crescimento da indústria editorial de livros do brasil

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Industria Editorial, documento introdutório ao crescimento

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  • i

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

    INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAO

    LEONARDO BASTOS DA FONSECA

    CRESCIMENTO DA INDSTRIA EDITORIAL DE LIVROS DO BRASIL E SEUS

    DESAFIOS

    Rio de Janeiro

    2013

  • ii

    LEONARDO BASTOS DA FONSECA

    Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Administrao, Instituto Coppead de

    Administrao, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

    parte dos requisitos necessrios obteno do ttulos de Mestre

    em Administrao (M.Sc.).

    Orientadora: Denise Lima Fleck, Ph.D.

    Rio de Janeiro

    2013

  • iii

    FICHA CATALOGRFICA

    Fonseca, Leonardo Bastos.

    Crescimento da indstria editorial de livros do Brasil e seus

    desafios / Leonardo Bastos da Fonseca. Rio de Janeiro: UFRJ, 2013.

    232 f.: il.; 31 cm.

    Orientadora: Denise Lima Fleck

    Dissertao (mestrado) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administrao, 2013.

    1. Estratgia Empresarial. 2. Indstria Editorial de Livros.

    3. Administrao Teses. I. Fleck, Denise Lima. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD

    de Administrao. III. Ttulo.

  • iv

    LEONARDO BASTOS DA FONSECA

    CRESCIMENTO DA INDSTRIA EDITORIAL DE LIVROS DO

    BRASIL E SEUS DESAFIOS

    Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Administrao, Instituto Coppead de

    Administrao, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

    parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre

    em Administrao (M.Sc.).

    Aprovada por:

    _____________________________________________________________

    Prof. Denise Lima Fleck, Ph.D - Orientadora (COPPEAD/UFRJ)

    _____________________________________________________________

    Prof. Maribel Carvalho Suarez (COPPEAD/UFRJ)

    ______________________________________________________________

    Prof. Fabio de Silos S Earp (Instituto de Economia da UFRJ)

  • v

    RESUMO

    FONSECA, Leonardo Bastos. Crescimento da indstria editorial de livros do

    Brasil e seus desafios. Rio de Janeiro, 2013. Orientadora: Prof Denise Lima Fleck.

    Dissertao (Mestrado em Administrao de Empresas). Instituto COPPEAD de

    Administrao, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

    Esta dissertao dedicou-se compreenso de como aspectos organizacionais e

    ambientais contribuem para o crescimento saudvel da indstria editorial de livros do

    Brasil (IELB). Com mais de duzentos anos, a IELB acompanhou a histria do Brasil

    desde a chegada da Famlia Real ao Brasil em 1808. Sendo assim, as dificuldades

    enfrentadas foram diversas, muitas das quais associadas ao prprio processo de

    formao do pas, como ditaduras, alta dependncia econmica externa, processos

    inflacionrios, baixo nvel educacional da populao e desenvolvimento industrial

    tardio. Mas, com o passar dos anos, a maioria desses obstculos foi removida,

    dando lugar emergncia de foras favorveis ao crescimento da IELB. Dessa

    forma, novas dinmicas de crescimento seriam observadas ao longo de sua histria.

    Nesse sentido, procurou-se analisar o processo de crescimento da IELB luz da

    teoria dos arqutipos de sucesso e fracasso organizacional e do modelo de

    requisitos para a longevidade saudvel propostos por Fleck (2009).

    A anlise das respostas da IELB aos desafios do crescimento (FLECK, 2009)

    permitiu identificar a presena de capacitaes e deficincias internas da IELB que

    favorecem e ameaam, respectivamente, o desenvolvimento de traos saudveis de

    crescimento. O resultado foi a identificao de fissuras no processo de crescimento

    proporcionadas pela fragmentao da IELB e por sua dificuldade de gerenciar

    processos e informao em bases sistemticas. Dessa forma, as crescentes

    diversidade e complexidade verificadas na IELB favorecem algumas formas de

    crescimento cuja implementao carece de exibir traos saudveis, a saber a

    randmica, a interativa (via competio) e a estrutural (FLECK, 2000). Parte dessas

    fraquezas pode ser neutralizada com a implantao de processos sistemticos de

    resoluo de problemas, desenvolvimento de integrao sistmica entre

    organizaes, gerenciamento de informaes internas e estratgias de segmentao

    e marketing, para citar algumas.

    Palavras-chave: indstria editorial de livros do Brasil, crescimento, estratgia.

  • vi

    ABSTRACT

    FONSECA, Leonardo Bastos. Brazilian book industry growth and challenges. Rio

    de Janeiro, 2013. Supervisor: Denise Lima Fleck, Ph.D. Dissertation (Masters in

    Business Administration). COPPEAD Graduate School of Business, Federal

    University of Rio de Janeiro, 2013.

    This dissertation was devoted to understanding how organizational and

    environmental factors contribute to the healthy growth of the publishing books

    industry of Brazil (IELB). With more than two hundred years of history, IELB

    accompanied the history of Brazil since the arrival of the Royal Family to Brazil in

    1808. Thus, the difficulties were many, many of them related to the countrys

    formation process, as dictatorships, high external dependence, inflationary

    processes, low educational level of the population and late industrial development.

    But over the years most of these obstacles were removed, giving way to the

    emergence of forces favorable to the growth of IELB. Thus, new growth dynamics

    would be observed throughout its history. Accordingly we sought to analyze the

    IELB's growth process in the light of the archetypes of organizational success and

    failure theory and the model for healthy longevity requirements, both proposed by

    Fleck (2009).

    The analysis of responses to the challenges of IELB growth (FLECK, 2009)

    allowed the identification of IELB's capabilities and internal weaknesses that favor

    and threaten, respectively, the development of healthy growth traits. The result was

    the identification of cracks in the growth process provided by the fragmentation of

    IELB and its difficulty to manage processes and information in a systematic way.

    Thus, the increasing diversity and complexity found in IELB favor some forms of

    growth in which implementation is needed to display healthy traits, namely to know

    the random, the interactive by competition and the structural (FLECK, 2000). Part of

    these weaknesses can be neutralized with the implementation of systematic

    processes of problem solving, development of systemic integration between

    organizations, information management, internal and segmentation strategies and

    marketing, to name a few.

    Keywords: brazilian book industry, growth, strategy.

  • vii

    SUMRIO

    1 INTRODUO .......................................................................................... 11

    1.1 Organizao do trabalho .................................................................... 13

    2 REFERENCIAL TERICO ....................................................................... 14

    2.1 PERSPECTIVAS E CONTRIBUIES AO ENTENDIMENTO DAS

    DIMENSES QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTO DA EMPRESA ................ 16

    2.2 SINTETIZANDO TEORIAS DE ESTRATGIA E CRESCIMENTO: OS

    ARQUTIPOS DE SUCESSO E FRACASSO ORGANIZACIONAL ...................... 26

    2.2.1 Empreendedorismo ........................................................................ 30

    2.2.2 Navegao no Ambiente Dinmico ................................................ 33

    2.2.3 Diversidade ..................................................................................... 34

    2.2.4 Provisionamento de Recursos Humanos ....................................... 36

    2.2.5 Complexidade ................................................................................. 37

    2.2.6 Modelo para o desenvolvimento de propenso autoperpetuao

    organizacional .................................................................................................... 39

    3 MTODO .................................................................................................. 41

    3.1 COLETA DE DADOS ............................................................................. 42

    3.1.1 Arquivo histrico ............................................................................. 43

    3.1.2 Entrevistas ...................................................................................... 45

    3.2 ANLISE DOS DADOS ...................................................................... 47

    3.2.1 Limitaes da pesquisa .................................................................. 48

    4 CARACTERIZAO E EVOLUO DA IELB ........................................ 51

    4.1 ESTRUTURA E FUNES DA IELB ................................................. 51

    4.2 EVOLUO DA ESTRUTURA E DAS FUNES DA IELB .............. 60

    5 ANLISE .................................................................................................. 64

  • viii

    5.1 AMBIENTE EXTERNO IELB: FORAS LIMITANTES E

    PROPULSORAS AO CRESCIMENTO .................................................................. 65

    5.2 DINMICAS DE CRESCIMENTO DA IELB ....................................... 78

    5.3 RESPOSTAS DA IELB AOS DESAFIOS DO CRESCIMENTO ......... 90

    5.3.1 Empreendedorismo ........................................................................ 92

    5.3.2 Navegao ..................................................................................... 98

    5.3.3 Gesto da Diversidade ................................................................. 101

    5.3.4 Gesto da Complexidade ............................................................. 106

    6 CONCLUSO ......................................................................................... 115

    6.1 Sugestes para pesquisas futuras ................................................... 126

    REFERNCIAS .............................................................................................. 128

    APNDICES ................................................................................................... 156

    APNDICE A HISTRIA DA INDSTRIA EDITORIAL DE LIVROS DO

    BRASIL (IELB) ..................................................................................................... 157

  • ix

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 2-1: A organizao como uma rvore que cresce de suas razes. As razes

    so as competncias centrais que alimentam os produtos chaves (core product) que

    se organizaro em unidades de negcio cujos frutos so os produtos acabados.....19

    Figura 2-2: Foras que governam a competio em uma indstria...........................22

    Figura 2-3: Integrao das estratgias de mercado e institucionais..........................24

    Figura 2-4: Respostas estratgicas s presses institucionais..................................25

    Figura 2-5: Estrutura geral do motor de coevoluo do todo e partes.......................26

    Figura 2-6: Desafios do Crescimento.........................................................................29

    Figura 2-7: Modelo com os requisitos para o desenvolvimento da propenso a

    autoperpetuao organizacional................................................................................40

    Figura 3-1: Principais livros utilizados na pesquisa....................................................43

    Figura 3-2: Tabela com as matrias do jornal O Estado de So Paulo selecionadas

    para a etapa de anlise..............................................................................................44

    Figura 3-3: Lista de entrevistados da IELB para a pesquisa......................................46

    Figura 3-4: Tabela de classificao dos dados de acordo com os desafios..............48

    Figura 4-1 Estrutura da IELB e seu ambiente externo em 2012.............................53

    Figura 4-2 Dimenses externas que circunscrevem a atuao da IELB................55

    Figura 4-3 Atuao dos agentes transformadores por funo nas duas primeiras

    fases da IELB.............................................................................................................60

    Figura 4-4 Atuao dos agentes transformadores da IELB por funo na terceira e

    quarta fases da IELB..................................................................................................62

    Figura 5-1 Lista das foras mapeadas que atuaram sobre a IELB ao longo da

    histria........................................................................................................................65

    Figura 5-2 Atuao de foras limitantes e propulsoras da IELB na primeira fase..66

    Figura 5-3 Atuao de foras limitantes e propulsoras da IELB na segunda fase..68

    Figura 5-4 Atuao de foras limitantes e propulsoras da IELB na terceira fase...70

    Figura 5-5 Atuao de foras limitantes e propulsoras da IELB na quarta fase.....73

    Figura 5-6 Tipos de crescimento verificados na IELB em cada fase......................79

    Figura 5-7: Resposta da IELB aos desafios do crescimento.....................................91

  • x

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 5-1 Variao percentual da taxa de cmbio (R$/US$) de 1920 at 1960

    (em %)........................................................................................................................69

    Grfico 5-2 Taxa de Inflao (%) entre 1960 e 1990 (IGP-DI a.a)..........................72

    Grfico 5-3 Faturamento total da IELB separado por vendas ao mercado e ao

    governo (em milhes de R$)......................................................................................77

    Grfico 5-4: Nmero de livrarias em operao ao longo do sculo XIX....................80

    Grfico 5-5 Evoluo no nmero de livrarias no Brasil entre 2008 e 2013.............81

  • 11

    1 INTRODUO

    A indstria editorial de livros do Brasil (IELB) uma das mais antigas indstrias

    em atuao no pas, com mais de duzentos anos de existncia. O princpio de sua

    formao coincide com a transferncia da corte portuguesa para o Brasil em 1808

    (ABREU; BRAGANA, 2010).

    Hallewell, ainda nos primeiros anos da dcada de oitenta, sugere que poucos

    pases levaram tanto tempo para desenvolver uma indstria editorial nacional. Mas

    poucos as desenvolveram tanto nos ltimos anos (HALLEWELL, 1985, p. XXIX). As

    transformaes que a IELB atravessou, desde ento, renovam e atualizam essa

    percepo para o contexto recente da IELB. O crescimento consistente na

    quantidade de publicaes, as novas tecnologias disponveis e as melhorias scio-

    educacionais verificadas nesse perodo so alguns sinais desse desenvolvimento.

    Por outro lado, a pequena expressividade econmica da IELB, que parece

    acompanh-la desde sua origem, se apresenta como um contraponto sua histrica

    influncia sciocultural. Essa aparente contradio suscita a curiosidade sobre a

    trajetria da IELB ao longo desses anos. Afinal, de 1808 at 2012, foram mais de

    duzentos anos de existncia produzindo basicamente o mesmo tipo de produto: o

    livro. Todavia, embora o produto tenha permanecido basicamente o mesmo, a

    atuao de foras externas, ligadas s polticas pblicas e evoluo tecnolgica,

    provocariam mudanas no padro de desenvolvimento da IELB ao longo desse

    perodo.

    A construo desse percurso no seria simples, principalmente, porque a IELB

    nasceria sobre um legado colonial essencialmente agrrio, analfabeto e com

    severas restries liberdade de expresso. A IELB acompanharia a histria do

    Brasil pelas dcadas seguintes, atravessando duas guerras mundiais, governos

    totalitrios, carncia de infraestrutura industrial interna, e outros eventos que

    forjaram as condies sobre as quais ela se desenvolveria.

    Mas, apesar das dificuldades ligadas ao prprio processo de formao do pas,

    a IELB conseguiu crescer ao longo dos anos. Essa expanso proporcionaria uma

    srie de mudanas. Internamente, seus participantes desempenhariam diferentes

    funes ao longo do tempo em virtude da especializao proporcionada pelo

    desenvolvimento da IELB. Novos participantes tambm foram surgindo ao longo de

  • 12

    cada fase histrica. Essas alteraes internas conduziriam a IELB a experimentar

    novas dinmicas de crescimento ao longo do tempo (FLECK, 2000).

    Contudo, a evoluo da IELB tambm implicaria na emergncia de novas

    dificuldades que ameaariam o desenvolvimento de bases saudveis de

    crescimento. Abreu e Bragana sugerem que durante esses dois sculos, a

    produo nacional de livros tornou-se ampla, diversificada e complexa (ABREU;

    BRAGANA, 2010, p. 9). Essa mudana no aconteceu apenas pela atuao de

    foras externas, mas tambm pelo perfil de resposta da IELB aos desafios do

    crescimento (FLECK, 2009) encontrados durante esse perodo.

    Atualmente, o foco dos participantes da IELB est voltado para o livro

    eletrnico. Muitos buscam compreender para onde essa mudana tecnolgica pode

    conduzir a IELB. Algumas experincias internacionais, principalmente a norte-

    americana, no foram positivamente avaliadas por editoras e livrarias fsicas

    brasileiras por trs motivos centrais: o desbalanceamento de foras dentro da

    indstria provocado pela entrada de novos competidores, como Amazon, Google e

    Apple; a dificuldade em mensurar o saldo resultante da soma entre o efeito

    negativo da substituio do livro impresso (canibalizao), em princpio com margem

    unitria mais alta que o livro eletrnico, e efeito positivo proporcionado pela

    expanso nas vendas; e o risco de aumentar a reproduo e circulao de cpias

    digitais no autorizadas.

    Entretanto, para compreender de forma mais ampla a participao do livro

    eletrnico na IELB e, por conseguinte, seus possveis impactos, faz-se necessrio

    compreender primeiro como a prpria IELB se desenvolveu previamente. E essa

    investigao precisa identificar como a IELB interagiu com foras externas anteriores

    ao livro eletrnico. preciso entender ainda qual o contexto atual da IELB, como

    seus participantes esto se relacionando e quais mecanismos de crescimento esto

    agindo sobre ela recentemente. A partir dessa anlise, podemos ter acesso a um

    panorama mais claro, tanto sobre os possveis efeitos da difuso do livro eletrnico

    quanto de outras mudanas sobre a IELB.

    O objetivo desse estudo identificar e analisar evidncias histricas que nos

    ajudem a identificar as principais foras externas que atuaram sobre a IELB; como

    suas funes e participantes evoluram; e quais os mecanismos de crescimento que

    agiram sobre ela ao longo da histria.

  • 13

    O estudo emprega uma perspectiva longitudinal sobre a trajetria da IELB

    compreendida entre os anos 1808 e 2012. Nesse sentido, esta pesquisa baseia-se

    em fatos e dados prospectados em entrevistas em profundidade e arquivos

    histricos que culminaram com alguns insights que auxiliam responder questo

    essencial do estudo: Em que medida a IELB desenvolveu traos de crescimento

    saudvel ao longo de sua existncia?

    1.1 Organizao do trabalho

    O presente estudo est organizado em cinco captulos. O primeiro captulo

    apresenta de forma sinttica o tema e o objetivo desse estudo.

    O captulo seguinte descreve o referencial terico empregado para auxiliar na

    tarefa de analisar e refletir sobre as informaes levantadas na pesquisa. Por

    entender que uma indstria uma macro organizao, o eixo central da anlise

    apoia-se na teoria dos arqutipos do crescimento desenvolvida por Fleck (2009) que

    sintetiza um conjunto de teorias e aspectos relevantes para a compreenso do

    processo de crescimento de uma organizao. Outras teorias complementam o

    referencial terico quanto aos aspectos propostos na teoria central.

    No terceiro captulo, descreve-se o mtodo utilizado para realizar o estudo,

    compreendendo suas delimitaes, bem como a estratgia e procedimentos

    utilizados para responder s perguntas que direcionaram este trabalho.

    O captulo seguinte apresenta o detalhamento e caracterizao da IELB. Nesse

    sentido, descrita a estrutura da IELB, quais as principais funes que ela exerce e

    quais os participantes que nela atuaram entre 1808 e 2012.

    O quinto captulo identifica as dinmicas de crescimento (FLECK, 2000) que

    estiveram presentes na IELB, as foras limitantes e propulsoras que atuaram sobre

    a IELB e como esta respondeu aos desafios do crescimento (FLECK, 2009) entre

    1808 e 2012.

    Por fim, no sexto captulo so apresentadas as concluses do estudo e as

    sugestes para pesquisas futuras.

  • 14

    2 REFERENCIAL TERICO

    Neste captulo descreveremos o arcabouo terico empregado para nos

    auxiliar na compreenso de como a indstria editorial brasileira de livros (IELB) se

    desenvolveu entre 1808 e 2012. Nesse sentido, ela ser analisada como um

    conjunto de servios produtivos, ou simplesmente como um conjunto de funes

    (PENROSE, 1959). O conceito de criao de valor das funes da IELB abordado

    neste trabalho baseia-se na combinao dos conceitos de ineditismo (novelty) e

    apropriao (appropriateness) apresentados por Lepak, Smith e Taylor (2007). Para

    organizar a estrutura da IELB, identificar seus participantes, o relacionamento entre

    eles e as foras externas que atuam sobre ela, empregamos os conceitos de

    indstria e foras competitivas descritas por Porter (1979). O mapeamento e

    anlise das foras que atuaram sobre a IELB, ao longo da histria, so

    complementadas pela componente nonmarket apresentada por Baron (1995) e pela

    importncia da capacidade de resposta das organizaes ao ambiente institucional

    sugerida por Oliver (1991). A identificao dos tipos de crescimento presentes na

    IELB foi realizada com base nos caminhos do crescimento proposto por Fleck (2000)

    e nos motores do crescimento (FLECK, 2003) proposto pela mesma autora. O

    modelo dos arqutipos de sucesso e fracasso organizacional (FLECK, 2009) foi

    empregado como eixo central da anlise para sintetizar como a IELB respondeu aos

    desafios do crescimento durante o perodo estudado (de 1808 a 2012).

    Penrose (1959) prope pensarmos a empresa de uma forma mais abrangente,

    no apenas como uma unidade administrativa, mas como um conjunto de recursos

    produtivos cuja forma de aplicao e propsito depende de decises gerenciais. A

    autora sugere que normalmente existem diversos recursos disponveis em uma

    empresa, organizados basicamente em dois grupos: recursos fsicos, como matria

    prima, equipamentos e instalaes e recursos humanos.

    Conforme sugerido por Barney (1991), podemos acrescentar outra variedade

    de recursos intangveis a essa lista, como processos organizacionais, sistemas de

    informao e conhecimento. O valor dos recursos disponveis o reflexo do conjunto

    de servios potenciais encerrado nesses recursos (PENROSE, 1959). Em outras

    palavras, a funo que esses recursos podem efetivamente exercer no

    desempenho da empresa que determina o valor desses recursos para a

  • 15

    organizao. A extrao de servios importantes para o processo produtivo da

    empresa est intimamente associada forma com que os diferentes recursos so

    combinados e empregados (PENROSE, 1959).

    Vamos nos apropriar dessa viso de que a organizao um conjunto de

    recursos coordenados por um corpo gerencial que os modela e os torna til,

    enxergando a IELB como uma macro organizao. Assim, os diferentes

    participantes da IELB que integram a cadeia produtiva do livro passam a ser

    concebidos como um conjunto de recursos produtivos cujos principais

    coordenadores so as editoras. Elas so as responsveis por articular, combinar e

    direcionar esses recursos para que a IELB se desenvolva.

    A partir dessa viso, vamos utilizar o modelo terico desenvolvido por Fleck

    (2009), no qual a autora avalia a propenso ao sucesso no longo prazo das

    organizaes de acordo com a capacidade de resposta das empresas a cinco

    desafios inerentes existncia organizacional. O modelo dos arqutipos de sucesso

    e fracasso desenvolvido por Fleck (2009) foi escolhido como eixo central da anlise

    pela perspectiva abrangente com que avalia e combina algumas condies

    necessrias ao crescimento saudvel da organizao.

    Fleck (2009) busca integrar aspectos internos e externos organizao sob o

    ponto de vista de sua evoluo histrica, observando como o contexto interno e

    externo da organizao dialogaram entre si historicamente para compor o panorama

    de caractersticas, padres e respostas que a firma desenvolveu ao longo de sua

    existncia.

    Para conseguirmos analisar com consistncia a trajetria da IELB luz dos

    desafios ao crescimento, foi previamente levantada a evoluo da estrutura da IELB,

    quais foram seus participantes, quais as foras externas que atuaram sobre ela e

    que tipos de crescimento fizeram com que a IELB se desenvolvesse.

    Para a anlise desenvolvida aqui nesse trabalho consideramos a IELB como

    uma macro organizao. Sendo assim, este trabalho examinar o percurso da

    macro organizao IELB, cujos elementos so organizaes atuando em diversos

    elos da cadeia produtiva.

  • 16

    2.1 PERSPECTIVAS E CONTRIBUIES AO ENTENDIMENTO DAS DIMENSES

    QUE INFLUENCIAM O CRESCIMENTO DA EMPRESA

    Segundo Whetten (1987) existem trs explicaes para o crescimento

    empresarial. A primeira sugere que o crescimento um desdobramento resultante

    da execuo bem sucedida de estratgias adotadas para satisfazer as necessidades

    de funcionamento da empresa. A segunda reside na criao de folga de recursos

    (excedentes em relao s necessidades operacionais correntes da organizao)

    derivada dos processos de crescimento, mitigando a concorrncia interna por

    recursos, prestgio, promoes, salrio e desafios profissionais e, com isso,

    facilitando a gesto da organizao (WHETTEN, 1987). A terceira explicao reside

    na menor dependncia da empresa em relao ao ambiente externo, visto que o

    crescimento reduz o grau de incerteza e a influncia externa do ambiente sobre a

    organizao (WHETTEN, 1987).

    Penrose (1959) afirma que a subutilizao dos servios produtivos potenciais

    dos recursos de que a empresa dispe e/ou a possibilidade de utiliz-los de forma

    mais rentvel em processos expansivos tambm so incentivos para a empresa

    crescer. A indivisibilidade dos recursos acaba criando constantemente folga de

    recursos livres ou subutilizados, estimulando a empresa a adquirir outros recursos

    para aproveitar a folga existente, criando com isso novas folgas e reiniciando com

    isso o processo de busca de equilbrio (PENROSE, 1959). Quando o crescimento

    da organizao enseja a possibilidade de especializao dos seus recursos,

    utilizando-os de forma mais rentvel, a organizao tambm estimulada a crescer.

    Chandler (1977) aponta para duas motivaes chaves para a empresa

    expandir: produtiva (ou positiva) e defensiva (ou negativa). Segundo o autor, os

    motivos produtivos alm de mais rentveis, aumentam a propenso da organizao

    ao crescimento continuado quando comparado aos motivos defensivos. Enquanto os

    motivos produtivos, como a criao de novas linhas de produtos para novos

    mercados, por exemplo, so estimulados pela utilizao mais intensiva e eficiente

    dos recursos disponveis, gerando ganhos de escala e escopo, os movimentos

    defensivos, como a aquisio de um fornecedor estratgico, por exemplo,

    dificilmente criam estmulos ou desequilbrios internos que incentivam o crescimento

    (CHANDLER, 1977). O autor aponta ainda que as empresas com diferentes tipos de

  • 17

    negcios (ou recursos) esto mais inclinadas a terem recursos subutilizados e, por

    conseguinte, mais propensas a fazerem movimentos expansivos.

    Fleck (2009) complementa a viso de Chandler (1977) ao sugerir a

    possibilidade de mais duas motivaes para as organizaes crescerem: hbrida e

    nula. A hbrida combina motivaes produtivas e defensivas almejando aumentar a

    eficincia da empresa enquanto protege as linhas de negcio atuais (FLECK, 2009).

    A motivao nula no se relaciona nem com interesses de melhorar a produtividade

    da empresa nem com objetivos defensivos (FLECK, 2009). As motivaes nulas

    normalmente conduzem as empresas a fazerem aquisies ou explorar

    oportunidades no relacionadas ao escopo dos negcios atuais e/ou as

    competncias centrais (PRAHALAD; HAMEL, 1990) desenvolvidas pela

    organizao. Esses movimentos expansivos normalmente caracterizam-se pelo

    perfil empire-building de organizaes cujos movimentos de crescimento, em geral,

    so orientados por estratgias voltadas ao aumento do tamanho da empresa, o

    poder e a influncia que ela exerce sobre a concorrncia e o ambiente onde atua

    (PENROSE, 1959; FLECK, 2009).

    Fleck (2000) sugere que essas diferentes motivaes e incentivos expanso

    podem levar a sete diferentes tipos de crescimento. O crescimento inercial baseado

    em simplesmente fazer mais do mesmo. Esse crescimento pode ser motivado pela

    subutilizao de recursos internos (PENROSE, 1959) ou pela oportunidade de

    empreg-los mais rentavelmente. O segundo tipo o teleolgico, que dirigido pelo

    estabelecimento de metas a serem atingidas sem muita conexo com motivaes

    produtivas ou defensivas. Esse tipo de crescimento pode ser direcionado pela

    existncia de folga financeira para investir (WHETTEN, 1987). O crescimento

    dialtico normalmente causado por tenses, conflitos ou desequilbrios que

    culminam em inovaes para resolv-los. O quarto tipo o crescimento interativo

    que decorre tanto da competio quanto da cooperao entre concorrentes. A

    competio estimula a organizao a empregar esforos na superao do(s)

    competidor(es), e com isso crescer. A cooperao, por sua vez, promove a

    colaborao voluntria ou compulsria no sentido de alargar as fronteiras de

    crescimento de determinado grupo de empresas ou da prpria indstria como um

    todo. O crescimento macro ambiental acontece pela influncia de foras externas

    que podem proporcionar novas oportunidades de negcio ou mitigar riscos e

  • 18

    ameaas preexistentes. O sexto tipo consiste no crescimento estrutural ocasionado

    por mudanas na estrutura da indstria em funo de aquisio horizontal ou vertical

    ou pela entrada de novo participante na indstria. Motivaes defensivas podem

    conduzir a esse tipo de crescimento. Por fim, o crescimento randmico atingido por

    acaso, pelo modelo de tentativa e erro.

    Alm dos motivos que impulsionam o crescimento empresarial e as vantagens

    decorrentes desse crescimento, preciso observar algumas condies necessrias

    ao crescimento. Segundo Chandler (1977), o crescimento produtivo decorrente da

    utilizao mais intensa e lucrativa dos recursos da organizao atravs da

    especializao ou da expanso da empresa para outros mercados, termina por

    exigir maior capacidade de planejamento e coordenao. Ou seja, umas das

    componentes centrais no processo de crescimento das organizaes est

    diretamente associada competncia administrativa da firma e sua capacidade

    interna de coordenao.

    Nesse sentido, a ascenso do gerente profissional, organizado em camadas

    hierrquicas dentro das organizaes, viabilizou a coordenao efetiva das

    empresas face ao aumento na complexidade e velocidade provocado pelos

    mercados em expanso e pelas mudanas tecnolgicas (CHANDLER, 1977).

    Penrose (1959) tambm refora a importncia da coordenao administrativa

    levantada por Chandler (1977). A autora afirma que o quadro de gerentes atuais da

    empresa define em grande parte os limites do crescimento organizacional. Isso

    ocorre porque se faz necessrio um tempo de ajuste para que gestores recm-

    admitidos de fora da organizao estejam aptos a contribuir com seu melhor nvel de

    desempenho. A razo para isto que no se d de forma instantnea a aquisio

    pelos novos gestores de conhecimento tcito, entrosamento com outras reas e

    familiaridade com a cultura e processos da empresa (PENROSE, 1959). Logo, tanto

    para Chandler (1977), como para Penrose (1959), a capacidade de coordenao da

    empresa constitui uma das condies indispensveis ao crescimento organizacional.

    Prahalad e Hamel (1990) evidenciam a importncia das habilidades de

    coordenao da firma na formao e aproveitamento das competncias centrais da

    organizao. Os autores afirmam que, no longo prazo, a competitividade da

    empresa se encontra em sua capacidade de desenvolver competncias centrais

  • 19

    (core competences) que a levem ao desenvolvimento de produtos inditos e difceis

    de serem antecipados e/ou copiados pela concorrncia (PRAHALAD; HAMEL,

    1990).

    As competncias centrais so construdas a partir do aprendizado coletivo da

    organizao, especialmente em como coordenar habilidades produtivas diferentes e

    integrar mltiplas tecnologias (PRAHALAD; HAMEL, 1990). Para os autores, a

    capacidade de a empresa mapear e interconectar os saberes produtivos e as

    tecnologias contidas na organizao em competncias consistentes que lhes

    faculta a explorao de formas mais rentveis de crescimento. Nesse sentido, as

    competncias centrais constituem a plataforma de criao de novos negcios que

    nortearo padres de diversificao para novos mercados e/ou produtos

    (PRAHALAD; HAMEL, 1990).

    Figura 2-1: A organizao como uma rvore que cresce de suas razes. As razes so as

    competncias centrais que alimentam os produtos chaves (core product) que se organizaro

    em unidades de negcio cujos frutos so os produtos acabados.

    Fonte: Prahalad e Hamel (1990, p. 47)

  • 20

    March (1991) analisa a importncia de se manter um equilbrio dinmico entre

    o esforo da empresa na explorao de novas competncias centrais e o

    aperfeioamento das competncias centrais j estabelecidas dentro da empresa. O

    autor aponta que a explorao pressupe experimentao, exposio a riscos e

    descoberta de novos caminhos para crescer e aumentar os retornos futuros. O

    aperfeioamento e o aprofundamento das competncias existentes implicam em

    refinamento, aumento da eficincia e desempenho dos processos j estabelecidos e

    resultam em ganhos imediatos para a empresa (FLECK, 2010a). A explorao de

    novas alternativas (exploration) normalmente implica em retornos incertos, distantes

    e por vezes negativos (MARCH, 1991). Por outro lado, o desenvolvimento das

    competncias existentes (exploitation) normalmente proporciona quick wins que

    reforam o desempenho da organizao no curto prazo. Seus resultados so menos

    arriscados e distantes no tempo quando comparados experimentao de novas

    iniciativas (MARCH, 1991). Concentrar ateno e esforos alm do necessrio em

    um dos dois caminhos pode esmaecer a capacidade de evoluo da empresa no

    longo prazo.

    Nesse sentido, March (1993) aponta que o foco excessivo na explorao

    continuada de novos conhecimentos e possibilidades pode impedir a empresa de

    conseguir atingir retornos e rentabilizar suas descobertas, ao passo que confinar os

    esforos em mais do mesmo, isto , em apenas melhorar o que existe com base

    em feedbacks, pode terminar por conduzir a empresa obsolescncia.

    O autor distingue duas armadilhas que podem levar a empresa a se fechar em

    um dos polos de explorao ou aperfeioamento: a armadilha do fracasso e a a

    armadilha do sucesso (MARCH, 1993). A primeira consiste em processos contnuos

    de experimentao, mudana e inovao (MARCH, 1993). Esses processos so

    deflagrados por uma dinmica na qual o fracasso leva a mais pesquisa por novas

    alternativas, que por sua vez conduz a outros fracassos, que levam a mais pesquisa

    e assim, sucessivamente, at a emergncia de uma alternativa boa o suficiente para

    interromper o processo (MARCH, 1993). Ideias pouco proveitosas, longos perodos

    necessrios ao amadurecimento das inovaes na empresa e otimismo excessivo

    so algumas das razes que contribuem para a perpetuao desse ciclo.

  • 21

    A armadilha do sucesso, por sua vez, ocorre na medida em que a utilizao e

    refinamento das competncias existentes gera feedbacks frequentes (em espaos

    curtos de tempo) com pontos de melhoria que, por sua vez, trazem novos feedbacks

    sobre outras evolues que podem ser implementadas, retroalimentando o ciclo

    (MARCH, 1993). Essas melhorias normalmente geram retornos positivos em

    intervalos de tempo prximo ao momento em que foram implantadas, estimulando a

    busca por novas melhorias incrementais que contribuam para aumentar os retornos

    da empresa no curto prazo.

    Embora grande parte dos esforos da empresa geralmente se volte a deslocar

    a concorrncia e a ocupar uma posio competitiva de proeminncia, muitas

    empresas tm dificuldades em entender e mapear corretamente as foras externas

    do mercado que pressionam seu negcio.

    Nesse sentido, Porter (1979) descreve a importncia em se pensar na

    estratgia da empresa considerando o ambiente competitivo amplo da indstria,

    alm dos rivais propriamente ditos. O autor inclui no ambiente competitivo

    fornecedores, compradores, substitutos e novos entrantes da indstria, trazendo-os

    para dentro da anlise, reflexo e planejamento dos movimentos expansivos

    tencionados pela organizao. Cada indstria ento formada por uma estrutura

    tcnica e econmica particular que responde pela intensidade de cada uma dessas

    foras (PORTER, 1979). A rentabilidade da indstria consequncia direta da

    dinmica de interao entre essas cinco foras ao longo do tempo (PORTER, 1979).

    A relao de foras entre os participantes no curso evolutivo da indstria define, em

    grande parte, quem fica com a maior frao dessa rentabilidade (LEPAK; SMITH;

    TAYLOR, 2007).

  • 22

    Figura 2-2: Foras que governam a competio em uma indstria

    Fonte: Porter (1979)

    Todavia, Barney (1991) observa que o modelo proposto por Porter (1979)

    desconsidera a heterogeneidade dos recursos disponveis para cada firma, a

    particularidade dos objetivos estratgicos individuais de cada empresa e a

    desigualdade no acesso aos recursos no mercado. Ou seja, a anlise das cinco

    foras da indstria no contempla as especificidades internas das empresas que as

    distinguem entre si, fazendo-as relacionarem-se de forma particular com as cinco

    foras (BARNEY, 1991).

    Segundo Barney (1991), o modelo de Porter elimina a heterogeneidade e

    imobilidade dos recursos como fonte de vantagem competitiva. Para Barney (1991)

    a vantagem competitiva sustentvel da empresa e, por sua vez, a capacidade de a

    organizao crescer acima da mdia das outras empresas, reside no nvel de

    heterogeneidade e imobilidade de seus recursos. Segundo o autor, o potencial de

    vantagens competitivas sustentveis de cada recurso depende da presena de

    quatro atributos fundamentais: o recurso precisa ser til na explorao de

    oportunidades ou na neutralizao de ameaas do ambiente, precisa ser raro entre

    os concorrentes atuais e potenciais da empresa, precisa ser imperfeitamente

    imitvel e no pode haver substitutos equivalentes do ponto de vista estratgico

    (BARNEY, 1991).

  • 23

    Penrose (1959) refora a relevncia da heterogeneidade de recursos

    disposio da organizao na formao das vantagens competitivas. A autora afirma

    que a diversidade dos servios produtivos latentes nos recursos acessveis

    organizao que determinar as oportunidades de negcio que a empresa poder

    explorar e, por conseguinte, que podero levar a empresa a crescer (PENROSE,

    1959).

    Voltando ao ambiente externo com o qual a empresa dialoga, Baron (1995)

    complementa a anlise de foras proposta por Porter (1979) ao chamar a ateno

    para a importncia em incorporar o ambiente institucional como mais uma fora

    dentro do escopo de mapeamento e anlise das organizaes. Enquanto Porter

    (1979) se concentra no monitoramento do ambiente de mercado e nos

    relacionamentos econmicos entre os agentes da indstria para a formulao das

    estratgias corporativas, Baron (1995) enfatiza a necessidade de se considerar

    tambm as interaes da empresa com outros stakeholders (fora do ambiente de

    mercado) no pensamento estratgico da organizao (BARON, 1995).

    Segundo Baron (1995), o ambiente social, poltico e legal que circunscreve a

    indstria influencia o ambiente de mercado ao atuar na dinmica das cinco foras

    competitivas descritas por Porter (1979).

    Nesse sentido, preciso acompanhar e entender as presses por mudanas

    no ambiente institucional trazidas pelo governo e outros grupos de interesse tendo

    em vista consider-las no planejamento dos movimentos de crescimento da

    empresa. Baron (1995) sugere que muitas indstrias so reguladas pelo governo

    cujas decises exercem controle direto sobre as oportunidades de negcio da

    indstria. Logo, mudanas no ambiente nonmarket podem comprometer futuras

    oportunidades de crescimento ou simplesmente por fim explorao (exploitation)

    corrente de oportunidades. Baron (1995) sugere a integrao entre as estratgias

    dirigidas ao mercado e estratgias voltadas para influenciar o ambiente institucional

    em favor da organizao. Essa integrao significa que a formulao dos

    movimentos da empresa deve considerar a anlise conjunta do ambiente

    institucional e de mercado.

  • 24

    Figura 2-3: Integrao das estratgias de mercado e institucionais

    Fonte: Baron (1995)

    Oliver (1991) endossa a viso de Baron (1995) sobre o papel do ambiente

    nonmarket na trajetria das organizaes. A autora sugere que as escolhas das

    empresas no ambiente de mercado so limitadas pelas presses externas fora do

    ambiente de mercado, visto que essas duas instncias esto interconectadas

    (OLIVER, 1991). O prprio nvel de heterogeneidade e imobilidade dos recursos da

    empresa (BARNEY, 1991) e o desenvolvimento de competncias centrais

    (PRAHALAD; HAMEL, 1990) esto sob influncia do ambiente institucional na

    medida em que as foras institucionais atuantes podem facilitar (ou dificultar) o

    acesso a recursos e mercados pela prpria empresa e/ou por outros participantes

    (OLIVER, 1991)

    As empresas, independentemente da indstria, carecem de estabelecer

    legitimidade e estabilidade para perpetuar sua existncia (OLIVER, 1991). Mas

    alcan-las no significa necessariamente submeter-se s condies impostas pelas

    instituies pblicas, grupos de interesse ou opinio pblica. Principalmente porque

    muitas vezes as demandas e expectativas dos stakeholders externos ao ambiente

    de mercado so diferentes e incompatveis entre si (OLIVER, 1991). Para contornar

    esse tipo de dilema, Oliver (1991) sugere que a empresa deve organizar-se de forma

    consciente no sentido de buscar responder a esses anseios externos de forma

    participativa, costurando estratgias alternativas que equilibrem melhor os interesses

    da empresa com a conservao de sua legitimidade e estabilidade.

  • 25

    Oliver (1991) detalha o processo de definio de estratgias institucionais

    levantado por Baron (1995) ao propor cinco padres de resposta estratgica

    diferentes, que vo desde a aquiescncia plena da empresa s exigncias

    institucionais at a manipulao do ambiente institucional (nonmarket) de acordo

    com os interesses da firma (OLIVER, 1991). Dentro desse espectro de respostas, as

    organizaes devem adotar as estratgias exequveis mais condizentes com as

    estratgias de mercado e com o impacto das exigncias institucionais ao negcio.

    Strategies Tactics Example

    Habitat Following invisible, taken-for-granted norms

    Acquiesce Imitate Mimicking institutional models

    Comply Obeying rules and accepting norms

    Balance Balancing the expectations of multiple constituents

    Compromise Pacify Placating and accommodating institutional elements

    Bargain Negotiating with institutional stakeholders

    Conceal Disguising nonconformity

    Avoid Buffer Loosening institutional attachments

    Escape Changing goals, activities, or domains

    Dismiss Ignoring explicit norms and values

    Defy Challange Contesting rules and requirements

    Attack Assaulting the sources of institutional pressure

    Co-opt Importing influential constituents

    Manipulate Influence Shaping values and criteria

    Control Dominating institutional constituents and processes

    Strategic Responses to Institutional Processes

    Figura 2-4: Respostas estratgicas s presses institucionais

    Fonte: Oliver (1991)

    Fleck (2003), ao analisar a obra de Chandler (1977), The Visible Hand,

    identifica que a capacidade de crescimento de uma indstria um requisito para

    que o crescimento da firma ocorra (FLECK, 2003: 18). Nesse sentido, vislumbrar o

    ambiente de negcio somente pela tica da competio pode limitar o crescimento

    da indstria como um todo e, por sua vez, das empresas que operam nessa

    indstria.

  • 26

    A cooperao entre empresas pode ser uma alternativa para ampliar os limites

    correntes da indstria ao crescimento. Fleck (2003) sugere a identificao de

    possveis motores de coevoluo que ampliem a capacidade de crescimento da

    indstria como um todo, para, por sua vez, criar mais espao a fim de que os setores

    e empresas da indstria tambm cresam individualmente (FLECK, 2003). O

    esquema abaixo ilustra a interdependncia das partes (setores ou empresas) com o

    todo (indstria) no alargamento das fronteiras disponveis para o mercado crescer.

    Figura 2-5: Estrutura geral do motor de coevoluo do todo e partes

    Fonte: Fleck (2003, p. 19)

    2.2 SINTETIZANDO TEORIAS DE ESTRATGIA E CRESCIMENTO: OS

    ARQUTIPOS DE SUCESSO E FRACASSO ORGANIZACIONAL

    Com podemos observar, h mltiplas perspectivas a serem consideradas no

    esforo de analisar os fatores que influenciam o crescimento corporativo e a

    longevidade da organizao: motivos internos, oportunidades externas, recursos,

    ambiente de mercado, ambiente institucional, competncias internas, para citar

    alguns. Fleck (2009) procurou sintetizar as mltiplas dimenses e variveis

    subjacentes preservao da firma no longo prazo, conectando-as para nos auxiliar

    na compreenso de como as organizaes respondem aos cinco desafios do

    crescimento. A capacidade da organizao em responder de forma

    sistematicamente bem sucedida afeta diretamente as chances de a organizao

  • 27

    desfrutar de sucesso no longo prazo. O perfil de respostas, no decorrer do tempo,

    levam construo de dois tipos ideias de sucesso e fracasso organizacional: os

    arqutipos da autoperpetuao e autodestruio.

    A autora sugere que o sucesso organizacional um estado potencial para o

    qual se dirige a organizao, na medida em que esta cria condies para

    desenvolver uma propenso autoperpetuao (FLECK, 2009). A incapacidade de

    a empresa criar essas condies de forma continuada ao longo do tempo a conduz

    para o caminho oposto, isto , autodestruio (FLECK, 2009).

    Fleck (2009) aponta para os efeitos colaterais que os processos de

    crescimento podem gerar. Primordialmente aqueles empreendidos por presses

    ligadas ao alto custo fixo da empresa (FLECK, 2009). Segundo a autora,

    movimentos de expanso resultantes, principalmente, de presso por receitas para

    diluir custos fixos, podem levar a organizao a crescer sem ter desenvolvido outras

    condies necessrias, como a formao de gerentes para conduzir o processo, por

    exemplo. A carncia de recursos gerenciais termina por enfraquecer o nvel de

    coordenao das capacidades e atividades ligadas ao processo de expanso, alm

    de arriscar sobrecarregar de tarefas os gestores atuais e minar a cooperao entre

    departamentos (FLECK, 2009).

    A indivisibilidade dos recursos e o crescimento da experincia dos gestores cria

    excesso de servios produtivos que impulsionam a empresa a expandir sua atuao

    com o fito de utilizar essa sobra disponvel (PENROSE, 1959). E esse movimento

    cria novos excedentes que retroalimentam o mecanismo de crescimento

    empurrando a organizao nova expanso (PENROSE, 1959). A gesto eficiente

    dessa folga alimenta o processo de renovao e crescimento da empresa ao passo

    que contribui para evitar desgastes internos causados por carncia de oportunidades

    ou recursos que, no longo prazo, podem ameaar a integridade organizacional.

    A disponibilidade e gesto eficiente da folga (slack) organizacional, no sentido

    da criao e utilizao coordenada do excesso de recursos humanos, financeiros,

    acesso privilegiado, credibilidade, reputao e marcas, por exemplo, so

    indispensveis na formao de uma plataforma slida, a partir da qual as chances

    da empresa crescer sem fissuras internas maior.

    Por outro lado, Fleck (2009) sinaliza que a folga produzida pela empresa pode

    tornar-se desperdcio se favorecer a ineficincia ou pode estimular conflitos internos

  • 28

    por esses excessos. A organizao est exposta concorrncia interna pela folga,

    principalmente, se a cultura e sistemas de incentivos da organizao no estiverem

    estruturados para dissolver conflitos, ou se diferentes departamentos ou unidades de

    negcio no compartilharem o mesmo senso de propsito (FLECK, 2009).

    Segundo Fleck (2009), alm da gesto adequada da folga, a organizao

    precisa responder cinco desafios do crescimento para prosperar de forma

    consistente e continuada. A negligncia de qualquer um desses desafios ameaa a

    existncia da organizao no sentido de minar sua capacidade de autoperpetuao

    no longo prazo. A empresa precisa dedicar continuamente tempo e esforos para

    lidar com cada uma das dimenses desses desafios e com os efeitos inter-

    relacionados entre eles (FLECK, 2009).

    A seguir, organizamos na figura 2-6 os cinco desafios do crescimento:

    empreendedorismo, navegao no ambiente dinmico, gesto da diversidade,

    provisionamento de recursos humanos e gesto da complexidade. Alm da

    descrio de cada desafio, tambm so indicados os plos de resposta que

    conduzem a organizao ao sucesso organizacional de longo prazo ou ao fracasso

    organizacional:

  • 29

    Sucesso organizacional de

    longo prazo

    (Autoperpetuao)

    Fracasso organizacional

    (Autodestruio)

    Empreendedorismo

    Estimular o

    empreendedorismo

    atravs da promoo de

    iniciativas de expanso da

    empresa que criem valor

    de forma continuada e

    previnam a empresa da

    exposio excessiva ao

    risco.

    Baixo ou satisfatrio (baixo

    nvel de ambio,

    versatilidade, imaginao,

    viso, julgamento e de

    hailidade em levantar

    fundos, levando a

    movimentos motivados por

    estratgias defensivas e

    nulas).

    Alto (alto nvel de ambio,

    versatilidade, imaginao,

    viso, julgamento e de

    hailidade em levantar fundos,

    levando a movimentos

    motivados por estratgias

    produtivas e hbridas).

    Navegao no

    Ambiente Dinmico

    Relacionar-se

    adequadamente com os

    diversos stakeholders da

    empresa almejando

    assegurar captura de valor

    e legitimidade

    organizacional.

    Passiva (monitoramento

    incompleto e ineficiente do

    ambiente, utilizao

    anacrnica ou inadequada

    de estratgias de resposta:

    manipular, anuir

    comprometer-se, esquivar-

    se ou resistir).

    Ativa (monitoramento

    compreensivo e contnuo do

    ambiente, utilizao precisa e

    adequada de estratgias de

    resposta: manipular, anuir

    comprometer-se, esquivar-se

    ou resistir).

    Gesto da Diversidade

    Conservar a integridade da

    empresa face ao aumento

    de rivalidade interna e de

    conflitos organizacionais.

    Fragmentao

    (Incompetncia no

    desenvolvimento de

    relacionamentos coesos e na

    coordenao de

    capacitaes).

    Integrao (Competncia no

    desenvolvimento de

    relacionamentos coesos e na

    coordenao eficaz de

    capacitaes).

    Provisionamento de

    Recursos Humanos

    Abastecer continuamente a

    organizao com a

    quantidade necessria de

    recursos humanos

    qualificados.

    Tardio (contratao "just-in-

    time " ou depois de

    confirmada a carncia de

    pessoal).

    Antecipado (contratao de

    pessoal como parte do

    planejamento das aes da

    organizao).

    Gesto da

    Complexidade

    Gerenciar questes de alta

    complexidade e resolver

    problemas relacionados ao

    aumento de complexidade

    tendo em vista anular

    riscos a existncia da

    empresa.

    Ad hoc (capacidade de

    resoluo de problemas no

    sistematizada, voltada para

    buscas rpidas e simplistas

    por solues. Inibe o

    aprendizado e a criao de

    processos preventivos).

    Sistemtico (capacidade de

    resoluo de problemas

    baseada em buscas por

    solues abrangentes e de

    forma sistemtica. Fomenta o

    aprendizado e a criao de

    processos preventivos).

    Plos de Respostas ao Desafio

    Descrio do DesafioNatureza do Desafio

    Figura 2-6: Desafios do Crescimento

    Fonte: Fleck (2009)

  • 30

    2.2.1 Empreendedorismo

    O empreendedorismo deve ser observado como o primeiro desafio a ser

    enfrentado por qualquer organizao, visto que constitui a gnese de qualquer

    organizao. O primeiro passo de qualquer organizao nasce do mpeto de

    aventurar-se na formao de uma empresa. Fleck (2009) prope direcionarmos um

    olhar cuidadoso na compreenso dos elementos que forjam esse mpeto e na

    importncia da manuteno de altos nveis de empreendedorismo, em constante

    processo de renovao, ao longo da existncia da organizao.

    Nesse sentido Fleck (2009) associa os quatro servios empreendedores

    sugeridos por Penrose (1959) a dimenses que formam a capacidade

    empreendedora de uma organizao:

    Versatilidade: a capacidade imaginativa de o empreendedor vislumbrar

    novas possibilidades e formas inventivas e no usuais de fazer as coisas. a viso

    e criatividade, tanto para criar novas linhas de negcio quanto para aperfeioar ou

    defender as existentes.

    Habilidade para levantar fundos: trata-se da capacidade de conseguir

    captar recursos para financiar as ideias ligadas criao, expanso ou mudanas

    no negcio. A chave dessa competncia inspirar confiana e credibilidade

    suficiente junto s possveis fontes financiadoras.

    Ambio: a vontade intrnseca de evoluir, de melhorar, de alcanar um

    estgio superior quele em que se encontra atualmente o empreendedor. E esse

    lugar melhor pode traduzir-se, por exemplo, em ser lder de mercado (em

    qualidade, preo, tecnologia, convenincia, etc.), mais prestgio, mais

    reconhecimento, tornar-se referncia de alguma forma no mercado onde atua.

    Penrose (1959) destaca dois perfis principais de ambio: Product-minded e Empire-

    builders. Os primeiros esto voltados para desenvolver o negcio, a partir de suas

    competncias centrais (PRAHALAD; HAMEL, 1990), focados em crescer de forma

    relacionada ao negcio atual. Os segundos so empreendedores voltados para o

    crescimento da empresa em termos de tamanho, poder e/ou influncia. Os Empire-

    builders procuram aumentar sua extenso e/ou escopo atravs de aquisies ou

    eliminao da concorrncia. So normalmente agressivos e buscam continuamente

    alcanar uma posio de dominao no mercado (PENROSE, 1959).

  • 31

    Julgamento: a capacidade de o empreendedor julgar, sendo formada por

    dois vrtices: o temperamento pessoal do empreendedor e a capacidade de a

    organizao levantar e analisar informaes que apoiem a deciso empresarial. A

    primeira versa sobre a percepo individual acerca de risco e ousadia, enquanto a

    segunda consiste na estrutura interna da empresa para conseguir informaes em

    abundncia e qualidade suficientes para dimensionar corretamente possveis

    ganhos e riscos envolvidos nas decises sobre o negcio.

    A presena ou ausncia, em diferentes nveis, de cada uma das quatro

    camadas formadoras dos servios empreendedores determinar como sero

    explorados os diferentes recursos disponveis na IELB e, por sua vez, quais as

    oportunidades produtivas que ela est efetivamente apta a se apropriar com sucesso

    para crescer (PENROSE, 1959). O perfil dos servios empreendedores influenciar

    os motivos que levam ao crescimento, se sero expansivos, defensivos, hbridos ou

    nulos (CHANDLER, 1977; FLECK, 2009).

    Uma postura francamente expansiva frequentemente conduz a estratgias de

    crescimento produtivo. Quando estritamente defensiva, busca a adoo de

    estratgias no produtivas de crescimento (CHANDLER, 1977). A motivao hbrida

    combina expanso produtiva e defensiva, enquanto a expanso nula caracteriza-se

    por no ser nem expansiva nem defensiva (FLECK, 2009). Segundo Chandler

    (1977), estratgias produtivas valem-se da adio de uma ou mais unidades de

    algum tipo de recurso para aproveitar a capacidade latente de outro(s) recurso(s) e,

    com isso, obter ganhos de escala, escopo ou velocidade. Os ganhos obtidos nesse

    processo tendem, por sua vez, a criarem novos focos de ociosidade que terminam

    por motivar a adio de novas unidades de determinado(s) recurso(s), estimulando

    movimentos contnuos de crescimento (FLECK, 2009; PENROSE, 1959).

    Por outro lado, Chandler (1977) aponta que estratgias defensivas (ou no

    produtivas) normalmente so adotadas para reduzir o nvel de incerteza e proteger

    os negcios existentes. Movimentos de integrao vertical ou aquisio horizontal

    so tpicos exemplos de expanso defensiva voltada para criao de mecanismos

    de isolamento das presses competitivas externas (LEPAK; SMITH; TAYLOR,

    2007). O crescimento verificado nesses casos no o desdobramento da

    apropriao de uma nova oportunidade de gerar novos negcios, mas mera

  • 32

    consequncia da tentativa pela empresa de conservar sua posio e/ou

    rentabilidade dos negcios existentes sob seu domnio.

    O desafio do empreendedorismo consiste justamente em manter coeficientes

    adequados das quatro dimenses principais do empreendedorismo (versatilidade,

    ambio, levantamento de fundos e capacidade de julgamento) tendo vista fomentar

    a disposio para inovar, assumir riscos e crescer, mas sem prescindir de prudncia

    na identificao de alternativas de crescimento que no exponham a empresa a

    riscos excessivos (FLECK, 2010a). preciso equacionar inovao e explorao de

    possibilidades inditas de crescimento com a defesa dos negcios rentveis j

    estabelecidos, conjugando ousadia com avaliao exaustiva de riscos. Nesse

    sentido a organizao precisa valer-se de estratgias de expanso centradas no

    aperfeioamento das combinaes de recursos e habilidades j conhecidas e

    tambm na experimentao de novas combinaes entre recursos e habilidades

    novas e existentes (MARCH, 1991), a fim de desenvolver novas propostas de valor

    para o mesmo pblico ou para pblicos diferentes (ANSOFF, 1965).

    Restringir o foco da organizao a estratgias voltadas para o refinamento e

    extenso das competncias, tecnologias e paradigmas atuais, ou seja,

    simplesmente fazer mais do mesmo, pode resultar em obsolescncia e

    deteriorao do processo de criao de valor, ao longo do tempo, para os

    stakeholders (MARCH, 1993; FLECK, 2010a). Por outro lado, reduzir os esforos da

    organizao ao desenvolvimento de estratgias dedicadas explorao de novas

    competncias, tecnologias ou paradigmas pode acelerar demais a obsolescncia do

    negcio atual, tornando-o antecipadamente ultrapassado (MARCH, 1993; FLECK,

    2010a). Com isso, a organizao arrisca-se a degradar a capacidade de criao e

    captura de valor do negcio atual antes de conseguir desenvolver apropriadamente

    novas linhas de atuao que lhe afiancem capacidade de criao e captura de valor

    igual ou superior ao anterior (FLECK, 2010a).

  • 33

    2.2.2 Navegao no Ambiente Dinmico

    A organizao precisa enfrentar outras fontes de presso originadas por

    fatores externos ao mercado, ou seja, que no so mediadas por transaes

    comerciais (BARON, 1995). O desafio de navegao no ambiente consiste na

    habilidade de a organizao se articular com os demais stakeholders localizados

    fora do ambiente de mercado (FLECK, 2009), tais como o governo, as instituies

    pblicas, a mdia e a sociedade (BARON, 1995), tendo em vista manter a

    legitimidade da organizao para continuar atuando e capturar valor (LEPAK;

    SMITH; TAYLOR, 2007).

    O desafio da navegao busca influenciar o ambiente nonmarket na tentativa

    de criar mecanismos de isolamento (LEPAK; SMITH; TAYLOR, 2007) que permitam

    a organizao capturar valor (FLECK, 2009) e/ou ampliar as condies de criao

    de valor atravs de melhorias generalizadas dentro da indstria (BARON, 1995).

    Fleck (2009) aponta que fundamental sustentar a legitimidade da empresa para

    manter suas linhas de negcios, capturando valor de acordo com as estratgias de

    mercado definidas pela empresa.

    Fleck (2010a) sugere que a navegao se constitui de duas dimenses

    complementares: esquadrinhamento do ambiente e reao s presses e

    tendncias externas. O mapeamento minucioso reside no acompanhamento da

    evoluo no ambiente poltico, econmico, tecnolgico e social em busca de

    mudanas e tendncias que possam influenciar o curso da indstria (FLECK,

    2010a). O efeito das reaes s presses e tendncias externas depender do

    padro de resposta adotada pela organizao em relao s mudanas obervadas

    nos ambientes exgenos ao mercado. Respostas pr-ativas e temporalmente

    adequadas provam-se mais prsperas ao crescimento da empresa quando

    comparadas quelas meramente passivas ou defensivas (FLECK, 2010a).

    Nesse sentido, a IELB pode adotar estratgias de respostas ao ambiente, as

    quais oscilam desde a plena aquiescncia s presses institucionais de fora do

    ambiente de negcio at a manipulao e modelagem do ambiente nonmarketing

    em seu favor (OLIVER, 1991). A capacidade da IELB influenciar o ambiente de

    forma favorvel reside na combinao bem sucedida entre a abrangncia e preciso

  • 34

    no esquadrinhamento do ambiente externo com respostas antecipatrias da

    indstria s fontes de presso.

    A dificuldade constante de conseguir sustentar a legitimidade da empresa

    frente aos grupos de interesse fora do mercado e/ou sucessivas falhas nas

    tentativas de influenciar positivamente as instncias governamentais em favor da

    empresa podem impedir a organizao de capturar valor no longo prazo (FLECK,

    2009). A inabilidade de a IELB reter continuamente o valor que ela mesma cria,

    atravs de seus recursos e servios empreendedores, coloca risco sua capacidade

    de se sustentar financeiramente e continuar criando valor, ameaando assim sua

    existncia.

    2.2.3 Diversidade

    medida que a organizao cresce e se desenvolve, amplia-se tambm sua

    diversidade interna. normal que empresas com forte presena de servios

    empreendedores inovem continuamente em novos produtos e mercados,

    aumentando a heterogeneidade de processos, recursos e conhecimento (FLECK,

    2009). Com isso, torna-se cada vez mais importante para a empresa fazer com que

    suas capacidades gerenciais acompanhem o ritmo de aumento na diversidade de

    funcionrios, processos, fornecedores, sistemas, de produtos, stakeholders, etc. a

    fim de conservar a empresa coesa e com senso de propsito (FLECK, 2009).

    Nesse sentido, Chandler (1977) e Penrose (1959) reafirmam a necessidade de

    recursos gerenciais para conectar as diferentes arestas da empresa e mant-las

    coesas. Segundo Fleck (2009), a gesto eficiente da diversidade passa pela

    habilidade de a empresa em conseguir conectar no apenas aspectos tangveis,

    mas manter os intangveis como reputao organizacional, mitos e percepes

    perpassando toda a organizao.

    Como vimos anteriormente, a heterogeneidade e imobilidade dos recursos so

    fundamentais para o desenvolvimento de vantagens competitivas (BARNEY, 1991).

    Logo, a organizao no deve evitar a diversidade, mas apenas buscar controlar

    seus efeitos colaterais, sem anular a particularidade de cada recurso ou processo

  • 35

    que possa conferir organizao mecanismos de isolamento da concorrncia ou de

    outras ameaas (LEPAK; SMITH; TAYLOR, 2007).

    A aquisio ou fuso de empresas so exemplos particulares de como a

    diversidade pode aumentar repentinamente, criando conflitos relacionados

    integrao de diferentes culturas, sistemas, mitos, alm de envolver a demisso em

    reas duplicadas. Esse tipo de contexto ameaa a criao de ilhas dentro da

    empresa, ou seja, reas ou departamentos que no se comunicam e atuam de

    forma autnoma e muitas vezes no alinhada. Esse tipo de diviso interna subutiliza

    a heterogeneidade dos recursos, estimula a concorrncia interna entre

    departamentos e cria barreiras cooperao, emperrando a movimentao da

    empresa como um corpo coeso.

    A empresa deve buscar desenvolver mecanismos de coordenao, como

    canais de comunicao, foras tarefa e reunies de alinhamento que integrem

    gestores e departamentos (FLECK, 2009). Obter sucesso na explorao de suas

    capacidades e possibilidades internas reside tambm na habilidade de a

    organizao evitar conflitos internos, bem como a formao de grupos isolados que

    minem a cooperao interna e a disposio em participar dos projetos e movimentos

    importantes para o desenvolvimento da empresa (FLECK, 2009). preciso manter a

    inteligncia e a qualidade com que a organizao concatena recursos para criar

    valor na medida em que a empresa cresce e se torna mais propensa a se

    fragmentar. O desafio da diversidade compreende a capacidade de construir

    respostas integradas, buscando manter a unidade da empresa frente presso

    crescente de fragmentao interna.

    O crescimento da IELB entre 1808 e 2012 proporcionou o aumento da

    diversidade, como veremos adiante, em funo de novas tecnologias, perfis de

    livrarias, editoras e tipos de ttulos lanados anualmente. Essa ampliao da

    diversidade tem impactos no nvel de competio e no relacionamento entre os

    participantes da IELB.

  • 36

    2.2.4 Provisionamento de Recursos Humanos

    Penrose (1959) afirma que os servios produtivos disponveis nos recursos da

    organizao esto positivamente correlacionados ao nvel de conhecimento da

    empresa. Quanto maior o conhecimento das propriedades dos recursos, formas de

    utilizao e combinao com outros recursos, maiores sero as possibilidades de

    uso desses recursos que, por sua vez, mais valiosos se tornam (PENROSE, 1959).

    E esse conhecimento encontra-se primordialmente nos recursos humanos da

    empresa (PENROSE, 1959). Logo, o nvel de capacitao e a heterogeneidade do

    quadro de funcionrios da empresa influencia diretamente a capacidade de a

    organizao extrair servios produtivos dos demais recursos fsicos e tecnolgicos

    sua disposio. Com isso, a criao de valor pela organizao est diretamente

    ligada sua competncia para identificar e recrutar talentos.

    Por outro lado, Penrose (1959) aponta que a principal restrio ao crescimento

    de qualquer empresa a limitao do corpo gerencial atual da empresa. A autora

    afirma que a simples expanso no quadro de gestores, atravs do recrutamento de

    pessoas fora da organizao, no soluciona a carncia de servios gerenciais

    necessrios ao crescimento. Isso ocorre porque a capacidade de oferecer servios

    gerenciais tambm decorre da experincia e conhecimento do modus operandi da

    organizao e do entrosamento construdo ao longo do tempo (PENROSE, 1959).

    O desafio de provisionar recursos humanos justamente manter a empresa

    abastecida de funcionrios cujas habilidades sejam complementares e valiosas no

    sentido de contribuir efetivamente no processo de criao e captura de valor pela

    empresa (FLECK, 2009). Isso significa observar o tempo necessrio formao

    profissional de cada tipo de recurso que a empresa pretende adicionar ou substituir.

    Logo, promoes internas precisam ser planejadas no sentido de preparar os novos

    profissionais com os requisitos necessrios ao exerccio daquela nova funo. Por

    outro lado, novos profissionais contratados precisam receber formao adequada

    em termos de treinamento e capacitao. Com isso, a organizao cria condies

    internas para sua prpria expanso.

    preciso dimensionar tanto a variedade no perfil de funcionrios quanto a

    quantidade, visto que um quadro superdimensionado promove ineficincias ao

    passo que uma estrutura funcional subdimensionada fomenta estresse excessivo e

  • 37

    compromete a qualidade do trabalho (FLECK, 2010a). Fleck (2010a) tambm aponta

    que atribuir atividades pouco desafiantes a funcionrios muito qualificados pode

    trazer frustraes e desestimular o engajamento na empresa. Por outro lado, delegar

    tarefas acima da capacidade de determinado funcionrio pode criar os mesmos

    efeitos, alm de colocar em risco a qualidade da execuo das tarefas que lhe so

    atribudas (FLECK, 2010a).

    Logo, preciso mapear continuamente as necessidades de recursos humanos

    da empresa tendo em vista realocar, reter, formar ou contratar novos funcionrios

    cujas habilidades e/ou experincia estejam adequadas s suas respectivas funes

    e que, ao mesmo tempo, contribuam para o desenvolvimento de competncias

    novas ou atuais dentro da organizao (FLECK, 2009).

    As ambies e anseios profissionais dos funcionrios tambm exigem que a

    organizao atente para conciliao das demandas internas da empresa por

    servios tcnicos e gerenciais com as perspectivas de crescimento e carreira dos

    funcionrios. A incapacidade de a empresa atrair, formar, reter e direcionar talentos,

    no tempo adequado, pode comprometer a disponibilidade de recursos tcnicos e

    gerenciais, fundamentais para a continuidade da organizao no longo prazo

    (FLECK, 2009).

    Conforme aponta Fleck (2010a), equacionar a adequao entre prazo de

    formao de gerentes e as necessidades da empresa, a alocao adequada dos

    funcionrios, de acordo com suas qualificaes, e a gesto das ambies pessoais

    mostra-se uma tarefa contnua e complexa, mas ao mesmo tempo fundamental para

    a integridade organizacional no longo prazo.

    2.2.5 Complexidade

    O desafio da complexidade est diretamente relacionado capacidade da

    organizao resolver questes que envolvam muitos processos e variveis

    interdependentes (FLECK, 2009). Essa interdependncia entre diferentes elementos

    exige maior esforo das organizaes para compreender e avaliar corretamente as

    dificuldades que emergem, e como enfrent-las eficazmente. A capacidade de

  • 38

    julgamento da organizao diretamente influenciada pelo nvel de complexidade

    ao qual a empresa est exposta.

    Dessa forma, o desafio da complexidade afeta diretamente a competncia da

    organizao em responder a todos os demais desafios do crescimento.

    O aumento da complexidade acontece a partir de mudanas internas ou

    externas organizao. Essas transformaes podem ampliar a complexidade de

    pelo menos duas formas. A primeira consiste no aumento da quantidade de

    conexes que a empresa precisa considerar para conduzir seu negcio. A outra

    forma o aumento da velocidade de resposta exigido por essas conexes.

    De forma geral, o crescimento da empresa normalmente resulta em algum nvel

    de aumento na complexidade. Isso ocorre, porque quando uma organizao cresce,

    muitas vezes termina por atrair outros competidores. O crescimento tambm resulta

    muitas vezes na ampliao de clientes e de fornecedores com quem a empresa se

    relaciona. Internamente, o crescimento pode levar ao aumento na quantidade e

    heterogeneidade dos recursos internos, na criao de novas unidades de negcio,

    de novos departamentos, de novos processos, etc.

    O tipo de crescimento (FLECK, 2000) que a organizao experimenta

    influencia nessas duas formas principais de ampliao da complexidade (quantidade

    de conexes e velocidade dessas conexes). O crescimento inercial, por exemplo,

    no promove mudanas significativas no nvel de complexidade da empresa, uma

    vez que consiste apenas na replicao de processos e produtos j estabelecidos

    (FLECK, 2000). Por outro lado, o crescimento dialtico pode levar a organizao

    diversificao de seus mercados, ao uso de novas tecnologias e/ou adoo de

    novos processos que, por sua vez, podem exigir maior quantidade de informaes e

    prazo mais curto para tomadas de deciso pela organizao.

    A dificuldade da organizao em responder ao desafio da complexidade

    tambm interfere nas dinmicas de crescimento (FLECK, 2000) que a empresa vai

    experimentar. Respostas ad hoc, baseadas em pouca informao e anlises mais

    estruturadas da dinmica interna e externa organizao, podem conduzi-la a tentar

    reduzir seu nvel de complexidade pela adoo de decises simplistas. Continuar

    fazendo mais do mesmo, ou restringir seu relacionamento a poucos fornecedores

    (ou compradores) pode no ser uma resposta saudvel que aumente as chances de

    sucesso da organizao no longo prazo.

  • 39

    Mudanas no ambiente institucional tambm podem aumentar a complexidade

    para a organizao. A criao de novas instncias do governo ou da sociedade, com

    as quais a organizao precisa se relacionar e prestar contas de suas atividades,

    tambm pode mudar o nvel de complexidade para a organizao. A promulgao

    de novas leis que mudam ou aumentam as exigncias (compliance) legais e

    regulatrias, acerca das atividades da organizao, tambm pode elevar

    significativamente a complexidade enfrentada pela organizao.

    Nesse sentido, Fleck (2009) sugere que preciso estabelecer processos

    sistemticos de coleta de informaes, anlise, deciso e implementao das

    decises tomadas. A resoluo de problemas precisa ser baseada em processos de

    aprendizado, com buscas abrangentes por solues criativas que favoream a

    capacidade de resposta aos outros desafios (FLECK, 2009).

    A complexidade tem papel central no desenvolvimento da IELB, na sua

    capacidade de criao de valor e nas dinmicas de crescimento (FLECK, 2000) que

    ela experimentou ao longo dos anos.

    2.2.6 Modelo para o desenvolvimento de propenso autoperpetuao

    organizacional

    Esses desafios esto interconectados entre si e operam como engrenagens

    que movimentam a empresa no sentido da autoperpetuao ou da autodestruio.

    Na figura 2-7, Fleck (2009) organizou as principais inter-relaes entre os desafios,

    na forma de condies necessrias conduo da empresa ao sucesso de longo

    prazo e ao desenvolvimento de propenso autoperpetuao. O sucesso de longo

    prazo est diretamente ligado capacidade da organizao em estabelecer

    processos de crescimento e renovao que preservem a integridade organizacional.

    Para a IELB, o sucesso de longo prazo significa expandir-se na velocidade

    permitida pela disponibilidade de recursos financeiros, operacionais e gerenciais.

    Mas, alm de observar o limite dos recursos acessveis IELB, preciso tambm

    monitorar a emergncia de traos de crescimento no saudvel que possam

    comprometer seu desenvolvimento de propenso autoperpetuao .

  • 40

    Figura 2-7: Modelo com os requisitos para o desenvolvimento da propenso

    autoperpetuao organizacional

    Fonte: Fleck (2009)

    Ao analisarmos a IELB verificamos a existncia de novos caminhos para o

    crescimento e renovao ao longo de sua histria, proporcionados por alguns

    fatores que abordaremos adiante. Porm, resta compreender se as respostas da

    IELB aos desafios do crescimento favorecem a criao de bases sustentveis as

    quais no ameaam sua integridade no longo prazo.

  • 41

    3 MTODO

    Segundo Fleck (2010c), o processo de pesquisa formado por quatro pilares:

    pergunta de pesquisa, referencial terico, objeto de pesquisa e mtodo.

    O primeiro passo na construo deste trabalho foi a escolha do objeto a ser

    pesquisado, isto , a indstria editorial brasileira de livros (IELB). Em seguida,

    procedeu-se com a demarcao do perodo da histria da IELB a ser analisado,

    definindo-se o intervalo entre 1808 e 2012.

    O terceiro passo foi identificar que tipo de arcabouo terico poderia nos

    auxiliar na identificao de conexes e pontos relevantes na histria da IELB que

    pudessem efetivamente contribuir para a compreenso do seu processo de

    crescimento. Nesse sentido, selecionamos o modelo terico dos arqutipos de

    fracasso e sucesso organizacional desenvolvido por Fleck (2009) como eixo central

    de anlise. Outras teorias ligadas ao campo do crescimento e estratgia

    empresariais tambm foram empregadas com o objetivo de complementar a anlise.

    A partir da anlise dos fatos e evidncias coletados e analisados luz do

    modelo dos arqutipos de fracasso e sucesso organizacional, pudemos finalmente

    formular a pergunta a partir dos insights e descobertas mais interessantes da

    pesquisa:

    Em que medida a IELB desenvolveu traos de crescimento saudvel ao longo

    de sua existncia?

    Para respondermos a esta pergunta, foi preciso responder primeiro a outras

    trs perguntas secundrias:

    1. Que fatores tm limitado e/ou propelido o crescimento da IELB ao longo de

    sua existncia?

    2. Que tipo de crescimento tem a IELB experimentado ao longo de sua

    existncia?

    3. De que maneira tem a IELB respondido aos desafios do crescimento ao

    longo de sua existncia?

  • 42

    3.1 COLETA DE DADOS

    A estrutura da pesquisa foi organizada em duas etapas chaves: coleta e

    anlise dos dados.

    O perodo de anlise escolhido para esta pesquisa englobou a histria da IELB

    de 1808 at 2012. A amplitude do intervalo de tempo escolhido e a relativa carncia

    de dados sobre as organizaes que participaram da IELB nesse perodo foram o

    primeiro desafio desta pesquisa. A abrangncia exigiu que recorrssemos a diversas

    fontes de informao para assegurar que a quantidade e a qualidade de evidncias

    coletadas seriam suficientes para garantir a consistncia da anlise.

    Dessa forma, as fontes consultadas foram:

    Livros, pesquisas acadmicas e artigos com fatos e dados da histria

    da IELB no perodo analisado.

    Arquivo histrico digitalizado do jornal O Estado de So Paulo entre

    1875 e 2012.

    Relatrios setoriais divulgados por entidades representativas das

    organizaes que atuam na IELB.

    Reportagens e matrias sobre a IELB disponibilizadas por outros

    peridicos na rede mundial de computadores.

    Entrevistas em profundidade com diversos participantes da IELB.

    As diferentes fontes de fatos e evidncias foram organizadas em dois grupos:

    arquivo histrico (englobando as trs primeiras fontes listadas acima) e entrevistas.

    Para facilitar a organizao das informaes coletadas adotou-se a estratgia

    de temporal bracketing (LANGLEY, 1999), isto , a diviso do tempo em fases para

    direcionar a coleta e, principalmente, facilitar a anlise dos dados. Assim, a histria

    da IELB foi dividida em quatro fases (ou perodos): 1 fase (1808 1920), 2 fase

    (1920 1960), 3 fase (1960 1990) e 4 fase (1990 2012). A escolha dos

    intervalos de cada perodo foi baseada na similaridade de caractersticas,

    acontecimentos e mudanas que marcaram o processo de crescimento da IELB em

    cada um desses perodos.

  • 43

    3.1.1 Arquivo histrico

    Todos os livros empregados na pesquisa foram adquiridos, tendo em vista a

    necessidade de recorrer-se constantemente a eles ao longo de todo o processo de

    pesquisa. Esses livros tambm foram importantes para aprofundar o tema e

    conhecer melhor o funcionamento da IELB.

    Parte desses livros foi importante apenas no processo de familiarizao com

    o tema. Mas outra parte constituiu a principal fonte de informao da categoria

    arquivo histrico, contribuindo com dados e fatos valiosos para a anlise. Os ttulos

    mais importantes para o levantamento de evidncias desta pesquisa esto listados

    na figura 3-1, logo abaixo.

    Fase da IELB Ttulo

    Todas as fasesABREU, M; BRAGANA, A. (Org). Impresso no Brasil: Dois sculos de

    livros brasileiros. So Paulo: Editora Unesp, 2010.

    2 e 3 faseANDRADE, O. S. O livro brasileiro, progressos e problemas (1920-1971).

    Rio de Janeiro: Paralelo; INL/MEC, 1974.

    1, 2 e 3 fase HALLEWELL, L. O livro no Brasil: sua histria. So Paulo: Edusp, 1985.

    Todas as fases PAIXO, F. (Ed.). Momentos do livro no Brasil. So Paulo: tica, 1998.

    2 faseREIMO, S. Mercado Editorial Brasileiro (1960 1990). So Paulo: Com-

    Arte, Fapesp, 1996.

    4 faseS EARP, F. ; JORNIS, G. A economia da cadeia produtiva do livro. Rio de

    Janeiro: BNDES, 2005.

    Figura 3-1: Principais livros utilizados na pesquisa

    Alm dos livros, a pesquisa sobre a histria da IELB tambm recorreu ao

    levantamento de fatos e dados em teses e dissertaes. Essa pesquisa revelou que

    existem poucos trabalhos acadmicos abordando a IELB dentro da rea de

    Administrao. Isso nos levou a ampliar a busca para outros campos de estudo,

    principalmente nas reas de Comunicao Social e Literatura. A maior parte dessas

    teses foi acessada atravs da rede mundial de computadores, pelo banco de teses

    virtual das principais universidades brasileiras.

  • 44

    Ao longo dessa pesquisa tambm foram considerados artigos acadmicos

    publicados em congressos, ou peridicos, normalmente ligados s reas de

    Comunicao Social e Literatura.

    Em seguida, foi realizada uma busca sistemtica no arquivo digital do jornal O

    Estado de So Paulo sobre matrias e artigos publicados entre 1875 e 2013

    referindo-se IELB. O objetivo da pesquisa no acervo desse jornal foi encontrar

    matrias que abordassem a IELB pela perspectiva econmica, isto , sob uma viso

    dos aspectos ligados ao negcio do livro. Entre as centenas de matrias e artigos

    encontrados foram selecionados 127 para anlise. Essa seleo baseou-se na

    relevncia dos fatos e dados apresentados nessas matrias e artigos para a

    compreenso da histria da IELB. Todas as matrias empregadas na anlise esto

    listadas separadamente ao final deste trabalho, na seo referncias.

    Tema da Matria Agente Ano Fonte Link

    Fala como triste considerar que o

    Brasil ainda no fabriaca papel

    sendo imenso o consumo

    alimentado pela importao de

    papel importado.

    Papel 1878

    O ESTADO DE S. PAULO:

    PGINAS DA EDIO DE 25 DE

    MAIO DE 1878 - PAG. 999

    http://acervo.estadao.com.br

    /pagina/#!/18780525-978-nac-

    2-999-2-

    not/busca/fabrica+papel

    Fbrica de papel I Papel 1880

    O ESTADO DE S. PAULO:

    PGINAS DA EDIO DE 23 DE

    SETEMBRO DE 1880 - PAG. 1

    http://acervo.estadao.com.br

    /pagina/#!/18800923-1672-

    nac-0001-999-1-

    not/tela/fullscreen

    Fbrica de papel II Papel 1880O ESTADO DE S. PAULO:

    PGINAS DA EDIO DE 26 DE

    SETEMBRO DE 1880 - PAG. 1

    http://acervo.estadao.com.br

    /pagina/#!/18800926-1675-

    nac-0001-999-1-

    not/tela/fullscreen

    Figura 3-2: Tabela com as matrias do jornal O Estado de So Paulo selecionadas para a etapa

    de anlise

    Por fim, foram consultados os relatrios setoriais organizados pelas principais

    entidades de classe da IELB (SNEL, CBL, ANL e Abrigraf), os sites com informaes

    macroeconmicas do Ipeadata e do IBGE e outros sites para complementar a coleta

    de dados realizada para esta pesquisa.

  • 45

    3.1.2 Entrevistas

    As entrevistas em profundidade foram a principal fonte de dados sobre a 4

    fase da IELB e foram realizadas com profissionais que atuam em diferentes

    atividades. Procurou-se diversificar os tipos de profissionais por setor e empresa,

    tencionando proporcionar uma gama mais consistente de perspectivas sobre as

    questes chaves relacionadas IELB. O desafio aqui foi encontrar candidatos dos

    diferentes setores que formam a cadeia produtiva da IELB. Foram realizadas um

    total de 41 entrevistas com autores, editoras, livrarias, agentes literrios, grficas e

    distribuidores. A lista com perfil dos entrevistados pode ser observada na figura 3-3.

  • 46

    Entrevistado Entrevistado Setor Cargo Durao Data

    Anbal Bragana 1 AUTOR N/A 01:14 22/05/2012

    Eduardo Salomo 2 EDITORA Proprietrio 01:42 11/07/2012

    Marcos Alvito 3 AUTOR N/A 01:40 01/08/2012

    Julio Ludemir 4 AUTOR N/A 02:43 13/08/2012

    Angela Dutra 5 AUTOR N/A 01:05 13/08/2012

    Lucio Pompeu 6 EDITORA Diretor de operaes 02:15 29/08/2012

    Mariana Zahar 7 EDITORA Proprietrio 01:46 31/08/2012

    Alice 8 AUTOR N/A 00:48 12/09/2012

    Antonio Arajo 9 EDITORA Diretor executivo 01:49 13/09/2012

    Ivan Santanna 10 AUTOR N/A 03:13 17/09/2012

    Ana 11 Coordenador editorial

    Juliana 12 Coordenador editorial

    Herlon Pinheiro 13 EDITORA Gerente comercial 02:15 20/09/2012

    Valria Martins 14 AGENTE LITERRIO Proprietrio 00:52 25/09/2012

    Joo 15 Coordenador editorial

    Theobaldo 16 Gerente comercial

    Cludio Marques 17 EDITORA Diretor comercial 02:33 08/10/2012

    Mauro 18 GRFICO Diretor executivo 00:45 11/10/2012

    Milena 19 LIVRARIA Proprietrio 01:09 23/10/2012

    Milena 20 LIVRARIA Proprietrio 01:31 27/10/2012

    Bruno 21 GRFICO Gerente de operaes 03:04 30/10/2012

    Renato Bastos 22 EDITORA Gerente comercial 01:47 30/10/2012

    Anton