cordel-o cavalo que defecava dinheiro-leandro gomes de barro

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O Cavalo que Defecava Dinheiro Leandro Gomes de Barros Uma coisa eu aprendi que ninguém faz discordância Riqueza só é um mal aumentada a importância Dinheiro não é ruim O ruim é a ganância Na cidade de Macaé Antigamente existia Um duque velho invejoso Que nada o satisfazia Desejava possuir Todo objeto que via Esse duque era compadre De um pobre muito atrasado Que morava em sua terra Num rancho todo estragado Sustentava seus filhinhos Na vida de alugado. Se vendo o compadre pobre Naquela vida privada Foi trabalhar nos engenhos Longe da sua morada Na volta trouxe um cavalo Que não servia pra nada Disse o pobre à mulher: ─ Como havemos de passar? O cavalo é magro e velho Não pode mais trabalhar Vamos inventar um "quengo" Pra ver se o querem comprar. Foi na venda e de lá trouxe Três moedas de cruzado Sem dizer nada a ninguém Para não ser censurado No fiofó do cavalo

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O Cavalo que Defecava DinheiroLeandro Gomes de Barros Uma coisa eu aprendi que ningum faz discordncia Riqueza s um mal aumentada a importncia Dinheiro no ruim O ruim a ganncia a cidade de !aca "ntigamente e#istia Um duque $elho in$e%oso &ue nada o satisfazia Dese%a$a possuir 'odo o(%eto que $ia )sse duque era compadre De um po(re muito atrasado &ue mora$a em sua terra um rancho todo estragado *ustenta$a seus filhinhos a $ida de alugado+ *e $endo o compadre po(re aquela $ida pri$ada ,oi tra(alhar nos engenhos Longe da sua morada a $olta trou#e um ca$alo &ue no ser$ia pra nada Disse o po(re - mulher. / 0omo ha$emos de passar1 O ca$alo magro e $elho o pode mais tra(alhar 2amos in$entar um 3quengo3 4ra $er se o querem comprar+ ,oi na $enda e de l5 trou#e 'r6s moedas de cruzado *em dizer nada a ningum 4ara no ser censurado o fiof do ca$alo ,oi o dinheiro guardado Do fiof do ca$alo )le fez um mealheiro *aiu dizendo. / *ou rico7 8nda mais que um fazendeiro9 4orque possuo o ca$alo &ue s defeca dinheiro+ &uando o duque $elho sou(e &ue ele tinha esse ca$alo Disse pra $elha duquesa. / "manh $ou $isit5:lo *e o animal for assim ,a;o o %eito de compr5:lo7 *aiu o duque $e#ado ,azendo que no sa(ia9 *aiu percorrendo as terras 0omo quem no conhecia ,oi $isitar a choupana9 Onde o po(re residia+ 0hegou sal$ando o compadre !uito desinteressado. / 0ompadre9 0omo lhe $ai1 Onde tanto tem andado1 chamou o compadre ) saiu muito $e#ado9 4ara o lugar onde tinha O ca$alo defecado O duque ainda encontrou 'r6s moedas de cruzado+ )nto e#clamou o $elho. / * pude achar essas tr6s7 Disse o po(re. / Ontem - tarde )le (otou dezesseis7 )le %5 tem defecado9 Dez mil ris mais de uma $ez+ / )nquanto ele est5 magro !e ser$e de mealheiro+ )u tenho tratado dele 0om (aga;o do terreiro9 4orm depois dele gordo o tem quem $en;a o dinheiro+++ Disse o $elho. / meu compadre 2oc6 no pode trat5:lo9 *e for tra(alhar com ele = com certeza mat5:lo O melhor que $oc6 faz = $ender:me este ca$alo7 / !eu compadre9 este ca$alo )u posso negociar9 * se for por uma soma &ue d6 para eu passar 0om toda minha fam>lia9 ) no precise tra(alhar+ O $elho disse ao compadre. / "ssim no que se faz ossa amizade antiga Desde os tempo de seus pais Dou:lhe seis contos de ris "cha pouco9 inda quer mais1 / 0ompadre9 o ca$alo seu7 )u nada mais lhe direi9 )le9 por este dinheiro &ue agora me su%eitei 4ara mim no foi $endido9 ,a;a de conta que te dei7 O $elho pela am(i;o &ue era descomunal9 Deu:lhe seis contos de ris 'odo em moeda legal Depois pegou no ca(resto ) foi pu#ando o animal+ &uando ele chegou em casa ,oi gritando no terreiro. / )u sou o homem mais rico &ue ha(ita o mundo inteiro7 4orque possuo um ca$alo &ue s defeca dinheiro7 4egou o dito ca$alo Botou na estre(aria9 !ilho9 farelo e alface )ra o que ele comia O $elho duque ia l59 Dez9 doze $ezes por dia+++ "> o $elho zangou:se 0ome;ou logo a falar. / 0omo que meu compadre *e atre$e a me enganar1 )u quero $er amanh O que ele $ai me contar+ 4orm o compadre po(re9 ?Bicho do quengo li#ado@ ,ez depressa outro plano 8nda mais (em arran%ado )sperando o $elho duque &uando $iesse zangado+++ O po(re foi na farm5cia 0omprou uma (orrachinha Depois mandou encher ela 0om sangue de uma galinha ) sempre olhando a estrada 4r $er se o $elho $inha+ Disse o po(re - mulher. / ,a;a o tra(alho direito 4egue esta (orrachinha "marre em cima do peito 4ara o $elho no sa(er9 0omo o tra(alho foi feito7 &uando o $elho aparecer a $olta daquela estrada9 2oc6 come;a a falar )u grito. / Oh mulher danada7 &uando ele esti$er (em perto9 )u lhe dou uma facada+ 4orm eu dou:lhe a facada )m cima da (orrachinha ) $oc6 fica la$ada 0om o sangue da galinha )u grito. / "rre danada7 unca mais comes farinha7 &uando ele $er $oc6 morta 4arte para me prender9 )nto eu digo para ele. / )u dou %eito ela $i$er9 O remdio tenho aqui9 ,a;o para o senhor $er7 / )u $ou (uscar a ra(eca 0ome;o logo a tocar 2oc6 ento se reme#a 0omo quem $ai melhorar 0om pouco diz. / )stou (oa A5 posso me le$antar+ &uando findou:se a con$ersa a mesma ocasio O $elho ia chegando "> tra$ou:se a questo O po(re passou:lhe a faca9 Botou a mulher no cho+ O $elho gritou a ele &uando $iu a mulher morta. / )ste%a preso9 (andido7 ) tomou conta da porta Disse o po(re. / 2ou cur5:la7 4ra que o senhor se importa1 / O senhor um (andido 8nfame de cara dura 'odo mundo aprecia$a )sta infeliz criatura Depois dela assassinada9 O senhor diz que tem cura1 0ompadre9 no admito O senhor dizer mais nada9 o crime se matar *endo a mulher malcriada ) mesmo com dez minutos9 )u dou a mulher curada7 0orreu foi $er a ra(eca 0ome;ou logo a tocar De repente o $elho $iu " mulher se endireitar ) depois disse. / )stou (oa9 A5 posso me le$antar+++ O $elho ficou suspenso De $er a mulher curada9 4orm como esta$a $endo )la muito ensangBentada 0orreu ela9 mas no $iu9 em o sinal da facada+ O po(re entusiasmado Disse:lhe. / A5 conheceu &uando esta ra(eca esta$a a mo de quem me $endeu9 'inha feito muitas curas De gente que %5 morreu7 o lugar onde eu esti$er o dei#o ningum morrer9 0omo eu adquiri ela !uita gente quer sa(er !as ela me est5 to cara &ue no me con$m dizer+ O $elho que tinha $indo *omente propor questo9 4or que o ca$alo $elho unca (otou um tosto &uando $iu a tal ra(eca &uase morre de am(i;o+ / 0ompadre9 $oc6 desculpe De eu ter tratado assim 4orque agora estou certo )u mesmo fui o ruim 4orm a sua ra(eca * ser$e (em para mim+ / !as como eu sou um homem De muito grande poder O senhor um homem po(re ingum quer o conhecer 4erca o amor da ra(eca+++ Responda se quer $ender1 / 4orque a minha mulher 'am(m muito estou$ada *e eu comprar esta ra(eca Dela no suporto nada *e quiser teimar comigo9 )u dou:lhe uma facada+ / )la se $6 quase morta A5 conhece o castigo9 !as eu com esta ra(eca *al$o ela do perigo )la da> por diante9 o quer mais teimar comigo7 Disse:lhe o compadre po(re. / O senhor faz muito (em9 &uer me comprar a ra(eca o $enderei a ningum 0usta seis contos de ris9 4or menos nem um $intm+ O $elho muito contente 'ornou ento repetir. / " ra(eca %5 minha )u preciso a possuir )la para mim foi dada9 2oc6 no sou(e pedir+ 4agou a ra(eca e disse. / 2ou %5 mostrar a mulher7 " $elha zangou:se e disse. / 25 mostrar a quem quiser7 )u no quero ser culpada Do pre%u>zo que hou$er+ / O senhor mesmo um $elho "$arento e interesseiro9 &ue %5 fez do seu ca$alo &ue defeca$a dinheiro1 / !eu $elho9 d6:se a respeito9 o se%a to em(usteiro+ O $elho que confia$a a ra(eca que comprou Disse a ela. / 0ale a (oca7 O mundo agora $irou Dou:lhe quatro punhaladas9 A5 $oc6 sa(e quem sou+ )le findou as pala$ras " $elha ficou teimando9 Disse ele. / 2elha dos dia(os 2oc6 ainda est5 falando1 Deu:lhe quatro punhaladas )la caiu arque%ando+++ O $elho muito ligeiro ,oi (uscar a ra(equinha9 )le toca$a e dizia. / "corde9 minha $elhinha7 4orm a po(re da $elha9 unca mais comeu farinha+ O duque esta$a pensando &ue sua mulher torna$a )la aca(ou de morrer 4orm ele du$ida$a Depois ento conheceu &ue a ra(eca no presta$a+ &uando ele ficou certo &ue a $elha tinha morrido BotC os %oelhos no cho ) deu to grande gemido &ue o po$o daquela casa ,icou todo como$ido+ )le dizia chorando. / )sse crime hei de $ing5:lo *eis contos desta ra(eca 0om outros seis do ca$alo )u l5 no mando ningum9 4orque pretendo mat5:lo+ !andou chamar dois capangas. / !e fa;am um surro (em feito ,a;am isto com cuidado &uero ele um pouco estreito 0om uma argola (em forte9 4ra le$ar este su%eito7 &uando aca(ar de fazer !ande este (andido entrar9 4ara dentro do surro ) aca(em de costurar O le$em para o rochedo9 4ara sacudi:lo no mar+ Os homens eram dispostos ,indaram no mesmo dia9 O po(re entrou no surro 4ois era o %eito que ha$ia Botaram o surro nas costas ) sa>ram numa folia+ "diante disse um capanga. / )st5 muito alto o ro%o9 )u estou muito cansado9 Botemos isto no cho7 2amos tomar uma pinga9 Dei#e ficar o surro+ / )st5 muito (em9 companheiro 2amos tomar a (icada7 ?"ssim falou o capanga Dizendo pro camarada@ *eguiram am(os pra $enda ,icando alm da estrada+++ &uando os capangas seguiram )le c5 ficou dizendo. / o caso porque no quero9 !e acho aqui padecendo+++ " mo;a milion5ria O resto eu (em compreendo7 ,oi passando um (oiadeiro &uando ele dizia assim9 O (oiadeiro pediu:lhe. / "rran%e isto pra mim o importa que a mo;a *e%a (oa ou ruim7 O (oiadeiro lhe disse. / )u dou:lhe de mo (ei%ada9 'odos os meus possu>dos 2o aqui nessa (oiada+++ ,ica o senhor como dono9 4ode seguir a %ornada7 )le condenado - morte o fez questo9 aceitou9 Descoseu o tal surro O (oiadeiro entrou O po(re morto de medo um minuto costurou+ O po(re quando se $iu Li$re daquela enrascada9 !ontou:se num (om ca$alo ) tomou conta da (oiada9 *aiu por ali dizendo. / " mim no falta mais nada+ Os capangas nada $iram 4orque fizeram ligeiro9 4egaram o dito surro 0om o po(re do (oiadeiro 2oaram de serra a(ai#o o ficou um osso inteiro+ ,azia dois ou tr6s meses &ue o po(re negocia$a " (oiada que lhe deram 0ada $ez mais aumenta$a ,oi ele um dia passar9 Onde o compadre mora$a+++ &uando o compadre $iu ele De susto empalideceuD / 0ompadre9 por onde anda$a &ue agora me apareceu17 *egundo o que me parece9 )st5 mais rico do que eu+++ / "queles seus dois capangas 2oaram:me num lugar )u ca> de serra a(ai#o "t na (eira do mar "> $i tanto dinheiro9 &uanto pudesse apanhar7++ / &uando me faltar dinheiro )u prontamente $ou $er+ O que eu trou#e no pouco9 2ai dando pra eu $i$er Aunto com a minha fam>lia9 4assar (em at morrer+ / 0ompadre9 a sua riqueza Diga que fui eu quem dei7 4ra $oc6 recompensar:me 'udo quanto lhe arran%ei9 = preciso que me (ote o lugar que lhe (otei7++ Disse:lhe o po(re. / 4ois no9 )stou pronto pra lhe mostrar7 )u %unto com os capangas s mesmo $amos le$ar ) o surro de serra a(ai#o *ou eu quem quero empurrar7 O $elho no mesmo dia !andou fazer um surro+ Depressa meteu:se nele9 0ego pela am(i;o ) disse. / 0ompadre eu estou E tua disposi;o+ O po(re foi procurar Dois ca(ras de confian;a *e fingindo satisfeito ,azendo a coisa (em mansa * assim ele podia9 'omar a sua $ingan;a+ *a>ram com este $elho a carreira9 sem parar *u(iram de serra acima "t o Fltimo lugar Da> $oaram o surro Dei#aram o $elho em(olar+++ O $elho ia pensando De encontrar muito dinheiro9 4orm sucedeu com ele Do %eito do (oiadeiro9 &ue quando chegou em(ai#o o tinha um s osso inteiro+ )ste li$rinho nos mostra &ue a am(i;o nada con$m 'odo homem am(icioso unca pode $i$er (em9 "rriscando o que possui )m cima do que %5 tem+ 0ada um fa;a por si9 )u tam(m farei por mim7 = este um dos moti$os &ue o mundo est5 ruim9 4orque estamos cercados Dos homens que pensam assim+,8!