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    161 out./dez. 2008

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    Entrevista Artigos

    20A interface dacriminalidade noturismo em Salvador

    Joo Apolinrio da Silva

    40Uma anlise estatsticados indicadores decriminalidade emSalvador

    Jair Sampaio,

    Alosio Machado da SilvaFilho, Rogrio Quintella,Gilney Figueira Zebende

    30Terceirizao deestabelecimentos penaisna Bahia: algumasevidncias empricas

    Sandro Cabral

    50Copa do Mundo defutebol em Salvador:uma oportunidade dedesenvolvimento urbanoe regional

    Celia Regina SganzerlaSantana, Thiago Reis Ges

    Sumrio

    ExpedienteGOVERNO DO ESTADO DA BAHIAJAQUES WAGNER

    SECRETARIA DO PLANEJAMENTORONALD DE ARANTES LOBATO

    SUPERINTENDNCIA DE ESTUDOSECONMICOS E SOCIAIS DA BAHIAJOS GERALDO DOS REIS SANTOS

    CONSELHO EDITORIALAntnio Plnio Pires de Moura, Celeste MariaPhiligret Baptista, Edmundo S BarretoFigueira, Jair Sampaio Soares Junior, JosRibeiro Soares Guimares, Laumar Neves deSouza, Marcus Verhine, Roberto Fortuna Carneiro

    DIRETORIA DE INDICADORES EESTATSTICASEdmundo S Barreto Figueira

    COORDENAO GERALLuiz Mrio Ribeiro Vieira

    COORDENAO EDITORIALElissandra Alves de Britto,Joo Paulo Caetano Santos

    EQUIPE TCNICACarla Janira Souza do Nascimento, JoseanieAquino Mendona, Patrcia Cerqueira,Rosangela Ferreira Conceio

    REVISO DE LINGUAGEMLus Fernando Sarno

    COORDENAO DE DOCUMENTAO EBIBLIOTECA COBIAna Paula Sampaio

    NORMALIZAORaimundo Pereira Santos

    COORDENAO DE DISSEMINAO DEINFORMAES CODINMrcia Santos

    EDITORIA DE ARTE E DE ESTILOElisabete Cristina Teixeira Barretto

    PRODUO EXECUTIVAMariana Oliveira

    DESIGN GRFICO/EDITORAO/ILUSTRAESNando Cordeiro

    FOTOSAgecom, Mariana Gusmo, Stock XCHNG, Zena Tomio

    IMPRESSOEGBA

    TIRAGEM

    1.000

    Carta do editor

    5

    6A crise financeirainternacional eos impactos naseconomias brasileira ebaiana

    Carla do Nascimento,Joo Paulo C. Santos

    Economia emdestaque

    17Segurana pblica no s polcia

    Csar Nunes

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    Av. Luiz Viana Filho, 435 4 Avenida 2 and. CABCep: 41.745-002 Salvador Bahia

    Tel.: (71) 3115 4822 Fax: (71) 3116 1781www.sei.ba.gov.br [email protected]

    Conjuntura & Planejamento / Superintendncia de EstudosEconmicos e Sociais da Bahia. n. 1 (jun. 1994 ) -. Salvador:

    SEI, 1994 - .

    TrimestralContinuao de: Sntese Executiva. Periodicidade: Mensal at

    o nmero 154.

    ISSN 1413-1536

    1.Planejamento econmico - Bahia. I. Superintendnciade Estudos Econmicos e Sociais da Bahia.

    CDU 338(813.8)

    Ponto de vista

    92Pas precisa de umaestratgia contra a crise

    Clemente Ganz Lcio

    Sessoespecial

    76PNAD 2007:principaiscaractersticassocioeconmicas daBahia

    Equipes da Copes eCopesp

    IndicadoresConjunturais

    Investimentosna Bahia

    94Investimentosindustriais previstos paraa Bahia devero gerar,at 2012, um volume deaproximadamente R$

    20,7 bilhes

    Livros

    98

    ConjunturaEconmicaBaiana

    100

    111Indicadores econmicos

    117Indicadores sociais

    127Finanas pblicas

    60A crise americana eas dvidas sobre avalidade metodolgicado hard coreda teoriaeconmica

    Thiago Reis Ges,Urandi Roberto PaivaFreitas

    68Economia baiana registracrescimento no terceirotrimestre de 2008 edever encerrar o anocom expanso de 4,8%

    no PIBDenis Veloso da Silva,Gustavo Casseb Pessoti

    Colaboraram com este nmero as jornalistas AnaPaula Porto e Luzia Luna

    Os artigos publicados so de inteira respon-sabilidade de seus autores. As opinies nelesemitidas no exprimem, necessariamente, oponto de vista da Superintendncia de EstudosEconmicos e Sociais da Bahia (SEI). permi-tida a reproduo total ou parcial dos textosdesta revista, desde que seja citada a fonte.Esta publicao est ind exada no UlrichsInternational Periodicals Directory e no Qualis.

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    Carta do editorA atual crise econmica mundial provoca mudana de comportamento de instituies

    financeiras, de empresas, governos e dos consumidores. Essa mudana se d no sentidode buscar no apenas a eficincia de mercado e de governo, como tambm a racionaliza-o, em seu sentido mais estrito, de todos os entes envolvidos no ambiente econmico. Taltransformao pode ser expressa nas seguintes situaes: maior fiscalizao dos governosem relao aos mercados financeiros, impondo regras que visem a transparncia dasoperaes realizadas pelos mesmos; quanto aos mercados financeiros, agirem de formaordenada, buscando no apenas maximizar os seus lucros, mas tambm minimizar osriscos de suas operaes, de forma a garantir no apenas a rentabilidade desejvel, mas apossvel. Quanto s empresas, a crise impe a soluo da seguinte situao: o financiamentode suas atividades no mercado de aes. Nessa perspectiva, as empresas sucumbiram extrema volatilidade no valor das suas aes, ora supervalorizados em momentos de

    expanso econmica , ora superdesvalorizados em momentos de incerteza e retraoeconmica , implicando, em ambos os casos, no no valor real das empresas, massomente nas previses especulativas.

    Finalmente, para os consumidores a crise chegou para rasgar o cheque em branco queestava em seu poder. O perodo recente de crescimento da economia mundial dissemi-nou entre os consumidores a prtica dos grandes e infindveis financiamentos de suasdespesas. Via sistema financeiro, os gastos eram financiados e refinanciados e assimpor diante, gerando uma espiral crescente que envolvia o crdito e o consumo, onde umdependia do outro.

    A conjuno dessas quatro situaes produziu uma soma de dinheiro altamente fictcio einimaginvel aos olhos do mais liberal dos economistas, algo em torno de US$ 500 trilhes.Para se ter uma idia do quo fictcio esse valor, sabe-se que a soma de todas as rique-zas produzidas no mundo no alcana sequer 10% de tudo isso. Ou seja, a espiral geradapela atuao dessas quatro foras gerou um gigantesco elefante branco descontroladoe faminto que agora assombra toda a humanidade, ameaando ruir e levar consigo todaa estrutura econmica atualmente vigente.

    Os eventos futuros diro se o elefante branco da economia vai ser saciado a partir dasaes dos governantes ou se ele vai tombar. Em qualquer das hipteses, a crise financeira

    de 2008 ser contada nos manuais de economia como um dos grandes momentos vividospela economia capitalista.

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    ECONOMIAEM DESTAQUE

    A crise financeira

    internacionale osimpactos nas economiasbrasileira e baiana1

    Carla do Nascimento*

    Joo Paulo C. Santos**

    PANORAMA DA CRISE MUNDIAL

    O agravamento da crise econmica nos Estados Unidos da Amrica no segundo

    semestre de 2008 imps economia brasileira, em que antes se visualizava umaestabilidade progressiva nos resultados dos seus indicadores, a convivnciacom a incerteza do ambiente econmico no curto e mdio prazos.

    A atual crise teve incio com a inadimplncia nas hipotecas do mercadoimobilirio americano, derivando posteriormente para uma crise financeiraque atingiu os principais bancos americanos e, conseqentemente, todo omercado financeiro mundial. A crise do mercado imobilirio americano, quese iniciou no segundo semestre de 2007, entrou em seu momento mais crticonos meses de agosto e setembro de 2008, com a falncia de grandes institui-es financeiras americanas, as quais foram compradas ou se fundiram com

    outras instituies. A turbulncia do sistema financeiro americano transferiua crise, que se iniciara com os ttulos podres no mercado imobilirio, para oconjunto da economia real. O primeiro sintoma dessa transmisso foi observadocom as quedas recordes nas bolsas de valores americanas e posteriormente

    1 Os autores agradecem os comentrios e sugestes de Jorge Tadeu Caff

    * Economista e tcnica da SEI. [email protected]

    **Economista e tcnico da SEI. [email protected]

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    ECONOMIAEM DESTAQUECarla do Nascimento, Joo Paulo C. Santos

    em todas as bolsas mundiais. Finalmente, a queda nademanda e a dificuldade de se obter crdito por partede algumas empresas americanas, sobretudo aquelasdo setor automobilstico, determinaram a contaminaoda economia real.

    Os principais fatores que conduziram a essa crise foram:mercados financeiros globalizados e a excessiva alavanca-gem, tanto de instituies financeiras quanto das famlias.O elevado grau de alavancagem deveu-se principalmente ausncia de regulamentao e falta de fiscalizao dos

    bancos de investimentos pelas autoridades monetrias,provocando o alto grau de endividamento na economiaamericana. Em meio a esse quadro, as autoridades

    americanas, europias e de outras economias avanadasimplementaram um conjunto de medidas tendo comoobjetivo salvaguardar as instituies financeiras queestavam envolvidas diretamente com a crise.

    Em outubro, o Congresso americano aprovou um pacotede ajuda ao sistema financeiro no valor de US$ 700bilhes, objetivando frear os efeitos da crise sobre aeconomia real.

    No entanto, tornaram-se evidentes os indicadores pouco

    significativos em relao economia americana, como,por exemplo, aumento do desemprego, queda no con-sumo, queda na produo industrial como no caso do

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    A crise financeira internacional e os impactos nas economias brasileira e baianaECONOMIAEM DESTAQUE

    setor de automveis e mais recentemente, deflao.O mesmo ocorreu em relao s principais economiasmundiais Gr-Bretanha, Alemanha, Japo, Zona do Euro, as quais passaram a declarar oficialmente processo

    de retrao significativa nas taxas de crescimento.

    O BRASIL E A CRISE MUNDIAL

    Apesar de muito se dizer, com otimismo, que a crisemundial no traria impactos sobre a economia brasileira,haja vista a trajetria de bons indicadores apresentadosao longo do ano, a verdade que pouco a pouco os sin-tomas da crise esto sendo constatados, principalmenteem relao s empresas que esto inseridas no contexto

    do comrcio internacional, para as quais as linhas decrdito se reduziram, contraindo assim a disponibilidadede recursos para financiar as atividades de exportao.Na verdade, o prprio processo de retrao da atividadeeconmica, caracterizado por ausncia de crdito eendividamento de empresas e famlias nas economiasavanadas, determina em grande medida a reduo doconsumo e da demanda por bens e servios produzidosglobalmente, afetando os preos das commodities. Almdisso, as sucessivas desvalorizaes da bolsa de valores

    e do real em relao ao dlar denotam que o Brasil noest imune aos efeitos da crise.

    No mbito das atividades da economia produtiva, asprincipais conseqncias para o ambiente nacional evi-denciadas recentemente referem-se ao crdito, que temficado escasso e mais caro por conta da instabilidademacroeconmica e a da incerteza quanto ao futuro daeconomia. Com relao a esse aspecto, as grandes empre-sas, que buscam o crdito para manter principalmente ocapital de giro, tm recorrido s instituies financeiras

    do governo federal para obter emprstimos, uma vezque o crdito externo est restringido para as empresasnacionais. Muitas vezes, o acordo com as instituiesfinanceiras nacionais age no sentido destas ltimas atua-rem como avalistas para que o crdito seja concedido porinstituies internacionais. No caso do crdito corporativoobserva-se, ademais, uma clara contrao acompanhadade desacelerao dos novos emprstimos s famlias.Esses aspectos mostram claramente a crise de confianaentre os agentes econmicos para o prximo ano.

    A incerteza quanto aos rumos da economia fez com queas autoridades econmicas, no Brasil, definissem medi-das de carter monetrio, tendo como objetivo aumentara liquidez e evitar o aperto no crdito, impedindo que

    a ausncia deste afetasse principalmente instituiesfinanceiras de pequeno porte e o mercado real.

    Entre as medidas postas em prtica pelo Governo, aps oagravamento da crise, tem-se: reduo dos compulsrios;venda de divisas no mercado vista e de proteo contraa variao cambial; alimentao das linhas de crdito aocomrcio exterior com reservas internacionais; garantiade volume de crdito para vrias atividades por meio dosbancos pblicos (CARNEIRO, 2008).

    Diante desse breve retrospecto, pode-se constatar queos desdobramentos da crise americana podem ser muitomais extensos do que em outros momentos recentes,uma vez que os problemas se originaram nas economiascentrais, as quais respondem por quase metade detudo que produzido no mundo e mais da metade dastransaes comerciais que ocorrem no planeta. Dessaforma, a retrao na atividade nessas economias implicanuma menor disponibilidade de produo e circulao demercadorias, fatores esses que desencadeiam problemas

    em todas as outras economias do mundo.

    Dentro desse contexto, o presente ar tigo expe algunsaspectos da crise mundial e seus provveis desdo-bramentos sobre as economias brasileira e baianano curto prazo.

    PRINCIPAIS EVENTOS DESENCADEADOSNA ECONOMIA BRASILEIRA

    A crise financeira atingiu o Brasil tanto no comrciointernacional quanto nas expectativas dos agentes eco-nmicos, mas principalmente pelo lado do crdito, com areduo das linhas de crdito internacional. Em decorrn-cia disso, alguns setores industriais acabaram sentindomais os efeitos do fenmeno, haja vista que as atividadesde determinadas indstrias dependem diretamente dosistema creditcio para serem executadas e das relaescom o comrcio exterior.

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    ECONOMIAEM DESTAQUECarla do Nascimento, Joo Paulo C. Santos

    No ltimo trimestre de 2008 verificam-se, no mbitodas grandes empresas e ramos importantes para ovalor agregado do PIB nacional, paradas na produoindustrial. De acordo com os empresrios, as paradas

    esto ocorrendo em funo de manuteno tcnica,ou devido ao sucateamento das instalaes, o que temacarretado elevado custo/benefcio (VALE..., 2008). Noentanto, percebe-se que as paralisaes na produoe conseqentemente as frias coletivas (em algunscasos at desligamentos) esto relacionadas quedana demanda por produtos internamente e, sobretudo,externamente , influenciadas pelo ambiente turbulentodos ltimos meses. Como exemplo, tem-se o caso daindstria automotiva (GOVERNO..., 2008).

    Outro exemplo de importante setor da indstria bra-sileira a siderrgica, que tem sofrido com o recuona demanda por parte da China. Como conseqnciada retrao na demanda por produtos siderrgicos, aindstria nacional parou a produo em determinadasunidades e deu frias coletivas a parte dos operriosno ms de novembro (VALE..., 2008). Nesse aspecto,cabe destacar ainda que a crise no setor siderrgico mundial, e reflete as paralisaes em vrios setoresde atividade em diversos pases, com destaque para

    o setor automotivo, grande demandante de ao emvrios pases. A China, que produz mais de 1/3 do aoconsumido no mundo, foi um dos mercados mais afe-tados, pois apresentou recuo na produo de 17% emoutubro, comparado com o mesmo ms do ano de 2007.Ademais, a demanda neste pas encontra-se retradaem razo da reduo em obras de construo civil ede infra-estrutura que alavancaram o setor siderrgiconos ltimos anos (CRISE..., 2008a).

    No que se refere ao setor agropecurio, os efeitos negati-

    vos decorrem tambm da restrio ao crdito bem comoda queda nos preos das commoditiesagrcolas que soexportadas pelo Brasil. Assim, o maior risco de perdasno est associado queda da safra futura, mas simcom relao comercializao da mesma na medidaem que o descompasso entre oferta (elevada ou estvel)e demanda (em queda) forar os preos para um nvelainda mais baixo do que o atual. Nesse sentido, caber aogoverno implementar polticas que estabilizem os preosdas commodities, de forma a garantir a remunerao

    suficiente para o plantio de safras futuras. Essa polticapode ser no sentido de autorizar financiamentos aosprodutores durante a comercializao atravs de emprs-timos, da aquisio direta dos produtos e utilizao da

    Conab como intermediria nas operaes do mercado(CRISE..., 2008b).

    AES DO GOVERNO BRASILIEROPARA REDUZIR IMPACTOS DA CRISE

    Diante dos primeiros sinais de contaminao da econo-mia brasileira pela crise mundial, tem-se implementadouma srie de medidas com vistas a reduzir os impactos

    na atividade econmica domstica. O principal objetivopretendido pelas medidas emergenciais e de curto prazopostas em prtica pelo governo federal completar o cicloeconmico que j estava em andamento quando a crisese tornou mais aguda e, dessa forma, evitar que o Pasapresente queda no nvel de atividade, acompanhandoo movimento das principais economias mundiais.

    At o incio de novembro, o governo brasileiro j haviagastado aproximadamente US$ 30 bilhes para irrigar

    o mercado de crdito disponibilizando recursos paraemprstimo e o mercado cambial para conter adesvalorizao do real. No entanto, muito mais podeser gasto uma vez que o Banco Central informou quepode utilizar at U$ 50 bilhes em operaes de swapspara impedir que o dlar se valorize excessivamente (BCUSAR..., 2008).

    Ainda na rea financeira, o governo brasileiro acenoucom a possibilidade de permitir que bancos pblicoscomprem bancos privados, bem como liberou a Caixa

    Econmica para ter participao acionria em empresasda Construo Civil (BB AUTORIZADO..., 2008). A imple-mentao de tais medidas significa a garantia dada pelogoverno de que o sistema financeiro tem amplo respaldode ao governamental, no sentido de garantir o seupleno funcionamento; com relao medida atribuda Caixa Econmica Federal, v-se que o objetivo maiorfoi o de garantir tanto a manuteno dos atuais projetosem execuo no Pas, quanto o emprego de um grandenmero de trabalhadores.

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    A crise financeira internacional e os impactos nas economias brasileira e baianaECONOMIAEM DESTAQUE

    Cabe ainda destacar trs outras medidas implementadaspelo governo brasileiro que, em conjunto, contribuemdiretamente para a estabilidade do funcionamento daeconomia no curto prazo. A primeira medida refere-se

    possibilidade de adiar a cobrana de tributos dasempresas em at 60 dias. Com essa medida, as empre-sas, sobretudo as pequenas e mdias, ganharo folgano caixa, aumentando assim a oferta de capital de giro(GOVERNO..., 2008a). Alm disso, o governo brasileiroresolveu, tambm, socorrer o setor automotivo, disponibi-lizando um valor prximo de R$ 5 bilhes com o objetivode financiar a compra de automveis (VECULOS..., 2008).Nessa mesma linha, foi disponibilizado crdito de R$ 2,5bilhes de reais para a agricultura e de R$ 4,0 bilhes paraa construo civil. Estas aes visam combater a crise,

    no primeiro caso, em razo da reduo de crdito parao setor agrcola e da queda dos preos das commodities,e no segundo, para manter o ritmo de expanso do setorimobilirio (BANCOS..., 2008).

    Apesar de todo o esforo empreendido pelas autorida-des brasileiras, alguns aspectos negativos da crise jpodem ser vislumbrados para o ano de 2009. Alm deuma possvel reduo na oferta de empregos, tem-se apossibilidade de cortes no oramento. Tal reduo impac-

    tar diretamente o oramento dos ministrios, fato esseque fez com que o governo brasileiro admitisse reduzir osupervit fiscal em 2009 para 3,8% do PIB. Na prtica, amedida implica na maior disponibilidade de recursos naeconomia, agindo assim em sentido contrrio possvelreduo da atividade econmica (GOVERNO..., 2008b).

    Mesmo diante da possibilidade de retrao da atividadeeconmica, na ltima reunio do Comit de PolticaMonetria do Banco Central (em outubro), o Banco Cen-tral decidiu manter a taxa Selic no patamar (elevado) de

    13,75%. Os principais pontos colocados pelas autoridadesmonetrias, tendo por base os indicadores econmicos visando manuteno da taxa Selic em 13,75%, uma vezque estas (as autoridades) consideram que as pressesaltistas dos preos ainda no cessaram , foram:

    ainda no se consolidou o processo de reverso da1.tendncia de progressivo afastamento da inflao emrelao trajetria de metas, que vem se verificandodesde o final de 2007;

    os indicadores conjunturais recentes da indstria2.apontavam para a continuidade do ciclo de cres-cimento industrial, ainda que possa ocorrer aco-modao na margem, em funo de restries

    expanso da oferta em certos segmentos, bemcomo dos efeitos da mudana de postura da pol-tica monetria no Brasil e da turbulncia financeirainternacional;

    a demanda domstica continua se expandindo a3.taxas robustas e sustenta o dinamismo da atividadeeconmica, inclusive em setores pouco expostos competio externa, quando os efeitos de fatoresde estmulo, como o crescimento da renda, aindaesto agindo sobre a economia;

    o Copom avalia que, diante dos sinais de aqueci-4.mento da economia, no que se refere, por exemplo,aos dados disponveis sobre o mercado de trabalhoe taxas de utilizao da capacidade na indstria, edo comportamento das expectativas de inflao,continuam sendo relevantes os riscos para a con-cretizao de um cenrio inflacionrio benigno, noqual o IPCA voltaria a evoluir de forma consistentecom a trajetria das metas (BANCO CENTRAL DO

    BRASIL, 2008).

    INDICADORES DA ECONOMIABRASILEIRA PS-CRISE

    Apesar de todos os esforos do governo brasileiro emconter os efeitos da crise na economia brasileira, bemcomo dos bons fundamentos econmicos do pas, oportuno afirmar que a atividade econmica no Brasil

    ser afetada em alguma medida pela retrao j regis-trada nas principais economias mundiais. Essa consta-tao torna-se mais enftica na medida em que o Pas,apesar de apresentar bons indicadores econmicos, uma economia que est inserida no ambiente eco-nmico mundial. Nessa circunstncia, a retrao nasprincipais economias mundiais evidentemente afetara demanda por produtos brasileiros, o que, por sua vez,implicar na reduo da atividade econmica, sobretudodas empresas que operam com o mercado externo.

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    ECONOMIAEM DESTAQUECarla do Nascimento, Joo Paulo C. Santos

    Como extenso, pode-se ento esperar queda no nvelde exportaes e importaes, aumento do desemprego,queda na arrecadao tributria, dentre outros efeitos.Essa mesma realidade pode ser vislumbrada em nvelde Bahia, visto que tambm tem grande insero nomercado externo.

    A seguir so apresentados alguns dos primeiros indicado-res da economia brasileira no contexto da crise mundial.Em geral, observa-se que os recentes resultados mos-tram uma suave retrao na demanda, principalmenteexternamente, que devem contribuir para desencadearmovimento de queda em vrios segmentos de atividadeeconmica.

    Commodities

    Com base nos dados do IPEA (2008) apresentados noGrfico 1, observa-se que ocorreu queda generalizadanos preos das commodities. No indicador geral areduo de 19,5% no ms de outubro de 2008 emrelao a setembro do mesmo ano. Na comparaomensal, outubro/08-outubro/07, o recuo foi de 1,9%.J no terceiro trimestre, encerrado em outubro, com-parado ao trimestre exatamente anterior, a queda de19,4%, o que mostra a tendncia de queda nos preosinternacionais, o que impacta diretamente no saldo

    comercial brasileiro. Apesar das quedas verificadasaps o agravamento da crise, o resultado para o acu-mulado do ano ainda bastante significativo, comincremento de 45,3% no perodo. Considerando-se osgrupos gros, oleaginosas e frutas; matrias-primas;minerais; e petrleo e derivados, importante destacarque o ltimo destes apresentou a queda mais acentuada

    entre outubro e setembro (-25,3%), registrando tambmtaxa negativa na comparao com o mesmo ms doano anterior (-9,3%).

    Segundo o Copom (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2008),os preos do petrleo continuam altamente volteis,mas recuaram de forma expressiva. Os preos de outrascommoditiestambm mostraram redues importantesdesde a ltima reunio do Copom, reagindo tanto ao maiorpessimismo sobre as perspectivas para o crescimento daeconomia mundial, quanto intensificao da turbulncia

    nos mercados financeiros globais.

    Veculos

    Outro setor que pode contribuir fortemente para orecuo na atividade econmica o automotivo (Grfico2), dada a grande integrao da sua cadeia produtivacom a de outros setores, a exemplo de ao e plsticos,entre outros.

    Gros, oleaginosas e frutas Geral (exceto petrleo) Geral

    Matrias-primas Minerais Petrleo e derivados

    Fonte: MDIC

    Grfico 1Preo de commodities jan 2007-out 2008Grfico 1Preo de commodities jan 2007-out 2008

    800

    700

    600

    500

    400

    300

    200

    100

    jan/07 fev mar abr maio jun jul ago set out nov dez jan/08 fev mar abr maio jun jul ago set out/08

    nd

    ice(Base:jan/02)

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    A crise financeira internacional e os impactos nas economias brasileira e baianaECONOMIAEM DESTAQUE

    Em outubro, a produo de autoveculos atingiu 296,3mil unidades, segundo a Associao Nacional dos Fabri-cantes de Veculos Automotores (Anfavea) (CARTA DAANFAVEA, 2008), quantidade 0,04% inferior registradano mesmo ms de 2007. Considerando dados dessazona-lizados pelo Banco Central, a produo de autoveculoscaiu 7,3% em outubro, comparativamente a setembro. No

    ano, at outubro, a produo de autoveculos aumentou17,7%, comparativamente ao perodo de janeiro a outubrode 2007. Na mesma base de comparao, as vendasde autoveculos no mercado interno cresceram 23,4%,enquanto as exportaes recuaram 5,6%.

    Conforme anlise do IEDI (2008),

    Veculos automotores foi um setor que contribuiu com

    cerca de 25% para o crescimento da produo global.

    Mquinas e equipamentos representaram cerca de 12%

    da evoluo total. Estamos falando, por conseguinte,de dois setores, de um total de 27, que em conjunto

    comandaram quase 40% do dinamismo industrial bra-

    sileiro. Ocorre que esses dois setores esto entre os

    que devero ser os mais afetados pela crise econmica

    (INDSTRIA..., 2008).

    Em resumo, a citao acima chama a ateno para anecessidade de se implementar medidas que objetivemminimizar os efeitos negativos da crise sobre esses

    setores, os quais determinaram parte significativa dadinmica produtiva do Pas e, por conseguinte, foramessenciais para a gerao de postos de trabalho.

    Com relao a esses setores, a expectativa, para osprximos meses, de que haja um recuo de 10% a 15%nas vendas, fato esse decorrente da reduo da demanda

    interna e, principalmente, da demanda externa (MON-TADORAS..., 2008). Para 2009, a indstria automotivabrasileira espera crescimento nulo. Parte dessa previsose deve expectativa de se exportar 80 mil unidades amenos do que em 2008 (APS..., 2008).

    Comrcio exterior

    Os resultados do comrcio exterior para o ms de outu-bro apontam uma leve queda no valor das exportaes

    nacionais. De acordo com dados do MDIC (BRASIL,2008), apresentados no Grfico 3, na variao acumuladaem 12 meses, a taxa recuou de 27,0% em setembro para26,3% em outubro. Este movimento reflete principalmenteo comportamento nos setores de produtos bsicos esemimanufaturados, a exemplo de commoditiesagrcolase laminados de ao.

    Apesar de se manterem em patamar bastante elevado, asimportaes tambm apresentaram pequeno recuo no

    Produo Vendas

    Vendas externasVendas internas

    Fonte: Anfavea

    Grfico 2Produo e vendas de autoveculos2007-2008

    Grfico 2Produo e vendas de autoveculos2007-2008

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    ndice

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    ECONOMIAEM DESTAQUECarla do Nascimento, Joo Paulo C. Santos

    ritmo de crescimento, passando, no acumulado dos 12meses, de 50,7% em setembro para 50,3% em outubro.

    Comrcio varejista

    No comrcio varejista os resultados mantiveram-sepositivos at o ms de setembro, apesar de se observarpequena desacelerao em determinados segmentos,

    como o caso de veculos, que recuou de 23,2% nosegundo semestre para 18,0% no terceiro trimestre.De forma geral, os indicadores conjunturais da ativi-dade comercial ainda apontam processo de expansoda vendas, sugerindo que esta atividade ainda no foiatingida pela crise. Somente com a divulgao de novosdados que se poder ter a dimenso exata dos efeitosda crise sobre a atividade varejista.

    Emprego

    O nvel de emprego com carteira assinada no Pas, segundodados do Caged (2008), apresentou aumento de apenas0,2% em outubro, em relao ao estoque de assalariadosdo ms anterior, representando um aumento mensal de61.401 postos de trabalho formais. Esse resultado con-siderado abaixo da mdia para o ms de outubro (nestemesmo ms em 2007 o aumento foi de 205.260 postosde trabalho), podendo-se afirmar que reflete a recentecrise financeira mundial. Como vrias indstrias esto

    programando frias ou mesmo a interrupo de parte deseus processos produtivos, possvel que nos prximosmeses a gerao de empregos seja ainda menor.

    INDICADORES DA ECONOMIA BAIANA

    Assim como a economia brasileira, a economia baianadeve ser atingida com a contrao do crdito; com a queda

    nos preos das commodities, essencialmente nos setoresagrcola, de metalurgia do cobre, celulose, automveis epetroqumicos; com a alta do dlar no mercado interno,principalmente no setor turstico e no comrcio de produtoseletro-eletrnicos. Em conjunto, esses eventos podem cul-minar na reduo das vendas de automveis e do comrciovarejista como um todo, na retrao da atividade industriale na reduo das exportaes do estado.

    Para o ano de 2008, pouco provvel que essas conse-qncias afetem o crescimento do PIB da Bahia, con-

    siderando-se os resultados significativamente positivosobservados no decorrer do ano, principalmente nossetores do comrcio varejista, da construo civil e atda indstria de transformao.

    No entanto, em 2009 os resultados podem se modificarconsideravelmente, uma vez que j se observa nos indica-dores atuais uma leve desacelerao no crescimento dealgumas atividades, principalmente aquelas relacionadas indstria de transformao.

    Exportaes Importaes

    Fonte: MDIC/SECEX

    Grfico 3Balana comercial Brasil, jan 2007-out 2008Grfico 3Balana comercial Brasil, jan 2007-out 2008

    60

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    0 jan/07 fev mar abr maio jun jul ago set out nov dez jan/08 fev mar abr maio jun jul ago set out/08

    %

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    A crise financeira internacional e os impactos nas economias brasileira e baianaECONOMIAEM DESTAQUE

    Segundo dados do IBGE (PESQUISA INDUSTRIALMENSAL, 2008), na indstria baiana os resultados daproduo fsica mostram-se deteriorados apenas nacomparao com o ms anterior, quando ocorre leve

    retrao de 0,6% no ms de setembro em relao ao msde agosto. No entanto, a taxa anualizada entre julho esetembro passa de 3,5% para 5,1% no perodo, indicandoascendncia na produo da indstria baiana.

    Apresentando indicadores bem mais significativos, ocomrcio varejista j evidencia leve desacelerao nataxa anualizada entre julho e setembro, passando de 8,8%para 8,5%; apesar da leve retrao, dificilmente essesindicadores apresentaro taxas abaixo de 2% at o finaldo ano, ainda que ocorram fortes redues no crdito

    e nos prazos de financiamentos, haja vista que o ltimotrimestre do ano caracteriza-se pelo crescimento dasvendas do setor, devido aos festejos natalinos. Entre osramos do setor que tm apresentado forte contrao noperodo destaca-se o automotivo, que caiu de 21,0% para18,7% entre julho e setembro. No entanto, esta queda bem menor do que a evidenciada pelo comrcio varejistanacional, como observada anteriormente (PESQUISAMENSAL DO COMRCIO, 2008).

    Os indicadores do comrcio exterior baiano ainda nomostram de forma clara os impactos da crise inter-nacional sobre os fluxos comerciais da Bahia com oresto do mundo. De acordo com dados do Ministriodo Desenvolvimento, Indstria e Comrcio (2008), navariao acumulada em 12 meses, a taxa do valor dasexportaes recuou de 29,3% em setembro para 28,4%em outubro. Avaliando as exportaes pontualmente,a reduo ocorrida entre setembro e outubro pode serentendida como um sinalizador de contaminao da crise.No entanto, somente os dados de novembro e dezembro

    podem expressar a dimenso real dos impactos da criseinternacional sobre as exportaes da Bahia. Com relaos importaes, mantiveram a tendncia de expanso,registrando crescimento de 18,7% em setembro e de28,4% no ms de outubro, no indicador acumulado dosltimos 12 meses.

    Com relao ao emprego formal, em outubro de 2008 onmero de postos de trabalho com carteira assinada naBahia apresentou recuo de 0,5% em relao ao estoque

    de assalariados do ms anterior, representando umaqueda mensal de 6.446 postos de trabalho formais.Considerando-se as atividades econmicas, o setor deconstruo civil apresentou o pior desempenho mediante

    a eliminao de 3.834 empregos em razo do trmino deobras. O setor agrcola fechou 2.899 vagas, por conta dofinal da colheita na safra anual. E a indstria de trans-formao tambm apresentou desempenho negativoao eliminar 333 empregos, bastante influenciado pelosegmento de calados, que foi responsvel pela reduode 215 postos de trabalho.

    CONSIDERAES FINAIS

    Diante do exposto, conclui-se que a tendncia que ascapacidades de consumo e de financiamento da economiabrasileira declinem devido ao adverso ambiente externo.Esse fato pode ser verificado a partir da queda das exporta-es e dos fluxos de investimento e financiamento externo.Nesse sentido, o investimento produtivo dever ficar maiscaro, alm de que a capacidade de importar diminuir emdecorrncia de retrao na demanda interna.

    Apesar da ocorrncia dos eventos mencionados acima,

    o fato da economia brasileira encontrar-se com osfundamentos mais consistentes do que em anos ante-riores permite uma maior ao governamental comvistas a minimizar os efeitos provocados pela criseeconmica mundial, realizando polticas anticclicas fiscal e de liquidez.

    No mbito fiscal, o governo pode agir a partir da reduode impostos, do aumento nos gastos e dos investimentos;neste ltimo caso, garantindo os recursos destinados aoPAC, para que este mantenha a posio estratgica de

    garantir a expanso e consolidao do mercado doms-tico. Deve ainda o governo estar atento para no extrapolaro nvel dos gastos a ponto de provocar desequilbrios nascontas pblicas. At o momento, como j citado ante-riormente, a nica medida nesta linha foi o adiamentodo prazo de recolhimento de tributos federais.

    Pelo lado monetrio, a principal arma o controle dosjuros. No caso especial da economia nacional, as taxasde juros esto elevadssimas, e h espao suficiente para

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    ECONOMIAEM DESTAQUECarla do Nascimento, Joo Paulo C. Santos

    se praticar uma poltica agressiva de reduo dos jurosa fim de induzir o crescimento econmico. Apesar dessaflexibilidade, o Banco Central mantm-se cautelosoquanto a esta deciso, devido ao aumento nos ndices de

    preos ao longo do ano, que prejudicou as metas infla-cionrias para 2008. Outro mecanismo seria incentivaros investidores privados em direo aos investimentosprodutivos. No entanto, essa opo encontra obstculocom a retrao do crdito e as perspectivas de quedana demanda, alm do elevado juro.

    Ao mesmo tempo, o capital privado deve estar atentopara no perder competitividade frente a outros pases,que podem aproveitar o momento crtico para conquistarnovos mercados. Diante desses desafios, o papel dos

    bancos de fomento fundamental para incentivar ocapital nacional a investir no mercado interno.

    Assim, as expectativas de impacto sobre a economiabrasileira e, por extenso, para a economia baiana em2009 ainda dependem muito do grau de estabilidadealcanado pelo mercado internacional, das aes gover-namentais definidas pelas autoridades brasileiras e dasreaes dos agentes econmicos frente ao ambienteexterno e interno.

    REFERNCIAS

    APS recorde, montadoras prevem crescimento zero. ValorEconmico, So Paulo, 11 nov. 2008. Caderno B8.

    BANCO CENTRAL DO BRASIL.Atas do Copom, 2008. Bra-slia: BC, 2008. Disponvel em: .Acesso em: 18 nov. 2008.

    BANCOS oficiais ampliam emprstimos contra crise. Folhade So Paulo, So Paulo, 21 out. 2008. Caderno Dinheiro, p.1.

    BB AUTORIZADO a ir s compras e Caixa a assumir cons-

    trutoras. Valor Econmico, So Paulo, p. C1, 23 nov. 2008.

    BC USAR at US$ 50 bi para normalizar o cmbio. ValorEconmico, So Paulo, p. C1, 24, 25 e 26 out. 2008.

    BRASIL. Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio.Estatsticas de comrcio exterior. [Braslia]: MDIC, 2008. Dispo-nvel em: . Acesso em: 19 nov. 2008.

    CAGED. [Braslia]: MTE, out. 2008. Disponvel em: . Acesso em: 28 nov. 2008.

    CARNEIRO, Ricardo. Um Banco Central peculiar. CartaMaior, So Paulo, out. 2008. Disponvel em: . Acesso em: 3 nov. 2008.

    CARTA DA ANFAVEA. So Paulo, n. 270, nov. 2008. Dispon-vel em: .Acesso em: 18 nov. 2008.

    CRISE faz produo de ao no mundo cair 12% em outu-bro. Valor Econmico, So Paulo, 21,22 e 23 nov. 2008a.Caderno B7.

    CRISE no campo atrofia saldo comercial. Folha de So Paulo,So Paulo, 16 nov. 2008b. Caderno Dinheiro, p. B1.

    GOVERNO pode adiar tributo para empresa. Folha de SoPaulo, So Paulo, 29 out. 2008a. Caderno Dinheiro, p. 2.

    GOVERNO reduz supervit de 2009 para 3,8%. Valor Econ-mico,So Paulo, p. A16, 31 out., 1, 2 nov. 2008b.

    INDSTRIA. Passado e futuro da produo industrial.Anlise IEDI, So Paulo, 7 nov. 2008. Disponvel em:.

    IPEA. Indicadores macroeconmicos. Braslia, [2008].

    Disponvel em: . Acesso em:18 nov. 2008.

    MONTADORAS j se ajustam ao ritmo da desacelerao.Valor Econmico, So Paulo, p. B9, 28 out. 2008.

    PESQUISA INDUSTRIAL MENSAL. Rio de Janeiro: IBGE, set.2008. Disponvel em: . Acesso em:11 nov. 2008.

    PESQUISA MENSAL DO COMRCIO. Rio de Janeiro: IBGE,set. 2008. Disponvel em: . Acessoem: 20 nov. 2008.

    PROJETOS de infra-estrutura j sofrem cortes. Folha de SoPaulo, So Paulo, 20 out. 2008. Caderno Dinheiro, p. B1, B3.

    VALE corta produo e d frias coletivas. Folha de SoPaulo, So Paulo, 1 nov. 2008. Caderno Dinheiro 1, p. B1.

    VECULO: BB amplia financiamento.A Tarde, Salvador, 24out. 2008. Caderno Economia, p. 17.

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    Csar NunesENTREVISTA

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    Considerada uma das reas mais complexas do governo baiano, asegurana pblica vem passando por uma reforma profunda em suaestrutura. O secretrio da pasta e ex-superintendente da Polcia Federal da

    Bahia, Csar Nunes, vem remontando o aparato tecnolgico e de efetivopara enfrentar a precria situao da violncia no estado. Nesta entrevista

    revista C&P, ele explica como a Secretaria de Segurana Pblica est separamentando, com investimentos na polcia cientfica e nos instrumentosde comunicao e monitoramento. Fala da importncia da integraoentre as polcias tcnica, civil e militar, com o comando nico, e algunsresultados prticos dessas iniciativas, a exemplo do Programa Ronda nos

    Bairros. Mas isso ainda pouco: Sempre se pensou em seguranapblica como polcia, viatura, munio, armamento. Est errado.Isso a polcia, isso no segurana pblica.

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    ENTREVISTA

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    C&P Como funciona a inter-relao da Secretaria de Segurana

    Pblica do Estado da Bahia com os outros estados?Csar Nunes No existia uma parceria com os outros estados, comoainda no h de fato. O que estamos buscando o trabalho conjuntocom as polcias interestaduais, inclusive com a Polcia Federal, paraque possamos combater efetivamente a criminalidade, principalmenteo crime organizado e as grandes quadrilhas que tm atuao mais

    intensa, tanto no trfico de drogas quanto no roubo de veculos, queenvolvem outros delitos como o homicdio. Temos um nmero dehomicdios muito elevado em decorrncia do trfico de drogas.

    C&P Foi esta atuao em parceria com a Polcia do Cear que

    permitiu a priso do traficante Cludio Campanha?CN A quadrilha do Cludio Campanha, a de maior atuao nonosso estado, estava vinculada a So Paulo e comandava o trficode drogas na Bahia, a partir do Cear. Essas investigaes que fize-mos em parceria com a polcia do Cear e a conseqente priso do

    Cludio Campanha esto permitindo oesclarecimento de vrios homicdios. Aquadrilha dele vinha matando opositores,pessoas que deixavam de pagar dvidas

    com o trfico. Outro grupo do Campanhaperpetrava roubos, assaltos, como foi naempresa de nibus Unio. Toda essa cri-minalidade est interligada, e tivemos quetrabalhar com servios de inteligncia einvestigaes para poder provar a autoriadesses crimes. (Carlos Eduardo Campa-nha da Silva, o Malhado, bandido maisprocurado pelas autoridades policiaisbaianas, foi preso na Regio Metropo-litana de Fortaleza, em uma operao

    conjunta entre as polcias estaduais daBahia e do Cear).

    C&P Quais so os servios de

    inteligncia utilizados pela polcia

    baiana?CN Existe o Infoseg, um sistema deinformaes nacional ao qual todas assecretarias estaduais tm acesso, o IDS,banco de dados de armas e munies,

    o AFIS, um sistema de informaes cri-minais que o estado da Bahia adquiriu,e o Codis, um banco de dados de DNAforense. O AFIS um banco de dadosde impresses digitais. Quem detmesta tecnologia hoje a Polcia Federal,o estado da Bahia comprou e conse-guiu, atravs de convnio, que essesbancos estejam interligados. Ou seja,quanto maior a base de dados de umbanco, mais eficiente ser o sistema.

    A Bahia um dos poucos estados (so

    A Bahia um dospoucos estadosque tem um bancode dados de DNAforense, o Codis

    EntrevistaCsar Nunes

    Segurana pblicano s polcia

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    Csar NunesENTREVISTA

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    apenas quatro) que tem um bancode dados de DNA forense, o Codis. um avano incrvel. Ns temostrs certificaes internacionais

    para o nosso laboratrio, o quenos permite, hoje, fazer qualquerpercia de DNA forense internacio-nalmente. Isso o crescimento dapolcia cientfica.

    C&P Secretrio, como se d,

    hoje, a integrao das diversas

    polcias?CN Quando fui chamado para sersecretrio, uma das coisas que eu

    disse ao governador foi da neces-sidade de integrao das polcias,principalmente as do nosso estado.A polcia tcnica faz todos os examesde percia, a civil faz a parte de pol-cia judiciria, de investigao, e apolcia militar faz o policiamentoostensivo e a represso primeira,quando ocorre um crime. Tem queestar tudo integrado, elas tm que

    trabalhar irmanadas. Agora, comofazer essa integrao? Primeiro: ogovernador determinou comandonico na Secretaria de SeguranaPblica. Hoje, a funo precpua daSecretaria de Segurana Pblica fazer a integrao entre as polcias e

    exercer o comando nico. Segundo:estamos realizando cursos e inte-grando os policiais civis com os poli-ciais militares e a polcia tcnica. Em

    2008, realizamos vrias operaesconjuntas.

    C&P O senhor avalia que houve

    avano nessas realizaes?CN Muito, muito. O ProgramaRonda nos Bairros, por exemplo, resultado da unio das duas pol-cias, sem isso no seria possvel. Agente j est pensando em expandirpara mais duas reas, porque esta-

    mos implantando o programa aospoucos. Por exemplo, na rea deTancredo Neves, que a 11 dele-gacia, so onze viaturas, onze moto-cicletas e 180 policiais. Na rea da5 delegacia so seis viaturas, seismotocicletas e algo em torno de120 policiais. um efetivo 24 horas.Dentro de cada rea delimitada deat trs quilmetros quadrados ns

    temos uma equipe de policiais, umaviatura e uma motocicleta. Essa via-tura tem um rdio com GPS, eledelimita a rea de atuao, se aviatura sair dessa rea, o sistemaacusa na Central. Cada viatura temum telefone celular, cujo nmerofoi disponibilizado para a popula-o daquele permetro de at trsquilmetros. A populao liga paraa viatura e o policial atende direto,

    o que permite uma resposta maisrpida. Os resultados esto a, tive-mos uma diminuio significativados crimes nessas reas, princi-palmente de estupro, roubo emcoletivo, em casas comerciais e atranseuntes.

    C&P Como est a dotao ora-

    mentria da Secretaria? Ela tem

    sido suficiente para a demanda do

    servio de segurana pblica?CN Os recursos que nos foramdisponibilizados foram suficientes,

    no posso dizer que est bem, pre-cisa melhorar muito. Mas, devido burocracia do estado, no consegui-mos executar.

    C&P E em relao qualifica-o dos profissionais de segu-

    rana pblica do estado da Bahia,

    eles esto apropriadamente

    qualificados?

    CN No, no esto. uma meta.Temos hoje policiais com vinte etantos anos de polcia que s fize-ram curso de formao. Estamosinvestindo na qualificao da nossapolcia. Fizemos, por exemplo, umconvnio com a Secretaria Nacionalde Justia, e o Dr. Romeu Tumadisponibilizou para a Bahia um labo-ratrio de combate lavagem dedinheiro e corrupo. So investi-

    mentos em equipamentos da ordemde trs milhes de reais. Junto comesse convnio j temos incorporadoa capacitao de equipes policiaisna rea de investigao financeira.A quadrilha do Campanha, porexemplo, j pedimos a indisponi-bilidade dos bens dele, do stio queele comprou em Fortaleza, dos bensque ele tem aqui, de veculos, de

    Seguranapblica so aes,polticas pblicas,sociais, que visema diminuir essaexcluso social eintegrar a sociedade.Isso o que pensa oPronasci

    Salvador e RegioMetropolitana voser interligadas

    com o sistemamais moderno decomunicao queh no mundo

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    ENTREVISTACsar Nunes

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    tudo. Isso investigao financeira,e nossos policiais sero capacita-dos nessa rea.

    C&P Secretrio, em relao aoPrograma Nacional de Segurana

    Pblica com Cidadania (Pro-

    nasci), quais as principais aesprevistas para a Bahia?CN Nunca antes na histria dessepas se pensou em seguranapblica com a tica que o Pronasciest fazendo. Sempre se pensouem segurana pblica como polcia,viatura, munio, armamento. Est

    errado, isso a polcia, isso no segurana pblica. Seguranapblica so aes, polticas pbli-cas, sociais, que visem a diminuiressa excluso social e integrar asociedade. Isso o que pensa o Pro-nasci. O maior volume de recursosdo programa para capacitao depoliciais, e tambm aes sociais, aexemplo do Programa Mulheres da

    Paz, onde mes de comunidadescom alto ndice de criminalidadeso orientadas para trabalhar comos jovens e direcion-los para ativi-dades lcitas.

    C&P Em que aspectos a segu-rana pblica melhorou nos lti-mos anos?

    CN Precisa melhorar muito. Pre-cisa melhorar a capacidade inves-tigativa, para se combater o crimeorganizado, as grandes quadrilhas.

    Precisa melhorar a situao deexcluso social. Precisa capacitar,pagar melhor aos policiais para queeles tenham um vencimento razo-vel, para que possam viver condigna-mente. Salrio melhor para os poli-ciais, investimento em seguranapblica, em equipamentos e tecno-logia. O sistema de comunicao dapolcia que est sendo implantado importantssimo para o combate

    ao crime. Uma viatura, hoje, sai deSalvador e antes de Simes Filhoperde sua capacidade de comunica-o. Uma viatura est aqui (CentroAdministrativo CAB) e no falacom outra que est em Itapu. No assim que se faz segurana pblica.Agora, Salvador e Regio Metropo-litana vo ser interligadas com osistema mais moderno de comuni-

    cao que h no mundo, um sistemadigital de comunicao instantneacom alta qualidade, o Sistema Ter-restrial Trunked Radio (Tetra). Issovai permitir que os carros da polciacivil falem com os carros da polciamilitar. Comunicao imprescin-dvel em segurana pblica. Hojens temos quinze Sites (SistemaTetra Digital) dentro de Salvador eRegio Metropolitana, e estamos

    fazendo mais trs, para ampliar paraa Linha Verde.

    C&P Esses sites permitem a

    comunicao entre as polcias de

    Salvador e Regio Metropolitana.

    E no interior do estado?CN Ns estamos construindo vintee dois centros de telecomunicaes

    para o interior do estado. Cada centroter uma regio de abrangncia. Porexemplo, Juazeiro um dos centrose coordenar sua regio, os centrosdo interior do estado falaro por rdio

    com a capital. Hoje no existe isso,ningum fala com ningum. Ento,em tecnologia o estado est avan-ando bastante.

    C&P Em que ainda precisa

    melhorar?CN Precisamos recompor o efe-tivo. A Bahia teve 31 mil policiaismilitares em 2003, hoje tem 27 mil.

    Foi realizado um concurso em 2007e, no ms passado, 3.200 homensda PM entraram em efetivo exerc-cio. Ns j contratamos tambm 170policiais civis no primeiro semestrede 2008. Estamos formando mais761 policiais civis, j esto na aca-demia fazendo curso. A polcia civil,que j teve 7.800 homens, hoje tempouco mais de quatro mil. E policialno um funcionrio pblico que

    voc faz um concurso e a pessoa contratada de imediato. So vriasfases: psicotcnico, exame deconhecimento, investigao social.Depois tem o curso de formao,para da o policial entrar em exer-ccio. Estamos precisando de muitacoisa ainda na segurana pblica,mas vai melhorar.

    [...] os centros dointerior do estadofalaro por rdiocom a capital. Hojeno existe isso,ningum fala comningum

    Precisamosrecompor o efetivo.A Bahia teve 31 mil

    policiais militaresem 2003, hoje tem27 mil

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    ARTIGOSJoo Apolinrio da Silva

    segurana pblica. No caso da Bahia, especificamenteem Salvador, no setor de segurana pblica criou-se umapequena estrutura voltada para a proteo do turista.Essa estrutura conta com a Delegacia do Turista (Deltur)e com um Batalho de Polcia Militar (18 BPM), sediadosno Centro Histrico da cidade. Outra ao voltada paraa proteo do turista em Salvador foi a aplicao depoliciamento ostensivo voltado para roteiros tursticosda cidade (Policiamento do Corredor Turstico).

    No perodo de 2000 a 2006 ocorre um aumento gradual esucessivo da atividade turstica na cidade, entretanto tem-se, tambm, o aumento da criminalidade, principalmentede crimes contra o patrimnio e de homicdios, os quaisatingem a populao local, podendo ser dirigida aindapara a populao que visita Salvador. Nesse sentido, estetrabalho pretende discutir alguns aspectos relevantes dainterface da criminalidade no turismo em Salvador, pois apartir dessa discusso possvel compreender o quanto

    a criminalidade interfere na atividade turstica na cidadee de que maneira essa interferncia poder influenciarna escolha do destino turstico da capital baiana. Almdisso, o estudo busca investigar o quanto a criminalidade

    que atinge a populao residente atinge tambm a ativi-dade turstica em Salvador. Especificamente, pretende-seconhecer se o turista atingindo por todos os tipos decrimes que a populao residente j sofre; descrever ainfra-estrutura que dirigida para a proteo do turistaem Salvador; e avaliar se a proporo de crimes contraturistas a mesma da populao residente.

    O escopo do trabalho visa a trazer para a sociedade oquanto se tem, na atualidade, de crimes contra o pblicovisitante na capital baiana e apontar as incidncias nas

    diversas localidades da cidade, buscando-se avaliar ostipos de crimes que atingem grupos especficos de turis-tas, bem como avaliar se h predileo de criminosos porroteiros tursticos para o cometimento de tipos especficosde crimes contra os visitantes. Essas e outras assertivasfazem parte do rol das justificativas que nortearam essaatividade de pesquisa, a qual partiu dos seguintes pres-supostos bsicos: os crimes contra turistas possuema mesma proporo da prtica presente na populaoresidente; os turistas so vtimas de tipos especficos de

    crimes; os servios de segurana voltados para roteirosespecficos tornam os demais roteiros vulnerveis acrimes contra turistas; e o desconhecimento dos turistasda vulnerabilidade criminal dos roteiros tursticos os fazvtimas ideais para os criminosos locais.

    A CRIMINALIDADE E SUASTEORIAS EXPLICATIVAS

    O controle da criminalidade nos centros urbanos quepossuem grande atratividade turstica tem se tornado umadas grandes preocupaes atuais. Existem vrios diagns-ticos indicando solues para se resolver esse problema,que tem se agravado nos tempos atuais, principalmentenas sociedades livres de modelos autoritrios.

    A atividade criminosa tem sido uma das conseqnciasmais danosas dentro dos processos de concentrao deriquezas e aumento da populao pobre espalhada em

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    A interface da criminalidade no turismo em SalvadorARTIGOS

    vrios espaos urbanos, e possvel causa da diminuioda atividade turstica para certas regies. Enquanto oturismo cresce continuamente, principalmente por causado progresso tecnolgico, produzindo o encurtamento

    entre os destinos em razo da melhoria dos transportes,nota-se ainda o aumento do tempo livre, mais bem utilizadopara as atividades de entretenimento e lazer. O que nose verifica entre essas vrias formas de crescimento aimportncia dada pelo estado para que haja crescimentodo turismo e priorizar a reduo dos riscos gerados aoturista, decorrentes da atividade criminosa.

    Segundo Rabahy (2003), o turismo est entre as cincoprincipais atividades econmicas geradoras de divisasna economia mundial. O autor (RABAHY, 2003, p. 8,9)

    tambm ressalta diversos eventos que impactaram direta-mente na economia do turismo; entre eles verifica-se quegrande parte est ligada a episdios que esto diretamenterelacionados com atividade criminosa ou com aspectosviolentos contra pessoas. No ano de 1991, houve a Guerrado Golfo; em 1992, o conflito da Bsnia; em 1993 ocorreu oconflito gerado pela diviso da Tchecoslovquia; em 1998,a invaso do Iraque realizada pelos Estados Unidos e pelaInglaterra; no ano 2000, Israel interrompe as negociaes depaz com a Palestina, intensificando os conflitos regionais;

    em 2001 tem-se o atentado de 11 de setembro nos EstadosUnidos; e em 2003 os Estados Unidos e a Inglaterra voltama invadir o Iraque. Nota-se que tais conflitos tornam algunsterritrios lugares com alto grau de periculosidade parao exerccio da atividade de turismo, fazendo com que suademanda potencial se volte para outros destinos.

    Noutro sentido, a violncia e a criminalidade tm contor-nos diferenciados, principalmente quando relacionadascom aspectos ligados diretamente ao destino do turista.O visitante fica exposto em outro territrio e devido ao

    aspecto sociocultural, diferindo-o da populao local,torna-se uma vtima ideal. A preveno de crimes contraturista no passa apenas pelo crivo dos governos locais.Para Frate e Kesteren (2004) a preveno da criminali-dade urbana est relacionada s tcnicas necessriaspara se identificar o lcus de sua existncia a fim de seefetuar a preveno com base fundada na cooperao doEstado e da sociedade. Nesse casso, preciso primeiroidentificar o local do crime para, num segundo momento,determinar as suas tcnicas de preveno.

    Outro sentido da anlise das causas criminais queatingem a populao de turistas refere-se aos aspectos

    mutantes do crime, tanto no que diz respeito ao tipode crime quanto aos espaos em que eles ocorrem.Existe a necessidade de se ter uma viso desses espa-os sob a perspectiva analtica da compreenso dasmudanas socioeconmicas, a fim de se entender osujeito, a sociedade e os espaos de reproduo social,buscando os vieses das transformaes dentro de umnovo mundo, que concentra centros urbanos superpo-voados e globalmente interligados.

    Estudos recentes sobre a ocorrncia de crime emalgumas cidades brasileiras (SOUZA, 2000; RIO CAL-DEIRA, 2000; MISSE 2003) indicam a existncia detransformaes da criminalidade nas suas dimensesqualitativa e quantitativa. Particularmente, para Salva-dor, Silva (2004) mostrou, atravs de pesquisa, que atransformao da criminalidade se deu junto com astransformaes urbanas, socioeconmicas, no recortetemporal compreendido entre as duas dcadas finais dosculo passado. Esse fenmeno no ocorreu de formaisolada dentro do Brasil. Para as cidades de So Paulo

    e Rio de Janeiro foi constatado tambm que houve essemesmo processo de transformao do crime, segundoRio Caldeira (2000) e Souza (2000). Os crimes, nessascidades, assim como ocorreu em Salvador, ficarammais freqentes e mais violentos. As aes crimino-sas passaram a ser cometidas com maior requinte deperversidade, e a populao desenvolveu, diante domedo crescente, novas formas de convvio dentro dascidades. Nesses centros urbanos, os moradores nose sentem to seguros quanto no passado, buscando,

    O controle da criminalidadenos centros urbanos quepossuem grande atratividadeturstica tem se tornado umadas grandes preocupaesatuais

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    ARTIGOSJoo Apolinrio da Silva

    atravs do isolamento em condomnios fechados ouatrs de grandes muros e grades fortificadas, proteocontra as aes violentas dos criminosos.

    Esse fenmeno, tambm notificado por Souza (2000), foiexaustivamente analisado pelo autor, o qual assegura quea dcada de 1980 foi marcada por uma profunda criseeconmica e social no Brasil, transformando, definitiva-mente, os centros urbanos em zonas de conflitos sociais,principalmente com o aprofundamento da pobreza e adesigualdade social.

    Embora as atenes estejam voltadas para as grandesmetrpoles, aquelas que so as capitais dos estados, nota-se que o fenmeno da criminalidade alcana outros centros

    urbanos de menor porte, notadamente as cidades que sedestacam como ncleos concentradores das atividadeseconmicas de certa regio. Essas cidades possuemcaractersticas regionais e econmicas bem distintas,porm a criminalidade o fator comum entre elas.

    Segundo Knox (2004), ao estudar os efeitos de indicado-res de crimes graves no Hava relacionados ao turismo,constata-se que a ao criminosa tem diversos efeitossobre a atividade turstica. A pesquisa de Knox (2004)

    constatou a existncia de aderncia entre o crime deroubo e a populao de turistas; j noutras localidadeshouve evidncias estatsticas da atividade criminosade furtos voltada para o turismo. J em outras localida-des buscou-se a relao entre homicdios e crimes deestupros contra turistas que freqentavam a localidade.Entretanto, no Hava encontrou-se uma relao muitoforte entre roubos e a atividade de turismo, o mesmo nosendo comprovado para os estupros e homicdios.

    Knox (2004) indica que h vrios modos de se verifi-

    car se h correlao entre atividade criminosa dirigidaespecificamente para a atividade turstica. Neste caso,basta avaliar se a incidncia de crimes contra turistas maior que os mesmos crimes praticados contra apopulao local.

    No trabalho de pesquisa efetuado por Albuquerquee Mcelroy (1999) intitulado Tourism and crime in theCaribbean, foram identificados cinco cenrios em que oturista pode se envolver como vtima de crimes. O primeiro

    refere-se ao fato do turista ser uma vtima acidental, ovisitante est no local e hora errada, assim ele ou elaser a vtima presente. No segundo cenrio o turista dado prtica de visitao a locais que possuem ten-

    dncia crimingena, tais como: locais de intensa vidanoturna, intensa vida hedonstica e onde se faz uso dedrogas lcitas (lcool) ou ilcitas. No terceiro cenrio oturista tem o hbito de no observar, durante as frias, osmesmos cuidados que tem durante sua vida quotidiana,quando este realiza seus hbitos domsticos. J no quartocenrio, o turista promove transgresses em suas vidassociais e domsticas e se envolvem com prostitutas euso no controlado de lcool, tornando-se vtimas ideais.O quinto e ltimo cenrio descreve o turista como sendorepresentante legtimo de estados capitalistas e, neste

    caso, so vtimas potenciais de grupos terroristas quese opem ao capitalismo global.

    Observa-se que nesses cenrios pode-se enquadrargrande parte de crimes que so cometidos contraturistas num determinado destino. Mas a segurana aoturista envolve esforos pblicos e da populao localpara conservar sua integridade fsica e psquica. Outracategoria de segurana perpassa os cinco cenriosdescritos acima, envolve, tambm, segurana coletiva

    em eventos, tais como: congressos em hotis ou centrosde convenes, shows musicais, jogos internacionais(Copa do Mundo de Futebol, Jogos Pan-americanos,Olimpadas, entre outros), segurana de dignitrios,enfim, h um rol extenso de aplicaes do estudo desegurana pblica ou privada aplicada ao turismo e,assim, tem-se o envolvimento de uma multiplicidadede atores e conhecimentos.

    Dentro desse contexto, deve-se ter uma preocupaomais acentuada sobre a segurana pblica aplicada ao

    turismo, considerando que a segurana pblica aqui serentendida, segundo a perspectiva de Bayley (2001), como abase na qual todos os processos sociais se apiam e ondese tem como princpio a manuteno da ordem pblica,visto que essa a funo essencial do governo. Assim,pode-se crer que aspectos relacionados manutenodas boas condies sociais, patrocinadas pela igualdadeentre os indivduos, sob todos os aspectos, gera a legiti-midade da ao do Estado e, por conseguinte, melhoriasnas condies da segurana da coletividade.

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    J para se compreender como se d o crime praticadocontra turistas no meio urbano, e, principalmentena cidade de Salvador, foi preciso entender o meiourbano e seus processos sociais. A compreenso domeio urbano foi edificada como parte de algumas

    teorias [...] que se esforam por explicar a cidadecomo fenmeno espacial (LYNCH, 1999, p. 44). Lynch(1999) ressalta trs teorias, a saber: teoria da deciso,teoria funcional e teoria normativa. Tais teorias seimportam com objetos de estudo bem diferenciados.A primeira se ocupa com o processo de planejamentoda cidade e as complexas formas de deciso de aplica-o das polticas pblicas que devem ser tomadas emrelao ao desenvolvimento da cidade. A segunda sepreocupa com as diversas funcionalidades presentesnas partes da cidade. J a terceira teoria [...] trata das

    ligaes generalizveis entre os valores humanos e aforma das aglomeraes populacionais [...] (LYNCH,1999, p. 43). Nessa ltima teoria residem as compati-bilidades de estudo entre as relaes sociais presen-tes nas coletividades formadoras dos vrios espaosurbanos, pois atravs delas possvel compreendera organizao e o funcionamento da sociedade, adistribuio scio-espacial, movimentos da popula-o, comportamentos, atividades dos indivduos eda coletividade, e o dinamismo coletivo da cidade.

    Insere-se, nesse contexto, o estudo da criminalidadeurbana enquanto fenmeno derivado da concentraohumana em grandes cidades.

    Tem-se para o fenmeno da criminalidade urbana umamultiplicidade de explicaes. Enquanto fato social, asociologia oferece alguns esclarecimentos que so adi-cionados aos modelos explicativos. A psicologia explica ovis da psique enquanto elemento que alicera a tendn-cia dos sujeitos ao crime. Nesse mesmo sentido, outrascincias tm procurado ofertar as suas argumentaesacerca da lgica do crime, cabendo aos estudos urba-nos identificar o quanto a forma urbana contribui parao aparecimento, amadurecimento e/ou potencializaodas atividades criminosas.

    Se por um lado h certa complexidade em construir algumalinha argumentativa que consiga relacionar ao crime algu-mas atividades humanas, tais como pobreza e crime, poroutro, cresce a estigmatizao do pobre, apontando-ocomo ator principal das barbries criminais perpetradasnos centros urbanos. Busca-se atribuir aos habitantesde moradias subnormais e aos favelados ou aos queno possuem qualquer tipo de moradia toda espcie deao criminosa, atualizando-se, cada vez mais, o mito da

    marginalidade (SOUZA, 2000), atribuindo-se ao sujeitodespossudo o papel principal de criminoso contumaz.

    Esse tipo de construo do sujeito criminoso flagranteem todos os grandes centros urbanos, porm nota-se queessa tipologia tem se estendido para alm das grandescapitais dos estados e tem chegado a algumas cidadesde menor porte, mas que concentram certa atividadeindustrial ou comercial de uma regio.

    A ATIVIDADE TURSTICA EM SALVADOR

    O desenvolvimento da atividade turstica em Salvadorcresceu substancialmente no perodo decorrente de 1991a 2004, conforme se constata atravs dos registros dehspedes efetuados pelos meios de hospedagem, comomostra o Grfico 1.

    Ocorre no perodo uma elevao do fluxo de turistas paraa cidade, notadamente de turistas nacionais, embora se

    Se por um lado h certacomplexidade em construiralguma linha argumentativaque consiga relacionar aocrime algumas atividadeshumanas, tais como pobrezae crime, por outro, crescea estigmatizao do pobre,apontando-o como atorprincipal das barbries

    criminais [...]

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    notasse que nos anos finais do perodo observado huma ligeira queda na proporo de turistas nacionaisem relao ao fluxo de turistas estrangeiros.

    A elevao da proporo do fluxo demonstra o aumentoda atratividade pelo destino, principalmente como fruto dodeslocamento do eixo de destino proporcionado por meio

    do aumento dos conflitos internacionais decorrente dorisco eminente da atividade de terrorismo internacional.O paradoxo presente nessa suposio que o aumentodo fluxo turstico se deu em razo de uma atividade cri-

    minosa de abrangncia global, resultando em ganhospara uma instncia local. O crime enquanto atividadedanosa para certos territrios proporcionou ganhos paraoutros destinos.

    Os ganhos decorrentes da atividade turstica deveriamdespertar uma ateno mais acurada para a oferta de ser-vios mais especializados e mais eficientes para o pblicodemandante. A receita decorrente dessa atividade tornou-se crescente nos ltimos anos analisados; a infra-estruturapara a atividade turstica tambm tem sido crescente.

    O que se espera o acrscimo gradual e sucessivo demelhorias do servio de segurana pblica para garantiro desenvolvimento sustentvel da atividade.

    A necessidade de converso de maiores investimentospara o setor de segurana voltada para a atividade turs-tica na cidade de Salvador dever atender ao perfil doturismo praticado no territrio soteropolitano, bem comoem razo das maiores crticas oferecidas pela populaoque visita a cidade.

    Nacionais Estrangeiros

    Fonte: SCT/Bahia

    Grfico 1Hspedes registrados nos MHs classificadossegundo a residncia permanente

    Salvador 1991-2004

    Grfico 1Hspedes registrados nos MHs classificadossegundo a residncia permanente

    Salvador 1991-2004

    600.000

    500.000

    400.000

    300.000

    200.000

    100.000

    01990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004

    Nacionais Estrangeiros

    Fonte: SCT/Bahia

    Grfico 2Proporo de hspedes registrados nos MHs classificados, segundo a residncia permanenteSalvador 1991-2004

    Grfico 2Proporo de hspedes registrados nos MHs classificados, segundo a residncia permanenteSalvador 1991-2004

    100

    90

    80

    70

    60

    50

    40

    30

    20

    10

    01991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

    %

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    A interface da criminalidade no turismo em SalvadorARTIGOS

    O perfil global dos visitantes de Salvador, segundopesquisa realizada pela Secretaria de Cultura e Turismodo estado da Bahia, constitudo da seguinte forma:o motivo da viagem para a cidade o lazer (36,3%

    dos pesquisados), seguido de negcios/congressos/convenes (31,8%) e visitas a familiares e amigos (fre-qncia percentual de 20,1% dos pesquisados). Outrofator pesquisado foi o tipo de alojamento: a casa deamigos e parentes o local preferido para a estadiadurante a permanncia na cidade (41,9%), seguido dehotis (35,6%) e pousadas (6,9%).

    Dentro dessas duas variveis aqui evidenciadas apare-cem fatores que dificultam a aplicao de servios desegurana dirigidos para alcanar um nmero maior de

    visitantes de Salvador. O primeiro aspecto a maneiradifusa do meio de hospedagem preferencial para per-manecer na cidade, e o segundo o motivo de viagem,isto , os destinos so difusos.

    Outro resultado que aparece na pesquisa efetuada pelaSecretaria de Turismo a avaliao de servios disponveisna cidade. Dentre os servios pesquisados que recebe-ram crticas dos turistas, o servio de segurana pblicaaparece em primeiro lugar, segundo a Tabela 1.

    Dentre os diversos servios oferecidos aos turistas,evidenciam-se como os que tm maior nvel de repro-vao aqueles prestados pelo setor pblico, serviosestes que so, tambm, de primeira necessidade paraa populao residente. Nesse sentido, o turista possuia mesma percepo da populao local.

    SEGURANA PBLICA E CRIMECONTRA TURISTA EM SALVADOR

    Os crimes contra turistas apresentam dificuldades adi-cionais para seu controle ou represso. Uma delas aausncia (em alguns casos) da capacidade das vtimasprosseguirem com a ao penal em razo de no resi-direm no local da ocorrncia dos fatos. Outras so adificuldade de reconhecimento por parte das vtimas dosautores dos delitos e a descrio mais exata da localidadeonde os fatos ocorreram. Outro fator interveniente adissonncia de lngua entre as partes e as autoridadesque encaminham as apuraes dos crimes.

    O turista vtima de crimes em razo de no conhecerou no ser alertado sobre as condies da localidadeonde faz a visitao. O desconhecimento dos perigospresentes na localidade o coloca como vtima potencialde criminosos habituais que dirigem suas aes, espe-cificamente, para turistas, aumentando sua chance deser vtima de crimes que so comuns populao local.O turista carrega consigo a aparncia de ser portadorde dinheiro ou objetos pessoais valiosos (filmadoras,mquinas fotogrficas, entre outros), que servem como

    estmulo ao flagcio dos delinqentes habituais.

    Os delinqentes tm suas aes dirigidas para locaisespecficos onde, certamente, encontraro suas vti-mas. Os roteiros tursticos e os pontos de visitaoturstica, assim como os locais onde os visitantesconvergem, so ideais para ao delituosa contraturistas. Os crimes de furto, roubos, estupros e outrosso coincidentes em termos geogrficos com pontos

    Tabela 1Avaliao crtica global dos servios prestados aosturistas na cidade de Salvador 2004

    Maiores crticas dos turistas (%)

    Segurana pblica 6,5Limpeza pblica 6,1Transporte urbano 3,9Sinalizao turstica 3,8Txi 1,0Diverses noturnas 0,6

    Comunicaes 0,4Fonte: SCT/Bahia

    O turista vtima de crimesem razo de no conhecerou no ser alertado sobre ascondies da localidade ondefaz a visitao

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    ARTIGOSJoo Apolinrio da Silva

    de visitao turstica. Os aeroportos, rodovirias,portos, centros histricos, praias so reas prefe-renciais para ao de grupos que cometem crimescontra turistas.

    Embora os crimes cometidos contra turistas devessemfazer parte de levantamento diferenciado para algumaslocalidades que tm o turismo como atividade em plenocrescimento, no se v no Brasil, e particularmente emSalvador, um banco de dados exclusivo para essa fina-lidade. Embora existam estruturas policiais especficaspara atend-los, as autoridades conhecem uma parcelamuito pequena dos delitos que atingem tais pessoas.Notadamente, algumas autoridades policiais conhecemindividualmente o fenmeno, porm no se tem informa-

    es pblicas sobre a problemtica.

    Dentro deste contexto tem-se a construo de cenriosprprios para a ocorrncia de crimes contra turistas:o visitante possui caractersticas fisionmicas que odiferenciam da populao residente, suas vestimentase comportamentos indicam que no est integrado aomeio visitado, o fato de portar objetos de certo valorcomercial impulsiona os desejos dos meliantes e a ati-vidade que eles desenvolvem por estarem afastados de

    seus locais de moradia potencializa o risco de seremvtimas ideais.

    O crime contra turista promove danos imagem dalocalidade, fazendo com que a preferncia pelo destinoseja preterida em detrimento de uma instncia de lazerque oferea melhores condies de segurana para avisitao. Nunes (2004, p. 1), ao analisar o comprometi-mento do turismo brasileiro em decorrncia do aumentoda criminalidade, revela que:

    O turista precisa sentir segurana para conhecer oBrasil, desfrutar de suas belezas e trazer divisas para

    gastar aqui. Ora, ningum quer conhecer uma locali-

    dade que est sempre em conflito, ou onde a misria

    reina absoluta. O turismo um lugar para os sonhos se

    realizarem, as pessoas esperam ser bem atendidas e

    querem desfrutar de exuberantes paisagens e museus,

    sem o risco de serem assaltadas a qualquer momento.

    Claro que outros pases tambm possuem seu ndice

    de criminalidade, mas convenhamos, o Brasil tido por

    muitos estrangeiros como um lugar extico e perigoso e

    no adianta s divulgarmos o pas, se no melhorarmos

    a infra-estrutura e recepo.

    Um dos aspectos a ser analisado o quanto a populaode turistas acometida por crimes de forma diferenciadados moradores locais. Nesse sentido, o foco principaldeste trabalho investigar o nvel de envolvimento emocorrncias por parte da populao de turistas que visitaSalvador. Para efeito desta comparao, ser consideradacomo populao de turistas que ingressam em Salvadortodos aqueles que foram registrados nos diversos meiosde hospedagem (MH), cadastrados e que fizeram parteda pesquisa conduzida pela Secretaria de Cultura eTurismo da Bahia.

    Considerando o carter difuso das informaes e a baixanotificao efetuada por turistas, visto que as notificaesde furto ou roubo nem sempre so levadas ao conheci-mento da polcia. Segundo Fonseca (2005),

    Os casos de furtos praticados contra turistas, na

    maioria das vezes, no so registrados na Delegacia

    de Proteo (Deltur), porque os turistas e as prprias

    agncias de viagens preferem evitar a exposio do

    visitante aos constrangimentos em pblico. Quandoum grupo de turistas roubado, os prprios guias

    cuidam de evitar, ao mximo, os traumas que sofrem

    os visitantes simplesmente eles no voltam, diz o

    presidente do Conselho Comunitrio do Centro His-

    trico, Jos Iglesias.

    H, nesse sentido, uma subnotificao de crimes contraturistas na cidade de Salvador e, provavelmente, emoutros territrios brasileiros. O indicador mais confivelpara se avaliar se h, intencionalmente, ao criminosa

    direcionada aos grupos de visitantes na capital baiana o ndice de homicdios, j que essa categoria de crimetem notificao obrigatria, forando os guias ou asagncias de viagens a recorrerem aos corpos policiaispara efetuarem os registros.

    Um exemplo de acompanhamento de tal atividade mos-trado por Albuquerque e McElroy (1999) na Tabela 2, na qualconstam os crimes cometidos contra visitantes e popula-o residente no Caribe nos anos de 19891993.

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    A interface da criminalidade no turismo em SalvadorARTIGOS

    Por outro lado, o ndice de homicdio um dos indicadores

    mundiais para comparao de violncia contra qualquerque seja o grupo envolvido em estudos de violnciae criminalidade. Para o caso de Salvador, o ndice dehomicdio para turistas que se hospedaram na cidadeentre os anos de 1999 e 2004 se comportou de formadiscreta, conforme mostra a Tabela 3. Comparando-seos indicadores de homicdios para a populao residenteno mesmo perodo, v-se que a populao de turistastem uma vitimizao de crimes letais bem inferior aosmorados locais, o que evidencia certo grau de segurana

    nessa categoria de crime.

    A comparao de Salvador ao longo de uma srie detempo evidencia uma flutuao irregular nos perodosanalisados, restando a necessidade de se comparar comos indicadores que foram registrados em outra localidadeou a evoluo de crimes violentos contra turista, para finsde aplicao do princpio da comparabilidade.

    Embora os crimes contra turistas tenham grande

    visibilidade no meio policial, nota-se que tais delitoss tomam relevncia quando so cometidos contraturistas estrangeiros ou quando as vtimas pertencemaos estratos da sociedade que possuem maior poderaquisitivo.

    CONSIDERAES FINAIS

    O crime tem sido uma das experincias humanas que

    merecem maior ateno por parte da sociedade. Osdelitos voltados para grupos especficos da localidadeno permitem o desenvolvimento de diversas atividades,dentre elas o turismo. A economia gerada pelo turismofaz desenvolver diversos setores de uma regio. Assim,tanto os poderes pblicos quanto a populao local pre-cisam ter uma vigilncia especial para os crimes que sodirigidos no somente para a populao, mas tambmpara os seus visitantes.

    A infra-estrutura de receptivo para os turistas no deve estar

    voltada apenas para meios de hospedagem, transportee outras formas de acolhimento aos visitantes. Devemtambm ter cuidados especiais com o direito vida e liberdade, j que o turismo representa a forma mais proe-minente do exerccio da liberdade e do gozo pleno da vida.A segurana pblica deve fazer parte do quotidiano doplanejamento dessa importante atividade econmica.

    Outra necessidade urgente sobre a temtica de proteoao turista a necessidade de se informar ao visitante

    Tabela 3ndice de homicdio contra turistas que visitam Sal-vador e populao residente na cidade 1999-2004

    Ano ndice de homicdioscontra turistas

    ndice de homicdioscontra populao

    residente

    1999 0,19 31,52000 0,40 28,82001 0,39 32,62002 0,18 33,52003 0,69 40,42004 0,30 43,3

    Fonte: SISAP/IML/SSP

    Tabela 2Crimes cometidos contra visitantes e populao residente no Caribe1 1989-1993

    1989 1990 1991 1992 1993

    Murder 0 (18) 0 (30) 0 (19) 0 (19) 0 (17)

    Wounding (major) 3 (272) 0 (264) 6 (346) 5 (344) 2 (364)Rape 0 (64) 0 (71) 4 (79) 5 (85) 3 (96)Robbery 31 (153) 46 (293) 113 (549) 126 (827) 84 (641)Burglary/House breaking 215 (2202) 207 (2650) 92 (2443) 86 (2561) 108 (3342)Larcenyvehicle 61 (560) 44 (452) 25 (504) 19 (487) 11 (487)Larcenyperson 67 (221) 65 (227) 85 (335) 90 (366) 44 (209)Larcenyaccom. 218 (409) 250 (419) 232 (401) 181 (331) 202 (388)Larcenybeaches 87 (NA) 100 (NA) 63 (NA) 64 (NA) 58 (NA)1Fonte: The Royal Barbados Police Force(1994). Crimes against local residents are in parenthesesTabela extrada de Albuquerque e McElroy (1999) com o ttulo de: Serious Crimes Against Visitors and Residents

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    29Conj. & Planej., Salvador, n.161, p.20-29, out./dez. 2008

    ARTIGOSJoo Apolinrio da Silva

    quanto aos aspectos territoriais que so palco de ao dedelinqentes de um modo geral. Os agentes envolvidosno tradeturstico devem reforar o receptivo tursticocom base em planejamento conjunto com as autorida-

    des responsveis pelo servio pblico de segurana,fazendo com que haja maior esforo para a proteodos turistas.

    Nota-se a necessidade de sistematizao de coletade dados sobre a atividade criminosa que atinge apopulao de turistas de todas as regies que fazemparte dos destinos tursticos do Brasil, bem como asua socializao para fins de informao aos diversossegmentos da sociedade e aos possveis visitantes.Busca-se, assim, proporcionar maior segurana para

    todos e evitar os delitos, principalmente os graves,bem como exercer os efeitos da preveno a partir daao dos vitimados.

    REFERNCIAS

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    ARTIGOS

    Terceirizaode estabelecimentospenais na Bahia: algumas

    evidncias empricas

    * Professor NPGA (UFBA.)[email protected]

    Sandro Cabral*

    INTRODUO

    A participao de empresas privadas na proviso de servios de utilidade pblica temaumentado ao longo dos ltimos anos. Privatizaes, concesses, terceirizaes eParcerias PblicoPrivada (PPP) so algumas das alternativas utilizadas pelos gover-

    nos para a delegao de atividades anteriormente viabilizadas por agentes pblicos,tais como: eletricidade, telecomunicaes, gua e saneamento, estradas, ferroviase, mais recentemente, prises.

    A participao privada na gesto e operao de prises ganhou notoriedade a partirda experincia estadunidense na dcada de 1980. A partir desta iniciativa, pasescomo Inglaterra, Frana, Austrlia, frica do Sul e Brasil passaram a adotar soluesprivadas em resposta ao aumento da populao carcerria e de seus custos corre-latos, deteriorao das condies de encarceramento e s presses sociais parao endurecimento das penas. Os modos de interveno de atores privados variam

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    ARTIGOSSandro Cabral

    da privatizao integral do estabelecimento penal aexemplo de Estados Unidos, Inglaterra e Austrlia utilizao de estruturas hbridas de governana, com-binando a atuao conjunta no interior da unidade de

    agentes pblicos e operadores privados a exemplo domodelo francs e do modelo brasileiro, o qual reservaao Estado as atividades de direo e segurana armadada unidade.

    No Brasil, a atuao de empresas privadas na opera-o de estabelecimentos penais tem incio em 1999,no estado do Paran. Atualmente h no Pas 16 uni-dades prisionais operadas por empresas privadas,cinco delas no estado da Bahia. Pouco se sabe, noentanto, sobre o desempenho das prises operadas

    dentro desta modalidade alternativa de gesto. nessalacuna que se posiciona este trabalho, ao analisar asduas estruturas de governana, pblica e hbrida comparticipao de atores privados. Para tanto, compara-seduas prises similares, localizadas no mesmo estado,a Bahia, sujeitas ao mesmo ambiente institucionale que comungam do mesmo projeto arquitetnico,diferindo, entretanto, pela estrutura de governanaempregada. As diferenas observadas entre as duasformas de proviso so analisadas por meio dos ins-

    trumentais tericos agrupados sob a Nova Economiadas Instituies (NORTH, 1990; WILLIAMSON, 1996,1999, 2000; SHIRLEY; MNARD, 2002; MNARD, 2004)e sob a abordagem de contratos incompletos (HART;SHLEIFER; VISHNY, 1997; HART, 2003).

    O DILEMA PBLICO VERSUS PRIVADO:UMA SNTESE A PARTIR DA LITERATURADE ADMINISTRAO E ECONOMIA

    Sem qualquer sombra de dvida, a produo das cinciasadministrativas e econmicas pode ser til na anlisedas estruturas de governana do setor prisional e, porconseguinte, no desenho de polticas pblicas. Nestalinha, as prises podem ser classificadas como benspblicos puros, uma vez que as externalidades geradasso coletivas e as possibilidades de excluso de indivduosque no contribuem para a manuteno do servio soquase inexistentes (OSTROM, 1977).

    Os contedos da Nova Economia das Instituies podemauxiliar na compreenso de algumas particularidades dosetor prisional com impactos diretos sobre o desenho

    regulatrio e sobre o desempenho pblico e privado.Dentre essas contribuies destacam-se a anlise deestruturas de governana como reposta presena deativos especficos e no-reempregveis (WILLIAMSON,1996), como o caso de instalaes prisionais, e o fato deo nmero de beneficirios do servio ser, normalmente,superior ao eleitorado da regio (LEVY; SPILLER, 1994).Em adio, prises no apresentam externalidades derede e os mesmos padres de economias de escala deoutras utilidades pblicas (CABRAL; AZEVEDO, 2008).

    Sob o ponto de vista formal, quatro conjuntos de institui-es so relevantes: instituies reguladoras, judiciais,polticas e externas (SHIRLEY; MNARD, 2002). Almdisso, o papel das instituies informais no setor prisionalno pode ser ignorado. Nesta seara se incluem as regrasestabelecidas pelos prprios internos e os arranjos ilcitosentre funcionrios do estabelecimento e prisioneiros.

    Em funo da existncia dos fatores acima, esquemasde monitoramento e incentivos so extremamente impor-

    tantes no setor prisional, seja sob a gesto pblica ousob a gesto privada. Desta forma, trs componentesutilizados no desenho de estruturas de governanapara servios de utilidade pblica podem ser perfei-tamente aplicados ao setor prisional: a) assimetria deinformaes; b) estruturas de recompensas e punies;c) mecanismos de compromisso confivel entre aspartes (SHIRLEY; MNARD, 2002). Estes trs elementosmoldam as estruturas de incentivos dos atores envolvi-dos na proviso do servio.

    Geralmente os governos soos provedores dos serviosprisionais, o que implicana estrutura de governanapblica

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