criminologia
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Direito penalDisciplina normativaUm dos Instrumentos de controle social formalFim de proteção dos bens essenciais ao convívio em sociedadeFonte de todos esses bens se encontra na constituiçãoSó deve intervir nos casos mais graves, e mesmo assim quando a criminalidade não puder ser controlada por instrumentos extrapenaisO direito penal traz as proibições normativas
O direito penal não dá o diagnóstico do fenômeno criminal, e não tem condições de sugerir programas, diretrizes ou estratégias para intervir nele
A prevenção do delito é um dos principais objetivos da moderna criminologia, que busca o controle razoável da criminalidade, não a utopia de seu completo desaparecimento
Trata-se de uma prevenção mais efetiva, com custos sociais adequados para a população e que, sempre que possível, se antecipe ao início do fenômeno criminal
AvaliaEficácia do controle do crimeCustos sociais para sociedade civil
Preocupa-se com a qualidade da resposta ao fenômeno criminal, que pode ser tanto da sociedade (informal), como do Estado (formal)
A qualidade da resposta ao crimeNão depende apenas da punição do infratorCoerência do sistema legislativo criminal, só das leis penais (o que caracterizaria leis penais simbólicas)
A qualidade da respostaDepende do atendimento da expectatva dos infratores e das vítimas (de suas famílias), bem como da comunidade onde ocorreu o fato
A criminologia é 1) Interdisciplinar2) Rechaça a autossuficiência, mostrando o caminho da tolerância e da boa convivência
Principais funções da moderna criminologia1) Explicar e prevenir o crime2) Intervir na pessoa do infrator3) Avaliar os diferentes modelos de resposta ao crime
Ações intencionais de prevenção da criminalidade urbana encontram-se agrupadas em 2 grandes categorias
1) Estatais1.1) Políticas de segurança pública
Ações ligadas ao poder punitivo estatal ou ainda ao controle social formal: polícia, leis penais, política penitenciária etc.
1.2) Políticas públicas de segurançaAções que, embora públicas, não estão ligadas ao sistema da justiça criminal: educação, habitação, transporte público, intervnção urbanística etc
2) Patrocinadas pela sociedade civil
A criminologia, com seu método científico, é a ciência apropriada a diagnosticar e buscar uma aproximação realista dos índices de criminalidade de uma região, oferecendo ao poder público informação válida e confiável
para pautar a opção de política criminal adequada para cada situação
II
A sociedade sempre buscou meios de atribuir marcas identificatórias aos criminosos
Criminologia deriva do latim crimen e do grego logoO antropólogo francês Paul Topinard foi quem usou o termo pela primeira vez, em 1879Mas o termo só passou a ser aceito internacionalmente com a obra “criminologia” de Raffaele Garofalo, m 1885
CriminologiaÉ a ciência empírica e interdisciplinar que tem por objeto o crime, o criminoso, a vítima e o controle social do comportamento delitivo
Aporta uma informação válida e confiável, sobre a gênese, dinâmica e variáveis do crime – contemplado como fenômeno individual e como problema social, comunitário
Assim como sua prevenção eficaz, as formas e estratégias de reação ao mesmo e as técnicas de intervenção positiva no infrator
O seu domínio permite um conhecimento efetivo mais próximo da realidade, fornecendo dados e informações sobre o funcionamento correto ou não da aplicação da lei penal
Inclui tambémA sua medida e extensão, ou seja, quantos delitos, e de que tipo, são cometidos em certo período de tempo em dado lugar
As tendências dos delitos ao longo do tempo
A comparação entre os diferentes países, comunidades ou outras entidades
O saber comum ou popular está ligado estreitamente a experiências práticas, generalizadas a partir de algum casoDaí possuir metodologia empírico-indutiva, que predomina nas ciências sociais
Para evitar a cegueira diante da realidade que muitas vezes tem a regulação jurídica, o saber normativo, jurídico, deve ir sempre acompanhado, apoiado e ilustrado pelo saber empírico, pelo conhecimento da realidade, fornecido pela sociologia, economia, psicologia, antropologia ou qualquer outra ciência que estude a realidade do comportamento humano na sociedade
Para a maioria, a criminologia é ciência autônoma, e não apenas uma disciplina
Criminologia (instância superior, num modelo não piramidal, ou seja, em que não há preferência por nenhum saber criminológico parcial)
Biologia criminalSociologia criminalPsicologia criminal
A criminologia é uma ciência pluralRecebe influência e contribuição de diversas outras ciências (psicologia, sociologia, biologia, medicina legal, criminalística, direito, política etc) com seus respectivos métodos
O método mais comum a ser aplicado em criminologia é o interdisciplinar: várias disciplinas confluem a investigar
um determinado ponto, aportando cada uma seus resultados através dos respectivos métodos
A criminologia busca mais que a multidisciplinaridadeMultidisciplinaridade – os saberes parciais trabalham lado a lado, em distintas visões sobre um dado problema
Interdisciplinaridade – os saberes parciais se integram e cooperam entre si
É mais profunda
Interdisciplinaridade não é um monólogo de especialistas, implica graus sucessivos de cooperação e coordenação crescentes, interações, reciprocidade de intercâmbios
O tratamento interdisciplinar leva ao enriquecimento de cada disciplina / área do saber – pela incorporação de resultados de uma especialidade por outras, da partilha de métodos e técnicas
Como instância superior, não cabe à criminologia se identificar com nenhum dos saberes criminológicos parciais (biológicos, criminológicos, sociológicos, estatísticos etc), pois todos têm a mesma importância científicaAdota-se um modelo não piramidal
A função de instância superior busca a integração dos saberes parciais, procurando sempre a correção de pequenas inconsistências entre os dados criminais
Principais características da moderna criminologia1) Parte da caracterização do crime como problema (face humana e dolorosa do crime)
2) Amplia o âmbito tradicional da criminologia (adiciona a vítima e o controle social ao seu objeto)
3) Acentua a orientação prevencionista do saber criminológico, diante da obsessão repressiva explícita de outros modelos convencionais
4) Substitui o conceito tratamento (conotação clínica e individualista) por intervenção (noção mais dinâmica, complexa e pluridimensional, mais próxima da realidade criminal)
5) Destaca a análise e avaliação dos modelos de reação ao delito como um dos objetos da criminologia
6) Não renuncia, porém, a uma análise etiológica do delito (desviação primária)
Substituição da expressão combate ao crime (dá idéia de exclusão, luta do bem contra o mal) por controle da criminalidade (expressão neutra, sem preconceitos e mais adequada)
A função prioritária da criminologia, como ciência interdisciplinar e empírica, é aportar um núcleo de conhecimentos mais seguros e confiáveis sobre o crime, o criminoso, a vítima e o controle social
Como atividade científica, reduz ao máximo a intuição e o subjetivismo, ao submeter o fenômeno criminal a uma análise rigorosa, com técnicas adequadas e empíricas
Com seu método interdisciplinar permitir coordenar os conhecimentos obtidos nos distintos campos do saber, eliminando contradições e completando inevitáveis lacunas
Oferece um diagnóstico qualificado e de conjunto mais confiável do fato criminal
III
Classificação das fases históricas da criminologia1) Período pré-científico (antes de seu surgimento como ciência)
Desde a antiguidade até os trabalhos de Beccaria e Lombroso (uns dizem Beccaria, outros, Lombroso)
2) Período científicoA partir dos trabalhos de Beccaria e Lombroso
A criminologia passou a existir com o surgimento da escola clássica, que tratou da criminalidade de forma científica e sistemática, apesar de já existirem textos esparsos anteriores
Durante a idade média destaca-se a influência e o poder político da igreja, que, por meio da filosofia escolástica e da teologia, modelaram o direito penal (identificando pecado e crime, pecador e criminoso)
Sobressai, então, a obra de Beccaria, dei delitti e delle pene (1764), chamada por Radzinowicz de manifesto da abordagem liberal do direito criminal
Fundamentar a legitimidade do direito de punirDefinir critérios de sua utilidade, a partir do postulado do contrato social
O positivismo criminológico surge no fim de século XIX, com a escola positiva, liderada por Lombroso, Garofalo e FerriSurge como crítica e alternativa à criminologia clássica
Polêmica doutrinária sobre métodos e paradigmas1) Método abstrato e dedutivo dos clássicos, baseados no silogismo
2) Método empírico-indutivo dos positivistas, baseados na observação dos fatos, dos dados
A scuola positiva italiana, contudo, apresenta duas direções opostas:
2.1) Antropológica, de Lombroso, que acentua a relevãncia etiológica do fator individual
Proveio de pesquisas craniométricas, abrangendo fatores anatômicos, fisiológicos e mentais
Primeiramente, a base da teoria foi o atavismoDepois, a parada do desenvolvimento psíquicoPor fim, a agressividade explosiva do epilético
Criou uma tipologia, caracterizando a figura do delinqüente nato, idéia estreitamente ligada ao atavismo
Criminosos e não criminosos se distinguem entre si devido a uma rica gama de anomalias e estigmas de origem atávica ou degenerativa
Sua contribuição reside no método que utilizou em suas investigações: método empírico
No Brasil, tivemos o trabalho do médico e sociólogo Raimundo Nina Rodrigues (Lombroso dos trópicos)Na Argentina, era o médico José Ingenieros
O erro dos positivistas foi acreditar na possibilidade de se descobrir uma causa biológica para o crime
Primeiro, não se pode falar em causa única para a delinquênciaSegundo, porque a escola positiva se preocupou apenas com os aspectos biológicos, quando se sabe que fatores exógenos são prevalentes
Ferri buscou corrigir o erro da postura unilateral de Lombroso, em sua obra sociologia criminal, acentuando a importância dos fatores socioeconômicos e culturais da delinqüência
A escola francesa de Lyon atacou fortemente as idéias de LombrosoLacassagne era um notável membro
O criminoso é como o micróbio ou vírus, algo inócuo, até que o ambiente adequado o faz surgir
O meio social tem papel relevante e se junta com a predisposição criminal individual latente em certas pessoas
Criminoso é feitoPredisposição pessoalMeio social
2.2) Sociológica, de Ferri, que acentua relevância etiológica do fator social
Menos justiça penal, mais justiça socialRecebeu a impregnação coletivista e assistencialista do século XIX
Ferri buscou corrigir o erro da postura unilateral de Lombroso, em sua obra sociologia criminal, acentuando a importância dos fatores socioeconômicos e culturais da delinquência
Durante o declínio da escola positiva, consolidava-se a sociologia criminal, com as obras de Lacassagne, Tarde e Durkheim
A escola francesa de Lyon atacou fortemente as idéias de LombrosoLacassagne era um notável membro
O criminoso é como o micróbio ou vírus, algo inócuo, até que o ambiente adequado o faz surgir
O meio social tem papel relevante e se junta com a predisposição criminal individual latente em certas pessoas
Criminoso é feitoPredisposição pessoalMeio social
Durkheim dizia que o crime é um traço generalizado das sociedades e, por se prender às condições gerais da vida coletiva, mostra-se normal
Assim, tratar o crime como doença social, fenômeno mórbido, seria tornar a doença um traço característico do organismo
Mas o fato de ser normal, não quer dizer que o crime seja livre de limites, que o excesso não seja prejudicial à sociedade
O normal é a existência do crime e a normalidade se submete à condição de que, para cada tipo social, não ultrapasse certo nível
Tarde, concede muita importância aos condicionamentos sociais e à imitação, que costuma ser interpretada como uma teoria antecipada da aprendizagem
O fim do século XIX assistiu ainda ao aparecimento da criminologia socialista em sentido amplo, que visa explicar o crime a partir da natureza da sociedade capitalista e que crê no desaparecimento ou redução sistemática depois de instaurado o socialismo
O século XX foi marcado pelo ecletismo, sob influência da UIDP, fundada em 1889, por Hamel, Liszt e Prins
Consumou-se abandono do antropologismo lombrosiano, substituído por teorias explicativas de índole psicológica, psicanalítica, psiquiátrica e pela atenção dedicada às leis da hereditariedade, à combinação de cromossomos etc
Esse panorama foi alteradoEm primeiro lugar, pela sociologia criminal americana
Em segundo lugar, pela criminologia socialista em sentido estrito, ou seja, o estudo das causas do crime nos países socialistas à luz dos princípios do marxismo-leninismo
IV
Ciência conjunta (ou total) do direito penal é um modo diferente de se conceber o fenomeno criminal, o qual passa a ser abordado pelos ângulos da criminologia, direito penal e política criminal
O direito penal moderno não é imaginável sem uma constante e estreita colaboração de todas as disciplinas parciais da ciência global do direito penal
O direito penal material é, num certo modo, a ciência base de todo esse campo jurídico, pois a punibilidade de uma conduta, que deve determinar-se segundo suas regras, é o pressuposto para que as demais ciências a serviço da justiça penal possam se ocupar do caso
Criminologia, política criminal e direito penal são os três pilares do sistema das ciências criminais, inseparáveis e interdependentes
1) A criminologia deve se encarrregar de fornecer o substrato empírico do sistema, seu fundamento científico
2) A política criminal, de transformar a experiência criminológica em opções e estratégias concretas de controle da criminalidade
Muitos não a reconhecem como ciência autônoma, e sim como mera disciplina
É ela que, em contato com a realidade criminal demonstrada pela criminologia, seleciona quais são os programas, projetos e normas penais (aí o direito penal será acionado) que ela irá escolher para concretizar a resposta penal (informal e formal) que o estado adotará em face do fenômeno criminal
3) O direito penal deve se encarregar de converter em proposições jurídicas, gerais e obrigatórias, o saber criminológico discutido pela política criminal, com respeito às garantias individuais do estado de direito
V
O método de trabalho utilizado pela criminologia é o empírico
Busca, através da observação, conhecer o fenômeno, utilizando-se da indução para depois estabelecer suas regras
O oposto do método dedutivo utilizado pelo direito penal
Foi pela escola positiva que surgiu a fase científica da criminologia e se generalizou o uso do método empírico na análise do fenômeno criminal
A criminologia é ciência do ser, empírica, fundada no método indutivo, de observar e descrever a realidade para, com base nisso, estabelecer suas regras
Direito é ciência cultural, do dever ser, normativa, fundada no método lógico, abstrato, dedutivo
Empirismo é doutrina para a qual o conhecimento só pode ser alcançado mediante a experiência sensorial, opondo-se assim a todo racionalismo e a toda transcendência metafísica
Doutrina que admite, quanto à origem do conhecimento, que este provenha unicamente da experiência, seja negando a existência de princípios puramente racionais, seja negando que tais princípios, embora existentes, possam, independentemente da experiência, levar ao conhecimento da verdade
EmpirismoAnáliseObservaçãoIndução
Empirismo não é achismo
Apesar da proximidade do direito penal em relação à criminologia, a realidade de interpretação e a metodologia de ambas as matérias são muito diferentes
São realidades próximas, mas com métodos distintos
O jurista parte de premissas corretas para deduzir delas as oportunas conseqüências
Método dedutivo, onde há uma regra geral, e dela se parte para o caso concreto
O criminólogo, ao reverso, analisa alguns dados e induz às correspondentes conclusões, sendo que suas hipóteses se verificam sempre por força dos fatos
Método empírico, de observação da realidade para, após análises, retirar dessas experiências as suas conseqüências, regras gerais
Não confunda método experimental com método empíricoTodo método experimental é empírico, mas nem todo método empírico é experimental
Principais técnicas de investigação criminológica empíricas usadas
Reconhecimentos médicosExploraçãoEntrevistaQuestionárioObservaçãoDiscussão em grupoExperimentoTestes psicológicosMétodos de mediçãoMétodos sociométricosMétodos longitudinaisEstudos de seguimentoInvestigações com grupo de controle
VI
O objeto de estudo da criminologia está dividido em 4 pilares
1) Delito2) Delinqüente3) Vítima4) Controle social
Na época de Beccaria, a investigação era com relação apenas ao crime (escola clássica)
Com o surgimento da escola positiva, o objeto de estudo passou a ser sobretudo o delinqüente
A partir da metade do século XX (1950) passamos a ter não mais uma substituição, mas sim uma ampliação do objeto de estudo, abrangendo também a vítima e o controle social
A problematização do objeto da criminologia reflete uma mudança do modelo de ciência e dos postulados até então vigentes sobre o fenômeno criminal
A criminologia tradicional tinha por base um sólido e pacífico consenso
Conceito legal de delito, não questionadoAs teorias etiológicas da criminalidade, que tomavam do conceito de delito seu suporte ontológicoPrincípio da diversidade (patológica) do homem delinqüente e da disfuncionalidade do comportamento criminal Fins conferidos à pena, como resposta justa e útil ao delito
1) DelitoÉ um fenômeno humano e culturalSó existe em nosso meioNão há crime na natureza
Os animais são regidos por leis próprias e são irracionais
Direito penal trabalha com três conceitos de crime
MaterialFormalAnalítico
O tribunal do júri é pura criminologiaNo júri a emoção nos julgamentos está presenteOs jurados, em seu íntimo, se colocam no banco dos réus e se perguntam se teriam feito a mesma coisaAntes dos debates, o jurado já fez a operação mental de se colocar no lugar do réu, com as condições pessoais do mesmo e na hora dos fatosAntes da descrição abstrata do crime, o jurado quer saber os fatores que levaram à ocorrência daquele delito
Nele está presente de forma visível: delito, delinqüente, vítima e controle social
A criminologia moderna não mais se assenta no dogma de que vivemos numa sociedade consensual, mas sim conflitiva
Não basta dizermos que o crime é o fato previsto em leiIsso não explica tudo e não ajuda na percepção da origem do crimeO crime é muito complexo, tendo as mais diversas origens
A criminologia moderna busca se antecipar aos fatos criminososEla quer entender a dinâmica do crime, e intervir nesse processo com o fim de dissuadir o agente de praticar o crimePara isso, ela tem de desenvolver conceitos de delito mais próximos e íntimos da realidade do fenômeno criminal
Os conceitos acima são pontos de partida da criminologia, mas não esgotam o problema
Garofalo criou o delito natural, ou seja, uma lesão daquela parte do sentido moral, que consiste nos sentimentos altruístas fundamentais (piedade e probidade) segundo o padrão médio em que se encontram as raças humanas superiores
Uns realçam a nocividade social da condutaOutros realçam a periculosidade de seu autor
A sociologia criminal já utiliza outro parâmetro: o de conduta desviada ou desvioTem como paradigma as expectativas da sociedadeAs condutas desviadas são aquelas que infringem o padrão de comportamento esperado pela população num determinado momentoÉ um conceito que não se confunde com o de crime, mas o abrange
Anthony Giddens define desvio como o que não está em conformidade com determinado conjunto de normas aceitas por um número significativo de pessoas de uma sociedade
Nenhuma sociedade pode ser dividida de um modo linear entre os que se desviam das normas e aqueles que estão em conformidade com elas
A maior parte das pessoas transgride, em certas ocasiões, regras de comportamento geralmente aceitas
O desvio e o crime não se confundemO âmbito do desvio é mais vasto
O conceito de desvio tem íntima relação com a política de controle da criminalidade conhecida como tolerância zero, pois este modelo começa pela repressão de condutas desviadas
2) DelinquenteNa escola clássica, o núcleo de estudo era o crimeCom o surgimento da escola positiva, o núcleo passou a ser o delinqüente
Ao abstrato individualismo da escola clássica, a escola positiva opôs a necessidade de defender o corpo social contra a ação do delinqüente, priorizando os interesses sociais em relação aos indivíduos
Os modelos biológicos de explicação da criminalidade, embora não totalmente eliminados, perderam quase totalmente sua forçaMas, dentro de suas limitações, também podem contribuir para a compreensão do fenômeno criminal
Na moderna criminologia, o estudo do delinqüente passou a segundo plano, como conseqüência do giro sociológico experimentado
e da superação de enfoques individualistas em atenção a objetivos político-criminais
O centro de interesse das investigações deslocou-se prioritariamente para a conduta delitiva, para a vítima e para o controle social
O delinqüente é examinado em suas interdependências sociais, como unidade biopsicossocial e não de uma perspectiva biopsicopatológica
A psicologia criminal destina-se a estudar a personalidade do criminosoA personalidade se refere aos processos estáveis e coesos de comportamento, pensamento, reação e experiência, característicos de dada pessoaPor essas características podemos compreender e prever grande parte do comportamento do indivíduo
Uma das maiores contribuições que a psicologia criminal pode dar é ajudar na criação de programas que visem reduzir a reincidência criminal
3) Vítima criminalO estudo da vítima é muito importante para para a ciência total do direito penal
A vítima passou por três fases principais na história
Idade de outro (protagonismo) – a vítima era muito valorizada e respeitada (tendo até direito de vingança)
Neutralização da vítima – o estado, assumindo o monopólio da aplicação da pretensão punitiva, diminuiu a importância da vítima no conflito
Era tratada como testemunha de segundo escalão, pelo aparente interesse direto na condenação
Redescobrimento da vítima – sua importância é retomada sob um ângulo mais humano por parte do estado
A partir de 1950, quando se iniciou esta fase, fundou-se uma nova disciplina (ou ciência): vitimologia
Nos últimos anos foram criados centros profissionais de apoio e atendimento às vítimas criminais, muitos dos quais recebem verba pública para se manterem ou são subsidiados por ONGs
Nesses centros trabalham especialistas de diversas áreas, ajudando a vítima principalmente na atenuação do processo de vitimização secundária
Ao contrário do aspecto racional, que seria o fim do sofrimento ou o abrandamento da situação em face da ação do sistema repressivo estatal, a vítima muitas vezes sofre danos psíquicos, físicos, sociais e econômicos adicionais, em virtude da reação formal e informal derivada do fato
Muitos dizem que essa reação traz mais danos efetivos à vítima do que os prejuízos derivados do crime praticado (vitimização primária)
A sobrevitimização do processo penal (vitimização secundária) é o sofrimento adicional que a dinâmica da justiça criminal, com suas mazelas, provoca normalmente nas vítimas
A vítima é tratada com descaso, e às vezes, com desconfiançaNão tem amparo do estado, sendo até incentivada a manter-se no anonimato, contribuindo para a formação da malsinada cifra negra
Esta cifra é responsável pela falta de legitimidade do sistema penal vigente, pois uma quantidade ínfima de crimes chega ao conhecimento do poder público, e, desta, uma grande parte não recebe resposta adequada
As cifras negras são mais elevadas nas infrações penais menores e tendem a ser reduzidas nos crimes violentos e as graves
A vitimização secundária está ligada diretamente ao fenômeno das cifras negras
Vitimização terciária decorre da falta de amparo dos órgãos públicos (além das instâncias de controle) e da ausência de receptividade social em relação à vítima
Sobretudo diante de certos delitos considerados estigmatizadores, que deixam graves sequelas, a vítima experimenta um abandono não só por
parte do estado, mas também por parte de seu próprio grupo social
A criminologia influenciou fortemente o ressurgimento da vítima diante do fenômeno criminal (lei 9.099/95, lei 11.340/06)
4) Controle socialDesde de pequenos sofremos influência da socializaçãoSomos educados pelos nossos pais a agir de determinado formaA mídia, escola e o próprio grupo colabora com essa aprendizagem das regras sociaisVamos aprendendo de forma lenta e gradual as normas sociais que a sociedade espera que sigamos, as quais são internalizadas
O controle que um grupo exerce sobre seus membros, para que não se desviem das normas aceitas, é muitas vezes imperceptível, e nós mesmos exercemos um controle sobre nossos próprios atos, aflorando um sentimento de culpa quando nos desviamos
Esse controle é fundamental para o funcionamento da sociedade
Mas a socialização nunca é perfeita, pois, se o fosse, haveria pouca individualidade, inexistiriam criminosos, membros desviantes etc.
Para estimular os membros relutantes, a sociedade desenvolve sanções sociais (também chamados controles sociais)
O controle social é exercido das mais variadas formas, que vão desde um simples olhar de reprovação até a prisão de uma pessoa, instrumento mais poderoso usado pelo estado ao exercer o controle social formal
O fim é transformar o padrão de comportamento de um sujeito, adaptando-o aos padrões de comportamentos sociais dominantes
O controle social começa na infância e, ao longo de toda a nossa existência, se internaliza e insere em nossa consciência valores e normasPrimeiro, por meio de instituições formadas por laços de parentesco e afetividade e, em seguida, por meio de organizações formais (escola e igreja)
As pessoas são doutrinadas a seguir uma linha invisível, um fio, um tipo de padrão de comportamento que as levará a ser mais aceitas ou não pela sociedade
Dentro do sistema formal de controle social, encontramos o sistema da justiça ou justiça criminal (judiciário, MP, polícia e administração penitenciária), os quais exercem um papel muito expressivo na condução do controle social formal
ClassificaçãoQuanto ao modo de exercício
Meio de orientaçãoMeio de fiscalização
Quanto aos destinatáriosDifusoLocalizado
Quanto aos agentes fiscalizadoresFormal (agentes do estado) – repressãoInformal (sociedade civil), exercido pela família, opinião pública, ambiente de trabalho e escolar
Quanto ao âmbito de atuaçãoDireto – exercido diretamente nas pessoasIndireto – exercido por intermédio das instituições sociais
FormasCom sanções formais (aplicadas pelo estado) ou informais (não possuem coercibilidade)
Com meios positivos (prêmio, incentivo) ou negativos (reprovação com sanções)
Interno (autodisciplina) e externo (sociedade ou estado)
VII
A criminologiaEstuda o fenômeno criminal
Utiliza estudos realizados pelos diversos ramos do conhecimento, principalmente
Biologia criminalPsicologia criminalSociologia criminal
1) Biologia criminalÉ julgada morta por muitos
É ligada aos trabalhos de Cesare LombrosoA ascensão da sociologia criminal ao topo do pensamento criminológico no século XX fez com que se reputasse ultrapassada, retrógrada
As teorias de orientação biológica buscam localizar e identificar em alguma parte do corpo do delinqüente o fator diferencial que explique a conduta delitivaEsta se supõe, assim, como resultante de alguma patologia, disfunção ou transtorno orgânico
O crescimento da neurociência demonstra que a biologia criminal não morreu e que seu campo, com o devido cuidado, pode contribuir para compreensão do fenômeno criminal
Constituem as orientações biológicas o contraponto das teorias ambientalistas, a outra cara da moeda
O que se vê é o enfraquecimento das teorias biológicas mais radicais, com a aceitação da interferência concomitante de fatores ambientais
2) Psicologia criminalO que leva uma pessoa a cometer um delito?Quais os fatores psicológicos contribuem para tanto?
Enquanto a sociologia domina os estudos da visão macro da criminalidade (de grandes grupos), a psicologia visa o estudo micro (do individuo e de pequenos grupos)
O campo de trabalho do criminólogo clínico (psicólogo criminal), de regra, é o presídio, o sistema penitenciário
Impõe-se a necessidade de uma atuação mais crítica, e não apenas meramente reprodutiva das práticas atuais, do psicólogo que atua no sistema prisional
O aumento da agressão é previsto porAtores do sexo masculinoPersonalidades agressivas ou do tipo AConsumo de álcoolExposição a cenas de violênciaAnonimatoProvocaçãoPresença de armasInteração do grupo
VIII
Agora entraremos na sociologia norte-americana, um dos campos mais avançados da moderna criminologia
Ao estudarmos a criminologia nos Estados Unidos, veremos que ela deu um giro nas suas investigaçõesDe um estudo de criminalidade focado no indivíduo ou em pequenos grupos, a criminologia passou a se preocupar com o estudo da macrocriminalidade, uma análise dos fatores que levam a sociedade como um todo a praticar ou não infrações penais
Com o surgimento das teorias sociológicas da criminalidade, houve uma divisão das pesquisas em dois grupos (teorias macrossociológicas), decorrentes da forma como os sociólogos encaram a sociedade: consensual e conflitual
1) Teorias do consenso, funcionalistas ou de integração
A finalidade da sociedade é atingida quando há um perfeito funcionamento de suas instituições, de forma que os indivíduos compartilhem os objetivos comuns a todos os cidadãos, aceitando as regras vigentes e compartilhando as regras sociais dominantes
a) Escola de chicagoA criminologia americana, como tal, se iniciou nas décadas de 20 e 30, à sombra da Universidade de Chicago, com a teoria ecológica Na linha da obra pioneira de Robert Park e Ernest Burgess, em sede de sociologia, a escola criminológica de Chicago encarou o crime como fenômeno ligado a uma área natural
Historicamente coincidente com o período das grandes migrações e formações das metrópoles, teve que lidar com a questão do ghetto
As ondas de imigrantes arrumavam-se segundo critérios rigidamente étnicos, dando origem a comunidades estanques
Daí ter-se optado por um modelo ecológico (teoria ecologica), ou seja, de equilíbrio entre a comunidade humana e o ambiente natural
Caracterizou-seEmpirismo
Uso da observação direta em todas as investigações (da observação dos fatos são induzidas as oportunas teses)
Finalidade pragmáticaUm diagnóstico confiável sobre os urgentes problemas sociais da realidade norma-americana
Seus representantes iniciais eram jornalistas
Pode ter seu trabalho melhor compreendido, dividindo-o em 2 fases
Primeira escola, 1915 a 1940Segunda escola, 1945 a 1960
As teorias derivadas da escola de Chicago exploraram a relação entre a organização do espaço urbano e a criminalidade
Sua atuação foi marcada pelo pragmatismo, e dentre outras inovações que preconizou, destacam-seMétodo da observação participante
Park dizia que a sociologia não se interessa em fatos, mas em como as pessoas reagem em face deles
Assim, a experiência prática é fundamental, pois a melhor estratégia de pesquisa é aquela em que o pesquisador participa diretamente de seu objeto de estudo
O observador toma parte no fenômeno social que estuda, o que lhe permite
examiná-lo da maneira como realmente ocorre
O conhecimento tem por base não a experiência alheia, mas a própria experiência do pesquisador
Teoria ecológicaPara seus defensores, a cidade produz a delinqüênciaHaveria até áreas bastante definidas, onde a criminalidade se concentra e outras em que seria bastante reduzida
Explica o efeito criminógeno da grande cidade, valendo-se dos conceitos de desorganização e contágio inerentes aos modernos núcleos urbanos e, sobretudo, invocando o debilitamento do controle social desses núcleos
A deterioração dos grupos primários (família etc), a modificação qualitativa das relações interpessoais que se tornam superficiais, a alta mobilidade e a conseqüente perda de raízes no lugar de residência, a crise dos valores tradicionais e familiares, a superpopulação, a tentadora proximidade às áreas comerciais e industriais onde se acumula riqueza e o citado enfraquecimento do controle social criam um meio desorganizado e criminógeno
Teoria das zonas concêntricas de Ernest Burgess
As cidades não crescem em seus limites, mas tendem a se expandir a partir do seu centro e de formas concêntricas, chamadas zonas
Zona I, central, loopZona II, zona de transição, pessoas mais pobresZona III, residências de trabalhadores que conseguiram escapar das péssimas condições da zona IIZona IV, suburbia, formada por bairros residenciais e caracterizada por casas e apartamentos de luxo (classes média e alta)Zona V, exurbia, fica além dos limites da cidade e contém áreas suburbanas e cidades-satélites, habitadas por pessoas que trabalham no centro e despendem tempo razoável no trajeto entre casa e trabalhoNão é caracterizada por residência proletárias, mas, de regra, por residências de classe média ou alta
O conceito de subúrbio norte-americano é diverso do da America latina
Park e Burgess consideravam a zona II a de maior interesse, pois era a área que as estatísticas apontavam como de maior incidência do crimeFoi dessa época que surgiram estudos de um dos subprodutos da zona II e também um dos temas centrais da criminologia hoje: as gangues
Com a escola de Chicago, a criminologia abandonou o paradigma até então dominante do positivismo criminológico, do deliquente nato de Lombroso, e girou para as influências que o ambiente, e, no caso, as cidades, podem ter no fenômeno criminal
Importante influência para criminologia moderna
b) Associação diferencialFoi iniciada por Edwin Sutherland, um dos sociólogos que mais influenciou a criminologia moderna, tendo se inspirado, em parte, em Gabriel Tarde
Foi influenciado pela escola de ChicagoNo final dos anos 30, criou a expressão White-collar crimes, identificando autores de crimes diferenciados, que apresentavam pontos de dessemelhança com os criminosos comuns
Associação diferencial é o processo de aprender alguns tipos de comportamentos desviantes que requerem conhecimentos especializados e habilidade, bem como inclinação de tirar proveito de oportunidades para usá-las de modo desviante
Tudo isso é aprendido e promovido principalmente em grupos, tais gangues urbanas ou grupos empresariais
Parte da idéia de que o crime não pode ser definido simplesmente como disfunção ou
inadaptação das pessoas de classes menos favorecidas, não sendo exclusividade destas
A vantagem dessa teoria é que, ao contrário do positivismo, que se centrava no perfil biológico do criminoso, tal pensamento traduz uma grande discussão dentro da perspectiva social
O homem aprende a conduta desviada e associa-se com referência nela
Proposições1) A conduta criminal se aprende, como também se aprende o comportamento virtuoso ou qualquer outra atividade
2) A conduta criminal se aprende em interação com outras pessoas, mediante um processo de comunicação
Requer uma aprendizagem ativa por parte do indivíduo
Não basta viver no meio criminógeno, nem manifestar determinados traços de personalidade
No referido processo também participam ativamente os demais
3) A parte decisiva do processo de aprendizagem ocorre no seio das relações mais íntimas do indivíduo com seus familiares ou com pessoas de seu meio
A influência criminógena depende do grau de intimidade do contato interpessoal
4) A aprendizagem da conduta criminal inclui também a das técnicas de cometimento do delito, assim como a da orientação das correspondentes motivações, impulsos, atitudes e da própria racionalização (justificação) da conduta delitiva
5) A direção dos motivos e dos impulsos se aprende com as definições mais variadas dos preceitos legais, favoráveis ou desfavoráveis a eles
A resposta à lei não é uniforme no corpo social, razão pela qual o sujeito se acha em permanente contato com outras pessoas que têm diversos pontos de vista quanto à conveniência de acatá-los
Numa sociedade pluralista, esse conflito de valorações é inerente ao próprio sistema
6) Uma pessoa se converte em delinqüente quando as definições favoráveis à violação da lei superam as desfavoráveis, ou seja, quando por seus contatos diferenciais aprendeu mais modelos criminais que modelos respeitosos ao direito
7) As associações e contatos diferenciais do indivíduo podem ser distintas conforme a freqüência, duração, prioridade e intensidade dos mesmos
Contatos duradouros e freqüentes têm maior influência pedagógica que contatos fugazes ou ocasionais
O impacto que exerce qualquer modelo nos primeiros anos de vida do homem é mais significativo que o que tem lugar em etapas posteriores
O modelo é tanto mais convincente para a pessoa quanto maior seja o prestígio que este atribui à pessoa ou grupos cujas definições e exemplos aprende
8) Porque o crime se aprende, e não se imita, o processo de aprendizagem da conduta criminal mediante contato diferencial do sujeito com modelos delitivos e não dlitivos implica a aprendizagem de todos os mecanismos inerentes a qualquer processo desse tipo
9) Embora a conduta criminal seja a expressão de necessidades e valores gerais, não pode ser explicada como concretização deles, já que também a conduta adequada corresponde a idênticas necessidades e valores
c) AnomiaÉ um dos temas mais estudados pela moderna criminologia
Anomia é uma situação social onde falta coesão e ordem, especialmente no tocante a normas e valores
Se as normas são definidas de forma ambígua, implementadas de modo casual e arbitrário, se uma situação de exceção subverte o padrão da vida social e cria um estado que torna obscuro quais normas têm aplicação, ou se um sistema é organizado de forma a promover o isolamento, o resultado poderá ser a anomia ou falta de normas
A teoria estrutural funcionalista da anomia e da criminalidade, introduzida por Emile Durkheim e desenvolvida por Robert Merton, representa uma virada em direção sociológica efetuada pela criminologia contemporânea
Constituiu a primeira alternativa à concepção clássica dos caracteres diferenciais biopsicológicos do delinqüenteEstá na origem da revisão crítica da criminologia de orientação biológica e caracterológica, na origem de uma direção alternativa
As causas do desvio não devem ser pesquisadas nem em fatores bioantropológicos e naturais, nem em
uma situação patológica da estrutura social
O desvio é um fenômeno normal de toda a estrutura social
Somente quando são ultrapassados determinados limites, o fenômeno do desvio é negativo para a existência e o desenvolvimento da estrutura social, seguindo-se um estado de desorganização, no qual todo o sistema de regras de conduta perde o valor, enquanto um novo sistema ainda não se afirmou (esta é a situação de anomia)
Ao contrário, dentro de seus limites funcionais, o comportamento desviante é um fator necessário e útil para o equilíbrio e o desenvolvimento sociocultural
Quando se criam na sociedade espaços anômicos, quando um individuo ou grupo perde as referências normativas que orientavam a sua vida, então enfraquece a solidariedade social, destruindo-se o equilíbrio entre as necessidades e os meios para sua satisfação
O sujeito sente-se livre de vínculos sociais, tendo, muitas vezes, condutas antissociais e autodestrutivas
A teoria da anomia foi, pela primeira vez, enunciada por Robert Merton, em 1938, sendo este autor quem a melhor conceituou
A teoria da anomia explica o crime no defasamento entre
Estrutura culturalImpõe a todos os cidadãos a persecução dos mesmos fins e prescreve para todos os mesmos meios legítimos
Estrutura socialReparte desigualmente as possibilidades de acesso a estes meios e induz, por isso, o recurso a meios ilegítimos
O crime é uma das formas individuais de adaptação no quadro de uma sociedade agônica em torno de meios escassos
Em todo contexto sociocultural desenvolvem-se metas culturaisEstas expressam os valores que orientam a vida dos indivíduos em sociedadePara atingir tais metas, cada sociedade estabelece meiosSão recursos institucionalizados ou legítimos que são socialmente prescritosExistem também outros meios que permitem atingir estas mesmas metas, mas que são rejeitados pelo grupo socialO uso destes últimos é considerado como violação das regras sociais em vigor
O insucesso de atingir as metas, devido à insuficiência dos meios institucionalizados, pode produzir o que Merton chama de anomia: manifestação de um comportamento no qual as regras do jogo social são abandonadas ou contornadasO sujeito não respeita as regras do comportamento que indicam os meios de ação socialmente aceitosSurge o comportamento desviante
Muitas pessoas praticam o delito porque entenderam que é o caminho mais rápido para alcançarem a riqueza e/ou prestígio
Basicamente, no conceito de anomia de Merton, temos um conflito de dois pontos:
Metas culturais (riqueza, sucesso, status profissional etc) X meios institucionalizados
Meios de adaptação do indivíduoConformidade + +Inovação + -Ritualismo - +Evasão - -Rebelião + - e + -
Classificação da anomia MertonConformidade (comportamento modal), o sujeito aceita os meios sociais institucionalizados para alcançar as metas culturais
Adere totalmente ao comportamento aceito e esperado pela sociedade e não apresenta comportamento desviante
Os demais são não modais ou desviantes e sinalizam a presença da anomia
Inovação, o sujeito aceita as metas culturais, mas não os meios institucionalizados
Quando vê que não estão acessíves a ele todos os meios institucionais, ele rompe com o sistema e passa ao desvio para atingir as metas culturais
Ritualismo, o sujeito vê com descaso o atendimento das metas socialmente dominantesPor um ou outro motivo, acredita que nunca atingirá as metas culturais, e mesmo assim continua respeitando as regras sociais, agindo como uma espécie de ritualÉ um conformistaHá focalização nos meios e não nos objetivos
Evasão, os párias, mendigos, bêbados, drogados crônicos etc
É o modo mais raro de adaptação
O sujeito vive no ambiente social, mas não adere às suas normas sociais, nem aos meios institucionais e nem às metas culturais
Rebelião, é a rejeição das metas e dos meios dominantes – julgados insuficientes ou inadequados – e luta por sua substituição
Busca a configuração de uma nova ordem social
Assim, essa conduta não pode ser considerada especificamente como negativa, sendo positiva e negativa
Elementos básicosObjetivos culturaisNormas institucionalizadasOportunidades reais
Eles podem oscilar entre duas situações-limites
De um lado está a sociedade que atribui excessivo valor aos fins e relega a secundo plano as normas, à procura do sucesso a qualquer preço
De outro lado, a sociedade que concede prioridade aos meios e descuida dos objetivos, caindo na armadilha da conformidade absoluta e do apego desmedido à tradição como valores dominantes
d) Subcultura delinqüenteSeu criador foi o sociólogo norte-americano Albert K. Cohen, através de seu livro delinquent boys, lançado em 1955
A subcultura é uma cultura associada a sistemas sociais (incluindo subgrupos) e categorias de pessoas (grupos étnicos) que fazem parte de sistemas mais vastos, como organizações formais, comunidades ou sociedades
Bairros étnicos urbanos frequentemente compartilham de linguagens, idéias e práticas culturais que diferem das seguidas pela comunidade geral, mas, ao mesmo tempo, sofrem pressão para conformar-se, em certo grau, à cultura mais vasta na qual está enraizada a subcultura
O mesmo pode acontecer em sistemas sociais menores (grandes empresas, unidades militares etc) que se reúnem muitas vezes em torno de interesses especializados ou de laços criados por interações diárias e interdependência mútua
Três idéias fundamentaisa) Caráter pluralista e atomizado da ordem socialb) Cobertura normativa da conduta desviadac) Semelhança estrutural, em sua gênese, do comportamento regular e irregular
Sua premissa é contrária à imagem monolítica da ordem social que era oferecida pela criminologia tradicional
A ordem social, na verdade, é um mosaico de grupos, subgrupos, fragmentado, conflitivoCada grupo ou subgrupo possui seu próprio código de valores, que nem sempre coincide com os valores majoritários e oficiais, e todos cuidam de fazê-los valer diante dos restantes
A conduta delitiva para as teorias subculturais – ao contrário do que sustentavam as teses ecológicas – não seria produto da desorganização ou da ausência de valores, senão reflexo e expressão de outros sistemas de normas e valores distintos: os subculturais
Tem, assim, respaldo normativo
Assim, tanto a conduta normal, regular e adequada ao direito, como a irregular, desviada e delitiva, seriam definidas em relação aos respectivos sistemas sociais de normas e valores oficiais e subculturais, contariam com uma estrutura e significação muito semelhante, pois o autor, em última análise (delinquente ou não delinqüente), apenas reflete com sua conduta o grau de aceitação e interiorização dos valores da cultura ou subcultura à qual pertence, valores que se interiorizam mediante idênticos mecanismos de aprendizagem e socialização, tanto na conduta normal, como na anormal
2) Teorias do conflito social
A coesão e a ordem na sociedade são fundadas na força e na coerção, na dominação por alguns e sujeição de outrosIgnora-se a existência de acordos em torno de valores de que depende o próprio estabelecimento da força
a) Labelling aproach, interacionismo simbólico, etiquetamento, rotulação ou reação social
Deixou de centrar estudos no fenômeno delitivo em si, passando a focar suas atenções na reação social proveniente da ocorrência de um determinado delito
Seus representantes principais são Erving Goffman e Howard Becker
Os grupos sociais criam os desvios ao fazerem as regras cuja infração constitui o desvio e ao aplicarem tais regras a certas pessoas em particular, qualificando-as como marginais
Os processos de desvios, assim, podem ser considerados
PrimáriosCorresponde à primeira ação delitiva do sujeito, que pode ter por fim resolver uma necessidade ou acomodar sua conduta às expectativas de dado grupo subcultural
SecundáriosRefere-se à repetição de atos delitivos, especialmente a partir da
associação forçada do indivíduo com outros sujeitos delinqüentes
Em termos gerais, cada um de nós se torna aquilo que os outros vêem em nós e, de acordo com essa mecânica, a prisão cumpre uma função reprodutora: a pessoa rotulada como delinqüente assume, finalmente, o papel que lhe é consignado, comportando-se de acordo com o mesmo
Todo o aparato do sistema penal está preparado para essa rotulação e para o reforço desses papéis
Surgiu nos anos 70, e privilegia, na análise do comportamento desviado, o funcionamento das instâncias de controle social (criminalização secundária), a reação social aos comportamentos assim etiquetados
Crime e reação social são, segundo esse enfoque, manifestações de uma só realidade: interação social
Não se pode compreender o crime prescindindo da própria reação social, do processo social de definição ou seleção de certas pessoas e condutas etiquetadas como delitivas
Delito e reação social são idéias interdependentes, inseparáveisNão é o crime em si que vai ser o ponto central da visão criminológica, mas sim a
respectiva reação social que é deflagrada com a prática do ato pelo delinqüenteTemos um giro no sistema que sai do crime para a reação social ao mesmo
Não se pode compreender a criminalidade se não se estuda a ação do sistema penal que a define e reage contra ela, começando pelas normas abstratas até as instâncias oficiais (polícia, juízes, instituições penitenciárias etc), e que, por isso, o status social do delinqüente pressupõe, necessariamente, o efeito da atividade das instâncias oficiais de controle social da delinqüência, enquanto não adquire esse status aquele que, apesar de ter praticado um crime, não é alcançado, contudo, pela ação daquelas instâncias, não sendo considerado e tratado pela sociedade como delinqüente
Tem-se estudado, sob este ponto de vista, o efeito estigmatizante da atividade de polícia, dos órgãos da acusação pública e dos juízes
Não interessam à perspectiva interacionista as causas da desviação primária, mas só os processos de criminalização secundária, os processos de funcionamento de reação e controle sociais, que são, em última análise, os responsáveis pelo surgimento do desvio como tal
Para o interacionismo o delito é apenas um rótulo social derivado do processo de etiquetamento
b) Teoria crítica, radical ou nova criminologiaEssa é perspectiva criminológica mais recente, da década de 1970
Surgiu quase ao mesmo tempo nos EUA e Inglaterra
O ramo americano da criminologia radical se desenvolveu sobretudo a partir da escola criminológica de BerkeleyO grupo inglês entende que a solução para o problema da criminalidade exige a extinção da exploração econômica e da opressão das classes políticasEm síntese, a criminologia radical se apresenta expressamente como uma criminologia marxista
Dizia ser o delito um fenômeno dependente do modo de produção capitalista
De qualquer modo, é quando o enfoque macrossociológico se desloca do comportamento desviante para os mecanismos de controle social dele, em especial para o processo de criminalização, que o momento crítico atinge sua maturação na criminologia, e ela tende a transformar-se de uma teoria de criminalidade em um teoria crítica e sociológica do sistema penalOu seja, centra-se na análise dos sistemas penais vigentes
Propiciou o surgimento de três tendências da criminologia
Neo-realismo de esquerda (e seu respectivo movimento de law and order)Direito penal mínimoAbolicionismo criminal
IX
Prevenção do crime é um conceito abertoPara uns é dissuadir o delinqüente de cometer o ato
Para outros é algo mais, importa inclusive na modificação de espaços físicos, novos desenhos arquitetônicos, aumento da iluminação pública com o intuito de dificultar a prática do crime
Para um terceiro grupo é apenas o impedimento da reincidência
Prevenção primáriaÉ a prevenção genuínaDirige-se a toda população, é geral, demorada, com altos custos, mas se sustenta com o passar dos anos ou das administrações
Os programas de prevenção primária se orientam para as causas mesmas, a raiz do conflito criminal, para neutralizar este antes que o próprio problema se manifeste
Trata-se de resolver as situações criminógenas
Assim, educação, trabalho, socialização, qualidade de vida, bem-estar social são importantes para que os cidadãos possam se munir de repertórios comportamentais que lhes qualifiquem a resolver conflitos sociais sem o uso da violência
A prevenção primária é a mais eficiente, mas constitui um grande problema para os administradores públicos, que são eleitos periodicamente e cobram resultados imediatos das agências de controle social
Prevenção secundáriaAtua nos locais onde os índices de criminalidade são mais avançadosÉ uma atuação mais concentrada e corresponde ao chamado ataque cirúrgicoBusca uma ação concentrada e com foco em áreas de maior violência, como comunidades carentes
Atuam mais tarde em termos etiológicos: não quando, nem onde, o conflito criminal se produz ou é gerado, mas quando e onde o mesmo se manifesta, quando e onde se exterioriza
Opera a curto e médio prazoOrienta-se de forma seletiva a setores sociais concretos e particulares: aqueles grupos e subgrupos que exibam maior risco de padecer ou protagonizar o problema criminal
A prevenção secundária se plasma em uma política legislativa penal e em ação policialProgramas de prevenção policial, de controle dos meios de comunicação, de ordenação urbana e utilização do desenho arquitetônico como instrumento de autoproteção, são exemplos
Prevenção terciáriaTêm apenas um destinatário: população carcerária e buscam evitar a reincidência
São programas que atuam muito tardiamente no problema criminal e possuem, salvo raras exceções, elevados níveis de ineficácia
Os programas de prevenção terciária atuam somente quando o mal já se instalou e possuem um grande inimigo direto que é o conjunto informal de regras existentes no universo prisional, tanto por parte da população carcerária, como por parte da administração penitenciária
Essas regras não escritas, orais, altamente punitivas, desproporcionais e injustas buscam criar no detento um estado permanente de angústia e sofrimento, visando atacar o seu eu e imputar sofrimento ao condenado
Os programas de prevenção terciária lutam contra as regras desse universo e contra a despersonalização do eu, que aflige um grande número de detentosAtravés de punições formais e informais, ataques, violações, esse conjunto de regras visa despersonalizar o preso, despi-lo de sua humanidade e transformá-lo em objeto
Modelos de reação ao crimeClássico
Se polariza em torno da pena, ao rigor e severidade desta e a suposta eficácia preventiva do mecanismo intimidatório
NeoclássicoRefere-se à efetividade do processo dissuasório ou contramotivador, mais ao funcionamento do sistema legal, tal como este é percebido pelo infrator potencial, do que pela severidade abstrata das penas
Outro livro
Período da vingançaReinado da Monarquia AbsolutaSéculos XV e XVI
Fase da vingança privadaFase da vingança divinaFase da vingança pública
Período humanitárioSéculos XVI e XVIISurge a escola clássica do direito penalÉ a etapa pré-científica da criminologia
Período científicoSéculos XVIII e XIXSeu método é o da investigação experimental indutivaSurge a escola positiva do direito penalÉ a etapa científica da criminologia
Escola clássicaEtapa pré-científica
Método lógico, dedutivo e dogmáticoSimboliza um mundo abstrato, mágicoPena é um mal justo que se contrapõe ao mal injusto do crimeJustiça no lugar da arbitrariedadeResponsabilidade penal se funda no livre arbítrioNão se preocupa com a gênese do comportamento criminoso, nem em como preveni-loDividiu-se em 2 períodos:
Filosófico/teórico (Cesare Bonesana)Jurídico/prático (Francesco Carrara)
Fundava-se em estudos sem base científica sobre a fisionomia dos acusados (fisionomismo), o qual embasou condenações pelo Édito de Valério (quando se tem dúvida sobre 2 suspeitos, condena-se o mais feio)
IniciadoresCésare Bonesana (Marquês de Beccaria)Francesco CarraraGian Domenico RomagnosiJeremias BenthamFranz Joseph Gall
Escola positivaEtapa científicaMétodo empírico da análise, observação e induçãoSimboliza a passagem para o mundo real, concreto e naturalPena é uma forma de combater a criminalidadeCausas do crime são os principais elementos de investigaçãoResponsabilidade penal se funda no determinismo, sendo o infrator prisioneiro de uma patologia e de processos causais alheios às enfermidades mentais, adquiridos pelo seu modo de vida em sociedadePreocupa-se com os aspectos sociológicos e psicológicos do criminoso
Realiza as investigações de modo fragmentado, com auxílio de diversas outras ciências – interdisciplinaridadeO infrator é escravo de sua carga hereditária ou do meio ambiente em que foi criado, mas podendo superar seu legado negativo
IniciadoresCesar Lombroso
Criou a antropologia criminal e nela a figura do criminoso natoCriminalidade tem fundamnto biológico
Enrico FerriTrouxe a diretriz sociológica para a criminologia, crendo ser o delito resultado de fatores antropológicos, físicos e sociais, sendo este último de maior relevância etiológicaÉ o pai da sociologia criminalSua máxima: menos justiça penal, mais justiça social
Rafaelle GarofaloCunhou a diretriz psicológica da criminologia, dizendo que o crime é o sintoma de uma anomalia moral ou psíquicaFoi o 1º a se referir à expressão criminologia, nome de sua obra de 1885, como ciência
Embora alguns sustentem o nascimento da criminologia como ciência com o trabalho de Cesare Bonesana, em 1764, a maioria entende que nasceu depois, com a obra de Cesar Lombroso, em 1876, tendo como tese central a do criminoso nato
Assim, passou-se da especulação e dedução para observação e análise do fenômeno criminal, a partir do que se induz e estabelecem as regras preventivas
Modelos de reação ao crime
Modelo dissuasório (retributivo, penal ou clássico)Seu foco reside na punição do infrator através de atuação estatal punitiva, intimidatória e proporcional ao dano
Estado e ofensor atuam como protagonistas do modelo, permanecendo a vítima e a comunidade excluídos desta relação
Não há espaço para outros objetivos (ressocialização, reparação do dano etc.)
Neste modelo, nenhum delito escapa da sanção e do castigo, originando uma justiça dura, inflexível, capaz de deter a criminalidade por meio do contra-estímulo da pena
Modelo ressocializadorFocaliza a pessoa do delinquente enquanto preso
Busca ressocializar o criminoso, reeducando-o para reintegrá-lo à socidade
Reconhece ao estado a árdua missão de agregar valores ao infrator enquanto estiver sob sua tutela com o fito de reabilitá-lo para a vida social
Modelo integrador (consensual ou restaurador)Defende a desjudicialização baseado na intervenção mínima
O sistema carcerário é reservado como ultima ratio, ou seja, quando não há outra alternativa ao estado que não o recolhimento ao cárcere
Este modelo potencializa o desenvolvimento de métodos alternativos de resolução de conflitos (acordo, negociação etc), ao sustentar que são as partes envolvidas no conflito (vítima, infrator e sociedade) que devem se comprometer em sua solução, conciliando interesses
Assim, admite a utilização de práticas restaurativas em casos penais, tornando-se um modelo completo
Prevenção do delito
A prevenção do delito constitui um dos principais objetivos da criminologia
A prevenção do delito representa, senão a principal função, pelo menos uma das mais importantes da atividade policial
O crime é um problema interpessoal e comunitárioUm problema da comunidade, que nasce na comunidade e deve ser resolvido pela comunidade
A criminologia clássica contemplou o delito como enfrentamento formal, simbólico e direto entre 2 rivais (estado e infrator), que lutam entre siA reparação do dano causado à vítima e a ressocialização do infrator não interessam
A moderna criminologia preocupa-se com osa protagonistas, além de destacar o lado humanoApenas o castigo não resolve a questãoRessocializar o delinqüente, reparar o dano à vítima e prevenir o problema são o âmago deste estudo
Formas de prevençãoPrevenção primária
Voltada para conscientização, buscando neutralizar o delito antes que ocorraÉ a mais eficazAtua de médio a longo prazoExige prestações sociais e intervenção comunitáriaComposta por ações dirigidas ao meio ambiente físico e socialMaterializa-se nas oportunidades de educação e trabalho oferecidos na comunidadeLimitação e controle do uso de armas, modificação de horários e locais de atividades econômicas, sociais, culturaisPromoção da educação, habitação, trabalho, qualidade de vidaEstratégias de política cultural, econômica e social com o fim de dotar os cidadãos de capacidade social para superar de forma produtiva eventuais conflitos
Prevenção secundáriaAtua posteriormente, quando já ocorrido o conflito criminalOpera a curto e médio prazoEngloba a política legislativa penal, bem como a ação policial, pois é composta por ações dirigidas a pessoas e grupos mais suscetíveis de praticar ou sofrer crimes e violências
Prevenção terciáriaÉ a única que possui destinatário identificável (recluso), bem como objetivo certo (evitar a reincidência)Possui caráter punitivo, embora sua intervenção seja parcial, tardia e insuficienteDirigidas a pessoas que já praticaram crimes, visando evitar a reincidência e a promover seu
tratamento, reabilitação e reintegração familiar, profissional e social
Técnicas de prevenção situacionalEsforço
Pretende dificultar a prática do delito, mediante instalação de barreiras físicas, obstáculos materiais ou por meio de pessoas
RiscoAtravés do controle de entradas e saídas, cujo fim não é excluir pessoas não desejadas, mas incrementar o risco de detenção daqueles que não cumprem os requisitos para acessar ou abandonar um determinado espaço
RecompensasDeseja-se demonstrar ao infrator a redução dos ganhos ou recompensas com a prática do delito, deixando-o sem estímulo para prosseguir na prática do crime
Sentimentos de culpa do infratorEficaz pela estimulação da consciência, reforçando a condenação moral da conduta do infrator, sobretudo através de campanhas de sensibilização
Urge a ponderação das justas expectativas da vítima (reparação do dano), do próprio infrator (ressocialização), da comunidade (pacificação das relações sociais)Assim, reparação do dano causado, ressocialização do infrator e pacificação das relações sociais são metas irrenunciáveis de qualquer sistema de resposta ao delito
Programas de prevenção ao delito
A filosofia prevencionista que contagia a criminologia moderna tem motivado o aparecimento de programas especiais de prevenção ao crime, adotando-se o ideal de jeffery onde mais polícia, mais justiça, mais cadeia e mais pena não bastam para controlar a criminalidade
A melhor forma de se combater a criminalidade é alcançando o crime em suas causas, suas raízes, não suas conseqüências
Programas de prevenção sobre áreas geográficasProgramas de prevenção axiológicoProgramas de prevenção político criminal
Prevenção vitimária
Verifica-se por meio do papel ativo da vítima na dinâmica do crime, gerando a perigosidade vitimal, tendo em vista fatores como sua condição social, física, idade, entre outras vulnerabilidades
O crime é fenômeno seletivo, não casual, fortuito ou aleatório: busca lugar oportuno, momento adequado e vítima certa também
A condição de vítima tampouco depende do azar ou fatalidade, senão de certas circunstâncias concretas, suscetíveis de verificação
Assim, fundado na teoria da ocasião, apresenta-se a preocupação com locais considerados hot spots, onde há concentração de causas que podem levar ao crime
Um outro aspecto a ser observado diz respeito à rotina da vítima
Finalidades da criminologia
Tem o papel central de apresentar a realidade criminal como ela é, sem distorções ou subjetivismo
A função essencial da criminologia atualmente consiste em analisar o fenômeno do crime em interação social, inclinando-se a ser uma ferramenta para a preservação dos direitos humanos e das garantias fundamentais dos cidadãos
A função básica consiste em infomar a sociedade e os poderes públicos sobre o delito, o delinqüente, a vítima e o controle social, reunindo um núcleo de conhecimentos que permita compreender cientificamente o problema criminal, preveni-lo e intervir eficaz e positivamente no homem delinqüente
A criminologia se encarrega de elaborar teorias e hipóteses sobre as razões para o aumento de determinado delitoOs criminológos dão estas informações a quem elabora a política criminal, os quais, por sua vez, idealizarão soluções, proporão leis etc., o que se faz por meio do direito penalPosteriormente, novamente competirá ao criminólogo avaliar o impacto produzido por essa nova lei na criminalidade
O destino fim da criminologia consiste no controle da criminalidade, na prevenção do delito
Classificação dos delinqüentes
Uma das mais importantes divisões dos criminosos em categorias se deu por Enrico Ferri, em seu pensamento positivistaDizia ser o fenômeno criminal decorrência de fatores antropológicos, físicos e sociais
ClassificaçãoNatoLoucoHabitualOcasionalPassional
Criminosos (Candido Mota) Fronteiriço
Estão na zona fronteiriça entre a doença mental e a normalidadePossuem falhas no senso ético-moralAgem com frieza e insensibilidadeSão reincidentes
HabitualPreenchem um perfil urbanoCometem crime desde a infância ou juventudeHá uma evolução da vida criminosaDe regra, associam-se a organizaçõesNão se arrependemFazem da delinqüência um meio de vidaSão profissionais do crime
OcasionalNão possuem tendência para a prática de crimesPratica-os ocasionalmente, por influência do meio social ou devido à oportunidade surgidaQuase sempre cometem pequenos furtos, mostram posteriomente arrependimento e após voltarem à liberdade tendem a não reincidirHá menor periculosidade e maior readaptação social
ImpetuososCometem o crime levados por forte emoção, sem premeditaçãoNa maioria pessoas de temperamento nervoso e sensibilidade exagerada
Cometem crime impelidos por paixões pessoais, políticas e sociaisArrependem-se posteriormente
LoucosSão os portadores de doença mental que compromete totalmente sua capacidade de autodeterminação, sendo inimputáveis
Classificação (Hilário Veiga de Carvalho)Biocriminosos puros
É um pseudocriminoso, pela não interferência da vontadeDelinqüências psicóticas e por doença mentalInterferência de apenas fatores biológicos
Biocriminosos preponderantesBiomesocriminososMesocriminosos preponderantesMesocriminosos puros
É um pseudocriminoso, pela não interferência da vontadeApenas fatores mesológicos
Fatores criminológicos condicionantes
A moderna criminologia científica, ao explicar o fenômeno criminal, utiliza 3 grandes grupos de modelos teóricos
Modelos de cunho psicológicosModelos de cunho biológicosModelos de cunho sociológicos
Psicologia criminal
Cabe à psicopatologia delitimitar o conceito de enfermidade ou transtorno mental
Cabe à psicologia o estudo da estrutura, gênese e desenvolvimento da conduta criminal
PsicopatológicosNosologias psiquiátricas
OligofrênicosDelirium e demênciasÁlcool e outras toxicomanias
Maior número de delitos praticados durante a síndrome amotivacional (fase em que o sujeito não está impregnado pelo tóxico, nem dinamizado pela carência, visando justamente evitá-la)
Esquizofrenia e transtornos psicóticos (paranóia ou transtorno delirante)Transtornos do estado de ânimo e do humor (bipolares, maníacos-depressivos)Transtornos de ansiedade (neurose)Transtornos sexuaisTranstornos no controle dos impulsosDelinqüência psicopática ou personalidade antissocial
PsicológicosEgo fraco ou abúlico (Maria vai com as outras)Mimetismo (modelo, estilo que nos espelhamos)Desejo de lucro imediato (não suportam espera ou esforço para vencer)Necessidade de status ou notoriedadeInsensibilidade moral (loucos morais)Espírito de rebeldia (anômicos)
BiológicosAntropometria (A. Bertillon, bertilonagem)Antropologia (herança lombrosiana, seu criador)Biotipologia (correlação morfopsicológica)Neurofisiologia moderna
EndocrinologiaSociobiologia (contesta a equipotencialidade) e bioquímicaGenética criminal
SociológicosDesorganização familiarReenculturaçãoPromiscuidadeEducação e escolaridadeReligiãoFator econômico
Vitimologia
Uns dizem ser o mero estudo da vítima
Outros a definem como uma disciplina que tem por objeto o estudo da vítima, de sua personalidade, de suas características, de suas relações com o delinqüente e de seu papel na gênese do delito
A retomada da importância da vítima se deu no período denominado fase do redescobrimento, em meados de 1950, após as atrocidades da II guerra mundial
A vítima não poderia ser mais considerada mera coadjuvante de uma infração penal, limitada à simples condição de sujeito passivo do crime, eis ser impossível fazer justiça esquecendo-se de sua pessoa
Embora Benjamin Mendelson seja reputado fundador da criminologia, antes dele outros estudos já haviam sido feitosHans Von Hentig é considerado por muitos o verdadeiro fundador da vitimologia, quando classificou a vítima nata,
aquela que possui comportamento agressivo, personalidade insuportável
No Brasil, estudos surgiram em 1970, com Armida Begamini Miotto
Classificação
GuaracyVítimas inocentesVítimas natas
Vítimas provocadoras ou menos culpadas que o delinqüenteCom seu comportamento inadequado desencadeiam a a perigosidade vitimal
Vítimas omissasVítimas da política socialVítima inconformadas ou atuantes
MendelsonVítima completamente inocenteVítima menos culpada que o delinqüenteVítima tão culpada quanto o delinqüenteVítima mais culpada que o delinqüente
Crime praticado após provocação injustaVítima como única culpada
Reação legítima a uma agressão injustaSuicidasCulpa exclusiva
Iter victimae
É o caminho interno e externo que segue um individuo para se converter em vítima, o conjunto de etapas que se operam cronologicamente no desenvolvimento da vitimização
IntuiçãoAtos preparatórios (conatus remotus)Início da execução (conatus proximus)ExecuçãoConsumação
Vitimização
É o estudo da vítima sob um enfoque estatístico, onde através de pesquisas e perguntas feitas a pessoas escolhidas para representarem a população, é possível saber quantas foram ou não vítimas de algum tipo de crime
As pesquisas ajudam a segurança pública, sendo instrumentos importantes do planejamento estratégico da polícia, indicando tipos de crimes e áreas, pessoas mais expostas
Vítima primáriaVítima secundária (sobrevitimização)Vítima terciáriaVítima indireta
Homicídio privilegiadoAborto consentidoRixaEstelionato (casos de torpeza bilateral)Corrupção ativa e passivaCurandeirismo