 0 a rel$a" o prado" o campo5nde ele ia buscar a força de uma crença'ue ent#o lhe iluminasse a alma escura e densa4orriam de clares 0 os poderosos m<sculos+a fértil m#e de tudo 0 a nature2a ingente 0 

+ei,a$am de bater. 0 5 olhar do pirilampo5scila$a" tremia 0 a2ul" fosforescente.

As sombras $inham" $inhamLembrando um batalh#o dHespectros ue caminham( a casta nitide2 sintética das cousas8oma$a a proporç#o das funerárias lousas.

%ompletara&se ent#o o mais e,traordinário"5 mais e,tra$agante+os fenEmenos todos:

A noite. 0 (nfim descera a tre$a do %al$ário"A tre$a ue en$ol$eu o %risto agoni2ante.

%oa,a$am negras r#s nos charcos e nos lodos.A ab1bada espaçosa" a f!sica amplitude"4ostra$a a profunde2 da ang<stia de ata<de+e um operário pobre"'uando se escuta o dobreAmpl!ssimo e funéreo"Sinistro e compassado"Bolar pela mans#o gloriosa do mistério"Assim com um soluço aflito" estrangulado.

+e$ia ser" de$ia3or uma noite assim"%omo esta noite igual"'ue derramou 4ariaA lágrima da dor" 0 ue o célebre %aimSentiu do cr>nio as con$ulses do 4al.

4as o bot#o de rosa"

8ra!do pelo estranho 2éfiro da sorte"Bolou como uma cisma*ntensa e luminosaArdente e o$ial em ue a ra2#o se abisma( foi cair" cair no pélago da morte"(m um dos mais rai$osos"(m um dos mais atro2esBios impetuosos"%heios de surdas $o2es"So2inho" em desamparo" assim como um proscrito"(m meio = placide2

+os astros no infinito( a mesma irracional e f<nebre mude2.

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+epois e além de tudo"Além do gra$e aspecto inteiramente mudo"Ao tempo ue morria5 c>ndido bot#o 0 em um dos tantos galhos

6irentes da roseira 0 alegre no ar se abria7m outro ue ostenta$a as pétalas sedosas"As pétalas gracis de cores deliciosas"+e cores ideais.

As auras musicais3assa$am&lhe de le$e"

 Nos t!midos rumores"+e um 1sculo mais bre$e

( dentre a e,posiç#o das delicadas flores"

+as rosas 0 o bot#oAberto ultimamente as c<pulas austeras"As plagas da esperança" a irm# das prima$eras"3endido um uase nada" esbelto na roseira"4ostra$a auela unç#o"A !nclita maneira+e uem se glorificaSubindo ao céu a2ul da maestade pura"+a eterna e,uber>ncia"+a fonte sempre rica"+a espl-ndida fartura+a lu2 imaculada 0 a egrégia subst>ncia'ue fa2 das almas claras3ela fecundidade ol!mpica do amor"4agn!ficas searas"+e onde se difunde a $ida sempiterna"A $ida essencial" a lei ue nos go$erna"A idéia $aronil do poeta sonhador.

A arte especialmente" esse prod!gio" atri2"%omo o bot#o de rosa

8#o meigo e t#o feli2"3ode ser arroada e brutalmente" ao pego" Na tre$a silenciosa"5nde o esp!rito $ai" atordoado e cego"%air" entre soluços"%omo um colosso ideal tombado ao ch#o de bruços"5u pode euilibrar&se em admirá$el base(stética e profunda"Assim" bem como o outro" a mais radiosa altura.

+e$es sondá&la bem nesta segunda fase.

3recisas para isso uma alma mais fecunda.3recisas de sentir a art!stica loucura.

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W Adal2i2a dos sonhos?(strela dos firmamentos+os meus cantares risonhosW Adal2i2a dos sonhosBasga esses $éus enfadonhos

+os teus louros pensamentos"W Adal2i2a dos sonhos"(strela dos firmamentos.

(nuanto este sangue fer$e%om força" com toda a força"3alpite a fibra da $er$e(nuanto este sangue fer$e(smague&se o ue n#o ser$e

 Na tre$a o 4al se contorça"(nuanto este sangue fer$e"

%om força" com toda a força.

%omo um cisne" estHalma frisa5 mar de lu2 de teus olhos"W simpática Adal2i2a%omo um cisne" estHalma frisa"6agueia" paira" desli2aSem naufragar nos escolhos%omo um cisne" estHalma frisa5 mar de lu2 de teus olhos.

4erece o bom do 6idal'ue é mesmo um oca de tru2"8er também com o seu Fiscal"4erece o bom do 6idal7m banuete bambual"+e cem milhes de bambus4erece o bom do 6idal'ue é mesmo um oca de tru2)

9ulmira dos meus amores"

9ulmira das minhas cismas"Besplandece como as flores"9ulmira dos meus amoresAbre os olhos sedutores

 Nos uais a minhalma abismas"9ulmira dos meus amores"9ulmira das minhas cismas.

+ei,ai ue a minhalma escassa+e lu2 0 aos astros emigre%omo gai$ota ue passa

+ei,ai ue a minhalma escassa+e amor 0 na pl<mbea desgraça

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+e atro2es garras de tigre"+ei,ai ue a minhalma escassa+e lu2 0 aos astros emigre.

'uando ela está de colete"

(spartilhada" irradiante6estida de a2ul&ferrete'uando ela está de colete(m mim cru2ando o florete+o seu olhar 0 ue elegante'uando ela está de colete"(spartilhada" irradiante.

W cintilante 'uiuia"4enina dos meus olhares"Flor a2ul da simpatia"

W cintilante 'uiuia"Basga este céu da alegria+os meus risonhos cantares"W cintilante 'uiuia"4enina dos meus olhares.

5lhos pretos" sonhadoresW celeste %arolina"%omo s#o esmagadores5lhos pretos sonhadores"%omo $ibram dos amoresA nossalma cristalina"5lhos pretos" sonhadores"W celeste %arolina.

Se estala a estrofe de fogo"Se e,plose a estrofe do Gem"%omo o $erbo demagogoSe estala a estrofe de fogo"

 N#o ceda o esp!rito ao rogo+o 4al ue os erros cont-m"

Se estala a estrofe de fogo"Se e,plose a estrofe do Gem)

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Amor))...

2#erecido , @lma. Sra. . -dracomo prova de imensa ami8ade e pro#undo amor 

(ue lhe consa/ra.

2 Autor.

 Amor" meu ano" é sagrada chama'ue o peito inflama na $ora2 pai,#o"Amo&te muito eu tHo uro ainda+eidade linda ue n#o tem sen#o)

6irgem formosa" dHencantos bela"Tentil don2ela" meu amor é teu.6ou consagrar&te mil afetos tantos

3uros e santos ual também Bomeu)

Flor entre as flores" a mais linda" alti$a'ual sensiti$a" s1 tu és" 1 sim.(sses teus olhos sedutores" belos+e mil anelos" me pedir#o a mim.

Ano" meu ano" eu te adoro e amo.3or ti eu chamo nas horas de dor.Sem ti eu sofro? um seuer instante+e ti perante s1 me dás $alor.

4eu peito em >nsias s1 por ti suspira%omo da lira a $ibrante $o2)8e $endo eu rio e sen#o gemendo6ou padecendo saudade atro2)

Amor ardente de meu coraç#oSanta pai,#o em todo peito forte(u hei de amar&te até mesmo a $ida+ei,ar" uerida" e abraçar a morte)

W Flora" 1 ninfa das rosas"W frescura dos morangos"Abre as pupilas radiosas"W Flora" 1 ninfa das rosas"+á&me as estrelas formosas+o olhar repleto de tangos"W Flora" 1 ninfa das rosas"W frescura dos morangos.

4orena dos olhos pretos

+os olhos pretos" morena"(scuta os $agos duetos

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4orena dos olhos pretos"Faremos ambos" tercetos"%om esta esfera serena"4orena dos olhos pretos"+os olhos pretos" morena.

(mbora eu n#o tenha louros%omo esses grandes her1is( nem da idéia os tesouros"(mbora eu n#o tenha louros"8al$e2 nos tempos $indouros8radu2a o poema dos s1is"(mbora eu n#o tenha louros%omo esses grandes her1is.

W Al2ira" Al2ira" Al2ira"

(strela resplandecente"Besplandecente safira"W Al2ira" Al2ira" Al2ira"As $ibraçes desta lira"Acorda do sono ardente"W Al2ira" Al2ira" Al2ira"(strela resplandecente.

Aos rel>mpagos sulf<reos Na esfera 2igue&2agando%omo esses pobres tug<rios"Aos rel>mpagos sulf<reosSe douram" brilham purp<reosFulguram de uando em uando"Aos rel>mpagos sulf<reos

 Na esfera 2igue&2agando.

C sombra espessa de um álamo'uando nasceu&me a pai,#o"%rescendo aos beios do tálamoC sombra espessa de um álamo

'ue de harpas senti" ue cálamo3or dentro do coraç#oA sombra espessa de um álamo'uando nasceu&me a pai,#o.

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Bosa

a A. Moreira de Vasconcelos

 4t$ rose$ elle a vécu ce (ue vivent les roses$

lFespace d+un matin.4alherbe;

 Rosa 0 chama$a&se a estrela+auelas fl1reas paragens?(ra escutá&la e era $-&la4etida em brancas roupagens

8odas de pregas e tufos"+e laçarotes e rendas"

5u mesmo ou$ir&lhe os arrufos5u surpreender&lhe as contendas

 Nas lindas tardes radiadas3or cores de silforamas( sentir logo" inspiradas+o amor" as fér$idas chamas.

(la era um beio fundidoAo cintilar de uma aurora"7m sonho eterno espargido

 Nos belos sonhos de Flora.

( tinha uns longes sublimes+e grande força lasci$a"A transudar" como uns crimes+o sangue" da carne alti$a.

%onta$a tudo... mas tanto"(m turbilhes" em cascata"'ue recorda$a esse canto7ma garganta de prata.

( uando os poetas" rapa2es"A $iam passar" $ibrante"4ostrando as cur$as auda2es"+o corpo todo radiante"

+i2iam de entre os primores+e estrofes mais dulçurosas:

 0 8u és a g-mea das flores"+as rosas" perfeitas rosas.

%on$ulsionado e sem regra

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Auela ang<stia ue esmagaGem como em noites sem calmaA $aga esmaga outra $aga.

Apenas as flores lindas

'ue $endo Bosa morriam%om breeirices infindas+e in$eas ue renasciam"

Sem mais in<teis ci<mes"Abrem os frescos pistilos"ogando aos céus" em perfumes"5s seus melhores sigilos.

 No entanto a lu2 soberana+o amor desfilam as rimas

+os poetas 0 como um hosanaA uem á go2a outros climas.

Bosa 0 chama&se a estrela+auelas fl1reas paragens?(ra escutá&la e era $-&la4etida em brancas roupagens"

3ara e,clamar: 0 +entro dela(,iste a fibra gloriosa...

 Ninguém $iu coisa mais bela Nem Bosa... t#o bela rosa)...

'uando estás de laçarotes( de pliss-s e fichus"+e rendas e de decotes"'uando estás de laçarotes"8oilette de chamalotes"'uanto esplendor" uanta lu2"'uando estás de laçarotes( de pliss-s e fichus.

+a idéia nos mares EniosA barca das tuas cismasSoprada por bons fa$Enios+a idéia nos mares Enios"6ai li$re dos maus demEnios"Gatida da lu2 dos prismas"+a idéia nos mares EniosA barca das tuas cismas.

 0 %omo um assombro de assombros

A rapariga 0 um rain<nculo"+a serra pelos escombros

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%omo um assombro de assombros"'uando $- de en,ada aos ombros5 noi$o 0 lembra um carb<nculo"%omo um assombro de assombrosA rapariga 0 um rain<nculo.

 0 %omo fortes gargalhadas3or um templo de cristal"Sonoramente $ibradas"%omo fortes gargalhadas"Sinto idéias baralhadas

 NHum frágil descomunal%omo fortes gargalhadas3or um templo de cristal.

+a bruma pelos pa!ses

3elos pa!ses da bruma"Longe dos astros feli2es"+a bruma pelos pa!ses"8u $ais perdendo os mati2es+a lu2 e da gl1ria em suma"+a bruma pelos pa!ses"3elos pa!ses da bruma.

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Saudaç#o

 Ao Liceu de Artes e 2#ícios

C omo esta lu2 é serena"%omo esta lu2 é sincera?%omo eu $eo a prima$era

 Num lápis e numa pena.

'ue prismas de lu2 ardente"'ue prismas de lu2 sua$e?%omo eu sinto um canto de a$e(m cada boca inocente.

Sim) 'ue o estudo é como a aurora

'ue nos entra pela casa" Num $i$o fulgor de brasa"6ibrante" alegre" sonora.

(le rasga a tre$a espessa" Num s1 momento 0 cantando?6ai estrelas semeando(m cada tenra cabeça.

8ira os cr>nios do letargo+a ignor>ncia 0 pois entra%omo um sol e se concentra

 Num esplendor muito largo.

'uem" 1 Arte imaculada"4edisse o ser da criança"3ela alma de uma esperança3ela alma de uma al$orada.

'uem aos páramos subindo"(ternamente pudesse"

+os astros a loura messeArrancar 0 depois abrindo

5s peitos das criancinhasogá&los dentro e beiá&las%heias de pompa e das galas'ue a lu2 concede =s rainhas)...

3ois ue a tre$a entre fulgores"D como" dentre ata<des"Bebentar como $irtudes"

As mais simpáticas flores.

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Ah) Ninguém sabe" por certo"'uanto é bom" uanto é saudá$el"Sentir a crença adorá$el%omo um clar#o sempre aberto.

6er os germens do futuro No campo eterno da escolaGrilhando como a corola+e um l!rio c>ndido e puro.

6er morrer 0 como uns in$ernos+a $ida" os $elhos colossos( $er erguerem&se os moços%omo $eres sempiternos.

4#es" 1 m#es t#o estremosas"

+os $ossos $entres fecundosSaem todos esses mundos+as idéias fulgurosas.

8udo isso uanto há escrito+e pensamento e crençasSaiu das fontes imensas+e um grande amor infinito.

( desde a escrita a leitura( desde um li$ro a uma carta"A bondade sempre farta+as m#es 0 esplende e fulgura.

Gom dia ao mestre ue é guia+as belas crianças louras)Gom dia =s m#es por$indouras"C mocidade 0 Gom dia)

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VII

5s tristes e os peuenos(m uem descansam brandamente os olhos"(sses humildes" rotos Na2arenos'ue $i$em" morrem suportando abrolhos"

Sen#o nos grandes entes piedosos'ue d#o&lhes força aos transes dolorososR

VIII

5h" sim ue a força eterna3arte dos corpos rios da sa<de"3erante a lei da $ida ue go$erna"5 nobre" o rei" o proletário rude?3arte dos seres fartos de carinhos%omo de pa2 e de alegria os ninhos.

IX(u peço para todos( peço a $1s ue sois as fortale2as+a esperança" da fé 0 a $1s ue os lodos+a miséria" do $!cio" das bai,e2as"

 N#o denegriram essas consci-ncias%astas e brancas como as inoc-ncias.

X

 Nem se esperar de$ia'ue eu tentasse bater a outras portas"'uando $1s sois o e,emplo de 4aria?

 N#o andais mudas" regeladas" mortas3ela noite $ora2 da sepultura( escutareis os dramas da amargura.

XI

 N#o ulgueis ue eu $os peça"7ma al$orada feita de um sorriso?A minhalma garante e $os confessa'ue se cr- nas manses do 3ara!so"

D porue $1s reinais por sobre a terra( o 3ara!so dentro em $1s se encerra.

XII

A $1s" a $1s competeA gl1ria do de$er 0 porue assim comoA lu2 do sol na lua se reflete"8ambém das afliçes no duro assomo"+a pobre2a refletem&se nas almas"6ossas imagens" como auroras calmas.

XIII3ortanto" a mocidade

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6ossa" terá de ser de hoe em diante"(nuanto a esmagadora atrocidade+a peste 0 nos $orar dHinstante a instante"'uem se há&de encarregar desta manobra+o gale#o da $ida ue sossobra.

XIV

( para isso" 1 rainhas+a u$entude 0 tendes as uermesses'ue d#o bons frutos assim como as $inhas?As matinées de c>nticos e preces"5s cintilantes" pr1digos ba2ares5nde a lu2 salta e,tra$asando em mares.

XV

(nuanto a mim" na arena

+a heroicidade humana ue consola"5h" fa2&me bem a $ibraç#o da pena"3elo amor" pelo afago" pela esmola"%omo um radiante e fulgido estilhaço+e sol febril no mármore do (spaço)

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Tusla da Saudade

 A Santos Lostada pela morte do seu velho pai.

 N unca mais" nunca mais esses teus olhos3alpitar#o nos olhos seus honestos Nem h#o de $-&lo em >nsias por escolhos.

(le morreu" morreu 0 e os mais funestosLutos da dor feriram como abrolhos8eu lar e os teus 0 serenos e modestos.

'ue incalculá$el e,plos#o de prantos N#o inundou as almas preciosas+os teus irm#os" da tua m#e 0 uns santos

'ue peregrinam nestas lacrimosasSendas da $ida" em mágoas" sem encantos%omo sem lu2 e sem or$alho as rosas.

Ah) formidá$el lei cruel da $ida"Lei da matéria" da mude2 das lousas"+a eterna noite atro2" indefinida?

8ens o segredo intérmino das cousas"( nessa dura e tenebrosa lida"5h) nem seuer um dia s1 repousas.

'uem sabe" 1 morte" 1 l<gubre" uem sabe5 teu poder fatal" desapiedado5nde se oculta e se resume e cabe.

3ois nem ue o céu pur!ssimo" a2ulado%air aos pedaços" tombe e se desabe

 Na profunde2 do abismo ilimitado

( a crença humana espa$orida" em gritos"3alpando o nada" esuálida" gemendoBasgue a amplid#o de estranhos infinitos"

 Nunca da morte saber#o o horrendo4istério rio e surdo dos granitos5s coraçes ue $i$em combatendoR)...

 N#o) A %i-ncia penetrou" o estudo+o pensador" abriu mais hori2ontes

 Nesse problema silencioso e mudo.

5 pensamento constelou as frontes"

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+eu a ra2#o o mais brunido escudo( construiu as luminosas pontes

+e onde se $ai" com grande olhar" seguro"Atra$essar as regies sonoras

+os *deais ue irrompem do Futuro?

( sem contar dos séculos as horas"( sem temer as mil $ises do (scuro"Alegremente ao fresco das auroras.

4as entretanto" 1 meu amigo" escuta"8oda a saudade" a grande nostalgia

 Nos dei,a frios" mortos para a luta.3orue" olha" a morte é sempre uma agonia)

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Tiulietta +ionesi+esterro;

 Ao seu violino

 Ah) Tiulietta) 5s sons do teu $iolino%horam" suspiram" rugem como o le#oLembram sonoro rio cristalino( tem soluços como um coraç#o.

W da harmonia di$inal sereia)Bosas e estrelas e cançes de ninhos

 Nas cordas do $iolino ue goreia3assam cantando como os passarinhos.

 N#o sei ue estranho esp!rito sereno3ara a harmonia essa alma te inspirou'ue dentro dum $iolino t#o peuenoA m<sica do espaço concentrou)

Ah) peregrina do pa!s do sonhoFlor luminosa de regi#o sonora"

 No teu sua$e coraç#o risonho6ibram triunfantes os clarins da aurora.

8udo dentro de ti goreia e trina"%omo trina e goreia o rou,inol

 Nas paisagens sil$estres da campina"Aos esplendores siderais do sol.

'uem n#o há de chorar e rir n#o há de+e amor" de saudade e de esperança"+e assombro" $endo ue na tenra idadeá és t#o grande" sendo uma criançaR)

5s astros do cer<leo firmamento"

As meigas flores" o infinito mar 'ue digam como tu nesse instrumentoSabes sorrir e sabes soluçar...

+omadora feli2 do som profundo"+eusa imortal de ignotas harmonias"6ai triunfar nas $astides do mundo"+a gl1ria nas eternas sinfonias.

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Filetes+esterro;

I

W pérola nitente"

W pérola do amor"W im# redolente+as pétalas da flor?

W lágrima sutil"W lágrima ideal"+o cEnca$o de anil%a!da no cristal

+o lago transparente"Parmoniosamente"Aos flocos do luar...

8u és como as ess-ncias"%onheces as ci-ncias5cultas... de matar)

II

%intila a estrela&dHal$aGem como o olhar do crente)3erpassa no ambiente

5 fresco olor da mal$a.7m tic de lirismo"Simpático e harmEnico"+errama no sinfEnicoBiacho 0 um misticismo.

Pá m<sicas supremas"7m mundo de problemas

 Nos montes seculares.

( como um l!rio ro,o"A alma em canto frou,o(migra para os ares.

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6ersos = *nf>ncia+esterro;

 N os roseirais" ao $ir da madrugada"

+esabrocham no $al todas as rosas" Nos galhos cheios de uma lu2 doirada"4eigas e frescas" rubras" perfumosas"

 Nos roseirais" ao $ir da madrugada.

%omo em bocas cheirosas e $ermelhas3ousam beios de amor e de $entura"5 mel lhe sugam todas as abelhas3ousando em cima da corola pura%omo em bocas cheirosas e $ermelhas.

+esde os campos" o bosue" até aos montes8udo renasce num ardim de flores?( pelo a2ul do céu" nos hori2ontes"Pá os mais $i$os" raros esplendores"+esde os campos" o bosue" até aos montes.

3elos ninhos sonoros" delicados"%antam e trinam muitos passarinhos

 Nos altos ar$oredos enflorados"A margem $erdeante dos calminhos"3elos ninhos sonoros" delicados.

As borboletas brancas e amarelas"A2uis" cor de ouro" cor de prata e brasa"Le$es" ligeiras" t-nues e singelas"Abrem a fine talagarça da asa"As borboletas brancas e amarelas.

8udo no $al acorda de deseosC musica dos cantos mais risonhos?( as a$es soltas" peregrinos beios"

+i2em" cantando" ue atra$és de sonhos8udo no $al acorda de deseos.

II

 Na alma da inf>ncia" tal e ual roseiras"Abrem festes de l!mpida fragr>ncia5s sonhos e as uimeras passageiras'ue s#o mais pr1prias do $ergel da inf>ncia"

 Na alma da inf>ncia" tal e ual roseiras.

5 peuenino coraç#o ditoso

%anta cançes de uma a$e peuenina?( é um encanto $er assim radioso

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 No peito de uma c>ndida menina5 peuenino coraç#o ditoso.

A e,ist-ncia de sol das criancinhasLembra um pomar de frutas bem serenas"

3or onde os colibris e as andorinhasTo2am amores sacudindo as penas"A e,ist-ncia de sol das criancinhas.

 N#o sei di2er se adore mais crianças5u mais também as flores de um arbusto?

 Nessas t#o puras" castas semelhanças(u" para ser bem carinhoso e usto"

 N#o sei di2er se adore mais crianças.

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8riste+esterro;

 E m unho" ue é m-s do frio"

3erdes todo o colorido"8ens um tom $ago e sombrio+e dor" de mágoa e gemido.

 N#o sei ue triste2a é essa+e t#o doloroso cunho'ue perdes a cor depressaAssim ue $em $indo unho.

Ficas branca e desmaiada"Lembrando a lua serena"

Fraca" pálida e gelada"%omo frágil açucena.

6#o&se&te as rosas da face(murchecendo e sumindo

 Num crep<sculo $i$ace+e tudo o ue estas sentindo.

Ai) no entanto pelos prados5nde os dias resplandecemBisonhas como noi$ados(m unho as rosas florescem...

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Fonte de Amor 

T rago&a = tua presença3ara ue $eas a imensa

4ágoa atro2 ue a de$orou.

( saibas" 1 flor das flores"'ue a fonte dos seus amores(ternamente secou.

Foste = fonte buscar água( tinha secado a fonte.A!" flor a2ul do monte"8i$este a primeira mágoa.

3orém se uma alma na frágua+as dores sem hori2onte'ueres $er" sentir defronte+os olhos" manda ue eu trago&a.

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 Naufrágios+esterro;

I

5 4ar) 5 mar) 'uem nunca $iaasse...

'uem nunca dentre d<$idas sentisse5 coraç#o e ai" nunca embarcasse...5h) uem do mar as c1leras punisse)

5ra o mar e sereno" e calmo" e manso"As $agas s#o mel1dicos arpeos+ando = embarcaç#o le$e balanço"%omo um afago maternal de beios.

5ra o mar franco" li$re e transparente"8#o tran@ilo ue está" t#o brando" rindo"'ue até parece" ue até cuida a gente'ue os coraçes podem boiar" dormindo.

5ra fer$e" rebenta" estoura" estala"Bude" fero2" em con$ulses? profundo"Abrindo a corpos pa$orosa $ala( mundos de agonia num s1 mundo)

II

Filho) Filho) Adeus" uerido"

6ou $iaar para além"Seas de +eus protegido...'ue sempre me ueiras bem.

6ou dei,ar&te nesta terra"(ntregue aos destinos teus?Filho" o ue este adeus encerraS1 o pode saber +eus.

Le$o as crenças em pedaços"%omo pedaços de céus.

6ou $er mar" $ou $er espaços6er temporais" escarcéus.

Filho amado" $ou dei,ar&te%á na terra" pelo mar?3orem" cr-" de ualuer parte"%r-" meu filho" hei de $oltar.

III

Adeus" noi$a" $ou&me embora"6ou&me com +eus" é preciso.

'ue colhas em cada aurora4uita messe de sorriso.

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Sou soldado" o meu destinoD $i$er bem longe" é certo"Longe do canto di$ino+a tua $o2" sol aberto.

%usta bem esta partidaA mim ue entanto sou forte.

 Ninguém sabe o ue é a $ida3ara uem $i$e da morte.

+a morte" sim" pomba amada?'ue as minhas crenças á mortas8u" com essa alma estreladaSem tu seuer me confortas.

3erdi pai" perdi carinhos+e m#e" de irm#os e de todos.(u sou como a flor de espinhos

 Nascida por entre lodos.

8u $ieste" 1 noi$a" apenas"%omo um !ris de esperanças"+ar&me al$oradas serenas"(ncher&me de confianças.

S1 em ti confio" espero%om ardor" com fé $eemente"3omba de lu2 ue eu $enero"+oce $ésper do oriente.

Adeus" pois chegou a hora"6ou&me com +eus" minha filha?

 N#o chores" ue o mar n#o chora: 0 5lha" $- ue canta e brilha.

IV

Adeus" esposa estremosa"6ou&me" n#o sei para uando6oltar 0 minhalma saudosa3or meus filhos $ai chorando.

Ficam&te eles no entretanto3ra tirarem&te os pesares"3ara en,ugarem&te o pranto'ue há de ser maior ue os mares.

4aior ue os mares" n#o minto"

 N#o e,agero t#o pouco"3orue ai" s1 tu e s1 eu sinto

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5 nosso amor como é louco.

6ou&me =s $iagens" aos dias3assados entre hori2ontes( mares e $entanias

Sem ar$oredos" sem montes.

5s dias de céus eternos( de mar ilimitado"%om tempo de atro2 infernos%om tempo de sol doirado.

Adeus) %á dentro do peitoPá dois coraçes unidos?Sobre um o mar tem direito"Sobre outro 0 os filhos ueridos.

V

(is as cançes e adeuses de saudade'ue as desgraçadas almas palpitantesSoluçam na sombria imensidade+esta $ida de ang<stias lacerantes.

Ao mar) Ao mar) Frescas aragens purasAflam nas ondas ma$iosamente.'ue balada de plácidas $enturas"'ue sinfonias" ue gemer dolente)

5s céus abertos" claros" luminososLembram a candide2 branda das $irgens.6!treos ares" magn!ficos" radiosos5nde o sol arde em fér$idas $ertigens.

Lind!ssimos painéis" bela paisagemAbre na $ista do $iaante o ouro+a lu2 ue salta como uma homenagem+e oriental" espl-ndido tesouro.

6ai bem" $ai muito bem" mesmo" o na$io.As $agas desenrolam&se de le$e.3arece um berço por de sobre um rio4anso" prateado" esp<meo" cor de ne$e.

6i$e&se a bordo como em terra. 0 As $agas Nunca foram t#o doces e t#o meigas"%omo em desertas" $iridentes plagasD doce e meigo o mole ch#o das $eigas.

6i$er assim" na realidade" é go2o'ue até parece n#o ha$er na terra)

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8#o belo é o mar" t#o calmo e bonançoso"8al confiança nos semblantes erra)

6ogando assim a embarcaç#o" uem pensa*r acordado afora pela 6idaR)

8udo é um sonho de esperança imensa7m bom sonho de aurora indefinida.

VI

S<bito os ares enchem&se de noite( grita e 2une" 2argunchando o $ento'ue esbra$ea" morde com rio acoite5 mar ue espuma e empola num momento.

 N#o estrugem os raios pela tre$a N#o ha tro$es bra$ios rebentando

%omo canhes ue estouram" 0 mas se ele$a+o oceano um $enda$al ue $ai urrando

%om f<rias e com c1leras enormes%omo potros sanhudos relinchando(m pinotes e berros desconformes.

%aiu tal$e2 no mar o etéreo espaço"8oda a c<pula a2ul tombou" uem sabeR%éus) há lutas ali" de braço a braço.Porror) %r!$el sera ue o mundo acabeR

 Ninguém calcula o ue será tudo isso...4as os $entos elétricos" largados

 Nas amplides do mar antes submisso"Bugindo $#o como desesperados.

+eus" 1 meu +eus" todas as bocas gritam"( se afer$ora mais e mais a crença.4as" onde os astros muita $e2 palpitam

 No céu" há noite cada $e2 mais densa.

Ah) ue mude2 de t<mulo nos ares. Nada responde" oh) nada ent#o responde?4as onde está o grande +eus dos mares( da terra" onde está" aonde" aondeR

8udo está mudo 0 a nature2a inteira"8udo emudece e n#o responde nada?( s1 os $enda$ais t-m a maneira+e responder dando uma gargalhada.

Targalhada de lágrimas atro2es"+e lágrimas de morte e de agonia

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'ue abafa e e,tingue na garganta as $o2es"Tera a coragem ue e a lu2 do dia.

5 $alentes e rudes marinheiros6indos da pátria para pátria no$a"

'ue sepultais amores $erdadeiros+o t#o profundo coraç#o na co$a?

W $iaantes de longe" de pa!ses5nde a $ida cintila e canta alerta%omo um turbilh#o de a$es feli2es

 Numa campina de rosais" deserta?

W $1s todos ue $indes lá do oceano"(ntre as mais bruscas e h1rridas tormentas.Lá do mar" alto" a $ela" a todo o pano"

%om as almas ansiosas e sedentas"

+e chegar cedo ao porto deseado"%alculai" calculai o uanto é triste6er dar = praia um pobre desgraçado(m cua carne a podrid#o e,iste)

C praia) C praia) +ai = praia" morto"Beeitado por ondas con$ulsi$as"*ndo encontrar na sepultura o porto"+ei,ando ao mundo as iluses mais $i$as.

5 eterno amor de m#e" de filho" esposa"8anta fé" tanto riso de alegria"8anta coisa dourada" ai tanta coisa'ue ao recordar toda a nossa alma esfria.

4orrer no mar" os ner$os contra!dos" Numa asfi,ia atro2" cerrando os dentes" Num abismo de cores e gemidos"+e maldiçes e de ui$os de descrentes?

4orrer no mar" sem o farol amigo"(sse farol ue os náufragos anima"Fora de proteç#o" fora de abrigo"Sem seuer uma lu2 no espaço" em cima?

4orrer no mar" sem astros no infinito" Na solid#o das águas" fria" imensa"(nuanto a tre$a aura de granito"Bi&se de tudo" com indiferença?

4orrer no mar" s1 e desamparado( num terror ue n#o acaba nunca"

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6endo rasgar o corpo enregelado5 desespero como garra adunca.

D horr!$el) Gem sei) 4as ai daueles'ue morrem mesmo assim lá no mar fundo

Sem ter alguém ue ao menos neste mundo+errame uma s1 lágrima por eles)

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%astel#

 Bela e mais encantadora+o ue todas as bele2as"

Traça le$e de pastora'ue canta pelas de$esas.

(nleios de passarinho( brilhos de prima$era"%om magnetismos de $inho

 No olhar a2ul de uimera.

Feita de um orro sadio+e auroras purpureadas%arne mais fresca ue um rio

+e frescas águas prateadas.

8udo é frio e tudo é raso3ara di2er&te a capricho'ue és magn1lia para um $aso"'ue és arcano para um nicho.

Ds um mito da Alemanha6i$endo em montanha alpestre"

 No castelo da montanha"%omo ardente flor sil$estre.

( tens as pomas = farta3olposas" cheias de aromas.Ds assim a loura 4arta%om abund>ncia de pomas.

(sse pr!ncipe ue te ama"%ismando" trágico e gra$e"uando o luar se derrama%uida ou$ir&te os $Eos de a$e.

(le $i$e" airoso e belo"%omo se $i$e num sonho"

 No seu ne$oento castelounto de um lago tristonho.

( atra$és do p1 flutuante+o luar saudoso e $agoulga ue és a garça errante+as águas $erdes do lago.

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( aprenderás ent#o como é ue cabeA Nature2a numa estrofe apenas.

Assim terás o culto pela Forma"%ulto ue prende os belos gregos da Arte

( le$ará no teu ginete" a norma+essa transformaç#o" por toda a parse.

(nche de estranhas $ibraçes sonorasA tua (strofe" maestosamente...3e nela todo o inc-ndio das auroras3ara torná&la emocional e ardente.

+errama lu2 e c>nticos e poemas No $erso e torna&o musical e doce%omo se o coraç#o" nessas supremas

(strofes" puro e dilu!do fosse.

'ue as águias nobres do teu $er$e es$oacemAlto" no A2ul" por entre os s1is e as galas"%antem sonoras e cantando passem+os Anos brancos atra$és das alas...

( canta o amor" o sol" o mar e as rosas"( da mulher a graça diamantina( das altas colheitas luminosasA lua" uno branca e peregrine.

6ibra toda essa lu2 ue do ar transborda8oda essa lu2 nos $ersos $ai $ibrando( na harpa do teu Sonho" corda a corda"+ei,a ue as *luses passem cantando.

 Na alma do artista" alma ue trina e arrulha'ue adora e anseia" ue desea e ue amaTera&se muita $e2 uma fagulha'ue se transforma numa grande chama.

Fa2 estrofes assim) ( ap1s na chama+o amor" de fecundá&las e acend-&las"+errama em cima lágrimas" derrama"%omo as efloresc-ncias das (strelas...

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5 +uue

Quando o duue $olta$a da caçadaAlegre num clarim dHaço $ibrante

+e alacridade moça e e$igorada+um ruidoso e tr-fego estudante.

'uando ele $inha com seu ar bi2arro+e atra$essar os $ales e as colinas"Sadio aspecto fresco como um arro%heio de leite =s horas matutinas.

(m toda a aristocrática $arandaAlta e $istosa" ampla" aberta em anelas"(le $ibra$a" de uma e outra banda"

%ances de amor" nostálgicas e belas.

+o sal#o nobre entre tapeçarias+e Tobelins" riu!ssimas e raras"*am $ibrando aladas harmonias+a sua $o2" espl-ndidas e claras.

8odas as fluidas" le$es" calmas" frescas4anh#s a2uis" serenas e formosas"Loura mulher das regies tudescas5 seu bom dia era mandar&lhe roses.

Floria" é certo" em grande amor" floriaTerado pelo efl<$io dessas flores"3ois uando o duue n#o as recebia(ra o mais infeli2 dos caçadores.

8#o doce amor lembra$a auelas lendas+os medie$ais castelos esuecidos"'uando $ises de nu$ens e de rendasApareciam nos balces floridos.

A caça" a caça" eternamente a caça)'uanto melhor" mais fácil n#o lhe foraA conuista das a$es do ue a graça+e conuistar essa bele2a loura)

3ara possu!&la como noi$a amada"Aceso há muito nas pai,es insanas"Arrostaria a caça mais ousada+os a$alis nas sel$as africanas.

( sempre as lindas rosas matutinas6inham&no perfumar todos os dias"

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'uando salta$a aos $ales e as colinas"Gi2arro e s#o" dentre as tapeçarias.

8empos passaram sobre tais amores)4as depois de casado fe2 surpresa

Saber ue o duue" o rei dos caçadores" N#o tinha o mesmo amor pela duuesa.

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A (spada

I

%a$alheiros" os tempos á passados"+e paens" de can2éis" de fidalguia"

+e castelos" de reinos brasonados.

Ar cortes#o de graça e fantasiaAtra$és dos olhares e dos beios

 0 No sil-ncio de cada galeria...

Foi nesse bra$o tempo dos lampeos+e espadas" de punhais e de couraças3or combater frementes de deseos.

 No tempo dos floreios e das caças+os assaltos alegres e bi2arros%omo as sonoras $ibraçes das taças.

(m ue as almas airosas como arros"%heios de $inho espumeante e ardente(ram de gl1ria $encedores carros)

Foi no tempo fidalgo e refulgente"'uando o hero!smo fantasioso ama$aA linha e a chama de lu2ida gente"

'ue esta cena galharda se passa$a"'uando um don2el partia para guerra%omo a nobre2a do solar manda$a.

5 pai" um tronco transudando a terra"Forte e $iril" presença de profeta'ue no seu flanco a $alentia encerra.

Garbas serenas de bondoso asceta(m cua al$ura doce e $eneranda

6-&se a $ontade e a intrepide2 completa.

Fronte banhada de meiguice brandaA ue o de$er e os r!spidos conselhos+#o sempre a austeridade ue age e manda.

Lembra um ocaso de clares $ermelhos"4usgoso" triste" desolado muro"3or onde o luar abre fulgor dHespelhos.

( esse semblante ue parece duro"

Xspero e tor$o" trou,e&o dos combates"+o tor$elinho do ne$oeiro escuro.

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+os pelouros sangu!neos escarlates"+e fogo aberto em turbilhes" $ora2es"+os impulsi$os" bélicos rebates.

4as" bem olhadas" as feiçes auda2es+esse $elho patriarca destemido8inha a sua$idade dos lila2es.

 Nos olhos" um passado consumido(ntre a$enturas e col1uios belos%omo ue fa2 um $erdadeiro ru!do...

Sente&se neles noites de castelosTo2adas em amores dadi$osos"(m madrigais" em !ntimos des$elos.

%a$algadas" torneios donairosos"Sonho feli2 de rica mocidade"Beuintes ideais" ca$alheirosos.

8udo se sente na tran@ilidade+esse deus $aronil da força antigaFeito com o rio bloco da 6erdade.

8udo se sente nessa pa2 amiga'ue as crenças do passado =s outras crenças6agas" futuras" para sempre liga.

8udo se sente $ir das né$oas densas( da ridente e c>ndida meiguice+as suas barbas l!mpidas e imensas.

Sim) tudo da uase criancice'ue d#o aos homens esses tons ne$oentos+a enregelada e tr-mula $elhice.

3orém" reatando aéreos pensamentos...%omecemos na cena detalhada'ue á das eras se espalhou nos $entos.

D nada mais ue a hist1ria duma espada"Pist1ria curta" mas interessante+uma espelhante l>mina timbrada.

 N#o é pelo aço ou l>mina espelhante'ue irei contar" pois s#o comuns os aços"4as pelo nobre e original rompante.

3elo ardimento ue os primeiros braços

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'ue a manearam com puança e brio Nela gra$aram" com profundos traços.

II

5 $elho" em pé" atlético e sombrio

+iante do filho armado ca$aleiro" No aspecto dum le#o rui$o e bra$io.

Fala&lhe claro" dHalto e sobranceiro" Numa solene e enérgica atitude+e uem nos prélios sempre foi primeiro.

5 filho" gra$e o escuta e atende a rudeLhane2 est1ica de pala$ra augusta'ue dos lábios lhe sai" com tal sa<de.

%almo" sem se mo$er" firme a robustaFigura solarenga do estoicismo"5 $elho disse esta nobre2a usta:

QAui tens esta espada ue o hero!smo+os teus a$1s honrou nessas campanhas"%om o mais ousado" intrépido ci$ismo.

Freme ainda hoe em con$ulses estranhas"3alpita e anseia dentro da bainhaSonhando a luta" as implacá$eis sanhas.

8u" para a teres" como eu sempre a tinha" Num triunfo imortal" uase di$ino"+e gládio ue o $alor maior continha?

D necessário um grande ardor leonino"'ue seas bem id1latra do nome'ue fe2 de mim o e,tremo paladino.

A ferrugem" tu $-s" o aço consome...

3orém" neste aço ue ainda aui fulgura"Se hou$er ferrugem" tira&a com o renome.

Aui tens" pois" a l>mina segura"Alma e bras#o da nossa $elha casa%oberta de o$açes" famosa e puraQ.

%alou&se um instante" como a a$e ue a asaFechou no $oar" á uase ue abatida"%aindo e,austa unto a moita rasa.

5 filho" mudo e respeitoso" erguidaA $alente cabeça leal de moço"

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Formoso esta$a" poreando $ida.

( enuanto o $elho" impá$ido colosso"%alara&se num momento" emocionadoFicara o filho em !ntimo al$oroço.

4as de repente" como iluminado3or um clar#o de gl1rias á e,tintas"8ornou o $elho" aos poucos transformado:

Q3odes partir) 3orém nunca desmintas Nas peleas o dom da nossa fama"3or menos força ue no peito sintas.

%omo um clarim" por toda a parte aclama5 $igor deste ferro e do teu pulso

 No combate ue rua" ulule e brama".

( cada $e2 mais pálido e con$ulso"4ais ner$oso e febril e mais alti$oGradou ainda" num tremendo impulso:

QSe tu" ue és da minhalma o e,emplo $i$o"4eu filho" tens de ser como um cobarde"%omo um $il#o abeto e repulsi$o?

 N#o faças mais de fidalguia alarde"3ega esta espada" meu Afonso" pega( uebra&a de uma $e2" ue n#o é tarde.

3ois em lugar de fa2er dela entregaAos seuiosos" feros inimigosAntes a uebre a c1lera mais cega.

(i&la" aui tens" a leoa dos perigos"'ue como outrora em minha m#o lampea+a bra$ura e da fama nos abrigos.

Se n#o a tens de honrar nessa pelea(scuta bem" 1 meu amado filho"'uebra&a" e o teu nome nem manchado sea.

%omo eu faria noutra idade e brilho"%om outras energias musculares"Segue&me tu no denodado trilho"".

( assim falando" em gestos singulares"( agigantado corpo retesando

( um tom sinistro esparso nos olhares?

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A cabeça nos ares agitando Numa alucinaç#o" 0 enorme ereto"%omo her1ica $is#o" deblaterando...

Fitando bem o filho predileto"

%omo se de repente lhe brotasseA força herc<lea dum poder secreto.

5 $elho" ual um templo ue abalasse"A m#o crispada" l!$ida e ner$osa"%om todo o esforço a lhe afluir na face"3artiu no oelho a espada $itoriosa.

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5 Sol e o %oraç#o

 S ol" coraç#o do (spaço ue flameas"5 coraç#o é ual tu" sol de utopias...

4as" coraç#o" di2e&me: 0 'ue deseasR...

Foram&se á todas as alegrias"W Sol) ( tu" coraç#o" ue ainda adeas"'ue fa2es sobre as mortas fantasiasR)...

3odes brilhar" 1 Sol" $i$o e fulgente)( tu" coraç#o" ue me iludiste"8ambém podes bater" inutilmente.

%rença" *lus#o" Amor" á nada e,iste"

 N#o mais le$arás sobre a corrente+a tenebrosa d<$ida mais triste.

Longe" mui longe" em regies caladas"(mudecidos pelo (suecimento"(st#o hoe esses sonhos de al$oradas.

Foram&se" há muito" soltos pelo $ento(ntre as grandes ru!nas derrocadas+o meu amargo e pobre pensamento"

(ntre as profundas" tétricas ru!nas(m ue o doce fantasma desses sonhosAtra$essou em lágrimas di$inas.

Fantasma ideal" de c>nticos risonhos'ue da $ida encontrei pelas colinas( hoe $aga entre bulces medonhos)

Fantasma ue eu amei" $is#o errante'ue sempre unto a mim $i$ia perto"

3or mais longe ue eu fosse e mais distante.6is#o ue era como a água do deserto3ara o meu coraç#o sempre anelante"Seuioso de amor e sempre aberto...

W pobre coraç#o" em $#o te agitas"(m $#o tu bates" coraç#o estreito"8al ual tu" Sol" nos páramos crepitas.

 Nada mais" para mim" de satisfeito

Grilha com o Sol nas plagas infinitas"%omo n#o canta o coraç#o no peito...

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3odes" enfim" sumir&te nos (spaçosSol) ( tu" coraç#o" sempre batendo"'uebrar da terra os Q8ransit1rios Laços""(ternamente desaparecendo)...

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Sapo Pumano

 A 4miliano erneta

Oh sapo) eu $ou cantar tuas misérias" sapo"6ou tirar" nesse lodo onde habitas de rastros"7mas $i$as cançes do teu noento papo"+a crosta es$erdeada umas centelhas de astros.

( cançes de tal forma e tais e tais centelhas"'ue todas possam ir" miraculosamente"8ransformadas" pelo ar" em r<tilas abelhas%om o !ris $oador de cada asa fulgente.

'ue tu" tredo animal" tu" triste sapo hediondo"

 N#o és o $il" o torpe" o irracional" ue a lama(m camadas en$ol$e o atro $entre redondo"+os tempos imortais nessa fecunda chama.

 N#o és o sapo histri#o de imundas esterueiras"5 sombrio %aim nos lamaçais errantes"5 clown gargalhador das charnecas rasteiras"'ue ri&se para o sol com riso ironi2ante.

 N#o és o sapo atro2" coa,ador" $isguento"'ue rouco ruge e rai$a a noite os seus horrores"( para o constelado e mudo firmamentoFa2 ecoar os mais surdos e ásperos tambores.

4as és o sapo humano" esse asueroso e feio" Nascido de rold#o na l<gubre miséria( ue do mundo $#o no pa$oroso seioLembra o negro sarcasmo enorme da 4atéria.

4as és o sapo humano" o sapo mais abeto+o crime aterrador" do tenebroso $!cio

4as ue ainda possuis o brilho de um afeto'ue te li$ra" tal$e2" do eterno precip!cio.

3or ora na tua alma a noite cruel" cerrada" N#o caiu de uma $e2" como terr!$el fora. Nela ainda há clares de l!mpida al$orada"7m pren<ncio feli2 de aurora redentora.

Ainda tens coraç#o ue pulsa no teu peito3or uns filhos gentis" ing-nuos" peueninos"'ue s#o o grande amor" o sentimento eleito

6encendo esses fatais instintos assassinos.

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8u semelhas de um charco a superf!cie nua( $!trea" ue no campo" aos ares" adormece"'ue se em cheio lhe bate a lu2 do sol" da lua"3ara a $asta amplid#o cintila e resplandece.

3ois no teu organismo" assim sinistro e tor$o"Bepleto de $ibries do $!cio 0 essas crianças"Sorriem $irginais" oh) solitário cor$o"%om sorrisos de lu2es e barcarolas mansas.

5 amor ue regenera os !nfimos bandidos" N#o redu2iu" enfim" tualma a ign1bil trapo.( eis por ue" num $i$er de p>ntano e gemidos"%antam dentro de ti a$es e estrelas" sapo)

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+iante do 4ar 

 P ara matar o letargo+a $ida" e o profundo tédio"

Fui" em busca de remédio"Ao cais areado e largo.

( $i o mar formidando"%heio de mastros e $elas"5cultos clarins $ibrando3ela boca das procelas.

6i tropéis e tropéis bruscos+e ondas re$oltas e crespas%om rios ferres de $espas

Ferreteando os ares fuscos.

6i os l!mpidos na$iosogados do mar incerto%omo seres erradios3or in1spito deserto.

6i tudo nublado" tudo"%éus e mares e hori2ontes?( sobre a linha dos montes%air o sil-ncio mudo.

( eu lembrei&me uando a auroraSobre auelas es$erdeadasXguas orra$a sonoraA lu2 em puras golfadas.

Lembrei&me desses supremos+ias acres de alegria

 Na $aga loura e maciaAs le$es palmas dos remos.

+o resplendor das $iagens Num encanto matutinoA doçura das aragens"3or sobre o mar cristalino.

A bicar as doces ilhas+e pedra" musgos e flores"%heias de er$as e frescores( naturais mara$ilhas.

'ue ela a tudo perfumasse%omo um rosal ue floresce

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'ue tudo ue nela hou$esseBesplandecesse e cantasse.

5u $er na frente das casas"+os $ales e das colinas

5s pombos batendo as asas"(ntre festes de boninas.

*r a pesca alegre e fresca3or sua$!ssimos luares"

 Numa lua pitoresca"(m cima dos salsos mares.

'uando fle,!$el canoa6ai dei,ando um $i$o rastro"Fundo" aberto" feito de astro"

 Na $aga ue brilha e soa.

'uando na margem campestre+e rios indefinidosSente&se o aroma sil$estre+os aloendros floridos.

Lembrei&me até das regatas Numa hora deliciosa+e manh# cheirando a rosa"8oda de f<lgidas pratas.

+Hembarcar" como um fidalgo"3ara a$enturas de caça"(m companhia do galgo'ue é das caçadas a graça.

*r despingarda e dHestilo"3or madrugadas serenas"Sem males" sem dor" sem penas"3eito bi2arro e tran@ilo.

Gater as a$es no mato3or entre ar$oredos gra$es"5u da beira de um regato6er saltar em bando as a$es.

( da $entura nos orros6oltar da caça repleto6endo ao longe o rubro teto+a casa e o $erde dos morros.

5u ent#o ir como um duue Nas praias de mais bele2a

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To2ar na choça de estuue7ns olhos de camponesa.

Sentir do eu1reo elemento"Sobre as serras $erdeantes"

Buflantes e sussurrantesAs $entarolas do $ento.

+ei,ar o esp!rito" a$aro+e $ida" sa<de e força+isparar 0 alada corça 0 3elo a2ul radioso" claro.

Assim" tal$e2 ue o Nir$ana+o tédio e letargo imenso

 N#o fosse uma dor humana"

+entre um ne$oeiro t#o denso.

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Grumosa

 I nglesa) 3or toda a parte5nde $ás" chamam&te inglesa

( cobrem de pompas de arteA pompa dessa bele2a.

4as tu" num soberbo encanto+e ne$ada e fria rosa"W meu pálido amaranto)

 N#o és inglesa" és brumosa.

A tua carne al$orece(m lactesc-ncias de opala"Grilha" fulge e resplandece

( um fino aroma trescala.

Ds a l!mpida camélia Nos ardins reais plantada5u essa l>nguida 5félia4elanc1lica e ne$ada.

5 teu corpo imaculado"Flor de m!sticas origens"3arece um luar $elado( lembra florestas $irgens.

%om o teu amor iluminaA minhHalma en$olta em crepe"W $aporosa neblina"W branca e gelada estepe)

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Sganarelo

 E sse ue eu agora rimoD $iscoso como a lesma

3egaosa sobre o limo"Sinistro como a$entesma.

Feia coisa" enorme bicho"3a$oroso mastodonteFeito do horror a capricho"%om cornos rios na fronte.

8odo o $entre se lhe estufa+e obesidade lasci$a"Se fala a $o2 urra e bufa

Lembrando a locomoti$a.

 Na terr!$el carantonhaBetorcida" escala$rada"Lhe estruge" =s $e2es medonha"Formidá$el gargalhada.

( a lu2 do sol" ue corusca" Nas praças" = lu2 do dia"A sua presença brusca"8em uma ardente ironia.

A l!ngua rubra e con$ulsaSai&lhe da boca em espasmo"(nuanto no olhar lhe pulsaA blasf-mia do sarcasmo.

%apra figura profunda"Atro2 e amedrontadora"'ue larga entranha fecundaFoi a tua geradoraR)

'ue aborto de $entre estranho3ode gerar esse abortoAssim fero2 e tamanho"3eludo" estroncado e tortoR

+e ue idades t#o antigas"3ré&hist1ricas $iesteR4ais hostil do ue as urtigas"4ais nefando de ue a peste)

8ra2es a pata esmagante"A pata do bron2e tra2es?

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'ue é no esp!rito diamante( ue é nas almas lila2es.

3ossuis o sangue da $er$eBesplandecente" infinita"

'ue ruge" palpita e fer$e( canta e soluça e grita.

6ens como imagem da 4orte"+a 4orte hedionda e nefasta"+as iras ao $ento forte"+o desespero a $ergasta.

+esmancha&te em cabriolas+e doido polichinelo"'ue os teus membros lembrem molas

%omo um palhaço amarelo.

Fa2 nos m<sculos esgrimas"3ula trapé2ios e barras( salta saltando estas rimas'ue $#o saltando bi2arras.

Acrobata da miséria(stica os ner$os" estica( ri" ri tu da matéria+a gente fidalga e rica.

Ds medonhoR) isso ue importaRBi) mas ri alto na praça"Se a desgraça n#o foi morta"Ah) dei,em rir a desgraça)

Satanás suo e potrudo Nas cambalhotas te inspire.(ia) $á) desdém por tudo"3or tudo" e o tempo ue gire)

Fa2 ue o século se agite+e eternas risadas grossas( como com dinamiteArromba o mundo com troças.

Fura o est<rdio Sancho 3ança%om estocadas de riso( mete&o também na dança+os saltos" se for preciso.

+estr1i tudo" $ai" desaba"+e tudo fa2 estilhaços

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( a golpes de riso acaba5s erros c1rneos e crassos.

Fura os $entres mais rotundos%om aguilhes de chacota

( manda ao 4estre dos mundos7m e,emplar da risota.

 Na tal lu,<ria gorducha" Na $elha e cal$a lu,<riaBebente risos em ducha"%om toda a sátira e f<ria.

Bi) até ue se transforme"5 rebelado do inferno)5 riso num facho enorme

Aceso no sol moderno)

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+esmoronamento

 Dentro do coraç#o" no cEnca$o do peito%horo a grande ilus#o do amor" desfalecida"

+entre o go2o feli2" nostálgico da $ida?á e,angue" afinal" á morto" á desfeito.

3or $ises ue adorei num $ago tempo incerto N#o sei por ue ra2#o a$i$o agora as mágoas" Num pranto doloroso e triste" como as águas+o mar grosso a bater sobre o cost#o deserto.

8u" 1 doce $is#o de perfumosas tranças"8odo o meu puro e terno sentimento in$ades( eu n#o sei o ue fi2 das minhas esperanças

'ue de longe ue $#o parecem mais saudades.

8udo o ue hou$e em meu ser de compai,#o e crença3ara sempre secou" secou á como um rio?3ara sempre também subi ao escombro frio+a d<$ida mortal" a$assalante" imensa.

3ara sempre me achei sem b<ssola e sem rumo No fundo de regies estranhas e afastadas...As almas ue eu amei" $i mudas e apagadas"6i tudo se sumir numa espiral de fumo.

Gem depressa fiuei como um ermo remoto%omo tor$o areal sem plantas e sem fontes"+onde apenas se $- rasgar a terra o broto+o cardo retorcido e áspero dos montes.

4uitas $e2es" porém" como entre os ar$oredos5nde untas" no $al" todas as a$es cantam

 No meio do rumor" de sombras e segredos"Sinto dentro de mim ue uns sonhos se le$antam.

Gorboleteio" a rir" por entre os sons e as flores"%omo um pássaro a2ul de uma plumagem linda( canto alegremente a canç#o dos amores"'ue este peito $iril sabe cantar ainda.

Lembro ent#o coraçes ue á me abandonaram"'ue eu senti palpitar" por sobre o meu pulsando"'ue $#o hoe atra$és das afeiçes chorando"'ue sofreram comigo e ue comigo amaram.

(ntretanto a minhHalma em $Eo largo e ufano"+e repente triunfal" de s<bito gloriosa"

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8em a pompa de sol" $ermelha e luminosa"+a p<rpura es$oaçante e aberta de um romano.

( esse fulgor" ue $em dos meus sonhos dispersos Na né$oa do passado" errantes e dolentes?

+á&me árdidos corcéis fogosos e frementes3ara atrelar" ungir ao carro destes $ersos.

%laramente recordo e penso nas estradas'ue percorri" ue andei =s iluses" so2inho"6endo ue todo o amor das $irginais amadas"8inha a mesma fatal embriague2 do $inho.

'uantos entes febris" ue o amor embriaga e ofuscaAssim" durante a $ida" ansiosamente e,austos"

 N#o encontram" tal$e2" dessas $ises em busca"

As 4argaridas $#s dos ilus1rios Faustos)

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%lares Apagados

F lor de planta aromática" sinistra" Nascida nas in1spitas geleiras"

%élebre flor ue o meu *deal registra"8repadeira das raras trepadeiras.

Serpe ner$osa entre as ner$osas serpes"%arn!$ora bromélia da lu,<ria+e go2o tetani2a como as herpes+a tua boca a polpa atra e purp<rea.

5 teu amor" ue lembra $inhos de Pebe( essa áspera feiç#o do abeto fusco"%omo um réptil ue salta numa sebe"

Saltou&me ao peito" impetuoso e brusco.

(u ia por estranhos descampados"3or e,tensos desertos impass!$eis"

 Na trágica $is#o dos naufragados3erdidos entre os temporais terr!$eis.

Sem rumo certo" num sombrio inferno"So2inho" sobre a desolada areiaArrastando a e,ist-ncia" de onde" eterno7m sapo coa,a e um rou,inol goreia.

'uando tu de repente" ent#o surgisteGele2a das bele2as redentoras"8endo essa meiga formosura triste+as formosas e flébeis pecadoras.

Fosse tal$e2 uma tremenda ins>nia8#o alta erguer o meu amor" t#o alto?4as este coraç#o frio" da 7cr>nia"Anela$a galgar o céu de um salto.

( fui" galguei" subi" $oei na altura"Além dos $erdes p!ncaros do monte"+onde resplende a tua formosura

 No clar#o das estrelas do hori2onte.

Foi o mesmo ue se eu num templo entrasse( a! num formidá$el sacrilégio"As angélicas $estes arrancasse+as santas de áureo diadema régio.

%omo um le#o sem uba e garra" preso" Na indiferença" á morreu comigo

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8odo esse amor profundamente aceso Na ideal constelaç#o de um sonho antigo.

Apenas pelo saara imorredouro+o long!nuo passado" ergue" altaneira"

4aestosa folhagem no sol douro"+essas recordaçes a alta palmeira...

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4endigos

 M endigos) Ah) s#o mendigos'ue $oltam de $#os caminhos"

'ue atra$essaram perigos"7r2es" p>ntanos" espinhos.

'ue chegam desiludidos+as portas a ue bateram?Pumanos" grandes gemidos'ue nos tempos se perderam.

'ue $oltam como partiram"%om mais amargor na $olta( mais sonhos ue se abriram

+as estrelas na recolta.

4endigos ricas no entanto"+as pompas da nature2a( das auréolas do (ncanto"5s $inhos da sua mesa.

4endigos ue o sol" apenas"8orna nababos feli2es"8orna um pouco mais serenasAs con$ulsas cicatri2es.

4endigos ue acham reuinte Na fumaça de um cachimbo"+ei,ando ue labirinte5 sonho em t#o le$e nimbo.

4endigos da lu2 da aurora%antando celestemente"Fresca" l!mpida" sonora"3elas fanfarras do 5riente.

4endigos de áureas estradas"+e son>mbulas $eredas"+e riue2as encantadas"Sem pedrarias e sedas.

4endigos destranho aspecto( sempiterna $ig!lia"Filhos nEmades" sem teto"+e milenária Fam!lia.

4endigos ue erram eternosSem fadigas e sem sono"

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Sob o aug<rio dos *nfernos"+as *luses sobre o trono.

4endigos de plaga no$a"+e no$as terras e mares"

+i$ini2ados na co$a%omo as h1stias nos altares.

4endigos da grande esmola+a lu2 das estrelas nobres"'ue fulge e dos altos rola"(ntre as suas m#os t#o pobres)

4endigos de céus remotos"+e s1is dos mais $elhos ouros?%om a sua fé e os seus $otos

( os seus secretos tesouros.

4endigos de olhar se$ero"Goca murcha" meio amarga...8endo um $ago re$erbero+e sonhos na fronte larga.

4endigos de !n$ias florestas( de bosues fabulosos"+e melanc1licas sestas

 Nos crep<sculos brumosos.

4endigos da (ternidade"8remendo dos s1is" dos frios"

 Nas mortalhas da SaudadeAmortalhados sombrios.

4endigos dos *nfinitos"+as (sferas inefá$eis"

 Noctambulando malditos Nos rumos imponderá$eis.

4endigos de fome e sede+e água e p#o de outros mundos"(mbalados pela rede+os *dealismos profundos.

4endigos do a2ul 4istério"%ua alma 0 n!$ea sereia 0 Fica saciada no aéreo3#o branco da lua cheia)

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Ano Tabriel

 N a calma irradiaç#o das noites estreladasAlto e claro aparece" alto" aparece" claro"

Al$o" claro" no luar das estrelas prateadas" No triunfal esplendor celestemente raro.

5 seu busto de (,celso" a sua graça fina"A linha de harpa ideal do seu perfil augusto"(stremecem de lu2" de uma lu2 peregrina"+o secreto fulgor de um sentimento usto.

Serenidade e gl1ria e pa2 do 3ara!soFlutuam&lhe na face al$orecida e doce( uando ele sorri é como se o sorriso

%laros astros semear por todo o espaço fosse.

Le$e" loura".radial" a soberba cabeça(le$a&se da flor do n!$eo colo louro( n#o há outro sol ue tanto resplandeça%omo o sol $irginal dessa cabeça de ouro.

As m#os esculturais" de eb<rnea transpar-ncia"+e di$ina feitura e de di$ino encanto"Lembram flores sutis de sonhadora ess-ncia+a etérea languide2 e de etéreo uebranto.

+as madei,as reais largo deslumbramento Num fla$o orro cai" com sagrado abandono...( sai do Ano o uer ue é de $ago e de ne$oento'ue lembra o despertar son>mbulo de um sono...

+e alto a bai,o" do A2ul" desfilando das brumas"Abre todo ele em flor como ne$ado l!rio"Gelo" branco" eteral" do candor das espumas"Ganhado nos clares e c>nticos do (mp!reo.

4ara$ilhoso e nobre ergue no braço o$ante7m gládio singular ue r<tilo cintila...(nuanto o seu olhar de mágico diamanteAflora em plenil<nio atra$és da pupila.

'ue o seu olhar" ent#o" esse" recorda tudo5 uanto há de tran@ilo e luminoso e casto.4aio de ouro a florir meigos céus de $eludo( a ne$e a cintilar sobre o monte mais $asto.

+o puro albor astral das asas maestosas+esprendem&se no A2ul mistérios de harmonia...

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(ntre as angelicais sua$idades radiosas3arece o Ano Tabriel o alto (n$iado do +ia)

 Na chama $irginal de t#o rara bele2aGrilha a força de um +eus e a m!stica doçura...

( sai das seduçes de tamanha pure2a8oda a melancolia errante da ternura.

+o suntuoso agitar das delicadas $estes8ecidas de asmins" de rosas" de açucenas"6em o aroma crist#o dos aromas celestes8odas as imortais emanaçes serenas...

8ransfigurado" e,celso" agigantado" imenso" Na candide2 hostial das formas impecá$eis"Fica parado no ar" le$emente suspenso

+e raios siderais" de fluidos inefá$eis.

4as uando o seu perfil nas amplides floresce( das asas se lhe ou$e a m<sica sonora'uando ele agita o gládio e as madei,as" parece'ue $ai noctambular pelo *nfinito afora.

( alto" branco" de pé" destacado no (spaço"(leito das Begies de estranhas 3rima$eras"8raça" com o gládio no ar" ale$antando o braco"7ma cru2 de 3erd#o na mude2 das (sferas)

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%rianças Negras

 E m cada $erso um coraç#o pulsando"S1is flameando em cada $erso" e a rima

%heia de pássaros a2uis cantando+esenrolada como um céu por cima.

8rompas sonoras de trites marinhos+as ondas glaucas na amplid#o sopradas( a rumorosa musica dos ninhos

 Nos damascos reais das al$oradas.

Ful$os lees do alti$o pensamentoTalgando da era a soberana rocha"

 No espaço o outro le#o do sol sangrento

'ue como um cardo em fogo desabrocha.

A canç#o de cristal dos grandes riosSonori2ando os florestais profundos"A terra com seus c>nticos sombrios"5 firmamento gerador de mundos.

8udo" como pan1plia sempre cheia+as espadas dos aços rutilantes"(u uisera tra2er preso = cadeia+e serenas estrofes triunfantes.

3reso = cadeia das estrofes ue amam"'ue choram lágrimas de amor por tudo"'ue" como estrelas" $agas se derramam

 Num sentimento doloroso e mudo.

3reso = cadeia das estrofes&uentes%omo uma fora em labareda acesa"3ara cantar as épicas" frementes8ragédias colossais da Nature2a.

3ara cantar a ang<stia das crianças) N#o das crianças de cor de oiro e rosa"4as dessas ue o $ergel das esperanças6iram secar" na idade luminosa.

+as crianças ue $-m da negra noite"+um leite de $enenos e de tre$a"+entre os dantescos c!rculos do açoite"Filhas malditas da desgraça de ($a.

( ue ou$em pelos séculos afora5 carrilh#o da morte ue regela"

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A ironia das a$es rindo a aurora( a boca aberta em ui$os da procela.

+as crianças $ergEnteas dos escra$os+esamparadas" sobre o caos" = toa

( a cuo pranto" de mil peitos bra$os"A harpa das emoçes palpita e soa.

W bron2e feito carne e ner$os" dentro+o peito" como em aulas soberanas"W coraç#o) és o supremo centro+as a$alanches das pai,es humanas.

%omo um clarim a gargalhada $ibras"6ibras também eternamente o pranto( dentre o riso e o pranto te euilibras

+e forma tal ue a tudo dás encanto.

Ds tu ue = piedade $ens descendo.%omo uem desce do alto das estrelas( a p<rpura do amor $ais estendendoSobre as crianças" para proteg-&las.

Ds tu ue cresces como o oceano" e crescesAté encher a cur$a dos espaços( ue lá" coraç#o" lá resplandeces( todo te abres em maternos braços.

8e abres em largos braços protetores"(m braços de carinho ue as amparam"A elas" crianças" tenebrosas flores"81rridas ur2es ue petrificaram.

As peueninas" tristes criaturas(i&las" caminham por desertos $agos"Sob o aguilh#o de todas as torturas"

 Na sede atro2 de todos os afagos.

6ai" coraç#o) na imensa cordilheira+a +or" florindo como um loiro fruto3artindo toda a horr!$el gargalheira+a chorosa falange cor do luto.

As crianças negras" $ermes da matéria"%olhidas do supl!cio a estranha rede"Arranca&as do pres!dio da miséria( com teu sangue mata&lhes a sede)

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6elho 6ento

V elho $ento $agabundo) No teu rosnar sonolento

Le$a ao longe este lamento"Além do escárnio do mundo.

8u ue erras dos campanários Nas grandes torres tristonhas( és o fantasma ue sonhas3elos bosues solitários.

8u ue $ens lá de t#o longe%om o teu bord#o das ornadasBe2ando pelas estradas

Sombrias re2as de monge.

8u ue soltas pesadelos Nos campos e nas florestas( fa2es" por noites mestas"Arrepiar os cabelos.

8u ue contas $elhas lendas Nas harpas da tempestade"6iaas na *mensidade"%aminhas todas as sendas.

8u ue sabes mil segredos"4istérios negros" atro2es( formas as d<bias $o2es+os soturnos ar$oredos.

'ue tornas o mar sanhudo"*mplacá$el" formidando"As brutas trompas soprandoSob um céu tre$oso e mudo.

'ue penetras $elhas portas"Atra$essando por frinchas...( sopras" 2argunchas" guinchas

 Nas ermas aldeias mortas.

'ue ao luar" pelos engenhos" Nos miserá$eis casebres(spalhas frios e febres%om teus aspectos ferrenhos.

'ue soluças nos 2imb1rios5s teus felinos uei,umes"

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7i$ando nos altos cumes+os montes $erdes e fl1reos.

'ue te desprendes no espaço3erdido no estranho rumo

3or entre $ises de fumo"+as estrelas no regaço.

'ue de Béuiens e surdinas( de hier1glifos secretos(nches os lagos uietosBe$estidos de neblinas.

'ue ruges" brames" tro$easW $elho $>ndalo amargo"

 No son>mbulo letargo

+e um mocho rondando igreas.

'ue falas também bai,inhoLá da origem do mistério"8ra2endo o aug<rio sidéreo( certa $o2 de carinho...

'ue nas ruas mais escusa"3or tardes de nu$ens feias"%omo um ébrio cambaleiasBosnando pragas confusas.

'ue és o bo-mio maldito"5 renegado bo-mio"(m tudo o tur$o irm#o g-meo+o sonhador *nfinito.

'ue és como louco das praças Nos seus gritos delirantes%lamando a pulmes possantes8odo o *nferno das desgraças.

'ue lembras drages con$ulsos"Gufantes" aéreos" soltos"

 Noctambulando re$oltos4ordendo as caudas e os pulsos.

W $elho $ento saudoso"6elho $ento compassi$o"W ser $ulc>nico e $i$o"8aciturno e tormentoso)

Alma de >nsias e de brados"%onsolador companheiro

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Sinistro deus forasteiro+espaços ilimitados)

8u ue andas" além" perdido"8ateando na esfera imensa

%omo um cego de nascença Nos desertos esuecido...

'ue go2as toda a paragem"8oda a regi#o mais di$ersa"Le$ando sempre dispersaA tua uei,a sel$agem.

'ue no trágico abandono" No tédio das grandes horas+esoladamente choras"

Sem fadigas e sem sono.

'ue lembras nos teus clamores" Nas f<rias negras" dantescas"8orturas medie$alescas+os !mpios inuisidores.

'ue és sempre a ronda das casas"A gemente sentinela'ue tudo desgrenha e gela%om o tor$o rumor das asas.

'ue pareces hordas e hordas+e hirsutos" intonsos bardos6ibrando c>nticos tardos3or liras de cem mil cordas.

W $ento languido e $ago"W fantasista das brumas"Sopro eu1reo das espumas"W dá&me o teu grande afago)

'ue a tua sombra me en$ol$a'ue o teu $ulto me console( o meu Sentimento role( nos astros se dissol$a...

'ue eu me liberte das >nsias+e ansiedades me liberte"3airando no espasmo inerte+as mais long!nuas dist>ncias.

(u uero perder&me a fundo No teu segredo ne$oento"

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W $elho e $elado $ento"6elho $ento $agabundo)

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4arche au, Flambeau,

I

Bompe na aurora o sol ue a terra esbofeteia%om látegos de chama" iriando o p1 e a areia"

*riando os $egetais de ricas pedrarias"+os rubis e cristais das ouri$esarias?Aurora acesa em cor de p<rpura de cra$os5pulentos" febris" ensanguinados" bra$os?+e ritmos le$es de harpa e fr-mitos e beios'ue s#o da nature2a os tr-mulos arpeos?

Aurora ue sorri" ue tra2 pomposamente8odo o raro esplendor da lu2 resplandecente"+as paisagens loucas no f<lgido mati25 aroma a derramar da meiga flor de li2.

 Na alegria dos tons os pássaros cantando6#o as asas abrindo" entre os clares ruflando"Asas emocionais" ue assim dentre clares3alpitam num fer$or de alados coraçes.

( no lu,o oriental de etéreo Tr#o&4ogol%omo um Gaco feli2 rubro flamea o sol.

II

Fil1sofos tit#s" fil1sofos insanos'ue destes turbilhes" ue destes oceanos+e lutas e pai,es" de sonho e pensamentos(spalhásteis no mundo aos clamorosos $entosA %i-ncia fatal" tal$e2 como um $eneno"'ue os tempos abalou no caminhar sereno?Fil1sofos tit#s" ue os séculos austeros

 No flanco da 4atéria abris" gra$es" se$eros"Sobre o escombro da fé" da crença e da esperança"+a ci$ili2aç#o o trilho ue hoe alcança

 No seu aço $iril as regies supremas"

8raçado em no$as leis" doutrinas e problemas?61s ue sois no Saber os monges da e,ist-ncia( s1 acreditais na força da %i-ncia"'ue da morte sabeis os filtros in$is!$eis"

 Narc1ticos" sutis" inc1gnitos" terr!$eis" N#o sabeis" entretanto" ap1stolos sombrios"%omo a lu2 da %i-ncia os homens est#o frios"%omo o tudo ficou num doloroso caos( os seres ue eram bons" rudes" ego!stas" maus.

(m $#o) em $#o) em $#o) os $ossos largos cr>nios

Lutaram pelo Gem dos Gens contempor>neos)8udo está corrompido e até mais imperfeito...

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 N#o há um l!rio s#o a florescer num peito"+e piedade" de amor e de miseric1rdia...Se brota uma $irtude o ascoso $!cio morde&a"(n$ilece" corrompe e abate essa $irtude%om o cinismo re$el dum epigrama rude...

( até muita alma $il" fero2" patibular"*mpunemente sobe ao mais sagrado altar.

3or isso $#o passar perante a turbamulta%omo abrupta a$alanche" enorme catapulta"

 Numa marche au, flambeau," os famulentos $!cios'ue ca$aram no globo horrendos precip!cios"5s $!cios imortais" ue infestam tribos" greis"3o$os e geraçes" seitas" templos e reis( ue s#o como a la$a obscura da cratera'ue subterraneamente em tudo se in$etera.

%om toda intrepide2 herc<lea de acrobata6ou sobre eles soltar" gloriosa" intemerata"A sátira ue tem esporas de galhardo%a$aleiro ideal ue oga a lança e o dardo.6ou com esse altanado e muscular esforço+e uem galga triunfal o soberano dorso"A crista $igorosa" alti$a" sobranceira"+a mais agigantada e $asta cordilheira.

III

Lobos" tigres" chacais" camelos" elefantes"Pipop1tamos" ursos e rinocerontes"Leopardos e lees" panteras acirrantes"Pienas do furor" membrudos mastodontes8redas feras do mal" soturnos dromedários"Serpentes colossais ue rasteais na tre$a"4onstros" monstros cruéis" medonhos" sang@inários"%ua pata esmagante a presa aos antros le$a?W $entrudos udeus" op!paros" obesos"+e consci-ncia obtusa" ign1bil e caolha

'ue no mundo passais grotescamente tesos%om honras de entreme2 e grande2as de rolha.Tafentos histries" rid!culos da moda"'ue fingis entender Gerlim" Londres" 3aris"4as nos altos sales" por entre a fina roda"4eteis sordidamente o dedo no nari2?Grasonados trues" in<teis como eunuco"'ue as pompas ostentais de aur!fero nababo4as apenas $aleis como um lim#o sem suco"8endes rabo no corpo e dentro dalma rabo?

 Nobres de papel#o" milionários $>ndalos

+e $entre confortado e rosto rubicundo"'ue no tor$o canc# no canc# dos esc>ndalos

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Sois o horrendo espantalho" a ignominia do mundo?W deuses do milh#o" 1 deuses da barriga"'ue sentindo a aguilhada intensa da lu,<riaGuscais a mais em flor e linda rapariga3ara ent#o $os fartar na lu,uriante f<ria?

Tamenhos de toilette e con$icçes de lama5nde tudo afinal se atola e se chafurda"'ue do clube e do esporte sinteti2ais a fama4as tendes para o Gem a fibra sempre surda?3alhaços" clowns senis" hediondos borrachos'ue aos trambolhes urrais afora no uni$erso"+esdenhando de tudo e até rindo dos fachos"+o clar#o do saber em toda a parte imerso?Almas negras" ser$is" dHergastulos ca1ticos"Terado no paul das l<gubres $oragens"+o crime nos bulces" nos $!cios mais desp1ticos

Aos uais tanto rendeis eternas homenagens"4aneuins" charlat#es" de$assos do bom&tom"'ue $i$eis nas Gabéis das grandes capitaisApodrecendo sempre infamemente com5 cancro do dinheiro as forcas $irginais?4ascarados tafuis de gordos $entres de ouro"W bon2os do deboche e c!nicos esgares"'ue sois o <nico sol esterlinado e louro+as par$as multides" das multides al$ares?Fidalgos de barril" sicofantas" malandros+o templo e do bordel" da crápula de harém'ue ao puro mar do *deal" com torpes escafandros"Arrancais" pra $ender" a pérola do Gem?W tr>nsfugas" ladres ue difamais a terra"'ue tudo polu!s" do pr1prio lodo a flor"A serena humildade" 0 intrepide2 da guerra.Aos beios maternais" ao nupcial amor?(sp!ritos de tre$a" esp!ritos de barro'ue enegreceis de horror o sangue das papoulas( das ostentaces $os aclamais no carro"%obertos de cetins" arminho e lanteoulas?

'ue se $em de repente o Nada sepulcral Nunca dei,ais" seuer" no tétrico leil#o" No leil#o da mem1ria" estranho" uni$ersal" Nem um som a $ibrar do estéril coraç#o)+entre feras brutais de r!spidos penhascos( a torrente caudal de rios $ersos francos( a 2ombaria e o riso e as sátiras e os chascos"

 Nesta marche au, flambeau, ides passar" aos trancos+o mundo os naturais" 2ool1gicos museus+espeem pare fora as pa$orosas massas"3ara $irem reunir&se aos tábidos udeus

*rromper e seguir e desfilar nas praças.'ue a cada mate" a entranha" o seio $irgem se abra

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orrando tigres" lees" panteras do seu centro( na dança infernal" estrupida" macabra"Siga a marche au, flambeau, pelo uni$erso a dentro.

Targalhadas abri a rubra flor sangrenta

+a humanidade $# na amargurada boca6ai agora passar a marcha truculentaSob o espingardear duma ironia louca.( desfila e desfila em becos e $ielas( torna a desfilar por $ielas e por becos=s risadas da turba" estultas e amarelas'ue tem o áspero som de gon2os perros" secos...( desfila e desfila" estr!dula e e,ecranda"+as praças na amplid#o" rugindo em mar desfila"(nuanto além dardea" her1ica e formidanda"A metralha do sol ue r<tilo fu2ila...

( mastodontes $#o de braço dado a sériosGurgueses ue á s#o bem bons comendadores( marueses de tru2" com ares de mistérios+e lunetas gentis e aspectos sonhadores+#o o braco fidalgo e airoso das nobre2asAos ursos boreais" enuanto os conselheiros5s condes" os bares" os duues e as alte2asLá $#o de braço dado aos lobos carniceiros.( nessa singular" atro2 promiscuidade"Animais e trues de catadura su!naTordalhudos her1is da inf>mia e da maldade"6endidos da honrade2" $elhacos de batinaGobos" c#es" imbecis" humanos crocodilos( déspotas" ograis" todos os miserá$eis+e todas as feiçes e todos os estilos"7ns aos outros lá $#o ungidos" formidá$eis)...4as a marche au, flambeau, derrama um pesadelo"A agonia dum tigre" em sonhos" sobre um $entre"Agonia mortal ue en$ol$e tudo em gelo...( desfila e desfila entre sarcasmos e entreAs sátiras&fu2is" relampeando açoite"

3or essa imensa aurora" estranhamente imensa3or um sol ue angustia e ue n#o tem da noite3ara a 4iséria a sombra atenuante e densa.

5s $!cios" as pai,es" os crimes" 1dios e erros" Na marcha" de rold#o" caminham fraternais%om bandidos" $iles" burgueses rombos" perros( focas e mastins" macacos e chacais.Aos sobressaltos $#o como $ises" fantasmasGichos de toda a casta" anes de chapéu alto"+ei,ando em con$uls#o todas as almas pasmas

( o globo num tremendo e fundo sobressalto.( nas praças" ao sol" confundem&se os bramidos"

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5s ui$os com a e,press#o humana misturados"Atra$és do sussurro e bruscos alaridos+as chacotas bestiais" dos risos tro$eados.( segue e segue e segue" afora" légua a légua(ssa marche au, flambeau," cicl1pica" estupenda

%aminha atra$essando um longo sol sem trégua"7m dia secular" um dia de legenda?%aminha atra$essando um sol de foco aberto"3or um dia fatal" interminá$el" mudo"5 dia do remorso" aterrador" incerto'ue em todo o coraç#o cra$a um punhal agudo.4as eu uero assim mesmo" eu uero&$os assim"(m marcha tropical" = crua e ardente lu2'ue $os sea uma febre indEmita" sem fim"7m cautério de fogo a $os ueimar o pus6enéreo da 4oral" carboni2ando&o até

3ara ue nunca mais se sinta dele a origem Nem $olte" como sempre" ent#o" a ser o ue é"+ei,ando&$os no mundo inteiramente $irgem?(u uero&$os assim" de fachos apagados"Apagados" ao alto" os o$iais flambeau,"'ue os tereis de acender nos campos ignorados'ue de s1is de 6ingança a (ternidade arou.

( depois de $agar =s sátiras de todos" Na e$id-ncia da lu2" numa perpetua aurora?+e caminhar ao sol" por tremedais" por lodos"

 No tédio do sarcasmo" o tédio ue a de$ora"(ssa 4archa afinal penetrará aos urros"8it>nica" sinistra e b-bada" irris1ria"

 Num caos de pontapés" coices" $aias e murros" Na eterna bacanal rid!cula da Pist1ria.

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5 Wrg#o

U m largo e lento $ento dormente8aciturnas lágrimas sonambulas" sinfEnicas

7m esuecimento amargo7ma sombria clausura de almasSuspirando e gemendo solitárias harmonias6ago luar de esuecimento e prece"+essa melancolia ue anda errando

 No mar e nas estrelas ondulando"3ela minhalma etereamente desce.

 Na minhalma" dos Sonhos anoitece5 Sentimento ue ando transformando(m h1stia de ouro

Sombra e sil-ncio

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A *déia ao *nfinito

 = distinta e laureada atri8inha Julieta dos Santos

"...A #ama de teu nome$

a inve*a não consome$ o tempo não destr7i6...+r. Smphronio;

 E ra uma coluna de artistas)...Ao lado 8asso4edindo as m<ltiplas conuistas%oHas amplides do espaço)...Seguia&se o#o %aetano(mbuçado da gl1ria no di$inal arcano)...+epois oauim Augusto

Alti$o" sobranceiro" erguido o nobre busto.+epois Bachel" Fa$art"Fargueil" a espadanar 

 Nas crispaçes homéricas da arte"%onstelaçes a2uis por toda a parte)( em sua$e ondulaç#o os astros6#o de rastrosBoubar mais lu2 =s r<bidas auroras)...'uais precursoras+o mais ingente e mago dos assombros"+o orbe imenso nos calcáreos ombros"

Bola um dil<$io" um grande mar de estrelas'ue lançam chispas cambiantes" belas)...Pá um estranho amalgamar de cousas%omo os segredos funerais das lousas5u o rebentar de artérias

 0 5u o esgarçar de brumas" Negras" cinérias 0 5u o refer$er de espumas" Nas longas praiasAl$initentes" mádidas" sem raias.+o brEn2eo espaço"+as fibras daço%omo ue desloca&se um pedaço'ue $ai ruir com trépido sarcasmo

 Nas obumbradas regies do pasmo... 0 5 *n$is!$elTeme uma m<sica" l>nguida" saudosa"'ue $ai sumir&se na entranha silenciosa+o impass!$el)

 0 5 *mutá$el 0 5 *nsondá$el

La $#o cair no seio do incriado.( o bosue irado

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A soletrar uns c>nticos tit>niosLança nos cr>niosAlu$i#o de auras epopéias8étricas idéias)...( o pensamento embrenha&se nos mares

( $- colares+e n!$eas pérolas" l!mpidas" nitentes( $- lu2entes%onchas e b<2ios e corais" 0 ondinas'ue peregrinasAspásias s#o de l<cida bele2a"+e moles formas" desnudadas" brancasSendo a primesa+essas paragens hiemais e francas)...

 0 5u uais 3hrnésA uem aos pés

5 mundo em >nsias" re$erente adora( chore e chora))......4as a idéia o pensamento insanoAs asas bate em busca de outro arcano"( o manto rasga do hori2onte eterno6ai ao supernoAo %riador" ao 4enestrel dos mundos)( nuns arroubos" rábidos" profundos(m luta infinda

 0 5h) uer ainda'uer escalar o templo do imposs!$el"Gem como um raio abrasador" terr!$el)...'uer se fartar de mara$ilhas loucas"'uer $er as bocas+os colossais Antheus da eternidade)...'uer se fartar de lu2 e di$indade( de saber"+epois a2er 

 Nas in$is!$eis cobras do insondá$el"Gem como um $erme" m!sero" imprestá$el)...

 0 5u uer ousado+escortinar os crimes do passado( apalpar as geraçes dos Tracos+os (spartanos( dos 8roianos( dos Bomanos"+os Sarracenos( dos Pelenos"

( esbarrar nesse mont#o de ossos3or esses fossos

8redos" medonhos" sepulcrais e frios5nde sombrios

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Andam esp!ritos de pa$or" errantes( $acilantes%omo a lu2inha das arg-nteas lampas"Lentos e lentos atra$és das campas)......

4as a idéia" o pensamento auda2'uer ainda mais)...'uer do ribombo do tro$#o puanteá nHum esforço adamast1rio" tredo(mbora a medo"

 0 5 atro2 segredo%om ue ele fa2 a terra palpitante)...( uer dos $entos+os elementos'uer do mistério a soluç#o) 0 Nas tre$asP1rridas" se$as"

A gargalhadaB!spida" negra irEnica" pesada"(struge enfim" da morte legendária"( a idéia $áriaAinda nisso ousando penetrar"8enta sondar)...( em $#o" em $#oA mergulhar&se em tanta confus#o

 N#o mais compreende 0 5 ue saber pretende)...Assim" oh) g-nio"

 Na ofuscadora auréola do prosc-nio N#o sei se és astro" se és (sfinge ou mito"Se do infinito3ossuis o encanto" os esplendores grandes"5u se dos AndesXguia tu és" ou és condor di$ino"

 0 5u és cometa de cua cauda enormeD multiformeS1 lágrimas de prata5u mesmo se desata

7m $agalh#o de palmas" diamantino))...4inhalma oscila e até na fronte sinto4edonho labirinto"(st<pida babel"( $ou cair" re$el

 No pélago sem fim dos nadas materiais)...( como os racionais(u fico a ruminar ainda umas idéias+e erguer&te" o no$o 8alma7m trono singular" mas feito de 0 5disséias+e brancas al$oradas"

5l!mpicas" ne$adas"+os -,tases magnéticos" ner$osos de minhalma)

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Soneto

 0Os 8r1picos pulando as palmas batem...(m pé nas ondas 0 5 (uador dá $i$as)...

Ao estr!dulo solene dos bra$os) das platéias"3rossegues altaneira" oh) !dolo da arte)...

 0 5 sol pára o curso pra bem de admirar&te 0 5 sol" o grande sol" o misto das idéias.

A $elha nature2a escre$e&te odisséias...A estrela" a n!$ea concha" o arbusto... em toda a parteBetumba a doce oruestra ue ousa proclamar&teAssombro do ideal" em duplas melopéias)

3erpassam $agos sons na harpa do mistérioLá" uando no prosc-nio te ergues imperando

 0 5h) _bis magistral do mundo a2ul 0 sidério)

(nt#o da imensidade" auda2 $em reboando+e palmas o tuf#o" $elo2" febril" aéreo'ue cai dentro das almas e as $ai arrebatando)...

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Soneto

 Di2em ue a arte é a cl>mide de idéiaA peregrina irradiaç#o celeste"

( dHisso a pro$a singular á desteSor$endo dHela a di$inal sabéia).

+a \Teorgeta] na feli2 estréia"Asse$erar&nos ainda mais $ieste'ue és um g-nio" ue te $ás de preste8ornando o assombro de ualuer platéia)...

Sinto uns transportes fer$orosos" ledos'uando nas cenas de sutis enredosFulgem&te os olhos coHa e,press#o dos astros)...

( as turbas mudas" impass!$eis" calmasSentem mil mundos lhes crescer nas almas...6#o&te seguindo os luminosos rastros)...

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U m dia Tuttemberg co a alma aos céus suspensa"3egou do escopro ingente e pEs&se a trabalhar)

( fe2 do $elho mundo um r<tilo alcançar Ao mágico clangor de sua idéia imensa)

Bolou por todo o globo a lu2 da sacra imprensa)Buiu o despotismo no p1" a esbra$ear...7niram&se num lago" o céu" a terra" o mar...Basgou&se o manto atro2 da horr!$el tre$a densa)...

(rgueram&se mil po$os ao som das melopéias"+as grandes ca$atinas ol!mpicas da arte)Baiou o no$o sol das f<lgidas idéias)...

3orém" uem lance lu2 maior por toda a parteDs tu" sublime atri2" 1 misto de epopéias'ue sabes no tablado subir" endeusar&te)...

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 É  delicada" sua$e" $aporosa"A grande atri2" a singular feitura...

D linda e al$a como a ne$e pura"+ébil" fran2ina" di$inal" ner$osa)...

( dentre os lábios setinais" de rosaLibram&se pérolas de nitente al$ura...( doce aroma de sutil frescuraSai&lhe da le$e compleiç#o mimosa)...

'uando aparece no febril prosc-nioGem como os mitos do passado" ingentes"Gem como um astro maestoso" hel-nio...

Sente&se nalma as atraçes potentes'ue s1 se operam ao fulgor do g-nio"As rubras chispas ideais" fer$entes)...

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 I maginai um misto de al$oradasAssim com uns $agos longes de falena"

5u mesmo uns u-s sua$es de açucena%os magos prantos bons das madrugadas)...

*maginai mil cousas encantadas...5 t!mido dulçor da tarde amena"As esuisitas graças de uma Pelena"As $aporosas noites estreladas...

'ue encontrareis ent#o em ulieta5 tipo s#o" fiel da Teorgeta

 Nos dois brilhantes" primorosos atos)...

( sentireis um fluido magnético8r-mulo" ner$oso" m1rbido" patético"Gem como a $o2 dos langues psicattos)...

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 P arece ue nasceste" oh) pálida di$ina"3ara seres o farol" a lu2 das puras almas)...

3arece ue ao estridor" ao fr-mito das palmas(,alças&te feli2 a plaga cristalina)...

3arece ue se partem" angélica Gambina"As campas glaciais dos 8assos e dos 8almas"Lá uando no tablado as turbas sempre calmas8ransmutas em $ulc#o" em raio ue fulmina)...

( uando maestosa" em lance sublimado+ardeas do olhar" ol!mpico" sagrado4il chispas ideais" tit>nicas" ardentes)...

(nt#o sente&se nalma o tr-mulo ner$oso'ue de$e ter o mar" fantástico" espumoso

 Nos grossos $agalhes" indEmitos" frementes))...

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Quando apareces" fica&se impass!$el( mudo e uedo" tr-mulo" gelado)...

'uer&se ficar com atenç#o" calado"'uer&se falar sem mesmo ser poss!$el).

Anda&se co a alma num estado horr!$el5 coraç#o completamente er$ado)...'uer&se dar palmas" mas sem ser notado"'uer&se gritar" numa e,plos#o tem!$el)...

Sobe&se e desce&se ao pa!s das fadas"6aga&se coHas nu$ens das manses douradasSob um esforço colossal" tit>nico)...

( as idéias galopando $oam...(nt#o lá dentro sem parar" ressoamAs indomá$eis con$ulses do cr>nio))...

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 Lágrimas da aurora" poemas cristalinos'ue rebentais das cobras do mistério)

A$es a2uis do manto auri&sidério...Baios de lu2" fantásticos" di$inos)...

Astros diáfanos" brandos" opalmos"Grancas cecens do 3ara!so etéreo"%anto da tarde" l!mpido" aéreo"Parpa ideal" dos encantados hinos)...

Grisas sua$es" $iraçes amenas"L!rios do $ale" roseirais do lago"Gandos errantes de sutis falenas)...

6inde do arcano nHum potente afagoLou$ar o T-nio das manses serenas"(sse 3rod!gio singular e mago))...

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ulieta dos Santos

&u passas rutilante em toda a parse2h6 sol de nossa ptria$ oh6 sol da arte6...

6irg!lio 6ár2ea;

Quando eu te $i pela primeira $e2 no palcoA$assalando as almas"

 Num refer$er de palmas"%heia de $ida e c>ndido lirismo)Senti na mente uns di$inais tremores...( louco e louco"A pouco e pouco6i rebentar o inferno cataclismo)...

4il pensamentos galoparam" céleres3or minha fronte( do hori2onte'uis arrancar os astros diamantinos"3ara arroá&los a teus pés mimosos( arrebatado"Fanati2ado3or entre um mar de cintilantes hinos)...

(sse teu busto" a genial cabeça8#o bem talhada

( burilada%om o escopro l!mpido da arte"8em umas puras fulguraçes sua$es( a tualmaArdente ou calma5s coraçes arrasta por toda a parte)...

A encarnaç#o tu és das mara$ilhas"A doce aurora"Granda e sonora+as teatrais e lucidas idéias)...8ens no olhar o filtro ue arrebata( és profética( magnética"3ossuis na $o2 o som das melopéias)...

Ds a escolhida pare as grandes lutes(splendorosas( maestosas)...( sobre os débeis" delicados ombros"Gem como Pomero a sua lira douro"

Besplandecente"8ra2es pendente

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5 *nfinito enorme dos assombros)...

'uando apareces tudo ri e chore"Se endeusa" agita"%omo ue palpita

 Numa e,plos#o de fér$idos lou$ores).( o potentado mais febril da terraTaguea um bra$o"( fa2&se escra$o5 mais se$ero e nobre dos senhores)...

A +easet" uma Fa$art" Bachel"5 o#o %aetano%omo um arcano*mperscrutá$el" h1rrido" terr!$el)...'uebram as louças sepulcrais e frias

( te lou$ando6#o reinando...+i2em ue é sonho" é mito" é imposs!$el)

5h) tu nasceste para suplantar" ulieta5s grandes mundos"5s mais profundos+essarte bela" magistral" di$ina)...( esse olhar t#o e,pressi$o e ternoá eletri2a( cauteri2a...D como um raio ue a coraçes fulmina)...

'ue sol é este" $#o bradando os p1los"8#o sobranceiro"'ue o brasileiro5 $asto império confundindo estáR)...6enham te1logos" $enham sábios... todos6enham troianos"6enham germanos"6enham os $ultos da %aldéia" lá)...

5h) resol$ei o mais atro2 problema"Fundo mistério"Alto" sidério+o g-nio alti$o na criança" ali)...6amos" natura" rasga o $éu dos medos"+i2ei 1 mares"Falai luares"Sombras dos bosues" respondei&me aui)...

Astros da noite" tempestades" $entos

(rguei as $o2es"Falai $elo2es

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 NHum som estranho" nHum clangor auda2)...( respondei&me e e,plicai ao orbeSe essa menina"