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O Serviço Social e o Dia da Consciência Negra Gestão: Tempo de resistir: nenhum direito a menos! CRESS-PR 2017-2020 O Brasil está a caminho de decretar o dia 20 de novembro como feriado nacional. Em um paı́s recheado de feriados religiosos, no inı́cio de outubro deste ano a Comissão de Constituição de Justiça e de Cidadania aprovou o Projeto de Lei 296/15, que transforma a data da consciência negra em feriado nacional. Entretanto, o projeto foi rejeitado na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indú stria, Comé rcio e Serviç o e segue em tramitaç o no Plená rio da Câ mara. A data visa homenagear Zumbi dos Palmares, sı́mbolo de resistê ncia à escravidã o negra durante o perı́odo colonial no Brasil. Decidido ou nã o pela adesã o ao feriado nacional, a data merece um olhar reflexivo e crı́tico das/os assistentes sociais do Paraná. Primeiramente, é importante compreender que a data representa a resistência e a luta da população negra pelos seus direitos violados. Tais direitos ainda permanecem violados, o que encaixa essa parcela da sociedade em uma situaç o socioeconô mica, cultural e polı́tica vulnerá vel. O retrato da realidade da populaç ã o autodeclarada¹ negra no paı́s, segundo o Atlas da Violê ncia 2017, divulgado pelo IPEA, demonstra que de cada 100 pessoas que sofrem homicı́dio no Brasil, 71 são negras. De acordo com o Relatório das Desigualdades: Raça, Gênero e Classe, do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, é possı́vel verificar desigualdades profundas e histó ricas entre a populaç o branca e negra. Segundo o relató rio, em 2015 os dados de pessoas sem instruçã o autodeclaradas brancas sã o de 4%, enquanto para negras é de 9%. No que diz respeito a ter o ensino superior completo, a proporç ã o é de 19% para pessoas brancas e 7% para negras. Por sua vez, as faixas de renda familiar per capita també m apresentam disparidades. Verifica-se que pessoas brancas representam a maioria com rendimentos maiores a meio salá rio mı́nimo, o que em Movimento e e m m CRESS PR Resistência e luta da populaçã o negra pelos seus direitos “Negro é uma cor de respeito Negro é inspiraç ã o Negro é silê ncio é luto Negro é a solidã o Negro que já foi escravo Negro é a voz da verdade Negro é destino é amor Negro també m é saudade” Mú sica 'Sorriso Negro' ¹ De acordo com o Estatuto da Igualdade Racial, em seu artigo IV, a categoria negra agrega as pessoas autodeclaradas “pretas” e “pardas”. Disponı́ vel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2010/lei/l12288.htm. Acesso em: 12 de outubro de 2017.

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O Serviço Social e o Dia da Consciência Negra

Gestão: Tempo de resistir: nenhum direito a menos! CRESS-PR 2017-2020

O Brasil esta a caminho de decretar o dia 20 de novembro como feriado nacional.

Em um paıs recheado de feriados religiosos, no inıcio de outubro deste ano a

Comissao de Constituicao de Justica e de Cidadania aprovou o Projeto de Lei

296/15, que transforma a data da consciencia negra em feriado nacional.

Entretanto, o projeto foi rejeitado na Comissao de Desenvolvimento Economico,

Industria, Comercio e Servico e segue em tramitacao no Plenario da Camara.

A data visa homenagear Zumbi dos Palmares, sımbolo de resistencia a escravidao

negra durante o perıodo colonial no Brasil. Decidido ou nao pela adesao ao feriado

nacional, a data merece um olhar reflexivo e crıtico das/os assistentes sociais do

Parana. Primeiramente, e importante compreender que a data representa a

resistencia e a luta da populacao negra pelos seus direitos violados. Tais direitos

ainda permanecem violados, o que encaixa essa parcela da sociedade em uma

situacao socioeconomica, cultural e polıtica vulneravel.

O retrato da realidade da populacao autodeclarada¹ negra no paıs, segundo o Atlas

da Violencia 2017, divulgado pelo IPEA, demonstra que de cada 100 pessoas que

sofrem homicıdio no Brasil, 71 sao negras. De acordo com o Relatorio das

Desigualdades: Raca, Genero e Classe, do Grupo de Estudos

Multidisciplinares da Acao Afirmativa da Universidade do

Estado do Rio de Janeiro, e possıvel verificar desigualdades

profundas e historicas entre a populacao branca e negra.

Segundo o relatorio, em 2015 os dados de pessoas

sem instrucao autodeclaradas brancas sao de 4%,

enquanto para negras e de 9%. No que diz

respeito a ter o ensino superior completo, a

proporcao e de 19% para pessoas brancas e 7%

para negras. Por sua vez, as faixas de renda

familiar per capita tambem apresentam

disparidades. Verifica-se que pessoas brancas

representam a maioria com rendimentos

maiores a meio salario mınimo, o que em

MovimentoeemmCRESS PR

Resistencia e luta da populacao negra pelos seus direitos

“Negro e uma cor de respeito

Negro e inspiracao

Negro e silencio e luto

Negro e a solidao

Negro que ja foi escravo

Negro e a voz da verdade

Negro e destino e amor

Negro tambem e saudade”

Musica 'Sorriso Negro'

¹ De acordo com o Estatuto da Igualdade Racial, em

seu artigo IV, a categoria negra agrega as pessoas

autodeclaradas “pretas” e “pardas”. Disponıvel em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-

2010/2010/lei/l12288.htm. Acesso em: 12 de

outubro de 2017.

2015 era equivalente ao valor de 394,00 reais, sendo que 15%

de pessoas autodeclaradas brancas e 31% de pessoas negras

auferiam essa renda familiar per capita, em contraponto a

populacao com renda superior a cinco salarios mınimos,

sendo 7% entre brancas e 2% entre negras.

Frente a esse cenario, os princıpios eticos do codigo das/os

assistentes sociais devem ecoar fortemente no interior da

nossa profissao. A defesa intransigente dos direitos

humanos, o favorecimento da equidade e justica social e,

principalmente, o empenho na eliminacao de todas as

formas de preconceito devem nortear o olhar para o Dia da

Consciencia Negra.

Consciencia trata-se do conhecimento que nos permite

vivenciar, experimentar ou compreender aspectos ou a

totalidade do mundo interior. O dia da consciencia negra diz

respeito a tomada de conhecimento da contribuicao da

populacao negra na construcao socio historica do paıs, mas,

principalmente das conquistas empreendidas por ela.

E� uma data de luta, mas tambem uma data de comemora-

cao. Uma data que, em uma visao mais ampla, nao e apenas

da populacao negra, pois essa parcela da sociedade ja possui

plena consciencia de sua condicao. Uma data significativa,

um convite a toda populacao brasileira a tomar consciencia

da desigualdade racial presente no paıs e reconhecer a

historia e trajetoria de negras e negros que aqui vivem.

Por isso, devemos reverenciar esta data que traz tambem

consigo a luta contra a discriminacao racial, sendo esse um

problema estruturante da nossa sociedade. Essa realidade

deve ser arduamente combatida pela categoria de assisten-

tes sociais, nao somente em respeito aos princıpios eticos,

mas em consonancia com o projeto etico-polıtico de

sociedade justa e igualitaria, que nao sera alcancado

enquanto houver desigualdade racial.

Referencias:

Atlas da Violencia, IPEA, 2017. Disponıvel em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/170602_atlas_da_violencia_2017.pdf. Acesso em: 12 de outubro de 2017.

Relatorio das Desigualdade de Genero, Raca e Classe, GEMAA, 2017. Disponıvel em: http://gemaa.iesp.uerj.br/wp-content/uploads/2017/08/Relato%CC%81rio_Corrigido-2.0.pdf. Acesso em: 12 de outubro de 2017.

* Artigo produzido pela

assistente social Kamilla da Silva

Assistentes Sociais na luta pelos direitos de negras e negros

“O Servico Social trabalha na perspectiva de liberdade, direitos humanos, cidadania, democracia, diversidade. Diversidade de raca, de etnia, de genero. Atua numa perspectiva

de assegurar isto para estas pessoas, que eles nao precisam passar por preconceito e discriminacao pelo simplesmente pelo fato de ser uma pessoa negra”.

Andre do Nascimento de Souza, Estudante de Servico Social

“Cabe nao so a populacao brasileira, principalmente as/aos Assistentes Sociais se debrucar sobre a questao racial, porque a analise da desigualdade e da violencia sem o

recorte social nao e uma analise crıtica, nao e uma analise profunda”.

Kamilla da Silva, Assistente Social

“Como assistente social, mulher, negra, sou Conselheira do CRESS-PR gestao 2017-2020. Estamos buscando estrategias para combater a discriminacao, principalmente em novembro que e o mes da Consciencia Negra. Estamos com a proposta de construir um nucleo de debates para discutir esta questao, Nossa ideia e realizar rodas de conversa, debates, para que a gente consiga dar uma resposta a populacao sobre o que esta sendo feito em relacao a isso e qual e o papel do CRESS enquanto defensor dos Direitos Humanos”.

Tatiana Santos, conselheira do CRESS-PR

Conteudo: Karla Regina Rocha e Marcos Antonio Klazura Colaboracao: Elza Maria Campos e membros da Camara Tematica de E� tica e Direitos Humanos

Comissao de Comunicacao: Jucimeri Silveira, Tamıres Oliveira, Daniel Soares da Silva e Sintatica Comunicacao.