crescimento, rápido e lento - instituto braudel€¦ · antes da revolução industrial....

23
Crescimento, rápido e lento Discurso proferido por Andrew G. Haldane, economista chefe do Banco da Inglaterra, na Universidade de East Anglia 17 de fevereiro de 2015 Com essa brilhante exposição sobre a trajetória de longo prazo da economia mundial, inauguramos uma série de documentos importantes que podem interessar aos membros e amigos do Instituto Fer- nand Braudel de Economia Mundial. N esta noite, eu quero discutir o crescimento econômico. Isso pode soar como lugar co- mum. Nas mídias, passam os economistas boa parte do seu tempo a discutir o cresci- mento e sua contrapartida estatística, o Produto Interno Bruto (PIB). Ao menos para alguns, esta abor- dagem é inexata. Por exemplo, é cada vez mais reconhecido que o PIB é uma medida par- cial, e amiúde imperfeita, do Bem Estar Social. Como di- zia Einstein, nem tudo que pode ser contado conta. Porém mesmo que não seja tudo que conta, o crescimento econômico sustentável permanece o mais importante determinante para a melhoria da qualidade de vida nas sociedades. Para exemplifi- car, consideremos duas econo- mias – China e Itália. Nos anos 90, a renda anual agregada destas duas economias era rigorosamente igual. Avançando estas economias no tempo, com a China crescendo a mais de 10% ao ano e a Itália a menos de 1% ao ano. Em 2014, o que encontramos? Devido à ma- gia dos juros compostos, a economia chinesa é hoje quase oito vezes maior que a italiana. De fato, a Chi- na cria uma nova economia do tamanho da Itália a cada 18 meses; uma economia do tamanho de Por- tugal a cada três meses; uma economia do tamanho da Grécia a cada mês; e uma economia do tamanho de Chipre a cada semana. Às vezes essas coisas que podem ser contadas efetivamente contam. Atualmente endossam os debates políticos atestam isso. Desde a crise financeira, o cresci- mento global tem sido baixo. Na década anterior a esta, registrava-se um alto crescimento econômico de 3% ao ano em média. Após a de- flagração da crise financeira, a média tem sido de somente 1% ao ano. A economia global cresceu rápido, depois arrefeceu. Isto induziu alguns a temer uma “estagnação secular” – um extenso período de sub crescimento. Ouviram-se as mesmíssimas preocupações à época da Grande Depressão nos anos 1930. O júri econômico ainda está deliberando se as recentes taxas de crescimento são tro- peços temporários pós crise ou um duradouro abismo em nos- sas fortunas econômicas. Pessi- mistas denunciam os altos níveis de débito e desigualdade, crises demográficas e estagnação no al- cance do serviço educacional. Oti- mistas veem na tecnologia digital uma nova revolução industrial. Dada a sua importância à qualidade de vida, esse deba- te é um tema chave de nosso tempo. Algumas elucidações a este debate podem ser oferecidas pela observação dos padrões de cresci- mento ao longo prazo. Através da análise do pro- cesso histórico, é possível detectar fases distintas de Guilherme Kramer

Upload: others

Post on 12-Jun-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

Crescimento, rápido e lentoDiscurso proferido por Andrew G. Haldane, economista chefe do Banco da Inglaterra, na

Universidade de East Anglia

17 de fevereiro de 2015

Com essa brilhante exposição sobre a trajetória de longo prazo da economia mundial, inauguramos uma série de documentos importantes que podem interessar aos membros e amigos do Instituto Fer-nand Braudel de Economia Mundial.

Nesta noite, eu quero discutir o crescimento econômico. Isso pode soar como lugar co-mum. Nas mídias, passam os economistas

boa parte do seu tempo a discutir o cresci-mento e sua contrapartida estatística, o Produto Interno Bruto (PIB). Ao menos para alguns, esta abor-dagem é inexata. Por exemplo, é cada vez mais reconhecido que o PIB é uma medida par-cial, e amiúde imperfeita, do Bem Estar Social. Como di-zia Einstein, nem tudo que pode ser contado conta.

Porém mesmo que não seja tudo que conta, o crescimento econômico sustentável permanece o mais importante determinante para a melhoria da qualidade de vida nas sociedades. Para exemplifi-car, consideremos duas econo-mias – China e Itália. Nos anos 90, a renda anual agregada destas duas economias era rigorosamente igual. Avançando estas economias no tempo, com a China crescendo a mais de 10% ao ano e a Itália a menos de 1% ao ano.

Em 2014, o que encontramos? Devido à ma-gia dos juros compostos, a economia chinesa é hoje quase oito vezes maior que a italiana. De fato, a Chi-na cria uma nova economia do tamanho da Itália a

cada 18 meses; uma economia do tamanho de Por-tugal a cada três meses; uma economia do tamanho da Grécia a cada mês; e uma economia do tamanho de Chipre a cada semana. Às vezes essas coisas que podem ser contadas efetivamente contam.

Atualmente endossam os debates políticos atestam isso. Desde a crise financeira, o cresci-mento global tem sido baixo. Na década anterior a esta, registrava-se um alto crescimento econômico

de 3% ao ano em média. Após a de-flagração da crise financeira, a média

tem sido de somente 1% ao ano. A economia global cresceu rápido, depois arrefeceu. Isto induziu alguns a temer uma “estagnação secular” – um extenso período de sub

crescimento. Ouviram-se as mesmíssimas preocupações à época da Grande Depressão nos anos 1930.

O júri econômico ainda está deliberando se as recentes taxas de crescimento são tro-peços temporários pós crise ou

um duradouro abismo em nos-sas fortunas econômicas. Pessi-mistas denunciam os altos níveis de débito e desigualdade, crises demográficas e estagnação no al-

cance do serviço educacional. Oti-mistas veem na tecnologia digital

uma nova revolução industrial. Dada a sua importância à qualidade de vida, esse deba-

te é um tema chave de nosso tempo.Algumas elucidações a este debate podem ser

oferecidas pela observação dos padrões de cresci-mento ao longo prazo. Através da análise do pro-cesso histórico, é possível detectar fases distintas de

Guilherme Kramer

Page 2: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

2

Permitam-me iniciar com uma breve história do crescimento. Isto mostrado no gráfico 1 é a renda per capita mundial em 1750, a aurora da revolução industrial. Exceção feita aos períodos de guerra, ele indica um padrão de crescimento contínuo no cur-so dos aproximadamente 250 anos, com uma média anual de 1,5%. Isto significa que cada geração tem sido por volta de um terço mais rica do que a ante-rior. O crescimento proporcionou ascensões secula-res nos padrões de vida, geração após geração.

Ainda que persistente, o crescimento não tem sido constante. Guerras, depressões e crises finan-ceiras marcaram infaustamente a História, fazendo com que o crescimento caísse ou estagnasse. Já as fazes de inovação alçaram as sortes econômicas, re-sultando num salto na qualidade de vida. Contudo, ao passo que os lapsos de crescimento tem sido tem-porários, os saltos têm sido permanentes. Ao longo dos últimos dois séculos e meio, a inovação secular ofuscou a estagnação secular.

Ao explicar o aumento na qualidade de vida desde 1750, economistas geralmente identificam três fases distintas da inovação. A primeira é a revo-lução começando em meados do século XVIII; a se-gunda, a era da industrialização em massa, iniciada

Uma breve história do crescimento

Gráfico 1: PIB per capita desde 1750

Source: DeLong (1998).

na metade derradeira do século XIX; e a terceira é a revolução cibernética, que começou a tomar forma na segunda metade do século XX.

O que distinguiu estas três fases de inovação é que elas deram à luz a série das chamadas General Purpose Technologies (GPT’s), ou tecnologias de interesse geral. As GPT’s tinham uma aplicabilida-de muito além dos setores para os quais elas foram designadas, portanto transformando universalmente a eficiência das práticas econômicas.

Durante a primeira revolução industrial, essas GPT’s incluíam o motor a vapor, os teares de al-godão e as ferrovias; já na segunda, a eletricidade, o motor de combustão interna, suprimento interno d’água e saneamento; e na terceira, o computador pessoal e a internet.

Interesse no crescimento guiado pela inovação tem se reforçado nos últimos anos já que as perspec-tivas de crescimento diminuíram. Uma corrente no debate da estagnação secular questiona – fraqueja a inovação? Dentre alguns há a preocupação de que a fonte da inovação esteja escasseando. Para outros, a fonte de inovação gerada pela revolução digital (ainda) está por transbordar. Estagnação secular ou inovação secular, qual prevalecerá?

guinadas no crescimento. Alguns períodos de cres-cimento presenciaram estagnação secular, outros, inovação secular. Compreender os determinantes destas fases do crescimento – sociológicos e tecno-lógicos – desvelam as forças da estagnação secular e da inovação secular a operar nos dias atuais.

Segue uma mistura de História, Sociologia,

Economia e Psicologia. Para aqueles a procura de um denominador comum, ele jaz entre os seus ou-vidos. O psicólogo Daniel Kahneman afirma que o cérebro possui duas maneiras de pensar (rápida e lenta). O mesmo pode ser verdadeiro, e por muitas razões, ao tentar compreender o crescimento (rápido ou lento).

Page 3: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

3

Para melhor situar esta questão, daremos um olhar mais profundo no passado. Uma razão para se proceder assim é que a história a longo prazo do crescimento destoa muito da breve. A melhoria da qualidade de vida se tornou a norma econômica e social. Ninguém consegue se remeter a um tempo quando a escada rolante do crescimento tenha feito qualquer movimento que não fosse para cima.

Todavia se olharmos através de um telescópio de longo alcance, constataremos que nem sempre foi assim. O gráfico 2 (dois) apresenta estimativas do PIB global per capita deste 1000 AC. Este sugere uma história do crescimento muito diferente. Por 3 (três) milênios antes da revolução industrial. O cres-cimento per capita era de somente 0,01% ao ano. O padrão de vida global era essencialmente unifor-me. Desde 1750, tem levado aproximadamente 50 anos para os índices de qualidade de vida dobrarem. Antes de 1750, seriam necessários 6000 anos.

Isto caracteriza normas eco-nômicas e sociais muito diferentes antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento estava permanentemente fora de serviço. A ininterrupta e longeva ascensão da qualidade de vida não tem sido a regra histórica. Pelo contrário, esta configura uma hodierna exce-ção. No quadro geral, a estagnação secular tem sido muito mais comum do que a inovação secular.

Poderia ser argumentado que o PIB é muito limitado para captar melhorias no bem estar de so-ciedades tão distantes no passado. Indicadores não materiais serviriam melhor de guia. É plausível crer que o padrão de vida do cidadão mediano em 1800 não diferia daquele da aurora do segundo milênio?

Evidências sociológicas sugerem que sim, como deixa claro o ótimo livro de Gregory Clark. A expectativa de vida esteve essencialmente inal-terada por vários milênios antes de 1800. Para um adulto que vivesse até os 20 anos, a expectativa de vida ficaria entre 30 e 40 anos. No mesmo período, as taxas de natalidade e óbito, foram similarmente constantes. Isto quer dizer que a população mundial escassamente excedia antes de 1750, crescendo a uma taxa anual de menos que 0,1%.

Uma longa história do crescimento

Parâmetros de bem estar durante a vida (mais do que a morte) contam uma história semelhante. A estatura dos adultos, reveladas através de medidas ósseas, permaneceu entre 1,60 – 1,70 m por muitos séculos antes de 1800 (gráfico 3). Níveis de ingestão calórica também eram pífios. Estudiosos têm cons-truído “índices de desenvolvimento social”, usando estes e outros indicadores. Estes demonstram uma notável similaridade com o PIB, com bem estar imóvel (gráfico 4).

Todas estas medidas de bem estar sugerem que a qualidade de vida ao redor do globo se manteve estável pela maior parte dos últimos três mil anos, antes de decolar nos últimos 300 anos. Antes da re-volução industrial, a renda estava quase que atrelada à subsistência. Em harmonia com as previsões de Thomas Malthus, a produção era o suficiente para

sustentar a população de então, e só. Por isso, alguns nomearam esse período de era Malthusiana.

Se você acha que isso soa sombrio, a conjuntura mais para trás na história é, se qualquer coisa, ainda menos otimista. Assaz im-pressionantemente, estimativas do PIB global foram construídas até 1 milhão AC, o aparecimento do homem. Agências estatísticas dis-

punham de pouca mão de obra qualificada à época, então estas estatísticas precisam ser consideradas com uma desconfiança maior que o normal.

A tabela 1 considera as taxas de crescimento em PIB per capita e população durante este recor-te mais longo. Por muito tempo da história huma-na, não houve crescimento do bem estar nem da população. É possível que os avanços graduais da qualidade de vida tenham começado dezenas de milhares de anos atrás, por volta do tempo quan-do o homem (homo sapiens) surgiu e o homem de Neandertal (homo Neanderthalensis) desapareceu.

Logo as histórias breve e longa (era Malthu-siana) não poderiam ser mais diferentes. A inova-ção secular sucedeu um vasto período de estagna-ção secular. Elevações perceptíveis no padrão de vida são fenômenos muito recentes. Se a história do crescimento fosse um relógio de 24 horas, 99% deste crescimento teria vindo nos últimos 20 se-gundos.

A expectativa de vida esteve

essencialmente inalterada antes

de 1800

Page 4: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

4

Gráfico 2: PIB per capita desde 1000 a.C.

Source: DeLong (1998).

Gráfico 3: Estatura dos homens na Europa, 1-2000 d.C.

Source: Clark (2009).

Source: Morris (2010, 2011). Notes: This chart shows the average of ‘Western’ and ‘Eastern’ social development scores reported in Morris (2010, 2011). These scores include energy capture, organisation, war-making capacity and information technology.

Gráfico 4: Índice de desenvolvimento social

Page 5: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

5

Então o que causou essa virada no crescimen-to? Explicar padrões históricos de crescimento uni-forme é algo longe de ser fácil. Até mesmo agora, permanece um ativo debate entre economistas e historiadores sociais sobre as profundas fontes do crescimento. Sem fazer justiça ao debate, permitam-me oferecer-lhes algumas reflexões baseadas nessa literatura. Conectando-as é um tema comum: paci-ência.

Economistas neoclássicos explicam porque paciência é importante. Esta incentiva a poupança, o que por sua vez financia o investimento, a acumu-lação de capital. Essa acumulação de capital, quan-do combinada com grandes avanços na direção da eficiência de seus usos, é o que guia o crescimento, nos diz a teoria neoclássica. O investimento de hoje é o crescimento de amanhã.

O crescimento no modelo da teoria neoclássi-ca é “exógeno” – determinado por forças externas. As duas forças fundamentais são primeiramente, a paciência dos indivíduos, que se pressupõe atempo-ral e sem considerar os estados de natureza. E, em segundo lugar, pelo progresso tecnológico, que se pressupõe variar de acordo com o tempo, porém de maneiras imprevisíveis. A inovação chega como o maná do paraíso, uma grata surpresa a frutificar in-definidamente.

Em face disto, esta simples história cumpre um papel decente em explicar a virada no cresci-mento após a revolução industrial. A segunda me-tade do século XVIII viu uma sequência quase si-

Raízes tecnológicas da Revolução Industrial

Tabela 1: A população e o crescimento do PIB per capita desde 1 milhão a.C.

Source: DeLong (1998) and Kremer (1993).

multânea de inovações técnicas na Inglaterra: a Spinning Jenny de Hargreaves foi inventada em 1764, a Water Frame de Arkwright em 1769, o mo-tor a vapor de Watt em 1775. Todos esses chegaram como um maná celestial, impulsionando drastica-mente as possibilidades de produção da sociedade, assim como a teria neoclássica preveria.

Levou tempo para essas novas GPT´s amplia-rem suas aplicações e influências, medido em déca-das. Crescimento e produtividade apenas começa-ram a se entrosar bem no século XIX. Assim que o fizeram, isso gerou uma onda de investimentos em infraestrutura – fábricas, máquinas, locomotivas. Essa combinação de investimento rápido e transfor-mação tecnológica acendeu o fuso na era dourada das melhorias sustentáveis na qualidade de vida, a primeira na história humana.

Essa versão neoclássica da dinâmica do cres-cimento é endossada pela tabela dois (2) que de-monstra estimativas de crescimento antes e depois da revolução industrial. Antes desta, ganhos tecno-lógicos eram frações de percentual ao ano. Avanços na fronteira de possibilidades da produção, como melhorias na qualidade de vida, seriam imperceptí-veis. Depois de 1750, o interruptor tecnológico foi ligado. O crescimento na eficiência tecnológica tem sido de 1% desde então.

Avanço tecnológico, por sua vez, alimentou a acumulação de capital físico. O gráfico 5 mostra a trajetória da acumulação de capital físico per capita no Reino Unido após 1850. Esta subiu, em média,

Page 6: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

6

1,75% ao ano. O gráfico também mostra uma pode-rosa relação com o crescimento em PIB per capita: para cada aumento de $1000 na acumulação de ca-pital per capita desde 1850, o PIB per capita elevou-se em $400 per capita. Isto, também, é o que ateria neoclássica preveria que acontecesse.

O mesmo padrão se repete através dos países. O gráfico 6 mostra a relação entre a acumulação de

Gráfico 5: Acumulação de capital no Reino Unido desde 1850

Source: Hills, Thomas and Dimsdale (2010).

Gráfico 6: Acumulação de capital entre os países desde 1980

Source: McKinsey Global Institute (2010).

capital e o PIB per capita deste 1980 em um grupo de países. Claramente, os países estão em diferentes degraus na escada rolante do crescimento uns em re-lação aos outros. Porém, em todos os casos os índi-ces têm subido continuamente, com elevações sus-tentadas na acumulação de capital, associadas aos aumentos seculares da renda per capita. O investi-mento de ontem tem sido o crescimento de hoje.

Page 7: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

7

Se isto fosse toda a história das três revoluções industriais, a receita do crescimento seria simples. O crescimento, assim como surfar, seria tão somen-te esperar surgir a nova grande onda de inovação. As elevações do padrão de vida seriam mais sobrena-turais do que naturais, “suspensas entre o mundano e o miraculoso”. Se os políticos pudessem abrir os mares ou operar outros milagres, as políticas públi-cas teriam uma função mínima.

Um problema com esta história, se a experi-ência anterior à revolução industrial for de alguma serventia, é que pode demorar muito tempo até o surgimento da próxima onda. Um segundo é que essa história não é a única leitura possível das ru-nas históricas. Há um conjunto alternativo de teo-rias econômicas, e fatos empíricos, que pintam um quadro diferente da gênese do crescimento antes e depois da revolução industrial.

Essa alternativa poderia ser chamada, gros-so modo, de teoria “endógena” do crescimento. Os fatores que induzem ao crescimento são múltiplos, não singulares. Estes são tantos sociológicos quan-to tecnológicos – habilidades e educação, cultura e cooperação, instituições e infraestrutura. Estes se apoiam mutuamente, não são exógenos ou idiossin-cráticos. E operam de modo cumulativo, evolutivo, ao invés de espontaneamente entrarem em combus-tão.

O modo de acomodar esses fatores mais abran-gentes é ampliar a definição de “capital”: capital fí-sico (como fábricas e maquinaria); capital humano

Raízes sociológicas da Revolução Industrial

Tabela 2: Desenvolvimento da tecnologia desde 1 d.C.

Source: Clark (2009); Hills, Thomas and Dimsdale (2010). Notes: Technology growth prior to 1750 here is estimated by Clark (2009), assuming that the population stabilizes at a level at which the land per person produces just subsistence income. (a) Growth rate based on average annual TFP growth in the UK between 1850 and 2009 in Hills, Thomas and Dimsdale (2010).

(com habilidades e especialidades); capital social (com cooperação e confiança); capital intelectual (como ideias e tecnologias); e capital infraestrutural (como redes de transporte e sistemas legais). O cres-cimento resulta da acumulação de múltiplas fontes de capital.

Peguemos um exemplo simples, o sucesso da ferrovia veio não só da invenção do motor a vapor (capital intelectual), mas dos materiais (capital físi-co) e das habilidades (capital humano) para construir locomotivas e trilhos. E para se tornar uma GPT, a ferrovia precisava de uma rede (capital infraestrutu-ral) e da cooperação e confiança do público em geral (capital social).

Olhar essas múltiplas fontes de capital, por sua vez, provê uma versão que difere significati-vamente daquela neoclássica. Peguemos a acumu-lação capital humano. Uma medida disso é a pro-porção de letramento e alfabetização numérica em uma população. O gráfico 7 mostra os níveis de al-fabetização em alguns países da Europa Ocidental desde o final do século XV. Nesse tempo, menos de 10% da população era alfabetizada. Os níveis medi-dos de capital humano eram miseravelmente baixos, consistentes com os padrões de vida de subsistência. Contudo, os três séculos posteriores, aconteceu uma transformação. As taxas de alfabetização decolaram até cerca de 50% da população na Europa Ociden-tal, em alguns países mais. Em outras palavras, o capital humano acumulou-se a passos largos antes da Revolução Industrial.

Page 8: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

8

O aprofundamento das habilidades municiou uma base sob a qual outros capitais catalisadores de crescimento foram erigidos – por exemplo, capital intelectual, geração de ideias e inovação. Nesta in-terpretação, a transformação social auxiliou quiçá precedeu, a transformação tecnológica. Inovação era uma criação terrena, não maná celeste.

Desde a Revolução Industrial, as taxas de escolaridade têm subido. Desde a Segunda Guerra Mundial, o período de estudo médio subiu rapida-mente (gráfico 8), mais do que triplicou nos mer-cados emergentes e quase dobrou nas economias avançadas. Ultimamente, esse aumento tem sido guiado pelo crescente número de adultos obtendo qualificações em nível superior. O capital humano se ampliou e se aprofundou.

Estudos empíricos sugerem que os padrões educacionais mais altos podem ter representado por, aproximadamente, um quinto do crescimento dos EUA. Dada a escala muito maior da melhoria nos padrões educacionais entre os séculos XVI e XVIII – a mudança de uma mão de obra iletrada para uma majoritariamente letrada – a acumulação de capital humano aparenta ter desempenhado um papel ainda mais catalisador ao proporcionar a Revolução In-dustrial.

Esse quadro é similar se nos movermos do ca-pital humano para o social. Esse é um conceito mais difícil de captar quantitativamente. Envolve áreas como cooperação, reciprocidade e confiança dentro

Source: OurWorldinData.org, based on Buringh and Van Zanden (2009) and Broadberry and O’Rourke (2010).

Gráfico 7: As taxas de alfabetização na Europa Ocidental

da sociedade. Embora mais elusivas essas fontes de capital social têm sido cruciais para o sucesso dos estados nação – por exemplo, ao apoiar o cresci-mento do comércio.

Uma medida do capital social usada por soci-ólogos é a incidência da violência ou da guerra na sociedade. Esse é o limiar da falta de cooperação e confiança entre as sociedades e dentro destas; é o equivalente sociológico de crise financeira. O grá-fico 9 mostra a incidência de assassinatos (homicí-dios) em países da Europa Ocidental desde 1300. Este também conta uma história arrebatadora.

Crimes violentos caíram dramaticamente, em torno de cinco vezes, entre os séculos XV e XVIII. Por volta do tempo da Revolução Industrial, a queda se estabilizou. Acumulação rápida de capital social forneceu uma base para o crescimento. A sociologia alimentou a tecnologia.

Com algumas interrupções, notadamente as duas Guerras Mundiais do século XX, essas ten-dências de queda nos índices de violência na so-ciedade têm continuado até o tempo presente. Por exemplo, mortes decorrentes em guerra têm caído secularmente desde os anos 1940 (gráfico 10). Isso é consistente com o contínuo crescimento do capital social. Ainda que difícil de quantificar, é provável que isso também tenha estimulado o crescimento na era moderna.

Capitais infraestrutural e educacional são am-plamente reconhecidos por terem auxiliado o pro-

Page 9: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

9

Gráfico 8: Média de anos de escolaridade da população idosa 15+

Source: Barro and Lee (2013).

Gráfico 9: Crimes violentos na Europa Ocidental

Source: OurWorldinData.org, based on Eisner (2003).

Gráfico 10: Taxa de mortalidade associada a conflitos

Source: Human Security Report Project, available at: http://www.hsrgroup.org/our-work/security-stats/Deaths-from-Organized-Violence.aspx

Page 10: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

10

cesso de crescimento. A Inglaterra foi o berço da Revolução Industrial. Os seus pais, discutivelmen-te, foram as instituições inglesas no frescor da ju-ventude durante a Revolução Industrial: um sistema parlamentar dos séculos XI e XII; um sistema legal e judicial dos séculos XII e XIII; um banco central, o Bank of England (Banco da Inglaterra), do final do século XVII.

O papel do governo, enquanto instituição na sociedade, também cresceu rapidamente antes da Revolução Industrial. O gráfico 11 mostra o gasto governamental com uma fração da renda nacional no Reino Unido desde 1200. Até por volta de 1600, o governo respondia apenas por 1-2% da renda na-cional. Nos dois séculos subsequentes inaugurou-se uma nova era para o governo: a sua participação nos gastos cresceu de dez a vinte vezes. Antes da Revo-lução Industrial, instituições em geral, e o governo em particular, se tornaram cada vez mais importan-tes possibilitadores de crescimento.

Capitais infraestrutural e institucional têm continuado a se acumular desde então. De 1950 em diante, o número de países operando com institui-ções democráticas subiu de cerca de 25 países até quase 90. Os sistemas legais têm continuado a me-lhorar em qualidade, e os bancos centrais têm conti-nuado a crescer. Estudos comparativos descobriram que a qualidade dessas instituições e infraestruturas é frequentemente vital para proporcionar o cresci-mento.

No que talvez seja o mais compreensível es-tudo da experiência histórica, Daron Acemoglu e James Robinson levaram o argumento institucional um passo adiante. Para eles, a ausência de boas ins-

Gráfico 11: Gastos do governo inglês em relação ao PIB, 1285–2000

Source: Clark (2009).

tituições é a razão determinante pela qual as nações fracassam (Why Nations Fail). Você não precisa ir tão longe para perceber o quanto elas importam his-toricamente para os padrões de vida.

O ingrediente final na receita do crescimento é o capital intelectual, para alguns a fonte da revolu-ção industrial, de Hargreaves, de Arkwright, de Watt e tudo mais. Ainda assim seria equivocado consi-derar que a inovação seja um produto exclusivo de século XVIII. Do moinho de vento do século XII, ao relógio XIII, do canhão do século XIV, da imprensa do século XV, do serviço postal do século XVI e do telescópio e do microscópio do século XVII, a escada rolante da inovação, ainda que compassada e pegajosa, já estava funcionando bem, antes da Re-volução Industrial.

Ademais, evidências empíricas sugerem um alto nível de dependência histórica, ou histerese, em transferência de tecnologia. Padrões de adoção tecnológica em 1500 D.C são um notável antecipa-dor do crescimento em 1800 D.C. Disso depreende-se que as sementes da Revolução Industrial foram semeadas muito antes de Hargreaves, Arkwright e Watt aparecerem em cena. Inovação é mais esforço terreno que intervenção divina.

Levadas juntas em conta, estudo aponta uma muito mais rica e ampla conjuntura de fundações para o crescimento. As sementes da Revolução In-dustrial foram dispostas muito mais cedo, e lan-çadas mais abrangentemente, do que a teoria ne-oclássica sugeriria. E a transformação sociológica foi pelo menos tão importante quanto a transfor-mação tecnológica em catalisar o deslanche do crescimento.

Page 11: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

11

Mesma que você aceite essa explicação mul-tifacetada do crescimento – parte sociológica, par-te tecnológica – porque as sociedades subitamente começaram a acumular capital em determinados momentos da história? O que provocou aquele in-vestimento inicial em habilidades, cooperação, ins-tituições e infraestrutura? Uma resposta pode jazer dentro de nossas cabeças. Pois que as inovações so-ciológica e tecnológica podem ter revolucionado os nossos cérebros.

Antes de quaisquer decisões de investimen-to estão o que os economistas chamam de “taxa de preferência temporal” – e o que os que não são eco-nomistas de paciência: a disposição de postergar a gratificação hoje em favor do benefício de amanhã, poupar ao invés de gastar, permanecer ao invés de mudar abruptamente. Uma simples medida de paci-ência social é encontrada, através da economia, no padrão das taxas de juros.

Taxas de juros são um indicador da disposição de uma sociedade poupar ou conversar. Quanto me-nos dispostos para tanto – maior a sua impaciência – maior compensação eles pedirão. Essa compen-sação se transforma em taxas de juros mais altas. Portanto, para um dado nível de poupança, uma so-ciedade impaciente terá taxas de juros mais altas do que uma paciente.

O gráfico 12 mostra a medida das taxas de ju-ros de curto e longo prazo até 3000 A.C Apesar dos dados serem desiguais, estes indicam que as taxas de juros caíram secularmente na passagem para a Revolução Industrial, de dois dígitos a cerca de 3%. As taxas de juros alternativas tais como a taxa de retorno sobre ativos físicos, por exemplo, a terra, mostram um padrão similar.

Uma interpretação dessas tendências é que elas refletem as preferências temporais de evolução da sociedade. Na passagem para a Revolução Indus-trial, a sociedade se tornou mais propensa a esperar do que no passado. Isso, por sua vez, permitiu pou-par, investir e, em última instância, crescer. Paciên-cia era uma virtude. Mas e se preferências temporais da sociedade estavam de fato mudando, isso ainda levanta a questão do por quê.

Aqui nós vamos listar alguma ajuda externa. Pesquisas experimentais nos últimos 50 anos, por psicológicos e neurologistas nos ensinaram sobre os determinantes da paciência e como esta afeta o com-

A paciência como virtude

portamento. Isso talvez possa elucidar alguns esti-mulantes históricos de uma mais paciente sociedade e, portanto, com mais crescimento.

Um importante estimulante da paciência é a renda e a riqueza. Quanto menor a renda, mais im-paciente é a tomada de decisões. Por quê? Porque sobreviver com recursos limitados absorve uma grande quantidade de energia cognitiva. Isto causa um enfoque neurológico no futuro em curto prazo. Esse pensamento míope tem sido encontrado em tudo desde subpoupar para a aposentadoria até pe-gar demasiados empréstimos de agiotas. Em países emergentes, isso também pode ajudar a explicar os ciclos de pobreza.

Durante a era Malthusiana, boa parte da popu-lação operava ao nível de renda de subsistência. Se a evidência experimental é qualquer guia, é provável que tenha gerado um senso agudo de imediatismo. Isto deve ter se manifestado, por exemplo, numa fa-lência em investir em capital físico e humano, retar-dando o crescimento. Pobreza e impaciência teriam se reforçado mutuamente, numa armadilha Mal-thusiana de pobreza. As elevações de renda acima dos níveis de subsistência que ocorreram depois de 1800 teriam revertido este ciclo. Essas teriam incre-mentado a paciência e firmado as bases para maior poupança e investimento e, em última instância, crescimento. Noutras palavras, depois da Revolução Industrial a paciência pode ter criado o seu próprio ciclo virtuoso, o crescimento endógeno.

A inovação técnica tem sido apontada por di-fundir a paciência. A invenção da imprensa por Gut-tenberg por volta de 1450 levou a uma explosão na produção de livros. É estimado que foram produzi-dos mais livros nos 50 anos posteriores a Gutten-berg do que nos 1000 anteriores. O que se seguiu foi muito mais que transformação tecnológica.

Os livros podem ter contribuído para um grande salto adiante nos níveis de letramento, im-pulsionando o capital humano. Mais especulativa-mente, os livros podem também ter reprogramados os nossos cérebros. Nicholas Carr sustenta que as mudanças trazidas pela imprensa, e outros veículos de informação, podem ter remodelado os nossos cé-rebros. Os livros lançaram as bases para a “leitu-ra profunda” e, através disso, para um pensamento mais minucioso e abrangente. Tecnologia era, assaz literalmente, exercício para o cérebro.

Page 12: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

12

Tem sido levantado que essa reprogramação estimulou a parte calculada, reflexiva, paciente do cérebro identificada por psicólogos como Daniel Kahneman. Se assim, isto teria beneficiado a acu-mulação de capital intelectual – criatividade, ideias, inovação. A tecnologia terá modelado, primeira-mente, a neurologia e depois a neurologia modela a tecnologia, criando um ciclo virtuoso. O pensamen-to vagaroso terá feito o crescimento veloz.

É possível construir uma explicação quase neurológica de guinadas no crescimento muito an-teriores. A jornada do crescimento mundial parece ter começado, pra valer, por volta do tempo quan-do o moderno homo sapiens substituiu o homem de

Gráfico 12: As taxas de juro de curto e longo prazo

Sources: Homer and Sylla (1991), Heim and Mirowski (1987),Weiller and Mirows-ki (1990), Hills, Thomas and Dimsdale (2015 forthcoming), Bank of England, Historical Statistics of the United States Millenial Edition , Volume 3 and Federal Reserve Economic Database. Notes: the intervals on the x-axis change through time up to 1715. From 1715 onwards the intervals are every twenty years. Prior to the C18th the rates reflect the country with the lowest rate reported for each type of credit: 3000BC to 6th century BC - Babylonian empire; 6th century BC to 2nd century BC - Greece; 2nd century BC to 5th century AD - Roman Empire; 6th century BC to 10th century AD - Byzantium (legal limit); 12th century AD to 13th century AD - Netherlands ;13th century AD to 16th century AD - Italian states. From the C18th the interest rates are of an annual frequency and reflect those of the most dominant money market: 1694 to 1918 this is assumed to be the UK; from 1919-2015 this is assumed to be the US. Rates used are as follows: Short rates: 1694-1717- Bank of England Discount rate;1717-1823 rate on 6 month East India bonds; 1824-1919 rate on 3 month prime or first class bills; 1919-1996 rate on 4-6 month prime US commerical paper ; 1997-2014 rate on 3month AA US commercial paper to non-financials. Long rates: 1702-1919 - rate on long-term government UK annuities and consols; 1919-1953, yield on long-term US government bond yields; 1954-2014 yield on 10 year US treasuries.

Neandertal. Talvez isso não tenha sido um acidente. Por trás da mudança fisiológica das arcadas supra-ciliares dos homens de Neandertal às chatas do ho-mem moderno pode ter havido mais uma mudança neurológica importante.

A cabeça chata permitiu o crescimento no cór-tex pré-frontal do cérebro. As Modernas máquinas de ressonância magnética podem nos dizer que essa região é responsável, dentre outras coisas, pela paci-ência. O que podemos ter visto, dezenas de milhares de anos atrás, foi a seleção natural darwiana do pa-ciente homo sapiens em detrimento dos impacientes Neandertais. E com isso veio a melhoria na qualida-de de vida.

Page 13: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

13

Do passado distante, depois, ao presente e fu-turo. Hoje o grande debate é que está por vir para o crescimento. As terras altas e ensolaradas do cres-cimento guiado pela inovação, como depois da Re-volução Industrial? Ou as nebulosas terras baixas do crescimento estagnado, como antes dela? Qual das forças seculares prevalecerá: inovação ou estag-nação? E se o crescimento estiver “voltando para o futuro”, em qual lado da Revolução industrial ele aterrissará?

O equilíbrio desses argumentos possui gran-díssima importância para as políticas publicas e bem estar futuros. De fato, é difícil pensar em qualquer coisa que seja muito mais importante. Em termos mais técnicos, para os Bancos Centrais planejarem a política monetária um dos julgamentos chave é o apropriado nível “neutro” das taxas de juros. Por isso você pode entender como a taxa de juros que melhor alinharia a poupança desejada e o investi-mento em médio prazo.

Mas qual é o nível desejado das taxas de juro hoje? A inovação secular pode implicar em taxas de juros no mesmo nível ou acima da média histórica

A luta secular – inovação ou estagnação?

de 2-3%, condizentes com as taxas de crescimento históricas. Mas, a estagnação secular pode resultar em um nível muito mais baixo do que no passado, possivelmente até negativo. Em política monetária essa é a diferença entre azeite e água, sucesso e fra-casso.

A esse respeito, o comportamento das taxas de juros reais globais é notável. O gráfico 13 mostra as taxas de juro reais desde 1990, em economias avan-çadas e emergentes. Ambas têm exibido a mesma tendência da queda secular, caindo aproximadamen-te dois pontos percentuais por década. Hoje, elas es-tão por volta de zero.

Para alguns países avançados, o padrão é ain-da mais arrebatador. O Gráfico 14 mostra a expec-tativa das taxas de juro reais na zona do euro e no Reino Unido pelas próximas três décadas. Para am-bos, a previsão é de que as taxas de juro reais per-maneçam negativas pelos próximos 30 anos – uma taxa negativa de preferência temporal. Esse padrão não tem um precedente histórico.

Uma interpretação é a sociedade ter se torna-do significativamente mais paciente, como ao pre-

Page 14: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

14

Gráfico 13: Taxas reais de longo prazo em economias avançadas e emergentes

Source: King and Low (2014); Bank Calculations. Notes: The ‘World’ real rate (black line) is taken from King and Low (2014) and is based on the average 10-year yield of inflation-linked bonds in the G7 countries (excluding Italy). UK rates have been ad-justed to take account of the RPI-CPI wedge. Data availability means that US yields are only included from 1997 so the UK provides most of the historical back-run.

Gráfico 14: Curvas de rendimento da taxa de juros real

Sources: Bloomberg and Bank calculations. Notes: Data for the United Kingdom and the United States are derived from nominal bond yields deflated using inflation swaps. The Germany/EA figures are based on nominal Bund yield deflated using euro-area inflation swaps (as a proxy for the euro-area risk free rate). The measure of inflation used is RPI for the United Kingdom and CPI for the United States and the euro area. Data are to close of business 9 February 2015.

Page 15: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

15

parar o caminho para a Revolução Industrial: uma maior poupança global em relação aos investimen-tos abaixariam as taxas reais de juros globais. Se for esse o caso, comemoremos. Abaixando o custo e, e aumentando o retorno para a inovação, investimen-to e crescimento seriam estimulados. As quedas nas taxas reais sinalizariam uma inovação secular. Os otimistas teriam levado a melhor.

Porém, uma leitura diversa é possível. Taxas reais mais baixas podem refletir uma escassez de oportunidades de investimento lucrativo em relação às desejadas poupanças. Se isto for a causa, tragam os corpos. Pois isto implicaria em baixos retornos sobre a inovação e baixo crescimento futuro. Neste caso, a queda das taxas reais sinalizaria uma estag-nação secular. Os pessimistas teriam a razão.

Eu quero discutir, numa via de duas mãos ti-picamente economista, de que ambos os lados da discussão estão certos. Há boa base para acreditar que as forças tecnológicas estão guiando a inova-ção e, portanto, o crescimento, em um clássico ciclo Neoclássico. Assim como há igualmente bons moti-vos para crer que há forças sociológicas retardando o crescimento, em um padrão endógeno de cresci-mento.

Deixem-me começar pelo lado da inovação se-cular no debate, a versão neoclássica. Esta defende que o crescimento futuro será forjado na intensidade branca da revolução digital. Todas as GPT’s deman-dam tempo até atingirem o seu ponto de derretimen-to. Apesar de muito rápidas, ou exponenciais, taxas de crescimento tecnológico levam algum tempo até a se tornarem verdadeiramente transformadoras em um nível de abrangência econômica.

Dadas as tendências passadas, poderiam levar de 30 a 40 anos ou mais para as GPT’s alcançarem uma velocidade crítica. Isso foi o caso com as pri-meiras GPT’s, incluindo o motor a vapor e a eletrici-dade. Taxas de crescimento em eficiência digital são maiores do que nos episódios iniciais, com a lei de Moore – o dobrar da capacidade de processamento de um computador a, mais ou menos, cada 18 meses - tipicamente tomada como parâmetro para declarar este tempo diferente.

Não obstante, mesmo com a lei de Moore operando, só recentemente que a revolução digital talvez tenha chegado à sua velocidade crítica. Tal-vez consistente com isso, um número de tecnologias transformadoras apareceram na cena recentemente, incluindo o campo da robótica, genéticas, impresso-ras 3D, metadados e a “internet das coisas”. Estes não são novos. O que é novo é a sua aplicação em

expansão, já que elas se moveram de suas intenções para GPT’s.

O economista Brian Arthur tem uma linda me-táfora por descrever essa transição – a transição da economia (ou primeira) para a digital (segunda). Ele compara as primeiras revoluções industriais com o desenvolvimento fisiológico ou muscular do corpo. Por analogia, o sistema econômico foi definindo e refinando as suas habilidades motoras, em larga me-dida pelo investimento no capital físico.

A revolução digital é diferente. É análogo ao corpo econômico desenvolvendo o seu sistema neurológico ou sensorial, definindo e refinando as suas habilidades cognitivas através do investimen-to no capital intelectual. O sucesso da recente onda de tecnologias transformadoras é alicerçado nelas criando uma rede neural – como o cérebro - de cone-xões. A “internet das coisas” usa múltiplos sensores (como neurônios) conectados através da rede (como a sinapse cerebral) para criar, com efeito, uma “má-quina cérebro”.

Essa programação como que cerebral deu origem às máquinas, e também aquelas de ação autônoma, pensantes – a mudança da Inteligência artificial (I.A) para Inteligência artificial forte. Nas palavras de Bryjolfsson e McAfee, nós estamos en-trando na segunda idade da máquina. Ademais, a lei de Moore indica que o poder de processamento de uma máquina é sempre crescente. Isso aponta para a intrigante possibilidade de que, em algum ponto no futuro, a capacidade de processamento do cérebro da máquina ultrapasse a do cérebro humano.

Em 1958, John Von Neumann – talvez o pai da computação moderna – tenha chamado tal even-to de “singularidade”. Desde então tem havido con-siderável especulação sobre a sua probabilidade. A velocidade de processamento dos computadores atingiu por volta de 10^16 de cálculos por segundo. Isto ainda está aquém da capacidade computacio-nal do cérebro. Porém se a lei de Moore continuar a agir, o cérebro da máquina poderia se equiparar ao cérebro humano dentro de décadas.

Fosse a singularidade alcançada, o céu se tor-naria o limite para inovação da inteligência artificial. A Máquina, ao invés do homem, se tornaria a mãe de todas as invenções. Com aumentos exponenciais no poder de processamento, a economia poderia ser tornar “super inteligente”. E com gastos marginais para aumentar a capacidade de processamento perto de zero, a economia também poderia se tornar “su-per eficiente”.

Isto seria de fato uma quarta revolução indus-

Page 16: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

16

trial. Mas ao contrário de suas predecessoras, e qua-se que por definição, seria praticamente impossível para o cérebro humano a imaginar onde o cérebro máquina levaria a inovação e, portanto, crescimen-to. O mundo seria um de abençoada ignorância. O entusiasmo dos otimistas seria totalmente confirma-do.

Agora abordarei o outro lado do debate. Quê forças seculares poder retardar o crescimento? A tecnologia, por si própria, foi discutivelmente in-suficiente para explicar o crescimento no passado. Talvez também seja insuficiente para assegurar o crescimento no futuro. As raízes sociológicas do crescimento também influem. Algumas destas raí-zes sociológicas estão menos bem plantadas do que no passado. De fato, em muitos casos a tecnologia pode ter contribuído para desenraizá-las.

Peguemos o capital social. Enquanto crimes violentos e guerras estão afortunadamente em de-clínio secular, outras medidas de capital social es-tão degringolando. É sintomático o aumento da de-sigualdade social. A participação na renda do 1% mais rico no EUA e no Reino Unido dobrou des-de 1980. Padrões de desigualdade de riqueza estão mais contundentes.

Evidências recentes sugerem que tal deprecia-ção do capital social, através do aumento da desi-gualdade, desacelera o crescimento. Estudos com-parativos entre países feitos pelo FMI e pela OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento

Econômico) tem encontrado uma significativa e consistente arrefecida no crescimento causada pela desigualdade. O FMI estipula que uma elevação de um ponto percentual no coeficiente de Gini – um índice de distribuição de renda - um de determinado país diminui o crescimento por volta de 0,1 de ponto percentual.

Vamos aplicar a isso alguns dados reias. O co-eficiente de Gini nos EUA subiu 8 pontos percentu-ais desde 1980. Isso indica que a desigualdade pode ter desacelerado o crescimento dos EUA em quase um ponto percentual a cada ano durante o mesmo período. Na era do crescimento baixo, este é um de-salento devastador de níveis baixos de capital social.

E olhando a frente, é possível que a intempé-rie sociológica recrudesça. Acredita-se que uma das causas do aumento da desigualdade em economias avançadas é a perda de empregos de média quali-ficação, ao menos em relação a empregos de alta e baixa qualificação. Há um “esvaziamento” de em-prego. Acredita-se que o avanço tecnológico – a mecanização dos empregos de média qualificação – tem um papel importante nessas tendências.

A segunda era da máquina poderia intensifi-car, possivelmente ampliar, essas tendências. Robôs inteligentes poderiam substituir mão de obra pouco qualificada. Se a capacidade do cérebro das máqui-nas se aproximar, ou ultrapassar, o cérebro humano, empregos destinados a mão de obra altamente quali-ficada também estariam em perigo. O que isso quer

Guilherme Kramer

Page 17: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

17

dizer em empregos, desigualdade e capital social é nebuloso. Porém, muito provavelmente, isso estaria muito distante de uma abençoada ignorância.

Um segundo desalento secular, intimamente relacionado ao aumento da desigualdade, diz res-peito ao capital humano. A desigualdade pode retar-dar o crescimento, pois restringe o investimento em educação, afetando especialmente as famílias mais pobres. Estudos mostram como a renda dos pais é determinante no desempenho educacional das crian-ças. Se a desigualdade é geracional e autoperpetua-dora, então logo virá o seu impacto sobre o cresci-mento.

Evidências vindas dos EUA sugerem preocu-pantes, e crescentes, diferenças no alcance educa-cional comparando diferentes camadas socioeconô-micas. Antes de 1970, altas taxas de escolaridade permanentemente aumentaram a produtividade dos trabalhadores norte-americanos. Ultimamente, estas melhorias estagnaram e, em alguns, se reverteram. Os EUA têm caído nas tabelas internacionais de ta-xas de escolaridade.

Há evidência de o Reino Unido esteja seguin-do o mesmo caminho. O Reino Unido comparado aos países membros da OCDE está abaixo da média para o letramento e para a alfabetização matemática. Entre 2003 e 2011, embora a proporção de adultos com habilidades nas letras tenha crescido de 44% para 57%, aqueles com propensão para os números diminuíram de 26% para 22%. Para botar isso em

perspectiva, 17 milhões de pessoas na Inglaterra tem habilidades numéricas iguais aos dos alunos da escola primária.

Mesmo sem todos dados esses dados som-brios, o capital humano pode estar fadado a crescer menos rapidamente no futuro por razões demográfi-cas. Na segunda metade do século XX, o crescimen-to da população adicionou dois pontos percentuais ao crescimento global cada ano (gráfico 15). Desde 1980, este tem caído 1% por ano. Por volta de 2050, se prevê que o crescimento terá caído pela metade. Isso implicaria, literalmente, em tendências de taxas de crescimento menores.

Um terceiro, desalento secular se refere ao “curto prazismo”. Isto se coloca estranhamente em relação às tendências históricas que apontam eleva-ções seculares nos níveis de paciência da sociedade, em parte guiadas pelas tendências econômicas. Po-rém estas mesmas tendências podem estar prestes a mudar. Assim como a imprensa pode ter causado uma reprogramação neurológica depois do século XV, também a internet pode ter causado uma no sé-culo XXI. Porém desta vez o impacto da tecnologia pode não ser tão benigno.

Nós estamos claramente no meio de uma re-volução da informação, com aproximadamente 99% de toda a informação já criada tendo sido criada nes-te século. Isto tem gerado benefícios reais. Mas tam-bém pode ter produzido prejuízos cognitivos. Um destes prejuízos potenciais são períodos mais curtos

Gráfico 15: Crescimento da população

Source: United Nations population projections (http://esa.un.org/wpp/) for 1950 onwards; The Maddison-Project (http://www.ggdc.net/maddison/maddison-project/home.htm) prior to 1950.

Page 18: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

18

Gráfico 16: Despesas das empresas com Pesquisa e Desenvolvimento

Source: OECD.

de concentração. Como disse o teórico da informa-ção Herbert Simon, uma sociedade rica em informa-ção é uma sociedade pobre em atenção. A revolução da informação desgastaria a paciência.

Algumas tendenciais sociais são consistentes com isto. A duração dos empregos e relacionamen-tos está caindo. A duração média dos treinadores da Primeira Divisão do futebol inglês tem caído por um mês ao ano desde 1994. Nessa tendência, a longevi-dade dos treinadores cairá abaixo de uma temporada por volta de 2020. E o que é verdade para o futebol é verdade para a finança. O período médio de proprie-dade sobre os ativos caiu 10 vezes desde 1950. A crescente incidência de problemas déficits de aten-ção, e a crescente proeminência do Twitter, podem ser mais evidências do encurtamento dos períodos de atenção.

Se então, haveria uma tendência para tomadas de decisão. Usando a classificação de Daniel Kah-neman, isto poderia causar uma expansão na parte reflexiva, impaciente e de pensamento rápido no cé-rebro. Se assim, isso tenderia a aumentar os níveis sociais de impaciência e retardar a acumulação de todos os tipos de capital. Esse pode comprometer o crescimento em médio prazo. Pensamento rápido poderia causar crescimento lento.

Estudos psicológicos tem mostrado que a im-paciência nas crianças pode prejudicar significativa-mente o alcance de níveis educacionais mais altos e, subsequentemente, perspectivas futuras de renda. Também tem sido constatado que a impaciência re-duz a criatividade entre os indivíduos, portanto co-

locando um freio na acumulação de capital intelec-tual. Inovação e pesquisa são potenciais vítimas do “curto prazismo”.

Há evidência indicando isso. Investimento por empresas públicas é frequentemente adiado ou ig-norado para atender as necessidades de curto prazo dos acionistas. Gastos com pesquisa e desenvolvi-mento pelo Reino Unido tem caído por uma década. Estão caminhando para o fundo da tabela da liga in-ternacional de pesquisa e desenvolvimento (gráfico 16). Se o curto “prazismo” está em ascensão, esse coloca em risco o desenvolvimento de habilidades, a inovação e um futuro crescimento.

Um ingrediente final é capital infraestrutural. Aqui novamente, as tendências de investimento não são encorajadoras. Em economias avançadas, o in-vestimento público tem caído gradualmente nas úl-timas três décadas (gráfico 17).

No Reino Unido, o investimento público em relação ao PIB é um terço do que era em 1970. Não houve um aprofundamento nas ações de capital mundiais por uma geração, se houve qualquer mo-vimento, foi o oposto. Dado o papel que o investi-mento público geralmente desempenhou no passado ao apoiar a inovação privada, isso não é um quadro inteiramente reconfortante.

Em suma, se a evidências empíricas e histó-ricas servem de guia, esta mistura de fatores socio-lógicos, individual ou concomitantemente, poderia inibir o crescimento. Isso poderia melar a promessa de uma quarta da revolução industrial. As preocupa-ções dos pessimistas seriam confirmadas.

Page 19: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

19

Gráfico 17: Investimento público

Source: IMF World Economic Outlook October 2014; ONS. Notes: The Advanced Economies line show real public investment as a share of PPP weighted GDP. The UK line shows nominal net investment as a share of nominal GDP. This series fol-lows a similar pattern to real general Government investment, but is available over a longer time horizon. The definition of what is classified as ‘public’ has changed over time and at different speeds in different places, which may account for some of the differences between the UK and other Advanced Economies.

O crescimento é uma dádiva. Ao contrário das percepções populares, ele não tem sido sempre contínuo. Apesar de séculos de experiências, os in-gredientes fundamentais do crescimento ainda per-manecem como qualquer coisa de misterioso. O melhor que podemos dizer historicamente, é que o crescimento tem sido fruto de uma mistura comple-xa de fatores sociológicos e tecnológicos, geralmen-te agindo em harmonia. Todas as três revoluções in-

Conclusão

Tradução: Stefano De Luna

dustriais traziam essas distinções. Hoje, o quadro do crescimento está mais ne-

buloso. Tememos a estagnação secular tanto quanto comemoramos a inovação secular. As correntes tec-nológicas em prol de crescimento são fortes, porém também são fortes os contraventos sociais. Atingido por esses movimentos contraditórios, o crescimento futuro está em perigo de ficar suspenso entre o mi-raculoso e o mundano.

Page 20: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

20

Referências

Acemoglu, D (2009), ‘Introduction to Modern Economic Growth’, ISBN: 9780691132921

Acemoglu, D and Robinson, J (2013), ‘Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity and Poverty’, ISBN: 978-1846684302

Aghion, P and Howitt, P (1997), ‘Endogenous Growth Theory’, ISBN: 9780262011662

Arthur (2011), ‘The second economy’, McKinsey Quarterly, available at: http://www.mckinsey.com/insights/strategy/the_second_economy

Arthur (2014), ‘Complexity and the Economy’, ISBN: 978-0199334292

Attanasio, O and Blundell, R (2014), ‘Human Capital in the 21st Century’, presentation at the ‘Capital in the 21st Century’ conference hosted at the Bank of England on December 19 2014. Slides available here: http://www.cepr.org/sites/default/files/bank%20of%20england.pdf

Bannerjee, A, and Duflo, E (2012), ‘Poor Economics: Barefoot Hedge-fund Managers, DIY Doctors and the Surprising Truth about Life on less than $1 a Day’, ISBN: 978-0718193669

Barro, R and Lee, J (2013), ‘A new data set of educational attainment in the world, 1950-2010’, Journal of Development Economics Vol 104 Pages 184-198

Becker, G (1965), ‘A Theory of the Allocation of Time’, Economic Journal Vol 75 Pages 493–517

Berglas, A (2012), ‘Artificial Intelligence Will Kill Our Grandchildren (Singularity)’, available at: http://berglas.org/Articles/AIKillGrandchildren/AIKillGrandchildren.html

Bernanke, B (2011), ‘Global Imbalances: Links to Economic and Financial Stability’, speech given at the Banque de France Financial Stability Review Launch Event, Paris, France

Bresnahan, T, Stern, S, and Trajtenberg, M (1995), ‘Market Segmentation and the Sources of Rents from Innovation: Personal Computers in the Late 1980’s’, NBER Working Paper 5726

Broadberry, S and O’Rourke, K (2010), ‘The Cambridge Economic History of Modern Europe: Volume 1, 1700-1870’, ISBN: 978-0521708388

Brynjolfsson, E and McAfee, A (2014), ‘The Second Machine Age: Work, Progress, and Prosperity in a Time of Brilliant Technologies’, ISBN: 978-1480577473

Buringh, E and Van Zanden, J (2009), ‘Charting the “Rise of the West”: Manuscripts and Printed Books in Europe, A Long-Term Perspective from the Sixth through Eighteenth Centuries’, The Journal of Economic History Vol 69 Issue 2

Caballero, R (2013), ‘The shortage of safe assets’, presentation given at the Bank of England in May 2013, available at: http://www.bankofengland.co.uk/research/Documents/ccbs/cew2013/presentation_caballero.pdf

Carr, N (2008), ‘Is Google Making Us Stupid?’, Atlantic Magazine, available at: http://www.theatlantic.com/magazine/archive/2008/07/is-google-making-us-stupid/306868/

Carr, N (2011), ‘The Shallows: How the Internet is Changing the Way We Think, Read and Remember’, ISBN: 978-1848872271

Page 21: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

21

Cass, D (1965), ‘Growth in an Aggregative Model of Capital Accumulation’, The Review of Economic Studies, Vol 32, No 3.

Chui, M, Löffler, M and Roberts, R (2010), ‘The internet of things’, McKinsey Quarterly, available at: http://www.mckinsey.com/insights/high_tech_telecoms_internet/the_internet_of_things

Clark, G (2009), ‘A Farewell to Alms: A Brief Economic History of the World’, ISBN: 978-0691141282

Comin, D, Easterly, W, and Gong, E (2010), ‘Was the Wealth of Nations Determined in 1000 BC?’, American Economic Journal: Macroeconomics: Vol 2 No 3

Cowen, T (2011), ‘The Great Stagnation: How America Ate All The Low-Hanging Fruit of Modern History, Got Sick, and Will (Eventually) Feel Better’, Penguin eSpecial from Dutton

Davies, R, Haldane, A, Nielsen, M, and Pezzini, S (2014), ‘Measuring the costs of short-termism’, Journal of Financial Stability Vol 12 Pages 16-25

DeLong, B (1998), ‘Estimates of World GDP, One Million BC to Present’, available at: http://delong.typepad.com/print/20061012_LRWGDP.pdf

Eichengreen, B (2014), ‘Secular stagnation: A review of the issues’, in VoxEU (2014)

Eisner, M (2003), ‘Long-Term Historical Trends in Violent Crime’, Crime and Justice Vol 30 Pages 83–142

Fernald, J and Jones, C (2014), ‘The future of US economic growth’, Federal Reserve Bank of San Francisco Working Paper Series, available at: http://www.frbsf.org/economic-research/files/wp2014-02.pdf

Frey, C and Osbourne, M (2013), ‘The future of employment: how susceptible are jobs to computerisation?’, Oxford Martin, available at: http://www.oxfordmartin.ox.ac.uk/downloads/academic/The_Future_of_Employment.pdf

Gordon, R (2012), ‘Is US Economic Growth Over? Faltering innovation confronts the six headwinds’, NBER Working Paper 18315, available at: http://www.nber.org/papers/w18315.pdf

Gordon, R (2014), ‘The turtle’s progress: secular stagnation meets the headwinds’, in VoxEU (2014)

Haldane, A (2014), ‘Twin Peaks’, Speech given at the Kenilworth Chamber of Trade Business Breakfast, available at: http://www.bankofengland.co.uk/publications/Documents/speeches/2014/speech764.pdf

Hansen, A (1939), ‘Progress and Declining Population Growth’, The American Economic Review Vol XXIX No 1

Hansson, I and Stuart, C (1990), ‘Malthusian Selection of Preferences’, The American Economic Review Vol 80 No 3

Heim, C and Mirowski, P (1987), ‘Interest rates and crowding-out during Britain’s industrial revolution’, Journal of Economic History Vol 47 Pages 117-139

Hills, S, Thomas, R and Dimsdale, N (2010), ‘The UK recession in context — what do three centuries of data tell us?’, Bank of England Quarterly Bulletin 2010 Q4

Hills, Thomas and Dimsdale (2015 forthcoming), Bank of England

Homer, S and Sylla, R (1991), ‘A history of interest rates’, ISBN: 978-0471732839

Page 22: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

22

Hutton, W (2015), ‘How Good We Can Be: Ending the Mercenary Society and Building a Great Country’, ISBN: 978-1408705315

IMF (2014), ‘Redistribution, Inequality, and Growth’, IMF Staff Discussion Note, available at: http://www.imf.org/external/pubs/ft/sdn/2014/sdn1402.pdf

Hall, R and Jones, C (1999), ‘Why do some countries produce so much more output per worker than others?’, Quarterly Journal of Economics Vol 114

Kahneman, D (2012), ‘Thinking, Fast and Slow’, ISBN: 978-0141033570

King, M and Low, D (2014), ‘Measuring the ‘world’ real interest rate’, NBER Working Paper 19887

Koopmans, T (1965), ‘On the Concept of Optimal Economic Growth’, Volume 28 of Pontificiae Academiae Scientiarum scripta varia

Kremer (1993), ‘Population growth and technological change: One Million BC to 1990’, The Quarterly Journal of Economics Vol 108 No 3

Levine, R and Renelt, D (1992), ‘A sensitivity analysis of cross-country growth regressions’, The American Economic Review Vol 82 Issue 4

Malthus, T (1798), ‘An Essay on the Principle of Population’, reprinted in 2010 as ISBN: 978-1450535540

Mazzucato, M (2013), ‘The entrepreneurial state’, ISBN: 978-0857282521

McKinsey Global Institute (2010), ‘Farewell to cheap capital: the implications of long-term shifts in global investment and saving’, available at: http://www.mckinsey.com/insights/global_capital_markets/farewell_cheap_capital

Mischel, W (2014), ‘The Marshmallow Test: Mastering Self-Control’, ISBN: 978-1469249087

Mokyr, J (2014), ‘Secular stagnation? Not in your life’, in VoxEU (2014).

Morris, I (2010), ‘Social Development’, available at: http://www.ianmorris.org

Morris, I (2011), ‘Why the West Rules - For Now: The Patterns of History and what they reveal about the Future’, ISBN: 978-1846682087

Mullanaithan, S, and Shafir, E (2014), ‘Scarcity: The New Science of Having Less and How It Defines Our Lives’, ISBN: 978-1250056115

Nordhaus, W (2015), comments made as discussant in ‘The Economics of Secular Stagnation’ session at the annual AEA meeting on 3 January 2015, available at: https://www.aeaweb.org/webcasts/2015/index.php

OECD (2014) , ‘Trends in Income Inequality and its Impact on Economic Growth’, OECD Social, Employment and Migration Working Papers No. 163, available at: http://www.oecd.org/els/soc/trends-in-income-inequality-and-its-impact-on-economic-growth-SEM-WP163.pdf

Piketty, T (2014), ‘Capital in the Twenty-First Century’, ISBN: 978-0674430006

Pinker, S (2012), ‘The Better Angels of Our Nature: A History of Violence and Humanity’, ISBN: 978-0141034645

Page 23: Crescimento, rápido e lento - Instituto Braudel€¦ · antes da revolução industrial. Me-lhorias geracionais no bem estar teriam sido imperceptíveis. A es-cada rolante do crescimento

23

Putnam, R (2000), ‘Bowling Alone: The Collapse and Revival of American Community’, ISBN: 978-0743203043

Ramsey, F (1928), ‘A Mathematical Theory of Saving’, Economic Journal Vol 38 No 152

Rebelo, S (1991), ‘Long-run policy analysis and long-run growth’, The Journal of Political Economy Vol 99 No 3

Romer, P (1986), ‘Increasing Returns and Long-run Growth’, Journal of Political Economy Vol 94 Pages 1002-37

Sachs, J (2014), ‘Sustainable Development Economics’, available at: http://www.project-syndicate.org/commentary/promote-sustainable-development-economics-by-jeffrey-d-sachs-2014-11

Simon, H (1971), ‘Designing organizations for an information-rich world’, in: Martin Greenberger, ‘Computers, Communication, and the Public Interest’, pp 38-52, John Hopkins Press

Solow, R (1956), ‘A Contribution to the Theory of Economic Growth’, The Quarterly Journal of Economics Vol 70 No 1

Stanislaw, U (1958), ‘Tribute to John von Neumann’, Bulletin of the American Mathematical Society

Stiglitz, J, Sen, A and Fitoussi, JP (2009), ‘Report by the Commission on the Measurement of Economic Performance and Social Progress’, available at: http://www.stiglitz-sen-fitoussi.fr/en/index.htm

Summers, L (2014), ‘U.S. Economic Prospects: Secular Stagnation, Hysteresis, and the Zero Lower Bound’, Business Economics Vol 49 No 2

Summers, L and Balls, E (2015), ‘Report of the Commission on Inclusive Prosperity’, Convened by the Center for American Progress, available at: https://cdn.americanprogress.org/wp-content/uploads/2015/01/IPC-PDF-full.pdf

Swann, T (1956), ‘Economic Growth and Capital Accumulation’, Economic Record Volume 32, Issue 2

Syverson, C (2013), ‘Will history repeat itself? Comments on ‘Is the information technology revolution over?’, International Productivity Monitor Pages 37-40

Tabellini, G (2010), ‘Culture and institutions: economic development in the regions of Europe’, Journal of the European Economic Association Vol 8 Issue 4

Urminsky, Oleg and Zauberman, Gal (2014), ‘The psychology of intertemporal preferences’, To appear in the ‘Wiley-Blackwell Handbook of Judgment and Decision Making’.

VoxEU (2014), ‘Secular Stagnation: Facts, Causes and Cures’, available at: http://www.voxeu.org/sites/default/files/Vox_secular_stagnation.pdf

Wang, Mei, Marc Oliver Rieger and Thorsten Hens (2011), ‘How time preferences differ: Evidence from 45 countries’, NHH Discussion paper, FOR 18

Weiller, K and Mirowski, P (1990), ‘Rates of interest in 18th century England’, Explorations in Economic History Vol 27 Issue 1