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Introdução Tema ainda inexplorado na literatura sobre crime e violência no Brasil, o ambiente de opor- tunidades para a ocorrência de delitos tem reve- lado uma notável capacidade explicativa na litera- tura criminológica internacional. A dinâmica de fatores ambientais na distribuição de crimes em espaços urbanos tem sido cada vez mais utilizada para a discussão dos componentes racionais da atividade criminosa, assim como para o desenvol- vimento de estratégias de prevenção situacional (Newman et al., 1997; Clarke, 1997; Clarke e Fel- son, 1993). No contexto brasileiro, isso é uma inovação conceitual e teórica. Na perspectiva criminológica tradicional, a ênfase na explicação da distribuição de crimes recai nos vários fatores que afetam a es- colha por parte dos indivíduos, como predisposi- ções pessoais, forças socializantes da família, dos pares e da escola, reforços proporcionados pela comunidade e, ainda,arranjos institucionais de di- versas naturezas. Do ponto de vista da formulação de políticas públicas, esse tipo de resultado pode ser irrelevante, uma vez que aponta para fatores que não estão sob o controle do Estado ou onde a intervenção estatal pode não ser desejável. Outros fatores estão num plano no qual o Estado tem mui- to pouco a fazer (Wilson, 1983). Não se pode obri- gar os pais a amarem os filhos, comunidades a su- pervisionarem seus adolescentes ou proibir jovens de desenvolverem certas atividades e comporta- mentos de risco. Existem algumas vantagens em conceber cri- mes não como resultado de disposições sociológi- cas e psicologicamente determinadas, mas de de- cisões e escolhas individuais. Dos determinantes sociais do comportamento de criminosos, partimos CRIME, OPORTUNIDADE E VITIMIZAÇÃO Cláudio Beato F. Betânia Totino Peixoto Mônica Viegas Andrade Artigo recebido em setembro/2003 Aprovado em março/2004 RBCS Vol. 19 nº. 55 junho/2004

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Introdução

Tema ainda inexplorado na literatura sobrecrime e violência no Brasil, o ambiente de opor-tunidades para a ocorrência de delitos tem reve-lado uma notável capacidade explicativa na litera-tura criminológica internacional. A dinâmica defatores ambientais na distribuição de crimes emespaços urbanos tem sido cada vez mais utilizadapara a discussão dos componentes racionais daatividade criminosa, assim como para o desenvol-vimento de estratégias de prevenção situacional(Newman et al., 1997; Clarke, 1997; Clarke e Fel-son, 1993).

No contexto brasileiro, isso é uma inovaçãoconceitual e teórica. Na perspectiva criminológicatradicional, a ênfase na explicação da distribuição

de crimes recai nos vários fatores que afetam a es-colha por parte dos indivíduos, como predisposi-ções pessoais, forças socializantes da família, dospares e da escola, reforços proporcionados pelacomunidade e, ainda,arranjos institucionais de di-versas naturezas. Do ponto de vista da formulaçãode políticas públicas, esse tipo de resultado podeser irrelevante, uma vez que aponta para fatoresque não estão sob o controle do Estado ou onde aintervenção estatal pode não ser desejável. Outrosfatores estão num plano no qual o Estado tem mui-to pouco a fazer (Wilson, 1983). Não se pode obri-gar os pais a amarem os filhos, comunidades a su-pervisionarem seus adolescentes ou proibir jovensde desenvolverem certas atividades e comporta-mentos de risco.

Existem algumas vantagens em conceber cri-mes não como resultado de disposições sociológi-cas e psicologicamente determinadas, mas de de-cisões e escolhas individuais. Dos determinantessociais do comportamento de criminosos, partimos

CRIME, OPORTUNIDADE E VITIMIZAÇÃO

Cláudio Beato F.Betânia Totino PeixotoMônica Viegas Andrade

Artigo recebido em setembro/2003Aprovado em março/2004

RBCS Vol. 19 nº. 55 junho/2004

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para a análise de crimes e das condições em queeles ocorrem. O que se pretende é descobrir osprocessos de tomadas de decisão por parte dos cri-minosos. Quais são os mecanismos cognitivos emação? Como eles justificam suas condutas? Quais in-formações são relevantes para a ação criminosa?(Clarke e Cornish, 1985).

Contexto teórico da discussão

O impacto das teorias ecológicas dos anos de1930 e 1940 sobre a teoria das oportunidades temsido ressaltado pelos modernos comentaristas dateoria criminológica (Bursick e Grasmick, 1993).Desde então, a teoria social se preocupa com as-pectos de natureza ecológica e ambiental na deter-minação de fenômenos sociais tais como o da cri-minalidade (Park e Burguess, 1924; Hawley, 1944;Shaw e MacKay, 1942). A mútua dependência en-tre grupos funcionalmente distintos que formamrelacionamentos simbióticos, assim como as de-mandas sobre o ambiente que marcam organiza-ções comensalistas, fornecem as bases para acompreensão da interação entre predadores e víti-mas no mercado de atividades criminosas. Nas pa-lavras de Felson:

Um novo padrão de criminalidade surge com ocrescimento das cidades, com ofensores predató-rios ocultos na multidão, que atacam e, então, seescondem novamente para não serem presos.Vendas ilegais e consumo, assim como brigas po-dem sobreviver mais facilmente dentro de umambiente urbano (1994, p. 49).

Jacobs (1961) destacava os ecossistemas ur-banos compostos por processos físicos, econômi-cos e éticos, em que a diversidade e a interdepen-dência cumpririam a função de revitalização econtrole. O problema da segurança nas grandes ci-dades estaria diretamente relacionado ao enfraque-cimento dos mecanismos habituais de controleexercidos naturalmente pelas pessoas que vivemnos espaços urbanos. A partir daí, perspectivas deintervenção ambiental passaram a incorporar con-ceitos como o de “espaço defensivo” (Newman,1972) ou de “prevenção de crime através do design

ambiental” (Jeffery, 1971). A idéia de espaço defen-sivo relaciona-se a soluções arquitetônicas de recu-peração de moradias públicas nos Estados Unidos,obrigando seus moradores a exercer seus naturaisinstintos de “territorialidade”. Este instinto é perdi-do quando se constroem grandes prédios de habi-tação coletiva, em que os moradores mal se conhe-cem, e onde existe uma variedade enorme deacessos não supervisionados que facilitam a ativi-dade de predadores. A idéia é reduzir esse anoni-mato não apenas pelo incremento da vigilância na-tural, mas também diminuindo as vias de escapepara potenciais ofensores.

Outra estratégia é denominada Teoria dasAbordagens de Atividades Rotineiras (Cohen e Fel-son, 1979), que busca explicar a evolução das taxasde crime não por meio das características dos crimi-nosos, mas das circunstâncias em que os crimesocorrem. Para que um ato predatório ocorra é ne-cessário que haja uma convergência no tempo e noespaço de três elementos: ofensor motivado, quepor alguma razão esteja predisposto a cometer umcrime; alvo disponível, objeto ou pessoa que possaser atacado; e ausência de guardiões, que são ca-pazes de prevenir violações.

Trata-se de um modelo bastante econômicono que diz respeito aos elementos utilizados. Con-tudo, a própria definição desses elementos guardamuitas sutilezas. Embora esteja se tratando de umaabordagem preocupada com as características am-bientais nas quais ocorrem os crimes predatórios,ela ainda mantém algumas ressonâncias na crimi-nologia mais tradicional ao enfatizar a motivaçãodos ofensores como um dos elementos centrais. Aorigem dessa motivação, entretanto, é deixada emaberto. O segundo aspecto é que a ação predatóriadirige-se a “alvos”, ou seja, pessoas ou objetos emdada posição no tempo e no espaço. Isto terminapor retirar o aspecto moral que a palavra vítima car-rega consigo: um alvo define-se como coisas quetem algum valor, além de algumas propriedadesque o tornam adequado à ação predatória:

[...] adequabilidade provavelmente reflete tais coi-sas como valor (o desejo material ou simbólica deuma propriedade pessoa ou propriedade para osofensores), visibilidade física, acesso e a inérciade um alvo para o tratamento ilegal pelos ofenso-

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res incluindo o tamanho, peso, portabilidade oucaracterísticas de trancamento da propriedade queinibem sua remoção e a capacidade das vítimaspessoais a resistirem aos ataques com ou sem ar-mas (Cohen e Felson, 1979, p. 591).

Finalmente, os guardiões não se referem ape-nas às organizações do sistema de justiça criminal,tal como concebido pela criminologia mais tradi-cional. Isso significa que os mecanismos de contro-le social informais são igualmente críticos na ocor-rência de delitos. Nas palavras de Clarke e Felson:

Realmente, as pessoas mais aptas para prevenircrimes não são os policiais (que raramente estãopor perto para descobrir os crimes no ato), masantes os vizinhos, os amigos, os parentes, os tran-seuntes ou o proprietário do objeto visado. Noteque a ausência de um guardião adequado é cru-cial. Definir um elemento-chave como ausênciaantes do que presença é claramente um princípiofundamental na despersonalização e na despsico-logização no estudo do crime. Certos tipos de pes-soas são mais prováveis de estar ausentes do queoutras, mas o fato de uma ausência ser enfatizadaé mais um lembrete de que o movimento das en-tidades físicas no tempo e no espaço é centralpara esta abordagem (Clarke e Felson, 1993, p. 3).

Cohen e Felson mostram como característi-cas – local de residência dos ofensores e das víti-mas, relacionamento entre ofensores e vítimas, lo-cal dos contactos, idade das vítimas ou o númerode adultos em uma casa e horário de ocorrência,entre outras – estão relacionadas à incidência decrimes. Assim, o aumento de arrombamentos resi-denciais liga-se a mudanças na estrutura de em-pregos na sociedade norte-americana, de tal ma-neira que um número maior de pessoas (incluindomulheres) abandona os lares, deixando-os à mer-cê das atividades predatórias.

A idéia um tanto óbvia de que ofensores e ví-timas devem convergir no tempo e no espaço deuorigem a estudos que visam a identificar as dinâmi-cas pelas quais os indivíduos proporcionam opor-tunidades para vitimização. Esse tipo de aborda-gem usa dados de pesquisas de vitimização paracompreender as diversas maneiras pelas quais aalocação de atividades de trabalho e lazer pelos in-

divíduos influencia suas probabilidades de vitimi-zação (Hindelang, 1978). As diferenças de “estilosde vida” afetam o montante de tempo alocado acada uma dessas atividades e, conseqüentemente,a exposições a situações de risco de vitimização.

Neste artigo trataremos especificamente dateoria das oportunidades avaliada a partir de da-dos de pesquisa de vitimização realizada em BeloHorizonte (Crisp, 2002). A utilização desse tipo dedados tem algumas implicações que merecem serressaltadas. Em primeiro lugar, salienta-se que astaxas de vitimização são distintas nos diferentesgrupos e segmentos sociais. Isso significa que nãonos deteremos em elementos mais locais e de vi-zinhança em que as vitimizações ocorrem (Bursicke Grasmick, 1993), embora o questionário utiliza-do nos permita fazer avaliações de alguns fatoresfísicos e ambientais que colaboram para as ocor-rências. Em particular, observaremos a influênciade variáveis de desordem e incivilidade (Kelling eColles, 1996). Na verdade, a plena investigação defatores de ordem ecológica nos levaria ao desen-volvimento de uma “ecometria”, em que instru-mentos específicos poderiam ser desenvolvidospara avaliar processos físicos e ambientais, assimcomo processos de supervisão e controle que con-tribuem para a incidência de crimes (Sampson eRadenbush, 1997).

Em segundo lugar, não trataremos de “crime”de uma maneira genérica, mas das condições deincidência de determinados tipos de crime. A de-nominação “crime” implica fenômenos muito dis-tintos: “roubar uma revista em quadrinhos, esmur-rar um colega, sonegar impostos, assassinar aesposa, roubar um banco, corromper políticos, se-qüestrar aviões – esses e inumeráveis outros atossão crimes” (Wilson e Herrenstein, 1985, p. 21). Ex-ploraremos aqui especificamente os correlatos decrimes, como furto, roubo e agressão, efetivadosou não.

Uma abordagem da criminalidade toma a ví-tima como objeto de estudo, buscando investigarcomo o estilo de vida do indivíduo e as oportuni-dades geradas por ele influenciam a probabilida-de de vitimização. Esse enfoque é baseado nasteorias de “estilo de vida” (life-style models) e“oportunidades” (opportunity models), utilizadas

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em estudos de vitimização, como, por exemplo,de Cohen, Kluegel e Land (1981). Fatores quemais influenciam o risco de vitimização dos indi-víduos são: exposição, proximidade da vítima aoagressor, capacidade de proteção, atrativos das ví-timas e natureza dos delitos. A exposição é defi-nida pela quantidade de tempo que os indivíduosfreqüentam locais públicos, estabelecendo conta-tos e interações sociais. O estilo de vida de cadaindivíduo determina em que intensidade os de-mais fatores estão presentes na sua vida. Assim,determina em que medida os indivíduos se ex-põem ao freqüentar lugares públicos, qual a suacapacidade de proteção, seus atrativos e a proxi-midade com os agressores.

A proximidade da vítima ao agressor diz res-peito à freqüência de contatos sociais estabeleci-da entre ambos, o que depende do local de resi-dência, das características socioeconômicas e dosatributos de idade e sexo, assim como da proxi-midade de interesses culturais. Indivíduos com amesma idade costumam freqüentar os mesmosambientes nas atividades de lazer.

A capacidade de proteção está relacionada aoestilo de vida das vítimas. Indivíduos que têm maiorcapacidade de se resguardar, evitando contato compossíveis agressores, têm menor probabilidade deserem vitimados. Por exemplo, indivíduos que an-dam de carro em vez de ônibus têm maior capaci-dade de proteção porque diminuem a possibilida-de de contato com os agressores. Do mesmo modo,aqueles que contratam segurança privada dimi-nuem a probabilidade de serem vítimas de crime.

As vítimas tornam-se ainda mais atrativasquando oferecem menor possibilidade de resis-tência ou proporcionam maior retorno esperadodo crime. Os indivíduos que oferecem menorpossibilidade de resistência, provavelmente, rea-gem com pouca intensidade, o que representamenor risco de aprisionamento para o agressor.Aqueles que proporcionam maior retorno espera-do do crime têm maior probabilidade de seremvitimados, uma vez que, por um mesmo risco deaprisionamento, o criminoso pode ganhar mais.

A natureza do delito é importante para de-terminar em que proporção cada fator expostoacima influencia a probabilidade de vitimização.

Isso acontece porque a influência de cada fator nadeterminação do crime é diferente, dependendodo tipo de delito. Por exemplo, no caso de homi-cídios em Belo Horizonte a proximidade geográ-fica entre a vítima e o agressor é um fator crucial(Beato, 2003).

Este artigo baseia-se nos modelos de estilovida e de oportunidades, por meio dos quais pro-curamos descrever o perfil da vítima de crimes nomunicípio de Belo Horizonte, ou seja, suas carac-terísticas, condição socioeconômica, hábitos, ca-racterísticas familiares e características dos locaisonde vivem. A pesquisa foi realizada com base nocálculo da probabilidade de vitimização, de acor-do com as características do indivíduo.

Metodologia

a. DadosOs dados utilizados neste trabalho provêm

da Pesquisa de Vitimização realizada pelo Centrode Estudos em Criminalidade e Segurança Pública(Crisp), entre fevereiro e março de 2002. Esse tipode pesquisa contém informações sobre os aconte-cimentos criminais sofridos pelos indivíduos, so-bre a quantidade e o tipo de perda incorrida e ascaracterísticas dos criminosos. Além disso, englo-ba informações sobre as características socioeco-nômicas, os hábitos e as características de resi-dência e vizinhança dos indivíduos.

A pesquisa de vitimização realizada em BeloHorizonte considera as seguintes categorias decrime: furtos (ato de apropriação de bens alheiossem que a vítima perceba a apropriação na horada efetivação do ato); roubos (ato de apropriaçãode bens alheios em que a vítima percebe a apro-priação na hora da efetivação do ato); tentativa deroubo (quando o indivíduo é vítima de roubo,mas consegue evitar a consumação do mesmo);roubo em residência (ato de apropriação de bensalheios que estejam dentro da residência da víti-ma, estando ela presente ou não); tentativa deroubo em residência (quando o indivíduo é víti-ma de roubo na residência em que, por algummotivo, não consegue ser efetivado); agressão(ato de ferir outrem com ou sem uso de armas);

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tentativa de agressão (quando o indivíduo é víti-

ma de agressão, mas não é ferido).1

O objetivo deste trabalho é, portanto, identi-

ficar, por intermédio da estimação de modelos eco-

nométricos, o perfil das vitimas no município de

Belo Horizonte, no ano de 2002. A fim de avançar-

mos no entendimento da criminalidade, analisa-

mos cada categoria de crime separadamente (furto,

roubo, roubo a mão armada e agressão). Em segui-

da, fizemos uma agregação, partindo de crimes de

menor periculosidade para os de maior periculosi-

dade, até que todos os crimes com motivação

econômica (furto, roubo, roubo a mão armada)

estivessem agregados. Ao trabalharmos separada-

mente com cada tipo de crime, flexibilizamos a hi-

pótese de que o perfil das vítimas de todos os cri-

mes com motivação econômica seja o mesmo. Por

exemplo, permitimos a diferenciação entre o per-

fil das vítimas de furto e de roubo a mão armada.

É nesse sentido também que consideramos as

combinações das tentativas e o crime efetivamen-

te sofrido com a hipótese de que as características

que influenciam a probabilidade de ser vitimado

sejam as mesmas que influenciam a probabilidade

de sofrer uma tentativa de vitimização.2

Os modelos serão estimados considerando

as categorias de agregação dos crimes apresenta-

da na Tabela 1. A primeira coluna indica a nume-

ração dos modelos e a segunda coluna indica o

tipo de crime que será analisado, ou seja, a variá-

vel dependente.

Foram consideradas independentes as variá-veis de características dos indivíduos, de caracte-rísticas da residência e da vizinhança, dos hábitospessoais, e para o Modelo de roubo em residên-cia, as variáveis de equipamentos de segurançadas residências.

b. Variáveis de características pessoaisSexo; cor; idade; estado civil; condição na ati-

vidade econômica;3 escolaridade; e renda familiar.

c. Variáveis de características da residênciaNúmero de moradores da residência; e con-

dição da residência.

d. Variáveis de característica da vizinhançaPrédios abandonados – variável construída

como dummy para a existência de prédios aban-donados na vizinhança; e tiro, variável dummypara existência de barulho de tiro na vizinhança.

e. Variáveis dos hábitos pessoaisTransporte público, variável dummy para o

uso freqüente de transporte público; e horárioque mais freqüenta/anda na rua – variável cons-truída como dummy para identificar se o indiví-duo anda mais na rua de noite ou de dia.

f. Variáveis de segurança residencialEste é um grupo de variáveis específicas do

Modelo de roubo em residência, as quais refletemo sistema de segurança existente. Seu efeito é am-bíguo, pois pode ocorrer um problema de endo-geneidade, isto é, as residências possuem maisequipamentos pelo fato de ter sofrido mais rou-bos. Se esse problema não ocorrer, esperamosque residências com mais equipamentos de segu-rança tenham menor probabilidade de sofrer rou-bo, pois a segurança aqui aumenta o risco de ocriminoso ser capturado. As variáveis são: presen-ça de grades nas janelas; presença de tranca extranas portas; olho mágico; interfone; existência decão; alarme; câmera de vídeo; vigia desarmado ouporteiro; vigia armado; muro com caco de vidro;muro com cerca elétrica; muro com mais de 2 me-tros; muro com menos de 2 metros; existênciaapenas de grade; e não possuir muro nem grade.

Tabela 1Tipos de Modelos

MODELO TIPO DE CRIME

Modelo 1 Furto

Modelo 2 Roubo

Modelo 3 Roubo e/ou tentativa de roubo

Modelo 4 Furto e/ou tentativa de roubo e/ou roubo

Modelo 5 Agressão

Modelo 6 Agressão e/ou tentativa de agressão

Modelo 7 Roubo em residência

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Método de estimação

A variável dependente assume valores zeroou um. Neste caso em específico, aplicamos osvalores tendo como variáveis dependentes os cri-mes apresentados na Tabela 1. Em todos os casosas respostas dos indivíduos são “sim, foi vítima docrime ou da tentativa do crime” ou “não foi víti-ma do crime ou da tentativa do crime”.

Análise descritiva

A incidência de vitimas na amostra varia bas-tante conforme o tipo de crime considerado. O fur-to foi o crime de maior incidência (13,92% na amos-tra), seguido do roubo (8,86%), roubo em residência(5,34%) e agressão (3,21%). As tentativas de come-ter os crimes incidem quase sempre na mesma pro-porção que os mesmos. No total da amostra, 22,4%dos indivíduos relataram ter sofrido algum tipo decrime.4 Na Tabela 2 mostramos, além da incidênciados crimes considerados, as combinações das víti-mas de crimes com as vítimas de tentativas dos mes-mos, por acreditar que as características que levamos indivíduos a serem vitimados e a sofrerem tenta-tivas de crimes são as mesmas.

As demais variáveis são mostradas na Tabela3, onde se relacionam com os delitos analisados.A incidência de furto é maior entre as mulheres(14,6%), enquanto a incidência de roubo é maiorentre os homens (9,6% dos homens em contrapo-sição a 8,4% das mulheres). A cor parece ser fatordeterminante quando se considera furto e roubo,pois estes incidem em uma proporção maior embrancos, 15,1% e 10,5%, enquanto em não brancosesta proporção cai para 12,9% e 7,3%, respectiva-mente. No caso da agressão, esse quadro se inver-te – os não brancos são mais vitimados (4,1% dosnão brancos em contraposição a 2,4% dos bran-cos). Esses resultados podem sugerir que talvez oproblema de exclusão social dos não brancos sejadeterminante da vitimização.

Com relação à idade, o grupo de 13 a 24anos é o de maior incidência tanto de furto comode roubo. Isto pode estar acontecendo devido aosfatores “exposição”, “menor capacidade de prote-ção” e “proximidade entre vítima e agressor”. In-divíduos mais jovens em sua maioria são solteiros,freqüentam mais lugares públicos sem se preocu-par muito com sua própria proteção. A proporçãode agredidos na amostra vai diminuindo à medi-da que consideramos as faixas etárias mais eleva-das, o que pode estar indicando a relação desse

Tabela 2Número e Proporção das Vítimas de Crime

Fonte: Pesquisa de vitimização realizada pelo Crisp em fevereiro/março de 2001.

VARIÁVEIS DE CRIMES NÚMERO DE VÍTIMAS PROPORÇÃO DA

NA AMOSTRA AMOSTRA VITIMADA (%)

Total de crimes 876 22,40Furto 545 13,92Roubo 347 8,86Tentativa de roubo 264 6,74Roubo em residência 209 5,34Tentativa de roubo em residência 217 5,54Agressão 126 3,21Tentativa de agressão 143 3,65Roubo ou tentativa de roubo 543 13,87Roubo ou tentativa de roubo ou furto 946 24,16Tentativa de roubo em residência ou roubo em residência 395 10,09Tentativa de agressão ou agressão 251 6,41

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Tabela 3Tipos de Crimes Versus Características das Vítimas

Fonte: Pesquisa de vitimização realizada pelo Crisp em fevereiro/março de 2002.

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tipo de crime com o fator exposição. Quanto ao

estado civil, a maior incidência de furto e roubo

estão entre os indivíduos solteiros e os separados.

Por exemplo, no caso de furto, do total de soltei-

ros, 15,8% foram vitimados, e dos separados,

14,5%. Esses indivíduos estão mais expostos, pois

tendem a passar menos tempo com suas famílias.

Talvez a agressão aconteça com mais freqüência

entre os solteiros pelo mesmo motivo.

Indivíduos que trabalham são vitimas prefe-

renciais de todos os tipos de crime. No caso de

roubo e furto, uma possível explicação é o fato de

Tabela 4Roubo em Residência Versus Variáveis de Controle

Fonte: Pesquisa de vitimização realizada pelo Crisp em fevereiro/março de 2002.

CRIME, OPORTUNIDADE E VITIMIZAÇÃO 81

serem mais atrativos, pois proporcionam maior re-torno esperado do crime. No caso de agressão, aexplicação pode residir no fato de estarem maisexpostos, uma vez que transitam mais em locaispúblicos, e manterem maior proximidade com pos-síveis agressores, pois seu círculo social é maior.

Os furtos e os roubos incidem mais em indi-víduos com nível superior e nos três grupos derenda familiar mais elevada, mostrando a impor-tância do fator atratividade.5 Indivíduos com nívelsuperior são mais bem educados e provavelmenteauferem mais rendas do que os demais grupos deescolaridade. Indivíduos com altas rendas são maisatrativos, pois exibem um maior retorno esperadodo crime. Em contrapartida, a agressão incide maisem indivíduos menos escolarizados e nos três me-nores grupos de renda, indicando a importância dacapacidade de proteção e do efeito socializador daeducação.

Com relação aos hábitos, indivíduos que an-dam de coletivo e sobretudo à noite apresentammaior incidência de todos os tipos de crime. Emcoletivos os indivíduos têm menor capacidade deproteção se comparados aos que circulam de car-ro, uma vez que estes têm menos contato comdesconhecidos e, ao mesmo tempo, estão maisprotegidos no interior de seus veículos. Além dis-so, ao andarem de transporte público, os indiví-duos se expõem mais, aumentando as oportunida-des de se tornarem vítimas. Os indivíduos queandam mais a noite são vítimas preferenciais, tal-vez porque apresentem menor risco de aprisiona-mento para o criminoso dada a menor incidênciade testemunhas nas ruas nesse período.

Quanto às características da residência e davizinhança, indivíduos que vivem em residênciasinvadidas têm maior probabilidade de sofreremagressão, furto e roubo em residência. Esse resul-tado reflete o fato de que desses indivíduos têmbaixa escolaridade, no caso da agressão, e poucacapacidade de proteção, nos outros dois casos. Apouca capacidade de proteção provém da não le-gitimação do direito de propriedade. Com relaçãoao barulho de tiros, indivíduos que moram em re-giões onde isso ocorre sofrem com maior freqüên-cia todos os tipos de crimes considerados, o que

reflete a importância de fatores relacionados à de-sordem e à ausência de controle e supervisão, quecaracterizariam a ausência de mecanismos de efi-cácia coletiva (Sampson e Raudenbush, 1997).

A incidência de roubos em residência nãoacontece de maneira regular nas demais variáveis,não permitindo especulações sobre as tendênciasnesta área. Assim, foi feita uma análise em que seconsiderou as variáveis que retratam a segurançada residência. A Tabela 4 mostra que o roubo emresidência para alguns tipos de equipamento desegurança ocorre com mais freqüência quando aresidência não os possui e, para outros equipa-mentos, ocorre com mais freqüência quando a re-sidência os possui. Isto pode estar retratando ofato de que muitas vezes os indivíduos adotam ouso de equipamento de segurança após terem so-frido crimes.

A utilização de medidas de autoproteção re-ferem-se às percepções de riscos e ao medo dapopulação, o que gera um conjunto de medidasde natureza reativa ou pró-ativas em relação aosequipamentos de segurança. É interessante notarna Tabela 4 como as medidas pró-ativas de segu-rança, características de prédios e condomínios re-sidenciais, tais como porteiros, interfones e olhosmágicos, são as únicas que apresentam taxas me-nores de vitimização. Medidas reativas traduzemos signos da insegurança e do medo, exploradospela indústria de segurança privada e de tecnolo-gias de proteção, e que resultam em sua maioriade experiências de vitimização anteriores.

Análise dos Modelos

Na Tabela 5, reportamos o resultado paracada modelo estimado.6 O Modelo 1 tem comovariável independente o furto. No Modelo 2, a va-riável independente é o roubo, e no Modelo 3 éa acumulação do roubo e/ou tentativa de roubo.A junção de furto e/ou tentativa de roubo e/ouroubo é reportada no Modelo 4. A agressão é re-portada no Modelo 5 e, por fim, a combinaçãoentre agressão e tentativa de agressão é reportadano Modelo 6. Todos esses modelos foram estima-dos com duas especificações diferentes, a primei-

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Tabela 5Resultados das Estimações dos Modelos de Furto, Roubo e Agressão

Nota: Os asteriscos indicam o nível de significância: ***1%; **5%; *10%.

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ra que considera as faixas de renda como variávelexplicativa e a segunda que usa a variável condi-ção da residência como proxy de riqueza. Comojá explicitado anteriormente, essa proxy justifica-se pelo fato de normalmente os indivíduos sub-reportarem sua renda.

Modelo 1

O furto é definido como o ato de apropria-ção de bens alheios sem que a vítima o percebana hora da efetivação do mesmo, que pode ocor-rer na casa ou no trabalho da vítima. Os fatores“exposição” e “proximidade entre vítima e agres-sor” foram de fundamental importância para a de-terminação da probabilidade de vitimização.

O fator exposição foi confirmado pelo mo-delo. Quem usa freqüentemente transporte públi-co tem probabilidade 39% maior do que os nãousuários (no Modelo de furto 2, esta probabilida-de foi de 38%). Além disso, quem trabalha temprobabilidade de ser vitimado 41% maior do queos não trabalhadores (no Modelo de furto 2, estaprobabilidade é de 37%). Ao andarem de coletivoe trabalharem os indivíduos estão mais expostos,pois freqüentam mais lugares públicos e têm maiscontato com pessoas desconhecidas. Trabalhosignifica ausência de casa e de vigilância sobre oque ali ocorre. Cohen e Felson (1979) mostraramcomo mudanças na estrutura de trabalho da so-ciedade norte-americana acarretaram um maiortempo de ausência das pessoas em suas residên-cias, com o conseqüente aumento de arromba-mento de casas.

A atratividade dos indivíduos na determina-ção da probabilidade de vitimização foi tambémconfirmada pelo resultado encontrado no Modelode furto 2, em que indivíduos com ensino supe-rior têm probabilidade de ser furtados 78% maiordos que têm somente o ensino fundamental. NoModelo de furto 1, o coeficiente para esta variá-vel não se mostrou significativo apesar do seu si-nal confirmar o resultado já citado.7

Indivíduos que escutam barulho de tiro pertoda vizinhança têm probabilidade de vitimização26% maior dos que não escutam (no Modelo de

furto 2, esta probabilidade é de 27%). Tiros são si-nais de desordem e desorganização social, já querevelam uma deficiência de eficácia coletiva, ou decapacidade de controle e supervisão por parte dosmoradores de uma vizinhança, o que termina porse traduzir em maior desordem e criminalidade(Sampson e Raudenbush, 1997). Indivíduos que re-sidem em locais onde existem prédios abandona-dos têm probabilidade de vitimização 43% maiordos não residentes nestes locais (no Modelo de fur-to 2, é 42% maior).

No Modelo de furto 1, os grupos de rendanão foram significativos. No Modelo de furto 2, avariável “tipo de residência” foi significativa, deforma que indivíduos residentes em casa própriatêm probabilidade 19% menor de ser vítimas doque indivíduos residentes em casa alugada. Esteresultado sugere que os criminosos, ao construirsuas expectativas sobre o retorno esperado do cri-me, não levam em conta a condição da residência(muitas vezes desconhecida por eles), mas os lo-cais onde elas se encontram (bairros de classe alta,média ou baixa).

As demais variáveis não se mostraram signi-ficativas apesar de o sinal da maioria ocorrercomo o esperado. Assim, homens apresentarammenores probabilidades de serem vítimas de fur-to por causa de sua maior capacidade de reação.A variável cor não foi significativa, como era es-perado, sugerindo que ela não influi na probabi-lidade de ser furtado; os casados e separados têmuma probabilidade menor de serem vítimas defurto do que os solteiros, por estar menos expos-tos em virtude de seu estilo de vida.

Modelo 2, Modelo 3 e Modelo 4

Nesta seção apresentamos os resultados dosmodelos de roubo, da acumulação “roubo comtentativas de roubo” e “vítimas de furto com as deroubo e tentativa de roubo”. Como já menciona-do anteriormente, trabalhamos dessa forma paraflexibilizar a hipótese de que a probabilidade devitimização dependa das mesmas característicasem todos os tipos de crime. Por outro lado, esti-mamos o modelo com a acumulação de todos os

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crimes, a fim de comparar os resultados com a li-teratura internacional, usualmente apresentadosem forma de crimes com motivação econômica.

O roubo é definido como ato de apropriaçãode bens alheios em que a vítima percebe a apro-priação na hora da efetivação do ato. A diferençapara a tentativa de roubo é que nesta o criminosonão consegue efetivar o ato de apropriação. Emambos os casos, todos os quatro fatores que deter-minam a vitimização (exposição, capacidade deproteção, atrativos e proximidade da vítima com oagressor) foram fundamentais para estabelecer suaprobabilidade, assim como a probabilidade de in-teração ofensor/vítima/vigilância, que é um aspec-to central na interação agente/vítima no tempo eno espaço.

A exposição do indivíduo foi confirmadacomo um importante componente na determina-ção da probabilidade de vitimização nos três mo-delos, a partir da variável “transporte público”. Nocaso de roubo, os indivíduos que usam freqüen-temente transporte público têm probabilidade30% maior dos que não usam (no Modelo de rou-bo 2, em que a proxy de riqueza é usada no lu-gar dos grupos de renda, esta probabilidade é37% maior). No caso do Modelo 3 e do Modelo 4,esta probabilidade foi de 31% e 40%, respectiva-mente (em Tentativa de roubo 2 (Troubo2) e Fur-to, tentativa de roubo 2 (Ftroubo 2), a probabili-dade foi de 35 e 43%, respectivamente). No casodo Modelo 4, revelou-se a importância do fator“exposição”, pois o resultado indica que indiví-duos casados têm a probabilidade de vitimização19% menor do que solteiros. Nos demais mode-los, o coeficiente não se mostrou significativo,apesar de o resultado ir de encontro ao do Mode-lo 4. Indivíduos casados passam mais tempo comsuas famílias e, portanto, se expõem menos emlugares públicos e têm menos contato com desco-nhecidos do que indivíduos solteiros. Dessa for-ma, estão menos expostos e têm probabilidade devitimização menor. Resultados similares foram en-contrados para ambas as variáveis por Eyzaguirree Puga (2001) na Região Metropolitana de Lima.

Com relação à capacidade de proteção, indi-víduos que não usam transportes públicos exibemmaior capacidade de se protegerem, pois circu-

lam dentro de automóveis, longe do contato comos criminosos ou, simplesmente, não circulammuito em lugares públicos, se protegendo emsuas casas. Assim, os resultados encontrados paraa variável “transporte público” confirmam tam-bém a importância deste fator na determinação daprobabilidade de vitimização.

A atratividade da vítima foi captada pela va-riável de educação em todos os modelos. Porexemplo, no caso do Modelo de roubo 2, indiví-duos com segundo grau têm probabilidade de vi-timização 60% maior e, com nível superior, 104%maior do que indivíduos com primário. Quantomaior a escolaridade, mais inserido o indivíduoestá no mercado de trabalho, maior o seu salárioe, portanto, maior o retorno esperado do crimepara o criminoso. Esses resultados são similaresaos encontrados na literatura internacional. NoModelo 4, a atratividade foi também confirmadapela variável trabalho. Indivíduos que trabalhamtêm probabilidade de vitimização 20% maior doque os não trabalhadores. Além de exibirem umretorno esperado maior para o criminoso, esses in-divíduos circulam mais em lugares públicos, estan-do, então, mais expostos. Os mesmo resultadosforam também encontrados para o Rio de Janeiroe São Paulo, por Araújo JR. & Fajnzylber (2001) epara a Região Metropolitana de Lima, por Eyza-guirre e Puga (2001).

Os coeficientes das variáveis “existência deprédios abandonados” e “barulho de tiros” indica-ram que indivíduos residentes nessas vizinhançastêm probabilidade de vitimização maior do que osnão residentes. Por exemplo, para o Modelo ten-tativa de roubo 1, caso o indivíduo resida em vizi-nhança que têm prédios abandonados, a probabi-lidade de vitimização é 54% maior, e, se residemem vizinhança onde se escuta barulho de tiro, aprobabilidade é 30% maior. Novamente aqui te-mos a importância dos fatores relacionados à de-sordem e à incivilidade (Kelling e Coles, 1996).

Nos três modelos, quando usada a variável“proxy de riqueza”, a segregação racial se faz sentirpela maior probabilidade de os indivíduos brancosserem vítimas dos crimes. Por exemplo, no caso doModelo roubo 2, a probabilidade de vitimizaçãodos brancos é 29% maior do que os não brancos.Esses resultados podem estar confirmando a hipó-

CRIME, OPORTUNIDADE E VITIMIZAÇÃO 85

tese de que indivíduos brancos têm mais acesso àeducação, o que lhes aufere rendas mais elevadas,tornando-os mais atrativos do que os não brancos.

Modelo 5 e Modelo 6

Um dos testes cruciais para a teoria das opor-tunidades diz respeito aos conflitos interpessoais,em que as motivações não são de natureza econô-mica. Trata-se de conflitos de natureza expressivaque, entretanto, guardam as dimensões de umcomportamento racional. Oportunidades e intera-ções espaço/tempo também parecem ser compo-nentes importantes para esse tipo de delito.

Os modelos para agressão foram também es-timados utilizando ora grupos de renda, ora aproxy de riqueza (condição na residência). Alémdisso, foram estimados dois modelos para agres-são, um que tem como variável dependente os in-divíduos que sofreram agressão (Modelo 5) e ou-tro, os indivíduos que sofreram agressão e/outentativa de agressão. Os resultados foram simila-res no sentido de que as características individuaisque determinam a probabilidade de vitimizaçãoestão presentes em todos os modelos.

Com relação ao fator exposição, indivíduosmais velhos têm a probabilidade de sofrer agres-são menor do que os mais jovens. Por exemplo,o Modelo Tentativa de agressão 1 (Tagre 1) indi-ca que indivíduos de 35 a 44 anos de idade têmprobabilidade de sofrer agressão 63% menor, e,entre indivíduos com 45 anos ou mais, esta pro-babilidade é 79% menor do que entre indivíduosde 13 a 18 anos de idade. Os mais velhos tendema se expor menos, pois passam grande parte doseu tempo cuidando de suas famílias. em contra-partida, a tendência entre os mais jovens é umamaior exposição – aumenta o consumo de álcoole a freqüência em lugares de vida noturna. Dessaforma, como grande parte das agressões estão re-lacionadas à ingestão de álcool e a brigas entregangues, os mais jovens têm maior probabilidadede sofrer esse tipo de crime. Esse mesmo resulta-do também foi mostrado, por Eyzaguirre e Puga(2001), para a Região Metropolitana de Lima.

Ainda em relação à exposição, indivíduosque trabalham têm probabilidade de ser vitimadospor agressão maior do que os não trabalhadores.Para o Modelo tagre 1, a probabilidade aumentaem 42%. Nos demais modelos, esta variável nãofoi significativa, porém seu sinal corroborou o re-sultado encontrado. Indivíduos que trabalham ten-dem não só a uma maior exposição, porque fre-qüentam mais lugares públicos, como também aestar mais próximos dos agressores, pois circulampor uma maior malha social. No Modelo agressão1, a probabilidade de ser vitimado é 38% menorpara indivíduos que circulam mais durante o dia,uma vez que o estilo de vida de quem costumaandar à noite é mais vulnerável à ação de preda-dores. Dados de ocorrências policiais mostram umpadrão temporal muito claro, no qual os crimes in-terpessoais se concentram nos períodos noturnose nos finais de semana (Beato et al., 2002).

A capacidade de proteção pode ser avaliadaem termos de renda, no sentido de que indivíduosde maior renda conseguem se expor menos. O fatode possuírem carro, por exemplo, diminui bastanteo contato com possíveis agressores. Além disso, sepensarmos no vínculo já comentado entre rendaelevada e maior nível de escolaridade, a probabili-dade de ser vítima de agressão nesse caso é menorem virtude do efeito “civilizador” da educação. NoModelo 5, quem tem renda maior do que dezesseissalários mínimos apresenta chance de ser vítima80% menor em comparação àqueles com rendamenor do que um salário mínimo. No Modelo 6,apesar das variáveis não serem significativas, umavez que consideramos os grupos de maior renda, aprobabilidade de vitimização vai diminuindo. Seconsiderarmos os modelos em que a proxy de ren-da foi utilizada, temos que indivíduos que moramem residências invadidas (mais pobres) têm proba-bilidade de serem agredidos 276% maior do que in-divíduos que residem em casas alugadas (Modelo5). No Modelo 6, esta probabilidade passa para281%, enquanto indivíduos que moram em residên-cias próprias têm probabilidade de serem vitimados28% menor em relação aos que pagam aluguel.

As variáveis dos coeficientes que não foramreportados na tabela foram excluídas do modelopor não apresentarem nem uma “falha” do evento.

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Conclusão

Esta pesquisa estabeleceu um teste empírico auma teoria raramente utilizada no contexto brasilei-ro, o que acreditamos ser importante. Teorias deoportunidade ainda não foram testadas no Brasil emvirtude da ausência não só de dados que permitamesse tipo de análise, mas também de enfoques teó-ricos preocupados com o contexto de ocorrência decrimes. Outros estudos mostraram a importância daanálise de oportunidades no âmbito municipal (Bea-to, 2000). Assim, a estrutura urbana municipal seriaum dos elementos da estrutura de oportunidadesque levam à ocorrência de crimes. Os resultados sãobastante relevantes, pois conseguem explicar as va-riações regionais na distribuição de distintos tipos decrime. Este estudo, por sua vez, buscou realizar essamodalidade de análise na esfera individual por meioda utilização de informações oriundas de uma pes-quisa em torno da vitimização.

As implicações disso para o desenvolvimen-to de programas e projetos em políticas públicassão, a nosso ver, de extrema importância. Em pri-meiro lugar, ressalta como as taxas de vitimizaçãosão distintas nos diferentes grupos e segmentossociais, o que mostra o quanto. Isso significa queestratégias focalizadas de ação devem ponderarresultados tais como os que foram expostos, a fimde lograr um maior grau de efetividade. Com re-lação ao fator “exposição”, por exemplo, indiví-duos mais velhos têm probabilidade de sofreragressão menor do que os mais jovens – o Mode-lo Tagre1 indicou, como vimos, que entre 35 a 44anos de idade a probabilidade de sofrer agressãoé 63% menor, com 45 anos ou mais a probabili-dade cai para 79% em relação à faixa etária de 13a 18 anos. Para os crimes motivados economica-mente (furto, roubo e tentativa de roubo), os atri-butos pessoais, exceto escolaridade e condição naatividade econômica, não são muito significativos.A probabilidade de vitimização está mais ligadaaos hábitos e às características da vizinhança. As-sim, pessoas que transitam em locais públicos, emhorários de maior fluxo e à noite são vítimas maisprováveis de crimes motivados economicamente.O mesmo acontece se residem em locais ondeexistem muitos prédios abandonados e onde se

escuta barulho de tiros. Para os crimes de agres-são, a idade passa a ser relevante, ou seja, os jo-vens são vítimas mais prováveis desse tipo de cri-me. Além disso, a probabilidade de ser agredidoé maior quando se transita em lugares públicos ànoite ou se reside em locais onde se escuta baru-lho de tiro, como já comentado.

Observamos também aspectos relacionadosà influência de variáveis como “desordem” e “inci-vilidade” (Kelling e Coles, 1996). Os coeficientesdas variáveis “existência de prédios abandonados”e “barulho de tiros” indicaram a chance de ser ví-tima é maior para aqueles que residem nesse tipode vizinhança. Por exemplo, para o Modelo trou-bo 1, caso o indivíduo resida em vizinhança quepossui prédios abandonados, a probabilidade devitimização é 54% maior, e se reside em vizinhan-ça onde se escuta barulho de tiro, a probabilidadeé 30% maior.

Com relação à capacidade de proteção, indi-víduos que não usam transportes públicos exibemmaior capacidade de se protegerem, pois andamem seus carros longe do contato com os crimino-sos ou simplesmente não circulam muito em lu-gares públicos se protegendo em suas casas.

Do ponto de vista teórico e conceitual, as teo-rias de “estilo de vida” e “oportunidades” foramcorroboradas pelos modelos, confirmando que aprobabilidade de vitimização depende em grandeparte da exposição e da atratividade do indivíduo,além da capacidade de proteção e da proximidadeentre vítima e agressor. Por outro lado, dependetambém da natureza do delito a ser considerado,indicando que vítimas de crimes com e sem moti-vação econômica têm características e hábitos dife-rentes. Esse enfoque baseou-se nas teorias de “es-tilo de vida” (life-style models) e “oportunidades”(opportunity models), utilizadas em estudos de viti-mização, como o de Cohen, Kluegel e Land (1981).Reiterando, os fatores que mais influenciam o ris-co de vitimização são: exposição, proximidade davítima ao agressor, capacidade de proteção, atrati-vos das vítimas e natureza dos delitos. A exposiçãoé definida pelo tempo em que os indivíduos per-manecem em locais públicos, estabelecendo conta-tos e interações sociais. O estilo de vida determinaem que intensidade os demais fatores estão pre-

CRIME, OPORTUNIDADE E VITIMIZAÇÃO 87

sentes em sua vida. Assim, estabelece em que me-dida os indivíduos se expõem ao freqüentar luga-res públicos, qual a sua capacidade de proteção,seus atrativos e a proximidade com os agressores.

NOTAS

1 Essas informações referem-se às seguintes questões:se o indivíduo foi vítima de furto ou não no últimoano; se o indivíduo foi vítima de roubo ou não noúltimo ano; se o indivíduo foi vítima de tentativa deroubo ou não no último ano; se o indivíduo foi víti-ma de roubo em sua residência ou não no últimoano; se o indivíduo foi vítima de tentativa de rouboa residência ou não no último ano; se o indivíduo foivítima de agressão ou não no último ano; se o indi-víduo foi vítima de tentativa de agressão ou não noúltimo ano.

2 Para comparar os resultados, podemos entendercomo crimes com e sem motivação econômica osModelos 4 e 6, respectivamente.

3 A pesquisa de vitimização não tem uma definiçãorígida de desemprego; o indivíduo é quem defineseu grupo.

4 Carneiro e Fajnzylber (2001) mostraram que na Re-gião Metropolitana do Rio de Janeiro entre o ano de1995 e 1996 a incidência de vítimas na populaçãofoi de 21,9% e na Região Metropolitana de São Pau-lo foi de 7,1%. Segundo Eyzaguirre e Puga (2001),na Região Metropolitana de Lima, no Peru, 26% dosentrevistados foram vítimas de algum tipo de crime.Na Região Metropolitana de El Salvador o númerofoi de 25,7%, como relatado por Cruz, Arguello eGonzález (2001).

5 Os pesquisadores brasileiros já se detiveram exaus-tivamente na investigação acerca da relação entreeducação e renda. É consenso na literatura econô-mica brasileira a correlação positiva entre esses doisfatores. Lau et al. (1996) estimam que, com um anoa mais de escolaridade, a força de trabalho no Bra-sil aumentaria em 20% a renda per capita.

6 Não reportamos os resultados dos modelos pararoubo em residência, pois não apresentaram resul-tados satisfatórios.

7 O fato de não ser significativo deve-se, talvez, à in-clusão das faixas de renda no Modelo furto1.

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CRIME, OPORTUNIDADE E VITIMIZAÇÃO 89

Anexo 1:especificação do modelo utilizado

O Modelo Logit (cf. Wooldridge, 2001) apre-senta a seguinte especificação:

(1)

onde: P representa a probabilidade de ocorrênciado evento de crime; X é a matriz das covariadas;b é o vetor de coeficientes; e é uma função dedensidade de probabilidade acumulada que assu-me valores entre zero e um.

Estimamos o Modelo Logit com auxilio devariável latente, onde:

onde: é independente de x e simétrica a zero.Assim:

Como no Modelo Logit, tem uma distribui-ção logística padronizada:

onde: X’ é a matriz de variáveis independentestransposta.

Por meio de transformação exponencial ob-temos:

+ e

Neste modelo, � não mede o efeito marginalde X sobre Y, ao contrário, mede o efeito parcial,que no caso das variáveis explicativas contínuas*é dado por:

O valor do efeito parcial depende das de-mais variáveis. Portanto, apresentamos os resulta-dos na forma da razão entre os efeitos parciais.Para variáveis contínuas xh e xj a razão do efeitoparcial é constante e dada pela razão dos coefi-cientes correspondentes:

Por exemplo, se a razão de chance estimadapara uma variável contínua é igual a 0,7, isso im-plica que a probabilidade de ser vitimado diminuiem 30% quando aumentamos em uma unidade ovalor dessa variável.

No caso das variáveis explicativas binárias oefeito parcial provém de mudanças de xk de zeropara um, mantendo todas as demais variáveis fi-xas, sendo simplesmente:

Observe-se que, novamente, o valor do efei-to parcial depende das demais variáveis, portantoapresentamos os resultados na forma da razão dechances entre o grupo em questão e o grupo dereferência. Assim, quando o coeficiente da razãode chance (OR) é maior que um significa que ogrupo em questão tem probabilidade de ser viti-mado (OR - 1) vezes maior que o grupo de refe-rência. E quando a razão de chance (OR) é me-nor que um significa que o grupo em questão temprobabilidade (1 - OR) vezes menor que o grupode referência. Por exemplo, se o coeficiente forigual a 1,50, isso significa que, nesse grupo, a pro-babilidade de ser vitimado é 50% maior do que aprobabilidade do grupo de referência.

* “Número de moradores” é a única variável contínuapresente nos modelos.

RESUMOS / ABSTRACTS / RÉSUMÉS

CRIME, OPORTUNIDADEE VITIMIZAÇÃO

Cláudio Beato F., Betânia Totino Pei-xoto e Mônica Viegas Andrade

Palavras-chavesVitimização; Crime; Teoria das opor-tunidades; Estatísticas; Belo Hori-zonte.

Este trabalho tem como objetivo des-crever o perfil das vítimas de furto,roubo e agressão física no municípiode Belo Horizonte, considerandosuas características, condição socioe-conômica, hábitos, características fa-miliares e características dos locaisonde vivem. Utilizamos como méto-do de investigação o modelo Logit,que permite calcular a probabilidadede vitimização, utilizando dados indi-viduais da Pesquisa de Vitimização,coordenada pelo Centro de Estudosde Criminalidade e Segurança Públi-ca (Crisp), entre fevereiro e março de2002. Os resultados sugerem quepara os crimes motivados economi-camente (furto, roubo e tentativa deroubo) os atributos pessoais, excetoescolaridade e condição na atividadeeconômica, não são muito importan-tes. Em contrapartida, para os crimesde agressão, a idade passa a ser rele-vante – indivíduos mais jovens sãovítimas mais prováveis desse tipo decrime. Além disso, a probabilidadede ser agredido é maior se os indiví-duos transitam em lugares públicos ànoite ou residem em locais onde seescuta barulho de tiro. Característicasambientais e de oportunidades pare-cem ser mais decisivas para a ocor-rência desses tipos de crimes.

CRIME, OPPORTUNITY, ANDVICTIMIZATION

Cláudio Beato F., Betânia Totino Pei-xoto and Mônica Viegas Andrade

Key wordsVictimization; Crime; Opportunitytheory; Statistics; Belo Horizonte.

In this paper we investigate the profi-le of victims of property and personalcrimes in the city of Belo Horizonte,Brazil. The considered characteristicsof the victims were the personal attri-butes, socioeconomic conditions,daily habits, family aspects, and envi-ronment characteristics. The estima-tion method used is the Logit Model,which estimates the victimizationprobability. For that we used indivi-dual data of the Victimization Re-search realized by the Institute of Cri-minality and Public Security (Crisp)between February and March of2002. The results suggest that perso-nal attributes aren’t really importantto explain the profile of victims ofproperty crimes. On the other hand,for personal crimes, age is funda-mental. Youngsters are more proba-ble of being victims of this kind ofcrime than older people. Furthermo-re, the probability of being aggressedis higher if the subjects walk at nightin public ways or live in places whe-re gunshot sound is heard. Environ-mental characteristics and opportuni-ties seem to be crucial for theoccurrence of these kinds of crimes.

CRIME, OPPORTUNITÉ ETVICTIMISATION

Cláudio Beato F., Betânia Totino Pei-xoto et Mônica Viegas Andrade

Mots-clésVictimisation; Crime; Théorie desopportunités; Statistiques; Belo Ho-rizonte.

Ce travail a pour but de décrire leprofil des victimes de vol, de vol ag-gravé et d’agressions physiques dansla commune de Belo Horizonte, sui-vant leurs caractéristiques, leur con-dition socio-économique, leur modede vie, leurs caractéristiques familia-les et locales. Nous avons, pour cela,employé en tant que méthode d’in-vestigation, le modèle Logit, qui per-met de calculer la probabilité de vic-timisation en utilisant des donnéesindividuelles de la Recherche de Vic-timisation, cordonnée par le Centred’Études et de Sécurité Publique(Crisp), entre les mois de février etde mars 2002. Les résultats suggèrentque, pour les crimes avec une moti-vation économique (vol, vol aggravéet tentative de vol), les attributs per-sonnels, excepté la scolarité et lacondition dans l’activité économi-que, ne sont pas très importants.Néanmoins, pour les crimes d’agres-sion, l’âge devient important – les in-dividus plus jeunes sont les victimesles plus probables de ce genre decrime. Par ailleurs, la probabilitéd’être agressé est plus importante siles individus circulent par des lieuxpublics le soir ou résident dans desendroits où l’on peut entendre lebruit de tirs. Les caractéristiques en-vironnementales et d’opportunitésdeviennent plus décisives pour l’oc-currence de ces types de crimes.