crime e contravenÇÃo penal

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CRIME E CONTRAVENO PENAL: Conceito: a infrao penal divide-se em crime e contraveno penal; Art. 1 da Lei de Introduo ao Cdigo Penal. Na essncia no h diferena alguma entre crime e contraveno penal. Ambas constituem fato tpico, punvel e culpvel. A diferena apenas no campo da aplicao de benefcios penais, como por exemplo, no contexto da liberdade provisria. No entanto, aps a edio da Lei 9.099/95, considerando infrao de menor potencial ofensivo a contraveno penal, mas tambm todos os crimes cuja pena mxima no ultrapasse dois anos, cumulada ou no com multa, as diferenas prticas diminuram. Princpio da Interveno mnima ou da subsidiariedade: significa que o Direito Penal, no mbito de um Estado Democrtico de Direito, deve intervir minimamente na vida privada do cidado, vale dizer, os conflitos sociais existentes, na sua grande maioria, precisam ser solucionados por outros ramos do ordenamento jurdico (civil, trabalhista, administrativo). A norma penal incriminadora deve ser a ltima hiptese que o Estado utiliza para punir o infrator da lei. Pensamos que no haveria nenhum prejuzo se houvesse a simples revogao da Lei de Contravenes Penais, transferindo para o mbito administrativo determinados ilcitos e sua punio, sem que se utilize a Justia Criminal para compor eventuais conflitos de interesses, como por exemplo, uma nfima contrariedade entre vizinhos porque um deles est com um aparelho sonoro ligado acima do permitido (art. 42, III, LCP). (Guilherme de Souza Nucci, em Lei Penais e Processuais Penais Comentadas, pg. 140). DECRETO LEI 3.688/41 PARTE GERAL: Art. 2 - Territorialidade: No h interesse de punir o agente de contraveno penal, quando esta for cometida fora do territrio brasileiro. As excees criadas para os delitos (art.7, CP) no se estendem s infraes menores, vale dizer, as contravenes penais. Art. 3 - Para existir uma contraveno basta uma ao ou omisso voluntria. Despreza-se o princpio penal da culpabilidade (no h crime se no houver dolo ou culpa), como regra. Apenas em carter excepcional, quando o tipo exigir, busca-se o dolo ou culpa. Art. 4 - Irrelevncia da tentativa: as contravenes penais j possuem penas mais brandas, motivo pelo qual no haveria mesmo sentido em se punir uma singela tentativa. Art. 5 - Penas principais regras de aplicao de penas: as mesmas para o crime. Art. 59 do CP. Sistema Trifsico: circunstncias judiciais (art. 59 do CP), aplicao de agravantes e atenuantes e causas de aumento e diminuio de pena. As contravenes penais por serem infraes de menor potencial ofensivo comportam a aplicao de transao penal, logo vivel a composio antes mesmo de ser necessrio aplicar uma pena, aps o trmite processual.

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Multa: arts. 49 a 52, 58 e 60 do CP. 10 dias- multa at o mximo de 360 dias-multa, calculado cada dia-multa em quantidades variveis de 1/30 do salrio mnimo vigente poca do fato a 5 salrios mnimos. Art. 6: Priso Simples: Estabelecimento especial seria uma espcie de colnia penal de contraventores ou, no mnimo, uma Casa de Albergado de contraventores. No existindo, os condenados por contraveno podem ser colocados em seo especial (significa, na prtica, separados dos sentenciados por crimes) de prises comuns, em regime semi-aberto (colnia penal) ou aberto (Casa de Albergado). Trabalho facultativo: o trabalho dever do preso, logo, obrigatrio (art.39, V da Lei 7.210/84). A no realizao impedir benefcios penais, como a progresso de regime, a obteno de livramento condicional, entre outros. No caso da contraveno, o trabalho somente obrigatrio se a pena for superior a quinze dias. Art. 7 - Reincidncia: Art. 8: erro de proibio escusvel excludente de culpabilidade (art. 21, CP). A ningum dado no cumprir a lei sob o pretexto de no conhec-la. Fosse assim, no haveria punio alguma, a no ser para bacharis em Direito. Presume-se que, publicada a norma escrita, seja ela do conhecimento geral, precisa ser respeitada. S em carter excepcional, cuidando-se de leis de rara aplicao pode o juiz aplicar uma atenuante (art. 65, II do CP). Assim, o art. 8 da Lei de Contravenes Penais est derrogado. No que concerne ignorncia ou desconhecimento da lei continua vigorando, pois mais benfico que o disposto no CP (neste, esta situao pode ser apenas uma atenuante), representando ao ru a chance de ter extinta a sua punibilidade (perdo judicial). Entretanto, quando o erro disser respeito ilicitude (denominada no art. 8, de errada compreenso da lei), parece-nos vivel ocorrer a absolvio e no simplesmente a aplicao do perdo judicial pois est-se diante de excluso de culpabilidade. Art. 9 - revogado. O art. 51 do CP teve sua redao alterada pela Lei 9.268/96, abolindo-se a possibilidade de converso da multa em priso. Art. 10 Em caso de contraveno penal, mesmo que sejam inmeras as penas, o agente na cumprir mais que 5 anos. No caso de uma multa, o mximo pode atingir 360 dias-multa, calculado cada dia em 5 salrios mnimos e, se preciso, triplica-se esse valor (art. 49, caput e 1; art. 60, 1, CP). Desde que o agente cometa vrios crimes sujeitos pena pecuniria, esta pode somar-se sempre, atingindo qualquer montante. Em caso de contravenes penais, no mais existindo a moeda (contos de ris). Art. 11 Seria preciso vencer vrios obstculos: a contraveno penal, por ser infrao de menor potencial ofensivo, sujeita-se transao penal, logo, nem processo h, buscando a condenao; se houver acusao e processo, na sentena condenatria, vivel substituir a pena privativa de liberdade por outras. Ex: imaginemos que um ru reincidente, j beneficiado anteriormente pela transao, cometa vrias contravenes penais, em concurso material, atingido a pena de dois anos de priso simples. Partindo da premissa que o julgado considere indevida a substituio por pena restritiva de direitos, pode aplicar, ento, a suspenso condicional da pena.

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As regras previstas nos arts. 77 a 82 do CP so aplicveis, exceto o perodo de prova que para as contravenes menor. Art. 12 penas acessrias aqui = efeitos da condenao; Art. 13- Deve-se seguir as normas do CP. Exlio local inexiste qualquer disciplina legal atual acerca desse instituto. inaplicvel. Art. 14 sem aplicabilidade. Art. 15 Sem aplicabilidade. Art. 16 o prazo mnimo da medida de segurana, em decorrncia da prtica de fato considerado contraveno penal de seis meses. Se o agente cometer fato considerado crime, o prazo mnimo ser de um a trs anos (art. 97, 1 do CP). Opo judicial: se o agente comete fato criminoso, deve o juiz optar entre a internao (quando o delito for apenado com recluso) e entre esta e o tratamento ambulatorial (quando o crime for apenado com deteno). Em matria de contraveno penal, parecenos vlida a opo entre internar o agente ou submet-lo liberdade vigiada, conforme previsto no art. 178 do Lei 7.210/84. Art. 17 ao penal pblica incondicionada. PARTE ESPECIAL: DAS CONTRAVENES REFERENTES PESSOA: Art. 18 Revogao e inaplicabilidade do tipo penal: em primeiro lugar, deve-se ressaltar que, em relao s armas de fogo e respectiva munio, o art. 18 da lei das contravenes j fora afetado pela edio da Lei 9.437/97 (art. 10) e, agora, completamente absorvido pelos arts. 17 e 18 da Lei 10.826/03. Para a maior parte da doutrina, ele subsiste para as armas brancas. Guilherme de Souza Nucci no v possibilidade de aplicao tendo em vista que no h lei disciplinando a concesso de autorizao da autoridade para fabricao, importao, exportao, depsito ou venda de uma faca de cozinha, por exemplo. Art. 19- Revogao e inaplicabilidade: o art. 19 est completamente afastado desde a edio da Lei 9.437/97, agora confirmada a sua revogao pela Lei 10.826 (Estatuto do Desarmamento). Para Guilherme de Souza Nucci, no h lei regulando o porte de arma branca de que tipo for. Logo, impossvel conseguir licena da autoridade para carregar consigo uma espada. Porm, h quem aplique para as armas brancas. As armas brancas podem ser prprias: destinadas ao ataque e defesa, como um punhal e uma espada e imprprias: destinadas outras funes, mas que podem ser vir para ataque, ex: facas de cozinha, martelo, machado. Art.20 Anncio de meio abortivo: se algum anunciar qualquer mecanismo destinado a provocar aborto est, em ltima anlise, incitando a prtica de crime. Logo, deve ser punido com base no art. 286 do CP e no por mera contraveno. O anncio deve ser pblico, se for sigiloso no configura a contraveno nem o delito do art. 286 do CP.

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Art. 21 Vias de Fato: violncia fsica desde que no constitua leso corporal. Ex: empurro, agredir aos tapas, a pontaps, puxar-lhes os cabelos etc. Causa de aumento: a agresso for dirigida a pessoa maior de 60 anos. Como causa de aumento no se deve considerar a agravante do art. 61, II, h do CP. Art. 22- desnecessidade da contraveno, pois internao de uma pessoa sadia em casa de sade o caso de crcere privado ou seqestro (art. 148, 1, II do CP). Art. 23 este tipo suprfluo em face do disposto no art. 22. Se um doente internado sem as formalidades legais configuraria a infrao do art. 22 e, uma das formalidades a autorizao de quem de direito. DAS CONTRAVENES REFERENTES AO PATRIMNIO: Art. 24- Inconstitucionalidade ou aplicabilidade restrita do tipo: no se pode tipificar uma conduta vaga, como por exemplo: fabricar instrumento empregado usualmente para a prtica de furto. No quer dizer concretamente nada. Fabricantes de p-de-cabra ou chaves-de-fenda, objetos que podem ser utilizados para o cometimento de furto seriam processados? O termo usualmente perdeu inteiramente o significado, pois a vida moderna tem evidenciado que furtos so cometidos das mais variadas formas. Para a tipificao deste delito deve-se apurar a vontade especfica do agente. Art. 25 Inconstitucionalidade: esta infrao penal no tem possibilidade de ser aplicada, sob pena de violao do princpio da presuno de inocncia. Art. 26- Inconstitucionalidade ou aplicabilidade restrita: a conduta punvel refere-se, apenas, abertura de fechadura ou outro aparelho destinado defesa do lugar ou objeto, no se exigindo nenhum prejuzo. Assim, poderamos pensar que estaria punindo algo inofensivo, o que inconstitucional. A interpretao para este tipo deve ser restrita, levando-se em considerao a culpa prevista na expresso de cuja legitimidade no se tenha certificado previamente. Art. 27- revogado. DAS CONTRAVENES REFERENTES INCOLUMIDADE PBLICA: Art. 28 revogado pelo art. 15 da Lei 10.826/03. Art. 29 levando-se em conta o princpio da interveno mnima, que carrega, nsito, o princpio da ofensividade, nota-se que este tipo penal no tem qualquer possibilidade de aplicao. Ocorrendo um desabamento, espera-se que exista, a justificar a aplicao de sano penal, perigo concreto, isto , a possibilidade efetiva de causa dano a algum. Se tal se der, utiliza-se o crime previsto no art. 256 do CP. Art. 30 desnecessidade da contraveno: a omisso em tomar providncia para reparar o estado ruinoso de uma construo pode ser objeto de sano administrativa e, em homenagem subsidiariedade do Direito Penal, tal contraveno desnecessria. Art. 31 se o animal perigoso ferir ou matar terceiro, a contraveno est absorvida.

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Art. 32 revogado pelo art. 309 da Lei 9.503/97 (Cdigo de Trnsito Brasileiro), remanescendo apenas a figura relativa direo de embarcao a motor em guas pblicas. Art. 37 Inconstitucionalidade ou aplicao restrita: preciso cautela na considerao desta contraveno. Por exemplo: derramar coisa que possa sujar algum, no matria a ser cuidada pelo Direito Penal, por outro lado arremessar na direo da via pblica, coisa que possa ofender algum conduta perigosa, devendo-se aplicar este art. 37. Art. 38 o correto para quem provoca emisso de fumaa, vapor ou gs que possa incomodar terceiros a sano administrativa, com aplicao de multa ( o que ocorre, por exemplo, no contexto do trnsito, conforme art. 231, III da Lei 9.503/97). DAS CONTRAVENES REFERENTES PAZ PBLICA: Art. 39 Inconstitucionalidade do dispositivo: art. 5 da CF, XVII, XVIII, XIX e XX. A liberdade de associao plena, desde que para fins lcitos, vedado qualquer carter paramilitar. O Estado no pode nem mesmo interferir em seu funcionamento. No h necessidade de licena estatal para a sua criao. Logo, perdeu completamente o sentido a contraveno prevista no art. 39. Se a associao for criminosa art. 288 do CP. Art. 40 Desnecessidade da contraveno basta a aplicao de uma multa, invocandose o direito de retirar, ainda que fora, o causador do tumulto do local. Levar o caso esfera criminal fere o princpio da interveno mnima, podendo, inclusive, representar o cerceamento de um direito constitucional, como a liberdade de manifestao do pensamento (art. 5, IV, CF) ou da liberdade de expresso (art. 5, IX, CF). Art. 41 Desnecessidade da contraveno parece suficiente para punir tal conduta que o Estado se valha de sano administrativa como aplicao de multa. Art. 42- Desnecessidade da contraveno cuida-se, segundo Guilherme de Souza Nucci, de excesso de tipos penais incriminadores. No privilegia o princpio da interveno mnima ou da subsidiariedade. A prefeitura municipal tem condies de manter um corpo de fiscalizao para controlar o abuso na utilizao de aparelhos sonoros ou na produo de rudos, de forma a assegurar a tranqilidade do local. DAS CONTRAVENES REFERENTES F PBLICA: Art. 43 protege a moeda nacional. No admitindo que comerciantes e pessoas em geral selecionem com qual dinheiro pretendem realizar negcios, enfraquecendo a poltica econmica local. Art. 44 tem por finalidade evitar que pessoa inexperiente (sem preparo) ou rstica (de pouca cultura ou conhecimento) no consiga distinguir entre a autntica moeda e o papel impresso como propaganda de algo. Art. 45 a finalidade impedir que pessoas aparentem ser servidor pblico, quando, na verdade, no so. Se a pessoa entra no exerccio da funo pblica ou continua a exerc-

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la, desrespeitando as formalidades legais constitui o crime do art. 324 do CP que absorve a contraveno. O mesmo ocorre com o crime do art. 328 do CP. Art. 46 Neste caso exige-se que a utilizao se faa em pblico. Em eventos particulares (festa a fantasia) no se aplica. Pode o fato constituir delito mais grave, como usurpao de funo pblica art. 328 do CP. DAS CONTRAVENOES RELATIVAS ORGANIZAO DO TRABALHO: Art. 47 cuida-se de norma penal em branco, devendo-se conhecer quais so os requisitos estabelecidos em lei para o exerccio de profisso ou outra atividade remunerada. Busca coibir o abuso de certas pessoas, ludibriando inocentes que acreditam estar diante de profissionais habilitados. Quando o exerccio ilegal refere-se medicina, odontologia ou farmcia, cuida-se de crime do art. 282 do CP. Art. 48 controlar o comrcio de material precioso histria nacional.Trata-se de norma penal em branco. Deve-se buscar conhecer o contedo das normas disciplinadoras do comrcio desses objetos para que se possa aplicar, corretamente, a contraveno. Ex. Dec-lei 25/37: art. 26 os negociantes de antiguidades de obras de arte de qualquer natureza, de manuscritos e livros antigos ou raros so obrigados a um registro especial no servio do patrimnio histrico e artstico nacional, cumprindo-lhes outrossim apresentar semestralmente ao mesmo relaes completas das coisas histricas e artsticas que possurem. Art. 49 cuida-se de norma penal em branco. preciso tomar conhecimento de quais indstrias e comerciantes precisam de matrcula e escriturao para atuar. Busca-se tutelar a organizao do trabalho e a fiscalizao dessa atividade pelo Estado. DAS CONTRAVENES RELATIVAS POLCIA DE COSTUMES: Art. 50 Desnecessidade da contraveno invocando o princpio da interveno mnima, no h necessidade do Estado interferir na vida privada do cidado que deseja aventurar-se em jogos de azar. O correto seria regular em jogos de azar, afinal, inmeros so aqueles patrocinados pelo Estado, como as loterias. Jogos de azar (no dependem de habilidade para ganhar, ex: jogos esportivos). Aplicao do princpio da adequao social inmeros jogos de azar contam com a aceitao consensual da sociedade, motivo pelo qual no podem ser considerados ofensivos aos bons costumes. Ex: bingos patrocinados por entidades de caridade, com o intuito de arrecadar fundos; boles, apostas feitas em relao a competies esportivas (como jogos de futebol). Princpio da insignificncia exemplo de aplicao so os jogos variados realizados em botequins por amigos como forma de lazer. Bingo: havia autorizao para o estabelecimento e explorao de bingos para o sustento de atividades esportivas, como o futebol (a denominada Lei Pel Lei 9.615/98). Porm, no mais subsiste essa licena estatal, revogados que foram os arts. 59 a 81 da Lei 9.615/98, conforme disposto pelo art. 2 da Lei 9.981/00. Assim, expiradas as autorizaes para as casas de bingo, no mais sero renovadas.

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3 e 4 - norma penal explicativa. Enumera quais so as situaes consideradas como jogos de azar e o que pode ser considerado lugar acessvel ao pblico, respectivamente. Art.51 revogado pelo art. 45 do Dec-Lei 6.259/44 (dispe sobre o servio de loterias); Art. 52- revogado pelo art. 46 e 50 do Dec-Lei 6.259/44; Art. 53 revogado pelo art. 46, 48 e 50 do Dec-Lei 6.259/44; Art. 54 revogado pelo art. 49 do Dec-Lei 6.259/44; Art. 55 revogado pelo art. 51 do Dec-Lei 6.259/44; Art. 56 revogado pelo art. 52 do Dec-Lei 6.259/44; Art. 57 revogado pelo art. 55, 56 e 57 do Dec-Lei 6.259/44; Art. 58 revogado pelo art. 58 do Dec-Lei 6.259/44; Art. 59 Inconstitucionalidade do dispositivo devido ao carter discriminatrio do dispositivo. Fere o princpio da igualdade todos so iguais perante a lei. Idem para o art. 60. Art. 61- Guilherme de Souza Nucci acredita que a proteo do pudor no deve ser sob o aspecto vago de obscenidade em geral. Deve-se punir nos termos do art. 233 do CP. Se houver violncia ou grave ameaa art. 214 do CP. Porm, sem violncia ou grave ameaa, mas constituindo ato atentatrio dignidade sexual e liberdade da pessoa humana, aplicar-se- o crime na forma privilegiada, com pena menor. Art. 62 incompatvel com o princpio da interveno mnima. Bastaria retirar o sujeito do local, levando-o a lugar seguro ou entregando-o a quem possa encaminh-lo sua casa. Por outro lado, pretender punir aquele que se embriaga porque coloca em risco a prpria segurana o pice do intervencionismo do Estado. Se no se pune a autoleso, em a tentativa de suicdio, por que haveria de punir o brio que atravessa uma rua movimentada sem as cautelas devidas, correndo o risco de ser atropelado? Pargrafo nico: deve-se salientar para a impropriedade do termo habitual. Ser da alada criminal, valendo a aplicao de medida de segurana (art. 26, CP), se, no estado de ebriedade, cometer algum fato delituoso. No concerne ao campo penal, no entanto, se, considerado alcolatra, nada faz de prejudicial a terceiro, mas somente consome a si mesmo. Art. 63 A multa, a interdio do estabelecimento, a cassao da licena, enfim, medidas de ordem administrativas so muito mais eficientes do que entregar polcia e ao judicirio o controle da dosagem alcolica da populao. Art. 64 confronto com o art. 32 da Lei 9.605/98. Ler art. 32 e 1 da Lei 9.605/98. Esse tipo penal diz respeito exclusivamente aos animais silvestres (selvagens, agrestes), como ona, capivara etc. No envolve, naturalmente, os animais domsticos (ces e gatos). Quanto encontramos os termos domsticos ou domesticados, devemos ler como

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mera decorrncia da anterior meno a animais silvestres, exatamente como, em seguida, deparamo-nos com os termos nativos ou exticos. O tipo penal do art. 32 da Lei 9.605/98 cuida, exclusivamente, dos animais selvagens, que podem ser, eventualmente, criados em casa (domsticos) ou amansados, mantidos em jaula ou gaiola (domesticados). Um cavalo, nascido e criado num sitio, no pode ser denominado animal silvestre. Por isso, para essa espcie de animal continua aplicvel a contraveno do art. 64. Art. 65 Desnecessidade da contraveno: Leis municipais, que regulam e controlam o excesso de barulho nas cidades, cuidam, satisfatoriamente, das punies para que ultrapassar os limites razoveis. Fere o princpio da interveno mnima. Difere esta contraveno daquela prevista no art. 42, tendo em vista o nmero de pessoas afetadas. A contraveno do art. 65 envolve uma pessoa ou um nmero determinado e reduzido de pessoas, a do art. 42, abrange vrias. DAS CONTRAVENES REFERENTES ADMINISTRAO PBLICA: Art. 66 seria perfeitamente vivel caracterizar como falta funcional, sujeita s punies administrativas cabveis, inclusive, se for o caso, com a demisso a bem do servio pblico. OBS: no vivel que um criminoso comparecendo ao mdico psiquiatra, narrando fatos delituosos que tenha praticado, obrigue o profissional da medicina a denunci-lo. Inexiste sentido para isso. Lembremos, inclusive, que so proibidas de depor as pessoas que, em razo da profisso, devam guardar segredo do que souberem (art. 207, CP). Por isso, o mdico no est obrigado a comunicar crime cometido por seu paciente. Art. 67- no vemos relevncia em punir, criminalmente, aquele que enterra ou desenterra um cadver, sem respeitar as formalidades legais. evidente que, se o intuito ocultar o corpo, h o delito prprio para isso (art. 211, CP). Por outro lado, se a inteno violar ou profanar sepultura, identicamente, existe o crime (art. 210, CP). No mais, restaria a contraveno do art. 67 para a inumao ou exumao sem respeito s formalidades legais. Seguindo-se a trilha da interveno mnima, pode-se punir o administrador do cemitrio com sanes administrativas. preciso conhecer, em legislao extrapenal, todas as regras para a realizao de inundao e da exumao de um corpo, para que se possa aplicar o disposto nesta contraveno. Por exemplo, como preceitua o art. 77 da Lei 6.015/73. Art. 68 Quem recusa dados sobre sua prpria identidade ou qualificao, agindo com patente m-f, poderia ser enquadrado em outro tipo penal, como, por exemplo, no delito de desobedincia (art. 330, CP). Quando o sujeito apresentasse dados falsos deveria ser processado pelos crimes de falsidade ideolgica, uso de documento falso ou falsa identidade, conforme o caso. Art. 69 revogado pela Lei 6.815/80 (Define a situao jurdica do estrangeiro no Brasil, cria o Conselho Nacional de Imigrao). Art. 70 revogado pela Lei 6.538/78, art. 42 (Dispe sobre servios postais).

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DOS CRIMES CONTRA A PESSOA: DOS CRIMES CONTRA A VIDA: Destacam aqueles que eliminam a vida humana, considerada o bem jurdico mais importante do homem, razo de ser de todos os demais interesses tutelados, merecendo inaugurar a parte especial do nosso Cdigo. A vida ser tratada nesse tpico tanto na forma intra (biolgica) quanto extra-uterina resguardando-se, desse modo, o produto da concepo (esperana de homem) e pessoa humana vivente. HOMICDIO SIMPLES: Art. 121 Sujeito do crime: qualquer pessoa (crime comum); Sujeito passivo: o ser vivo, nascido de mulher; Tipo objetivo: para que haja crime, no necessrio que se trate de vida vivel, bastando a prova de que a vtima nasceu viva e com vida no momento da conduta criminosa do agente (qualquer participao da morte, ainda que abreviada por poucos segundos, hediondo). Recaindo a conduta sobre pessoa j sem vida (cadver), o crime impossvel por absoluta impropriedade do objeto (art. 17 do CP). Impossvel tambm ser no caso de utilizar o agente meio absolutamente ineficaz (ex: acionar arma de fogo inapta ou descarregada). Pode o homicdio ser praticado de forma livre, por ao (conduta positiva) ou omisso (conduta negativa, ex: deixa de fornecer alimentos a um recm-nascido, tendo obrigao de faz-lo). Tipo subjetivo: o dolo. Pode ser direto ou eventual. No exige o tipo bsico qualquer finalidade especfica do sujeito ativo, podendo o motivo determinante do crime constituir, eventualmente, uma causa de diminuio de pena (1) ou qualificadora (2). Consumao e tentativa: crime material atinge a sua consumao com a morte da vitima. Podendo a execuo do crime ser fracionado em vrios atos (delito plurissubsistente), a tentativa mostra-se perfeitamente possvel quando o resultado morte no sobrevier por circunstncias alheias a vontade do agente. Admite-se a forma tentada, inclusive, no crime cometido com dolo eventual, j que equiparado, por lei, ao dolo direto (art. 18, I do CP). Obs: o homicdio simples quando praticado em atividade tpica de grupo de extermnio (chacina), mesmo que por um nico executor e considerado crime hediondo (Lei 8.072/90, art. 1, I). Grupo de extermnio mnimo de 4 pessoas. HOMICDIO PRIVILEGIADO: Relevante valor social interesses de toda uma coletividade; Relevante valor moral liga-se aos interesse individuais, particulares do agente, entre eles os sentimentos de piedade, misericrdia e compaixo.

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Domnio de violenta emoo a emoo no deve ser leve e passageira. A reao deve ser imediata. O revide deve ser imediato, sem intervalo temporal. A demora na reao exclui a causa minorante, transmudando em vingana. A provocao deve ser injusta. Pode inclusive ser indireta, isto , dirigida contra terceira pessoa ou at contra um animal. Comunicabilidade do 1 - circunstncias minorantes subjetivas no se comunicam. HOMICDIO QUALIFICADO: Art. 121, 2, incisos I, II e V circunstncias subjetivas; incisos III e IV circunstncias objetivas. Com o advento da Lei 8.072/90 foi etiquetado como hediondo. Mediante paga ou promessa de recompensa: homicdio mercenrio. Concurso necessrio. indispensvel a participao de, no mnimo, duas pessoas (mandante e executor). Ex: Pai de filha estuprada pelo traficante que dominava regio, sabendo da notcia contrata um justiceiro que executou o servio. O mandante, isto , o pai da menina estuprada, dever responder pelo delito de homicdio simples, ainda com a diminuio de pena relativa ao motivo de relevante valor moral. J o justiceiro, autor do homicdio mercenrio, responder pela modalidade qualificada. Pluralidade de circunstncias qualificadoras: uma considerada para qualificar o crime e as outras, na aplicao da pena, sero consideradas como agravantes ou circunstncias judiciais. HOMICDIO QUALIFICADO-PRIVILEGIADO: quando h coexistncia de circunstncias privilegiadoras (1), todas de natureza subjetiva, com qualificadoras de natureza objetiva (2, III e IV). Neste caso o crime ser hediondo? A doutrina diverge. Uma primeira corrente fazendo analogia ao art. 67 do CP, entende preponderar o privilgio, desnaturando a hediondez do delito. Outra, entende que o art. 67 do CP aplica-se somente para agravantes e atenuantes, sendo o homicdio qualificado-privilegiado hediondo. HOMICDIO CULPOSO: Quando o agente, com manifesta imprudncia, negligncia ou impercia, deixa de empregar a ateno ou diligencia de que era capaz, provocando, com sua conduta, o resultado lesivo (morte), previsto (culpa consciente) ou previsvel (culpa inconsciente), porm, jamais aceito ou querido. A culpa da vtima pode concorrer com a do agente, inexistindo compensao. Somente no caso de culpa exclusiva da vtima que fica excluda a do autor dos fatos. Com o advento da Lei 9.503/97, o homicdio culposo decorrente da direo de veculo automotor passou a subsumir-se ao disposto no art. 302 do Cdigo de Trnsito Brasileiro. HOMICDIO MAJORADO: Art. 121, 4. A omisso de socorro s considerada quando podendo prestar o socorro sem qualquer risco pessoal para o agente o mesmo no o faz. Quando o agente foge para evitar o flagrante: No incide esta causa de aumento quando o agente foge para evitar um linchamento.

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PERDO JUDICIAL Art. 121, 5. Smula 18 do STJ: a sentena concessiva do perdo judicial declaratria da extino da punibilidade, no subsistindo qualquer efeito condenatrio. AO PENAL: no importa o tipo de homicdio (qualificado, simples, privilegiado ou culposo), a ao penal ser pblica incondicionada. INDUZIMENTO, INSTIGAO OU AUXLIO A SUICDIO: Art. 122 No Brasil, no se pune o fato de uma pessoa matar-se (ou a sua tentativa), mas sim a conduta de terceiro que participa do evento, instigando, induzindo ou auxiliando aquela a eliminar a prpria vida. Sujeito do crime: Crime comum - qualquer pessoa pode ser sujeito, no exigindo a lei qualquer qualidade especial do agente. Tratando-se de suicida incapaz de entender o significado de sua ao e de determinarse de acordo com esse entendimento, deixa de haver supresso voluntria e consciente da prpria vida, logo, no h suicdio. Neste caso h homicdio. necessrio que o sujeito passivo realmente queira se suicidar. Se ele pretende simular um suicdio e desastrosamente se mata, no h crime a punir, pois a ao do agente no teve a potncia de instigar ou induzir. Exige-se que a conduta do agente seja dirigida a uma ou varias pessoas determinadas, no bastando o mero induzimento genrico, dirigido a pessoas incertas. Tipo objetivo: Induzimento faz nascer na vitima a idia. Aqui o sujeito nem sequer cogitava em suicidar-se. Instigao refora a vontade mrbida. Auxlio presta assistncia material, facilitando a execuo do suicdio, quer fornecendo, quer colocando disposio do ofendido os meios necessrios para faz-lo. Trata-se de crime de conduta mltipla ou de contedo variado, mesmo que o agente pratique mais de uma ao descrita no tipo penal, responder por crime nico. Responde por homicdio (e no por participao em suicdio) aquele que, depois de auxiliar o suicida, v sua vitima, arrependida pedindo socorro e impede de terceiro prestar o auxlio. Tipo subjetivo: o crime somente punido a titulo de dolo, expressado pela consciente vontade de instigar, induzir ou favorecer algum a se suicidar. O dolo eventual perfeitamente possvel, como no clssico exemplo em que o pai que expulsa de casa a filha desonrada, consciente de que tal arbitrariedade (e falta de compreenso) poder incutir na jovem a vontade de ser matar, aceitando o risco de produzir o resultado fatal. Consumao e tentativa: Entende a doutrina clssica que o crime se consuma com o induzimento, instigao ou auxlio ao suicdio, ficando a punio do crime consumado condicionada supervenincia da morte ou leso grave da vitima (condio objetiva de punibilidade), no admitindo tentativa. Se a vtima sofre leso leve ou no sofre leso, o fato atpico. O mesmo raciocnio se aplica no caso de a vtima nem sequer tentar se matar.

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INDUZIMENTO, INSTIGAO OU AUXLIO MAJORADO: Art. 122, pargrafo nico Motivo egostico: para satisfazer interesses pessoais do agente, ex, buscando receber herana do suicida ou ocupar seu nobre cargo; Vitima menor: a doutrina fixa em 18 anos incompletos; Vtima que tenha diminuda por qualquer causa, a capacidade de resistncia ex: o brio, o enfermo, o senil etc. A total supresso da capacidade de resistncia implicar reconhecimento de homicdio. Pacto de morte (ambicdio): imaginemos um casal de namorados que decide um suicdio a dois, escolhendo, para tanto, trancar-se em uma sala, abrindo o torneira de gs. Existindo um sobrevivente, pergunta-se: foi ele (sobrevivente) quem abriu a vlvula de gs? Em caso positivo, responder por homicdio (art. 121), praticando verdadeiro ato executrio de matar. Em caso negativo, seu crime ser o de induzimento, instigao ou auxlio ao suicdio (art. 122), caso tenha resultado no primeiro, ao menos, leso corporal de natureza grave (o fato ser atpico se a leso foi leve, ou se nem mesmo leso houve). Testemunhas de Jeov: um adepto da seita das testemunhas de Jeov que, aps ferir-se gravemente em um acidente de trnsito, necessitando uma transfuso de sangue, recusase a faz-lo sob o argumento de que prefere morrer ao ser contaminado com sangue de outra pessoa. Em resumo: a) Sendo imprescindvel a transfuso, mesmo sendo a vtima maior e capaz, tal comportamento deve ser encarado como tentativa de suicdio, devendo o mdico intervir, pois est na posio de garantidor. b) Os pais, subtraindo o filho menor da necessria interveno cirrgica, respondero por homicdio, pois naturais garantidores do filho. AO PENAL: pblica incondicionada. INFANTICDIO: Art. 123 o crime praticado pela genitora contra o prprio filho, influenciada pelo estado puerperal, durante ou logo aps o parto. Sujeitos do crime: trata-se de crime prprio, em que somente a me (parturiente), sob a influncia do estado puerperal, pode ser sujeito ativo. O estado puerperal circunstncia elementar do crime e se comunica. a) a parturiente e o mdico executam o ncleo matar o neonato ambos respondem por infanticdio; b) a parturiente, auxiliada pelo mdico, sozinha, exerce o verbo matar- ela responde por infanticdio e ele partcipe do mesmo crime; c) o mdico, induzido pela parturiente, isolado, executa a ao matar ambos respondem por homicdio.

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Sujeito passivo: o ser humano, durante ou logo aps o parto (nascente ou recmnascido). Se a me sob influncia do estado puerperal, logo aps o parto, pensando ser seu filho (vtima virtual), acaba, por engano, matando filho alheio (vtima real), pratica o crime de infanticdio (putativo). Tipo objetivo: A morte pode ser causada (durante o parto ou logo aps) e de forma livre, por ao (asfixia) ou omisso (faltar com a amamentao), por meios diretos ou indiretos. Antes do parto, a morte do feto ser aborto, e se no se verificar, pelo menos, logo aps, ser homicdio. Tipo subjetivo: o delito s punvel a ttulo de dolo direto ou eventual -, consistente na consciente vontade de matar o prprio filho. No havendo a modalidade culposa, questiona-se qual a conseqncia para o caso da me que, sob influncia do estado puerperal, imprudentemente, mata o filho recm-nascido. Para uma primeira corrente, o fato atpico, vez que invivel atestar a ausncia de prudncia normal em mulher desequilibrada psiquicamente. Para outros seria homicdio culposo. A circunstncia de o fato ocorrer no perodo prprio do estado puerperal ser matria decisiva para a fixao da pena. Consumao e tentativa: O crime material, consumando-se com a morte do nascente ou recm-nascido. A tentativa admissvel (delito plurissubsistente). AO PENAL: pblica incondicionada. ABORTO: Art. 124 Interrupo da gravidez com a destruio do produto da concepo. Protege a vida intra-uterina. A doutrina o classifica em: a) natural: interrupo espontnea da gravidez, normalmente causada por problemas de sade da gestante; b) acidental: decorrente de quedas, traumatismos e acidentes em geral; c) criminoso: previsto nos arts. 124 a 127; d) legal ou permitido: previsto no art. 128 do CP; e) miservel ou econmico-social: praticado por razes de misria, incapacidade financeira de sustentar a vida futura (no exime o agente de pena, de acordo com a legislao ptria); f) eugensico ou eugnico: praticado em face dos comprovados riscos de que o feto nasa com graves anomalias psquicas ou fsicas (exculpantes no acolhidas pela nossa lei); g) honoris causa: realizado para interromper gravidez extra matrimonium (crime de acordo com nossa legislao). ABORTO PROVOCADO PELA GESTANTE COM SEU CONSENTIMENTO Art. 124. O presente artigo traz duas formas de aborto criminoso: o auto-aborto e o aborto praticado com o consentimento da gestante. Sujeitos do crime: as duas condutas trazidas pelo tipo s podem ser praticadas diretamente pela mulher grvida. Admite-se a participao de terceiros, porm no a co-

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autoria (crime de mo prpria), respondendo o terceiro provocador nas penas do art. 126 do CP, excetuando-se, desse modo, a teoria monista ou unitria trazida pelo art. 29. Sujeito passivo: o mesmo do produto da concepo (vulo, embrio ou feto). Havendo vrios fetos (trigmios), haver concurso formal de crimes (art. 70 do CP). Tipo objetivo: Na primeira conduta tpica, a mulher engravidada, por intermdio de meios executivos qumicos, fsicos ou mecnicos, provoca (d causa, promove) nela mesma, mediante ao ou omisso, a interrupo da gravidez, destruindo a vida endouterina. A segunda conduta tpica a de consentir a gestante no abortamento, exigindo-se, assim, a figura do provocador, o qual, responder pelo crime do art. 126. Tipo subjetivo: o aborto s punvel a ttulo de dolo. No se pune a modalidade culposa. Caso provocado, culposamente, por terceiro, responde este por leso corporal culposa (art.129, 6 do CP). Consumao e tentativa: cuidando-se de crime material, consuma-se com a morte do feto ou a destruio do produto da concepo, pouco importando se esta ocorre dentro ou fora do ventre materno, desde que, claro, decorrente das manobras abortivas. Ocorrendo o nascimento com vida e verificando-se a morte posterior do recm-nascido, decorrncia de nova ao ou omisso do agente, o delito a se cogitar o de homicdio (ou infanticdio) e no mais o de aborto, vez que a conduta criminosa recaiu sobre a vida extra-uterina. Alguns autores, na hiptese, defendem, ainda, o cmulo material do homicdio com a tentativa de aborto. Tratando-se de crime plurissubsistente, a tentativa admissvel (ex: realizada a manobra abortiva, o feto expulso com vida, sobrevivendo). ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO, SEM O CONSENTIMENTO DA GESTANTE Art. 125. Verifica-se em duas situaes: I) quando o aborto provocado por terceiro, sem o consentimento da gestante(dissenso real); II) quando o consentimento dado por gestante no maior de 14 anos, ou alienada mental, ou, ainda, se obtido mediante fraude, grave ameaa ou violncia (dissenso presumido art. 126, pargrafo nico). Sujeitos do crime: qualquer pessoa pode ser sujeito ativo (crime comum), admitindo-se o concurso de agentes. Trata-se de crime de dupla subjetividade passiva, figurando como vtimas o produto da concepo (vulo, embrio ou feto) e a gestante. Tipo objetivo: a conduta interromper violentamente e intencionalmente uma gravidez, destruindo o produto da concepo. Tipo subjetivo: punido a ttulo de dolo, consistente na consciente vontade de interromper a gravidez contra o anseio da gestante.

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No caso de dissenso presumido (art. 126, pargrafo nico), o dolo deve compreender, tambm, as qualidades da grvida (pessoa no maior de 14 anos ou alienada ou dbil mental) ou o modo de execuo (consentimento obtido mediante fraude, grave ameaa ou violncia). Consumao e tentativa: consuma-se com a privao do nascimento, a destruio do produto da concepo (crime material). Admite-se tentativa (delito plurissubsistente) caso o resultado no seja alcanado por circunstncias alheias vontade do agente. ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO, COM O CONSENTIMENTO DA GESTANTE Art. 126. Sujeitos do crime: qualquer pessoa pode praticar o delito (crime comum). O concurso de agentes possvel, nas suas duas formas (co-autoria e participao). Sujeito passivo apenas o feto. Tipo objetivo: ocasionar com o consentimento vlido da gestante, a interrupo da gravidez, destruindo o produto da concepo. Se durante a operao (porm antes da interrupo da gravidez) a gestante desistir do intento criminoso, responder por abortamento no consentido o terceiro que insistir em provoc-lo. Tipo subjetivo: o dolo, consistente na vontade consciente de provocar abortamento consentido. Consumao e tentativa: consuma-se o crime com a interrupo da gravidez (crime material), sendo possvel a tentativa (delito plurissubsistente). Na hiptese do art. 126, pargrafo nico, como na do art. 125, a gestante est isenta de pena (porque irresponsvel), mas o terceiro punido na conformidade do art. 125. ABORTO MAJORADO PELO RESULTADO Art. 127. Para que haja a majorao no indispensvel que o aborto se consuma. Basta que a gestante sofra leso ou que venha a morrer. As causas de aumento somente se aplicam aos crimes definidos nos arts. 125 e 126 e no no art. 124, pois a direito penal no pune a autoleso nem o ato de matar-se. ABORTO LEGAL Art. 128. Inciso I aborto necessrio ou teraputico. Inciso IIaborto sentimental (ou humanitrio ou tico), ambos espcies de aborto legal ou presumido. Aborto necessrio: indispensvel o preenchimento de trs condies: aborto praticado por mdico, perigo de vida da gestante e impossibilidade do uso de outro meio para salv-la. Desnecessidade de consentimento da gestante e de autorizao judicial. Aborto sentimental: indispensvel o preenchimento de trs condies: praticado por mdico, que a gravidez seja resultante de estupro, prvio consentimento da gestante ou seu representante legal. O art. 128, II do CP no faz qualquer distino entre o estupro com violncia real ou presumida (art.224 do CP). Se aplica tambm quando a gravidez resulta de atentado violento ao pudor.

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A doutrina procura legitimar o abortamento eugensico (feto anenceflico), valendo-se de um contorcionismo jurdico alcanado pela interpretao sistemtica com a lei 9.434/97, que determina o momento da morte com a cessao da atividade enceflica. Assim, no tendo o feto anenceflico vida intra-uterina, no h juridicamente o aborto. Caminhando-se a operao teraputica para a atipicidade. Alguns juzes vinham permitindo tal abortamento observados os seguintes pressupostos: a) somente para anomalias que inviabilizem a vida extra-uterina; b) deve a anomalia estar devidamente atestada em pericia mdica e c) prova do dano psicolgico da gestante. Recentemente o STF cassou a liminar que permitia tal abortamento, voltando a proibir a interrupo da gestao em casos tais. LESES CORPORAIS: As leses podem ser divididas quanto ao elemento subjetivo e intensidade. No primeiro critrio a leso pode ser: a) b) c) d) dolosa simples (caput); dolosa qualificada (1, 2 e 3); dolosa privilegiada (4 e 5); culposa (6).

J com base no segundo (intensidade), classifica-se a leso em: a) b) c) d) leve (caput); grave (1); gravssima (2); seguida de morte (4).

Sujeitos do crime: qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime de leso corporal (crime comum). Se praticado por policial militar, a doutrina diverge sobre se a leso fica ou no absorvida pelo crime de abuso de autoridade, sustentando a maioria o cmulo de infraes. Nesse caso, reza a Smula 172 do STJ: Compete Justia Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em servio. Justia Castrense cabe o processo e julgamento pelo delito de leso corporal. Sujeito passivo: o homem vivo. Observa-se que nas hipteses do art. 129, 1, IV e 2, V, a vtima deve, necessariamente, ser mulher grvida. Aumenta-se a pena de 1/3 se o crime for cometido contra menor de 14 anos ou maior de 60 anos de idade (7). A lei penal considera irrelevante a autoleso, contudo se um inimputvel, por determinao de outrem, praticar em si mesmo leso, quem o conduziu autoleso responder pelo crime, na condio de autor mediato. Se algum, agredido por outrem, para se defender acaba se ferindo, o agressor responder pelo resultado lesivo. Tipo objetivo: pune-se a conduta ao ou omisso de ofender a integridade fsica de outrem, quer causando uma enfermidade, quer agravando a que j existe.

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No se pode confundir o crime de leso corporal com a contraveno penal de vias de fato, vez que nesta no existe qualquer dano incolumidade fsica da vtima (ex: empurro, puxo de cabelo etc). Cortar os cabelos de outrem pode constituir crime de leso corporal, mas indispensvel que a ao provoque uma alterao desfavorvel no aspecto exterior do indivduo, de acordo com os padres sociais mdios. H quem sustente, no caso, a configurao do delito de injria real. Para Cezar Bittencourt, no ordenamento jurdico a integridade fsica apresenta-se como relativamente disponvel, desde que no afronte interesses maiores e no ofenda os bons costumes, de tal sorte que pequenas leses podem ser livremente consentidas, como ocorre, por exemplo, com as perfuraes do corpo para colocao de adereos piercing. Tipo subjetivo: punido a ttulo de dolo (caput e 1 e 2), culpa (6 e 7) e preterdolo (1, 2 e 3). Consumao e tentativa: consuma-se o crime no instante em que ocorre a ofensa integridade corporal ou sade fsica ou mental da vtima (crime material). Esquimose e hematomas so consideradas leses . J eritemas e a simples provocao de dor no constituem leses. Apesar da dificuldade probatria, mostra-se perfeitamente possvel a tentativa nas modalidades dolosas (crime plurissubsistente). LESO CORPORAL DOLOSA DE NATUREZA LEVE: Art. 129; O conceito de leso leve formulado por excluso, isto , no chegando a nenhum dos resultados previstos nos 1, 2 e 3 (leses graves, gravssimas e seguidas de morte) configura-se o tipo bsico trazido pelo caput. H doutrinadores que em caso de levssimas leses corporais, aplicam a teoria da insignificncia, excluindo a tipicidade penal. LESO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE: Art. 129, 1. I INCAPACIDADE PARA AS OCUPAES HABITUAIS POR MAIS DE 30 DIAS entende-se por ocupao habitual qualquer atividade corporal costumeira, tradicional, no necessariamente ligada ao trabalho ou ocupao lucrativa, devendo ser lcita, no importando se moral ou imoral, podendo ser intelectual, econmica, esportiva, etc. Desse modo, mesmo um beb pode ser sujeito passivo desta espcie de leso, vez que tem de estar confortvel para dormir, mamar etc. Obs: a gravidade da leso ser aferida por laudo mdico complementar, realizado logo aps o trigsimo dia, contado da data do crime. II PERIGO DE VIDA: A leso grave s existe, portanto, se, em um dado momento, a vida do sujeito passivo esteve efetivamente em perigo. Compete ao perito mdico-legal essa verificao. Esta qualificadora s admite o preterdolo (dolo na conduta e culpa no resultado). Se o ofensor considerou, por um momento apenas, a possibilidade de matar a vtima (dolo no resultado), termos configurado o crime de homicdio.

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III- DEBILIDADE PERMANENTE DE MEMBRO, SENTIDO OU FUNO: Membro braos, antebraos, mos, pernas, coxas e ps; Sentido viso, audio, tato, paladar e olfato; Funo consiste na atividade prpria ou natural de cada rgo respiratria, circulatria, digestiva etc. Resultando do evento diminuio (reduo) ou enfraquecimento da capacidade funcional de membro, sentido ou funo, cuja recuperao seja incerta e por tempo indeterminado (no significa perpetuidade), a leso ser de natureza grave. No importa que o enfraquecimento possa se atenuar ou se reduzir com aparelhos de prtese. IV- ACELERAO DE PARTO: quando em decorrncia da leso o feto expulso, com vida, antes do tempo normal (parto prematuro). Se o feto expulso sem vida, ou mesmo se com vida logo vem a morrer em razo dos ferimentos, a leso corporal ser de natureza gravssima (2, V). Para que se configure a qualificadora em tela, indispensvel que o agente saiba (ou pudesse saber), em razo das circunstncias, esta a ofendida grvida. Caso ignorada a gravidez da vtima, responder o ofensor pelo crime de leso corporal de natureza leve. Lembra Cezar Roberto Bittencourt que todas as qualificadoras contidas no 1 so de natureza objetiva. LESO CORPORAL DE NATUREZ GRAVSSIMA: Art. 129, 2. No presente dispositivo temos elencados os casos de leso corporal gravssima, de regre irreparvel (ou de maior permanncia). Apesar de o Cdigo no utilizar essa expresso (gravssima), a doutrina a criou, o que vem sendo aceito pelos operadores do direito como forma de pr em evidncia as conseqncias mais graves do pargrafo quando comparado com o 1. I INCAPACIDADE PERMANENTE PARA O TRABALHO: Aqui a incapacidade para o trabalho (labuta, profisso, emprego, ofcio), permanente (no temporria), absoluta (no basta ser relativa), duradoura no tempo e sem previsibilidade de cessao. A incapacidade dever ser para o exerccio de qualquer espcie de trabalho. Se a vtima incapacitada apenas para a atividade especfica que estava exercendo, mas puder exercer outra, no configura a leso gravssima (posio majoritria). II- ENFERMIDADE INCURVEL: a alterao permanente da sade em geral por processo patolgico, ou seja, a transmisso intencional de uma doena para a qual no existe cura no estgio atual da medicina. A doutrina considera incurvel a enfermidade se o restabelecimento da sade depender de intervenes cirrgicas arriscadas ou tratamentos incertos, no estando a vtima obrigada a aventurar-se por caminhos para os quais a prpria medicina ainda no reconhece sucesso. III- PERDA OU INUTILIZAO DE MEMBRO, SENTIDO OU FUNO: No se fala aqui em debilidade, mas sim em perda (amputao ou mutilao) ou inutilizao (membro, sentido ou funo inoperante, isto sem qualquer capacidade de exercer suas atividades prprias). Tratando-se de membros ou rgos duplos, a leso para ser qualificada como gravssima deve atingir ambos.

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Para Cezar Bittencourt no caracteriza a perda de membro, sentido ou funo, a cirurgia que extrai rgos genitais externos de transexual, com a finalidade de cur-lo ou de reduzir seu sofrimento fsico ou mental. Alis, essa conduta atpica, no sendo proibida pela lei, nem mesmo pelo Cdigo de tica Mdica. Falto o dolo de ofender a integridade fsica ou sade de outrem. IV DEFORMIDADE PERMANENTE: Consiste no dano esttico, aparente, considervel e irreparvel pela prpria fora da natureza e capaz de provocar impresso vexatria (desconforto para quem olha e humilhao para a vtima). A idade, o sexo e a condio social da vtima devem ser tomados em considerao no apreciar a deformidade. Mesmo que possvel, no se pode exigir que a vtima procure cirurgia para encobrir os ferimentos, subsistindo a qualificadora. Contudo, optando por corrigir a leso atravs de cirurgia plstica, fica afastada a circunstancia majorante. V- ABORTO: Aqui pune-se a leso a ttulo de dolo e o abortamento (interrupo da gravidez) a ttulo de culpa (crime preterdoloso ou preterintencional). No se confunde com o art. 127, 1 parte, retratando este situao completamente oposta. indispensvel que o agente tenha conhecimento da gravidez da vtima (ou que a ignorncia tenha sido inescusvel), jamais querendo ou aceitando o resultado mais grave, caso em que haveria o abortamento criminoso (art. 125 do CP). COEXISTNCIA DE QUALIFICADORA: Mostra-se perfeitamente possvel a coexistncia, num determinado fato, de qualificadoras vrias, inclusive de natureza grave (1) e gravssima (2), como quando, por exemplo, alm de ficar incapacitada para as ocupaes habituais por mais de trinta dias, a vtima sofreu deformidade permanente. Nesse caso, o crime permanece nico, aplicando-se as penas do pargrafo mais grave (2), devendo o juiz, por ocasio da fixao da pena-base, considerar as demais conseqncias sofridas pelo ofendido. LESO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE: Art. 129, 3. Aqui falta ao autor o animus necandi, agindo apenas com a inteno de ofender a integridade corporal ou a sade da vtima. As expresses no quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo, excluem taxativamente o dolo direto e eventual. O caso fortuito, ou a imprevisibilidade do resultado, elimina a configurao do crime preterdoloso, respondendo o agente apenas pelas leses corporais. Tratando-se de delito preterintencional, no admite tentativa. LESO CORPORAL DOLOSA PRIVILEGIADA: Art. 129, 4. Relevante valor social interesses de toda uma coletividade; Relevante valor moral liga-se aos interesse individuais, particulares do agente, entre eles os sentimentos de piedade, misericrdia e compaixo. Domnio de violenta emoo a emoo no deve ser leve e passageira. A reao deve ser imediata. O revide deve ser imediato, sem intervalo temporal. A demora na reao exclui a causa minorante, transmudando em vingana. A provocao deve ser injusta.

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Pode inclusive ser indireta, isto , dirigida contra terceira pessoa ou at contra um animal. SUBSTITUIO DA PENA: Art. 129, 5. No sendo graves as leses e presente qualquer das hipteses relacionadas no 4 (se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domnio de violenta emoo, logo em seguida a injusta provocao da vtima), a pena de deteno poder ser substituda por multa. O mesmo acontece quando as leses forem mtuas. Alis, nesse ltimo caso (leses recprocas), Damsio sintetiza as vrias hipteses: a) ambos se ferem e um agiu em legtima defesa: absolve-se um e se condena o outro, com o privilgio; b) ambos se ferem e dizem ter agido em legtima defesa, no havendo prova do incio da agresso: nesta hiptese, ambos devem ser absolvidos; c) ambos so culpados e nenhum agiu em legtima defesa: devem os dois ser condenados com o privilgio. LESO CORPORAL CULPOSA: Art. 129, 6. Resulta da negligncia, imprudncia ou impercia. A leso corporal culposa, na direo de veculo automotor, no mais se enquadra no delito tipificado no art. 129, 6 do CP, mas sim no art. 303 da Lei 9.503/97. VIOLNCIA DOMSTICA: Art. 129, 9. Haver quando o crime for praticado contra: a) ascendente, descendente ou irmo: dispensvel a coabitao entre o autor e a vtima, bastando existir a referida relao parental. Assim, se em uma reunio em famlia, um irmo, vindo de Estado longnquo, agride outro, ferindo-o ter praticado o crime de violncia domstica. b) Cnjuge ou companheiro: a majorante cnjuge persiste mesmo no caso de separao de fato ou judicial. Protege tambm a unio estvel (companheiro), at ento desamparada por qualquer agravante, em respeito ao principio da legalidade estrita. c) Com quem convivia ou tenha convivido: Para Guilherme de Souza Nucci haver a forma qualificada da leso quando o agente voltar-se contra ascendente, descendente, irmo, cnjuge ou companheiro com quem viva ou tenha convivido. No outra pessoa, mas somente estas enumeradas no tipo. Uma empregada domstica com quem o agente tenha convivido, agredida muito depois de cessada a relao de emprego, no faria nascer a violncia domstica. H quem discorde, por exemplo, Rogrio Sanches Cunha. Para ele, haver violncia domstica na agresso contra pessoa (que no ascendente, descendente, irmo, cnjuge ou companheiro) com quem o agente convivia ou tenha convivido (caso da repblica de estudantes, por exemplo). Alis, comungar do primeiro entendimento excluir do alcance da qualificadora em comento as agresses entre familiares (irmos) que jamais conviveram. d) prevalecendo-se o agente das relaes domsticas, de coabitao ou de hospitalidade: por exemplo, a bab que agride a criana, desde que, claro, no se revista de requintes de tortura.

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AO PENAL: Ao penal pblica incondicionada. No caso de leso dolosa de natureza leve (art. 129 caput) e culposa (6), o oferecimento da ao penal depender de representao da vtima ou de seu representante legal (pblica condicionada art. 88 da lei 9.099/95). RIXA: ART. 137 A rixa uma briga (luta ou contenda) perigosa entre mais de duas pessoas, agindo cada uma por sua conta e risco, acompanhada de vias de fato ou violncias recprocas, com a utilizao ou no de armas (ex: empurres, socos, pontaps, puxes de cabelo etc). Sujeitos do crime: o sujeito ativo , ao mesmo tempo, passivo, em virtude das mtuas agresses. Trata-se de crime de concurso necessrio (plurissubjetivo), cuja configurao exige a participao de, no mnimo, trs contendores, computando-se nesse nmero eventuais inimputveis, pessoas no identificadas ou que tenham morrido durante a briga. Tipo subjetivo: a ao criminosa consiste em participar do tumulto. Para que fique caracterizado o crime insuficiente a participao de apenas dois contendores. O crime caracteriza exatamente pela ao individual de mais de dois rixosos, agredindo-se reciprocamente e de maneira generalizada. No haver rixa quando possvel definir, no caso concreto, dois grupos contrrios lutando entre si. Nessa hiptese, os integrantes de cada grupo sero responsabilizados pelas leses corporais causadas nos integrantes do grupo contrrio. A participao pode ser material (tomam parte da luta participe da rixa) e moral (incentivam os contendores ). No indispensvel o contato fsico entre os rixosos. A simples troca de agresses verbais recprocas e generalizadas no configura o crime. Tipo subjetivo: o dolo de perigo, consistente na vontade consciente de tomar parte da briga, ciente dos riscos que essa participao pode provocar para a incolumidade fsica de algum (rixoso ou no), sendo irrelevante o motivo da rixa. No admite a conduta culposa. Consumao e tentativa: o delito se consuma com o incio do conflito, isto , com a efetiva troca de agresses entre os rixosos. Trata-se de crime de perigo abstrato ou presumido, punindo-se a simples troca de agresses, pouco se importando haja ou no ferimentos (a no ser para majorar a pena quando graves ou provocadores de morte). No se admite a tentativa por ser o crime unissubsistente (no se admite fracionamento da execuo). RIXA QUALIFICADA: Pargrafo nico - art. 137; A rixa qualificada, segundo alguns, um dos ltimos resqucios de responsabilidade objetiva que esto em vigor em nosso ordenamento jurdico, uma vez que a redao do tipo deixa claro que todos os participes (inclusive a vtima machucada) respondem pelo crime agravado, independente de se identificar o verdadeiro autor da leso grave ou morte. Se o autora da leso grave ou morte for descoberto, responder pelos crimes de rixa qualificada e o resultado lesivo qualificador (morte ou leso grave, doloso ou culposo), em concurso material (tal posio, apesar de dominante, no pacifica,

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havendo aqueles que enxergam na hiptese verdadeiro bis in idem, devendo o autor da morte ou leso grave responder por este crime em concurso com a rixa simples). Se o agente tomou parte na rixa e saiu antes da morte da vitima, responde pelo crime qualificado, pois entende-se que, com sua conduta anterior, criou condies para o desfecho morte. Muitas vezes aquele que se retirou do tumulto foi o principal causador da batalha. Situao diversa ser a do agente que entra na rixa aps as leses graves ou morte. Aqui evidente que a rixa, para o interveniente retardatrio, ser simples, faltando nexo causal entre sua atuao e tais eventos. AO PENAL: Pblica incondicionada. CRIMES CONTRA A HONRA: CALUNIAR: falsamente imputar algum fato definido como crime; DIFAMAR: imputar a algum fato no criminoso, porm ofensivo a sua reputao; INJURIAR: ao inverso do que sucede na calnia e na difamao, no imputar fato determinado, mas sim atribuir qualidades negativas ou defeitos. A honra divide-se em: a) objetiva: relacionada com a reputao e a boa fama que o indivduo desfruta no meio social em que vive. Nos crimes de calnia e difamao, atribuindo-se fato, h ofensa honra objetiva; b) subjetiva: quando relacionada com a dignidade e o decorro pessoal da vtima, isto , o juzo que cada indivduo tem de si (estima prpria). No crime de injria ofensa honra subjetiva, atribuindo-se ao ofendido, qualidade negativa. OBS: Na calnia e na difamao o fato desonroso deve chegar ao conhecimento de terceiros, j na injria dispensa-se o conhecimento por terceiros. CALNIA: Art. 138 protege a honra objetiva da vitima, isto sua reputao perante terceiros. Sujeitos do crime: excepcionalmente, entretanto, no podem ser autores de crime contra a honra pessoas que desfrutam de inviolabilidade (senadores, deputados, vereadores, estes nos limites do municpio em que exeram a vereana). Os advogados no esto imunes ao delito de calnia, pertencendo ao raio da inviolabilidade profissional apenas a difamao e a injria, desde que cometidas no exerccio regular de suas atividades. No se exige qualidade especial da vitima; os menores e loucos tambm podem ser sujeitos passivos. O STF entende que a pessoa jurdica no pode se vtima da calnia, mas apenas do delito de difamao. A pessoa jurdica no pode praticar crime e, por isso, a ela no se pode imputar a prtica de um fato criminoso. Hoje, entretanto, com o advento da Lei 9.605/98 (crimes ambientais e responsabilidade penal da pessoa jurdica -, tal posicionamento deve ser revisto, apesar de, ainda assim, haver resistncia na doutrina, para a qual apenas as pessoas que dirigem o ente coletivo que podem ser atingidas pela ofensa. Os mortos tambm podem ser caluniados (art 138, 2), mas, sendo sua honra um atributo dos vivos, seus parentes que sero os sujeitos passivos, interessados na preservao da sua memria (o art. 24 da Lei de Imprensa pune no apenas a calnia,

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mas tambm a difamao e a injria contra os mortos, quando o meio do crime for a imprensa). Crime contra a honra do Presidente da Repblica, praticado com motivao poltica, configura delito contra a segurana nacional (Lei 7.170/83). Tipo objetivo: imputar algum determinado fato criminoso, sabidamente falso. O agente, para tanto, pode utilizar-se de palavras, gestos ou escritos. A falsa imputao de contraveno no caracteriza calnia e sim difamao. Haver calnia quando o fato imputado jamais ocorreu (falsidade que recai sobre o fato) ou, quando real o acontecimento, no foi a pessoa apontada como seu autor (falsidade que recai sobre a autoria do fato). Tipo subjetivo: o dolo, consistente na vontade de ofender, denegrir a honra da vtima. No se admite a modalidade culposa. Consumao e tentativa: consuma-se no momento em que terceiro toma conhecimento da imputao criminosa. Trata-se de crime formal, perfazendo-se independente do dano reputao do ofendido. Somente quando praticada por escrito que admite tentativa. O telegrama e o fonograma, apesar de serem meios escritos, no admitem tentativa, pois os funcionrios inevitavelmente tomaro conhecimento do contedo, embora sejam obrigados a manter sigilo. Exceo da verdade: prova da verdade da imputao e conseqentemente atipicidade da conduta. Permite-se ao ofensor fazer prova da verdade, salvo: IIIIIIse consistindo o fato imputado crime de ao privada, o ofendido no foi condenado por sentena irrecorrvel - havendo condenao definitiva a exceo da verdade cabvel. se o fato imputado a Presidente da Repblica ou chefe de governo estrangeiro - por chefe de governo estrangeiro deve-se fazer uma interpretao extensiva para abranger o primeiro ministro; se o crime imputado, embora de ao pblica, o ofendido foi absolvido por sentena irrecorrvel proclama a absolvio do acusado.

Exceo de notoriedade: art. 523 do CPP no faz meno apenas exceo da verdade, mas tambm da notoriedade do fato imputado. Consiste esta na oportunidade facultada ao ru de demonstrar que suas afirmaes so do domnio pblico. DIFAMAO: Art. 139 protege a honra objetiva. Sujeitos do crime qualquer pessoa pode ser sujeito ativo (atentar para as imunidades materiais analisadas no crime anterior), no se exigindo, tambm qualidade especial do sujeito passivo. A pessoa jurdica, segundo a maioria da doutrina pode ser vitima, ainda que a ofensa no atinja, diretamente ou indiretamente, as pessoas dos seus diretores. Tipo objetivo: consiste na imputao de fato determinado que, embora ser revestir de carter criminoso, ofensivo reputao da pessoa a quem se atribui. O art. 139 no contm a previso de propalar ou divulgara difamao, como faz o art. 138 (calnia).

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A omisso, primeira vista, pode levar o incauto a pensar que o fato seria atpico, porm aquele que propala ou divulga fato desonroso pratica difamao. OBS: a honra um bem jurdico disponvel, servindo o consentimento do ofendido para tornar o fato atpico. Tipo subjetivo: o dolo. Consumao e tentativa: o crime se consuma quando terceiro (ainda que um s) conhecer da imputao desonrosa. fundamental que a ofensa seja comunicada a terceiro. Trata-se de crime formal, consumando-se independentemente do dano reputao do imputado. A tentativa mostra-se possvel apenas na forma escrita. Exceo da verdade: somente se admite se o ofendido funcionrio pblico e a ofensa relativa ao exerccio de suas funes (art. 139, pargrafo nico). Nesse caso, provando o ofensor a verdade da imputao, exclui-se a ilicitude da sua conduta. Se o funcionrio pblico ofendido deixar o cargo aps a consumao do fato imputado, o sujeito ativo mantm o direito exceo da verdade, se, no entanto, quando proferida a ofensa relativa funo pblica, o ofendido no se encontra mais no cargo, a exceo ser inadmissvel, ante a ausncia da qualidade de funcionrio pblico. Exceo de notoriedade: no se justifica punir algum porque repetiu o que todo mundo sabe e todo mundo diz, ou seja, fato de amplo domnio pblico. INJRIA Art. 140 tutela-se a honra subjetiva, ou seja, a auto-estima. Sujeitos do crime: qualquer pessoa pode ser sujeito ativo (crime comum); com relao ao sujeito passivo, observa a doutrina que a pessoa injuriada deve compreender as ofensas contra ela proferidas, isto , ter conscincia de estar sendo atacada na sua dignidade. A pessoa jurdica, por no possuir honra subjetiva, no pode ser sujeito passivo desse crime. Os mortos ao contrrio do que ocorre com a calunia e a difamao no podem ser injuriados. Tipo objetivo: ofender por ao (palavras ofensivas) ou omisso (ignorar cumprimento), pessoa determinada, ofendendo-lhe a dignidade ou o decorro. No h emisso de fatos como na calnia e na difamao, mas emisso de conceitos negativos sobre a vitima. Tipo subjetivo: o dolo, inexistindo a forma culposa. Consumao e tentativa: por se tratar de crime contra a honra subjetiva (auto-estima), somente se consuma quando chega ao conhecimento da vitima, dispensando-se o efetivo dano a sua dignidade ou decorro (crime formal). Para maioria da doutrina, admite-se tentativa na forma escrita. Exceo da verdade: no se permite. Provocao. Retorso- perdo judicial. O emprego do verbo poderd a impresso de que se trata de uma faculdade do juiz, o que no . Trata-se de um direito subjetivo do acusado, presentes os requisito, o perdo obrigatrio. Na provocao h somente uma

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injria, a de quem reage provocao, pois a conduta do provocador no assume a condio de injria caso contrrio haveria retorso. INJRIA REAL: 2 - A lei exige que a violncia (ou vias de fato) seja aviltante, agindo o agente com o propsito de ofender a vitima. Temos como exemplo: puxes de orelhas ou de cabelos, cuspir em algum ou em sua direo. Ocorrendo leso corporal aviltante deve-se somar pena da injria aquela correspondente a violncia. Trata-se de concurso formal imprprio (art 70, segunda parte do CP). Se a injria consiste em vias de fato aviltantes, a contraveno penal absorvida. INJRIA QUALIFICADA POR PRECONCEITO - 3 - no se confunde com o delito de racismo previsto na Lei 7.716/89. Neste, pressupe-se sempre uma espcie de segregao (marginalizar, pr margem de uma sociedade) em funo da raa ou da cor. No caso da injria qualificada por preconceito, o crime praticado atravs de xingamentos envolvendo a raa, a cor, etnia, religio ou origem da vtima. Xingar algum fazendo referncias a sua cor injria, crime de ao penal privada, afianvel e prescritvel; impedir algum de ingressar numa festa por causa da sua cor racismo, cuja pena ser perseguida mediante ao penal pblica incondicionada, inafianvel e imprescritvel. DISPOSIES COMUNS AOS CRIMES CONTRA A HONRA: b) contra funcionrio pblico no se aplica ao aposentado, nem ao funcionrio pblico atpico ou por equiparao (art. 327, 1); c) na presena de vrias pessoas no mnimo trs. d) Por meio que facilite a divulgao por meio de cartazes, alto-falantes etc. e) Contra pessoa maior de 60 anos ou portadora de deficincia, exceto no caso da injria isto para evitar o bis in idem considerando a nova redao dada pelo 3 do art. 140. Infeliz a opo do legislador, pois perfeitamente possvel algum ofender pessoa idosa sem que incida a referida qualificadora (ao se chamar um idoso de ladro, por exemplo, no se est fazendo qualquer referncia ao seu estado etrio, no incidindo a qualificadora, mas cabvel seria o aumento em estudo). Art. 141, pargrafo nico chama-se de ofensa mercenria. EXCLUSO DO CRIME: Art. 142 s diz respeito a difamao e a injria, pois tratando-se de calnia, que imputao de fato criminoso, h interesse pblico na elucidao do fato. Inciso I- Imunidade judiciria Para o MP art 41 , V da Lei Orgnica do MP (Lei 8.625/93). Para os advogados art. 7, 2 do Estatuto da OAB. Inciso II- imunidade literria, artstica ou cientfica tem por finalidade proteger a crtica artstico- literria. Inciso III- Imunidade funcional. 25

RETRATAO Art. 143 causa de extino de punibilidade, dispensa-se a concordncia do ofendido (ato unilateral). A lei penal apenas admite nos crimes de calnia e difamao. PEDIDO DE EXPLICAES: Art. 144; No caso de ofensas equvocas (vagas ou de duplo sentido), pode o ofendido pedir explicaes em juzo. O pedido no interrompe o prazo decadencial. CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL: Crimes contra a liberdade pessoal: so delitos subsidirios, punidos apenas quando no associados com a prtica de crimes mais graves, como ocorre, por exemplo, com o estupro, a extorso simples e a extorso mediante seqestro. CONSTRANGIMENTO ILEGAL: Art. 146. A CF, dentre outros direitos, garante ao homem no ser compelido a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei. Sujeitos do crime: no se exige qualidade especfica do sujeito ativo (crime comum). Se no entanto, for funcionrio pblico, no exerccio da sua funo, havendo o constrangimento ilegal, estaremos diante do delito previsto no art. 350 CP ou de abuso de autoridade. Atentar, por motivos polticos, contra a liberdade de locomoo do Presidente da Repblica, do Senado, da Cmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal constitui delito contra a segurana nacional (art. 28 da Lei 7.170/83). Tipo objetivo: o constrangimento aqui previsto a coao ilegal imposta liberdade moral ou psquica de algum para que no faa o que a lei permite ou faa o que ela no manda, pouco importando que o ato exigido da vitima importe ou no em uma prtica delituosa. O delito possui trs meios de execuo: violncia (fora fsica), grave ameaa (violncia moral) e outros meios capazes de reduzir a resistncia da vitima (anestsicos, por exemplo). Vale observar que se a sujeio for ilegtima, estar configurado o tipo do constrangimento ilegal, mas se for legitima, a tipicidade outra: exerccio arbitrrio das prprias razes (art. 345). Tipo subjetivo: o dolo, consistente na vontade consciente de coagir a vitima. No h a forma culposa. Consumao e tentativa: consuma-se o crime no momento em que a vitima, constrangida, faz ou deixa de fazer algo (ainda que parcialmente) contrrio sua vontade, obedecendo, assim, o que imposto pelo agente. A tentativa possvel (crime plurissubsistente) como no exemplo da vitima que, compelida violentamente a fazer algo, no cede vontade do agente. AUMENTO DE PENA: 1. Requisitos: reunio de mais de trs pessoas ou h emprego de armas. Aqui exige-se que seja a arma efetivamente usada, no bastando o porte ostensivo. Arma aquela encarada tanto no sentido prprio como imprprio.

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EXCLUSO DO CRIME - 3. Lei de Tortura constitui crime de tortura constranger algum com o emprego de violncia ou grave ameaa, causando-lhe sofrimento fsico e mental, com o fim de obter informao, declarao ou confisso da vitima ou de terceira pessoa ou para provocar ao ou omisso de natureza criminosa ou em razo de discriminao racial ou religiosa (art. 1 da Lei 9.455/97). Ao penal: pblica incondicionada. AMEAA: Art. 147. a manifestao da inteno de causar a algum qualquer mal injusto e grave (no necessariamente um crime). Sujeitos do crime: qualquer pessoa (crime comum). Tratando-se de funcionrio pblico, outro poder ser o crime (art. 3 da Lei 4.898/65). Como a ameaa apenada em funao de sua potencialidade intimidativa, condio obrigatria que o sujeito passivo apresente condies de tomar conscincia do mal, excludos o menores, os loucos, as pessoas jurdicas (a no se que recaia sobre os componentes). Ameaar, com finalidade poltica, o Presidente da Repblica, do Senado, da Cmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal constitui delito contra a Segurana Nacional (art. 28 da Lei 7.170/83). Tipo objetivo: consiste na promessa de causar a algum um dano injusto. de execuo livre, podendo ser praticado por palavra, gesto ou escrito ou qualquer outro meio simblico. Quanto a forma, pode ser explcita (ex: ainda te mato), ou implcita (ex: no tenho medo de ir para a cadeia). Quanto relao a vitima, a ameaa pode ser direta (se coincidentes, na mesma pessoa, a condio de vtima e objeto material) ou indireta (quando o mal prometido recair sobre pessoa outra que no a vitima, porm ligada a esta por relao de ternura. A individualidade da vitima deve ser tomada em considerao. Assim, a idade, sexo, grau de instruo devem ser considerados na anlise do caso concreto. Por fim, o mal deve ser possvel. Assim, no configura ameaa a expresso farei o mundo cair sobre sua cabea, diante da sua bvia impossibilidade. Tipo subjetivo: o dolo. No h forma culposa. Segundo alguns, a ameaa, como nos crimes contra a honra, no ocorre quando fruto de desequilbrio emocional oriundo, por exemplo, de uma acirrada discusso. Consumao e tentativa: Trata-se de crime formal, consumando-se no momento em que a vtima toma conhecimento do mal prometido, independentemente da real intimidao. Ao Penal: mediante representao da vitima ou seu representante legal (ao penal pblica condicionada). SEQUESTRO E CRCERE PRIVADO: Art 148. So formas de privar algum da sua liberdade de locomoo, isto , do livre arbtrio, da livre escolha que cada pessoa faz sobre o local em que deseja ficar ou o momento de locomover-se para outro diverso daquele em que se acha.

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Sujeitos do crime: qualquer pessoa pode ser sujeito ativo ou passivo (crime comum). Praticar seqestro ou crcere privado, por inconformismo poltico, contra o Presidente da Repblica, do Senado, da Cmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal constitui delito contra a segurana nacional (art. 28 da Lei 7.170/83). Tipo objetivo: consiste em anular ou reduzir a sua capacidade de mover-se livremente de um para outro lugar. O seqestro executa-se por qualquer modo que consista em pr o indivduo em situao de no poder locomover-se livremente, a privao da liberdade no implica confinamento, enquanto o crcere privado (espcie do gnero seqestro) um modo particular da execuo, que se distingue porque nele a deteno da vtima se faz em recinto fechado. Tipo subjetivo: o dolo. Dispensa-se um fim especial. Alis, dependendo da finalidade do agente, outro poder ser o tipo penal (ex: extorso mediante seqestro, tortura etc). Consumao e tentativa: considera-se consumado o delito com a privao da liberdade do paciente. crime de natureza permanente, ou seja, s com a devoluo da liberdade da vtima cessa a sua perpetrao. Quanto ao tempo de durao, temos duas correntes: 1) irrelevante o tempo de privao, configurando-se o delito a partir do momento em que a vitima teve subtrado seu direito de locomoo, pouco importando se por tempo mais ou menos longo; 2) exige que o tempo seja juridicamente relevante, sendo a privao momentnea mera tentativa. Tratando-se de delito plurissubsistente, a tentativa possvel quando praticado por ao. QUALIFICADORAS: 1 e 2. Inciso I as hipteses so taxativas, no admitindo ampliao. Assim, no sero alcanadas pelo inc I os parentes colaterais, por afinidade, padrasto ou madrasta do agente. Inciso II- trata-se de verdadeira internao simulada, pretexto para privar a vtima da sua liberdade de locomoo. Inciso V- a privao da liberdade com finalidade libidinosa era etiquetada pelo CP como crime sexual de rapto (art. 219 e 220). Com o advento da Lei 11.106/05, tal modalidade criminosa acabou por ser abolida formalmente do nosso ordenamento jurdico, passando a configurar qualificadora do seqestro. No houve abolitio criminis. Ao penal: pblica incondicionada.

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REDUO A CONDIO ANLOGA ESCRAVO: Art. 149. Sujeitos do crime: qualquer pessoa (crime comum). Tipo objetivo: trata-se da sujeio de uma pessoa ao domnio da outra, como se fosse escravo. Com o advento da Lei 10.803/03 foram enumerados taxativamente quais os comportamentos caracterizam o delito, tornando-se de forma vinculada, s podendo ser praticado por meio das seguintes condutas: 1- submeter a vitima a trabalhos forados ou a jornada exaustiva 2- sujeit-la a condies degradantes de trabalho; 3- restringir, por qualquer meio, sua locomoo em razo de dvida contrada com o empregador ou preposto; 4- cercear o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de ret-lo no local de trabalho; 5- manter vigilncia ostensiva no local de trabalho ou se apoderar de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de ret-lo no local de trabalho. Caso o meio lanado para a submisso do sujeito passivo seja o seqestro, ficar este crime (art. 148) absorvido pelo art. 149 do CP. Para a configurao do delito no se faz necessria a prtica de maus-tratos ou sofrimento ao sujeito passivo. Tipo subjetivo: o crime exclusivamente doloso, no se admite a forma culposa. Consumao e tentativa: consuma-se o delito quando o indivduo reduzido a condio anloga de escravo, atravs da prtica de alguma das condutas previstas, dispensandose, como j dito, o sofrimento da vitima. Trata-se de crime permanente (a consumao se protrai no tempo), perdurando o delito enquanto houver a prtica cerceadora da liberdade. A tentativa possvel. Aumento de pena: 2 Ao penal: pblica incondicionada. CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICLIO: Violao de domiclio Art. 150 procura o Cdigo Penal proteger no a posse ou propriedade, mas sim a liberdade privada e domstica do indivduo, punindo a sua ilegal perturbao. Sujeitos do crime: qualquer pessoa pode ser sujeito ativo, inclusive o proprietrio (locador), ao invadir a casa do inquilino (locatrio) sem autorizao deste (crime comum). Sujeito passivo o morador (no necessariamente o proprietrio). Tipo objetivo: a conduta criminosa consiste em entrar ou permanecer na casa alheia ou em suas dependncias (ptio, quintal, garagem, jardins etc.), devendo a ao ser praticada clandestinamente ou astuciosamente, sempre contra a vontade do quem de direito.

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Entra na casa quem adentra num imvel, seja atravessando porta, janela, muro ou cerca. Requer, portanto, a entrada efetiva. Permanece que fica, conserva-se dentro da casa (ou dependncias). Aqui o agente, depois de haver entrado legitimamente no imvel (entrada consentida), se recusa a sair. Qualquer uma das condutas (entrar ou permanecer) deve ser praticada de forma clandestina (sem o consentimento), astuciosa (mediante emprego de fraude) ou contra a vontade expressa ou tcita (deduzida das circunstncias) de quem de direito. No configura o delito em tela (e sim o do art. 161 do CP) a entrada ou permanncia em casa vazia ou desabitada. Tambm no h crime na violao de lugares de uso comum (restaurantes, bares etc). No entanto, a parte interna desses locais (escritrio, estoque etc) resguardada. Tipo subjetivo: indispensvel a presena do dolo, consistente na vontade de violar domiclio alheio. No pratica o delito o brio que ingressa descuidadamente; o fugitivo que busca proteger-se; o condmino que distraidamente, erra de porta e invade domiclio alheio. No h forma culposa. Consumao e tentativa: o delito de mera conduta. Consuma-se to logo o agente entre completamente na casa (ou dependncia) alheia, ou, quando ciente de que deve sair, fica no local por tempo maior que o permitido, desobedecendo ordem de retirada. Na primeira hiptese o crime instantneo e, na segunda, permanente. A tentativa perfeitamente admissvel nas duas modalidades. Na modalidade ingressar, haver a tentativa quando o agente procura escalar uma janela e detido pelo policial que faz a ronda noturna. Na modalidade permanecer, quando manifestada a vontade de ficar, a permanncia, por circunstancias alheias vontade do agente, no atinge um limite de tempo considervel que permite ter o crime por consumado. O crime contra a inviolabilidade do domicilio subsidirio, razo pela qual, quando elementar de outro delito, no ocorrer o concurso de crimes, ficando absorvido pelo crime-fim (princpio da consuno). Qualificadora: Art. 150, 1 a) durante a noite: quando o fato praticado na escurido (ausncia de luz solar). Alm de mostrar maior perversidade, nesse perodo o agente v facilitada a execuo do delito, ficando mais difcil a defesa ou repulsa por parte do morador. b) Lugar ermo: lugar deserto, faltando habitantes. Facilita a prtica do crime, dificultando o auxlio vitima, revelando maior ameaa ao bem jurdico tutelado. c) Com emprego de violncia: trata-se do emprego de fora fsica, podendo ser praticada contra pessoa ou coisa, no distinguindo o cdigo entre uma ou outra. d) Com emprego de arma: o emprego de arma tambm qualifica o crime. A arma pode ser de qualquer espcie (prpria ou imprpria), havendo a majorao ainda que o agente dela se apodere apenas no interior do imvel, durante a ao criminosa. Com a revogao da Smula 174, no qualifica mais o crime o emprego de arma de brinquedo. e) Por duas ou mais pessoas.

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Aumento de pena: Art. 150, 2- Este aumento de pena foi revogado pela Lei 4.898/65. A lei de abuso de autoridade uma lei especial em relao ao art. 150, 2, pois regula a responsabilizao do agente pblico nas esferas administrativa, civil e criminal. Assim, responder nos termos da respectiva lei e no nos termos do 150, 2 do CP, em face do princpio da especialidade. Excluso do crime: 150, 3 IIIdurante o dia, com observncia das formalidades legais, para efetuar priso ou outra diligencia; a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime est sendo ali praticado ou na iminncia de o ser trata-se da priso em flagrante, quando qualquer do povo pode e as autoridades devem prender (art. 301, CPP);

Alm das hipteses acima mencionadas, temos outras situaes que excluem o crime: art. 23 do CP (legitima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal e exerccio regular de direito) e art. 5, XI da CF (em caso de desastre ou para prestar socorro). Casa conceito: coube 150, 4 e 5 delimitar o conceito penal de casa. A enumerao meramente exemplificativa. A proteo legal estende-se tambm para as dependncias da casa. Por estas dependncias devem entender-se os lugares acessrios ou complementares da moradia ou habitao: jardim, quintal, garagem, ptio etc. Claro que tais lugares no devem ser franqueados ao pblico. Ao penal: pblica incondicionada. DOS CRIMES CONTRA O PATRIMNIO: DO FURTO Art. 155 tutela a propriedade, a posse e a deteno legtima. Sujeitos do crime: no se exige qualidade especial do agente (delito comum), qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do furto, salvo o proprietrio. Este, subtraindo coisa sua que se encontra na legtima posse de terceiro, pratica qual infrao penal? Para a maioria, conforme o caso, haver o delito de exerccio arbitrrio das prprias razes (art. 345 e 346 do CP). Subtrair o condmino, co-herdeiro ou scio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detm, a coisa comum configura o crime do art. 156 do CP. Sujeito passivo poder ser qualquer pessoa, fsica ou jurdica, proprietria, possuidora ou detentora da coisa. Tipo objetivo: A conduta punida no tipo em estudo apoderar-se o agente, para si ou para outrem, de coisa alheia mvel, tirando-a de quem a detm (diminui o patrimnio da vitima). O apoderamento pode ser direto (apreenso manual) ou indireto (valendo-se de interposta pessoa ou at animais). O objeto material do crime deve ser a coisa alheia mvel, economicamente aprecivel. O homem vivo por no ser coisa, no pode ser objeto material de furto. O cadver, em regra, tambm no, salvo se pertence a algum, destacando para alguma finalidade especfica, como por exemplo, a uma faculdade de medicina para estudos cientficos.

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Havendo que ser alheia, a coisa de ningum (coisa que nunca teve dono) e a coisa abandonada (que j pertenceu a algum, mas foi dispensada) no podem ser objeto material do delito de furto. Tratando-se de coisa perdida (portanto, alheia) o crime ser de apropriao indbita de coisa achada (art. 169, pargrafo nico, II do CP). Coisas pblicas de uso comum (que a todos pertencem), como por exemplo, o ar, a luz, a gua do mar e dos rios, em princpio, no podem ser objeto material de furto, a no ser que destacadas do local de origem e tenham significado econmico para algum (ex: areia da praia que serve ao artista para criar suas obras). A coisa deve ser mvel. Diferentemente do Direito Civil, para fins penais, so considerados coisas mveis os navios, aeronaveis e os materiais separados provisoriamente de um prdio. A subtrao de objetos deixados dentro de uma sepultura configura qual crime? Uns acreditam que haver o delito do art. 210 ou 211, uma vez que os objetos materiais no pertencem a algum. Outros, com mais razo, ensinam que, se o intuito do agente no era o de violar ou profanar sepultura, mas subtrair ouro existente na arcada dentria de cadver, o delito cometido apenas furto que absorve o do art 211. Tipo subjetivo: o dolo, consistente na vontade de apoderar-se definitivamente de coisa alheia para si ou para outrem. O agente deve ter a inteno de no devolver a coisa vitima. Subtraindo apenas para usar momentaneamente, devolvendo-a, logo em seguida, haver mero furto de uso, um indiferente penal. So requisitos do furto de uso: a) inteno desde o incio de uso momentneo da coisa subtrada; b) coisa no consumvel; c) sua restituio imediata e integral vitima. Furto famlico: a jurisprudncia tem reconhecido estado de necessidade, desde que presentes os seguintes requisitos: a) que o fato seja praticado para mitigar a fome; b) que seja o nico e derradeiro recurso do agente; c) que haja a subtrao de coisa capaz de diretamente contornar a emergncia ; d) a insuficincia dos recursos adquiridos pelo agente com o trabalho ou impossibilidade de trabalhar. Consumao e tentativa: dar-se- quando a coisa subtrada passa para o poder do agente, mesmo que num curto espao de tempo, independentemente de deslocamento ou posse mansa e pacifica. A tentativa possvel. Se um indivduo tenta surrupiardinheiro do bolso da cala de transeunte, se depara com o bolso vazio; haver tentativa punvel ou crime impossvel? Majorante: Repouso Noturno - 155, 1 - Repouso noturno o perodo em que noite, pessoas se recolhem para descansar. O critrio para definir o repouso noturno varivel, no se identificando com a noite, mas sim com o tempo em que a cidade ou local costumeiramente recolhe-se para o repouso noturno. FURTO PRIVILEGIADO - 155, 2 - So os requisitos: a) primariedade do agente (no reincidente); b) coisa de pequeno valor ( no ultrapasse o valor de um salrio mnimo) e; c) necessidade de usar com urgncia, a coisa furtada. A doutrina atual tem dispensado o ltimo requisito (necessidade de usar com urgncia a coisa furtada), pois se presente no caso concreto, configurar clara hiptese de estado de necessidade (ou, como vimos, furto de uso, mero fato atpico).

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OBS: Hoje se tem utilizado o princpio da insignificncia, analisado com o princpio da interveno mnima. Diverge a doutrina sobre a possibilidade de aplicar-se o privilgio ao crime de furto qualificado. O posicionamento do STF e do STJ no sentido de ser ele incompatvel, vez que, alm da gravidade do crime qualificado, a posio topogrfica do privilgio indica a inteno do legislador de v-lo aplicado somente ao furto simples e noturno. Damsio discorda. Para ele assim como no homicdio podemos ter a figura do homicdio qualificadoprivilegiado, desde que as qualificadoras sejam de ordem objetivas, j que o privilgio so de ordem subjetiva. No furto no h inconciliabilidade entre o privilgio e as qualificadoras. Clusulas de equiparao : 155, 3 - equipara coisa mvel a energia eltrica e outras (gentica, mecnica, trmica e a radioatividade) desde que tenham valor econmico. No podemos confundir furto de energia eltrica (art. 155), praticado mediante ligao clandestina, com o crime de estelionato (art. 171), hiptese em que o agente emprega fraude, alterando o medidor de energia, para acusar um resultado menor do que o consumido. QUALIFICADORAS: 150, 4I destruio ou rompimento de obstculo obstculo aqui colocado de forma a impedir a subtrao da coisa. O rompimento de obstculo para qualificar o crime h de ser exterior coisa subtrada, se a violncia for exercida contra o prprio objeto visado no incide a qualificadora. Da surge a inevitvel indagao: se destruir quebra-vento no qualifica o delito quando a coisa visada o prprio veculo, ser que qualifica no caso de se visar a subtrao do seu toca-fitas? Por questo de equidade h importante jurisprudncia inclinando-se no sentido de que o rompimento de quebra-ventos de veculo para a subtrao de objetos existentes no seu interior no caracteriza a qualificadora. que se a violao tivesse sido feita para a subtrao do prprio automvel, simples seria o furto. Ora, por ter cometido fato menor (furto de acessrio e no do veculo) no pode o agente receber pena maior. A violncia contra a coisa deve ser empregada antes, durante ou aps a subtrao, mas sempre anterior consumao, pois, do contrrio, ocorrer o crime de furto em concurso material com dano. II- abuso de confiana trata-se de circunstancia subjetiva reveladora de maior periculosidade do agente que no s furta, mas viola a confiana nele depositada. Exigese para essa qualificadora um especial vnculo de lealdade ou de fidelidade entre a vtima e o agente, sendo irrelevante, por si s, a simples relao de emprego ou de hospitalidade. Furto qualificado por abuso de confiana X apropriao indbita: aquele difere da apropriao indbita, basicamente, por dois aspectos fundamentais: o momento da deliberao criminosa e o do apossamento da res. Na apropriao o agente exerce a posse em nome de outrem, enquanto no furto com abuso de confiana o agente tem mero contato, mas no a posse da coisa; naquela, o dolo superveniente, enquanto no furto o dolo ab initio.

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Fraude trata-se de meio enganoso capaz de iludir a vigilncia do ofendido e permitir maior facilidade na subtrao do objeto material. O furto mediante fraude no se confunde com o estelionato. Naquele, a fraude visa a diminuir a vigilncia da vitima e possibilitar a subtrao. O bem retirado sem que a vitima perceba que est sendo despojada. No estelionato, a fraude visa a fazer com que a vitima incida em erro e entregue espontaneamente o objeto ao agente. Escalada - o uso de via anormal para ingressar no local em que se encontra a coisa visada. No implica, necessariamente, subida, mas a utilizao de qualquer meio incomum, como por exemplo, a penetrao via subterrnea. Destreza por meio de peculiar habilidade fsica ou manual, pratica o crime sem que a vtima perceba que est sendo despojada de seus bens (ex: batedores de carteiras). III Chave falsa - todo instrumento, com ou sem forma de chave, destinado a abrir fechaduras (ex: grampos, arame, pregos etc). A chamada ligao direta para movimentao de veculo a motor no foi prevista em lei como qualificadora, no se podendo, assim, equipar-la chave falsa ou ao rompimento de obstculo subtrao da coisa. IV- Concurso de pessoas - a circunstncia de ser um dos comparsas inimputveis no faz desaparecer a qualificadora. Se o crime foi cometido por quadrilha previamente