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VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais
25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
CORRELAÇÕES ENTRE OS ATRIBUTOS CLIMÁTICOS E A MORBIDADE
HOSPITALAR POR DOENÇAS ISQUÊMICAS DO CORAÇÃO NA CIDADE DE
JOÃO PESSOA-PB
GABRIEL DE PAIVA CAVALCANTE1
MARCELO DE OLIVEIRA MOURA2
DAISY BESERRA LUCENA3
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo verificar o grau de associação entre as
médias mensais dos atributos climáticos (insolação, temperatura máxima do ar, dias com
precipitação e umidade relativa do ar) e as taxas de internações hospitalares por Doenças
Isquêmicas do Coração entre pacientes idosos residentes na cidade de João Pessoa no
período entre 2000 a 2013. Utilizou-se o Coeficiente de Correlação de Pearson para
obtenção dos coeficientes de correlação entre as variáveis, seguido da aplicação do teste t
de Student para a verificação de significância estatística dos coeficientes. Constatou-se que
as médias mensais dos atributos climáticos não produziram um impulso de natureza
ambiental no aumento ou na diminuição da morbidade hospitalar por Doenças Isquêmicas
do Coração entre os pacientes idosos.
Palavras-chave: Clima e saúde, Doenças Cardiovasculares, Idosos.
ABSTRACT: This article aims to verify the degree of association between the monthly
averages of climatic attributes (insolation, maximum air temperature, days with precipitation
and relative humidity) and hospitalizations occurred for Ischemic Heart Diseases among
elderly patients in the city of João Pessoa for the period 2000 - 2013. We used the Pearson
correlation coefficient for obtaining the correlation coefficients between the variables,
followed by the application of the Student t test for verification of statistical significance of the
coefficients. It was found that the monthly averages of climatic attributes did not produce an
environmental boost in increased or decreased morbidity for Ischemic Heart Diseases
among elderly patients.
Key - words: Climate and Health, Cardiovascular Diseases, Elderly.
1 Graduando do curso de Bacharelado em Geografia na Universidade Federal da Paraíba. Bolsista de Iniciação Científica – PIBIC/CNPq/UFPB. E-mail de contato: [email protected]. 2 Professor Adjunto do Departamento de Geociências da Universidade Federal da Paraíba. E-mail de contato: [email protected]. 3 Professora Adjunta do Departamento de Geociências da Universidade Federal da Paraíba. E-mail: [email protected].
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1 - Introdução
O estudo dos tipos de tempo e do clima e sua relação com estado de saúde e de
doença das populações não é assunto novo nas produções científicas do país, visto que, tal
discussão surgiu no Brasil nas primeiras décadas do século XX de forma atrelada às
primeiras discussões acerca do clima em sua essência integral ou puramente
natural/determinista (SANT’ANNA NETO, 2015). Nas duas últimas décadas surgiu uma
preocupação no mundo acadêmico acerca da relação entre as variáveis climáticas e a
incidência de doenças crônicas, preocupação que seu deu devido às projeções das
mudanças climáticas globais, mas também por conta das alterações do clima das cidades e
dos hábitos contemporâneos da população. As cidades cresceram e o modo de vida da
população mudou com o passar dos anos, com adoção de um estilo de vida sedentário e
maus hábitos alimentares. Concomitante a isso, com a evidência das mudanças climáticas,
aumentou a preocupação dos pesquisadores acerca dessas novas condições ambientais
sobre o estado de saúde e de doença da população.
A análise das relações entre as variáveis climáticas e a morbimortalidade por
doenças crônicas, a exemplo das doenças cardiovasculares e respiratórias, em especial,
nos espaços urbanos, tem sido pauta de investigação nos grandes centros de pesquisa do
mundo (BESANCENOT, 2002; WHO, 2004; MCMICHAEL et al., 2008), uma vez que fatores
como temperatura e umidade do ar afetam diretamente a população, causando sensação de
desconforto térmico e agravando algumas doenças pré-existentes através de variações
fisiológicas consideráveis (PEREIRA et. al., 2011).
As variações fisiológicas, entre outros fatores, podem ser anunciadas por períodos
térmicos extremos e ocorrem mais facilmente em pessoas idosas. A fragilidade fisiológica
dos idosos, seguida, frequentemente, de polipatologia, e a sua incapacidade progressiva de
assegurar uma termólise eficaz é uma das razões que explica sua vulnerabilidade frente aos
riscos climáticos térmicos de natureza extrema (BESANCENOT, 2002).
As Doenças Cardiovasculares - DCV, sobretudo, o grupo das Doenças Isquêmicas
do Coração, grupo que engloba o Infarto Agudo do Miocárdio, tipo de patologia que de
acordo com Besancenot (1986, 2001, 2002) é por excelência uma doença
meteorossensível, são as doenças cardíacas que têm mais relação com as variáveis
térmicas. Dessa forma os portadores de DCV podem apresentar um quadro de agravo
(internação hospitalar e até mesmo de óbito) disparado por eventos térmicos extremos do
ar.
A cidade de João Pessoa vem registrando uma tendência, que também é nacional,
de aumento da proporção de idosos sobre a população geral, o que acarreta em uma
demanda cada vez maior do poder público no que tange à disponibilidade de serviços de
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saúde mais isonômicos, especializados e com capacidade de atendimento. Em 2000, 8,14%
da população de João Pessoa era composta por idosos; tal proporção aumentou para
10,31% no ano de 2010, ou seja, um aumento de 2,17% da população idosa, valor
demográfico que significa, em números absolutos, um aumento de 25,9 mil idosos em um
intervalo de 10 anos (IBGE, 2015). Fica evidente, desta forma, a necessidade iminente de
adequação da rede hospitalar para o atendimento desse grupo populacional.
De acordo com os dados disponíveis no DATASUS (BRASIL, 2015), no intervalo
entre os anos de 2000 e 2013, as DCV (Classificadas pela 10ª Revisão (CID 10) da
Classificação Internacional de Doenças como Doenças do Aparelho Circulatório : Capítulo
IX, sob o código I00 – I99) representaram a quarta causa de morbidade hospitalar para a
cidade de João Pessoa, com registro total de 51.852 internações, desse montante 27.107
internações foram efetivados por idosos (52,27% do total). Para o grupo de Doenças
Isquêmicas, foram registradas 5.139 internações, sendo o Infarto Agudo do Miocárdio a
quarta causa de internações entre os idosos (1.262 internações), e Outras Doenças
Isquêmicas do Coração (3.877 internações), a terceira, também entre os idosos.
Com base na conjuntura apresentada, definimos como objetivo central deste artigo:
verificar correlações, em escala mensal, entre os atributos climáticos e a morbidade
hospitalar por doenças isquêmicas do coração de pacientes idosos, residentes e atendidos
em hospitais públicos e conveniados ao SUS na cidade de João Pessoa-PB no período
entre 2000 a 2013.
2 - Material e Métodos
Na verificação das correlações entre as variáveis meteorológicas e a morbidade
hospitalar por DCV duas abordagens são necessárias: a climática e a epidemiológica.
2.1 - Dos atributos climáticos
Realizou-se um estudo exploratório da série mensal, 2000 a 2013, da insolação, dias
com precipitação, umidade relativa do ar e temperatura máxima do ar. Como as alterações
fisiológicas nos idosos são mais sensíveis através das temperaturas máximas do ar, visto
que o conforto térmico é fator essencial para o bem-estar da pessoa idosa, tal atributo foi
escolhido para a análise climatopatológica. Assim, para a identificação e a caracterização
das temperaturas máximas do ar em seus registros mensais foram executadas as seguintes
etapas: 1) Obtenção dos dados históricos no Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e
Pesquisa - BDMEP do Instituto Nacional de Meteorologia - INMET da Estação Meteorológica
de João Pessoa; 2) Confecção de tabelas no ambiente do Microsoft Excel 2010 (Microsoft
Corporation), no formato de planilhas eletrônicas, para a sistematização da base de dados e
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verificação de falhas da série, além da tabulação dos dados e 3) Cálculo da média mensal
das temperaturas máximas do ar.
2.2 - Da morbidade hospitalar
Os dados de morbidade hospitalar foram obtidos através do Departamento de
Informática do SUS (DATASUS). Foram coletados os registros de internações mensais, do
período de 2000 a 2013, de pacientes residentes e atendidos em hospitais públicos e
conveniados ao Sistema Único de Saúde – SUS na cidade de João Pessoa.
Neste trabalho, serão analisados os registros de internações de Doenças Isquêmicas
do Coração em pessoas idosas. De acordo com a literatura, esse grupo de patologias
cardíacas é um dos que mais têm relação com as variáveis climáticas (BESANCENOT,
2001, 2002; PAIXÃO; NOGUEIRA, 2003; MURARA; COELHO; AMORIM, 2010; PEREIRA et
al., 2011; MOURA, 2013, 2015).
Após a obtenção dos dados hospitalares foram executadas duas etapas, a saber: 1)
Processo de tabulação dos dados mensais de internações hospitalares por DCV, com filtro
para os dois grupos de doenças isquêmicas do coração (Infarto Agudo do Miocárdio e
Outras Doenças Isquêmicas do Coração, código I20 a I25) e 2) Cálculo da Taxa de
Internação ou Taxa de Morbidade por 10 mil habitantes (Equação 1) para todos os meses
do período de 2000 a 2013, conforme sugestão de Lima, Pordeus e Rouquayrol (2013):
Taxa de Morbidade = Nº de casos de uma doença
população x 10.000 (1)
2.3 - Dos recursos estatísticos para análise das correlações
Os dados das variáveis climáticas, juntamente com os dados epidemiológicos, foram
submetidos à análise por meio do Coeficiente de Correlação de Pearson (r), que identifica o
grau de relação mútua entre duas variáveis. Com valores entre +1 e -1, as correlações mais
próximas desses valores são consideradas como Fortes, sendo que +1 é uma correlação
proporcional perfeita, -1, uma inversamente proporcional perfeita e 0, correlação nula.
(FIGUEIREDO FILHO; SILVA JÚNIOR, 2009 e GALVÃO et. al., 2015). No que diz respeito à
avaliação da significância de tais correlações, será utilizado o teste t de Student. Neste
teste, para que a correlação seja significante, o valor de t deve ultrapassar os valores
críticos de significância. Assim, a hipótese de H0 é rejeitada e a correlação é
estatisticamente significante (TRIOLA, 2008).
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3 - Resultados e Discussão
Foram abordados, em escala mensal, os atributos climáticos que consideramos
possuir maior potencialidade de interferência na morbidade hospitalar por DCV entre idosos:
total de horas de insolação, dias com precipitação, umidade relativa do ar e temperatura
máxima. Este último atributo, segundo a literatura, é o que mais exige capacidade de
resposta do organismo humano, causando desconforto térmico, especialmente nos idosos.
A prancha 1 mostra a distribuição mensal dos atributos climáticos durante o período de 2000
a 2013.
Prancha 1 – Distribuição mensal dos atributos climáticos na cidade de João Pessoa, 2000 a 2013.
Fonte: BDMEP/ INMET, 2014. Elaboração: Gabriel de Paiva Cavalcante.
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A distribuição das variáveis apresentadas na Prancha 1, deixa claro o padrão
habitual sazonal dos atributos climáticos na cidade, não obstante, também se observa que
algumas médias mensais, principalmente, as médias das temperaturas máximas do ar
(Gráfico D da Prancha 1), apresentam comportamento fora do habitual, a exemplo das
temperaturas registradas no ano de 2010, o único ano da série a registrar um período com
temperaturas acima dos 32,0°C, como registrado no mês de março de 2010 com média de
32,5°C.
Os dados mensais de insolação, dias com precipitação e umidade relativa do ar
(Gráficos A, B e C da Prancha 1) mostram variabilidade dentro dos padrões habituais, isto é,
com ocorrência de médias mais elevadas de dias com precipitação e de médias de umidade
relativa do ar durante os meses mais chuvosos na cidade, de abril a julho, bem como
ocorrências de médias mais elevadas de insolação nos meses mais quentes e secos, meses
de setembro a fevereiro.
3.2 - Perfil da morbidade hospitalar por DCV
No intervalo entre 2000 e 2013, foram registradas 582.359 internações de pacientes
residentes na cidade de João Pessoa (DATASUS, 2015). A tabela 1 mostra a taxa média da
morbidade hospitalar, por capítulos de doenças da CID -10 e por sexo, dos pacientes
residentes em João Pessoa no período de 2000 a 2013. A tabela 1 também informa o
ranking das taxas médias das doenças entre homens e mulheres.
*Taxas por 10.000 homens e 10.000 mulheres.
Tabela 1 – Taxa média da hospitalização em João Pessoa, 2000 a 2013 Fonte: DATASUS, 2015. Elaboração: Gabriel de Paiva Cavalcante.
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De modo geral é notável a ocorrência de taxas superiores para as pessoas do sexo
masculino: dos 21 grupos de doenças, em 15 a taxa é maior para os homens. Entre os
homens, a causa mais comum de morbidade hospitalar é por Doenças do Aparelho
Respiratório (109,7 internações por 10 mil homens), conforme mostra a Tabela 1, já entre as
mulheres, as internações ocorrem com mais intensidade em decorrência de Gravidez, Parto
e Puerpério (275 mil internações por 10 mil mulheres). As Doenças do Aparelho Circulatório,
onde se inserem as Doenças Isquêmicas do Coração, objeto de análise deste trabalho,
compõe a quarta causa de morbidade para as pessoas do sexo masculino e a terceira para
as pessoas do sexo feminino.
As Doenças Isquêmicas do Coração foram responsáveis por 5.139 internações entre
os idosos. Entre as DCV, os dois grupos de Doenças Isquêmicas do Coração (Infarto Agudo
do Miocárdio e Outras Doenças Isquêmicas do Coração), foram, de forma respectiva, a
terceira e a quarta causa de internações hospitalares entre os idosos.
A prancha 2 mostra a distribuição mensal e sazonal das taxas médias de internações
hospitalares por Doenças Isquêmicas do Coração, segundo sexo dos pacientes idosos e
residentes em João Pessoa no período de 2000 a 2013.
Prancha 2 – Taxas médias das internações mensais e sazonais por Doenças Isquêmicas do Coração
entre pacientes idosos em João Pessoa, 2000 a 2013. Fonte: DATASUS, 2015. Elaboração: Gabriel de Paiva Cavalcante.
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O gráfico A da prancha 2 mostra um crescimento das taxas médias mensais entre os
meses de agosto e dezembro, meses habitualmente mais secos e quentes. Tal crescimento
também é visível no comportamento sazonal das taxas médias de internações (Gráfico B da
prancha 2), visto que, o período da estação seca apresenta taxa média superior as taxas
médias da pré-estação chuvosa e da estação chuvosa. Quanto à distribuição das taxas
médias por sexo, observa-se que há predominante superioridade para os idosos do sexo
masculino, inclusive com a menor taxa mensal para os homens sendo superior à maior taxa
mensal para as mulheres. Na escala sazonal, a superioridade é ainda mais visível.
3.3 - Correlações climatopatológicas
A tabela 2 mostra a correlação mensal entre os atributos climáticos (temperatura
máxima, insolação, dias com precipitação e umidade relativa do ar), variáveis explicativas, e
as taxas de internações hospitalares por Doenças Isquêmicas do Coração entre pacientes
idosos, variável resposta.
Tabela 2 – Correlação de Pearson entre os atributos climáticos e as taxas de internações por
Doenças Isquêmicas do Coração entre pacientes idosos, 2000 a 2013 Fonte: DATASUS, 2015 e BDMEP/INMET, 2014. Elaboração: Gabriel de Paiva Cavalcante.
Os valores das correlações entre as variáveis climáticas e as taxas de internações
para a população total de pacientes idosos foram negativos e ínfimos, exceto para a variável
insolação. Também foram encontrados valores negativos e ínfimos entre a temperatura
máxima e dias com precipitação e as taxas de internações entre idosos de ambos os sexos.
As correlações positivas, porém, com grau de associação muito baixa, foram identificadas
entre a variável insolação e as taxas de internações da população total de idosos, bem
como para as taxas de internações do sexo masculino e feminino. Entre a umidade relativa
do ar e as taxas de internações entre idosos do sexo feminino constatou-se uma correlação
positiva e ínfima.
De modo geral as correlações entre as variáveis foram muito baixas e irrelevantes. A
título de exemplo podemos visualizar no gráfico 1 o baixo grau de relação entre temperatura
máxima do ar e as taxas hospitalares. As taxas de internações por Doenças Isquêmicas do
Coração dos pacientes idosos não sinalizam relação com as temperaturas máximas
Geral Masc Fem
Temperatura Máxima -0,080 -0,022 -0,109
Insolação 0,085 0,077 0,062
Dias com precipitação -0,029 -0,035 -0,013
Umidade Relativa do Ar -0,031 -0,074 0,024
Atributos ClimáticosDoenças isquêmicas
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mensais registradas, resultando em uma relação do tipo “nuvem”, ou seja, em termos
estatísticos, uma situação de não relação direta, como mostra o gráfico 1.
Gráfico 1 – Taxa mensal de internações hospitalares por Doenças Isquêmicas do Coração entre
pacientes idosos versus a temperatura média mensal do ar, 2000 a 2013. Fontes: DATASUS, 2015 e BDMEP/INMET, 2014. Elaboração: Gabriel de Paiva Cavalcante.
As próximas análises utilizarão os dados de temperatura máxima para as correlações
com os dados mensais de internações hospitalares. Na escala sazonal foram identificadas
correlações baixas entre as variáveis, conforme mostra a tabela 3. Os coeficientes de
correlação não apresentaram significância estatística de acordo com o Teste t de Student.
As correlações variaram entre -0,081 (coeficiente para o sexo feminino na Estação
Chuvosa) e 0,242 (coeficiente para o sexo masculino na Pré-Estação Chuvosa). Mesmo
sem a significância estatística, é notável que a Pré-Estação Chuvosa apresenta os maiores
coeficientes dos regimes sazonais.
Tabela 3 – Correlação sazonal de Pearson entre a temperatura máxima do ar e as taxas de
internações por Doenças Isquêmicas do Coração entre pacientes idosos, 2000 a 2013. Fonte: DATASUS, 2015 e BDMEP/INMET, 2014. Elaboração: Gabriel de Paiva Cavalcante.
Quanto às correlações mensais, presentes na tabela 4, registram-se coeficientes de
correlação de grau baixo a moderado, porém, sem significância estatística. Os coeficientes
de correlação variaram entre -0,47 (coeficiente para o sexo feminino no mês de agosto) e
0,53 (coeficiente para o sexo masculino no mês de fevereiro).
Doenças
Isquêmicas Pré-Estação Chuvosa Estação Chuvosa Estação Seca
Geral 0,187 0,002 -0,049
Masculino 0,242 0,079 -0,048
Feminino 0,085 -0,081 -0,031
Estação
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Tabela 4 – Correlação mensal de Pearson entre a temperatura máxima do ar e as taxas de
internações por Doenças Isquêmicas do Coração entre pacientes idosos, 2000 a 2013. Fonte: DATASUS, 2015 e BDMEP/INMET, 2014. Elaboração: Gabriel de Paiva Cavalcante.
Para cada ano da série, os dados de correlação (Tabela 5) registraram variações
tanto para correlações diretamente proporcionais, quanto para correlações inversas. Cabe
destacar que nenhum coeficiente de correlação apresentou significância estatística de
acordo com o teste t de Student. Para as correlações diretas, destaca-se o ano de 2003,
sobretudo, para as taxas hospitalares da população total idosa e para as taxas do sexo
masculino, com coeficientes de 0,49 e 0,58, respectivamente. O ano de 2007 mostrou
características semelhantes, porém, com grau de associação menor. Já nas correlações
inversas, destacam-se os últimos dois anos da série, anos de 2012 e 2013, com coeficientes
entre -0,3 e -0,65.
Tabela 5 – Correlação anual de Pearson entre a temperatura máxima do ar e as taxas de internações
por Doenças Isquêmicas do Coração entre pacientes idosos, 2000 a 2013 Fonte: DATASUS, 2015 e BDMEP/INMET, 2014. Elaboração: Gabriel de Paiva Cavalcante.
4 - Conclusão
As correlações do período de 2000 a 2013 entre as médias dos atributos climáticos,
variáveis explicativas, e as taxas médias de internações hospitalares por Doenças
Isquêmicas do Coração entre pacientes idosos, variável resposta ou variável desfecho da
análise mostraram um grau de associação muito baixo e sem significância estatística. Este
mesmo padrão foi identificado nas correlações sazonais entre a temperatura máxima do ar e
taxas hospitalares. Quanto às correlações mensais e anuais entre a temperatura máxima do
ar e taxas hospitalares verificou-se grau de associação de baixo a moderado, mas sem
significância estatística conforme apontou o teste t de Student.
Nesse sentido, podemos afirmar, com base nos recursos estatísticos utilizados neste
trabalho, que as médias mensais de temperatura máxima do ar, de horas de insolação, de
dias com precipitação e médias de umidade relativa do ar não produziram um impulso de
Doenças
Isquêmicas JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Geral 0,03 0,31 0,40 0,09 0,49 -0,02 -0,13 -0,55 0,01 0,32 -0,03 -0,33
Masculino -0,01 0,53 0,39 0,28 0,47 0,17 -0,04 -0,40 0,08 0,32 -0,24 -0,16
Feminino 0,06 -0,03 0,33 -0,06 0,32 -0,25 -0,18 -0,47 -0,06 0,27 0,17 -0,42
Mês
Doenças
Isquêmicas 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Geral -0,53 -0,56 0,11 0,49 -0,53 -0,01 -0,12 0,33 -0,17 -0,08 -0,02 0,30 -0,52 -0,42
Masculino -0,10 -0,63 -0,06 0,58 0,04 -0,07 -0,29 0,49 -0,08 0,37 -0,08 0,18 -0,65 -0,53
Feminino -0,60 -0,18 0,29 0,20 -0,64 0,05 0,08 -0,04 -0,12 -0,53 0,09 0,18 -0,30 -0,33
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conveniados ao SUS e residentes na cidade de João Pessoa-PB.
Referências
BDMEP/INMET. Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e Pesquisa/ Instituto Nacional de Meteorologia. Disponível em: http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=bdmep/bdmephttp://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=bdmep/bdmep. Acesso em: 06 ago. 2014. BESANCENOT, J. P. Infarctus du myocarde, saisons et climats. In: Revue de Géographie de Lyon. vol. 61, n° 3, p. 271 - 281, 1986. Disponível em: http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/geoca_0035113X_1986_num_6134097. Acesso em: 15 jul. 2012. BESANCENOT, J. P. Climat et santé (Coll. "Médecine et Société). Paris: PUF, 2001. 128 p. BESANCENOT, J. P. Vagues de chaleur et mortalité dans les grandes agglomérations urbaines. Environnement, Risques & Santé, v 1, n. 4, p. 229-40, Sep./ Oct. 2002. DATASUS. Departamento de Informática do SUS. Disponível em: http://www.datasus.gov.br/DATASUS/index.php. Acesso em: 01 ago. 2015. FIGUEIREDO FILHO, D. B.; SILVA JÚNIOR, J. A. Desvendando os mistérios da correlação de Pearson (r). Revista Política Hoje, vol. 18, n. 1, p. 115-146, 2009. GALVÃO, N; LEITE, M. L. VIRGENS FILHO, J. S.; PONTES, C. C. Relação entre fatores climáticos e doenças do aparelho cardiovascular no município de Ponta Grossa-PR. Revista Hygeia (online),11 (21),p. 93 - 106, 2015. IBGE. Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística. Disponível em: <http:// www.ibge.gov.br>. Acesso em: 01 jul. 2015. LIMA, J. R. C; PORDEUS, A. M. J; ROUQUAYROL. M. Z. Medida em saúde pública, p.25 - 64. In: ROUQUAYROL. M. Z; GURGEL, M. (Orgs.) Epidemiologia & Saúde. 7 ed. Rio de Janeiro: MedBook, 2013. 736p. MC MICHAEL, A. J. et al. International study of temperature, heat and urban mortality: the ISOTHURM‟ Project. International Journal of Epidemiology, n. 37, p.1121-1131. 2008 Disponível em: <http:// www.heart.bmj.com>. Acesso em: 12 set. 2014. MOURA, M. O. Climatopatologia por meteorossensibilidade em Fortaleza, Ceará, p.67 -96. In: ZANELLA, M. E; SALES, M.C. L (Orgs.). Clima e recursos hídricos no Ceará na perspectiva geográfica. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2015. 204p. MOURA, M. O. Anomalias das Temperaturas Extremas do Ar em Fortaleza: correlações com a morbidade hospitalar por doenças cardiovasculares. (Tese de Doutorado). Fortaleza: Programa de Pós-Graduação em Geografia/UFC, 2013. 248p. MURARA, P; COELHO, M. S. Z. S.; AMORIM, M. C. C. T. Análise da influência meteorológica nas internações por doenças cardiovasculares. Caderno Prudentino de Geografia, v. 1, p. 55-65, 2010.
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VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais
25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
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