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5 A Obra do Ardina presente na Natalis ALEGRIA, um dos espec- táculos mais conhecidos do Cirque du Soleil (Circo do Sol), de origem canadiana, esteve em Lisboa a celebrar a passagem para o ano cre- puscular de 2012. Mais uma vez viveu-se o arrebatamen- to, a excelência, a alegria. A magnifica execução dos trapezistas, acrobatas, dança- rinos, músicos, palhaços, etc., reflecte o que há de mais es- tético e aberto na natureza humana através de uma arte de palco contemporânea do pensamento que brinca. Desde a exuberância das coreografias à mestria dos executantes, por momentos a realidade é uma fábula, uma ode à criação. A multiplici- dade das formas e das cores cria um humor incendiário e cosmopolita que se torna parte dos cenários, das ves- tes e das narrativas.A lingua- gem exprime-se através de todo o corpo num fogo de bicho que harmoniza os con- trários.Tudo se une a tudo: As faixas de luzes às redes do trapézio e os ritmos frenéticos das acrobacias à profundidade onírica da ges- tualidade. Haverá algo em comum entre o Cirque du Soleil e a Obra do Ardina? A Obra do Ardina é tam- bém uma ode ao encontro na diversidade. Encontro en- tre jovens, gerações, desam- paros e sonhos por delinear e concretizar. E se o espírito do Cirque du Soleil tem a capacidade de deslumbrar quem assiste é porque ence- na o segredo de uma comu- nidade circense fecunda e unida por preocupações so- ciais, económica e ecológi- cas. Sem a coesão do corpo de artistas, coreógrafos e en- cenadores não seria possível uma tal harmonia a arrasar a perfeição. Na obra do ardina tam- bém há uma alegoria da par- tilha e uma preocupação de excelência, desde que se ini- ciou com os seus fundadores até ao momento actual – a vontade dos jovens é a sua força de transformação e a instituição continua a existir para lhes dar voz e oportu- nidade:Começam por ter uma casa onde morar e dai um espaço próprio; podem rela- cionar-se com outros jovens em situações semelhantes e desenvolver afectos e cum- plicidades; estudar e projec- tar futuros sem que as falhas mais ou menos graves dos seus familiares ou deles mes- mos constituam um obstá- culo às suas mais caras reali- zações. Se se traçar um paralelo entre realidades comunitá- rias que visam a excelência lembro a descoberta de uma tribo com uma filosofia rela- cional surpreendente citada no prefácio de Helena A. Ma- rujo ao livro o poder do perdão de Robert D. Enright (Editora Estrela Polar). “(…) Uns Antropólogos encontraram uma tribo na África do Sul, um povo cha- mado Babemba onde, de cada vez que um elemento do grupo comete um deslize significativo, foge às normas, erra de forma saliente, toda a tribo pára o que está a fazer e reúne-se em circulo, no centro da aldeia.Ai chegados, o “pecador” ou “pecadora” senta-se no meio do círculo, qual alvo. Então, todos os pressentes, das crianças aos anciãos, partilham histórias positivas que viveram com o “culpado” ou “culpada”, sub- linhando-lhe as qualidades e o melhor do seu passado. A reunião pode demorar ho- ras, mantendo-se viva até ha- ver assunto. Publicamente e no momento conjunto de confronto com a falha huma- na, o que o grupo faz é re- lembrar o bom e não dedi- car atenção ao erro, como se todos dissessem: perdoa- mos-te. Hoje erraste, mas o que realmente nos importa é sublinhar e dar voz a todas e tantas vezes em que nos orgulhámos do ser humano que és.A tua pessoa é maior do que as tuas falhas. Este colectivo verbaliza, mas so- bretudo abertamente con- cretiza, o acto de perdão.” Em torno do erro e do perdão concebe-se então uma forma de tolerância ex- cepcional, sem condenações implacáveis; a partir de um desejo de compreensão e inclusão, quais Fénix, há sem- pre lugar para” renascer das cinzas” e começar de novo como diz a canção… Na obra do Ardina, na arte circense ou em qualquer outro lugar do mundo. Como se sabe, a filosofia do perdão foi radicalmente vivida pelas comissões de verdade e reconciliação mo- bilizadas por Desmond Tutu e Nelson Mandela nos apar- theids. E a humanidade aí ma- nifestada circulou feliz por todos os cantos do planeta. Por vezes erra-se sem querer.Por vezes Erra-se por querer. Por vezes é-se im- prudente e as consequências são inimagináveis. Com tudo, a realidade é remível e está em permanente construção, o que significa que o novo ser humano, com os olhos postos no seu próprio infinito, pode ser uma obra-prima irredu- tível. A FIL recebeu de 03 a 11 de Dezembro a sua feira de Natal, contou com a presença de mais de 300 expositores de vários sectores: artesanato nacional e internacional, decorações, livros, electrónica de consumo, gastronomia, doçaria, gourmet, brinquedos, moda e acessórios. Uma oferta global para quem pretendeu fazer as suas compras de Natal. A Obra do Ardina também esteve presente, no seu stand, colocou várias peças de artesanato cuja procura nos encheu de orgulho. Desta forma aproveitamos para agradecer aos Voluntários que dedicaram parte do seu tempo a gerirem o stand da Instituição. Eles foram, inexcedíveis, Bem-Haja, Dra. Marília Antunes, Dr. João Torrão, D. Maria Luísa Beja Andrade, Enf.ª Maria de Lurdes, Cristina Veora, Sr. José Vasconcelos, Eng.º Gabriel, D. Maria do Carmo e Paulo Emanuel. JANEIROFEVEREIROMARÇO2012 Cristina Veora • Jornalista e escritora Lisboa, 16 de Janeiro de 2012 A Música das Esferas Vista do Stand da Obra do Ardina, na FIL …”Na obra do ardina também há uma alegoria da partilha e uma preocupação de excelência”… Sr. Vasconcelos, preparando-se para mais um dia de Feira

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…”Na obra do ardina também há uma alegoria da partilha e uma preocupação de excelência”… Haverá algo em comum entre o Cirque du Soleil e a Obra do Ardina? Cristina Veora • Jornalista e escritora Lisboa, 16 de Janeiro de 2012 Sr. Vasconcelos, preparando-se para mais um dia de Feira Vista do Stand da Obra do Ardina, na FIL

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A Obra do Ardina presente na Natalis

ALEGRIA, um dos espec-táculos mais conhecidos doCirque du Soleil (Circo doSol), de origem canadiana,esteve em Lisboa a celebrara passagem para o ano cre-puscular de 2012. Mais umavez viveu-se o arrebatamen-to, a excelência, a alegria.

A magnifica execução dostrapezistas, acrobatas, dança-rinos, músicos, palhaços, etc.,reflecte o que há de mais es-tético e aberto na naturezahumana através de uma artede palco contemporânea dopensamento que brinca.

Desde a exuberância dascoreografias à mestria dosexecutantes, por momentosa realidade é uma fábula,umaode à criação. A multiplici-dade das formas e das corescria um humor incendiário e cosmopolita que se tornaparte dos cenários, das ves-tes e das narrativas.A lingua-gem exprime-se através detodo o corpo num fogo debicho que harmoniza os con-trários. Tudo se une a tudo:As faixas de luzes às redesdo trapézio e os ritmosfrenéticos das acrobacias àprofundidade onírica da ges-tualidade.

Haverá algo em comumentre o Cirque du Soleile a Obra do Ardina?

A Obra do Ardina é tam-bém uma ode ao encontrona diversidade. Encontro en-tre jovens, gerações, desam-paros e sonhos por delineare concretizar. E se o espíritodo Cirque du Soleil tem acapacidade de deslumbrarquem assiste é porque ence-na o segredo de uma comu-nidade circense fecunda eunida por preocupações so-ciais, económica e ecológi-cas. Sem a coesão do corpode artistas, coreógrafos e en-cenadores não seria possíveluma tal harmonia a arrasar aperfeição.

Na obra do ardina tam-bém há uma alegoria da par-tilha e uma preocupação deexcelência, desde que se ini-ciou com os seus fundadoresaté ao momento actual – avontade dos jovens é a suaforça de transformação e ainstituição continua a existirpara lhes dar voz e oportu-nidade:Começam por ter umacasa onde morar e dai umespaço próprio; podem rela-cionar-se com outros jovens

em situações semelhantes edesenvolver afectos e cum-plicidades; estudar e projec-tar futuros sem que as falhasmais ou menos graves dosseus familiares ou deles mes-mos constituam um obstá-culo às suas mais caras reali-zações.

Se se traçar um paraleloentre realidades comunitá-rias que visam a excelência

lembro a descoberta de umatribo com uma filosofia rela-cional surpreendente citadano prefácio de Helena A.Ma-rujo ao livro o poder doperdão de Robert D. Enright(Editora Estrela Polar).

“(…) Uns Antropólogosencontraram uma tribo naÁfrica do Sul, um povo cha-mado Babemba onde, decada vez que um elemento

do grupo comete um deslizesignificativo, foge às normas,erra de forma saliente,toda atribo pára o que está a fazere reúne-se em circulo, nocentro da aldeia.Ai chegados,o “pecador” ou “pecadora”senta-se no meio do círculo,qual alvo. Então, todos ospressentes, das crianças aosanciãos, partilham históriaspositivas que viveram com o“culpado” ou “culpada”, sub-linhando-lhe as qualidades eo melhor do seu passado.Areunião pode demorar ho-ras,mantendo-se viva até ha-ver assunto. Publicamente eno momento conjunto deconfronto com a falha huma-na, o que o grupo faz é re-lembrar o bom e não dedi-car atenção ao erro,como setodos dissessem: perdoa-mos-te. Hoje erraste, mas oque realmente nos importaé sublinhar e dar voz a todase tantas vezes em que nosorgulhámos do ser humanoque és.A tua pessoa é maiordo que as tuas falhas. Estecolectivo verbaliza, mas so-bretudo abertamente con-cretiza, o acto de perdão.”

Em torno do erro e doperdão concebe-se então

uma forma de tolerância ex-cepcional, sem condenaçõesimplacáveis; a partir de umdesejo de compreensão einclusão, quais Fénix, há sem-pre lugar para” renascer dascinzas” e começar de novocomo diz a canção… Na obrado Ardina, na arte circenseou em qualquer outro lugardo mundo.

Como se sabe, a filosofiado perdão foi radicalmentevivida pelas comissões deverdade e reconciliação mo-bilizadas por Desmond Tutue Nelson Mandela nos apar-theids.E a humanidade aí ma-nifestada circulou feliz portodos os cantos do planeta.

Por vezes erra-se semquerer.Por vezes Erra-se porquerer. Por vezes é-se im-prudente e as consequênciassão inimagináveis.Com tudo,a realidade é remível e estáem permanente construção,o que significa que o novo serhumano,com os olhos postosno seu próprio infinito, podeser uma obra-prima irredu-tível.

A FIL recebeu de 03 a 11 de Dezembro a sua feira de Natal, contou com a presença de mais de 300 expositores de vários sectores: artesanato nacional e internacional, decorações,livros, electrónica de consumo, gastronomia, doçaria, gourmet, brinquedos, moda e acessórios.Uma oferta global para quem pretendeu fazer as suas compras de Natal.A Obra do Ardina também esteve presente, no seu stand, colocou várias peças de artesanato cuja procura nos encheu de orgulho.Desta forma aproveitamos para agradecer aos Voluntários que dedicaram parte do seu tempo a gerirem o stand da Instituição. Eles foram, inexcedíveis, Bem-Haja, Dra. Marília Antunes,Dr. João Torrão, D. Maria Luísa Beja Andrade, Enf.ª Maria de Lurdes, Cristina Veora, Sr. José Vasconcelos, Eng.º Gabriel, D. Maria do Carmo e Paulo Emanuel.

JANEIROFEVEREIROMARÇO2012

Cristina Veora • Jornalista e escritora

Lisboa, 16 de Janeiro de 2012

A Música das Esferas

Vista do Stand da Obra do Ardina, na FIL

…”Na obra do ardina também há uma alegoria

da partilha e uma preocupação

de excelência”…

Sr. Vasconcelos, preparando-se para mais um dia de Feira