cpv conquistou 323 vagas insper 2011 prova esolvida insper...

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1 CPV INSPERJUN2012 ANÁLISE VERBAL Utilize o texto abaixo para responder aos testes 01 a 05. Quem ri por último ri Millôr Eu tinha 15 anos, havia tomado bomba, era virgem e não via, diante da minha incompetência para com o sexo oposto, a mais remota possibilidade de reverter a situação. Em algum momento entre a oitava série e o primeiro colegial, todos os meus colegas haviam adotado roupas diferentes, gírias, trejeitos ao falar e ao gesticular, mas eu continuava igual — era como se houvesse faltado na aula em que os estilos foram distribuídos e estivesse condenado a viver para sempre numa espécie de limbo social, feito de incertezas, celibato e moletom. O mundo, antes um lugar com regras claras e uma razoável meritocracia, havia perdido o sentido: os bons meninos não ganhavam uma coroa de louros — nem ao menos, vá lá, uma loura coroa —, era preciso acordar às 6h15 para estudar química orgânica e os adultos ainda queriam me convencer de que aquela era a melhor fase da vida. Claro, observando-os, era óbvia a razão da nostalgia: seres de calças bege e pager no cinto, que gastavam seus dias em papinhos de elevador, sem ambições maiores do que um carro novo, um requeijão com menos colesterol, o nome na moldura de funcionário do mês e ingressos para o Holiday on Ice no fim de semana. Em busca de algum consolo, me esforçava para bater o recorde jamaicano de consumo de maconha, mas, em vez de ter abertas as portas da percepção — ou o que quer que fizesse com que meus amigos se divertissem e passassem meia hora rachando o bico, sei lá, de um amendoim —, só via ainda mais escancaradas as portas da minha inadequação. Foi então, meus caros, que eu vi a luz — e a luz veio na forma de um livro; "Trinta anos de mim mesmo", do Millôr Fernandes. A primeira página que eu abri trazia um quadrado em branco, com a seguinte legenda: "Uma gaivota branca, trepada sobre um iglu branco, em cima de um monte branco. No céu, nuvens brancas esvoaçam e à direita aparecem duas árvores brancas com as flores brancas da primavera". Logo adiante estava "O abridor de latas", "Pela primeira vez no Brasil um conto inteiramente em câmera lenta" — narrando um piquenique de tartarugas que durava uns 1.500 anos. Mais pra frente, esta quadra: "Essa pressa leviana/ Demonstra o incompetente/ Por que fazer o mundo em sete dias/ Se tinha a eternidade pela frente?". Lendo aquelas páginas, que reuniam o trabalho jornalístico do Millôr entre 1943 e 1973, compreendi que não estava sozinho em meu estranhamento: a vida era mesmo absurda, mas a resposta mais lógica para a falta de sentido não era o desespero, e sim o riso. Percebi, como se não bastasse, que se agregasse alguma graça aos meus resmungos poderia fazer daquele incômodo uma profissão. Dos 19 anos até hoje, jamais paguei uma conta de luz de outra forma. Uma pena nunca ter conhecido o Millôr pessoalmente, não ter podido apertar sua mão e agradecer-lhe por haver me sussurrado ao ouvido, quando eu mais precisava escutar, a única verdade que há debaixo do céu: se Deus não existe, então tudo é divertido. Antonio Prata, Folha de S. Paulo, 04/04/2012 01. Para homenagear Millôr Fernandes, falecido em março de 2012, Antonio Prata faz um relato pessoal que revela a influência do escritor em sua vida. Levando em conta as informações apresentadas no texto, é correto afirmar que o autor a) considerava-se, quando adolescente, incompreendido por se julgar superior aos colegas de escola, cujos interesses eram fúteis. b) admite que sua experiência com drogas, aos 15 anos, foi uma forma de reagir contra a opressão que sofria de sua família. c) reconhecia a razão pela qual os adultos, a quem ele se refere como seres de calça bege e pager no cinto, idealizavam a adolescência. d) cria, no título, um trocadilho com o ditado popular para reforçar a ideia de que o humor representa a cura para os males da sociedade. e) conclui que sua busca pela felicidade somente se concretizou quando resolveu seus conflitos religiosos. Resolução: A alternativa C está contemplada no seguinte trecho: ...adultos ainda queriam me convencer de que aquela era a melhor fase da vida. Claro, observando-os, era óbvia a razão da nostalgia: seres de calças bege e pager no cinto, que gastavam seus dias em papinhos de elevador, sem ambições maiores do que um carro novo..... Alternativa C CPV CONQUISTOU 323 VAGAS NO INSPER EM 2011 PROVA RESOLVIDA INSPER 10/ JUNHO/2012 – PROVA A

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  • 1CPV insperJUn2012

    ANLISE VERBAL

    Utilize o texto abaixo para responder aos testes 01 a 05.Quem ri por ltimo ri Millr

    Eu tinha 15 anos, havia tomado bomba, era virgem e no via, diante da minha incompetncia para com o sexo oposto, a mais remota possibilidade de reverter a situao.

    Em algum momento entre a oitava srie e o primeiro colegial, todos os meus colegas haviam adotado roupas diferentes, grias, trejeitos ao falar e ao gesticular, mas eu continuava igual era como se houvesse faltado na aula em que os estilos foram distribudos e estivesse condenado a viver para sempre numa espcie de limbo social, feito de incertezas, celibato e moletom.

    O mundo, antes um lugar com regras claras e uma razovel meritocracia, havia perdido o sentido: os bons meninos no ganhavam uma coroa de louros nem ao menos, v l, uma loura coroa , era preciso acordar s 6h15 para estudar qumica orgnica e os adultos ainda queriam me convencer de que aquela era a melhor fase da vida.

    Claro, observando-os, era bvia a razo da nostalgia: seres de calas bege e pager no cinto, que gastavam seus dias em papinhos de elevador, sem ambies maiores do que um carro novo, um requeijo com menos colesterol, o nome na moldura de funcionrio do ms e ingressos para o Holiday on Ice no fim de semana.

    Em busca de algum consolo, me esforava para bater o recorde jamaicano de consumo de maconha, mas, em vez de ter abertas as portas da percepo ou o que quer que fizesse com que meus amigos se divertissem e passassem meia hora rachando o bico, sei l, de um amendoim , s via ainda mais escancaradas as portas da minha inadequao. Foi ento, meus caros, que eu vi a luz e a luz veio na forma de um livro; "Trinta anos de mim mesmo", do Millr Fernandes.

    A primeira pgina que eu abri trazia um quadrado em branco, com a seguinte legenda: "Uma gaivota branca, trepada sobre um iglu branco, em cima de um monte branco. No cu, nuvens brancas esvoaam e direita aparecem duas rvores brancas com as flores brancas da primavera". Logo adiante estava "O abridor de latas", "Pela primeira vez no Brasil um conto inteiramente em cmera lenta" narrando um piquenique de tartarugas que durava uns 1.500 anos. Mais pra frente, esta quadra: "Essa pressa leviana/ Demonstra o incompetente/ Por que fazer o mundo em sete dias/ Se tinha a eternidade pela frente?".

    Lendo aquelas pginas, que reuniam o trabalho jornalstico do Millr entre 1943 e 1973, compreendi que no estava sozinho em meu estranhamento: a vida era mesmo absurda, mas a resposta mais lgica para a falta de sentido no era o desespero, e sim o riso. Percebi, como se no bastasse, que se agregasse alguma graa aos meus resmungos poderia fazer daquele incmodo uma profisso. Dos 19 anos at hoje, jamais paguei uma conta de luz de outra forma.

    Uma pena nunca ter conhecido o Millr pessoalmente, no ter podido apertar sua mo e agradecer-lhe por haver me sussurrado ao ouvido, quando eu mais precisava escutar, a nica verdade que h debaixo do cu: se Deus no existe, ento tudo divertido.

    Antonio Prata, Folha de S. Paulo, 04/04/2012

    01. Para homenagear Millr Fernandes, falecido em maro de 2012, Antonio Prata faz um relato pessoal que revela a influncia do escritor em sua vida. Levando em conta as informaes apresentadas no texto, correto afirmar que o autor

    a) considerava-se, quando adolescente, incompreendido por se julgar superior aos colegas de escola, cujos interesses eram fteis.

    b) admite que sua experincia com drogas, aos 15 anos, foi uma forma de reagir contra a opresso que sofria de sua famlia.

    c) reconhecia a razo pela qual os adultos, a quem ele se refere como seres de cala bege e pager no cinto, idealizavam a adolescncia.

    d) cria, no ttulo, um trocadilho com o ditado popular para reforar a ideia de que o humor representa a cura para os males da sociedade.

    e) conclui que sua busca pela felicidade somente se concretizou quando resolveu seus conflitos religiosos.

    Resoluo:

    A alternativa C est contemplada no seguinte trecho: ...adultos ainda queriam me convencer de que aquela era a melhor fase da vida.

    Claro, observando-os, era bvia a razo da nostalgia: seres de calas bege e pager no cinto, que gastavam seus dias em papinhos de elevador, sem ambies maiores do que um carro novo.....

    Alternativa C

    CPV conquistou 323 vagas no INSPER em 2011Prova resolvida INSPER 10/junho/2012 Prova a

  • insper 10/06/2012 Seu P Direito naS MelhoreS FaculDaDeS2

    CPV insperJUn2012

    02. Em condenado a viver para sempre numa espcie de limbo social, feito de incertezas, celibato e moletom, o autor recorre a uma construo para produzir efeito de humor, explicada adequadamente na alternativa:

    a) Trata-se da ambiguidade intencional, atravs da dupla possibilidade de interpretao do substantivo celibato.

    b) Fazendo uma comparao subentendida entre dois elementos que no pertencem mesma categoria relacionamento interpessoal e religiosidade , o autor recorre a uma metfora.

    c) O perodo apresenta como estratgia textual o emprego do anacoluto para produzir uma ruptura de natureza sinttica.

    d) O autor explora efeitos estticos a partir da enumerao que une palavras de universos diferentes (substantivos abstratos seguidos de um concreto), produzindo a quebra do paralelismo semntico.

    e) O jogo de palavras feito por meio da atenuao de pensamento, para significar mais do que o que se diz e sugeri-lo assim mais intensamente.

    Resoluo:

    No excerto, h uma enumerao de trs substantivos: os dois primeiros so abstratos (limbo e celibato) e o ltimo, concreto (moletom). Tal procedimento denominado quebra de paralelismo semntico.

    Alternativa D

    03. Embora se utilize de um registro lingustico coloquial na passagem se divertissem e passassem meia hora rachando o bico, o cronista estabelece, no termo destacado, a concordncia nominal de acordo com as regras gramaticais. Assinale a alternativa em que o uso da palavra meia ou meio no est de acordo com a norma culta da lngua.

    a) meio-dia e meia. b) Eu estou meia cansada. c) As frutas esto meio caras. d) Acolheu-me com palavras meio rspidas. e) No me venha com meias palavras.

    Resoluo:

    Na alternativa B, o correto meio, pois esse vocbulo empregado como advrbio, j que se refere ao adjetivo cansada; como advrbio, a palavra invarivel (masculino singular).

    Alternativa B

    04. Na passagem ... os bons meninos no ganhavam uma coroa de louros nem ao menos, v l, uma loura coroa..., o autor faz um jogo de palavras, cujo sentido est mais bem explicado em:

    a) Os adjetivos louros e loura, no contexto em que foram empregados, apresentam os mesmos sentidos, sofrendo apenas variao na flexo de gnero e de nmero.

    b) A escolha do substantivo coroa, nas duas ocorrncias do texto, deve-se ao fato de que o cronista pretende assinalar um registro formal da linguagem.

    c) A locuo adjetiva de louros e o substantivo loura foram empregados pelo autor com a finalidade de criar uma anttese.

    d) A palavra coroa um substantivo, mas em cada ocorrncia exerce uma diferente funo sinttica: objeto indireto e adjunto adnominal, respectivamente.

    e) Os termos louros e loura tm semelhanas grficas e sonoras e, apesar de parecerem ser o masculino e o feminino da mesma palavra, apresentam significaes diferentes.

    Resoluo:

    O autor emprega a paronomsia em louros e loura (semelhana na pronncia e na escrita). O significado, no entanto, diferente: o primeiro termo liga-se ideia de glria, reconhecimento (coroa de louros); o segundo, cor dos cabelos.

    Alternativa E

    05. Releia este excerto:

    Foi ento, meus caros, que eu vi a luz e a luz veio na forma de um livro

    Nas duas ocorrncias, o a no recebe acento grave, indicador de crase. Isso ocorre porque:

    a) h uma falha gramatical: sempre h crase em locues adverbiais femininas como luz.

    b) se trata de um caso de crase facultativa: a juno de preposio com artigo uma opo estilstica.

    c) nunca se emprega acento indicador de crase no a diante de palavras masculinas.

    d) o novo acordo ortogrfico em vigor aboliu acentos como trema e acento grave.

    e) os termos regentes associados ao substantivo luz rejeitam a presena de preposio.

    Resoluo:

    Nas duas ocorrncias, temos apenas artigo, portanto no h palavra que comande a preposio a para que tivssemos a fuso do artigo com a preposio (crase), que seria indicada pelo acento grave, de acordo com as regras estabelecidas.

    Alternativa E

  • 3Seu P Direito naS MelhoreS FaculDaDeS insper 10/06/2012

    insperJUn2012 CPV

    Utilize a tirinha abaixo para responder ao teste 06.

    06. A tirinha de Jean Galvo faz referncia a um assunto muito recorrente nas aulas de Portugus. A respeito da identificao e classificao do sujeito, conforme prescreve a norma gramatical, incorreto afirmar que:

    a) no 1o quadrinho, o se empregado nos trs perodos escritos na lousa (Precisa-se de empregados, Assiste-se a bons filmes e Vende-se casas) exemplifica a ocorrncia de ndice de indeterminao do sujeito nos dois primeiros e partcula apassivadora no ltimo.

    b) o perodo Vende-se casas, no 1o quadrinho, est riscado porque contm um erro de concordncia verbal: o verbo transitivo direto vender deveria ser flexionado no plural para concordar com o sujeito paciente casas.

    c) nas trs ocorrncias, presentes nos perodos escritos na lousa, o se exerce a funo sinttica de ndice de indeterminao do sujeito, e, para estabelecerem a concordncia verbal de acordo com a norma culta, os verbos devem permanecer no singular.

    d) no contexto da tira, o adjetivo indeterminado pode ser associado a um sentido genrico, no ao critrio gramatical, porque apenas qualifica como se sente a personagem (o sujeito), aps um dia exaustivo na escola.

    e) se, no ltimo quadrinho, o garoto analisasse sintaticamente a frase proferida pela me, conforme a norma gramatical, ele responderia assim: "sujeito simples, quem".

    Resoluo:

    Considerando que apenas os verbos bitransitivos e transitivos diretos assumem voz passiva, o nico se que se classifica como partcula apassivadora o que est presente na orao Vende-se casas, uma vez que o verbo vender transitivo direto. Sendo assim, esse verbo deveria estar no plural, concordando com o sujeito casas. Nas outras duas oraes, h verbos transitivos indiretos (precisar e assistir). Assim, o se que aparece em ambas classificado como ndice de indeterminao do sujeito, e, por essa razo, os verbos devem permanecer na 3a pessoa do singular.

    Alternativa C

    Utilize o texto abaixo para responder ao teste 07.

    De Binculo

    Abaixando o copzio empunhando o espadim levantando o corpanzil indiferente ao povilu o homenzarro abriu a bocarra fitando admirado a naviarra do capitorra

    Carlos Saldanha, In: 26 poetas hoje, RJ: Aeroplano, 2001

    07. A partir da associao de texto e contexto, a alternativa que melhor explica o ttulo do poema :

    a) Todos os verbos presentes nos versos esto no gerndio para criar a sensao de prolongamento e dilatao, caractersticas do instrumento mencionado no ttulo.

    b) A presena de aumentativos um recurso que procura simular o efeito das imagens veiculadas por meio das lentes de um binculo.

    c) A legitimao potica traz um efeito paradoxal, j que o binculo se ope constante presena de substantivos no diminutivo.

    d) Os versos desse poema valorizam um padro lingustico erudito que amplifica a arte potica, metaforicamente representada pelo instrumento ptico.

    e) A flexo dos substantivos sugere um procedimento antittico promovido pelo jogo equilibrado de oposies entre o aumentativo e o diminutivo, como se o poeta buscasse o foco em um binculo.

    Resoluo:

    No texto, h a intercalao, nos primeiros versos, entre aumentativos e diminutivos. Apenas a partir do 5o verso, aparece, ento, o predomnio do aumentativo. De acordo com a alternativa E, pode--se, com isso, sugerir a busca pelo foco do binculo no incio do poema e o ajuste realizado a partir do antepenltimo verso.

    O fato, porm, de justificarmos a alternativa E, porm, no exclui a possibilidade da correo da alternativa B, pois a afirmativa feita a respeito dos aumentativos , de fato, verdica (neste item, simplesmente no se falou nada a respeito dos diminutivos, o que no implica sua inexistncia nos moldes da afirmativa E).

    Alternativa B / E

  • insper 10/06/2012 Seu P Direito naS MelhoreS FaculDaDeS4

    CPV insperJUn2012

    Utilize o texto abaixo para responder aos testes 08 e 09.

    Quem nunca fotoxopou?

    FALA-SE HOJE em Facebook, Google e iPhone com a mesma combinao de fascnio e terror que um dia j se falou de Motorola e Nokia. Tudo se move rpido demais no mundo digital, e so poucas as empresas que conseguem permanecer competitivas ao longo dos anos. Apesar de o Vale do Silcio teraquele ar hollywoodiano de terra de oportunidades, contam-se nos dedos empresas longevas como umaAdobe, uma Dell, uma Amazon.

    Por ter grande mobilidade, a concentrao de poder e influncia no mundo digital surge to rpido quanto desaparece, a ponto de ser cada vez mais difcil encontrar quem fique na liderana por uma msera dcada. Na virada do sculo no havia Friendster, Myspace nem Orkut, o grande buscador era o Yahoo!, seguido pelo Lycos. E a internet mvel estava a cargo de empresas inovadoras como Palm e Kyocera.

    O usurio de produtos digitais cada vez mais volvel e pragmtico. Novos produtos e servios podem at seduzi-lo com propaganda, design e preo. Mas a relao dificilmente ser mantida se a marca no se renovar com a velocidade esperada, pouco importa sua fatia de mercado. Kodak e Sony que o digam.

    Mesmo que ainda sejam gigantescas, j no tm o apelo de outrora.

    A melhor lio de empresas bem-sucedidas em relacionamentos de longo prazo a do bom e velho Photoshop, vendendo sade em seus 22 anos de idade e 12 plsticas (oops, verses). Como o Google, ele sinnimo de categoria e verbo. Mas tambm adjetivo, substantivo, pejorativo e indicativo de retoques fotogrficos, mencionado com familiaridade at por quem no faa ideia de como ele funciona.

    Ao contrrio do AutoCAD, que oito anos mais velho, mas desconhecido fora de seu nicho, o Photoshop unanimidade.

    Folha de S. Paulo, 26/03/2012.

    08. Segundo o texto, o que determina a longevidade e a sobrevivncia de um negcio ou empresa, no mundo atual, :

    a) a flexibilidade de adaptao do produto aos anseios do cliente.

    b) a concentrao de poder que fideliza o cliente fascinado pela grife.

    c) o investimento na atuao da empresa em um nicho especfico.

    d) o modelo de gesto dogmtica que investe na propaganda. e) a familiaridade do cliente com o funcionamento dos

    produtos.

    Resoluo:

    A questo avaliava se o candidato sabia identificar, no texto apresentado, o que atualmente determina a longevidade e a sobrevivncia de um negcio ou de uma empresa. Chega-se alternativa correta pelas informaes contidas no 3o pargrafo:

    ... a relao dificilmente ser mantidade se a marca no se renovar com a velocidade esperada, pouco importa sua fatia de mercado.

    Alternativa A

    09. Quanto s variaes exploradas a partir do termo Photoshop, correto afirmar que:

    a) o neologismo do ttulo foi formado pelo mesmo processo que o termo design, presente no texto.

    b) como adjetivo, o valor depreciativo do termo fotoxopado decorre exclusivamente do sufixo -ado agregado ao radical.

    c) as palavras formadas a partir do estrangeirismo photoshop constituem jarges restritos rea de informtica.

    d) a grafia abrasileirada de fotoxopou, diferentemente de hollywoodiano, no 1o pargrafo, uma prova de que o software se popularizou no mundo.

    e) apesar de no ter sido mencionado no texto, tambm seria possvel transformar Photoshop em advrbio de modo: fotoxopalmente.

    Resoluo:

    Como o texto apresentado para anlise explora as variaes da palavra Photoshop, esta questo, criativamente, seguiu o mesmo raciocnio e criou um provvel advrbio, que no aparece no texto. Trata-se de fotoxopalmente (advrbio de modo).

    No se pode afirmar que a alternativa D esteja correta, pois a

    generalizao de que uma das causas que levou o software a se popularizar no mundo foi a grafia abrasileirada de fotoxopou no se fundamenta.

    Alternativa E

  • 5Seu P Direito naS MelhoreS FaculDaDeS insper 10/06/2012

    insperJUn2012 CPV

    10. Recentemente, diversos jornais divulgaram a notcia de que o Ministrio Pblico Federal entrou com uma ao judicial para retirar de circulao o dicionrio Houaiss, alegando que a obra contm referncias preconceituosas e racistas contra ciganos. Sobre essa medida, o jornalista Srgio Rodrigues escreveu no Blog da revista Veja:

    Supor que dicionrios inventem os sentidos das palavras, em vez de simplesmente registrar com o maior rigor possvel os usos decididos coletivamente por uma comunidade de falantes ao longo de sua histria, uma crena obscurantista e autoritria. Sua origem deve ser buscada no cruzamento entre a velha ignorncia e uma doena intelectual mais recente: a iluso politicamente correta de que, para consertar as injustias do mundo, basta submeter a linguagem censura prvia.

    A ao partiu de Uberlndia, no Tringulo Mineiro (...) No deve ficar nisso. O Brasil um pas vasto, e, como se sabe, tem poucos problemas verdadeiros, o que deixa ao MPF tempo de sobra para garimpar outros verbetes insultuosos no melhor, mais completo e mais rigoroso dicionrio da lngua portuguesa.

    http://veja.abril.com.br/blog/sobre-palavras/curiosidades-etimologicas/ciganos-x-houaiss-depois-virao-judeus-baianos-japoneses/

    Quanto ao processo judicial envolvendo o verbete cigano no dicionrio, o blogueiro expressa uma reao irnica no trecho:

    a) em vez de simplesmente registrar com o maior rigor possvel os usos decididos coletivamente por uma comunidade

    b) Sua origem deve ser buscada no cruzamento entre a velha ignorncia e uma doena intelectual

    c) para consertar as injustias do mundo, basta submeter a linguagem censura prvia

    d) O Brasil um pas vasto, e, como se sabe, tem poucos problemas verdadeiros

    e) no melhor, mais completo e mais rigoroso dicionrio da lngua portuguesa

    Resoluo:

    Srgio Rodrigues expressou ironia em seu texto ao afirmar que O Brasil um pas vasto, e, como se sabe, tem poucos problemas verdadeiros. Como essa figura de pensamento tem efeito de negar juzo por meio de afirmaes, o autor considera que o Ministrio Pblico Federal cuida de questes irrelevantes em vez de se ocupar de problemas que de fato prejudiquem a sociedade.

    Alternativa D

    Utilize o texto abaixo para responder ao teste 11.

    Da fala ao grunhido

    Outro dia, ouvi um professor de portugus afirmar que, em matria de idioma, no existe certo nem errado, ou seja, tudo est certo. Tanto faz dizer "ns vamos" como "ns vai".

    Ouo isso e penso: que sujeito bacana, to modesto que capaz de sugerir que seu saber de nada vale.

    Mas logo me indago: ser que ele pensa isso mesmo ou est posando de bacana, de avanadinho?

    A concluso inevitvel que o professor deveria mudar de profisso porque, se acredita que as regras no valem, no h o que ensinar.

    Mas esse vale-tudo s no campo do idioma, no se adota nos demais campos do conhecimento. No vejo um professor de medicina afirmando que a tuberculose no doena, mas um modo diferente de sade, e que o melhor para o pulmo fumar charutos.

    verdade que ningum morre por falar errado, mas, certamente, dizendo "ns vai" e desconhecendo as normas da lngua, nunca entrar para a universidade, como entrou o nosso professor.

    Ferreira Gullar, Folha de S. Paulo, 25/03/2012

    11. Ao se manifestar quanto ao que seja correto ou incorreto no uso da lngua portuguesa, o autor:

    a) mostra que inexistem critrios para definir graus de superioridade entre linguagens.

    b) defende que as aulas de Portugus sejam abolidas nas escolas.

    c) compara a normatividade das gramticas objetividade da cincia.

    d) julga igualmente vlidas todas as variedades da lngua portuguesa.

    e) ironiza pessoas que corrigem formas condenveis de linguagem.

    Resoluo:

    O autor do texto critica o discurso de um professor de portugus que afirma no existir correto ou incorreto no uso da lngua portuguesa. A fim de demonstrar a importncia da distino entre certo e errado, o autor se vale de uma comparao entre a normatividade das gramticas e a objetividade da cincia (cujo exemplo a medicina). Ao citar esse exemplo, o autor deixa claro que uma doena no pode ser considerada uma forma de sade e, muito menos, ser tratada com uma atitude que a agrave, portanto essa incoerncia deve ser considerada um erro. Desse modo, as regras gramaticais so to objetivas quanto a cincia e, quando no se separa o certo do errado, pode haver consequncias para a vida de quem no sabe fazer tal distino.

    Alternativa C

  • insper 10/06/2012 Seu P Direito naS MelhoreS FaculDaDeS6

    CPV insperJUn2012

    Utilize o texto abaixo para responder ao teste 12.

    Com mais de 50 anos de escrevinhao nas costas, descobri algumas ideias que muita gente faz da vida de um escritor. Por exemplo, tem quem ache que os escritores, notadamente entre eles mesmos, s falam difcil, uma proparoxtona para abrir, uma mesclise para dar classe e um tetrasslabo para arrematar. "Em teu parecer, meu impertrrito amigo", perguntaria eu ao Rubem Fonseca, durante nosso almoo peridico, "abater-se- hoje, sobre a nossa urbe, uma formidanda intemprie?" Ao que o Z Rubem reagiria com uma anstrofe, um mais-que-perfeito fazendo as vezes do imperfeito do subjuntivo e uma aliterao final show de bola, coisa de craque mesmo. "Augure do tempo fora eu, pressagi-lo-ia libentissimamente", responderia ele. "Todavia, de tal no me trato." E assim iramos almoo afora, discutindo elevadssimos assuntos, em linguagem s compreensvel por indivduos especiais.

    Joo Ubaldo Ribeiro, O Estado de So Paulo, 03/07/2011

    12. Ao comentar a suposta sofisticao presente nas falas dos escritores, Joo Ubaldo Ribeiro faz meno a vrios fenmenos de linguagem. A respeito deles, est correto o que se afirma em:

    a) Os tetrasslabos ocorrem quando as palavras contm um grupo de duas letras que representam um nico fonema.

    b) A mesclise, exemplificada em formas como abater--se-, uma construo que determina a colocao do pronome em relao ao verbo.

    c) A anstrofe consiste em estabelecer a concordncia ideolgica, isto , de acordo com a ideia e no com as palavras que efetivamente aparecem na orao.

    d) O pretrito mais-que-perfeito e o imperfeito do subjuntivo expressam um processo verbal indicativo de exortao e advertncia.

    e) A aliterao, empregada pelo autor em libentissimamente, exprime o auge da intensificao de uma qualidade.

    Resoluo:

    correta a afirmao de que a mesclise refere-se colocao do pronome em relao ao verbo; no caso, entre os morfemas verbais, o que visto em abater-se-.

    Alternativa B

    Utilize os textos abaixo para responder ao teste 13.

    Texto I

    O texto na era digital

    Para alm do internets, a internet est mudando a maneira como lemos e escrevemos

    Com cada vez mais usurios o acesso rede no Brasil umentou 35% entre 2008 e 2009 a internet est criando novos hbitos de comunicao entre as pessoas, que acabam se adaptando s facilidades da nova tecnologia. (...)

    O que j havia sido deflagrado nos anos 90 pela comunicao via e-mail, mensageiros eletrnicos e pela cultura escrita dos blogs, as redes sociais elevaram ensima potncia ao garantir interatividade e visibilidade s pessoas em torno de interesses em comum. (...)

    Para alm dos modismos que nascem e morrem na grande rede mundial de computadores, o advento do microblog Twitter extrapolou essa esfera para cair na boca de grandes homens de letras, muitas vezes avessos a novidades tecnolgicas, como o escritor Jos Saramago, que chegou a declarar: "Os tais 140 caracteres reflectem algo que j conhecamos: a tendncia para o monosslabo como forma de comunicao. De degrau em degrau, vamos descendo at o grunhido". (...)

    Embora no se possa afirmar categoricamente que a internet favoreceu o desenvolvimento de uma "cultura letrada", com nfase em informaes profundas e relevantes, ela reforou o peso da palavra escrita no cotidiano das pessoas. Mais do que grias e jarges, como o famigerado "internets", as transformaes pelas quais passam a escrita e a leitura esto por ser dimensionadas.

    http://revistalingua.uol.com.br/textos/64/artigo249031-1.asp

    Texto II

    Adaptado. http://ptwitter.blogspot.com.br/2009/06/o-que-e-hashtag-do-twitter.html

  • 7Seu P Direito naS MelhoreS FaculDaDeS insper 10/06/2012

    insperJUn2012 CPV

    13. Os Textos I e II abordam a questo da linguagem nos meios digitais. A partir de sua leitura, infere-se que:

    a) em ambos os textos, h evidncias de que a navegao na internet limita a disseminao do saber.

    b) o Texto I defende que as inovaes tecnolgicas produziram uma torrente de informaes to grande que tornaram a escrita banal e empobrecedora.

    c) tanto o Texto I quanto o Texto II revelam que o acesso rede est interferindo na capacidade de leitura de crianas e adolescentes.

    d) o Texto II apresenta marcas especficas da linguagem do Twitter que limitam a compreenso da tira em leitores que no so usurios do microblog.

    e) o Texto I demonstra que o internets produziu impactos na comunicao escrita, enquanto que o Texto II nega esse fato.

    Resoluo:

    O Texto II faz referncia a elementos tpicos de usurios do microblog Twitter, como hashtag e #mulherestranha. Assim, indivduos que desconhecem esse jargo tm a compreenso da tirinha limitada.

    Alternativa D

    14. Para divulgar a oferta de um plano de ligaes ilimitadas, uma operadora de telefonia mvel apresentou, em seu anncio publicitrio, a seguinte frase:

    Dentre as opes a seguir, a melhor substituio, no anncio, para "ASPAS"

    a) trapaas. b) cobranas. c) frescuras. d) burocracia. e) limite.

    Resoluo:

    No anncio publicitrio, o termo aspas foi usado de modo metafrico, fazendo referncia a possveis trapaas comuns na rea de telefonia mvel. Assim, sem aspas indica um plano de ligao sem enganaes.

    Alternativa A

    Utilize o texto abaixo para responder aos testes 15 a 18.

    A lgica do humor

    Piada racista termina com polcia em casa de shows. engraado gozar de minorias? At onde se pode chegar para fazer os outros rirem? Alis, do que rimos?

    De um modo geral, achamos graa quando percebemos um

    choque entre dois cdigos de regras ou de contextos, todos consistentes, mas incompatveis entre si. Um exemplo: "O masoquista a pessoa que gosta de um banho frio pelas manhs e, por isso, toma uma ducha quente".

    Cometo agora a heresia de explicar a piada. Aqui, o fato

    de o sujeito da anedota ser um masoquista subverte a lgica normal: ele faz o contrrio do que gosta, porque gosta de sofrer. claro que a lgica normal no coexiste com seu reverso, da a graa da pilhria. Uma variante no mesmo padro : "O sdico a pessoa que gentil com o masoquista".

    Essa "gramtica" d conta da estrutura intelectual das

    piadas, mas h tambm dinmicas emocionais. Kant, na "Crtica do Juzo", diz que o riso o resultado

    da "sbita transformao de uma expectativa tensa em nada". Rimos porque nos sentimos aliviados. Torna-se plausvel rir de desgraas alheias. Em alemo, h at uma palavra para isso: "Schadenfreude", que o sentimento de alegria provocado pelo sofrimento de terceiros. No necessariamente estamos felizes pelo infortnio do outro, mas sentimo-nos aliviados com o fato de no sermos ns a vtima.

    Mais ou menos na mesma linha vai o filsofo francs Henri

    Bergson. Em "O Riso", ele observa que muitas piadas exigem "uma anestesia momentnea do corao". Ou seja, pelo menos as partes mais primitivas de nosso eu acham graa em troar dos outros. Da os inevitveis choques entre humor e adequao social.

    Como no podemos dispensar o riso nem o combate

    discriminao, o conflito inevitvel. Resta torcer para que seja autolimitado. No deixaremos de rir de piadas racistas, mas no podemos esquecer que elas colocam um problema moral.

    Hlio Schwartsman, Folha de So Paulo, 16/03/2012

  • insper 10/06/2012 Seu P Direito naS MelhoreS FaculDaDeS8

    CPV insperJUn2012

    15. O primeiro pargrafo apresenta uma das formas clssicas de introduo de um texto de carter argumentativo, porque contm resumidamente elementos essenciais ao desenvolvimento das ideias do autor. Esses elementos, presentes em A lgica do humor, podem ser definidos como:

    a) declarao de natureza subjetiva enumerao de subtemas.

    b) registro de testemunho histrico exemplificao do problema.

    c) uso de perguntas retricas emprego de contra--argumentao.

    d) afirmao da autoridade do enunciador apresentao do problema.

    e) relato de fato notrio delimitao do tema por meio de questionamentos.

    Resoluo:

    O texto de Hlio Schwartsman apresenta carter argumentativo, pois se prope a tratar da questo do humor entre os homens. Para tanto, parte de um fato amplamente divulgado poca em que o texto foi escrito (maro/2012), seguido de uma srie de interrogaes que indicam a delimitao escolhida pelo autor para abordar o tema.

    Alternativa E

    16. Considere a definio feita a seguir.

    Em suma: toda declarao (ou juzo) que expresse opinio pessoal ou pretenda estabelecer a verdade s ter validade se devidamente demonstrada, isto , se apoiada ou fundamentada na evidncia dos fatos, quer dizer, se acompanhada de prova.

    Othon M. Garcia Comunicao em prosa moderna. Rio de Janeiro: FGV, 1999.

    Dos trechos a seguir, aquele que pode ser interpretado como prova de uma declarao feita no texto de Hlio Schwartsman, tornando-a vlida, :

    a) ... achamos graa quando percebemos um choque entre dois cdigos de regras ou de contextos, todos consistentes, mas incompatveis entre si.

    b) Em alemo, h at uma palavra para isso: Schadenfreude, que o sentimento de alegria provocado pelo sofrimento de terceiros.

    c) No necessariamente estamos felizes pelo infortnio do outro, mas sentimo-nos aliviados com o fato de no sermos ns a vtima.

    d) Ou seja, pelo menos as partes mais primitivas de nosso eu acham graa em troar dos outros.

    e) No deixaremos de rir de piadas racistas, mas no podemos esquecer que elas colocam um problema moral.

    Resoluo:

    A frase Em alemo, h at uma palavra para isso: Schadenfreude, que o sentimento de alegria provocado pelo sofrimento de terceiros uma prova para justificar a seguinte opinio do autor: Rimos porque nos sentimos aliviados. Torna-se plausvel rir de desgraas alheias.

    Alternativa B

  • 9Seu P Direito naS MelhoreS FaculDaDeS insper 10/06/2012

    insperJUn2012 CPV

    17. O perodo Como no podemos dispensar o riso nem o combate discriminao, o conflito inevitvel., est adequadamente parafraseado em:

    a) Outrossim, o conflito inevitvel; no podemos dispensar o riso nem o combate discriminao.

    b) O conflito, no entanto, inevitvel, no podendo dispensar o riso nem o combate discriminao.

    c) Conquanto no possamos dispensar o riso nem o combate discriminao, o conflito inevitvel.

    d) A menos que no possamos dispensar o riso nem o combate discriminao, o conflito ser inevitvel.

    e) O conflito inevitvel, porquanto no podemos dispensar o riso nem o combate discriminao.

    Resoluo:

    A questo baseava-se na frase Como no podemos dispensar o riso nem o combate discriminao, o conflito inevitvel, em que h uma relao de causa e consequncia entre as oraes. A nica alternativa em que h essa mesma relao a alternativa E, com uma orao subordinada adverbial causal iniciada pela conjuno porquanto.

    Alternativa E

    18. No contexto em que ocorre, a palavra destacada em claro que a lgica normal no coexiste com seu reverso, da a graa da pilhria significa:

    a) chiste. b) desgraa. c) tolice. d) disparate. e) padecimento.

    Resoluo:

    Trata-se de avaliar a sinonmia da palavra pilhria, que nada mais do que piada, chiste.

    Alternativa A

    Utilize o texto abaixo para responder ao teste 19.

    Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiana; todo o mundo composto de mudana, tomando sempre novas qualidades.

    Continuamente vemos novidades, diferentes em tudo da esperana; do mal ficam as mgoas na lembrana, e do bem (se algum houve), as saudades.

    O tempo cobre o cho de verde manto, que j coberto foi de neve fria, e, enfim, converte em choro o doce canto.

    E, afora este mudar-se cada dia, outra mudana faz de mor espanto, que no se muda j como soa*.

    Lus Vaz de Cames *soa: Imperfeito do indicativo do verbo soer,

    que significa "costumar, ser de costume"

    19. Assinale a alternativa em que se analisa corretamente o sentido dos versos de Cames.

    a) O foco temtico do soneto est relacionado instabilidade do ser humano, eternamente insatisfeito com as suas condies de vida e com a inevitabilidade da morte.

    b) Pode-se inferir, a partir da leitura dos dois tercetos, que, com o passar do tempo, a recusa da instabilidade se torna maior, graas sabedoria e experincia adquiridas.

    c) Ao tratar de mudanas e da passagem do tempo, o soneto expressa a ideia de circularidade, j que ele se baseia no postulado da imutabilidade.

    d) Na segunda estrofe, o eu lrico v com pessimismo as mudanas que se operam no mundo, porque constata que elas so geradoras de um mal cuja dor no pode ser superada.

    e) As duas ltimas estrofes autorizam concluir que a ideia de que nada permanente no passa de uma iluso.

    Resoluo:

    Considerando-se o soneto de Cames, nota-se que o eu lrico apresenta uma postura pessimista em relao s transformaes que ocorrem no mundo, as quais so diferentes em tudo da esperana. Nesse sentido, elas provocam efeitos nocivos, os quais permanecem na memria: do mal ficam as mgoas na lembrana.

    Alternativa D

  • insper 10/06/2012 Seu P Direito naS MelhoreS FaculDaDeS10

    CPV insperJUn2012

    Utilize o texto abaixo para responder ao teste 20. Para fazer um poema dadasta Pegue num jornal. Pegue numa tesoura. Escolha no jornal um artigo com o comprimento que pretende dar ao seu poema. Recorte o artigo. Em seguida, recorte cuidadosamente as palavras que compem o artigo e coloque-as num saco. Agite suavemente. Depois, retire os recortes uns a seguir aos outros. Transcreva-os escrupulosamente pela ordem que eles saram do saco. O poema parecer-se- consigo. E voc ser um escritor infinitamente original, de uma encantadora sensibilidade, ainda que incompreendido pelas pessoas vulgares.

    Tristan Tzara

    20. A metalinguagem, presente no poema de Tristan Tzara, tambm encontrada de modo mais evidente em: (a) Receita de Heri (b)

    Tome-se um homem feito de nada Como ns em tamanho natural Embeba-se-lhe a carne Lentamente De uma certeza aguda, irracional Intensa como o dio ou como a fome. Depois perto do fim Agite-se um pendo (c) E toque-se um clarim Serve-se morto. Reinaldo Ferreira. Receita de Heri. In: GERALDI, Joo Wanderley. Portos de passagem. So Paulo: Martins Fontes, 1991, p.185.

    http://deposito-de-tirinhas.tumblr.com/page/2 (d) (e)

    http://deposito-de-tirinhas.tumblr.com/page/2

    Resoluo: A metalinguagem, presente no poema de Tristan Tzara, tambm encontrada de modo mais evidente na tirinha de Jim Davis (Garfield).

    Se, no poema, o autor dadasta trata da criao potica (cdigo a discutir o cdigo) em linguagem verbal, na tira, o cartunista rompe o limite do espao grfico ao representar o peso de Garfield de modo a alterar a forma do quadrinho. Assim, a tira destaca sua prpria linguagem.

    Alternativa C

  • 11Seu P Direito naS MelhoreS FaculDaDeS insper 10/06/2012

    insperJUn2012 CPV

    Utilize o texto abaixo para responder aos testes 21 e 22.

    Ele se encontrava sobre a estreita marquise do 18o andar. Tinha pulado ali a fim de limpar pelo lado externo as vidraas das salas vazias do conjunto 1801/5, a serem ocupadas em breve por uma firma de engenharia. Ele era um empregado recm-contratado da Panamericana Servios Gerais. O fato de haver se sentado beira da marquise, com as pernas balanando no espao, se devera simplesmente a uma pausa para fumar a metade de cigarro que trouxera no bolso. Ele no queria dispensar este prazer, misturando-o com o trabalho.

    Quando viu o ajuntamento de pessoas l embaixo, apontando mais ou menos em sua direo, no lhe passou pela cabea que pudesse ser ele o centro das atenes. No estava habituado a ser este centro e olhou para baixo e para cima e at para trs, a janela s suas costas.

    Talvez pudesse haver um princpio de incndio ou algum andaime em perigo ou algum prestes a pular.

    No havia nada identificvel vista e ele, atravs de operaes bastante lgicas, chegou concluso de que o nico suicida em potencial era ele prprio. No que j houvesse se cristalizado em sua mente, algum dia, tal desejo, embora como todo mundo, de vez em quando... E digamos que a pouca importncia que dava a si prprio no permitia que aflorasse seriamente em seu campo de decises a possibilidade de um gesto to grandiloquente. E que o instinto cego de sobrevivncia levava uma vantagem de uns quarenta por cento sobre seu instinto de morte, tanto que ele viera levando a vida at aquele preciso momento sob as mais adversas condies.

    In: MORICONI, talo (org.). Os cem melhores contos brasileiros do sculo. R. Janeiro: Objetiva, 2000

    21. O texto acima abertura do conto Um discurso sobre o mtodo, de Srgio Sant'Anna. A partir da anlise dos elementos narrativos, assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para as afirmaes que tratam do conflito da personagem principal.

    ( ) Por rotineiramente se considerar relegado a um segundo plano, o protagonista procurou encontrar, perto de si, algum perigo que explicasse o que chamava a ateno do agrupamento de pessoas.

    ( ) Ao notar a multido que apontava em sua direo, o homem sentado sobre a marquise do prdio passou a refletir acerca das condies adversas de vida do ser humano.

    ( ) O protagonista admite que o suicdio uma atitude nobre que ele, um trabalhador humilde e insignificante, seria incapaz de pensar algum dia.

    A sequncia correta :

    a) V, F, V. b) V, V, F. c) V, F, F. d) F, V, F. e) F, F, V.

    Resoluo:

    I. Verdadeiro: de acordo com o texto, quando viu o ajuntamento de pessoas l embaixo, no lhe passou pela cabea que pudesse ser ele o centro das atenes.

    II. Falso: podemos afirmar que o homem questiona-se a respeito de suas condies particulares, mas no que ele tenha refletido a respeito das condies de vida da humanidade em geral.

    III. Falso: No trecho: No que j houvesse se cristalizado em sua mente, algum dia, tal desejo, embora como todo mundo, de vez em quando..., temos a ideia de que, apesar de ele nunca considerar seriamente a possibilidade do suicdio, tal hiptese j lhe passou, mesmo que momentaneamente, pela cabea.

    Alternativa C

    22. Em ... no lhe passou pela cabea que pudesse ser ele o centro das atenes, os pronomes pessoais destacados exercem, respectivamente, a funo sinttica de:

    a) objeto indireto, sujeito. b) complemento nominal, objeto direto. c) adjunto adnominal, sujeito. d) objeto indireto, predicativo do objeto. e) adjunto adnominal, predicativo do sujeito.

    Resoluo:

    No trecho em questo, o pronome lhe possui valor possessivo (no passou pela cabea dele), por isso exerce a funo de adjunto adnominal. J ele sujeito do predicado pudesse ser o centro das atenes.

    Alternativa C

  • insper 10/06/2012 Seu P Direito naS MelhoreS FaculDaDeS12

    CPV insperJUn2012

    Utilize o texto abaixo para responder ao teste 23.

    Equivoca-se quem pensa que falar bem falar claro. A arte da retrica reside, na verdade, na habilidade de confundir. Afinal, se digo algo e voc entende de cara, vai logo se achando mais inteligente do que eu: mau negcio. Se, contudo, sou capaz de temperar as frases mais simples com um molho de obscuridade, com uma calculada pitada de empulhao, o ouvinte pensar que sei mais do que revelo: ponto para mim.

    Vejamos: voc entra numa farmcia, pergunta se tem Aspirina e o funcionrio responde com um peremptrio "no". O que voc pensar? Que aquela uma farmcia ruim. Se, porm, ele disser que "no caso, Aspirina a gente no vai t tendo, hoje", a coisa muda completamente de figura. O "no caso" sugere que, numa situao normal, ele teria Aspirina. Logo, "hoje", estamos numa situao anormal.

    Qual seria essa situao? Haveria um surto de enxaqueca no bairro? Boatos de que a Copa e as Olimpadas levariam falta de cido acetilsaliclico teriam desencadeado uma busca frentica pelo produto? Voc no sabe, ele sabe, e, num segundo, o que era uma farmcia vagabunda transforma-se numa farmcia sob estado de exceo, enquanto voc, em vez de um cliente insatisfeito, torna-se um nufrago deriva no mar da especulao.

    http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1210201104.htm

    23. Entre os seguintes provrbios, qual deles melhor resume a concepo do autor sobre a retrica?

    a) Eloquncia a arte de aumentar coisas pequenas. b) Por fora bela viola, por dentro, po bolorento. c) Falar prata, calar ouro. d) A bom entendedor, meia palavra basta. e) A propaganda a alma do negcio.

    Resoluo:

    A ideia central do texto a defesa de que a arte da Retrica est na habilidade de confundir. Por meio de procedimentos lingusticos mais obscuros, ideias simples tornam-se mais imprecisas. Assim, o nico provrbio que traduz esse raciocnio Eloquncia a arte de aumentar coisas pequenas. Essa ideia pode ser vista no seguinte fragmento: Se, contudo, sou capaz de temperar as frases mais simples com um molho de obscuridade, com uma calculada pitada de empulhao, o ouvinte pensar que sei mais do que revelo: ponto para mim.

    Alternativa A

    Utilize o texto abaixo para responder ao teste 24.

    I Talvez sonhasse, quando a vi. Mas via Que, aos raios do luar iluminada, Entre as estrelas trmulas subia Uma infinita e cintilante escada. E eu olhava-a de baixo, olhava-a... Em cada Degrau, que o ouro mais lmpido vestia, Mudo e sereno, um anjo a harpa doirada, Ressoante de splicas, feria... Tu, me sagrada! vs tambm, formosas Iluses! sonhos meus! eis por ela Como um bando de sombras vaporosas. E, meu amor! eu te buscava, quando Vi que no alto surgias, calma e bela, O olhar celeste para o meu baixando...

    Olavo Bilac, Via-Lctea

    24. Embora seja identificado como o principal poeta parnasiano brasileiro, Olavo Bilac, nesse soneto, explora um aspecto do Romantismo, o qual est explicitado na seguinte alternativa:

    a) objetividade e racionalismo do eu lrico. b) subjetividade numa atmosfera onrica. c) forte presena de elementos descritivos. d) liberdade de criao e de expresso. e) valorizao da simplicidade, bucolismo.

    Resoluo:

    O soneto de Olavo Bilac apresenta um eu lrico que admira a beleza da amada de modo bastante subjetivo, por se tratar da perspectiva particular que ele tem dela. Alm disso, a atmosfera onrica, pois o prprio eu lrico, ao iniciar o poema, j deixa evidente que tudo que ele descreve acerca da amada pode ter sido sonho: Talvez sonhasse, quando a vi. Tanto a subjetividade como a atmosfera onrica so caractersticas do Romantismo.

    Alternativa B

  • 13Seu P Direito naS MelhoreS FaculDaDeS insper 10/06/2012

    insperJUn2012 CPV

    Utilize o texto abaixo para responder ao teste 25.

    Acho que nunca falei do meu amigo parnasiano. Era poeta e jovem, hoje mais poeta do que jovem. Fazia umas brincadeiras com a linguagem dos poetas parnasianos, transplantando-a para banalidades de hoje. (...)

    No sei dizer quando esse amigo comeou com a brincadeira. Talvez na faculdade de direito, e alm do talvez no avano. Uma noite, farreado, acabado e sem pouso, ele chegou a um daqueles hotis de m fama que havia na Avenida Ipiranga, de escadaria longa, ngreme, estreita e desanimadora, e chamou l de baixo:

    Estalajadeiro! Estalajadeiro!

    Era j o parnasiano divertindo-se dentro dele. Um homem surgiu l em cima, com m vontade. E o poeta, j possudo pela molecagem parnasiana, exclamou, teatral:

    Bom estalajadeiro! Tendes um catre para o meu repouso? Recebeu de troco palavres bocagianos.

    Ivan Angelo, Veja SP, 02/05/2012

    25. Considere estas afirmaes:

    I. O adjetivo parnasiano, atribudo ao amigo do narrador do texto, se deve utilizao de palavras pomposas, rebuscadas.

    II. No ltimo perodo, o termo bocagianos faz referncia aos versos satricos de Manuel Du Bocage, o mais importante autor do Parnasianismo lusitano.

    III. Depreende-se, da leitura do texto, que os poetas parnasianos valorizavam o plano da expresso, em detrimento do plano do contedo.

    Est correto o que se afirma em

    a) I, apenas. b) I e II, apenas. c) II e III, apenas. d) I e III, apenas. e) I, II e III.

    Resoluo: I. Correto: parnasiano qualifica o amigo do narrador devido

    ao uso frequente de termos pomposos, procedimento tpico da poesia parnasiana.

    II. Incorreto: Manuel Du Bocage rcade, no parnasiano. III. Correto: depreende-se do texto que o parnasiano privilegia

    a expresso em detrimento do contedo, como se v em fazia brincadeiras com a linguagem dos poetas parnasianos, transplantando-as para banalidades de hoje.

    Alternativa D

    Utilize o texto abaixo para responder ao teste 26.

    Um lugar-comum pode ser reconfortante. Mais do que incomodados, no poucos se sentem mais nteligentes quando flagram um chavo na boca ou na escrita alheia. Assim tambm muitos sabem que o mundo ainda est no lugar quando esbarram com algo j superado, mas familiar, como quem ri da prpria infncia ante o mais surrado patinho de borracha, o mais bvio pinguim de geladeira. Talvez por isso, embora no seja preciso procurar muito para achar um, s nos damos conta de um clich verbal quando adotamos certo estado de vigilncia, leve que seja: a ateno migra, ento, do assunto expresso para a linguagem que o expressa.

    Revista Lngua, edio 54

    26. Segundo o texto, o que justifica o carter reconfortante do clich :

    a) a previsibilidade que nos poupa do esforo da compreenso.

    b) a argumentao baseada no senso crtico e reflexivo. c) a associao da frase-feita com preceitos morais. d) a repetio consciente de ideias com o mesmo sentido. e) a citao, com xito, de expresses idiomticas.

    Resoluo:

    De acordo com o texto, o clich apresenta um aspecto reconfortante por ser conhecido antecipadamente. Dessa forma, ao possuir um carter habitual, o clich foge do inesperado e dispensa as pessoas do empenho pelo entendimento: Assim tambm muitos sabem que o mundo est no lugar quando esbarram com algo j superado, mas familiar.

    Alternativa A

  • insper 10/06/2012 Seu P Direito naS MelhoreS FaculDaDeS14

    CPV insperJUn2012

    Utilize o texto abaixo para responder ao teste 27.

    Adaptado de http://www.istoe.com.br/reportagens/185664_A+ARTE+DE+SE+RELACIONAR

    27. Considerando a interlocuo definida no infogrfico, correto afirmar que o objetivo desse texto :

    a) descrever as principais dificuldades que impedem a comunicao entre pessoas.

    b) orientar para o desenvolvimento de habilidades importantes na convivncia com o outro.

    c) mostrar quais so os mecanismos para manipular pessoas e conquistar sucesso profissional.

    d) indicar as principais qualidades da comunicao em ambientes corporativos.

    e) enfatizar as principais causas do desgaste no relacionamento amoroso.

    Resoluo:

    Ao se abordar o infogrfico, pode-se observar que o objetivo deste texto apresentar orientaes a fim de que sejam desenvolvidas competncias relevantes na interao entre as pessoas. Assim, o tom de orientao do texto dado pela expresso Como melhorar, antecipando as instrues: Disco riscado e Discorde concordando. Desse modo, evidencia-se a inteno do texto de instruir para a melhoria no relacionamento humano.

    Alternativa B

    Utilize o texto abaixo para responder aos testes 28 a 30.

    A cartomante

    Hamlet observa a Horcio que h mais cousas no cu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicao que dava a bela Rita ao moo Camilo, numa sexta-feira de novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na vspera consultar uma cartomante; a diferena que o fazia por outras palavras.

    Ria, ria. Os homens so assim; no acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas comeou a botar as cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e ento ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que voc me esquecesse, mas que no era verdade...

    Errou! interrompeu Camilo, rindo. No diga isso, Camilo. Se voc soubesse como eu tenho

    andado, por sua causa. Voc sabe; j lhe disse. No ria de mim, no ria...

    Camilo pegou-lhe nas mos, e olhou para ela srio e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos pareciam de criana; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Vilela podia sablo, e depois...

    Qual saber! tive muita cautela, ao entrar na casa. Onde a casa? Aqui perto, na Rua da Guarda Velha; no passava

    ningum nessa ocasio. Descansa; eu no sou maluca. Camilo riu outra vez: Tu crs deveras nessas cousas? perguntou-lhe. Foi ento que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar,

    disse-lhe que havia muita cousa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele no acreditava, pacincia; mas o certo que a cartomante adivinhara tudo. Que mais? A prova que ela agora estava tranquila e satisfeita.

    Cuido que ele ia falar, mas reprimiu-se. No queria arrancar--lhe as iluses. Tambm ele, em criana, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a me lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetao parasita, e ficou s o tronco da religio, ele, como tivesse recebido da me ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dvida, e logo depois em uma s negao total. Camilo no acreditava em nada. Por qu? No poderia diz-lo, no possua um s argumento: limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar ainda afirmar, e ele no formulava a incredulidade; diante do mistrio, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.

  • 15Seu P Direito naS MelhoreS FaculDaDeS insper 10/06/2012

    insperJUn2012 CPV

    Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, no s o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr s cartomantes, e, por mais que a repreendesse, no podia deixar de sentir--se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga Rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta desceu pela Rua das Mangueiras, na direo de Botafogo, onde residia; Camilo desceu pela da Guarda Velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.

    Vilela, Camilo e Rita, trs nomes, uma aventura e nenhuma explicao das origens. Vamos a ela.

    Machado de Assis, Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar 1994. v. II

    28. Todas as seguintes afirmativas podem ser confirmadas pela leitura do texto, exceto:

    a) Rita, uma mulher supersticiosa e dotada de esprito ingnuo, consultou uma cartomante porque acreditava que Camilo deixaria de am-la.

    b) O penltimo perodo do excerto o mote usado pelo narrador para empregar a tcnica narrativa do flashback e assim explicar como se montou a relao entre as personagens.

    c) O comportamento ctico da personagem Camilo, descrente em relao s premonies da cartomante, decorre de conflitos vividos na infncia.

    d) A citao da frase de Shakespeare, na abertura do conto, um recurso intertextual que contribui para criar expectativas em relao ao conflito.

    e) Passagens como ... era imprudente andar por essas casas. Vilela podia sab-lo, e depois... e A casa do encontro era na antiga Rua dos Barbonos levam o leitor a inferir que Rita e Camilo eram amantes.

    Resoluo:

    O texto no diz respeito a conflitos vividos na infncia da personagem, o que torna inaceitvel a alternativa C.

    Alternativa C

    29. No discurso indireto, a forma verbal presente em Tu crs deveras nessas cousas? deve ser transformada em:

    a) cria. b) creste. c) crera. d) crias. e cr.

    Resoluo:

    No discurso indireto, teremos o verbo crer conjugado no pretrito imperfeito do indicativo, forma essa apresentada na alternativa A. (Camilo perguntou-lhe se ela cria deveras naquelas cousas.)

    Alternativa A

    30. Considere as seguintes afirmaes sobre o texto.

    I. Em Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos pareciam de criana e Cuido que ele ia falar, mas reprimiu-se, o narrador fornece pistas para que o leitor perceba que Camilo no era sincero em relao ao amor por Rita.

    II. A visita cartomante, alm de compor o aspecto central do conflito que nomeia esse conto, tambm um importante recurso caracterizador da personagem Rita.

    III. Nota-se, por meio dos comentrios feitos pelo narrador onisciente, que o misticismo e a busca pelo sobrenatural so vistos com certa simpatia pelo autor realista, que percebe as crendices como um reflexo do questionamento da realidade.

    correto o que se afirma apenas em:

    a) I. b) I e II. c) II e III. d) II. e) III.

    Resoluo:

    I. Incorreto: no se pode afirmar, a partir do texto, que Camilo no era sincero em relao ao amor por Rita (amor pelo qual a personagem vir, posteriormente, a morrer assassinado).

    II. Correto: o fato de visitar a cartomante apresenta a personagem Rita como ingnua e supersticiosa (conforme afirmado na questo 28).

    III. Incorreto: no se pode, a partir da leitura do texto, tirar qualquer concluso a respeito da posio particular de Machado de Assis sobre as crendices. Alm disso, na sequncia do conto, as personagens sero assassinadas, indo contra as previses da cartomante.

    Alternativa D

  • insper 10/06/2012 Seu P Direito naS MelhoreS FaculDaDeS16

    CPV insperJUn2012

    COMENTRIO DA PROVA DE ANLISE VERBAL

    A prova do vestibular INSPER 2012/2 semestre mostrou-se bem mais elaborada do que as provas anteriores da instituio. Questes, em sua maioria, claras e coerentes cobraram no s o contedo curricular, como muita ateno leitura dos enunciados. A coletnea de textos, montada a partir dos mais diversos gneros discursivos (crnicas, tiras, textos jornalsticos...), foi muito bem explorada, exigindo, do candidato, versatilidade e habilidade em lidar com as mais diversas naturezas textuais.

    A gramtica tambm no foi esquecida: funes do se, crase, formao de palavras, conceitos de morfologia, concordncia, aplicao dos tempos verbais e funes sintticas do perodo simples, alm de tpicos gramaticais aplicados ao entendimento textual, foram assuntos muito bem trabalhados pela banca.

    Embora tenha havido algumas poucas questes de enunciado rebuscado, podemos afirmar que a banca realizou uma boa prova, selecionando os alunos mais bem preparados.