cristina brito villas-boas vaz - repositório aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. relações retóricas...

173
Cristina Brito Villas-Boas Vaz Expressão de temporalidade em crónicas desportivas: um modelo de tradução de tempos verbais em contexto Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em Tradução e Serviços Linguísticos, orientada pela Professora Doutora Fátima Oliveira Faculdade de Letras da Universidade do Porto Setembro de 2015

Upload: others

Post on 19-Nov-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

Cristina Brito Villas-Boas Vaz

Expressão de temporalidade em crónicas desportivas: um modelo de tradução de tempos verbais em contexto

Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em Tradução e Serviços Linguísticos, orientada

pela Professora Doutora Fátima Oliveira

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Setembro de 2015

Page 2: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2
Page 3: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

Expressão de temporalidade em crónicas desportivas: um modelo de tradução de tempos verbais em contexto

Cristina Brito Villas-Boas Vaz

Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em Tradução e Serviços Linguísticos orientada

pela Professora Doutora Fátima Oliveira

Membros do Júri

Professor Doutor Thomas Hüsgen

Faculdade de Letras - Universidade do Porto

Professora Doutora Elena Galvão

Faculdade de Letras - Universidade do Porto

Professora Doutora Purificação Silvano

Faculdade de Letras - Universidade do Porto

Professora Doutora Fátima Oliveira

Faculdade de Letras - Universidade do Porto

Classificação obtida: 19 valores

Page 4: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

À Margarida, ao Hugo e aos meus Pais.

Page 5: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2
Page 6: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

Sumário

Sumário 12

Agradecimentos 7

Resumo 8

Abstract 9

Índice de tabelas 10

Índice de figuras 10

Legendas 10

Introdução 11

Capítulo 1. Da tradução em geral à tradução jornalística 13

1.1. A tradução como recriação 13

1.1.1. Skopostheorie de Reiß e Vermeer (1984) 17

1.1.2. Análise textual de Christiane Nord (1997; 2006) 20

1.2. O jornalismo 26

1.2.1. Géneros jornalísticos e a pirâmide invertida 27

1.2.2. A crónica desportiva 28

1.3. A tradução jornalística 30

1.3.1. Breve enquadramento histórico da tradução jornalística: as agências de notícias e a

globalização 31

1.3.2. Características da tradução jornalística: técnicas tradutivas 34

1.4. Conclusões do capítulo 36

Capítulo 2. A expressão de temporalidade 38

2.1. O tempo linguístico 38

2.1.1. Das noções de tempo 38

2.1.2. Dos tempos verbais: conceitos e teorias fundamentais 40

2.1.2.1. A noção de ponto de referência - Reichenbach (1947) 40

2.1.2.2. Teoria da Representação Discursiva - Kamp e Reyle (1993) 41

2.1.2.3. A noção de domínio temporal - Declerck (1990) 44

2.2. O Aspeto 45

2.2.1 Moens (1987) 46

2.3. Sequências textuais e relação com o tempo – Adam (1990; 1996; 1997; 1999) e

Smith (2004) 48

Page 7: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

2.4. Relações retóricas - Mann e Thompson (1988) 50

2.5. Conclusões do capítulo 53

Capítulo 3. Crónicas desportivas em português e inglês: análise de expressões de

temporalidade e relação com sequências textuais 55

3.1. Os corpora: metodologia de trabalho 55

3.2. Análise quantitativa 57

3.3. Sequências de tempos verbais em sequências textuais 61

3.3.1. A constituição de crónicas desportivas 63

3.3.1.1. A introdução em português e em inglês 64

3.3.1.2. O resumo em inglês 66

3.3.1.3. O relato cronológico em português e em inglês 67

3.3.1.4. A conclusão em português e inglês 69

3.4. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus português 72

3.4.1. Introdução 72

3.4.2. Relato cronológico 74

3.4.3. Conclusão 85

3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86

3.5.1. Introdução 86

3.5.2. Resumo 87

3.5.4. Conclusão 99

3.6. Conclusões do capítulo 107

Capítulo 4. Proposta de modelo tradutivo de alguns tempos verbais encontrados nos

corpora 109

4.1. Modelo tradutivo bidirecional de alguns tempos verbais em contexto 110

4.2. Conclusões do capítulo 124

Conclusões gerais 127

Bibliografia 131

Anexos 137

Page 8: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

7

Agradecimentos

Esta dissertação é fruto de quase dois anos de trabalho. Durante esse tempo, foram muitos os que me apoiaram. A todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para esta dissertação e para este Mestrado, gostaria agora de retribuir com um sincero agradecimento.

Em primeiro lugar, à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, por me ter proporcionado uma experiência altamente positiva, durante a qual cresci e evoluí, quer a nível profissional, quer a nível pessoal.

À Professora Doutora Fátima Oliveira, orientadora deste trabalho, por me ter despertado para a Linguística e por tudo aquilo que me ensinou ao longo deste período, apesar de todas as minhas limitações e dificuldades.

À Professora Doutora Purificação Silvano, pela ajuda fundamental numa altura decisiva para a conclusão desta dissertação.

À Professora Doutora Elena Galvão, pela amizade - que certamente ultrapassará este Mestrado -, por ter certamente feito de mim uma melhor tradutora e profissional e por todo o apoio, desde as cadeiras lecionadas à preciosa ajuda nesta dissertação, passando pelo trabalho para o International Press Institute.

À Professora Doutora Belinda Maia, diretora deste mestrado aquando do início de execução desta dissertação, pela ajuda, pelo apoio e por me ter direcionado em relação ao tema aqui tratado. Não deixo de lembrar a (agora) Vice-Reitora Fátima Marinho, que me iniciou nas lides da tradução.

Agradeço também todos os meus colegas de Mestrado, por terem formado um grupo amigo, sempre unido pela vontade de aprender, com um dos melhores ambientes que já encontrei. Em particular, à Ana Cláudia Monteiro, à Marta Gama, à Marta Salgado e à Sara Nogueira, amigas inesperadas mas para a vida, pela amizade, pelas conversas, pelos conselhos e por aquilo que me continuam a ensinar diariamente.

Deixo para o fim o mais importante, a minha Família, para quem as palavras não bastam.

À Margarida, a maior das minhas vitórias, por me fazer querer ser o melhor exemplo possível todos os dias;

Ao Hugo, pelo apoio, pelo esforço redobrado e por todos os sacrifícios que tornaram possível este Mestrado;

À minha Mãe, a minha melhor amiga e o meu pilar;

Ao meu Pai, por ter sido o primeiro a convencer-me a fazer este Mestrado, por ser tão amigo e por estar sempre presente e disposto a ajudar e a aconselhar.

Fica ainda um agradecimento especial aos meus avós e madrinha, sempre tão presentes, mesmo à distância.

Page 9: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

8

Resumo Esta dissertação procura descrever a importância de expressões de temporalidade para a

interpretação de um texto e das sequências que o compõem, e mostrar como essas expressões podem influenciar o processo tradutivo. Percebendo que as teorias funcionalistas da tradução se foram paulatinamente desligando do nível linguístico, intratextual, para se focarem na adequação a novas culturas, este estudo visa mostrar como as duas dimensões não se podem dissociar.

Deste modo, e a partir de dois corpora de textos jornalísticos originais – crónicas desportivas –, em português e em inglês, faz-se uma análise macro e microestrutural relativa a um dos fenómenos linguísticos que mais contribui para a expressão do tempo no texto: as sequências de tempos verbais.

Defende-se que a ideia de que o tradutor deve conhecer os sistemas verbais dos seus pares de línguas. Por essa razão, a análise supramencionada serve como referência para uma proposta de um modelo tradutivo de alguns tempos verbais em contexto, que procura ser uma base sistemática, embora não-vinculativa e sempre variável conforme o co(n)texto (neste caso, o da tradução jornalística), das várias sequências de tempos possíveis. Julga-se que este modelo, que carece sempre de uma cuidada análise do texto, permite um produto final mais rigoroso e facilmente compreensível para o público leitor.

Palavras-chave: Sequências de tempos, tradução jornalística, tradução de tempos verbais

Page 10: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

9

Abstract

This dissertation seeks to describe the importance of time expressions for the interpretation of a text and its sequences, as well as to show how these expressions can influence the translation. Funcionalist approaches in translation theories have gradually distanced themselves from a linguistic level to focus on adequacy to new cultures. This study attempts to demonstrate, however, how both dimensions cannot be dissociated.

The starting point was to make a macro and microanalysis to two corpora of original journalistic texts – match reports – in Portuguese and in English, focused on one of the linguistic phenomena that most contributes for the expression of time in text: sequences of tenses.

This study, thus, defends that translators ought to know the verbal systems in their language pairs. The aforementioned analysis is, then, the reference for a proposal of a translation model of some tenses, which seeks to be a sistematic, yet non-vinculative approach to translating sequences of tenses. This model is variable according to the co(n)text (in this case, journalistic translation). It is believed that this translation model, which always entails a careful previous analysis to the text, enables a final product which is more thorough and more easily understandable to its readers.

Keywords: Sequences of tenses, journalistic translation, translation of tense

Page 11: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

10

Índice de tabelas

Tabela 1. Constituição dos corpora................................................................................................. 56 Tabela 2. Ocorrências dos tempos verbais em português europeu e respetivas percentagens................. 57 Tabela 3. Ocorrências dos tempos verbais em inglês e respetivas percentagens................................... 59 Tabela 4. Resumo das leituras temporais possíveis de cada tempo verbal no corpus português,

construções verbais, relações retóricas e sequências textuais.................................................................... 100

Tabela 5. Resumo das leituras temporais possíveis de cada tempo verbal no corpus inglês, construções

verbais, relações retóricas e sequências textuais........................................................................................ 103

Índice de figuras

Figura 1. (Nida e Taber, 1969: 33, apud Munday, 2008: 40).................................................... 16 Figura 2. Representação da linha temporal ...................................................................................... 39 Figura 3. Esquematização simplificada da rede aspetual de Moens.................................................. 47

Legendas

PPS – Pretérito Perfeito Simples

OP – oração principal

OG – oração gerundiva

PpT – Ponto de Perspetiva Temporal

T0 – Momento da enunciação

Page 12: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

11

Introdução

Nesta dissertação procura estudar-se os mecanismos linguísticos que permitem a um leitor ter a

perceção sobre a passagem do tempo no texto. Este estudo centra-se no discurso jornalístico, tipo de

texto para o qual as expressões de temporalidade são fundamentais. E, mais concretamente, num dos

poucos géneros jornalísticos que, nos mercados português e britânico - sobre os quais incide este

estudo -, obedecem à ordem cronológica dos acontecimentos e que possui algumas especificidades

que devem também ser consideradas: a crónica desportiva.

O objetivo desta dissertação, que se destina, sobretudo, a tradutores, é demonstrar a vital

importância de conhecimentos linguísticos para uma tradução adequada, mesmo perante textos

profundamente marcados de um ponto de vista cultural como são os textos jornalísticos. A precisão

linguística, defende-se, também faz parte da adequação de um texto a uma língua e a uma cultura de

chegada. Não se defende um retorno à tradução word for word. Pelo contrário, a tradução, mesmo a

um nível microestrutural, nunca deve ignorar o seu co(n)texto nem a sua cultura.

Um tradutor não deve ser intuitivo. Antes, deve ser dotado não só de conhecimentos sobre a

cultura associada ao texto de partida e sobre a cultura associada ao texto de chegada, presumindo

conhecimentos do leitor, mas também dotado de ferramentas linguísticas que permitam ao texto ser

devidamente compreendido. Admitindo liberdade na tradução para uma outra cultura, um texto só é

devidamente compreensível se estiver bem formulado linguisticamente.

Destaca-se nesta dissertação um dos principais meios linguísticos para a expressão do tempo:

os tempos verbais. Conhecendo os sistemas verbais de duas línguas e conhecendo as especificidades

do seu uso num tipo de texto específico, é possível atingir níveis superiores de correção linguística,

potenciando uma melhor compreensibilidade por parte do leitor. É, portanto, o objetivo final deste

estudo criar um modelo tradutivo sistemático de alguns tempos verbais, nunca descurando os seus

contextos macroestruturais (o segmento do texto em que se situam e respetivo objetivo informativo)

ou os seus contextos microestruturais (como, por exemplo, as sequências de tempos verbais e as

relações discursivas delas resultantes).

Assim, esta dissertação organiza-se do seguinte modo: numa primeira parte, correspondente aos

dois primeiros capítulos, faz-se um enquadramento teórico sobre as distintas áreas envolvidas neste

estudo. Aqui abordam-se alguns estudos gerais sobre tradução e algumas conceções sobre géneros

jornalísticos, abordando-se de seguida as especificidades da tradução jornalística, área em profundo

crescimento devido a fenómenos como a globalização ou a proliferação de meios de difusão da

informação (sejam meios de comunicação social ou blogues pessoais, por exemplo). O terceiro

capítulo descreve dados de dois corpora de crónicas desportivas originais, escritas por meios de

comunicação social de referência, quer de Portugal, quer do Reino Unido, e todas elas relativas aos

Page 13: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

12

mesmos eventos: finais das Ligas dos Campeões, que são jogos de futebol que suscitam níveis

semelhantes de interesse público nas duas culturas.

Cada corpus é constituído por cerca de doze mil palavras e é analisado em três fases: uma

primeira análise quantitativa, que permite antecipar alguns dados e traçar algumas hipóteses, e que

engloba a totalidade dos textos do corpus. Na segunda e terceira fases, usa-se apenas um fragmento

do corpus e procura fazer-se uma análise macroestrutural, primeiro, e uma análise microestrutural,

depois. Na análise macroestrutural divide-se o texto em macropartes (ou segmentos), cada qual com

diferentes objetivos informativos, compostos por determinados tipos de sequências textuais, e procura

demonstrar-se a importância das expressões de temporalidade para essa divisão. Na análise

microestrutural analisam-se os valores semânticos dos tempos verbais mais relevantes, algumas

sequências de tempos verbais e a influência que a expressão da temporalidade tem para as relações

que se estabelecem entre frases e que determinam o tipo de sequências textuais.

No quarto e último capítulo, e tendo como base os resultados da análise feita, faz-se uma

proposta para um modelo tradutivo sistemático de alguns tempos verbais, que engloba diversos

contextos: microtextuais, macrotextuais e ainda culturais.

É objetivo desta dissertação encontrar as respostas para as seguintes perguntas de investigação:

- como incorporar um nível de análise linguística num tipo de tradução tipicamente orientada

para uma cultura e um público de chegada;

- qual a diferença entre o papel de um jornalista e de um tradutor de notícias relativamente ao

conhecimento linguístico;

- que aspetos distinguem os textos em análise, as crónicas desportivas, de uma notícia; e

- em que medida as sequências de tempo dão compreensibilidade ao texto e que problemas

colocam à tradução, dado que, como mostra esta tese, nem sempre pode haver uma tradução literal.

Page 14: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

13

Capítulo 1. Da tradução em geral à tradução jornalística

[Translation] is a deliberate and conscious act of selection, involving the structuring, assembling and fabricating of information into a format that will satisfy the expectations of readers.

(Bielsa e Bassnett, 2009: 12)

Língua e cultura. São estes os dois pólos que mais se entrecruzam numa área que interliga

povos e países, permitindo compreensões mútuas. A tradução, área profundamente interdisciplinar1, é

uma área geralmente invisível2, mas essencial para a comunicação à escala global.

A tradução é muito mais complexa do que a mera passagem de um texto de uma língua de

partida para uma língua de chegada. Os estudos de tradução como área científica e académica

surgiram nos anos 50 e 60 e focavam-se essencialmente nos fatores linguísticos que compunham o

texto. É na década seguinte que, com o surgimento da pragmática, se concebe o texto como unidade e

se introduz um conceito fundamental para a atividade tradutiva: o contexto (cf. Hüsgen, 1995: 251). A

tradução passa a ser vista sob um prisma funcional, que visa compreender as necessidades e

expectativas de um público recetor, e em que o texto não pode ser visto como apenas a soma das

palavras que o compõem.

Muito embora este estudo se preocupe essencialmente com a dimensão linguística da tradução,

é inevitável traçar um paralelismo entre os estudos funcionalistas da tradução e o jornalismo, área que

também procura oferecer conteúdos bem aceites junto de um público-alvo (cf. 1.2.). Por essa razão,

este subcapítulo incide sobre a análise de algumas dessas teorias, nomeadamente a skopostheorie, da

autoria de Reiß e Vermeer (1984),3 fundamental para o avanço das teorias funcionalistas

relativamente ao conceito de equivalência do significado, e que é o ponto de partida para o modelo da

análise textual de Nord (1997; 2006). Ambos os modelos são tidos como referências para este estudo,

por se centrarem na cultura de chegada.

Faz-se ainda referência a Jakobson (1959; 1960) e Nida (1964), autores que, mesmo estudando

a tradução numa dimensão mais linguística, influenciaram fortemente as propostas acima referidas e

que marcam profundamente os estudos tradutológicos existentes.

1.1. A tradução como recriação

[It] is not about translating words, sentences or texts but is in every case about guiding the intended co-operation over cultural barriers enabling functionally oriented communication.

1 Cf. Munday, 2008. 2 Esta expressão deve-se, sobretudo, a Venuti (1995), que assim intitula o seu primeiro livro sobre teoria e história da tradução (The Translator’s Invisibility). 3 Por razões de impossibilidade em encontrar o livro original, as referências ao estudo de Reiß e Vermeer (1984) aqui utilizadas encontram-se em Nord (1997).

Page 15: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

14

(Holz-Mänttäri, J. 1984:7-8, apud Munday, J. 2008: 78)

A tradução, área já com uma extensa história, tem vindo a ser analisada pelos mais diversos

autores e investigadores ao longo de séculos. A Bíblia é o ponto central dos primeiros debates, que se

focavam na tradução word-for-word ou sense-for-sense (palavra a palavra ou significado por

significado). Estas duas expressões pertencem a São Jerónimo, autor de uma célebre tradução do livro

sagrado da religião católica, defendendo uma abordagem sense-for-sense no século IV d.C. O

pioneiro desta abordagem foi, no entanto, Cícero, que, já no século I a.C., contrariara hábitos de

traduções literais no Império Romano ao traduzir a Bíblia “como um orador e não como intérprete”4

(Munday, 2008: 19-20).5

A discussão relativa à “fidelidade” que um texto pode ter relativamente ao texto de partida

numa tradução não-literal durou até ao século XX, altura em que surgem as primeiras teorias. É

apenas com Eugene Nida (1964) que a tradução se estabelece como disciplina científica própria,

relacionando-se profundamente com a linguística. As primeiras referências a um conceito primordial

para os estudos de tradução - o de equivalência de significado - surgem, contudo, com Jakobson

(1959). Este autor russo formulou um esquema dos principais fatores da comunicação linguística. O

emissor (addresser no original inglês) dirige uma mensagem (message) a um recetor (addressee),

num dado código (code, aqui representando uma língua natural), num dado contexto (context), através

de um meio, que Jakobson denomina de contacto (contact) (1963: 219-221).

A partir deste esquema, Jakobson desenvolve uma abordagem funcionalista da comunicação

linguística, assente em diversas funções da linguagem, de acordo com a predominância de cada um

destes fatores. Assim, essas funções podem ser, segundo Jakobson (1963a: 3-6; 214-17):

- Apelativa (ou conativa) se o enunciado for centrado sobre o recetor; - Emotiva (ou expressiva) se o enunciado for centrado sobre o emissor; - Fática, se o enunciado for centrado sobre o contacto (i.e., quando as mensagens procuram “estabelecer, prolongar ou interromper a comunicação”); - Referencial, se o enunciado for centrado sobre o contexto (i.e., as referências ao mundo extralinguístico); - Poética, se o enunciado for centrado sobre a mensagem e nos processos linguísticos que levam à construção dessa mesma mensagem

4 Munday (2008: 19) explica que o intérprete, nas palavras de Cícero, corresponde ao tradutor literal, que passava documentos do grego para o latim. 5 Essencial para a história da disciplina é também a tradução da Bíblia de Martinho Lutero (o Novo Testamento em 1522 e o Antigo Testamento em 1534).Ao adaptar os textos bíblicos a uma variante dialetal da língua alemã, Lutero não só contribuiu para uma criação da norma padrão do alemão - que assim se tornou uma língua fundamental naquela região - como também criou uma cisão no Cristianismo - levando ao nascimento das religiões protestantes (Munday, 2008:23-24). O trabalho de Lutero é fundamental para os estudos de tradução, pois, além de ser uma tradução já realizada em função da cultura e língua de chegada, demonstra as implicações que esta disciplina pode ter para a comunicação entre povos.

Page 16: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

15

- Metalinguística, se o enunciado for centrado sobre o código e se ajuda o emissor e/ou o recetor a compreender esse código,6 

Para Jakobson, este esquema comunicativo é válido em qualquer tipo de tradução, seja ela

intralinguística ou interlinguística.7 Não há dúvida de que, em termos de tradução, o fator mais

interessante para este estudo é o contexto: é este conceito que faz de Jakobson um dos fundadores da

abordagem funcionalista da tradução8. Contextos diferentes em línguas diferentes levam ainda

Jakobson a referir que a eficiência e a dificuldade da tradução residem na ausência de equivalência

total entre palavras (unidades, code-units para o autor). Apesar disso, “messages may serve as

adequate interpretations of alien code-units or messages.” (Jakobson, 1959: 114) Continua o linguista:

“The translator recodes and transmits a message received from another source. Thus translation

involves two equivalent messages in two different codes.” (Jakobson 1959: 114) Assim: “Equivalence

in difference is the cardinal problem of language and the pivotal concern of linguistics.”(Jakobson,

1959: 114)

Jakobson é importante para este estudo na medida em que, vendo a tradução pela sua dimensão

linguística, considera que é essencial ter em conta o contexto de cada cultura e de cada língua, ao

introduzir o conceito de equivalência - mais tarde desenvolvido por Nida (1964).

Este autor americano parte da sua própria tradução da Bíblia para formular um modelo

científico de tradução, baseado nos conceitos de significado e de equivalência – tal como fez

Jakobson. Relativamente ao primeiro, Nida refere que “all types of meaning are derived essentially

from the signalling of a relationship” (1964: 57), mencionando três tipos de significado:

- o significado linguístico, que precede os outros dois tipos, na medida em que se refere apenas às relações fundamentais que existem numa língua9. Acrescenta o autor: “In the case of linguistic meaning we describe the recurring patterns of symbols which are linked to one another in significant ways.” (Nida, 1964: 57-8); - o significado referencial, que se refere ao contexto cultural de uma dada ocorrência (Nida, 1964: 70). De facto, Nida considera o contexto a única forma de retirar ambiguidades criadas pela sobreposição de certas estruturas gramaticais (1964: 101); e - o significado emotivo, relacionado com “as respostas dos participantes no ato comunicativo”10 (Nida, 1964: 101)

6 As duas últimas funções da linguagem não são aplicáveis a este estudo. 7 A estas duas formas de tradução, Jakobson acrescenta ainda a intersemiótica, que visa a tradução de “signos linguísticos em sistemas de signos não-linguísticos.” (1963:79, tradução minha). 8 Outro linguista fundamental para os estudos de tradução foi Bühler, cuja proposta de três funções da linguagem serve de base para os estudos de Reiß (1978; cf. 1.1.1.) e de Nord (1997; 2006; cf. 1.1.2.). 9 Esta análise de Nida é fortemente influenciada pelo modelo da gramática generativa de Chomsky (1957), segundo a qual o ser humano tem uma capacidade inata e universal de compreender relações estruturais nas línguas, sendo as estruturas mais simples as chamadas kernel sentences. (Munday, 2008: 40) 10 Tradução minha.

Page 17: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

N

do que a

(1964: 1

baseado

Este mo

para um

N

uma “co

deve ser

texto de

a)

b)

sub

(19

equ

Sig

Nid

enc

A

tipologia

effect is

translati

differenc

11 A análnaturais c12 Nida re

No entanto, o

a soma dos s

120). Esta an

em frases d

odelo, de três

ma língua de c

F

No entanto, o

orrespondênc

r essa corresp

partida. Nid

a equivalênc

a equivalênc

bstantially th

964: 159, apu

uivalente12 (p

gnifica isto q

da tem em c

contrar “the c

As seguintes p

as de traduç

s probably th

on is that a

ces of structu

lise de Nida écomo códigos

ecupera esta n

autor diz ain

signos linguí

nálise,11 apli

declarativas s

s fases, come

chegada e, po

Figura 1. (Ni

linguista re

cia absoluta”

pondência, m

da refere, ent

cia formal ap

cia dinâmica

he same as t

ud Munday,

principle of

que se trata d

consideração

closest natura

palavras, de

ção de Nida

he best one c

text is read,

ure, style, co

é influenciadas e das palavra

noção de Rieu

nda que as lín

ísticos e fun

icada à tradu

simples, sem

eça com uma

osteriorment

ida e Taber, 1

lembra que

” entre duas

mas sim a equ

ão, dois tipo

proxima-se, e

a, em que “th

that which e

2008: 42). O

f equivalent

de uma abor

potenciais a

al equivalent

Bielsa e Bas

a (partindo d

can hope for

, decoded an

ontext and au

a pelo esquemas como unida

u e Phillips (19

nguas natura

ncionam com

ução, leva o

m grande nece

a análise da l

te, a reestrutu

1969: 33, ap

“não há líng

línguas. Por

uivalência, o

s de equivalê

em forma e c

he relationsh

existed betwe

O resultado o

effect), sen

rdagem func

alterações gr

t to the sourc

ssnett (2009:

do esquema

r most transla

nd then resha

udience expe

ma comunicacades desses có

954).

ais são dinâm

mo um código

autor a esta

essidade de t

língua de pa

uração do tex

ud Munday,

guas iguais”

r essa razão,

o mais aproxi

ências de sig

conteúdo, ao

hip between

een the orig

obtido deve s

ndo o efeito

cional, produ

ramaticais, l

ce-language m

: 8), resumem

comunicaci

ations, when

aped in the

ctation.”

cional de Jakoódigos (Nida,

micas, na med

o que opera

abelecer um

transformaçã

rtida, seguin

xto, como res

2008: 40)

e que, por e

o objetivo d

imada possív

gnificado (19

texto de part

receptor and

ginal recepto

ser o chamad

o desejado o

uzida em fun

lexicais e cu

message” (19

m, de forma

ional de Jak

n we reflect t

target langu

obson e da co1964: 46).

dida em que

com dada fi

modelo de

ão (kernel se

ndo-se a tran

sumido na F

essa razão, n

de uma tradu

vel, do signif

964:156-9).

tida;

d message sh

rs and the m

do princípio

o da “natur

nção do rece

ulturais. O ob

964: 166).

simples e su

kobson): “Eq

that what ha

uage to accom

onsideração da

16

são mais

inalidade

tradução

ntences).

sferência

igura 1.

ão existe

ução não

ficado do

hould be

message”

do efeito

alidade”.

etor, pois

bjetivo é

ucinta, as

quivalent

appens in

mmodate

as línguas

Page 18: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

17

Não obstante a obra de Nida ter sido fundamental para a afirmação da tradução enquanto área

científica, não ficou isenta de críticas. Lefevere (1993: 7, apud Munday, 2008: 43), por exemplo,

refere que o estudo de Nida é sobretudo feito ao nível da palavra. Efetivamente, ao não estudar

problemas tradutivos além das kernel sentences, a teoria de Nida não abrangerá toda a complexidade

das línguas naturais.

Convém, no entanto, sublinhar a importância do conceito de efeito de equivalência para este

estudo. Não sendo objetivo deste subcapítulo abordar as vicissitudes da produção de textos

jornalísticos e da tradução jornalística (cf. 1.2 e 1.3, respetivamente), convém desde já referir que

estes géneros textuais são fortemente marcados pelo público-alvo - pelas suas características, bem

como pelas suas expectativas. É, por conseguinte, inevitável que, num contexto de tradução, os textos

sejam adaptados ao seu público, que pode ter padrões de leitura distintos de uma língua de partida

para uma língua de chegada. Deste modo, torna-se obrigatório, além da referência às línguas de

partida e de chegada, ter em consideração as culturas de partida e de chegada e, subsequentemente,

adotar um sistema de tradução em que prevalece o significado global e não uma “cópia literal” do

original.

Esta abordagem obriga o tradutor a procurar, mais do que a fidelidade ao texto de partida, a

adequação à cultura de chegada. A ideia de adequar o texto à cultura de chegada leva à conceção da

tradução como recriação ou como adaptação de um texto de partida, ideia essa que é usada como

rampa de lançamento para o estudo de novas teorias de caráter funcionalista. De facto, as teorias

funcionalistas cortam radicalmente com as teorias linguísticas que as antecedem. Pela necessidade

existente no meio jornalístico de produzir textos adequados ao público-alvo, sãoalgumas destas

teorias funcionalistas que se focam de seguida.

1.1.1. Skopostheorie de Reiß e Vermeer (1984)

Collaborating in the communicative act in such a way as to promote the achievement of the skopos is the main and foremost task of the translator.

(Vermeer, 1994: 11)

Uma das principais teorias funcionalistas - e que teve um profundo impacto não apenas em

estudos de tradução mas também para o próprio processo tradutivo - foi a chamada teoria do escopo,

skopostheorie no original alemão, da autoria de Reiß e Vermeer (1984). Esta teoria parte de uma

análise anterior de Reiß (1978), que foi pioneira na consideração do propósito comunicativo de um

texto para os estudos de tradução.

A autora propõe uma análise sistemática ao texto de partida, baseada no estudo de Bühler

(1934), para determinar qual a função do texto e qual a estratégia tradutiva mais adequada, de forma a

que o texto cumpra a sua finalidade:

Page 19: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

18

a) expressivo, devendo o texto de chegada manter a forma e estética do texto de chegada - o

tradutor deve manter o estilo do autor original;

b) informativo, sendo a tradução uma aproximação do TP na língua de chegada, transmitindo

a mesma informação e introduzindo, se necessário, explicações;13 ou

c) operativo, sendo a tradução produzida em função do público de chegada e o TCH adaptado

de forma a produzir um efeito equivalente ao do TP14;

d) audio-medial, dimensão relacionada com o audiovisual, que não é considerada por não ser

relevante para este trabalho.

(Reiß, 1978, apud Munday, 2008: 72-4)

Analisar o texto de partida é, assim, o primeiro passo para se perceber a finalidade da tradução.

Um texto de chegada que cumpra a sua finalidade é uma tradução considerada adequada. Para Reiß,

essa adequação é apenas possível se forem seguidos critérios linguísticos (semânticos, gramaticais,

lexicais e estilísticos) e extralinguísticos (aspetos contextuais como o tema, o tempo, o lugar, a

audiência, e aquilo a que a autora chama de “implicações afetivas”, como a ironia, a emoção ou o

humor) (Munday, 2008: 73-4).

Reiß é pioneira na proposta para sistematizar o processo de tradução, mas o seu modelo recebe

críticas por considerar que a cada texto corresponde apenas uma função comunicativa.15Contudo, é

considerado particularmente importante para este estudo a introdução de critérios linguísticos para a

análise da finalidade da tradução. Além disso, é Reiß quem mostra que a equivalência de significado,

por si só, não garante a completa adequação de um texto à sua finalidade. Este afastamento do

conceito de equivalência e a subsequente aproximação ao conceito de finalidade16 são o ponto de

partida para a skopostheorie, teoria proposta mais tarde por Reiß e por Vermeer (1984) e que tem, até

hoje, um profundo impacto nos estudos de tradução.

Embora o modelo de análise de Reiß esteja incluído no livro onde é introduzida a

skopostheorie17, Vermeer demarca-se claramente do paradigma linguístico da tradução. O autor

13 Para outras técnicas de tradução tradutiva, cf. Vinay e Dalbernet (1958) e o Capítulo 3 deste estudo. 14 Por TP entenda-se texto de partida; por TCH entenda-se texto de chegada. 15 Nord, uma das principais críticas da teoria de Reiß, considera que a cada texto correspondem pelo menos três funções em simultâneo, que surgem hierarquicamente no texto, além de acrescentar mais uma função do que as propostas por Reiß (Nord, 1997: 38,44). 16 Reiß e Vermeer fazem uma clara distinção entre adequação e equivalência. Por adequação os autores entendem um conceito dinâmico do processo tradutivo, que se refere à seleção de signos apropriados ao cumprimento de uma finalidade comunicativa (1989: 163, apud Nord, 1997: 35). A equivalência, por seu turno, é descrita como um processo estático que descreve uma relação de “valor comunicativo equiparável” entre dois textos e que funciona a nível linguístico. Significa isto que, para Reiß e Vermeer, uma tradução equivalente implica que os textos de partida e de chegada tenham a mesma função (1984: 140, apud Nord, 1997: 36). 17 A skopostheorie é uma das teorias funcionalistas que se referem mais ao processo de translação do que de tradução propriamente dita. É contemporânea à teoria da ação translatória de Holz-Mänttäri (1984), que propõe que o objetivo do tradutor é cumprir um propósito numa comunicação intercultural, pelo que o texto de partida “is analysed solely for its ‘construction and function profile’.” (Munday, 2008: 78;cf. ainda Nord, 1997: 12-13)

Page 20: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

19

encara a disciplina como uma “ação humana”18, que consiste na transferência [comunicação] de

signos - verbais e não-verbais - de uma língua para a outra (Vermeer, 1983: 4, apud Nord, 1997: 11).

Relativamente ao conceito de ação, “any action has an aim, a purpose. […] The word skopos, then, is

a technical term for the aim or purpose of a translation. […] Further: an action leads to a result, a new

situation or event, and possibly to a new object.” (Vermeer, 1989: 173, apud Nord, 1997: 12).

Esta abordagem orientada unicamente para a cultura de chegada e para o cumprimento do

propósito do texto de chegada junto de um determinado público-alvo faz com que o propósito

comunicativo do texto de partida não seja considerado para a determinação do propósito

comunicativo do texto de chegada, denominado pelos autores de translato.

The source text is oriented towards, and is in any case bound to, the source culture. The target text (…) is oriented towards the target culture, and it is this which ultimately defines its adequacy.

(Vermeer, 1989/2004: 229)

De facto, o autor defende que o texto de partida já não é o principal critério para as decisões

tomadas pelo tradutor (Nord, 1997: 25). O significado de um texto não é inerente aos signos

linguísticos de um texto, mas sim à interpretação que os recetores fazem deles. Vermeer, aliás, diz que

o texto de partida é “destronado” (cf. Guimarães, 2012: 44) do seu anterior papel, pois não contribui

para a determinação da finalidade do texto de chegada nem da sua função.19 Os conceitos de

significado e de função textual são, por isso, dinâmicos. Diferentes recetores podem encontrar

diferentes significados num mesmo texto. Por essa razão, Reiß e Vermeer consideram a tradução uma

proposta de informação, em que o recetor escolhe o significado (Reiß e Vermeer, 1984: 67, apud

Nord, 1997: 31-2). Estas conceções tornam fácil perceber por que razão um tradutor deve ter um

conhecimento profundo da cultura de chegada: sem isso, o tradutor não consegue adequar a

mensagem para que sirva o seu propósito comunicativo e para que os recetores atribuam ao texto o

significado pretendido.

O processo de tradução, segundo Reiß e Vermeer, começa com o cliente, que pede a tradução a

um tradutor e lhe dá instruções. Contudo, os autores salvaguardam que, geralmente, o cliente não é

A pouca importância dada por estas duas teorias ao texto de partida geraram algumas críticas de Nord (1997; 2006), explicitadas em 1.1.2. 18 Sobre ação humana, Nord classifica-a como uma alteração do estado das coisas que afeta duas ou mais pessoas; quando envolve signos deliberadamente utilizados por pelo menos uma delas, é uma ação comunicativa (1997: 16). 19 Para esclarecer esta terminologia, Nord propõe uma distinção entre finalidade (ou intenção ou propósito) e função. A primeira é definida pelo emissor. Mas nem sempre é possível atingir determinada finalidade, sobretudo quando o contexto do emissor e o do recetor são divergentes.Por sua vez, o recetor usa o texto com uma determinada função, de acordo com as suas expectativas e necessidades. Numa situação ideal, em que a intenção do emissor é correspondida, os dois conceitos são equivalentes.

Page 21: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

20

um especialista em comunicação intercultural, pelo que as instruções são pouco claras,20 sendo a

estratégia tradutiva da responsabilidade do tradutor (Nord, 1997: 30).

A skopostheorie propõe, assim, a sistematização de seis regras para uma tradução adequada:

1) O translato (texto de chegada) é determinado pelo seu escopo;

2) é uma proposta de informação numa cultura e numa língua de chegada feita de acordo com

as instruções dadas pelo cliente e que é feita a partir de uma proposta de informação fornecida numa

cultura e numa língua de partida;

3) é irreversível, na medida em que cada proposta de informação é orientada para recetores

específicos; i.e., a proposta de informação, uma vez feita na língua de chegada, para os recetores

correspondentes, terá um significado e uma função comunicativa diferente da que tinha a proposta de

informação da língua e cultura de partida;

4) tem de ser internamente coerente, para que seja compreensível; e tem de ser coerente com o

contexto comunicativo, caso contrário não servirá o seu propósito (regra da coerência);

5) tem de ser coerente relativamente ao texto de partida, ou seja, tem de se relacionar de algum

modo com o texto de partida correspondente, uma vez que é uma proposta de informação criada a

partir do texto de partida (regra da fidelidade);

6) Estas regras estão dispostas por ordem hierárquica e a primeira regra prevalece sempre.

(Munday, 2008: 80; Nord, 1997: 31-2)21

A skopostheorie não fornece dados relativamente ao princípio que rege dada tradução: a

finalidade de cada texto é determinada caso a caso. Nas palavras de Vermeer (apud Munday, 2008:

80):

What the skopos states is that one must translate, consciously and consistently, in accordance with some principle respecting the target text. The theory does not state what the principle is: this must be decided separately in each specific case.

(Vermeer 1989/2004: 234)22

1.1.2. Análise textual de Christiane Nord (1997; 2006)

Um outro modelo funcionalista é o de Christiane Nord23, que procura abordar a tradução de

forma dinâmica, sistemática e prospetiva.24 Partindo da consideração de Reiß e Vermeer de que um

20 Uma das razões para não adotar esta teoria na análise prática deste estudo é o facto de se analisarem textos jornalísticos, produzidos por especialistas em comunicação intercultural, habituados a escrever com dada finalidade. 21 Cf. ainda Reiß e Vermeer (1984). 22 Reiß (1978) recebe críticas relativamente à falta de aplicabilidade do modelo de análise do texto de partida, por associar apenas uma função textual a cada texto e uma estratégia específica a cada função. Mais tarde, e já em conjunto com Vermeer, a autora responde às críticas ao considerar que é a finalidade do texto que vai determinar a estratégia tradutiva. 23 Será aqui citado um resumo alargado da monografia da autora (2005), publicado em 2006.

Page 22: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

21

texto é uma proposta de informação “from which the receiver accepts what they want or need” (Nord,

2006: 132), a autora defende que “every translation is intended to achieve a particular communicative

purpose in the target audience” (2006: 133). Ainda segundo Nord, “situations are not universal but are

embedded in a cultural habitat, which in turn conditions the situation.” (2006:134)

Este princípio não diverge do da skopostheorie, na medida em que ambos os modelos defendem

a adequação da tradução às necessidades e expectativas do recetor do texto de chegada (2006: 133). A

grande diferença prende-se, contudo, com a determinação dessa finalidade: para Reiß e Vermeer,

estabelecer o skopos do texto de chegada é da responsabilidade ou do tradutor, que, por sua vez, deve

ter conhecimento da cultura e língua de chegada, ou das instruções dadas pelo cliente. Contudo,

segundo o modelo de Nord, a finalidade do texto de chegada é prioritária mas isso não significa que o

texto de partida seja irrelevante (1997: 62). A autora defende que o texto de partida é a base para

todas as decisões que o tradutor tem de tomar no processo tradutivo (Nord, 1991:1, apud Pym, 1993:

185), uma vez que consiste no ponto de partida para a proposta de informação do texto de chegada

(Nord, 1997: 62). Admitindo que a finalidade do texto de chegada é sempre determinada em função

do recetor e da cultura de chegada, Nord considera que a finalidade do texto de chegada não pode

contrariar a finalidade do texto de partida ou ser incompatível com ela (2006: 143). Nas palavras da

autora (Nord, 2006: 143):

The function (or hierarchy of functions) intended for, and/or achieved by, the target text may be different from that or those intended for, and/or achieved by, the source text, as long as it is not contradictory to, or incompatible with, the source-text author's communicative intention(s).

O modelo de Nord procura ainda fornecer um enquadramento pragmático à atividade tradutiva,

em que são identificados oito intervenientes.

1) O iniciador (initiator) é quem requer uma tradução de determinado texto; 2) O cliente25 (commissioner) é quem requisita o tradutor; 3) O tradutor; 4) O produtor do texto de partida; Nord faz aqui a distinção entre:

a) o emissor (sender), que é quem utiliza o texto de partida para passar uma dada mensagem;

b) o criador do texto de partida (text producer), que é quem redige o texto; não raras vezes, emissor e o criador do texto são a mesma pessoa, que cumpre as duas funções;

5) O recetor do texto de chegada; Nord distingue novamente: a) o destinatário (addressee), que o produtor do texto considera o recetor potencial, com base no conhecimento da cultura de chegada;

b) o recetor (receiver), que é quem recebe efetivamente o texto de chegada; 6) O utilizador final é aquele que faz uso do texto de chegada.26

24 Por oposição às teorias mais tradicionais - retrospetivas - orientadas para o texto de partida. Nas palavras da autora: “it is no longer the source-text that guides the translator’s decisions but the overall communicative purpose the target text is supposed to achieve in the target culture.” (Nord, 2006: 142) 25 A distinção entre iniciador e cliente é feita originalmente por Holz-Mänttäri (1984) (Nord, 1997: 20). 26 A terminologia é traduzida por Durão (2007: 261-2).

Page 23: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

22

Relativamente ao processo tradutivo propriamente dito, o tradutor recebe “instruções”

(translation brief) do cliente (Nord, 2006: 134). Durante estas instruções27, o tradutor é informado

sobre fatores extratextuais que condicionam todo o processo tradutivo, tais como:

- a finalidade do texto de chegada (determinada em função do recetor);

- quem é o emissor (que não é necessariamente o autor do texto de partida);

- quem é o recetor, que pode ou não ter diferentes necessidades e expectativas em relação ao recetor do texto de partida;

- qual o contexto (tempo e lugar) aquando da receção do texto;

- o meio (medium), que é o mesmo no texto de partida e no texto de chegada;

- o motivo da tradução.

(Nord, 1997: 20-3; 2006: 133)

Uma vez determinados todos estes fatores, o tradutor decide, em conjunto com o cliente - e

sempre de acordo com as instruções - qual a melhor abordagem à tradução. Seguindo a dicotomia

word-for-word/ sense-for-sense, que marca fortemente os estudos de tradução, Nord assinala que não

há uma abordagem “melhor” ou “mais apropriada” do que a outra (2006: 142). Baseando-se nos

modelos de House28 (1977) e de Reiß (1978, cf. 1.1.1), a autora distingue:

a) Tradução documental, que ocorre quando existe um “document of a source culture

communication between the author and the ST recipient” que é transposto para uma

cultura/língua de chegada (Nord, 2005: 80-1, apud Munday, 2008: 82). Nord, contrariando um

pouco a ideia base da skopostheorie de Reiß e Vermeer, constata que algumas traduções não

servem necessariamente uma finalidade ou uma intenção (Nord, 1997: 109). Nesses casos, o

tradutor pode optar por uma tradução deste tipo. A tradução documental pode ter várias formas,

com enfoques diferentes em vários aspetos do texto de partida - por exemplo, pode ser uma

tradução word-for-word se o tradutor mantiver aspetos morfológicos, lexicais ou sintáticos

dalíngua de partida; ou gramatical se a tradução for uma reprodução literal das palavras, mas

utilizando estruturas sintáticas e idiomáticas da língua de chegada (1997: 47-9);

b) Tradução instrumental, que é uma “independent message transmitting instrument in a new

communicative action in the target culture, and is intended to fulfil its communicative purpose”;

o seu recetor nunca leu o original, que por sua vez foi criado por uma situação comunicativa

diferente (Nord, 2005: 80-1, apud Munday, 2008: 82).

As instruções e a estratégia tradutiva são delineadas em função de uma análise prospetiva do

texto de partida. Nessa análise, o tradutor e o cliente definem a finalidade do texto de partida e a sua

função comunicativa.

27 As instruções são uma forma de requerer um serviço de tradução, contendo informação detalhada sobre ele. Contudo, no mercado da tradução, estas instruções não costumam ser fornecidas aos tradutores, pelo que são estes que frequentemente têm de contactar o cliente para obterem toda a informação de que necessitam. 28 A tipologia de House (1977) distingue overt translations, traduções claramente orientadas para a língua e cultura de partida; e covert translations, dirigidas para a língua e cultura de chegada (Nord, 1997: 46).

Page 24: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

23

The definition of the goal is (…) crucial for the evaluation of function.

(Nord, 1997: 74)

O tradutor procura estabelecer o propósito comunicativo do texto de partida e depois compara-o

com o propósito do texto de chegada, “identificando e isolando os elementos do texto de partida que

têm de ser preservados e os que têm de ser adaptados” à cultura de chegada (Nord, 1991: 21, apud

Pym, 1993: 185). Depois, o tradutor cria uma nova proposta de informação com base naquilo que

pressupõe serem as expectativas, necessidades e conhecimentos do recetor (Nord, 1997: 35). De facto,

“(…) the translator produces signs for the target audience. In order to be understood, the meaning of

the signs must be known.” (1997: 23)

O modelo de Nord sugere quatro funções comunicativas diferentes, inspiradas em Bühler

(1934).29 O linguista sugeria três funções básicas: referencial, expressiva e apelativa. A estas, Nord

acrescenta a função fática, já introduzida por Jakobson (1960). Destaco aqui o facto de a autora

analisar cada uma destas funções num contexto intercultural:

a) a função fática é fundamental para a comunicação entre línguas e culturas distintas, pois

consiste na adequação de signos verbais e não-verbais a uma situação particular. Na prática, é

esta função textual que permite a existência de um canal de comunicação entre emissor e recetor,

fazendo com que o primeiro transmita uma mensagem ao segundo deuma forma que este consiga

reconhecer. Na tradução - ou em qualquer outra forma de comunicação intercultural em que as

convenções entre cultura de partida e de chegada sejam distintas - o emissor tem de conhecer os

signos convencionais quer de uma cultura de partida, quer de uma cultura de chegada, para

conseguir adequar a mensagem, adaptando-a. Uma outra possibilidade sugerida por Nord é a

introdução de explicações no enunciado; contudo, esta função metafática seria, no fundo,

referencial.30 Esta função é desnecessária quando as culturas de partida e de chegada partilham as

mesmas convenções;

b) a função referencial é aquela que remete os signos linguísticos para os seus referentes do

mundo extralinguístico. Depende, por isso, do conhecimento do mundo real que o emissor

pressupõe que o recetor tenha. A dificuldade, num contexto de tradução, ocorre quando se

pressupõe que o leitor da cultura de partida tem um conhecimento diferente do do leitor da

cultura de chegada. Nestes casos, opta-se pela adaptação textual31; a função referencial pode,

então, surgir sob a forma de explicações e/ou descrições;

29 Aqui, Nord aproxima-se da tipologia textual inicial de Reiß (1978), que também se inspirou no modelo de Bühler (cf. 1.1.1.). 30 Tendo em conta que as explicações podem ser consideradas descrição ou narração de algo que é desconhecido para o recetor da cultura de chegada (cf. Nord, 2006) 31 Este paradigma dá razão a Nord quando considera que um texto não pode ser associado a uma função textual apenas (cf. Nord, 2006 e, neste estudo, cf. 1.1.1).

Page 25: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

24

c) a função expressiva visa transpor para o enunciado “a atitude do emissor relativamente aos

objetos e fenómenos” do mundo extralinguístico” (Nord, 2006: 137) e tanto pode estar presente

no texto implícita como explicitamente (sob a forma de signos linguísticos avaliativos ou

emotivos). Quando os signos linguísticos são implícitos32, o texto remete para o emissor (não

sendo, por isso, translation-oriented como o modelo ideal proposto por Nord); nestes casos,

pressupõe-se que o recetor da cultura de partida e recetor da cultura de chegada têm os mesmos

conhecimentos acerca de determinado referente. Em comunicação intercultural, este

conhecimento pode ser diferente, pelo que o tradutor deve fornecer as devidas explicações33 para

que o recetor da cultura de chegada possa interpretar corretamente a informação ou incluir

comentários em elementos metatextuais;

d) a função apelativa visa levar o recetor a agir em consequênciado enunciado, apelando às

suas necessidades reais ou imaginárias. Isto só é possível com uma abordagem focada norecetor

e, consequentemente, no conhecimento da cultura de chegada. Nord destaca duas formas de levar

o recetor a reagir: o uso de verbos modais epistémicos, do modo imperativo ou de perguntas; e o

uso de signos linguísticos referenciais e expressivos (como adjetivos ou nomes com carga

positiva ou negativa). A tradução permite, uma vez mais, duas abordagens distintas: uma

adaptação do conteúdo para um outro que produza o efeito pretendido no recetor da cultura de

chegada; e elementos metatextuais34, como explicações sobre o conteúdo apelativo.

Os textos têm geralmente mais do que uma função, mas o modelo de Nord deixa claro que

existe uma hierarquia, havendo funções que têm prioridade relativamente a outras. Assim, funções

textuais diferentes requerem estratégias tradutivas diferentes, a definir durante as instruções (Nord,

1997: 45)35.

Além de servir como ponto de partida para a proposta de informação do texto de chegada, é

também a análise ao texto de partida que determina que unidades do texto de partida são relevantes

para uma tradução funcional (Nord, 1997: 62).

O conceito de unidades textuais leva-nos para uma outra fase do estudo de Nord, que consiste

na resolução de problemas em tradução. A sua proposta contrasta com o modelo linguístico de Vinay

e Dalbernet (1958), que consideram a unidade textual o segmento mais pequeno de um enunciado

32 Um exemplo de expressividade implícita é a ironia (cf. Nord, 2006). 33 Há aqui uma diferença entre Nord e, por exemplo, Holz-Mänttäri (1984), que valida uma tradução como escrita livre e independente do texto original. 34 Estas funções metatextuais propostas por Nord não são aplicadas a este estudo, na medida em que os textos jornalísticos (e não apenas aqueles aqui em análise) têm elementos metatextuais muito particulares - profundamente dependentes do medium e até da empresa de comunicação social. Como tal, não abrangem os exemplos dados pela autora, como glossários, comentários explicativos ou notas de rodapé (cf. Nord, 2006: 140). 35 Cf. 1.3.2. para uma proposta de estratégias tradutivas e Capítulo 3 para melhor compreensão da interrelação entre estas noções.

Page 26: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

25

coeso, que não pode ser interpretado em separado.36 Esta conceção permite ao tradutor trabalhar com

bastante precisão a um nível microestrutural, que é aqui considerado importante para a compreensão

global do texto. Ela é, contudo, ineficaz por si só, pois a adequação do texto só poderá ser cumprida

se o tradutor o analisar a um nível macroestrutural. As teorias funcionalistas - menos influenciadas

pelas dimensão gramatical e lexical da língua e mais marcadas pela pragmática - trouxeram, de facto,

essa leitura top-down (isto é, o texto passa a ser analisado a partir de estruturas maiores em direção às

mais pequenas, tornando a palavra o elemento menos prioritário para a tradução funcional) (1997: 68-

9).Todavia, Nord alerta para o facto de muitas destas teorias considerarem a unidade de tradução

como uma estrutura “horizontal”, que segue a sequência cronológica dos elementos linguísticos e lhes

atribui uma importância hierárquica. A autora propõe assim um modelo “vertical”, em que o texto

funciona como uma hiper-unidade, que por sua vez contém diversas unidades funcionais, constituídas

por signos linguísticos ou não-linguísticos, todas elas com um igual nível de importância, e que

podem estar em qualquer nível do texto (Nord, 1997: 68-9).

Transformar as unidades estruturais do texto em unidades funcionais37 permite olhar para o

texto como um todo, fazendo com que todos os seus elementos sirvam um propósito global, ainda que

seja possível ao tradutor trabalhar a níveis mais pequenos. Nas palavras da autora (1997: 72-3):

Untranslatability thereby ceases to be the translator’s nightmare, because an apparently untranslatable rhetorical figure can be rendered by another device serving thesame purpose, and even the omission of an untranslatable or counterproductive element becomes justifiable when the function is guaranteed by other means.

Em suma, o estudo de Nord é pertinente a este trabalhopor várias razões. Em primeiro lugar,

porque contempla a tradução ao nível das estruturas sintáticas e das construções frásicas, ao contrário,

por exemplo, de Nida (1964), cujo modelo de equivalência formal ou dinâmica se centrava no nível

das palavras e das frases mais simples (kernel sentences) (cf. 1.1). Em segundo lugar, porque tem

como prioridade a compreensibilidade e a adequação da tradução ao seu público recetor. E, em

terceiro, porque o modelo de tradução proposto por Nord começa por analisar o texto de partida,

independentemente do grau de liberdade que o tradutor tomará na sua adaptação à cultura de chegada.

Como refere a autora, “what is important, though, is that [the translation model] includes a pragmatic

analysis of the communicative situations involved and that the same model be used for both source

text and translation brief, thus making the results comparable.” (Nord, 1997: 62)

Por estas razões, é o modelo de Nord que é considerado nos Capítulos 3 e 4 desta dissertação.

36 Nas palavras dos autores, a unidade textual é “le plus petit segment de l’énoncé dont la cohésion des signes est telle qu’ils ne doivent pas être traduits séparément.” (1958, apud Nord, 1997: 68). 37 Este é um aspeto particularmente relevante para este estudo e que é seguido em 3.3., quando se analisam as crónicas desportivas por macropartes tendo em conta os seus objetivos informativos.

Page 27: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

26

1.2. O jornalismo

O jornalismo encontra a sua razão de ser em dois conceitos-chave: acontecimento e actualidade. A partir do primeiro, os jornalistas constroem a história; o segundo divide o tempo em períodos idênticos (horas, dias, semanas ou meses) que servem de marco para a difusão de uma série de factos e valores, seleccionados entre todos os que ocorreram entre esses sucessivos intervalos.

(Fontcuberta, 2002: 13)

É possível inferir que os jornalistas escrevem com uma “linguagem própria”, que distingue o

produto jornalístico dos demais. O discurso jornalístico não é, contudo, uma escolha inteiramente

livre, na medida em que os jornalistas são locutores de um tipo de texto que tem como propósito

“fornecer relatos dos acontecimentos julgados significativos e interessantes” (Traquina, 1999: 167) e

“captar o leitor, interessá-lo e mantê-lo interessado” (Fontcuberta, 2002: 73). O acontecimento

jornalístico, um dos eixos básicos da prática jornalística (Fontcuberta, 2002: 15), só o é porque

consiste numa “variação do sistema com o qual os indivíduos integrados nesse sistema se possam

sentir relacionados.” (Fontcuberta, 2002: 17)38. Efetivamente, Schlesinger (1999: 184) entende as

“estórias” como “«rompimentos», sugestivos de descontinuidade”. Desde logo existe uma profunda

relação entre o jornalismo e o tempo39. De forma resumida, um texto jornalístico deve situar um

acontecimento (recente) e fornecer informações relevantes sobre ele.

A problemática da prática jornalística prende-se com a determinação do que é ou não é

relevante. Esta relevância pode estar relacionada com vários fatores (linha editorial, tipo de discurso

pretendido, os critérios de cada subgénero jornalístico, por exemplo), mas depende, sobretudo, de

diversos critérios de noticiabilidade (cf. Fontcuberta, 2002: 14-5). Dentro destes sublinhe-se a

importância da atualidade: dificilmente, para um jornalista, algo que não é atual pode ser notícia. E

aquilo que é atual é “o que acaba de se produzir, saber ou descobrir” (Fontcuberta, 2002: 14-5).

Mais, é o próprio conceito de ‘actualidade’ que constitui o coração e a alma da actividade jornalística.

(Traquina, 1999: 174)

A atualidade é, aliás, o primeiro item de uma lista de “cinco características fundamentais” do

“discurso jornalístico tradicional” apontada por Fontcuberta (2002: 14-5). Os outros são, por esta

ordem, a novidade, a veracidade, a periodicidade e o interesse público, que visacumprir uma

“exigência básica do jornalismo: ser compreensível pelo público a que se dirige” (2002: 73)40.

38 Por variação do sistema entenda-se, “no sentido amplo, a ruptura da norma.” (ibid.) Acrescenta a autora que é o público quem define a norma, na medida em que “cada sociedade, cada comunidade tem conceitos diferentes sobre o acontecer, por isso o conteúdo dos meios de comunicação reflectirá o conceito dominante de notícia” (2002: 17). 39 Traquina (1999: 174) afirma, a este propósito, que “o factor «tempo» constitui o eixo do tempo jornalístico”. 40 Por interesse público entenda-se aquilo que corresponde “às expectativas e necessidades de informação de um público massivo.”(Fontcuberta, 2002: 14) Isto significa que dentro deste critério se inclui um outro, o da proximidade geográfica, tendo em conta que as expectativas de cada público variam de cultura para cultura, de país para país.

Page 28: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

27

Relativamente à novidade, o jornal Público, no seu livro de estilo, define, aliás, “noticiar” como

“anunciar o que é novo” (2005: 17). A periodicidade, por seu turno, está também intimamente ligada

ao “fator tempo”. Schlesinger (1999: 177) refere-se a “conceitos” relacionados com o tempo que

interferem no enquadramento da notícia, como sejam “a cadência, a sequência” ou “a duração”. Para

Fontcuberta, “os factos noticiáveis apresentam-se ao público com um intervalo fixo de tempo” (2002:

14).

Deste modo, os jornalistas trabalham com a pressão do imediatismo: cobrir o mais rapidamente

possível aquilo que acabou de acontecer, dentro do deadline imposto pela redação. E têm de o fazer

de acordo com as expectativas de um público, expectativas essas que variam conforme a sociedade.

Todas estas matérias têm consequências ao nível da tradução de notícias.

1.2.1. Géneros jornalísticos e a pirâmide invertida

Como referido acima, a forma como um jornalista escreve não é inteiramente livre. Na verdade,

a ordem de apresentação dos factos varia consoante o género jornalístico ou a cultura. Na notícia, por

exemplo, a regra utilizada pelos mercados português e britânico aqui em análise é a da “pirâmide

invertida”, isto é, uma técnica utilizada para ordenar os factos por ordem de relevância.

Nas notícias é obrigatório o uso da técnica da pirâmide invertida: a notícia deve correr do maior para o menor grau de interesse; a partir do fim da notícia, é possível cortar os parágrafos sem que o texto perca o seu sentido essencial. Em teoria, se restasse apenas o ‘lead’, ele seria suficiente para ‘aguentar’ a história. (...) Nas reportagens e nas entrevistas a técnica da pirâmide invertida pode ser dispensável.

(Livro de Estilo da Lusa, 2012: 11)

Numa notícia, a ordem não-cronológica faz com que se siga uma estrutura narrativa impessoal

complexa.

While chronological order defines the structure of personal narrative, a completely different force is driving the presentation of the news story. Perceived news value overturns temporal sequence and imposes an order completely at odds with the linear narrative point. It moves backwards and forwards in time, picking out different actions on each cycle.

(Bell, 1991: 153, apud Chovanec, 2014: 250)

O objetivo destes “saltos” temporais é responder a uma série de categorias cognitivas -

Chovanec (2014: 248) lembra as macroestruturas textuais propostas por Labov (1972) para as

narrativas: o resumo, a orientação, o evento central que traz complicações (complicating action), a

avaliação, a resolução e a nota final (coda). Segundo Chovanec (2014: 249), uma notícia não segue

esta estrutura, pois qualquer uma das três partes que a compõem – título, lead e corpo do texto –

podem responder a uma ou várias destas categorias41. Uma das razões para a narrativa de uma notícia

41 Note-se que a noção de narrativa de Labov é uma noção ampla, que não corresponde exatamente à noção que é estudada mais à frente, na linha de Adam (1990, 1996, 1997, 1999) e enquadrada nos estudos linguísticos de relações retóricas (cf. Mann e Thompson (1988), Asher e Lascarides (2003), Silvano (2010).

Page 29: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

28

ser não-linear é o facto de o título e o lead responderem à maioria das questões relevantes sobre

determinado acontecimento (Chovanec, 2014: 249). Tipicamente, em estudos sobre a prática

jornalística, considera-se que a resposta a estas questões está nos topoi da retórica clássica: o quê,

quem, quando, onde, porquê42.

Esta ordenação dos acontecimentos pode variar consoante o género jornalístico. Perante alguma

indefinição em torno da nomenclatura dos géneros jornalísticos, Borrat (1981:98-9) propõe um

sistema alternativo de análise de textos jornalísticos, e que se baseia em três tipos: narrativos,

descritivos e argumentativos. Para os classificar, este autor recorre “aos topoi da retórica clássica (…):

o quê, quando, onde, porquê, como”. O tipo de texto dependerá sempre dos topoi aos quais o autor dá

prioridade: o quê, quem e quando são as respostas predominantemente encontradas num género

narrativo; o quê, quem e onde são característicos do género descritivo; no género argumentativo

destacam-se o porquê e o como. O autor subdivide ainda estas três famílias em quatro subgrupos:

dentro do género narrativo, há os textos narrativos simples - que respondem primordialmente ao quê,

quem e quando - e os narrativos explicativos - que privilegiam o quê, quem, onde.Interessa sobretudo

verificar a divisão do género descritivo em textos descritivos simples e descritivos explicativos.

Estesúltimos combinam os topoi característicos do género descritivo (o quê, quem e onde) e os do

argumentativo (porquê e como).

O estudo de Borrat é interessante, uma vez que permite ao jornalista construir uma estrutura-

base do texto que irá escrever, utilizando aquilo que, em jornalismo, é mais conhecido pelos cinco W:

what, who, when, where, why (o quê, quem, quando, onde, porquê) - e ainda how (como). Além disso,

ele é relevante para este trabalho porque existem subgéneros jornalísticos – como o que é aqui

analisado – que são híbridos do ponto de vista estrutural. Para o jornalista-tradutor ou para o tradutor

de notícias, um estudo deste género é importante para compreender a macroestrutura do texto ao nível

do próprio conteúdo (nível já de dimensão linguística).

1.2.2. A crónica desportiva

Derivada etimologicamente de chronos, palavra da Grécia clássica que se referia ao tempo

sequencial durante a Antiguidade, a crónica é um género jornalístico “difícil de caracterizar”, pelas

“profundas tradições nalgumas sociedades (Fontcuberta, 2002: 81)43. Dela se diz que está entre os

42 Fontcuberta lembra, contudo, que é errado pensar que o lead faz um resumo de todas as questões, sob pena de se tornar demasiado “difícil e confuso de ler”. Segundo a autora, “o lead dá a informação essencial” sobre uma ideia, “mas não a esgota”, dando margem aos parágrafos iniciais do corpo do texto para a completar (Fontcuberta, 2002: 61-2). 43 É por esta razão que Fontcuberta alerta para a dificuldade em identificar géneros jornalísticos, devendo sempre referenciar-se a cultura jornalística em que o texto está integrado. Isto é válido para as duas culturas aqui em análise: tipicamente, a crónica jornalística em Portugal é um texto opinativo (cf. Lopes, 2010); em Inglaterra, não tem um equivalente direto, sendo o género opinativo mais reconhecido o editorial.

Page 30: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

29

géneros jornalístico e literário44, pois é muitas vezes marcada por uma maior subjetividade,45 muito

embora seja um relato de factos (Lopes, 2010: 3). Por estas razões, as definições de crónica divergem.

Enquanto género jornalístico, a crónica sofre as mesmas restrições que os demais: além de se

dirigir a um público-alvo específico, está “sujeita a limitações da ideologia e linha editorial” e à

“economia de espaço” (Lopes, 2010: 3). A estas acrescento também limitações culturais, devido às

quais as crónicas se podem enquadrar mais em géneros de opinião ou, como mais interessa a este

estudo, em géneros informativos (cf. Fontcuberta, 2002: 81). Uma definição possível é a de Martínez

Albertos (1992, apud Fontcuberta, 2002: 82):

Crónica é a narração directa e imediata de uma notícia com alguns elementos valorativos, os quais devem ser sempre secundários em relação ao relato dos factos; procura reflectir o que aconteceu entre duas datas, daí a sua origem etimológica na história da literatura.

O mesmo autor classifica ainda a crónica como um género “híbrido” (apud Lopes, 2010: 6),

que se encontra entre os géneros de informação e os de opinião (apud Mesa, 2006). Para este estudo,

importa sobretudo pensar na crónica como um relato cronológico dos factos, respeitando a sua ordem

de sucessão. Com efeito, a expressão do tempo revela-se como um traço identificador das crónicas

jornalísticas; como diz Vivaldi,46 (1998, apud Lopes, 2010: 8), “o característico da verdadeira crónica

é a valoração do facto ao tempo em que se vai narrando.” Estas palavras mostram a diferença entre

crónicas e notícias: as segundas recorrem à técnica da pirâmide invertida, graças à qual a ordenação

dos elementos não se faz por ordem temporal; as primeiras, nas culturas portuguesa e anglo-saxónica,

não o fazem, optando por uma construção top-down (cf. Chovanec, 2014). Consciente de que estas

definições apontam a crónica em sentido contrário às regras de produção de textos jornalísticos,

Vivaldi relembra, contudo, que sem a vertente informativa, a crónica “deja de ser periodística para

convertirse en puro relato histórico o en artículo valorativo47 (…) (1998: 127-29, apud Muñoz, 2014:

41). Vários autores notam ainda a existência de crónicas temáticas48 (Fontcuberta, 2002: 81-2).

Apresentam-se aqui, por isso, alguns aspetos relacionados com o género crónica (num sentido

amplo e transversal às diversas culturas jornalísticas), fundamentais para este estudo, propondo de

seguida uma nomenclatura para os textos em análise nos corpora:

As crónicas apresentam os factos por ordem cronológica e sequencial dos factos, não se

obedecendo à técnica da pirâmide invertida na totalidade.

As crónicas apresentam elementos valorativos, levando muitos investigadores a

aproximá-la de géneros literários, com maior liberdade de escrita.

44 Um dos que partilham desta opinião é Yanes Mesa (2006). Diz o autor: “Son trabajos periodísticos con elementos propios de la literatura, o, dicho de otra forma, escritos literarios con una función informativa.” 45 Cf. Vivaldi (1998: 127-29). 46 Vivaldi é um dos pioneiros nos estudos dos diversos géneros jornalísticos em Espanha. 47 Neste caso, passaria a ser um género de opinião. 48 O desporto é um dos temas previstos na literatura (cf. Chovanec, 2014, 263-4).

Page 31: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

30

São, então, textos híbridos, temáticos, cuja prioridade é relatar os factos ocorridos durante um

determinado período de tempo, por ordem cronológica - no caso, durante jogos de futebol. É por estas

razões que proponho denominá-los de crónicas desportivas49.

1.3. A tradução jornalística

The task of news translation is one of successfully dealing with […] differences while, at the same time, making it possible that information can successfully circulate across linguistic, cultural and geographical boundaries.

(Bielsa e Bassnett, 2009: 94)

Tendo no ponto anterior apresentado as principais propriedades da escrita jornalística, torna-se

agora necessário discutir o problema da tradução em jornalismo, uma atividade cada vez mais

importante no mundo atual. O mercado da tradução jornalística não será o mais “tradicional” nem o

mais reconhecido e, por essa razão, a investigação neste tipo de tradução é ainda escassa. A oferta

formativa, quer em Portugal, quer a nível internacional, é praticamente inexistente. Este é um aspeto

difícil de compreender, tendo em consideração a importância, ainda que invisível, da tradução de

notícias - até porque quer os meios de comunicação social, quer as instituições de formação de

tradutores, reconhecem essa lacuna (cf. Santos, 2012).

É crucial perceber várias questões, que são discutidas nos parágrafos que se seguem. Em

primeiro lugar, a importância da tradução jornalística, fazendo um enquadramento histórico e atual do

mercado da comunicação social. Em segundo, a aplicabilidade da tradução de notícias e de crónicas

desportivas em particular; e, finalmente, explicar por que razão é fundamental para os tradutores de

notícias50 (e para os jornalistas) terem uma consciência sobre a importância da correção e precisão

linguística em textos jornalísticos.

A notícia - que é a base do discurso jornalístico - é um ato comunicativo fortemente afetado por

dois fatores (Santos, J., 1992, p. 23, apud Santos, D. 2012, p. 20): o feedback (a resposta do público-

alvo)e o ruído (fatores que interferem com a comunicação). Em agências de notícias ou em meios de

comunicação internacionais, o jornalista recebe informação de fontes em todo o mundo, nas mais

diversas línguas.

49 Considero que a especificidade do tema e que as características próprias do jornalismo desportivo me podem fazer ignorar a conceção portuguesa de “crónica jornalística” como género de opinião. Ainda sobre este assunto, importa referir que a crónica jornalística não é reconhecida no mercado britânico. Dentro dos géneros informativos, distinguem-se hardnews- mais factuais - e featurestories (ou soft news) – mais criativas- (cf. McQuail, 2003: 345); os géneros de opinião são normalmente generalizados pelo termoopinion, distinguindo-se as columns e o editorial. Não existe, por isso, uma tradução direta de crónica desportiva em inglês. O termo mais comummente utilizado pelas fontes em análise é match report (o termo sports reports também foi encontrado [cf. Chovanec, 2014: 263; 264]). Contudo, os textos em ambas as línguas reúnem as mesmas características essenciais aqui mencionadas, pelo que julgo que o termo “crónica desportiva” é sempre aplicável. 50 Quando me refiro a tradução de notícias (ou ao tradutor de notícias), faço-o em termos gerais, tendo em conta que a notícia é o tipo de texto jornalístico informativo mais básico. Os princípios aplicados à tradução de notícias propriamente ditas são também aplicáveis aos textos jornalísticos em análise.

Page 32: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

31

São vários os fatores que interferem com a receção de uma notícia pelo seu público. Com

fontes originárias de todo o mundo, as línguas por si só já constituem uma barreira para uma

comunicação global, o jornalista tem também de lidar com diferenças culturais e, sobretudo,

temporais, visto que trabalha sob a intensa pressão de um mercado que requer grande imediatismo.

Além disto, o produto final é também marcado por fatores estilísticos e ideológicos e, no caso dos

jornais em papel, por restrições espaciais (cf. Bielsa e Bassnett, 2009).

A tradução jornalística envolve dar resposta a todos estes fatores e é por isso que o tradutor de

notícias precisa de ser um conhecedor profundo da produção de notícias. É por esta razão que surge

alguma desconfiança nas redações relativamente à figura do tradutor, havendo ainda bastante

resistência à sua incorporação. Veja-se Bielsa e Bassnett (2009: 57):

Translation is thus an important part of journalistic work and is subject to the same requirements of genre and style that govern journalistic production in general. News organizations employ journalists rather than translators because only the former have the specific skills needed for the job: an experience of journalistic work and a precise knowledge of journalistic genres and style. Even if they are not journalists, news translators must work as if they were.

Esta citação vai ao encontro de uma ideia que atravessa esta dissertação: numa empresa

jornalística, além de jornalistas, são necessários tradutores conhecedores do mundo jornalístico.Julgo

que, se os conhecimentos de tradução não permitem por si só a um tradutor trabalhar com textos

jornalísticos, também um jornalista não consegue ser tradutor sem ter formação em tradução. Essa é,

aliás, uma lacuna reconhecida pelos próprios meios de comunicação e/ou pelas agências de notícias

(cf. Bielsa e Bassnett, 2009; Santos, 2012). Jornalismo e tradução são, por isso, atividades

intrinsecamente relacionadas no mundo global em que vivemos.

1.3.1. Breve enquadramento histórico da tradução jornalística: as agências de notícias e a

globalização

Tratando-se de uma forma de comunicação entre culturas e línguas através da comunicação

social, a tradução jornalística surge a partir do momento em que as primeiras agências de notícias

procuraram difundir informação a uma escala transnacional. Seguindo de perto os estudos pertinentes

de Conway e Bassnett (2006) e de Bielsa e Bassnett (2009), os próximos parágrafos enquadram a

tradução jornalística, atividade de pouco destaque mas de suma importância, num mercado crucial

para o mundo da informação.

Sempre “invisível”, este tipo de tradução assumiu, na verdade, grande importância desde os

primórdios da globalização. Ainda em pleno século XIX, a rede telegráfica permitia um contacto

instantâneo entre pontos geográficos distintos. A sua expansão à escala global foi rápida e

eficazmente aproveitada pelas agências de notícias, que assim tinham acesso a informação relevante

oriunda de outros povos. Foi, aliás, nestas circunstâncias que se formou a Reuters, em 1859, ainda

Page 33: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

32

hoje uma das principais agências noticiosas internacionais. As agências foram pioneiras na

comunicação interlinguística, que muito contribuiu para o mundo globalizado de hoje51 e têm, aliás,

sido fulcrais para o avanço das novas tecnologias de informação. Tal deve-se, primeiramente, à

ambição comum de aceder, o mais rapidamente possível, ao maior número de pessoas, difundindo

assim informação considerada de interesse público.

Avançando mais de uma centena de anos - com as duas grandes guerras pelo meio, em que as

agências noticiosas também desempenharam um importante papel (cf. Boyd-Barrett e Rantanen,

1998) -, a segunda metade do século XX traz as novas tecnologias de informação - como a

comunicação por satélite ou, anos mais tarde, o computador. Também estas foram rapidamente

aproveitadas pelas mais diversas agências existentes, que, assim, acabaram por contribuir para a

sociedade globalizada em que vivemos ao “levar” a informação até junto dos mais diversos públicos.

Tal só é possível graças à sua capacidade de se “desmembrar” e de se “multiplicar” em várias línguas,

não obstante a existência de uma lingua franca, o inglês.

O início do novo milénio marca o proliferar da internet e de uma abordagem completamente

nova à comunicação e à informação. Caracterizada por um acesso total, global e imediato a qualquer

tipo de informação, a internet criou novos meios e novas exigências. Inovaram-se os meios de

comunicação já existentes: além de trabalharem com novos formatos, marcados pela interatividade

com outros meios online ou com os próprios recetores, os órgãos de comunicação social tiveram de se

adaptar a novos prazos e a ritmos cada vez mais elevados de trabalho, passando a ser “obrigatória” a

publicação de notícias apenas momentos após os acontecimentos. Por outro lado, o fácil acesso à

informação tornou também inevitável um aumento de notícias internacionais, que, em muitos casos,

têm de ser traduzidas/readaptadas para a cultura de chegada. Subitamente, todos podem difundir

informação, havendo muito mais material noticioso passível de ser traduzido em inúmeras

plataformas. De facto, “the internet not only facilitates customization through a number of news

services ‘à la carte’, but also the circulation and general availability of news in a growing number of

languages, and news agencies increasingly spend time translating for their internet services.” (Bielsa e

Bassnett, 2009: 96)

Dentro deste novo enquadramento, também as agências de notícias alteraram o seu

funcionamento, passando a publicar produtos acabados [notícias]52, em vez de apenas fornecerem

matéria-prima [informação] aos mais diversos meios.De facto, ao constituir o núcleo da difusão

51 Veja-se Boyd-Barrett e Rantanen (1998:32): “All major agencies have been in the forefront, sometimes pioneers, of new communication technologies. This was true of the early days of the cable, when Reuters, among others, as active in laying the cable. Then came radio, later largely displaced by telephonic cable, itself largely displaced by satellite communications and computer. (…) Today the agencies are complex multi-media organizations principally using satellite for delivery and print, audio and television news and online news services.” 52 Algumas agências permitem, inclusivamente, que as suas notícias, agora acessíveis a qualquer leitor, sejam copiadas na íntegra e republicadas (cf. Bielsa e Bassnett, 2009: 96).

Page 34: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

33

mundial da informação, há nas agências noticiosas uma diversidade de línguas e de culturas em

constante “colisão”. Assim, para que estas instituições mantenham uma capacidade sem paralelo de

difundir a informação pelos mais variados meios de comunicação, é absolutamente essencial a

tradução jornalística - atividade essa que, para cumprir a sua função, tem obrigatoriamente de

produzir conteúdo adequado a cada cultura de chegada53.

Perante esta realidade, Bielsa e Bassnett concebem as agências de notícias como vastas

agências de tradução. Nas palavras dos autores: “(...) translation is of the utmost importance in the

news agencies and (...) it is inseparable from other journalistic practices that intervene in the

production of news.” (2009: 56) De facto, a tradução jornalística tem hoje uma crescente importância:

se a globalização levou à generalização do inglês como lingua franca, os povos também procuraram

reforçar a suas identidade; com isso, surgem idiomas emergentes e cresce a necessidade de tradução

em determinadas culturas54 (Santos, 2012: 27-8).

Assim sendo, só se pode explicar a ausência de reconhecimento do mercado da tradução

jornalística por ser, sobretudo, um trabalho interno às agências. Assim, as agências internacionais

criaram o cargo de “editores” (ou “jornalistas-tradutores”), cuja responsabilidade é supervisionar a

passagem das notícias para os diversos mercados em que a agência opera, mas não reconhecem a

profissão do tradutor na redação.55 Muito embora o trabalho de tradução nas agências e demais órgãos

de comunicação seja valorizado, ele é feito por profissionais da comunicação social e não por

tradutores (Bielsa e Bassnett, 2009: 57, 81). A parte mais substancial da atividade de tradução

jornalística é, efetivamente, feita internamente, nas grandes agências internacionais.

No entanto, há também cada vez mais situações externas (às agências) que tornam a tradução

de notícias necessária. As notícias de agência, tipicamente, não são de acesso livre ao público em

geral. Deste modo, muitas das notícias que o público lê, pensando que são originais, num determinado

órgão de comunicação ou páginas pessoais (como blogues) são, na verdade, traduções.

Além disto, o desenvolvimento de plataformas online levou à criação de um outro modelo de

mass media, os meios exclusivamente online com produção noticiosa própria, a operar para diversos

mercados em variadas línguas. Pensando já no universo informativo que se aplica aos corpora deste

estudo, refira-se, por exemplo, o caso do Goal.com, o maior sítio online de futebol do mundo, que

conta com mais de 500 jornalistas em mais de cinquenta países.56Tal como nas agências, também a

53 Considero pertinente fornecer alguns dados que permitem perceber a escala a que operam as maiores agências internacionais: a AFP, por exemplo, está representada em 165 países, com filiais em 110; a Reuters publica mais de oito milhões de palavras diariamente, em seis línguas distintas, fruto de uma rede de 2.400 jornalistas a operar em cerca de 130 países (Bielsa e Bassnett, 2009: 47-48). 54 Atente-se, por exemplo, ao crescimento do mercado asiático. 55 Diversas agências têm redações em vários países e produzem conteúdo adequado a cada mercado. 56 Dados recolhidos no próprio website do Goal.com. Em Portugal, houve também o exemplo do zerozero.pt, que já operou em oito mercados - Portugal, Reino Unido, França, Espanha, Itália, Alemanha, Brasil e ainda um mercado internacional -, mas que à data da redação destadissertação apenas produzia conteúdo noticioso próprio para os mercados português e brasileiro.

Page 35: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

34

tradução interna de notícias neste tipo de empresas é uma atividade fundamental para o seu

funcionamento.

Contudo, a tradução jornalística não faz apenas sentido em agências de notícias e meios de

comunicação social. À internet devem-se igualmente ferramentas gratuitas que permitem a divulgação

da informação em larga escala, como os blogues ou as redes sociais (que permitem uma certa

personalização da audiência). Os blogues, que surgiram no início do novo milénio, são uma

plataforma de difusão de informação com importância crescente e nos quais, muitas vezes, se

“reciclam” os produtos jornalísticos. Os blogues são páginas individuais e autênticas, sem barreiras de

entrada (Gillmor, 2004: 47). Ainda hoje em expansão, os blogues alteraram as expectativas dos

leitores relativamente aos meios de comunicação social, na medida em que os jornalistas profissionais

têm de se distinguir dos cidadãos amadores que também publicam informação. As redes sociais, por

seu turno, fizeram com que o público se habituasse a receber a informação de forma (ainda mais)

imediata. Muitos órgãos de comunicação têm blogues temáticos associados à página oficial (é o caso,

em Portugal, do Jornal de Notícias) e quase todos aderiram às redes sociais, onde podem chegar a

uma larga audiência sem custos (cf. Santos, 2012).

Os blogues e as redes sociais contribuíram largamente para o fim da noção de hora de fecho das

redações: o fluxo de informação deve ser constante e o público quer receber a informação sobre o

acontecimento de imediato - ou, em alguns casos, ainda durante o acontecimento. Este

desenvolvimento tecnológico, diz Miren Gutiérrez, chefe de redação do Inter Press Service, “has

changed the media, contributing to an extraordinary growth of the flow of information, not only from

the media organisations towards the audience, but also from the audience towards itself.” (Gutiérrez,

2006: 29) A audiência a que se refere a jornalista, e que se sabe ser global, só pode, então, comunicar

entre si se quebrar barreiras linguísticas. Gutiérrez (2006: 30) explica ainda por que razão a tradução

jornalística assume tanta importância no mundo atual:

Language, in the absence of translation, comprises a barrier to a worldwide community of debate and opinion. Thus translation has become key to achieving international impact and reach in media organisations, both mainstream and new.

É, então, partindo desta relação inquebrável entre tradução e língua, que nos próximos pontos

procuro demonstrar a importância da obtenção de elevados padrões de correção linguística como

ponto de partida para se saber ser, efetivamente, um tradutor jornalístico.

1.3.2. Características da tradução jornalística: técnicas tradutivas

Como se percebeu nos pontos anteriores, a (re)produção de notícias é algo que requer

conhecimentos jornalísticos específicos. No entanto, o mesmo se passa com a tradução. O papel do

tradutor de notícias não difere, aliás, do do jornalista que as produz (Bielsa e Bassnett, 2009: 65). Na

verdade, a tradução e a produção de notícias partilham entre si os mesmos requerimentos a nível de

Page 36: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

35

género, de estilo, de restrições culturais, temporais, linguísticas, entre outras. Além disso, e como bem

lembram estes autores (2009: 63), o tradutor, tal como o jornalista, tem de ser versátil e capaz de

escrever sobre todos os temas.

Uma notícia traduzida é, sobretudo, uma reescrita que visa adaptar-se a um novo contexto, de

acordo com as regras e os critérios (estilísticos, espaciais, ideológicos, entre outros) do meio de

comunicação em questão (Bielsa e Bassnett, 2009: 63). Assim, “news translation entails a

considerable amount of transformation of the source text which results in the significantly different

content of the target text.” (Bielsa e Bassnett, 2009: 63) Não sendo uma liberdade total, esta maior

liberdade de transformação do texto de partida é, talvez, aquilo que mais distingue uma tradução

jornalística de outros tipos de tradução. De facto, segundo García Suarez (2005), citado por Bielsa e

Bassnett (Bielsa e Bassnett, 2009: 63), o tradutor jornalístico pode, em função do contexto e das

expectativas do público-alvo, operar alterações de significado relativamente ao texto original, se tal

implicar uma melhor compreensão e se não alterar a veracidade dos factos.

Perante esta necessidade de adequar - e de transformar - a notícia, existem várias estratégias de

que o jornalista-tradutor deve ter conhecimento. Gambier (2006: 14) propõe as seguintes:

i)reorganização, que envolve a alteração da ordem dos enunciados, dando um novo ângulo à notícia; ii) eliminação e adição, consoante for necessário omitir ou acrescentar dados; iii) substituição, que inclui diversos mecanismos, como a sumarização ou a diferenciação do enfoque.

A estas, Bani (2006: 42) acrescenta a generalização como forma de tornar o texto aceitável a

um público mais alargado (cf. Santos, 2012: 29-30). Todas estas estratégias requerem do jornalista-

tradutor um grande conhecimento da cultura de chegada e das expectativas do público recetor.

Géneros jornalísticos diferentes requerem estratégias de tradução diferentes. Bielsa e Bassnett

(2009: 68) defendem que uma notícia - em que há uma descrição factual de acontecimentos - dá maior

manobra ao tradutor para alterar o texto. Tal deve-se à necessidade de adaptar o texto às expectativas

do recetor, por um lado; e ao facto de os textos não refletirem o estilo do autor original, por outro. Por

seu turno, uma reportagem envolve uma maior seleção e uma interpretação da informação por parte

do jornalista. Já um artigo de opinião, em que o autor pode ou não ser jornalista, aproxima-se mais

dos géneros literários, com maior preponderância para o estilo do autor e menos margem para

alterações para o tradutor.

No entanto, antes de todos estes processos tradutivos, defende-se aqui que é sempre necessário

analisar o texto de partida e interpretá-lo. Para isso, existem também fatores linguísticos

determinantes. Santos (2012: 23-4) lista os seguintes: múltiplos significados de palavras, registos de

língua, diferenças regionais, questões históricas, expressões idiomáticas, provérbios, false friends,

acrónimos e siglas.

Page 37: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

36

Assim, é preciso conhecimento da língua de partida para compreender o texto e da língua de

chegada para se produzir uma notícia adequada à cultura de chegada. Nesse sentido, parecem faltar a

esta lista elementos gramaticais da língua; esse conhecimento, que, no caso dos sujeitos falantes de

uma dada língua natural, é interiorizado e intuitivo, e no caso de um tradutor (de notícias ou não) deve

ser consciente e aprofundado, quer na língua de partida quer na língua de chegada, sob pena de serem

cometidas imprecisões que prejudicam a compreensão do texto por parte do recetor.

Por essa razão, as estratégias tradutivas de Gambier (2006:41) podem aplicar-se também a

questões gramaticais e linguísticas, geralmente ignoradas em tradução jornalística, embora não

tenham sido propostas nesse sentido pelo autor.57 Por ter sido um dos poucos investigadores que

propôs uma grelha de técnicas tradutivas para tradução jornalística, no modelo tradutivo refiro-me à

proposta de Gambier (2006:41), mas com uma aplicação ao nível intralinguístico e gramatical, de

acordo com a explicação acima.

1.4. Conclusões do capítulo

A tradução enquanto área multidisciplinar é recente e cresceu com o florescimento das teorias

funcionalistas nos anos 70, que privilegiam a equivalência e a adequação do texto à cultura de

chegada. Duas das grandes teorias funcionalistas da tradução pertencem a Reiß e Vermeer (1987) – a

skopostheorie -, que retira importância ao texto de partida; e a Nord (1997; 2006), que tem em

atenção a importância da cultura de chegada, mas também da cultura de partida, ao contemplar as

várias funções da linguagem (que podem diferir nas duas culturas), e ao não ignorar que existe sempre

uma função dominante. Por estas razões, e ainda por valorizar alguns aspetos linguísticos da tradução,

julgo ser a teoria de Nord a que mais se adequa ao estudo feito nesta dissertação, conforme

explicitado em 1.1.

No ponto seguinte deste capítulo abordaram-se questões relevantes para o discurso jornalístico,

destacando a relação da atividade jornalística com o tempo e com o conceito de atualidade.

Efetivamente, autores como Traquina (1999) ou Fontcuberta (2002) não deixam de considerar a

atualidade como o mais importante critério de noticiabilidade. Sobre a notícia, estes e outros autores

(Chovanec, 2014) relembram a estrutura da pirâmide invertida, base para a construção de notícias nos

mercados aqui em análise, e que consiste na apresentação dos factos por ordem de importância.

Todos estes dados são fundamentais para conseguir classificar as crónicas desportivas,

nomenclatura que se prende, sobretudo, pelo facto de se tratar de um género que apresenta a maioria

dos factos por ordem cronológica. Faz-se também referência a um interessante estudo de Borrat

(1981), que propõe dividir os textos jornalísticos segundo os géneros narrativo, descritivo e

57 A substituição pode envolver, por exemplo, a recategorização da classe de palavras; pode surgir também devido a expressões idiomáticas. No caso particular das crónicas desportivas ou de quaisquer textos jornalísticos temáticos, há ainda a considerar questões terminológicas (cf. Capítulo 4).

Page 38: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

37

argumentativo, com base na resposta que os mesmos textos dão aos topoi da retórica clássica, e que é

importante para perceber a construção destes textos (cf. Capítulo 3).

Finalmente, este capítulo procurou fornecer um enquadramento sobre a crescente importância

da tradução no meio jornalístico. Neste ponto procurou explicar-se que o tradutor de notícias lida com

textos e realidades muito diferentes das que encontra, por exemplo, um tradutor técnico. O mercado

da tradução jornalística começou em agências de notícias internacionais mas ainda hoje se expande

devido à globalização e aos novos meios de comunicação, tornando relevante um aumento de

formação na área.

Na parca literatura existente sobre o tema, percebe-se alguma resistência das redações em

reconhecer a função do tradutor: a maioria dos tradutores de notícias em agências são os próprios

jornalistas, na medida em que se considera um requisito fundamental a formação em jornalismo e o

conhecimento profundo sobre texto jornalístico. Um jornalista, contudo, é um especialista numa dada

cultura; o tradutor é um mediador de culturas. Aceitando-se a especificidade do trabalho de tradução

jornalística e a necessidade de o tradutor de notícias estar entre “dois mundos”, defende-se aqui que o

objetivo de uma boa tradução de uma notícia é a sua compreensibilidade dentro de um novo mercado.

Para o efeito, salientaram-se as estratégias tradutivas delineadas por Gambier (2006: 14):

substituição, eliminação, adição e reorganização. Enumeraram-se ainda alguns elementos linguísticos

que interferem na tradução de notícias (por exemplo, as expressões idiomáticas). O objetivo de

quaisquer estratégias é obter um texto claro e conciso, com fluência no discurso (cf. Bielsa e Bassnett,

2009: 88). E esta é impossível sem correção linguística, que por sua vez não se pode obter sem

conhecimento de certas questões gramaticais que influem na compreensibilidade de qualquer texto.

Estas questões parecem, por ora, ignoradas pela literatura. É, então, objetivo do próximo capítulo

clarificar e consciencializar o jornalista-tradutor para dois fenómenos linguísticos de forte influência

para essa compreensibilidade: o tempo linguístico e o aspeto.

Page 39: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

38

Capítulo 2.A expressão de temporalidade

No capítulo anterior, dedicado a aspetos teóricos sobre tradução - e, em particular, à tradução

jornalística -, defende-se que a tradução, atividade complexa e multidisciplinar, deve não só respeitar

a cultura de chegada como respeitar critérios exigentes de correção linguística.

Dada a multidimensionalidade e complexidade dos aspetos linguísticos e gramaticais, este

capítulo foca-se num tema de interesse gramatical e textual por excelência, que em muito influencia a

compreensibilidade de um texto: a expressão da temporalidade e, em particular, os tempos verbais.

2.1. O tempo linguístico

Neste capítulo, apresentam-se alguns aspetos relevantes sobre tempo linguístico e sobre as suas

relações no discurso, de forma a constituir um enquadramento teórico que permita descrever e

eventualmente explicar como utilizamos a linguagem para exprimir tais relações. Primeiramente,

tentar-se-á, de forma breve, fornecer uma noção do tempo, para que se possam compreender os

mecanismos linguísticos que permitem expressá-lo.

A classe de palavras que mais naturalmente carreia informação de tempo é a dos tempos

verbais. Eles são, por isso, o ponto fulcral desta análise, pelo que estarão aqui expostas algumas

conceções de vários estudiosos do tempo linguístico, nomeadamente Reichenbach (1947) e Kamp e

Reyle (1993). Faz-se igualmente referência a autores como Comrie (1985) e Declerck (1990).

2.1.1. Das noções de tempo

C’est par la langue qui se manifeste l’expérience humaine du temps. (Benveniste, 1974: 73)

Para que se cumpra o objetivo deste estudo, é necessário compreender os fundamentos por

detrás da expressão linguística do tempo. Dimensão já estudada em outros âmbitos, a perceção da

passagem do tempo é uma realidade para a maior parte das línguas do mundo. Já Comrie defendia que

“todas as culturas reconhecem uma noção de tempo” e que todos os seres humanos têm uma conceção

linear do tempo.

If one had no concept of time, then one would find just as natural a development where humans first appeared as dead, then came to life as old people, then gradually younger and eventually disappeared into their mother’s womb. (…) Needless to say, no human culture is known to have such conceptualisation of time.

(Comrie, 1985:3-4)

São, então, as línguas naturais que permitem que a localização das situações no eixo do tempo

cronológico seja expressa por vários meios linguísticos.

Page 40: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

39

Assim, em enunciados que remetem diretamente para uma divisão do tempo em três eixos

temporais - passado, presente e futuro -, a partir do momento da enunciação58 - o agora - falamos de

uma dimensão deítica59. Neste sentido, o tempo linguístico é dinâmico, contínuo e unidirecional,

movendo-se para a direita numa linha temporal em que o presente60 separa o passado do futuro

(Silvano, 2010: 92). Por ser irreversível - obedecendo ao curso do passado para o futuro - é marcado

por uma relação de precedência entre instantes localizados num dado momento na linha temporal, em

que “cada instante61 precede ou segue os outros” (Oliveira, 1996: 363).

Passado Presente Futuro

Figura 2. Representação da linha temporal

Contudo, esta conceção deítica não explica todas as relações temporais existentes nas línguas

naturais (cf. Oliveira, 1996; 2003: 128-129).De facto, o tempo no discurso tambémpode ser anafórico,

“na medida em que um tempo (gramatical) num discurso pode referir-se a um mesmo tempo (...) que

o precedente.” (Oliveira, 1996: 365)

Existem, então, nas línguas naturais, diversas formas que permitem a expressão de

temporalidade, seja ela deítica ou anafórica. Duas das principais são os tempos verbais e expressões

adverbiais de valor temporal (Comrie, 1985). Destes, aqueles que mais naturalmente carreiam

informação temporal são os tempos verbais.62 Importa, então, passar ao estudo de algumas das teorias

mais relevantes sobre tempos verbais e os conceitos fundamentais nelas contidos.

58 A este propósito, cf. Oliveira (1996, 2003, 2013) e Fonseca (1992). 59 Sobre deixis temporal, diz Fillmore (1971:44): “(…) the main purpose of the proximal deictic time category is that of identifying a particular time as coinciding with, being close to, or being contained in the same larger time unit as, the moment of speech, or the coding time.” 60 A ideia de movimento do momento presente está também presente em Comrie (1985: 3): “(...) there is motion of the present moment relative to the time line, i.e., what is now the present moment is a time point subsequent to what was the present moment five minutes ago.” 61 Note-se que os instantes, enquanto pontos isolados numa linha temporal, não explicam situações que se prolongam no tempo (cf. 2.2.). Por isso, Fillmore (1971) distingue instante e intervalo de tempo. Para este autor, as situações são variáveis no que diz respeito à sua extensão temporal, isto é, nem todas as situações se podem localizar num instante de tempo, na medida em que algumas se prolongam durante um período de tempo (intervalo). Diz o autor: “We recognize time periods and time points” (Fillmore, 1971: 30). Cf. ainda Oliveira (1996: 364): “a concepção de instantes (ou momentos) de tempo não parece adequada ao tratamento de acontecimentos ou situações que apresentam duração (‘estar a comer uma maçã’) ou então casos de dois acontecimentos que ocorrem total ou parcialmente ao mesmo tempo (‘comer uma maçã enquanto escreve uma carta’). Surge assim a ideia de intervalo de tempo (...)”. 62 Já Aristóteles, na sua obra De Interpretatione, propusera uma definição para “verbo”, associando-o à noção de tempo e de momento da enunciação. Nas palavras do pensador grego, citado e traduzido por Edghill (2005: 3): “A verb is that which, in addition to its proper meaning, carries with it the notion of time. No part of it has any independent meaning, and it is a sign of something said of something else. I will explain what I mean by saying that it carries with it the notion of time. ‘Health’ is a noun, but ‘is healthy’ is a verb; for besides its proper meaning it indicates the present existence of the state in question (…) Similarly ‘he was healthy’, ‘he

Page 41: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

40

2.1.2. Dos tempos verbais: conceitos e teorias fundamentais

Neste subcapítulo estudar-se-ão diversas teorias relacionadas com tempos verbais. Pela

importância que assumiu como ponto de partida para estudos posteriores, a primeira teoria a que farei

referência é a de Reichenbach (1947). A tipologia estudada por este autor foi posteriormente

desenvolvida por Kamp e Reyle (1993) na sua Teoria da Representação Discursiva, também aqui

abordada.

É objetivo desta parte do estudo destacar algumas relações temporais possíveis nas línguas

naturais, que serão posteriormente aplicadas aos corpora.

2.1.2.1. A noção de ponto de referência - Reichenbach (1947)

Relativamente aos tempos verbais, Reichenbach (1947) considera que a referência ao passado,

presente e futuro como pontos únicos na linha temporal não explica todas as relações temporais

possíveis. Propõe, assim, a introdução de três pontos dispostos na linha temporalque não esses três

eixos. São eles o ponto da enunciação (S), o ponto do evento (E) e o ponto de referência (R).

Com esta tipologia, Reichenbach não só estabelece várias relações temporais como também faz

a distinção entre tempos absolutos63 e tempos relativos. Além disso, o autor, através da combinação

dos eixos temporais de passado, presente e futuro com os três pontos da linha temporal (S, E e R),

explica a utilização dos tempos gramaticais do inglês, consoante a relação entre eles for de

anterioridade, simultaneidade ou posterioridade. Assim, “o ponto de referência pode preceder, seguir

ou coincidir com o ponto da enunciação, assim como o ponto do evento pode preceder, seguir ou

coincidir com o ponto de referência” (Silvano, 2002: 9).Nos tempos absolutos, o ponto da enunciação

(S) e o ponto de referência (R) coincidem. Os tempos relativos definem-se consoante a relação

temporal entre os três pontos (enunciação, evento e referência). Veja-se:

(1) I did not know that you would be here. (Reichenbach, 1947: 293)

(2) He was healthier when I saw him than he is now. (Reichenbach, 1947: 295)

Assim, em (1), o ponto de referência é o mesmo para as duas orações: na primeira oração,

coincide com E1, sendo ambos anteriores a S; na segunda, R é anterior a S, que coincide com E2. Já

will be healthy’, are not verbs, but tenses of a verb; the difference lies in the fact that the verb indicates present time, while the tenses of the verb indicate those times which lie outside the present.” Na mesma obra, é ainda possível verificar que Aristóteles concebe o verbo como núcleo da frase, na medida em que forma uma predicação: “Such expressions as ‘is not-healthy’, ‘is not, ill’, I do not describe as verbs; for though they carry the additional note of time, and always form a predicate.” 63 Comrie (1985: 36) salienta o caráter “enganador” do termo “tempo absoluto”, uma vez que o tempo linguístico é sempre uma categoria relacional. Ainda assim, o autor mantém esta nomenclatura, destacando que o tempo absoluto “should be interpreted to mean a tense which includes as part of its meaning the present moment as deictic centre”, ao passo que o tempo relativo é aquele que “does not include as part of its meaning the present moment as deictic centre”.

Page 42: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

41

em (2), os pontos de referência das orações não coincidem. Nas palavras de Reichenbach, o ponto de

referência funciona como “carrier of the time position” (1947: 295). Deste modo, se nas primeiras

duas orações, R1 e R2 coincidem com E1 e E2, sendo ambos anteriores a S, na terceira oração, R3

coincide com E3 e com S (Silvano, 2010: 146).

A teoria de Reichenbach (1947) é fundamental, pois abre a porta ao estudo da sequencialidade

temporal no discurso, na medida em que considera que a localização temporal das situações descritas

não só se faz a partir do ponto da enunciação (dimensão deítica), como também a partir de um outro

ponto no texto expresso anteriormente (dimensão anafórica).Contudo, foi sendo melhorada por

diversos investigadores ao longo do século XX, não tendo deixado de receber algumas críticas.

A crítica que mais interessa a este estudo prende-se com a noção de ponto de referência. Alguns

autores, nomeadamente Kamp e Reyle, defendem que a conceção de ponto de referência para tempos

deíticos não é necessária, pois esta é uma noção anafórica (cf. Kamp e Reyle, 1993). Estes autores

argumentam ainda que o conceito de ponto de referência é ambíguo, na medida em que Reichenbach

considera o ponto de referência como um ponto isolado na linha temporal, surgindo associado quer ao

ponto do evento quer ao ponto da enunciação. Assim, estes dois autores propõem, na Teoria da

Representação Discursiva - que aqui se apresenta de seguida -, uma cisão deste conceito.

2.1.2.2. Teoria da Representação Discursiva - Kamp e Reyle (1993)

A Teoria da Representação Discursiva (DRS64 ) de Kamp e Reyle (1993) surge como forma de

resolver aquilo que os autores consideravam um problema para a devida compreensão dos tempos

verbais no discurso: “the static perspective behind modeltheoretic semantics, which tries to give an

exhaustive characterization of the meaning of a linguistic expression in terms of the referential

relations that it bears to the subject matter that it is used to speak about, ignores a dimension of

linguistic meaning that is crucial both to the analysis of aspectual matters and to questions of

anaphora” (Kamp e Reyle, 1993: 1). Os autores optaram, então, por criar um modelo mais complexo

que procura encontrar o verdadeiro significado linguístico dos tempos verbais “as subject-related on

the one hand, and as bound up with the interpretation of language on the other” (Kamp e Reyle, 1993:

1).

A DRS destaca, sobretudo, três aspetos: em primeiro lugar, e como já referido, Kamp e Reyle

dividem o conceito de Reichenbach de ponto de referência; em segundo, esta é uma teoria de caráter

discursivo, isto é, defende a importância da interação dos tempos verbais com o contexto65 para uma

completa interpretação das situações; e em terceiro, os autores propõemuma forte interrelação entre os

64 Discourse Representation Structures no original. 65 Já Comrie (1985) (cf. 1.2.3.) tinha definido o contexto como grandeza fundamental na interpretação dos tempos verbais.

Page 43: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

42

tempos verbais e a informação aspetual, nomeadamente o facto de as situações serem eventivas ou

estativas ([+ STAT] ou [- STAT] (1993: 513).66

Os autores sugerem que é possível expressar relações temporais sem apontar para o eixo

temporal propriamente dito.67 Significa isso que a referência temporal é, muitas vezes, anafórica, uma

vez que os tempos verbais interagem com os contextos em que surgem (1993: 494-5). Os autores são,

aliás, claros em considerar que “typically the reference time is given by the context.” (1993: 523) No

entanto, e perante a dupla interpretação de Reichenbach (1947) do conceito de ponto de referência,

Kamp e Reyle procuraram desdobrá-lo em duas noções distintas: o ponto de referência (Rpt) e o ponto

de perspetiva temporal (TPpt). O primeiro remete para a referência temporal “que explica a

progressão narrativa”. O segundo remete para o ponto a partir do qual se faz a localização temporal68

(1993: 594-595).

Relativamente ao ponto de perspetiva temporal, há duas relações possíveis. O ponto de

perspetiva temporal e o período durante o qual a situação decorre podem ter uma relação de

anterioridade, simultaneidade ou posterioridade. Por outro lado, quando o ponto de perspetiva

temporal se relaciona com o momento da enunciação, Kamp e Reyle preveem uma dicotomia de

valores [+ passado] e [- passado] (1993: 597; cf. ainda Silva, 2005: 157 e Silvano, 2002: 45). Os

seguintes exemplos poderão explicar as diferenças entre ambos:

(3) O jogador recebeu a bola (S1), rematou (S2) e marcou golo (S3).

(4) O jogador marcou um golo (S1). Antes de o concretizar, tinha recebido um passe (S2),

dominado a bola (S3) e rematado para a baliza (S4).

No exemplo (3) é a partir do momento da enunciação que as três situações (daí a nomenclatura

S) são perspetivadas. Significa isto que o momento da enunciação corresponde ao ponto de perspetiva

temporal, exprimindo as três uma relação de anterioridade. Além disso, esta frase permite-nos

perceber uma progressão no eixo temporal: primeiro o jogador recebeu a bola, depois rematou e

finalmente marcou golo, i.e., o ponto de referência de S2 é o período de tempo em que ocorreu S1,

sendo S2 posterior a S1; por sua vez, S3 é posterior ao seu ponto de referência, que é o período de

tempo em que ocorreu S2.

O exemplo (4) apresenta algumas diferenças, embora se denote igualmente progressão

narrativa69. Se relativamente a S1 o ponto de perspetiva temporal é também o momento da

66 Sobre a distinção entre eventos e estados, cf. 2.2, sobre Aspeto; e ainda Moens (1987). 67 Os autores usam a expressão “reference to times”, que aqui se entende como referência temporal no sentido deítico. 68 Nas palavras dos autores, o TPpt “is meant to reflect our intuition that the intermediate time which Reichenbach recognizes as essential to interpretation of past perfect is the time from which the described eventuality is seen as past” (Kamp e Reyle, 1993: 595). 69 Para mais sobre este tipo de construção, cf. 2.3 sobre relações retóricas.

Page 44: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

43

enunciação, o mesmo não se passa nas situações seguintes. Há uma relação temporal anafórica de

anterioridade, em que S2, S3 e S4 são perspetivadas a partir do período de tempo durante o qual

ocorreu S1. Pode, por isso, interpretar-se a frase como localizando S2 anteriormente a S1, S3

posteriormente a S2 e S4 posteriormente a S3. Todas estas situações são anteriores a S1.

Verificamos, deste modo, que o ponto de referência é fundamental quando há casos de

sequências narrativas, em que se denota a progressão temporal das situações. Sobre esta matéria, diz

Silva (2005: 160): “O ponto de referência corresponde a uma coordenada que, desempenhando um

papel central na localização temporal de uma situação relativamente a outra, explica a progressão

temporal, com base na localização relativa entre dois estados de coisas.”

Aqui entra o terceiro ponto em destaque da teoria de Kamp e Reyle (1993): a interrelação do

Tempo com o Aspeto. Como se referiu acima, a interpretação temporal de uma situação é

influenciada pela possibilidade de esta ser um evento ou um estado. Uma vez que estas duas noções

serão estudadas com mais detalhe no ponto seguinte, interessa aqui apenas mencionar, para a

compreensão das conclusões dos autores, que um evento é um tipo de situação que altera os estados

de coisas e que um estado não o faz (cf. Cunha, 1998). Vejam-se os seguintes exemplos:

(5) A Maria comeu uma maçã.

(6) A Maria está doente.

Em (5) podemos identificar várias fases da situação: um momento em que a Maria ainda não

comeu a maçã, outro em que a Maria deu a primeira trinca na maçã e assim sucessivamente, até a

maçã estar integralmente comida. Por seu turno, a frase (6) dá-nos a informação de que a Maria está

doente, condição essa que só se altera quando a Maria deixar de estar doente. Temos, portanto, em

(5), um evento, e em (6) um estado.

A análise destes quatro exemplos mostra como estas duas noções permitiram o avanço dos

estudos sobre as diversas coordenadas de localização temporal e, sobretudo, sobre sequencialidade

temporal - nomeadamente a noção de ponto de referência, que é sempre delimitada pelo contexto.70

Num discurso narrativo, de acordo com Kamp e Reyle, a primeira frase não requer um ponto de

referência, a menos que contenha um adverbial de tempo que faça a localização temporal da situação

(que, por sua vez, exige que o tempo verbal o tenha como ponto de referência). As frases seguintes

relatam eventos que se seguem uns aos outros e são apresentados pela ordem que ocorreram - a ordem

é fundamental para que se compreenda o avanço da narrativa. Nas palavras dos autores (1993: 594):

“each clause provides a ‘reference time’ for the clause following it - a time which the eventuality

described by the second clause must follow or overlap.”

70 Veja-se Silva (2005: 160): “(…) a principal função de um tempo verbal consiste, nesta perspectiva, em estabelecer relações temporais entre o enunciado em que se integra e aqueles com que co-ocorre.”

Page 45: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

44

2.1.2.3. A noção de domínio temporal - Declerck (1990)

Um outro linguista que introduziu algumas noções fundamentais para o estudo da

sequencialidade temporal foi Declerck (1990)71. Considerando que a divisão entre tempos relativos e

tempos absolutos é insuficiente para explicar as relações entre combinações entre frases e/ou orações,

e assumindo que, na língua inglesa, os falantes veem as situações como passadas ou não-passadas,

Declerck estabelece o conceito de esfera temporal. Esta tanto pode ser do passado como do presente.

A esfera do passado localiza as situações anteriormente ao momento da enunciação. A esfera do

presente divide-se em pré-presente, presente e pós-presente (que se expressa pelo tempo futuro e que

é posterior ao momento da enunciação). Aos tempos que se encontram nestes setores Declerck chama

de setores absolutos (1990: 514).

O autor acrescenta que, quando duas situações se situam na mesma esfera temporal, pode haver

duas possibilidades: “either both of them are represented as related to the time of speech, or one

situation is related to the time of speech while the second is related to the first.” No segundo caso cria-

se aquilo a que Declerck chama de domínio temporal (1990: 514-5).

A (temporal) domain is a time interval taken up either by one situation or by a number of situations that are temporally related to each other by means of special tense forms.

(Declerck, 1990: 515)

Deste modo, quando existe um domínio temporal, as situações nele incluídas podem ser

anteriores, simultâneas ou posteriores à primeira. Existe sempre uma “situação central” (Declerck,

1990: 515), mas nem sempre uma nova situação tem de se relacionar com aquela. Com efeito, se uma

situação não se incorporar no domínio temporal da situação central, cria um novo domínio. Nestes

casos Declerck refere-se a uma “mudança de domínio” (1990: 516). Estas noções revelaram-se

importantes para o estudo das sequências de tempos, na medida em que mostram como duas situações

se podem combinar numa mesma frase mesmo sem uma relação temporal direta entre elas (Silvano,

2010: 155).

Em suma, nestes pontos vimos duas teorias relevantes sobre a expressão linguística do tempo.

A Reichenbach deve-se principalmente a introdução de pontos na linha temporal que explicam as

relações anafóricas. Contudo, a sua noção de ponto de referência é tida como ambígua por Kamp e

Reyle (1993), que a dividem em ponto de referência e ponto de perspetiva temporal. O ponto de

referência é aquele que explica a progressão narrativa. Esta é dada, sobretudo, por sequências de

frases, que estabelecem relações anafóricas. Nestas, são particularmente úteis as noções propostas por

Declerck (1990) de esfera temporal e de domínio temporal. Contudo, a expressão de uma entidade

externa à frase como seja o tempo não é a única informação que podem conter os tempos verbais,

havendo que analisar a sua estrutura interna, de que fala o ponto seguinte.

71 Sobre o estudo de Declerck, cf. ainda Silvano, 2010.

Page 46: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

45

2.2. O Aspeto

Ordering information is then usually given with respect to a well-defined point on the time line. Such languages are said to have tense. Information about how states of affairs are ordered with respect to each other can also be given (...) by referring to the (internal) temporal structure of a state of affairs. (...) The linguistic apparatus for establishing this is usually referred to by the name of aspect.

(Moens, 1987: 52)

Para uma compreensão completa dos tempos verbais há que analisar não apenas os fatores

externos que levam à localização de uma situação mas também a estrutura interna do verbo e dos seus

argumentos, que muitas vezes determina a forma como os falantes interpretam uma situação.72

Já Aristóteles tecera algumas considerações particularmente interessantes para o estudo do

Aspeto. O pensador grego73 entendia que os verbos se dividiam entre aqueles que designavam

situações que tendem para um fim, kineisis, e situações que não possuem essa propriedade,

denominadas energeia - nas traduções inglesas, movements e actualities, respetivamente.

Deste modo, sabemos que a uma predicação corresponde uma classe aspetual básica, processo

ao qual se dá o nome de Aspeto lexical ou Aktionsart74(Cunha, 2013: 587). Essa classe aspetual básica

pode, contudo, ser alterada por diversos fatores linguísticos, a cujos efeitos chamam os linguistas de

Aspeto gramatical (Cunha, 2013: 587). Esses fatores podem ser tempos gramaticais, os verbos de

operação aspetual, a natureza semântica dos complementos e ainda os adjuntos adverbiais temporais

(cf. Oliveira, 2003: 138-153 e Cunha, 2013: 587).

Um dos pioneiros dos estudos sobre Aspeto é Vendler (1967), que propõe quatro esquemas de

estruturação interna das situações75. Para o autor, o facto de existirem verbos que admitem tempos

progressivos e outros que não “suggests that running, writing and the like are processes going on in

time, that is, roughly, that they consist of successive phases following one another in time” (Vendler,

1967: 10). Esta passagem indica desde já duas importantes propriedades aspetuais: a duração e a

dinamicidade. A primeira consiste no período de tempo durante o qual uma situação se prolonga; a

segunda “contempla um conjunto de fases “sucessivas, que progridem temporalmente e são

suscetíveis de alterar o estado de coisas inicial (Cunha, 2013: 589).

Dentro das situações ditas dinâmicas, Vendler aponta para uma divisão de ordem lógico-

semântica: em sintagmas verbais como he is running (ele está a correr) referimo-nos ao prolongar da

situação em fases sucessivas durante um período de tempo indeterminado; no entanto, em sintagmas

72 Por situação entenda-se a “representação linguística de um determinado estado de coisas ou acontecimento do mundo num contexto espácio-temporal” (Oliveira, 2013: 585) 73Aqui refiro-me particularmente à obra Metaphysics (cf. referências bibliográficas), embora Aristóteles tenha escrito mais algumas passagens breves sobre este assunto noutras publicações. Por situação entenda-se “a representação linguística de um determinado estado de coisas ou acontecimento do mundo num contexto espácio-temporal” (Oliveira, 2013: 585) 74 Aktionsart é o termo alemão para “modo de ação”. 75 No original de Vendler (1967), time schemata. A tradução é de Silva (2005).

Page 47: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

46

do tipo he is running a mile (ele está a correr a maratona, por exemplo) estamos a indicar que a

situação tem um ponto terminal, isto é, tem telicidade76. Para Vendler (1967: 101), isto é sinal de que

o primeiro tipo se refere a situações que se prolongam de forma homogénea no tempo.

Relativamente aos verbos que não admitem construções progressivas, e que são, portanto, não-

dinâmicos, Vendler (1967) distingue predicados télicos e atélicos. Os primeiros podem ou não ter

duração e tendem para um fim. Frases do tipo I reached the top at noon sharp (cheguei ao cume ao

meio dia), ajudadas pela presença do adverbial temporal de localização exata, dão uma clara indicação

de que a situação ocorre num único momento na linha temporal e de que não pode prosseguir após

esse momento, por ter chegado a um ponto terminal: são os chamados achievements77. Os predicados

atélicos são homogéneos, têm duração e não tendem para um fim. A estes, o autor dá o nome de

estados (states). Podemos ver, na proposta de Moens (1987), apresentada de seguida, que também os

processos correspondem à descrição daquele segundo grupo.

2.2.1 Moens (1987)

A teoria apresentada por Moens (1987) procura ser uma abordagem unificada do Tempo,

Aspeto e modo de ação, na medida em que, considera o autor, todos desempenham um papel relevante

na expressão temporal das situações. Por outro lado, surge como desenvolvimento da proposta de

Vendler (1967).

No entanto, enquanto Vendler dá maior importância ao caráter progressivo ou não progressivo

dos eventos, Moens privilegia a propriedade aspetual da dinamicidade. Assim sendo, aos estados, que

são situações não-dinâmicas, opõem-se, na taxonomia do autor, as situações dinâmicas ou eventos.

Se o estudo de Moens (1987) tem um enfoque particular sobre eventos, a Cunha (1998, 2004,

2013) deve-se um estudo detalhado sobre estados. Partindo da rede aspetual de Moens (ver Figura 3

abaixo), segundo a qual é possível um estado passar a processo (Cunha, 1998: 31), o autor propõe a

cisão dos estados em estados faseáveis e estados não-faseáveis (ibid.). Os primeiros aproximam-se

dos eventos, “propiciando uma leitura de sucessividade”, remetendo para “porções ou períodos

temporalmente limitados” (2004: 323); os segundos não têm qualquer dinamicidade e são

“irredutíveis a qualquer estruturação interna complexa” (1998: 32), impossibilitando, por exemplo, a

coocorrência com tempos progressivos ou expressões que indiquem habitualidade (2004: 382).

Assim, para o linguista (1987: 57-58), há quatro categorias de situações eventivas, divididas

por dois grupos: os atomic events (eventos atómicos) e os extended events (eventos prolongados).78 Os

primeiros não têm duração e podem ser culminações (achievements na taxonomia de Vendler) - isto é,

constituem o ponto terminal da situação e têm, como tal, estado consequente -, e os

76 Um predicado télico é aquele que tende para um fim. 77 Sabe-se hoje, contudo, que os achievements podem surgir em construções progressivas, ao contrário do que é defendido por Vendler. 78 Cisão essa já prevista por Vendler, que separa as situações com fases sucessivas das que não as têm.

Page 48: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

pontos(i

prolonga

(accomp

(corresp

N

dinâmic

aspetuai

seems li

dynamic

linguisti

support

79 A distitempo coJohn crocortada correspon80 Moensaspetual b81 A este Aspeto, distinçãode que sã82 Note-sconsideraportanto,

inexistentes

ados, com d

plishments p

pondentes às

No entanto, a

a do caráter

is diferentes

ike a better

c one where

ic material)

the assumpti

F

inção entre cuomposto seguossed the line)(the line is cnder uma fras

s (1987) utilizbásico de uma

propósito, nomodo de açã

o entre lexicalão os tempos v

se ainda que a que as cons estativas.

no sistema

duração, po

para Vendler

activities de

a grande dife

aspetual80 da

consoante o

idea to thin

e an element

can move f

ions associat

Figura 3. Esq

ulminações e uido de uma c) referimo-noscrossed). No e como *a Ma

za o termo cara situação.

ote-se que Moão (Aktionsartização e gramverbais os prin

este esquemasequências de

a vendlerian

odem ou nã

r) e têm es

Vendler) e n

erença entre

as situações,

o contexto f

nk of a Vend

t like run (o

from one ca

ted with the t

quematização

pontos pode s

construção ress a um eventoentanto, a umaria está espir

ráter aspetual

ens (1987: 51t) e tempos v

maticalização nncipais respon

a torna mais e uma alteraçã

no) - que n

o ser télico

stado conse

não têm, por

a proposta d

na medida e

fornecido pe

dlerian taxon

or the expre

tegory to th

transition in

simplificada d

ser testada pesultativa. Se do sem duraçãoma frase do trrada (*Maria

baseado na p

-54) faz questverbais. O auna expressão nsáveis pela or

complexo o ão do estado

não têm es

os. Se o for

quente; os

isso, estado

de Moens e

em que estas

ela frase.81 S

nomy not as

essions it for

he other, pro

question.”

da rede aspetu

lo uso, quer edissermos queo em que o esipo a Maria is sneezed).

proposta de Ly

tão de referir utor, baseado das relações trdenação temp

quadro dos ede coisas são

stadoconsequ

rem, são pr

eventos até

consequente

a de Vendle

podem perte

Segundo o a

s a fixed cla

rms when co

ovided the c

ual de Moens82

em português e o João cortstado consequespirrou (Ma

yons (1977), p

que a sua aboem Lyons (

temporais nemporal.

estados, na mo durativas e

uente.79 Os

rocessos cul

élicos são p

e.

er reside na

encer a vária

autor (1987:

assification,

ombining w

context is su

2.

quer em ingltou a meta (euente é a metaria sneezed)

para se referir

ordagem nunc1977), relembm sempre é cl

medida em qunão-dinâmica

47

eventos

lminados

processos

natureza

as classes

60), “it

but as a

with other

uch as to

ês, de um em inglês, a ter sido não pode

r ao perfil

a dissocia bra que a lara, além

ue Moens as, sendo,

Page 49: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

48

Deve-se isto a um outro conceito proposto por Moens: o de rede aspetual. As classes aspetuais

são nós interligados numa teia de relações que indica possíveis transições dos eventos de uma

categoria aspetual para outra, sempre que tal seja permitido pelo contexto (1987: 60). Assim, cada

verbo pode ocorrer praticamente em qualquer categoria aspetual, visto quematerial linguístico como

adverbiais, verbos auxiliares ou tempos verbais podem acrescentar novos significados ou alterar o

foco da situação para significados distintos (1987: 64).

Por exemplo, se ao verbo to reach, que sozinho pertence ao grupo das culminações, for

acrescentado um adverbial do tipo in x time, o evento passa a ser um processo culminado (He reached

the top in five hours). O mesmo se passa com alguns verbos do português. Num verbo do tipo chegar,

apenas temos a informação do ponto terminal da situação e do respetivo estado consequente; contudo,

numa frase com um adverbial do tipo em x tempo, também acrescentamos um processo preparatório à

culminação (O João chegou ao Porto em cinco horas).

Para Moens, significa isto que todas as situações são entidades complexas que podem,

potencialmente, incluir várias fases da sua estrutura interna: cada evento possui um processo

preparatório, que pode ou não originar um ponto de culminação, que por sua vez pode ou não ter um

estado consequente. A tal entidade complexa dá Moens o nome de núcleo aspetual (1987: 64-65). Esta

noção é fundamental para determinar a referência temporal, pois localizar uma situação é mais

complexo do que a situar simplesmente num instante ou intervalo de tempo: “the process of temporal

reference involves locating the reference time at the appropriate part of the nucleus.” (1987: 65).

O trabalho de Moens foi importante na medida em que conjugou a teoria de Vendler, que ele

próprio desenvolveu, com questões relacionadas com o tempo linguístico. Além disso, o autor foi

importante para o estudo dos eventos, uma vez que, ao estudar a aplicação prática das noções de

instante e intervalo de tempo, permitiu um avanço na investigação sobre Aspeto. Por essa razão, é

utilizada a sua taxonomia, embora simplificada, na análise que se encontra no Capítulo 3 desta

dissertação.

2.3. Sequências textuais e relação com o tempo – Adam (1990; 1996; 1997; 1999) e Smith (2004)

A expressão da temporalidade e do Aspeto, exposta nos pontos anteriores, é indissociável do

fenómeno da coesão ao nível da globalidade do texto. Opta-se neste estudo por fazer uma

caracterização macroestrutural de crónicas desportivas, antes de analisar minuciosamente as relações

interfrásicas e a relevância dos tempos verbais (cf. Capítulo 3).

Segundo Adam (1990; 1996; 1997; 1999), existem dois planos de organização do discurso: o

primeiro assegura a articulação das unidades textuais (através da dimensão gramatical - que o autor

apelida de textura - e da chamada estrutura composicional); o segundo garante a organização

Page 50: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

49

pragmática (através de questões semântico-referenciais e das organizações enunciativa e ilocutória)

(1996: 31-3).

A razão para a composição de textos baseada em planos macroestruturais deve-se ao facto de os

textos serem estruturas profundamente hierarquizadas, daí a sua composicionalidade: eles “sont

constitués d’unités qui ne s’intègrent pas les unes dans les autres”, formando unidades superiores, por

ordem hierárquica (1996: 32; 1997: 666). A estas unidades Adam dá o nome de sequências textuais

(1990; 1996; 1997; 1999). Estas unidades são já regidas de acordo com géneros ou subgéneros

textuais (1997: 668), na medida em que possuem uma organização interna, consistindo numa “rede

relacional hierárquica” entre os diversos elementos que a compõem (Adam, 1990: 84, tradução

minha).83 Nas palavras de Adam, “la sequence est une unité constituinte du texte (...)” composta por

conjuntos de proposições, as macroproposições (“les macro-propositions”), das quais fazem parte

diversas microproposições (“[micro]propositions”) (1990: 85).

Relacionando as sequências com os géneros textuais estudados pela literatura, Adam apresenta

cinco microtipos de sequências textuais: narrativa, descritiva, argumentativa, explicativa e dialogal

(1997: 668); destas, aqui apresentam-se as duas mais frequentes nas crónicas desportivas estudadas:

- Se “entre duas ou mais proposições há uma conexão cronológica”, estamos perante

sequências narrativas;

- Se uma “dada proposição for hierarquizada e dotada de operações paradigmáticas de

integração semântica”, há uma sequência descritiva.

Sobre sequências narrativas, o autor foca-se no facto de se tratar de situações sucessivas,

apresentadas cronologicamente. Efetivamente, a narração só pode existir se houver pelo menos uma

sucessão temporal (1990: 87).84 Contudo, a narração pode incluir outros aspetos. Efetivamente, para

Adam, um texto com domínio da narração “est généralement composé de relations d’actions,

d’événements (...)” e “il comporte des moments descriptifs et dialogaux (...)” (Adam, 1999: 82). Isto

vai ao encontro do estudo de Smith (2004: 602-485), para quem o modo do discurso86 narrativo é

eminentemente temporal e eventivo, embora podendo englobar tanto eventos como estados87. Nas

palavras da autora:

83 No que diz respeito aos géneros textuais, Adam segue as conceções de Bakhtine (1984). 84 É esta relação intrínseca entre narração e tempo que mais interessa a este estudo. 85 Smith fala em cinco modos do discurso: Narrative, Report, Description, Information e Argument, dos quais os três primeiros são considerados modos temporais e os dois últimos atemporais.Contudo, não me parece relevante para este estudo fazer uma divisão entre modos do discurso eminentemente factuais, como sejam os modos Report e Information. Além disso, dentro de uma análise global a um texto, considero difícil distinguir modos que têm tempo e modos que não o têm. Assim, do estudo desta autora interessa-me sobretudo as definições que propõe de narração e de descrição e a relação destas com a expressão do Tempo e do Aspeto. 86 A nomenclatura de Smith não é aqui adoptada, preferindo-se a taxonomia de Adam de sequências textuais. 87 Significa isto que, mesmo dentro de uma dada sequência, não há necessariamente exclusividade de elementos linguísticos característicos desse tipo de sequência.

Page 51: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

50

The essence of Narrative is dynamism, in which events and states are related to each other. After the first sentence of a narrative, the times are sequential or simultaneous with previous times in the text.

(Smith, 2004: 603)

Sobre a descrição, Smith considera que é “indispensável para a narração” (2004: 607, tradução

minha). A autora define este tipo de sequência textual como um “portrayal of a scene or state of

affairs by means of language” (2004: 607). Do ponto de vista da expressão do Tempo e do Aspeto, na

descrição predominam os estativos, mas também alguns eventos (2004: 602); por outro lado, há,

essencialmente, uma ausência de dinamicidade, estando o tempo “estável ou suspenso” e não sendo

percetível a progressão narrativa (2004: 607). De facto, Adam considera que as sequências descritivas

surgem por uma “ordem linear casual”, regida pelo léxico, estando as situações dispostas de forma

hierárquica e não temporal (1990: 88).

Além da narração e da descrição, é possível encontrar nas crónicas desportivas (cf. 1.2.2.)

elementos de opinião do autor, associando determinado referente a uma carga positiva ou negativa. À

modalidade em que consiste a “expressão da subjetividade dos sentimentos” dá-se o nome de

apreciação (Charaudeau, 1992: 489)88. Segundo este linguista, “le locuteur évalue, donc, non plus la

vérité du propos, mais sa valeur, en révélant ses propres sentiments” (1992: 604). A apreciação é

sempre polarizada e tanto pode ser favorável como desfavorável, transmitindo sentimentos como a

satisfação, o alívio, a euforia, por um lado; e a insatisfação, resignação ou desespero, por outro (1992:

605).

Tendo em conta que a expressão da temporalidade é fundamental nas crónicas desportivas – e

que a apreciação, por si só, não transmite tempo – não considero, neste estudo, possível encontrar-se

uma sequência textual puramente apreciativa.

Assim, aos dois tipos de sequências textuais propostos por Adam e aqui contemplados –

narração e descrição -, acrescento a possibilidade de haver sequências narrativas-apreciativas e

descritivas-apreciativas.

2.4. Relações retóricas - Mann e Thompson (1988)

Uma vez que é objetivo deste estudo a expressão do tempo em crónicas desportivas, e sendo já

percetível o tipo de análise macroestrutural que se fará adiante (cf. 3.3), torna-se importante um

estudo das principais relações semânticas que se estabelecem entre frases e que contribuem para a

coesão textual. A essas relações semânticas no modelo de Mann & Thompson (1988) dá-se o nome de

relações retóricas.

Com efeito, como forma de identificar a estrutura hierárquica dos textos, Mann e Thompson

(1988) desenvolveram a Teoria da Estrutura Retórica (Rhetorical Structure Theory, tradução minha).

88 Há, na literatura, quem opte por designar a modalidade da apreciação como modalidade avaliativa (cf. Oliveira, 2003: 245).

Page 52: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

51

Segundo os autores, a coesão e coerência de um texto89 dependem, em parte, das relações

estabelecidas entre “duas porções de texto” (Mann e Thompson, 1988: 245). Uma dessas porções é o

núcleo, a outra, o satélite. Uma rede de relações, denominadas na literatura por relações retóricas,

forma padrões que constituem os chamados schemas:

They are abstract patterns consisting of a small number of constituent text spans, a specification of the relations between them, and a specification of how certain spans (nuclei) are related to the whole collection.

(Mann e Thompson, 1988: 246-7)

Os autores (1988: 250-7) elaboraram uma lista aberta de mais de vinte relações retóricas

possíveis, das quais aqui se destacam apenas quatro90, pelo facto de me parecerem as mais relevantes

para a análise de expressões de tempo em crónicas desportivas91. São elas:

a) Narração:92 há uma relação de sucessividade entre as situações no núcleo;

b) Elaboração: apresenta-se um detalhe adicional relativamente ao núcleo, ou algo que se

possa inferir neste, no satélite;

c) Enquadramento: o conteúdo do satélite permite ao leitor compreender o núcleo;

d) Contraste: as situações de dois núcleos têm pontos em comum, mas o leitor percebe

diferenças entre eles. As situações são comparáveis93.

(Mann e Thompson, 1988, apud Silvano, 2010: 180-2)

Para o desenvolvimento da análise a realizar no Capítulo 3, importa, sobretudo, referir a

relevância que têm certas questões linguísticas na construção de relações retóricas. Aqui são

resumidas duas delas, seguindo o estudo de Silvano (2010): o Tempo e o Aspeto e os adverbiais

temporais.

Embora não seja sempre esse o caso, o tempo linguístico é muitas vezes determinante para a

escolha das relações retóricas. É o caso das relações de narração, de elaboração e de enquadramento.

No caso da narração, só pode haver sucessividade entre situações se a segunda situação for posterior à

89 A coesão e a coerência são noções fundamentais para o estudo do texto. Dá-se o nome de coesão à “interdependência semântica das ocorrências textuais de processos linguísticos (...) de sequencialização, i.e, de ordenação linear dos elementos linguísticos.” A coerência trata da “interdependência semântica das ocorrências textuais [que] resulta dos processos mentais de apropriação do real”, ou seja, dos elementos extralinguísticos do mundo real com que o texto se relaciona (Duarte, 2003: 89). 90 A escolha destas quatro relações retóricas prende-se com o facto de terem sido as únicas encontradas com frequência nas crónicas desportivas analisadas, pelo que são as mais ilustrativas e mais relevantes neste tipo de textos. 91 Uso também algumas contribuições de Asher e Lascarides (2003) e ainda de Asher et alii (2008), que desenvolveram a teoria de Mann e Thompson (1998), para explicar certos fenómenos. 92 Na taxonomia de Mann e Thompson, a relação retórica de narração é denominada de sequence (sequência). Contudo, para que o termo não se confunda com o de sequência textual proposto por Jean-Michel Adam (cf. 2.3), traduzo por narração. 93 Não são aqui apresentados exemplos de relações de contraste porque não têm uma relação direta com as expressões de tempo. Contudo, é frequente encontrar este tipo de relação semântica nos corpora (cf. Capítulo. 3).

Page 53: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

52

primeira. Esta é a única relação retórica, na teoria de Mann e Thompson, em que a ordem das

situações é relevante (Silvano, 2010: 184).

(7) Max fell. John helped him up.94

(Asher e Lascarides, 2003: 62, apud Silvano, 2010: 216)

No que diz respeito à elaboração e ao enquadramento, a leitura temporal das situações é de

sobreposição ou de inclusão.

(8) Max entered the room. The room was dark.

(Asher e Lascarides, 2003: 62, apud Silvano, 2010: 219)

(9) Alexis did really well in this school this year. She got As in every subject.

(Asher et alii. 2008: 159, apud Silvano, 2010: 206)

O exemplo (8) retrata uma relação de enquadramento, com duas situações que têm o mesmo

tema (the room); o ponto de referência é o mesmo em ambas, tal como a relação temporal - anterior

ao momento da enunciação, estando sobrepostas. As relações retóricas de enquadramento fornecem,

no fundo, mais informação sobre o estado de coisas no intervalo de tempo no qual o núcleo está

incluído. Já o exemplo (9) é uma elaboração, inferindo-se que a segunda situação (She got As in every

subject) está incluída temporalmente na primeira e consiste numa particularização da mesma.

Também o Aspeto pode interferir na determinação das relações retóricas. Se o núcleo for um

evento e o satélite um estado com leitura não-terminativa, a única leitura temporal possível é a de

sobreposição no intervalo de tempo da situação do núcleo e a relação retórica é de enquadramento95,

como ocorre em (4).

(10) John went into the old house. The silence was breathtaking.

(Silvano, 2010: 220)

Esta breve apresentação mostra como o Tempo e o Aspeto, ainda que analisados em sequências

textuais pequenas, podem influir na compreensão global do texto, através do estabelecimento de

relações retóricas entre as suas unidades. Todas estas correlações são importantes para perceber a

construção textual. Neste ponto, procurou destacar-se apenas as relações retóricas mais

frequentemente encontradas nos corpora (cf. Capítulo 3) e perceber de que forma são influenciadas

pelas duas dimensões acima mencionadas. Este trabalho visa ainda enquadrar as relações retóricas na

determinação do tipo de sequências textuais96, que em muito contribuem para definir o subgénero

crónica desportiva e para perceber as particularidades deste tipo de texto para os estudos de tradução.

94 Note-se como esta sequência não seria compreensível se a ordem das situações fosse contrária: *John helped him up. Max fell. 95 Esta análise é feita por Silvano (2010: 220-1), a partir da teoria de Asher e Lascarides (Segmented Discourse Representation Theory) (2003). 96 Cf. 3.3. e 3.4.para a análise qualitativa dos corpora.

Page 54: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

53

2.5. Conclusões do capítulo

Neste capítulo abordaram-se várias noções relacionadas com tempo e com tempo linguístico.

Do tempo se pode dizer que é contínuo, irreversível e direcional, sendo o tempo linguístico o meio de

localizar linguisticamente as situações.

Existem dois modos de localizar uma situação: uma deítica, em que a situação é localizada num

eixo temporal, seja num instante ou num intervalo mais prolongado desse eixo; e uma anafórica, em

que o tempo de uma situação se relaciona com um outro tempo já presente nos enunciados. Dentro de

várias classes de palavras que expressam temporalidade, a que mais carreia informação temporal é a

dos tempos verbais.

Serviu então este capítulo para dar a conhecer alguns fundamentos teóricos sobre tempos

verbais, nomeadamente a noção de ponto de referência temporal, introduzida por Reichenbach em

1947 e posteriormente desdobrada por Kamp e Reyle (1993) em ponto de referência e ponto de

perspetiva temporal, na Teoria da Representação Discursiva. Esta teoria é, aliás, fundamental para

este trabalho, na medida em que explica a forma como alguns tempos verbais se correlacionam com

os demais elementos da frase, introduzindo a importância do discurso para a expressão das relações

temporais.

Considero, por isso, que as teorias de Reichenbach (1947) e de Kamp e Reyle (1993) abrem a

porta ao estudo da sequencialidade temporal, através de noções que explicam a progressão narrativa.

Além destes autores, refiro-me também a Comrie (1985), para quem a noção de contexto é

fundamental para a compreensão do texto (uma associação também feita por Kamp e Reyle (1993)); e

a Declerck (1990), que introduz os conceitos de esfera temporal e de domínio temporal, ambos

importantes para o estudo das sequências de tempos verbais.

De todos estes autores, apenas Reichenbach se refere aos tempos verbais pela sua informação

temporal. Sabe-se, no entanto, que os tempos verbais raramente têm valor temporal único, seja em

português ou em inglês. Decorre do que foi dito neste capítulo que a expressão da temporalidade das

situações não pode ver-se apenas em abstrato, ligada apenas a pontos ou intervalos num eixo

temporal, na medida em que a estrutura interna dos predicados influencia a forma como as situações

são interpretadas.

O estudo do Aspeto é, pois, fundamental para uma compreensão global da forma como as

situações podem ser linguisticamente descritas, seja do ponto de vista lexical (Aktionsart) seja do

ponto de vista gramatical. Neste trabalho partiu-se da teoria de Vendler (1967), que define quatro

propriedades aspetuais das situações (dinamicidade, telicidade, homogeneidade e duração) para

classificar diferentes tipos de situações e adotou-se a taxonomia mais tarde desenvolvida por Moens

(1987). Este autor utiliza um sistema que divide situações dinâmicas - eventos - e situações não-

dinâmicas - estados. Dentro dos primeiros assume-se a existência de quatro classes aspetuais distintas:

Page 55: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

54

processos, processos culminados, culminações e pontos. Os segundos são mais tarde desdobrados por

Cunha (1998) em estados faseáveis e estados não-faseáveis.

Neste capítulo procurou explicar-se que, para a coesão de um texto, existe um conjunto de

relações semânticas, aqui denominadas relações retóricas, que se estabelecem entre as mais diversas

unidades textuais. Utilizando a proposta de Mann e Thompson (1988), optou-se pela limitação a

quatro relações retóricas mais relevantes para este estudo: narração, enquadramento, elaboração e

contraste.

No próximo capítulo, faz-se uma análise de dois corpora – um em português, outro em inglês –

onde o(s) enquadramento(s) teórico(s) aqui explanados são postos em prática.

Page 56: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

55

Capítulo 3.Crónicas desportivas em português e inglês: análise de expressões de temporalidade e relação com sequências textuais

Os primeiros dois capítulos deste trabalho forneceram um enquadramento teórico que serve

agora de base para uma análise de dois corpora de textos jornalísticos originais. Neste capítulo

procura-se encontrar as características que definem os textos em análise no que à expressão do tempo

linguístico diz respeito. Essa análise serve como ponto de partida para um modelo tradutivo que se

apresenta posteriormente (cf. Capítulo 4).

Para esse efeito, procura-se, em primeiro lugar, explicar a nomenclatura escolhida para os

textos em estudo; em segundo, apresentam-se os corpora e descreve-se a forma como foram

constituídos. Uma análise quantitativa permite mostrar a preponderância dos sistemas e dos tempos

verbais nas crónicas desportivas e serve como base para um estudo detalhado sobre as expressões de

temporalidade (cf. 3.3 e 3.4.).

3.1. Os corpora: metodologia de trabalho

Este capítulo pretende fazer uma análise contrastiva de crónicas desportivas do Reino Unido e

de Portugal. Nos parágrafos que se seguem, é feita uma descrição dos corpora e explica-se a sua

constituição.

Sendo a principal finalidade deste trabalho oferecer um modelo tradutivo dos tempos verbais

em crónicas desportivas, não foi considerada a hipótese de reunir um corpus de tradução. Procuraram-

se, então, vários meios de comunicação de referência nos dois países, de forma a constituir corpora

nas duas línguas. Tratando-se de texto jornalístico, a dificuldade em encontrar um paralelismo foi

maior, porque os critérios de noticiabilidade (cf. 1.2.) variam de país para país, tal como os ângulos

das notícias que chegam a diversos países. A solução encontrada foi optar por textos que fossem

igualmente importantes nos dois mercados. Assim, criaram-se dois corpora relativos aos mesmos

acontecimentos, correspondentes às finais da Liga dos Campeões97 entre 2010 e 2013. Criou-se, como

delineado previamente, um corpus de cerca de 12 mil palavras para cada língua.

A análise aos corpora comporta três fases. Na primeira faz-se uma recolha quantitativa de

dados, que permite traçar desde logo algumas hipóteses, englobando a totalidade dos corpora. Estas

podem ser – ou não - posteriormente confirmadas numa análise linguística, qualitativa, mais

detalhada, a nível macro e microestrutural, relativa a um fragmento dos corpora, correspondente às

crónicas desportivas de um ano só. Uma vez que nos últimos anos não houve alterações do ponto de

97 Para contexto, a Liga dos Campeões é a mais importante competição de futebol a nível mundial, com um impacto económico muito substancial para os clubes participantes e onde atuam as mais importantes equipas europeias. O vencedor é considerado campeão europeu de clubes.

Page 57: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

56

vista da construção linguística de crónicas desportivas, a escolha do fragmento de cada corpus para

análise qualitativa foi aleatória. Escolheu-se a final da Liga dos Campeões de 2011.

O primeiro obstáculo que surgiu foi a grande diferença de dimensão entre as crónicas

desportivas britânicas (muito mais extensas) e as portuguesas (mais condensadas). Procurou-se

constituir corpora com uma dimensão global aproximada, pelo que o corpus português tem mais

fontes do que o inglês. Também se procurou algum equilíbrio entre jornais generalistas e desportivos,

por um lado, e jornais em papel e jornais online, por outro. Surgiram aqui outros obstáculos: em

primeiro lugar, não existem jornais desportivos em papel no mercado britânico; em segundo, só um

jornal generalista português (Público) escreve crónicas desportivas que justifiquem ser objeto de

análise, pelo que foi necessário reforçar o número de crónicas escritas em jornais desportivos. Isto

deve-se ao facto de o imediatismo do jornalismo online retirar margem de manobra aos jornais em

papel para fornecer os dados mais importantes. Como refere Jucker (2005: 17, apud Chovanec, 2014:

263), no jornalismo desportivo, os jornais em papel têm de se focar em algo mais que o resultado e o

relato, pois a informação relativa a estes já é conhecida do público desde o dia anterior98.

O corpus português apresentou bastantes dificuldades. Em primeiro lugar, pela falta de acesso

aos diários desportivos em papel relativos a 2010. E, em segundo, pela inexistência de produção

noticiosa relevante do diário online Relvado99. Assim sendo, apresento apenas cinco fontes relativas a

2010, ao contrário das seis nos dois anos posteriores100.Ocorpus inglês é constituído por quatro fontes,

duas generalistas (a edição online do Guardian é igual à da versão em papel) e duas desportivas,

ambas exclusivamente online. Deste modo, constituem o corpus português 23 crónicas desportivas e o

inglês dezasseis.

A constituição dos corpora é descrita na Tabela 1.

98 Ungerer (2000: 193, apud Chovanec, 2014: 264) acrescenta que os jornais em papel tendem a cobrir os acontecimentos de maneira diferente, ignorando o relato cronológico e sequencial dos acontecimentos: [popular newspapers] “are particularly keen to use extracted topics to preserve topicality of sports reports, either by re-perspectivising the sequential report of the match ... or by altogether abandoning the idea of sequentiality in favour of isolated articles with a dominant top-down structure.” É precisamente esta abordagem às crónicas desportivas que me levou a não considerar o jornal desportivo A Bola. Este problema não foi detetado no corpus inglês, uma vez que, nos jornais com versão em papel e versão online, não se registaram diferenças entre a crónica publicada no dia do jogo e a publicada no dia seguinte. 99 O crescimento deste diário online dá-se apenas em 2011. 100 Julgo que o paralelismo relativo ao número de fontes não é o mais relevante, mas sim o número de palavras, pelo que optei por não introduzir mais nenhuma fonte relativamente ao ano de 2010, para efeitos de substituição.

Page 58: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

57

Tabela 1. Constituição dos corpora

O total das fontes no corpus português é de 11433 palavras. O total do corpus inglês é de 11846

palavras. No subcapítulo que se segue são apresentados alguns dados quantitativos recolhidos dos

corpora e mencionadas algumas hipóteses que esses mesmos dados deixam antever. A análise

qualitativa, mais detalhada e com exemplos práticos, pode ou não confirmar tais hipóteses.

3.2. Análise quantitativa

A recolha quantitativa de formas verbais procura ser uma primeira rampa para a compreensão

das expressões de tempo linguístico nos corpora. Por essa razão, não se faz aqui uma distinção entre

verbos principais ou auxiliares; do mesmo modo, não se faz referência se as construções verbais são

perifrásticas ou passivas. A informação que aqui se considera relevante é a temporal e/ou aspetual.

Esta análise quantitativa é preliminar e não permite obter conclusões definitivas sobre os motivos para

o uso de cada tempo verbal. Contudo, ela já fornece alguns dados que são usados como premissas

para a análise qualitativa (cf. 3.4).

A seguinte tabela mostra os primeiros dados recolhidos, ordenados por número de ocorrências,

relativamente ao corpus português.

Tempo verbal Número de ocorrências %

Pretérito Perfeito Simples 665 41,4%

Infinitivo 366 22,8%

Presente do indicativo 174 10,8%

Imperfeito do indicativo 169 10,5%

Gerúndio 78 4,9%

Particípio Passado 54 3,4%

PT EN

Generalistas online papel online papel

Público - Guardian Daily Telegraph

Desportivos online papel online papel

MaisFutebol O Jogo Sky Sports -

Zerozero Record BBC Sports

Relvado

Total fontes 6 4

*apenas 5 fontes relativas a 2010

Page 59: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

58

Condicional 25 1,6%

Pretérito Mais-Que-Perfeito Composto 22 1,4%

Infinitivo Composto 18 1,1%

Imperfeito do Conjuntivo 13 0,8%

Futuro do Indicativo 7 0,4%

Pretérito Mais-Que-Perfeito Simples 6 0,4%

Presente do Conjuntivo 5 0,3%

Pretérito Mais-Que-Perfeito do conjuntivo 2 0,1%

Pretérito Perfeito Composto do conjuntivo 1 0,1%

Total: 1605 100%

Tabela 2. Ocorrências dos tempos verbais em português europeu e respetivas percentagens.

O corpus tem um total de 11.433 palavras, das quais 1.605 são formas verbais, o que equivale a

cerca de 14%.

A informação que mais rapidamente se retira destes dados é a grande predominância do

Pretérito Perfeito Simples, com 665 ocorrências, 41,4% do valor total. São dados expectáveis. O

Pretérito Perfeito Simples é, por excelência, um tempo verbal de valor meramente temporal, dando

informação de uma situação ocorrida anteriormente ao momento da enunciação ou ao ponto de

referência (dependendo se a informação temporal relevante for deítica ou anafórica) (cf. Oliveira,

2003: 139). Tendo em conta tratar-se de um texto sobretudo informativo, cujo propósito é relatar

factos sobre um evento já concluído, o Pretérito Perfeito Simples é aquele que melhor poderá dar essa

informação, permitindo ao leitor ter a noção de passagem do tempo e, por conseguinte, de

sequencialidade temporal. A ser verdade esta premissa, confirma-se estarmos na presença de um texto

primordialmente narrativo (cf. Kamp e Reyle, 1993; Smith, 2004).

Seguem-se, com uma distância considerável relativamente aos demais tempos verbais, o

Presente e o Imperfeito do indicativo. O primeiro, com 174 ocorrências, corresponde a 10,8% do

total; o segundo, com 169, corresponde a cerca de 10,5%. Destes dois tempos verbais sabe-se que

fornecem valores diversificados que ultrapassam a dimensão temporal (nomeadamente informação

aspetual e modal).

O gerúndio só foi considerado quando incluído em orações gerundivas, nunca sendo

considerado o gerúndio como verbo principal numa construção perifrástica com auxiliar.

Encontraram-se 78 ocorrências (4,9%), das quais três são formas compostas.

Page 60: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

59

Fez-se também uma contagem global de verbos no Infinitivo, tendo sido encontradas 366

ocorrências, o que equivale a 22,8% do total de formas verbais. À partida, o Infinitivo não carreia

informação temporal. No entanto, há sequências de tempos verbais em que são incluídas orações

infinitivas que são relevantes para a interpretação temporal das situações (como por exemplo, orações

introduzidas por para, entre outras). Por estas razões, julgo ser importante analisar qualitativamente

algumas das construções mais relevantes com orações infinitivas (cf. 3.4).

Os tempos pertencentes à esfera temporal do futuro têm uma importância residual, com o

Futuro do Indicativo a surgir apenas em sete ocasiões (0,4%). O Condicional, que tanto pode ter uma

leitura de futuro (do passado) como de modalidade, aparece mais frequentemente, contando 25

ocorrências, das quais três são formas compostas (1,6%).

De notar ainda a presença de tempos do conjuntivo no corpus português, como sejam o

Presente, o Pretérito Perfeito, o Imperfeito e o Mais-Que-Perfeito. O modo conjuntivo pode associar-

se à expressão de certos tipos de modalidade (epistémica, deôntica, volitiva) e também à expressão de

conhecimento, crença, dúvida, permissão, entre outros (Oliveira, 2003: 260 e ss). Contudo, e muito

embora me pareça interessante verificar como é feita esta correspondência de valores temporais e/ou

modais numa língua que não tem conjuntivo, como o inglês, a diversidade de estruturas em que

surgem construções com conjuntivo e a complexidade que acarreta o estudo da modalidade faz com

que nenhuma destas categorias seja aqui estudada em detalhe em qualquer uma das línguas. O mesmo

acontece com o particípio passado e com as orações participiais.

Assim sendo, a tabela com os dados recolhidos do corpus inglês é apresentada de seguida.

Tempo verbal Número de ocorrências %

Simple Past / Continuous 1090 53,9%

To-infinitival 319 15,8%

-ing participle 237 11,7%

Modal verbs / Conditional 95 4,7%

Past Perfect 87 4,3%

Simple Present 71 3,5%

Past Participle 61 3%

Present Perfect 41 2%

Future 22 1,1%

Total: 2022 100%

Page 61: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

60

Tabela 3. Ocorrências dos tempos verbais em inglês e respetivas percentagens.

A primeira grande diferença entre as duas tabelas prende-se com o número significativamente

inferior de tempos verbais do corpus inglês comparativamente com os dados do corpus português - ao

passo que se registaram quinze tempos em português, há apenas nove em inglês. Tal deve-se à

inexistência de alguns tempos verbais na língua inglesa e que existem em português - como é o caso

do Imperfeito ou do modo conjuntivo. Há ainda a registar o facto de, muito embora os dois corpora

tenham uma dimensão semelhante, haver 1605 ocorrências de formas verbais em português e 2022

ocorrências em inglês101.

Dos dados da tabela, destaca-se uma nova predominância de um tempo verbal da esfera

temporal do passado, o Simple Past, com mais de 50% do número total de ocorrências. Comparado

com o corpus português, este número é superior à percentagem de ocorrências do Pretérito Perfeito

Simples (41%).102 De notar que neste grupo se inclui também a sua respetiva forma progressiva (Past

Continuous), muito embora a informação aspetual seja divergente.

Em segundo lugar, tal como no corpus português, surgem as orações infinitivas ou to-

infinitival, com cerca de 16%, um peso inferior ao da forma verbal equivalente em português. Há

ainda a destacar que o terceiro tempo verbal mais frequente em inglês é o gerúndio, ou –ing

participle, com um peso de quase 12% - muito superior aos cerca de 5% de ocorrências em português.

Tal deve-se a um número substancialmente maior de usos do gerúndio relevantes para uma correta

interpretação temporal. Em português consideraram-se apenas relevantes para essa interpretação as

orações gerundivas. Contudo, em inglês existem outros tipos de construções com gerúndio103. É o

caso das construções progressivas com gerúndio, que, embora sejam gramaticais em português

europeu, não são aceitáveis porque não fazem parte da norma padrão104 ou o caso de expressões

iniciadas pela preposição to que selecionam obrigatoriamente um gerúndio. O mesmo ocorre com o

uso do gerúndio em generalizações como “standing next to Messi, almost anyone (…) would look

clumsy”, também não utilizado na norma padrão do português europeu.

A grande diferença do ponto de vista da análise temporal reside no Presente do Indicativo - e

aquele que será o seu equivalente direto em inglês, o Simple Present. Se em português europeu é o

terceiro tempo mais representado, com mais de 10% do total de ocorrências, em inglês o seu peso é

101 As explicações para estes dados estão fora do âmbito desta dissertação. 102 Este é um dado particularmente relevante para a tradução - sabendo-se que existem mais tempos verbais em português do em inglês - na medida em que deixa antever que o Simple Past nem sempre se traduzirá pelo seu equivalente mais direto. 103 Quirk et alii (1985: 1066) usam a denominação -ing clauses em vez de gerúndio por existirem mais construções com gerúndio do que simplesmente as orações gerundivas. Aqui interessam apenas as orações com –ing participle. 104 Este tipo de construção gerundiva pode ser admitida pelos falantes em algumas variedades do português europeu, mas não da norma padrão, sendo, no entanto, a norma em português do Brasil.

Page 62: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

61

meramente residual, não ultrapassando os 3,5%, contando-se apenas 71 ocorrências105. Tendo em

consideração o critério da atualidade na redação de textos jornalísticos (cf. 1.2.) e a proximidade

temporal com o acontecimento relatado, estes são dados algo surpreendentes: esperar-se-ia um

número superior de ocorrências do Simple Present106.

Contudo, são dados que, em conjunto com a grande preponderância do Simple Past, deixam

antever que as crónicas desportivas no mercado britânico podem ser predominantemente narrativas e

factuais. Além disto, os textos do corpus inglês são substancialmente mais longos do que os do corpus

português. Este dado permite reforçar esta hipótese, já que o autor tem mais espaços para descrever

mais detalhadamente as situações, por um lado, e fazer mais sequências de situações sucessivas do

que elipses temporais, algo que se explica também pela inexistência em inglês de um tempo verbal

durativo como o Imperfeito português.

Além do Simple Past, outros tempos verbais localizam situações na esfera temporal do passado.

São eles o Past Perfect, com 4,3% do total de ocorrências, e o Present Perfect, com apenas 2%. Este é

um dado surpreendente, tendo em consideração que o Present Perfect é normalmente associado à

localização de uma situação durativa concluída num passado recente, algo que é relevante para o

discurso jornalístico.

O tempo verbal menos frequente, com apenas 1% do total de ocorrências, é o Future - ainda

assim com bastante mais ocorrências (22) do que o Futuro do Indicativo no corpus português (7).

3.3. Sequências de tempos verbais em sequências textuais

Nesta parte da análise, apresentam-se alguns dos valores semânticos dos tempos verbais

presentes nos corpora, partindo dos exemplos mais ilustrativos. O objetivo deste estudo é verificar as

relações temporais entre as situações, em construções com potencial impacto para a tradução, e a sua

associação aos diferentes tipos de sequências textuais e a diferentes relações retóricas. O co(n)texto

das situações nunca é excluído. Para que os resultados sejam o mais sistemáticos possível, explica-se

de seguida a terminologia utilizada e a forma como é feita a análise. Assim:

- relativamente ao Aspeto, distinguem-se situações dinâmicas e não dinâmicas, i.e., eventos e

estados – podendo estes ser faseáveis ou não-faseáveis - considerando-se os estudos de Moens

(1987) e de Cunha (1998);

- quanto ao tempo, optou-se pela nomenclatura proposta por Kamp e Reyle (1993) de ponto de

105 Além do número de ocorrências deste tempo verbal ser pequeno, uma parte significativa desta contagem ocorre em dois textos, da autoria da Sky Sports, em citações de discurso direto. Trata-se de algo pouco comum em crónicas desportivas (normalmente publicadas antes de existirem quaisquer declarações dos intervenientes no jogo) e que ocorre apenas com essa fonte. 106 Os tempos da esfera temporal do presente são sobretudo aspetuais, mas também podem localizar as situações na linha temporal (sobretudo em construções progressivas). Inclusivamente, em texto jornalístico sabe-se ser frequente o uso do chamado Pré-Presente, que se refere ao uso do Presente para relatar factos que acabaram de acontecer, numa estratégia jornalística de trazer o acontecimento para o momento atual (cf. Silvano, 2002).

Page 63: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

62

referência (que permite processar a sequência de frases) e de ponto de perspetiva temporal

(ponto a partir do qual se faz a localização das situações); procura-se perceber se as relações

temporais são de anterioridade, de simultaneidade (e, nestas, de inclusão ou de sobreposição)

ou de posterioridade, seguindo os estudos de Reichenbach (1947);

- para o estudo das sequências textuais, considera-se a proposta de Adam (1990; 1996; 1997;

1999), fazendo-se, contudo, uma restrição a dois tipos de sequências: narrativas e descritivas;

além destas, e seguindo a definição de apreciação proposta por Chareaudeau (1992; cf. 2.3),

propõe-se a existência de sequências de valor apreciativo, que tanto podem ser narrativas como

descritivas; são ainda feitas referências ao estudo de Smith (2004) sobre Tempo e Aspeto no

discurso;

- para a definição das relações retóricas mais relevantes para este trabalho, recorre-se às

definições propostas por Mann e Thompson (1988); note-se que, neste trabalho, apenas se

consideram quatro relações possíveis (cf. 2.3): narração, elaboração, enquadramento e

contraste. Estas foram as relações detetadas com maior frequência e são elas as que mais

parecem contribuir para o cumprimento dos objetivos informativos do texto.

No que concerne à estruturação da análise, é objetivo perceber quais os elementos constitutivos

de uma crónica desportiva. Deste modo:

- faz-se, em primeiro lugar, uma análise macroestrutural em que se dividem os textos em

segmentos (ou macropartes) aos quais corresponde uma dada fase do texto; nesta análise, tenta-

se saber se há predominância de algum tempo verbal, de alguma relação retórica em particular

ou de algum tipo de sequência textual. Esta análise permitirá, mais tarde, perceber qual é o tipo

de sequência dominante do texto, não sendo excluída a função comunicativa pretendida pelo

autor;

- de seguida, procura-se dividir estes segmentos em subsegmentos (ou micropartes), onde se

podem encontrar diversas sequências textuais; é nestes subsegmentos que são selecionadas

algumas sequências textuais, a título exemplificativo, que expliquem de forma mais detalhada

alguns dos valores semânticos dos tempos verbais107.

O objetivo final é mostrar como os tempos verbais, as relações retóricas e as sequências

textuais são interrelacionais e interdependentes, contribuindo para a interpretação global de um texto.

Os tempos verbais são apresentados por ordem descendente relativamente ao número de

ocorrências (como registado nas tabelas da análise quantitativa em 3.2.). Esta não é uma análise

comparativa, fazendo-se primeiro o estudo dos tempos verbais em português e só depois em inglês.

São privilegiados tempos verbais apenas em verbos principais; contudo, e para que este trabalho seja

107 Porque este trabalho serve, essencialmente, um propósito tradutivo e não linguístico, não se faz aqui uma análise detalhada dos diversos tipos de frases complexas.

Page 64: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

63

o mais completo possível do ponto de vista da tradução, podem ser incluídos exemplos pontuais de

outro tipo de construções verbais.

3.3.1. A constituição de crónicas desportivas

Tal como anunciado no ponto anterior, faz-se aqui uma segmentação das crónicas desportivas

em português e em inglês, o que permite perceber diferenças macroestruturais que podem

posteriormente ajudar a classificar o texto a nível global108.

Recordo o sistema de classificação de textos de Borrat (cf. 1.2.1.), que nos mostra, através de

princípios antigos do jornalismo e da comunicação em geral, como a crónica desportiva se afasta dos

demais géneros jornalísticos: ela destaca todos os topoi da retórica, numa estrutura cronológica e

sequencial, não obedecendo à norma da pirâmide invertida.

Deste modo, no corpus português, as estruturas variam entre dois e quatro segmentos, que têm

objetivos informativos distintos, respondendo, por isso, a diferentes topoi:

- a introdução, não sendo o lead109, dá informação sobre o vencedor, o resultado ou a exibição,

respondendo a pelo menos alguns dos topoi “obrigatórios” em texto jornalístico (sobretudo o

quê, mas também o quando e, em alguns casos, o como110); e corresponde, na grande maioria

dos casos, ao primeiro parágrafo – apenas numa ocasião consiste nos dois primeiros parágrafos;

- em apenas uma crónica, segue-se um breve resumo do jogo, que consiste numa listagem

dos momentos mais importantes111;

- logo depois surge o segmento mais longo com o relato cronológico do jogo;

- a conclusão termina a crónica desportiva dando conta do impacto do resultado.

Deste modo, e tendo em conta os segmentos mais comuns, a crónica desportiva mais

prototípica no mercado português consiste em três segmentos: a introdução, o relato e a conclusão. O

resumo do jogo (segundo segmento) e a conclusão (quarto) são opcionais: o resumo apenas aparece

108 É importante referir que a forma de estruturar crónicas desportivas não está relacionada com regras de escrita próprias, mas sim com convenções culturais geralmente aceites pelo público recetor. 109 Exclui-se aqui o lead, que tem sobretudo uma dupla função: informar sobre o essencial e, acima de tudo, “convidar” o recetor a ler o texto (cf. Fontcuberta, 2002). A sua omissão na análise tem várias razões. Chovanec (2014: 249) refere três componentes numa notícia (algo igualmente aplicável a outros subgéneros jornalísticos, como as crónicas desportivas: o título, o lead e o corpo do texto (cf. 1.2.). Os dois primeiros têm regras próprias de construção, distintas das aqui analisadas, que se prendem apenas com o corpo do texto. Efetivamente, a construção de um lead obedece, não raras vezes, às mesmas regras de construção dos títulos. Além disso, do ponto de vista visual, o lead não faz, muitas vezes, parte do texto: seja online, seja em jornais impressos, o lead surge separado do texto por elementos metatextuais (fotografias, como no Guardian, por exemplo). Por último, e ainda a título de exemplo, algumas das fontes aqui consideradas usam antetítulos (Record), outros subtítulos (MaisFutebol, O JOGO, Relvado), outras apenas o lead (Sky Sports, BBC Sports). As diferenças entre o lead e o corpo do texto e a multiplicidade de critérios na apresentação das crónicas desportivas levou à decisão de não o analisar. 110 Cf. Borrat (1981). 111 Num dos casos encontrados no corpus português, o resumo faz parte, na verdade, do primeiro parágrafo. Fiz, contudo, a divisão, porque há uma diferença de objetivos informativos.

Page 65: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

64

em duas ocasiões, ao passo que a conclusão aparece em quatro112. Duas das crónicas têm apenas dois

segmentos: introdução e relato.

No corpus inglês, as crónicas desportivas possibilitam os mesmos quatro segmentos, sendo que

o resumo é “obrigatório”:

- a introdução corresponde normalmente ao primeiro parágrafo, podendo estender-se até dois

parágrafos;

- o resumo é bastante alargado e dele pode fazer parte uma descrição pré-jogo, que relata os

estados de coisas antes do jogo começar que sejam relevantes para o desenrolar do mesmo

(como é o caso das escolhas das equipas iniciais)113;

- o relato cronológico vem de seguida;

- a conclusão pode corresponder ao parágrafo final ou apenas à(s) última(s) frases desse

parágrafo;

As diferenças para o corpus português prendem-se, sobretudo, com o resumo. Este é raro no

corpus português, mas, no inglês, é obrigatório e geralmente é prolongado (com a exceção da crónica

desportiva em que é feita a descrição pré-jogo). A descrição pré-jogo surge apenas uma vez, sendo o

resumo, nesse caso, mais curto. O relato é também mais prolongado do que nos textos portugueses.

A análise que se segue permite perceber estas quatro macropartes das crónicas desportivas do

ponto de vista temporal. Em primeiro lugar, é analisado o corpus português e depois o inglês.

Convém recordar que se trata de uma análise macroestrutural, não exaustiva, pelo que apenas os

tempos verbais dominantes de cada sequência serão explicados de forma a que se compreenda a

interpretação global de cada segmento.

3.3.1.1. A introdução em português e em inglês

Relativamente às crónicas desportivas em português, parece haver duas tendências para

introduzir o texto.

a) O enfoque na consequência do resultado final;

b) O enfoque nas causas do resultado final;

No primeiro caso verifica-se um predomínio do Presente do Indicativo, no segundo do Pretérito

Perfeito. Compare-se:

(1) “Barça, Barça, Baaaaarça. E mais uma, porque o Barcelona é campeão europeu pela quarta vez na História, graças a um triunfo sobre o Manchester United, em Wembley, por 3-1. E há nomes que vão ecoar na eternidade...” (MaisFutebol)

112 Recorde-se que existem seis crónicas desportivas para cada ano – à exceção do ano de 2010, referindo-se esta análise qualitativa apenas a um dos anos (2011). 113 Esta descrição tanto pode surgir no início como no final do resumo; neste caso aparece já a introduzir o segmento seguinte.

Page 66: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

65

(2) “O Barcelona voltou a superiorizar-se ao Manchester United e conquistou a Liga dos Campeões com uma vitória por 3-1. Pedro rubricou o primeiro golo da noite e viu Rooney dar alguma esperança aos ingleses mas, no segundo tempo, «os inevitáveis» Messi e Villa resolveram.” (Público)

Em (1), no primeiro período há uma leitura temporal de presente com um estado. No segundo

período, há uma nova ocorrência do presente na primeira frase. Os dois períodos não estão ligados

anaforicamente, porque são deíticos e o ponto de referência em ambos é o momento da enunciação.

Trata-se de uma sequência textual sobretudo apreciativa, tendo em conta que a informação temporal

não é a mais importante, procurando-se convencer o leitor da superioridade do clube vencedor. Em

(2) o tempo verbal predominante é o Pretérito Perfeito e é o segundo período que fornece a

informação sobre como o resultado final foi construído.No primeiro período, há dois domínios

temporais em que parece haver duas leituras possibilitadas pela coordenação: uma de sobreposição

parcial, outra de posterioridade. Parece estabelecer-se com o segundo período uma relação retórica de

elaboração. Dentro desta, há várias relações de narração em que os eventos são, por isso, sucessivos.

Trata-se, pois, de uma sequência narrativa.

Em inglês, o enfoque da introdução parece ser, além de realçar o resultado final, traçar

paralelismos do jogo em questão com outros jogos passados114. Além disso, em três das quatro

crónicas, traça-se nesta fase um paralelismo com dois outros jogos. Trata-se de um apelo à

proximidade do leitor, cujo conhecimento destes dois acontecimentos passados é presumido. Estas

duas vertentes da introdução reforçam um predomínio de um tempo passado, sendo a relação

temporal mais forte a de anterioridade relativamente ao momento da enunciação.

(3) “There was no repeat of 1968 Wembley euphoria for Manchester United in their bid to lift a fourth European Cup, just an unwelcome reminder of how it felt to be outplayed in 2009. Once again, United could not get enough of the ball to do themselves justice, once again their most experienced players were unable to impose themselves and for a second time in three seasons, Barcelona did almost exactly as they pleased.” (Guardian)

Relativamente aos verbos principais, é possível ver que todos eles têm uma leitura de passado e

que a maioria está, efetivamente, no Simple Past. A diferença relativamente a (2) prende-se com o

facto de, em português, o Pretérito Perfeito surgir associado a eventos, ao passo que o Simple Past

surge aqui maioritariamente com estados.

114 Aqui entra em jogo o critério de noticiabilidade da proximidade, que consiste em dar destaque àquilo que é geograficamente próximo do leitor. Assim, a imprensa inglesa tem como foco da crónica desportiva a equipa inglesa, o Manchester United. Para contextualizar: os dois acontecimentos “paralelos” referidos nas diversas introduções são, por um lado, a primeira final da Liga dos Campeões (o mesmo tipo de jogo) disputada pelo Manchester United (o mesmo clube) em Wembley (o mesmo estádio); e, por outro, a final da Liga dos Campeões (o mesmo tipo de jogo) que teve lugar dois anos antes desta, com os mesmos intervenientes, e que terminou da mesma forma (derrota da equipa inglesa, vitória do Barcelona).

Page 67: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

66

3.3.1.2. O resumo em inglês

Uma vez que não faz parte da construção prototípica de crónicas desportivas em português,

analiso este segmento apenas relativamente às crónicas desportivas em inglês. Nestas, a leitura

temporal primordial é de passado, dado expectável, uma vez que se trata de resumir situações já

terminadas. O exemplo apresentado de seguida é apenas um excerto do resumo de uma das crónicas

desportivas e comprova estas leituras:

(4) “The pattern of an entertaining game bore an uncanny resemblance to events in the Stadio

Olimpico in 2009 as United started with optimism and intent before being swamped by

Barcelona's brilliance.

Pedro gave Barcelona the lead from one of the many wonderful passes played by Xavi - but

Wayne Rooney lifted the gloom during a torrid spell for United with a fine equaliser following

a swift exchange with Ryan Giggs.

Barcelona responded by cranking up what Ferguson labelled their passing "carousel" after the

break, with man-of-the match Messi at the centre of events as he tortured United.” (BBC

Sports)

Com o Simple Past sempre como tempo dominante, o resumo começa com um paralelismo com

outro jogo passado e estabelece-se a causa desse paralelismo: o United começou da mesma maneira,

mas o Barcelona acabou por se superiorizar em ambas as ocasiões. Percebe-se, pelo léxico e pelo

conhecimento do mundo, que os dois parágrafos seguintes estão relacionados entre si. Há uma

sequência de Simple Past, que cria novos domínios temporais nos dois parágrafos, sendo que, no

segundo, estamos perante uma sequência narrativa, que funciona globalmente como ponto de

referência para o terceiro parágrafo. A própria natureza semântica do verbo respond, na primeira

oração, reforça esta leitura. O resto do período consiste numa elaboração da situação dessa primeira

oração. Todas as situações aqui descritas estão incluídas no intervalo de tempo dado pelo adverbial

durativo after the break, não havendo informação relativa à delimitação temporal dessas situações.

Prevalece neste excerto uma leitura descritiva, com presença de apreciação, apesar da existência de

narração.

Em suma, vemos que este segmento pode congregar os três tipos de sequências textuais, sendo

que o leitor percebe que há progressão narrativa – não só pela presença de certos elementos no texto,

mas também pelo conhecimento do mundo. No cômputo geral, dois dos três parágrafos (o primeiro e

o último) são eminentemente descritivos, havendo ainda uma forte presença de apreciação. É

importante referir que neste tipo de textos, a argumentação nunca surge isoladamente, mas sempre

associada a outro tipo de sequências textuais.

Page 68: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

67

3.3.1.3. O relato cronológico em português e em inglês

Este é o segmento mais importante da crónica desportiva e é aquele que distingue este

subgénero dos demais. No corpus português, por exemplo (uma vez que não há resumo), é neste

ponto que o texto deixa de obedecer à técnica da pirâmide invertida, passando a relatar-se as situações

de acordo com a sua ordem cronológica. No corpus inglês, já se nota alguma progressão narrativa no

resumo, mas é sobretudo no relato cronológico que se torna possível localizar as situações de forma

exata ao longo da linha temporal. Julgo ser importante analisar sequência a sequência (cada sequência

corresponde tipicamente a um parágrafo), uma vez que se trata da macroparte mais longa da crónica

desportiva, podendo, por isso, ser heterogénea.

No corpus português, como mostra o exemplo abaixo, nota-se uma alternância relativamente

constante entre sequências descritivas e narrativas. Tipicamente, no relato, a descrição tem como

objetivo relatar fases mais prolongadas do jogo, que tenham tido um denominador comum (uma das

equipas estar a jogar melhor, por exemplo). As sequências narrativas referem-se a situações

específicas com particular relevância para o jogo (golos, por exemplo), sendo relatadas em maior

detalhe e normalmente com recurso a adverbiais temporais de localização exata.

(5) “A segunda parte do Barcelona foi impressionante. Domínio completo do jogo por parte dos catalães, que colocaram o guarda-redes Van der Sar em destaque na noite em que o holandês se despediu do futebol.

A organização defensiva do Manchester caiu por terra pouco aos 54 minutos perante a visão de Iniesta, que desfez o posicionamento dos defesas contrários com um passe diagonal e encontrou a genialidade de Messi. O argentino voltou a provar que com um metro de terreno livre é letal e perante a passividade de Evra rematou de fora da área para o 2-1.

O espetáculo era de alto nível e cumpriam-se as expectativas de uma das melhores finais de sempre da Champions. O Barça criava espaços, causava perigo e Messi tentou o golo perfeito com um calcanhar que ficou demasiado curto. Ficava a ideia de que a equipa azulgrana estava mais perto do terceiro do que propriamente o Manchester de empatar.” (Relvado)

No primeiro parágrafo, predomina o Pretérito Perfeito Simples. A primeira frase, que é estativa,

dá a todo o parágrafo a informação sobre a duração do intervalo de tempo (toda a segunda parte). Em

nenhum caso existe a informação sobre o início ou o fim de qualquer situação específica, pelo que há

lugar a uma sequência descritiva.

No segundo parágrafo115 há progressão narrativa, dada por um adverbial temporal de

localização exata (aos 54 minutos), com novo predomínio do Pretérito Perfeito, mas com eventos,

sendo a leitura global de sucessividade temporal. É, então, uma sequência narrativa. No terceiro

parágrafo, relacionado temporalmente com o anterior, surge em destaque o Imperfeito. Entra-se numa

nova fase do jogo, a partir da situação narrada no parágrafo anterior (o segundo golo do Barcelona).

Este tempo dá leitura aspetual de duração e/ou de estatividade, consistente com uma sequência

115 Neste parágrafo existe um erro de escrita no texto original, que se optou por manter.

Page 69: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

68

descritiva. A espaços, nos três parágrafos pode verificar-se alguma carga apreciativa. Veja-se agora

um exemplo do corpus inglês:

(6) “For the first 10 minutes it looked like it was working. United started with intensity and aggression, giving Barcelona a taste of their own full-court press. Ji-sung Park made three superb tackles in the first five minutes alone, including one on Messi. Without the leadership of Carles Puyol, not fit enough to start, the Barcelona defence looked rattled. Victor Valdes had to come racing off his line to punch the ball away from Rooney and then Gerard Pique almost passed the ball beyond the Barcelona goalkeeper under pressure from Javier Hernández.

Once that initial burst of energy waned, Barcelona found their composure. Xavi took control and Messi made his first darting run of the game, finishing it with a pass to Pedro - Nemanja Vidic had to be alert to close him down.

Villa hit one crisp shot wide and had another saved by Edwin Van der Sar and first Vidic and then Rio Ferdinand tackled Messi brilliantly but, having started with a high defensive line, United were being pushed deeper and deeper. They were struggling to hold on to the ball when they won it back, and there was an edge of desperation about their passing. Hernández, nervous, struggled and was repeatedly offside.

It was little surprise when Barcelona took the lead. Andres Iniesta exchanged passes with Sergio Busquets before poking the ball through to Xavi. Ryan Giggs was not close enough and the Barcelona captain, head up, eyes darting, closed on the United box, flicking an exquisite pass with the outside of his boot to Pedro. The Barcelona forward had discreetly evaded Patrice Evra and Vidic could not get across in time to prevent him from passing the ball past Van der Sar at the near post.” (Daily Telegraph)

A primeira diferença para o português prende-se com a dimensão superior de cada parágrafo.

No primeiro parágrafo, embora o Past Continuous surja na primeira frase, com leitura aspetual de

duração e estatividade, o tempo verbal dominante é o Simple Past, que surge em combinação com

outras construções verbais (como gerundivas, por exemplo). As três primeiras frases estão incluídas

em intervalos de tempo longos, inferidos quer pela presença de adverbiais, quer pelo conhecimento do

mundo. No quarto e último período, contudo, embora sem localização exata, apresenta uma leitura de

sucessividade temporal, com Simple Past combinado com eventos. Assim, percebe-se, desde logo,

que é possível haver narração e descrição num mesmo parágrafo, algo que não ocorre com a mesma

frequência no corpus português.

O mesmo acontece no segundo parágrafo, mais curto, e que volta a ter como tempo dominante

o Simple Past. O adverbial once dá progressão e transporta o leitor para uma nova fase do jogo

(durativa), tendo a segunda frase novamente leitura de sucessividade temporal e de narração.

No terceiro parágrafo regista-se uma inversão da ordem das sequências textuais. Inicia-se com

nova sequência narrativa, com eventos sucessivos no Simple Past. Contudo, a presença de mais do

que uma ocorrência de Past Continuous (e ainda de alguns estativos) leva a leituras de duração,

consistentes com sequências descritivas.

Page 70: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

69

No último parágrafo, avança a narrativa, servindo a frase inicial para informar o leitor de que a

sequência seguinte é a narração do golo do Barcelona (ainda que não seja feita a localização temporal

exata). As três frases seguintes constituem uma sequência textual narrativa, com predomínio do

Simple Past com eventos sucessivos (ainda que se recorra também a outros tempos verbais).

Em suma, percebemos que, em quatro parágrafos, três possuem simultaneamente características

descritivas e narrativas. Devido à predominância do Simple Past, há sempre anterioridade

relativamente ao momento da enunciação. O Past Continuous surge por diversas vezes, num tipo de

construção (progressiva) que não se encontra no corpus português. Havendo adverbiais temporais de

duração, a sequência textual é tipicamente descritiva, embora possa haver casos em que há relações

retóricas de narração (como em (6)). Embora não se encontrem casos neste exemplo em particular,

quando há adverbiais de localização exata, ora surgem normalmente em sequências descritivas a

introduzir uma sequência narrativa, ora aparecem logo em sequências narrativas. Veja-se:

(7) “With rhythmic fluidity Barcelona forged ahead in the 27th minute of an engaging first half, which Guardiola's side very much bossed in terms of possession. (Sky Sports)

(8) “Just shy of the 70-minute mark, Messi turned from goalscorer to architect as he laid on a stunning third for Villa.” (Sky Sports)

Do ponto de vista aspetual, os estados e os eventos com duração (básica ou derivada) incluem-

se em sequências descritivas, seja com o Simple Past seja com o Past Continuous. Pelo contrário, os

eventos que, pelo conhecimento do mundo se sabe terem duração de pequenos intervalos de tempo, e

que são conjugados no Simple Past, têm normalmente sucessividade e constituem sequências

narrativas. Nestas sequências podem admitir-se ainda outros tempos, ainda que não possam surgir na

oração principal, como é o caso das gerundivas ou das infinitivas.

Assim, e ao passo que em português há uma alternância mais marcada entre descrição e

narração, no corpus inglês, os dois tipos de sequências parecem estar mais intercalados, não se

podendo afirmar com total certeza se há um tipo de sequência dominante, muito embora o leitor

consiga perceber o avanço da narrativa.

3.3.1.4. A conclusão em português e inglês

Os exemplos aqui apresentados, que servem de amostragem das conclusões encontradas nos

corpora, mostram novamente diferenças relativamente ao português e ao inglês. Regra geral, em

português predominam o Presente do Indicativo e frases estativas, como o exemplo seguinte ilustra:

(9) “Guardiola, Xavi, Iniesta, Messi têm mais uma Champions ganha. Um troféu europeu apenas parecia demasiado curto para o futebol mostrado pelos «blaugrana» nos últimos anos. Consagraram-se nesta noite como a melhor equipa da Europa e reforçam a ideia de serem a melhor do mundo. Há quem diga, que até são a melhor da História...” (MaisFutebol)

Page 71: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

70

Neste exemplo, apenas o segundo e o terceiro períodos surgem na esfera temporal do passado,

com o Imperfeito e com o Pretérito Perfeito Simples, respetivamente. A primeira frase tem uma

relação de sobreposição com o momento de enunciação, sendo a leitura de tempo presente. Na

terceira há uma sequência de tempos verbais com Pretérito Perfeito num primeiro membro

coordenado e com Presente do Indicativo no segundo; esta segunda oração parece ser uma frase com

duas leituras (duplo acesso116), sendo simultânea ao ponto de perspetiva temporal e ao momento da

enunciação. A última frase, iniciando-se com uma expressão genérica e com algo de idiomático (há

quem diga), é sobretudo apreciativa, não sendo a leitura temporal o mais importante. Assim, no

cômputo geral, a conclusão é predominantemente um tipo de sequência descritiva-apreciativa.

Veja-se agora uma conclusão de uma crónica inglesa (que, recorde-se, nem sempre têm

conclusão):

(10) “The rest of the game was merely a conclusion of the formalities as Barcelona lifted the famous trophy for the fourth time and United were left to wonder how they can halt what seems to be an unstoppable force.” (BBC Sports)

Em inglês o tempo dominante é o Simple Past, numa frase que é predominantemente estativa e

que descreve o final do jogo e a fase do pós-jogo com um tom algo apreciativo, e focalizando-se na

equipa local117. Por essa razão, trata-se de um (micro)segmento geralmente descritivo-apreciativo. Em

comum com o corpus português têm ainda a curta dimensão.

3.3.2. Conclusões do subcapítulo

Neste ponto, explicou-se de que forma a expressão do tempo influencia o tipo de sequência

textual, sendo essas sequências que acabam por caracterizar um dado tipo de texto. Afinal, e como já

referia Fonseca (1993: 41), “a macroestrutura textual define (...) o que intuitivamente constitui o

«sentido global» do texto.”

Relativamente ao corpus português, há vários dados a reter. A introdução é geralmente

descritiva e tanto pode focar-se na causa do resultado, sendo aí o tempo passado; ou na consequência,

predominando aí o tempo presente; o relato cronológico ocupa a parte maior do texto e é marcado por

uma forte alternância entre sequências narrativas e sequências descritivas. Assim:

- a narração surge quase sempre no escopo de uma frase com Pretérito Perfeito Simples e com

eventos, ainda que seja possível encontrar relações de posterioridade relativamente ao evento

116 Ogihara (1995: 177) define as chamadas double access sentences como “sentences which have a past tense morpheme in the matrix clause and a presente tense morpheme in a subordinate clause in the immediate scope of the matrix past tense”. 117 Pelo critério jornalístico da proximidade geográfica.

Page 72: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

71

anterior com infinitivas (em orações preposicionais com com, por exemplo). Embora não surja

nesta amostra, é também possível encontrar construções de sucessividade temporal com

gerundivas;

- a descrição pode ocorrer de duas formas distintas:

a) com Pretérito Perfeito Simples em frases estativas com uma duração mais ou menos

extensa ou não especificada;

b) com Imperfeito em frases eventivas, podendo a informação aspetual do verbo ser

complementada com adverbiais de duração. A leitura dominante é a de situações

durativas, dependendo da classe aspetual ou mudança aspetual induzida pelo Imperfeito,

obtendo-se situações derivadas, em muitos casos estativas; os intervalos de tempo

descritos não são muito longos, e a interpretação é a de que se está a descrever uma fase

relativamente homogénea do jogo.

É possível, num discurso maioritariamente descritivo, encontrar progressão narrativa, sobretudo

devido à presença de adverbiais temporais, sejam ou não de localização exata. Além disso, e

confirmando as crónicas desportivas como um género híbrido, verifica-se que existem excertos em

que o autor usa avaliações positivas e negativas para classificar uma fase do jogo, um jogador ou uma

das equipas. Assim sendo, as sequências textuais descritivas podem ser, em simultâneo, apreciativas;

o mesmo dificilmente ocorre em sequências narrativas, que são mais factuais.

Relativamente ao corpus inglês, o Simple Past é o tempo dominante em todos os segmentos. Na

introdução, a leitura é predominantemente descritiva-apreciativa; no resumo, há uma maior incidência

de descrição (com ou sem apreciação) mas já há algumas ocorrências, ainda que pontuais, de

narração; no relato cronológico há bastantes ocorrências de sequências híbridas, que reúnem

características próprias da descrição, da narração e ainda de apreciação.

Não deixa de ser surpreendente a existência de muitas combinações do Simple Past com

estados, que desmentem parcialmente a hipótese de serem textos predominantemente narrativos. A

combinação deste tempo com estativos justifica-se, contudo, pela necessidade de dar duração a fases

do jogo, dado que não existe em inglês um tempo equivalente ao Imperfeito.

Por seu turno, a conclusão não tem a mesma importância: não surge em todas as crónicas

desportivas e, em certos casos, faz apenas parte do último parágrafo (no exemplo dado, é constituída

por apenas uma frase). Tal como em todos os segmentos anteriores, o tempo dominante é o Simple

Past, em construções predominantemente estativas.

Importa ainda referir que, muito embora haja uma forte presença de descrição – intercalada

com sequências narrativas -, o leitor apercebe-se sempre da progressão narrativa. Assim sendo, e

lembrando as conceções de Adam (1990; 1996; 1997; 1999) sobre sequências textuais, pode inferir-se

que o efeito dominante de leitura é o da narração.

Page 73: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

72

3.4. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus português

Nos pontos que se seguem apresentam-se diferentes valores semânticos dos tempos verbais em

português, a partir de exemplos que sirvam de amostragem de cada segmento do corpus. Trata-se de

uma análise microestrutural, com especial enfoque no papel que as sequências de tempos verbais têm

para a interpretação das frases, sobretudo para as relações retóricas que se estabelecem entre eles. O

estudo é feito do seguinte modo:

- analisam-se os principais tempos verbais/sequências de tempos verbais em cada um dos

quatro segmentos (três para o português);

- de forma a conseguir uma melhor organização do trabalho, agrupam-se os tempos verbais

dominantes118ou os mais relevantes nas sequências verbais mais ilustrativas do corpus;

- podem ser referidos alguns valores temporais em certas sequências de tempos verbais, mas a

análise mais aprofundada de cada tempo é feita apenas quando for:

a) um tempo verbal dominante; b) um tempo verbal frequente numa dada sequência de tempos; c) uma construção com particular relevância ou que se destaque num determinado segmento mais do que noutros;

Por não serem considerados exemplos com a dimensão dos segmentos analisados acima, nem

sempre é possível, nesta parte da análise, determinar o tipo de sequências textuais ou as relações

retóricas (embora esse trabalho seja feito sempre que relevante para a leitura global). Tipicamente,

estas considerações são apenas feitas em exemplos com frases longas ou com mais de uma frase. A

análise é feita a partir dos exemplos ilustrados. Não é de excluir a hipótese de um tempo verbal

estabelecer outros tipos de relações retóricas ou de surgir noutro tipo de construções ou sequências.

3.4.1. Introdução

Como referido em 3.3.1.1, em português há duas formas possíveis de construir introduções em

crónicas desportivas: na primeira, o tempo predominante é o presente; na segunda, o passado.

Presente do Indicativo

Os exemplos retirados do corpus confirmam que, na sua maioria, as ocorrências do Presente do

Indicativo têm sobretudo uma leitura aspetual com eventos, que tanto pode ser de generalização ou de

habitualidade, e temporal com estados (cf. Oliveira, 2003: 154-5). Efetivamente, é nas introduções

que o Presente do Indicativo119 surge como tempo verbal de destaque, sendo dominante em três das

seis crónicas analisadas.

118 Por tempo verbal dominante entenda-se aquele que determina qual a esfera temporal em que as situações estão localizadas. 119 Além da introdução, também no segmento conclusão se regista uma certa predominância deste tempo verbal.

Page 74: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

73

(11) “(...) o Barcelona é campeão europeu pela quarta vez na história, graças a um triunfo sobre o Manchester United, em Wembley, por 3-1.” (MaisFutebol)

(12) “O futebol é um jogo simples. É a partir desta ideia básica que Guardiola construiu uma equipa de sonho, que está a marcar uma era no futebol mundial e que dentro de alguns anos será olhada como a referência daquilo que os adeptos consideram a perfeição.” (Relvado)

(13) “O Barcelona é o novo - e justo - campeão europeu, sucedendo ao Inter (...) (O JOGO)

Os próprios valores semânticos do verbo copulativo ser já atribuem às situações uma leitura

estativa, que se mostra predominante neste segmento das crónicas. Em (11) há um estado não-faseável

com leitura temporal de sobreposição relativamente ao momento da enunciação, sendo que a frase

possui apenas uma predicação. Esta parece estabelecer com o resto da frase uma relação retórica de

enquadramento, não havendo lugar a qualquer sequência de tempos.

O mesmo não acontece em (12). A primeira frase é uma frase simples e consiste numa

generalização no Presente no Indicativo, que serve de enquadramento para a segunda. Nesta, o autor

faz uma passagem desde o passado (construiu) até à esfera temporal do futuro (será olhada),

passando pelo momento da enunciação, com uma construção progressiva no Presente. Através desta

frase, o autor compromete-se com a possibilidade de a equipa de sonho do Barcelona vir a ser a

referência de outras equipas no futuro. Esta sequência, pela forte carga apreciativa e pelos vários

valores temporais e aspetuais que apresenta, pode ser classificada como sendo descritiva-apreciativa.

Finalmente, em (13), o Presente do Indicativo, que nesta predicação tem um valor estativo não-

faseável,está sobreposto ao momento da enunciação - dado pelo verbo ser - e combina com o

Gerúndio; este é sobreposto ao tempo da situação da oração principal e parece ter uma leitura de

consequência.

Pretérito Perfeito Simples

As três restantes introduções de crónicas desportivas em português estão localizadas na esfera

temporal do passado, sendo o tempo verbal dominante o Pretérito Perfeito Simples. Vejam-se os

seguintes exemplos:

(14) “Tal como em 2009, o Barcelona venceu o Manchester United numa final da Liga dos Campeões. Tal como em 2009, Lionel Messi marcou no jogo decisivo. Tal como em 2009, Pep Guardiola ganhou o braço-de-ferro com Alex Ferguson. Foi com um 3-1 que os catalães asseguraram o quarto título europeu de clubes, ultrapassando nesta contabilidade o rival desta noite” (Público)

(15) “O Barcelona voltou a superiorizar-se ao Manchester United e conquistou a Liga dos Campeões com uma vitória por 3-1.” (Zerozero)

Page 75: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

74

Em (14), as três primeiras frases, sempre no Pretérito Perfeito Simples, e através de um

paralelismo estrutural120, fazem referência a um outro jogo entre os mesmos participantes, que teve o

mesmo resultado. Na última frase, o Pretérito Perfeito Simples da estrutura clivada – ambas

estabelecendo domínios temporais anteriores ao momento da enunciação - combina com o Gerúndio,

que, pelo conhecimento do mundo, parece ser simultâneo mas, do ponto de vista temporal, parece ser

também posterior ao tempo da situação da estrutura clivada.

Em (15) surgem duas orações coordenadas com Pretérito Perfeito Simples121, em que parece,

sobretudo pelo conhecimento do mundo, haver leitura de posterioridade do segundo membro

coordenado relativamente ao primeiro, com uma certa interpretação de consequência: por o Barcelona

ter sido superior, conquistou a Liga dos Campeões. Perante esta leitura, infere-se uma relação retórica

de narração.

Em suma, não há um predomínio óbvio de um tempo verbal – metade das introduções têm

como tempo verbal dominante o Presente do Indicativo, a outra o Pretérito Perfeito Simples. O

primeiro pode combinar com vários tempos diferentes, o segundo combina tipicamente com outras

ocorrências de Pretérito Perfeito Simples. Sobressaem as relações retóricas de enquadramento. É algo

expectável, tendo em conta que a introdução deve conter a informação essencial sobre os

acontecimentos do jogo, mas não detalhada. Este tipo de relações parece levar a um efeito dominante

de sequências descritivas.

3.4.2. Relato cronológico

Tratando-se da parte mais substancial das crónicas desportivas, é expectável que neste

segmento se destaque o tempo verbal com maior número de ocorrências – no caso, o Pretérito

Perfeito122.

Pretérito Perfeito Simples

Por ser um tempo verbal transversal a todo o texto, pode ter mais do que uma leitura. Contudo,

habitualmente, é este o tempo verbal da(s) frase(s) matriz(es) em excertos de texto em que predomina

o modo do discurso narrativo e em que há progressão narrativa. Vejam-se as palavras de Oliveira

(2013: 518), baseadas num dos pilares da Teoria da Representação Discursiva de Kamp e Reyle

(1993): “Quando ocorre uma sucessão de frases coordenadas ou sequencialmente ordenadas num

texto com os verbos no pretérito perfeito, representa-se usualmente uma sucessão de eventos (...).

120 O paralelismo estrutural é um processo que visa “assegurar a coesão textual” e que é marcado pela “presença de traços gramaticais comuns (...), da mesma ordem de palavras ou da mesma estrutura frásica em fragmentos textuais contíguos.” (Duarte, 2003: 110) 121 Na primeira oração coordenada estamos perante uma construção com verbo aspetual. Contudo, este tipo de construção não é analisada nesta tese, interessando apenas a informação temporal veiculada pelo Pretérito Perfeito Simples. 122 Cf. análise quantitativa em 3.3.

Page 76: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

75

Neste caso, o tempo de cada situação representada por um verbo funciona como uma referência para o

tempo da situação representada pelo verbo seguinte, formando uma progressão narrativa (cf. Kamp e

Reyle 1993).”

Confirma-se, neste corpus, um uso recorrente do Pretérito Perfeito Simples em construções de

sucessividade. O tempo verbal não causa qualquer alteração aspetual, dando apenas informação de

uma situação terminada no passado. Cada situação é imediatamente posterior à anterior, seguindo

uma ordem cronológica123. Vejam-se alguns exemplos:

(16) “Aos 34 minutos, depois de uma bola recuperada a um lançamento de Abidal, o 10 inglês tabelou com Carrick e progrediu, tabelou com Giggs e tentou a sua, merecida, sorte (…).” (Zerozero)

E1 < E2 < E3 < E4

(E1 = o 10 inglês tabelou (...); E2 = e progrediu; E3 = tabelou com Giggs; E4 = e tentou a sua (...) sorte)

(17) “Rooney, incansável durante todo o jogo, pediu a pressão alta dos seus companheiros num lançamento lateral adversário e os Red Devills recuperaram a bola. Rooney tabelou com Giggs (...) e o galês assistiu o avançado para o 1-1.” (Relvado)124

E1 < E2 < E3 < E4

(E1 = [Rooney] pediu a pressão alta; E2 = os Red Devils recuperaram a bola; E3 = Rooney tabelou com Giggs; E4 = o galês assistiu o avançado.)

Trata-se de casos clássicos de sucessividade temporal, com diversos eventos coordenados no

Pretérito Perfeito Simples, todos com leitura de posterioridade em relação à situação imediatamente

anterior. Em (17) a localização temporal é dada pelo adverbial de localização exata aos 34 minutos,

estabelecendo-se uma relação retórica de narração. Em (18), há uma ligeira carga apreciativa,

havendo depois duas frases, ambas coordenadas, igualmente com uma relação retórica de narração.

Por essa razão, trata-se de duas sequências narrativas. As sequências narrativas nem sempre

obedecem à sua construção mais prototípica, exemplificada nos exemplos anteriores. Compare-se:

(18) “No entanto, foram os olhos que Xavi tem nos pés que descobriram Pedro Rodriguez. O extremo bateu Van der Sar e tornou-se no primeiro espanhol a marcar pelo Barcelona numa final da Liga dos Campeões (...).” (MaisFutebol)

123 Percebe-se agora a importância que tem a sucessividade temporal para a própria nomenclatura das crónicas desportivas. 124 O exemplo (18) contém um erro ortográfico, que não foi corrigido por se tratar de uma citação. Ao invés de Red Devills deveria estar Red Devils.

Page 77: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

76

E1<E2 <E3 (E1 = descobriram Pedro Rodriguez; E2 = O extremo bateu Van der Sar; E3 = tornou-se no primeiro

espanhol a marcar (...)

A construção estativa foram os olhos que Xavi tem nos pés que (...), uma frase clivada que

focaliza a intervenção de Xavi através de uma expressão idiomática serve de enquadramento para a

situação seguinte. Pelo conhecimento do mundo, é possível inferir que a situação descobrir Pedro

Rodríguez é anterior a o extremo bateu Van der Sar. Esta situação inicia mais uma construção de

coordenação com Pretérito Perfeito (combinado com uma oração infinitiva), em que há

sucessividade temporal e uma relação retórica de narração. Isto mostra ser possível

encontrar sequências textuais narrativas que incluem relações retóricas que não apenas a de narração e

que incluem construções que não apenas a de progressão narrativa (com estados e eventos e também

com a combinação com outros tempos verbais que não o Pretérito Perfeito Simples)125.

Em eventos com uma duração correspondente a intervalos de tempo longos ou em estados, o

Pretérito Perfeito Simples pode ainda surgir associado a sequências textuais descritivas.

(20) “Durante vinte minutos, mais o intervalo, o vencedor esteve sempre em dúvida.” (MaisFutebol)

(21) “E a verdade é que os ingleses entraram bem, pressionando alto e anulando a circulação de bola do adversário nos primeiros 10 minutos.” (Relvado)

(22) “Messi deu mais brilho ao trio de ataque MVP do Barça: Messi, Villa e Pedro, ainda que não por essa ordem, fizeram os golos da vitória e o argentino ainda obrigou Van der Sar a evitar outro golo aos 63’.” (Record)

Em (20), há um estado, cuja duração corresponde ao intervalo de tempo dado pelo adverbial

temporal de duração durante vinte minutos. A expressão de duração acontece também em (21), em

que o adverbial dá um intervalo marcado de tempo (10 minutos). Neste exemplo, o Pretérito Perfeito

surge combinado com duas ocorrências de gerúndio, sobrepostas entre elas e incluídas no intervalo

dado pelo adverbial; este permite também uma leitura de repetição de situações. A oração gerundiva é

uma elaboração da oração principal.

125 Isto vai ao encontro da definição que Smith (2004: 603-4) faz de narração, que abre a porta à presença de estados e a relações de enquadramento em sequências narrativas (dado que permite leituras de simultaneidade): “The essence of Narration is dynamism, in which events and states are related to each other. After the first sentence of a narrative, the times are sequential or simultaneous with previous times in the text. They are not related to [Speech Time]. (...) The narrative conveys a series of events that follow each other at a time prior to SpT.”

S1

Page 78: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

77

Por seu turno, em (22), exemplo em que o único tempo verbal é o Pretérito Perfeito, é apenas

pelo conhecimento do mundo que se pode inferir que Messi dar mais brilho ao ataque é algo que

ocorreu durante todo o jogo; esta frase serve de enquadramento para as situações descritas nas frases

seguintes.126 Significa isto que as situações seguintes estão incluídas no intervalo de tempo inferido na

oração principal, embora a última situação esteja, também, localizada temporalmente por um

adverbial de localização exata. A sequência textual é, por isso, descritiva, tendo ainda uma

componente apreciativa.

Imperfeito do Indicativo

Contudo, o tempo verbal de eleição da descrição nas crónicas desportivas em português não é o

Pretérito Perfeito Simples, mas sim o Imperfeito. Este é um tempo com valor temporal de passado,

mas que pode ter diversas leituras aspetuais e até modais. É interessante notar que, na crónica

desportiva do MaisFutebol, por exemplo, há três parágrafos consecutivos em que se registam quatro

usos distintos do Imperfeito. Veja-se:

(23) “Com o 1-0, podia ter-se pensado que a final ia ser mais catalã que inglesa. Porém, Wayne Rooney equilibrou a balança com o empate. Durante vinte minutos, mais o intervalo, o vencedor esteve sempre em dúvida.”

(24) “Só que em campo estava um pequeno argentino, de talento inigualável no pé esquerdo. Messi usou aquele «Pé de Deus» para apontar o 12º golo e meter o resultado num 2-1.”

(25) “Um quarto de hora depois, Nani entrava em campo, quando Ferguson tentava levar a equipa para a frente: a hora de proteger o miolo já tinha passado. No mesmo minuto, David Villa imitava o arco de Wembley e fazia o 3-1, no melhor golo da noite. A festa era catalã na capital inglesa (…). (MaisFutebol)

E3 < E1, E2 < E4 < E5, S1 (E1 = Nani entrava em campo; E2 = Ferguson tentava levar a equipa para a frente; E3 = a hora de

proteger o miolo já tinha passado; E4 = Villa imitava o arco de Wembley; E5 = [Villa] fazia o 3-1; S1 = A festa era catalã)

Em (23), as duas ocorrências do Imperfeito têm leituras diferentes: o primeiro tem uma leitura

aproximada de contrafactualidade, funcionando como modal127 e, na frase completiva, há uma leitura

temporal de futuro do passado, devido à construção ir + Infinitivo. As duas frases seguintes estão no

Pretérito Perfeito: a primeira estabelece uma relação retórica de contraste com a frase inicial e a

segunda confirma uma leitura de duratividade com o adverbial temporal durante vinte minutos, além

de se tratar de uma situação estativa.

126 Na medida em que a frase inicial, que, na tipologia de Mann e Thompson (1988) funciona como satélite, permite ao recetor compreender melhor o núcleo. (Cf. 2.3.) 127 Para mais sobre o Imperfeito e valores semânticos de modalidade, cf. Oliveira, 2003; 2013.

Page 79: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

78

Em (24), o Imperfeito é novamente usado com um estativo, de valor temporal de passado em

relação ao momento da enunciação - e que estabelece uma relação retórica de enquadramento com a

frase seguinte, cuja oração principal está no Pretérito Perfeito Simples – localizando a situação num

intervalo não marcado de tempo -, seguida de uma oração infinitiva128 que estabelece com a principal

uma relação de inclusão temporal. Este exemplo é demasiado curto para se poder determinar se

corresponde a dado tipo de sequência textual, mas nele é possível inferir características de descrição,

além de que possui uma componente apreciativa129.

Já em (25), na primeira frase, o Imperfeito surge com um adverbial temporal de localização,

que marca o ponto de perspetiva temporal130, correspondente ao fim de uma duração de um quarto de

hora. Segue-se uma oração adverbial temporal iniciada por quando, na qual está incluída a situação

da oração principal. Mas no segundo período, há novamente localização temporal exata dada por novo

adverbial (No mesmo minuto), seguindo-se uma frase complexa com coordenação sindética, com

leitura preferencial de sucessividade131. Embora se trate de uma sequência híbrida, é possível detetar

neste exemplo uma sequência textual narrativa com Imperfeito, uma vez que há progressão narrativa e

relações retóricas de narração. Trata-se de um caso de uso do Imperfeito narrativo, como por vezes é

classificado. No entanto, o Imperfeito pode surgir em sequências narrativas sem, contudo, estabelecer

relações retóricas de narração. Compare-se:

(26) “O relógio marcava 54 minutos quando La Pulga recebeu de Iniesta um daqueles passezitos de dois metros, deu três passos e atirou às redes.” (Zerozero)

Em (26), o Imperfeito é o tempo da oração principal, que localiza a situação na linha temporal (54

minutos do jogo). A situação é perspetivada a partir da oração adverbial temporal com quando, que

marca o ponto de perspetiva temporal da oração principal, sendo a relação temporal de inclusão.

Contudo, a leitura de sucessividade temporal, com relação retórica de narração, é dada apenas pelos

eventos coordenados no Pretérito Perfeito Simples que se seguem à oração adverbial.

S1

E1 < E2 < E3

128 As orações infinitivas são analisadas de forma breve mais adiante. 129 A apreciação, neste exemplo, não é apenas dada pela adjetivação ligada a Messi, mas também pela intertextualidade da expressão «Pé de Deus», que remete para a célebre «Mão de Deus», expressão usada por Diego Maradona (famoso jogador das décadas de 80 e 90) na célebre vitória sobre Inglaterra no Mundial de 1986, garantida com um golo seu marcado com a mão. Messi é ainda hoje comparado a Maradona no estilo de jogo. 130 Tipicamente, este tipo de construções surge com o Pretérito Perfeito Simples, cujo ponto de referência é o momento da enunciação. 131 Pode haver uma leitura marginal de sobreposição, mas pelo conhecimento do mundo, sabe-se que, quando o autor diz imitava o arco de Wembley, se refere ao remate, e que só depois de este ser desferido dá em golo.

Page 80: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

79

(E1 = La Pulga recebeu de Iniesta; E2 = deu três passos; E3 = atirou às redes; (S1= o relógio marcava 54 minutos)

Os exemplos (25) e (26) são interessantes por não corresponderem ao uso esperado do Imperfeito

em português. Veja-se agora:

(27) “O espetáculo era de alto nível e cumpriam-se as expectativas de uma das melhores finais de sempre da Champions. O Barça criava espaços, causava perigo e Messi tentou o golo perfeito com um calcanhar que ficou demasiado curto.” (Zerozero)

(28) “Evra e Valencia surgiam rápidos nas alas, Ji-Sung Park ocupava bem os espaços e o Barça tinha dificuldade em ligar o jogo.” (Público)

Em (27), numa sequência com forte valor apreciativo, a primeira frase combina um estado e um

evento coordenados no Imperfeito, que estabelece com a frase seguinte uma relação retórica de

enquadramento. As situações são anteriores ao momento da enunciação e sobrepostas entre si. No

segundo período, há uma nova coordenação no Imperfeito, com leitura aspetual de iteratividade dada

em particular pelos complementos: no intervalo de tempo não marcado, dado pela frase anterior, o

Barça, na maioria das jogadas, criava espaços e causava perigo. Nova coordenação introduz uma

relação retórica de elaboração, com um evento no Pretérito Perfeito Simples (tentou).

Por sua vez, em (28), há novamente coordenação de eventos temporalmente sobrepostos com

Imperfeito, em que as leituras predominantes são de duração132 e de repetição de situações. Por se

referirem a períodos relativamente longos do jogo – ainda que os seus limites não estejam marcados -,

as duas sequências são descritivas-apreciativas.

Em suma, o Imperfeito, enquanto tempo verbal dominante nas crónicas analisadas, é um tempo

verbal heterogéneo. Embora com eventos focalize tipicamente a duração, com diferentes

consequências aspetuais, há casos em que surge associado a adverbiais de localização exata, tendo,

por isso, valor temporal de passado com situações eventivas e leitura de Imperfeito narrativo. Com

estados, tem leitura temporal de passado. No que às sequências de tempos diz respeito, parece ter

mais facilidade em combinar com o Pretérito Perfeito Simples, sobretudo quando há progressão

narrativa, o que parece confirmar a conclusão de que existe, no relato cronológico, alternância entre

sequências descritivas (com Imperfeito133) e narrativas (com Pretérito Perfeito Simples). Quanto às

relações retóricas, o Imperfeito surge bastantes vezes em situações de enquadramento, sendo as

leituras temporais de simultaneidade as mais comuns.

Vimos até aqui os dois tempos mais relevantes em português, pois é através deles que avança a

narrativa. São também os tempos que mais facilmente surgem nas frases matrizes ou em orações

132 A determinação do intervalo de tempo é dada por um adverbial temporal de duração na frase anterior. 133 Ainda que, como vimos, possa também ser usado em sequências narrativas.

Page 81: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

80

principais. Os próximos tópicos apresentam duas formas verbais não finitas134 que surgem

frequentemente em diferentes construções e que influem na interpretação temporal e aspetual das

situações.

Orações infinitivas

Há um elevado número de ocorrências de infinitivos nos corpora. Se nem todos são dotados de

temporalidade135, há certos casos que, em contexto, podem contribuir para a interpretação temporal e

aspetual das frases e que, por essa razão, são relevantes para os estudos de tradução.

É possível encontrar construções narrativas com sucessividade temporal com infinitivo

precedido da preposição a. Veja-se:

(29) “Aos 16 minutos Xavi serviu Pedro para um desvio ligeiramente ao lado, aos 20’ foi Villa a rematar próximo do alvo, aos 21’ foi Van der Sar a segurar o tiro do 7 e aos 22’ foi Vidic, com um corte enorme, a impedir que Messi activasse o placar.” (Zerozero)

(30) “O craque argentino jogou e fez jogar e aos 45’ ultrapassou Ferdinand com um túnel e galgou terreno com Carrick nas costas, servindo Villa na direita, com o avançado a retribuir a gentileza (...).” (Record)

Há uma expressão clara de sucessividade entre eventos, dada sobretudo pelos adverbiais temporais

de localização exata. Em (29), o Infinitivo surge sempre em orações iniciadas pela preposição a,

selecionadas pelo verbo ser no Pretérito Perfeito. Esta construção clivada acaba por ter um valor

enfático, semelhante a foi x que fez y. Há um adverbial de localização exata para cada evento, sendo a

leitura de sucessividade temporal e a relação retórica de narração. Já em (30), há uma oração iniciada

pela preposição com, sendo o infinitivo precedido da preposição a. As situações estão localizadas na

esfera temporal do passado, numa série de orações coordenadas no Pretérito Perfeito. O adverbial

temporal de localização exata (aos 45’) na terceira oração coordenada é o ponto de partida para uma

relação retórica de elaboração relativamente às duas orações anteriores e determina o intervalo de

tempo em que ocorrem as situações sucessivas – incluindo a oração com infinitivo. Trata-se, por isso,

de uma sequência narrativa com relação retórica simultânea de elaboração e de narração.

Há ainda casos de uso do infinitivo em orações com para, em que a leitura temporal parece ser

de simultaneidade em relação ao tempo da oração principal.

(31) “(...) Messi usou aquele «Pé de Deus» para apontar o 12º golo na Champions e meter o resultado num 2-1.” (MaisFutebol)

134 As formas verbais não finitas são, em português, o infinitivo, o gerúndio e o particípio passado. Cf., por exemplo, Oliveira (2013: 547). Nesta tese, estudam-se apenas os dois primeiros, mas apenas em orações infinitivas e gerundivas, respetivamente. As construções de particípio passado, pela complexidade que representam, não são objeto de estudo. 135 A literatura debate-se ainda hoje sobre se o infinitivo tem ou não informação temporal por si só (para uma perspetiva sintática sobre infinitivos, cf. Brito, 2013; para uma perspetiva semântica, cf. Cunha, Gonçalves e Silvano, 2010).

Page 82: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

81

(32) “Os adeptos blaugrana iam aplaudindo nas bancadas. E reforçaram a dose para aclamar Carles Puyol (...)” (Público)

Em (31), as duas orações infinitivas finais, coordenadas sindeticamente, são sobrepostas entre

si e parecem permitir duas leituras em relação ao tempo da situação da oração principal: uma de

sobreposição, outra de posterioridade, pela leitura de finalidade e de consequência. Já em (32),

estamos perante uma coordenação frásica, em que a primeira frase mostra uma sequência de tempos

Imperfeito + gerundiva, dando uma leitura aspetual de duração e de iteratividade. Na segunda frase, o

Pretérito Perfeito da oração principal localiza a situação na esfera temporal do passado, sendo a leitura

da oração infinitiva de sobreposição e não sendo tão clara a leitura de finalidade.

A leitura aspetual de iteratividade e duração também pode ocorrer em orações infinitivas

iniciadas por a, desde que existam elementos na frase que providenciem informação relativa à

extensão do intervalo de tempo� 1. É o caso de:

(33) “E foi à imagem desse momento que se desenrolaram os dez minutos iniciais da partida. Os red devils entraram com toda a força e confiança, a pressionar forte e a encostar o Barça lá atrás” (Zerozero)

[10 minutos iniciais]

|—|—|—|—|—|—| E1, E2

(E1 = [os red devils entraram] a pressionar forte; E2 = a encostar o Barça; = repetição de eventos)

Neste caso, as duas infinitivas, coordenadas sindeticamente, estão sobrepostas em relação ao

tempo da oração principal, que é anterior ao momento da enunciação. As situações destas duas

orações parecem estabelecer com a situação da oração principal uma relação retórica de elaboração.

Em construções deste tipo, pela leitura aspetual e pela própria construção, as sequências são sempre

descritivas.

Em suma, sendo um tempo dependente, o infinitivo não contribui por si só para a determinação

do tipo de sequências textuais. Contudo, é possível que a sua presença em construções verbais

contribua para a leitura temporal e/ou aspetual das situações, surgindo em sequências narrativas com

relações retóricas de elaboração ou narração; ou em sequências descritivas, surgindo também em

relações de elaboração. Desse modo, também as formas verbais no Infinitivo são relevantes para os

estudos de tradução.

Orações gerundivas

O uso do Gerúndio pode ter implicações, quer ao nível temporal, quer ao nível aspetual –

possuindo, desta forma, relevância para os estudos de tradução. Estão apenas aqui em estudo as

orações gerundivas, que surgem em frases complexas e são sempre dependentes temporal e/ou

aspetualmente de uma oração principal, podendo surgir em posição inicial ou final (cf. Leal, 2001).

Page 83: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

82

No corpus analisado, todas as ocorrências de gerundivas surgem em posição final, sendo

normalmente precedidas por predicados no Pretérito Perfeito. Confirma-se que, em frases com

Gerúndio Simples combinado com eventos no Pretérito Perfeito Simples, a leitura preferencial é a de

simultaneidade, seja ela de sobreposição ou de inclusão, podendo ainda haver, conforme os casos,

sucessividade (cf. Leal, 2001). Isto é independente da classe aspetual quer da situação da oração

principal, quer da da oração gerundiva. Vejam-se os seguintes exemplos:

(34) “E a verdade é que os ingleses entraram bem, pressionando alto e anulando a circulação de bola nos primeiros 10 minutos” (Relvado)

(Nos primeiros 10 minutos)

|—|—|—|—|—|—|—|—|

E1∞, E2 ∞ (E1 = pressionando alto; E2 = anulando a circulação de bola; ∞ = repetição de eventos)

(35) “O Barcelona dominou do princípio ao fim (...), subjugando uma das equipas mais competentes do mundo (...)” (Relvado)

Em (34), há aqui uma leitura de inclusão das situações da orações gerundivas em relação ao

intervalo de tempo da situação da oração principal, que se traduz numa relação retórica de elaboração.

A localização temporal é dada pelo adverbial de duração nos primeiros 10 minutos. Do ponto de vista

aspetual, a interpretação é de iteratividade (durante esse intervalo de tempo, assume-se como

verdadeiro que os predicados descritos ocorreram por diversas vezes).

Já em (35), a informação principal é a de que o intervalo de tempo em que se localizam as

situações é todo o jogo, o que permite uma leitura de sobreposição da situação da gerundiva

relativamente à situação da oração principal. Também aqui, como em (34), a situação descrita pela

oração gerundiva parece ser uma elaboração da situação da oração principal, com uma certa

interpretação de consequência.

É possível também encontrar leituras de posterioridade com orações gerundivas. Veja-se:

(36) “E foi aí que o Manchester United se desmoronou, permitindo ao Barça a gestão de todo o futebol (...)” (Zerozero) (37) “(...) deu início ao tiki-taka, pegando na bola ao seu estilo e despertando tanto Xavi como Iniesta (...)” (Público)

Em (36), a localização temporal da situação da oração principal é dada pelo advérbio aí,

havendo igualmente uma interpretação de consequência, com relação retórica de elaboração. A

situação descrita na oração gerundiva estabelece com a situação da oração principal uma leitura

temporal de posterioridade.

Por seu turno, em (37) é particularmente relevante a construção verbal da oração principal dar

início (ao tiki-taka). Pelo conhecimento do mundo (tiki-taka é uma gíria ligada a um estilo de jogo

Page 84: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

83

amplamente elogiado e que é associado ao Barcelona), o leitor – cujo conhecimento sobre este termo

é presumido – pode inferir que este é um ponto de partida para uma nova fase do jogo, admitindo-se a

leitura de posterioridade e uma relação retórica de narração. Pela combinação Pretérito Perfeito +

gerundiva com eventos (como vimos em (34) e em (35)), é também possível uma leitura de inclusão

na situação da oração principal, sendo aqui a relação retórica de elaboração.

Os exemplos até aqui descritos mostram o Gerúndio como um tempo eminentemente

imperfetivo. No entanto, também é possível encontrar leituras de posterioridade em sequências

narrativas clássicas e, portanto, com situações temporalmente delimitadas e localizadas136. Veja-se:

(38) “O craque argentino jogou e fez jogar e aos 45’ ultrapassou Ferdinand (...) e galgou

terreno (...), servindo Villa na direita, com a avançado a retribuir a gentileza (...)” (Record)

E1 < E2 < E3 < E4

(E1 = ultrapassou Ferdinand; E2 = galgou terreno; E3 =Villa servido na direita; E4 = Villa retribui a gentileza)

O adverbial temporal faz a localização exata das situações, que, pelo conhecimento do mundo e

a natureza aspetual do verbo, sabemos ocorrerem em intervalos curtos de tempo. As duas orações

coordenadas assindeticamente, com o Pretérito Perfeito Simples, introduzem a sequência, a que se

seguem uma oração gerundiva (cuja leitura de posterioridade em relação à oração anterior é dada pelo

conhecimento do mundo), e uma oração infinitiva com novo evento. As orações coordenadas, a

oração gerundiva e a oração infinitiva relatam situações sucessivas, sendo, por isso, cada uma

posterior à anterior. Trata-se, portanto, de uma sequência narrativa (em que também a gerundiva

estabelece uma relação retórica de narração).

Concluindo, as orações gerundivas surgem normalmente combinadas com Pretérito Perfeito

Simples na oração principal, podendo ter leituras temporais de inclusão e/ou sobreposição. Nestes

casos, a gerundiva pode estabelecer com a oração principal uma relação retórica de elaboração. Em

certas construções (menos frequentes), as gerundivas podem ter também leitura de posterioridade,

podendo, por isso, surgir em sequências textuais narrativas, estando aqui associadas a relações

retóricas de narração. A leitura temporal das orações gerundivas pode depender também da presença

de adverbiais de duração (para simultaneidade) ou de localização exata (para posterioridade).

As orações infinitivas e as gerundivas são, dos tempos não dominantes, as mais frequentes no

relato cronológico. Contudo, há outros tempos que podem ainda ser considerados, sendo objeto de

análise sucinta nos pontos que se seguem.

136 Esta é uma possibilidade já aceite por Leal (2001: 24), para quem “a oração gerundiva pode estabelecer com a oração principal uma mera sequencialização de predicações.”

Page 85: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

84

Presente do Indicativo

O Presente do Indicativo, sendo sobretudo um tempo verbal de leitura aspetual, surge com

maior frequência na introdução e na conclusão das crónicas desportivas em análise. No relato

cronológico, há dois usos que se destacam: com estados (sobretudo com o verbo copulativo ser),

tendo leitura de tempo presente ou leitura aspetual de generalização; com eventos, a leitura mais

prototípica é de habitualidade.

(39) “O argentino voltou a provar que com um metro de terreno livre é letal (…)” (Relvado)

(40) “A intensidade não se traduzia em faltas, já que com 7 faltas ficou provado que a agressividade excessiva não é o único caminho.” (Relvado)

(41) “No sector dos adeptos do Barcelona lia-se uma mensagem que explica bem o que é hoje em dia ser blaugrana (...)” (Zerozero)

Em (39) e (40), o verbo copulativo ser surge em construções de subordinação com tempos da

esfera temporal do passado na oração principal (Pretérito Perfeito em (39) e Imperfeito em (40)),

sendo a leitura de generalização. A leitura é distinta em (41), pois parece haver uma construção de

duplo acesso com Imperfeito. A presença do advérbio deítico hoje em dia dá às duas construções

subordinadas no Presente – uma eventiva e outra estativa com o verbo copulativo ser – uma leitura

temporal de sobreposição em relação ao momento da enunciação. Contudo, a situação eventiva é

também sobreposta ao tempo da situação com Imperfeito. Veja-se agora construções eventivas com

Presente do Indicativo:

(42) “Vida difícil para o United, em desvantagem frente a uma equipa que conserva a bola como nenhuma outra na Europa.” (Zerozero)

(43) “O problema é que a equipa de Guardiola respira futebol (...)” (MaisFutebol)

Em ambos os exemplos, o Presente do Indicativo não surge combinado com nenhum outro

tempo verbal – em (43) há, aliás, uma sequência de tempos no presente – e as situações em questão, à

partida eventivas, foram transformadas em estado habitual devido ao uso do Presente.

Condicional

(44) “A bola ficou órfã por uns segundos, mas iria parar aos pés de Villa, que, de fora da área, fez um golo de classe.” (Público)

Temporalmente, o Condicional surge com uma leitura de futuro do passado (cf. Oliveira, 527).

Esta leitura é reforçada pela construção ir +Infinitivo. Há uma relação retórica de contraste dada pela

conjunção adversativa, mas a leitura de posterioridade dada pelo Condicional, mais o conhecimento

do mundo, permite ao recetor perceber que há progressão narrativa, pelo que a sequência textual é

narrativa.

Page 86: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

85

Mais-Que-Perfeito Composto

Este é um tempo anafórico anterior a um ponto de perspetiva temporal situado também no

passado (e, portanto, anterior ao momento da enunciação) (Oliveira, 2013: 530-1). A forma composta

confere uma interpretação perfetiva de situação concluída. Não é aqui feita uma análise aprofundada a

este tempo verbal na medida em que só foram encontradas duas ocorrências relativas ao corpus do

ano de 2011, apenas uma na forma canónica com o auxiliar ter. O exemplo encontrado confirma,

contudo, o que se descreve acima. Veja-se:

(45) “Um quarto de hora depois, Nani entrava em campo, quando Ferguson tentava levar a equipa para a frente: a hora de proteger o miolo já tinha passado.” (MaisFutebol)

Trata-se de uma situação anterior ao ponto de perspetiva temporal, que corresponde à situação

Nani entrava em campo, e cuja localização temporal é dada pelo adverbial temporal de localização

exata um quarto de hora depois.

3.4.3. Conclusão

Neste segmento, o tempo verbal dominante volta a ser o Presente do Indicativo, que surge em

cinco das seis crónicas desportivas (sendo o tempo mais frequente em quatro).

(45) “Guardiola, Xavi, Iniesta, Messi têm mais uma Champions ganha. (...) Consagraram-se nesta noite como a melhor equipa da Europa e reforçam a ideia de serem a melhor do mundo. Há quem diga, que até são a melhor da História...” (MaisFutebol)

(46) “Segundo título europeu de Guardiola, que se torna o mais jovem treinador (40 anos) a conquistar duas Ligas dos Campeões e contribuiu para aumentar para 9 o número de troféus conquistados por técnicos espanhóis, que assim igualam os italianos como dominadores da competição.” (Relvado)

(47) “Os números da estatística são reveladores da superioridade do Barcelona, e a verdade é que o 3-1 foi lisonjeiro para o United. Afinal, Messi até esteve mais perdulário do que é habitual.” (O JOGO)

Os exemplos (45) e (46) são maioritariamente estativos e têm leitura temporal de sobreposição

em relação ao momento da enunciação. Em (45), na primeira frase, o Presente do Indicativo surge

como tempo da oração principal. Na segunda frase, o tempo da primeira oração coordenada é o

Pretérito Perfeito Simples e o tempo da segunda é o Presente (frase de duplo acesso), tendo ambos

como ponto de referência o momento da enunciação. A primeira frase estabelece com a segunda uma

relação retórica de enquadramento. Em (46), o Presente do Indicativo está associado ao Infinitivo e ao

Pretérito Perfeito Simples, com duas frases relativas, em que cada uma parece constituir uma relação

retórica de elaboração da situação da oração principal. Finalmente, (47) contém apenas verbos

estativos. Na primeira frase, o Presente do Indicativo surge combinado com o Pretérito Perfeito

Simples, sempre com o verbo copulativo ser. A leitura temporal deste verbo no Presente é de

Page 87: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

86

sobreposição em relação ao momento da enunciação; a leitura da situação no Pretérito Perfeito

Simples é de anterioridade em relação ao momento da enunciação.

Em suma, em português, o Presente do Indicativo é o tempo verbal dominante no último

segmento das crónicas desportivas, a conclusão, o que não deixa de ser expectável. Depois de findo o

relato cronológico, em que as situações relatadas, na sua esmagadora maioria, são concluídas, o autor

foca-se nas suas consequências relativamente ao momento da enunciação137. Do ponto de vista das

sequências textuais, e tendo em conta que a conclusão se refere ao pós-jogo, já não pode haver

progressão narrativa. Pelo teor estativo das situações e, sobretudo, pelas leituras temporais de

sobreposição (que se traduzem em relações retóricas de enquadramento/elaboração), as sequências

textuais só podem ser descritivas, possuindo ainda forte valor apreciativo.

3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês

Seguindo a mesma estrutura apontada em 3.3.2, os próximos pontos apresentam os valores

semânticos dos tempos verbais, as diversas sequências de tempos verbais e relações retóricas entre

elas estabelecidas a partir de exemplos do corpus inglês.

3.5.1. Introdução

Ao contrário do que ocorre nas crónicas desportivas em português, em que a introdução pode

ter como tempos dominantes o Presente do Indicativo e o Pretérito Perfeito Simples, no inglês é

apenas o Simple Past que se destaca, como se verifica nos seguintes exemplos.

Simple Past

(48) “Barcelona delivered a masterclass to inflict another Champions League final defeat on Manchester United as Lionel Messi inspired an emphatic victory at Wembley.” (BBC Sports)

(49) “History repeated itself at Wembley as Manchester United were left chasing Barcelona’s shadow in a European Cup final, with Pep Guardiola’s side producing another masterclass in reclaiming the UEFA Champions League with a deserved 3-1 victory in the capital.” (Sky Sports)

Em ambos os casos, o Simple Past é o tempo da oração principal, com leitura de anterioridade

em relação ao momento da enunciação. Em (48), surge numa sequência de tempos com uma oração

infinitiva, que, pelo conhecimento do mundo e pela interpretação de consequência, parece ter uma

leitura de posterioridade relativamente ao tempo da situação da oração principal. Segue-se uma oração

adverbial causal novamente com Simple Past, cuja leitura é de sobreposição em relação ao tempo da

situação da oração principal.

137 Isto leva a que o autor seja capaz de “trazer” a crónica desportiva para um tempo presente, respeitando, deste modo, o critério jornalístico da atualidade e do imediatismo.

Page 88: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

87

Já em (49), há uma sequência de tempos do passado: o Simple Past na oração principal, anterior

ao momento da enunciação, seguida de nova oração adverbial causal com uma construção de Simple

Past na forma passiva combinado com uma oração gerundiva. Esta tem uma leitura temporal de

sobreposição em relação ao tempo da situação da oração principal, dando ainda uma leitura aspetual

de duração. Estas duas construções gerundivas de valor de passado são introduzidas por with e por in,

respetivamente, sendo ambas temporalmente sobrepostas entre si e sobrepostas em relação ao tempo

da situação da oração principal.

Como os exemplos ilustram, a introdução das crónicas desportivas inglesas é claramente

dominada por tempos do passado, dando assim ênfase ao resultado final das situações descritas.

3.5.2. Resumo

O resumo, segmento não existente no corpus português, tem também como tempo verbal

dominante tempos do passado. É interessante verificar que, nestas crónicas desportivas, e tendo o

inglês a divisão entre Simple Past e Past Continuous, utilizam apenas o primeiro no resumo138. O

Simple Past surge, então, na grande maioria das frases como o tempo da oração principal, fazendo

desde logo a localização temporal num tempo anterior ao momento da enunciação. Também o Past

Perfect é utilizado em algumas construções como tempo da oração principal.

Simple Past

(50) “Pedro gave Barcelona the lead from one of the many wonderful passes played by Xavi - but Wayne Rooney lifted the gloom during a torrid spell for United with a fine equaliser following a swift exchange with Ryan Giggs.” (BBC Sports)

(51) “Sir Alex Ferguson’s side were spirited throughout but in the end had no answer to a Barcelona team that plays a brand of football that is unparalleled in the modern game in terms of its majestic simplicity.” (Sky Sports)

(52) “The United line-up was the one everyone had guessed in advance, though Sir Alex Ferguson too sprang a surprise among the substitutes, with Michael Owen’s selection nudging Dimitar Berbatov out of the entire squad.” (Guardian)

(53) “With Lionel Messi dazzling once again, United only had Wayne Rooney’s aggression with which to counter some scintillating passing and movement, and only some erratic, almost casual finishing from the Spanish side prevented the score reflecting what a mismatch this really was.” (Guardian)

Em (50), há uma sequência de verbos no Simple Past. Na primeira oração, o verbo faz a

localização temporal num intervalo de tempo anterior ao momento da enunciação. Na oração

coordenada adversativa, há uma relação retórica de contraste dada pela conjunção, mas o

138 O mesmo não acontece no relato cronológico, como se pode verificar em 3.3.1.3.

Page 89: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

88

conhecimento do mundo permite inferir uma leitura de posterioridade em relação ao tempo da

situação da oração inicial, pelo que, simultaneamente, há progressão narrativa e uma relação retórica

de narração. No exemplo (51) há novo caso de coordenação adversativa no Simple Past com estados,

seguida de duas frases no Simple Present, tratando-se de uma sequência descritiva e com valor

apreciativo.

Em (52), o Simple Past surge novamente com um estado na oração principal, combinada com o

Past Perfect. Este tem uma leitura temporal de anterioridade em relação ao seu ponto de perspetiva

temporal, que é o tempo da situação da oração principal. Segue-se uma relação retórica de contraste

dada pelo conetor though com um verbo eventivo no Simple Past. A frase termina com uma oração

gerundiva iniciada por with, sobreposta à oração anterior.

Finalmente, no exemplo (53), surge uma oração gerundiva em posição inicial139, que tem

apenas leitura de repetição de situações num intervalo não marcado de tempo, dada pelo adverbial

once again. Seguem-se duas frases complexas coordenadas no Simple Past: a primeira é estativa e

surge numa sequência com uma oração infinitiva (que não dá informação temporal); na segunda o

Simple Past coocorre com uma oração gerundiva. O segundo membro coordenado estabelece com o

primeiro uma relação temporal de sobreposição.

Deste modo, o Simple Past surge em diversas sequências de tempos, podendo ter mais do que

uma leitura e podendo surgir associado a mais do que um tipo de relações retóricas. Pode, em

combinações com outras ocorrências do Simple Past com eventos, estabelecer relações de narração

entre as situações. No que toca às sequências de tempos verbais, o Simple Past pode surgir associado

a diversos outros tempos (comogerundivas, oSimple Present ou o Past Perfect). No entanto, é algo

surpreendente ver que, numa grande parte das ocorrências apresentadas nos exemplos, este tempo

verbal surge com estados, seja ou não na oração principal. Do ponto de vista das sequências textuais,

o Simple Past surge em qualquer tipo: narrativo, descritivo ou descritivo-apreciativo.

Past Perfect

Dos tempos que surgem em orações principais ou que ocorrem mais frequentemente nas

crónicas desportivas analisadas, sublinhe-se o Past Perfect140. Aquele que é na literatura considerado

o seu equivalente direto em português, o Mais-Que-Perfeito Composto, não tem o mesmo peso no

corpus português. É no segmento resumo que se encontra a maioria das ocorrências de Past Perfect.

(54) “Barcelona had been unable to name quite their strongest team too, with their influential captain, Carles Puyol, only fit enough for a place in the bench and Javier Mascherano having to continue as emergency centre-half.” (Guardian)

(55) “Before a ball had even been kicked, both coaches had demonstrated possessing

139 Esta posição é possível em português (cf. Leal, 2001), mas não há qualquer ocorrência no corpus. 140 Past Perfective na nomenclatura de Quirk et alii (1985).

Page 90: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

89

backbones made of iron in making unsentimental and unflinching team selections.” (Sky Sports)

(56) “Sir Alex Ferguson was gracious in defeat, quick to congratulate Barcelona. He had spent the last fortnight on the training ground trying to concoct a way of disrupting the mesmeric passing of this team (...).” (Daily Telegraph)

Em todos os exemplos é visível o principal valor semântico do Past Perfect, que é o de

anterioridade em relação a um ponto de perspetiva temporal, também ele no passado (que não está

marcado em (54), pelo que se infere que o exemplo remete para um outro ponto no texto). Igualmente,

em todos os exemplos, o Past Perfect é o tempo da situação da oração principal. Em (54), surge numa

sequência com uma oração infinitiva e com uma construção perifrástica com Gerúndio + Infinitivo,

iniciada por with. A oração principal e a oração infinitiva estabelecem com a oração com with uma

relação retórica de enquadramento, pelo que há sobreposição temporal entre elas. Em (55), há uma

sequência Past Perfect + Past Perfect. O adverbial before é o ponto de perspetiva temporal de ambas

as situações, sendo o segundo evento anterior ao primeiro e estabelecendo com ele uma relação

retórica de narração inversa. Finalmente, (56) o Past Perfect (cujo ponto de perspetiva temporal é o

intervalo de tempo da situação do período anterior) surge novamente associado a orações gerundivas

encaixadas, cuja leitura é de inclusão em relação ao tempo da situação da oração principal.

O Past Perfect mostra, assim, ser um tempo verbal relevante para este segmento do texto, algo

que está profundamente relacionado com o facto de, no corpus inglês, se dar mais importância às

escolhas dos treinadores para o jogo e aos estados de coisas antes do jogo do que no corpus

português141. De notar a relativa frequência com que este tempo verbal surge em sequências de

tempos com orações gerundivas e infinitivas, normalmente simultâneas em relação ao tempo das

situações com Past Perfect. Podem estabelecer-se com o Past Perfect várias relações retóricas, como

de enquadramento ou de narração (invertida).

Simple Present

Também o Simple Present surge em algumas ocasiões no corpus, mais frequentemente – e mais

relevante - no resumo. Os valores semânticos do Simple Present são relativamente semelhantes aos do

Presente do Indicativo português (cf. Quirk et alii, 1985: 179-83).

(57) “(...) but Barcelona demonstrated once more (...) that they are peerless on the European stage.” (BBC Sports)

No exemplo apresentado acima, o Simple Present surge com o verbo copulativo to be, que é

estativo. Trata-se de uma frase de duplo acesso, em que o verbo copulativo no Simple Present está na

141 Trata-se de uma questão cultural, que se prende também com a maior dimensão das crónicas desportivas inglesas relativamente às portuguesas. Note-se que tal não significa que no corpus português não se preste qualquer atenção ao estado de coisas pré-jogo.

Page 91: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

90

dependência temporal do tempo passado da oração principal e do momento da enunciação. Significa

isto que o Simple Present tem leitura de sobreposição em relação ao ponto de perspetiva temporal,

que é o tempo da oração principal (anterior ao momento da enunciação), mas a proposição continua a

ser verdade também no momento da enunciação.142

Uma interpretação mais frequente do Simple Present – e do Presente do Indicativo em

português – é a de habitualidade.

(58) “Sir Alex Ferguson’s side were spirited throughout but in the end had no answer to a Barcelona team that plays a brand of football that is unparalleled in the modern game (...)” (Sky Sports)

Neste exemplo, há duas orações coordenadas no Simple Past. As duas primeiras orações

coordenadas estabelecem uma relação de contraste entre si, dado pela conjunção adversativa. Do

ponto de vista temporal, localizam as situações na esfera do passado. Seguem-se duas orações

relativas no Simple Present: a primeira tem um verbo eventivo (to play), transformado pelo tempo

verbal em estado habitual, com leitura temporal de sobreposição quer em relação ao tempo da

situação da oração adversativa, quer em relação ao momento da enunciação; a segunda é um estado

não-faseável, com leitura aspetual de generalização.

Assim, o Simple Present surge no corpus inglês apenas em sequências textuais descritivas,

apreciativas ou não, e tanto pode ter leitura temporal de presente (sobreposta ao momento da

enunciação) com estados faseáveis, como leitura aspetual de habitualidade com eventos ou de

generalização com estados não-faseáveis. Tipicamente, no segmento resumo, o Simple Present não

surge na oração principal, estando na dependência de orações com Simple Past, o que pode levar à

existência de frases de duplo acesso. Nestas, uma vez que a leitura temporal é de sobreposição, o

Simple Present pode ocorrer em relações retóricas de elaboração; as orações com Simple Past podem

estabelecer com as orações com Simple Present relações retóricas de enquadramento.

-ing participle (orações gerundivas)

Sendo uma forma verbal dependente, o Gerúndio não pode ser considerado per se um tempo

verbal dominante. Os seus principais usos são estudados mais adiante (no segmento relato

cronológico, onde ocorrem orações gerundivas mais frequentemente), mas interessa-me salientar uma

construção de interesse para os estudos de tradução, e que ocorre sobretudo no segmento resumo

(apesar de não ser um tipo de construção muito frequente no corpus).

(59) “(...) both coaches had demonstrated possessing backbones made of iron in making unsentimental and unflinching team selections.” (Sky Sports)

(60) “In resisting the urge to start with the fit-again Darren Fletcher, the Scot remained true to

142 Esta frase surge num parágrafo isolado. Sem mais contexto, não fica clara nenhuma das relações retóricas estudadas nesta tese, sendo difícil determinar, por si só, a que tipos de sequências textuais pertencem.

Page 92: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

91

his promise of trading blows with Barca (...)” (Sky Sports)

A construção in + Gerúndio, em ambos os exemplos, tem como ponto de perspetiva temporal o

tempo da oração principal (Past Perfect em (59), Simple Past em (60)), sendo a leitura de

sobreposição temporal. As duas gerundivas parecem ainda estabelecer com a oração principal uma

relação retórica de enquadramento.

Present Perfect

Também conhecido por Present Perfective143, este tempo verbal é não raras vezes comparado

ao Simple Past, na medida em que é possível obter leituras temporais e aspetuais semelhantes em

certos casos (Quirk et alii, 1985: 192-3). Naquela que é considerada a sua interpretação preferencial, o

Present Perfect diverge daquele na medida em que tem uma relação de continuidade até ao momento

da enunciação (Quirk et alii, 1985: 192-3), dependendo do tipo aspetual da situação.

(61) “(...) United never threatened to mount the sort of dramatic recovery that has become their trademark (...) (BBC Sports)

(62) “(...) but there was no shame in their defeat by one of the finest club sides the game has seen (...) (BBC Sports)

Em ambos os exemplos, o Present Perfect combinado com eventos surge em sequências de

tempos com o Simple Past, que é o tempo da oração principal. Em nenhum dos casos está

determinado o início ou o fim das situações, sendo apenas possível perceber que a situação tem início

na esfera temporal do passado devido à presença do Simple Past na frase e ainda aferir a verdade da

proposição aquando do momento da enunciação.

3.5.3. Relato cronológico

Este é, tal como em português, o maior segmento, pelo que a variedade de tempos verbais

aumenta. Novamente, e como seria de esperar, o tempo predominante volta a ser o Simple Past.

Contudo, este não é o único tempo que veicula informação temporal de passado no corpus, na medida

em que há algumas ocorrências da sua forma progressiva, o Past Continuous, até aqui ausente das

crónicas desportivas.

Simple Past / Past Continuous

Até aqui, já vimos diversos usos do Simple Past, seja com estados ou com eventos. Trata-se de

um tempo que pode surgir nos três tipos de sequências textuais estudadas. Na medida em que estes

textos vão apresentando os acontecimentos por ordem cronológica, a progressão narrativa é essencial

nesta fase. Vejam-se alguns exemplos:

143 Segundo a terminologia de Quirk et alii (1985).

Page 93: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

92

(63) “When Michael Carrick and Fábio won the ball following a Barcelona throw on the right, Rooney set off on a determined diagonal run, exchanged passes with Giggs and hit a confident drive beyond Victor Valdés (…)” (Guardian)

E1 < E2 < E3 < E4

(E1 = Carrick and Fabio won the ball; E2 = Rooney set off; E3 = [Rooney] exchanged passes with Giggs; E4 = [Rooney] hit a confidente drive)

Aqui há uma relação retórica de narração clara, com leitura de sucessividade temporal entre

situações eventivas no Simple Past. Importa referir que, não raras vezes, é possível encontrar casos de

sucessividade temporal – e, por conseguinte, de narração - em sequências mais complexas com vários

tempos verbais e com presença simultânea de estados e eventos. Veja-se:

(64) “(…) he exchanged short passes with Carrick before making inroads towards Barca's box. There was a suspicion of off-side when he stabbed the ball into the path of Hernandez but when the Mexican found his team-mate with a return pass there was nothing uncertain about Rooney's finish as he empathically wrapped his boot around the ball to send it high beyond Valdes (…).” (Sky Sports)

E1 () < E2 < E3,S1 < E4, S2 < E5 < E6

(E1= he [Rooney] exchanged short passes; E2 = [Rooney] making inroads (…); S1= there was a suspicion of offside; E3= he [Rooney] stabbed the ball into the path of Hernandez; E4 = the Mexican found his team-mate; S2 = there was nothing uncertain (…); E5 = he (…) wrapped his boot (…); E6 = to send it high (…))

Esta sequência narrativa, altamente complexa, difere de imediato das sequências típicas

encontradas em português. Aqui, o Simple Past, que é o tempo verbal dominante, dá uma leitura de

posterioridade com eventos. Contudo, na primeira frase, há depois da oração principal uma oração

gerundiva, com leitura de sucessividade temporal dada pelo adverbial before. A segunda frase começa

com um estado seguido de duas orações eventivas no Simple Past, iniciadas por when, que faz a

localização temporal e reforça a progressão narrativa. Segue-se uma oração adverbial causal com

Simple Past + to-infinitival, em que o marcador to assume comportamentos preposicionais

(assemelhando-se à construção portuguesa com para + oração infinitiva), e na qual, pelo

conhecimento do mundo, também é possível inferir uma leitura de posterioridade.

Os exemplos apresentados acima mostram casos de acontecimentos particularmente relevantes

para o desenvolvimento do jogo, que por isso são relatados com detalhe. Contudo, o relato

cronológico do jogo nem sempre se faz deste tipo de sequências textuais narrativas.

(65) “United’s thoughts were scrambled as Barcelona moved the ball around with ease.” (BBC Sports)

Page 94: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

93

(66) “For almost 10 minutes, Barcelona were penned in their own half, though not uncomfortably so.” (Guardian)

Em (65), o autor não se refere a um intervalo específico de tempo, mas a uma fase do jogo. A

oração principal é estativa, pelo que o Simple Past dá apenas informação temporal de anterioridade

em relação ao momento da enunciação. Na oração adverbial causal que se lhe segue, e que está

temporalmente incluída no tempo da situação da oração principal, o conhecimento do mundo permite

inferir ainda uma leitura aspetual de iteratividade.

Já em (66), o Simple Past surge na forma passiva, sendo que o adverbial temporal de duração

for almost 10 minutes confere à situação uma leitura aspetual de duração. Este caso mostra como o

Simple Past difere do Pretérito Perfeito Simples português, porque por vezes é não terminativo (cf.

Quirk et alii, 1985: 189-213)144. Contudo, este tipo de construção é relativamente raro no relato

cronológico, pelo que há outras “soluções” para expressar iteratividade e duração em sequências

textuais de teor descritivo. Uma delas é a combinação do Simple Past com estados, algo mais

frequente no corpus inglês do que no português, independentemente do segmento; outra é o uso do

progressivo. Leiam-se as palavras de Quirk et alii: “(...) the past tense combines two features of

meaning” (1985: 183). Quando é conjugada a forma simples, “the speaker or writer must have in

mind a definite time at which the event/state took place.” (Quirk et alii, 1985: 183); quando no

progressivo, “the event/state must have taken place in the past, with a gap between its completion and

the present moment.” (Quirk et alii, 1985: 183) Estas duas formas de significado apresentadas por

Quirk et alii explicam não apenas o Simple Past e o Past Continuous, mas também outras formas

perfetivas de expressão do passado (que se estudam mais adiante). Interessa-me, contudo, destacar

agora a forma progressiva.

(67) “(…) and by the midpoint of the first half, Barcelona were building up attacks in the familiar waves around the edge of United's penalty area, with Xavi, Andrés Iniesta and Villa always involved but Messi never far from the ball or the point of danger. (…)” (Guardian)

(68) “Ferguson was becoming animated on the touchline, clearly frustrated at the way his team were surrendering possession (…)” (The Daily Telegraph)

As leituras são ligeiramente diferentes, embora se trate, em ambos os casos, de Past Continuous

combinado com eventos. Em (67), trata-se de uma situação iterativa, dada pelo nome pluralizado. O

tempo verbal dá informação de que a repetição de situações teve início no passado e se prolongou até

um ponto indeterminado também no passado. Há, portanto, uma leitura temporal de anterioridade em

relação ao momento da enunciação. Em (68), há uma leitura progressiva anterior ao momento da

enunciação, que dá uma certa interpretação de continuidade (duração) mas não de iteratividade. Nos

dois exemplos, a oração com PastContinuous parece estabelecer com as restantes uma relação retórica

144 Nestes casos, o Simple Past é equivalente ao Imperfeito português.

Page 95: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

94

de enquadramento.

É também possível encontrar algumas construções estativas com Past Continuous, que,

segundo Quirk et alii, dá alguma “agentividade” à situação (1985: 202), reforçada por se tratar de uma

construção passiva, apesar de ser um estado. Veja-se:

(69) “Ferguson's furious reaction showed the strain United were being put under (…)” (Guardian)

Em suma, foram apresentados alguns exemplos do Simple Past enquanto forma verbal

terminativa. Este tempo verbal é compatível quer com eventos, quer com estados, e tanto pode ser

deítico (com leitura de anterioridade em relação ao momento da enunciação) como anafórico. Neste

caso, é de salientar a leitura de sucessividade temporal que dá progressão narrativa e a partir da qual

são construídas as sequências textuais de narração – nestes casos, o Simple Past é também associado a

relações retóricas de narração. Esta leitura é possível em sequências de verbos no Simple Past, mas

também de Simple Past com Infinitivo ou Gerúndio. A sucessividade temporal pode ainda ser dada

por certos adverbiais, sejam eles temporais de localização exata ou conetores temporais como when

(quando).

Com certas sequências de tempos e em certas construções (como as causais, por exemplo), o

Simple Past pode ter leitura de simultaneidade. O contexto, o conhecimento do mundo, o tipo aspetual

ou a coocorrência com adverbiais temporais de duração podem conferir a este tempo verbal uma

leitura de iteratividade ou de duração. Neste caso integram-se em sequências textuais descritivas ou

descritivas-apreciativas. Estas leituras são, todavia, menos comuns145. Neste corpus, a maioria das

situações durativas com Simple Past são estativas; com eventos, os autores recorrem a diferentes

formas verbais, como o Past Continuous.

Este tempo é essencialmente estativo e tem leitura aspetual de duração, sempre na esfera

temporal do passado, seja com eventos ou com estados (cf. Quirk et alii, 1985: 200-2).

Além destas duas formas verbais, há ainda outro tempo verbal que faz a localização temporal

das situações na esfera do passado, ainda que seja pouco frequente.

Past Perfect

Os valores semânticos deste tempo verbal já foram analisados no estudo do segmento resumo.

Estudam-se aqui construções que surgem apenas no segmento relato cronológico.

(70) “Rio Ferdinand was obliged to block a shot from Villa after Messi’s pass had created the opening, Pedro Rodriguez missed the game’s first clear opportunity in front of goal, Villa put a

145 Isto deixa antever que no corpus inglês não existe a tendência de criar construções frásicas que se prolonguem num intervalo longo de tempo, além de que o Simple Past nem sempre é um tempo terminativo como ocorre com o Pretérito Perfeito. Para situações não terminativas no passado, o português usa tipicamente o Imperfeito (cf. 3.4.); o inglês usa o Simple Past com estados básicos ou derivados.

Page 96: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

95

shot narrowly wide (...)” (Guardian)

(71) “The goalkeeper made notable stops from Messi, then Xavi, then Iniesta, but had no chance with Villa’s exquisite curler, after Nani had come on for Fábio and was immediately let down by his first touch.” (Guardian)

(72) “(…) as a buccaneering Dani Alves forced Van der Sar to save with his feet after Messi’s pass had carved United open again.” (Sky Sports)

Como se pode perceber pelos três exemplos, o Past Perfect surge em orações iniciadas pelo

adverbial after. Este adverbial dá leitura de anterioridade da oração com Past Perfect em relação à

oração anterior. No entanto, o facto de a oração com Past Perfect estar combinada com eventos

sucessivos no Simple Past faz com que seja possível inferir uma relação retórica de narração – que, na

oração com Past Perfect– tem ordem invertida. Embora (72) seja um exemplo mais curto, pode então

concluir-se que os três exemplos constituem sequências narrativas.

Este tipo de construção é a mais frequente com Past Perfect no relato cronológico. Note-se que

é também possível encontrar ocorrências deste tempo verbal semelhantes às analisadas no estudo do

segmento resumo.

Passo agora ao estudo das duas formas verbais não finitas146 de maior ocorrência no corpus,

analisando orações infinitivas e gerundivas.

to-infinitival (orações infinitivas)

Tal como ocorre no corpus português, o Infinitivo inglês, nem sempre possuindo traços

temporais por si só, pode encontrar-se em construções com leitura temporal e/ou aspetual. Deste

modo, e tal como na análise das crónicas desportivas portuguesas, aqui visa-se apenas estudar alguns

casos ilustrativos dessas mesmas construções, para que se possa depois analisar a sua relevância para

os estudos de tradução.

É ainda interessante verificar que há construções, comuns em inglês, que são raras no corpus

português. É o caso de construções em que o Infinitivo surge como verbo principal e em que, pelo

contexto, e provavelmente, pela presença do marcador to, tem um certo valor de finalidade que pode

dar leitura de sucessividade147. Vejam-se os seguintes exemplos:

(73) “(…) there was nothing uncertain about Rooney's finish as he empathically wrapped his

boot around the ball to send it high beyond Valdes from the penalty spot.” (Sky Sports)

146 Em inglês, as formas não finitas são o Infinitivo, o Gerúndio e o Particípio Passado, tal como em português. Tal como na análise do corpus português, aqui só se estudam algumas orações infinitivas e gerundivas com valor temporal. Sobre estas matérias, cf. Huddlestone e Pullum (2002: 51). 147 Em português, viu-se que é possível encontrar sequências narrativas com orações infinitivas, mas nunca como tempo da oração principal, sendo a infinitiva selecionada por outras orações com outros tempos verbais. De facto, em português, tipicamente só há leitura de finalidade em adverbiais finais, sendo o Infinitivo antecedido pelas preposições para ou com; por outro lado, quanto há leitura de sucessividade temporal com orações infinitivas, estas são introduzidas pela preposição a.

Page 97: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

96

E1 < E2

(E1 = he wrapped his boot around the ball; E2 = to send it high beyond Valdes)

(74) “Then, on 34 minutes, came Inter’s ambush, Milito nodding Inter keeper Julio Cesar’s long clearance down to Schneider and then dashing on to the Dutchman’s smart return to clip home a delightful finish.”

O Infinitivo surge em (73) como o verbo principal da oração adverbial final, tendo uma leitura

temporal de posterioridade (percetível também pelo conhecimento do mundo) em relação ao tempo da

situação da oração anterior, que, por sua vez, está incluída no intervalo de tempo da situação da

oração principal (que é estativa). A sequência é, por isso, narrativa, embora haja uma relação retórica

de enquadramento estabelecida entre a oração principal e a oração adverbial temporal com as. Em

(74), há novamente uma sequência narrativa, com a oração infinitiva a estabelecer com a oração

anterior uma relação retórica de narração. Todas as orações subordinadas (a partir de Milito)

constituem uma elaboração da oração principal.

-ing participle (orações gerundivas)

A grande diferença entre a análise do Gerúndio em português e em inglês é o facto de o inglês

admitir uma leitura progressiva (Quirk et alii, 1985: 238).148 Deste modo, a análise feita de seguida

abrange apenas as orações gerundivas – ou orações com o chamado –ing participle (Quirk et alii,

1985: 238), e construções progressivas. Por ser uma forma verbal não finita e por surgir em diferentes

sequências de tempos verbais, o Gerúndio pode ter várias leituras. Alguns exemplos já apresentados

mostram que, em coocorrência com o Simple Past (em certas construções), o Simple Present e o Past

Perfect, o Gerúndio tem uma leitura preferencial de simultaneidade. Esta leitura diverge, contudo,

conforme a posição da gerundiva – e aqui reside nova diferença em relação ao corpus português. É

possível encontrar, no corpus inglês, ocorrências de gerundivas em posição inicial149.

(75) “Bewitching Evra on the left flank he cut inside United's box at speed.” (Sky Sports)

A posição da oração gerundiva tem aqui implicações temporais. Ao colocar a gerundiva antes

da oração principal, a leitura é de sucessividade: o sujeito (he) ultrapassou Evra e depois entrou na

área do United em velocidade. A gerundiva é, por isso, anterior em relação à oração principal150. Já

148 Importa desde já referir que esta leitura progressiva não é aceitável na norma padrão do português europeu, usando-se, sim, a forma progressiva do Presente. Isto tem indelevelmente consequências para a tradução. 149 Isto não ocorre no corpus português, embora pudesse ser gramatical. 150 Se nos deparássemos com a ordem inversa da mesma frase, a leitura seria ambígua e de difícil compreensão, pelo conhecimento do mundo. Compare-se: *?He cut inside United’s box at speed, bewitching Evra on the left flank. Considerando uma leitura de posterioridade da gerundiva, e sendo o objetivo deste desporto entrar na área

Page 98: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

97

numa frase em que a oração principal antecede a gerundiva, não pode haver relação de anterioridade.

(76) “Xavi ghosted across the edge of the United area, biding his time, keeping the defence guessing, until releasing Pedro on the right with a flick of the outside of his boot.” (Guardian)

(77) “Guardiola sprung an even bigger shock when leaving out the club’s heartbeat and captain Carles Puyel (…)” (Sky Sports)151

Em (76) encontramos um exemplo de uma sequência textual narrativa com uma dupla oração

gerundiva coordenada assindeticamente e uma terceira gerundiva numa adverbial temporal. O Simple

Past na oração principal faz a localização das situações num intervalo de tempo anterior ao momento

da enunciação. As duas orações gerundivas parecem ser sobrepostas entre si e sobrepostas também à

situação da oração principal. O adverbial temporal until faz avançar a narrativa e surge novamente o

gerúndio, desta vez com leitura de posterioridade temporal e estabelecendo uma relação retórica de

narração.

Em (77), a gerundiva surge numa oração com when, que faz a localização temporal da situação,

sendo a leitura temporal de sobreposição em relação ao tempo da situação da oração principal - que

está no Simple Past.

Se com o adverbial when a situação da gerundiva é simultânea ao tempo da situação da oração

principal, o mesmo não ocorre com os adverbiais before e after que, combinados com Gerúndio, dão

relações retóricas de narração.

(78) “After dropping deep close to Barcelona’s left touchline he exchanged short passes with Carrick before making inroads toward’s Barca’s box.” (Sky Sports)

Nas duas gerundivas, é o adverbial que faz a localização temporal. No primeiro caso, o tempo

da gerundiva, que surge em posição inicial, é anterior ao tempo da oração principal, que está no

Simple Past; no segundo, o adverbial before dá à gerundiva uma leitura de posterioridade. Estas

leituras apontam para relações retóricas de narração.

Até aqui foram apresentados exemplos que permitem perceber alguma variedade de usos do

Gerúndio e de leituras temporais: conforme a construção e a posição da gerundiva, estas tanto podem

ser de anterioridade, de posterioridade ou de sobreposição. Nas duas primeiras, as gerundivas

apontam para relações retóricas de narração. Com leituras de simultaneidade, as relações retóricas

podem ser de enquadramento (da oração principal em relação à gerundiva) ou de elaboração (da

gerundiva em relação à principal). Contudo, o Gerúndio pode também ter uma leitura aspetual em

alguns casos, como (79).

e marcar golo, seria estranho um jogador entrar na área e depois ultrapassar um jogador já fora dela. Além disso, a frase parece ter uma leitura marginal de inclusão, em que a gerundiva é uma elaboração da oração principal. 151 O exemplo (77) contém um erro ortográfico, que não foi corrigido por se tratar de uma citação. Deixo, contudo, a correção: o jogador a que se refere o exemplo não é Carles Puyel, mas sim Puyol.

Page 99: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

98

(79) “United began like a team with a well-drilled plan, with Park Ji-Sung quickly closing down Dani Alves, and Rooney enjoying some success in the air against Mascherano. For almost 10 minutes, Barcelona were penned in their own half, though not uncomfortably so.” (Guardian)

Pelo conhecimento do mundo, percebe-se que as duas gerundivas coordenadas (iniciadas por

with) têm leitura aspetual de iteratividade: depois do início do jogo, há um intervalo de tempo longo,

durante o qual as duas situações descritas nas orações gerundivas ocorreram frequentemente. Isto é

confirmado pelo adverbial temporal de duração na frase seguinte.

Importa referir uma diferença fundamental relativamente ao corpus português: no relato

cronológico das crónicas desportivas portuguesas, há orações gerundivas que, pelas sequências de

tempos verbais que formam com outros tempos, estabelecem com elesuma leitura temporal de

simultaneidade. Há, todavia, menos ocorrências de gerundivas com leitura de sucessividade

temporal152. Nas crónicas desportivas em inglês, parece ocorrer o contrário, com um maior número de

construções em que a gerundiva tem leitura de posterioridade quando em posição final (muito mais

frequente) ou de anterioridade quando em posição inicial (raro). Acresce a isto o facto de, num grande

número de ocasiões, as orações gerundivas surgirem associadas aos adverbiais temporais before (que

dá leitura de posterioridade) ou after (que dá leitura de anterioridade). Este tipo de construções surge

em sequências textuais narrativas. A leitura de simultaneidade surge em sequências de tempos com

Simple Past ou Past Perfect, por exemplo, mas também em orações com when. As gerundivas podem

também encontrar-se em sequências textuais descritivas, e em construções em que é percetível um

intervalo longo de tempo (por exemplo, devido à presença de um adverbial durativo), podem ter

leitura aspetual de duração ou de repetição de situações (dada pelo adverbial).

Simple Present

Todos os valores semânticos do Simple Present foram analisados com exemplos ilustrativos do

segmento resumo. Contudo, há no relato cronológico algumas ocorrências dignas de análise.

(80) “(...) Messi’s golden talent is unquestioned, but he had been helped by United's failure to get close enough to halt his advances.” (BBC Sports)

(81) “Barcelona were not stroking it around in their own half either (...) in the way they sometimes do.” (Guardian)

Interessa-me estudar (80) porque o Simple Present surge como tempo da oração principal.

Trata-se de um estado não-faseável com o verbo copulativo to be, em que há leituraaspetual de

152 Esta não é apenas uma questão gramatical, mas também estilística. As crónicas desportivas portuguesas, ao serem mais curtas do que as inglesas e, sobretudo, ao terem uma maior alternância entre sequências textuais descritivas e sequências textuais narrativas (cf. 3.3.) – em grande parte devido ao contraste entre Imperfeito e Pretérito Perfeito Simples – acabam por ser mais seletivas no que concerne aos acontecimentos específicos do jogo que merecem referência no texto.

Page 100: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

99

generalização, seguida de uma relação retórica de contraste com a oração seguinte, que por sua vez

está no Past Perfect, com leitura de “passado do passado”. Em (81) é particularmente importante a

sequência de tempos verbais Past Continuous + Simple Present, além do adverbial sometimes. O Past

Continuous dá imediatamente leitura aspetual de duração ou de iteratividade no passado; o adverbial

já dá informação de habitualidade, confirmada pela combinação do Simple Present com um verbo

eventivo. A oração com Simple Present parece estabelecer com a oração principal uma relação

retórica de enquadramento.

Confirma-se que o Simple Present é um tempo que surge com situações que apontam para

sequências descritivas, podendo estabelecer relações retóricas de vários tipos.

Present Perfect

Já foram analisadas algumas construções com Present Perfect no segmento resumo, onde este

tempo verbal é mais frequente. Parece-me relevante, contudo, analisar esta sequência pertencente ao

segmento relato cronológico, por ter características diferentes das já apresentadas.

(82) “Villa has had a mixed first season at the Nou Camp, but his enduring class was evident when he curled a precise shot high past the outstretched arms of Van der Sar.” (BBC Sports)

Em primeiro lugar, o Present Perfect é o tempo da oração principal, algo que não ocorre nos

exemplos encontrados no resumo. A situação é estativa, tendoinício num intervalo de tempo passado e

que se prolonga até ao momento da enunciação (sabe-se, pelo conhecimento do mundo, que se trata

de um período de cerca de um ano). Ela estabelece com as demais orações da frase uma relação

retórica de enquadramento (e simultaneamente de contraste, devido à presença de uma conjunção

adversativa). Seguem-se uma oração estativa no Simple Past (was evident), seguida de uma oração

adverbial temporal com when, também com Simple Past, e que é sobreposta à oração anterior.

Contudo, o uso depastpermite ao leitor perceber – também pelo conhecimento do mundo -, que existe

progressão narrativa. Primeiro, Villa faz um remate curvado, que ultrapassa os braços de Van der Sar

e depois entra na baliza. Deste modo, e embora a leitura da oração com when seja de sobreposição em

relação ao tempo da situação da oração anterior, é percetível uma relação retórica de narração. Isto

mostra que o Present Perfect, podendo ser um tempo durativo, pode surgir em sequências narrativas

que incluem estados.

No geral, infere-se que a leitura preferencial deste tempo verbal, quer com estados, quer com

(alguns) eventos, é então de duração na esfera temporal do passado.

3.5.4. Conclusão

Como referido em 3.3.1.4., a presença da conclusão nas crónicas desportivas inglesas não é tão

clara como em português. Em alguns casos, o autor conclui o texto apenas na última frase do último

Page 101: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

100

parágrafo, não fazendo uma divisão espacial (parágrafo, por exemplo) entre este segmento e o relato

cronológico (Guardian). Numa das crónicas, a conclusão (Daily Telegraph) é apenas um aposto da

última frase. Por essa razão, o Simple Past pode também surgir como tempo dominante, embora

conjugado com outros tempos.

Simple Past

(83) “The rest of the game was merely a conclusion of the formalities as Barcelona lifted the famous trophy for the fourth time and United were left to wonder how they can halt what seems to be an unstoppable force.” (BBC Sports)

Neste exemplo, o Simple Past surge como tempo da oração principal com o verbo copulativo to

be, que se traduz num estado com leitura temporal de passado, seguido de uma construção de

subordinação adverbial, também no Simple Past, com um evento, cuja leitura temporal é de inclusão

no intervalo de tempo da situação da oração principal. Esta estabelece com a subordinada uma relação

retórica de enquadramento. Ligada a essa oração temporal, segue-se uma coordenação com uma frase

passiva no Simple Past, combinada com uma oração infinitiva, em que o verbo (to wonder) seleciona

construções de subordinação encadeadas, modalizadas, com forte carga apreciativa, e que do ponto de

vista aspetual são essencialmente estativas.

Concluída a análise, apresentam-se de seguida duas tabelas que resumem os resultados

encontrados.

Page 102: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

101

INTRODUÇÃO

Leituras temporais Leituras aspetuais Relações retóricas Sequência textual

Presente do Indicativo

Com verbo copulativo: - Sobreposição com T0

Estado faseável – só leitura temporal Estado não-faseável – generalização

Enquadramento Descritiva

Com forma progressiva: - Sobreposição com T0

Com eventos N/A Descritiva (apreciativa)

Com gerúndio: - Sobreposição com T0

Com eventos N/A N/A

Pretérito Perfeito Simples

Com PPS: - Sobreposição temporal.

Com eventos Enquadramento / Elaboração

Descritiva

Com PPS + coordenação: - Posterior a PpT.

Com eventos Narração (?) N/A

RELATO CRONOLÓGICO

Pretérito Perfeito Simples

Com PPS + coordenação: - Sucessividade temporal

Com eventos Narração Narrativa

Com PPS + adverbial de localização exata: - Sucessividade temporal

Com eventos Narração Narrativa

Com PPS + Gerúndio: - Sucessividade temporal

Com eventos Narração Narrativa

Com PPS + Infinitivo: - Sucessividade temporal

Com eventos Narração Narrativa

Com Presente: - Anterior a T0

Com estados Enquadramento Descritiva

+ adverbial de duração: - Anterior a T0

Com estados N/A Descritiva

Page 103: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

102

Com Gerúndio: - Anterior a T0; - Define PpT.

Com eventos Enquadramento Descritiva

Imperfeito

Com PPS: - Anterior a T0

Com estados: Estado faseável

Enquadramento Descritiva (apreciativa)

Com Imperfeito + adverbial de localização exata: - Sucessividade temporal

Com eventos Narração Narrativa

Com orações adverbiais com quando + PPS: - Sobreposição com PpT.

Com eventos Enquadramento Narrativa

Com Imperfeito + coordenação: - Sobreposição com PpT

Com eventos: Duração/repetição de situações Com estados: Estado faseável

Enquadramento / Elaboração

Descritiva

Orações infinitivas

Com PPS + coordenação em orações com a + adverbial de localização exata: - Sucessividade temporal

Com eventos Narração Narrativa

Com PPS + coordenação em orações com com + adverbial de localização exata: - Sucessividade temporal

Com eventos Narração Narrativa

Com PPS: - Sobreposição com PpT

Com eventos Elaboração Descritiva

Com PPS + adverbial de duração + oração com a: - Sucessividade temporal

Com eventos: Iteratividade

Elaboração Descritiva

Orações gerundivas

Com PPS + adverbial de duração: - Inclusão no PpT

Com eventos: Iteratividade

Elaboração Descritiva

Com PPS: - Sobreposição com PpT

Com eventos Elaboração Descritiva (apreciativa)

Page 104: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

103

Com PPS + coordenação + adverbial de localização exata (nem sempre): - Sucessividade temporal

Com eventos Narração Narrativa

Com PPS + marcador deítico: - Posterior a PpT

Com eventos Narração N/A

Presente do Indicativo

Com PPS (duplo acesso) - Anterior a T0 - Sobreposto a T0

Com estados: Generalização

N/A N/A

Com marcador deítico: - Sobreposto a T0

Com eventos + estados N/A Descritiva (apreciativa)

Simples: - Sobreposto a T0

Com eventos: Habitualidade

N/A Descritiva (apreciativa)

Mais-que-Perfeito Composto Com Imperfeito: - Anterior a PpT (anterior a T0)

Com eventos: Situação concluída

N/A N/A

Condicional - Futuro do Passado Com eventos Narração Narrativa

CONCLUSÃO

Presente do Indicativo

Com PPS: - Sobreposição com T0

Com estados Enquadramento Descritiva

Com oração infinitiva: - Sobreposição com T0

Com eventos Elaboração Descritiva

Com PPS (duplo acesso): - Sobreposição com T0 - Anterior a T0

Com estados: Generalização

N/A Descritiva (apreciativa)

Tabela 4. Resumo das leituras temporais possíveis de cada tempo verbal no corpus português, construções verbais, relações retóricas e sequências textuais.

Nota – Sempre que o campo das relações retóricas estiver preenchido com N/A, significa que os exemplos podem não corresponder a nenhuma das quatro relações retóricas estudadas, mas que mantêm relevância do ponto de vista temporal e aspetual; sempre que o campo das sequências textuais estiver preenchido com N/A, significa que o exemplo utilizado não tem dimensão suficiente para determinar a sequência textual a que pertence. Isto é válido para as Tabelas 4 e 5. Refira-se ainda que nem sempre as relações retóricas são expressas de forma clara, pelo que pode haver interpretações díspares.

Page 105: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

104

INTRODUÇÃO

Leituras temporais Leituras aspetuais Relações retóricas Sequência textual

Simple Past

Na oração principal: - Anterior a T0

Com eventos Enquadramento? Descritiva (apreciativa)

Em orações subordinadas, com Simple Past: - Sobreposição temporal

Com eventos Elaboração Descritiva (apreciativa)

RESUMO

Simple Past

Com Simple Past (+ de dois eventos): - Sucessividade temporal

Com eventos Narração Narrativa

Com Simple Present (duplo acesso): - Anterior a T0

Com estados + eventos Enquadramento Descritiva (apreciativa)

Com Past Perfect: - Anterior a T0

Com eventos N/A Descritiva

Past Perfect

Com to-infinitival: - Anterior a PpT

Com eventos Enquadramento Descritiva (apreciativa)

Com –ing-participle: - Anterior a PpT

Com eventos N/A Descritiva (apreciativa)

Com Past Perfect: - Anterior a PpT

Com eventos Enquadramento Descritiva

Simple Present Com Simple Past (duplo acesso): - Sobreposto a T0 - Anterior a T0

Com eventos: - Habitualidade Com estados: - Sem leitura aspetual

N/A Descritiva (apreciativa)

-ing participle Com Simple Past: - Sobreposto a PpT

Com eventos Enquadramento Descritiva

Page 106: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

105

Com Past Perfect: - Sobreposto a PpT

Com eventos Enquadramento Descritiva

Present Perfect Com Simple Past: - Anterior a T0 - Sobreposto a T0

Com eventos: Duração

N/A Descritiva (apreciativa)

RELATO CRONOLÓGICO

Simple Past

Com Simple Past + coordenação/subordinação temporal/adverbial de localização exata: - Sucessividade temporal

Com eventos (admissíveis alguns estados na sequência)

Narração Narrativa

Com Simple Past + to-infinitival: - Sucessividade temporal

Com eventos Narração Narrativa

Com Simple Past + subordinação: - Anterior a T0 - Sobreposição temporal (oração subordinada)

Com estados + eventos: Duração / Repetição de situações

N/A Descritiva (apreciativa)

+ adverbial de duração: - Sobreposição temporal

Com estados/eventos: Duração

N/A Descritiva (apreciativa)

Past Continuous

Simples + adverbial durativo: - Anterior a PpT

Com eventos: Duração / Repetição de situações

N/A Descritiva

Com Past Continuous: - Anterior a T0 (oração principal) - Sobreposição parcial (oração subordinada)

Com eventos: Duração

N/A Descritiva

Past Perfect Com Simple Past + after: - Sucessividade temporal

Com eventos Narração (inversa) Narrativa

to-infinitival Como verbo principal em orações subordinadas + Simple Past: - Sucessividade temporal

Com eventos Narração Narrativa

-ing participle Com Simple Past em frases OG + OP: - Anterior a PpT

Com eventos Narração Narrativa

Page 107: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

106

Com Simple Past em frases OP + OG + when: - Sobreposto a PpT

Com eventos Elaboração Descritiva

Com SimplePast em frases OP + OG + before: - Posterior a PpT

Com eventos Narração Narrativa

Com Simple Past em frases OP + OG + after: - Anterior a PpT

Com eventos Narração Narrativa

Com Simple Past + -ing-participle (+ adverbial durativo): - Sobreposição

Com eventos: Duração

Elaboração Descritiva (apreciativa)

Simple Present

Com Past Perfect: - Sobreposto a T0

Com estados + to be: Generalização

Enquadramento N/A

Com Past Continuous: - Sobreposto a T0

Com eventos: Repetição de situações

Elaboração Descritiva

Present Perfect Com Simple Past: - Anterior a T0 - Sobreposto a T0

Com eventos: Duração

Enquadramento Narrativa (devido ao Simple Past)

CONCLUSÃO

Simple Past

Na oração principal: - Anterior a T0 Em subordinação: - Incluído no PpT

Com estados: - Verbo copulativo: estado não-faseável Com eventos/estados

Enquadramento

Descritiva (apreciativa)

Tabela 5. Resumo das leituras temporais possíveis de cada tempo verbal no corpus inglês, construções verbais, relações retóricas e sequências textuais.

Page 108: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

107

3.6. Conclusões do capítulo

Este capítulo permitiu perceber a importância da expressão linguística do Tempo e do Aspeto

para a caracterização de crónicas desportivas153. Com efeito, estes textos são profundamente marcados

por propriedades linguísticas, que dão coesão e coerência, entre as quais se destacam o contexto da

frase, as relações retóricas e os tipos de sequências textuais. Por outro lado, há questões

extralinguísticas a ter em conta, como a aceitabilidade de um estilo de escrita junto de um público

recetor.

Estudaram-se três tipos de sequências textuais (narrativa, descritiva e descritiva-apreciativa) e

quatro relações retóricas predominantes (narração, elaboração, enquadramento e contraste). Fez-se em

primeiro lugar uma análise macroestrutural, em que se determinou quais as relações retóricas e os

tempos verbais que podem ser consistentes com cada tipo de sequência textual. Em seguida, fez-se

uma análise microestrutural, em que se perceberam valores diversos de alguns tempos verbais e de

algumas construções.

Assim, a um nível macroestrutural, percebeu-se que:

- no corpus português, apenas no relato cronológico há um predomínio exclusivo do Pretérito Perfeito, sendo que na introdução e na conclusão também o Presente do Indicativo pode surgir como tempo dominante; - no corpus inglês, o Simple Past é o tempo dominante em todos os segmentos (incluindo o resumo, tipicamente inexistente em português); - o corpus português regista uma alternância relativamente clara entre sequências descritivas e narrativas, sendo que as primeiras podem ou não ter valor apreciativo; as sequências narrativas podem registar alguma apreciação, mas normalmente com importância diminuta; - o corpus inglês não faz essa diferenciação: uma mesma sequência textual pode ter características descritivas e narrativas; - recorre-se substancialmente mais à apreciação no corpus inglês, inclusivamente em sequências narrativas;

Relativamente à expressão de temporalidade, concluiu-se, sem surpresa, que em português, o

tempo preferencial das sequências narrativas é o Pretérito Perfeito Simples e que o das sequências

descritivas é o Imperfeito. Percebeu-se, contudo, outros dados interessantes:

- a presença, com alguma frequência, de orações gerundivas e infinitivas em sequências narrativas, a estabelecer relações retóricas de narração com orações anteriores em ambos os corpora (e a ter, portanto, relevância do ponto de vista da interpretação temporal das situações); - a ausência de ocorrências do Pretérito Perfeito Composto, que carreia valores semânticos semelhantes aos do Present Perfect, que surge em algumas situações no corpus inglês; - a diferença de importância do tempo presente: se o Presente do Indicativo é relevante em certos segmentos do corpus português (sobretudo aqueles em que predominam as sequências descritivas), o mesmo não acontece com o SimplePresent no corpus inglês;

153 Sendo certo que Tempo e Aspeto contribuem decisivamente para a caracterização de outros tipos de texto além das crónicas desportivas.

Page 109: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

108

- a duração é permitida em múltiplas ocasiões por adverbiais temporais de duração, que normalmente ocorrem com descrição; a narração é muitas vezes percebida devido à presença de adverbiais temporais de localização exata; - o Pretérito Perfeito Simples e o Simple Past, respetivamente, combinam com quase todos os tempos verbais analisados.

Perante a maior dimensão das crónicas desportivas em inglês e o maior predomínio (percentual)

do Simple Past, traçou-se em 3.2. a hipótese de se tratar de textos sobretudo narrativos, com menos

elipses temporais e mais factos do jogo apresentados. Tal hipótese não se confirmou, uma vez que o

Simple Past, surpreendentemente, é combinado muitas vezes com estados (básicos ou derivados),

havendo leituras de duração que correspondem a descrições de fases do jogo e não a acontecimentos

específicos. Isto leva a que pareça haver mais sequências descritivas do que narrativas neste corpus.

Do ponto de vista das relações retóricas, percebeu-se que o enquadramento e a elaboração

apenas surgem quando existe sobreposição temporal. As primeiras são mais frequentes em sequências

descritivas. As segundas tanto podem surgir em descrição como em narração (a fornecer detalhes

sobre como dado acontecimento ocorreu, por exemplo). As relações de contraste tanto podem

aparecer em sequências descritivas como narrativas, dado que são sempre dadas por uma conjunção

adversativa e não têm influência do ponto de vista da interpretação temporal. Como seria expectável,

as relações retóricas de narração são encontradas em sequências narrativas ou em sequências híbridas

(sobretudo no corpus inglês, onde a narração e a descrição surgem mais intercaladas).

Em geral, confirmou-se que as crónicas desportivas são textos híbridos, em que os três tipos de

sequências – narrativa, descritiva e descritiva-apreciativa – são interdependentes. No entanto, e

recorrendo ao conceito de Adam (1990; 1996; 1997; 1999) de efeito dominante, é possível considerar

que este é um tipo de texto essencialmente narrativo, na medida em que o leitor se apercebe da

progressão narrativa e da passagem do tempo (desde o início até ao final do jogo), apesar de haver um

grande número de sequências descritivas e de algumas sequências com valor apreciativo em cada

corpus.

Page 110: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

109

Capítulo 4. Proposta de modelo tradutivo de alguns tempos verbais encontrados nos corpora

Serve este capítulo para demonstrar que a tradução dos tempos verbais em textos,

particularmente em crónicas desportivas, não pode ser feita apenas tendo em consideração os seus

alegados equivalentes diretos, na medida em que o co(n)texto da frase pode influenciar

significativamente a tradução. Além disso, há que ter em conta a fluidez e a compreensibilidade do

discurso, na perspetiva do leitor, e ainda questões estilísticas do próprio meio de comunicação, do

autor e do tradutor.

Com todas as contribuições dadas pelo Capítulo anterior, parte-se agora para um modelo

sistematizado de tradução de tempos verbais, em que, mais do que os equivalentes diretos, importam

todos os fatores acima descritos. Procura-se, sempre que possível, encontrar exemplos paralelos,

retirados dos corpora, ilustrativos de cada tipo de construção, para melhor compreensão das opções

tradutivas. Sempre com o propósito de fazer compreender o leitor dessas opções, recorre-se também à

tradução própria de vários exemplos (caso não existam construções paralelas). Esta proposta de

modelo tradutivo procura ser bidirecional, i.e., funcionando tanto de português para inglês como o

inverso (mas partindo-se, regra geral, do português)154 e visa apenas alguns dos tempos verbais

encontrados.

Quanto às técnicas de tradução de notícias, aplicam-se aqui as propostas de Gambier (2006), já

explicitadas em 1.3.2., mas adaptadas à dimensão microlinguística aqui em estudo. Assim:

- a reorganização consiste na alteração dos constituintes da frase, podendo ser relativa à

construção verbal, mas também a algumas expressões típicas deste tipo de discurso, por

exemplo;

- a substituição não envolve alterações profundas nos constituintes da frase, consistindo na

alteração de um tempo verbal em vez de outro;

- a eliminação e a adição não são referidas neste capítulo; por um lado, porque se considera que

estão incluídas nas duas técnicas referidas acima; por outro, porque não é objetivo deste

capítulo alterar os exemplos, mas sim perceber a importância da correção no uso dos sistemas

verbais.

Além destas, acrescento ainda a tradução direta (ou literal), que consiste numa aproximação ao

texto de partida. Neste capítulo, e tal como foi feito no capítulo 3, a análise incide exclusivamente nos

154 Muito embora aqui estejam refletidos contextos, as propostas tradutivas, no seu todo, nunca são definitivas. Ou seja, providencia-se aqui uma maneira sistemática de validar os valores semânticos de temporalidade e de Aspeto de uma língua para a outra. Os demais elementos da frase, o próprio verbo escolhido ou as opções tradutivas são acrescentos pessoais, não-normativos, servindo apenas para melhor compreensão do trabalho. Este modelo não é vinculativo..

Page 111: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

110

exemplos apresentados, não sendo de excluir a hipótese de certos tempos terem diferentes leituras ou

de fazerem parte de diferentes construções, estabelecendo relações retóricas também distintas.

4.1. Modelo tradutivo bidirecional de alguns tempos verbais em contexto

Este modelo, tal como a análise feita nos pontos 3.3. e 3.4., centra-se apenas num excerto dos

corpora, relativo às crónicas desportivas de 2011. Não fazem parte dele todos os tempos verbais: os

tempos do conjuntivo, as orações participiais e os verbos modais foram excluídos, visto que esta

dissertação não comporta todos os aspetos envolvidos em construções com estas formas verbais.

Pretérito Perfeito Simples / Simple Past (PT-EN e EN-PT)

O Pretérito Perfeito Simples e o Simple Past surgem como tempos dominantes em sequências

pertencentes a todos os segmentos das crónicas desportivas. Como tal, combinam com diversos outros

tempos verbais, em diferentes tipos de construções, e associam-se a várias relações retóricas.

- Sequências verbais com Pretérito Perfeito Simples/Simple Past - Tipicamente, a tradução de

construções deste género faz-se com o Simple Past/Pretérito Perfeito Simples, seja com leitura

de sobreposição temporal ou de sucessividade temporal. Todavia, nem sempre a equivalência

direta entre estes dois tempos verbais é a opção tradutiva correta.

(1) “Tal como em 2009, o Barcelona venceu o Manchester United numa final da Liga dos Campeões. Tal como em 2009, Lionel Messi marcou no jogo decisivo.”

Opção 1a): “Just like in 2009, Barcelona beat Manchester United (…). Just like in 2009, Lionel Messi scored in the decisive match.”

Neste exemplo, por se tratar de um conjunto de frases que incluem um paralelismo estrutural,

algo que não se encontra nas crónicas inglesas, uma opção tradutiva possível é a transformação

das duas frases numa frase complexa com uma oração adverbial final.

Opção 1b): “Just like in 2009, Barcelona beat Manchester United in a Champions League final as Lionel Messi scored in the decisive match.”

[Exemplo do corpus inglês: Manchester United's hopes of emulating their first European Cup final success here against Benfica in 1968 foundered as Barcelona deservedly repeated their win against Sir Alex Ferguson's side in Rome two years ago.”]

Construções como a oração adverbial proposta em 1b) ocorrem por diversas vezes no corpus

inglês. Contudo, nem sempre os valores expressos por as encontram total correspondência nos

conetores causais em português.

(2) “The rest of the game was merely a conclusion of the formalities as Barcelona lifted the famous trophy for the fourth time and United were left to wonder how they can halt what seems to be an unstoppable force.”

Opção 2a): “O resto do jogo foi uma mera conclusão das formalidades e o Barcelona levantou o famoso troféu pela quarta vez (...)”

Page 112: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

111

Opção 2b) (marginal): “O resto do jogo foi uma mera conclusão das formalidades e o Barcelona ergueria o troféu pela quarta vez (...)”

Opção 2c): “O resto do jogo foi uma mera conclusão das formalidades, permitindo ao Barcelona levantar o troféu pela quarta vez (...)”

No exemplo (2), em qualquer uma das opções tradutivas há lugar a uma reorganização da frase,

com várias possibilidades: uma coordenação sindética (que também pode transmitir valores

semânticos de consequência - cf. Matos, 2003: 555-6), em que, preferencialmente, se faz uma

tradução direta do Simple Past para o Pretérito Perfeito Simples em ambos os membros

coordenados (no primeiro membro coordenado, apesar de ser estativo, sabe-se pelo

conhecimento do mundo e pelo contexto que se refere a um intervalo não muito longo de

tempo, pelo que o Pretérito Perfeito Simples é a única opção tradutiva possível).Pelapossível

leitura de posterioridade no passado, admite-se o uso do Condicional (menos frequente) no

segundo membro coordenado. Não se usando uma coordenação, uma outra opção será

reorganizar a adverbial causal, substituindo-a por uma construção complexa gerundiva

combinada com Infinitivo.

(3) “O Barcelona voltou a superiorizar-se ao Manchester United e conquistou a Liga dos Campeões com uma vitória por 3-1.”

Opção 3a): “Barcelona were superior to Manchester United again and conquered the Champions League with a 3-1 win.”

A única diferença na tradução prende-se com o valor da predicação da oração principal (que

tem um verbo aspetual) e que, em inglês, se transforma num estativo com verbo copulativo.

Este exemplo permite uma leitura de sobreposição e uma outra de posterioridade do segundo

membro coordenado relativamente ao primeiro. Mas a mesma opção tradutiva aplica-se em

sequências narrativas com relações retóricas de narração e que apenas admitem leitura de

sucessividade.

(4) “Aos 34 minutos, depois de uma bola recuperada a um lançamento de Abidal, o 10 inglês tabelou com Carrick e progrediu, tabelou com Giggs e tentou a sua, merecida, sorte (…)”

Opção 4a): “At 34’, after winning the ball from a throw from Abidal, the English 10 exchanged passes with Carrick, progressed, [then] exchanged passes with Giggs and tried his well deserved luck (…)”

Opção 4b): “At 34’, after winning the ball from a throw from Abidal, the English exchanged passes with Carrick, progressed and exchanged passes with Giggs to try his well deserved luck (…)”

[Exemplo do corpus inglês: “When Michael Carrick and Fábio won the ball following a Barcelona throw on the right, Rooney set off on a determined diagonal run, exchanged passes with Giggs and hit a confident drive beyond Victor Valdés.”

O exemplo (4) é paradigmático de uma sequência narrativa, com várias ocorrências

coordenadas no Simple Past, em que a localização temporal das situações se faz através de um

adverbial de localização exata. Este tipo de construção, quer no corpus português, quer no

Page 113: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

112

corpus inglês, é sobretudo encontrado no relato cronológico (ainda que possa haver relações

retóricas de narração no resumo em inglês).

De inglês para português, com estados ou eventos que tenham adquirido duração, a tradução

direta do Simple Past para o Pretérito Perfeito Simples pode ser inviável, preferindo-se o

Imperfeito.

(5) “Ferguson and his players were disconsolate at the final whistle (…) but there was no shame in their defeat by one of the finest club sides the game has seen.”

Opção 5a): “Ferguson e os seus jogadores estavam desconsolados no final do encontro (…) mas não havia vergonha em perder contra uma das melhores equipas de sempre.”

(6) “The Barcelona manager was on this pitch when his club won their first European Cup back in 1992 (…)”

Opção 6a): “O treinador do Barcelona estava neste mesmo relvado quando o seu clube ganhou a primeira Taça dos Campeões Europeus em 1992.”155

- Sequências verbais com Pretérito Perfeito Simples e orações não-finitas (infinitivas e

gerundivas) – Em ambos os corpora, estas construções surgem sobretudo no relato cronológico

e estão associadas a relações retóricas de narração. As sequências narrativas admitem orações

não-finitas na dependência temporal do tempo da situação da oração principal. Contudo, nem

sempre se faz uma tradução direta e por vezes é necessária uma reorganização.

Tendo em conta que as relações retóricas de narração com Pretérito Perfeito na oração principal

admitem orações não-finitas, tanto se pode fazer tradução direta como substituir por uma

oração gerundiva (como no exemplo dado) ou por uma infinitiva (que, neste exemplo, não seria

aceitável). O tempo da oração principal é obrigatoriamente o Pretérito Perfeito Simples.

(7) “O craque argentino jogou e fez jogar e aos 45’ ultrapassou Ferdinand (...) e galgou terreno (...), servindo Villa na direita, com a avançado a retribuir a gentileza(...)”

Opção 7a): “The Argentine genius played brilliantly and at 45’ he overtook Ferdinand and progressed towards the right, served Villa and the forward returned the favour (…)”

As orações não-finitas podem ser substituídas por orações coordenadas no Simple Past.

Também é possível, neste exemplo, substituir o tempo passado (exceto na oração principal) por

orações gerundivas coordenadas.

Opção 7b): “The Argentine genius played brilliantly, overtaking Ferdinand at 45’ and progressing towards the right, serving Villa and with the forward returning the favour (…)”

Neste caso, a oração gerundiva tem tradução direta e a infinitiva é transformada em nova

gerundiva. Em certas construções (que não nesta), é possível fazer o inverso, i.e., transformar

uma oração infinitiva numa gerundiva.

155 Apenas para efeitos de esclarecimento, a competição aqui em causa é denominada Liga dos Campeões. Contudo, esta denominação é apenas válida a partir da época 1992-1993; anteriormente, era chamada Taça dos Campeões Europeus.

Page 114: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

113

[Exemplo do corpus inglês: “(…) but when the Mexican found his team-mate with a return pass there was nothing uncertain about Rooney's finish as he empathically wrapped his boot around the ball to send it high beyond Valdes.”]

O Pretérito Perfeito Simples pode ainda combinar-se com orações gerundivas em construções

durativas, dadas por adverbiais de duração.

(8) “E a verdade é que os ingleses entraram bem, pressionando alto e anulando a circulação de bola do adversário nos primeiros 10 minutos.”

Opção 8a): “And the truth is the English side had a good start (…)”156

[Exemplo do corpus inglês: “Xavi ghosted across the edge of the United area, biding his time, keeping the defence guessing (…)”]

Em (8), a expressão entrar bem, que faz parte da terminologia jornalística desportiva e que é

eventiva, pode ser transformada em estado pela expressão idiomática de significado equivalente

em inglês. A tradução dos tempos verbais em frases deste tipo é direta, sendo que as gerundivas

são uma elaboração da situação da oração principal.

- Sequências verbais com Pretérito Perfeito Simples e Presente do Indicativo (estativo) em

frases de duplo acesso - Traduz-se diretamente para o Simple Past157, sendo também possível

utilizar, pelo valor de passado recente, o Present Perfect.

(9) “O argentino voltou a provar que com um metro de terreno livre é letal (…)”

Opção 9a): “The Argentine proved again that he is lethal if given just an inch”

Opção 9b): “The Argentine has proved again that he is lethal if given just an inch (…)”

- Em frases simples com estados ou com adverbiais de duração - Traduz-se diretamente para o

Simple Past.

(10) “Durante vinte minutos, mais o intervalo, o vencedor esteve sempre em dúvida.”

Opção10a): “For twenty minutes, plus break time, the winner was always in doubt.”

[Exemplo do corpus inglês: “For almost 10 minutes, Barcelona were penned in their own half, though not uncomfortably so.”]

Imperfeito (PT – EN)

O Imperfeito é, por excelência, um tempo verbal que exprime duração na esfera do passado.

Contudo, ele pode expressar outros valores semânticos. Uma vez que não nem sempre temequivalente

direto em inglês158, há que encontrar soluções tradutivas alternativas, o que constitui um desafio para

o tradutor.

156 Também é possível utilizar a expressão enjoyed a good start. 157 De notar que, se nestas construções estativas o Pretérito Perfeito se traduz para o Simple Past, nem sempre o contrário ocorre, como se vê mais adiante na análise do Imperfeito. 158 O Simple Past pode ser um equivalente direto do Imperfeito, mas apenas em construções não-terminativas.

Page 115: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

114

- Frases simples, com o verbo copulativo estar–Em exemplos deste tipo, a tradução faz-se

preferencialmente com a forma verbal there to be no Simple Past.

(11) “Só que em campo estava um pequeno argentino, de talento inigualável no pé esquerdo.” Opção 11a): “But in the pitch there was a small Argentine with a left foot of incredible talent.”

- Sequências verbais com Imperfeito e Pretérito Perfeito em orações adverbiais temporais com

quando – Trata-se de um uso não-canónico do Imperfeito, de valor meramente temporal, na

medida em que há localização da situação anteriormente a T0, dada pela adverbial comquando,

que, por sua vez, é simultânea a 54 minutos, que dá a localização exata. Por isso, a tradução

faz-se pelo Simple Past, que mantém a leitura temporal da situação.

(12) “O relógio marcava 54 minutos quando La Pulga recebeu de Iniesta um daqueles passezitos de dois metros, deu três passos e atirou às redes.”

Opção 12a): “The clock set 54 minutes when (…)”

- Sequências verbais com Imperfeito – Sendo o Imperfeito um tempo que tende a estativizar as

situações (cf. Oliveira, 2003: 140), uma das consequências de traduzir este tempo verbal para

uma língua sem um equivalente direto pode ser a perda de leitura de duratividade. Pela

informação de tempo passado, a tradução faz-se para o Simple Past. Uma estratégia possível

para manter os valores semânticos do Imperfeito é, contudo, substituir alguns eventos por

estados básicos, reestruturando a frase (como em (14)). Isto pode, em parte, explicar o grande

número de estados no corpus inglês e surge tipicamente em sequências textuais descritivas em

ambos os corpora.

(13) “O espetáculo era de alto nível e cumpriam-se as expectativas de uma das melhores finais de sempre da Champions.”

Opção 13a): The game was spectacular and the expectations of those who hoped for one of the best ever Champions League finals were fulfilled.”

(14) “Evra e Valencia surgiam rápidos nas alas, Ji-Sung Park ocupava bem os espaços e o Barça tinha dificuldade em ligar o jogo.”

Opção 14a): “Evra and Valencia were quick on the wings, Ji-Sung Park was well positioned and Barça struggled to connect their game.”159

Opção 14b) (mais literal, quiçá menos fluída): “Evra and Valencia were quick on the wings, Ji-Sung Park occupied spaces well and Barça struggled to connect their game.”

[Exemplo do corpus inglês: “United’s thoughts were scrambled as Barcelona moved the ball around with ease.”]

Quando combinada com adverbiais de localização exata, uma sequência de tempos no

Imperfeito dá leitura narrativa com sucessividade temporal. Novamente, a tradução mais

adequada passa pelo Simple Past.160

159 Uma tradução literal/direta da expressão ocupava bem os espaços não parece aceitável em inglês, pelo que se reestruturou a frase. Manteve-se o tempo verbal, mas transformou-se um evento num estado.

Page 116: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

115

(15) “Um quarto de hora depois, Nani entrava em campo, quando Ferguson tentava levar a equipa para a frente (…). No mesmo minuto, David Villa imitava o arco de Wembley e fazia o 3-1, no melhor golo da noite (…)”

Opção 15a): “15 minutes later, Nani came on the pitch, when Ferguson attempted to take the team forward (…). In the same minute, David Villa replicated Wembley’s arch and scored the 3-1 (…).”

Past Continuous (EN-PT)

Este é um tempo que transmite duração na esfera temporal do passado, tendo, por isso, uma

leitura diferente da do Simple Past. Não tendo um equivalente direto em português, há mais do que

uma solução tradutiva possível, dependendo das construções.

- Sequências verbais com orações participiais161, com um adverbial durativo - A tradução mais

adequada deste tempo verbal, neste contexto particular, é com o Imperfeito, que pode dar

leitura de repetição de situações com adverbiais de duração.

(16) “(…) and by the midpoint of the first half, Barcelona were building up attacks in the familiar waves around the edge of United's penalty area, with Xavi, Andrés Iniesta and Villa always involved but Messi never far from the ball or the point of danger. (…)”

Opção 16a): “(…) e com a primeira parte a meio, o Barcelona construía ataques, em movimentos tão familiares, à volta da área do United (…)”

[Exemplo do corpus português: “Evra e Valencia surgiam rápidos nas alas, Ji-Sung Park ocupava bem os espaços e o Barça tinha dificuldade em ligar o jogo.”]

- Sequências verbais de Past Continuous - No exemplo dado, o Past Continuous, que é um

tempo que transmite duração, surge como tempo da oração principal com o verbo to become,

que indica mudança de estado. Por essa razão, pode fazer-se aqui uma tradução para a forma

progressiva com o auxiliar estar no Imperfeito, que mantém a leitura de duração.

(17) “Ferguson was becoming animated on the touchline, clearly frustrated at the way his team were surrendering possession (…)” Opção 17a): “Ferguson estava a ficar animado no banco, frustrado com a forma como a equipa estava a perder a bola.”

A tradução preferencial, contudo, passa por uma ligeira reorganização, recorrendo ao

Imperfeito simples com uma construção perifrástica com um verbo aspetual, na oração

principal. Na oração subordinada, parece mais aceitável usar o Imperfeito simples, embora seja

admissível a forma progressiva.

Opção 17b) (preferencial): “Ferguson começava a ficar animado no banco, frustrado com a forma como a equipa perdia/estava a perder a bola.”

 

 

160 Tal como referido acima (no ponto sobre o Pretérito Perfeito Simples), nas relações retóricas de narração, há um tempo passado predominante, mas a sequência verbal pode incluir orações não-finitas, como as gerundivas ou as infinitivas. No exemplo apresentado, não parece ser possível fazer essa reorganização, mas em certas construções pode ser aceitável. 161 Não relevantes para este estudo.

Page 117: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

116

Past Perfect (EN – PT)162

Este é um caso paradigmático de como nem sempre os alegados equivalentes diretos dos

tempos verbais funcionam como tal. A priori, o tempo verbal que partilha mais valores semânticos em

português com o Past Perfect é o Mais-Que-Perfeito Composto, mas a sua relevância no corpus

português é mais diminuta quando comparada com o Past Perfect. Este é um tempo que surge mais

frequentemente no segmento resumo.

- Sequências verbais com Simple Past – O Simple Past surge como tempo da oração principal

com um verbo copulativo (estativo). Traduz-se, por isso, pelo Imperfeito. Quanto ao Past

Perfect, existem duas possibilidades tradutivas: o Imperfeito ou o Mais-Que-Perfeito

Composto. Pode haver alguma inclinação para a primeira opção, tendo em conta a maior

frequência de ocorrências de Imperfeito.

(18) “The United line-up was the one everyone had guessed in advance, though Sir Alex Ferguson too sprang a surprise among the substitutes, with Michael Owen’s selection nudging Dimitar Berbatov out of the entire squad.”

Opção 18a): “O onze inicial do United era aquele que todos esperavam (…)”

Opção 18b): “O onze inicial do United era aquele que todos tinham previsto (…)”

- Sequências verbais de Past Perfect - No exemplo (19), o Past Perfect surge na oração

principal e na primeira oração subordinada. Na oração com before, que faz a localização

temporal, há duas possibilidades tradutivas: uma com o Infinitivo composto, se o adverbial for

traduzido por antes de, outra com o Mais-Que-Perfeito do conjuntivo, se a tradução do

adverbial for antes que. Na oração subordinante, o tempo prototipicamente a utilizar é o Mais-

Que-Perfeito Composto, considerado o equivalente direto deste tempo em português. A

introdução do adverbial já é possível, para reforçar a leitura temporal da frase.

(19) “Before a ball had even been kicked, both coaches had demonstrated possessing backbones made of iron in making unsentimental and unflinching team selections.” Opção 19a): “Antes de o jogo ter começado, ambos os treinadores [já] tinham demonstrado (…)” Opção 19b): “Antes que o jogo tivesse começado, ambos os treinadores [já] tinham demonstrado (...)”

Em algumas construções, como (20), o Mais-Que-Perfeito Simples, embora menos recorrente,

também é possível, sendo o Mais-Que-Perfeito Composto preferencial. Isto demonstra a

importância do cotexto para uma correta análise do tradutor.

(20) “Sir Alex Ferguson was gracious in defeat, quick to congratulate Barcelona. He had spent the last fortnight on the training ground (…)”

162 Uma vez que este modelo tradutivo pretende ser bidirecional, omite-se a análise do Mais-Que-Perfeito Composto, uma vez que neste ponto já fica esclarecido que este tempo verbal é uma possibilidade tradutiva para o Past Perfect e vice-versa.

Page 118: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

117

Opção 20a): “(…) O escocês163tinha passado as últimas duas semanas no centro de treinos (…)” Opção 20b): “(…) O escocês passara as últimas duas semanas no centro de treinos (…)”

- Sequências verbais com infinitivas - No exemplo dado, o Past Perfect surge combinado com

o verbo copulativo to be. Há também aqui diversas possibilidades, que podem passar por uma

sequência verbal de Mais-Que-Perfeito Composto e de uma oração infinitiva,164 pelo Mais-

Que-Perfeito Simples ou pelo Pretérito Perfeito Simples - nos últimos dois casos, com recurso

ao verbo modal (poder).

(21) “Barcelona had been unable to name quite their strongest team too, with their influential captain (…)” Opção 21a): “Também o Barcelona tinha sido impossibilitado de nomear a sua melhor equipa (…)” Opção 21b): “O Barcelona também não pudera nomear a sua melhor equipa (…)” Opção 21c): “O Barcelona também não pôde nomear a sua melhor equipa (…)”

Orações infinitivas (PT-EN)

As orações infinitivas aqui exemplificadas têm relevância para a interpretação temporal das

situações, mas apenas num tipo de construção podem ser traduzidas para as infinitivas em inglês

(quando há leitura de finalidade). Há várias construções possíveis com infinitivo, sendo de destacar

leituras de sobreposição temporal e de posterioridade (e, consequentemente, relações retóricas de

narração). Contudo, e por se tratar de um tempo não-finito, estas leituras são, na maioria das vezes

inferidas pelo contexto e pelo conhecimento do mundo ou permitidas por adverbiais temporais.

� Sequências verbais com Pretérito Perfeito Simples (na oração principal) – As orações

infinitivas combinam-se com o Pretérito Perfeito em construções de diferentes tipos. Veja-se os

exemplos:

(22) “(...) Messi usou aquele «Pé de Deus» para apontar o 12º golo na Champions e meter o resultado num 2-1.” Opção 22a): “Messi used his godly left foot to score his 12nd goal in the Champions League and set the score in 2-1.”

[Exemplo do corpus inglês – “(…) the same problems swiftly resurfaced as Barcelona

stamped their authority on midfield and Messi roamed free to inflict damage (…)”]

O marcador to, que faz parte do próprio verbo no Infinitivo, assume comportamentos

preposicionais, pelo que a tradução se faz diretamente para uma to-infinitival (em que o

163 O segundo período deste exemplo é iniciado com um pronome pessoal, algo que, na escrita jornalística em português, é tido como algo a evitar. Por essa razão, e por se tratar do mesmo referente do primeiro período, fiz na tradução uma alusão à sua nacionalidade. 164 Com o Mais-Que-Perfeito Composto, existem casos em que o verbo auxiliar ter pode ser substituído por haver.

Page 119: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

118

marcador assume a mesma função em inglês do que para em português). A tradução direta só é

possível em construções deste tipo, com leitura de finalidade dada pelo marcador to.

As orações infinitivas também podem surgir iniciadas por a+ adverbial de duração. Nestes

casos, o adverbial de duração permite leitura de repetição de situações. Tipicamente, em inglês

usa-se uma oração gerundiva, o que, para assegurar maior fluidez do discurso, envolve uma

ligeira reorganização da frase. Frases deste tipo surgem tipicamente em sequências textuais

descritivas.

(23) “E foi à imagem desse momento que se desenrolaram os dez minutos iniciais da partida. Os red devils entraram com toda a força e confiança, a pressionar forte e a encostar o Barça lá atrás.”

Opção 23a): “(…) [in the first ten minutes]. The red devils started at full throttle, applying high pressure and pushing Barça to the back.”

[Exemplo do corpus inglês: “United began like a team with a well-drilled plan, with Park Ji-Sung quickly closing down Dani Alves, and Rooney enjoying some success in the air against Mascherano. [For almost 10 minutes] (…)”]

Quando as infinitivas surgem em orações com a + adverbial de localização exata,há

progressão narrativa. Como a preposição a não assume os mesmos comportamentos

preposicionais que o marcador to, em nenhum caso se faz uma tradução direta para uma to-

infinitival, pelo que há duas técnicas tradutivas possíveis.

(24) “Aos 16 minutos Xavi serviu Pedro para um desvio ligeiramente ao lado, aos 20’ foi Villa a rematar próximo do alvo, aos 21’ foi Van der Sar a segurar o tiro do 7 e aos 22’ foi Vidic, com um corte enorme, a impedir que Messi activasse o placar.”

Opção 24a) (preferencial): “At 16’, Xavi served Pedro for a finish just an inch wide, at 20’ Villa shot close to target, at 21’ Van der Sar held another finish by the no. 7 and at 22’ Vidic stopped Messi from scoring with an enormous cut.”

Em 24a) recorreu-se à técnica da reorganização (preferencial), usando-se uma sequência de

Pretéritos Perfeitos Simples. Outra possibilidade para esta sequência é uma tradução mais

direta, mantendo as frases clivadas, mas substituindo as infinitivas por Pretérito Perfeito

Simples.

Opção 24b): “At 16’, Xavi served Pedro for a finish just an inch wide, at 20’ it was Villa who shot close to target, at 21’ it was Van der Sar who held another finish by the no. 7 and at 22’ it was Vidic who stopped Messi from scoring with an enormous cut.”

Em construções iniciadas por com + adverbial de localização exata, a oração infinitiva é

substituída em inglês para uma oração com -ing participle (gerundiva) com with.

(25) “(…) aos 45’ ultrapassou Ferdinand com um túnel e galgou terreno com Carrick nas costas, servindo Villa na direita, com o avançado a retribuir a gentileza (...)”

Page 120: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

119

Opção 25a): “(…) at 45’, he ran past Ferdinand with a nutmeg and progressed with Carrick in his back, served/serving Villa on the right and with the forward returning his pass (…)”

Todas estas construções são mais frequentes no relato cronológico e associam-se a relações

retóricas de narração, surgindo, por isso, em sequências textuais descritivas.

Orações gerundivas / -ing participle (PT – EN e EN – PT)

As orações gerundivas, quer em português quer em inglês, dão na maioria das ocasiões leitura

de sobreposição (ou de inclusão) temporal. Nestes casos, surgem tipicamente em sequências

descritivas, podendo estabelecer com a oração principal relações retóricas de elaboração. Contudo,

podem também ocorrer com relações retóricas de narração, havendo aí quase sempre a necessidade de

recorrer a uma reorganização da frase ou à substituição por outro tempo verbal.

- Sequências verbais com Pretérito Perfeito Simples (oração principal) – Em situações

durativas, com sobreposição temporal da gerundiva, faz-se preferencialmente uma tradução

direta para orações com -ing participle. No exemplo dado, a gerundiva estabelece

preferencialmente uma relação retórica de elaboração com a oração principal165.

26) “O Barcelona dominou do princípio ao fim (...), subjugando uma das equipas mais competentes do mundo (...)”

Opção 26a): “Barcelona were better from beginning to end, outplaying one of the world’s most competent sides (…)”

Contudo, e tendo em conta a interpretação que a gerundiva pode dar de valor de consequência,

uma possibilidade é transformar a gerundiva numa oração adverbial causal, algo frequente no

corpus inglês.

Opção 26b): “Barcelona were better from beginning to end as they outplayed one of the world’s most competent sides (…)”

[Exemplo no corpus inglês: “Xavi ghosted across the edge of the United area, biding his

time, keeping the defence guessing (…)”]

Em combinações com adverbiais de duração, faz-se novamente uma tradução direta para

orações com –ing participle. Também aqui a gerundiva estabelece uma relação de elaboração

com a oração principal. No exemplo (27), há duas gerundivas coordenadas, sendo que, na

segunda, pela inexistência de um equivalente direto da expressão anular a circulação de bola, é

necessária uma reorganização da frase, mas sem alterar o tempo verbal.

165 A leitura explicitada acima é a preferencial, como demonstra a opção tradutiva 26b), em que se perde a possível dupla leitura ao introduzir uma adverbial causal. Contudo, também se admite no exemplo original uma leitura de posterioridade da gerundiva em relação ao tempo da situação da oração principal, havendo, neste caso, uma relação retórica de narração. Exemplos como este demonstram que nem sempre há uma leitura evidente.

Page 121: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

120

(27) “E a verdade é que os ingleses entraram bem, pressionando alto e anulando a circulação de bola nos primeiros 10 minutos.”

Opção 27a): “And the truth is the English side had/enjoyed a good start to the match, pressing high and stopping Barcelona from circulating the ball in the first 10 minutes.

[Exemplo no corpus inglês: “United began like a team with a well-drilled plan, with Park Ji-Sung quickly closing down Dani Alves, and Rooney enjoying some success in the air against Mascherano. For almost 10 minutes, Barcelona were penned in their own half, though not uncomfortably so.”]

Quando a gerundiva surge com adverbiais de localização exata, numa coordenação de eventos,

há uma sequência narrativa, que se infere pelo conhecimento do mundo e pelos adverbiais. Há

mais do que uma possibilidade tradutiva. Uma delas é a substituição da gerundiva por uma

oração no Simple Past; outra é a tradução direta para uma oração com -ing participle.

(28) “(…) e aos 45’ ultrapassou Ferdinand (...) e galgou terreno (...), servindo Villa na direita, com a avançado a retribuir a gentileza (...)”

Opção 28a): “(…) at the 45’ mark, he put Ferdinand behind him (…) and progressed (…), served Villa on the right (…)”

Opção 28b): “(…) at the 45’ mark, he put Ferdinand behind him (…) and progressed (…),

serving Villa on the right (…)”

- Sequências verbais com gerundivas antecedida por in – Esta é uma construção menos

frequente, mas relevante para os estudos de tradução. No corpus inglês, apenas surge no

segmento resumo.

A gerundiva tanto pode ocorrer em posição inicial (30) como em posição final (29): para a

tradução interessa sobretudo a construção preposicional que introduz a gerundiva. À construção

in + ing-participle corresponde, em português, a construção ao + oração infinitiva.

(29) “(...) both coaches had demonstrated possessing backbones made of iron in making unsentimental and unflinching team selections.”

Opção 29a): “(…) ambos os treinadores haviam/tinham demonstrado grande coragem ao fazerem escolhas firmes e pouco emotivas.”

(30) “In resisting the urge to start with the fit-again Darren Fletcher, the Scot remained true to his promise of trading blows with Barca (...)”

Opção 30a): “Ao resistir à tentação de colocar o recém-recuperado Darren Fletcher, o escocês manteve a promessa de jogar de igual para igual com o Barça.”

Presente do Indicativo (PT – EN)

O Presente do Indicativo surge em todos os segmentos, sendo mais preponderante na

introdução e na conclusão das crónicas desportivas do corpus português. Surge em diversos tipos de

construções, pelo que nem sempre se recorre a tradução direta para o Simple Present.

Page 122: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

121

- Sequências verbais com Pretérito Perfeito Simples (com duplo acesso) – O duplo acesso,

muito frequente nos corpora – com valor igual aos exemplos aqui apresentados - ocorre quando

o Presente do Indicativo é combinado com um estado, como em (31) ou com estados habituais

derivados. Pela semelhança de valores semânticos, a tradução direta (do Presente do Indicativo

para o Simple Present e do Pretérito Perfeito Simples para o Simple Past) é tipicamente a mais

aconselhável e a opção mais frequente, mas não é a única.

(31) “(...) but Barcelona demonstrated once more (...) that they are peerless on the European stage.” (BBC Sports) Opção 31a): “(…) mas o Barcelona demonstrou, uma vez mais, (…) que é a melhor equipa da Europa.”

Opção 31b): “(…) mas o Barcelona demonstrou, uma vez mais, (…) que não tem paralelo na Europa.”

Opção 31c): “(…) mas o Barcelona demonstrou, uma vez mais, (…) não ter paralelo na Europa/não ter rivais à altura na Europa.”

No exemplo (31), oferecem-se três possibilidades tradutivas do Presente: a primeira consiste

numa tradução direta do tempo verbal, com reorganização da frase; a segunda mantém a frase,

substituindo o verbo por outro verbo estativo (ter); a terceira envolve uma reorganização da

oração com Presente por uma oração infinitiva.

- Sequências de Presente com Pretérito Perfeito Simples (sem duplo acesso) – Pela pouca

frequência do Simple Present e pela dificuldade em encontrar ocorrências de presente real com

eventos, a melhor opção tradutiva é a substituição pelo Present Perfect, sobreposto ao PpT e a

T0. Esta substituição é válida quer para a oração com Presente, quer para a oração principal, no

Pretérito Perfeito (opcional).

(32) “Consagraram-se nesta noite como a melhor equipa da Europa e reforçam a ideia de serem a melhor do mundo (…)”

Opção 32a): “They have confirmed that they are the best team in Europe tonight and they have reinforced the idea that they are the best in the world (…)”

Opção 32b): “They confirmed that they are the best team in Europe tonight and have reinforced the idea that they are the best in world (…)”

No entanto, a tradução direta é também uma possibilidade, sobretudo com leituras de habitualidade, como em (33).

(33) “(…) but in the end had no answer to a Barcelona team that plays a brand of football that is unparalleled in the modern game (…)”

Opção 33a): “(…) mas no final não estiveram à altura de um Barcelona (…) que joga um futebol sem paralelo nos dias de hoje (…).”

Page 123: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

122

- Orações pequenas resultativas166 - Muito embora as chamadas small clauses sejam aceitáveis

em inglês, a tradução direta da construção ilustrada, que é típica do português, não é aceitável,

pelo que a forma verbal mais adequada é o Present Perfect.

(34) “Guardiola, Xavi, Iniesta, Messi têm mais uma Champions ganha.”

Opção 34a): “Guardiola, Xavi, Iniesta, Messi have won another Champions League.”

- Sequências verbais de Presente do Indicativo - Aqui faz-se tradução direta para o Simple

Present, havendo duas possibilidades tradutivas na oração principal - por mera opção estilística

- mas que podem transformar um estativo numa construção eventiva.

(35) “Os números da estatística são reveladores da superioridade do Barcelona, e a verdade é que o 3-1 foi lisonjeiro para o United.”

Opção 35a): “The statistics are revealing of Barcelona’s superiority and the truth is 3-1 was a rather fortunate result for United.”

Opção 35b): “The statistics reveal Barcelona’s superiority (…)”

� Sequências verbais com orações infinitivas - O Presente do Indicativo surge com leitura

temporal e sem leitura aspetual de habitualidade. Há, por isso, duas opções tradutivas: a

primeira é transformar o evento num estado, com o verbo copulativo to be, mantendo apenas a

leitura temporal; a segunda é assumir o valor do Pré-Presente (cf. Silvano, 2002), cuja leitura

tanto é possível com o Present Perfect, ou com a tradução direta para o Simple Present. Nestes

últimos dois casos é obrigatório que o tempo da oração principal - nulo no exemplo em

português - esteja explícito, no Simple Present.

(36) “Segundo título europeu de Guardiola, que se torna o mais jovem treinador (40 anos) a conquistar duas Ligas dos Campeões e contribuiu para aumentar para 9 o número de troféus conquistados por técnicos espanhóis, que assim igualam os italianos como dominadores da competição.” (Relvado)

Opção 36a): “[It was] the second European title for Guardiola, who, at 40 years old, has become the youngest manager to conquer two Champions League trophies (…)”

Opção 36b): “It is the second European title for Guardiola, who, at 40 years old, is the youngest manager to conquer two Champions League trophies (…)”

Opção 36c): “It is the second European title for Guardiola, who, at 40 years old, becomes the youngest manager to conquer two Champions League trophies (…)”

- Com o verbo copulativo ser e estados não-faseáveis - A tradução mais direta seria para o

Simple Present. Contudo, e tendo em conta a “preferência” das crónicas desportivas em inglês

por um tempo anterior a T0, uma outra possibilidade tradutiva seria o Present Perfect, que

localiza o início da situação num tempo anterior a T0 (respeitando a cultura de chegada) mas

166 A oração pequena em causa é uma construção de predicação secundária de valor resultativo (Duarte, 2003: 279).

Page 124: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

123

que tem duração até T0, sobretudo com estados (respeitando a cultura de partida). Uma terceira

hipótese passa pela reorganização da frase, para que seja utilizado o Simple Past (usando a

técnica da substituição da frase para respeitar apenas a cultura de chegada).

(37) “O Barcelona é o novo - e justo - campeão europeu (…)”

Opção 37a): “Barcelona are the new European champions (…)”

Opção 37b): “Barcelona have conquered the Champions League (…)”

Opção 37c): “Barcelona won the Champions League (…)”

[Exemplo do corpus inglês: “Barcelona delivered a masterclass to inflict another Champions League final defeat on Manchester United as Lionel Messi inspired an emphatic victory at Wembley.”167]

Com leitura aspetual de generalização, faz-se uma tradução direta para o Simple Present, que é

o único tempo verbal capaz de permitir essa leitura.

(38) “O futebol é um jogo simples.”

Opção 38a): “Football is a simple game.”

Present Perfect (EN – PT)

O alegado equivalente direto deste tempo verbal, o Pretérito Perfeito Composto, nunca ocorre

no corpus português. Este dado é relevante para os estudos de tradução, pois para o público leitor

pode ser mais fácil reconhecer outros tempos e outras construções neste tipo de textos.

- Sequências verbais com Simple Past – Pela anterioridade em relação a T0, o Pretérito Perfeito

Simples parece ser a melhor opção tradutiva, podendo-se ainda introduzir o advérbio já.

(39) “(...) United never threatened to mount the sort of dramatic recovery that has become their trademark (…)”

Opção 39a): “O United nunca ameaçou aquelas emocionantes reviravoltas que [já] se tornaram a sua imagem de marca (…)”

Em (40), há a possibilidade de reorganizar a frase, eliminando a oração relativa e substituindo-a

por uma oração adverbial. O Pretérito Perfeito Composto é uma opção apenas marginal neste

exemplo, por parecer menos fluída.

(40) “(...) but there was no shame in their defeat by one of the finest club sides the game has seen (...)

Opção 40a): “(…) mas não havia vergonha em perder contra uma das melhores equipas que o futebol já viu.”

Opção 40b): “(…) mas não havia vergonha em perder contra uma das melhores equipas de sempre.”

Opção 40c) (marginal): “(...) mas não havia vergonha em perder contra uma das melhores equipas que o futebol tem visto.”

167 Este exemplo mostra que, em inglês, há maior presença de apreciação, por um lado, e que as construções frásicas são mais complexas, por outro.

Page 125: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

124

Condicional (PT – EN)

O Condicional tem uma importância relativamente diminuta em ambos os corpora. Tendo em

conta que neste estudo não é abordada a modalidade, interessa apenas focar a leitura temporal, que é

de futuro do passado. Por não ocorrer com frequência, este tempo não tem grande expressão em

nenhum dos segmentos, mas pode surgir em relações retóricas de narração, uma vez que dá leitura

temporal de posterioridade.

- Há duas formas de traduzir este tipo de leitura temporal para inglês. A primeira, mais direta, é

através do Conditional (modal would + Infinitivo). Há várias possibilidades tradutivas em (41),

sendo a opção meramente estilística.

(41) “Mas a resposta surgiria pouco depois.”

Opção 41a): “But the answer would soon arrive.”

Opção 41b): “But the answer would come soon.”

Opção 41c): “But the answer wouldn’t take long.”

A segunda é a forma do passado was/were to be (cf. Quirk et alii, 1981), que neste caso é uma

opção marginal, pois parece ser pouco fluída.

Opção 41d): “But the answer was to come soon.”

Futuro do Indicativo (PT – EN)

O tempo futuro regista apenas uma ocorrência nos excertos analisados dos corpora. Por sinal,

os dois exemplos são equivalentes, surgindo numa construção passiva. A tradução é direta, para o

Future (modal will + Infinitivo).

(42) “(…) e que dentro de alguns anos será olhada como a referência daquilo que os adeptos consideram a perfeição.”

Opção 42a): “(…) and that in a few years will be seen by supporters as a reference of perfection.”

[Exemplo do corpus inglês: “(…) the likely last game in the Manchester United legend's career

will be remembered for Barcelona's brilliance in claiming a fourth European crown.”]

4.2. Conclusões do capítulo

Este capítulo final procurou demonstrar a importância do conhecimento de algumas questões

sobre os tempos verbais para uma tradução compreensível ao seu público. O modelo tradutivo aqui

proposto tenta ser sensível a vários fatores: o tipo de texto (crónicas desportivas ou texto jornalístico

em geral), o contexto de cada situação (ou de cada sequência textual, se aplicável), o tipo de

Page 126: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

125

sequência de tempos, expressões típicas do jornalismo desportivo ou até mesmo terminologia técnica

relacionada com o tema (futebol).

Adaptaram-se as estratégias de tradução jornalística propostas por Gambier (2006) ao estudo

dos tempos verbais. As estratégias possíveis são de reorganização da frase/período, por forma a

adequar a sequência textual à cultura e língua de chegada; de substituição de um tempo verbal por

outro, sem necessidade de realizar profundas alterações à frase; ou uma tradução direta, pelo alegado

equivalente direto do tempo verbal em questão.

A primeira conclusão a tirar é a de que há bastantes casos em que os tempos verbais não se

podem traduzir pelo seu alegado equivalente direto de uma formaquase “automática”. Os únicos casos

nos exemplos mostrados foram o Condicional e o Futuro do Indicativo, traduzidos pelo Conditional

(ainda que a forma was/were to be seja admissível) e pelo Future. Saliente-se ainda que com tempos

como o Presente ou o Pretérito Perfeito, a tradução direta é válida na maioria das ocasiões.

Por vezes, influi na tradução de um tempo verbal a natureza aspetual das situações. O caso do

Imperfeito é paradigmático. Sendo um tempo do passado com leitura de duração com eventos, e não

tendo equivalente direto em inglês, requer quase sempre uma reorganização da frase. A tradução é

normalmente feita pelo Simple Past, quando se combina com estados, de forma a manter a leitura

durativa, podendo optar-se também pelo Past Continuous em certas construções. No sentido inverso,

o Simple Past com estados ou eventos que tenham adquirido duração é traduzido pelo Imperfeito.

Também o Past Continuous, menos frequente, é muitas vezes traduzido pelo Imperfeito.

Por excelência, o Simple Past é ainda o tempo que mais vezes é usado para traduzir frases no

Pretérito Perfeito Simples e vice-versa. Quando há relações retóricas de narração com Pretérito

Perfeito Simples / Simple Past, há lugar a tradução direta.

O Presente do Indicativo é tipicamente traduzido pelo Simple Present, mas há que considerar

que a relevância do Simple Present no corpus inglês é substancialmente menor do que no português,

pelo que, por vezes, se admite a tradução por outros tempos, como o Present Perfect (caso das

orações pequenas / small clauses). Com este tempo verbal, há ainda que ter em atenção à natureza

aspetual das situações (com eventos obtém-se uma leitura de habitualidade, com estados tem leitura

temporal), o que pode requerer uma reorganização da frase ou uma substituição por outro tempo

verbal.

Outro dado interessante a recolher deste estudo consiste nas orações não-finitas, i.e., as

gerundivas e as infinitivas. Quanto às primeiras:

- em leituras de sobreposição (ou de inclusão temporal), as gerundivas têm tipicamente

tradução direta;

- em leituras de posterioridade, com relação retórica de narração, pode optar-se, em certos

casos, pela tradução direta, mas também é possível uma coordenação assindética de

eventos no Pretérito Perfeito / Simple Past;

Page 127: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

126

- em construções in + -ing-participle, a tradução faz-se para ao + oração infinitiva (de

inglês para português).

Quanto às infinitivas (de português para inglês):

- só pode haver tradução direta para uma to-infinitival em construções com leitura de

finalidade e/ou de consequência (como orações com para) em que o marcador to assume

comportamentos preposicionais.

- em leituras de posterioridade, com relação retórica de narração, a frase é tipicamente

reorganizada para orações gerundivas ou para uma coordenação de eventos no Simple

Past.

Analisaram-se ainda dois tempos compostos, de inglês para português: o Past Perfect e o

Present Perfect. Em nenhum dos casos ficou claro que nem sempre existem equivalentes diretos.

- no caso do Past Perfect, a tradução pode ser feita pelo tempo verbal de valores mais

próximos, o Mais-Que-Perfeito Composto, mas também pelo Mais-Que-Perfeito Simples

(mais raro). Contudo, a opção preferencial em certos casos é pelo Imperfeito, por ser um

tempo verbal com um maior número de ocorrências no corpus português.

- o caso do Present Perfect torna ainda maior a necessidade de reorganizar a frase. Opta-se

geralmente pelo Pretérito Perfeito Simples, com uma reorganização da frase de modo a

conseguir “captar” a leitura temporal daquele tempo composto (de sobreposição em

relação a T0, sobretudo com estados). Embora exista a possibilidade de tradução pelo

Pretérito Perfeito Composto, esta é uma opção a evitar, uma vez que não existem

ocorrências no excerto do corpus analisado.

Em suma, há, efetivamente, tempos verbais com valores semelhantes entre o português europeu

e o inglês, mas em tradução há outros fatores a ter em conta, que influem na interpretação temporal

das situações e na compreensibilidade global de um texto. Além disso, os tempos, mesmo parecendo

formalmente semelhantes, têm muitas vezes uma semântica diferente. Por essa razão, defende-se aqui

uma outra opção que não a opção “automática” por alegados equivalentes, numa análise caso a caso.

Este modelo tradutivo focou-se em crónicas desportivas, mas é válido para qualquer outro tipo de

texto, desde que as suas características sejam previamente analisadas.

Page 128: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

127

Conclusões gerais

Esta dissertação surgiu de um cruzamento entre três áreas que estão profundamente

interligadas, mas cuja articulação não tem sido devidamente explorada pela literatura: o jornalismo, a

tradução (jornalística) e a linguística. Na análise macro e microlinguística de um tipo de textos

jornalístico, partiu-se de vários pressupostos:

- o discurso jornalístico tem muitas especificidades que têm de ser tidas em conta e que variam

de mercado para mercado;

- é fundamental para os estudos de tradução a noção de contexto, seja ele extra ou

intralinguístico;

- as teorias funcionalistas, orientadas para uma cultura e um público de chegada, são as mais

adequadas para o estudo de textos jornalísticos; contudo, estas teorias centram-se pouco em

fatores linguísticos;

- para a compreensão de um texto, a correção linguística é crucial e, por isso, ela deve ser

sempre um objetivo concreto de um tradutor.

Assim, organizou-se esta dissertação da seguinte maneira: a primeira parte (os dois primeiros

capítulos) consiste num enquadramento teórico geral sobre as três áreas em estudo. Relativamente à

tradução, são mencionados aspetos da comunicação em geral que influíram fortemente no

crescimento desta área como área científica e académica, antes de serem apresentadas três teorias

funcionalistas: Reiß (1978), a skopostheorie, de Reiß e Vermeer (1984) e ainda Nord (1997; 2006).

Dedicam-se ainda algumas páginas à tradução jornalística, área de pouca expressão na literatura, mas

fundamental para os avanços do jornalismo durante o século XX e ainda mais no mundo globalizado

em que vivemos hoje. No que diz respeito ao jornalismo, apresentam-se alguns critérios de

noticiabilidade fundamentais e caracteriza-se ainda o tipo de texto em análise. Trata-se de crónicas

desportivas, que consistem essencialmente em textos jornalísticos que relatam jogos de futebol,

apresentando os factos por ordem cronológica. Esta ordenação dos factos é aquilo que distingue as

crónicas desportivas das notícias tradicionais, que obedecem à técnica da pirâmide invertida nos dois

mercados em estudo: o português e o britânico.

A ordem cronológica foi, com efeito, determinante para a escolha de um dos fenómenos

linguísticos mais decisivos para a correta interpretação temporal das situações: os tempos verbais.

Passa-se, então, para um breve enquadramento sobre tempo linguístico e Aspeto, recorrendo-se a

diversos autores: relativamente ao tempo linguístico, refere-se questões fundamentais sobre os estudos

de Reichenbach (1947), de Kamp e Reyle (1993) e ainda de Declerck (1990); quanto ao Aspeto,

destaca-se Moens (1987). Porque o Tempo e o Aspeto não são suficientes para explicar todas as

relações existentes num texto, menciona-se ainda o estudo de Mann e Thompson (1988) sobre

relações retóricas, destacando-se quatro relações retóricas tidas como cruciais para os corpora:

narração, enquadramento, elaboração e contraste. Para fornecer um enquadramento teórico para a

Page 129: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

128

análise macroestrutural dos corpora optou-se pela apresentação de alguns estudos de Adam (1990;

1996; 1997; 1999) sobre sequências textuais e ainda de Smith (2004), interessando sobretudo a

dicotomia narração-descrição. Usou-se aqui ainda a conceção de apreciação, de Charaudeau (1992).

A segunda parte (o terceiro e quarto capítulos) deste estudo é eminentemente prática. Partiu-se

de dois corpora de textos originais, de cerca de 12 mil palavras cada um, com crónicas desportivas de

meios de referência portugueses e britânicos, sobre um acontecimento com a mesma importância nos

dois mercados: a final da Liga dos Campeões. Foram reunidas crónicas desportivas entre 2009 e 2013.

Em primeiro lugar, fez-se um levantamento quantitativo sobre os tempos verbais presentes em ambos

os corpora, o que permitiu apresentar alguns dados e traçar algumas hipóteses. O primeiro dado a

reter foi o predomínio de tempos do passado, sobretudo o Pretérito Perfeito Simples em português e o

Simple Past em inglês. Isto deixava antever um tipo de texto essencialmente narrativo, tendo em

consideração as conceções de Kamp e Reyle (1993) sobre a progressão narrativa. Um segundo dado

está relacionado com a grande importância, em ambos os corpora, dos chamados tempos não-finitos,

como o infinitivo ou o gerúndio.

Seguiu-se a análise qualitativa, a nível macro e microestrutural, relativa a apenas um fragmento

dos corpora (as crónicas escritas em 2011, ano escolhido aleatoriamente). Na análise macroestrutural,

procurou dividir-se os textos em segmentos (macropartes) com objetivos informativos diferentes, e

concluiu-se que:

- Segmentos como a introdução e a conclusão não contêm sequências narrativas;

- O resumo, apenas existente no corpus inglês, pode contabilizar algumas relações retóricas de

narração, mas as sequências textuais são globalmente descritivas;

- O relato cronológico, que é o segmento mais longo em ambos os corpora, é onde se concentra

a maior parte de sequências textuais narrativas;

- No corpus português, há uma maior alternância entre sequências narrativas e descritivas,

sendo o tempo dominante das primeiras o Pretérito Perfeito Simples e das segundas o

Imperfeito;

- No corpus inglês, o Simple Past é predominante em qualquer tipo de sequência textual; por

essa razão, não existe tanta alternância entre sequências descritivas e narrativas;

Esta análise, por si só, mostra como os textos não são constituídos apenas por um tipo de

sequência textual e, além disso, parece pôr em dúvida a hipótese, acima colocada, de que estes são

textos essencialmente narrativos. Permitiu ainda perceber a importância de alguns adverbiais

temporais. Tipicamente, um adverbial temporal de localização exata ocorre em sequências narrativas;

um adverbial de duração surge em sequências descritivas.

Na análise microestrutural referiram-se alguns dos valores semânticos mais relevantes para a

compreensão destes textos e para a sua interpretação temporal, bem como a sua associação a certas

relações retóricas. Confirmou-se:

Page 130: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

129

- um predomínio do Pretérito Perfeito Simples no corpus português e de uma supremacia ainda

maior do Simple Past no corpus inglês;

- que estes tempos verbais tanto combinam com estados como com eventos, sendo

normalmente a consequência formarem sequências textuais descritivas e narrativas,

respetivamente;

- a relevância de construções com gerúndio e com infinitivo para a leitura temporal de certas

situações, nomeadamente em sequências narrativas;

- a existência de um número superior de estados no corpus inglês relativamente ao português, o

que justifica uma maior presença de sequências descritivas no mercado britânico;

- que tempos como o Presente do Indicativo ou o Simple Present têm uma importância maior

em certos segmentos do que noutros, muito embora no corpus inglês nunca surja como o tempo

dominante;

- em muitos casos, a progressão narrativa e/ou a localização temporal das situações é feita por

adverbiais temporais e não pelos tempos verbais; isto é reforçado em construções com tempos

não-finitos.

Relativamente às relações retóricas, verificou-se que, em sequências narrativas, podem aparecer

sobretudo relações de narração e de elaboração, mas também de contraste em certas construções; em

sequências descritivas são raras (mas não inexistentes) as relações de narração sendo, contudo, mais

comum as relações de enquadramento e de elaboração.

Deste modo, confirmou-se que as crónicas desportivas nas duas línguas têm pontos em comum

do ponto de vista macroestrutural: os tempos dominantes são tempos do passado, as relações retóricas

fundamentais são as mesmas, a sua segmentação (excetuando o resumo) é semelhante.

Há também algumas diferenças. De uma maneira geral, há mais descrição do que narração,

sobretudo nas crónicas desportivas inglesas, contrariando as expectativas iniciais. Há também mais

valor apreciativo no corpus britânico do que no português. Além disto, as crónicas desportivas

inglesas são substancialmente mais longas.Contudo, em todos os textos analisados, o leitor percebe a

progressão narrativa: foi relatado um jogo de futebol, do princípio ao fim, com acontecimentos

apresentados cronologicamente. Por isso, e recorrendo à noção de efeito dominante proposta por

Adam (1990; 1996; 1997; 1999), conclui-se que a narração é mais preponderante para cumprir os

objetivos informativos dos textos. Este dado mostra como as sequências de tempos são fundamentais

para a compreensibilidade global de um texto, mas permite também perceber que os sistemas verbais

– e que os tempos verbais aqui estudados em particular – têm uma semântica diferente de língua para

língua, o que coloca problemas à tradução, mostrando como o tradutor de notícias não pode ter apenas

competências ao nível do conhecimento das culturas de partida e de chegada, mas também

conhecimento linguístico.

Uma vez caracterizadas as crónicas desportivas a um nível linguístico, partiu-se para o objetivo

final desta dissertação: fornecer uma proposta de um modelo tradutivo bidirecional de alguns tempos

verbais, sempre tendo em consideração o co(n)texto e as expectativas de um público de chegada, algo

Page 131: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

130

indispensável a qualquer discurso jornalístico. Ao criar este modelo procurou introduzir-se um nível

linguístico num tipo de tradução orientada para uma cultura e um público de chegada. Utilizou-se a

taxonomia de técnicas de tradução jornalística proposta por Gambier (2006), mas aplicada a aspetos

linguísticos. Efetivamente, nem sempre os ditos equivalentes diretos o são na realidade. Alguns dados

destacaram-se:

- O Pretérito Perfeito Simples é tipicamente traduzido para o Simple Past; o contrário nem

sempre acontece: quando o Simple Past é combinado com estados, em muitos casos a tradução

faz-se pelo Imperfeito.

- O Presente do Indicativo tem tipicamente tradução direta para o Simple Present, até porque os

valores semânticos são semelhantes; contudo, no segmento introdução há a possibilidade de se

traduzir pelo Simple Past, porque é este tempo do passado que é dominante em inglês;

- Nem sempre as orações infinitivas têm uma correspondência direta para o inglês: em muitas

construções traduz-se para o –ing participle; noutras, pode adaptar-se a frase e utilizar tempos

verbais finitos; a exceção encontra-se nas sequências narrativas, em que normalmente é

possível traduzir uma to-infinitival para uma oração infinitiva final, iniciada por para (e vice-

versa);

- O uso de tempos compostos nos corpora é distinto: em inglês há diversas ocorrências do Past

Perfect, mas também algumas do Present Perfect; em português, surgem apenas ocorrências do

Mais-Que-Perfeito Composto, tido como equivalente do primeiro;

- O Past Perfect raramente se traduz pelo dito equivalente direto – em alguns casos requer-se

uma reorganização da frase, optando-se pelo Pretérito Perfeito Simples ou pelo Imperfeito.

A opção tradutiva depende dos objetivos informativos de cada macroparte e das relações

retóricas. Por essa razão, este modelo não é vinculativo; ele procura ser simplesmente sistemático

dentro dos contextos analisados. Contudo, esta proposta de um modelo tradutivo dos tempos verbais

em português e em inglês é algo que julgo ser inovador para os estudos de tradução, e sobretudo para

a tradução jornalística, na medida em que aborda um fenómeno linguístico que é vital para a

expressão de temporalidade. Em discurso jornalístico, procura-se aproximar o público do tempo dos

acontecimentos, com o imediatismo próprio de um mundo com uma comunicação quase instantânea à

escala global. Por outro lado, parece-me ser útil para um tradutor, pois fornece dados muito

particulares sobre um tipo de texto específico, que lhe permitem adquirir um maior conhecimento

sobre as expectativas do público de chegada, quer a nível contextual, quer ao nível linguístico. Ao

conhecer com maior detalhe os sistemas verbais de cada língua e ao saber aplicá-los a certos tipos de

textos, com base na sua análise macro e microtextual, o tradutor ganha novas competências para

produzir um texto adequado e compreensível na cultura de chegada, além de ser rigoroso de um ponto

de vista linguístico.

Finalmente, julgo ter sido possível nesta dissertação responder às perguntas de investigação

realizadas, e que este trabalho pode ter alguma aplicabilidade futura. Muito embora se tenha focado

apenas em crónicas desportivas, creio que este modelo de análise pode ser válido para tipos de textos

Page 132: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

131

distintos, sendo esta uma área a aprofundar no futuro para os estudos de tradução: perante uma análise

cuidada das características do texto, é possível estabelecer modelos tradutivos sistemáticos de

fenómenos linguísticos sem descurar a dimensão cultural, nem a linguística. Além disso, abre a porta

a um estudo mais sistemático de outros fenómenos linguísticos em contexto, como sejam os

adverbiais temporais ou outros aspetos relacionados com os sistemas verbais.

Page 133: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

132

Bibliografia

ADAM, Jean-Michel, Eléments de linguistique textuelle: théorie et pratique de l’analyse textuelle, 1990, Liège: Mardaga

- “L’argumentation dans le dialogue”, in Langue française, Nº. 112, 1996, Paris: Larousse, pp. 31-49, disponível em http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/lfr_0023-8368_1996_ num_112_1_5359, consultado a 28 de junho de 2015;

- “Genres, textes, discours: pour une reconception linguistique du concept de genre”, 1997, in Revue belge de philologie et d'histoire, Langues et littératures modernes - Moderne taal- en letterkunde, Tome 75 fasc. 3, pp. 665-681, disponível em http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/rbph_00350818_1997_num_75_3_4188, consultado a 28 de junho de 2015;

- Linguistique textuelle: Des genres de discours aux textes, 1999, Paris: Nathan;

ARISTÓTELES, Metaphysics, 350 a. C., tradução de Ross, W. D., livro IX, disponível em http://classics.mit.edu/Aristotle/metaphysics.mb.txt, consultado a 17 de fevereiro de 2014;

- On Interpretation, tradução de Edghill, E. M., 2005, da obra original De Interpretatione, Adelaide, Austrália: University of Adelaide, disponível em http://ebooks.adelaide.edu.au/a/aristotle/ interpretation/, consultado a 7 de fevereiro de 2014;

BANI, Sara, “An Analysis of Press Translation Process”, in Conway, Kyle e Bassnett, Susan, eds., Translation in Global News, 2006, Coventry: University of Warwick;

BASSNETT, Susan, “Introduction”, in Conway, Kyle e Bassnett, Susan, eds., Translation in Global News, 2006, Coventry: University of Warwick;

BENVENISTE, Émile, Problèmes de linguistique générale, II, 1974, Paris: Éditions Gallimard;

BIELSA, Esperanza e BASSNETT, Susan, Translation in Global News, 2009, London: Routledge;

BORRAT, Héctor, “Once versiones noratlánticas del 23-F”, in Anàlisi. Quaderns de Comunicació i cultura, 1981, n.º 4, Universidade Autónoma de Barcelona: Departamento da Teoria da Comunicação, pp. 91-113;

BOYD-BARRETT, Oliver e RANTANEN, Terry, The Globalization of News, 1998, London: SAGE Publications;

BRITO, Ana Maria, “Categorias Sintáticas”, in Mateus, Maria Helena et alii, Gramática da Língua Portuguesa, 2003, 5ª Edição, Cap. 11, Lisboa: Caminho, pp. 323-432;

- “Tensed and non-tensed nominalization of the infinitive in Portuguese”, 2013, in Journal of Portuguese Linguistics, Vol. 12, n.º 1, Lisboa: Edições Colibri;

CHARAUDEAU, Patrick, Grammaire du sens et de l’expression, 1992, Paris: Hachette Livre;

Page 134: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

133

CHOVANEC, Jan, Pragmatics of tense and time in news: from canonical headlines to online news texts, 2014, Amesterdão: John Benjamins;

CUNHA, Luís Filipe, As Construções com Progressivo no Português: Uma Abordagem Semântica, 1998, Dissertação de Mestrado, Porto: Universidade do Porto;

- “Aspeto”, in Raposo, E. B. P. et alii, Gramática do Português, 2013, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 585-619;

COMRIE, Bernard, Tense, 1985, Cambridge: Cambridge University Press;

DECLERCK, Renaat, "Sequence of Tenses in English", 1990, in Folia Linguistica, XXIV/3-4, pp. 513-544, Leuven: Mouton de Gruyter - Societas Linguistica Europaea;

DUARTE, Inês, “Aspectos linguísticos de organização textual”, in Mateus, Maria Helena et alii, Gramática da Língua Portuguesa, 2003, 5ª Edição, Cap. 5, Lisboa: Caminho, pp. 85-123;

DURÃO, Maria do Rosário, Tradução Científica e Técnica: Proposta para a Formação de Tradutores Pluricompetentes Especializados na Produção de Documentação Científica e Técnica do Inglês para o Português, 2007, Tese de Doutoramento apresentada à Universidade Aberta;

FILLMORE, Charles, J., Santa Cruz Lectures on Deixis, 1971, Berkeley, University of California;

FONTCUBERTA, Mar de, A Notícia, 2002, 2ª Edição, Lisboa: Editorial Notícias;

FONSECA, Joaquim, Linguística e Texto/Discurso: Teoria, Descrição, Aplicação, 1992, Lisboa: Ministério da Educação. Instituto de Cultura e Língua Portuguesa; Nice: Universidade de Nice;

GAMBIER, Yves, “Transformations in International News”, in Conway, Kyle e Bassnett, Susan, eds., Translation in Global News, 2006, Coventry: University of Warwick;

GONÇALVES, Anabela, CUNHA, Luís Filipe e SILVANO, Purificação, “Interpretação temporal dos domínios infinitivos na construção de reestruturação do Português europeu”, 2010, in Brito, Ana M., Silva, Fátima, Veloso, João e Fiéis, Alexandra (eds), Textos Seleccionados do XXV Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, pp. 435-447, Porto: APL;

GUIMARÃES, Mª Joana, Dar instruções: para uma gramática do texto de especialidade, 2012, Tese de Doutoramento apresentada à Universidade do Porto;

GUTIÉRREZ, Miren, “Journalism and the Language Divide”, in Conway, Kyle e Bassnett, Susan, eds., Translation in Global News, 2006, Coventry: University of Warwick;

HOLZ-MÄNTTÄRI, Justa, 1984, Translatorisches Handeln. Theorie und Methode, Annales Academiae Scientarum Fennicae. Ser. B 226, Helsínquia: Suomalainen Tiedeakatemia,pp.109–11, apud Munday, Jeremy, 2008, Introducing Translation Studies. Theories and Applications, Second Edition, New York: Routledge;

HÜSGEN, Thomas, “Um contributo para uma nova abordagem da crítica da tradução literária”, 1995, in Literatura Comparada. Os Novos Paradigmas, Losa, Margarida, Sousa, Isménia e Vilas-

Page 135: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

134

Boas, Gonçalo (eds.), Actas do Segundo Congresso da Associação Portuguesa de Literatura Comparada, Porto: Universidade do Porto;

KAMP, Hans & REYLE, Uwe, From Discourse to Logic, 1993, Dordrecht: Kluwer;

JAKOBSON, Roman, “On Linguistic Aspects of Translation”, 1959, in Brower, Reuben A. (ed.), On Translation, Cambridge, Massachussets: Harvard University Press;

- “Linguistics and Poetics”, in Sebeok, T.A., ed., Style in Language, 1963, New York, pp. 350-377;

LEAL, António, O Valor Temporal das Orações Gerundivas em Português, 2001, Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto;

LEFEVERE, André, Translating Literature: Practice and Theory in a Comparative Literature Context, 1993, Nova Iorque: The Modern Language Association of America;

LOPES, Paula C., “A crónica (nos jornais): O que foi? O que é?”, 2010, acessível em http://www.bocc.ubi.pt/pag/bocc-cronica-lopes.pdf, consultado a 2 de fevereiro de 2015;

LUSA, Livro de Estilo, 2011, disponível em http://www.lusa.pt/lusamaterial/PDFs/ LivroEstilo.pdf, consultado a 8 de abril de 2014;

MANN, William C. e THOMPSON, Sandra A., "Rhetorical Structure Theory: Toward a functional

theory of text organization", 1988, in Text 8, Berlin: Mouton de Gruyter, pp. 243-81;

MATEUS, Maria Helena et alii, Gramática da Língua Portuguesa, 2003, 5ª Edição, Cap. 6, Lisboa: Caminho;

McQUAIL, Denis, Mass Communication Theory, 4th edition, 2000, tradução de Jesus, Carlos, Teoria da Comunicação de Massas, 2003, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian;

MUNDAY, Jeremy, 2008, Introducing Translation Studies. Theories and Applications, Second Edition, New York: Routledge;

NIDA, Eugene A., Towards a Science of Translating, 1964, Leida, Países Baixos: E.J. Brill;

NORD, Christiane, Translating for a Purposeful Activity, 1997, Manchester, Inglaterra: St. Jerome;

- “Translating for a Purposeful Activity: a prospective approach”, 2006, in TEFLIN Journal, vol. 17, nº 2, Malang, Indonesia: TEFLIN Association, pp. 131-143;

OGIHARA, Toshiyuki, “Double-access sentences and reference to states”, 1995, in Natural Language Semantics, Volume 3, n.º 2, Springer, pp. 177-210;

OLIVEIRA, Fátima, “Semântica”, in Faria, Isabel H. et alii (orgs.), Introdução à Linguística Geral e Portuguesa, 1996, Lisboa: Caminho, pp. 333-378;

- “Tempo e Aspecto”, 2003, in Mateus, Maria Helena et alii, Gramática da Língua Portuguesa, 5ª Edição, Cap. 6, Lisboa: Caminho;

Page 136: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

135

- “Modo e Modalidade”, 2003, in Mateus, Maria Helena et alii, Gramática da Língua Portuguesa, 2003, 5ª Edição, Cap. 9, Lisboa: Caminho;

- “Tempo Verbal”, in Raposo, Eduardo B. P. et alii (orgs.), Gramática do Português, 2013, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 509-553;

OLIVEIRA, Fátima e MENDES, Amália, “Modalidade”, in Raposo, Eduardo B. P. et alii (orgs.), Gramática do Português, 2013, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 623-669;

PYM, Anthony, 1993, “Christiane Nord. Text Analysis in Translation. Theory, Method, and Didactic Application of a Model for Translation-Oriented Text Analysis.”, in TTR, traduction, terminologie, rédaction, vol. 6, nº 2, Montreal, Canadá: McGill University, pp. 184-190;

REICHENBACH, Hans, Elements ofSimbolic Logic, 1947, Nove Iorque, The MacMillan Company, pp. 287-298;

SANTOS, Diana C., Tradução jornalística em Portugal: contexto atual e perspetivas de futuro, 2012, Dissertação de Mestrado, Porto: Universidade do Porto;

SCHLESINGER, Philip, “Os jornalistas e a sua máquina do tempo”, apudTraquina, Nelson (org.), Jornalismo: Questões, Teorias e “Estórias”, 1999, 2ª Edição, Lisboa: Vega, Colecção Comunicação e Linguagens, pp. 190;

SILVA, Paulo N., O Tempo no Texto, 2005, Dissertação de Doutoramento apresentada à Universidade Aberta, Lisboa;

SILVANO, Purificação, Sobre a Semântica da Sequência de Tempos em Português Europeu. Análise das Relações Temporais em Frases Complexas com Completivas, 2002, Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho;

- Temporal and Rhetorical Relations: the Semantics of Sentences with Adverbial Subordination in European Portuguese, 2010, Dissertação de Doutoramento apresentada à Universidade do Porto;

SMITH, Carlota, in Guéron, Jacqueline & Lecarne, Jacqueline (orgs.), The Syntax of Time, 2004, Cambridge, Massachussets: MIT Press, pp. 597-619;

TRAQUINA, Nelson (org.), Jornalismo: Questões, Teorias e “Estórias”, 1999, 2ª Edição, Lisboa: Vega, Colecção Comunicação e Linguagens;

VENDLER, Zeno, Linguistics in Philosophy, 1967, Ithaca, Nova Iorque: Cornell University Press;

VENUTI, Lawrence, The Translator’s Invisibility, 1995, Londres: Routledge;

VERMEER, Hans J., “Translation today: Old and new problems”, in Snell-Hornby, Mary, Pöchhacker, Franz e Kaindl, Klaus (eds.), Translation Studies: An inter discipline, 1994, Volume 2, Amsterdão/Filadélfia: John Benjamins, pp. 27-36;

VERMEER, Hans J,. e REIß, Katharina, Towards a Theory of Translatorial Action. Skopos Theory explained, 1984, tradução de Nord, Christiane, 2014, New York: Routledge; acessível em

Page 137: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

136

http://books.google.pt/books?id=QOpQAwAAQBAJ&printsec=frontcover&hl=pt-PT&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false, consultado a 5 de fevereiro de 2015;

VINAY, Jean-Paul e DALBERNET, Jean, Stylistique Comparée du Français et de l’Anglais, 1958, Londres: Harrap;

VIVALDI, Martin G., Géneros periodísticos: reportaje, crónica, artículo, análisis diferencial, Madrid: Paraninfo, apud Muñoz, Xavier G., Cómo se construye la crónica periodística? Análisis de contenido de la revista Soho Ecuador, 2014, Saarbruücken, Alemanha: Éditions universitaires européennes, de OmniScriptum GmbH, parcialmente acessível em https://books.google.pt/books?id=vMIXBAAAQBAJ&pg=PP2&dq=Cómo+se+construye+la+crónica+period%C3%ADstica&hl=pt-PT&sa=X&ei=xBPRVJnvJoOBUd_EgYgL& ved=0CCAQ6AEwAA#v=onepage&q=Cómo%20se%20construye%20la%20crónica%20period%C3%ADstica&f=false, consultado a 2 de fevereiro de 2015;

YANES MESA, Rafael, “La crónica, un género del periodismo literario equidistante entre la información y la interpretación”, 2006, in Espéculo. Revista de Estudos Literarios, número 32, Madrid: Universidad Complutense de Madrid, acessível emhttps://pendiente demigracion.ucm.es/info/especulo/numero32/cronica.html, consultado a 2 de fevereiro de 2015;

Page 138: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

137

Anexos

1) Crónicas desportivas em português

Ano 2010 (22/05/2010)

a) MaisFutebol (exclusivo online)

Aí está a segunda! José Mourinho é bicampeão europeu e junta-se a Happel e a Hitzeld na lista dos que venceram por dois clubes diferentes. O Inter conquista a terceira 45 anos depois de fazer chorar o Benfica e o treinador português oferece uma prenda à família Moratti e pode assinar feliz com o Real Madrid. Diego Milito foi o herói com os dois golos apontados, mas também Cambiasso com cortes fantásticos, Sneijder com a primeira assistência e Júlio César com uma defesa monumental quando o resultado estava 1-0. O Inter ganhou como equipa e o «Lo Speciale» começa desde já a ser feliz no Bernabéu.

Os largos segundos de Butt com a bola nos pés, na sua grande área, a tentar chamar o Inter, quando apenas decorriam 24 minutos de jogo, eram sintoma que a excelente entrada dos «nerazzurri» esmorecera e de que tinham voltado a fechar-se na sua concha, como gostam tanto de fazer. Depois da tentativa de surpresa a um Bayern que tinha reclamado o estatuto de equipa atacante, os milaneses assumiam a estratégia previsível, encurtando o espaço entre as linhas e começando a injectar o veneno todo nas desmarcações de Milito. Os alemães, vendo que a ameaça era ténue, permitiam-lhe ganhar todas as bolas de costas para a baliza, fazendo de «pivot» para os avanços de Etoo, Sneijder e Pandev.

Num pontapé de baliza aos 35 minutos, o argentino voltou a receber perante a permissividade de Demichelis, passou para Sneijder e correu que nem um louco deixando o compatriota para trás. Recebeu de novo a bola e teve a calma suficiente para simular antes de atirar para o lado esquerdo do antigo guarda-redes do Benfica, lançando junto àquela baliza a candidatura a melhor jogador da Champions (sim, há Messi...) e consagrando o colega holandês como melhor criador de golos da liga milionária, com seis. O tal 0-1 que os alemães tanto temiam, com medo de o não virar, aconteceu mesmo. O Inter até nem estava a ser seguro como antes, mas chegava ao intervalo a vencer.

É verdade que o Inter até podia ter sofrido primeiro. Aos 16 minutos, Maicon cortou uma bola com a mão na área, após cabeceamento de Van Buyten. Braço levantado de forma evidente que interrompeu o caminho da bola para a baliza de Júlio César. Howard Webb não viu e os «nerazzurri» salvaram-se de boa.

Antes do intervalo, a equipa de Mourinho até podia ter feito o segundo, com Sneijder a não finalizar correctamente mais um grande trabalho de Milito. Butt defendeu o tiro à figura. O descanso chegou pouco depois. E o Bayern acelerou logo no regresso. Os dois guarda-redes mostravam finalmente o seu valor. Júlio César negou o empate a Müller na primeira jogada, após passe de Altintop. Na resposta, foi Butt a brilhar, logo depois de Milito ter destroçado o flanco direito bávaro. Pandev rematou de primeira, mas o alemão opôs-se, cedendo canto. Chegaria aos 66 minutos um dos grandes momentos do jogo. Remate em arco de Robben e voo espantoso de Júlio César para uma defesa monumental com a mão esquerda. O Bayern continuou a lutar, a tentar, empurrando, empurrando o Inter até ao limite da área, fazendo de Etoo às vezes lateral e Cambiasso central, mas sentia-se que um bom contra-ataque podia acabar com tudo. Aos 70, Etoo fez um passe simples para Milito, que tinha Van Buyten pela frente para o um-para-um. O vai-para-o-meio-afinal-não-vai partiu os rins ao belga e abriu a porta do 2-0. Fabuloso! Os bávaros estavam derrubados.

O Inter conquista com justiça a terceira taça da sua história. Simplesmente, porque criou problemas que o Bayern nunca soube responder. Fosse a defender ou a atacar. E o contrário foi verdade. À excepção de um ou outro momento de aflição, Lúcio, Samuel, Cambiasso ou Júlio César controlaram os bávaros. O pupilo ganhou ao mestre pelo qual nutre um respeito enorme. Missão cumprida, Mou! Que venha o Real Madrid!

b) Público

O Inter de Milão treinado por José Mourinho venceu este sábado a final da Liga dos Campeões e fez a “tripla”. O argentino Diego Milito foi a grande figura, com dois golos.

Massimo Moratti, presidente do Inter, já tem uma fotografia como a do seu pai Ângelo, a sorrir agarrado ao troféu da maior competição de clubes europeia. Em 1964 e 1965, o presidente Ângelo agradeceu-o a Helenio Herrera. Moratti deve-o a José Mourinho, uma espécie de reencarnação do argentino que um dia disse “evita a monotonia nos discursos, no treino e nas refeições”.

Mou-ratti. O treinador e o presidente que acreditou nele para fazer renascer o Grande Inter, que o seu pai,

Page 139: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

138

presidente entre 1955 e 1968, vira nascer às mãos do extravagante Helenio Herrera. Era o “habla-habla” por falar muito e um dos reinventores do catenaccio (um ferrolho, mas uma estratégia com toda a elasticidade do contra-ataque).

Herrera foi um dos primeiros a chamar 12.º jogador aos espectadores. Foi ele que um dia suspendeu um jogador por dizer “viemos aqui jogar” em vez de “viemos aqui ganhar”. Da sua boca saiu a frase “Quem não dá tudo, não dá nada”. Podia ter sido José Mourinho.

A noite do português também fica para a história. Em Madrid. Logo em Madrid.

O Inter, o novo Grande Inter, concluiu o seu Grand Slam. Depois do campeonato e da taça, a desejada Liga dos Campeões. A tripla conquistada numa final imprevisível, para muitos um espectáculo distorcido. Para outros, o jogo estava nos bancos (o de Mourinho vazio, o de Van Gaal ocupado) e não no relvado.

E a primeira parte ameaçou. Mais paciente o Bayern, mais sôfrego o Inter. Foi decorrendo assim um jogo onde às tantas parecia fazer falta aquela regra do andebol que obriga as equipas a atacar. Como nenhum árbitro levantou o braço em sinal de sonolência, as duas equipas estudaram-se, observaram-se, não se comprometeram.

Robben, tudo menos alemão, foi azucrinando Chivu (amarelado aos 30’), mas a energia do holandês não conseguiu contagiar os seus colegas. Aí, já o Bayern tinha ganho o prémio posse de bola, perante a indiferença do Inter, calculista. Todos para a esquerda, direita, esquerda, direita. Pautado por Zanetti e Cambiasso, os homens de Mourinho não têm pressa. Seguem a bola e o adversário com a concentração de um sniper e esperam pelo momento certo.E o momento certo aconteceu aos 35’. Pontapé longo de Júlio César, recepção imediata de Milito, triangulação com Sneijder e conclusão do argentino, o homem do jogo no relvado – pelo menos até Mourinho ter invadido o relvado.

Na véspera, Van Bommel, habituado a reviravoltas, avisara. Desta vez é diferente. É o Inter. Foi mesmo. Foi a febre de sábado à noite. O Bayern não parecia deste campeonato. Cabeça baixa, pernas pesadas. Aos 19 segundos da segunda metade, Júlio César deteve o remate de Müller. Altintop (54’) também raspou a sua sorte. E aos 65’, Robben, inconformado, nada alemão, tentou equilibrar aquela que também era a sua final. Brilhante pé esquerdo (vemo-nos no Mundial) para enorme estirada do guarda-redes brasileiro.

A espaços, o Bayern conseguia penetrar nos labirintos da pirâmide defensiva dos italianos (sem italianos). Mas deu sempre a ideia que o destino estava traçado, que era a noite dos passes sem olhar (de Sneijder) e dos roubos de bola só com o olhar (de Cambiasso). E de Milito, o príncipe. Aos 70’, o seu sexto golo em 11 jogos de Champions. Só dele. Pé ante pé, um nó em Van Buyten, dois remates e dois golos. Por fora, Mourinho aconselhou calma. Por dentro já saboreava uma temporada redonda.

Só ele seria capaz de cumprimentar Van Gaal ainda antes do apito final, segundos antes de a UEFA mandar gravar o nome Inter no troféu. No final, quando o árbitro apitou, o treinador português ficou uns segundos sozinho a olhar para os adeptos (Herrera foi um dos primeiros a chamar-lhes 12.º jogador). Em pleno Santiago Bernabéu, acenou-lhes. Addio.

c) Zerozero (exclusivo online)

José Mourinho voltou a demonstrar ao Mundo que tem toque de Midas, e colocou novamente o seu nome como vencedor da Liga dos Campeões. Diego Milito bisou na partida, e o Internazionale derrotou assim o Bayern de Munique por 2-0. O argentino contratado este ano por indicação de Mourinho, fez um golo em cada parte, e o Inter volta a conquistar o principal troféu internacional de clubes 45 anos depois.As duas equipas procuravam alcançar o «triplete» que o Barça conquistara no ano transacto, em virtude das vitórias no campeonato, taça e Liga dos Campeões.

Sempre com o Bayern a ter uma percentagem de posse de bola bem superior ao seu adversário, o que é certo é que o jogo foi equilibrado, e as oportunidades alternavam.Com um tridente ofensivo composto por Diego Milito, Goran Pandev e Samuel Eto´o, o Inter apostava em transições muito rápidas que surgiam em velocidade no último terço de terreno.

O tento inaugural foi apontado pelo argentino Diego Milito aos 35 minutos, quando Júlio César, num pontapé longo, coloca a bola no meio campo contrário, com Milito a ganhar de cabeça para Sneijder, que de primeira devolve ao argentino para uma finalização de classe na cara de Butt.

Chegou-se ao minuto 45 e correspondente apito final de Howard Webb com uma primeira parte equilibrada (10 remates para o Bayern, 7 para o Inter), mas com a diferença de classe dos avançados de ambas as equipas a fazer a diferença.

No segundo tempo o Bayern tentou entrar mais forte, e logo aos 20 segundos Muller teve oportunidade

Page 140: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

139

para empatar a partida, mas Júlio César defendeu com o avançado isolado bem à sua frente.

Arjen Robben aos 65 minutos teve também o golo nos pés, rematando em arco com o pé esquerdo ao canto superior direito da baliza do Inter, mas Júlio César faz uma excelente defesa.

A vencer por um golo, Diego Milito aumentou a vantagem do Internazionale quando o relógio assinalava o minuto 70 e passou a mensagem ao mundo: o jogo estava decidido.

O internacional argentino recebe a bola a 30 metros da baliza e já dentro da área «parte os rins» ao compatriota Demichelis e aponta o segundo golo do Internazionale!

Com o apito final do árbitro a explosão de alegria nerazurri, com José Mourinho a conquistar a sua segunda Liga dos Campeões e junta-se assim a restrito lote de técnicos que venceram a prova por dois clubes distintos, por Ottmar Hitzfeld e Ernst Happel.

Link: http://www.zerozero.pt/news.php?id=18235?id=18235&page=5

d) Record (edição em papel)

Quando Milito abriu o marcador ainda faltavam 55 minutos para o fim do jogo. O Bayern Munique tinha muito tempo para recuperar mas já havia adeptos a chorar. Havia uma razão: salvo Robben, faltavam recursos à equipa para desestabilizar a equipa de Mourinho. Do noutro lado das bancadas, quem saltava à vista não era curiosamente o jogador argentino. Era Mourinho, elevado à condição de Papa.

Na segunda parte, o Inter entrou bem, o Bayern recuperou o fôlego e equilibrou as coisas mas Milito voltou a fazer das suas. Ao 71' assinou o 2.º golo do jogo (6 em 11 jogos). Nesse instante, Mourinho saltou para o colo de Materazzi mas logo depois pediu calma. No banco do Bayern, Van Gaal fechou o rosto. Ribéry desviou o olhar.

Por essa altura, Valdano já teria ficado sem qualquer dúvida: Mourinho não é um dos melhores treinadores da atualidade. É o melhor.

Mourinho merece esta Liga dos Campeões e todos os troféus conquistados. Não foi a sorte que lhe deu o sucesso, foi o trabalho.

Mou tem capacidades especiais, tira partido do potencial de cada jogador como ninguém, sabe o caminho que quer seguir e não se desvia dele um milímetro. Doa a quem doer. É por isso que nem sempre fica bem na foto e que muitos não gostam dele. Mas a esses responde com troféus como o desta noite.

Link:http://www.record.xl.pt/Futebol/Internacional/liga_campeoes/interior.aspx?content_id=442625

e) O JOGO (edição em papel)

José Mourinho deu mais um passo para entrar na galeria de notáveis do futebol europeu ao levar o Inter de Milão a repetir a vitória numa final da Taça dos Campeões Europeus, algo que o clube já não saboreava há 45 anos. Na vitória de ontem, por 2-0, sobre o Bayern de Munique no Estádio Santiago Bernabéu, que deverá a partir de Julho ser a nova casa do treinador português, caso se mude mesmo para o Real Madrid, houve duas componentes principais: a estratégia defensiva e a capacidade de um superavançado, o argentino Diego Milito, autor de dois golos preciosíssimos.

A diferença entre as duas equipas ficou bem à vista ao minuto 32: não foi num lance de golo nem numa ocasião de perigo, mas sim num lançamento lateral junto aos bancos que se seguiu a uma bola mal endossada por um jogador do Inter na saída para o ataque. Mourinho segurou a bola e, sabendo que o maior perigo do Bayern vinha das velozes transições ofensivas, só uns segundos depois a deu a Robben para que este a repusesse em jogo. É antijogo? Talvez. Mas, não sendo clamoroso, não é punido. É algo de que uma equipa se deva envergonhar? Não. Vergonha é querer dar um jantar em casa e, não havendo ninguém para fazer o trabalho mais sujo, apresentar talheres e loiça por lavar ou uma toalha manchada.

Na final de ontem, o Inter teve sempre quem fizesse o trabalho sujo. Manteve os seus princípios de jogo, mas adaptou-se às forças do adversário, ao passo que o Bayern foi autista. Como joga o Bayern? Além das tais transições ofensivas em explosão, joga sempre um futebol a dois toques, faz a circulação à holandesa e cria perigo sobretudo através de dois movimentos típicos: os de Muller da área em direcção aos médios e os dos dois alas (Robben e Altintop) para o espaço interior. Para contrariar isto, o Inter manteve o seu bloco baixo e deu aos dois médios-centro a missão mais importante: encostou-os aos defesas centrais, e se geralmente um deles vigiava os recuos de Muller, o outro ocupava o espaço que iria ser procurado pelo extremo que conduzisse a bola. Perdia claramente no confronto Chivu-Robben, mas isso não era preocupante, porque o holandês ia sempre chocar com Cambiasso ou Zanetti em vez de abrir o jogo na lateral. Depois do avião em Barcelona (Milito e Eto'o a ocuparem as laterais, quase como segundos defesas de corredor), Mourinho apresentou a centrifugadora

Page 141: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

140

em Madrid; o adversário era diferente, impunham-se diferentes antídotos.

Já o Bayern não se preocupou em contrariar o adversário. Sabendo que o ponto forte do Inter era a articulação Milito-Sneijder (e que o seu próprio ponto fraco são Van Buyten e Demichelis, dois centrais apenas medianos), Van Gaal manteve o posicionamento habitual de Van Bommel, o médio mais defensivo, abandonando os centrais à dupla nerazzurra sempre que Sneijder se juntava a Milito na frente. Foi o que aconteceu aos 35': bola longa de Júlio César para a frente, Milito ganhou nas alturas e, face à ausência de Van Bommel, apanhado mais à frente, pôde tabelar com Sneijder e isolar-se frente a Butt para uma finalização clínica.

A perder, Van Gaal começou por dar maior liberdade aos seus laterais, sobretudo Lahm, criando um problema adicional a Chivu. Criou perigo, encostou o Inter atrás, mas não marcou sequer quando trocou o médio-esquerdo (Altintop) por mais um ponta-de-lança (Klose) e meteu mais gente na frente. É que mais gente na frente equivale a menos gente atrás, e isso foi fatal aos 70': Eto'o lançou Milito, este partiu Van Buyten no um-contra-um e voltou a encarar Butt para fazer o 2-0. A festa estava encomendada, e nada podia alterar o nome do vencedor da Liga dos Campeões. Mourinho tornava-se o terceiro treinador a vencer a prova por dois clubes diferentes. E em 2011 poderá ser único se conduzir o Real Madrid à sua décima vitória na competição.

Link: http://www.ojogo.pt/05/interior.aspx?content_id=2574241

Ano 2011 (28/05/2011)

a) MaisFutebol (exclusivo online)

Barça, Barça, Baaaaarça. E mais uma, porque o Barcelona é campeão europeu pela quarta vez na História, graças a um triunfo sobre o Manchester United, em Wembley, por 3-1. E há nomes que vão ecoar na eternidade...

O United entrou a todo o gás e jogou como se não houvesse mais 80 minutos pela frente. Nos primeiros dez, tentou asfixiar o Barça. O problema é que a equipa de Guardiola respira futebol, livrou-se do espartilho, baixou o ritmo de jogo e começou a descobrir Messi entre os médios e os defesas do ManUtd.

No entanto, foram os olhos que Xavi tem nos pés que descobriram Pedro Rodriguez. O extremo bateu Van der Sar e tornou-se no primeiro espanhol a marcar pelo Barcelona numa final da Liga dos Campeões Europeus.

Com o 1-0, podia ter-se pensado que a final ia ser mais catalã que inglesa. Porém, Wayne Rooney equilibrou a balança com o empate. Durante vinte minutos, mais o intervalo, o vencedor esteve sempre em dúvida.

Só que em campo estava um pequeno argentino, de talento inigualável no pé esquerdo. Messi usou aquele «Pé de Deus» para apontar o 12º golo na Champions 2010/11 e meter o resultado num 2-1.

Um quarto de hora depois, Nani entrava em campo, quando Ferguson tentava levar a equipa para a frente: a hora de proteger o miolo já tinha passado. No mesmo minuto, David Villa imitava o arco de Wembley e fazia o 3-1, no melhor golo da noite. A festa era catalã na capital inglesa e apesar de o ManUtd estar habituado a lutar até ao fim, a verdade é que o Barcelona levou as celebrações de uma época de ouro até à glória final.

Guardiola, Xavi, Iniesta, Messi têm mais uma Champions ganha. Um troféu europeu apenas parecia demasiado curto para o futebol mostrado pelos «blaugrana» nos últimos anos. Consagraram-se nesta noite como a melhor equipa da Europa e reforçam a ideia de serem a melhor do mundo. Há quem diga, queaté são a melhor da História...

Link:http://www.maisfutebol.iol.pt/espanha/barcelona-manchester-united-cronica-wembley-uefa-champions-league-2011-messi/1256722-1486.html

b) Público

Tal como em 2009, o Barcelona venceu o Manchester United numa final da Liga dos Campeões. Tal como em 2009, Lionel Messi marcou no jogo decisivo. Tal como em 2009, Pep Guardiola ganhou o braço-de-ferro com Alex Ferguson. Foi com um 3-1 que os catalães asseguraram o quarto título europeu de clubes, ultrapassando nesta contabilidade o rival desta noite.

O United até começou melhor jogo. Alex Ferguson sabia que a única forma de travar o adversário passava por não o deixar respirar e o pressing no meio-campo catalão fez-se sentir durante os primeiros dez minutos. Evra e Valência surgiam rápidos nas alas, Ji-Sung Park ocupava bem os espaços no miolo e o Barça tinha dificuldade em ligar o jogo.

Page 142: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

141

Mas aquele ritmo não poderia durar muito e, mal os ingleses afrouxaram, o Barcelona saiu da casca. A bola passou a rolar com o acerto que se reconhece à equipa de Guardiola e os jogadores do United começaram a desgastar-se mais defensivamente. Aos 15’, uma boa jogada de envolvimento atacante só não deu golo porque Pedro desviou para fora, à entrada da pequena área.

Aos 27’, porém, a história foi outra. Xavi mostrou os tradicionais dotes de pensador, esperou até à hora H e desmarcou Pedro com um passe magistral. A conclusão foi tão rápida quanto perfeita. 1-0 para o Barcelona.

Vida difícil para o United, em desvantagem frente a uma equipa que conserva a bola como nenhuma outra na Europa. Mas a resposta surgiria pouco depois. Após um lançamento lateral do Barça, Rooney partiu de trás com a bola controlada, tabelou, recebeu na área e rematou em arco para o poste mais distante: 1-1.

Estava animado o jogo, e especialmente Alex Ferguson, que acabava de relançar a partida. O Barcelona, no entanto, não se descompôs. Ao ritmo de sempre, continuou a tentar inventar espaços, a variar o flanco de jogo, a abrir brechas na muralha britânica.

E se até ao final do primeiro tempo não forçou muito, regressou do intervalo com mais dinâmica. E o United ressentiu-se. Iniesta e Xavi trabalhavam a bola com a mestria do costume, Messi fazia a diferença como de costume. Aos 53’, inventou um golo. Em frente à dupla de centrais, o argentino fez um drible e rematou forte de fora da área. Van der Sar não reagiu suficientemente depressa.

Desta vez, praticamente não chegou a haver reacção dos ingleses. Posse de bola para o Barça, domínio para o Barça, final para o Barça. O carrossel catalão continuou a girar e o United de cabeça a andar à roda. Messi desequilibrava onde quer que estivesse, Van der Sar ia fazendo o que podia – e pôde muito aos 65’, com a defesa da noite, a mais vistosa do último jogo da sua longa carreira.

Aos 70’, um minuto depois de Nani ser lançado no jogo, já não conseguiu parar o 3-1. Messi (quem mais?) rasgou por completo o lado esquerdo protegido por Evra, entrou na área, soltou para trás... A bola ficou órfã por uns segundos, mas iria parar aos pés de Villa, que, de fora da área, fez um golo de classe.

Por esta altura, já no banco do Manchester United se acenava com a cabeça, em sinal de desilusão. Rooney bem ia tentando remar contra a maré, mas a corrente gerada por Busquets, Xavi e Iniesta lá mais atrás ia chegando para as encomendas. Nani também ensaiou um raide pela direita aos 85’, mas o remate saiu frouxo.

Os adeptos blaugrana iam aplaudindo nas bancadas. E reforçaram a dose para aclamar Carles Puyol, que rendeu Dani Alves aos 88’. Foi um gesto simbólico, porque o internacional espanhol já nada acrescentaria ao jogo. Nem ele nem ninguém. O troféu estava entregue. E o Barcelona confirmava a sua terceira Liga dos Campeões nas últimas seis épocas.

Link: http://www.publico.pt/noticia/o-manchester-united-e-a-europa-caem-aos-pes-do-barcelona-1496439

c) Relvado (exclusivo online)

O futebol é um jogo simples. É a partir desta ideia básica que Guardiola construiu uma equipa de sonho, que está a marcar uma era no futebol mundial e que dentro de alguns anos será olhada como a referência daquilo que os adeptos consideram a perfeição.

Dito isto, é preciso dizer que a final de Wembley não deixou qualquer dúvida quanto ao vencedor. O Barcelona dominou do princípio ao fim o Manchester United, subjugando uma das equipas mais competentes do mundo, que soube manter-se na disputa graças ao espírito de luta tão característico das equipas inglesas.

Nani no banco, Berbatov nem isso

Sir Alex Ferguson fez o que se previa e colocou em campo um Manchester de combate, com Carrick a ser o vértice mais recuado no centro do terreno, apoiado por Valencia, Park e Giggs. E a verdade é que os ingleses entraram bem, pressionando alto e anulando a circulação de bola do adversário nos primeiros 10 minutos.

Esse foi o tempo que o Barcelona demorou a passar do meio-campo com a bola controlada, mas quando o fez foi uma viagem sem retorno. Os catalães não costumam correr muito tempo atrás do seu objeto de culto, a bola, e assim foi.

Xavi começou aos poucos a pegar no jogo e na primeira vez que teve oportunidade ofereceu o 1-0 a Pedro Rodriguez. O capitão “culé” vê claramente um campo diferente dos outros jogadores, no qual não existem impossíveis, e por isso rasgou a defesa do Manchester permitindo a Pedro entrar na história, tornando-se o primeiro espanhol a marcar ao serviço do Barcelona numa final da Liga dos Campeões.

Os ingleses levaram um soco no estômago, mas rapidamente devolveram a cortesia e sete minutos mais

Page 143: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

142

tarde chegaram ao empate. Rooney, incansável durante todo o jogo, pediu a pressão alta dos seus companheiros num lançamento lateral adversário e os Red Devills recuperaram a bola. Rooney tabelou com Giggs (que parece estar ligeiramente em fora-de-jogo) e o galês assistiu o avançado para o 1-1.

A primeira parte não terminou sem algum perigo junto da baliza inglesa, mas Van der Saar resolveu sempre com eficácia. A intensidade não se traduzia em faltas, já que com 7 faltas ficou provado que a agressividade excessiva não é o único caminho.

Barcelona e o fascínio pela bola

A segunda parte do Barcelona foi impressionante. Domínio completo do jogo por parte dos catalães, que colocaram o guarda-redes Van der Sar em destaque na noite em que o holandês se despediu do futebol.

A organização defensiva do Manchester caiu por terra pouco aos 54 minutos perante a visão de Iniesta, que desfez o posicionamento dos defesas contrários com um passe diagonal e encontrou a genialidade de Messi. O argentino voltou a provar que com um metro de terreno livre é letal e perante a passividade de Evra rematou de fora da área para o 2-1.

O espetáculo era de alto nível e cumpriam-se as expectativas de uma das melhores finais de sempre da Champions. O Barça criava espaços, causava perigo e Messi tentou o golo perfeito com um calcanhar que ficou demasiado curto. Ficava a ideia de que a equipa azulgrana estava mais perto do terceiro do que propriamente o Manchester de empatar.

Ferguson foi ao banco tentar mexer com a partida e conseguiu-o, mas para o lado errado. Nani entrou a frio num jogo com um ritmo de loucos e em menos de dois minutos levou uma finta de Messi e participou no 3-1. Uma bola mal dominada dentro da área foi parar a Busquets, com David Villa a aplicar um remate em arco indefensável para Van der Sar. Era o cheque mate de Guardiola a Ferguson.

Vitória do futebol espetáculo, num jogo sem casos de arbitragem e que desmontou as teorias da conspiração que colocavam a UEFA ao lado do Barcelona.

Segundo título europeu de Guardiola, que se torna o mais jovem treinador (40 anos) a conquistar duas Ligas dos Campeões e contribuiu para aumentar para 9 o número de troféus conquistados por técnicos espanhóis, que assim igualam os italianos como dominadores da competição.

Link: http://relvado.sapo.pt/liga-campeoes/barca-avassalador-conquista-champions-220867

d) Zerozero

O Barcelona voltou a superiorizar-se ao Manchester United e conquistou a Liga dos Campeões com uma vitória por 3-1. Pedro rubricou o primeiro golo da noite e viu Rooney dar alguma esperança aos ingleses mas, no segundo tempo, «os inevitáveis» Messi e Villa resolveram.Wembley respirava magia quando Viktor Kassai apitou pela primeira vez. No sector dos adeptos do Barcelona lia-se uma mensagem que explica bem o que é hoje em dia ser blaugrana - «We Love Football» - mas os fãs ingleses não ficaram atrás e apelaram ao «Espírito» vencedor de outros tempos (99) para motivar os seus.

O Manchester United foi o primeiro a sair, com Chicharito a estrear o esférico. E foi à imagem desse momento que se desenrolaram os dez minutos iniciais da partida: os red devils entraram com toda a força e confiança, a pressionar forte e a encostar o Barça lá atrás. Logo aos oito minutos, Rooney fugiu nas costas da defesa, após um passe de Van der Sar, mas o atento Valdés enviou o perigo para longe.

E a partir daí a tendência do jogo foi-se alterando, com os espanhóis a assumirem o controlo até chegarem ao «ponto caramelo» do seu tiki-taka.

A tradução desse cenário faz-se com a contagem de lances, mais ou menos elaborados, que levaram a bola a acercar-se da área e da baliza do gigante guarda-redes holandês, que hoje se despediu dos relvados. Aos 16 minutos Xavi serviu Pedro para um desvio ligeiramente ao lado, aos 20' foi Villa a rematar próximo do alvo, aos 21' foi Van der Sar a segurar o tiro do 7 e aos 22' foi Vidic, com um corte enorme, a impedir que Messi activasse o placar.

Essa benesse acabou por ficar a cargo de Pedrito, aos 27 minutos, após uma simples, mas inteligente jogada do capitão Xavi. O 6 percorreu todo o meio-campo dos red devils com o esférico controlado, foi descaíndo para a esquerda, contemporizou e assistiu na direita um jovem de 23 anos que já tem por hábito assinar golos nas grandes finais.

Nesta altura o Barcelona fazia o que queria em campo mas, para além de um Alex Ferguson furioso junto à linha lateral, havia no terreno de jogo um Wayne Rooney decidido a mudar esta história. Aos 34 minutos, depois de uma bola recuperada a um lançamento de Abidal, o 10 inglês tabelou com Carrick e progrediu, tabelou com Giggs e tentou a sua, merecida, sorte: o esférico saiu perfeitamente colocado para fora do alcance de Valdés e para dentro da baliza.

Page 144: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

143

Com o encontro empatado o Manchester United voltou a crescer no relvado, ainda que a formação catalã não tenha dado grande espaço a veleidades. Simplesmente deixou as coisas equilibrarem-se até poder criar novamente perigo, o que aconteceu ao minuto 43 por intermédio dos pés de Messi: o argentino pegou na bola ao seu estilo e fez tudo bem, até passar para Villa, que devolveu para a chegada, atrasada em milésimos, do melhor marcador da competição.

A seguir veio o intervalo. E um Barça, não propriamente renovado, mas determinadíssimo a levar o troféu para Camp Nou. Os minutos iniciais após o reatamento foram seus, até que um momento em concreto passou a ser de Messi. O relógio mostrava 54 minutos quando La Pulga recebeu de Iniesta um daqueles passezitos de dois metros, deu três passos e atirou às redes. Assim, só: simples e eficaz, para o 2-1.

E foi aí que o Manchester United se desmoronou, permitindo ao Barça a gestão de todo o futebol e do espectáculo. Em meia-dúzia de minutos, Messi (por duas vezes), Xavi e Iniesta estiveram perto do 3-1. Van der Sar evitou as celebrações por três vezes - com a defesa da noite aos 66' -, Vidic limpou a área numa outra. Até que apareceu David Villa, el matador, a rubricar um grande golo, com um remate ao ângulo superior.

A final acabou aí, a vinte minutos do fim. Porque os catalães estavam satisfeitos e os britânicos já não tinham forças, físicas ou anímicas, para mais. A não ser Nani, entretanto lançando por Ferguson, que ainda rematou, torto... mas tentou.Assim, Pep Guardiola sempre vai cumprir o desejo de cumprimentar pessoalmente André Villas-Boas na Supertaça Europeia.

Link: http://www.zerozero.pt/noticia.php?id=28735

e) Record (edição em papel)

A equipa maravilhosa de Pep Guardiola voltou a dar mostras da sua classe e contou, para isso, com a destreza e precisão de Xavi - como por exemplo no passe para Pedro inaugurar o marcador - a inteligência e capacidade técnica de Iniesta e a genialidade de Messi. Mas não só.

Pedro Rodríguez e David Villa também brilharam ao mais alto nível e se o primeiro ameaçou aos 16’ e materializou aos 27’, o segundo marcou um golo do outro Mundo, com um remate em arco que fechou o jogo. Na defesa, mandaram Piqué - nova exibição imperial, tendo apenas assustado Valdés com um atraso perigoso aos 10’ - e Mascherano, que além de ter estado bem a defender, ainda sobressaiu aos 46’, com jogada individual que terminou com um canto para o Barcelona.

Mas o brilho foi, sem sombra de dúvida, para Lionel Messi que a partir dos 15 minutos começou a sobressair com o futebol que o caracteriza: deu início ao tiki-taka, pegando na bola ao seu estilo e despertando tanto Xavi como Iniesta para um jogo fantástico. O craque argentino jogou e fez jogar e aos 45’ ultrapassou Ferdinand com um túnel e galgou terreno com Carrick nas costas, servindo Villa na direita, com o avançado a retribuir a gentileza, tendo Messi ficado a milímetros do segundo golo.

Messi reapareceu em grande estilo na segunda parte e tratou de recolocar o Barcelona em vantagem aos 54’, com um remate de fora da área, com metade de culpas para o seu talento e para a passividade da defesa inglesa - era também o 12º golo do argentino em 13 jogos na Liga dos Campeões, sendo o melhor marcador da competição pelo terceiro ano consecutivo, feito que só o alemão Gerd Müller havia alcançado. Messi termina ainda a época com um total de 56 tentos, perdendo assim no duelo particular com Ronaldo (57).

Messi deu mais brilho ao trio de ataque MVP do Barça: Messi, Villa e Pedro, ainda que não por essa ordem, fizeram os golos da vitória e o argentino ainda obrigou Van der Sar a evitar outro golo aos 63’.

Resta ainda dizer que Keita, Puyol e Afellay ainda entraram, tendo o capitão dado a honra a Abidal - que falhou no golo de Rooney - de erguer a Taça perante a festa dos adeptos.

f) O JOGO (edição em papel)

O Barcelona é o novo - e justo - campeão europeu, sucedendo ao Inter, que na época passada lhe roubara o ceptro continental. Na catedral do futebol inglês, a equipa de Guardiola, uma das mais fantásticas da história do futebol, foi claramente superior a um digno Manchester United. Mas a qualidade do meio-campo e ataque dos blaugrana fez toda a diferença. Xavi, muito provavelmente o melhor médio que este século conheceu, teve um passe de génio para Pedro inaugurar o marcador, e nem o golo de Rooney - num lance em que Giggs recebe a bola em posição irregular - deu a sensação de que, no final, o vencedor pudesse ser outro. A segunda parte teve sentido único: Messi continuou a tirar coelhos da cartola e fez o 2-1, cabendo a Villa fechar o marcador em 3-1 com um remate fantástico. Três golos do Barça com assinatura de um trio fantástico de avançados, conhecido como MVP (Messi, Villa, Pedro), que este ano valeu 98 golos (53+23+22).

Com uma pressão alta e intensa, os ingleses conseguiram deixar em sentido o Barça no início da partida. Ferguson - que preferiu o esforçado Valencia (muito apagado) ao génio de Nani - quis surpreender o adversário

Page 145: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

144

e, apesar de não ter tido grandes ocasiões para atirar à baliza de Valdés, a sua equipa criou sobressaltos. Mas mal afrouxou um pouco a pressão, impossível de aguentar por muito tempo, o United passou a correr atrás da bola - e o perigo começou a rondar a baliza de Van der Sar.

Guardiola, que preferiu Abidal a Puyol, deixou a sua equipa jogar como sempre, e o resultado foi o que se viu. Segurança defensiva, com Mascherano em destaque; criatividade no meio-campo, com Xavi, Iniesta e Messi a confundirem as marcações do United; e velocidade no ataque, com as diagonais de Villa e Pedro e as arrancadas estonteantes da Pulga.

Os números da estatística são reveladores da superioridade do Barcelona, e a verdade é que o 3-1 foi lisonjeiro para o United. Afinal, Messi até esteve mais perdulário do que é habitual.

Ano 2012 (19/05/2012)

a) MaisFutebol (exclusivo online)

O futebol já não é o que era. Os alemães perderam um desempate por penalties. Nem o especialista Neuer valeu ao Bayern Munique. E o Chelsea lá conseguiu a sua primeira Liga dos Campeões, por ventura, num dos anos mais improváveis devido a toda a turbulência que envolveu a passagem de André Villas-Boas pelo clube.

Bosingwa e Paulo Ferreira são bicampeões Europeus. Raul Meireles consegue a sua primeira Champions e o grupo ainda tem Hilário. Festa inglesa em Munique, na casa do rival que teve uma mão na Taça até dois minutos do fim.

Antes da festa, houve oitenta minutos de sonolência, dez minutos de jogo e trinta de prolongamento. A contabilidade é fria, pode não colher total anuência, mas não andará, certamente, longe da verdade. Até ao golo de Thomas Muller o jogo deixa poucas recordações. Mas, depois, não sendo memorável foi, pelo menos, emocionante.

Um empate sobre a hora, um prolongamento com um penalty desperdiçado e as grandes penalidades para decidirem o sucessor do Barcelona.

O Chelsea, como se esperava, apareceu movido às leis da Troika. Contenção. Muita. Quase sempre. Só arriscou quando se viu a perder. Porque não o fazer seria parvo, claro está.

De facto, apostar num esquema ofensivo quando o segredo para o apuramento esteve precisamente na coesão lá atrás não era apenas arriscado. Era de todo improvável. A aparição do jovem Ryan Bertrand no onze, para fechar os caminhos da esquerda, era apenas a confirmação do óbvio. Acima de tudo o Chelsea ia defender.

Há vários caminhos para chegar a um objetivo. Aquele que os londrinos escolheram pode não ser o mais agradável à vista, mas é tão legítimo como qualquer outro.

Bayern com pouca paciência

Ao Bayern cabia desmontar o ferrolho inglês. Perante o seu público, com o peso extra da responsabilidade de tentar fazer o mesmo que o Inter de Milão fez ao Benfica em 1965: vencer a final em casa. Desde aí mais ninguém conseguiu.

Robben e Ribery tentaram ser os animadores de serviço, mas foram quase sempre solistas pouco afinados. Mario Gómez só por uma vez ganhou espaço na área para rematar e atirou por cima. Muller apareceu a espaços mas chegou a dar asas ao sonho.

E se do outro lado havia nove jogadores atrás da bola, Cech na baliza e Drogba na frente...como o 0-0 se ia alterar?

Thomas Muller parecia ter indicado o caminho, perto do fim, com o cabeceamento que abriu o ativo. Faltavam menos de dez minutos. Parecia tudo decidido, até porque o Chelsea pouco tinha feito até então e mesmo o Bayern só tinha ficado perto num remate à trave de Robben, ainda na primeira metade.

Parecia decidido, insiste-se... Afinal estava só a começar.

Drogba: quem haveria de ser?

No primeiro canto que ganhou no jogo (ao minuto 88) o Chelsea empatou. Brilhante ação de Drogba, num cabeceamento fulminante que queimou as mãos de Neuer e só parou no fundo da baliza. Prolongamento à vista. Um mini-pesadelo de Barcelona para o Bayern. De certeza que alguém se lembrou da mítica final de 1999.

Page 146: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

145

O Chelsea não teve a felicidade do Man. United, nessa altura, mas não se pode queixar. No tempo extra, por exemplo, viu Robben desperdiçar um penalty inequívoco assinalado por Pedro Proença. O árbitro português esteve à altura. Bem no penalty, seguiu a indicação do assistente num golo anulado por fora de jogo de Ribery. Que não é claro, nem inexistente. Esteve bem, em suma.

Robben falha o segundo penalty decisivo em poucas semanas, depois de ter feito o mesmo no jogo do título com o Dortmund. Joga na Alemanha, mas não tem a frieza germânica.

E nem foi ao desempate, assistindo de longe aos falhanços de Olic e Schweinsteiger. Drobga não tremeu na hora decisiva e deu ao Chelsea a sua primeira Liga dos Campeões. O primeiro estreante desde o Borussia Dortmund, em 1997. Roman Abramovich pode, enfim, sorrir e descansar.

Link: http://www.maisfutebol.iol.pt/alemanha/chelsea-champions-bayern-munique-liga-campeoe s-final-resultado/1349575-1484.html

b) Público

Roman Abramovich entrou no Chelsea em 2003, enterrou muitos milhões no clube para contratar os melhores jogadores e treinadores com o objectivo de transformar os londrinos numa força dominante do futebol europeu. Passaram por lá José Mourinho e André Villas-Boas, mas foi com um interino no banco, Roberto Di Matteo, que o Chelsea conseguiu o seu primeiro título europeu da história, ao bater o Bayern Munique no Allianz Arena, nos penáltis, após 1-1 ao fim de 120 minutos.

Depois de ter resistido ao Benfica e ao Barcelona, o Chelsea também resistiu aos bávaros. E, desta vez, ganhou — e também ganharam os portugueses Raul Meireles, Bosingwa (o único que jogou) Paulo Ferreira, Hilário e Villas-Boas, despedido a meio da eliminatória com o Nápoles —, depois de ter perdido nos penáltis com o Manchester United na final de 2008.

O Chelsea não se desviou nem um bocadinho do plano que já tinha dado frutos em outras ocasiões. Di Matteo voltou a assumir que a sua equipa era inferior ao Bayern e jogou quase sempre na expectativa. Meteu todas as fichas num estilo super-defensivo, esperando que alguma distracção do adversário permitisse um contra-ataque.

Foi o Bayern a dar os primeiros sinais de perigo. Aos 21’, Robben surge na área dos londrinos, ultrapassa Cahill e faz o remate que Cech defende com dificuldade, desviando a bola para o poste. Muller também não consegue acertar com a baliza aos 35’ e Gomez, aos 42’, atira por cima quando tinha tudo para fazer o golo.

Aos 53’, os bávaros festejam o golo, só que Ribéry estava ligeiramente adiantado quando recebe a bola. Mas aos 83’, tudo parecia resolver-se a favor dos homens da casa. Um excelente cruzamento de Ribéry encontra Muller na área, que aproveita uma falha de marcação para furar a resistência do Chelsea e colocar o Bayern a caminho do seu quinto título. O Chelsea chegou ao empate aos 88’, com um cabeceamento de Drogba após canto cobrado por Mata, o primeiro dos londrinos no jogo. No prolongamento, o herói Drogba quase que era o vilão ao fazer falta sobre Ribéry na sua área, mas Cech defendeu um penálti marcado por Robben.

Vieram então os penáltis. Pelo Bayern falharam dois, Olic e Schweinsteiger, pelo Chelsea só Mata não acertou. E, nada mais poético, foi ter sido Drogba a marcar o último penálti.

Link: http://www.publico.pt/noticia/chelsea-campeao-europeu-em-casa-do-bayern-munique-1546 822

c) Relvado (exclusivo online)

O Chelsea foi a Munique sagrar-se campeão europeu pela primeira vez na sua história, derrotando o Bayern em plena Allianz Arena. Na casa do rival, a equipa inglesa esteve a perder, mas conseguiu arrastar o jogo para o prolongamento e acabou por vencer nas grandes penalidades.

Germânicos começaram melhor - O Bayern entrou no jogo mais decidido a chegar ao golo, mas na verdade faltava alguma inspiração aos germânicos que tinham pela frente um adversário bem fechado na sua grande área. O Chelsea assinalava a marca de solidariedade do conjunto que manteve os "blues" no caminho até à final da Champions League. Bem defensivamente, a equipa de Roberto di Matteo não dava grande espaço aos da casa para extravasarem o seu poderio ofensivo.A primeira grande ocasião do jogo surgiu aos 21 minutos e, claro está, foi dos de Munique. Valeu aos ingleses a mestria de Petr Cech que defendeu contra o ferro o remate de Robben, após uma combinação com Ribèry.

64 por cento de posse de bola -Volvidos 25 minutos do encontro, a UEFA indicava 64 por cento da posse de bola para os bávaros. Os "blues" abdicavam conscientes do domínio territorial, entregando todos os trunfos ao adversário, apostando em explorar o erro do oponente. O primeiro remate dos ingleses à baliza rival aconteceu já depois dos 30 minutos de jogo, o que ilustra bem a toada da disputa. Juan Mata atirou por cima da

Page 147: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

146

baliza na marcação de um livre, depois de uma falta de Boateng sobre Cahill.Logo de seguida, o guardião Neuer fazia a primeira defesa no encontro, dando a resposta certa a um remate de Kalou. Foi consequência de uma jogada iniciada por Mata e que passou por Drogba que assistiu Lampard de calcanhar, tendo este enviado a bola para Kalou.Antes Muller tinha deixado uma ameaça à baliza de Cech com um remate de primeira que saiu ao lado da baliza. E o primeiro tempo terminou com Mario Gomez a atirar uma bola por cima da trave.

Pedro Proença anulou golo a Robben - A segunda metade arrancou com um golo de Robben, mas o lance foi anulado por fora de jogo de Ribery. O árbitro português Pedro Proença parece ter tomado a decisão certa. De resto o juiz não deu nas vistas no jogo, podendo apontar-se-lhe uma falha na primeira metade, por não ter mostrado o cartão amarelo ao conterrâneo Bosingwa, após entrada dura sobre Ribery.A partida parecia ainda menos entusiasmante nesta segunda metade, com o Chelsea a continuar remetido na sua defesa e o Bayern sem veia decisiva. Aos 72 minutos Bosingwa assinava o primeiro lance ofensivo dos "blues" no regresso dos balneários, cruzando para o corte de Timoschuk. E depois era Neuer quem errava e corrigia logo a seguir - colocou a bola nos pés de Drogba, mas conseguiu defender o remate atrapalhado do costa-marfinense.E finalmente, os golos! - Já todos iam pensando no prolongamento, mas aos 83 minutos Thomas Muller abria as hostilidades no marcador. O alemão cabeceou a bola, após um centro de Toni Kroos, e esta bateu no relvado com Cech a tentar o desvio, mas sem êxito.Parecia encontrado o vencedor da contenda, mas os homens de Di Matteo já mostraram que têm fogo para todas as guerras. E mesmo antes dos 90, Drogba igualava de novo o encontro com um cabeceamento fantástico, depois de um canto marcado por Mata.

Penalti a abrir o prolongamento - A decisão ia para o prolongamento e logo no arranque do tempo suplementar Pedro Proença assinalava um penalti contra o Chelsea, depois de um toque de Drogba nos pés de Ribery dentro da grande área. Cech mostrava-se a grande figura do jogo e defendia o remate de Robben. Dá ideia de que o holandês poderia ter feito melhor.A equipa da casa acusou um pouco o penalti falhado e não conseguiu recuperar ânimo para se colocar de novo em vantagem. Também o Chelsea não arriscava e o jogo acabou por arrastar-se até aos penaltis.

Cech em grande e Schweinsteinger a falhar - Foi então tempo de os nervos vencerem os frios bávaros. Quando Neuer defendeu o remate de Mata pensar-se-ia que a taça ficaria em casa, mas Cech voltou a brilhar, defendendo o remate de Ivica Olic. E depois Schweinsteinger atirou ao poste, entregando o caneco aos "blues". Drogba acabaria por marcar a última penalidade, a decisiva, que garante ao Chelsea o seu primeiro título europeu.Pelo meio Lahm, Mario Gomez e o próprio Neuer marcaram com sucesso os penaltis do Bayern, o mesmo sucedendo com David Luiz, Frank Lampard e Ashley Cole do lado do Chelsea.

Link: http://relvado.sapo.pt/liga-campeoes/bayern-chelsea-bosingwa-na-equipa-titular-ingleses-4 09026

d) Zerozero (exclusivo online)

Era da ausência de jogadores que se falava antes da final da Liga dos Campeões entre as equipas que tinham eliminado os favoritos Real Madrid e Barcelona, mas é de emoção que se fala após o jogo entre o Bayern Munchen e o Chelsea. Golos à beira do minuto 90, uma grande penalidade falhada no prolongamento e o novo campeão europeu a sair apenas no desempate por penáltis. A sorte sorriu ao Chelsea.

Thomas Muller, aos 83 minutos, colocou o Bayern Munchen em vantagem e deu uma certa justiça ao que se tinha passado até então no jogo. Os bávaros tinham sido mais perigosos e as grandes ocasiões de golo, não muitas é verdade, tinham sido dos alemães. A ganhar por 1x0, o barulho passou a ser ensurdecedor no Allianz Arena, casa dos bávaros, e os adeptos da casa acreditavam que, ao contrário do que aconteceu em 2010 frente ao Internazionale, a Liga dos Campeões desta vez não ia fugir.

Mas o Chelsea não desistiu, aliás, essa palavra parece não existir para os londrinos nesta competição. Didier Drogba, apenas cinco minutos depois do golo sofrido, agarrou-se à réstia de esperança que existia nos jogadores londrinos e restabeleceu a igualdade, obrigando a final a ir para prolongamento após um cabeceamento em que a bola pareceu sair como uma bala da cabeça do costa-marfinense, não dando qualquer hipótese de defesa a Neuer.

Mas no melhor pano cai a nódoa e Drogba, que tinha sido herói na área do Bayern Munchen, tornou-se vilão na do Chelsea, ao cometer uma grande penalidade sobre Franck Ribéry. Chamado a converter, Robben tentou enganar Petr Cech, mas este adivinhou o lado e manteve o resultado igual no marcador.

Tal como em Camp Nou, em que Messi falhou uma grande penalidade, o Chelsea voltou a ser bafejado pela sorte e tudo se manteve igual. As possibilidades estavam todas em aberto e o mínimo erro poderia ser fatal para qualquer uma das equipas.

Perante este cenário, o Bayern Munchen, mesmo sem Ribéry que saiu lesionado na sequência do lance do

Page 148: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

147

penálti, continuou a ter mais iniciativa atacante (foi assim durante todo o jogo) e esteve perto de marcar no início da segunda parte do prolongamento, com Olic a oferecer o golo a Van Buyten e Gary Cahill a impedir que Mario Gomez finalizasse com sucesso para o fundo da baliza.

O Chelsea, por sua vez, numa cópia do que foi ao longo de todo a partida, optou por um jogo mais pensado, na tentativa de explorar as saídas rápidas para o ataque, mas nesse capítulo notou-se bastante as ausências de Ramires e Raul Meireles, que são peças fulcrais na construção do jogo ofensivo dos comandados de Di Matteo. A equipa foi lenta e poucas vezes incomodou o guarda-redes Neuer.

Sem golos no prolongamento, a final da Liga dos Campeões teve que ser decidida nas grandes penalidades. O Chelsea mostrava-se mais confiante até por causa do penálti defendido por Petr Cech, mas ninguém se esquecia que foi na marcação dos castigos máximos que o Bayern Munchen garantiu o apuramento para a final após triunfar no Santiago Bernabéu, com Neuer em destaque nesse jogo.

No meio de muita tensão e expectativa, o Chelsea levou a melhor e conquistou a primeira Liga dos Campeões da sua história. Neuer, esse «monstro» dos penáltis, ainda defendeu a primeira grande penalidade, mas Cech conseguiu fazer o mesmo, Schweinsteiger ainda rematou ao poste e Drogba, com oportunidade de fazer história, não desperdiçou e o Chelsea é campeão da Europa pela primeira vez.

Link: http://www.zerozero.pt/noticia.php?id=64821

e) Record (edição em papel)

Afinal são 11 contra 11 mas nem sempre ganham os alemães. O Chelsea tratou, em Munique, de desmontar este mito e, desta forma, sagrar-se pela primeira vez campeão europeu, através do desempate por grandes penalidades, em que pela primeira vez o Bayern sucumbiu. Bastaram 6 jogos na prova milionária para o interino Di Matteo dar a Abramovich o tão ambicionado título, depois de também terem ganho a Taça de Inglaterra.

O Chelsea sucede na lista de campeões ao Barcelona, precisamente o adversário que os ingleses afastaram nas meias-finais, graças ao instinto assassino de Drogba e à solidez de Cech. O martinense e o checo voltaram a vestir a pele de heróis em Munique, a casa do Bayern, que chegou a ter a taça na mão quando faltavam só dois minutos para o final dos 90’.

Mas antes dos golos, dos penáltis e da festa ao ritmo dos blues, foram 80 minutos de mau futebol, em que o Bayern teve mais iniciativa, mas revelou sempre falta de clarividência e criatividade na definição dos lances. Já o Chelsea foi o que se esperava, uma equipa de expectativa, à espera de um erro do adversário. Uma estratégia que lhe permitiu superar Benfica, Barcelona e Bayern e levantar a Taça.

Aos 81’, Müller, de cabeça, ainda deu expressão ao domínio germânico e tudo parecia decidido, até porque o Chelsea raramente ameaçou Neuer, mas, afinal, revelou-se o início do sonho blue e do pesadelo bávaro. A dois minutos do final, Drogba, também de cabeça, restabeleceu a igualdade e tornou-se no terceiro africano a marcar na final da Champions, depois de Madjer (frente ao Bayern) e Eto’o. O Chelsea aproveitou o único canto de que dispôs, enquanto o Bayern desperdiçou os seus 20.

No prolongamento, o Chelsea viu de novo a sorte a sorrir-lhe, quando Robben falhou um castigo máximo, por falta de Drogba sobre Ribéry. Mas, tal como em Barcelona (em que Drogba derrubou Messi), Cech deu uma mão ao martinense e susteve o remate do holandês. O guardião checo voltou a brilhar no desempate por grandes penalidades, permitindo que Drogba assumisse a condição de herói.

Cumpriu-se a tradição de Munique, pois sempre que a final se disputa na cidade alemã uma equipa ganha o título pela primeira vez: aconteceu ao Nottingham (1979), ao Marselha (1993), ao B. Dortmund (1997) e… ao Chelsea (2012).

f) O JOGO (edição em papel)

Desde que comprou o Chelsea em 2003, Roman Abramovich quis mostrar ao mundo que o dinheiro, afinal, traz felicidade e a sua tenacidade deu frutos passados nove anos de espera e 778 milhões de euros gastos. Considerados os “patinhos feios” da Champions na última fase da prova - muito por culpa dos “autocarros” colocados em campo por Di Matteo -, os blues venceram o Bayern em plena Allianz Arena no desempate por penáltis e ofereceram ao magnata russo o troféu que mais desejava, fazendo dos blues o primeiro clube londrino a vencer a prova.

Num triunfo que teve tanto de improvável como de espetacular, jogadores balançaram na corda bamba entre os papéis de vilão e herói durante os 120’. Habituado a ser o azarado de serviço - foi expulso na final de 2008 e falhou penáltis em duas finais da CAN -, Drogba redimiu-se com uma mãozinha do aniversariante Cech. Quando já nada o fazia prever, o marfinense marcou o 1-1 no seguimento do único canto do Chelsea em todo o

Page 149: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

148

jogo (o Bayern teve… 20) e levou a decisão para prolongamento. Porém, logo aos 95’, cometeu um penálti que podia ter mudado o desfecho da final não fosse a intervenção do checo a travar o remate de Robben, que perdeu a sua quarta final consecutiva. Na hora do desempate, Drogba escapou à “maldição africana” e deu o título ao Chelsea, após Schweinsteiger ter atirado ao poste.

No banco de suplentes, Roberto Di Matteo - que precisou de apenas seis jogos na Champions para ser campeão -, saboreou o desfecho perfeito para uma época em que teve o mérito de arrumar uma equipa que parecia derrotada a meio da temporada iniciada por André Villas-Boas no banco. Já o Bayern igualou Benfica e Juventus no lote de clubes com cinco finais da Champions perdidas… com claras “responsabilidades” para Tymoschuk, jogador que tocou no troféu antes do início do jogo e desencadeou uma maldição que não teve piedade com os bávaros.

Ano 2013 (25/05/2013)

a) MaisFutebol (exclusivo online)

Final fantástica a selar o novo poder alemão no futebol europeu. É melhor que nos habituemos a ele.

No primeiro duelo decisivo para a Champions totalmente germânico, o Dortmund parecia ter asas para surpreender (fez uma primeira parte atrevida e dominadora), mas a maior experiência do Bayern fez a diferença na hora certa.

Num excelente jogo de futebol, muito físico no geral, mas também técnico quando teve que ser, houve boas ocasiões, momentos de tensão, picardias, mas sobretudo viu-se atitude.Atitude de campeão, dos dois lados. Ganhou o Bayern, mas se a glória tivesse recaído do lado do Borussia, também seria justo.

Destemido, Jurgen Klopp ordenou que os seus jogadores abrissem hostilidades. Os primeiros minutos foram suficientes para que percebêssemos que esta não seria uma final demasiado tática.

Respeitando a audácia do adversário, o Bayern chegou a ser encostado às cordas. Mas foi, paulatinamente, recuperando os galões e já terminou a primeira parte a dominar.

O intervalo fez bem aos bávaros. Apareceram, no segundo tempo, mais organizados, mais arrogantes, mais dominadores.

O Dortmund não se assustou demasiado. Teve sempre em Reus um atleta poderoso, capaz de arrancar para o perigo. Em Lewandowski um ponta-de-lança temível, apto a disparar para o golo a qualquer momento (ou não tivesse ele cometido a proeza de marcar quatro-golos-quatro ao Real Madrid num só jogo).

Mas a agulha começava a virar-se para o poderio bávaro. O Bayern fez jus ao favoritismo e abriu a contagem, numa belíssima jogada de ataque, concretizada por Mandzukic, corria o minuto 60.

Final decidida? Nem pensar. O Borussia não demorou a reagir e, de grande penalidade, Gundogan restabeleceu a igualdade.

Cheirava a prolongamento, mas o Bayern mostrou que queria mais o triunfo nos 90. Fez por isso, ameaçou, e chegou, com mérito, ao 2-1. Robben, dourando uma exibição notável, levou o poderoso conjunto de Heynckes ao céu. Justo.

Link: http://www.maisfutebol.iol.pt/alemanha/borussia-bayern-cronica/1453619-1484.html

b) Público

Depois de duas derrotas nos últimos três anos na final da Liga dos Campeões, chegou o momento do Bayern Munique. Em Wembley, a formação da Baviera venceu os compatriotas do Borussia Dortmund por 2-1 e conquistou o quinto título na competição de clubes mais importante da UEFA.

Foi uma partida animada, com oportunidades de parte a parte (especialmente no primeiro tempo) e emoção até final. O Dortmund até começou a acelerar mais o jogo e a encostar o adversário ao seu meio-campo, mas quando o Bayern se libertou do colete de forças foi o guarda-redes Weidenfeller a brilhar. Primeiro ao desviar um cabeceamento de Mandzukic, depois a anular duas investidas de Robben, que surgiu praticamente isolado no seu caminho.

Mas os golos só chegariam no segundo tempo. Aos 60', Ribéry inventou espaço na área contrário para Robben tirar Weidenfeller do caminho e oferecer, em bandeja de prata, o 1-0 a Mandzukic. O avançado croata só teve mesmo de empurrar para a baliza deserta.

O Borussia respondeu quase de seguida. Numa incursão pela área do Bayern, Marco Reus acabou por ser

Page 150: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

149

derrubado por Dante e o árbitro assinalou grande penalidade. Na marcação da falta, Gundogan, um médio sempre esclarecido, empatou o encontro, aos 68'.

A partir daí, voltou a imperar a lei do campeão alemão. Robben e Ribéry baralhavam as marcações da defesa do Dortmund e acabariam por ser eles a definir o lance que decidiu o encontro. Aos 88', Ribéry recebeu a bola de costas na área, desviou de calcanhar para Robben receber em progressão, passar entre os centrais e desviar com subtileza para o 2-1 final.

Já não havia praticamente tempo para reagir e o melhor que o Borussia conseguiu foi um remate para as mãos de Neuer, da cortesia de Schieber, acabadinho de ser lançado no jogo. Praticamente no lance seguinte, soou o apito final e o Bayern, ao contrário do que sucedera em 2009-10 e em 2011-12, terminou o encontro com o troféu à sua espera.

É a quinta vez que o clube conquista a competição, depois de ter chegado ao título em 1974,1975, 1976 e 2001. E é a segunda vez que Jupp Heynckes se sagra campeão europeu, juntando o actual troféu ao alcançado ao serviço do Real Madrid.

Link: http://www.publico.pt/desporto/noticia/bayern-vence-final-alema-e-conquista-o-quinto-titulo-europeu-1595523

c) Relvado (exclusivo online)

O Bayern de Munique sagrou-se campeão europeu ao vencer o Borussia de Dortmund este sábado na final da Liga dos Campeões, em Wembley. Uma vitória sofrida e justa por 2-1, que só foi confirmada num momento de inspiração de Arjen Robben aos 89 minutos.

O jogo foi digno de uma grande final. As duas grandes equipas alemãs – que humilharam Barcelona e Real Madrid nas meias-finais - procuraram sempre o ataque e imprimiram desde cedo um ritmo muito elevado. Os dois guarda-redes brilharam bem alto, com um punhado de defesas de excelente nível. Houve muitos lances de perigo de parte a parte, rapidez, técnica, lances de envolvimento coletivo e excelentes jogadas individuais. Quando é assim, os espectadores agradecem.

No final, ganhou a que tem mais valores capazes de desequilibrar. Um conjunto que tem talentos do calibre de Ribery, Robben, Muller, Neuer, Lahm ou Schweinsteiger não merecia perder mais uma final, depois de ser vice-campeão por duas vezes nos últimos três anos. Jupp Heynckes despede-se em grande de Munique.

Curiosamente, o Borussia entrou muito melhor. Empolgados pelo treinador Jurgen Klopp, os homens de amarelo lançaram-se para a frente desde o apito inicial e asfixiaram os bávaros nos primeiros 20 minutos. Mas após esse período inicial, o Bayern sobrepôs-se no jogo e foi acumulando oportunidades de golo, inventadas por Ribery – grande exibição -, Robben, Müller e Mandzukic. Foi precisamente o avançado croata a inaugurar o marcador aos 60 minutos.

O Dortmund, já sem as forças iniciais, ainda conseguiu chegar ao empate, de grande penalidade a castigar falta de Dante sobre Lewandowski. Mas foi o Bayern a chegar com mais energias aos minutos finais. Quando já se pensava no prolongamento, Robben foi mais rápido que um Fórmula 1 e fez a festa do 2-1.

Está bem entregue a Liga dos Campeões.

Link: http://relvado.sapo.pt/internacional/dortmund-bayern-1-parte-456429

d) Zerozero (exclusivo online)

O Bayern Munchen é o novo campeão da Europa, tendo levado a melhor sobre o Borussia Dortmund com uma vitória por 2x1, conseguida apenas a um minuto dos 90.

Arjen Robben é o novo herói na Baviera e o título da crónica não é inocente. Há um ano, o holandês foi tido como um vilão pelos adeptos do Bayern Munchen após ter falhado uma grande penalidade na final da Liga dos Campeões frente ao Chelsea, numa final que se disputou em casa dos bávaros.

Agora, um ano depois, foi o mesmo Arjen Robben que tomou as rédeas da final e decidiu o jogo a favor do Bayern Munchen, marcando o segundo golo da formação orientada por Jupp Heynckes quando já quase toda a gente em Wembley pensava no prolongamento.

Mas, sem tirar qualquer mérito à vitória justa do novo campeão da Europa, o Borussia Dortmund não merecia ser penalizado desta forma, pela forma como tornou, juntamente com o Bayern Munchen, o jogo excitante, imprevisível e com bastantes ocasiões de golo (só não houve mais porque os guarda-redes não deixaram). Mas o futebol é também feito de imprevisibilidade e à terceira tentativa em quatro anos, os bávaros chegam ao topo da Europa.

Só faltaram os golos para dar brilho ao excelente espetáculo

Page 151: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

150

A primeira parte foi tudo o que se espera de uma final da Liga dos Campeões. Apesar do equilíbrio registado ao longo dos primeiros 45 minutos, este não impediu que houvesse jogadas de perigo. Aliás, por entre um encontro emocionante e muito bem jogado de parte a parte, jogadas existiram, golos é que nem por isso mas muito por culpa dos guarda-redes.

A primeira etapa da primeira parte teve domínio claro do Borussia Dortmund. Os comandos de Jurgen Klopp entraram melhor que os adversários e durante esse período criaram quatro ocasiões para marcar sem que o Bayern Munchen se aproximasse da baliza de Roman Weidenfeller. Lewandowski foi o primeiro a tentar a sorte, seguiram-se dois remates de Marco Reus e um outro de Bender. Todos eles foram parados por Manuel Neuer.

Perante o domínio do Borussia Dortmund, o Bayern Munchen tentou equilibrar e passou a jogar mais sobre as alas, chamando Ribéry e, principalmente, Arjen Robben ao jogo. Mandzukic, após cruzamento, deu o primeiro sinal de perigo dos bávaros (Weidenfeller defendeu) e logo a seguir foi a vez de Javi Martínez cabecear por cima.

Até ao final da primeira parte Arjen Robben teve à sua conta duas excelentes ocasiões para inaugurar o marcador, mas em ambas permitiu a defesa de Weidenfeller. Entre as duas situações, o Borussia Dortmund, já com menos fulgor do que aquele que tinha mostrado nos instantes iniciais, também ameaçou marcar, valendo ao Bayern Munchen, uma vez mais, Neuer a defender o remate perigoso de Lewandowski.

Robben desfaz ideia do prolongamento

Ao contrário da primeira parte, Borussia Dortmund e Bayern Munchen não entraram com o mesmo entusiasmo para o segundo tempo. Pelo menos durante os primeiros 15 minutos, com os comandados de Jupp Heynckes a tentarem descobrir o caminho da baliza de Weidenfeller, no entanto bem tapados pelos jogadores adversários.

A primeira ocasião de golo pertenceu ao Bayern Munchen e surgiu aos 59 minutos, com Mandzukic a permitir a defesa de Weidenfeller. No entanto, no minuto seguinte, os bávaros acabaram mesmo por chegar à vantagem por intermédio do avançado croata, num lance construído por Ribéry e Robben.

Nessa altura era o Bayern Munchen que estava claramente por cima do jogo, mas o Borussia Dortmund não se deixou ir abaixo, embora tal fosse impossível pelo espetáculo que Jurgen Klopp dá no banco de suplentes e pela energia que transmite aos jogadores.

Consequência disso, o Borussia Dortmund foi premiado com o golo do empate, que surgiu através da conversão de uma grande penalidade. Aos 68 minutos, Dante foi imprudente, cometeu falta dentro da área sobre Reus e Gundogan não desperdiçou a oportunidade restabelecer a igualdade.

O jogo entrou numa fase louca, tornou-se bastante aberto, com o golo a poder aparecer em qualquer altura e junto de qualquer uma das balizas até aos 90 minutos, mas os momentos mais fantásticos aconteceram sempre perto da baliza do Borussia Dortmund.

Primeiro, Subotic milagrosamente e com a baliza aberta porque Weidenfeller tinha sido ultrapassado por Muller, negou o golo a Robben. Pouco depois, Alaba, com um remate de fora da área, obrigou o guarda-redes do Borussia Dortmund a voar para lhe negar o golo e depois foi Bastian Schweinsteiger a testá-lo novamente.

No entanto, a aproximação do Bayern Munchen à baliza de Weidenfeller teve consequências para o Borussia Dortmund. A um minuto dos 90, Arjen Robben entrou na área, levou a melhor sobre o guarda-redes e rematou para o fundo da baliza, tornando-se no novo herói da Baviera, um ano depois de ter sido vilão contra o Chelsea.

Link: http://www.zerozero.pt/noticia.php?id=112038

e) Record (edição em papel)

Após a desilusão de há um ano, em que o Bayern de Munique perdeu a final da Liga dos Campeões frente ao Chelsea, no desempate por penáltis, os bávaros vingaram ontem essa e outras derrotas recentes - na época passada perdeu também a final da Taça da Alemanha (precisamente para o B. Dortmund) e já havia sido finalista vencido da Champions em 2010. E não poderia ter melhor herói do que Arjen Robben, principal réu de há um ano, ao falhar um penálti frente aos blues já no prolongamento.

Desta vez, o craque holandês quebrou mesmo a malapata das finais - além das três referidas perdeu ainda o Mundial’2010 para a Espanha. Ainda assim, as coisas não começaram bem com o esquerdo, de 29 anos, que desperdiçou várias oportunidades na primeira parte. Num excelente início de partida, o Dortmund criou muitos problemas aos bávaros com uma pressão intensa. Lewandowski e companhia obrigaram Neuer a trabalho redobrado - pela primeira vez esta época, o guardião do Bayern teve de fazer cinco defesas antes do intervalo -, mas Weidenfeller também brilhou, sobretudo com intervenções corajosas, com o peito e a cara, frente a…

Page 152: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

151

Robben.

As coisas começaram a mudar na segunda parte, quando o holandês ultrapassou o guarda-redes e, já sem ângulo, centra para Mandzukic para inaugurar o marcador. A resposta veio por Gundogan, a converter o penálti que castigou a falta de Dante sobre Reus. O brasileiro escapou ao 2º amarelo e à expulsão e o encontro manteve-se equilibrado, deixando antever a hipótese de se repetir o cenário da época passada, com um prolongamento.

Momento de ouro. Porém, quando já poucos acreditariam, surgiu Robben de novo. Aos 89’, Ribéry recebe um passe longo e, de costas para a baliza, toca de calcanhar para o holandês escapar à tentativa de corte de Hummels e, perante Weidenfeller, atirar a bola para o fundo das redes com um desvio subtil. Euforia dos jogadores e adeptos bávaros, que começaram de imediato a festejar a conquista da 5ª Champions da sua história - somam outras tantas derrotas em finais. Alegria também para o técnico Jupp Heynckes, que, aos 68 anos, iguala Ernst Happel, Ottmar Hitzfeld e José Mourinho ao ganhar a prova por duas equipas diferentes - fê-lo também em 1998, pelo Real Madrid. O ex-treinador do Benfica prepara-se para passar o testemunho a Guardiola com o colosso de Munique a atravessar, provavelmente, a melhor fase de sempre: após ganhar a Supertaça e a Bundesliga com uma série de recordes, já tem a Champions no bolso e, a 1 de junho, pode juntar-lhe a Taça da Alemanha, na final com o Estugarda.

f) O JOGO (edição em papel)

Em 2012, o extremo holandês [Robben] falhou um penálti que podia ter dado o título aos bávaros na final perdida com o Chelsea. Ontem, assistiu Mandzukic no 0-1 e decidiu o jogo ante o rival Dortmund, que se pode queixar do facto de o árbitro ter perdoado a expulsão a Dante antes do 1-1.

Há um novo rei na Europa, chama-se Bayern de Munique e sucede ao Chelsea, com quem perdera a final da época passada em casa, e que reencontrará em agosto na Supertaça Europeia, num duelo em que já não estarão no banco Heynckes e Benítez, mas… Guardiola e Mourinho.

O gigante bávaro impôs-se ao Dortmund, por 2-1, num grande jogo de futebol que permitiu a redenção de Arjen Robben. O extremo holandês foi o vilão da última final, ao desperdiçar no prolongamento um penálti frente ao Chelsea que poderia ter decidido o jogo. Mas terá sido certamente perdoado pelos adeptos e colegas de equipa: uma assistência para Mandzukic fazer o primeiro golo do jogo e o remate para a vitória aos 89’ fizeram dele o herói.

Numa final falada em alemão e que foi também uma espécie de embate de gerações de treinadores - a raposa Heynckes e o jovem lobo Klopp -, não houve surpresas nos onzes iniciais. Ambos os técnicos apostaram nos jogadores habitualmente titulares, com Grosskreutz a surgir, como esperado, no lugar do lesionado Goetze no Dortmund.

Surpreendentemente ou talvez não, tendo em conta o estilo atrevido de Klopp, foi o Dortmund que entrou no jogo a mandar, com uma pressão alta intensa que criou imensos problemas a um Bayern pouco acostumado a passar por tantas dificuldades para fazer a transição defesa-ataque.

A tática arrojada de Klopp esteve perto de resultar em golo, em dois momentos aos 14’, em que brilhou Neuer: primeiro evitou o golo dando o corpo a um remate de Lewandowski e após um canto defendeu a bomba de Blaszczykowski. O guardião bávaro voltaria a brilhar aos 19 e 22 minutos, salvando a sua equipa do primeiro golo. Mas a resposta do Bayern não tardaria e do lado do Dortmund Weidenfeller não quis ficar a perder para Neuer - que voltou a negar o golo a Lewandowski aos 35’ -, acabando como principal responsável pelo nulo ao intervalo: aos 26’, defendeu para a barra um cabeceamento de Mandzukic e aos 30’ e 42’, ganhou duas vezes o duelo com Robben que surgiu isolado na sua cara.

Foram 45’ de emoções fortes e só faltavam os golos que acabariam por chegar com naturalidade na etapa complementar. Incapaz de aguentar o ritmo louco e a pressão exercida na primeira parte, o Dortmund começou a ceder o controlo do jogo para o Bayern e nem o gigante Weidenfeller pôde impedir o golo inaugural, apontado por Mandzukic e fabricado por Robben e Ribéry. A resposta não tardou: Dante derrubou Reus na grande área e o árbitro assinala o castigo perdoando o segundo amarelo ao central brasileiro, o que poderia ter mudado o resto do jogo. Não obstante o empate, concretizado por Gundogan, o Dortmund dava evidentes sinais de maior cansaço e a defesa era cada vez mais vulnerável. Klopp tardou em mexer na equipa e pagou caro: depois de várias ameaças, aos 89’, o Bayern chegou mesmo ao 2-1 por Robben. O jogo terminou pouco depois e irrompeu a festa bávara com o holandês e Heynckes no centro dos festejos, com todo o merecimento.

2) Crónicas desportivas em inglês

Ano 2010 (22/05/2010)

Page 153: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

152

a) Guardian

Ian Holloway will have to be [modal] content with supervising the performance of the day because José Mourinho is unquestionably the coach of the season. Coach of the decade perhaps, certainly coach of the moment.

He may not be everyone's cup of tea but Mourinho has just etched his name permanently on the biggest cup of all. Only two other coaches, Ernst Happel and Ottmar Hitzfeld, have won the European Cup with two different clubs, and Mourinho has just beaten his old mentor, Louis van Gaal (who won this competition with Ajax) to become the third. In addition to winning titles in Portugal, England and Italy, Mourinho has also joined the elite band of treble winners. Inter become the sixth team to complete a clean sweep of all three major honours – again, Van Gaal's Bayern Munich were in a similar position – and the first from Italy. You cannot possibly argue with success on that scale and Real Madrid will almost certainly be showing him the money instead. No one quite knows what will happen next, only that it is bound to be colourful.

Arjen Robben quickly showed up as the threat Bayern were hoping he would be, with the absence of Franck Ribéry through suspension putting an extra onus on the former Chelsea winger as the only player likely to spring an attacking surprise. Walter Samuel chopped him down unceremoniously in the third minute, gambling successfully that referee Howard Webb would not produce a card so early in the game and getting away with just a lecture. Esteban Cambiasso dispossessed Robben cleanly and fairly the next time the winger broke forward, but after 10 minutes the Dutchman showed what he was capable of when he whisked past Samuel and Cristian Chivu on the right and sent in a low cross that Ivica Olic just failed to meet decisively at the near post.

Inter had started the game as if they intended to attack but soon found themselves pressed back into their own half. Nevertheless, Mourinho's side brought the first real save of the game when Wesley Sneijder powered in a free-kick from almost 30 yards out after 18 minutes. Hans-Jörg Butt dealt with it comfortably enough, diving to his left to punch clear, yet as the ball had taken a late deflection from a head in the wall it was not quite the routine stop it had first appeared.

The game was becoming stodgy and over-cautious by the mid-point of the first half, as evidenced by a Holger Badstuber backpass to his own goalkeeper all the way from the halfway line, and when Martín Demichelis earned the evening's first caution for a heavy challenge on Milito, Sneijder merely repeated his hopeful free-kick routine. This time no one got a flick or a touch and the ball ran harmlessly through to Butt.

Chivu lost no time in picking up the game's second booking, all too predictably for clipping Robben's heels, before Thomas Müller showed a certain amount of frustration with the blue wall in front of him by shooting hopelessly and pointlessly over from 25 yards.

Inter were not doing too much better at that stage. When Milito did manage to cut a ball back from the left, his cross was far too deep for Sneijder to do anything with, yet when the same combination reverted to their normal roles as creator and finisher a minute later, Bayern were cut open right through the middle.

The Germans may not have been expecting a route one goal from an Italian side, although in all fairness it was a superbly executed version, none of your sticking it in the mixer and hoping for the best. Júlio César's long punt straight up the middle was nodded precisely to Sneijder by Milito, who then turned and ran forward to accept a measured return pass into the area.

A shooting opportunity presented itself straight away, yet Milito eschewed the obvious and took an extra touch; a risky strategy but one that committed Butt and made the target even bigger.

Bayern were not able to hit back in the 10 minutes that remained to half-time, with Inter continuing to sit comfortably behind the ball, defending competently and launching only sporadic forays forward. Even on that basis, they looked more dangerous than their opponents. Milito and Sneijder combined again on the stroke of the interval, only for the Dutchman to send his shot straight at Butt.

If it had not been an exactly open game in the first half a breathless first few minutes of the second half brought chances for either side. Bayern almost equalised virtually straight from the kick off when Hamit Altintop and Olic engineered a shooting opportunity for Muller, who had a clear sight of goal but failed to show Milito's level of coolness and allowed César to save with his legs. Collecting the rebound and surviving a couple more anxious moments at the back, Inter went straight up the field and came close to claiming a second, Butt's outstretched fingers tipping Goran Pandev's shot over the bar.

Bayern continued to probe and create half-chances, although one suspected it might not be their night when Robben produced one of his trademark curlers in the 65th minute and saw it clawed away at the last moment by the excellent César. Another key passage of play arrived around 20 minutes from the end, and this time Bayern were left ruing their inability to make their pressure count.

Page 154: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

153

With César for once out of position it took a stunning block from Samuel to prevent Olic equalising. But once again Inter turned defence into attack with a clinical efficiency that should ensure Mourinho does not have to face any trumped-up charges of negativity. Milito stayed onside to receive Samuel Eto'o's pass, beat Daniel Van Buyten and flicked his second assured finish of the night past Butt to make the game safe.

Link: http://www.theguardian.com/football/2010/may/22/inter-champions-league-final-bayern

b) BBC Sport (exclusivo online)

Jose Mourinho wrote his name into the history books as Diego Milito inspired Inter Milan to Champions League glory against Bayern Munich at the Bernabeu.

Milito set Inter on their way against the run of play with a clipped finish.

And he wrapped up a win built on the foundations of a solid defence with a solo effort that saw Inter become the first Italian side to win the Treble.

It means Mourinho, who won the cup with Porto in 2004, becomes the third man in history to win it with two clubs.

He joins Ernst Happel and Ottmar Hitzfeld in earning that remarkable accolade - at the age of only 47 - and, in doing so, ends a wait of more than 45 years for the Nerazzurri to regain Europe's top prize.

That he did so by overcoming his mentor Louis van Gaal, with whom he worked at Barcelona in the 1990s, in the process only served to complete the ultimate season of personal vindication for the Portuguese.

If reports are to be believed, it is a triumph that will earn Mourinho the manager's position at arguably the world's biggest club, Real Madrid, this summer.

How fitting, then, that this triumph was earned at Real's magnificent Bernabeu stadium - and as Mourinho waved to the Inter fans after watching his side lift the trophy, it looked every inch a wave goodbye and confirmation this will prove the denouement of his career in Italy.

As for the match itself, while it might not have been one for the purists, as an occasion it was spectacular.

The decision to switch the match to a Saturday evening was fully justified as both sets of supporters rocked the Bernabeu from the first minute to the last.

And on the field, the fare was no less enthralling.

The build-up had been dominated by Van Gaal's and Arjen Robben's description of Mourinho as a defensive tactician - but if their hope was that such taunts would prompt a more ambitious approach from the Italian champions, they were to be disappointed.

The first couple of minutes aside, when Inter hinted at an expansive approach, Mourinho's side's tactics were clearly to stay strong defensively and pounce on the counter attack.

For a long time, though, it played right into Bayern's hands. With Robben giving left-back Christian Chivu a torrid time and Mark van Bommel pulling the strings in midfield, the Germans almost completely dominated.

Playing with an air of expression and invention, Bayern probed the Inter backline time and again. Robben beat Chivu down the right to set up Ivica Olic, the Croatian slamming wide, Hamit Altintop saw a right-foot shot deflected wide and Robben then skewed wide when well placed 18 yards out.

At the other end, Wesley Schneider saw a deflected 40-yard free-kick beaten away by Bayern keeper Hans-Jorg Butt and Esteban Cambiasso had a firm volley blocked.

But Inter's attacking personnel were largely anonymous in the face of the Germans' control.

Then, on 34 minutes, came Inter's ambush, Milito nodding Inter keeper Julio Cesar's long clearance down to Schneider and then dashing on to the Dutchman's smart return to clip home a delightful finish.

Mourinho's muted celebrations highlighted his awareness that it was a lead his side barely deserved.

It could - and should - however, have been 2-0 moments before the break when, racing into the box, Schneider shot tamely from Milito's lay-off and Butt palmed away his effort from 16 yards out.

Still, having watched Inter repel pass-masters Barcelona with 10 men in the semi-final, Bayern boss Van Gaal will have been all too mindful of the Italians' ability to defend a lead and he sent his team out flying in the second half.

Just moments after the restart, the German champions should have been level, Thomas Mueller failing to connect smartly enough with a sliding finish with just the keeper to beat, allowing Cesar to beat his shot away.

It was a miss he was almost made to rue within minutes as Milito burst down Bayern's left, cut the ball back to Pandev, only for Butt to brilliantly tip the Macedonian's clipped effort past the post.

Page 155: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

154

Predictably, though, the pattern for the second half had been set - Bayern controlling possession and Inter sitting deep and breaking.

Robben remained far and away Bayern's most potent weapon, his pace and skill down the right prompting almost continuous volleys from an increasingly frustrated Mourinho on the sidelines.

A free-kick from the Dutchman almost led to an equaliser when it fell to Mueller, only for the German's snap-shot to be blocked, before a fine curler again brought the best out of Cesar in the Inter goal minutes later.

But, just as in the first half, for all their considered build-up Bayern were always vulnerable on the counter attack, and another moment of Milito magic settled it.

The Argentine - a constant thorn in the Germans' side - had it all to do when he collected a pass from Samuel Eto'o on 70 minutes.

But Milito was not to be denied and turned defender Mark van Buyten brilliantly - though far too easily - before side-footing a sensational 30th goal of his season.

The goal was effectively game, set and match, Bayern's sting very much drawn and Inter allowed to coast to victory thereafter.

The final whistle prompted a warm embrace between Mourinho and Van Gaal, before the Portuguese enjoyed the celebrations with his team. But he then stalked the Inter end a lone figure, waving deadpanned towards the Nerazzurri faithful.

Having beaten the English, Spanish and German champions en route to European club football's most sought-after trophy, few could deny Mourinho his moment - nor his place in history.

Link: http://news.bbc.co.uk/sport2/hi/football/europe/8697017.stm

c) Sky Sports (exclusivo online)

Diego Milito scored two stunning goals as Inter Milan handed Jose Mourinho his second UEFA Champions League crown with victory over Bayern Munich.

The Portuguese tactician, in what could well be his last match in charge of the Serie A side, became only the third coach in the history of the tournament to win the trophy with two different sides.

Mourinho's final act as Porto boss was guiding them to European glory in 2004, and Inter fans will fear history repeating itself following his dress rehearsal at Real Madrid's Santiago Bernabeu, the ground he could call home next term.

Bayern enjoyed much of the possession but struggled to create clear-cut chances despite the constant probings of Arjen Robben and were undone by two breathtaking finishes from Milito.

The Argentina international broke the deadlock in the 34th minute when he nodded on Julio Cesar's long clearance to Wesley Sneijder. The Dutchman returned the ball to his team-mate who showed superb composure to beat Hans-Jorg Butt in the Bayern goal.

Louis van Gaal's German double winners pressed again in the second period, but were again hit on the break with Milito bamboozling Daniel van Buyten before calmly firing beyond Butt once again to seal the treble for Inter and their first European Cup in 45 years.

For Bayern coach Van Gaal, who was mentor to a young Mourinho at Barcelona, the defeat ended his chance to conquer Europe with two separate clubs having won the title with Ajax in 1995.

The match was billed as a clash of contrasting styles between the attacking philosophy of Van Gaal and the defensive proclivity of Mourinho, but there was little to separate the two sides early on.

Threats

The biggest threats came from two players who were returning to the Bernabeu having last summer been jettisoned by Real Madrid in the wake of the Spanish giants' 250million euro spending spree.

For Bayern, winger Robben was proving a persistent menace down the right, while for Inter, playmaker Sneijder was superb throughout.

And it was the Nerazzurri playmaker who came closest to breaking the stalemate during an evenly-fought opening 30 minutes.

The dead-ball specialist tried his luck from a free-kick 35 yards out, and Bayern goalkeeper Butt needed to dive to his left to parry the ball away after it had taken a slight deflection off his team-mate Hamit Altintop.

Sneijder, who was one of four former Madrid players in an Inter side without a single Italian, was involved in most of his side's attacks and it was no surprise to see him play a key role in the opening goal of the game.

Page 156: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

155

Julio Cesar's long punt forward was headed down by Milito to Sneijder, who immediately set his team-mate through the heart of the Bayern defence.

The 30-year-old Argentinian powered into the area before leaving Butt with no chance to save with a rising shot.

Bayern, who were without suspended French star Franck Ribery, tried to respond quickly but, after long-range efforts from Altintop and Robben had failed to worry Julio Cesar, they almost found themselves trailing 2-0 just before the break.

Once again it was Milito and Sneijder involved, but with the roles reversed this time.

Milito picked out Sneijder running into the box and it needed a good block by Butt to keep out the former Ajax man's left-footed shot.

Ultimate

Bayern, who were out much quicker than Inter following half-time, had created little to test Julio Cesar in the first half but they almost fashioned an equaliser 25 seconds after the restart.

Ivica Olic's clever flick found Altintop in space and the Turkish international then fed the unmarked Thomas Muller on the edge of the Inter area, but the 20-year-old was denied by the feet of Julio Cesar.

Moments after that Inter launched a breakaway that almost resulted in a second goal, Goran Pandev's shot being superbly tipped over one-handed by Butt.

That was a thrilling start to the second period and Bayern were enjoying plenty of possession as they sought an equaliser.

However, the Inter defence, like it was in the semi-final second leg against last season's European champions Barcelona, was proving tough to break down.

Robben almost managed it with a curling 20-yard effort that brought a brilliant save out of Julio Cesar, while Muller saw a goal-bound effort blocked by the head of Esteban Cambiasso.

Bayern were dominating possession but they were hit with the ultimate sucker punch in the 70th minute as Inter broke away to double their lead.

Milito still had plenty of work to do when he picked up Samuel Eto'o's pass 35 yards out but he superbly turned Van Buyten inside out before coolly finishing past Butt.

There was no way back for Bayern after that as Inter held on to end their long wait for European football's top trophy and perhaps give Mourinho a winning send-off.

Link: http://www1.skysports.com/football/live/match/213137/report

d) The Daily Telegraph

After 45 years and billions of lire expended, Internazionale have finally emerged from the shadow of their great rivals and neighbours Milan to become the champions of Europe.

After decades of underachievement and frustration, Massimo Moratti, the oil tycoon who has poured much of his personal fortune into this club, called on José Mourinho. And, as always, the Portuguese delivered – and then some. It will feel good waking up in black and blue this morning.

There is no doubting Inter’s credibility as European champions, the first time they have held the honour since winning in 1965. They did it the hard way, too, beating the English champions, Chelsea, the Spanish champions, Barcelona, and now the German champions, Bayern Munich, to do it. It is some achievement.

Inter were controlled and ruthless in equal measure, soaking up the pressure from the lively Arjen Robben and the rest of his Bayern Munich comrades and striking with cold precision when any weakness was exposed. It might not have been a victory of wit and verve but it was commanding all the same.

That Diego Milito was the hero of the night was fitting. He perfectly sums up this Mourinho team, assembled from cast-offs and veterans whose best was supposed to be behind them. The Portuguese has taken players like Wesley Sneijder, rejected by Real Madrid, and Samuel Eto’o, ditched by Barcelona, and fused them with veterans like Javier Zanetti and Walter Samuel to build a team to beat them all.

Milito, at 30, lacks the glamour of his compatriot Lionel Messi, or even that of, say, Sergio Aguero or Carlos Tévez, but it is his brand of efficiency that has made Inter champions. His finishes for the two goals were extraordinary in their nerveless execution.

At 30, after a career in Spain and Italy where no one was prepared to give him a chance at the very top level, he has finally proven his class to the world. It is typical of Mourinho to sign a player with such hunger.

Page 157: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

156

In a cagey opening, Louis van Gaal’s Bayern began the brighter, with Robben to the fore. In his time at Chelsea, Mourinho judged the Dutch winger to be something of a wimp and the Inter contingent got stuck straight in to him, Samuel aiming a kick at him before three minutes had been played.

That was the closest they got to him, though. Robben, a different animal this season, was flying. Seven minutes in he sped past Christian Chivu and then Samuel, got to the by-line only for Thomas Muller to put his pull back wide.

Shortly after, Howard Webb, the English referee, had his first big call. Robben whipped in an in-swinging cross from the right for Daniel van Buyten to head, the ball ricocheting off Maicon’s arm a couple of times.

Webb was unmoved, though, and did not give the penalty, presumably because he did not think the Brazilian full-back’s arm was not in an unusual position. Replays made that hard to justify.

Inter were sitting very deep and were restricted to occasional forays. Bayern’s aggressive defence did give away cheap free-kicks, though, and when Van Bommel fouled Goran Pandev, Wesley Sneijder had Bayern goalkeeper Hans-Jorg Butt in a panic after his 30-yard free kick deflected off the top of Hamit Altintop’s head.

The one worry Louis van Gaal might have had was over Martin Demichelis. The Argentine defender did not look comfortable against his compatriot Milito, flying into the back of him with a clumsy challenge that brought him the first booking of the night.

It rapidly got worse for Demichelis. Ten minutes before the break, Julio Cesar hit a huge punt downfield, Milito getting in front of Demichelis to flick to the oncoming Sneijder.

Milito then got behind Demichelis as he sprinted for the box. Two seconds; two errors: it proved to be very costly. Sneijder rolled the ball into the box and Milito finished superbly, teasing Butt with a feint before a quick final touch and poke in at the near post. The foot-speed was simply remarkable.

It could have been a lot worse for Bayern before half time, baffled as they were to be behind in the first place. Milito again ran Demichelis ragged, this time on the left, and picked out Sneijder coming from deep behind Van Buyten. The Dutch playmaker struck the ball left-footed but straight at a relieved Butt.

Inter were very late out for the second half but if it was a mischievous strategy on Mourinho’s part it almost instantly backfired. With just seconds gone and the flares burning happily away in the Bayern end, Ivica Olic’s neat flick found Altintop, who squared for Muller, running from deep. Cesar saved the German international’s shot with his legs.

Two minutes later and Inter almost extended their lead. Milito cut in from the left as the Italians counter-attacked, finding Goran Pandev whose clever lobbed effort was pushed over by an agile Butt.

Robben then wriggled between Chivu and Pandev and was pulled down by the latter. He dusted himself off and whipped in another dangerous free kick. Inter could not clear and the ball fell to Muller who did not strike it cleanly, the ball coming off Cambiasso. Not long after, Chivu’s night was over, succumbing to cramp.

Inter went flying forward on the counter-attack – Webb playing an excellent advantage – with Eto’o finding Milito in the right channel. The striker ran straight at Van Buyten, made to go inside him but wrong-footed him, curving his ensuing shot around Butt. With that, he secured his place in nerazzurri history.

Ano 2011 (28.5.2011)

a) Guardian (versão igual à de papel)

There was no repeat of 1968 Wembley euphoria for Manchester United in their bid to lift a fourth European Cup, just an unwelcome reminder of how it felt to be outplayed in 2009. Once again, United could not get enough of the ball to do themselves justice, once again their most experienced players were unable to impose themselves and for a second time in three seasons, Barcelona did almost exactly as they pleased.

It is supposed to be United who do what they want, but they were even more comprehensively taken apart than was the case two years ago. With Lionel Messi dazzling once again, United only had Wayne Rooney's aggression with which to counter some scintillating passing and movement, and only some erratic, almost casual finishing from the Spanish side prevented the score reflecting what a mismatch this really was. Barcelona could easily have been three goals to the good by half-time, and must have been in double figures for scoring opportunities in the second half by the time David Villa scored a third to kill off any faint United hopes of recovery.

Barcelona had been unable to name quite their strongest team too, with their influential captain, Carles Puyol, only fit enough for a place on the bench and Javier Mascherano having to continue as emergency centre-half. The United line-up was the one everyone had guessed in advance, though Sir Alex Ferguson too sprang a

Page 158: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

157

surprise among the substitutes, with Michael Owen's selection nudging Dimitar Berbatov out of the entire squad. In the end, Puyol came on for the last couple of minutes, with Barcelona in celebratory mode well before the end. Owen stayed in his seat.

United began like a team with a well-drilled plan, with Park Ji-sung quickly closing down Dani Alves, and Rooney enjoying some success in the air against Mascherano. For almost 10 minutes, Barcelona were penned in their own half, though not uncomfortably so. The closest United came to an early breakthrough was a raking pass from Ryan Giggs that almost found Javier Hernández in space, but Gerard Piqué just got away with a risky interception.

Messi had been content in the early stages to alternate between positioning himself high up the pitch and dropping back into his own half in search of the ball, and United sensibly declined to get dragged out of position by following him. He did not remain isolated or idle for long, and by the midpoint of the first half, Barcelona were building up attacks in the familiar waves around the edge of United's penalty area, with Xavi, Andrés Iniesta and Villa always involved but Messi never far from the ball or the point of danger. Rio Ferdinand was obliged to block a shot from Villa after Messi's pass had created the opening, Pedro Rodríguez missed the game's first clear opportunity in front of goal, Villa put a shot narrowly wide and Nemanja Vidic pulled off a superbly timed tackle to stop Messi in full flight in the area before the United fans had a chance to catch their breath.

When mistakes from Antonio Valencia and Giggs offered Messi a chance that he was surprisingly slow to accept, allowing Ferdinand to dispossess him, Ferguson's furious reaction showed the strain United were being put under. A couple of minutes later, almost inevitably, the first goal arrived. Xavi ghosted across the edge of the United area, biding his time, keeping the defence guessing, until releasing Pedro on the right with a flick of the outside of his boot. United realised a fraction too late that here was an option they did not have covered, and Edwin van der Sar was beaten by a low shot into his bottom left corner.

What United had to do now was find a better reaction than they managed in Rome two years ago, when their self-belief and organisation began to wilt as soon as Barcelona took the lead, and remarkably they found it within seven minutes. When Michael Carrick and Fábio won the ball following a Barcelona throw on the right, Rooney set off on a determined diagonal run, exchanged passes with Giggs and hit a confident drive beyond Victor Valdés as soon as he had a clear sight of goal. Encouraged as United were by the equaliser, they could still have been a goal down at the interval. Messi carved them open once more, yet somehow failed to apply the finishing touch when Villa declined to shoot and rolled the ball invitingly across the face of goal. It was a bit like Arsenal; over-elaboration when a more direct approach might have paid off, but not so much like Arsenal that United could kid themselves their opponents would fall to pieces in the second half.

Nor did they. From the moment Mascherano began the second half with a buccaneering run from his own half into the United penalty area, to the 54th-minute shot from Messi that restored Barcelona's lead, United were hardly able to get a touch of the ball. Barcelona were not stroking it around in their own half either, or moving sideways and backwards in the way they sometimes do. They were creating clear openings and, if anything, wasting them through being overambitious. Alves had already hit a post and Patrice Evra cleared off his line before Messi claimed his first goal in England. By that stage, he could reasonably have had a hat-trick, but perhaps tired of overcomplication, he settled for banging the ball past a possibly unsighted Van der Sar after Iniesta had found him on the edge of the area.

With the game being played at one end to an almost embarrassing degree, Barcelona were queueing up to take shots at Van der Sar before Villa scored the third. The goalkeeper made notable stops from Messi, then Xavi, then Iniesta, but had no chance with Villa's exquisite curler, after Nani had come on for Fábio and was immediately let down by his first touch. He probably should not reproach himself too much. Standing next to Messi, almost anyone in the world would look clumsy. The same seems to apply to any side unlucky enough to encounter Barcelona in a Champions League final.

Link: http://www.theguardian.com/football/2011/may/28/barcelona-manchester-united-champi ons-league-final

b) BBC (exclusivo online)

Barcelona delivered a masterclass to inflict another Champions League final defeat on Manchester United as Lionel Messi inspired an emphatic victory at Wembley.

Manchester United's hopes of emulating their first European Cup final success here against Benfica in 1968 foundered as Barcelona deservedly repeated their win against Sir Alex Ferguson's side in Rome two years ago.

Page 159: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

158

The pattern of an entertaining game bore an uncanny resemblance to events in the Stadio Olimpico in 2009 as United started with optimism and intent before being swamped by Barcelona's brilliance.

Pedro gave Barcelona the lead from one of the many wonderful passes played by Xavi - but Wayne Rooney lifted the gloom during a torrid spell for United with a fine equaliser following a swift exchange with Ryan Giggs.

Barcelona responded by cranking up what Ferguson labelled their passing "carousel" after the break, with man-of-the match Messi at the centre of events as he tortured United.

Messi's magical feet were decorated by luminous green boots but it was his talent that illuminated Wembley and United's night was effectively over once he restored Barcelona's lead with a powerful drive early in the second half.

David Villa's spectacular third emphasised the gulf in class between the sides and United never threatened to mount the sort of dramatic recovery that has become their trademark.

Ferguson and his players were disconsolate at the final whistle as the nightmare of Rome was revisited but there was no shame in their defeat by one of the finest club sides the game has seen.

There was to be no fulfilling of the destiny United hoped was theirs and no dream conclusion to goalkeeper Edwin van der Sar's glittering career as he was powerless to prevent Barcelona's constant wave of beautifully crafted moves.

And as veteran Paul Scholes, who made a brief appearance as substitute, walked up to collect his losers' medal, thoughts turned to whether this was also his final bow as he considers his future at Old Trafford.

United had hoped to add a fourth victory in Europe's elite club tournament to a record 19th domestic title - instead they received a brutal lesson in the standards they must achieve from the Barcelona benchmark.

Ferguson insisted he had learned the lessons of defeat in Rome but the same problems swiftly resurfaced as Barcelona stamped their authority on midfield and Messi roamed free to inflict damage, adding another Champions League final goal to the one that sealed victory against United in their previous meeting.

United may dominate in England but Barcelona demonstrated once more, in front of Wembley and an estimated television audience of 300m, that they are peerless on the European stage.

Ferguson, as expected, opted to keep faith with the attacking partnership of Rooney and Javier Hernandez - but there was bitter disappointment for leading scorer Dimitar Berbatov, who failed to even make the substitutes' bench, Michael Owen getting the nod.

United's intentions were clear in the opening exchanges with a high-tempo approach designed to deny Barcelona time and space while pushing them back towards their own goal.

After early encouragement, however, Barcelona settled into their smooth passing style and started to give United a rough ride as they struggled to maintain any measure of authority and control was lost.

Pedro flashed the first ominous sign with a shot just wide before Van der Sar saved well low down from Villa. The goal was coming and it duly arrived after 27 minutes.

Xavi had been immaculate on the ball, dictating terms at every opportunity, and another masterly piece of creation played in Pedro, who had time to wrong-foot Van der Sar with a simple finish.

United's thoughts were scrambled as Barcelona moved the ball around with ease. Ferguson cut an agitated figure in the technical area as he pleaded with his players to concentrate in the face of the Catalans' domination.

It needed a moment of inspiration to lift United's spirits and Rooney provided it with the equaliser after 34 minutes. He exchanged passes with Giggs before sweeping a right-foot finish high past Victor Valdes.

Barcelona were swift to regain their composure and almost restored their advantage seconds before the interval when Messi somehow failed to apply the final touch to Villa's cross inside the six-yard area.

United were out early for the second half, presumably with the words of Ferguson ringing in their ears, while Barcelona waited in the players' tunnel for the resumption.

And when it did, Barcelona simply picked up the theme that characterised the first half. Van der Sar did well to block Alves' attempt and Patrice Evra was forced to scramble back towards his own goal to head away Messi's follow-up.

Messi's golden talent is unquestioned, but he had been helped by United's failure to get close enough to halt his advances. It was a hazardous occupation and the heavy price was finally paid after 54 minutes.

The Argentine took full advantage of United's failure to close him down 25 yards out by flashing a shot past Van der Sar with minimum backlift. The finish was central and close to the keeper but it was struck with astonishing power.

Page 160: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

159

Messi was toying with United and Van der Sar was grateful to save with his legs as he threatened once more. He then played in Alves, whose shot was stopped on the line by Fabio before Xavi ripped in another finish that was held by the Dutchman.

Ferguson attempted to stem Barcelona's tide by sending on Nani for Fabio in a positive move - but seconds later Barcelona struck again to give the scoreline a more realistic appearance.

Villa has had a mixed first season at the Nou Camp but his enduring class was evident when he curled a precise shot high past the outstretched arms of Van der Sar after 69 minutes.

The rest of the game was merely a conclusion of the formalities as Barcelona lifted the famous trophy for the fourth time and United were left to wonder how they can halt what seems to be an unstoppable force.

Link: http://www.bbc.co.uk/sport/0/football/13576522

c) Sky Sports (exclusivo online)

History repeated itself at Wembley as Manchester United were left chasing Barcelona's shadow in a European Cup final, with Pep Guardiola's side producing another masterclass in reclaiming the UEFA Champions League with a deserved 3-1 victory in the capital.

United went into half-time level after Wayne Rooney had exquisitely equalised Pedro's opener for Barcelona but after the interval had to concede to their opponent's collective and individual genius, as Lionel Messi and David Villa both etched their names on the scoresheet.

Sir Alex Ferguson's side were spirited throughout but in the end had no answer to a Barcelona team that plays a brand of football that is unparalleled in the modern game in terms of its majestic simplicity.

Before a ball had even been kicked, both coaches had demonstrated possessing backbones made of iron in making unsentimental and unflinching team selections. For United, top goalscorer Dimitar Berbatov was afforded not even a place on the substitutes' bench, with Michael Owen surprisingly preferred to the 21-goal Bulgarian to provide striking back-up for Rooney and Javier Hernandez.

Tough choices

In resisting the urge to start with the fit-again Darren Fletcher, the Scot remained true to his promise of trading blows with Barca, when many had predicted he would box clever and utilise his compatriot in a tight midfield five designed to hustle as far up the field as possible.

Guardiola sprung an even bigger shock when leaving out the club's heartbeat and captain Carles Puyel, with the Caveman of Catalunya left to lick his wounds on the bench as Javier Mascherano was selected alongside Gerard Pique at centre-half.

As the atmosphere simmered inside a stadium that housed both clubs' first European Cup wins, in 1968 and 1992 respectively, the inclusion of Eric Abidal in Barcelona's starting XI despite only having recently returned to playing after a battle with liver cancer provided a human element to proceedings that put into perspective Bill Shankly's infamous quip about life, death and its relation to football.

The opening sparring almost held up a mirror to the game which ensued in Rome two years' ago as United snarled out of the traps with a collective curled lip. The omnipresent Park ji-Sung was like a dog with a bone in gnarling at the legs of Xavi and Andres Iniesta, while Hernandez's infectious workrate and clever movement in the lines between Pique and Mascherano gave Barcelona plenty to ponder.

Bright start

Twice Victor Valdes was forced to race off his line after first Edwin van der Sar's huge clearance up field and then Ryan Giggs' more subtle threaded pass threatened to get United in behind.

As if bristled by United's brio, Barcelona soon awoke from their relative slumber to engineer chances of their own. Trademark pockets of pretty football had United at full stretch as Rio Ferdinand had to show immaculate timing on Villa to dispossess the Spaniard with his left boot cocked to strike, before Van der Sar gathered smartly as the same player looked to shoot across him from Xavi's cute pass.

Such is the precision of Xavi's passing it looks as though he has worked them out beforehand with a protractor and so it proved as Guardiola's on-field lieutenant began to dictate from the centre of the field.

It was, though, from the right that he fashioned Barca's first genuine chance as his low cross saw Pedro dart in front of Vidic before pulling the ball wide, while Villa set his sights from range before arching one a yard or so wide.

With United looking punch drunk if not quite on the ropes, Vidic had to pull off his finest Bobby Moore, circa '66 impersonation, with Messi in full flow on the edge of the box. Respite proved only to be momentary.

Page 161: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

160

With rhythmic fluidity Barcelona forged ahead in the 27th minute of an engaging first half, which Guardiola's side very much bossed in terms of possession.

Iniesta found tormentor-in-chief Xavi in the peripheral space between defence and midfield and with United's back four uncertain whether to go to the ball or back off, Barcelona struck with the clinical precision of a Mafioso hit-man.

Pedro's darting run into the space vacated by Patrice Evra's decision to track Messi was expertly found by Xavi's slide-rule pass and after wrong footing Van der Sar with his eyes, the finish was beautiful in its simplicity.

With Messi, The Flea, dropping his shoulder at will and ghosting into dangerous areas United's players looked as though they might have to resort to using a rolled-up newspaper to stop him.

If United were to exorcise the spectre of Rome an immediate response was required. Rooney had the answer.

After dropping deep close to Barcelona's left touchline he exchanged short passes with Carrick before making inroads towards Barca's box. There was a suspicion of off-side when he stabbed the ball into the path of Hernandez but when the Mexican found his team-mate with a return pass there was nothing uncertain about Rooney's finish as he empathically wrapped his boot around the ball to send it high beyond Valdes from the penalty spot.

Screamer

Barcelona were right to be shocked such was their ascendancy at that stage but still they kept playing their football as the effervescent Messi eased past Vidic with a gorgeous nutmeg before just failing to meet Villa's return pass on the stretch.

If United were happy to hear the half-time whistle to regroup the words of their manager proved fruitless, as after the interval Barcelona set about living up to their mantle as one of the world's greatest ever club sides.

Like an express train they made United look like a more prosaic steam model in comparison, as a buccaneering Dani Alves forced Van der Sar to save with his feet after Messi's pass had carved United open again.

As if hypnotised by Barcelona's almost abstract understanding of space and how to find it, United had no answers to their incessant forward forays.

Messi's 53rd goal in the 53rd minute of the final game of a most remarkable of seasons owed little to their famed passing, but rather the Argentine's innate ability to conjure something from nothing. As United backed off, Messi made a yard before unleashing a rocket of a daisy-cutter from around 20-yards that beat Van der Sar all ends up.

Messi magic

There was to be no answer this time. Instead Barcelona treated the ball expertly, caressing it around the field - teasing United's players as an alley cat would a wounded field mouse.

Just shy of the 70-minute mark, Messi turned from goalscorer to architect as he laid on a stunning third for Villa. Bewitching Evra on the left flank he cut inside United's box at speed. As Nani failed to clear, Sergio Busquets was allowed to nudge into the path of Villa, whose curling finish into the top corner from the edge of the area was no less than a masterpiece.

United never let their heads drop as Rooney scooped onto the top of the net and Giggs cried penalty when striking the ball onto the hand of Villa but in truth, Ferguson must have known this was a bridge too far, even for a Manchester United side famed for its ability to conjure miracles in the face of adversity.

Paul Scholes and Puyol were handed touching cameos but the likely last game in the Manchester United legend's career will be remembered for Barcelona's brilliance in claiming a fourth European crown. It was one they richly deserved.

Link: http://www1.skysports.com/football/live/match/234950/report

d) The Daily Telegraph

Beneath the soaring Wembley arch, Barcelona ascended to new heights. Inspired by an exhilarating Lionel Messi, Pep Guardiola’s team swept past Manchester United in a thrilling performance and, with their third Champions League title in the last six seasons, they earned the right to be called one of the very greatest club sides in the history of the game.

United had their moments of sporadic resistance and Wayne Rooney, who fought defiantly, scored a superb equaliser in the first half but ultimately Barcelona were simply too good. There might have been parity in

Page 162: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

161

the half-time scoreline but, as Messi and David Villa scored in the second half, the gap in class was impossible to deny.

This 90 minutes of excellence was the consummation of the Dutch philosophy imported to the club by Johan Cruyff two decades ago, refined by Frank Rijkaard and now perfected by Guardiola. The Barcelona manager was on this pitch when his club won their first European Cup back in 1992 but not even Cruyff’s Dream Team are a match for this gifted group.

The statistics cannot convey the style in which Barcelona played but they can give you an indication of their dominance. They had 19 attempts on goal to United’s four, had 67 per cent of the possession and completed 667 passes to United’s 301. They imposed themselves with near total authority.

Sir Alex Ferguson was gracious in defeat, quick to congratulate Barcelona. He had spent the last fortnight on the training ground trying to concoct a way of disrupting the mesmeric passing of this team, trying to find a way to stop this being a repeat of the 2009 defeat.

Where he had tried to contain them in Rome, this time he decided to be bold, sending out a team with two strikers and two wingers.

For the first 10 minutes it looked like it was working. United started with intensity and aggression, giving Barcelona a taste of their own full-court press. Ji-sung Park made three superb tackles in the first five minutes alone, including one on Messi. Without the leadership of Carles Puyol, not fit enough to start, the Barcelona defence looked rattled. Victor Valdes had to come racing off his line to punch the ball away from Rooney and then Gerard Pique almost passed the ball beyond the Barcelona goalkeeper under pressure from Javier Hernández.

Once that initial burst of energy waned, Barcelona found their composure. Xavi took control and Messi made his first darting run of the game, finishing it with a pass to Pedro - Nemanja Vidic had to be alert to close him down.

Villa hit one crisp shot wide and had another saved by Edwin Van der Sar and first Vidic and then Rio Ferdinand tackled Messi brilliantly but, having started with a high defensive line, United were being pushed deeper and deeper. They were struggling to hold on to the ball when they won it back, and there was an edge of desperation about their passing. Hernández, nervous, struggled and was repeatedly offside.

It was little surprise when Barcelona took the lead. Andres Iniesta exchanged passes with Sergio Busquets before poking the ball through to Xavi. Ryan Giggs was not close enough and the Barcelona captain, head up, eyes darting, closed on the United box, flicking an exquisite pass with the outside of his boot to Pedro. The Barcelona forward had discreetly evaded Patrice Evra and Vidic could not get across in time to prevent him from passing the ball past Van der Sar at the near post.

Ferguson was becoming animated on the touchline, clearly frustrated at the way his team were surrendering possession. Yet United were not going to roll over, equalising with a goal in the style of their opponents.

Rooney picked up a loose ball on the right and played a quick one-two with Michael Carrick before surging towards the Barcelona box. He then flicked the ball to Giggs with the outside of his boot and the Welshman, who replays showed was just offside, cushioned it with his thigh before teeing up Rooney again. The England striker crashed his powerful shot past Valdes.

Not that Barcelona appeared shaken. A brilliant free-kick routine between Xavi and Busquets almost found Pedro and then Messi set off on one of his incredible runs, skipping clear of Vidic, sprinting away from Carrick before finding Villa on the right with a perfect pass. Villa’s return cross was just ahead of the Argentina forward.

United could not keep Barcelona out for long, though, not sitting that deep and with that little of the ball. Iniesta and Xavi were almost at walking pace in the last third when they worked the ball to Messi, who drove to the ‘D’ and shot low and into the net. He should have been closed down more effectively but the shot was almost in the middle of the goal and it was a concession way below Van der Sar’s usual standards.

The Dutchman did his best to make up for it, saving first from Messi with his legs and then brilliantly from Xavi’s curving shot from range. There was, though, nothing he could do to stop Barcelona’s third.

Messi again went shimmying into the United area and the ball broke to Busquets. He rolled it to the edge of the area where Villa had taken up position, rolling his studs over the ball before striking an accurate, dipping shot into the top corner.

There were sporadic efforts on United’s part to get back into the game. Rooney hit a shot on to the roof of the net from outside the area and Giggs was convinced his team should have had a late penalty. It showed the

Page 163: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

162

mental strength of those two players that they refused to give up — even against all the evidence of Barcelona’s superiority.

Link: http://www.telegraph.co.uk/sport/football/competitions/champions-league/8542452/Barce lona-3-Manchester-United-1-match-report.html

Ano 2012 (19/05/2012)

a) Guardian

These are the moments Chelsea will always cherish and never forget. They gave everything and finally, when it was all done, they had the European Cup in their possession and a night that will go straight in at No1 in their list of great triumphs from the Roman Abramovich era.

It was a rare form of euphoria on a night when, just like Moscow four years ago, it came down to the gut-wrenching drama of a penalty shootout. At one stage Bayern Munich were leading 3-1 and the Chelsea players stood in line, heads bowed, fearing the worst. Juan Mata's effort had been saved by Manuel Neuer and at that point Roberto Di Matteo's players knew they were on the brink of walking past the European Cup and not being allowed to touch the silver.

What happened next was extraordinary and went against everything we know about the efficiency of Bundesliga clubs and penalties. Petr Cech started the turnaround by saving from Ivica Olic and with Bayern's next effort Bastian Schweinsteiger's shot came back off the post. David Luiz, Frank Lampard and Ashley Cole had all beaten Neuer and suddenly, almost implausibly, it was left to Didier Drogba with probably the last kick of his last match for the club. What a parting gift the Ivorian may have left considering that it was also his 88th-minute goal that had dragged this final into extra time, just as Thomas Müller's goal looked like giving Bayern their fifth victory in this competition.

The trophy was being adorned with red and white ribbons by the time Drogba headed in the equaliser and when it was all over the Bayern players were on their knees. Arjen Robben could barely be lifted from the turf and Schweinsteiger's personal grief had started even before Drogba began the long walk from the centre circle to the penalty area. High in the stands Abramovich could be seen doing that little uncoordinated hop and skip, reminding us that for all the money in the world there is no possible value that can be put on this kind of occasion. Chelsea's owner held Di Matteo in an emotional clinch that makes you wonder how he could possibly now move on the Italian this summer.

This may not be the most exhilarating Chelsea team but nobody can dispute their resolve because those final dramatic moments told only part of the story on a night when Cech also saved Robben's penalty in the first period of extra time. Chelsea's goalkeeper seemed to fill the entire goal at times and probably had legitimate claims to be recognised as the most heroic figure. There were, however, plenty of contenders.

What should not be overlooked is that Bayern are formidable opponents on this ground, with only two home defeats here in the Bundesliga, 49 goals scored and six conceded. They played with great adventure, attacking from the flanks. On one side, Robben was an indefatigable opponent, picking up the ball from deep positions and driving forward. On the other, Franck Ribéry was a constant menace until he was injured in the foul by Drogba that gave Robben the chance to win the game against his former club. It was a silly trip from Drogba and Robben struck his penalty cleanly enough, low to Cech's left. Cech smothered the shot and was first to the loose ball and for the first time you could detect the nerves from the end where Bayern's most beery, boisterous fans had produced a banner before kick-off describing the cup as unser pokal – our trophy.

Chelsea had to endure some intense pressure. Not quite as relentless as the two legs of their semi-final against Barcelona but fairly unremitting all the same. Once again, they had to defend with great togetherness and commitment and their opponents were left to wonder how on earth they had not turned their superiority into goals. With some better finishing, the game would never have reached extra time. Even then, Olic will wonder how he missed the chance that fell to him, unchallenged, after 108 minutes of mostly one-sided action.

Chelsea, in stark contrast, rarely threatened the opposition's goal but it was probably inevitable when two-thirds of the stadium was bedecked in red and their opponents had so many accomplished players. This was a patched-up side in many ways, with John Terry watching from the stands, another three players suspended and two centre-backs coming back from month-long layoffs. David Luiz and Gary Cahill were outstanding. Cole showed, once again, that he is one of the great big-game footballers and behind them they had a goalkeeper delivering a giant performance.

Chelsea may not have offered a great deal going forward but they played as though affronted by the suggestion that Terry's absence would play a critical part.

Page 164: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

163

Their tactics were epitomised by Ryan Bertrand's involvement on the left of midfield, often doubling up with Cole so that Chelsea effectively had two full-backs in close proximity to Robben. In midfield, Lampard curbed his natural attacking instincts to play a more conservative role alongside Mikel John Obi. Di Matteo had set up Chelsea to play very much as the "away" team, meaning Drogba was often isolated in attack. In the end, you would have to say the manager got it spot on.

Their resistance broke only once, on 83 minutes, when Müller stole in behind Cole to score with a stooping header. A lesser side would have hoisted the white flag but what has become very apparent since Di Matteo took over from André Villas-Boas is that is not the way of this Chelsea team. Mata's corner was whipped across the penalty area and Drogba was fast and decisive, flashing his header into the top corner.

Then the penalties arrived and with their first three attempts, Philipp Lahm, Mario Gomez and, remarkably, Neuer, all scored. At that stage who could have imagined Terry would be walking up the steps to help Lampard lift the trophy?

Link:http://www.guardian.co.uk/football/2012/may/19/bayern-munich-chelsea-champions-league-final

b) BBC (exclusivo online)

Chelsea stunned Bayern Munich in a dramatic penalty shoot-out at the Allianz Arena to win the Champions League for the first time.

Thomas Mueller's late header put Bayern on the brink of victory on home territory but Didier Drogba levelled things up with a bullet header at the death before coolly converting the decisive spot-kick.

The tournament which gave Chelsea their greatest agony when they lost on penalties to Manchester United four years ago in Moscow has now delivered the greatest glory in their 107-year history.

Juan Mata missed Chelsea's first penalty but David Luiz, Frank Lampard and Ashley Cole were all successful. Philipp Lahm, Mario Gomez and goalkeeper Manuel Neuer were all on target for Bayern.

The momentum shifted decisively when Cech denied Ivica Olic and Bastian Schweinsteiger hit the post to leave Chelsea on the brink and present Drogba with his moment of destiny.

He was calmness personified as he rolled the ball past Neuer to spark wild scenes of elation among Chelsea's players, staff and supporters.

Suspended captain John Terry joined the celebrations and lifted the trophy alongside Lampard but it was Drogba who was the hero, running the length of the pitch swirling his shirt above his head in triumph, as owner Roman Abramovich finally claimed the prize he craved above all others.

The questions will now start about the future of interim manager Roberto Di Matteo - who has given the Russian what he wanted after so many painful failures, including that defeat on penalties by Manchester United in the rain of Moscow in 2008 which also saw Drogba sent off.

And it is hard to see how Drogba, now 34 but still able to produce the brilliance that defines big occasions, can be allowed to walk away as his contract reaches its conclusion.

This was a victory in the mould of Chelsea's semi-final win against Barcelona, built on resilience, discipline, defensive organisation and nerve at the crucial times and done without the suspended Terry, Branislav Ivanovic, Ramires and Raul Meireles.

Abramovich will leave the big decisions for another day, but this was a night he and his club have desired since he walked into Stamford Bridge nine years ago - and achieved with an interim manager he had to appoint after sacking his personal choice, Andre Villas-Boas.

Terry was locked in conversation with former England coach Fabio Capello at pitchside before kick-off, the defender looking ruefully around the magnificent arena as he contemplated missing out because of his red card in Barcelona.

And Di Matteo delivered a surprise in his starting line-up, with youngster Ryan Bertrand handed a role on the left flank in front of Cole in an attempt to stifle the threat of former Blues winger Arjen Robben.

Chelsea's blanket of defensive defiance served them well in the Nou Camp - and acted as a dress rehearsal for a first half spent almost entirely in their territory.

While the west London team were organised and resolute, they were also grateful that Bayern striker Gomez's touch in front of goal deserted him at decisive moments.

Cech saved with his legs from Robben, but Gomez was guilty of failing to control just eight yards out when Franck Ribery's shot landed at his feet, the German striker shooting wildly off target after a smart turn in the area.

Page 165: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

164

Chelsea's only serious response was a shot from Salomon Kalou eight minutes before half-time that was comfortably held by Bayern keeper Neuer.

The pattern continued after the break and Ribery thought he had finally pierced Chelsea's resilience after 53 minutes, only to be ruled offside when Cole deflected Robben's shot into his path.

At times this encounter was simply a matter of Bayern's attack against Chelsea's defence.

There was a rare moment of anxiety for Neuer when he could only half-clear Cole's cross as he backpedalled, but Drogba's shot lacked power and the keeper was able to recover.

As the frustration grew among the massed Bayern support they wasted another opportunity as Mueller pulled another presentable chance well wide from inside the area.

Mueller made amends in the best possible manner though, when he headed Bayern in front with seven minutes left. He arrived unmarked onto Toni Kroos' cross to head past Cech.

Chelsea immediately sent on Fernando Torres for Kalou - but it was the man for the big occasion who delivered again in the 88th minute. Drogba won himself just enough space at the near post to meet Lampard's corner and head powerfully past Neuer, who got a touch but could not keep it out.

Drogba went from hero to villain in the opening moments of the extra period when he conceded a penalty after bringing down Ribery with a reckless challenge. The France international was eventually taken off injured but in the meantime Chelsea keeper Cech was the saviour as he plunged low to save Robben's poorly struck spot-kick.

Bayern had been over-generous in front of goal and were architects of their own frustration after 107 minutes when Olic tried to set up Daniel van Buyten in front of an open goal but the defender failed to react to his pass.

And so to penalties and the dramatic conclusion that gave Chelsea the biggest prize in European domestic football as the Champions League finally went to Stamford Bridge.

Link: http://www.bbc.co.uk/sport/0/football/18044385

c) Sky Sports (exclusivo online)

Didier Drogba tucked away the decisive penalty as Chelsea fulfilled a long-standing ambition to win the UEFA Champions League after a thrilling shoot-out victory over Bayern Munich in the Allianz Arena.

Bayern had numerous chances to wreck the dream of Chelsea owner Roman Abramovich, manager Roberto Di Matteo and his players, and even led 3-1 in the shoot-out after goalkeeper Manuel Neuer had scored.

But Ivica Olic and Bastian Schweinsteiger both failed from the spot to allow Drogba, on potentially his final appearance for the club, to step up to erase the heartache of Moscow four years ago.

Thomas Muller's 83rd minute header had earlier appeared likely to give Bayern victory on their home ground, only for Drogba's stunning riposte to send the game into extra-time.

Drogba blotted his copybook by conceding a penalty early into extra-time, only for Petr Cech to deny Arjen Robben and the veteran Ivorian, who was sent off in the final against Manchester United in 2008, completed his redemption by maintaining his composure in the shoot-out.

Di Matteo sent Chelsea out with a game-plan to contain Bayern and, for the most part, the policy worked as Jupp Heynckes' side sought to pick holes in a resolute defence.

Midway through the first half, Robben wriggled into space inside the box, but the former Chelsea winger was denied by a smart reaction stop from Cech, who diverted the ball onto the post.

Mario Gomez, who had scored 20 goals in his previous 17 Champions League appearances, was enduring a frustrating night and he skied over just before half-time as Bayern remained the dominant force.

The second half followed the same pattern as the first as a marginal offside decision against Franck Ribery went Chelsea's way when the French winger turned home the loose ball after Robben's shot had been blocked by Ashley Cole.

The Blues full-back appeared to be a magnet for the ball inside the box, but a momentary lapse from Cole allowed Bayern to take the lead with seven minutes to go.

Toni Kroos curled in a cross from the left and Cole seemed unaware of Muller's presence behind him at the back post as the Germany international's header bounced down and over Cech before going in off the underside of the crossbar.

Bayern brought on Daniel van Buyten in a bid to shut the game down, but were punished with two minutes left when Drogba powerfully headed home at the near post from Chelsea's first corner of the game.

Page 166: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

165

Drogba looked primed to go from hero to villain three minutes into extra-time when he tripped Ribery in the box, but Cech spared the striker as he kept out former team-mate Robben's low penalty.

Cech was again on song in the shoot-out to thwart substitute Olic and Schweinsteiger before Drogba sent the travelling Chelsea hordes into raptures.

Overjoyed

From his place in the stands, Chelsea's Russian owner Abramovich was clearly overjoyed, as was the suspended John Terry, who watched the tense shoot-out unfold from the touchline, on roughly the same spot he had prowled three hours earlier.

It was the most visual example of the damage Chelsea did to themselves by getting four men suspended in that backs-to-the-wall semi-final epic with Barcelona.

And once the game started, it was just the kind of blood-and-guts encounter Terry excels in.

Assisted by the obvious advantage of playing at home, Bayern got themselves on the front foot immediately and were rarely pushed back.

The nearest they came was when former Chelsea man Robben glided past two defenders, then drilled a low shot towards goal, which Cech managed to deflect high onto a post, with Robben barely able to believe he had failed.

Robben had another couple of chances, although neither were as good as the one that Muller volleyed wide.

Robben and Muller combined to create an opening for Gomez that he looked certain to capitalise on after a deft body movement had left Gary Cahill stranded, only for the Bayern sharp-shooter to lash over.

Menace

Handed a surprise start, Ryan Bertrand coped well. It was on the other side where Ribery was proving to be a complete menace.

What they did at the Camp Nou, though, has given Chelsea immense belief in their own durability.

Indeed, they might have had something to celebrate themselves had Juan Mata kept his curling free-kick down or Salomon Kalou been able to direct a shot away from Neuer after Frank Lampard and Drogba combined to set him up from an admittedly acute angle.

The pattern continued after half-time and Ribery thought he had grabbed a deserved opener when he snaffled the loose ball after Cole had blocked Robben's goalbound shot. The offside flag cut German celebrations short.

Cole's involvement was part of an outstanding contribution from the full-back, who seemed to be in the way of nearly all the threats to Chelsea's goal.

He denied both Robben and Kroos as Cole enhanced his status as one of the few truly world-class players England coach Roy Hodgson will have at his disposal at Euro 2012.

The sense of Chelsea disappointment at Bayern finally breaching their defences must have been made more acute by the knowledge that, when Kroos curled a cross beyond the far post, there appeared very little danger.

Surprise

Muller intelligently headed the ball hard and down, which meant it bounced up towards the crossbar, possibly catching Cech by surprise as he seemed in the perfect position to prevent it ending up in the net.

But Abramovich's team are made of stern stuff. And with barely a minute remaining, and Muller replaced by an extra defender in Van Buyten, Drogba rose at the near post to power Mata's corner home.

This time there was nothing the goalkeeper could do, the ball speeding past Neuer at such pace, from so close, there was no time for reaction.

The drama continued into extra-time as Drogba bundled Ribery over in the box.

Robben seemed unaffected by the delay as his penalty headed for the bottom corner. Cech was equal to it though, making a superb save to his left and then smothering the rebound.

It was the kind of moment that made you think fate had decreed a Chelsea win, a belief only strengthened by Bayern passing up two clear openings in the second period of those additional 30 minutes.

As Di Matteo pointed out on Friday, you make your own luck. More than anyone, he deserves praise for hauling round a season that appeared to be heading for disaster in February and he must now wait to learn if he will keep the manager's job permanently.

Link: http://www1.skysports.com/football/live/match/259018/report

Page 167: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

166

d) The Daily Telegraph

It came down to this: Didier Drogba standing alone, facing the vast banks of the whistling Bayern Munich fans. This was his moment to make history.

In goal Manuel Neuer stood imposingly tall, stretching up to rattle the bar. Into that wall of noise, Drogba strode forward and struck the ball low and to his left. With what could prove his last kick of a ball in a Chelsea shirt, Drogba won the European Cup.

Frank Lampard and John Terry hoisted the trophy together as those Bayern players and supporters who could stomach it, watched on in disbelief. This was the fitting finale to European campaign that has stretched credibility.

Chelsea were written off in Naples, were given the longest of odds with 10 men in Barcelona and were a minute away from defeat here in the Allianz Arena, having been thoroughly outplayed by a classy Bayern side.

Yet the German club had wasted chance after chance before finally going a goal up with eight minutes to go thanks to Thomas Müller.

Chelsea had little more than faith to cling to. But it was enough. Drogba rose to smash in a header from Juan Mata’s corner with 89 minutes played to send the game into extra time.

For the Bayern fans there were ominous echoes of their dramatic capitulation to Manchester United in 1999.

Arjen Robben then missed a penalty for Bayern, recklessly conceded by Drogba, and Bayern continued to miss chance after chance as Chelsea crept closer to the shoot out.

It was a triumph of bloody-minded refusal to capitulate, and with it Chelsea have taken their place among the European aristocracy, become the 22nd club to win the European Cup.

In a season when the likes of Lampard, Drogba and Ashley Cole were told they were finished, past it, they produced their greatest victory of all.

Surely now Roberto di Matteo must be given the job of leading this Chelsea team into next season, his players gave everything for him, fighting through cramp and exhaustion to defy Bayern in their own stadium.

Roman Abramovich, who was seen clapping and signing along with the fans as they celebrated as secured his treasured ambition and the man that delivered it will surely be rewarded.

Even in the shoot out, Chelsea had to come from behind. Philipp Lahm had already converted Bayern’s first penalty when Juan Mata saw his effort saved by Manuel Neuer.

Both sides kept scoring until Bayern’s fourth effort, when Petr Cech plunged to his left to claw away Ivica Olic’s effort.

Ashley Cole whipped his effort past Neuer and then Cech pulled off his second heroic save, pushing Bastian Schweinsteiger’s effort against the foot of the post.

Some of the Chelsea players thought that was it, the tension clearly getting to them as they ran onto the pitch in premature celebration. The calmer heads called them back. Drogba still had to apply the coup de grace.

As his team-mates celebrated wildly in front of their own fans, Drogba sought out Arjen Robben and Bastian Schweinsteiger, seeking to console his vanquished rivals.

The Bayern pair had been superb all game, as Bayern dominated Chelsea but Robben missed a penalty in extra time and Schweinsteiger missed the decisive penalty in the shoot out.

It was a moment of dignified sportsmanship amid the turbulent emotion and recognition of what Bayern had given to this game.

Bayern had begun with an imposing declaration of intent. As the kick off approached, the Bayern end unveiled a huge flag in the shape of the European Cup.

The message on the accompanying banners made it clear: our city, our stadium, our trophy. An act of hubris? For much of the game it appeared a simple statement of fact.

With Robben and Franck Ribery flying, Bayern threatened to overrun a Chelsea team that dropped deeper and deeper. Just as they had in the Nou Camp, though, Chelsea’s defenders hurled themselves in to tackles and blocks.

Gary Cahill, David Luiz and Ashley Cole were superb, slamming the door every time Bayern seemed to push it open.

Luck played its part too. When Cech could only get a boot on to Robben’s low shot in the first half, it squirted up and hit the top of the post. Such are the fine margins between success and failure.

Page 168: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

167

For most of the game Toni Kroos and Schweinsteiger kept weaving the ball around the pitch, keeping Chelsea claustrophobically trapped in their own penalty area, trying to slowly suffocate the fatigued men in blue.

Chelsea’s attacks were sporadic, Drogba getting only fleeting sight of the ball. It took them over half an hour to register their first effort towards goal.

Bayern just kept missing. Mario Gomez could not get the bounce of the ball and Robben’s shooting was all over the place. As the game drew to a close it was the energetic Müller carrying the threat.

Cole was booked for bringing him down on the right after a neat run and then he had a far post header saved by Cech.

You could not say that Chelsea had not been warned. It lent his goal a sense of inevitability. Kroos flighted an in-swinging cross from the corner of the penalty area on the Bayern left.

Müller did not have much of an angle to work with but he deceived Cech by heading directly down into the turf, the ball bouncing up and past the Chelsea goalkeeper. The game was surely up.

This Chelsea team do not know when they are beaten, though. With a minute left, and the Bayern fans celebrating, Chelsea won a corner on the right-hand side and Mata sent a crisp delivery into the near post.

Drogba, soaring through the air, whipped his head through the ball, sending it hurtling in at the near post. The drama was only just beginning.

Link: http://www.telegraph.co.uk/sport/football/competitions/champions-league/9272510/Bayern -Munich-1-Chelsea-1-aet-Chelsea-win-4-3-on-pens-match-report.html

Ano 2013 (25/05/2013)

a) Guardian

It was a night of outstanding drama, fully reaffirming all the eulogies about German football, and when it was all done Bayern Munich had won their fifth European Cup and we were reminded what a brutal business football can be when it comes to making losers of heroes.

For everything wonderful that had occurred on the pitch, some of the lingering memories came afterwards as Bayern's victorious players soaked in the euphoria of Arjen Robben's late, decisive goal and, simultaneously, the players from Die Schwarzgelben were on the floor, many in tears, with Jürgen Klopp watching from the side, standing still for possibly the first time on the night. His players had given everything, as they have throughout the competition. They had played with drive and ambition, utterly devoted to the idea of returning this trophy to Westphalia, and what a terrible pity it would be if a side with this talent are to be broken up.

Yet this is some Bayern team and they deserved their victory because of the way they gradually asserted control when the goals arrived in the second half. It was still a night when Manuel Neuer was often Bayern's outstanding performer, particularly in the first half, but the same could also be said of Dortmund's goalkeeper, Roman Weidenfeller. Klopp's men were being pinned back in the 10 minutes or so preceding Robben's goal and, as well as some superb goalkeeping, they had been indebted to a quite extraordinary goal-line clearance from Neven Subotic.

Dortmund, so dignified in defeat, will probably always wonder what might have happened if Dante had been sent off for the challenge that gave Ilkay Gundogan the chance to equalise from the penalty spot, eight minutes after Robben had set up Mario Mandzukic for the opening goal. They will reflect on the opportunities they passed up early in the match, when Neuer was much busier than might have been anticipated, and when the anguish has subsided a little maybe they will remember the ovation from both sides of Wembley that marked their epic journey to this final, starting from a position of near-bankruptcy only eight years ago.

Bayern, however, had worn them down and it culminated in that moment, after 89 minutes, when Robben set off through the middle, trying to get on the end of a backheel from Franck Ribéry, and benefited from a lucky ricochet off one of the defenders in close proximity. Suddenly Robben was free, bearing down on goal with only Weidenfeller to beat. Twice in the first half he had been in a similar position and come off second best. This time, he took his shot early, stabbing it to the goalkeeper's left and it was not long afterwards that he and his team-mates could be seen giving the bumps to a little white-haired man by the name of Jupp Heynckes.

Bayern have moved level with Liverpool as the joint third most successful club in the history of this competition, behind Real Madrid's nine wins and Milan's seven. In the process, they have surely killed off all

Page 169: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

168

the allegations about this being a team who had forgotten how to win this competition, on the back of five defeats in their previous six finals.

They had to withstand some prolonged pressure at the start but there was always that sense Dortmund would regret not putting away one of those early chances. The snapshot from Jakub Blaszczykowski, perhaps, after a quarter of an hour, or the opportunity that fell to Robert Lewandowski after 34 minutes. As Klopp acknowledged, their problem was the same one Bayern had faced for long parts of the match: they were facing a goalkeeper at the top of his game.

The first half had flowed nicely, initially with Dortmund in control, then Bayern having a turn, with sporadic bursts of attacking football from both sides. It was after the interval that the game fully ignited.

Just before the hour, Robben wandered over from his starting position on the right to double up with Ribéry on the left. As Ribéry ran at a clutch of defenders, Mandzukic would have been offside if the cross had reached him directly. Instead, Ribéry clipped the ball into Robben's path. Weidenfeller was forced to leave his line and that left the goal exposed as Robben swerved to the goalkeeper's left and turned the ball across the six-yard area. From a yard out, Mandzukic could hardly miss.

Dante, already booked, should have been sent off for the carelessly high, studs-up challenge that hacked down the excellent Marco Reus for Dortmund's penalty. It should have been a mandatory second yellow card from the Italian referee, Nicola Rizzoli, and that oversight had considerable consequences bearing in mind the way an equaliser against 10 men would have swung the game in Dortmund's favour. As it was, Gundogan's penalty was expertly placed to Neuer's left without shifting the sense that Bayern had started to look the more accomplished team.

The drama was almost unremitting from that point onwards, not least that moment when Subotic flung himself full length to hook Thomas Müller's effort off the line, right beside the post as Robben came in from the other side. That moment alone epitomised Dortmund's efforts.

As well as thwarting Robben, Weidenfeller had tipped a Mandzukic shot on to the crossbar in the first half. Now he had to keep out left-foot efforts from David Alaba and Bastian Schweinsteiger. The momentum had been turning against Klopp's men and it culminated in that final surge from Robben, a prod of the ball that took it over the line almost in slow motion, and Bayern had been reunited with the trophy they cherish above all.

Link: http://www.guardian.co.uk/football/2013/may/25/borussia-dortmund-bayern-munich-cham pions-league

b) BBC Sports (exclusivo online)

Arjen Robben's late winner exorcised the demons that have haunted him and Bayern Munich in the Champions League as they won a pulsating all-Bundesliga encounter against Borussia Dortmund.

The tournament's recent history has offered little other than unrelenting misery for Robben and Bayern - but the agony is over after a colourful, enthralling final that confirmed Germany as the new power base of European domestic football.

Bayern had lost two finals in three years, including defeat on penalties to Chelsea in their own Allianz Arena 12 months ago, but on this occasion they cast off the tag of losers to claim the crown for the fifth time.

Only Real Madrid (nine) and AC Milan (seven) have won this tournament more times and the taste of victory was even sweeter for 29-year-old Robben and veteran Bayern coach Jupp Heynckes, who steps aside to hand over to Pep Guardiola at the end of this season.

Heynckes will have the chance to bow out with a Treble; Bayern have already won their league and face VfB Stuttgart in the German Cup final next Saturday.

Robben was reduced to tears at the final whistle after playing in Bayern's losing finals against Inter Milan and Chelsea, when he missed an extra-time penalty, and also losing semi-finals to Liverpool in 2005 and 2007 during his Stamford Bridge career.

And for 68-year-old elder statesman Heynckes, this was the perfect parting gift and proof of his enduring powers. He has provided a hard act for Guardiola to follow, even with his outstanding track record of success at Barcelona, which included two Champions League triumphs.

Robben, however, was the central figure as he set up Mario Mandzukic's first for Bayern on the hour but Dortmund, under the guidance of charismatic coach Jurgen Klopp, quickly equalised through Ilkay Gundogan's penalty after Dante fouled Marco Reus.

And Robben finally had his revenge on a competition that has been so cruel to him in the past, showing great composure to take Frank Ribery's flick in his stride in the 89th minute and beat Dortmund's outstanding keeper Roman Weidenfeller.

Page 170: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

169

Robben's goal was the decisive moment of a Champions League final that saw the Bundesliga come to London and deliver a powerful statement of intent about its current status.

As well as the quality of the football, which was truly exceptional, the supporters of Dortmund and Bayern splashed their yellow and red colours spectacularly across Wembley's canvas and the dignity and grace in defeat and victory of Klopp and Heynckes only confirmed this was an occasion that did great credit to these two German heavyweights.

Heynckes cut a mellow figure beside the animated Klopp in Wembley's technical area but Dortmund's coach, with his flamboyant gestures and trademark grin, has established a reputation as one of football's most significant figures.

And he will know, just as much as his players, that this was an opportunity missed by Dortmund. They paid a heavy price for failing to capitalise on a first half hour in which they dominated Bayern and were only kept at bay by the brilliance of Germany keeper Manuel Neuer.

The intense pressing style that is the trademark of Klopp's team pushed Bayern on to the back foot in the opening phases and left Dortmund regretting they did not take at least one of a succession of opportunities.

Neuer made five important saves in the first 35 minutes as Dortmund tested Bayern in a manner that proved way beyond Barcelona when they were humiliated 7-0 over two legs in the semi-final.

He thwarted Robert Lewandowski twice and saved superbly at his near post from Reus, who saw another shot blocked. Neuer was also tested by Sven Bender.

Reus then tested Neuer once more as Dortmund poured forward, urged on from the technical area by the animated Klopp as he delivered a constant stream of encouragement and applause in the direction of his players.

Bayern - finally emerging as an attacking force - may have had the feeling it was going to be another night of Champions League final misery when Weidenfeller touched Mandzukic's header on to the bar and denied Robben one-on-one before unwittingly blocking another effort from the eventual match-winner with his face.

The Bundesliga champions had been a growing threat after a poor start and the breakthrough finally came on the hour when Ribery played in Robben and his cross gave Mandzukic the simplest of tasks to finish from six yards.

Dortmund required a swift response and it came inside seven minutes - thanks to a piece of recklessness from Dante.

The Bayern defender, who had already been booked, needlessly raised his foot and caught Reus in the stomach. Gundogan stepped forward to score coolly from the penalty spot.

It took a magnificent piece of last-ditch defending from Neven Subotic to keep Dortmund on terms. Thomas Mueller rounded Weidenfeller and his shot looked destined for the net until the lunging Subotic somehow recovered to clear, prompting a fierce fist-pumping response from Klopp.

Both goalkeepers had been outstanding throughout and it was Weidenfeller's turn to demonstrate his ability once more with fine stops from David Alaba and Bastian Schweinsteiger as this enthralling final drew towards a climax.

It was Robben who made the decisive contribution and when Italian referee Nicola Rizzoli sounded the final whistle to start wild Bayern celebrations, he was reduced to tears as he finally realised his dream.

Link: http://www.bbc.co.uk/sport/0/football/22540468

c) Sky Sports May 25 (exclusivo online)

Arjen Robben's late goal fired Bayern Munich to UEFA Champions League glory with a 2-1 victory over Borussia Dortmund in a compelling final at Wembley.

The former Chelsea man, who missed a penalty against his old club in the final last year, found the net with just 90 seconds remaining to settle an end-to-end contest packed with drama and incident to secure a fifth European crown for the Bundesliga champions.

Bayern went ahead in the 60th minute through Mario Mandzukic after being set up by Robben, but Jurgen Klopp's men responded soon after thanks to Ilkay Gundogan's penalty, while goalkeepers Roman Weidenfeller and Manuel Neuer were in superb form all night.

After a tight opening spell, Dortmund were the first to settle with Robert Lewandowski forcing Neuer to tip a venomous long-range strike over the bar and the keeper called into action again soon after to deflect Jakub Blaszczykowski's low near-post strike behind.

Page 171: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

170

Bayern's goalkeeper was worked again by Marco Reus in the 19th minute when the talented midfielder evaded the attention of Philipp Lahm and Dante to warm Neuer's palms with a drive from outside the box, before Sven Bender's low curled effort was gathered with relative ease.

Bayern, who tasted final defeat in 2012 and 2010, finally threatened in the 27th minute as Mandzukic's towering header from Franck Ribery's cross was acrobatically turned over by Weidenfeller, and Javi Martinez then escaped from his marker to glance the resulting corner narrowly over.

Weidenfeller then had to race from his line to deny Robben as the Holland international burst in behind the Dortmund defence following Thomas Muller's incisive pass, before counterpart Neuer again demonstrated his ability to deny Lewandowski after he got in behind Jerome Boateng.

Muller was left to rue a missed opportunity from a corner when he failed to make a clean contact, before the half drew to a close with an unorthodox block from Weidenfeller as he kept out Robben's shot with his face after Mats Hummels misjudged a long ball over the top by Dante.

The deadlock was finally broken on the hour mark as Ribery threaded a pass through the advancing Dortmund defence for Robben to run onto, with the former Chelsea man drawing Weidenfeller to the touchline before cutting the ball back across the box for Mandzukic to tap home.

But Bayern's lead was short-lived with referee Nicola Rizzoli pointing to the spot after Dante's clumsy lunge on Reus, allowing Gundogan to step up to send Neuer the wrong way in front of the yellow wall of Dortmund fans.

Jupp Heynckes' side looked certain to regain the lead only to be denied by a stunning last-ditch clearance from Neven Subotic, who appeared second best to Robben but showed the commitment and desire required to clear Muller's pass from off the toes of the Bayern man.

Lewandowski rifled a dipping volley home from long range but Rizzoli's whistle had already been blown for handball against the striker, before David Alaba's drive towards the top corner was fisted away by a diving Weidenfeller, with the Dortmund keeper in action once again as the 90 minutes ran down to deny Schweinsteiger.

But just when the game looked certain to go into extra time, Robben burst through the centre of the Dortmund defence to collect Ribery's back-heel, jinked away from one tackle and Weidenfeller before rolling the ball home.

After the match, Bayern Munich hero Robben admitted winning the UEFA Champions League buried his previous demons.

He told Sky Sports: "There are so many emotions, especially where we came from last year and such a disappointment. The last four years, Bayern have been in the final three times. It needed to happen but you still have to do it.

"It is a special feeling. You cannot describe it. Everything is going through your mind. It is hard to say but you do not want to be a loser."

And Dortmund defender Hummels admitted Bayern deserved to be crowned champions of Europe after their dramatic victory at Wembley.

He told Sky Sports: ""The game was really close, but it was kind of deserved for Bayern because they were the better team in the second half, but for us it is very hard and disappointing.

"They get the cup, we don't. It is one of the hardest games we can lose."

Link: http://www1.skysports.com/football/live/match/286308/report

d) The Daily Telegraph

Fussball came home and, frankly, it can come back any time; an open invitation, the most welcome of guests. This was the first all-German Champions League Final and it was simply wunderbar.

Just as it appeared this brilliant contest was heading for extra-time, an added bonus, a familiar face intervened. The former Chelsea winger Arjen Robben finally scored for Bayern to take the trophy and end Jupp Heynckes’ glittering 34-year career with the biggest prize of them all: The European Cup.

Heynckes now makes way for Pep Guardiola, of course, and Bayern will hope it portends a period of dominance. For Dortmund, so youthful and bravura under coach Jurgen Klopp, defeat was cruel.

Klopp had, understandably, fully milked the underdog status. Dortmund had finished 25 points behind Bayern, who won the Bundesliga title with six matches to spare. Bayern’s goal difference was an astonishing plus-80, they had scored four goals in a game on 15 occasions … and they oozed so much confidence.

Page 172: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

171

Not that Dortmund were some David against this Teutonic Goliath. Klopp is canny and feisty behind that smile and the sense of injustice was fuelled by the loss of his star player, Mario Götze, after Bayern exercised the £31m buy-out clause. The attacking midfielder was not fit last night and his absence, though a blow, was not insurmountable for a team who had lost only one of their previous seven matches against Bayern.

Despite all of Bayern’s belief they also entered this contest having lost four European Cup finals – most recently the trauma of last season’s shoot-out defeat to Chelsea in their own stadium.

This, above all this, was an affirmation of the strength of German football, with Real Madrid and Barcelona having been swept aside in the semi-finals. It did not disappoint. There was a savouring of the occasion. Wembley began to fill early, very early, a sea of yellow on one side, a wall of red on the other and the decibel level rose.

Bastian Schweinsteiger rolled his ankle in the warm-up – and then tested it with an early rattling tackle on Jakub Blaszczykowski. But it was Dortmund exerting the pressure, pushing up against the Bayern defence. Indeed it was Blaszczykowski who had the first half-chance, blazing wide, before Dortmund pressed and stole the ball again with Robert Lewandowski curling a shot around Dante only for Manuel Neuer to tip it over.

The goalkeeper then reacted superbly as, from the corner, a low cross from Marco Reus was eventually delivered. Blaszczykowski’s close-range snap-shot was goal-bound but Neuer turned it away with his outstretched leg. The counter-attacking tempo was relentless, with Dortmund again whipping the ball away and Kevin Grosskreutz finding Reus, whose shot was punched out by Neuer before the goalkeeper easily held an effort from Sven Bender.

Nevertheless it was the fourth time he had been forced into action as Dortmund’s intensity flustered Bayern who finally threatened when Mario Mandzukic met a cross from Ribery. He headed back across goal and Roman Weidenfeller brushed the ball against the crossbar.

Suddenly it opened up for Bayern, with Thomas Muller nicking the ball away and stabbing a pass cross-field to Robben, whose shot was blocked by Weidenfeller when Mandzukic was waiting for a tap-in. Then Dortmund almost scored once more, with Lewandowski’s quick feet taking him away from Jerome Boateng only for Neuer to save.

The ebb and flow was relentless – Robben was denied again and then Muller’s header just evaded Mandzukic at the far post. Could Dortmund maintain the pace? Would Bayern finally exploit the space in behind their defence.

It was Dortmund who drew breathe and went again, once more pressing high, trying to force the issue. It was aggressive also. No quarter was given by either side and the challenges flew in – with Ribery fortunate to escape punishment after flailing an arm out in Lewandowski’s face.

The tension rose. The contest needed a goal – and Bayern provided it. It came as Ribery ran at the Dortmund defence and slipped a pass to Robben who gained the by-line to cut the ball back beyond Weidenfeller’s challenge. It fell to Mandzukic and the Croatian striker steered it into the net from inside the six-yard area. Agonisingly for Dortmund the cross had flicked off Weidenfeller’s boot to take it away from the covering Lukasz Piszczek.

Dortmund were rattled. How would they react without Götze? Well, they had the perennially dangerous Reus and when he ran onto a ball flicked into the area Dante panicked. The Brazilian waved out a foot, clumsily catching Reus in the stomach. The penalty was given and, unerringly, Ilkay Gundogan hammered it beyond Neuer to even the scores.

In the drama, Dante was fortunate to escape a second yellow card. This time it was Bayern who were thrown and Dortmund broke rapidly with the ball eventually ferried to Hummels who blasted over.

Incredibly Bayern responded with Muller running clear, rounding Weidenfeller and rolling a shot goalwards. Nevan Subotic, with Robben rushing in to tap home, somehow hooked the ball away from on the goal-line. And so it went on. Bayern went close again with the ball falling to David Alaba and his fierce first-time shot was fisted over by Weidenfeller before, again, Muller wriggled through only to go to ground. He claimed a penalty, arguing Subotic had pulled him back but play continued.

There was an edge and, this time, Lewandowski escaped as he trod on Boateng’s ankle as the defender lay on the turf. Weidenfeller then, smartly, turned away Schweinsteiger’s crisp shot. Finally, though, Bayern and Robben were not to be denied. He ran onto Ribery’s back-heel, rode Hummels challenge and gently rolled the ball into the net.

Link: http://www.telegraph.co.uk/sport/football/competitions/champions-league/ 10080988/Bor ussia-Dortmund-1-Bayern-Munich-2-match-report.html

Page 173: Cristina Brito Villas-Boas Vaz - Repositório Aberto · 2019. 7. 15. · 3.5. Relações retóricas e sequências de tempos verbais no corpus inglês 86 3.5.1. Introdução 86 3.5.2

172