cotas: uma publicação sobre o tema

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política de COTAS Trabalho para matéria de Políticas Públicas e Sociedade, minstrada por Geraldo Di Giovanni

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Montagem de trabalho dos alunos do curso de Jornalismo Científico do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universiade Estadual de Campinas (Unicamp) sobre o tema "Cotas para negros em Universidades", apresentado como trabalho de final de semestre na matéria de Políticas Públicas do prof. Geraldo Di Giovanni.

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política de COTAS

Trabalho para matéria de Políticas Públicas e Sociedade, minstrada por Geraldo Di Giovanni

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Vão-se quase 120 anos que a pena dourada da princesa Isabel Leopoldina assinava a Lei Áurea, ato que significou o fim da escravidão no Brasil, o último país a abolir a escravatura dentre as

nações livres do ocidente. Simbólica, a assinatura de Isabel foi feita em 13 de maio de 1888 e apenas oficializou o óbvio: há tempos a escravidão era in-sustentável no Brasil. A assinatura iluminada, como sugere o nome da lei, da filha do imperador Dom Pedro II, entretanto, não ajudou a incluir de forma efetiva o negro na sociedade. Ainda hoje, o fardo histórico da escravidão pesa sobre os ombros de parte da sociedade brasileira, obrigando o Estado a operar políticas afirmativas de inclusão. Dentre elas, o sistema de cotas para as universidades públicas.

Apesar de ter abolido a escravatura, a Lei Áurea não garantiu direitos fundamentais aos recém-libertos, como acesso à terra e à moradia. Negros e mulatos estavam livres, mas ainda não pertenciam, de fato, ao mundo dos brancos. “Tanto no meio rural como no urbano, a liberdade restituída com a Lei Áurea representou mais um passaporte da exclusão do que um convite à participação igual e efetiva no mundo do trabalho livre que então se inau-gurava”, sublinha o livro Racismo, preconceito e intolerância (editora Atual,

à sala de aula

Da

sen zala

2002) de Edson Borges, Carlos Alberto Medeiros e Jacques d’Adesky. Os autores acreditam que as diferenças entre negros e brancos persistem nos dias hoje.

É o que também crê o psicólogo Jaques Gomes de Jesus, Assessor de Diversidade e Apoio aos Cotistas da Universidade de Brasília (UnB). “Após a abolição, os negros não tiveram acesso ao trabalho e ao capital. Não houve condições de pro-porcionar progresso aos filhos”, explicou Jesus. Os estereótipos contra o ex-escravo mantiveram o negro nos trabalhos menos nobres e sem a condição de crescer social-mente, mantendo um círculo vicioso que ainda perdura.

Por esse motivo, o psicólogo defende o sistema de cotas raciais nas universidades brasileiras, prática que já ocorre na UnB desde julho de 2004. O sistema reserva 20% do total de vagas de cada curso aos candidatos pardos e negros. No vestibu-lar de julho de 2007, a UnB foi notícia nacional por permitir que um jovem entrasse pelo sistema de cotas e outro não. Detalhe importante: ambos são gêmeos idênticos. A partir do próximo vestibular, portanto, além de se declarar negro ou pardo e apresentar uma fotogra-fia, o candidato terá que passar por uma entrevista. Apesar do contratempo, Jesus não acredita que a definição de negro seja um grande problema.

O sistema de cotas é polêmico, mas a dis-cussão não é recente no Brasil. Tão pouco sua prática. Segundo Jesus, na época pós-abolição ocorreu um processo de eu-genia da população brasileira – o governo tratava o tema como assunto de Estado, proibindo a entrada de africanos e incen-tivando a imigração européia. “Em vários momentos da história, algumas classes foram favorecidas”, defende o psicólogo. Entre as décadas de 1970 e 1980, a “Lei do Boi” assegurava vagas em cursos de agronomia e veterinária aos filhos de lati-fundiários. Ainda hoje, filhos de militares podem entrar em universidades da região para onde seus pais são transferidos, sem

prestar vestibular. Em contrapartida, os quilombolas têm direito assegurado por lei às suas terras, mas ninguém respeita essa lei, compara Jesus. “Quando surge a discussão sobre as cotas para negros, o racismo fala mais alto”.

A expressão “ação afirmativa”, ou seja, as medidas tomadas para corrigir os efeitos acumulados de uma discriminação no passado, foi cunhada nos Estados Unidos, na década de 1960. Mas não ficou restrita àquele país, outras regiões aderiram políticas semelhantes. Na Europa, foi adotado o termo “ação ou discriminação positiva” que, em 1986, foi inclusa no primeiro “Programa de Ação para a Igualdade de Oportunidades”, na então Comunidade Econômica Européia. Muito antes disso, na Índia, o sistema de cotas era feito para garantir espaço na sociedade à casta dos párias, considerada a mais discriminada no país.

No Brasil, embora o debate tenha sido iniciado em 1945, na ocasião da Confer-ência Nacional dos Negros, as primeiras políticas de cotas nas universidades foram adotadas somente no século 21. Em 1968, houve uma tentativa do Ministério do Trabalho e do Tribunal Superior do Trabalho de criar uma lei que obrigasse as empresas privadas a manterem em seu quadro uma porcentagem mínima de empregados negros ou pardos. Mas a lei sequer chegou a ser elaborada.

Nos anos 80 outra tentativa. O deputado federal Abdias do Nascimento propôs em seu projeto de Lei (PL 1.332/83) uma ação compensatória aos afrodescendentes pelos séculos de escravidão. O PL tinha várias frentes: reserva de vagas em órgãos públicos para homens e mulheres negros, bolsas de estudos, e incorporação de uma imagem positiva da família negra no sistema de ensino. O projeto não fora aprovado no Congresso Nacional. Na mesma década, entretanto, o governo brasileiro considerou a Serra da Bat-inga, antigo Quilombo dos Palmares, patrimônio histórico nacional. E no

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centenário da abolição, 1988, criou a Fundação Cultural Palmares, vinculada ao Ministério da Cultura, com o objetivo de apoiar a ascensão cultural e social da população negra.

Na nova Constituição, também de 1988, o governo assume o conceito de reserva de mercado para setores específicos da população, o que, para muitos juristas, torna legítimo o atual sistema de cotas adotados em algumas universidades. O artigo 37 da Constituição estabelece que “a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas porta-doras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão” – ponto-chave para os defensores da constitucionalidade do sistema de cotas.

A década de 90 trouxe algumas boas notícias ao movimento negro, como a formação do Grupo de Trabalho Inter-ministerial, criado em 1995 no governo de Fernando Henrique Cardoso, para gerar políticas de valorização e promoção da população negra. Um ano depois, a recém-criada Secretaria de Direitos Humanos lança o Programa Nacional dos Direitos Humanos, que visava, entre outras metas, desenvolver ações afirma-tivas para o acesso dos negros aos cursos profissionalizantes, à universidade e às áreas de tecnologia de ponta, além de formular políticas compensatórias que promovam social e economicamente a comunidade negra.

Em relação ao acesso ao ensino superior, há uma série de projetos com diferentes propostas, nos anos 90. A maioria toca temas como: concessão de bolsas de estudo; política que assegure a presença proporcional de afrodescendentes nas es-colas públicas em todos os níveis; o esta-belecimento de um Fundo Nacional para o Desenvolvimento de Ações Afirmativas; a alteração no processo de ingresso nas instituições de ensino superior, estabe-lecendo cotas mínimas para determina-dos grupos, etc. Nenhum dos projetos, entretanto, foi aprovado.

Só nos primeiros anos do século 21 foram aprovadas as primeiras leis que separam vagas no setor público para negros. Em 2001, a Conferência Mundial contra o Racismo, realizada em Durban, África do Sul, incentivou as políticas de cotas. O es-tado do Rio de Janeiro foi pioneiro com a lei que estabelece uma reserva de 45% das vagas dos cursos de graduação das univer-sidades estaduais: 20% para estudantes de escolas públicas, 20% para negros e pardos e 5% para deficientes e filhos de militares falecidos. A Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) foram, portanto, as primeiras do País a implantar o sistema. No vestibular de inverno de 2004, a UnB reservou 20% das suas vagas aos afrodescendentes, tornando-se a primeira universidade federal a aderir ao sistema de cotas.

Para os envolvidos na batalha dos negros pela promoção da igual-dade racial no Brasil, os números

11.096/2005, 3.198/2000 e 73/1999 são bem familiares e representativos. O primeiro refere-se ao ProUni (Programa Universidade para Todos), lei aprovada em janeiro de 2005 que regulamenta a con-cessão de bolsas de estudo para alunos de universidades particulares. Para ter direito a essa bolsa é necessário ser aluno de escola pública e se enquadrar em uma série de requisitos econômicos e sociais. Os outros dois números também se referem à lei. Eles são na verdade, Projetos de Lei (PL) que tratam de questões étnicas, mas que ainda não foram aprovados pelo Poder Legislativo brasileiro.

O PL 3.198/2000, proposto pelo então deputado gaúcho Paulo Paim (PT), trata do Estatuto da Igualdade Racial, que luta “em defesa dos que sofrem preconceito ou discriminação em função de sua etnia, raça e/ou cor”. Já o PL 73/1999, também conhecido como Lei de Cotas, “institui o Sistema Especial de Reserva de Vagas para estudantes egressos de escolas públi-cas, em especial negros e indígenas, nas instituições públicas federais de educação superior”.

Projetos de Lei como esses são ações espe-cíficas para colocar as políticas públicas em prática. Mesmo sem ter sido aprovada, a discussão sobre a Lei de Cotas “estimulou instituições de ensino superior de todo o País a aprovar em seus colegiados a adoção de cotas para negros e indígenas, atual-mente praticadas por cerca de 40 universi-dades públicas”, destacou Matilde Ribeiro,

A lei das cotas vista sob o olhar das

Políticas Públicasministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEP-PIR), ligado à Presidência da República, em artigo publicado em outubro no jornal Folha de S. Paulo.

Cada política pública pode ser avaliada de diversos ângulos: um técnico (estrutura formal), outro em que os aspectos sociais são levantados (estrutura substantiva) e, por último, os meios que garantem sua execução (estrutura material).

Direitos NegaDoseNteNDa a estrutura formal Da

política De cotas.Uma política pública é sempre criada a partir de uma teoria. Cada política tem os seus objetivos específicos, mas a finalidade principal de qualquer uma delas é promover o bem-estar social. Para isso, é traçado um conjunto de práticas que permitem à população-alvo usufruir de seus benefícios. Ao mesmo tempo, essas práticas permitem ao poder público medir a penetração da política pública na população e avaliar se as metas propostas estão sendo alcançadas. Deste modo é que se configura a estrutura formal de uma política pública: teoria, conjunto de práticas, metas, objetivos e população-alvo (veja Tabela).

A política de cotas que tramita no Congresso à espera de votação tem como objetivo criar formas de inclusão de grupos étnicos historicamente excluídos da sociedade brasileira. Seu texto prevê a reserva de 50% das vagas de instituições públicas federais de educação superior para estudantes que tenham cursado

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Estrutura formal

TeoriaUma história de exclusão:• Tráfico• Escravidão• Abolição com exploração do trabalho• Desqualificação da mão-de-obra• Analfabetismo• Exclusão social

ConjunTo de práTiCas1. Reserva de 50% das vagas de instituições públicas federais de educação superior para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.2. Acompanhamento e avaliação das atividades pelo MEC e pela Secretaria Espe-cial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República.3. Revisão no prazo de dez anos, pelo Poder Executivo, do sistema especial para o acesso de estudantes negros, pardos e indígenas, bem como daqueles que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas, nas instituições de educação superior.

MeTasAinda não definidas

objeTivosInclusão de grupos étnicos historicamente excluídos no processo de desenvolvi-mento social

população-alvoEstudantes egressos de escolas públicas, em especial negros e indígenas

Estrutura formal

integralmente o ensino médio em escolas públicas, especialmente negros e índios. Incluem-se nessas práticas o acompan-hamento e avaliação das atividades pelo Ministério da Educação (MEC) e pela SEPPIR, assim como a revisão desta reserva de vagas no prazo de dez anos após a publicação da Lei.

Como o projeto de Lei que legitima a política de cotas ainda não entrou em vigor, não há a descrição das metas a serem alcançadas durante os dez anos previstos para sua existência inicial.

A teoria utilizada para a formulação da política de cotas parte da idéia de uma composição populacional brasileira cara-

cterizada pela disparidade social e racial, além da exclusão social das classes baixas e dos negros e índios. Para entender sua elaboração, é necessário rever fatores relacionados a esta exclusão.

Desde o descobrimento do Brasil, a expansão marítima européia e a coloniza-ção do novo mundo trouxeram consigo um modelo sórdido de exploração. De um lado, os habitantes indígenas locais, quando não se tornavam escravos, eram

SEGUNDO IPEA, DESDE 1929 TODAS AS POLÍTICAS UNIVER-SAIS IMPLANTADAS NO BRASIL

NÃO MUDARAM EM UM DÍGITO O DESNÍVEL ENTRE

BRANCOS E NEGROS.

dizimados ou mesmo exterminados. Do outro lado, milhares de negros foram tirados a força de sua terra para servirem aos interesses mercantis dos coloniza-dores. Durante séculos, negros e indí-genas foram subjugados. Cativos, eram proibidos de manifestar suas culturas. No século 19, a pressão externa para o fim da escravidão forçou a monarquia bra-sileira a assinar a Lei Áurea, “abolindo” a escravidão no Brasil. Agora libertos, sem moradia ou forma de sustento, estas et-nias foram obrigadas a aceitar condições de trabalho e convivência social que reproduziam a exclusão da senzala.

Mais de um século se passou e, ainda hoje, negros e índios vivem à margem da sociedade. Porém, sua representatividade no quadro social mudou, as populações indígenas voltaram a apresentar índices de crescimento. E a miscigenação criou um quadro de 46% de negros e pardos no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Juntos, são quase metade da população brasileira. No entanto, a situação de desigualdade se aprofundou e enraizou no ventre da sociedade.

Este crescimento populacional não foi acompanhado pela legislação brasileira, que inerte perante as mudanças no seu quadro social agora vem a rebote tentar resgatar uma dívida histórica com os pobres, negros e os índios por meio da implantação de políticas afirmativas para o ensino superior.

Um dos grandes problemas enfrentados pela teoria é a definição de negro. Em um país onde a miscigenação é parte do processo histórico, quem pode ser con-siderado negro? Quais características os diferenciam? Estas são questões ainda não respondidas, nem pelo IBGE, nem pela SEPPIR. Com a população indígena, a diferenciação que está sendo utilizada nas universidades é a partir da moradia: índio é quem mora em aldeia. Tal característica também não contempla a realidade atual da sociedade brasileira.

aToresOrganizações não-governamentais que trabalham com a temática da inclusão - Educafro; diferentes instâncias do governo, especialmente deputados, senadores e a ministra-chefe da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro; estudantes; universidades federais, reitores; militantes políticos.

inTeresses• Econômico: mercadológico, pois o aumento no número de vagas vai resultar em um aumento no número de pessoas com acesso ao mercado. • Político: lógica = acumulação de poder.• Reprodução social: melhorar qualidade de vida destes grupos excluídos; oportu-nidades iguais de acesso ao mercado.

regrasAs vagas serão preenchidas por uma proporção mínima de autodeclarados negros e indígenas igual à proporção de pretos, pardos e indígenas na população da unidade da Federação onde está instalada a instituição, segundo o último censo do IBGE*.* Fundação instituto brasileiro de geografia e estatística

Dentro deste contexto, por mais que a teoria seja fundamentada na existência de um grande percentual da população vivendo à margem da sociedade, ela não prevê questões fundamentais para a eqüidade social. Por isto, trabalhar com o conceito de raça num país onde todos são de alguma forma mestiços parece miopia do poder político.

Porém, as políticas alternativas prevêem que os “cotistas” sejam oriundos das escolas públicas, o que apresenta uma outra faceta da teoria, que parece dizer que o ensino público está extremamente devassado e, por isto, incapaz de formar indivíduos com chances de competir em situação de igualdade com as classes mais favorecidas da sociedade. Um estudo da Secretaria Estadual do Ensino Superior de São Paulo, em 2007, mostra que dos quat-rocentos mil alunos formados anualmente pelo ensino médio público de São Paulo, apenas 1% entram em universidades públicas. Isto mostra a baixa qualidade do ensino público e/ou prova que o vestibular estipulado pelo poder político para as uni-versidades públicas é injusto e não verifica a capacidade do indivíduo, e sim sua preparação para a prova, o que favoreceria novamente as elites que têm como pagar cursinhos pré-vestibulares para seus filhos.

O acompanhamento dos candidatos do PAAIS (Políticas de Ação Afirmativa de Inclusão Social), realizado em 55 cursos, mostrou que em 31 deles os alunos do PAAIS obtiveram desempenho superior ao demais. Este estudo serve para pensar se o problema está unicamente na qualidade do ensino ou também na forma de acesso às universidades públicas do país.

eNteNDa a estrutura substaNtivaUm olhar sob os aspectos sociais da política de cotas pode ser detalhado por meio da estrutura substantiva, que envolve atores, interesses e regras.

atoresToda política pública parte da percepção de carências e de pressões sociais: conflito

entre um novo problema e uma velha solução. A Lei de Cotas parte da extrema desigualdade social e racial da sociedade brasileira, e surge por pressão e acordos entre diferentes atores sociais. Vale ressaltar as Organizações não-governamentais que trabalham com a temática da inclusão; principalmente a Educafro; o Movimento Negro Universitário; diferentes instâncias do governo, especialmente deputados, senadores e a SEPPIR; estudantes; uni-versidades públicas e privadas; militantes políticos, que também entraram no debate apresentando seu ponto de vista e sua proposta para criação e implantação desta política pública.

iNteressesNa formulação de políticas públicas exis-tem interesses que por vezes se completam e por vezes se conflitam. Eles atuam em âmbitos diferentes da questão central da política, mas todos pretendem garantir que seus interesses sejam considerados. São eles:

econômico: Para o governo aumentar

o número de vagas nas universidades públicas existe a necessidade de aumentar as verbas destinadas a estas vagas, visando garantir que este novo grupo de alunos possa ter auxílio moradia, alimentação e estudos. A longo prazo, o mercado enxerga que o aumento no número de vagas pode resultar em um aumento no número de pessoas com acesso ao mercado. político: Ao mesmo tempo em que existe o interesse político de atender às necessidades da população e promover a eqüidade social, a lógica deste interesse é a acumulação de poder. Além disso, a políti-ca de cotas pretende cumprir o compro-misso assumido pelo Brasil na Convenção Internacional Sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial da Or-ganização das Nações Unidas, em 1967.

Uma vez que o público-alvo da política de cotas constitui quase metade da população brasileira, parece indiscutível que tanto situação quanto oposição pretendem usar esta bandeira para conseguir votos e cargos no governo. Por este motivo, grande parte

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A história do vestibular no Brasil remonta 1808 quando foram instituídos os exames

preparatórios para os cursos superi-ores existentes no país. Entretanto, a admissão ao processo de preparação era privilégio dos colégios de elite, onde o aluno podia optar entre uma formação nas áreas humanas, biológi-cas ou exatas. Nas escolas públicas as opções eram o curso normal e o magistério. A partir de 1911, o exame de admissão é regulamentado por lei e em 1915 as provas de admissão passam a serem chamadas de “vestibu-lares”.

Já nos anos 60 é criada a fundação Carlos Chagas para seleção de can-didatos em São Paulo. O número de estudantes que atingiam notas míni-mas, mas não conseguiam vagas nas

Excesso e

Cotas

breve momento tiveram um acesso mais amplo para a população. A in-stituição das notas máximas e de uma fase eliminatória foi determinante para uma nova elitização do acesso ao ensino superior gratuito, frente à acentuada deteriorização do ensino público.

Algumas políticas públicas recentes, entretanto, tentam diminuir ou amenizar essa distância. Uma delas é a política atual de cotas, iniciativa federal que dá direito aos alunos que se declaram negros ou índios a um vestibular diferenciado concorrendo em pé de igualdade a uma parcela do total de vagas das universidades.

vestibular eNtre cotistasEntre os exemplos de vestibular de cotas nas universidades federais, podemos citar os da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Fed-eral da Bahia (UFBA). A UnB reserva 20% das suas vagas para alunos negros que alcançarem as notas mínimas no vestibular. No caso de indígenas, a vaga poderá ser solicitada (são previstas 20 vagas anuais que poderão ser solicitadas do total de 3900 alunos ingressantes todo ano).

No caso da UFBA o vestibular é dividido entre duas grandes categorias que não concorrem entre si, sendo 45% das vagas disputadas entre alunos oriundos da escola públicas, negros e índios. Em ambas as categorias existe o sistema eliminatório em primeira fase, nota de corte e classificação por nota máxima, porém calculadas diferentemente. No caso dos cotistas a nota de corte se dá pela média das notas gerais dos vestibulandos cotistas e posteriormente pela classificação por nota máxima. Entretanto no sistema da UFBA existe uma sutil diferença em relação a outros vestibulares: alunos cotistas que obtêm a nota de corte necessária para o vestibular não-cotista são automaticamente avaliados

nessa categoria, aumentando as vagas de alunos cotistas.

ação afirmativaApesar da legislação atual prever uma cota mínima de vagas nas universi-dades públicas para alunos oriundos da escola pública, negros e índios, a maioria das universidades estaduais de São Paulo se negam a adotar o sistema tradicional de reserva de vagas. São exceções USP, Unicamp e Unesp encamparam a idéia de “ação afirma-tiva” defendida por Leandro Tessler, da Comissão para Vestibulares da Unicamp (Convest), como “a criação de mecanismos de seleção nas quais as chances de sucesso de todos sejam tão semelhantes quanto possível.” Para Leandro, a confusão entre ação afirm-ativa e cotização do vestibular não deve ocorrer, pois ambos são formas de ações afirmativas positivas, porém o que ocorre no Brasil é a ênfase da discussão na cotização do vestibular.

No caso de USP e Unicamp, a ação afirmativa se dá via pontuação mínima inicial, onde candidatos que se declarem oriundos de escolas públi-cas, negros ou índios recebem pontos iniciais (no caso da Unicamp, 20 pontos para alunos oriundos das esco-las públicas e 10 pontos para negros e índios). Além disso, as três universi-dades mantêm projetos de cursinhos pré-vestibulares para alunos carentes e programas de permanências para alunos já regulares (como moradias, bolsas-auxílio e bolsas para compra de material escolar), além da exclusão da taxa paga para o vestibular.

Entre as universidades estaduais, a que tem o programa de ação afirmativo mais pífio é a Unesp, que além de não manter uma política de inclusão no vestibular, possui um programa de permanência que atende por volta de 1.400 alunos de um total de 33.000 alunos matriculados em seus vários campi.

universidades públicas gera protesto da população. É nessa época que se institui o sistema classificatório por notas máximas.

Em 1976, seis anos após a criação da Comissão Nacional do Vestibular, a Universidade de São Paulo (USP) unifica seus vestibulares e cria a Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular) que também avaliava outras instituições estaduais como Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp), e a partir de 1994 a primeira fase do vestibular passa a ser eliminatória.

A partir de um breve histórico do vestibular percebe-se que as univer-sidades públicas no Brasil nasceram para as elites econômicas e por um

Fontes

- Site Câmara dos Deputados – Leis e Projetos de Lei

http://www2.camara.gov.br/proposicoes

- Site Educafro - http://www.educafro.org.br/

- Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade

Racial (Matilde Ribeiro), órgão de assessoramento à

presidência, com status de ministério. http://www.

planalto.gov.br/seppir/

da discussão fica focada na questão racial, mais polêmica, quando antes de tudo o projeto prevê reservas de vagas para alunos oriundos das escolas públicas.

da reprodução social: A política de cotas trouxe à tona questões sociais profundas, como o preconceito, a desigualdade social e o racismo. De um lado, a elite se agita na defesa de sua posição, pois se sente ameaça-da no direito à universidade pública. De outro, a população carente enxerga uma possibilidade de mobilidade social e par-ticipação política, que podem ser alcança-das através do acesso ao conhecimento e das novas oportunidades que podem surgir com a conclusão do ensino superior.

regrasAs regras organizam como determinada política pública irá acontecer, indicando as condições necessárias para que a popu-lação-alvo usufrua adequadamente dos benefícios propostos pela política.

No caso da Lei de Cotas, a principal regra diz respeito à ocupação de vagas nas universidades públicas: estas serão preenchidas por uma proporção mínima de autodeclarados negros e indígenas igual à proporção de pretos, pardos e indígenas na população da unidade da Federação onde está instalada a instituição, segundo o último censo do IBGE. O candidato à vaga deve ter realizado todo ensino médio em escola pública.

No entanto, como a Lei ainda não foi votada, cada universidade está utilizando um padrão de regras diferente, mas todas preservam as especificações principais de escolaridade e raça.

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EntrevistaUstissequat. Rat wissisl

iureet, core vel et, susto ex euip essi tie vel utpat, se-

quis dolor in exeros diam zzriurem essectem quisi.Igna atet wissecte velenim velenim nonsequatem il utpatem volobore etum quat. Ut autat iure euguerat lumsandit wisl ulputem velit erci-duipsum dolor in volorer cidunt del in exercin ver alisci tat alit, secte feum num del eugiatie eugue conse essi.Rosto do exeraessis at nonsendit nosto odio od et ad tatetue raesent vullam, quat vel utpat. Put nibh er in hendre duiscin hent iriuscing ea aci blamcon sectem iurem do do ex esequi et, conse magna facipit, veli-

qui bla facip et ip et lum eu feugait aliquip sustrud moloreriurem dolor alis dignim nibh eum illa am alit diam inis nos nummy nit aliquat. Erat.Doleniscil ercip etum quatie magn-im ver alit la commy nit wismolor-per augiam irilisl ut wis autat, consectem nullam, quiscinim eu feum vulputat. Ut veril ea commy nummy nulput veros aci blaore con henisi.Te min ulputem zzrilit ilit nit la consectetue el in velesse ndrero eugait wis nonsed eum ipit aliquat.Ecte mod tation eum zzriusci-dunt utet ullandrem quamcorer sequipit accum quis nisi essit nim acidunt iril dunt amconsectem inis

nulputat, con vel dolore facidunt accumsan ero odio etum vel ipit amcon vel ullum velit acing et praessi.Guer ad tat. Lore dolor ad minibh et wismodolore feuiscilis num init volorem veriliqui blam, vel di-amet volortis ad dit ilissit, suscilisi el ipsummy niscillam nim nissi ea am quam volore enisl incilla augait lum ipsum quam, conulpu tatuero commolortin et wisl do er at eugait, sum ipsum dolent ilisl doloreetue delisi tatetue rcidui bla con ullam dolessis am zzrit incin velenim aci exer aliquat wisit illam delenit utem vel euismod modo consecte faccumsandip eugiamet, quate do exer sectem ing euis at,

sequat. Elit alismod euis acincili-quis ex exero commy num dolup-tatum aute tisi exerili quamcon vendigna augue conum veliquat, vulla ad minisis modipsusto dui tissim in utpatet wis adipit volore tionsen dionsed magna faci tatis-molenit nisl in utat praessi blam veliquissim zzriure dolorperit, vero exeriusci blaorpe rcilit prat. Ut vel iril eugueros dolutem ing ercipis dit vel irit diam ipit, velesse velis dignism olorero odio ea facidunt ad delit velenim aciduis dit vent vel dolore dolorpe rcilisi blaortin hent ipsustie commy nos adipisi.Odiamconum nisim acinibh ese do dolore vulluptat. Ut er iusci et lan vullaor sisit vulputpat.At. Cum quis autate vel dolore vul-lam eum eummy nos nostisl utpate dionullan exeros do enit augiat. Duisim irit wis alit, core conulla at.Vullan et, sum nibh ero esendre consed molorpercin henim alit, consed min ullutatie tis nullandio odipsuscilit aut lut vullummodo cortionsecte tionsequam zzrilit num irit praestin et iriuscil ullum in ea consenibh erit delent adio do-lortio euguerit, quam, sendre ming esent ex ex er sequamcommy nim illutat nim do core dolorpero do od ese consequisim in henis nulputp atisit, voloreet, quissi.Iquam erilla faccum vel dit lore duipiscing ese dolorpercil do odo-lent dolore dolorem zzrit wissendio odo dolor sed dolortisl ilit eriuscil dolortionsed deliqui ssequatin volupta tummodolore velisis nibh ex et ver summy nonsecte tat. Ut dionullut veliquisl dit lobore tio odolobor sed dolendipsum delisl ullute vero

Page 7: Cotas: uma publicação sobre o tema

O estabelecimento de cotas nas universi-dades públicas para estudantes oriundos do ensino público, em especial negros

e indígenas, tem causado um grande debate entre intelectuais, professores, políticos e represent-antes da sociedade. São muitos os que apresentam argumentos contrários à instituição das cotas, mas são os argumentos favoráveis que têm ganhado mais visibilidade na mídia, à medida que a opinião pública se manifesta mais receptiva a essa idéia.

Exemplo disso é a pesquisa realizada entre os dias 17 e 18 de julho de 2006 pelo Instituto Datafolha, que ouviu 6.264 pessoas, maiores de 16 anos, em 272 municípios brasileiros. Segundo a pesquisa, 65% dos que responderam às questões se mostra-ram favoráveis à destinação de 20% das vagas em universidades públicas do Brasil aos alunos egressos de escolas públicas, especialmente negros e indíge-nas. Esse número revela um ponto importante para a afirmação dessa medida como política pública, pois o apoio da população, ampliando e intensifi-cando o debate sobre a questão, tende a aumentar, ainda que esteja longe de atingir unanimidade. Por outro lado, entre os intelectuais que argumentam a favor e contra o estabelecimento das cotas, a divisão tem se apresentado de maneira mais equilibrada.

Pouco antes de sua morte, em 2004, Norberto Bobbio, filósofo e historiador italiano, declarou que a introdução artificial de discriminações e o desfavorecimento da classe rica são medidas to-madas com o fim de colocar indivíduos desiguais por nascimento nas mesmas condições de partida. “Desse modo, uma desigualdade torna-se instru-mento de igualdade pelo simples motivo de que corrige uma desigualdade anterior: a nova igualdade é o resultado da equiparação de duas desigualdades”, escreveu o filósofo. Esse pensamento compartilhado por representantes de organismos internacionais importantes com forte presença no Brasil, como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), revela uma tendência em ascensão no país.

Edna Roland, coordenadora do programa de Com-

bate ao Racismo e à Discriminação Racial da Unesco, afirmou, ainda em 2003 quando a UnB decidiu reservar 20% das vagas do vestibular para negros e indígenas por um período de 10 anos, ter a expectativa de que a ação se tornasse modelo para uma guinada histórica, transformando as universidades em instrumentos de integração e não mais de exclusão. Em artigo publicado à época no jornal Correio Brasiliense, ela considerava cautelosa a proposta da UnB, ao propor a reserva de vagas de 20% e a revisão da experiência após 10 anos. “Sabemos que os afrodescend-entes constituem 45% da população brasileira. O alcance de 20% dos universitários negros está longe da proporção a que se deveria chegar, caso não houvesse qualquer forma de discriminação, mas, sem dúvida, já é um bom caminho se comparar-mos com os minguados 2% atuais. Sabemos também que 10 anos não é tempo suficiente para reverter os efeitos da secular discriminação contra esta parcela da população, mas é um prazo razoável para se avaliar os efeitos das medidas e a necessidade de ampli-ação do programa, caso ele se mostre insuficiente para promover a efetiva igualdade racial”. De acordo com ela, a medida recebeu total aprovação e in-centivo do órgão das Nações Unidas.

Da mesma forma, Mario Sergio Cortella, professor da PUC-SP e ex-secretário da Educação de São Paulo na gestão da prefeita Luiza Erundina, acredita que a medida, além de necessária, provoca uma discussão na sociedade que pode revelar muito mais do que a inserção das minorias raciais nas universidades. Segundo ele, o racismo brasileiro “só vem à tona

em momentos em que a negritude ameaça o espaço do indo-europeu. No Brasil, essa convivência existe, mas há a suposição de submissão dos negros. Nós somos apenas a quinta geração depois da abolição da escravatura. Os bisavôs de muitos de nós vivenciaram a escravatura, o que significa que existe um certo costume de imaginar os negros em funções subalternas. Se é subalterno, não disputa espaço. A eficácia das cotas aparece aí”.

Para ele – que já foi contra as cotas por não achar o vestibular discrimi-natório, mas mudou de opinião ao analisar seu papel no futuro das universidades brasileiras – a medida é importante por fomentar a discussão sobre a cidadania coletiva, qualificar as políticas afirmativas, refinar os critérios para implantá-las e obrigar o debate sobre as vagas nas universi-dades públicas. “A temática das cotas desnuda uma série de dissimulações que existe em nossa estrutura de ensino superior. Depois de algumas pesquisas, a Unicamp e a PUC-SP chegaram à conclusão de que os de melhor nota no vestibular não são necessariamente os de melhor desem-penho universitário. Quase sempre os mais competentes foram os que tiveram melhores redações”.

Não às cotas!Embora esses exemplos mostrem o quão importante pode ser o estabel-ecimento das cotas, representantes de instituições ligadas às universidades, incluindo ensino, pesquisa e extensão, posicionam-se contra a instituição das cotas. José Goldemberg, que já foi reitor da USP e secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, além de secretário de Ciência

e Tecnologia e ministro da Educação, durante o governo Collor, acredita que o sistema não passa de modismo. Para exemplificar, cita o conhecido exemplo dos Estados Unidos, onde as cotas fo-ram instituídas há décadas e, segundo sua análise, não funcionaram. “Nos Estados Unidos, a escolha dos alunos pelas universidades é feita por um conselho de professores, que analisa o currículo e as notas dos candidatos, desde o ensino primário, diferente-mente do Brasil, onde existe o sistema de vestibular, que é menos subjetivo”.

De acordo com ele, enquanto nos Estados Unidos cada universidade tem seus próprios critérios para a escolha de seus alunos, o que ajuda a manter os padrões estabelecidos individualmente pelas instituições, no Brasil, a medida vai degradar o nível das universidades públicas. Para o ex-ministro, a medida desrespeita a autonomia universitária, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e a própria Constituição, que prevê, em seu artigo 206, “igualdade de condições para o acesso em estabelecimentos oficiais”. Outro ex-titular da pasta da Educação, Paulo Renato Souza, tam-bém se posiciona contrário à medida, que classifica como populista. Em diversos momentos, publicou artigos na imprensa, em jornais de grande cir-culação, argumentando que o sistema é inócuo, pois é feito, em sua opinião, sem conexão com a melhoria da escola pública. Para ele, um cursinho pré-vestibular para alunos carentes seria mais justo, pois poderia levá-los a uma igualdade de condições nos vestibulares, em relação aos alunos de escolas particulares. Por conta de seus argumentos, foi chamado de elitista pelo ex-ministro da Educação e atual

Debate levanta prós e contras do sistema de cotas

Page 8: Cotas: uma publicação sobre o tema

PRÓS

ConstitucionalidadeHistoricamente, o Brasil sempre tratou os negros

de forma desigual, negando-lhes oportunidades de acesso à educação e mercado de trabalho, entre outros, o que só agravou a situação de injustiça

racial presente na sociedade brasileira. O sistema de cotas ajudaria a reverter essa condição de

desigualdade.

JustiçaEm termos de ascensão social, pobres e negros têm menos condições de melhorar de vida e participar

das benesses do sistema econômico e social. O sistema de cotas poderia ajudar a reduzir essa desigualdade e até mesmo a exclusão social, já que apenas 2,5% dos negros chegam à universi-dade, enquanto 7% dos brancos têm acesso aos

cursos superiores.

Qualidade do ensinoComparativamente, as notas obtidas por estu-

dantes cotistas e não-cotistas em universidades pú-blicas não mostraram, até o momento, diferença de desempenho, com tendência de melhores resulta-dos aos alunos cotistas, em casos mais recentes.

ministro da Justiça, Tarso Genro, um dos proponentes do projeto que instituiu o sistema de cotas.

Igualmente contrário às cotas, mas menos radical que Goldemberg e Souza, o filósofo José Arthur Gian-otti, da USP, defende a criação de um fundo para garantir a entrada dos estudantes das classes mais baixas ao ensino superior. Segundo ele, é preciso respeitar a diversidade existente entre as instituições que possuem diferenças regionais e abandonar a idéia de que a universidade, numa única unidade, terá ensino, pesquisa e extensão. Em-bora se mostre favorável às chamadas

ações afirmativas de uma forma geral, ele acredita que o acesso dos estu-dantes negros ao ensino superior deve ser feito de forma homogênea aos brancos, conforme declarou à agência Brasil, durante palestra em Brasília a cerca da reforma universitária. “Sou contra as cotas das universidades, mas acredito que a criação de um fundo possa trazer o estudante das classes mais baixas para dentro das institu-ições”, considera.

Nesse momento, pode-se perceber que, em torno da institucionalização das cotas nas universidades públicas brasileiras, mais do que uma divisão

ideológica há uma divisão político-partidária, visto que alguns dos mais proeminentes pensadores que têm se manifestado sobre a questão estão ligados ou ao governo do ex-presidente Fernando Henrique ou ao governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva. Essas relações, embora não cheguem a desqualificar seus argumentos, devem ser levadas em consideração em uma análise sobre quem diz o quê, para que suas idéias não sejam vistas como simples mani-festações intelectuais, mas como pos-turas políticas que, fatalmente, tentam exercer influência na firmação ou não do sistema de cotas, ante a opinião pública e como política de Estado.

CONTRAS

InconstitucionalidadeAs cotas feririam o princípio constitucional de

que todos são iguais perante a lei e que devem ter igualdade de condições para o acesso em

estabelecimentos oficiais.

Injustiça Como não existe meio científico para comprovar a origem racial de uma pessoa, as cotas para

alunos negros e indígenas poderiam causar situ-ações de injustiça, pois a autodeclaração racial poderia ser usada de modo apenas a beneficiar

alunos interessados em concorrer por vagas dentro do sistema de cotas, em detrimento dos

demais concorrentes.

Qualidade do ensinoO sistema de cotas permitiria a entrada nas uni-versidades públicas de alunos despreparados, que não passariam no vestibular normal, o que faria cair o nível do ensino nas universidades

públicas.

Prós e contrasEntre os que defendem e os que atacam a política de cotas nas universidades,

destacamos alguns de seus principais pontos

Page 9: Cotas: uma publicação sobre o tema

discentes(em ordem alfabética)

Camila Salles

Cassius Guimarães

Cristina Caldas

Diego Freire

Enio Rodrigo Barbosa Silva

Murilo Alves Pereira

Luiz Paulo Juttel

Roberta Tojal

Samuel Antenor