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conhecimento prático 44

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  • Pub2 | Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA

  • % EDITORIAL $

    Desde o incio do ano, mas em especial a partir do ms de junho, grandes manifestaes populares sacudiram o pas, de uma ponta a outra. Inicialmente restritos ao preo da passagem e exigncia do passe livre, os protestos foram rapidamente absorvidos por diferentes setores da sociedade em especial a mdia, que rapidamente recolocou em evidncia palavras como vandalismo e baderna. Veja na capa desta edio como a etimologia pode ser utilizada para difundir ideias e construir conceitos.

    O tema, que parece inesgotvel, pode ser relacionado a outro estudo de linguagem que trazemos neste nmero da Conhecimento Prtico: Lngua Portuguesa: os neologismos usados na nova Saramandaia e como servem construo do cenrio, do enredo e dos personagens. Confira no artigo

    Neologices na dramaturgia, de Edmilson Jos de S.

    Falando em construo de personagens, podemos pensar na construo da identidade do falante de uma lngua que passa por um curioso e complexo processo quando passa a ser falante de um idioma que no o seu materno. Assim, como ensinar uma outra lngua, tendo em vista as diferentes culturas que moldam mltiplos usos de uma mesma palavra, por exemplo, ou pronncias que variam? Leia no artigo de Selma Cruz Santos para a coluna Em outras palavras.

    Milhares de pessoas foram s ruas protestar e exigir mudanas; diariamente, milhares de professores buscam incorporar esse mesmo desejo em suas prticas, ao lidar com o interminvel exerccio da educao. Esperamos poder ajud-los com mais esta edio da Lngua Portuguesa.

    tima leitura!Julia GarciaEditora [email protected] D

    ivul

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    Manifesto das palavras

    ErrataNa edio 43, o artigo A EDUCAO PARA O PENSAR, NUMA PERSPECTIVA DIALGICA por ALINE FERNANDA CAMARGO SAMPAIO foi citado no editorial como que sendo publicado na mesma edio, ele acabou sendo movido para esta edio, 44.

  • % COMO PUBLICAR $

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    !

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  • 6 14

    10 24

    Educao dialgica Ensinando a pensar atravs do dilogo

    Neologismos de SaramandaiaA pouplar novela brasileira conta com uma linguagem diferente, repleta de curiosos neologismos

    % NDICE $

    Formas nominais em desusoPego ou pegado? Chego ou chegado? Veja como funcionam os verbos com mais de um particpio

    Lngua que falamos vs lngua que escrevemosAs diferentes situaes em que usamos cada tipo de linguagem no dia a dia

    26 O poder das palavrasNo limite entre o vandalismo e a baderna: a etimologia como controle e organizao do discurso acerca das manifestaes pelo pas

    16EM OUTRAS PALAVRAS Variao Lingustica na Pronncia da varivel LL no Ensino

    32SOCIEDADE No Caminho de So Romero

    66 RETRATOS

    44GRAMTICA Haver, um Verbo Perverso?

    48LATIM Duas Lnguas e Alguns Casos

    52SALA DE AULA Na Sala de Aula, Mestre Graciliano e a intertextualidade

    56INTERTEXTUALIDADE Brs Cubas, Memorias Prticas de um Medalho

    64 ESTANTE

  • A educao para o pensar numa perspectiva dialgica

    >> por Aline FernandaCamargo Sampaio

    % ENSINO $

    6 | Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA

  • pessoas com as quais convivemos. Como falantes, participamos de um dilogo permanente, no qual somos ao mesmo tempo atores e espectadores da performance dos nossos interlocutores.

    Fato que para haver um processo de intercmbio que propicie a construo coletiva do conhecimento, preciso que a relao professor-aluno tenha como base o dilogo. por meio dele que educador e educando constroem o conhecimento e partilham experincias.

    Do mesmo modo, uma imagem emergente para a representao do conhecimento, inspirada, em grande parte, nas tecnologias informacionais, a da rede. Segundo Nlson Jos Machado, conhecer seria como enredar, tecer significaes, em que os ns/significados so construdos dualmente por meio de relaes estabelecidas entre eles.

    Dessa forma, os ns/significados seriam, nas palavras do autor, como feixes de relaes de natureza vria, incluindo dedues, influncias, comparaes, analogias etc. e devem ser construdos, individual ou socialmente, a partir de mltiplas interaes envolvendo temas e sujeitos, temas e

    Numa sociedade em que o conhecimento transformou-se no grande valor posto em circulao, primeira vista poderia parecer bvio que um educador e no um mero instrutor ou transmissor de contedos devesse se propor tarefa de ensinar os alunos a pensar.

    No entanto, a grande questo como ensinar crianas e jovens a pensar de modo que aprendam a viver em comunidade, sem se dissolverem no todo, mas mantendo a prpria identidade e autonomia. O desafio como ensin-los a mobilizar o conhecimento a servio das pessoas e de seus prprios projetos e, ao mesmo tempo, reconhec-lo no como um dado imutvel, e sim, como resultado da ao humana em constante vir-a-ser e que poder ser por eles tambm modificada.

    Numa anlise apressada, o termo autonomia poderia ser confundido com uma forma individualista de pensar e agir ou, pelo menos, com algum procedimento solitrio de busca de valores e tomada de decises. O mesmo acontece com o conceito de reflexo, ao ser identificado a um ensimesmamento. Ainda que esses procedimentos sejam, em ltima anlise, pessoais, eles se processam por meio da interao entre as pessoas.

    Nessa perspectiva de interao com o outro, pode-se estabelecer uma analogia com o poema Tecendo a manh, de Joo Cabral de Melo Neto, em que o eu-lrico nega-se individualidade (Um galo sozinho no tece uma manh) e afirma a coletividade (ele precisar sempre de outros galos).

    Assim, um homem no compe sozinho um produto cultural, necessita estar entre e com os outros homens, precisa ouvir uma voz aqui, outra l, apanhar um grito aqui, outro l, lanar o grito anterior para outro homem. Do conjunto de vozes emerge a obra cultural de uma poca, que no uma obra solitria (um fio), mas uma obra solidria (um conjunto de fios).

    Reconhecer a linguagem como uma atividade humana significa dar a ela a devida dimenso na nossa relao com o mundo. A palavra est na base de nossos questionamentos e indagaes sobre o modo como o mundo se organiza e sobre como nos relacionamos com ele e com as

    O desafio no ensino

    de crianas jovens

    ensin-los a mobilizar o

    conhecimento a servio das

    pessoas e de seus prprios

    projetos e, ao mesmo

    tempo, reconhec-lo no

    como um dado imutvel

    e, sim, como resultado

    da ao humana em

    constante vir-a-ser e que

    poder ser por eles tambm

    modificada

    Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA | 7

  • temas, sujeitos e sujeitos, o conhecido e o desconhecido, o velho e o novo, a parte e o todo, o interior e o exterior da escola, entre outras.

    mister realar, ainda, que a ideia de integrao entre a formao pessoal e a social encontra-se, tambm, fortemente associada ideia de rede. Para Norbert Elas, o que chamamos de rede, para denotar a totalidade da relao entre o indivduo e a sociedade, nunca poder ser entendido enquanto a sociedade for imaginada, como tantas vezes acontece, essencialmente como uma sociedade de indivduos. E completa, mais adiante, esse eu, essa essncia pessoal forma-se num entrelaamento contnuo de necessidades, num desejo e realizao constantes, numa alternncia de dar e receber. a ordem desse entrelaamento incessante e sem comeo que determina a natureza e a forma do ser humano individual.

    Nesse contexto, salienta-se que o dilogo torna-se um instrumento fundamental para que o aluno possa formular perguntas sobre os vrios fatos do cotidiano e buscar as respostas nas mais diversas fontes ideolgicas, culturais e filosficas. Na verdade, o ser humano deveria ter um olhar mais atento para o que o rodeia, de forma a comparar, relacionar e inferir sobre suas leituras, filmes, conversas entre amigos, revistas e livros de qualidade, e trazer tudo isso para seu universo pessoal.

    EDUCAO COMO MEDIAO

    Infelizmente, a fase dos porqus ficou isolada em nossa infncia e deixamos de indagar sobre os mistrios da vida. Questionar o incio da aprendizagem. Tal ideia remete a uma pequena passagem do romance Vidas Secas, de

    Graciliano Ramos: Uma das crianas aproximou-se, perguntou-lhe qualquer coisa. Fabiano parou, franziu a testa (...) No percebendo o que o filho desejava, repreendeu-o. (...) Esses capetas tm ideias.

    Se no fosse a repreenso do personagem Fabiano, que novos caminhos seriam trilhados por aqueles meninos? Menino mais velho, menino mais novo, curiosidade mais questionamentos igual reflexes. Se o mundo em que nos encontramos no nos d respostas, procuramos em outros mundos, em outros meios, mas, se nos calarmos, tornamo-nos mudos intelectualmente.

    Pode-se dizer, com isso, que o mundo da vida um cenrio organizado de forma comunicativa e intersubjetiva, no qual deve emergir, segundo Jrgen Habermas, a tica discursiva, tambm chamada teoria da ao comunicativa. Herdeiro do pensamento kantiano, Habermas reconhece o valor da conscincia autnoma, mas, diferena de Kant, que fundamenta a moral na razo reflexiva, que monolgica, ele descentra o sujeito porque a razo comunicativa supe o dilogo, a interao entre os indivduos do grupo, mediada pela linguagem, pelo discurso.

    Podemos aproveitar essa ideia para aplic-la na questo sobre a educao para o pensar, pois se o pensar no se faz margem dos juzos de valor, temos de reconhecer as dificuldades para compreender o mundo obscurecido pela ideologia e pela alienao. Da a importncia do encontro dialgico entre pessoas que querem se precaver contra o prevalecimento da razo instrumental. Esse expediente valeria para qualquer nvel de educao e para qualquer disciplina, quando no se ensina contedos como se fossem verdades cadas do cu, mas estimulando, sempre que possvel, o dilogo entre os elementos do grupo.

    A educao teria, pois, o papel

    {Referncias Bibliogrficas}ARENDT, Hannah. Entre o passado

    e o futuro. So Paulo: Perspectiva, 2000.

    ELAS, Norbert. A sociedade dos indivduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.

    HABERMAS, Jrgen. Teora de la accin comunicativa: complementos y estdios prvios. Madrid: Catedra, 1997.

    MACHADO, Nlson Jos. Epistemologia e didtica. So Paulo: Cortez, 2001.

    __________. Educao: projetos e valores. So Paulo: Escrituras, 2006.

    MELO NETO, Joo Cabral de. Poesias Completas. Rio de Janeiro: Editora J. Olympio, 1979.

    RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. Rio de Janeiro: Editora Record, 1986.

    SAIBA +

    % ENSINO $

    8 | Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA

  • fundamental de ser a mediadora entre a informao e o conhecimento, restabelecendo o poder de concentrao e anlise para que tenhamos pessoas com o senso crtico desenvolvido, que possam discernir o que verdadeiro do que falso, tornando-se autnomas diante de um universo de informaes, muitas vezes, contraditrias pelos seus prprios fundamentos.

    Destaca-se, nessa tica de educar para o pensar, a importncia da formao docente, que no se completa apenas nos termos da apropriao do contedo que o professor se prope a ensinar. Essa competncia , sem dvida, indispensvel por significar a qualificao do educador, mas persiste uma outra exigncia, a de sua formao pedaggica, de modo que a atividade de ensinar supere os nveis do senso comum, tornando-se uma atividade sistematizada. Mais ainda, o professor deve ter uma formao tica e poltica, j que ele vai educar a partir de valores, tendo em vista um mundo melhor.

    Por fim, a educao deve preparar o aluno para abandonar a esfera privada, a esfera familiar, e adentrar a esfera pblica, na qual o mundo humano construdo e preservado, como nos prope Hannah Arendt, na obra Entre o passado e o futuro. Isso no significa que no haja sada, que a educao no possa mais cumprir a sua funo de introduzir novos seres no mundo, como salienta a autora. Ao contrrio, a educao se torna mais fundamental na sociedade e, ao mesmo tempo, uma tarefa igualmente mais rdua para pais e professores.

    Doutora em Lingustica, possui ps-doutorado em Educao e trabalha na Universidade Federal de Rondnia. Tem livros publicados sobre formao docente, anlise do discurso, pluralidade cultural.

    Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA | 9

  • Ao abrir as pginas onde este texto se encontra, o leitor, com certeza, estranhar o ttulo neologices na dramaturgia, considerando que o correto deveria ser neologismos na dramaturgia. Porm, para adentrar no mundo da bem-sucedida novela Saramandaia, da Rede Globo e na temtica a ser refletida, tornou-se oportuno iniciar a escrita com a insero de termos curiosos quanto sua construo.

    Adjetivos que se tornam advrbios sem mudana de sentido, verbos que recebem afixos, substantivos que derivam outros substantivos, alm de alteraes desinenciais dessas classes de palavras so recorrentes na fala dos saramandistas e bole-bolenses. Alm disso, considerando que se trata de uma linguagem criada como recurso de embelezamento da obra fictcia em sua segunda verso televisiva, o vocabulrio, quase em sua totalidade, permite ser caracterizado de um importante recurso dos estudos lexicais, o neologismo.

    O QUE NEOLOGISMO?Tomando como parmetro o conceito apregoado

    pela professora de Lngua Portuguesa da USP, Ieda Maria Alves, o processo de criao lexical chamado de neologia e o elemento resultante, ou seja, a nova palavra, denominado neologismo.

    % LINGUSTICA $

    NEOLOGICES NA DRAMATURGIAEm pouco tempo de exibio, a telenovela Saramandaia,

    da Rede Globo, tem chamado muita ateno por conta

    de seu linguagismo bastantemente extico

    >> por Edmilson Jos de S

    10 | Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA

  • Para a autora, o neologismo

    pode ser construdo a partir de recursos que a prpria

    lngua possui ou por emprstimos recolhidos de outros sistemas

    lingusticos.

    No caso do Portugus brasileiro, parece que a criao lexical costuma ser divulgada aprioristicamente sob a gide dos jornais e revistas, mas isso no significa que a popularidade dessas criaes neolgicas seja omitida nas ondas de rdio e TV. Por isso, pode-se concordar com a professora Nelly Medeiros de Carvalho, da Universidade Federal de Pernambuco, quando diz que uma lngua, atravs de seu vocabulrio que a liga ao mundo exterior, reflete a cultura da sociedade qual serve de meio de expresso.

    RIGEMO Portugus

    BrasileiroTrata-se do termo

    utilizado para classificar a variedade da lngua

    portuguesa falada dentro e fora do Brasil. a

    variante de Portugus mais falada e escrita,

    por causa da densidade populacional brasileira.

    Tambm a que vem sendo ensinada nos

    pases da Amrica do Sul e nos principais

    parceiros econmicos do Brasil, incluindo China, Japo e EUA.

    C NCEITODefinies de

    NeologismoNeologismo, palavra

    formada pelos radicais neo (novo) e logos (palavra) o processo de formao, por meio do qual novas

    palavras so criadas ou um sentido totalmente distinto

    do original atribudo a um vocbulo existente.

    O professor Ismael de Lima Coutinho, em seu

    livro Pontos de Gramtica Histrica, afirma que os neologismos so palavras ou expresses novas que se introduzem ou tentam se introduzir na lngua.

    Fonte: Conversa de Portugus

    http://conversadeportugues.com.br

    Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA | 11

  • PALAVRAS (ENTRE) PALAVRASEm termos conceituais, do ponto de vista

    estrutural, o neologismo pode ser criado a partir de um processo fonolgico, de um arcabouo sinttico ou de uma percepo semntica.

    O neologismo fonolgico, por exemplo, no se baseia em nenhuma palavra j existente, o que, pela sua raridade, o torna difcil de ser identificado. Porm, um exemplo interessante o da unidade lxica gs, advinda do grego khaus.

    J o neologismo sinttico, ao contrrio do fonolgico, combina elementos j existentes resultando, assim, em neologismos formados por derivao e composio.

    Dentre os tipos de derivao, o prefixal tem sido bastante relevante na formao de neologismos da lngua portuguesa e, para indicar oposio e negao, os prefixos anti e no tm sido bastante produtivos, sem, claro, esquecer de que des, sem, in e contra tambm so comumente detectados na formao de novos itens lexicais.

    No sentido de temporalidade anterior e posterior, costumam ser usados os prefixos pr e ps tanto para a formao de substantivos quanto adjetivos e verbos.

    Vale, ento, a pena conhecer os prefixos mais comuns na criao neolgica:

    A criao neolgica tambm costuma depender

    da insero de sufixos, ou seja, elementos pospostos forma bsica, o que, correntemente, altera a classe gramatical. Os sufixos ismo e ista, usados para

    % LINGUSTICA $

    Anti- (antissoro) Mega- (megapreo) Semi- (semideus)

    Auto- (autoescola) Micro- (micrbio) Sub- (sublingual)

    Des- (desamor) Mini- (minissaia) Super- (superao)

    Dis- (discordar) No- (no-sucesso) Trans- (transparecer)

    Eco- (ecofonia) Neo- (neoglacial) Ultra- (ultrassom)

    En- (encharcar) Ps- (ps-graduao)

    Extra- (extra-agudo) Pr- (prever)

    Hiper- (hipercorreo) Pr- (propor)

    In- (invivel) Re- (revisar)

    Inter- (interligado) Recm- (recm-casado)

    formar substantivos e adjetivos esto entre os mais frequentes. No entanto, h sufixos como ana, o e mento que se apresentam inseridos a bases verbais com o mesmo intuito formador de ismo e ista. Dessa remessa, o e mento costumam ser mais comuns na construo de neologismos. O sufixo dor, por sua vez, usado para indicar o agente responsvel pela ao determinada pelo item derivado.

    Para construir advrbios, o nico sufixo existente na lngua portuguesa mente e agregado a adjetivos para expressar o modo como determinada ao se desenvolve.

    A relao disposta abaixo oferece uma ideia dos principais sufixos usados para construo de novos itens lexicais:

    -ao (ricao) -o (educao) -ivo (a) (afetivo)

    -ado (eleitorado) - eiro(a) (carteiro) - izar (realizar)

    -agem (linguagem) - ncia (aderncia) - mente (felizmente)

    -al (matrimonial) - eta (historieta) - mento (financiamento)

    -o (beberro) - ete (caminhonete) - rio (refeitrio)

    -ar (triangular) - iano (saussuriano) -vel (possvel)

    -ata (negociata) - ice (criancice)

    -ato (oficialato) -ista (pianista)

    12 | Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA

  • Edmilson Jos de S mestre em Lingustica (UFPE) e Doutorando em Letras (UFPB). Contato: [email protected]

    A LINGUAGEM PECULIAR DE SARAMANDAIA

    Desde o incio da telenovela, foi possvel perceber que os moradores da fictcia Bole-Bole usufruem de uma linguagem pouco convencional, embora, quase categoricamente, seja derivada de um vocabulrio comum.

    A princpio, pode-se identificar os advrbios de modo formados de outros advrbios como consta na relao abaixo:

    Aindamente Deverasmente Pratrasmente Antesmente Aliasmente Emboramente Segundamente Apenasmente

    Bastantemente Mesmamente Talqualmente TodaviamenteDe repentemente Prafrentemente Terceiramente

    Em seguida, alguns itens lexicais que constituem substantivos construdos com o acrscimo de sufixos um tanto quanto incomuns para tais itens.

    Aconchegamento Bobice Desaforamento Admirncia Caluniamento Desaforismo Apressamento Cismncia Desfuntamento Avistamento Consumio DesmemoriamentoBobagice Deceptude DesperdiamentoDesrespeitamento Desmorrimento Destrambelhice Emergenciamento Futricagem Hipocrisismo Ingratitude Interessamento MexericnciaPecadismo Perdoagem ProvidenciamentoRessuscitamento Sujismo Tresnoitao Trocadilhismo Xingatrio PericiamentoMutretagem Rifismo Leiloismo Mexicncia Desabafamento Nervosura

    Uma gama curiosa de adjetivos tambm foi construda pelos habitantes da fictcia cidade em que se passa a histria da telenovela.

    Apavorento Encachacista TraiuentoArtimanhoso Fuxiquento Desinfeliz Decisrio Imorrvel HeregistaDesaforento Invencioneiro Senfezista Desmemoriento Magricento EmergenciosoDesmiolento Malcriento neutristaDificultoso Mexeriquento ExigitrioDissituado Safadista Desapetrechada

    Por fim, no podem faltar os verbos ou verbismos, principalmente com sentido negativo, construdos com a insero do prefixo des-.

    Desaprontar Despalavrar Desachar Desengordar Desnamorar Desquebrar Desmorrer Desperdoar Desmudar Desviver Desaprontar

    Diante do que se viu com os neologismos ora apresentados e encontrados no drama televisivo, pode-se ratificar o argumento apregoado pela professora Nelly Carvalho sobre a evoluo dos meios de comunicao, a partir dos quais o indivduo no fica isolado no seu locus, mas incorpora a seu cotidiano valores de realidades distantes, como se observa no realismo fantstico de Saramandaia. Parte disso se observa no jeito de falar, atravs de criaes neolgicas que beiram a ingenuidade, mas que, indubitavelmente, permanecem sempre na memria e se transformaes em verdadeiros bordes.

    Alm dos novos itens lexicais registrados, possvel observar, tambm, termos como adjutrio, marafona, acautelatrio, cataltica, vituprio. Seriam eles arcasmos? Bom, a j outro historiamento!

    Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA | 13

  • Muitos estranhariam se soubessem que a forma pgo, um dia, j foi considerada inculta, somente empregada por incultos (Caldas Aulete, 1958). Estranhariam porque, atualmente, empregada por pessoas com nvel de escolaridade superior ou seja, cultas.

    Mas, ento, por que no se aceitam as formas chego e compro, por exemplo, j que seguem o mesmo padro de PEGAR para PEGO: chegar chego; comprar compro? Por que ser?

    No resta dvida de que tais formas existam (basta ver que h a dvida sobre a existncia!), mas no as aceitamos como as outras. Tanto assim, que, quando ouvimos (ou lemos) essas formas, logo estranhamos e sabemos que est errado (alguns vo adiante e chamam as pessoas de analfabetas, burras etc. e tal... Haja intolerncia e ignorncia!...).

    Sobre a questo, Marcos Bagno nos esclarece:

    [...] numa sociedade muito hierarquizada como a brasileira e extremamente desigual no tocante distribuio dos bens materiais, culturais e sociais, so as elites urbanas mais letradas que ditam o que certo ou errado, no s em termos de lngua, mas em todos os comportamentos, crenas, gostos etc. Assim, a ascenso do normal ao normativo depende da aceitao desse normal no interior dessas camadas sociais privilegiadas. (http://seer.bce.unb.br/index.php/traduzires/article/view/6652/5368)

    Isso quer dizer que, baseando-nos nessa informao, os termos chego, trago, compro (e outros possveis!) somente sero consideradas legtimos como formas irregulares dos verbos chegar, trazer e comprar quando forem abonados por aquela minoria detentora do poder econmico, poltico e social.

    Um dia, talvez passemos a aceitar tais formas sem taxar as pessoas que as usam de incultas (da mesma forma que aconteceu com pgo!).

    A LGICA O PODER (OU SIM, TINHA CHEGO EXISTE!)

    % GRAMTICA NORMATIVA $

    >> por Bruno Rodrigues

    14 | Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA

  • PEGO OU PEGADO?Em julho do ano passado, dentre outras coisas

    mais ou menos relacionadas lngua(gem), eu resolvi provocar meus amigos do Facebook:

    A pronncia de pego pode ser tanto pgo como pgo. Todos concordam? Beleza. Mas entre a forma pego e pegado, qual vocs usam mais?

    Usei como exemplo o que tinha ouvido numa conversa recente entre amigos; para ilustrar, usei as duas formas. Assim, deixei livre para que eles me dissessem qual forma usariam no exemplo dado:

    Ex.:Se ele tivesse pegado/pego aquele pnalti, salvava o time!

    Com essas informaes, achei suficiente e decidi publicar (postar!) na rede social. Mas, epa!, pera l! Lembrei-me de algo importantssimo: eles no poderiam consultar a gramtica; eles deveriam me dizer o que realmente acontece com eles, e no o que a gramtica diz para eles fazerem; ou seja, ningum poderia olhar na gramtica antes de responder ou comentar a minha publicao. Foi ento que eu resolvi adicionar:

    PS: srio, viu?! Podem responder! Porm, lembrem: quero saber o que VOCS USAM, no o que a GRAMTICA diz pra usar. Ento, nem olhem na gramtica antes de responder. Google nem pensar! (risos).

    Essa brincadeira com meus amigos me levou a procurar alguns outros comentrios, na internet. Foi ento que fiz uma busca na coluna Dicas de Portugus, do portal G1, assinada por Srgio Nogueira. Um dos critrios foi quantidade de comentrios que a coluna recebe (pode haver outra pgina da internet com maior nmero de visualizaes, mas a coluna do Srgio Nogueira recebe muitos comentrios todos os dias) Estava l! Publicada na quarta-feira do dia 8 de agosto de 2007, em Ol, Tudo bem? A dica era como usar o particpio.

    Pode ser resumida assim: Quando o verbo apresenta dois

    particpios, ou seja, quando so verbos abundantes, a regra exige que

    (1) com os verbos auxiliares ter ou haver, usemos a FORMA REGULAR (as terminaes -ado ou -ido). Exemplo: Ele tinha entregado os documentos.; (2) com os verbos auxiliares ser ou estar, usemos a FORMA IRREGULAR. Exemplo: Os documentos foram entregues por ele.

    Retirado em: (http://g1.globo.com/platb/portugues/2007/08/08/ola-tudo-bem-47/comment-page-3/#comments)

    Aps isso, o consultor faz duas observaes, que poderiam ser resumidas assim:

    1. Com os verbos abundantes, a forma regular est em desuso; isto , as formas irregulares esto sendo usadas at mesmo com os auxiliares ter e haver;2. Os verbos no abundantes, s aceitam a forma regular: chegar chegado; comprar comprado; trazer trazido etc.

    Dentre os comentrios que podemos achar por l, destaco estes:

    Bruno Rodrigues professor de Portugus e Ingls.

    Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA | 15

  • % EM OUTRAS PALAVRAS $

    Com um olhar Sociolingustico Variacionista e de professora de lngua estrangeira, este artigo pretende discutir sobre a varivel /ll/ levando em considerao a sonoridade produzida em algumas regies latino-americanas. O objetivo demonstrar o importante papel das variedades lingusticas no processo de ensino-aprendizagem de lngua estrangeira, enfatizando a questo do yesmo, com o propsito de ampliar os recursos metodolgicos de eficcia para os professores, sejam eles nativos ou no, dando nfase maior ao curso bsico de Espanhol como Lngua Estrangeira (E/LE), para que estes possam realizar uma aula mais criativa, produtiva, interativa, aperfeioando a sua didtica de

    ensino, produzindo aprendizagem mtua e auxiliando na formao de aprendizes para a lngua-alvo. O estudo contemplou a aplicao de instrumentos qualitativos, tendo como base terica livros, sites e revistas que trabalham sobre as variaes lingusticas, mas especificadamente do yesmo.

    INTRODUOPartindo do pressuposto que a

    lngua no homognea, como aponta Faraco (2008), podemos dizer que ela constituda por um conjunto de variedades, e viva, pois muda conforme o tempo, o grupo, tanto social como profissional, a faixa etria, a regio em que vivemos, o sexo e outros fatores. Logo a lngua varia, e esta caracterstica no somente da portuguesa, mas de todas.

    VARIAO LINGUSTICA NA PRONNCIA DA VARIVEL LL NO ENSINO-APRENDIZAGEM DO ESPANHOL COMO LNGUA ESTRANGEIRA >> por Selma Cruz Santos

    16 | Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA

  • A variao existe pelo simples motivo de um sujeito no ser igual ao outro e tambm para mostrar o vasto acervo lingustico de diferentes regies e como algumas palavras perderam seu uso e ganharam nova utilizao. E porque ela, a variao, inerente ao sistema lingustico.

    A sociolingustica variacionista parte da premissa da abordagem do estudo das regras variveis que o compartilhamento a partir do uso da lngua (SANTOS, 2011).

    Assim como em todas as lnguas, a variao tambm

    ocorre nesta estudada, pelo fato de ser pessoal, logo mutvel, pois o indivduo tende a adaptar seu uso, sua comunicatividade conforme o grupo em que est inserido em dado momento, para que a lngua possa ser mais bem compreendida pelos outros componentes do grupo e tambm considerando a localidade do indivduo.

    Ao falar em variao, propomos conhecer um pouco mais sobre a pronncia da varivel ll, para isso este artigo recorre a estudos de variao lingustica voltados

    CURIOSO Crivo Fontico

    O crivo fontico de um dos mistrios da natureza:

    qualquer pessoa capaz de aprender a falar qualquer

    lngua fluentemente e sem nenhum sotaque at mais

    ou menos 14 anos de idade (varia de uma pessoa a outra);

    essa idade-limite chamada de crivo fontico pelos

    fonoaudilogos; depois, a pessoa pode aprender a falar

    com toda fluncia uma lngua que no a sua, porm, um sotaque vai estar presente. Isso pode ser observado em

    famlias de imigrantes logo, as crianas esto falando a

    lngua do local fluentemente e sem sotaque, enquanto

    os adultos jamais se livram de falar com sotaque

    A Implantao do Espanhol no

    Ensino BrasileiroA lei federal n 11.161, de 5/

    agosto/2005 determina que o ensino da lngua espanhola,

    de oferta obrigatria pela escola e de matrcula

    facultativa para o aluno, ser implantado, gradativamente,

    nos currculos plenos do ensino mdio e o processo de implantao dever estar concludo no prazo de cinco anos. Na prtica, at hoje,

    apenas as universidades federais tm aberto vagas e

    novos cursos para a formao de professores de espanhol.

    Os governos estaduais, responsveis pelo ensino

    mdio, no tm tomado as providncias necessrias.

    E em 4 de agosto de 2009, o MEC anunciou o objetivo de promover o ensino da

    lngua espanhola no Brasil por meio da educao a

    distncia, em parceria com o Instituto Cervantes.

    POR DENTR

    Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA | 17

  • para a rea da fontica, analisaremos suas diversas realizaes em algumas regies latino-americanas.

    Em determinadas localidades a estrutura de uma palavra permanece a mesma, mas a sua pronncia varia conforme os falantes.

    Este artigo objetiva mostrar a variao existente da variante ll e proporcionar sua utilidade em sala de aula, pois deduzimos que os docentes sabem que a variao existe. Ento, por que no ensin-la aos seus alunos? Trabalhando a pronncia da mesma, os professores fazem com que seus discentes saibam que existem diferentes pronncias em determinadas localidades latino-americanas e assim facilitando o reconhecimento da nacionalidade do indivduo.

    Vale salientar que temos muito a aprender e a respeitar no que diz respeito lngua. Em nosso estudo, num primeiro momento, abordaremos a variao geogrfica, pois trataremos de algumas regies e da variante situacional ou diastrtica, que trata da modificao da linguagem no grupo em que o sujeito se encontra. Em seguida, faremos a associao entre variao e ensino-aprendizagem do yesmo.

    VARIAES DO YESMOO yesmo a predominncia do [y] no lugar da

    [], de acordo com Rodriguez (s.n.t): Existe yesmo em Madri, Toledo, Ciudad Real, Extremadura, Andaluzia e Canrias. Em Hispano-Amrica h distino entre [] e [y] em vrias provncias da Argentina, Chile, Peru, Colmbia, e Equador.

    Notamos que na produo do ll em algumas palavras do Espanhol, quando faladas por seus nativos, implica uma gama de diferenciao de pas para pas, pois em dadas questes quando o /y/ bastante utilizado podemos diferenciar o falante e supor sua localidade. Atualmente a ll de (calle) e a /y/ [kaye] da Lngua Espanhola (LE), tm a mesma escrita por isso podemos dizer que existe pouca diferena quando pronunciadas por pessoas latino-americanas. J no caso de brasileiros produzindo um verbete que tenha ll ou /y/ o som de cada fonema notrio, pois quando aprendemos E/LE nas Instituies de Ensino de Lnguas Estrangeiras vemos que o ll de (calle) tem o som de lh da nossa Lngua Portuguesa (calhe) o que pode facilitar uma pronncia mais prxima da lngua-alvo. a lngua materna influenciando, interferindo no aprendizado.

    No dizer de Salinas (2005, p.55), essa influncia ocorre porque facilita a comunicao entre professor e aluno, mas s vezes tambm provoca interferncias de sua lngua materna, o portugus.

    Moran (2000) destaca que ensinar um processo social, inserido em cada cultura com suas normas, tradies e leis; mas tambm um processo profundamente pessoal; cada um desenvolve um estilo, seu caminho, dentro do que est previsto para a maioria.

    Todo professor de um pas latino-americano tem sua metodologia, sua didtica para mostrar ao aluno suas variedades lingusticas, seus costumes, suas tradies, porm o aprendiz brasileiro, ao entrar em contato com o E/LE, procurar seu caminho para o aprendizado e a melhor maneira de pronunciar os verbetes, pois, no geral, temos que deixar algumas variedades regionais para melhor aproximar pronncia adequada.

    Contudo, afirmaremos que no existe uma pronunciao errada ou correta, ambas as formas so aceitas pela lingustica. De acordo com S (2013, p.6), a linguagem espontnea reflete a cultura de um povo e da sociedade em que ele vive.

    As variedades so um exemplo para que se mantenham vivas as culturas, os costumes e as peculiaridades de um povo. A variao um sistema particular de cada indivduo, com isso poderemos ter a mesma palavra, por

    No h pronncia certa nem

    errada desde que as formas

    sejam comumente observadas

    numa lngua. Assim, no

    necessrio corrigir um falante

    no-nativo de espanhol que

    opte, seja por influncia do

    professor ou de outros fatores,

    por determinadas pronncias

    encontrveis na lngua

    % EM OUTRAS PALAVRAS $

    18 | Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA

  • exemplo, caballo, com a mesma escrita em vrios pases e com sua produo sonora diferenciada, essa palavra pode ser produzida como: [kabyo], [cabalho], [cabajo] e [cabalo], e isso por que a variao particular, autnoma, e jamais uma pessoa poder ter a pronncia igual ou semelhante de outra. O uso do /y/ no lugar do / / de fato bem aceito atualmente pelos falantes de LE, pois a maioria dos usurios jovem.

    Em relao maioria dos usurios ser jovem, Silva afirma:

    El yesmo est extendido en amplias zonas de Espaa y de Amrica y, aunque quedan an en lugares en que pervive la distincin en la pronunciacin de ll e y, es prcticamente general entre los jvenes, incluso entre los de regiones tradicionalmente distinguidoras (SILVA, 2009, [s.n.t]).

    Conforme Navarro (1964, p.8), a pronunciao da ll somente com um [l] ocorre, certamente, nos lugares com fronteiras austurianos, Len, Zamora e Cceres de fala galiza ou portuguesa.

    Existem localidades em que o uso do ll corrente, porm sua produo sonora somente com um /l/, logo pode se perceber que existem formas particulares de cada indivduo de pronunciar uma mesma palavra, o que devemos levar em considerao a origem do falante.

    Logo se pode notar que a produo sonora da palavra castillo com a [] nos dias atuais bastante rara, pois essa sonoridade est tornando-se arcaica e de uso culto das sociedades atuais, o que para os brasileiros seria a norma culta falada, ou seja, o uso do ll respeita toda uma gerao e com isso as pessoas de maior idade so usurios do mesmo, enquanto o uso do [y] de propriedade dos jovens, podemos assim dizer.

    O ENSINO APRENDIZAGEM DO YESMO

    Para que a variante da ll comece a ser ofertada nas Instituies de Ensino, cabe a ns estabelecermos as semelhanas entre a lngua materna (o portugus) e a lngua-alvo (o espanhol), pois so idiomas de grande proximidade lxica na maioria das palavras escritas e na sua pronncia.

    necessrio que saibamos que o E/LE de fcil absoro para os aprendizes brasileiros, no s pela semelhana sonora da ll com o lh, mas tambm que ambos os idiomas carregam consigo uma enorme similaridade na escrita.

    Pois, de acordo com Salinas (2005, p.55):

    O aluno brasileiro mostra j no comeo do processo de aprendizagem da lngua espanhola traos de fossilizao na sua interlngua. Essa fossilizao ocorre talvez por os alunos acharem que o espanhol muito parecido com o portugus.

    Uma das grandes dificuldades dos falantes brasileiros, mas especificadamente da regio Nordeste, segundo Lima (2009), : El fenmeno de la palatizacin tambin est por un prejuicio linguistico de quin habla mejor: Otcho o Tchinta y Direcho o Tchio ([s.nt.]). Isso implica na produo sonora dos verbetes, ou seja uma pessoa que estigmatiza uma outra que produz sonoramente a palavra otcho tem a possibilidade de no conseguir adequar sua lngua materna a lngua alvo por conta de algumas particularidades regionais do idioma-alvo.

    De acordo com Bagno (2002, p. 72):Desse modo, tudo aquilo que

    classificado tradicionalmente como erro tem uma explicao cientfica perfeitamente demonstrvel. A noo de

    RIGEMFalsos Cognatos

    So chamados falsos cognatos, ou falsos amigos, as palavras que se assemelham a outras,

    de outra lngua, mas cuja traduo verdadeira mostra

    que elas tm significado diferente. Claro que elas

    confundem quem no conhece bem o idioma por

    exemplo brinco em espanhol deve ser traduzido para

    salto; almohada, no almofada, mas travesseiro.

    C NCEITOO Que Norma Culta

    e Norma PadroA norma-padro de uma

    lngua a que est vinculada a uma lngua modelo,

    seguindo as prescries ditadas pela gramtica, mas se altera conforme a lngua produzida em

    determinados momentos histricos e em uma

    determinada sociedade. Como a lngua est em constante

    mudana, diferentes formas de linguagem que no so

    consideradas pela norma padro, podem vir a se

    legitimar pelo uso e com o tempo. A chamada norma culta a prtica da lngua

    em um meio social que considerado culto, entre

    pessoas moradoras de centros urbanos, com estudos de

    nvel superior. H ainda a norma gramatical, que

    relacionada gramtica normativa e s o que est de

    acordo com ela correto.

    Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA | 19

  • erro em lngua inaceitvel dentro de uma abordagem cientfica dos fenmenos da linguagem. Afinal, nenhuma cincia pode considerar a existncia de erros em seu objeto de estudo (os erros, falhas e equvocos podem ocorrer nas metodologias de pesquisa, nos procedimentos de anlise, na elaborao de construtos tericos, nos preconceitos de diversa natureza ideolgica que o cientista pode assumir consciente ou inconscientemente, mas no no objeto em si).

    Alguns docentes brasileiros tendem

    a querer facilitar a absoro do espanhol para seus alunos, com isso no trabalham o sotaque castelhano em suas aulas, e tem como objetivo passar contedos e esperar os resultados. Como diz Salinas (2005, p.58), no podemos esquecer o alto nvel de compreenso

    que o aluno brasileiro possui da lngua espanhola, sobretudo na etapa inicial.

    Vale salientar que os aprendizes brasileiros, aps a etapa inicial da lngua-alvo, tendem a sentir um grau de dificuldade tanto na pronncia como na escrita, e o pensamento que os idiomas so muito parecidos comea a gerar obstculos na aprendizagem, contudo essa dificuldade aparece, s vezes, na escrita, mas muito rara na oralidade.

    O que de certa maneira visto como equivocado, pois um professor-orientador est em sala de aula para fazer com que seus aprendizes aprendam e sejam capazes de reproduzir o que foi ministrado em sala, ou seja, os mesmos tm de saber o motivo pelo qual esto aprendendo aquele idioma e que futuramente ser de grande necessidade para os mesmos.

    Na maioria das vezes, quando as pessoas tm seu primeiro contato com a lngua espanhola, tendem a estranhar determinadas variantes e suas pronncias, pois, normalmente no curso Bsico de Espanhol Lngua-Estrangeira, os alunos se deparam com professores nativos. Mesmo sendo latino-americanos os docentes so de pases distintos, ou seja, cada um tem sua particularidade fontica, e partindo desse ponto que comeam as dvidas; se as pronncias so certas ou erradas, ou se todas so aceitas perante o idioma em questo.

    Em relao a essas dificuldades fonticas da ll, confirma Batista (2011):

    Na Espanha essa letra se pronncia como o LH do portugus, j na Argentina, Uruguai e Chile se pronuncia como um J, por exemplo, a palavra PAELLA. Na Espanha fala-se paelha, e aqui na Amrica Latina paedja ou paeja (na Argentina), entre outros exemplos mais que existem.

    % EM OUTRAS PALAVRAS $

    C NCEITOO Que FonticaFontica numa disciplina da lingustica dedicada ao estudo das propriedades fsicas (acsticas e articulatrias) dos sons da fala, desde a forma como so produzidos pelo aparelho fonador forma como so percebidos e processados pelo ouvido humano. fontica interessam todas as alteraes subjacentes realizao dos sons da fala independentemente do seu valor significativo e comunicativo, ao contrrio da fonologia, que estuda apenas as realizaes fnicas que estabelecem significados na lngua e que possuem, por isso, valor comunicativo. (fonte: Infopedia)

    20 | Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA

  • Um dos fatores que contribuem para essa proximidade lxica entre os idiomas em questo a relao dos recursos didticos utilizados pelos docentes, dentre esses recursos abordaremos os livros didticos que so estudados no ambiente educacional.

    Os textos que os livros trazem para serem estudados tanto na pronncia como na conversao, so de certa forma vistos pelos aprendizes como semelhantes com a lngua materna por causa do lxico, pois pouco muda na escrita e menos ainda na sonoridade segundo os alunos, o que faz com que os docentes estejam sempre estudando, pesquisando e sendo curiosos com o idioma e com o que ele pode nos oferecer como sua cultura, costume, particularidades, dentre outros.

    Alguns professores no tm como modificar essa metodologia tradicional em suas aulas, por causa da Instituio que, muitas vezes: no comporta recursos como quadro negro ou branco em boas condies de uso, ou at mesmo materiais audiovisuais, dificultando o aprendizado.

    Segundo os Parmetros Curriculares Nacionais:

    Deve-se considerar tambm o fato de que as condies na sala de aula da maioria das escolas brasileiras (carga horria reduzida, classes superlotadas, pouco domnio das habilidades orais por da maioria

    dos professores, material didtico reduzido a giz e livro didtico etc.) podem inviabilizar o ensino das quatro habilidades comunicativas (BRASIL, 1998, p.21).

    Por outro lado, temos um grande acervo disponvel para os docentes de E/LE, mas o fato que, na maioria das vezes, cmodo no pesquisar e no ir atrs dos contedos a serem abordados em sala de aula para se ter um melhor desempenho e mais motivao dos alunos, pois o que falta o fator motivao para os alunos quererem aprender um novo idioma, principalmente quando esse bastante parecido com a lngua materna.

    Assinala Salinas (2005) que:

    Embora no mercado exista uma quantidade suficiente e disponvel de material didtico e cada escola adote sua prpria metodologia, parece que ns, professores de lngua, nunca estamos satisfeitos com essa ferramenta. Sempre estamos procura de materiais adicionais, sejam revistas, jornais ou outras fontes, para enriquecer nossas aulas.

    A respeito de como ofertar a lngua-alvo para os aprendizes brasileiros, temos alguns caminhos a serem seguidos e modificados. necessrio que os profissionais continuem estudando e acrescentando cursos ao seu currculo e assim aperfeioando e chamando a ateno dos alunos na sua aula e, com isso, conseguindo transmitir o contedo com certa segurana e visando ingressar um processo de aprendizagem diferenciado, um desses caminhos podem ser os recursos audiovisuais.

    Vale lembrar que o uso excessivo da aula expositiva faz com que a aula se torne cansativa, pelo fato de o professor colocar todo o contedo em slides, e apenas l-lo, sem ter o trabalho de elaborar um bom planejamento para o desenvolvimento da aula, sem dinamizar e sem ter interatividade em sala de aula.

    Outra percepo de recurso a ser usando como ferramenta de interatividade, a comunicao entre aluno-professor e professor-aluno, curiosidade epistemolgica, dentre outras razes a internet. Sem dvida esse um meio bastante ilimitado e que pode ter acesso a vrios ambientes. Apesar de a internet ser uma grande fonte de contedo, todos (docente/

    Falta o fator motivao

    para os alunos quererem

    aprender um novo idioma,

    principalmente quando esse

    bastante parecido com a

    lngua materna. Caminhos

    devem ser estudados a

    respeito de como tornar o

    espanhol mais atraente para

    falantes do portugus

    Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA | 21

  • aprendiz) tm que ter a conscincia que nem todas as informaes presentes na internet so verdadeiras.

    Essa questo dos docentes deterem o conhecimento das variaes lingusticas, e levando em considerao a lngua estudada, podemos dizer que esse conhecimento absorvido pelos ento estudantes de Letras e suas habilitaes, e que alguns destes profissionais quando em contato com os aprendizes h uma troca de saberes e que na maioria das vezes as variaes so informadas aos discentes.

    No estgio de observao pudemos notar que a docente atuante transmite aos alunos que existem as variantes da /ll/ e a mesma exemplificou com a palavra calle que pode se pronunciar: [calle], [kaye] e de outras formas e que a escrita permanece a mesma. Como assinala De Paula e Sstenes (2011, p. 74):

    As variedades diatpicas ocorrem num plano horizontal da lngua, sendo responsveis pelos regionalismos ou sotaques. Alm das marcas fontico-fonolgicas, existem outras variaes que iro caracterizar um jeito prprio de ser dessas regies. Em cada comunidade lingustica nota-se um tipo de prosdia

    que varia de uma regio para outra.

    A docente explica que essas variaes existem em certas regies e deixa claro que no existe pronncia certa ou errada para a variante em ll.

    Vale lembrar que essa informao lingustica passada a todos os futuros docentes de lngua espanhola e que a mesma deve ser transferida aos discentes para que os mesmos saibam da existncia da variante em questo.

    CONSIDERAES FINAISDiante deste estudo, pudemos

    perceber que a variao lingustica est sendo ofertada ainda timidamente, pelo fato de a diferenciao sonora ainda ser vista como tabu diante da sociedade. E que tais diferenas no implicam distino de significados, mas o sistema lingustico permite essa variabilidade, logo no existe varivel errada.

    Os docentes de lngua estrangeira aprendem ainda como estudantes que existe variao lingustica dentro do seu estado, no seu bairro, no seu grupo de amigos e que essas variaes so facilmente encontradas em outras regies geogrficas, em grupos formais e informais, ou seja, existem vrias maneiras de pronunciar uma mesma palavra, essas variaes lingusticas aparecem em todas as lnguas, inclusive na lngua espanhola. De acordo com Iumatti [s.n.t], todos ns falamos uma variedade lingustica de um idioma.

    preciso mudar a maneira de como as variaes do fonema ll so abordada em sala de aula, pois a sala um espao de interao, de comunicao entre os jovens, e tambm ns professores devemos nos policiar no momento da pronunciao. Em certos momentos as particularidades do som ll devem ser mostradas aos discentes,

    Docentes e aprendizes tm que ter a

    conscincia que nem todas as informaes presentes na internet

    so verdadeiras.

    % EM OUTRAS PALAVRAS $

    Variaes da LnguaA lngua varia conforme faixa etria, estrato social e diferenas regionais, entre outros fatores, e essas variaes recebem classificaes distintas, denominadas diatpicas, diastrticas e diafsicas, sendo diatpicas (ou dialetais) as diferenas no modo de falar entre regies e so relativas semntica e sintaxe. Variaes diastrticas so as diferenas que se referem a grupos sociais unidos por profisso, por hbitos sociais e por faixas etrias. As variaes diafsicas se relacionam ao contexto comunicativo de forma geral so as diferenas entre uma conversa informal e uma palestra, por exemplo, entre um texto escrito e a palavra falada no dia a dia.

    SAIBA +

    CURIOSAs Variaes da Lingua em LibrasLibras (Lngua Brasileira de Sinais) a lngua oficial dos surdos no Brasil, desde 2002. Porm, as variaes da lngua entre regies representam uma srie de dificuldades a mais para a comunicao de pessoas portadoras da deficincia uma mesma expresso ou um mesmo objeto podem ser representados por diferentes sinais, de acordo com a regio e h sinais especficos para nomes prprios, como os de localidades. H uma mobilizao constante de pesquisadores, que visa detectar essas diferenas para incorpor-las aos dicionrios de Libras existentes que so considerados ainda muito distantes do ideal. (fonte: Infopedia)

    22 | Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA

  • SAIBA +pois os mesmos tm curiosidades, dvidas e essas inquietaes devem ser resolvidas pelos docentes.

    Outro fator abordado neste estudo foi a questo do ensino-aprendizagem. Notamos a existncia de uma aproximao sonora da lngua materna (LP) com a lngua- alvo (LE) e tambm na escrita, o que faz com que um brasileiro ao aprender o E/LE tenha certa compreenso do que pronunciado e escrito, contudo essa dita semelhana acontece somente no comeo do contato com a lngua-alvo, pois podemos perfeitamente trocar o ll pelo lh e no ocorrer diferena alguma na pronncia.

    Este trabalho buscou analisar a pronncia da varivel ll no ensino-aprendizagem, a sua existncia em regies geogrficas e pode-se constatar atravs do estgio por me observado que h variao e que cabe ao docente informar/comunicar aos aprendizes que na Argentina se pronncia [paedja] ou [paeja], na Espanha [paella], e que esse fenmeno lingustico ocorre tanto no Brasil como na Espanha.

    A relevncia de abordar o yesmo neste artigo mostrar o papel que o mesmo desempenha dentro sistema de lingustico perante o corpo docente e de como esses profissionais ofertam o yesmo nas instituies de ensino.

    Atravs dos resultados obtidos notrio que h uma facilidade em aprender o E/LE aparece, porm somente no comeo, segundo Salinas (2005, p.58), no podemos esquecer o alto nvel de compreenso que o aluno brasileiro possui da lngua espanhola, sobretudo na etapa inicial. E que h semelhanas entre a lngua materna (LP) e a lngua-alvo (LE), pois so

    idiomas de grande proximidade lxica e que os docentes no trabalham o sotaque castelhano em suas aulas.

    bem possvel que a variao lingustica da ll chegue at aos alunos com o passar do tempo j que so os sujeitos que mais devem saber de sua existncia. Todavia acreditamos que com a disciplina lingustica nas instituies de ensino superior, essa informao possa chegar com mais preciso aos aprendizes que o nosso pblico alvo, mas para que isso acontea preciso que o docente no guarde essa diferena lingustica para si e tambm que o mesmo, sabendo dessa existncia, no pense que essa diferenciao no tem relevncia para os aprendizes.

    Dessa forma, esperamos ter contribudo no somente para uma melhor compreenso da varivel ll no ensino-aprendizagem e suas variaes, como tambm para um possvel avano de estudos sobre o yesmo, pois este estudo mostra que o uso da [y] mais utilizado entre os jovens.

    E que pode vir com o tempo a se tornar a variante padro, j que mais usada na comunidade de fala, j o uso do // prevalece somente entre que tm mais idade o que mostra que essa utilizao pode vir a ser esquecida j que pouco utilizada nos dias atuais. Isso implica numa possvel mudana lingustica, questes para um estudado mais acurado futuramente.

    Graduanda em Letras Portugus/Espanhol pelo Centro Centro Universitrio CESMAC; Especialista em Formao para a Docncia do Ensino Superior no Centro Universitrio Cesmac e Tecnloga em Turismo no Instituto Federal de Alagoas, Campus Marechal Deodoro.

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    brasileiros: destacar o uso ou a forma? In: SEDYCIAS,

    J. (Orgs.). O ensino do espanhol no Brasil / passado,

    presente, futuro. So Paulo: Parbola Editorial, 2005,

    p. 54-60.

    S, E. J. O lado (no to obscuro) do

    eufemismo. Lngua Portuguesa, n.40, 2013, p.

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    SANTOS, R.L.A. Um estudo variacionista sobre

    a concordncia verbal na fala de menores carentes,

    que vivem em instituies filantrpicas de Macei.

    IN: COSTA, J.; SANTOS, R. L.A.; VITRIO, E.G.S.L.A

    (Orgs.). Variao e mudana lingustica no estado de

    Alagoas. Macei: EDUFAL, 2011, p.93-106).

    SILVA, M. Yesmo. 08 dez. de 2009. Disponvel

    em: < http://www.guiapraticodeespanhol.com.

    br/2009/12/yeismo.html> Acesso em: 17 mar. de

    2013.

    Selma Cruz Santos Graduanda em Letras Portugus/Espanhol pelo Centro Centro Universitrio CESMAC; Especialista em Formao para a Docncia do Ensino Superior no Centro Universitrio Cesmac e Tecnloga em Turismo no Instituto Federal de Alagoas, Campus Marechal Deodoro.

    Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA | 23

  • Saber expressar-se de diferentes formas e de diferentes maneiras necessidade essencial a todo cidado que pretende ser reconhecido como tal. Para isso, conveniente fazer uma anlise criteriosa das condies de produo dos mais variados discursos, dos implcitos, do dito ou do no dito.

    Se a competncia discursiva diz respeito capacidade da escolha das melhores estruturas lingusticas, cabe lembrar que s quem conhece diversas opes capaz de escolher. Como utilizar vocabulrio variado, estruturas morfossintticas reais complexas, se tais estruturas no foram internalizadas pelo usurio da lngua?

    Nessa perspectiva, vale a pena desdobrar um pouco os objetivos de falar, ler e escrever.

    Falar ter fluncia nas mais diversas situaes, isto , diante de um indivduo ou de um conjunto plural de interlocutores, em atividades de transmisso de informaes, de exposio de ideias, de troca de opinies, de defesa de ponto de vista, de representao. adequar a linguagem s circunstncias (aos interlocutores, ao assento, s intenes), utilizando o nosso padro oral quando isso for necessrio; aproveitando os imensos recursos da lngua.

    Ler compreensivamente implica responder ao texto, concordando com ele, discordando dele, emocionando-se com ele, assinalando-se, aumentando o universo de conhecimentos.

    Escrever para algum ler reconhecer que os interlocutores so um dos condicionadores de nossos textos e, em consequncia necessrio, que os textos sejam adequados s circunstncias de sua produo. Escrever controlar os processos estruturadores do texto (coeso e coerncia); adequar-se s exigncias scio-culturais que circundam a escrita (norma padro e grafia oficial); dispor dos variados recursos expressivos da lngua, operando escolhas apropriadas produo discursiva da linguagem.

    Convm ressaltar que preciso realizar uma ao reflexiva sobre a prpria linguagem, integrando as atividades verbais e o pensar sobre elas.

    MARCAS LINGUSTICAS DA ORALIDADE, PRPRIAS DO PORTUGUS FALADO NO BRASIL, QUE CONSTITUEM UMA GRANDE PARTE DO ACERVO LINGUSTICO DOS FALANTES/OUVINTES DE LNGUA MATERNA

    Diferenas de uso entre enunciados da lngua falada e da lngua escrita:

    LINGUAGEM FALADA Os atletas bateram o rcorde LINGUAGEM ESCRITA Os atletas bateram o recorde

    O QUE NOS DIZ A NORMA PADROO exemplo em destaque nos reporta a uma questo normativa

    de acentuao grfica. J se convencionou no uso da lngua falada, a pronncia da palavra recorde como proparoxtona, isto , a slaba tnica a antepenltima. Em verdade, temos um caso, segundo a norma, de palavra paroxtona (a silaba tnica a penltima). Da, no ser uma palavra acentuada graficamente.

    LINGUAGEM FALADA Os vices-prefeitos esto reunidosLINGUAGEM ESCRITA Os vice-prefeitos esto reunidos

    O QUE NOS DIZ A NORMA PADROOuvimos com frequncia a pluralizao, sobretudo na lngua

    falada, de termos considerados invariveis como vice, ave, pr, entre outros. Sob a tica normativa, estes termos no se pluralizam. Trata-se de desvios da norma padro.

    LINGUAGEM FALADA Ela mesmo disse a verdade LINGUAGEM ESCRITA Ela mesma disse a verdade

    O QUE NOS DIZ A NORMA PADROOutro caso muito comum na lngua falada e, muitas vezes,

    at na lngua escrita. Trata-se do emprego da palavra mesmo que, nesta situao comunicativa se flexiona, isto , concorda em gnero (feminino) com a palavra a que se refere ela.

    A LNGUA QUE FALAMOS X A LNGUA QUE ESCREVEMOS

    % GRAMTICA TRADICIONAL $

    >> por Lenaldo da Silva

    24 | Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA

  • LINGUAGEM FALADA Os cidades chegaram cedoLINGUAGEM ESCRITA Os cidades chegaram cedo

    O QUE NOS DIZ A NORMA PADROUm outro exemplo que constitui desvio da norma. A

    concordncia de nmero (plural) de algumas palavras causa confuso na mente dos falantes. De acordo com a norma, s h uma forma para pluralizar a palavra cidado cidados.

    LINGUAGEM FALADA Onde voc pretende ir?LINGUAGEM ESCRITA Aonde voc pretende ir?

    O QUE NOS DIZ A NORMA PADRO comum observamos o uso de onde com verbos

    de movimento. Normativamente, o emprego da palavra onde est vinculado a uma ocorrncia verbal esttica e referncia de lugar. Em se tratando dos verbos que expressam movimento, a norma recomenda o uso da palavra aonde, como o caso do verbo ir.

    LINGUAGEM FALADA Estou quites com a FaculdadeLINGUAGEM ESCRITA Estou quite com a Faculdade

    O QUE NOS DIZ A NORMA PADROSempre ouvimos a palavra quite empregada

    indiferentemente no singular e/ou no plural sem se levar em conta a sua flexo. Funciona morfologicamente como um pronome indefinido adjetivo que concorda em nmero com o verbo a que se refere.

    LINGUAGEM FALADA Traga o livro para mim lerLINGUAGEM ESCRITA Traga o livro para eu ler

    O QUE NOS DIZ A NORMA PADRO Exemplo tpico do portugus falado: o uso do pronome

    tnico mim antes de verbo no infinitivo impessoal. Sintaticamente, o pronome em foco no ocupa funo de sujeito. Recomendamos a sua substituio pelo pronome pessoal referente a primeira pessoa do singular eu.

    LINGUAGEM FALADA Ela se deparou com o namoradoLINGUAGEM ESCRITA Ela deparou com o namorado

    O QUE NOS DIZ A NORMA PADROTornou-se comum tanto na oralidade quanto na escrita,

    o uso do verbo deparar como pronominal. Segundo a norma padro, o verbo em destaque no pronominal, dispensando, pois, o uso do pronome tono se.

    LINGUAGEM FALADA Meu culos est aquiLINGUAGEM ESCRITA Meus culos esto aqui

    O QUE NOS DIZ A NORMA PADROOs falantes/ouvintes cometem, s vezes, equvocos

    quanto ao emprego de palavras que s se usam no plural, como frias, npcias etc. e seus termos concordantes. Neste exemplo, observe, caro leitor, que a palavra culos exige pluralizao dos termos que se referem a ela.

    LINGUAGEM FALADA Eu me acordei tardeLINGUAGEM ESCRITA Eu acordei tarde

    O QUE NOS DIZ A NORMA PADROQuem se acorda, caro leitor, no consegue. Vai

    continuar dormindo, pelo menos sob a tica da viso normativa. O verbo acordar no pronominal. Eis mais um desvio da norma padro.

    ***

    LINGUAGEM FALADAA remoo do professor implica em substituioLINGUAGEM ESCRITAA remoo do professor implica substituio

    O QUE NOS DIZ A NORMA PADROMais um enunciado com ocorrncia verbal (implica)

    que causa dvida aos falantes/produtores de textos orais e/ou escritos. Muito comum em textos oficiais. No exemplo em foco, o verbo em destaque deve ser empregado de forma transitiva direta, sem o uso da preposio em.

    Lenaldo da Silva doutor em Educao UNEB/BA. Mestre em Letras Lngua/Lingustica PUC/MG. Docente do DLEV/UFS. Docente de cursos de Ps-Graduao da Faculdade Amadeus/SE e da Faculdade So Luis de Frana/SE.Docente orientador do Projeto de Pesquisa/Interveno O Ensino de Lngua Portuguesa na Perspectiva do Discurso Formao Continuada em Exerccio SEED/DRE8/SE. Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Ensino e Aprendizagem da Leitura e da Escrita GEALE/UEFS/BA. Assessor Tcnico-Pedaggico da Secretaria Municipal de Educao / Prefeitura de Cristinaplis/SE.

    Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA | 25

  • >> por Luciano Melo

    % CAPA $

    26 | Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA

  • No ms de junho de 2013, os protestos iniciados nas ruas da capital paulista pelo MPL (Movimento Passe Livre), exigindo a reduo das tarifas no transporte pblico metropolitano, alcanaram propores inimaginveis e histricas para a sociedade deste pas. Viram-se, no rastro das passeatas que dominaram as ruas, as redes sociais e os noticirios brasileiros, manifestaes populares voltadas a um imenso catlogo de reinvindicaes, como vigilncia nos investimentos das obras faranicas e superfaturadas para a Copa do Mundo de 2014, projetos e medidas provisrias oportunistas ou, no mnimo, polmicas, alm de maiores e melhores investimentos em reas essenciais a qualquer nao, como educao e sade, alm da salutar transparncia poltica para o dinamismo do pleno exerccio da democracia.

    Entretanto, se no h dvidas dos cruciais abalos polticos provocados pela srie de protestos espalhados em todo o pas, no foi esse o tom, de maneira geral, na cobertura e repercusso efetuada

    pelos rgos de imprensa na origem dos protestos. Como recorte de anlise, a fim de exemplificao e exame etimolgico do texto, reportemo-nos a editoriais paulistas de dois dos mais renomados peridicos do pas, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, extrados em 13 de junho de 2013, incio das manifestaes ainda sob o clamor contra o aumento nas tarifas do transporte paulistano:

    CHEGOU A HORA DO BASTA

    No terceiro dia de protesto contra o aumento da tarifa dos transportes coletivos, os baderneiros que o promovem ultrapassaram, ontem, todos os limites e, daqui para a frente, ou as autoridades determinam que a polcia aja com maior rigor do que vem fazendo ou a capital paulista ficar entregue desordem, o que inaceitvel. Durante seis horas, numa movimentao que comeou na Avenida Paulista, passou pelo centro - em especial pela Praa da S e o Parque Dom Pedro - e a ela voltou, os manifestantes interromperam a circulao, paralisaram vasta rea da cidade e aterrorizaram a populao.

    O vandalismo, que tem sido a marca do protesto organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL), uma mistura de grupos radicais os mais diversos, s tem feito aumentar. [...]

    Em suma, foi mais um dia de co, pior do que os outros, no qual a violncia dos manifestantes assustou e prejudicou diretamente centenas de milhares de paulistanos que trabalham na Paulista e no centro e deixou apreensivos milhes de outros que assistiram pela televiso s cenas de depredao.[...]

    A atitude excessivamente moderada do governador j cansava a populao. No importa se ele estava convencido de que a moderao era a atitude mais adequada, ou se, por clculo poltico, evitou parecer truculento. O fato que a populao quer o fim da baderna - e isso depende do rigor das autoridades. [O Estado de S. Paulo, So Paulo, 13 jun. 2013. Notas & Informaes, p.3] (grifos nossos)

    MEM RIAOs Tumultos de 1968

    H 45 anos, o mundo foi sacudido por tumultos que comearam com a revolta

    dos estudantes de Paris, em maio, contra a conjuntura

    poltica que contaminou tanto pases do bloco sovitico,

    como Tchecoslovquia, como os EUA e vrios outros pases das Amricas, Europa

    e sia. No Brasil no foi diferente, e a revolta que

    teve incio com o movimento estudantil confrontando a governo militar culminou

    com o fechamento do Congresso Nacional em

    dezembro daquele ano, configurando de vez o

    regime ditatorial brasileiro.

    RIGEMO Termo Vandalismo

    O nome deriva do povo vndalo, um dos povos

    brbaros invasores, no tempo do Imprio Romano. O termo

    vandalismo como sinnimo de esprito de destruio foi cunhado no final do sculo

    XVIII, em janeiro de 1794, por Henri Grgoire, bispo

    constitucional de Blois; ele o tornou comum por meio

    de uma srie de relatrios, denunciando a destruio

    de artefatos culturais, como monumentos, pinturas e

    livros que estavam sendo destrudos como smbolo de um dio ao passado,

    durante o Reino do Terror (desdobramento da Revoluo

    Francesa). Em seu livro Memoirs, registrou: Inventei a palavra para abolir o ato.

    Historicamente, o vandalismo foi definido pelo pintor Gustave Courbet como a

    destruio de monumentos que simbolizam guerra e

    conquista. Por isso, muitas vezes feito como uma expresso de desprezo,

    criatividade, ou ambos. A tentativa de Coubert, durante

    a Comuna de Paris em 1871, para desmantelar a coluna no

    Place Vendme, por ser um smbolo do passado Imprio autoritrio de Napoleo III,

    foi um dos eventos mais clebres de vandalismo.

    (fonte: Wikipdia)

    Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA | 27

  • RETOMAR A PAULISTAOito policiais militares e um nmero

    desconhecido de manifestantes feridos, 87 nibus danificados, R$ 100 mil de prejuzos em estaes de metr e milhes de paulistanos refns do trnsito. Eis o saldo do terceiro protesto do Movimento Passe Livre (MPL), que se vangloria de parar So Paulo --e chega perto demais de consegui-lo.

    Sua reivindicao de reverter o aumento da tarifa de nibus e metr de R$ 3 para R$ 3,20 --abaixo da inflao, til assinalar-- no passa de pretexto, e dos mais vis. So jovens predispostos violncia por uma ideologia pseudorrevolucionria, que buscam tirar proveito da compreensvel irritao geral com o preo pago para viajar em nibus e trens superlotados.

    Pior que isso, s o declarado objetivo central do grupelho: transporte pblico de graa. O irrealismo da bandeira j trai a inteno oculta de vandalizar equipamentos pblicos e o que se toma por smbolos do poder capitalista. [...]

    Os poucos manifestantes que parecem ter algo na cabea alm de capuzes justificam a violncia como reao suposta brutalidade da polcia, que acusam de reprimir o direito constitucional de manifestao. [...]

    No que toca ao vandalismo, s h um meio de combat-lo: a fora da lei. Cumpre investigar, identificar e processar os responsveis. Como em toda forma de criminalidade, aqui tambm a impunidade o maior incentivo reincidncia. [Folha de S. Paulo, So Paulo, 13 jun. 2013. Opinio, p.2] (grifos nossos)

    Como se observa nos excertos expostos, de acordo com os editoriais a criminalizao dos atos pblicos est relacionada s causas de delinquncia civil por parte de membros dos grupos radicais, como depredao patrimonial, interrupo de vias pblicas ou confrontos com policiais militares, representantes da fora da lei. Nota-se que, indistintos, os veculos O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo autenticam o aparelhamento militar do Estado contra a disseminao das revoltas populares ao aumento das tarifas mote das manifestaes at ento. Em si, de acordo com os peridicos aqui discutidos, a arquitetura blica em defesa da paz e da ordem sociais encontra ressonncia nos elementos mais

    caros absoluta convivncia social: a soberania popular e o controle da lei. Em Chegou a hora do basta, de encontro crescente mobilizao de manifestantes nas ruas, arremata-se que o fato que a populao quer o fim da baderna - e isso depende do rigor das autoridades., mesmo que a prpria editoria de O Estado de S. Paulo principie a polmica constatando trs dias consecutivos de revoltas, ou seja, muito distantes de tentativas de passeatas espordicas e isoladas. Por outro lado, a Folha de S. Paulo, em Retomar a Paulista, legitima as operaes policiais em prol da vigilncia e do controle de atos pblicos, pois como em toda forma de criminalidade, aqui tambm a impunidade o maior incentivo reincidncia. Paradoxalmente, aps endossar a represso policiesca diante dos protestos, na mesma noite de 13 de junho, a jornalista Giuliana Vallone, da TV Folha, foi atingida no por uma bala de borracha no exerccio de sua profisso, assim como o reprter fotogrfico Srgio Silva, atingido no olho esquerdo e ainda na iminncia de perda da viso. Da mesma forma, ocorreram outros episdios envolvendo profissionais de imprensa na cobertura das manifestaes, como materiais confiscados e reprimenda por meio de gs lacrimogneo e cassetetes.

    Traando um paralelo lingustico com o teor do debate jornalstico em anlise, Michel Foucault (1926-1984) defendia que em qualquer sociedade [...] a produo do discurso ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuda por certo nmero de procedimentos que tm por funo conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatrio, esquivar sua pesada e temvel materialidade. (2006, p.8-9). Assim, se partimos da premissa de que o movimento popular tem uma pauta, ou seja, o aumento da tarifa dos transportes pblicos coletivos, no se trata de um mero grupelho (Folha) composto por baderneiros (O Estado) de ideologia pseudorrevolucionria (Folha) arruaando o centro da cidade. Em simultaneidade, segundo Foucault, estes editoriais operam controle, seleo, organizao e

    % CAPA $

    Livros Sobre as RevoluesAlgumas obras que devem ser conhecidas para saber como brotam e se propagam as revolues: Clssicos Sobre a Revoluo Brasileira, de Caio Prado Jr. e Florestan Fernandes; Textos Revolucionrios, de Che Guevara; Tiradentes e a Conspirao de Minas Gerais, de Cristina Leminski; Mudanas Sociais no Brasil, de Florestan Fernandes; Da Revoluo, de Hanna Arendt; A Desobedincia Civil, de Henry David Thoreau; Conversas Que Tive Comigo, de Nelson Mandela; O Choque das Civilizaes, de Samuel P. Huntington; Os Sertes, de Euclides da Cunha.

    SAIBA +

    RETRATMichel FoucaultConhecido pelas suas crticas s instituies sociais, especialmente psiquiatria, medicina, s prises, e por suas ideias sobre a evoluo da histria da sexualidade, Michel Foucault (1926-1984) foi um importante filsofo e professor da ctedra de Histria dos Sistemas de Pensamento, no Collge de France, desde 1970 a 1984. Todo o seu trabalho foi desenvolvido em uma arqueologia do saber filosfico, da experincia literria e da anlise do discurso; Foulcault foi frequentemente associado com o movimento estruturalista, especialmente nos primeiros anos aps a publicao de sua obra As Palavras e as Coisas.

    28 | Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA

  • redistribuio dos pressupostos discursivos acordados com o desgnio de parcialidade dos veculos, isto , a execrao das manifestaes sob a chancela da opinio popular e do regulamento da lei. Partindo da premissa de que o discurso destes editoriais do Estado de So Paulo e da Folha de So Paulo ressalta o delito dos protestos, numa suposta cumplicidade com o anseio pblico de manuteno da ordem social, sem dvida a operacionalidade discursiva apontada pelo filsofo francs encontrar ressonncia, pelos veculos de imprensa em questo, na preferncia de terminologias que autentiquem a ferocidade dos atos pblicos, execrando-os efusivamente perante o leitor.

    Um exemplo desta intencionalidade o uso das expresses vandalismo e vandalizar, alcunhadas de vndalo. Segundo a definio do Houaiss, esta nomenclatura descende da tribo dos vndalos, oriunda dos povos brbaros da Germnia e caracterizada por saques e depredaes pblicas, razo possvel da associao com o termo germnico wandeln (vagar ou mudana), chegando posteriormente ao latino vandalus. Durante o sculo V, o grupo assolou o sul europeu, invadindo Glia, a Hispnia, o norte africano, instituindo o Reino do Norte da frica, e boa parte das ilhas do Mediterrneo. Estas ocupaes favoreceram o ataque a Roma, em 455, pulverizando a cidade com destruies patrimoniais, incluindo obras irreparveis humanidade, como conjuntos arquitetnicos e esculturas.

    Assim, retornando ao teor das manifestaes, o editorial de O Estado de S. Paulo, ao utilizar a expresso vandalismo como marca do protesto organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL), baliza o seu prprio discurso sobre a ocupao das ruas, amortizando as reinvindicaes populares acerca do aumento das tarifas no transporte pblico paulistano. Tambm em processo semelhante, a Folha de S. Paulo utiliza a derivao sufixal em vandalizar - vndalo + [-izar] - para advertir o aspecto violento e destrutivo dos

    protestos. Extrado do wandeln germnico, esta sufixao ainda recupera o significado de vaguear pelas ruas em selvageria, atribuindo s passeatas, identificadas como aes praticadas por vndalos, a mesma alcunha pejorativa infligida tribo germnica.

    J no editorial de O Estado de S. Paulo, outro exemplo similar de intencionalidade discursiva est na utilizao de baderna e, em consequncia, baderneiros como snteses dos atos e dos promotores destas manifestaes. Curiosamente, a expresso baderna com similaridade a aes de desordem, arruaa, tumulto e aglomerao de bandos ou grupelhos (Folha) que aterrorizaram a populao (O Estado) , neste sentido, restrita ao portugus utilizado no Brasil. De acordo com o jornalista Mrcio Bueno, a etimologia do vocbulo atribuda bailarina italiana Marietta Baderna, que, junto com o pai, em 1849, refugiou-se no Rio de Janeiro, numa espcie de autoexlio poltico aps a chamada Primavera dos Povos, movimentos nacionalistas europeus ocorridos em 1848. O sucesso da artista foi avassalador. Integrando a dana clssica com temas afro-brasileiros, alm de seu engajamento em prol da classe artstica diante da ganncia dos proprietrios de casas de teatro, Baderna tornou-se um smbolo de rebeldia e transgresso para a sociedade carioca. Seus admiradores, formados por artistas e jovens identificados com o frenesi social provocado por Baderna, boicotavam ou interrompiam apresentaes, alarmando o conservadorismo da poca.

    Por isso, no instante que Estado de S. Paulo defende que a populao quer o fim da baderna e isso depende do rigor das autoridades, instaura-se a lgica de que quem promove a baderna, espera-se a rigidez da punio, expediente igualmente adotado pela Folha de So Paulo ao sentenciar a fora da lei no combate ao vandalismo. Como vimos, entre vndalos e baderneiros, a etimologia tenta compreender as razes de conceituaes sociais a partir de escolhas semnticas para determinadas expresses. Ao longo da histria, porm, h de se atestar se foram adequadas ou no.

    Jos Luciano de Melo Mestre em Estudos Comparados de Literaturas de Lngua Portuguesa (USP) e professor de Lngua Portuguesa no Centro Paula Souza e na rede estadual de So Paulo.

    Primavera dos Povos nome que foi dado a uma srie de movimentos revolucionrios, de cunho liberal, que ocorreram por toda a Europa durante o ano de 1848. Com a Revoluo Francesa de 1789, os ideais libertrios espalharam-se por toda a Europa, assustando as monarquias absolutistas. Nesse cenrio que se instituiu o Congresso de Viena, em 1815, que buscava uma restaurao da antiga ordem vigente (pr-1789). As sementes dos movimentos revolucionrios de 1848 foram plantadas em 1830, com a subida ao trono do rei Luis Filipe, denominado rei burgus, na Frana; a insatisfao popular contra Luis Filipe foi agravada por uma crise econmica, iniciada em 1845, no setor agrcola e industrial, que preparou o ambiente para o incio das revoltas, em 1848.

    O Desenvolvimento da Primavera dos Povos na EuropaNa Itlia havia o projeto central de unificao do pas, que ocorreria somente em 1861, que eclipsou as preocupaes scio-econmicas. A ordem foi reestabelecida pela Frana e ustria que dominavam as diversas regies do territrio italiano poca; na Hungria ocorreram rebelies no incio do ano, e o governo que surgiu das eleies fez do pas um territrio livre do jugo austraco, mas a ustria invadiu o pas, o governo eleito demitiu-se e a represso foi durssima, sufocando as revoltas; na ustria, setores da aristocracia se rebelaram contra a monarquia, surgindo as revoltas, provocando o afastamento do imperador, que abdicou em novembro de 1848 a situao foi revertida em 1852, com a restaurao do regime. J na Alemanha tambm havia a questo da reunificao. Em plena fase de industrializao, as revoltas operrias e camponesas proliferam-se. A situao terminou com poucos progressos em relao realidade anterior. Na Frana, o rei Lus Filipe abdicou em 1848. A repblica foi proclamada, porm, a instabilidade continuou at 1851, quando Napoleo Bonaparte proclamou o Segundo Imprio Francs.

    SAIBA +

    Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA | 29

  • Pub30 | Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA

  • PubConhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA | 31

  • No caminho de

    SoRomero

    O JORNALISMO ATUAL NO CONSEGUE DEIXAR DE CONSIDERAR O BRASILEIRO UM IMITADOR INGNUO DAS CAUSAS SOCIAIS ALHEIAS CUJO MODELO, VINDO SOBRETUDO DO CAPITALISMO INTERNACIONAL AVANADO, AINDA FASCINA OS JOVENS E A INTELECTUALIDADE NACIONAL, EM UM MODO DE VER O PAS QUE ENCONTRA PARALELO NA NOSSA CRTICA LITERRIA, DO SCULO XIX AO PRESENTE

    >> por Roberto Sarmento Lima

    % SOCIEDADE $

    32 | Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA

  • Gosto de ler editoriais de jornais e revistas informativas. So-me muito teis para julgar o grau de avano das ideias no pas. E quase sempre tiro dessa leitura uma lio de como anda tambm o desenvolvimento da agenda cultural brasileira, ainda que tais editoriais nem sempre privilegiem ou toquem essa rea mas relaciono, quase instintivamente, histria da nossa literatura e crtica que se faz na atualidade. Que relao essa? Que relao pode haver entre um editorial que no fale de arte ou de objetos literrios e estes prprios celebrados em outro campo discursivo? No h muita diferena, garanto. H um compasso entre o que acontece nos domnios da poltica e da sociedade e o que diz a crtica, com sutil ar de famlia entre ambos; e, a meu ver, tal enlace no forado. So pontos de vista praticamente complementares.

    Para isso, tomo um editorial recente da revista Veja, de 19 de junho de 2013, onde se faz uma anlise ligeira a respeito dos movimentos populares traduzidos em gritaria, passeatas e ataque de vndalos a prdios, carros, lojas, com saques e roubos de toda sorte, tudo misturado, indistintamente nas ruas de capitais e cidades interioranas do Brasil. Situao surpreendente que se deu na hora exata em que se abriram os trabalhos da Copa das Confederaes. O povo reclamava justia social, exigindo o combate sem trgua corrupo e o compromisso do governo para com as causas sociais tornadas deficitrias por secular desprezo das elites a reas sensveis, como a educao e

    Copa das ConfederaesA Copa das Confederaes um

    torneio de futebol organizado pela Federao Internacional

    de Futebol (FIFA) entre selees nacionais a cada quatro anos (a

    partir de 2005, anteriormente a cada dois anos), desde 1992.

    Os participantes so os seis campees continentais mais

    o pas-sede e o campeo mundial, perfazendo um total

    de oito pases. escolhida uma nica seleo para cada

    continente, excetuando a Amrica, pois ela classifica duas

    selees: a seleo campe da Copa Ouro, cujo torneio

    disputado entre a Amrica do Norte, Amrica Central e Caribe,

    e a Copa Amrica, disputada pelos pases que compem

    a Amrica do Sul. Em 2001, o torneio foi sediado pela Coreia

    do Sul e Japo, como uma prvia para a Copa do Mundo de 2002. A partir de 2005 este precedente foi repetido antes de todas as Copas do Mundo.

    CIT UQuem San Romero

    scar Arnulfo Romero y Galdmez (1917-1980) foi bispo da Igreja

    Catlica em El Salvador e quarto arcebispo de San Salvador, que

    veio a morrer assassinado em 24 de maro de 1980, vtima

    da guerra civil que tomou conta do pas, depois que uma junta militar revolucionria se

    estabeleceu em 1979, e perseguiu religiosos contrrios ao regime

    ditatorial. Em 1997, foi proposta a beatificao de Romero, que

    foi aceita posteriormente; o processo de canonizao ainda

    est em andamento. Romero considerado o patrono no oficial das Amricas, e em El

    Salvador ele referido sempre como santo, pelos catlicos.

    um dos dez mrtires do sculo XX que foram retratados em

    esttuas que esto no portal de entrada da abadia (anglicana)

    de Westminster, em Londres, um testemunho de que ele adquiriu

    grande respeito que vai alm dos limites do catolicismo.

    POR DENTR

    Conhecimento Prtico | LNGUA PORTUGUESA | 33

  • a sade. Nada de novo; a lengalenga antiga; mas o que foi e est sendo novo foi a disposio do brasileiro em boa parte sado dos quadros da chamada classe mdia para uma manifestao, ora organizada, ora espontnea, feita com muito barulho e estardalhao, quase ininterruptamente por semanas, como se ningum mais tivesse de estudar ou trabalhar, pondo em risco a ordem pblica e a manuteno do cotidiano mais simples. O movimento salutar? sim, sem dvida, e chegou tarde, como quase tudo por estes lados do planeta, apesar da internet e da tecnologia que faz com que acompanhemos as coisas em tempo real.

    Veja, como uma publicao antenada com a realidade nacional e sempre muito ciosa de expor e marcar sua posio (embora aqui e ali afirme ser imparcial diante dos fatos), no iria perder a oportunidade de dizer como encara o problema.

    ELES NO SABEM O QUE FAZEMAntes de qualquer coisa, transcrevo, aqui, o

    editorial de que quero me ocupar. O ttulo do texto, muito significativo, como depois veremos, Eles querem dizer alguma coisa (e a revista idem, e como diz!). Vale a pena conferi-lo na ntegra e degustar seu bom portugus:

    Uma reportagem especial desta edio se dispe a explicar o que querem os jovens brasileiros que esto vandalizando as ruas a pretexto de lutar contra o aumento de 20 centavos nas passagens urbanas. Eles querem protestar. So donos de uma

    indignao difusa contra o sistema e pregam que um outro mundo possvel. Nisso so iguais aos jovens americanos que em 2011 protagonizaram uma furiosa mas meterica revolta urbana contra o capital financeiro (Ocupe Wall Street). Eles se parecem com os estudantes ingleses que, tambm h dois anos, barricaram o centro de Londres em protesto contra a cobrana de algumas taxas nas universidades, que at 1997 eram inteiramente gratuitas.

    Eles tm em comum principalmente o fato de pertencer s classes mdias e ricas de seus respectivos pases. Uma pesquisa mostrou que a renda mdia anual dos participantes do movimento contra Wall Street era de mais de 80.000 dlares. O smbolo mximo dos militantes pela universidade gratuita de Londres foi Charles Gilmour, filho do milionrio guitarrista da lendria banda de rock Pink Floyd e, claro, com dinheiro familiar bastante para custear as mais caras universidades do planeta. Os reprteres de Veja entrevistaram dezenas de jovens nas ruas de So Paulo e do Rio de Janeiro que, candidamente, confessaram nunca andar de nibus, mas protestavam assim mesmo em nome de suas empregadas domsticas. Fosse esse mesmo o caso, seria mais eficiente pedir aos pais um aumento de salrio para elas.

    Uma lio valiosa, porm, a de que esses surtos de indignao da juventude sempre guardam uma razo real escondida atrs dos cartazes com dizeres desconexos e pala