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2019 Organizadores: Leonardo Garcia e Roberval Rocha Coordenadores Bruno Taufner Zanotti Cleopas Isaías Santos DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL E FEDERAL por carreira 3ª edição Revista e atualizada

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2019

Organizadores: Leonardo Garcia e Roberval Rocha

Coordenadores

Bruno Taufner ZanottiCleopas Isaías Santos

DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL E FEDERAL

por carreira

3ª edição Revista e atualizada

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DIREITO CONSTITUCIONAL

1. TEORIA DA CONSTITUIÇÃO

(IBDH/PC/RS/Delegado/2009) Normas constitucionais: discorra sobre os con-ceitos de vigência, validade e eficácia. Apresente ao menos um exemplo de normas cons-titucionais de eficácia plena, de eficácia contida e de eficácia limitada.

Direcionamento da resposta

O candidato, ao estruturar sua resposta, deve, necessariamente, passar pelos se-guintes pontos: (a) discorrer sobre os conceitos de vigência, validade e eficácia das nor-mas; e (b) trabalhar os conceitos de normas constitucionais de eficácia plena, de efi-cácia contida e de eficácia limitada, apresentando um exemplo para cada.

Sugestão de resposta

A resposta da questão perpassa por dois temas distintos. Primeiro, questiona acerca dos conceitos de vigência, validade e eficácia das normas constitucionais. Segundo, solicita ao menos um exemplo de normas constitucionais de eficácia plena, de eficácia contida e de eficácia limitada, o que reclama a análise conceitual desses três temas.

A vigência de uma norma indica a sua efetiva existência em determinado orde-namento jurídico, de modo que ela passou por um processo de criação, foi publicada e não foi revogada. A vigência da atual Constituição se deu com sua promulgação em 1988.

Uma norma válida significa que ela se encontra formal e materialmente compa-tível com as normas de hierarquia superior. Toda norma constitucional do poder cons-tituinte originário possui validade, uma vez que não se pode declarar a inconstitucio-nalidade das normas produzidas em 1988. Contudo, no caso de emendas constitucionais, a sua validade está ligada a não violação do disposto no art. 60 da Constituição Federal. No caso de incompatibilidade, será possível a sua declaração de inconstitucionalidade via controle de constitucionalidade difuso ou concentrado.

Uma norma ainda possui eficácia, o que significa que ela está apta a produzir efeito. Uma norma vigente e válida pode não possuir eficácia, como no caso da lei em vacatio legis. Em se tratando de norma constitucional, cita-se o fenômeno da prorroga-ção constitucional, no qual uma parte da Constituição antiga continua válida por um

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período, deixando em vacatio certas normas da atual constituição, cenário que ocorreu, por exemplo, com o art. 27, §1°, do ADCT. No plano da eficácia das normas constitucio-nais, destaca-se o estudo dessas normas quanto ao seu grau de eficácia, tal como será exposto abaixo.

Normas constitucionais de eficácia plena são as que possuem aplicabilidade ime-diata, direta, integral. Na data da promulgação da Constituição Federal, elas já possuíam os requisitos necessários para sua completa e efetiva aplicação, sem a necessidade de criação de lei posterior. Como exemplo, cita-se o art. 5°, § 1º, da Constituição Federal: “As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”.

Normas constitucionais de eficácia contida são aquelas que possuem aplica-bilidade plena (direta, imediata), mas que têm eficácia prospectiva (postergada). Em outras palavras, são normas que, no momento da promulgação da Constituição Federal, já possuem todos os requisitos necessários para sua efetiva aplicabilidade, mas que poderão, eventualmente, ter o seu conteúdo restringido por norma infra-constitucional. Como exemplo, cita-se o art. 5°, inciso XII, da Constituição Federal: “é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipó-teses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instru-ção processual penal”.

Normas constitucionais de eficácia limitada são dotadas de eficácia jurídica, mas desprovidas de eficácia social, possuindo aplicabilidade indireta, mediata e reduzida. Tais normas não produzem efeitos jurídicos imediatos, pois necessitam de legislação futura para que tenham efetiva operatividade. Ademais, elas possuem a chamada “sín-drome da inefetividade”, possuindo como remédios para a solução do problema o Mandado de Injunção e a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão. Como exemplo, cita-se o art. 18, § 2º, da Constituição Federal: “Os Territórios Federais inte-gram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar”.

(PC/MS/Delegado/2013) Levando-se em consideração que o poder constituinte originário instaura uma nova ordem jurídica, criando um novo Estado, discorra sobre o fenômeno que ocorre quanto às normas editadas anteriormente ao novo regime constitucional.

Direcionamento da resposta

O candidato, ao estruturar sua resposta, deve, necessariamente, passar pelos se-guintes pontos: (a) expor que o tema se insere no estudo do “direito constitucional in-tertemporal” e, de modo mais específico, no âmbito da teoria da recepção; (b) trabalhar com o conceito de recepção; e (c) diferenciar a questão da incompatibilidade formal da incompatibilidade material, expondo suas características.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

Sugestão de resposta

O poder constituinte originário instaura uma nova ordem jurídica, criando um novo Estado. A fim de afastar a instabilidade social que seria provocada por uma ins-tabilidade jurídica em decorrência de lacuna legislativa, foi idealizada a “teoria da re-cepção”, tema que se insere no estudo do direito intertemporal.

A teoria da recepção tem por finalidade a verificação da compatibilidade mate-rial e formal de norma produzida sob a égide de constituição anterior com o novo tex-to constitucional. As normas recepcionadas, portanto, terão um novo fundamento de validade à luz da nova Constituição.

Para que ocorra a compatibilidade material de uma lei anterior à nova Constituição, três requisitos devem ser respeitados: (a) a norma deve estar em vigor no momento da promulgação da nova Constituição; (b) o conteúdo da norma deve estar compatível com a nova Constituição; e (c) a norma deve ter sido produzida de modo válido, ou seja, formalmente e materialmente compatível com a Constituição da época em que foi criada. Preenchidos os três requisitos, a norma será recepcionada no novo ordena-mento jurídico. Contudo, havendo incompatibilidade material com a nova Constituição, a norma não será recepcionada, ou melhor, a norma será revogada1 pela nova Constituição.

Ao lado da incompatibilidade material existe, ainda, a questão da incompatibili-dade formal. Por exemplo, o Código Penal é datado de 1940 e se apresenta como um “decreto-lei”, espécie normativa inexistente na atual Constituição Federal. Em razão dessa incompatibilidade formal, o Código Penal passará por uma transmutação de sua natureza jurídica, de modo a adotar a espécie legislativa indicada pela nova Constituição para tratar de direito penal, qual seja, a forma de lei ordinária. Por fim, é importante ressaltar que uma incompatibilidade formal não acarretará na “não recepção” da nor-ma no novo ordenamento jurídico.

(CESPE/PC/AL/Delegado/2012) A constitucionalização traz importantes conse-quências para a legitimação da atuação estatal na formulação e na execução de políti-cas de segurança. As leis sobre segurança, nos três planos federativos de governo, de-vem estar em conformidade com a constituição federal, assim como as respectivas estruturas administrativas e as próprias ações concretas das autoridades policiais. (Cláudio Pereira de Souza. A segurança pública na constituição de 1988: conceituação

1. “A superveniência de uma nova Constituição não torna inconstitucionais os atos estatais a ela anteriores e que, com ela, sejam materialmente incompatíveis. Na hipótese de ocorrer tal situação, a incompati-bilidade normativa superveniente resolver-se-á pelo reconhecimento de que o ato pré-constitucional acha-se revogado, expondo-se, por isso mesmo, a mero juízo negativo de recepção, cuja pronúncia, contudo, não se comporta no âmbito da ação direta de inconstitucionalidade” (ADI 4222 AgR, julgado em 01/08/2014, Rel. Min. CELSO DE MELLO,).

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de vista da fundamentação jurídica, já que deveriam abordar todos os pontos que en-volvem o tema.

4.1.2. Das Comissões

(Ceperj/PC/RJ/Delegado/2009) Em relação às comissões parlamentares de in-quérito, aborde as seguintes questões: (i) Direito de minorias parlamentares. (ii) Garantia das pessoas intimadas para prestarem depoimento. (iii) Órgão judicial com-petente para julgamento de MS e HC ajuizados em face do ato de CPI constituída por quaisquer das casas do Congresso Nacional. (iv) Imunidade parlamentar material. (v) Poderes instrutórios e cautelares.

Direcionamento da resposta

A questão trabalha o tema de forma bem extensa, de modo que o candidato deve estar atento para não esquecer nenhum dos pontos questionados. Assim, mostra-se in-teressante estruturar uma linha de argumentação que passe por todos os pontos ques-tionados, tal como fizemos abaixo.

O candidato, ao estruturar sua resposta, deve, necessariamente, passar pelos se-guintes pontos: (a) colocar que o tema se insere no estudo do Poder Legislativo, sen-do que a questão trabalha dois pontos específicos desse poder: a comissão parlamen-tar de inquérito e a imunidade material; (b) ao trabalhar sobre a imunidade material, o candidato deve discorrer sobre o tema no âmbito federal; e (c) ao trabalhar sobre a comissão parlamentar de inquérito, o candidato deve expor os requisitos de sua cons-tituição e a relação desse tema com os direitos das minorias; (d) após, deverá aprofun-dar o estudo sobre o tema dos poderes instrutório e cautelares, em especial os direi-tos das pessoas intimadas para prestarem depoimento; e, (e) ainda sobre o tema da comissão parlamentar de inquérito, o candidato deve se debruçar sobre o órgão judi-cial competente para julgamento em face de uma comissão no âmbito federal.

Sugestão de resposta

A questão se insere no estudo do Poder Legislativo e aborda dois pontos de gran-de relevância na atual ordem jurídica: a imunidade material e a comissão parlamen-tar de inquérito.

As imunidades parlamentares se inserem no estudo de um tema mais amplo, chamado “estatuto dos congressistas”, o qual se apresenta como uma série de prerro-gativas, vinculadas ao mandato e necessárias para o regular desempenho da função.

Doutrinariamente, existem dois grandes grupos de imunidades. O primeiro é co-nhecido como imunidade material ou substantiva (freedom of speech), previsto no art. 53 da Constituição Federal, que outorga uma inviolabilidade, civil e penal, por

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DIREITO CONSTITUCIONAL

quaisquer das opiniões, palavras ou votos dos parlamentares. O segundo é conhecido como imunidade formal ou imunidade adjetiva, sendo dividida em duas espécies: a imunidade em relação ao processo e a imunidade em relação à prisão (freedom from arrest), previstas no art. 53, §§ 2º e 3º, da Constituição Federal.

Ao aprofundar o tema da imunidade material ou substantiva, existem dois cená-rios distintos em relação à comprovação da pertinência temática. No caso de palavras proferidas dentro do Congresso Nacional, existe uma presunção absoluta de que tais palavras guardam relação com o mandato, de modo a incidir a imunidade material.45 Por outro lado, no caso de as palavras serem proferidas fora do Congresso Nacional, existe somente uma presunção relativa, devendo a pertinência temática ser compro-vada para que se fale na incidência da imunidade material.46

Superada essa questão, faz-se necessário analisar os pontos relativos à comissão parlamentar de inquérito. Para se constituir uma comissão parlamentar de inquérito, os requisitos do art. 58, §3°, da Constituição Federal devem ser preenchidos, de modo que, uma vez preenchidos tais requisitos, a sua instauração é automática, não sendo possível submeter a uma concordância do plenário ou mesmo ser cassada sua instauração por tal órgão, sob pena de se violar o direito público subjetivo das minorias.47

Os poderes da comissão parlamentar de inquérito, nos termos do dispositivo constitucional, são aqueles “de investigação próprios das autoridades judiciais”, sendo que a jurisprudência teve relevante papel para delimitar o que eles seriam. Em sínte-se (para fins didáticos, colocarei um quadro):

CPI PODE CPI NÃO PODE

– afastar o sigilo bancário, fiscal , de dados e telefônico;

– Quebrar o sigilo da comunicação telefôni-ca (interceptação telefônica) ou determinar qualquer medida cautelar;

– Ouvir testemunhas, sob pena de falso tes-temunho, com poder de condução coercitiva;

– Prender testemunha por falso testemunho sobre fatos que possam lhe prejudicar ou mesmo que deva guardar sigilo;

– Prender em flagrante a testemunha por fal-so testemunho ou desacato;

– Expedir mandado de busca e apreensão, de prisão temporária ou preventiva e manda-do de busca e apreensão;

– Ouvir investigado, inclusive a sua esposa (essa sem o compromisso de dizer a verdade);

– Ter acesso a documentos e processos pro-tegidos por segredo de justiça.

45. AI 493632-AgR, julgado em 13/11/2007, Rel. Min. Carlos Britto.

46. Inq 1958, julgado em 29/10/2009, Rel. Min. Carlos Velloso, rel. p/ o acórdão Min. Carlos Britto,.

47. MS 24845, julgado em 22/6/2005, Rel. Min. Celso de Mello.

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No que diz respeito às pessoas intimadas para prestarem depoimento, algumas observações adicionais se fazem necessárias. Os depoentes possuem direito a um ad-vogado (mesmo se a comissão for sigilosa), com possibilidade de comunicação entre os dois durante o interrogatório, além do direito ao manejo de mandado de seguran-ça e habeas corpus.48

Por fim, o Supremo Tribunal Federal (art. 102 da Constituição Federal) é o órgão judicial competente para julgamento de eventual habeas corpus ou mandado de segu-rança em face de atos provenientes de uma comissão parlamentar de inquérito federal.

NCE/PC/DF/Delegado/2007) Sobre o Poder Legislativo, é viável que as comis-sões parlamentares de inquérito, independentemente de autorização judicial: (i) Procedam à oitiva de indiciados e testemunhas. (ii) Determinem a quebra de sigilo ban-cário, telefônico e fiscal. (iii) Requisitem as informações e documentos necessários pa-ra as investigações. (iv) Decretem prisões provisórias. (v) Concedam medidas cautela-res. (vi) Restrinjam ou proíbam assistência jurídica? As respostas devem ser justificadas, com indicação da jurisprudência predominante do Supremo Tribunal Federal sobre a matéria.

Direcionamento da resposta

A questão trabalha o tema dos poderes da comissão parlamentar de inquérito, questionamento o posicionamento majoritário do Supremo Tribunal Federal. Ao res-ponder a perguntar anterior, colocamos um quadro sobre o tema. Ele é, basicamente, quase tudo o que você precisa para responder nessa questão, além da necessidade de aprofundar na questão das medidas cautelares e da assistência jurídica.

Sugestão de resposta

As comissões parlamentares de inquérito são de natureza temporária, não po-dendo ultrapassar uma legislatura, devidamente prevista no art. 58, §3°, da Constituição Federal. O seu estudo se insere dentro de uma função típica do Poder Legislativo, qual seja, a função de fiscalizar.

Os poderes da comissão parlamentar de inquérito, nos termos do dispositivo constitucional, são aqueles “de investigação próprios das autoridades judiciais”, sendo que a jurisprudência teve relevante papel para delimitar o que eles seriam. De forma mais específica, a questão trata de cinco temas que merecem detida análise, os quais serão apresentados à luz da jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal.

48. HC 88015, julgado em 14/02/2006, Rel. Min. CELSO DE MELLO.

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DIREITO PENAL

1.2. Relação de Causalidade

(UESPI/PC/PI/Delegado/2009) José Armando desferiu um disparo de arma de fogo contra Pedro Cassiano, com dolo de homicídio. Em decorrência do disparo, a víti-ma, que foi atingida em região não vital, foi posta em ambulância para ser levada ao Hospital de Urgência de Teresina. No trajeto em direção ao hospital, a ambulância so-freu acidente, capotando três vezes. Em decorrência do acidente, a vítima teve a cabe-ça esmagada, vindo a falecer. Seu atestado de óbito acusa como “causa mortis” trau-matismo craniano. José Armando deve responder por alguma conduta? Em caso positivo, qual? Fundamente e justifique a resposta com base no ordenamento jurídico pátrio.

Direcionamento da resposta

Antes de adentrar no tema, lembre-se da orientação externada na primeira ques-tão sobre planejamento estratégico.

Quanto ao conteúdo da questão, observa-se o examinador trouxe o tema atre-lado à relação causalidade entre a conduta do agente e o resultado lesivo, devendo o candidato identificar e discorrer sobre causa relativamente independente que produ-ziu o resultado por si só, com fulcro no artigo 13, § 1º (teoria da Causalidade Adequada) destacando que o personagem exposto pela banca examinadora, José Armando, res-ponderá somente pelo resultado que produziu diretamente, isto é, homicídio na sua forma tentada.

Sugestão de resposta

À luz dos elementos apresentados em epígrafe, estamos diante de uma causa relativamente independente superveniente à conduta que, se liga à conduta principal, gerando a produção do resultado morte da vítima, Pedro Cassiano, porquanto, caso o autor do disparo, José Armando, não desferisse em desfavor da vítima o disparo de arma de fogo, esta não teria sido socorrida pela ambulância, como consequência não seria atingida pelo acidente fatal, por este motivo José será responsabilizado penalmente pelo resultado gerado na primeira conduta.

Consoante a doutrina pátria, na concausa relativamente independente superve-niente que por si só produz o resultado, trata-se das hipóteses em que a causa efeti-va do resultado é considerada um evento imprevisível, que sai da linha de desdobra-mento causal então existente. Nesses casos, se “inaugura um novo curso causal, dando ao acontecimento uma nova direção, com tal relevância em relação ao resultado, que é como se o tivesse causado sozinha”. Por consequência, exclui-se a imputação do re-sultado em relação ao agente responsável pela primeira causa concorrente.

Não obstante exista nexo causal entre a conduta e o resultado, com apoio na teoria da causalidade simples, tratando-se de uma causa relativamente independen-

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te superveniente que produziu o resultado por si só, o autor do disparo, José Arman-do, não responderá pelo evento subsequente à sua conduta, o resultado é consequên-cia anormal, improvável, imprevisível da manifestação de vontade do agente, sendo-lhe atribuído apenas o resultado diretamente produzido, sendo o crime de ho-micídio doloso tentado (art. 121, c/c art. 14, II, do CPB), nessa situação, aplica-se a teoria da causalidade adequada, ou a limitação do alcance da teoria da equivalência dos antecedentes causais ou outra denominação equivalente, prevista no art. 13, § 1°, do CP.

(CEBRASPE/PC/PE/Delegado/2016) Otávio, maior e capaz, frequentava deter-minado bar e, regularmente, jogava sinuca com Carlos, também maior e capaz. Em uma das partidas, eles se desentenderam e Otávio, com a intenção de matar Carlos, aplicou-lhe dois golpes com uma faca, ferindo-o e fazendo-o sangrar. Imediatamente, o dono do bar e outras pessoas presentes no estabelecimento detiveram o autor do deli-to, acionaram a polícia e chamaram uma ambulância, que conduziu o ferido após os primeiros socorros terem sido prestados. No deslocamento para o hospital, a ambulân-cia colidiu com um caminhão e, em razão exclusivamente da colisão, todas as pessoas que estavam na ambulância faleceram instantaneamente.

Considerando a situação hipotética apresentada, redija um texto dissertativo des-tacando as teorias da relação de causalidade previstas no Código Penal e a teoria de causalidade aplicável à conduta de Otávio no que se refere ao falecimento de Carlos.

Direcionamento da resposta

Observe que o assunto abordado na questão é o mesmo do anterior cobrado para Delegado PI/09.

Destarte, o examinador trouxe o tema atrelado à relação causalidade entre a conduta do agente e o resultado lesivo, devendo o candidato identificar e discorrer so-bre causa relativamente independente que produziu o resultado por si só, com fulcro no artigo 13, § 1º (teoria da Causalidade Adequada) destacando que o personagem ex-posto pela banca examinadora, Otávio, tinha a intenção de matar Carlos, por isso res-ponderá somente pelo resultado que produziu diretamente, isto é, homicídio doloso na sua forma tentada.

Oportuno destacar que nesta prova a banca só disponibilizou 10 linhas para o candidato desenvolver sua resposta com base na doutrina do Cleber Masson1.

Abaixo irei expor a resposta que foi adotada pela banca com pequenas adapta-ções.

1. Cleber Masson. Direito Penal Esquematizado. vol. 1. 10.ª ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: Método, 2016. p. 258-64.

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DIREITO PENAL

Sugestão de resposta

A doutrina defende, quanto às teorias da relação de causalidade previstas no Código Penal, o citado código adota, como regra geral, a teoria da equivalência dos an-tecedentes causais, a qual também apresenta outras denominações, como teoria da equivalência das condições, teoria da condição simples, teoria da condição generaliza-dora e teoria da conditio sine qua non.

De acordo com o art. 13, caput, in fine, do CP, “O resultado, de que depende a exis-tência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”. Excepcionalmente, o CP adota, no art. 13, § 1º, a teoria da causalidade adequada: “A superveniência de causa relativa-mente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fa-tos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou”.

Neste sentido, a expressão teoria da causalidade adequada, por si só, revela a autonomia da causa superveniente que, embora seja relativa, não se encontra no mes-mo curso do desenvolvimento causal da conduta praticada pelo autor.

Com relação à situação hipotética apresentada, Otávio apenas responderá pelos resultados da tentativa de homicídio doloso contra Carlos, já que foi rom-pido o nexo causal em relação ao resultado. Assim, nessa situação, aplica-se a teo-ria da causalidade adequada, ou a limitação do alcance da teoria da equivalência dos antecedentes causais ou outra denominação equivalente, prevista no art.13, § 1º, do CP.

1.3. Crime Consumado e Tentativa

(UFAP/PC/Delegado/2006) Discorra sobre o “iter criminis”, abordando, no mí-nimo: (i) a definição do termo; (ii) as fases que o compõem; (iii) a natureza jurídica da tentativa; (iv) a tentativa perfeita e imperfeita; (v) os crimes que não admitem tentati-va; (vi) o critério para a diminuição da pena; (vii) consumação; (viii) exaurimento.

Direcionamento da resposta

Antes de adentrar no tema, lembre-se da orientação externada na primeira ques-tão sobre planejamento estratégico.

O tema da assertiva está bem definido, trata-se, pois, do instituto da tentativa, sua natureza, crimes que a admite etc. Oportuno destacar que o candidato deve res-ponder à questão seguindo as indagações do comando da questão, mostrando organi-zação e concisão. Ainda, é importante que o candidato estruture sua resposta de for-ma objetiva, fazendo um entrelace entre a legislação e doutrina.

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DIREITO PROCESSUAL

PENAL

1. DO PROCESSO EM GERAL

1.1. Do Inquérito Policial

(UFAP/PC/AP/Delegado/2006) Discorra sobre o inquérito policial, abordando, no mínimo: (i) o conceito; (ii) a natureza jurídica; (iii) as características; (iv) a instau-ração; (v) a atribuição; (vi) o arquivamento; (vii) o inquérito policial e o controle exter-no da atividade policial exercidos pelo ministério Público.

Direcionamento da resposta

O examinador exige do candidato um amplo conhecimento sobre os principais aspectos do inquérito policial.

Sugestão de resposta

1. Conceito: inquérito policial é o procedimento administrativo instaurado pela Polícia Civil (Federal ou Estadual) e presidido pelo Delegado de Polícia, que objetiva, a partir de um conjunto de diligências realizadas, a demonstração ou indicação de in-dícios de autoria e materialidade de um crime, ou simplesmente a demonstração de que o fato não configura crime ou está extinta a punibilidade, possibilitando, assim, ao órgão de acusação, propor a respectiva ação penal ou promover o arquivamento dos autos. O inquérito policial exerce, portanto, a partir dessa dupla finalidade instrumen-tal, a importante função de filtro processual contra acusações infundadas.

2. Natureza jurídica: a natureza jurídica do inquérito policial é de procedimento administrativo. Não se trata, portanto, de processo administrativo nem judicial, não se lhe aplicando, como regra, o contraditório e a ampla defesa.

3. Características: as principais características do inquérito policial são as seguin-tes: 3.1) instrumentalidade qualificada; 3.2) forma escrita (?); 3.3) dispensabilidade; 3.4) sigilosidade; 3.5) inquisitoriedade (?); 3.6) obrigatoriedade; 3.7) oficialidade; 3.8) ofi-ciosidade; 3.9) indisponibilidade; 3.10) informatividade; 3.11) prorrogabilidade.

3.1 Instrumentalidade qualificada: se o processo penal é o instrumento que pos-sibilita a aplicação do poder/dever de punir do estado, ao mesmo tempo em que

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COLEÇÃO PREPARANDO PARA CONCURSOS

garante direitos fundamentais do imputado, o inquérito policial é sua porta de entra-da por excelência. O inquérito policial, portanto, possui uma dupla instrumentalidade: a) punitiva (quando possibilita a propositura da ação penal; e b) garantista (quando demonstra a inexistência de justa causa para a ação penal). O inquérito policial serve como anteparo de um futuro processo injusto. Atua, assim, como filtro processual con-tra acusações infundadas, sendo o substrato da justa causa para a ação penal.

3.2 Forma escrita: tradicionalmente a doutrina informa, com base no art. 9º do CPP, que o inquérito policial é um procedimento escrito. Com efeito, segundo o referi-do dispositivo legal, “todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, re-duzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade”. Contudo, a Lei nº 11.719/2008 estabelece que, “sempre que possível, o registro dos depoimen-tos do investigado, indiciado, ofendido e testemunhas será feito pelos meios ou recur-sos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das informações” (art. 405, § 1º, do CPP). O legisla-dor perdeu a oportunidade de mudar o art. 9º do CPP. Contudo, não há qualquer óbi-ce ao registro das oitivas no curso do inquérito policial através dos meios e técnicas elencadas no art. 405, § 1º, do CPP. Aliás, esse dispositivo faz menção expressa a in-vestigado e indiciado. O que se observa é uma evolução na forma de registro dessas oitivas, indo da escrita (literalmente!), passando pela datilografada, digitalizada (como já é feita há muito tempo), até chegar aos meios mais modernos, previstos pela refor-ma de 2008.

3.3 Dispensabilidade: o inquérito policial é dispensável. Isso significa que o ti-tular da ação penal pode propô-la com base em outros elementos de convicção acer-ca da materialidade e autoria do caso penal em apreço. Esta característica é decorrên-cia lógica do sistema multifacetado de investigação preliminar adotado no Brasil. Não há monopólio da Polícia Judiciária na investigação criminal. Diversas outras institui-ções podem realizar investigações. E o resultado delas pode servir de base para a pro-positura da ação penal. Além disso, nas hipóteses de ação penal pública, qualquer do povo pode provocar a iniciativa do Ministério Público, fornecendo as informações es-senciais quanto à autoria e materialidade, nos termos do art. 27 do CPP. Além desse dispositivo, também os arts. 12, 39, § 5º, e 46, § 1º, todos do CPP, lidos sistematicamen-te, dispensam o inquérito policial.

3.4 Sigilosidade: a publicidade é a regra no processo penal brasileiro. Ela serve tanto para legitimar quanto para fiscalizar e controlar os atos dos atores da persecu-ção penal. A publicidade possui fundamento constitucional, convencional e legal. Com efeito, a Constituição Federal faz referência à publicidade em diversos dispositivos, a exemplo do art. 5º, incs. XXXIII e LX, além do art. 93, inc. IX. De igual modo, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Dec. nº 678/1992), no art. 8º, § 5º, e o Código de Processo Penal (art. 792, caput). Essa publicidade, no entanto, não é absoluta, podendo ser restringida, como o fazem todos os atos normativos referidos, às partes e ao juiz, por diversas razões, a exemplo do interesse de preservação da intimidade; por interes-se da justiça; para evitar escândalo, inconveniente grave ou quando houver perigo de perturbação da ordem. Outra hipótese legal de sigilosidade é que diz respeito às

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informações consideradas imprescindíveis à segurança do Estado ou da sociedade, en-tre as quais, as que podem comprometer a investigação policial (art. 23, inc. VIII, da Lei nº 12.527/2011). É nesse contexto de possibilidade de restrição da publicidade que o CPP estabelece, no art. 20, que “a autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessá-rio à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade”. O sigilo do inquérito policial, portanto, nada mais é do que a chamada publicidade interna ou restrita. Como regra o sigilo é mantido pelo Delegado de Polícia independente de determinação ju-dicial, decorrendo ou de ordem legal (art. 234-B, do CP) ou de possibilidade legal, sen-do que, neste último caso, o Delegado decretará o sigilo a partir da análise do caso concreto, sempre em despacho fundamentado e a partir dos parâmetros legais. Excepcionalmente, entretanto, nos termos da Lei nº 12.850/2013 (organização crimi-nosa) o sigilo da investigação será decretado pelo Juiz, hipótese em que o acesso do advogado aos autos sob sigilo também dependerão de autorização judicial (art. 23). O STF regulamentou a matéria através da Súmula Vinculante nº 14, segundo a qual, “É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”. A teor da própria súmula, o acesso amplo da defesa só diz respeito aos procedimentos investigatórios já documentados. Não alcança, portanto, os meios de obtenção de pro-va cuja eficácia está condicionada ao desconhecimento da defesa, como a intercepta-ção telefônica e a infiltração policial. Por isso permanece sem ser documentada até sua conclusão. O sigilo, neste caso, será absoluto. No caso de descumprimento da re-ferida súmula pela autoridade policial, caberá Reclamação Constitucional diretamente ao STF (art. 102, inc. I, alínea “l”, da CF). A jurisprudência tem admitido também man-dado de segurança e habeas corpus. Mais recentemente, a Lei nº 13.245/2016 alterou o Estatuto da OAB para possibilitar que o advogado tenha acesso à investigação poli-cial e possa fazer cópia dos autos, inclusive das que estiverem sob sigilo, exigindo-se, para tanto, neste último caso, apenas que o causídico tenha procuração do interessa-do (art. 7º, inc. XIV, c/c o § 10, do EOAB). À semelhança da Súmula Vinculante 14, a Lei nº 13.245/2016 também restringiu o acesso do defensor aos elementos de prova re-lacionados a diligências em andamento e ainda não documentados nos autos, sempre que houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências (art. 7º, § 11, do EOAB). Apesar disso, há entendimento do STF no sentido de que o sigilo, no inquérito policial, é excepcional, e que, de acordo com o princípio republicano, deve ser afastado em prol do direito público à informação (STF, Petição 5.553-DF, Rel. Min. Celso de Mello, J. 27.02.2015).

3.5 Inquisitoriedade: a doutrina majoritária entende que o inquérito policial é inquisitório, pois se não há acusação, não haveria razão para defesa ou exercício do contraditório. A questão não é tão simples como parece. Ao ser ouvido, por exemplo, o investigado tem o direito de permanecer em silêncio ou falar, se quiser, exercendo a chamada autodefesa negativa ou positiva, respectivamente; tem o direito de não ser obrigado a produzir prova contra si mesmo; pode requerer diligências; ter sua prisão comunicada ao seu advogado ou à Defensoria Pública, entre outros direitos. Além