copa sem escola_14 05 14
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PORTO ALEGRE –Quando começou a de-sapropriação dosmora-dores da vila Dique, lo-calizada atrás do aero-porto Salgado Filho, nacapita l gaúcha, em2009, a prefeitura ofe-receu transporte paraque os filhos em idadeescolar continuassem aestudar nos colégiospróximos às suas anti-gas casas. A mudançafoi para o Porto Novo,um conjunto habitacio-nal distante cerca de no-
ve quilômetros. Mas,pouco tempo depois, es-sa ajuda acabou.“Eles tiveramque pegar
ônibus e não tinham di-nheiro para passagem.Muitos chegaram a per-deroano”, lamentaAlme-rinda Argenta Gambin,de47anos, conhecida co-mo Miranda, líder comu-nitária emembro da dire-toria do Clube de Mães.Naquele momento, as
famílias começaram abuscar vagas em escolasnos arredores, mas nãohavia para todos. Parapiorar, eles conviviamcom o preconceito de se-rem “diqueiros”, ou seja,da vila Dique, conhecidapor seruma regiãoviolen-ta da cidade.Agora, passados quase
cinco anos do início dasremoções, as pessoas jáestão mais adaptadas àmudança, mas aindanão há escolas para to-dos na região.A estudante Bianca da
Silva Ortiz, de 15, conti-nua a estudar no antigocolégio e gasta mais deuma hora no ônibus. Masconta com a solidarieda-de para arcar como custodo transporte. “Como es-tou fazendo o curso (deculinária) aqui no Clubede Mães, recebo vale-transporte”, relata.Para ela, a mudança foi
boa. “Tinha muita genteque morava em situaçãomuito precária”, lembra.Em Porto Alegre foram
maisde3.200 famíliasde-sapropriadas. l
Dificuldadedetransporteefaltadevagas
BrunoMoreno
RIODE JANEIRO – Per-to do meio-dia de umasexta-feirademarço, Lu-cas*, de 15 anos, acom-panha com o olhar osalunos que retornam daescola, na comunidadeNovo Lar, no Recreio,zonaOestedoRiode Ja-neiro.Enquanto isso, pe-neira a areia que seráutilizada para fazer oconcreto de um barra-co. Desde o ano passa-do, o garoto não pisaem uma sala de aula e otrabalho de ajudante depedreiro temsidoaprin-cipal ocupação.Ele é umdosmilhares
de crianças e adolescen-tes das cidades-sede daCopa do Mundo que ti-veramodireito à educa-ção lesado. A estimati-va é a de que entre 57,3mil e 76,5mil, com ida-de entre zero e 19 anos,tenham sido removidospor conta das obras re-lacionadas direta ou in-diretamente ao Mun-dial de futebol e àsOlimpíadas de 2016.Com isso, enfrentaramdificuldades para conti-nuar a vida escolar, co-mo mostra o Hoje emDia desde a última se-gunda-feira.No Rio de Janeiro não
há um número preciso,masoComitêdosAtingi-dospelaCopaeOlimpía-das estima em mais de10 mil famílias removi-das em função dessesmegaeventos.
RETORNO
AfamíliadeLucasmora-vana vilaRecreio II e foiremovida para a cons-truçãodoBRTTransoes-
te, em 2012. Como com-pensação, receberam oapartamento de um pro-grama habitacional emCampo Grande, no extre-mo oeste da capital flumi-nense. Entretanto, não seadaptaramànova realida-de. Por isso, no ano passa-do alugaramumaquitine-te (quarto, banheiro, cozi-nha e sala) na Novo Lar,comunidadea 300metrosda antiga vila Recreio II.A família, composta pe-
lamãe, padrasto e quatrofilhos, foi desmembrada.Dois dos irmãos não fo-ram para Campo Grandee decidirammorar com aavó. Outro irmão, Rodri-go*,de16, tambémtraba-lha ajudando o padrastona construção de casas.“A escola era boa aqui
perto. Lá (em CampoGrande), os alunos quemandam na escola, éumabagunça.Hoje passoo dia na lan house, ficosentado aqui no banco daárvore, ajudomeupadras-to”, diz Lucas.Ele afirmaque sente fal-
ta da escola,mas não ade
Campo Grande. Apesardisso, só pretende voltarem 2015. Assim, terá per-dido três anos de estudos,abandonados em 2012.“Quandovoltamos, fiz ins-crição pela internet, sóconsegui escola pro ladodeCampoGrande.Não ti-nha escola perto”, relata.Para a assessora de Di-
reitos Humanos na Anis-tia Internacional no Bra-sil, RenataNeder, as famí-lias não poderiam ter sidolevadas para áreas distan-tes. “O reassentamentodeve ser em área próximae em condições adequa-das. Nunca você pode le-var uma família para umasituaçãopior. Esseproces-so aprofunda as desigual-dades urbanas”, avalia.A Secretaria Municipal
de Habitação do Rio deJaneiro informou que naobra do BRT Transoesteforam desapropriadas666 famílias, e que elasforam acompanhadas porassistentes sociais até osmoradores alcançarem aautonomia. l*Nomesfictícios
l> Por ter sidoremovidodeondemorava,jovemde 15anosestá semestudardesde2012
COPA SEM ESCOLACOPA SEM ESCOLA
TERCEIRADEUMASÉRIE
RIODEJANEIRO–Adolescentequeparoudeestudarem2012ajudaopadrastoemserviçosdepedreiro
Da sala deaula parao canteirode obra
PORTONOVO–Conjuntoabriga famílias removidasparaobrasnacapitalgaúcha
FOTOSSAMUELCOSTA
hojeemdia.com.br 31BeloHorizonte,quarta-feira,14.5.2014
HOJEEMDIAMinas