crimes de perigo comum globalização, novas tecnologias e novos atores sociais: sociedade mais...
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Crimes de Perigo Comum
• Globalização, novas tecnologias e novos atores sociais: sociedade mais complexa e perigosa
• Sociedade de riscos: Ulrich Beck• Há substituição da nossa sociedade por uma
sociedade tecnológica, massificada e global: conduta humana anônima passou a criar riscos globais
• Jesús-Maria Silva Sanchez: aumento de tipificações dos tipos formais e de perigo
Terminologia
• Perigo: embora a legislação continue a adotá-lo, não é mais considerado o termo adequado, preferindo-se a expressão risco
• Massimo Donini: risco é perigo que depende de uma decisão humana e que pode-lhe ser imputado
• Dano: há lesão efetiva do bem jurídico; perigo: basta que o bem jurídico seja posto em perigo
Classificação
• Teoria subjetiva
• Teoria objetiva
• Teoria objetivo-subjetiva
• Podem os crimes de perigo ser entendidos:
1. Perigo concreto: o perigo integra o tipo
2. Perigo abstrato: o perigo é motivo da proibição da conduta (presumidos)
Constitucionalidade dos Crimes de Perigo
• Teses de que os crimes de perigo põem em risco o princípio da legalidade e culpa
• Jorge Figueiredo Dias: em Portugal os doutrinadores e o Tribunal Constitucional têm afirmado a sua constitucionalidade, desde que
1. Proteção de bens jurídicos de grande importância
2. Identificação clara do bem jurídico tutelado3. Descrição da conduta típica de forma clara e
minuciosa
Classificação
• Crimes de perigo individual e crimes de perigo comum ou coletivo
• Crimes de resultado de perigo (concreto): resultado de uma ação prévia
• Crimes de mera conduta (perigo abstrato)
Crimes de Perigo Comum
• Incêndio• Explosão• Uso de gás tóxico ou asfixiante• Fabrico, fornecimento, aquisição, posse
ou transporte de explosivos ou gás tóxico, ou asfixiante
• Desabamento ou desmoronamento• Formas qualificadas de crime de perigo
comum
Incêndio
• Bem Jurídico: incolumidade pública (estado de preservação ou segurança em face de possíveis resultados lesivos (Hungria); proteção da vida, integridade física e bens patrimoniais alheios
Sujeitos do Crime
1.Sujeito ativo: qualquer pessoa, inclusive o proprietário
• Protege-se não apenas o patrimônio público, mas a segurança pública
2.Sujeitos passivos: a coletividade e a pessoa cujo patrimônio (vida, integridade física e patrimônio) seja ameaçado
Tipo Objetivo
• Causar incêndio: combustão que, por sua proporção, pode propagar-se
• Causar: provocar• Incêndio: fogo perigoso. Carbonização
progressiva e continuada. Pode não haver chamas
• Conduta: pode ser praticado por ação ou omissão (deixar, propositalmente, propagar-se fogo provocado por acidente, quando possível fazê-lo)
Tipo Objetivo (cont.)
• Crime de perigo concreto
• Não precisa que pessoas sejam lesadas ou individualmente postas em risco
• Exame de corpo de delito
• Perigo pode decorrer não apenas do fogo mas do pânico
• Perigo deve ser analisado ex-ante
Tipo Subjetivo
• Dolo de perigo: basta a vontade de causar o incêndio com a consciência de que o agente pode causar risco a outras pessoas ou bens. Há o dolo de dano quanto a coisa que se deita fogo e o dolo de perigo em relação a outras coisas ou pessoas não individuadas
• Dolo: direto ou eventual• Incêndio por contaminação: ateado fogo sobre
uma coisa que se alastra para outra. Há responsabilização, por dolo ou culpa
Consumação/Tentativa
• Consumação: com a situação de perigo: não basta a causação do fogo sobre a coisa, mas há necessidade de que haja o efetivo perigo
• Tentativa: admissível (Hungria: enquanto não surgir a situação de perigo).Ex. de José Faria da Costa: A introduz em edifício dois bujões de gasolina e com eles mechas incendiárias, ao ser surpreendido, dúvidas não há que houve crime tentado
Forma Culposa
• Pode manifestar-se:1.de forma involuntária (inadvertidamente deita
fogo em coisa inflamável)2.de maneira intencional (causa o fogo de maneira
intencional, sem haver previsão do incêndio)• Pode ser praticado por ação ou omissão• Ex: queimadas, estourar bomba junina junto a
combustível• As causas de aumento de pena não se aplicam
ao incêndio culposo
Incêndio Qualificado (causas de aumento de pena)
1. Causas de aumento de pena relacionadas ao fim do agente: intuito de obter vantagem pecuniária
• Elemento subjetivo• Vantagem pecuniária é conseqüência do crime e não
preço do crime• Não se exige que obtenha a vantagem• Ex.: incendiar escritório para destruir documentos
comprometedores• Se visa a obtenção de valor do seguro:1. Há apenas incêndio qualificado (Prado/Bitencourt)2. Hungria e Fragoso: quando o agente recebe a
indenização do seguro: concurso material de estelionato (171, § 2º, V) + incêndio qualificado
Cont. (Causas de aumento de pena)
2. Causas de aumento de pena relacionadas à natureza ou destinação da coisa
a)Casa habitada ou destinada a habitação:• Pode não possuir pessoas no momento do
incêndio• Residencial ou comercial• Não abrange: 1. Construções ainda não habitadas2. Quando não é destinada à habitação• Destinada a habitação: embora construída
para esse fim, não é habitada
Cont. (Causas de aumento de pena)
b)Edifício público ou destinado a uso público ou à obra de assistência social ou de cultura
• Edifício público: pertencente à União, Estado e Município. Se o prédio é público, mas alugado a particular: não há a majorante (Noronha/Capez)
• Destinado a uso público: ainda que particular, é destinado ao público (cinema, museus, teatro); obra de assistência social (hospital, asilo, creche) ou de cultura (biblioteca, colégio)
Cont. (Causas de aumento de pena)
c)embarcação, aeronave, comboio ou transporte coletivo
• De pessoas e não de coisas• Pode não estar ocupado, no momento, por
pessoasd)Estação ferroviária ou aeródromo: omissão
portos e rodoviase)estaleiro, fábrica (indústria), oficina (manual):
podem estar desocupados no momento do incêndio
Cont. (Causas de aumento de pena)
f)Depósito de explosivo (detonação), combustível (alimenta o fogo) e inflamável (facilidade com que se acende): maior perigo com a incineração de tais locais
g)Poço petrolífero ou galeria de mineração: Hungria: dificuldade de extinção do fogo ou maior dificuldade de defesa contra o perigo extensivo
Cont. (Causas de aumento de pena)
h)lavoura, pastagem, mata ou floresta• Lavoura: área cultivada de produtos destinados
ao consumo• Pastagem: vegetação destinada ao gado• Mata: árvores de grande porte• Floresta: matas extensas• Incêndio em mata ou floresta: art. 41, da Lei nº
9605/98. Se acarretar perigo comum: artigo 250 na forma majorada (Capez). Pela derrogação: José Silva Júnior e Guilherme Madeira Dezem
Problemas
• Não abrange a causa de aumento de pena: pessoa que acorre ao local do incêndio
• Mais de uma vítima:1. Concurso formal2. Apenas o crime qualificado pelo resultado• Fogo não perigoso: dano qualificado, exercício
arbitrário, contravenção florestal• Pessoa certa: artigo 132, 121, § 2º,III• Emprego de artefato explosivo ou incendiário: crime
de perigo presumido (art. 16, parágrafo único, III, da Lei nº 10.826/03)
• Concurso formal: com supressão de documento
Explosão
• Bem Jurídico: igual ao do crime de incêndio
• Explosão:1. Com dinamite ou substância de efeito
análogo2. Privilegiada: não é dinamite3. Majorada: com as mesmas causas de
aumento de pena para o incêndio4. Culposa
Sujeitos do Crime
1.Sujeito ativo: qualquer pessoa, inclusive o proprietário
• Protege-se não apenas o patrimônio público, mas a segurança pública
2.Sujeitos passivos: a coletividade e a pessoa cujo patrimônio (vida, integridade física e patrimônio) seja ameaçado
Tipo Objetivo
• Explosão: estrondo e deslocamento de ar, provocado pela expansão de várias substâncias
• Figueiredo Dias: expansão ou desintegração violenta da matéria com deslocação brutal de massa de ar motivada por libertação de gases
• Pode a explosão decorrer:
1. De rompimento de recipientes
2. De reações químicas
Tipo Objetivo (cont.)
• Arremesso: lançamento à distância• Colocação: por/arrumar/alocar, assentar• Objeto material: engenho (bomba, aparelho,
máquina)• Dinamite: é a nitroglicerina embebida em
materiais sólidos• Substância de efeitos análogos: TNT, benzina,
trotil, gelatinas explosivas, fogos de artifícios• Perigo concreto
Tipo Subjetivo
• Dolo: vontade livre de provocar a explosão, arremesso ou colocação de engenho de dinamite com a consciência de que pode atingir indeterminado número de pessoas
Consumação/Tentativa
• Consuma-se: com a explosão, com o arremesso e com a colocação de engenho de dinamite ou substância de efeito análogo, desde que haja perigo comum
• Tentativa: difícil ocorrência, pois são punidos os atos que antecedem a explosão, não sendo essa última requisito para que o crime se configure
Explosão privilegiada
• Previsão de pena menor
• Exemplos: pólvora negra e vapor de água
• Causa de aumento de pena: as mesmas previstas para o tipo de incêndio
Explosão Culposa
• Explosão de dinamite: pena maior
• Explosão de outra substância: pena menor
• Apenas é tipificada a conduta de causar explosão, não abrangendo o arremesso nem a colocação
Problemas
• Provocar explosão por inconformismo político: Lei de Segurança Nacional
• Emprego de artefato explosivo: artigo 16, parágrafo único, III, da Lei, nº 10826/2003 (perigo presumido)