crônicas de um pastor gay

CRÔNICAS

PASTOR GAY

Márcio Retamero

DE UM

Cronicas de um pastor gay.indb 153Cronicas de um pastor gay.indb 153 13/7/2011 11:18:4313/7/2011 11:18:43

COPYRIGHT © 2011, MÁRCIO RETAMERO

EDITORA

LÉA CARVALHO

PROJETO GRÁFICO

MALU SANTOS

CAPA

MALU SANTOS

REVISÃO

PEDRO CHIMACHI

DADOS INTERNACIONAIS DA CATALOGAÇÃO (CIP)

R437c RETAMERO, MÁRCIO, 1974-.

CRÔNICAS DE UM PASTOR GAY / MÁRCIO RETAMERO. - RIO DE JANEIRO : METANOIA, 2011.

160 P. ; 21 CM.

ISBN 978-85-63439-08-6

1. HOMOSSEXUALIDADE – ASPECTOS RELIGIOSOS - CRISTIANISMO. 2. HOMOSSEXUAIS CRISTÃOS – BRASIL. I. TÍTULO.

CDD – 261.835766

CATALOGAÇÃO ELABORADA PELA BIBLIOTECÁRIA LIOARA MANDOJU – CRB-7 5331

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Dedico este livro ao aguerrido guerreiro da causa LGBT e dos

Direitos Humanos, Ricardo Rocha Aguieiras, e, através dele, a todos e todas que lutam por um mundo mais fraterno, justo e igualitário.

Te amo, Rick!


PREFÁCIO

Fui convidado em maio de 2009 para escrever quinzenalmente uma coluna sobre religião no site LGBT A Capa.

Quando recebi o convite do editor do A Capa, Paco Llistó, para cumprir tal tarefa, um misto de alegria e temor atingiu minha mente e coração. Uma coluna sobre religião num dos maiores sites LGBT do Brasil? Isso poderia dar certo? Deu! Dois anos depois do início da empreitada, o diálogo que mantenho com os leitores fi éis da coluna religião me enriqueceu muito enquanto teólogo e pastor gay.

Teólogo e pastor gay. À princípio, levando em conta nosso contexto histórico, parece que essas três coisas jamais poderiam constituir uma pessoa. No nosso país, a luta pelos direitos civis das pessoas homossexuais, bissexuais, travestis e transexuais encontra na religião seu maior algoz e inimigo público número 1.

Nossa luta por cidadania plena e igualitária encontra hoje no Poder Le-gislativo do Brasil – mais especifi camente na Frente Parlamentar Evangélica Fundamentalista – o maior obstáculo ao avanço do processo de conquista cida-dã LGBT. Tomado de assalto pelos fundamentalistas “cristãos”, o Congresso Nacional há mais de 15 anos debate direitos civis elementares como a união estável entre pessoas do mesmo sexo e mais recentemente a lei que criminali-zaria a homofobia.

Jamais se falou tanto de homofobia no nosso país como nos nossos dias: jornais, novelas, reportagens de revistas, programas de rádio e tevê; até mesmo as mídias especializadas evangélicas de cunho fundamentalista falam hoje de homofobia, aliás, condenando-a. Todavia, é desse cadinho da nossa sociedade que têm se levantado “líderes religiosos” que usam dos poderosos recursos que possuem e da sua imensa infl uência no meio evangélico fundamentalista, bem como de seus programas de tevê, para não apenas falarem de homofobia, mas espalhá-la do Oiapoque ao Chuí.


Quando o Paco me chamou para tão grande e árdua tarefa no A Capa, eu já sabia que nossa luta tinha como inimigo público número 1 a ala fundamen-talista da religião. Acontece que naquele tempo a militância LGBT ainda não tinha dado conta disso. Como dizemos no Rio de Janeiro, a fi cha deles ainda não tinha caído. Minha tarefa consistia, pelo menos numa das frentes, pensar o assunto, democratizar o conhecimento teológico e político, além de fazer frente ao fundamentalismo religioso.

Penso que temos conseguido cumprir a tarefa e os textos aqui reunidos são a prova disso. O editor do site me diz sempre que nossa coluna é uma das mais lidas e comentadas do site, o que demonstra o interesse, cada vez mais crescente, e o reconhecimento, por parte da militância, da importância e urgência do assunto.

Fato é que vendo panoramicamente tais textos aqui reunidos e refl etindo neles, chegamos à conclusão que a luta pelos direitos civis de milhares de LGBT brasileiros e brasileiras passa pela questão religiosa.

Se quisermos avançar no processo de cidadania plena aos LGBT, não pode-mos ignorar o fenômeno que vem tomando força, mentes e corações no nosso país desde o fi m da década de 80: o avanço da população evangélica de tipo fundamentalista, hoje na casa dos 25% da população do Brasil, crescendo em progressão geométrica. Eles tem atrapalhado – e muito – são fortes, poderosos politicamente, poderosos economicamente e tem poder e peso político, con-forme demonstrado nas últimas eleições presidenciais no Brasil, tendo os dois mais votados candidatos – Dilma Rousseff e José Serra – disputado quase que aos tapas o voto evangélico.

No momento em que escrevo este prefácio – para que não haja dúvidas do acima dito – o Projeto de Lei 122, “a cereja” da luta militante LGBT nos últimos anos, está morto e enterrado. A senadora Marta Suplicy (PT/SP) simplesmente desistiu do projeto original e compôs com notários fundamentalistas – os se-nadores da República Magno Malta e Marcelo Crivella – o grupo de trabalho do qual sairá o projeto que criminaliza a homofobia no Brasil, completamente descaracterizado, desnecessário dizer!

Não faz muitos dias, a presidenta Dilma Rousseff suspendeu o kit escola sem homofobia, mega projeto que consumiu muita força de trabalho, engenho-sidade e conhecimento técnico de especialistas, bem como milhares de reais aos cofres públicos, logo após a visita do ex-presidente Lula, que foi a Brasília ne-gociar a blindagem do ministro da Casa Civil, Antônio Pallocci, então envolvido em pesadas acusações de enriquecimento ilícito. Os fundamentalistas cristãos da Frente Parlamentar Evangélica usaram a situação claudicante do ministro para chantagear a chefe do Poder Executivo e conseguiu negociar/trocar o kit escola sem homofobia pela blindagem em torno do ministro, o que o deputado


evangélico Anthony Garotinho, bem como o líder da Frente Parlamentar Evan-gélica, João Campos, admitiu aos principais jornais do país.

Com a derrota do PLC 122 e com a suspensão do kit escola sem homofobia parece que as escamas que cegavam os líderes da militância LGBT no Brasil ca-íram, mesmo que tarde, e hoje eles e elas já estão plenamente cientes que neste momento a religião cristã do tipo fundamentalista tem que ser enfrentada se quisermos avançar no processo de cidadania plena aos LGBT do nosso país.

Neste contexto, cresce o relevante papel daqueles que têm sido a linha de frente na luta: a liderança religiosa do movimento homossexual brasileiro, até então muito ignorado pela militância do mesmo movimento.

Para além deste papel político, cada vez mais crescente, as igrejas inclusivas têm sido espaços seguros e saudáveis, notadamente a Igreja da Comunidade Metropolitana do Brasil, denominação onde exerço o ministério da Palavra e Sacramentos, para o exercício da espiritualidade cristã LGBT.

A Igreja da Comunidade Metropolitana, fundada na década de 60 nos Estados Unidos, na cidade de Los Angeles, completará em breve 10 anos de presença no Brasil. Nesses 10 anos, milhares de pessoas LGBT têm encontrado em nossas comunidades de fé espalhadas pelo Brasil a força espiritual necessária –comum-união e comum-unidade – no fortalecimento e empoderamento des-sas pessoas na luta existencial e política contra as homofobias, principalmente a homofobia internalizada, um dos piores cânceres que atingem em cheio a população LGBT do Brasil.

A ICM, como nós a denominamos coloquialmente, é chamada nos 38 países onde está presente de “A Igreja dos Direitos Humanos” e no Brasil não tem sido diferente. Para além do papel espiritual, a ICM é igreja-comunidade que vai às ruas, toma as avenidas das metrópoles com a Bíblia em punho, clamando por igualdade e justiça social. Em vários destes países, como nos EUA e na Jamaica, seja na África do Sul ou na Europa Oriental, a ICM tem sido protagonista na luta pelos direitos civis das pessoas LGBT, luta esta que envolve Direitos Humanos.

Meu papel dentro da ICM é visibilizar nossa bandeira e colocar na agenda política da militância LGBT do Brasil a questão religiosa. O enfrentamento ao poder político e econômico dos fundamentalistas religiosos – um verdadeiro Titan – urge.

Meu desejo é que este livro esclareça e ajude as pessoas que o lerão no enten-dimento de tudo até aqui exposto. Se esta leitura levantar pessoas para unirem suas mãos às nossas e fazerem crescer este caudal, terei cumprido meu papel.

Boa leitura!Márcio Retamero, pastor gay.

Julho, 2011


SUMÁRIO

1. FUNDAMENTALISMO CRISTÃO X EVANGELHO INCLUSIVO, 012. A HOMOFOBIA NAS CÂMARAS MUNICIPAIS BRASILEIRAS, 043. CARTA ABERTA A JÚLIO SEVERO, HOMOFÓBICO E FUNDAMENTALISTA RELIGIOSO,084. A HOMOFOBIA NA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA,135. EX-HOMOSSEXUAIS?!, 176. A VERDADE LIBERTA!, 207. MORDAÇA GAY?, 248. PADRE GISLEY E MARCELO CAMPOS: OS MAIS NOVOS MÁRTIRES GAYS BRASILEIROS, 289. A FRENTE PARLAMENTAR EVANGÉLICA INIMIGA DOS LGBTS, 3210. “NÃO MATARÁS”. ÊXODO 20.13, 3611. NEGO!, 4012. RESPOSTA AO REV. WILAME, 4413. QUEM SÃO OS NAZISTAS?, 4714. LUGAR DE PADRE É NO ALTAR!, 5215. FARISEUS, HIPÓCRITAS!, 5616. OS IDOSOS GAYS, 6017. QUEM SÃO OS SODOMITAS HOJE?, 6318. O PREFEITO, O PASTOR, E O EX-TRAVESTI, 67 19. LGBTS E EVANGÉLICOS: CAUSAS EM COMUM, 71


20. EM QUE CREEM OS QUE NÃO CREEM?, 7421. NOVAS FAMÍLIAS, 7722. PROJETO 2010: DESINTOXICAÇÃO, 8023. RATZINGER, O BIÓLOGO, 8324. QUEM SÃO OS PEDÓFILOS?, 8625. EDSON NÉRIS É CADA UM DE NÓS, 8926. A EX-DEPUTADA, O PASTOR E A TEOLOGIA INCLUSIVA, 9227. AMOR DE MÃE, 9528. FELIZ ANIVERSÁRIO, RENATO!, 9829. BRASIL: OLHA PARA PORTUGAL!, 10130. PORQUE NÃO VOTAREI EM MARINA SILVA, 10431. ATENÇÃO PRESIDENCIÁVEIS, CASAMENTO NÃO É SACRAMENTO!, 10832. JÁ ESTAMOS PERDENDO: O AVANÇO FUNDAMENTALISTA E AS ELEIÇÕES 2010, 11133. RELIGIÃO E POLÍTICA, 11534. A LOUCURA DOS EXTREMISMOS, 11935. ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: A QUEM INTERESSA?, 12236. PODE A BÍBLIA INCLUIR?, 12537. A ABORDAGEM PARCIAL E DESONESTA DO PROGRAMA DA

REDE GLOBO “O SAGRADO” SOBRE A HOMOSSEXUALIDADE, 12738. EM 2011, RESISTIR É PRECISO, 13139. A PASTORAL DA DIVERSIDADE SEXUAL DA IGREJA ANGLICANA DO BRASIL, 13440. AMAIVOS UNS AOS OUTROS: BASTA DE HOMOFOBIA!, 13741. AO VENCEDOR, AS BATATAS!, 14042. A VIOLÊNCIA SIMBÓLICA DO FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO, 14443. TROCO MINHA HOMOFOBIA PELA SUA CORRUPÇÃO, 14744. TEXTO BÔNUS: MANIFESTO CRISTÃO INCLUSIVO CONTRA A HOMOFOBIA, 150


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