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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS V
COLEGIADO DE HISTÓRIA
CURSO – HISTÓRIA
Coronelismo no Sul da Bahia
Formação e Influências dos coronéis do Cacau (1890 – 1910)
GABRIEL BRANDÃO
SANTO ANTONIO DE JESUS – BA
2011.
Coronelismo no Sul da Bahia
Formação e Influências dos coronéis do Cacau (1890 – 1910)
Anteprojeto apresentado à
Universidade do Estado da Bahia –
UNEB, Campus V, com exigência do
Componente TCC2 sob a orientação
da professora Leila Prates.
SANTO ANTONIO DE JESUS – BA
2011.
APRESENTAÇÃO
Com o desenvolvimento da cultura do cacau na região Sul da Bahia,
deu-se início a um progresso advindo dessas lavouras, que acabaram por
formar uma nova burguesia baiana, que em um curto período de tempo
acumulou grandes fortunas. Para Freitas (1979) a medida que ocorria uma
ampliação das lavouras cacaueiras ocorria um jogo de múltiplos interesses
permitindo que apenas essa nova elite detivesse os lucros provenientes da
lavoura cacaueira. A partir da formação dessa nova burguesia surge o
fenômeno do coronelismo, tendo na figura do coronel o status baseado no
prestigio pessoal e familiar.
Contudo, como destaca Falcón (1995) o coronelismo que se estabeleceu
no Sul da Bahia acabou por ter uma necessidade de afirmação, sendo que o
poder da região não estava centrado nas mãos de um único coronel, mas sim
numa pluralidade de poder. Por este fato, ocorriam diversas disputas políticas
pelo controle político da região.
Essas disputas pelo poder político e prestigio acabou por gerar a busca
pelo progresso da cidade de Ilhéus através da modernização da mesma. Com
isso objetivamos nesta pesquisa através de levantamentos bibliográficos,
investigar esses processos de disputas pelo poder entre os coronéis com o
intuito de fazer um estudo desse processo histórico que ainda tem influências
em Ilhéus, através de estruturas físicas e prestígios que ainda existem para
algumas famílias advindas dos coronéis. Sendo assim, buscaremos nesta
pesquisa identificar como realmente se desenvolveu o processo de formação
dessa nova elite e a influência que os coronéis do cacau tinham sobre as
populações que os rodeavam.
JUSTIFICATIVA
Ao analisar o fenômeno coronelístico, esta pesquisa busca compreender
o processo de desenvolvimento na cidade de Ilhéus, afim de, ampliar os
conhecimentos acerca da história da cidade. Fazendo assim, uma analise do
processo histórico com o intuito de perceber na presença dos coronéis uma
forte influência para desenvolvimento da cidade de Ilhéus durante os anos que
o cacau era visto como fruto de ouro. Tendo sido o cacau principal produto
responsável pelo surgimento de uma nova elite, conforme observa Falcon
(1995), essa elite tinham a necessidade de afirmação de prosperidade ilustrada
através da modernização da cidade acreditando serem agentes principais do
progresso.
Neste contexto de modernização interessa-nos desvendar algumas
lacunas no intuito de contribuir com estudos que já foram feitos sobre o
coronelismo, investigando não somente a origens dessa elite cacaueira que por
décadas obteve influência na cidade de Ilhéus, destacando também suas
disputas pelo poder político e as ditas influências que exerceu sobre a
população que de alguma maneira estavam ligadas aos coronéis do cacau.
Com isso, fazer um estudo sobre o coronelismo no sul da Bahia, com foco na
cidade de Ilhéus, proporcionará o entendimento de como decorreram o
processo disputas pelo poder e a modernização da cidade de Ilhéus que
deixam fortes marcadas na história após algumas décadas como o centro
histórico ainda preservado e sobrenomes de algumas famílias tradicionais.
Sendo assim esta pesquisa tem como finalidade fazer um estudo no qual
proporcione a compreensão dos processos históricos e sua importância
preservação da memória da sociedade cacaueira.
PROBLEMÁTICA
A expansão da cultura cacaueira na região Sul da Bahia deu início a um
movimento de reestruturação econômica das cidades locais. Entre estas, a
cidade de Ilhéus se destacou como um dos principais pólos de sustentáculo
econômico do Estado. Neste contexto surge uma nova burguesia baiana.
Como destaca Ribeiro; (2005)
“[...] Com esse progresso advindo da lavoura
cacaueira surgiu uma nova burguesia baiana
formada por lavradores e comerciantes
enriquecidos, que tiveram em um curto
período de tempo fortunas individuais
consolidadas”.
O surgimento dessa nova elite ocorre em meio a um contexto marcado
por um período de crises e instabilidades entre forças tradicionais e forças
decorrentes das tensões sociais e econômicas advindas também da abolição
da escravatura. Contudo, diferentemente dos engenhos, as plantações de
cacau utilizavam a mão de obra escrava em escala mínima não sendo o
trabalho escravo como a única forma de mão de obra utilizada durante a fase
de implantação do plantio comercial do cacau, como aborda Mahony (2005) 1.
Com isso, o impacto da abolição na lavoura cacaueira se deu de forma mínima
como pondera Adonias Filho (1978);
[...] quando a Abolição se concretiza com
repercussão imediata em toda a infra-
estrutura econômica do País, a lavoura
cacaueira baiana não se ressente ao mínimo
e por isso mesmo não altera o crescimento.
Sete anos após, precisamente em 1895, a
Abolição não evita que o Brasil se situe como
um dos primeiros pólos produtores de cacau
do mundo. (Adonias Filho, p. 52)
1 MAHONY, M.A. Instrumentos necessários: escravidão e posse de escravos no sul da
Bahia no século XIX, 1822-1889 – revista Afro – Ásia, nn 25-26, Salvador, UFBA, 2001
Em decorrência deste cenário de crises essa nova burguesia
gradativamente amplia sua presença e visibilidade perante a sociedade,
surgindo assim um fenômeno chamado de coronelismo que, como discute
Pang2, acaba por ser um exercício de poder monopolizante por um coronel cuja
legitimidade e aceitação se baseia em seu status de senhor absoluto. O
fenômeno do coronelismo, baseado no prestigio pessoal e familiar, estabelece
uma rede de poder que se originava do micro para o macro, sendo que o
coronel de vez em quando, poderia alcançar cargos a nível estadual ou
nacional. Segundo Pang;
Socialmente, coronel tornou-se sinônimo de
chefe político; as pessoas preferiam ser
chamados de coronel, em vez de “senhor”,
uma designação mais mundana. “Senhor
coronel” e “Senhor doutor” eram usados
para realçar o respeito por um superior
(Pang, p. 30)
Com ascendência econômica devido à lavoura cacaueira, juntamente
com o status de coronel, surgem as disputas pelo domínio político e econômico
do município de Ilhéus, acabando por dividi-lo em grupos antagônicos de cunho
familiar como discute Ribeiro3. Logo, tem-se nas famílias dos coronéis
Domingos Adami de Sá e Antônio Pessoa da Costa e Silva, duas dos principais
representantes dos grupos em disputas por esse domínio político e econômico
do município.
2 PANG, Eul Soo. Coronelismo e oligarquias 1889-1943. A Bahia na Primeira Republica.
3 RIBEIRO, André Luis Rosa. Memórias e Identidade. Reformas Urbanas e arquitetura
cemiterial na região cacaueira (1880-1950). Ilhéus: Editus, 2005
Diferentemente dos donos de engenhos, os coronéis do cacau tinham na
cidade as suas moradias, como aborda Adonias Filho e André Luis Rosa
Ribeiro, interferindo diretamente na estrutura das cidades, trazendo a dita
“modernização”. Essa tal prosperidade acabava transformando assim a
imagem da região cacaueira, tendo em Ilhéus o referencial de terra rica e
próspera. Tais intervenções substituíram a sua fisionomia colonial e elementos
estéticos considerados antiquados para a época. Como sinaliza Pang (1979)
“[...] O coronel desempenhava varias funções que num regime político mais evoluído
seriam normalmente de responsabilidade do Estado”.
Diante de tais fatos, cabe-nos questionar até onde a interferência desses
coronéis do cacau contribuiu para o desenvolvimento da cidade de Ilhéus.
Como decorreu o processo de formação da nova elite cacaueira, devido ao
fruto de ouro (como era conhecido o cacau) e até onde esses coronéis
exerciam as ditas funções do Estado?
OBJETIVO GERAL
Analisar os interesses que possuíam os coronéis do cacau ao disputar o
comando político da cidade de Ilhéus, bem como os processos dessas disputas
e a influência para a população local.
OBJETIVOS ESPECIFICOS
Identificar como se desenvolveu o processo de construção de
uma elite cacaueira na cidade de Ilhéus;
Reconhecer os elementos motivadores do processo de disputas
políticas entre os coronéis do cacau (e suas famílias), pelo poder
na cidade de Ilhéus;
Interpretar as influências dos coronéis do cacau sobre as
populações ligadas diretamente ou indiretamente a eles;
Distinguir se os coronéis do cacau exerciam funções do Estado
na cidade de Ilhéus;
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O tema coronelismo vem sendo discutido a algumas décadas por
diversos autores, com o intuito de desvendar o processo de dominação
exercida por uma ou mais pessoas, representando um clã ou grupo
consangüíneo ou não, mantidos unidas por laços e interesses econômicas e
políticos comuns4.
Inicialmente, as primeiras fontes utilizadas foram alguns artigos, teses,
dissertações e livros, no intuito de compreender esse processo de formação
dos coronéis. Como leitura indispensável para uma primeira análise do
coronelismo no Sul da Bahia utilizei o livro de Eul Soo Pang, “Coronelismo e
Oligarquias 1889 – 1943. A Bahia na Primeira Republica”, no qual ele aborda
alguns conceitos do coronelismo e como esse processo acabou por se
expandir na Bahia. Ao pesquisar este livro, tive a necessidade de fazer uma
analise mais precisa, pois além do livro ser escrito em 1979, o autor não é de
origem brasileira. Contudo, a parte inicial do livro foi de extrema importância no
desenvolvimento da pesquisa, pois ajudou a dar um direcionamento melhor das
idéias de coronelismo.
“[...] Com a finalidade de construir uma
tipologia simples e descritiva das oligarquias
no Brasil. Introduzimos aqui o termo
“familiocracia”, significando a predominância
de uma família na política local ou
municipal”. (Pang, p.40)
A partir do termo “familiocracia” abordada por Pang, pude perceber que na
Cidade de Ilhéus devido a outros livros analisados como o de André Luis Rosa
Ribeiro em “Memórias e Identidade. Reformas Urbanas e arquitetura cemiterial
na região cacaueira (1880 – 1950)”, a nova elite que se formava tinha esse
cunho do prestígio familiar, sendo que os casamentos geralmente eram feitos
4 PANG, Eul Soo. Coronelismo e oligarquias 1889-1943. A Bahia na Primeira Republica.
por interesses econômicos e políticos para proporcionar a introdução ou
continuidade do poder na região. A partir da abordagem de André Luis Ribeiro,
pude começar a analisar o processo de formação dos Coronéis diretamente na
cidade de Ilhéus. Mesmo sendo um livro de cunho memorialista, o autor no
início faz uma analise histórica do processo de formação dos coronéis e das
intervenções na cidade de ilhéus, tratando também do progresso advindo da
ascensão do cacau.
[...] a construção de uma Ilhéus moderna,
tendo do ponto de vista das intervenções
com a cidade tornada símbolo do progresso
advindo com a ascensão da lavoura
cacaueira. Esse processo deveu-se
principalmente à iniciativa da elite
emergente, visando criar um espaço e
valores novos, que favorecem seu
estabelecimento enquanto liderança
econômica e políticas. (RIBEIRO, 2005)
Outro estudo que contribuiu nessa discussão foi Adonias Filho, com o
livro “Sul da Bahia: Chão de Cacau”, que acabou por reforçar as leituras de
Ribeiro quando trás em seu trabalho a questão do coronel e da cidade,
mostrando a necessidade do coronel em residir na cidade e suas influências
políticas e econômicas. Adonias Filho Aborda como esses coronéis exerciam
suas influências e como o cacau tinha papel preponderante entre eles, além
dos hábitos que essa nova elite acabava por ter. Segundo o autor,
“Parece indiscutível, pois, que o coronel,
desde que chegou às cidades e assumiu o
comando do poder municipal, implantou
uma estrutura regional tão singular que
acabou por conformar a civilização do
cacau.” (FILHO, Adonias, p. 63)
Com este trecho o autor deixa uma questão a ser trabalhada nesta
pesquisa que será o processo de influência dos coronéis do cacau na cidade
de Ilhéus. Alguns outros autores como Mahony5, Vitor Nunes Leal6 e Falcon7
provavelmente deveram ter suas obras incluídas no projeto, pois tem ligações
importantes sobre o coronelismo em relação a sua formação e influências, pois
em algumas pequenas leituras em torno desse autores percebi que seriam de
grande utilidade.
Fazendo de início uma analise desses autores, pude perceber que o
tema: Coronelismo no Sul da Bahia Formação e Influências dos coronéis do
Cacau (1890 – 1910) dispõe de grande acervo para pesquisa sendo a analise
das fontes escritas de grande utilidade no processo de formação desse projeto.
5 MAHONY, M.A. Instrumentos necessários: escravidão e posse de escravos no sul da
Bahia no século XIX, 1822-1889 – revista Afro – Ásia, nn 25-26, Salvador, UFBA, 2001
6 LEAL, Victor Nunes. (1948), Coronelismo, Enxada e Voto. Rio de Janeiro, Forense.
7 FALCON, Gustavo. Os coronéis do cacau. Salvador: Ianamá/centro Editorial e Didático da
UFBA, 1995.
METODOLOGIA
Tendo o intuito de analisar esse processo coronelístico existente na
Região Sul da Bahia, precisamente na cidade de Ilhéus, através da analise de
documentações da época (período de 1890 a 1910), e da análise de autores
que já fizeram pesquisas historiográficas em torno deste tema, vimos neste
trabalho a possibilidade de compreender melhor esse processo de formação de
uma nova elite cacaueira e disputas políticas e econômicas que geraram em
torno do cacau.
Tendo como metodologia, a pesquisa tem caráter qualitativo, sendo que
os dados obtidos através de documentações e bibliografias serão analisados e
interpretados. A pesquisa ainda tem o caráter descritivo, explicativo e
documental. Gil (2002), diz que uma pesquisa descritiva e explicativa é aquela
em que o objetivo descrever característica de uma situação, caracterizando,
destas maneiras, a presente pesquisa.
A pesquisa deverá ser feita na cidade de Ilhéus, pois a Universidade
Estadual de Santa Cruz (UESC) possuiu um grande acervo que contempla um
amplo estudo sobre o coronelismo devido ao acervo bibliográfico e a
documentações existentes sobre o tema.
HIPÓTESE.
Através de leituras feitas sobre o tema coronelismo, com enfoque no Sul
da Bahia, entre o final do século XIX e início do século XX (1890 – 1910),
pudemos constatar a forte presença de poderes oligárquicos, representados na
figura do coronel, que através do crescimento na produção do cacau passaram
a exercer influências no cenário político e econômico nas cidades em que
residiam. Tendo a cidade de Ilhéus como principal foco de estudo, podemos
analisar a presença dos coronéis do cacau como uma forte influência no
desenvolvimento econômico da cidade.
Com o desenvolvimento da plantação de cacau na região acabou por
ocorrer um processo de construção de uma nova elite. Conseqüentemente
junto com o poder aquisitivo acaba por gerar uma disputa pela obtenção do
poder político da cidade de Ilhéus, gerando assim grupos antagônicos de
cunho familiar que viam na ausência de um estado forte a possibilidade de uma
hegemonia social. Como traz Ribeiro8, “A rarefação do poder público no Brasil
favoreceu a ascendência dos coronéis, que exerciam informalmente grande parte das
funções do Estado”.
Esse fenômeno coronelístico acaba por exercer diversas influências na
cidade de Ilhéus. A cidade começa a entrar em um processo de modernização
como uma forma de se esquecer o passado e criar uma nova identidade
cultural.
Através de estudos cabe-nos neste trabalho analisar os processos de
disputa pelo poder político e econômico na cidade de Ilhéus, analisando como
se desenvolveu o processo de formação dessa nova elite burguesa e suas
disputas com as antigas elites. Interessa-nos analisar também como decorreu o
processo de influencias dos Coronéis do Cacau na cidade de Ilhéus.
8 RIBEIRO, André Luis Rosa. Memórias e Identidade. Reformas Urbanas e arquitetura
cemiterial na região cacaueira (1880-1950). Ilhéus: Editus, 2005, p.42
REFERÊNCIAS
FALCON, Gustavo. Os coronéis do cacau. Salvador: Ianamá/centro
Editorial e Didático da UFBA, 1995.
FILHO, Adonias. Sul da Bahia: Chão de Cacau – Uma Civilização
Regional. Editora Civilização Brasileira. Rio de Janeiro 1976
FREITAS, Antônio Fernando Guerreiro. Os donos dos frutos de Ouro.
Salvador: UFBA, 1979- Dissertação de Mestrado.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisas. São Paulo: Atlas, 2002.
LEAL, Victor Nunes. (1948), Coronelismo, Enxada e Voto. Rio de
Janeiro, Forense.
MAHONY, M.A. Instrumentos necessários: escravidão e posse de
escravos no sul da Bahia no século XIX, 1822-1889 – revista Afro – Ásia, nn
25-26, Salvador, UFBA, 2001
PANG, Eul Soo. Coronelismo e oligarquias 1889-1943. A Bahia na
Primeira Republica.
RIBEIRO, André Luis Rosa. Memórias e Identidade. Reformas Urbanas
e arquitetura cemiterial na região cacaueira (1880-1950). Ilhéus: Editus, 2005