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2019 Organizadores: Leonardo Garcia e Roberval Rocha Coordenador Anderson de Paiva Gabriel TJ-RJ Juiz Estadual por carreira

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Page 1: Coordenador Anderson de Paiva Gabriel TJ-RJ€¦ · Autor: Anderson de Paiva Gabriel Direcionamento da resposta A questão propunha uma reflexão, demandando do candidato conheci-

2019

Organizadores: Leonardo Garcia e Roberval Rocha

Coordenador

Anderson de Paiva Gabriel

TJ-RJJuiz Estadual

por carreira

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DIREITO CONSTITUCIONAL

♥(TJRJ/Juiz/XLVII_Concurso) Conhecido jurista alemão considera que “A qualificação jurídica da revolução é determinada pelo êxito. Se fracassarem a sua relevância é jurídico-penal, se triunfarem têm uma relevância jurídico-po-lítica (...).” (ZIPPELIUS, Reinhold, Teoria Geral do Estado. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1997, trad. COUTINHO, Karinn Preefke-Aires Coutinho, coord. CANOTILHO, J. J. Gomes). Partindo do pressuposto de que a tese está corre-ta, justifique-a sinteticamente. Autor: Anderson de Paiva Gabriel

Direcionamento da resposta

A questão propunha uma reflexão, demandando do candidato conheci-mento interdisciplinar e, em especial, o tema poder constituinte. Com efeito, con-soante Canotilho: “o poder constituinte se revela sempre como uma questão de ‘poder’, de ‘força’ ou de ‘autoridade’ política que está em condições de, numa de-terminada situação concreta, criar, garantir, ou eliminar uma Constituição enten-dida como lei fundamental da comunidade política8”. Nesse diapasão, importan-te salientar que o poder constituinte originário (genuíno ou de 1º grau), que é um poder de fato e um poder político, caracterizado por ser inicial, autônomo, juridicamente ilimitado, incondicionado e permanente, pode ser subdividido em histórico (fundacional) e revolucionário. O poder constituinte originário históri-co é aquele que pela primeira vez estrutura um Estado, e, o poder constituinte revolucionário, consiste em todos os posteriores ao histórico, nos quais há o com-pleto rompimento com a instauração da antiga ordem e inauguraçao de uma nova. Assim, “a revolução, também chamada de hiato constitucional, deve ser en-carada como uma quebra do processo político e histórico normal da organiza-ção política 9. Ciente dessa premissa teórica, o candidato deveria dissertar so-bre as consequências de um movimento revolucionário que não viesse a ser reconhecido como poder constituinte originário. A hipótese é enfrentada por

8. CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e teoria da Constituição. 6. ed. p. 65. Coimbra: Almedina, 1993.

9. LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 20 ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 218/220.

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COLEÇÃO PREPARANDO PARA CONCURSOS

Paulo Branco: “se o poder constituinte é a expressão da vontade política da na-ção, não pode ser entendida sem a referência aos valores éticos, religiosos, cul-turais que informam essa mesma nação e que motivam as suas ações. Por isso, um grupo que se arrogue a condição de representante do poder constituinte ori-ginário, se se dispuser a redigir uma Constituição que hostilize esses valores do-minantes, não haverá de obter o acolhimento de suas regras pela população, não terá êxito no seu empreendimento revolucionário e não será reconhecido como poder constituinte originário. Afinal, só é dado falar em atuação do poder cons-tituinte originário se o grupo que diz representá-lo colher a anuência do povo, ou seja, se vir ratificada a sua invocada representação popular. Do contrário, es-tará havendo apenas uma insurreição, a ser sancionada como direito penal. Quem tenta romper a ordem constitucional para instaurar outra e não obtém a ade-são dos cidadãos não exerce poder constituinte originário, mas age como rebel-de criminoso”10. Por sua vez, Pedro Lenza ainda destaca que “essa interessante idéia de insurreição, a ser sancionada como delito penal, encontra fundamento no art. 5º, XLIV, da CF/88: ‘constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático’”11

Proposta de resposta

Ab initio, cumpre destacar que o Poder Constituinte Originário pode de-correr de revolução. Com efeito, o poder constituinte originário (genuíno ou de 1º grau), que é um poder de fato e um poder político, caracterizado por ser inicial, autônomo, juridicamente ilimitado, incondicionado e permanente, pode ser subdividido em histórico (fundacional) e revolucionário. O poder consti-tuinte originário histórico é aquele que pela primeira vez estrutura um Estado, e, o poder constituinte revolucionário, consiste em todos os posteriores ao his-tórico, nos quais há o completo rompimento com a instauração da antiga or-dem e inauguraçao de uma nova. Assim, a revolução, também chamada de hia-to constitucional, deve ser encarada como uma quebra do processo político e histórico normal da organização política. Nesse diapasão, uma revolução exi-tosa, ao dar azo ao Poder Constituinte Originário, não está presa a qualquer amarra do passado (função “Bootstrapping”), inaugurando uma nova ordem ju-rídica. Para que o poder constituinte originário, enquanto expressão da vonta-de política da nação, resultante de uma revolução seja legítimo, deve abran-ger os valores éticos, religiosos e culturais que informam essa mesma nação

10. BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; COELHO, Inocêncio Mártires; MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de direito constitucional. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 275.

11. LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 20 ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 221/222.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

e que motivam as suas ações, gozando da anuência popular. Em outro giro, uma revolução ilegítima ou fracassada, em verdade configura simples insur-reição, e terá seus atos submetidos ao ordenamento jurídico então vigente, su-cumbindo ante a ordem político e social já existente. Nesse sentido, registre--se, inclusive, que o ordenamento jurídico frequentemente (se é que não é sempre) prevê como crimes as condutas que atentem contra a ordem vigente. Posto isso, destaque-se o art. 5º, XLIV, da CF/88: ‘constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático’”12 e que até mesmo a recente Lei de Terrrorismo (Lei 13.260/16), face a seus tipos abertos, poderia ser utilizada para reprimir supostos “rebeldes” que se insurgissem contra a ordem vigente. Gize -se, ainda, a Lei de Segurança Nacional (Lei 7.170/83).

(TJRJ/Juiz/XLVII_Concurso) A Constituição da República Federativa do Brasil, de 1969, ou mais tecnicamente a Emenda Constitucional n.º 1, de 17.10.69 (à Carta de 1967) — período que de endurecimento político do regime militar instaurado em 01.4.64, cujo principal marco jurídico foi o Ato Institu-cional n.º 5, de 13.12.68 —, dispunha, no § 11 do art. 150, que “Não haverá pe-na de morte, de prisão perpétua, de banimento, nem de confisco. Quanto à pe-na de morte, fica ressalvada a legislação militar aplicável em caso de guerra externa. A lei disporá sobre o perdimento de bens por danos causados ao erá-rio ou no caso de enriquecimento ilícito no exercício de função pública.” Poste-riormente, emenda introduzida pelo Ato Institucional n.º 14, de 05.9.69, deu ao dispositivo a seguinte redação: “Não haverá pena de morte, de prisão per-pétua, de banimento, ou confisco, salvo nos casos de guerra externa psicoló-gica adversa, ou revolucionária ou subversiva nos termos que a lei determinar. Esta disporá também, sobre o perdimento de bens por danos causados ao Erá-rio, ou no caso de enriquecimento ilícito no exercício de cargo, função ou em-prego na Administração Pública, Direta ou Indireta.” Com base nesse permis-sivo, a Lei de Segurança Nacional (Decreto-Lei nº 898, de 29 de setembro de 1969, emitido pela Junta Militar que governava o País) tipificou penalmente di-versas condutas puníveis com “prisão perpétua em grau mínimo ou morte em grau máximo”. A Constituição de 1988, promulgada em 05.10.88, dispôs, no art. 5.º, que “não haverá penas de” (inciso XLVII) “morte, de caráter perpé-tuo, de trabalhos forçados, de banimento e cruéis” (alíneas “a” a “e”). Consi-derando a evolução constitucional aludida na questão, responda fundamenta-damente: prosperaria ação direta de inconstitucionalidade, tendo por objeto as

12. Idem.

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DIREITO TRIBUTÁRIO

(TJRJ/Juiz/XLVII_Concurso) Após superar o trauma decorrente da mor-te de seu pai, João decide todas as celeumas relativas ao recebimento da heran-ça, ficando pendente apenas o pagamento do Imposto sobre Transmissão Cau-sa Mortis e Doação – ITCMD. O bem a ser transmitido, um apartamento na Avenida Delfim Moreira, foi objeto de avaliação administrativa que apontou o valor de mercado no montante de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais). Além disso, seu pai possuía uma dívida no montante de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) e João gastou R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) com as des-pesas do funeral. Ao elaborar a guia para pagamento do referido imposto após declaração do contribuinte, o Fiscal excluiu da base de cálculo as dívidas do fa-lecido, mas deixou de excluir as despesas do funeral, perfazendo a base tribu-tável no caso concreto o valor de R$ 9.000.000,00 (nove milhões de reais). João, inconformado, alega que as despesas com o funeral também não devem ser incluídas na base de cálculo do tributo, mas o Fiscal não acolhe o respecti-vo pedido. Analise a legalidade/constitucionalidade do posicionamento adota-do pelo Fiscal de Rendas.Autora: Aline Abreu Pessanha

Direcionamento da resposta

A questão tinha como objetivo aferir, além do conhecimento acerca do tri-buto em espécie, se o candidato estava atualizado com o tema. Isso porque, em 29/12/201525, foi publicada a  Lei Fluminense nº 7.174, que revogou a Lei n. 1.427/89 e trouxe nova regulamentação sobre o imposto sobre a transmissão causa mortis e a doação de quaisquer bens ou direitos (ITCMD) de competência do estado do Rio de Janeiro. Dentre as modificações instituídas pela referida lei, está a alteração na normatização da base de cálculo do imposto em comento26.

25. A prova escrita do XLVII Concurso Para Ingresso na Magistratura de Carreira foi realizada no dia 10/04/2016.

26. “Lei n. 1427/89 (...) Art. 10 – A base de cálculo do imposto é o valor real dos bens ou direitos, ou o valor do título ou crédito, transmitidos ou doados.  § 1º – Entende-se por valor real o valor corrente de mercado do bem ou direito. § 2º Na hipótese de transmissão de bens imó-

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COLEÇÃO PREPARANDO PARA CONCURSOS

Dessa forma, o candidato deverá atentar-se às alterações legislativas pró-ximas à data da sua prova, sem olvidar que os aspectos do lançamento tributá-rio, como a alíquota aplicável, são regidos pela lei em vigor na data da abertu-ra da sucessão ou da doação. Nesse sentido, é o enunciado n. 112 da Súmula do Supremo Tribunal Federal: “O imposto de transmissão ‘causa mortis’ é devido pela alíquota vigente ao tempo da abertura da sucessão”.

Em relação à resposta, verifica-se que a questão não tem controvérsia doutrinária e/ou jurisprudencial para enriquecer a redação, pois há previsão ex-pressa da resposta no art. 14, § 2º, inciso II, da Lei Fluminense nº 7.171/2015.

Por isso, sugere-se ao candidato expor uma noção geral do ITCMD, abor-dando sua hipótese de incidência e a base de cálculo, de acordo com a Constituição Federal e o Código Tributário Nacional. Ao final, o concorrente con-cluirá assinalando como o tema é tratado na legislação do estado do Rio de Janeiro e respondendo o questionamento proposto pelo examinador.

Proposta de resposta

A Constituição Federal (CRFB/88), em seu artigo 155, inciso I, atribuiu a competência tributária privativa aos estados e ao Distrito Federal para instituir o imposto sobre a transmissão “causa mortis” e por doação de quaisquer bens ou direitos (ITCMD).

Até hoje, não foi editada lei complementar sobre as normas gerais do ITCMD. Por isso, aplicam-se ao mencionado imposto as disposições dos artigos 35 a 42 do Código Tributário Nacional (CTN). Todavia, o CTN foi editado na vi-gência da Constituição de 1946, assim, suas normas devem ser interpretadas à luz da CRFB/88.

veis, o contribuinte poderá optar por redução na base de cálculo em 14.098 (quatorze mil e noventa e oito) UFIRs-RJ do valor total, desde que renuncie ao direito de impugnar, na esfera administrativa, a base de cálculo definida.” (norma revogada)

“Lei n. 7.171/2015 (...) Art. 14. A base de cálculo do imposto é o valor de mercado do bem ou do direito transmitido. §1º O valor de mercado é determinado por meio de avaliação judicial ou administrativa, que poderão considerar, dentre outros elementos, as disposi-ções desta seção, o valor declarado pelo contribuinte, valores praticados ou oferecidos em operações onerosas relativas aos bens e direitos transmitidos ou a similares, ou fixados para incidência de outros tributos, bem como indicadores de mercado e normas técni-cas ou contábeis aplicáveis. § 2º Excluem-se da base de cálculo do imposto: I – desde que comprovadas a origem, autenticidade e pré-existência, as dívidas: a) do falecido; ou b) que onerem o bem doado. II – as despesas de funeral. §3º Não se aplica o disposto no inciso I do §2º deste artigo quando: I – o valor da dívida já tiver sido levado em consideração para determinação do valor de mercado do bem ou direito; ou II – a dívida estiver acobertada por seguro total. §4º Nos casos não previstos nesta seção, a base de cálculo do imposto será o valor do bem ou direito na data da avaliação.” (norma vigente).

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DIREITO TRIBUTÁRIO

No estado do Rio de Janeiro, o ITCMD foi instituído pela Lei n. 1.427/1989, com eficácia a partir de 1º de janeiro de 1989. Atualmente, o tributo em comen-to está disciplinado na Lei n. 7.174/2015.

A base de cálculo do ITCMD, de acordo com o art. 38 do CTN, é o valor venal (valor de mercado) dos bens transmitidos. No mesmo sentido, o artigo 14, caput, da Lei Fluminense nº 7.174/2015.

Para o cálculo do imposto devido, a norma estadual determina expressa-mente a exclusão (a) das dívidas do falecido ou que onerem o bem doado e (b) das despesas de funeral da base de cálculo do imposto.

Neste ponto, destaca-se que, mesmo na hipótese de a norma estadual não ser expressa nesse sentido, as despesas de funeral devem ser decotadas da base de cálculo do ITCMD. Isso porque eventuais dívidas e despesas do funeral não integram o valor a ser transmitido aos herdeiros, pois são pagas pelo monte da herança, nos termos dos artigos 1.84727 e 1.99828 do CC/02.

Posto isso, é evidente a ilegalidade do posicionamento adotado pelo Fiscal de Rendas, pois não está de acordo com o regramento estadual. Logo, tem razão o contribuinte ao pretender que as despesas com o funeral também sejam de-cotadas da base de cálculo do ITCMD devido.

♥(TJRJ/Juiz/XLVII_Concurso) Jorge, sempre preocupado com a sua famí-lia, possuía planos de previdência complementar com cobertura por sobrevi-vência, estruturados sob o regime financeiro de capitalização, tais como Pla-no Gerador de Benefício Livre – PGBL e Vida Gerador de Benefício Livre – VGBL, tendo indicado seus filhos Pedro e Gabriel como beneficiários. Por con-ta de um acidente, Jorge vem a falecer e os seus herdeiros recebem os benefí-cios contratados nos referidos planos. Analise se, nesse caso, ocorre o fato ge-rador do Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação – ITCMD, considerando a natureza jurídica dos planos de previdência e a hipótese de in-cidência do tributo. Autora: Aline Abreu Pessanha

27. “Art. 1.847. Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens existentes na abertura da sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral, adicionando-se, em seguida, o valor dos bens sujeitos a colação.”

28. “Art. 1.998. As despesas funerárias, haja ou não herdeiros legítimos, sairão do monte da heran-ça; mas as de sufrágios por alma do falecido só obrigarão a herança quando ordenadas em testamento ou codicilo.”

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DIREITO AMBIENTAL

♥(TJRJ/Juiz/XLVII_Concurso) A Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992) adotou princípio (nº 3), de seguinte teor: “O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de meio am-biente das gerações presentes e futuras” Pergunta-se: Que princípio de direito ambiental consagra este item da Declaração? Faça breve dissertação a respei-to, identificando a quem se dirige referido princípio, apontando pelo menos uma norma constitucional brasileira que o consagra.Autora: Aline Abreu Pessanha

Direcionamento da resposta

Inicialmente, é imprescindível destacar que a prova não tem um gabarito oficial e não há consenso entre os autores de Direito Ambiental sobre os prin-cípios caracterizadores da matéria. Por isso, seria possível o candidato citar o princípio do desenvolvimento sustentável41 ou o princípio da equidade ou soli-dariedade intergeracional 42. Assim, considerando que a questão trata do

41. “A Declaração do Rio (ou Carta do Rio), através de seus vinte e sete princípios, endossa o con-ceito fundamental de desenvolvimento sustentável, que associa as aspirações compartilhadas por todos os países ao progresso econômico e social com a necessidade de uma consciência ecológica.” (SILVA, Romeu Faria Thomé da. Manual de Direito Ambiental. 5.ed. Bahia: Editora JusPODIVM, 2015, p. 45, grifei).

“Com a segunda Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que ocorreu em 1992 no Rio de Janeiro e que é conhecida como ECO-92, o desenvolvimento sustentável se consagrou em definitivo na esfera internacional por causa da Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, cujo Princípio n. 3 consagra que ‘O Direito ao de-senvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades de gerações presentes e futuras.’ Sendo assim, a formulação do princípio do desenvolvimento sustentável implica no reconhecimento de que as forças de mercado aban-donadas à sua livre dinâmica não garantem a manutenção do meio ambiente, imponto um paradigma novo ao modelo de produção e consumo do acidente.” (FARIAS, Talden; COUTINHO, Francisco Seráphico da Nóbrega; MELLO, Geórgia Karência R. M.M.; Direito Ambiental / Coor-denação Leonardo de Medeiros Garcia. 3.ed. rev., ampl. e atual. Bahia: Editora JusPODIVM, 2015, p. 43, grifei).

42. “Por este princípio, que inspirou a parte final do caput do art. 225, da CRFB, as presentes ge-rações devem preservar o meio ambiente e adotar políticas ambientais para a presente e as

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COLEÇÃO PREPARANDO PARA CONCURSOS

princípio do desenvolvimento sustentável, o candidato deveria demonstrar co-nhecimento sobre a matéria, mencionando, inicialmente, que esse postulado in-gressou, em definitivo, na esfera internacional com a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento formulada na segunda Conferência das Nações Unidas (ONU), que ocorreu no Rio de Janeiro em 1992. Após, o candida-to elaborará uma breve dissertação sobre o princípio em comento43.

Em seguida, apontará que tal postulado está consagrado no artigo 225, caput, da Constituição Federal de 1988, quando afirma que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletivi-dade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”

Pode-se citar, ainda, o art. 170, inciso VI, que demonstra a necessidade de harmonizar a atividade econômica e a preservação ambiental, ao prever como princípio geral da atividade econômica a “defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação”.

Neste ponto, o candidato poderá enriquecer sua resposta mencionando que, no plano infraconstitucional, o postulado em comento está previsto no ar-tigo 4º, inciso I, da Lei n. 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente; como também, no art. 6º, inciso IV, da Lei 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

futuras gerações, não podendo utilizar os recursos ambientais de maneira irracional de modo a privar os seus descentes do seu desfrute. Não é justo utilizar recursos naturais que devem ser reservados aos que ainda não existem. (...) Sob essa perspectiva, informa o Princípio 03 da Declaração do Rio: (...) ” (AMADO, Frederico, Resumo de direito ambiental: esquematizado. 3.ed. rev. e atual – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015, p. 42).

43. Sobre o conceito do princípio do desenvolvimento sustentável, vale conferir no Supremo Tribunal Federal o seguinte julgado: “A QUESTÃO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL (CRFB/ 1 988, ART. 3º, II) E A NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE (CRFB/ 1988, ART. 225): O PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO FATOR DE OBTENÇÃO DO JUSTO EQUILÍBRIO ENTRE AS EXIGÊNCIAS DA ECONOMIA E AS DA ECOLOGIA. – O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição ina-fastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações.” (ADI 3. 540-MC, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 03/10/2106)

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DIREITO AMBIENTAL

Por fim, o concorrente indicará que o desenvolvimento sustentável se di-rige ao Estado e à coletividade, tratando-se de direito fundamental cuja concre-tização envolve atividades de naturezas públicas e privadas.

Outra resposta possível é afirmar que a questão trata do princípio da equi-dade ou solidariedade intergeracional que “visa conferir juridicidade ao valor ético da ALTERIDADE, objetivando uma pretensão universal de solidariedade so-cial (...). Este princípio, em última análise, assegura igualdade entre as gerações em sua relação com o sistema natural. Não há prioridade da geração presente em relação às futuras, que também necessitam ver assegurado um piso vital mí-nimo.44” Quanto à previsão constitucional, o candidato também citará o art. 225, caput, da CRFB/88 e, ao final, indicará que tal norma se dirige ao Estado e à coletividade.

Proposta de resposta

A segunda Conferência das Nações Unidas (ONU) sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), conhecida como Estocolmo + 20, Rio-92, Eco-92 ou Cúpula da Terra, ocorreu no Rio de Janeiro em 1992. O evento foi um dos principais marcos na evolução histórica do meio ambiente e resultou na Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, documento conten-do 27 princípios ambientais que, apesar de não ser um instrumento vinculante, tem muita relevância política. Para os internacionalistas, trata-se de uma “soft law”45.

Na mencionada CNUMAD, a comunidade política internacional trouxe di-retamente para a agenda pública a necessidade de harmonizar o crescimento socioeconômico, a utilização dos recursos naturais e a equidade intergeracional. Com isso, consagrou em definitivo o desenvolvimento sustentável na esfera in-ternacional e, também, nacional.

Nessa linha, o princípio de n. 3 da Declaração do Rio inaugura o desen-volvimento sustentável ao prever que “o desenvolvimento deve exercer-se de

44. STEIGLEDER, Annelise Monteiro; MARCHESAN, Ana Maria Moreira; CAPPELLI, Silvia; Direito ambiental. 6.ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico Editora, 2011, p. 63-64).

45. “Apesar de não se ter ainda, na doutrina internacionalista, uma conceituação adequada do que seja soft law – que, em português, pode ser traduzida por direito plástico, direito flexível ou direito maleável -, pode-se afirmar que na sua moderna acepção ela compreende todas aquelas regras cujo valor normativo é menos constringente que o das normas jurídicas tradicionais, seja porque os instrumentos que as abrigam não detêm o status de ‘normas jurídicas’, seja porque os seus dispositivos, ainda que insertos no quadro de instrumentos vinculantes, não criam obrigações de direito positivo aos Estados, ou não criam senão obrigações pouco cons-tringentes.” (MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de direito internacional público. 9. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 184-185).

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COLEÇÃO PREPARANDO PARA CONCURSOS

forma tal que responda equitativamente às necessidades de desenvolvimento e ambientais das gerações presentes e futuras”.

No Brasil, o legislador constituinte reconheceu expressamente o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado no artigo 2246 da Constituição Federal de 1988 (CRFB/1988), norma esta corroborada no art. 170, inciso VI, da CRFB/1988 que prevê como princípio geral da atividade econômi-ca a “defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado con-forme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de ela-boração e prestação”.

No plano infraconstitucional, o princípio em comento está previsto no ar-tigo 4º, inciso I, da Lei n. 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente. Como também, no art. 6º, inciso IV, da Lei 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Verifica-se, assim, que o mencionado postulado traz uma responsabilida-de social ao impor o dever de preservar e defender o meio ambiente não ape-nas ao Estado, mas também à coletividade. Afinal, o desenvolvimento sustentá-vel busca um ponto de equilíbrio entre a utilização dos recursos naturais, o crescimento econômico e a equidade social, a fim de garantir a efetividade do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado para as ge-rações presentes e futuras.

♥(TJRJ/Juiz/XLVI_Concurso) O esgotamento sanitário é baseado em di-versos princípios, dentre os quais a eficiência e sustentabilidade econômica. Assim, diga quais são as etapas do esgotamento sanitário e se pode haver co-brança quando nem todas elas forem prestadas ao consumidor? Autor: Edison Ponte Burlamaqui

Direcionamento da resposta

A questão em análise requer tanto o conhecimento da legislação como da jurisprudência do STJ sobre o tema.

O art. 3º, I, b da Lei 11.445/2007 estabelece as etapas do esgotamento sa-nitário, sendo estas: i) infraestruturas e instalações operacionais de coleta; ii)

46. “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

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SENTENÇAS CÍVEIS

♥(TJRJ/Juiz/XLVII_Concurso) Leia o relatório abaixo com atenção, presu-mindo a veracidade de todas as alegações feitas. Limite-se à fundamentação e à parte dispositiva. Enfrente todas as questões explícita e implicitamente pro-postas, mencionando na fundamentação todos os artigos eventualmente perti-nentes, cuja correta citação será levada em consideração pela banca. AS QUES-TÕES JURÍDICAS SUSCITADAS DEVERÃO SER SOLUCIONADAS, AINDA QUE O CANDIDATO DECIDA EXTINGUIR O PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO OU VENHA A ACOLHER EVENTUAIS PRELIMINARES OU PREJUDICIAIS.

A empresa brasileira XYZ propôs ação de indenização em face da empresa estrangeira LMN e da empresa nacional DDD alegando, em síntese, o se-guinte. A autora, que tem por objeto social a produção de eventos, iniciou negociações com a primeira ré, por seu representante, para tratar da pro-dução de vários shows no Brasil de cantora pop norte-americana mundial-mente conhecida. Ao longo de aproximadamente um ano foram trocados di-versos e-mails, através dos quais representantes da autora e da primeira ré discutiram vários detalhes relativos à produção dos shows da cantora. A pri-meira ré chegou a indicar para a autora que ela seria a sua representante ofi-cial no Brasil para tratar junto a terceiros de tudo o que fosse necessário pa-ra a produção dos shows. Sucede que, a menos de três meses da época em que seriam realizados os

shows, a primeira ré simplesmente interrompeu as tratativas com a empre-sa autora, deixando de responder aos e-mails. Pouco tempo depois de ces-sada a correspondência entre as duas empresas, a autora descobriu que fo-ra contratada a segunda ré, a empresa brasileira DDD, para a produção dos shows, que acabaram sendo realizados nas datas previstas, com grande su-cesso de público.

A autora descobriu que o fim das tratativas se deu porque o sócio da autora que estava diretamente à frente da negociação, até se desligar unilateral-mente da sociedade, acertou com a segunda ré de levar o negócio para ela.

Alega a autora que em razão do rompimento abrupto das tratativas com a primeira ré sofreu prejuízos decorrentes de gastos que, de boa-fé e com a le-

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COLEÇÃO PREPARANDO PARA CONCURSOS

gítima expectativa de que iria ser a produtora dos shows, realizou com a pré--produção, tais como a prospecção de locais para a realização dos espetá-culos, contratação de terceiros prestadores de serviços indispensáveis, compra e aluguel de equipamentos, etc. Aduziu que a primeira ré agiu de má-fé ao interromper as tratativas e contratar a segunda, que também agiu deslealmente ao se valer das informações e dos contatos do antigo sócio da autora. Por isso, faz jus a lucros cessantes, correspondentes ao que deixou de receber com a realização dos shows que fora procurada para produzir. Argumentou, também, que faz jus à indenização pela perda de uma chan-ce, uma vez que, em razão de ter-lhe sido assegurado que produziria os sho-ws da artista norte-americana, abriu mão de participar de licitação públi-ca para produção de espetáculo musical na mesma época, com artistas nacionais, patrocinado pela prefeitura, licitação essa que certamente ven-ceria, porque já havia sido escolhida nas licitações organizadas nos três anos anteriores de que participara. Por fim, alegou que sua reputação ficou aba-lada com o rompimento das tratativas, pois já se apresentara perante diver-sas outras empresas e fornecedores do ramo como única e exclusiva repre-sentante oficial no Brasil para a produção e realização dos shows da artista.

Pediu, por conseguinte, a condenação das rés ao pagamento das seguintes verbas: A) indenização no valor de R$3.000.000,00 (três milhões de

reais), correspondentes às várias despesas e aos gastos comprovadamente realizados com a pré-produção dos shows; B) lucros cessantes na ordem de R$20.000.000,00 (vinte milhões de reais), valor mínimo percebido pela se-gunda ré com a realização dos shows conforme indicado no contrato que ce-lebrou com a primeira ré; C) ainda a título de lucros cessantes, o valor cor-respondente a 2% (dois por cento) da bilheteria dos shows, percentual também constante do contrato celebrado entre as rés; D) indenização de R$500.000,00 (quinhentos mil reais) a título de perda de uma chance, por não ter participado da licitação realizada pela Prefeitura; E) dano moral no valor de R$3.000.000,00 (três milhões de reais), valor igual ao dano ma-terial indicado no item A.

A primeira ré apresentou contestação, arguindo, preliminarmente, a im-possibilidade jurídica dos pedidos formulados, considerando que se limi-tou a manter tratativas prévias com a autora, sem força vinculante, uma vez que não chegou a ser celebrado contrato. No mérito, sustentou a total improcedência da demanda, refutando o argumento de que tenha o dever de indenizar a autora por não ter celebrado contrato com ela. Invocou os princípios da liberdade de contratar e da autonomia da vontade. Por força do princípio da eventualidade, impugnou especificadamente as diversas verbas pleiteadas.

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SENTENÇAS CÍVEIS

A segunda ré também contestou, arguindo, preliminarmente a sua ilegiti-midade passiva, por não manter nenhuma relação jurídica com a autora e por nunca ter participado das tratativas entre ela e a primeira ré. No méri-to, sustentou a improcedência da demanda, argumentando que não prati-cou nenhum ato ilícito gerador de responsabilidade civil. Disse que as rés atuaram no exercício da liberdade de contratar. Ratificou, no mais, os ar-gumentos apresentados pela primeira ré. Com base no princípio da eventua-lidade, impugnou especificadamente as verbas pleiteadas, considerando-as indevidas.

É o relatório. Decida.

BOA SORTE!Autora: Aline Abreu Pessanha

Direcionamento da resposta

O artigo 489 do CPC/2015 estabelece que os elementos essenciais da sen-tença são relatório, fundamentação e dispositivo. Além disso, a sentença deve ser organizada e cada tema tratado de forma suficiente; só então deve-se pas-sar para a etapa seguinte. Assim, sugere-se a separação das questões a serem enfrentadas por tópicos, da seguinte forma:

1. Relatório

2. Fundamentação

2.1. Questões procedimentais

Ex. julgamento conjunto/simultâneo de demandas e produção da prova.

2.2. Questões preliminares arguidas pelo réu.

2.3. Questões preliminares aduzidas pelo autor.

2.4. Questões prejudiciais de mérito

2.5. Mérito

2.6. Antecipação de tutela ainda não apreciada

2.7. Litigância de má-fé

3. Dispositivo

Recomenda-se, ainda, ao candidato adotar linguagem clara e concisa. Como também, não utilizar parágrafos grandes, v.g., um parágrafo com mais de cinco linhas sem um ponto continuativo é fadigoso. Seja objetivo para não perder o foco da pergunta. Tudo isso facilitará a correção da sua prova.

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COLEÇÃO PREPARANDO PARA CONCURSOS

1. Relatório

A primeira coisa que o candidato deve identificar é a necessidade de ela-boração do relatório da sentença. Isso porque a sua ausência gera nulidade e esse elemento apenas é dispensado por lei, nas seguintes hipóteses: (a) juizado especial (art. 38 da Lei n. 9.099/1995) e (b) ratificação de protesto ou processo testemunhável lavrado a bordo (art. 770, CPC/2015).

A prova ora analisada era expressa no sentido de que o candidato deve-ria se limitar à elaboração da fundamentação e do dispositivo, uma vez que o enunciado já servia como relatório. Desse modo, neste item, bastava o candida-to escrever: “É o relatório. Passo a decidir (ou decido)”.

Caso contrário, ou seja, na hipótese de a questão exigir que o candidato elabore o relatório, deve-se ter em mente que a finalidade deste elemento é in-dicar as partes, a suma do pedido e da defesa, bem como os atos processuais relevantes até aquela fase.

De qualquer sorte, sugere-se ao candidato que vá para a prova com um modelo de relatório memorizado. Com isso, o concorrente ganhará tempo, o que é crucial nesta etapa do certame.

Por fim, deve-se evitar a fórmula “vistos, etc.”, pois se trata de praxe foren-se, que não se coaduna com a obrigatoriedade de fundamentação do decisum.

2. Fundamentação

Neste tópico, recomenda-se ao candidato observar os requisitos para a fundamentação adequada previstos no art. 489, parágrafo 1º, do CPC/201518, uma vez que se trata de inovação legislativa, cuja inobservância gera a nulidade da decisão.

18. “Art. 489. São elementos essenciais da sentença: (...) § 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença

ou acórdão, que: I – se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua

relação com a causa ou a questão decidida; II – empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua

incidência no caso; III – invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar

a conclusão adotada pelo julgador; V – se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos

determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI – deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte,

sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do enten-dimento.”

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COLEÇÃO PREPARANDO PARA CONCURSOS

Autor Réus Sentença

–Ilegitimidade pas-siva aduzida pela segunda ré (DDD).

Rejeitar com base na teoria da asser-ção.

Impossibilidade jurídica do pedido arguida pela pri-meira ré (LMD).

Rejeitar:a) não tem norma vedando oub) trata-se de questão de mérito.Observação: adotando a segunda op-ção, não esquecer de abordar no mé-rito.

A autora (XYZ) alega, que iniciou negocia-ções com a primeira ré (LMN), para tratar da produção de shows no Brasil de cantora pop norte-americana mun-dialmente conhecida, o que perdurou ao longo de aproximadamente um ano.

A primeira ré (LMN) reconheceu que realizou trata-tivas prévias com a autora, pelo pe-ríodo mencionado na inicial.

Fato incontroverso (art. 374, inciso III, do CPC/15).

Acrescenta que a pri-meira ré interrompeu as tratativas e contratou a segunda ré (DDD), para a produção dos shows.

A primeira ré (LMN) reconhece que in-terrompeu as tra-tativas e contratou a segunda ré (DDD). Justifica sua condu-ta, sustentando que as tratativas não têm força vinculan-te, uma vez que não chegou a ser cele-brado contrato. Por isso, o pedido seria juridicamente im-possível.

Fato incontroverso (art. 374, inciso III, do CPC/15).– Princípios da liberdade de contratar

e da autonomia da vontade.– Princípio da livre iniciativa (art. 170,

caput, do CRFB/88).– A liberdade deve ser exercida nos li-

mites da função social (art. 421 do CC/02 e da boa-fé objetiva (art. 422 CC/02).

– A boa-fé também é exigida nas fa-ses pré e e pós-contratual (Enuncia-do 25 do CJF/STJ25).

– A 1ª ré criou na autora a legítima ex-pectativa de que celebraria o negócio.

25

25. “25 – O art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador do princípio da boa-fé nas fases pré-contratual e pós-contratual.”

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SENTENÇAS CÍVEIS

Autor Réus Sentença

Sustenta que não praticou ato ilícito gerador de respon-sabilidade civil, pois atuou no exercício da liber-dade de contratar.

– Dever de minimizar prejuízos.– Responsabilidade civil extracontra-

tual na modalidade subjetiva (arti-gos 186 c/c 927, caput, do CC/2002).

Disse que o fim das tra-tativas se deu porque o sócio da autora que es-tava diretamente à frente da negociação, até se desligar unilate-ralmente da sociedade, acertou com a segunda ré de levar o negócio para ela.

Não foi rebatida tal alegação por nenhuma das rés.

Invoca os princí-pios da liberdade de contratar e da autonomia da vontade.

– Ônus da impugnação especificada dos fatos não atendido – presunção de veracidade dos fatos – art. 341, caput, do CPC/15.

– Fato incontroverso (art. 374, inciso IV, do CPC/15).

– Princípio da relatividade dos contra-tos

– Princípios da função social e da boa--fé objetiva.

– Doutrina da tutela externa do cré-dito (Enunciado 21 do CJF/STJ).

– Artigo 608 do CC/02.

– Decisão do Superior Tribunal de Jus-tiça no caso de um famoso cantor brasileiro e duas empresas de bebi-da26.

– Responsabilidade civil extracontra-tual na modalidade subjetiva (arti-gos 186 c/c 927, caput, do CC/02).

26

26. “RECURSOS ESPECIAIS. RESPONSABILIDADE CIVIL. CONCORRÊNCIA DESLEAL. INTERVENÇÃO EM CONTRATO ALHEIO. TERCEIRO OFENSOR. VIOLAÇÃO À BOA-FÉ OBJETIVA. LEGITIMIDADE PASSIVA DO SÓCIO E CERCEAMENTO DE DEFESA. ÓBICE DA SÚMULA 7/STJ. INDENIZAÇÃO POR LUCROS CESSANTES. OBRIGAÇÃO ALTERNATIVA. APLICAÇÃO DO ART. 571 DO CPC. DANOS MO-RAIS. INOCORRÊNCIA NO CASO. PESSOA JURÍDICA. AUSÊNCIA DE OFENSA À HONRA OBJETIVA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. VALOR FIXO. DESCABIMENTO. SENTENÇA CONDENATÓRIA. 1. Ação de reparação de danos em que se pleiteia indenização por prejuízos materiais e morais decorrentes da contratação do protagonista de campanha publicitária da agência autora pela agência concorrente, para promover produto de empresa concorrente. 2. Inocorrência de maltrato ao art. 535 do CPC quando o acórdão recorrido, ainda que de forma sucinta, aprecia com clareza as questões essenciais ao julgamento da lide, não estando o magistrado obrigado a rebater, um a um, os argumentos deduzidos pelas partes. 3. Inviabilidade do conhecimento de matéria não

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SENTENÇAS CRIMINAIS

♥(TJRJ/Juiz/XLVII_Concurso) Leia o relatório abaixo com atenção e complemente a sentença. Enfrente todas as questões penais e processuais propostas, lembrando-se de mencionar na fundamentação todos os artigos eventualmente pertinentes, cuja correta citação será levada em conta pela banca.

No dia 21/09/2015, na Av. Geremário Dantas, esquina da Estrada dos Três Rios, no bairro Freguesia – Jacarepaguá, por volta das 21:30hs, os denun-ciados JOÃO e MARCOS, em comunhão de ações e desígnios entre si, e em companhia do menor I.M.C., irmão de MARCOS, iniciaram a subtração do automóvel Chevrolet Meriva, de propriedade do lesado Carlos Afonsim da Silva, quando este encontrava-se parado no semáforo. À ocasião, o denun-ciado JOÃO, empunhando uma arma de fogo, bateu no vidro da janela do motorista e apontou-a para a vítima, ao mesmo tempo em que o menor I.M.C., também com arma em punho, posicionou-se na janela do carona. A subtração do automóvel só não se consumou por circunstâncias alheias a vontade dos agentes, na medida em que, já com o sinal aberto, Carlos ar-rancou com o carro, momento em que I.M.C., com dolo de matar, disparou seis vezes na direção do veículo, tendo três dos disparos vindo a alvejar a la-taria do mesmo, sem, contudo, atingir o lesado Carlos.

Ato contínuo, nas mesmas circunstâncias de tempo, modo e maneira de exe-cução, os denunciados e o menor, postaram-se no meio da Avenida Gere-mário Dantas, e, João e I.M.C. portando suas respectivas armas, renderam as vítimas Raquel Lopes Quintas que trafegava pela via com seu recém ad-quirido veículo Corolla (ainda sem placa), ao qual encontrava-se acoplado o reboque de placa LHY-6932, e, imediatamente após, também assim fize-ram com Renata Rezende, que saía com seu carro, Fiat Palio, placa KUY-1751, da garagem de seu prédio, no exato momento em que Raquel estava sendo abordada pelos meliantes. Sob a mira das armas dos denunciados, Raquel foi obrigada a sair do veículo e entrega-lo à JOÃO que assumiu a di-reção do mesmo, enquanto Renata foi compelida a pular para o banco do ca-rona e passar a direção de seu automóvel para MARCOS, tendo o menor I.M.C., portando a arma, sentado no banco traseiro.

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COLEÇÃO PREPARANDO PARA CONCURSOS

Outrossim, ao praticarem as condutas acima narradas na companhia de um menor, os denunciados, livres e conscientemente, corromperam ou ao me-nos facilitaram a corrupção de pessoa menor de dezoito anos.

Um policial à paisana, que se encontrava em um posto de gasolina próximo ao local dos fatos, a tudo assistiu, e, in continenti, acionou uma viatura da polícia que passava pelo local e que, imediatamente, avistou o veículo Fiat Palio e iniciou a perseguição. Outrossim, via rádio, foram acionadas outras viaturas, passando-se os dados do veículo Corolla subtraído, que teve seu rumo ignorado pelos referidos agentes públicos. Após percorrerem várias ruas do bairro, em uma perseguição cinematográfica, que durou cerca de 40 minutos, os policiais lograram alcançar e prender o denunciado MAR-COS, bem como apreender o menor I. M.C., no momento em que eles aban-donaram o carro, a vítima e todos os seus pertences, às margens da Lagoa de Jacarepaguá, próximo ao Parque Olímpico. Em revista pessoal feita no denunciado e no menor, nada foi encontrado, assim como também nada ha-via no interior do veículo que não fossem os objetos pessoais da lesada.

Conduzidos à Delegacia da área para a lavratura do flagrante e do termo de apreensão de menor, o acusado MARCOS, o menor e a lesada Renata, em lá chegando, encontraram Raquel, proprietária do veículo Corolla, além de Carlos, dono do Meriva, registrando a ocorrência. As vítimas prestaram de-clarações em separado, assim como os policiais responsáveis pela prisão do denunciado MARCOS, também o fizeram, tendo este, contudo, manifesta-do a intenção de somente falar em Juízo, quedando-se silente. Ao final, quan-do todos já estavam de saída, foi comunicado à distrital que, após uma de-núncia anônima recebida, o veículo Corolla e o reboque haviam sido localizados em uma oficina em cujo interior se encontravam dois homens adulterando a placa do reboque. Policiais, ao chegarem ao local indicado, lograram flagranciar JOÃO, já terminando de pintar a referida placa, atri-buindo-lhe nova numeração. Fato é que o outro elemento que lá se encon-trava evadiu-se, porém, em revista ao local e ao veículo Corolla, os sobre-ditos milicianos apreenderam no interior deste, embaixo do banco do motorista, uma pistola cromada com numeração suprimida, razão pela qual conduziram JOÃO à referida Delegacia.

Ante o informe, as vítimas aguardaram a chegada da guarnição que o es-tava conduzindo, e, no momento em que JOÃO adentrou na unidade, não tiveram dúvidas em reconhecê-lo como sendo um dos roubadores, assim como também reconheceram a arma apreendida como aquela portada pe-lo mesmo nos crimes de que foram vítimas. Em suas declarações presta-das em sede policial, JOÃO negou a prática dos injustos que lhe foram im-putados.

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SENTENÇAS CRIMINAIS

Diante de tais fatos, o Ministério Público pleiteou a condenação dos denun-ciados nos seguintes moldes:

MARCOS – Art.157, § 3º, in fine, c/c art.14, II, ambos do CP, n/f do art.1º, I, da Lei 8.072/90; art. 157, § 2º, I e II, (duas vezes) e art.288, parágrafo único, ambos do Código Penal; e art. 244-B, da Lei 8.069/90, tudo na for-ma do art.69 do Diploma Penal Repressivo. JOÃO – Art.157, § 3º, in fine, c/c art.14, II, ambos do CP, n/f do art.1º, I, da Lei 8.072/90; art. 157, § 2º, I e II, (duas vezes); art.311 e art.288, parágrafo único, ambos do Código Pe-nal; art. 244-B, da Lei 8.069/90 e 16, parágrafo único, da Lei 10.826/03, tudo em cúmulo material.

Consta dos autos:

Auto de Apreensão e Entrega do veículo Fiat Palio (fls.); Auto de Apreensão e Entrega do veículo Corolla e do reboque (fls.); Auto de Apreensão do veí-culo Meriva (fls.); Auto de Apreensão de arma de fogo – pistola 9mm, cro-mada, nº de série suprimido, desmuniciada (fls.); APF com termos de de-clarações das testemunhas (lesados), dos policiais responsáveis pela prisão dos conduzidos, além do depoimento de JOÃO (fls.); Laudo de Exame de Ar-ma de Fogo que atesta a capacidade de produção de disparos (fls.); Laudo Pericial do veículo Meriva – no qual consta três perfurações na lataria tra-seira do mesmo (fls.); AAAAI do menor I.M.C (fls.); Cópia da oitiva do me-nor no Juízo Menorista, na qual o mesmo admite a prática dos atos infracio-nais que lhes foram imputados (fls.); Termo de Reconhecimento dos réus em sede policial (fls.).

1. FAC de MARCOS, com duas anotações: 1.1 Art.155, caput, c/c art.14, II, ambos do Código Penal. Absolvido na instância ordinária, em grau de re-curso, foi dado provimento apelo ministerial, estipulada a penas de 06 me-ses de reclusão, e declarada extinta a punibilidade pela ocorrência da pres-crição da pretensão punitiva estatal. Trânsito em julgado em 15/03/2015.

1.2 Art. 155, caput do Código Penal – 01 ano de reclusão. Em grau de recur-so de ambas as partes.

2. FAC de JOÃO, com três anotações: 2.1 Art. 157, caput, c/c art.14, II, am-bos do Código Penal – 01 ano e 04 meses de reclusão em reg. Aberto e 03 dms. Trânsito em julgado: 21/10/2007;

2.2 Art.155, caput do Código Penal – 01 ano de reclusão em regime aberto e 10dms. Em grau de recurso, a Nona Câmara Criminal reconheceu a ten-tativa, redimensionou a resposta para 06 meses e 05dms, e declarou a pres-crição da pretensão executória. Trânsito em julgado: 15/07/2013;

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COLEÇÃO PREPARANDO PARA CONCURSOS

2.3 Art.157, § 2º, I e II, do Código Penal – 06 anos, 02 meses e 20 dias de reclusão em regime fechado e 14dms. Trânsito em julgado: 22/10/2015.

Em sede de audiência de custódia, as prisões em flagrante foram converti-das em preventivas.

Recebida a denúncia tal como ofertada e citados os acusados, suas defesas técnicas apresentaram respostas preliminares nas quais pugnaram por suas absolvições por insuficiência de provas, pleitearam suas liberdades e apre-sentaram seus respectivos róis de testemunhas.

Mediante decisão fundamentada, foram indeferidos os pleitos libertários for-mulados e designada AIJ.

Na data aprazada, realizada a audiência, foram colhidos os depoimentos dos dois policiais militares responsáveis pela prisão de Marcos, daquele respon-sável pelo flagrante de João, e dos lesados Carlos, Raquel e Renata. Também foi ouvida a testemunha arrolada pela defesa de MARCOS e as duas teste-munhas arroladas pela defesa de JOÃO, destacando-se que, com a concor-dância das defesas e do parquet, toda prova oral foi produzida sem a pre-sença dos réus que, a despeito de devidamente requisitados, não foram apresentados. Em seus depoimentos, as testemunhas e os lesados ratifica-ram integralmente suas declarações prestadas em sede inquisitorial, deta-lhando os fatos tal como narrados na denúncia, e, diante das fotos constan-tes dos autos, reconheceram os denunciados como os autores dos delitos. Quanto às testemunhas de defesa, estas nada puderam esclarecer quanto aos fatos porque nada presenciaram, apenas limitaram-se a aduzir conhe-cer os acusados, e que estes se tratavam de “rapazes trabalhadores”. Ante a inexistência de requerimento pelas partes a ser apreciado, foi declarado encerrado o ato e designada data para interrogatório dos denunciados.

Na data aprazada, MARCOS, quando interrogado, negou ter proferido dispa-ros contra o veículo de Carlos, alegando que sequer se encontrava armado, e, no que concerne ao roubo perpetrado contra a lesada Renata, alega tê-lo pra-ticado apenas fazendo uso de palavras intimidatórias, sem empregar qualquer artefato. Aduziu que seu irmão foi quem teve a ideia de fazer “um ganho” com utilização de arma de fogo para “caso desse alguma coisa errada, reagis-sem”, e que ele, MARCOS, chamara JOÃO, a quem conhecera poucos dias antes dos fatos, apenas “por saber de sua experiência na prática de roubos”. O denunciado JOÃO, por sua vez, negou a prática do latrocínio assim como a dos roubos, aduzindo que apenas fora chamado por um conhecido para “mu-dar a placa” de um reboque que se encontrava em uma oficina abandonada, momento em que foi preso. Por fim, alega que, a despeito de conhecer MAR-COS há pouco tempo, não sabia que I. M. C. era seu irmão e sequer que era

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SENTENÇAS CRIMINAIS

menor de idade. Ao final, foi declarada encerrada a instrução e determinada a vinda das derradeiras alegações, por memoriais.

Alegações finais do Ministério Público nas quais pugnou pela condenação dos acusados nos termos da exordial acusatória. Outrossim, requereu, no que concerne ao delito perpetrado em face da lesada Renata, também a in-cidência da majorante relativa à restrição de liberdade da vítima (inciso V, do § 2º, do art.157 do CP), haja vista a mesma ter sido mantida privada de sua liberdade por cerca de 40 minutos, na forma como descrito na denúncia e comprovado na instrução.

Nas derradeiras alegações, a defesa de MARCOS argui preliminar de nuli-dade do feito posto que não foi observado o disposto no art.226 do CPP quan-do da oitiva das testemunhas arroladas pelo parquet. No mérito, requer pre-cipuamente a absolvição do denunciado por fragilidade de provas. Ou, acaso não seja este o entendimento do julgador, o reconhecimento de parti-cipação de menor importância. Subsidiariamente pleiteia:

• No que concerne ao delito previsto no art.244-B, do ECA – a absolvição posto que o menor I.M.C, seu irmão, já possuía diversas passagens pelo sistema menorista, tendo partido dele, inclusive, a ideia de “fazer um ga-nho”, ocasião em que ele (MARCOS) decidiu chamar João, a quem fora apresentado apenas dias antes dos fatos, mas que sabia já ter praticado outros delitos, para auxiliá-los. Ainda segundo alega, João não conhecia I.M.C., não sabia era seu irmão, e sequer que era menor, somente tendo ciência disso na Delegacia, quando da lavratura do flagrante.

• No que tange ao crime de latrocínio tentado, a desclassificação para o de roubo majorado tentado em concurso com o crime de disparo de arma de fogo. Neste ponto destaca que sequer os supostos lesados foram alvejados, mas apenas atingida a lataria do automóvel em que estavam.

• Outrossim, em caráter subsidiário, persegue: a) o afastamento das ma-jorantes dos crimes de roubo; b) o reconhecimento de crime único entre os delitos patrimoniais perpetrados contra as vítimas Renata e Raquel. Por fim, no que concerne à dosimetria, a) a fixação das penas bases no míni-mo legal, ante a primariedade e a ausência de maus antecedentes; b) o re-conhecimento da continuidade delitiva entre o latrocínio e os roubos; c) o reconhecimento da tentativa no tocante ao roubo do Fiat Palio, na medida em que, além do fato de que em nenhum momento houve a posse mansa e pacífica da res, todos os bens subtraídos da lesada foram apreendidos e devidamente restituídos; d) a incidência da atenuante da menoridade re-lativa do agente com a consequente redução da reprimenda, posto que, à época dos fatos, ele era menor de 21 anos, conforme certidão acostada às

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COLEÇÃO PREPARANDO PARA CONCURSOS

fls.; e) a aplicação da detração, levando em consideração o tempo que se encontra acautelado.

Em alegações finais, a defesa de JOÃO, realizada por advogado constituído para tal, argui preliminar de nulidade de todos os atos, ab ovo, por incompe-tência absoluta do juízo. Destaca, neste aspecto, que a exordial acusatória narra que, em ao menos um dos delitos imputados ao acusado, este teria agi-do com dolo de matar, razão pela qual, obrigatoriamente, haveria o desloca-mento da competência para um dos Tribunais do Júri da Comarca da Capital. Argui, outrossim, preliminar de nulidade da audiência por afronta aos arts.400 e 212 do CPP, posto que no ato “o magistrado iniciou as perguntas para as tes-temunhas, em evidente afronta ao sistema acusatório e ao devido processo le-gal”. No mérito, pugna, precipuamente, pela absolvição do acusado de todas as imputações que sobre ele recai sob os seguintes fundamentos:

• No que concerne aos delitos de latrocínio e roubos, aduz que não houve fla-grante e que o acusado nega veementemente a sua participação nos mes-mos, não sendo as provas produzidas nos autos, hábeis à prolação de juízo de censura. Neste aspecto, pleiteia a desclassificação para o crime de re-ceptação.

• No que tange ao delito de corrupção de menores, sustenta que, em sua companhia não foi encontrado nenhum menor, não havendo, por conse-guinte, prova acerca da aduzida corrupção.

• No que diz respeito ao crime do Estatuto do Desarmamento, sustenta que a arma estava desmuniciada, razão pela qual sequer foi colocado em ris-co o bem jurídico tutelado na espécie.

• Outrossim, ad argumentandum tantum, em caráter subsidiário, a sobredita defesa pugna: a) pela absolvição quanto ao delito de corrupção de menores posto que, a despeito de o acusado ter admitido que já conhecer MARCOS há pouco tempo, não tinha intimidade com o mesmo e sequer sabia que ele pos-suía um irmão menor de idade. Ademais, destaca, ainda, que a compleição física de I.M.C., mais forte e mais alto que MARCOS; b) pela desclassifica-ção do delito de latrocínio tentado para o de roubo tentado, na medida em que o único bem atingido foi o veículo; c) pela absorção do delito de posse de ar-ma pelos crimes de roubos. Por fim, no que concerne à dosimetria, requer: a) a fixação das penas bases no mínimo legal; b) o reconhecimento da continui-dade delitiva em relação aos três crimes perpetrados contra o patrimônio.

É o relatório. Decida.

BOA SORTE!Autor: Francisco Emilio de Carvalho Posada

Page 24: Coordenador Anderson de Paiva Gabriel TJ-RJ€¦ · Autor: Anderson de Paiva Gabriel Direcionamento da resposta A questão propunha uma reflexão, demandando do candidato conheci-

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SENTENÇAS CRIMINAIS

Direcionamento da resposta

O caso concreto formulado pela banca revelou-se consideravelmente lon-go para o tempo disponível para elaboração da prova de sentença. Diante dis-so, o controle do tempo era de primordial importância para um bom aproveitamento.

O direcionamento de resposta e a sugestão de sentença demonstram o modelo ideal a ser seguido. Diante de uma prova de sentença com exíguo tem-po, é plenamente possível – e recomendável – a economia de tópicos da funda-mentação e da dosimetria da pena. No caso específico desta prova de sentença, o candidato poderia analisar, na fundamentação, os dois crimes de roubo num mesmo tópico, ou, até mesmo, se houvesse algum percalço durante a prova que fizesse com que o candidato perdesse ainda mais tempo, poderia ser feito um só tópico para os crimes patrimoniais (latrocínio tentado e os dois roubos majorados).

Na dosimetria, o candidato poderia realizar o cálculo dosimétrico de for-ma concomitante para os dois crimes de roubo – sempre separando por réu.

ATENÇÃO: O direcionamento e a sugestão de sentença estão baseados nos entendimentos dos integrantes da Banca Examinadora do Concurso, ainda que em confronto com entendimento dos Tribunais Superiores. Em qualquer hi-pótese, isso será mencionado quando houver divergência de entendimentos.

Para a correta resposta da sentença penal condenatória, o candidato de-veria abordar na fundamentação e na dosimetria diversos pontos, a seguir explicitados:

PRELIMINARES

a) Incompetência absoluta do Juízo

Sempre que a preliminar de incompetência foi arguida, ela deve ser a pri-meira a ser analisada na sentença. Dessa forma, como a defesa de JOÃO arguiu preliminar de incompetência absoluta do Juízo, sob o argumento de que o la-trocínio, por ser crime doloso contra a vida, deveria ser julgado pelo Tribunal do Júri (CRFB, art. 5º, XXXVIII, alínea d), impunha-se sua análise no princípio da sentença.

O candidato deveria esclarecer que o crime de latrocínio é um crime com-plexo, que protege dois bens jurídicos distintos: a vida e o patrimônio. No en-tanto, por opção legislativa, o crime de latrocínio foi tipificado no título do Código Penal referente aos crimes contra o patrimônio. Some-se a isso o fato de que o verbete nº 603 da Súmula do Supremo Tribunal Federal dispõe sobre o tema de