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1 CPV – CEASM Apostila nº 1 – GEOGRAFIA - 2013 Considerado uma das áreas mais violentas do Rio de Janeiro, o Complexo da Maré fica na região apelidada de "Faixa de Gaza" carioca - uma triste analogia à zona furiosamente disputada por judeus e palestinos há décadas. Apesar disso, o estagiário da Casa de Oswaldo Cruz (COC)Jean Xavier, de 26 anos, morador do bairro desde a infância, deixou de lado a violência do dia-a-dia e escreveu sobre a paz. O resultado foi uma redação premiada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). O texto fará parte da coletânea Escrevendo a paz, que reú- ne cem redações de universitários brasileiros. E Jean será um dos dez estudantes a apresentar o livro na sede da institu- ição, em Paris. "Decidi mostrar como as coisas mudaram da minha infância até hoje. No meu tempo de criança, violência era uma briga de casal e paz era poder correr e brincar tranqüilamente nas ruas do bairro onde nasci. Conforme fui crescen- do, a violência aumentou. Qual a visão de paz a criança de hoje tem?", questiona Jean, que cursa o 8º período do curso de arquivologia na Universidade do Rio de Janeiro (Uni-Rio). Além das aulas e do estágio na COC, ele divide seu tempo organizando uma biblioteca no Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm) e participando de um grupo de atores do Centro do Teatro do Oprimido, no mes- mo bairro. Foi a maneira que encontrou para retribuir à comunidade as conquistas que conseguiu. "Estou junto às pessoas, incentivando o sonho de cada um. Quem não conhece a Maré, acha que sou uma exce- ção. Não. Assim como eu, tem muita gente se esforçando. Só é preciso mostrar outros futuros possíveis", garante Jean, lembrando que foi o estágio como monitor no Museu da Vida, iniciado em 1999, que o fez ampliar os horizontes. Durante os quatro anos em que ficou no Museu, o jovem prestou vestibular, foi aprovado e tornou-se estagiário da Sala de Con- sulta da COC. http://www.fiocruz.br/~ccs/arquivosite/novidades/mai04/redacao_slo.htm Maio/2004 A paz plena por Jean Xavier Desejo íntimo que conduz a um único sentimento. Igualdade de direitos e igualdade de deveres. Respeito às di- ferenças. PAZ eterna, morte, fim... Pode-se idealizar o que quiser dessa palavra. Aqueles que promovem as guerras tem em seus discursos a PAZ como objetivo principal, mesmo não sabendo o que ela quer dizer realmente. Inexiste PAZ sem justiça. São dois lados de uma mesma moeda que perde o seu valor quando é abandonado qualquer um deles. Para falar de PAZ somente sendo criança. Em meu tempo de criança a PAZ era poder correr pelado e livre pelas ruas da Favela da Maré*¹. Atrás de pipa, de bola ou de outro amiguinho brincado de pique-pega. Esse momento de ingenuidade me propunha a PAZ universal, apesar de saber que o mundo ai fora estava repleto de guerras. Tempos depois eu já não me achava pelado nas ruas do lugar onde eu nasci, que agora já urbanizado, se chama Complexo da Maré*². Nessa época PAZ para mim era conversar com os meus amigos de rua, jogar bola e brincar de polícia e ladrão. Tinha noção que a PAZ em que eu vivia não era plena como eu achava antes. Pois vi na televisão um menino iraniano, da minha idade, carregando uma arma maior que ele para lutar uma guerra que seus pais herdaram de seus avos. Pobre menino não sabia nem o que estava acontecendo ao seu redor. Hoje, não corro livre e muito menos pelado nas ruas do Bairro onde eu nasci que se chama Maré*³. A minha i- déia de PAZ não e tão plena como antes. É poder conversar na rua de casa com meus amigos que ainda não morreram por bala perdida ou pela guerra que esta instaurada entre o poder do estado e o poder paralelo. Neste momento vejo nas ruas dezenas de meninos iraniano, iraquiano ou palestinos não importa pois onde eu moro não existe ninguém dessa nacionalidade. O que vejo são meninos que agora acompanhados de suas meninas mães carregam no colo os seus filhos que ao cruzar a próxima esquina serão órfãos. De colo é o meu sobrinho que com um aninho de vida já sabe diferenciar o barulho de fogos de artifício do es- trondo rasgante das armas de fogo. Embora a minha consciência e o meu desejo de PAZ tenha aumentado junto com a minha maturidade, faço mui- to menos do que fiz quando criança. Talvez eu tenha perdido um pouco da ingenuidade que me fazia acreditar que o próximo ser humano, não era inimigo, era mais um amiguinho para brincar de pique-pega. Acreditava que o mundo é perfeito e repleto de PAZ do jeito que eu o faço ele ser. A grande esperança de PAZ plena esta nos exemplos dados pelas crianças. Que em meio a um intenso tiroteio a menininha larga às mãos da mãe e corre para ajudar um amiguinho que esta caída no chão paralisado de medo. Ele não se importa com o castigo da mãe aflita, pois os dois amigos voltam seguros para as suas casas. Naquele minuto eu a- creditei que a verdadeira PAZ e possível. *¹ Favela da Maré *² Complexo da Maré *³ Bairro Maré As três indicações são de um mesmo lugar em tempos diferentes. Mostra a evolução de uma favela do Rio de Janeiro em bairro.

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CPV – CEASM – Apostila nº 1 – GEOGRAFIA - 2013

Considerado uma das áreas mais violentas do Rio de Janeiro, o Complexo da Maré fica na região apelidada de

"Faixa de Gaza" carioca - uma triste analogia à zona furiosamente disputada por judeus e palestinos há décadas. Apesar

disso, o estagiário da Casa de Oswaldo Cruz (COC)Jean Xavier, de 26 anos, morador do bairro desde a infância, deixou

de lado a violência do dia-a-dia e escreveu sobre a paz. O resultado foi uma redação premiada pela Organização das

Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). O texto fará parte da coletânea Escrevendo a paz, que reú-

ne cem redações de universitários brasileiros. E Jean será um dos dez estudantes a apresentar o livro na sede da institu-

ição, em Paris.

"Decidi mostrar como as coisas mudaram da minha infância até hoje. No meu tempo de criança, violência era

uma briga de casal e paz era poder correr e brincar tranqüilamente nas ruas do bairro onde nasci. Conforme fui crescen-

do, a violência aumentou. Qual a visão de paz a criança de hoje tem?", questiona Jean, que cursa o 8º período do curso

de arquivologia na Universidade do Rio de Janeiro (Uni-Rio).

Além das aulas e do estágio na COC, ele divide seu tempo organizando uma biblioteca no Centro de Estudos e

Ações Solidárias da Maré (Ceasm) e participando de um grupo de atores do Centro do Teatro do Oprimido, no mes-

mo bairro. Foi a maneira que encontrou para retribuir à comunidade as conquistas que conseguiu.

"Estou junto às pessoas, incentivando o sonho de cada um. Quem não conhece a Maré, acha que sou uma exce-

ção. Não. Assim como eu, tem muita gente se esforçando. Só é preciso mostrar outros futuros possíveis", garante Jean,

lembrando que foi o estágio como monitor no Museu da Vida, iniciado em 1999, que o fez ampliar os horizontes. Durante

os quatro anos em que ficou no Museu, o jovem prestou vestibular, foi aprovado e tornou-se estagiário da Sala de Con-

sulta da COC.

http://www.fiocruz.br/~ccs/arquivosite/novidades/mai04/redacao_slo.htm Maio/2004

A paz plena

por Jean Xavier

Desejo íntimo que conduz a um único sentimento. Igualdade de direitos e igualdade de deveres. Respeito às di-

ferenças. PAZ eterna, morte, fim... Pode-se idealizar o que quiser dessa palavra. Aqueles que promovem as guerras tem

em seus discursos a PAZ como objetivo principal, mesmo não sabendo o que ela quer dizer realmente. Inexiste PAZ sem

justiça. São dois lados de uma mesma moeda que perde o seu valor quando é abandonado qualquer um deles. Para falar

de PAZ somente sendo criança.

Em meu tempo de criança a PAZ era poder correr pelado e livre pelas ruas da Favela da Maré*¹. Atrás de pipa,

de bola ou de outro amiguinho brincado de pique-pega. Esse momento de ingenuidade me propunha a PAZ universal,

apesar de saber que o mundo ai fora estava repleto de guerras.

Tempos depois eu já não me achava pelado nas ruas do lugar onde eu nasci, que agora já urbanizado, se chama

Complexo da Maré*². Nessa época PAZ para mim era conversar com os meus amigos de rua, jogar bola e brincar de

polícia e ladrão. Tinha noção que a PAZ em que eu vivia não era plena como eu achava antes. Pois vi na televisão um

menino iraniano, da minha idade, carregando uma arma maior que ele para lutar uma guerra que seus pais herdaram de

seus avos. Pobre menino não sabia nem o que estava acontecendo ao seu redor.

Hoje, não corro livre e muito menos pelado nas ruas do Bairro onde eu nasci que se chama Maré*³. A minha i-

déia de PAZ não e tão plena como antes. É poder conversar na rua de casa com meus amigos que ainda não morreram

por bala perdida ou pela guerra que esta instaurada entre o poder do estado e o poder paralelo. Neste momento vejo

nas ruas dezenas de meninos iraniano, iraquiano ou palestinos não importa pois onde eu moro não existe ninguém dessa

nacionalidade. O que vejo são meninos que agora acompanhados de suas meninas mães carregam no colo os seus filhos

que ao cruzar a próxima esquina serão órfãos.

De colo é o meu sobrinho que com um aninho de vida já sabe diferenciar o barulho de fogos de artifício do es-

trondo rasgante das armas de fogo.

Embora a minha consciência e o meu desejo de PAZ tenha aumentado junto com a minha maturidade, faço mui-

to menos do que fiz quando criança. Talvez eu tenha perdido um pouco da ingenuidade que me fazia acreditar que o

próximo ser humano, não era inimigo, era mais um amiguinho para brincar de pique-pega. Acreditava que o mundo é

perfeito e repleto de PAZ do jeito que eu o faço ele ser.

A grande esperança de PAZ plena esta nos exemplos dados pelas crianças. Que em meio a um intenso tiroteio a

menininha larga às mãos da mãe e corre para ajudar um amiguinho que esta caída no chão paralisado de medo. Ele não

se importa com o castigo da mãe aflita, pois os dois amigos voltam seguros para as suas casas. Naquele minuto eu a-

creditei que a verdadeira PAZ e possível.

*¹ Favela da Maré

*² Complexo da Maré

*³ Bairro Maré

As três indicações são de um mesmo lugar em tempos diferentes. Mostra a evolução de uma favela do Rio de Janeiro em bairro.

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SOBRE O CEASM

O Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré CEASM é uma associação civil, sem fins lucrativos, criada em 15

de agosto de 1997. O CEASM atua no conjunto de comunidades populares da Maré, área da cidade do Rio de Janeiro que

reúne cerca de 130 mil moradores. O Centro foi fundado e é dirigido por moradores e ex-moradores locais que, em sua

grande maioria, conseguiram chegar universidade. Os projetos desenvolvidos pelo CEASM visam superar as condições de

pobreza e exclusão existentes na Maré, apontado como o terceiro bairro de pior Índice de Desenvolvimento Humano da

cidade.

O Curso Pré-vestibular Comunitário da Maré é um projeto que nasceu com o próprio CEASM, em 1997, quando o

Centro ainda estava provisoriamente abrigado nos fundos da Igreja Nossa Senhora dos Navegantes.

Em sua proposta político-pedagógica, o CPV MARÉ/CEASM procura desenvolver atividades que permitam aos seus alu-

nos, para além do acesso às universidades públicas, desenvolver uma consciência crítica e cidadã sobre o mundo. Assim,

estimula-os a construir estratégias de participação e transformação da realidade existente. Hoje, prestes a completar 11

anos de existência, o Pré-vestibular tem muito que comemorar. Com um número de aproximadamente 600 aprovações,

muitos de seus ex- alunos estão envolvidos em uma série de atividades que objetivam a garantia de direitos da comuni-

dade.

O Pré-vestibular conta com uma equipe formada por 20 professores distribuídos nas seguintes áreas do conhe-

cimento: Física, Química, Matemática, Geografia, História, Biologia, Espanhol e Língua Portuguesa. Conta com um profis-

sional da área de Psicologia, que desenvolve junto aos alunos atividades de Orientação Profissional, uma secretária e

dois coordenadores escolhidos por eleição entre os professores. Esta equipe se encontra nas reuniões gerais, realizadas

todos os meses, planeja as atividades político-pedagógicas, debate e decide todas as questões referentes ao projeto.

Dentre as atividades político-pedagógicas organizadas pela equipe destacam-se:

· Domingo é Dia de Cinema - atividade em que os alunos assistem a filmes seguidos de debates, no Cine Oden-BR

ou dentro do próprio CEASM, em que são discutidos temas como a situação feminina, violência, cultura e religiosidade,

meio-ambiente, trabalho, comunicação, entre outros.

· Atividade sobre a História da formação da cidade do Rio de Janeiro e Centro Histórico

· Trabalho de campo na Floresta da Tijuca

· Visitações a universidades

· Debates com profissionais de diversas áreas

· Visitas a museus

http://www.ceasm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=123&Itemid=155

Última atualização ( Ter, 02 de Dezembro de 2008 14:41 )

Cavalo Preto

Nas noites sóbrias das favelas

todos esperam o cavalo preto

que vem fazendo barulho pelas ruas

com suas ferraduras blindadas.

O cavalo feito para matar

aterroriza a quem deveria proteger

não respeita ninguém

Quem ele procura para condenar

já é condenado desde pequeno

Quando ele os encontra suas sentenças

já foram aplicadas

Por Valdean

Todos na cidade o conhece

quem mora lá acha que ele deve

continuar matando e atemorizando

Quem mora aqui pensa que ele não deveria existir.

E neste jogo de empurra, empurra

O cavalo vai se criando

Com o sangue de inocentes

e as ruas da cidade nas favelas inundando.

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SOBRE A MARÉ A Maré é o maior complexo de favelas do Rio de Janeiro e um dos espaços populares mais conhecidos do

país. A fama, entretanto, é conseqüência dos precários indicadores sociais que caracterizam a região. Localizada junto à Baía de Guanabara, à Av. Brasil e às principais vias de acesso à cidade, a Maré ocupa

uma presença significativa no imaginário carioca. Foi, durante muito tempo, dominada por palafitas – habitações precárias suspensas sobre a lama e a água

– em visível contraste com as modernas arquiteturas do Aeroporto Internacional e da Cidade Universitária da UFRJ. Este fato contribuiu para uma visão generalizada da região como um espaço miserável, violento e sem condições dignas de vida. Na década de 80, a Maré das palafitas inspirou a música Alagados, dos Paralamas do Sucesso. População

A Maré é formada por uma população de negros e migrantes, com pouca escolaridade e qualificação, e baixa renda familiar. No universo de 28 grupos de favelas da cidade, a Maré fica em 11ª posição no Índice de Qualidade de Vida Urbana – resultado próximo ao da média das favelas cariocas. Quanto aos itens básicos de infra-estrutura, como luz, água e esgoto, a Maré conquistou importantes avanços nos últimos 20 anos. Mas o mesmo não ocorreu no campo econômico e cultural. Como exemplo, até o início dos anos 90 só 0,6% da popula-ção local tinha diploma de graduação, enquanto o número de analfabetos beirava os 20%. Já quando o assunto é geração de renda, mais de 2/3 dos trabalhadores da Maré afirmam que ganham menos de dois salários mínimos por mês.

À primeira vista, esses dados padronizam a população numa mesma massa de bolo. Mas um olhar atento revela que existe uma rica diversidade de práticas, pessoas e grupos na realidade cotidiana da Maré. Com cerca de 130 mil habitantes, o bairro mais parece uma colcha de retalhos, tecida por comunidades com histórias e características distintas de ocupação. Suas 16 comunidades estão distribuídas em pouco mais de 800 mil m2 e formam o chamado Complexo da Maré.

O status de bairro veio em 1994. Atualmente, a 30ª Administração Regional responde pela Maré, a-brangendo tanto os conjuntos habitacionais quanto as áreas de antigas favelas. Comunidades da Maré

Formada por 16 comunidades – cada uma com sua própria história de ocupação, a Maré é como uma Colcha de Retalhos. E isso a torna ainda mais interessante e diversificada culturalmente.

Conheça um pouco sobre cada uma destas comunidades.

Morro do Timbau (1940) - A história do morro que deu origem ao bairro Maré se confunde com a de Orosina Vieira (considerada sua primeira moradora), que chegou ao local em meados da década de 40 – quando a Av. Brasil estava em construção. Hoje o Morro do Timbau tem mais de 2.700 domicílios e uma população de aproximadamente 6 mil habitan-tes. Baixa do Sapateiro (1947) - A comunidade, com cerca de 4 mil residências e 25 mil moradores, se formou a partir de um pequeno grupo de palafitas no fim da década de 40. A infra-estrutura de hoje em nada lembra os primeiros tempos.

Marcílio Dias (1948) - Situada entre a Casa do Marinheiro e a fábrica da Kelson, a comunidade de Marcílio Dias já foi conhecida como Praia das Moreninhas. O processo de ocupação teve início em 1948, quando oito famílias de pescadores construíram palafitas. Marcílio Dias tem hoje cerca de 2300 domicílios, 12 mil pessoas e um comércio de pequeno porte. Parque Maré (1953) - Os primeiros barracos foram construídos sobre o mangue, em 1950. Desde então, a comunidade não parou de crescer. Hoje são quase 30 mil habitantes e cerca de 4 mil domicílios. As casas de madeira praticamente desapareceram, as ruas são calçadas e a comunidade dispõe de relativa infra-estrutura. Parque Roquete Pinto (1955) - Uma série de aterros realizados pelos moradores deu origem ao Parque Roquete Pin-to. A área, originalmente um manguezal, foi tomada por palafitas. O processo de urbanização fez com que surgissem ca-sas de alvenaria. A comunidade possui um Ciep e duas escolas públicas convencionais. Parque Rubens Vaz (1961) - A ocupação começou em 1951, quando a quantidade de areia drenada do Canal da Portuária ainda causava muitos problemas aos moradores. Em situação bem diferente, hoje o Parque Rubens Vaz tem cerca de 15 mil habitantes em aproximadamente 1.200 domicílios. Conta também com um comércio variado, Ciep, posto de saúde e terminal de ônibus. Parque União (1961) - Sua história é, no mínimo, original. A comunidade nasceu de loteamento planejado por um advogado que tinha, como projeto criar um bairro popular e com boa infra-estrutura urbana. O Parque União tem hoje cerca de 30 mil habitantes, estabelecimentos comerciais de pequeno porte, supermercado, várias creches e um Ciep. Nova Holanda (1962) - Os primeiros moradores chegaram em 1962, removidos da Favela do Esqueleto, do Morro da Formiga e das margens do Rio Faria Timbó. Alojados "provisoriamente" pelo Governo do Estado em casas de madeira, acabaram por se estabelecer definitivamente no local.

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Praia de Ramos (1962) - Localizada próxima ao quartel do 24º Batalhão de Infantaria, a comunidade antes conheci-da como Praia de Maria Angu, foi inicialmente ocupada por pescadores. Hoje são aproximadamente mil domicílios e quase 4 mil habitantes. Os moradores dispõem de um comércio de pequeno porte, dois postos de saúde, duas escolas, um posto policial e uma unidade da Fundação Leão XIII.

Conjunto Esperança (1982) - Foi construído em 1982, com 35 edifícios e 1400 apartamentos. A obra fazia parte do Projeto Rio, a primeira grande iniciativa de urbanização do Governo Federal na área da Maré. Na época, 7 mil moradores de palafitas foram transferidos para os imóveis. Quase 20 anos depois, o número de habitantes ultrapassa os 8 mil.

Vila do João (1982) - Uma das comunidades criadas pelo Projeto Rio, o conjunto habitacional de 2600 casas foi conclu-ído no início dos anos 80. Para lá foram levadas as pessoas que viviam em palafitas na Maré. Atualmente, a Vila do João tem cerca de 4 mil domicílios e aproximadamente 12 mil moradores. Vila do Pinheiro (1989) - O aterro da Ilha do Pinheiro, em 1980, marcou o início da construção da Vila do Pinheiro – um conjunto habitacional com 2300 casas, que hoje abriga mais de 16 mil pessoas. Outra comunidade formada pelo Pro-jeto Rio, do Governo Federal. Conjunto Pinheiros (1989) - Com histórico semelhante à Vila do Pinheiro, o Conjunto também foi construído sobre a área aterrada da Ilha do Pinheiro, em 1980. Foi mais uma comunidade formada pelo Projeto Rio, do Governo Federal Conjunto Bento Ribeiro Dantas (1992) - Fundada em 1992, é uma das comunidades mais novas do bairro Maré. Reúne um pouco mais de 600 blocos e uma população estimada em 3 mil habitantes. Nova Maré (1996) - A remoção de moradores que viviam em palafitas no Parque Roquete Pinto e na favela conhecida como Kinder Ovo deu origem à comunidade da Nova Maré. O conjunto habitacional foi inaugurado em 1995 e atualmente conta com mais de 620 casas. Salsa e Merengue (2000) – Essa comunidade, oficialmente conhecida como Novo Pinheiro, é um conjunto habitacional inaugurado pela prefeitura em 2000. Possui histórico e características próprias, mas o fato de ainda não ter Associação de Moradores a faz ser incluída, tradicionalmente, na Vila Pinheiros.

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CAPÍTULO I COMO VEJO O MUNDO

Minha condição humana me fascina. Conheço o limite de minha existência e ignoro por que estou nesta terra, mas às vezes o pressinto. Pela experiência cotidia-na, concreta e intuitiva, eu me descubro vivo para alguns homens, porque o sorriso e a felicidade deles me condi-cionam inteiramente, mas ainda para outros que, por acaso, descobri terem emoções semelhantes às minhas.

E cada dia, milhares de vezes, sinto minha vida — corpo e alma — integralmente tributária do trabalho dos vivos e dos mortos. Gostaria de dar tanto quanto recebo e não paro de receber. Mas depois experimento o sentimen-to satisfeito de minha solidão e quase demonstro má consciência ao exigir ainda alguma coisa de outrem. Vejo os homens se diferenciarem pelas classes sociais e sei que nada as justifica a não ser pela violência. Sonho ser acessível e desejável para todos uma vida simples e natu-ral, de corpo e de espírito.

Recuso-me a crer na liberdade e neste conceito filosófico. Eu não sou livre, e sim às vezes constrangido por pressões estranhas a mim, outras vezes por convic-ções íntimas. Ainda jovem, fiquei impressionado pela máxima de Schopenhauer: “O homem pode, é certo, fazer o que quer, mas não pode querer o que quer”; e hoje, diante do espetáculo aterrador das injustiças huma-nas, esta moral me tranquiliza e me educa. Aprendo a tolerar aquilo que me faz sofrer. Suporto então melhor meu sentimento de responsabilidade. Ele já não me es-maga e deixo de me levar, a mim ou aos outros, a sério demais. Vejo então o mundo com bom humor. Não posso me preocupar com o sentido ou a finalidade de minha existência, nem da dos outros, porque, do ponto de vista estritamente objetivo, é absurdo. E no entanto, como homem, alguns ideais dirigem minhas ações e orientam meus juízos. Porque jamais considerei o prazer e a felici-dade como um fim em si e deixo este tipo de satisfação aos indivíduos reduzidos a instintos de grupo.

Em compensação, foram ideais que suscitaram meus esforços e me permitiram viver. Chamam-se o bem, a beleza, a verdade. Se não me identifico com outras sensibilidades semelhantes à minha e se não me obstino incansavelmente em perseguir este ideal eternamente inacessível na arte e na ciência, a vida perde todo o sen-tido para mim. Ora, a humanidade se apaixona por finali-dades irrisórias que têm por nome a riqueza, a glória, o luxo. Desde moço já as desprezava.

Tenho forte amor pela justiça, pelo compromisso social. Mas com muita dificuldade me integro com os ho-mens e em suas comunidades. Não lhes sinto a falta por-que sou profundamente um solitário. Sinto-me realmente ligado ao Estado, à pátria, a meus amigos, a minha famí-lia no sentido completo do termo. Mas meu coração expe-rimenta, diante desses laços, curioso sentimento de es-tranheza, de afastamento e a idade vem acentuando ain-da mais essa distância. Conheço com lucidez e sem pre-venção as fronteiras da comunicação e da harmonia entre mim e os outros homens. Com isso perdi algo da ingenui-dade ou da inocência, mas ganhei minha independência. Já não mais firmo uma opinião, um hábito ou um julga-mento sobre outra pessoa. Testei o homem. É inconsis-tente.

A virtude republicana corresponde a meu ideal político. Cada vida encarna a dignidade da pessoa huma-na, e nenhum destino poderá justificar uma exaltação qualquer de quem quer que seja. Ora, o acaso brinca comigo. Porque os homens me testemunham uma incrível e excessiva admiração e veneração. Não quero e não mereço nada. Imagino qual seja a causa profunda, mas quimérica, de seu sentimento. Querem compreender as poucas idéias que descobri. Mas a elas consagrei minha vida, uma vida inteira de esforço ininterrupto.

Fazer, criar, inventar exigem uma unidade de concepção, de direção e de responsabilidade. Reconheço esta evidência. Os cidadãos executantes, porém, não deverão nunca ser obrigados e poderão escolher sempre seu chefe.

Ora, bem depressa e inexoravelmente, um siste-ma autocrático de domínio se instala e o ideal republicano degenera. A violência fascina os seres moralmente mais fracos. Um tirano vence por seu gênio, mas seu sucessor será sempre um rematado canalha. Por esta razão, luto sem tréguas e apaixonadamente contra os sistemas dessa natureza, contra a Itália fascista de hoje e contra a Rússia soviética de hoje. A atual democracia na Europa naufraga e culpamos por esse naufrágio o desaparecimento da ideologia republicana. Aí vejo duas causas terrivelmente graves. Os chefes de governo não encarnam a estabilida-de e o modo da votação se revela impessoal. Ora, creio que os Estados Unidos da América encontraram a solução desse problema. Escolhem um presidente responsável eleito por quatro anos. Governa efetivamente e afirma de verdade seu compromisso. Em compensação, o sistema político europeu se preocupa mais com o cidadão, com o enfermo e o indigente. Nos mecanismos universais, o mecanismo Estado não se impõe como o mais indispensá-vel. Mas é a pessoa humana, livre, criadora e sensível que modela o belo e exalta o sublime, ao passo que as mas-sas continuam arrastadas por uma dança infernal de im-becilidade e de embrutecimento.

A pior das instituições gregárias se intitula exérci-to. Eu o odeio. Se um homem puder sentir qualquer pra-zer em desfilar aos sons de música, eu desprezo este homem... Não merece um cérebro humano, já que a me-dula espinhal o satisfaz. Deveríamos fazer desaparecer o mais depressa possível este câncer da civilização. Detesto com todas as forças o heroísmo obrigatório, a violência gratuita e o nacionalismo débil. A guerra é a coisa mais desprezível que existe. Preferiria deixar-me assassinar a participar desta ignomínia.

No entanto, creio profundamente na humanidade. Sei que este câncer de há muito deveria ter sido extirpa-do. Mas o bom senso dos homens é sistematicamente corrompido. E os culpados são: escola, imprensa, mundo dos negócios, mundo político.

O mistério da vida me causa a mais forte emo-ção. É o sentimento que suscita a beleza e a verdade, cria a arte e a ciência. Se alguém não conhece esta sensação ou não pode mais experimentar espanto ou surpresa, já é um morto-vivo e seus olhos se cegaram. Aureolada de temor, é a realidade secreta do mistério que constitui também a religião. Homens reconhecem então algo de impenetrável a suas inteligências, conhecem porém as manifestações desta ordem suprema e da Beleza inalterá-vel. Homens se confessam limitados e seu espírito não

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pode apreender esta perfeição. E este conhecimento e esta confissão tomam o nome de religião. Deste modo, mas somente deste modo, soa profundamente religioso, bem como esses homens. Não posso imaginar um Deus a recompensar e a castigar o objeto de sua criação. Não posso fazer idéia de um ser que sobreviva à morte do corpo. Se semelhantes idéias germinam em um espírito, para mim é ele um fraco, medroso e estupidamente ego-ísta.

Não me canso de contemplar o mistério da eter-nidade da vida. Tenho uma intuição da extraordinária construção do ser. Mesmo que o esforço para compreen-dê-lo fique sempre desproporcionado, vejo a Razão se manifestar na vida. ALBERT EINSTEIN

VIRANDO O MUNDO DE CABEÇA PARA BAIXO Por S. Quimas

O Mapa-Múndi Um dos primeiros mapas que se tem notícia é a-

tribuído aos babilônios (aproximadamente 2300 a.C.). Os gregos, segundo se tem notícia, por volta do século VI a.C. criaram o primeiro mapa-múndi, atribuído ao filósofo Anaximandro. É deles a autoria de um dos mapas mais conhecidos da era clássica, realizado pelo geógrafo Era-tóstenes, em 200 a.C. Ptolomeu, com sua obra Geografia (século I ou II de nossa era), introduziu uma cartografia bastante precisa, com base num método matemático de grande precisão, através de uma projeção cônica. É dele um sistema astronômico conhecido, que dominou o pen-samento científico até o século XVI, o qual afirma que a Terra era imóvel e se situava no centro do Universo. Por se opor a esta teoria, muita gente queimou nas fogueiras ou se tornou vítima da Inquisição Católica culpado por heresia, até a Teoria do polonês Nikolai Kopernik (1473-1543) [1].

Mapa-Múndi Ptolomáico (1486)

Gerard Kremer (Gerardus) Mercartor (1512-1594), famoso geógrafo, cartógrafo e matemático flamengo, concebeu e desenvolveu em 1568 um sistema de pro-jeção cartográfica que leva seu nome. Este sistema representa os meridianos (linhas retas imaginárias que cortam a Terra longitudinalmente) paralelos entre si, e os paralelos (linhas que cortam o planeta latitudinal-mente) como linhas retas que cruzam os meridianos ortogonalmente (ângulo de 90º) [2]. A partir do siste-ma de Mercartor desenvolveram-se outros sistemas de projeção.

Esta sucinta digressão através da história da car-tografia tem por objetivo nos alicerçar para o que refleti-remos a seguir.

Como podemos observar, a geografia e a carto-grafia tiveram suas origens no Hemisfério Norte do plane-

ta. Toda concepção e suas convenções tem por base, principalmente, os ditames europeus. Nos mapas-múndi convencionais, os continentes europeu, asiático e ameri-cano do norte, ficam acima, e a América do Sul, a África e Oceania, abaixo. Entretanto, tal fato é simples convenção (ou não!).

A partir de nossos conhecimentos astronômicos sabemos que a Terra no espaço gira em torno do Sol. Porém, no espaço “em pé” ou “deitado”, esquerda ou direita, frente e atrás, são todos dependentes do referen-cial que se toma. Estando “em pé” ou de “cabeça para baixo”, nossa nave navegará até os confins do Universo, e nós jamais notaremos qualquer estranheza.

A navegação no Hemisfério Norte tem por guia a estrela Polar, que não é vista no Sul. Em países do Hemis-fério Sul, a melhor orientação é dada pelo Cruzeiro do Sul.

Quando Mercartor criou o seu mapa, influenciado pelo domínio cultural europeu, situou os continentes do Norte na parte superior do mapa e a Europa no meio. Esta é a imagem que prevalece na maioria dos mapas-múndi até os dias de hoje.

Em 1884, foi escolhida “a antiga sede do observa-tório astronômico de Greenwich, atualmente um bairro da Grande Londres” [3], utilizado como marco zero para a definição das longitudes terrestres (cada grau de longitu-de (ou latitude) é dividido em 60 minutos e cada minuto em 60 segundos). Por causa desta convenção, a Inglater-ra estará, privilegiadamente, na maioria dos mapas-múndi, até que se adote uma outra disposição, no centro da carta.

Devido à convenção cartográfica baseada em Mercartor, os continentes das América e África apontam para baixo, como fossem triângulos invertidos. Nesta disposição, o mundo subdesenvolvido fica abaixo, e o dito Primeiro Mundo, acima, reafirmando visualmente a hege-monia econômica deste último.

Como sabemos, os mapas são projeções carto-gráficas, ou seja, uma tentativa de transformar uma figu-ra sólida (em três dimensões, no caso do planeta, um esferóide) em uma imagem plana de duas dimensões. Por mais preciso e veraz que se tente ser, isto sempre causa-rá alguma distorção. Quem sabe, no futuro, com a evolu-ção da holografia, o professor ao invés de esticar um surrado mapa plano do mundo feito de papel no quadro, ao contrário, poderá projetar no centro da sala um mode-lo exato da Terra. Assim, os alunos poderão ter a noção real de como são realmente as extensões geográficas planetárias, tal qual podem ser apreciadas pelos astro-nautas em órbita da Terra.

Várias tentativas de acomodar estas distorções, comuns às projeções cartográficas, entre elas, destaca-se a de Peters, datada de 1974. Esta projeção é uma tentati-va de se aproximar da realidade das áreas dos continen-tes. Nela, a África se agiganta e a Groenlândia sofre uma considerável redução. Contudo, mesmo no Mapa de Peters, a América do Norte, a Europa e a Ásia continuam no alto, e os demais conti-nentes, abaixo.

A idéia de virar o mundo de cabeça para baixo não é moderna, pois diversos cartógrafos já a partir da Era das Navegações, representavam a África e o Novo Mundo com as pontas voltadas para cima.

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Mapa-múndi do veneziano Jerônimo Marini (1512) [4]

Mapa-múndi de Nicolas Desliens, Dieppe (1567)

Se observarmos uma imagem do mapa-múndi

feita por satélite, virando-a de cabeça para baixo, tere-mos uma nova noção sobre o planeta. Fazendo assim, poderemos observar que imediatamente se destacam a África (que se destaca em qualquer visão), a América do Sul e a Oceania. Esta imagem também traz a sensação de que os continentes estão se movimentado da esquerda para a direita,de baixo para cima. Mesmo num mapa desenhado, temos uma sensação semelhante.

A questão de nomenclatura não é tão importante. Norte, sul, leste e oeste, podem ficar confortavelmente invertidos em relação à tradição (o norte para baixo, o sul para cima, o leste para a esquerda e o oeste para a direi-ta). Afinal, tudo isto não é uma convenção?

Leste e oeste têm raízes sânscritas e indo-européias e querem dizer, simplesmente, lugar onde nas-ce e lugar onde se põe o sol. Norte e sul têm raízes anglo-saxônicas, e norte (north) é o ponto cardeal em que ob-servador abrindo os seus braços, levando a sua mão direi-ta em direção ao nascente e sua mão esquerda em dire-ção ao poente fica à sua frente, e o sul (suth, south), o oposto ao norte. Como vemos, nada que justifique não podermos usar um mapa-múndi cujo sul esteja acima e o norte esteja abaixo.

Quando usamos a expressão “o meu mundo pare-ce virado de cabeça para baixo”, queremos dizer que sofremos um revés. Esta expressão é negativa. Demons-tra a força psicológica e hegemonia cultural das nações do norte em relação às culturas do restante do mundo.

Sempre foi hábito dos monarcas e pessoas de classe econômica ou de poder alta atenderem sentados numa posição mais elevada do que aqueles que lhes pro-curavam. Os tronos quase sempre estão num nível acima do restante da sala.

Estar por cima é submeter, estar por baixo é submeter-se. Possa ser que eu me engane, mas há algo de muito dissimulado e perverso nas idéias cartográficas ao norte do Equador. Talvez quando o sul começar a valo-rizar-se, a América do Sul, a África e a Oceania, mudarão seus mapas. Psicologicamente, é provável que isto surta

grande efeito na mente de seus povos, que se acostuma-rão desde a infância que estão “por cima”, como os reis, os vencedores, os vitoriosos, e não “por baixo” como os submissos, os vencidos, os subservientes. Então, mãos à obra, vamos virar os nossos mapas-múndi de cabeça para baixo. O único trabalho que vamos ter é girar em 180º os textos com os nomes das localida-des, coisa que não dá lá tanto trabalho. [1] Enciclopédia Encarta 2000. Microsoft Corporation.

[2] Idem anterior. [3] Idem anterior.

[4] Mapas Históricos Brasileiros, da enciclopédia Grandes Personagens da Nossa História, ed. Abril

Cultural, São Paulo/SP, 1969. Reprodução do fac-símile existente na mapoteca do Ministério das

relações Exteriores, situada no Rio de Janeiro, no então estado da Guanabara. Orbis Universalis,

1512: O mapa-múndi do veneziano Jerônimo Marini, de 1512, é a primeira carta onde aparece o

nome Brasil para designar as terras até então conhecidas como de Vera Cruz, Santa Cruz, dos

papagaios ou "del brazille". Desenhado em pergaminho, é um dos poucos mapas manuscritos do

início do século XVI hoje existentes. Está de cabeça para baixo, pois, por influência dos costumes

árabes, ele é orientado pelo sul. A Palestina, onde há um presépio, é colocada no centro da Terra,

conforme a tradição medieval. O mapa apresenta os defeitos da época, como a representação

errada da Inglaterra. Por outro lado, é inovador quanto à colocação mais exata da Escandinávia e

da península de Malaca. A obra de Marini, cujo original está na Libreria Antiquari Pio Luzzeti, em

Roma, é de grande importância na história geral da cartografia, pois documenta uma concepção

veneziana do mundo que estava sendo descoberto. O Equador, embora passando ao sul de

Gibraltar, corta o Mediterrâneo, ainda considerado, como na Idade Média, o eixo das terras

habitadas. É também característica veneziana a presença maciça das regiões asiáticas, pólo de

atração da época. Da América, vê-se apenas a costa oriental, com destaque para o Brasil. Em

torno do mapa estão alegorias representando o Sol, a Lua, as estrelas e os ventos. Nos extremos

oriental e ocidental, duas esfinges simbolizam os mistérios do mundo, que só mais tarde Fernão de

Magalhães decifraria. Fonte: http://www.novomilenio.inf.br/santos/mapas.htm.

SOBRE OS MAPAS

Os mapas mentem - Ameaças cartográficas Confesso, honestamente, que nunca, jamais, em tempo algum, passou-me de leve pelo bestunto a estapa-fúrdia idéia de que o mapa-múndi utilizado em consultas, desde os começos escolares, seja inexato, incorreto nas proporções, oferecendo uma noção falsa, superavaliada, da grandeza geográfica dos países do chamado primeiro mundo. Provocado pelo que conta a respeito Eduardo Galeano no livro "De pernas pro ar - a Escola do mundo ao avesso", resolvi conferir e acabei me certificando, ar-regalado de espanto, que a revelação transmitida pelo escritor uruguaio, está absolutamente certa. A linha do equador não atravessa, realmente, a metade do mapa-mundi, como diz Galeno, está nu. E não é que isso já havia sido constatado, na moita, debaixo de silêncio se-pulcral, há mais de meio século por um cientista alemão de nome Arno Peters? Mas o mais adequado nas circunstâncias é deixar a palavra escorrer pela boca do próprio escritor: "O ma-pa-mundi que nos ensinaram dá dois terços para o norte e um terço para o sul.(...) A Europa é mais extensa do que a América Latina tenha o dobro da superfície da Eu-ropa. A índia, parece menor do que a Escandinávia, em-bora seja três vezes maior. Os Estados Unidos e o Cana-dá, no mapa, ocupam mais espaço do que a África, embo-ra correspondam apenas a duas terças partes do território africano" Adotando-se a mesma perspectiva da análise de Gaelano, dá para ver que a configuração do Brasil, deten-tor da quarta ou quinta maior extensão territorial entre os demais países, está igualmente desproporcional no atlas. Isso posto, quala razão dessa desconcertante distorção da geografia e da história, há tantos anos igno-rada ou tolerada? Galeano não deixa por menos: "O mapa mente. A geografia tradicional rouba o espaço, assim como a economia imperial rouba a riqueza, a história oficial rouba a memória e a cultura formal rouba a pala-

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vra." Ele está a falar de um processo espoliativo incessan-te que tem como alvo os países do hemisfério sul, um processo, como sabido e notório, inclemente do ponto de vista econômico e social com relação ao chamado mundo subdesenvolvido, vez por outra apelidado de terceiro mundo, onde se costuma aplicar também a classificação de "emergentes", a critério dos "donos do planeta", a um que outro país provido de potencialidades impossíveis de passarem, o tempo todo desapercebidas aos olhares mundiais. Essa cabulosa história do atlas mundial mutilado deixa-nos com aquela mesma sensação de insuportável desconforto trazida, tempos atrás, pela revelação de que alguns livros didáticos em escolas de ensino fundamental nos Estados Unidos mostram a Amazônia brasileira como região sob controle internacional. Uma coisa parece ter tudo a ver com a outra coisa. O inacreditável, imoral e ilegível redimensiona-mento cartográfico há que ser visto como um instrumento a mais de irradiação de mensagens subliminares insisten-tes com proprósitos que deixam sob ameaça, em seus direitos, sua cultura, soberania e integridade, os países da banda de cá do equador. Essa a leitura de extrair dos fatos. Melhor dizendo, dos mapas. César Vanucci

PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS Os sistemas de projeções cartográficas foram

desenvolvidos para dar uma solução ao problema da transferência de uma imagem da superfície curva da esfera terrestre para um plano da carta, o que sempre vai acarretar deformações.

Os sistemas de projeções constituem-se de uma fórmula matemática que transforma as coordenadas geográficas, a partir de uma superfície esférica (elipsoidal), em coordenadas planas, mantendo correspondência entre elas. O uso deste artifício geométrico das projeções consegue reduzir as deformações, mas nunca eliminá-las.

Os tipos de propriedades geométricas que caracterizam as projeções cartográficas, em suas relações entre a esfera (Terra) e um plano, que é o mapa, são: a) Conformes – os ângulos são mantidos idênticos (na

esfera e no plano) e as áreas são deformadas. b) Equivalentes – quando as áreas apresentam-se

idênticas e os ângulos deformados. c) Afiláticas – quando as áreas e os ângulos apresentam-

se deformados. Projeção de Mercator

Nesta projeção os meridianos e os paralelos são linhas retas que se cortam em ângulos retos. Corresponde a um tipo cilíndrico pouco modificado. Nela as regiões polares aparecem muito exageradas.

Projeção de Peters Outra projeção muito utilizada para planisférios é

a de Arno Peters, que data de 1973. Sua base também é cilíndrica equivalente, e determina uma distribuição dos paralelos com intervalos decrescentes desde o Equador até os pólos, como podemos observar no mapa a seguir.

As retas perpendiculares aos paralelos e as linhas

meridianas têm intervalos menores, resultando na representação das massas continentais, um significativo achatamento no sentido Leste-Oeste e a deformação no sentido Norte-Sul, na faixa compreendida entre os paralelos 60o Norte e Sul, e acima destes até os pólos, a impressão de alongamento da Terra. Projeção cônica

Nesta projeção os meridianos convergem para os pólos e os paralelos são arcos concêntricos situados a igual distância uns dos outros. São utilizados para mapas de países de latitudes médias.

Projeção de Mollweide

Nesta projeção os paralelos são linhas retas e os meridianos, linhas curvas. Sua área é proporcional à da esfera terrestre, tendo a forma elíptica. As zonas centrais apresentam grande exatidão, tanto em área como em configuração, mas as extremidades apresentam grandes distorções.

Eqüidistante Oblíqua Centrada na Cidade de São Paulo

Nesta projeção, centrada em São Paulo, os ângulos azimutais são mantidos a partir da parte central da projeção.

Projeção Azimutal Eqüidistante Polar

Projeção eqüidistante que tem os pólos em sua

porção central. As maiores deformações estão em suas áreas periféricas.

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EXERCÍCIOS 1 - (UFES – 04)As figuras a seguir mostram o mundo representado em projeções cartográficas diferentes. Analisadas as figuras acima, é CORRETO afirmar que a) ambas as projeções são cilíndricas, sendo que a de Mercator é equivalente e a de Peters é conforme.

b) a projeção de Mercator conserva as áreas dos conti-nentes e, por esse motivo, é chamada de eurocêntrica.

c) a projeção de Mercator é conforme, ou seja, conserva as formas dos continentes e é a mais adequada para a navegação marítima.

d) a projeção de Peters é a mais adequada para a repre-sentação dos países do Terceiro Mundo, pois mantém as formas em proporção correta.

2 - (UFRJ – 1999) O desenho esquemático a seguir apresenta o contorno de uma ilha e a representação de seu relevo em curvas de nível.

A ilha apresenta duas elevações que a popula-ção local denominou, corretamente, de Morro do Oci-dente e Morro do Oriente. a) Qual morro apresenta a encosta mais íngreme? b) Qual o litoral mais escarpado? Indique as elevações por seus nomes e justifique suas respostas. 3 - (PUCPR – 2004) Observe as representações do continente africano, realizadas por meio das projeções de Mercator e de Peters.

(Adaptado de Oswald Freyer - Eimbeke, p. 40)

Assinale a alternativa correta:

a) Na projeção de Peters, as distâncias entre os parale-los crescem à medida em que se afastam do Equador, gerando um aumento exagerado das áreas localizadas próximas aos pólos.

b) A projeção de Mercator não se presta para a compa-ração de superfícies ou para medir distâncias, uma vez que foi criada para atender às necessidades de navegação do século XVI.

c) Tanto a projeção de Mercator como a de Peters fal-seiam a superfície dos continentes, seja pela defor-mação latitudinal (Mercator) ou pela deformação lon-gitudinal (Peters).

4 - (UFRN – 2005) Um professor de Geografia solicitou aos alunos que representassem, por meio de cartogra-mas, os resultados de um estudo sobre o bairro onde a escola está localizada. Foram colocadas à disposição dos alunos duas bases cartográficas com as seguintes escalas: cartograma 1 - escala de 1:25.000; carto-grama 2 - escala de 1:500.000.

Considerando que devem ser representados, no mapa, ruas, avenidas e outros componentes do bairro, os alunos devem utilizar o a) cartograma 1, porque a escala é maior e oferece a possibilidade de representação de mais detalhes.

b) cartograma 2, porque a escala é menor, possibilitando trabalhar com mais detalhes.

c) cartograma 1, porque a escala é menor, sendo ideal para trabalhos com pequenas áreas.

5 - UERJ

Na tirinha, Calvin e o tigre Haroldo usam um glo-bo terrestre para orientar sua viagem da Califórnia, Esta-dos Unidos, para o território do Yukon, no extremo norte do Canadá. Considerando as áreas de origem e destino da viagem pretendida, nota-se que o tigre comete um erro de interpretação no último quadrinho.

Esse erro mostra que Haroldo não sabe que o globo terrestre é elaborado com base no seguinte elemento da linguagem cartográfica: a) escala pequena b) projeção azimutal c) técnica de anamorfose d) convenção equidistante Gabarito 1C 2 a) O morro é o do Oriente. A encosta mais íngreme está representada pelo menor espaçamento entre as curvas de nível na posição sudeste do morro, indicando maior gradiente. b) O litoral mais escarpado está representado pelo prolongamento da curva de nível de 50 metros até o mar, na porção sul do morro do Ocidente. 3B - 4A

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SOBRE AS VEIAS ABERTAS DA AMÉRICA LATINA - - EDUARDO GALEANO CENTO E VINTE MILHÕES DE CRIANÇAS NO CENTRO DA TORMENTA

Há dois lados na divisão internacional do trabalho: um em que alguns países especializam-se em ganhar, e outro

em que se especializaram em perder. Nossa comarca do mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce:

especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do renascimento se abalançaram pelo mar e

fincaram os dentes em sua garganta. Passaram os séculos, e a América Latina aperfeiçoou suas funções. Este já não é o

reino das maravilhas, onde a realidade derrotava a fábula e a imaginação era humilhada pelos troféus das conquistas, as

jazidas de ouro e as montanhas de prata. Mas a região continua trabalhando como um serviçal. Continua existindo a

serviço de necessidades alheias, como fonte e reserva de petróleo e ferro, cobre e carne, frutas e café, matérias-primas

e alimentos, destinados aos países ricos que ganham, consumindo-os, muito mais do que a América Latina e ganha pro-

duzindo-os. São muito mais altos os impostos que cobram os compradores do que os preços que recebem os vendedo-

res; e no final das contas, como declarou em julho de 1968 Covey T. Oliver, coordenador da Aliança para o Progresso,

"falar de preços justos, atualmente, é um conceito medieval. Estamos em plena época da livre comercialização..." Quan-

to mais liberdade se outorga: "aos negócios, mais cárceres se torna necessário construir para aqueles que sofrem com

os negócios. Nossos sistemas de inquisidores e carrascos não só funcionam para o mercado externo dominante; propor-

cionam também caudalosos mananciais de lucros que fluem dos empréstimos e inversões estrangeiras nos mercados

internos dominados. "Ouve-se falar de concessões feitas pela América Latina ao capital estrangeiro, mas não de conces-

sões feitas pelos Estados Unidos ao capital de outros países... É que nós não fazemos concessões", advertia, lá por 1913,

o presidente norte-americano Woodrow Wilson. Ele estava certo: "Um país - dizia - é possuído e dominado pelo capital

que nele se tenha investido." E tinha razão: Na caminhada, até perdemos o direito de chamarmo-nos americanos, ainda

que os haitianos e os cubanos já aparecessem na História como povos novos, um século antes de os peregrinos do May-

flower se estabelecerem nas costas de Plymouth. Agora, a América é, para o mundo, nada mais do que os Estados Uni-

dos: nós habitamos, no máximo, numa sub-América, numa América de segunda classe, de nebulosa identificação.

É a América Latina, a região das veias abertas. Desde o descobrimento até nossos dias, tudo se transformou em

capital europeu ou, mais tarde, norte-americano, e como tal tem-se acumulado e se acumula até hoje nos distantes

centros de poder. Tudo: a terra, seus frutos e suas profundezas, ricas em minerais, os homens e sua capacidade de

trabalho e de consumo, os recursos naturais e os recursos humanos. O modo de produção e a estrutura de classes de

cada lugar têm sido sucessivamente determinados, de fora, por sua incorporação à engrenagem universal do capitalis-

mo. A cada um dá-se uma função, sempre em beneficio do desenvolvimento da metrópole estrangeira do momento, e a

cadeia das dependências sucessivas torna-se infinita, tendo muito mais de dois elos, e por certo também incluindo, den-

tro da América Latina, a opressão dos países pequenos por seus vizinhos maiores e, dentro das fronteiras de cada país, a

exploração que as grandes cidades e os portos exercem sobre suas fontes internas de víveres e mão-de-obra. (Há qua-

tro séculos, já existiam dezesseis das vinte cidades latino-americanas mais populosas da atualidade.).

Para os que concebem a História como uma disputa, o atraso e a miséria da América Latina são o resultado de

seu fracasso. Perdemos; outros ganharam. Mas acontece que aqueles que ganharam, ganharam graças ao que nós per-

demos: a história do subdesenvolvimento da América Latina integra, como já se disse, a história do desenvolvimento do

capitalismo mundial. Nossa derrota esteve sempre implícita na vitória alheia, nossa riqueza gerou sempre a nossa po-

breza para alimentar a prosperidade dos outros: os impérios e seus agentes nativos. Na alquimia colonial e neocolonial,

o ouro se transforma em sucata e os alimentos se convertem em veneno. Potosí, Zacatecas e Ouro Preto caíram de pon-

ta do cimo dos esplendores dos metais preciosos no fundo buraco dos filões vazios, e a ruína foi o destino do pampa

chileno do salitre e da selva amazônica da borracha; o nordeste açucareiro do Brasil, as matas argentinas de Quebrachos

ou alguns povoados petrolíferos de Maracaibo têm dolorosas razões para crer na mortalidade das fortunas que a nature-

za outorga e o imperialismo usurpa. A chuva que irriga os centros do poder imperialista afoga os vastos subúrbios do

sistema. Do mesmo modo, e simetricamente, o bem-estar de nossas classes dominantes - dominantes para dentro, do-

minadas de fora - é a maldição de nossas multidões, condenadas a uma vida de bestas de carga.

A brecha se amplia. Em meados do século passado, o nível de vida dos países ricos do mundo excedia em 5O%

o nível dos países pobres. O desenvolvimento desenvolve a desigualdade: Richard Nixon anunciou, em abril de 1969, em

seu discurso perante a OEA, que no fim do século XX a renda per capita nos Estados Unidos será quinze vezes mais alta

do que esta mesma renda na América Latina. A força do conjunto do sistema imperialista descansa na necessária desi-

gualdade das partes que o formam, e esta desigualdade assume magnitudes cada vez mais dramáticas. Os países opres-

sores tornam se cada vez mais ricos em termos absolutos, porém muito mais em termos relativos, pelo dinamismo da

disparidade crescente. O capitalismo central pode dar-se ao luxo de criar e acreditar em seus próprios mitos de opulên-

cia, mas os mitos não são comíveis, e os países pobres que constituem o vasto capitalismo periférico o sabem muito

bem. A renda média de um cidadão norte-americano é sete vezes maior que a de um latino-americano, e aumenta num

ritmo dez vezes mais intenso. E as médias enganam, pelos insondáveis abismos que se abrem, ao sul do rio Bravo, entre

os muitos pobres e os poucos ricos da região. No topo, com efeito, seis milhões de latino-americanos açambarcam, se-

gundo as Nações Unidas; a mesma renda que 14O milhões de pessoas situadas na base de pirâmide social. Há 6O mi-

lhões de camponeses, cuja fortuna ascende a 25 centavos de dólares por dia; no outro extremo, os proxenetas da des-

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graça dão-se ao luxo de acumular cinco milhões de dólares em suas contas privadas na Suíça ou nos Estados Unidos, e

malbaratam na ostentação e luxo estéril - ofensa e desafio - e em inversões improdutivas, que constituem nada menos

do que a metade da inversão total, os capitais que América Latina poderia destinar à reposição, ampliação e criação de

fontes de produção e de trabalho. Incorporadas desde sempre à constelação do poder imperialista, nossas classes domi-

nantes não têm o menor interesse em averiguar se o patriotismo poderia ser mais rentável do que a traição ou se a

mendicância é a única forma possível de política internacional. Hipotecasse a soberania porque "não há outro caminho";

os álibis da oligarquia confundem interessadamente a impotência de uma classe social com o presumível vazio de desti-

no de cada nação.

Josué de Castro declara: "Eu; que recebi um prêmio internacional da paz, penso que, infelizmente, não há outra

solução que a violência para América Latina." Cento e vinte milhões de crianças se agitam no centro desta tormenta. A

população da América Latina cresce como nenhuma outra; em meio século triplicou com sobras. Em cada minuto morre

uma criança de doença ou de fome, mas no ano 2OOO haverá 65O milhões de latino-americanos, e a metade terá me-

nos de 15 anos de idade: uma bomba de tempo. Entre os 28O milhões de latino-americanos há, anualmente, cinqüenta

milhões de desempregados ou subempregados cerca de cem milhões de analfabetos; a. metade dos latino-americanos

vive apinhada em moradias insalubres. Os três maiores mercados da América Latina - Argentina, Brasil e México - não

chegam a igualar, somados, a capacidade de consumo da França ou da Alemanha Ocidental, mesmo que a população

reunida de nossos três grandes exceda de muito a de qualquer país europeu. A América Latina produz, hoje em dia, em

relação a sua população, menos alimentos do que antes da última guerra mundial, e suas exportações per capta diminuí-

ram três vezes, a preços constantes, desde a véspera da crise de 1929. O sistema é muito racional do ponto de vista de

seus donos estrangeiros e de nossa burguesia de intermediários, que vendeu a alma ao Diabo por um preço que teria

envergonhado Fausto. Mas o sistema é tão irracional para com todos os demais que, quanto mais se desenvolve, mais se

tornam agudos seus desequilíbrios e tensões, suas fortes contradições. Até a industrialização dependente e tardia, que

comodamente coexiste com o latifúndio e as estruturas da desigualdade, contribui para semear o desemprego ao invés

de tentar resolvê-lo; estende-se a pobreza e concentra-se a riqueza, que conta com imensas legiões de braços cruzados,

que se multiplicam sem descanso. Novas fábricas se instalam nos pólos privilegiados de desenvolvimento - São Paulo,

Buenos Aires, a cidade do México -, porém reduz-se cada vez mais o número da mão-de-obra exigido. O sistema não

previu esta pequena chateação: o que sobra é gente. E gente se reproduz: Faz-se o amor com entusiasmo e sem pre-

cauções. Cada vez mais, fica gente à beira do caminho, sem trabalho no campo, onde o latifúndio reina com suas gigan-

tescas terras ociosas, e sem trabalho na cidade, onde reinam as máquinas: o sistema vomita homens. As missões norte-

americanas esterilizam maciçamente mulheres e semeiam pílulas, diafragmas, DIUs, preservativos e almanaques mar-

cados, mas colhem crianças; obstinadamente, as crianças latino-americanas continuam nascendo, reivindicando seu

direito natural de obter um lugar ao sol, nestas terras esplêndidas, que poderiam dar a todos o que a quase todos ne-

gam.

Em princípios de novembro de 1968, Richard Nixon comprovou em voz alta que a Aliança para o Progresso havia

cumprido sete anos de vida e, entretanto, agravaram-se a desnutrição e a escassez de alimentos na América Latina.

Poucos meses antes, em abril, George W. Ball escrevia em Life: "Pelo menos durante as próximas décadas, o desconten-

tamento das nações pobres não significará uma ameaça de destruição do mundo. Por mais vergonhoso que seja, o mun-

do tem vivido, durante gerações, dois terços pobres e um terço rico. Por mais injusto que seja, é limitado o poder dos

países pobres". Ball encabeçara a delegação dos Estados Unidos na Primeira Conferência de Comércio e Desenvolvimen-

to em Genebra, e votara contra nove dos doze princípios gerais aprovados pela conferência, com o objetivo de aliviar as

desvantagens dos países subdesenvolvidos no comércio internacional. 16

São secretas: "as matanças da miséria na América Latina; em cada ano explodem, silenciosamente, sem qual-

quer estrépito, três bombas de Hiroxima sobre estes povos, que têm o costume de sofrer com os dentes cerrados. Esta

violência sistemática e real continua aumentando: seus crimes não se difundem na imprensa marrom, mas sim nas esta-

tísticas da FAO. Ball diz que a impunidade é ainda possível, porque os pobres não podem desencadear uma guerra mun-

dial, porém o Império se preocupa: incapaz de multiplicar os pães, faz o possível para suprimir os comensais. "Combata

a pobreza, mate um mendigo!", rabiscou um mestre do humor-negro num muro da cidade de La Paz. O que propõem os

herdeiros de Malthus senão matar a todos os próximos mendigos, antes que nasçam? Robert McNamara, o presidente do

Banco Mundial, que tinha sido presidente da Ford e secretário da Defesa, afirma que a explosão demográfica constitui o

maior obstáculo para o progresso da América Latina e anuncia que o Banco Mundial dá prioridade, em seus emprésti-

mos, aos países que realizam planos para o controle da natalidade. McNamara comprova, com pesar, que os cérebros

dos pobres pensam cerca de 25% a menos, e os tecnocratas do Banco Mundial (que já nasceram) fazem zumbir os com-

putadores e geram complicadíssimas teses sobre as vantagens de não nascer. "Se um país em desenvolvimento, que

tem uma renda média per capita de 15O a 2OO dólares anuais, consegue reduzir sua fertilidade em 5O% num período

de 25 anos, ao cabo de 3O anos sua renda per capta será superior pelo menos e 4O% ao nível que teria alcançado man-

tendo sua fertilidade, e duas vezes mais elevada ao fim de 6O anos", assegura um dos documentos do organismo. Tor-

nou-se célebre a frase de Lyndon Johnson: "Cinco dólares investidos contra o crescimento da população são mais efica-

zes do que cem dólares investidos no desenvolvimento econômico." Dwight Eisenhower prognosticou que, se os habitan-

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tes da Terra continuassem multiplicando-se no mesmo ritmo, não só se intensificaria o perigo de uma revolução, mas

também se produziria "uma degradação do nível de vida de todos os povos, o nosso inclusive".

Os Estados Unidos não sofrem, dentro de suas fronteiras, o problema da explosão demográfica, mas se preocu-

pam, como ninguém, em difundir e impor, nos quatros pontos cardeais, a planificação familiar. Não somente o governo;

também Rockefeller e a Fundação Ford sofrem pesadelos com milhões de crianças que avançam, como lagostas, partin-

do dos horizontes do Terceiro Mundo. Platão e Aristóteles haviam-se ocupado do tema antes de Malthus e McNamara;

contudo, em nossos tempos, toda esta ofensiva universal cumpre uma função bem definida: propõe-se justificar a desi-

gual distribuição de renda entre os países e entre as classes sociais, convencer aos pobres que a pobreza é o resultado

dos filhos que não se evitam e pôr um dique ao avanço da fúria das massas em movimento e em rebelião. Os dispositi-

vos intra-uterinos competem com as bombas e as metralhadoras, no Sudeste asiático, no esforço para deter o cresci-

mento da população do Vietnã. Na América Latina é mais higiênico e eficaz matar os guerrilheiros nos úteros do que nas

serras ou nas ruas. Diversas missões norte-americanas esterilizaram milhares de mulheres na Amazônia, apesar de ser

esta a zona habitável mais deserta do planeta. Na maior parte dos países latino americanos não sobra gente: ao contrá-

rio, falta. O Brasil tem 38 vezes menos habitantes por quilômetro quadrado do que a Bélgica; Paraguai, 49 vezes menos

do que a Inglaterra; Peru, 32 vezes menos do que o Japão. Haiti e El Salvador, formigueiros humanos da América Latina,

têm uma densidade populacional menor do que a Itália. Os pretextos invocados ofendem a inteligência; as intenções;

reais inflamam a indignação. Afinal, não menos da metade dos territórios da Bolívia, Brasil, Chile, Equador, Paraguai e

Venezuela está habitada por ninguém. Nenhuma população latino-americana cresce menos do que a do Uruguai, país de

velhos; entretanto nenhuma outra nação tem sido tão castigada, por uma crise que parece arrastá-la aos últimos círcu-

los dos infernos. O Uruguai está vazio e seus campos férteis poderiam dar de comer a uma população infinitamente mai-

or do que a que hoje sofre, sobre seu solo, tantas penúrias.

Há mais de um século, um chanceler da Guatemala tinha sentenciado profeticamente: "Seria curioso que do seio

dos Estados Unidos, de onde nos vem o mal, nascesse também o remédio." Morta e enterrada a Aliança para o Progres-

so, o Império propõe agora, com mais pânico do que generosidade, resolver os problemas da América Latina, eliminando

de antemão os latino-americanos. Em Washington, já há motivos para suspeitar que os povos pobres não preferem ser

pobres. Mas não se pode querer o:" fim sem querer os meios: aqueles que negam a libertação da América Latina, negam

também nosso único renascimento possível, e de passagem absolvem as estruturas vigentes. Os jovens multiplicam-se,

levantam-se, escutam: o que Ilhes oferece a voz do sistema? O sistema fala uma linguagem surrealista: propõe evitar os

nascimentos nestas terras vazias; diz que faltam capitais em países onde estes sobram, mas são desperdiçados; chama

de ajuda a ortopedia deformante dos empréstimos e à drenagem de riquezas que os investimentos estrangeiros provo-

cam; convoca os latifundiários a realizarem a reforma agrária, e a oligarquia para pôr em prática a justiça social. A luta

de classes não existe - decreta-se -, mais que por culpa dos agentes forâneos que a fomentam; em troca existem as

classes sociais, e se chama a opressão de umas por outras de estilo ocidental de vida. As expedições criminosas dos

marines têm por objetivo restabelecer a ordem e a paz social, e as ditaduras fiéis a Washington fundam nos cárceres o

estado de direito, proíbem as greves e aniquilam os sindicatos para proteger a liberdade de trabalho.

Tudo nos é proibido, a não ser cruzarmos os braços? A pobreza não está escrita nos astros; o subdesenvolvi-

mento não é fruto de um obscuro desígnio de Deus. As classes dominantes põem as barbas de molho, e ao mesmo tem-

po anunciam o inferno para todos. De certo modo, a direita tem razão quando se identifica com a tranqüilidade e a or-

dem; é a ordem, de fato, da cotidiana humilhação das maiorias, mas ordem em última análise; a tranqüilidade de que a

injustiça continue sendo injusta e a fome faminta. Se o futuro se transforma numa caixa de surpresas, o conservador

grita, com toda razão: "Traíram-me." E os ideólogos da impotência, os escravos, que olham a si mesmos com os olhos

do dono, não demoram a escutar seus clamores. A águia de bronze do Maine, derrubada no dia da vitória da revolução

cubana, jaz agora abandonada, com as asas quebradas sob o portal do bairro velho de La Habana. A partir de Cuba,

outros países iniciaram, por vias distintas e com meios distintos, a experiência da mudança: a perpetuação da ordem

atual das coisas é a perpetuação do crime. Recuperar os bens que sempre foram usurpados, equivale a recuperar o des-

tino.

Os fantasmas de todas as revoluções estranguladas ou traídas, ao longo da torturada história latino-americana,

emergem nas novas experiências, assim como os tempos presentes, pressentidos e engendrados pelas contradições do

passado. A história é um profeta com o olhar voltado para trás: pelo que foi e contra o que foi, anuncia o que será. Por

isso, neste livro, que quer oferecer uma história da pilhagem e ao mesmo tempo contar como funcionam os mecanismos

atuais de espoliação, aparecem os conquistadores nas caravelas e, próximo, os tecnocratas nos jatos; Hernán Cortés e

os fuzileiros navais; os corregedores do reino e as missões do Fundo Monetário Internacional; os dividendos dos trafican-

tes de escravos e os lucros da General Motors. Também os heróis derrotados e as revoluções de nossos dias, as infâmias

e as esperanças mortas e ressuscitadas: os sacrifícios fecundos. Quando Alexander Von Humboldt investigou os costu-

mes dos antigos habitantes indígenas do planalto de Bogotá, soube que os índios chamavam de guihica as vitimas das

cerimônias rituais. Quihica significava porta: a morte de cada eleito abria um novo ciclo de cento e oitenta e cinco luas.

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SOBRE OS MURO DA FAVELA Os muros que circundam as favelas Com um argumento bem intencionado, o governador Sergio Cabral pretende cercar 11 favelas da cidade do Rio de Janeiro com um muro de três metros de altura. Vestindo-se de branco o projeto alardeia aos quatro ventos sua inten-ção: conter a expansão das favelas que avançam sobre a mata atlântica, salvando assim, a natureza dos favelados sem consciência ambiental. Se o projeto fosse original e não tivesse uma concepção excludente, até poderia ser aceito devido a sua intenção explicita. Além das 11 favelas localizadas na zona sul, o muro poderá ser implantado em outras favelas da cidade. O único pro-blema é que o argumento terá que mudar, pois em grande parte da cidade a mata atlântica já não existe há muito tem-po. É inegável que a ocupação urbana desordenada cause problemas ao meio ambiente, mas não é verdade que as cons-truções nas favelas sejam as vilãs da degradação ambiental dos grandes centros urbanos. Quando os colonizadores aqui chegaram à mata atlântica tinha uma área equivalente a 1,3 milhão de km². 7% é o que resta. Ao que parece, a participação dos pobres sem moradias neste processo de degradação foi mínimo. A incô-moda verdade sobre o fenômeno da favelização é que esta cresce e se agrava por não existe iniciativas que realmente vise combatê-la. As iniciativas existentes são tímidas, incipiente e não atacam o cerne da questão. Quem não é cego politicamente verá na história que a favelização é o resultado de um sistema excludente que empurra os pobres para os morros e áreas periféricas das cidades. Se assim quisermos, podemos dizer que o tal sistema gera muros: visíveis e invisíveis. Os visíveis caem com força bruta. Já os invisíveis são mais terríveis, pois agem no po-rão frio e escuro da desigualdade social e não ruirão com força física. Qualquer um com o mínimo de sensibilidade e um pouco de consciência social sabe que o crescimento das fave-las não será barrado com muros, grades ou qualquer outro tipo de contenção física. A questão da favelização aloja-se no interior dos muros invisíveis da sociedade e só será combatido, se primeiro derrubarmos a golpes de marretas os muros invisíveis que as circundam. Políticas públicas sérias na área habitacional e um projeto satisfatório de redistribuição de renda poderia ser um primeiro passo. A favelização é fruto de um sistema desumano que auto se alimenta da exploração. O alimento rico em caloria humana o faz engorda silenciosamente e a gordura excedente ameaça a saúde social dos hipócritas. Admitem a terrível anomalia e são cúmplices dos combates físicos empregados nas favelas. Combatê-la de fato significaria corta o cordão umbilical transportador do alimento gorduroso que mantém o sistema funcionando.

Por Francisco Valdean*

8 DE MARÇO – DIA INTERNACIONAL DA MULHER - Uma versão da história: Em 8 de março de 1857, a cidade de Nova York foi palco da primeira greve conduzida por mulheres de que se

tem conhecimento na história. Eram 129 operárias têxteis exigindo aumento de salários, redução da jornada de trabalho de 16 para 8 horas diárias, melhores condições de trabalho de licença maternidade. O movimento terminou em tragédia. Para reprimir as grevistas, as forças policiais e os patrões atearam fogo na fábrica após trancarem as portas, e as operá-rias morreram queimadas no interior da empresa, onde estavam concentradas.

O Dia Internacional da Mulher é uma referência e um reflexo de todo um movimento em prol da igualdade de di-reitos, embora ainda hoje prevaleça a desigualdade de gênero. A banalização do problema da violência sofrida pelas mulheres, foi o que de pior poderia ter acontecido conjeturando-se que a respeito desse assunto tudo já se sabe e que muitas vezes na imaginação social a violência contra as mulheres, aliada ao comportamento do Estado, que nunca dis-põe de recursos suficientes para agir com políticas públicas de peso contra o impacto da violência, levam a maioria a sentir uma sensação de impotência nas questões de igualdade em relação a homens e mulheres. Mulher: cinco reflexões do livro "Espelhos" de Eduardo Galeano

O Dia Internacional da Mulher está chegando e, para comemorar o 8 de Março, reproduzo para vocês cinco gran-des reflexões em pequenas narrativas do livro "Espelhos", do sempre magistral uruguaio Eduardo Galeano. Com a pena firme e a alma leve, Galeano toca o universo feminino de deusas de carne e osso. Fala de cientistas e militantes, de uma peregrina da revolução que "dedicou sua turbulenta vida a lutar contra o direito de propriedade do marido sobre a mu-lher, do patrão sobre o operário e do amo sobre o escravo", de rainhas da Mãe África e do império britânico, do clarão da noite e da escuridão de alguns dias. Diz a apresentação: "Os espelhos estão cheios de gente. Os invisíveis nos vêem. Os esquecidos se lembram de nós.

Quando nos vemos, os vemos. Quando nos vamos, se vão? Este livro foi escrito para que eles não se percam. Nestas páginas se unem o passado e o presente. Os mortos renascem, os anônimos têm nomes: os homens que cons-truíram os palácios e os templos de seus amos; as mulheres ignoradas por aqueles que ignoram os próprios temores; o sul e o oriente do mundo, desprezados por aqueles que desprezam as próprias ignorâncias; os muitos mundos que o mundo contém e esconde; os pensadores e sentidores; os curiosos, condenados a perguntar; e os rebeldes e os perde-dores e os loucos lindos têm sido e são o sal da terra". Boa leitura. Mudança de nome Aprendeu a ler lendo números. Brincar com números era o que mais a divertia e de noite sonhava com Arquimedes. O pai proibia: - Isso não é coisa de mulher - dizia. Quando a Revolução Francesa fundou a Escola Politécnica, Sophie Germain tinha dezoito anos. Quis entrar. Fecharam as portas na sua cara: - Isso não é coisa de mulher - disseram.

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Por conta própria, sozinha estudou, pesquisou, inventou. Enviava seus trabalhos, por correio, ao professor Lagrange. Sophie assinava Monsieur Antoine - August Le Blanc, e as-sim evitava que o exímio mestre respondesse: - Isso não é coisa de mulher. Fazia dez anos que se correspondiam, de matemático a matemático, quando o professor soube que ele era ela. A partir de então, Sophie foi a única mulher aceita no masculino Olimpo da ciência européia: nas matemáticas, aprofun-dando teoremas, e depois na física, onde revolucionou o estudo das superfícies elásticas. Um século depois, suas contribuições ajudaram a se tornar possível, entre outras coisas, a torre Eiffel. A torre tem gravados os nomes de vários cientistas. Sophie não está lá. Em seu atestado de óbito, de 1831, aparece como dona de casa e não como cientista: - Isso não é coisa de mulher - disse o funcionário. As idades de Ada Aos dezoito anos, foge nos braços de seu preceptor. Aos vinte, se casa, ou é casada, apesar de sua notória incompetência para os assuntos domésticos. Aos vinte e um, se põe a estudar por conta própria, lógica matemática. Não são as tarefas mais adequadas para uma dama, mas a família aceita seu capricho, porque talvez assim possa cair em si e salvar-se da loucura à qual está desti-nada por herança paterna. Aos vinte e cinco, inventa um sistema infalível, baseado na teoria das probabilidades, para ganhar dinheiro nas corridas de cavalo. Aposta as jóias da família. Perde tudo. Aos vinte e sete, publica um trabalho revolucionário. Não assina com seu nome. Uma obra assinada por uma mulher? Essa obra a transforma na primeira programadora da história: propõe um novo sistema para ditar tarefas a uma máqui-na que poupa das piores rotinas os operários têxteis. Aos trinta e cinco, cai doente. Os médicos diagnosticam histeria. É câncer. Em 1852, aos trinta e seis anos, morre. Nessa mesma idade tinha morrido seu pai, lorde Byron, poeta que ela não co-nheceu. Um século e meio depois, se chama Ada, em sua homenagem, uma das linguagens de programação de computadores. Flora Flora Tristán, avó de Paul Gauguin, errante militante, peregrina da revolução, dedicou sua turbulenta vida a lutar contra o direito de propriedade do marido sobre a mulher, do patrão sobre o operário e do amo sobre o escravo. Em 1883, viajou ao Peru. Nos arredores de Lima, visitou um engenho açucareiro. Conheceu os moinhos que trituravam a cana, as caldeiras que ferviam o melaço, a refinaria que fazia açúcar. Por todos os lados viu escravos negros que iam e vinham, trabalhando em silêncio. Nem perceberam a sua presença. O dono disse a ela que tinha novecentos. Em tempos melhores tinha tido o dobro: - É a ruína - se queixou. E disse tudo o que estava previsto que dissesse: que os negros eram folgazões como os índios, que só trabalhavam na base do açoite, que... Quando já estava indo embora, Flora descobriu um cárcere num lado da plantação. Sem pedir licença, entrou. Ali, na fechada sombra do calabouço, conseguiu distinguir duas negras nuas, agachadas num canto. - Não são nem animais - desprezou o guarda. - Os animas não matam seus filhotes. Aquelas escravas tinham matado seus filhotes. As duas olharam aquela mulher, que as olhava do outro lado do mundo. Duas rainhas Pouco antes de morrer, a rainha Vitória teve a alegria de incorporar outra pérola à sua povoada coroa. O reino ashanti, vasta mina de ouro, passou a ser colônia britânica. Aquela conquista havia custado várias guerras, durante um século inteiro. A batalha final começou quando os ingleses exigiram que os ashantis entregassem o trono sagrado, onde morava a alma da nação. Os ashantis eram muito belicosos, e era melhor perdê-los que encontrá-los, mas foi uma mulher quem encabeçou a batalha final. A rainha mãe, Yaa Asantewaa, desalojou os chefes guerreiros: - Onde está a valentia? Em vocês, não está. Foi dura a briga. Após três meses, os canhões britânicos impuseram suas razões. Vitória, a rainha triunfante, morreu em Londres. Yaa Asantewaa, a rainha vencida, morreu longe de sua terra. Os vencedores nunca encontraram o trono sagrado. Anos depois, o reino ashanti, chamado de Gana, foi a primeira colônia da África negra que conquistou a independência.

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Onde você mostra o seu machismo? Ninguém é imune a ele: a diferença está em como reagimos. Um teste para homens e mulheres avaliarem suas atitudes

Por Marília Moschkovich, em Mulher Alternativa - http://www.outraspalavras.net/2012/03/12/onde-voce-mostra-o-seu-machismo/

Em 2004, cerca de quarenta organizações da sociedade civil, entre ONGs e movimentos sociais, uniram-se numa

campanha chamada “Diálogos Contra o Racismo”. Foram produzidos artigos, cartazes e vídeos, disponíveis num website.

O mote inicial da campanha é muito sagaz: “Onde você guarda o seu racismo?”. A resposta é ainda mais: “Não guarde,

jogue fora”. A ideia é que não há racismo sem racistas. Quer dizer, além de uma série de políticas públicas pró-igualdade

racial, ainda é preciso levar de fato as pessoas a refletirem sobre seu próprio racismo.

Por mais que ainda haja muito (e muito mesmo) o que avançar na luta anti-racista, é evidente que algumas

pequenas vitórias já podem ser observadas. As mais significativas são, na minha opinião, o fato de muita gente hoje se

envergonhar de ser racista e os desdobramentos dete fato: O CONAR puniu e retirou do ar (ainda que de forma limita-

da) propagandas de teor racista. Há cotas em diversas universidades brasileiras, mesmo que este ainda seja um assunto

polêmico.

O mesmo não acontece, infelizmente, com o machismo.

Não cabe, neste artigo, comparar historicamente machismo e racismo, nem colocar estas duas formas de opres-

são simbólica e concreta em diálogo. Sobre isto escreveram diversas autoras, como Verena Stolcke (leia “O enigma das

Interseções: classe, raça, sexo, sexualidade”), Mariza Corrêa (leia “A invenção da mulata”) e Laura Moutinho (leia “Raça,

sexualidade e gênero na identidade nacional”). Venho propor a leitores e leitoras um caminho semelhante ao caminho da

campanha anti-racista mencionada.

Todas e todos nós somos parte de uma sociedade que tem o machismo em sua estrutura. Significa que somos

machistas sem perceber, sem fazer de propósito, sem pensar. Significa que ter uma atitude machista é algo a que todas

e todos estamos sujeitos – mesmo, acreditem se quiser, as militantes do feminismo (como eu). A diferença entre alguém

anti-machista e alguém machista, portanto, acaba aparecendo na forma de lidar com essas atitudes individuais, num

primeiro momento (deixo as políticas públicas para outro texto, outro dia).

Pessoas anti-machistas (e também feministas) estão dispostas a enxergar seu próprio machismo, autocriticar-

se, policiar-se para não repetir atitudes ou preconceitos discriminadores. Já seres humanos machistas sustentam aquele

comportamento, opinião, visão de mundo como o correto ou o melhor. Quer dizer, em alguns momentos, machistas

somos tod@s. A questão é: o que fazemos com o nosso machismo?

Sugiro às leitoras e leitores colocarem para si mesmo este tema. Para ajudar elaborei, uma curta lista de ques-

tões (inspiradas no teste da Cynthia Semiramis –“Você é feminista?” ). As respostas “sim” indicam sinais de machismo

cotidiano, seja você homem, mulher, feminista, de esquerda, militante, conservador, direitoso, libertário.

1. Você acha que existe “mulher pra casar” e “mulher pra transar”?

2. Quando você fica irritado/a com uma pessoa e ela é mulher, você usa os termos “vadia”, “biscate”, “puta”, como xin-

gamento?

3. Você tem menos consideração por mulheres quando a roupa delas é curta? (por exemplo, acha que ela deve ser “bur-

ra” ou nem chega a puxar papo)

4. Você tem mais consideração por mulheres quando a roupa delas é curta? (por exemplo, acha que ela deve estar que-

rendo dar pra alguém, ou vai conversar com ela por causa disso)

5. Você acha engraçadas piadas que dizem alguma das seguintes coisas sobre mulheres: a) que elas são burras; b) que

elas são traiçoeiras; c) que elas só estão atrás de grana; d) que elas devem cuidar das tarefas domésticas?

6. Você acredita que a amizade entre mulheres é impossível?

7. Você acredita que a amizade entre uma mulher e um homem é impossível sem que haja conotação sexual e atração

em nenhum momento?

8. Sendo homem, quando você lava a louça ou faz alguma tarefa doméstica, considera que está “ajudando” a

mãe/esposa/irmãs/avó/etc? Sendo mulher, quando um homem lava a louça ou faz alguma tarefa doméstica, conside-

ra que ele está “ajudando” você?

9. Você acha que a Lei Maria da Penha é um “privilégio” para as mulheres?

10. Você acha que hoje o feminismo não é mais necessário porque as mulheres e homens já estão em condição de i-

gualdade social?

11. Você pensa que a igualdade social nunca vai existir porque homens e mulheres são diferentes biologicamente?

12. Você acha que as mulheres dirigem mal?

13. Você acha que as mulheres são melhores na realização de tarefas ou profissões que exigem “cuidado”?

Eu poderia passar mais páginas e páginas elaborando frases e exemplos, mas nem eu nem vocês temos o dia

todo pra isso. No fim das contas, espero que possam compartilhar nos comentários a impressão que tiveram ao respon-

der o “teste”: e aí, vocês são, nas atitudes cotidianas, mais machistas ou menos do que imaginavam?

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Exercícios 01 - (Ufla – 2006) Nos livros didáticos de Geografia, o tema "Conflito Norte × Sul" geralmente está associado à origem socioeconômica de regiões e a decorrências históricas da "Guerra Fria" e seu término. As alternativas a seguir apontam discussões ligadas diretamente ao "Conflito Norte × Sul", EXCETO: a) Admite-se que a maioria dos conflitos que permaneceram ou foram potencializados, após a Guerra Fria, são de natu-reza étnica ou nacionalista.

b) As discussões que giram em torno dessa temática passaram a ocorrer a partir do final dos anos 80 e indicavam a emergência de uma "nova ordem mundial", em que a derrocada do socialismo significava a vitória do modelo liberal e, por extensão, do modelo capitalista como hegemônico nessa "nova ordem".

c) Se é possível dizer que o modelo capitalista de sociedade foi "vitorioso", também é verdade que tal modelo não resol-veu seus conflitos internos, que continuaram existindo não mais em uma ordenação bipolar ideológica chamada "Guer-ra Fria".

d) Segundo o critério de origem socioeconômica, o mundo passaria a ser dividido em Norte/Desenvolvido e Sul/Subdesenvolvido e o Equador certamente deixaria de ser a fronteira geográfica entre ambos os hemisférios.

e) "Produção flexível", "Revolução tecnológica" e "Divisão internacional do trabalho" relacionam-se diretamente ao cha-mado "Conflito Norte × Sul". 02 - (Ufpel – 2006) Uma malha digital que cresce em velocidade vertiginosa está cobrindo nosso planeta: é a internet, a rede mundial de computadores. Considerando essa importante inovação tecnológica contemporânea, analise a informa-ção: A integração econômica global é facilitada pelo uso das mesmas técnicas, contudo, integrar não significa incluir a todos.

Com base nas informações e em seus conhecimentos, escolha a alternativa que melhor explica a afirmativa a-presentada. a) A era da informação e da revolução científica prioriza a qualificação da mão-de-obra e a incorporação de novas habili-dades, reconhecendo a diferença existente entre ricos e pobres.

b) A velocidade da informação é o benefício apresentado pela internet para a globalização, pois reduz o espaço mundial a um espaço virtual, sem a necessidade de integrar a todos os internautas.

c) A internacionalização da rede e a incorporação de centenas de milhões de usuários por todo o planeta exclui as dife-renças culturais e econômicas devido à mundialização dos padrões de consumo.

d) A internet dinamizou e tornou imediatas transações e negociações em escala mundial, evitando a exclusão digital pelas parcerias com empresas e investimentos em inovações tecnológicas.

e) Ao mesmo tempo em que a internet facilita o processo de integração econômica global, é também responsável pela chamada exclusão digital, pois acentua a distância entre os usuários e aqueles que já viviam em situação de marginali-dade econômica e social.

03 - (Uerj – 2006) Disneylândia (...) Música hindu contrabandeada por ciganos poloneses faz sucesso no interior da Bolívia. (...) Multinacionais japonesas instalam empresas em Hong-Kong e produzem com matéria-prima brasileira para competir no mercado americano. (...) Titãs

Os fragmentos das letras de música fazem referência a várias dimensões do processo de globalização vigente no sistema capitalista, sobretudo a partir da década de 1980. Uma característica econômica e uma tendência desse processo, respectivamente, são: a) estatização das empresas - homogeneização do consumo b) redução da intervenção estatal - padronização de culturas c) internacionalização dos processos de produção - diminuição da exclusão social d) segmentação dos investimentos internacionais - diversificação dos modelos educacionais 04 - (Pucrs – 2006) Considere o quadro e as afirmativas a seguir.

I. Os países desenvolvidos são os maiores consumidores de reser-

vas naturais. II. Os países desenvolvidos são os maiores responsáveis pela pro-

dução de lixo e gases tóxicos emitidos na atmosfera. III. Os países mais pobres apresentam menos problemas ambien-

tais do que os mais ricos, pois o consumo é menor e, conse-qüentemente, a preservação da natureza é maior.

IV. Desde o início deste século há uma inversão no modelo con-sumista, incentivada, ainda mais, pelo processo de globaliza-ção.

Pela análise das afirmativas, conclui-se que somente estão corretas a) I e II b) I e III c) I, II e IV d) II, III e IV e) III e IV

Samba do approach Venha provar meu "brunch" saiba que eu tenho "approach" na hora do "lunch" eu ando de "ferryboat" eu tenho "savoir-faire" meu temperamento é "light" minha casa é "hi-tech" toda hora rola um "insight" (...) Zeca Baleiro

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05 - (Pucrs – 2005) Considere o desenho e as afirmativas.

I. O desenho representa a entrada acentuada de multinacionais em países pobres, com conseqüente diminuição da arrecadação, ex-tinção do desemprego e elevação do PIB per capita desses países.

II. A representação compreende um dos processos marcantes da globalização: empresas cada vez mais competentes tecnologica-mente, buscando mercados consumidores.

III. O desenho apresenta evidências da Terceira Revolução Industrial, que teve como foco a investida de multinacionais no mundo atra-vés de transformações técnico-científicas.

IV. O desenho manifesta o caráter socioeconômico atribuído aos paí-ses periféricos a partir da entrada de multinacionais que exercem práticas exploratórias, como a utilização de mão-de-obra barata.

Pela análise das afirmativas, conclui-se que somente estão corretas a) I e II b) I e III c) I, II e IV d) II, III e IV e) III e IV 06 - ( Uff 2005)

Quem tem fome não tem cara: tem careta. E mora longe, lá no sul do planeta. Fonte: TANAKA, Beatrice. "BÓIA, BOI E BANG". 2 ed. Rio de Janeiro. Antares, 1985.

"A cada sete segundos, em algum lugar do mundo, uma criança de menos de 10 anos morre diretamente ou indiretamente de fome". "A cada dia, 100.000 pessoas morrem de fome ou de suas conseqüências".

(Relatório da FAO/ONU, outubro de 2003) A partir das informações apresentadas acima, pode-se apontar como causas principais da fome no mundo:

a) a concentração de riqueza entre as classes sociais, o desenvolvimento industrial restrito às indústrias de base e a indisponibilidade de terras aráveis nos países do hemisfério sul;

b) a insuficiente produção de alimentos, as poucas terras cultiváveis e as adversas condições climáticas nos diferentes países;

c) a inexistência de tecnologias agrícolas adequadas à produção de alimentos, o excedente demográfico e o desperdício dos bens de consumo duráveis;

d) as fortes desigualdades sociais, a alta dívida externa dos países em desenvolvimento e o desequilíbrio das condições de trocas comerciais entre o Norte e o Sul;

e) as altas taxas de fertilidade da população, a escassez de água potável em algumas regiões do mundo e o elevado desenvolvimento industrial dos países do hemisfério norte.

07 - Responder à questão com base no gráfico, que representa parte das coordenadas geográficas.

As coordenadas geográficas dos pontos A e C são, respectivamente, a) 2° de latitude Sul e 4° de longitude Leste - 4° e 30' de latitude Sul e 2° de longitude Leste. b) 4° de latitude Leste e 2° de longitude Sul - 2° de latitude Leste e 3° e 30' de longitude Norte. c) 2° de latitude Sul e 4° de longitude Leste - 3° e 30' de latitude Sul e 2° de longitude Leste. d) 2° de longitude Leste e 4° de latitude Norte - 3° e 30' de longitude Leste e 2° de latitude Norte. e) 4° de longitude Oeste e 2° de latitude Norte - 2° de longitude Oeste e 4° e 30' de latitude Norte. 08. (Pucrs 2008) INSTRUÇÃO: Responder à questão com base nas afirmativas a seguir, referentes à diminuição da taxa de nata-lidade no Brasil nas últimas décadas. A redução da taxa de natalidade verificada no Brasil nas últimas décadas deve-se a:

I. Crescente participação da mulher no mercado de trabalho. II. Grande difusão de métodos anticoncepcionais. III. Novos comportamentos, mais hedonistas e narcisistas, que implicam menor predisposição para constituir família. IV. Elevados custos referentes à criação e formação dos filhos.

As afirmativas corretas são a) apenas I e II. b) apenas I e III. c) apenas II e IV. d) apenas I, II e III. e) I, II, III e IV

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09 (Uel 2006) Leia o poema e o texto a seguir. Ser mulher, vir à luz trazendo a alma talhada para os gozos da vida; a liberdade e o amor; tentar da glória a etérea e altívola escalada, na eterna aspiração de um sonho superior... [...] Ser mulher, e, oh! atroz, tantálica tristeza! ficar na vida qual uma águia inerte, preas nos pesados grilhões dos precei-tos sociais! (MACHADO, Gilka. Ser Mulher. In: "Poesias completas": Rio de Janeiro: FUNARJ, 1991. p. 106.)

De acordo com o IBGE, entre 1976 e 2002, a participação das mulheres na população economicamente ativa passou de 29% para 43%, embora a proporção daquelas empregadas formalmente não tenha aumentado significativamente. Essa situação não é peculiar ao Brasil, pois em termos mundiais, predomina a participação feminina no setor de serviços. Com base nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar que o poema e o texto: a) Apontam que, apesar das conquistas femininas ao longo do século XX, permanecem condições de subordinação e desigualda-de de oportunidades nas relações de gênero no Brasil.

b) Contrapõem-se, pois enquanto o poema aponta o caráter essencialmente positivo das conquistas femininas no mercado de trabalho formal, o texto critica a inércia das mulheres frente à sua condição social.

c) Dissimulam a situação histórica da mulher brasileira, enaltecendo sua maior participação no setor de serviços. d) Convergem no fio condutor da abordagem, por advertirem que a resignação feminina aprisiona as mulheres em um círculo de carências materiais pronunciadas.

e) Enfatizam a proeminência do apreço à liberdade pelo gênero feminino, o que resulta na opção preferencial das mulheres pelo trabalho informal.

10. (Unifesp 2004) Observe a tabela.

*

08 - Leia o texto e observe o mapa a seguir: O patriarcalismo é uma das estruturas sobre as quais se assentam todas as sociedades contemporâneas. Caracteriza-se pela autoridade, imposta institucionalmen-te, do homem sobre mulher e filhos no âmbito familiar. Para que essa autoridade possa ser exercida, é necessário que o patriarcalismo permeie toda a organização da soci-edade, da produção e do consumo à política, à legislação e à cultura. [...]. A família patriarcal, base fundamental do patriar-calismo, vem sendo contestada neste fim de milênio pelos processos, inseparáveis, de transformação do trabalho feminino e da conscientização da mulher. CASTELLS, Manuel. "A era da informação": economia, sociedade e cultura. 2. ed.

Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999. v.2. p.169-170. [Adaptado].

Tendo por referência o texto e o mapa,

a) identifique um país do continente americano onde a participação das mulheres, na PEA, com percentuais de 55 a 70, seja significativa;

b) identifique um país do continente africano onde a participação das mulheres, na PEA, com percentual superior a 70,

seja significativa; c) explique dois fatos socioculturais que justificam a atuação da mulher na sociedade contemporânea.

GABARITO: 1- E 2 – E 3 – B 4 – A 5 – D 6 – D 7 – C 8 – a) Um país, entre os indicados abaixo: - Estados Unidos; - Canadá. b) Um país entre os indicados abaixo: Moçambique, Milavi, Tanzânia, Quênia, Uganda, Ruanda, Burundi, Angola, Benin, Gana, Guiné, Mali. c) Dois fatos socioculturais, entre os apresentados abaixo, além de outros: - o crescimento de uma"economia informacional global" que ampliou e diversificou o mercado de trabalho, garantindo à mulher remuneração pelo seu traba-lho, embora a remuneração da maioria das mulheres seja inferior à dos homens; - a ampliação da atuação da mulher na esfera política, em decorrência da luta e do engajamento político das mulheres na sociedade contemporânea; - as mudanças tecnológicas no processo de reprodução da espécie (métodos contraceptivos, fertilização in vitro etc.) possibilitaram às mulheres a opção de terem filhos após os 30 anos, em conseqüência dos avanços da medicina; - a organização das mulheres em movimentos feministas, a partir da segunda metade do século XX, em defesa de direitos e em busca de igualdade com os homens; - o maior acesso à educação permitiu àsmulheres desempenharem atividades até então inacessíveis, melhorando a qualificação.

Participação das mulheres na população economicamente ativa (PEA) - 2000.

A tabela permite afirmar que, entre as mulheres unidas, a) o uso da pílula é menor entre as que têm até 29 anos. b) a esterilização predomina a partir dos 30 anos de idade. c) o emprego de preservativos aumenta de acordo com a idade. d) a maioria da faixa de 15 a 19 anos não usa método contraceptivo. e) as da faixa de 20 a 24 anos são as que mais usam métodos contraceptivos.