cooperativismo onde a crise nÃo tem vez - fiep€, explica. aliado a isso, também pesa a filosofia...

1
GAZETA DO POVO TERÇA-FEIRA, 27 DE OUTUBRO DE 2015 EDITOR EXECUTIVO: GIOVANI FERREIRA EDITOR RESPONSÁVEL: JOSÉ ROCHER [email protected] www.agrogp.com.br Em meio ao pessimismo nacional, cooperativas mantêm investimentos, abrem milhares de vagas e dinamizam economias regionais Igor Castanho O mantra de que a “crise é o melhor momento para se in- vestir e crescer” foge aos cli- chês e ganha efeito prático nos campos do Paraná. Enquanto milhares de empresas dos mais diversos segmentos cor- tam investimentos e demitem funcionários para tentar so- breviver, o cooperativismo ca- minha na contratendência. Sem ampliar a exposição aos riscos, o setor segue executan- do investimentos de peso, cri- ando um efeito multiplicador que mantém o fôlego das eco- >> COOPERATIVISMO ONDE A CRISE NÃO TEM VEZ nomias regionais. Mais do que movimentar cifras milionárias para dar vi- da a grandes projetos, os in- vestimentos das cooperativas permitem uma “injeção na veia” na geração de empregos ao redor do estado. A cada no- va indústria inaugurada, mi- lhares de vagas são abertas, exigindo inclusive mão de obra de outras regiões. Das 20 cidades que mais geraram postos de trabalho em 2015, 14 possuem algum tipo de vínculo com a atividade, mos- tram dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempre- gados (Caged) e da Organiza- ção das Cooperativas do Para- ná (Ocepar). Destas, seis são se- des de cooperativas que fatu- raram mais de R$ 1 bilhão em 2014 – Medianeira, Cascavel, Cafelândia, Palotina, Mare- chal Cândido Rondon e Lon- drina (confira no gráfico). Para os especialistas, dois fatores são decisivos para o bom desempenho do setor. O primeiro deles está relaciona- do ao fato de que as cooperati- vas agropecuárias estão dire- tamente ligadas a produção de alimentos, aponta Roberto Zurcher, economista da Fede- ração das Indústrias do Para- ná (Fiep). “Apesar do mundo não estar crescendo tão rápi- do como antes, há uma de- manda crescente por alimen- tos. E mesmo com a crise as pessoas não deixam de consu- mir”, explica. Aliado a isso, também pesa a filosofia de trabalho das coo- perativas, que prioriza o capi- tal humano. “Ao contrário de uma multinacional, por exemplo, as cooperativas têm um forte compromisso regio- nal. Isso acaba motivando um esforço extra para manter a geração de empregos”, salien- ta Júlio Suzuki, diretor-presi- dente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econô- mico e Social (Ipardes). Para quem comanda esses empreendimentos bilionári- os, a manutenção do cresci- mento, mesmo em época de crise, tem ligação direta com a organização da cadeia pro- dutiva, que prioriza a coleti- vidade. “Um país só é desen- volvido quando a sociedade é organizada. As cooperativas são organizadas e alinhadas com as necessidades dos pro- dutores e dos consumidores. Esse ponto é essencial para o sucesso de qualquer negó- cio”, destaca Frans Borg, pre- sidente da Castrolanda, coo- perativa instalada em Castro, nos Campos Gerais, que na se- mana passada, ao lado da Frí- sia e Capal, inaugurou uma Unidade Industrial de Carne, gerando mais 750 empregos para região. Assim, mais do que ganho econômico, também há forte impacto para a sociedade que convive com as cooperativas. “Os ganhos sociais são incal- culáveis. A chegada de uma indústria impacta no setor de transporte, combustíveis, moradia, consumo, entre ou- tros”, ressalta Renato Greida- nus, presidente da Frísia, de Carambeí. “O cooperativismo é uma vocação do Paraná. Sem esse modelo teríamos muito menos empregos liga- dos ao campo”, complementa Zurcher, da Fiep. O planejamento estratégico das cooperativas dos Paraná tem se sobressaído à crise que assola a economia nacional. O setor segue inaugurando in- dústrias em várias partes do es- tadoe,consequentemente,mo- vimentando os bancos de vagas das empresas de recursos hu- manos. Para os próximos anos, mais de 6 mil novos empregos diretos serão abertos. Na semana passada, as coo- perativas dos Campos Gerais – Castrolanda, Frísia e Capal – inauguraram a unidade in- dustrial de carne Alegra Foods. Nesta primeira etapa, a indús- tria demanda 750 funcionári- os para processar 2,3 mil suí- nos/dia e 1,8 mil toneladas de industrializados/mês. Com o plano de dobrar a produção até 2019, mais vagas de empregos serão abertas. “Uma indústria que se insta- la atrai gente de outras regiões, pois o pessoal sabe que as coo- perativas oferecem muitos be- nefícios para os funcionários”, explica Ivonei Durigan, supe- rintendente da Alegra Foods, que exporta seus produtos para 14 países e negocia com China, Rússia e Cingapura. “As cooperativas investi- ram no momento certo. Além disso, precisamos focar no mer- cado internacional para equili- brar as contas”, explica o supe- rintendente da Alegra Foods, Ivonei Durigan. No outro lado do estado, em Assis Chateaubriand, a Frimesa – cooperativa que pertence a Copagril, Lar, C. Vale, Copacol e Primato - está construindo o queseráomaiorfrigoríficopara abate e processamento de suí- nos do país. A promessa é de 2 mil empregos logo na inaugu- ração e outros 3,5 mil em uma segunda etapa. Além disso, a previsão é que a unidade gere outros 8,5 mil postos indiretos em toda a cadeia produtiva. Aliperto,aCoopavelinveste R$ 59 milhões para viabilizar a nova unidade produtora de lei- tões (UPL) em Cascavel. Com a conclusão prevista para 2017, 150 empregos serão abertos. “Claro que [as cooperativas] têm à disposição uma grana um pouco mais barata para in- vestir. Mas o pessoal que co- manda as cooperativas se qua- lificou, adquiriu visões empre- sarial e estratégica. Quando ne- cessário, por conta de fatores externos, existe o reposiciona- mento para continuar crescen- do. Eles investem pesado no ge- renciamento”, admite o secre- tário de agricultura do Paraná, Norberto Ortigara. (IC) Novas indústrias consomem banco de empregos Nos próximos anos, mais de 6 mil postos de emprego serão abertos em indústrias cujo as donas são cooperativas, como a Alegra Foods. Indústrias cooperativas são intensivas em mão de obra. Fotos: Henry Milleo/Gazeta do Povo Cafelândia, sede da Copacol, é uma das cidades do Paraná que mais vagas abriu em 2015. Reflexo direto da atuação da cooperativa. Divulgação GANHO ECONÔMICO E SOCIAL Nas 20 cidades que mais geraram empregos no Paraná em 2015, 8 possuem um entreposto de cooperativa e 6 são sedes de negócios com faturamento acima de R$ 1 bilhão. Fonte: Caged, Ocepar e Redação. Infografia: Gazeta do Povo. Cidade Saldo de vagas Presença cooperativista Ortigueira 1.953 * Matinhos 1.338 sem presença Matelândia 1.128 * Medianeira 1.095 Sede da Lar e da Frimesa Paraíso do Norte 1.017 sem presença Pontal do Paraná 938 sem presença Araucária 921 sem presença Pato Branco 892 * Cascavel 746 Sede da Coopavel Cambará 648 * Paranavaí 562 * Cafelândia 541 Sede da Copacol Telêmaco Borba 541 sem presença Palotina 521 Sede da C. Vale Mal. Cândido Rondon 461 Sede da Copagril Fazenda Rio Grande 457 sem presença Londrina 415 Sede da Integrada Cianorte 390 * Jaguapita 384 * Ubiratã 383 * *cidades que possuem entrepostos das cooperativas ou que sediam coope- rativas que faturam menos de R$ 1 bilhão 9 10 19 20 1 11 2 12 3 13 4 14 5 15 6 16 7 17 8 18 9 10 19 20 1 11 2 12 3 13 4 14 5 15 6 16 7 17 8 18

Upload: lynhi

Post on 05-Apr-2018

218 views

Category:

Documents


4 download

TRANSCRIPT

GAZETA DO POVO TERÇA­FEIRA, 27 DE OUTUBRO DE 2015 EDITOR EXECUTIVO: GIOVANI FERREIRA EDITOR RESPONSÁVEL: JOSÉ ROCHER [email protected] www.agrogp.com.br

Em meio ao pessimismo nacional, cooperativas mantêm investimentos, abrem milhares de vagas e dinamizam economias regionais

Igor Castanho

O mantra de que a “crise é omelhor momento para se in-vestir e crescer” foge aos cli-chês e ganha efeito prático noscampos do Paraná. Enquantomilhares de empresas dos mais diversos segmentos cor-tam investimentos e demitemfuncionários para tentar so-breviver, o cooperativismo ca-minha na contratendência. Sem ampliar a exposição aos riscos, o setor segue executan-do investimentos de peso, cri-ando um efeito multiplicador que mantém o fôlego das eco-

>> COOPERATIVISMO

ONDE A CRISE NÃO TEM VEZ

nomias regionais.Mais do que movimentar

cifras milionárias para dar vi-da a grandes projetos, os in-vestimentos das cooperativas permitem uma “injeção na veia” na geração de empregos ao redor do estado. A cada no-va indústria inaugurada, mi-lhares de vagas são abertas, exigindo inclusive mão de obra de outras regiões. Das 20 cidades que mais geraram postos de trabalho em 2015, 14 possuem algum tipo de vínculo com a atividade, mos-tram dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempre-gados (Caged) e da Organiza-ção das Cooperativas do Para-ná (Ocepar). Destas, seis são se-des de cooperativas que fatu-raram mais de R$ 1 bilhão em2014 – Medianeira, Cascavel,Cafelândia, Palotina, Mare-chal Cândido Rondon e Lon-drina (confira no gráfico).

Para os especialistas, doisfatores são decisivos para o bom desempenho do setor. O primeiro deles está relaciona-do ao fato de que as cooperati-vas agropecuárias estão dire-

tamente ligadas a produção de alimentos, aponta Roberto Zurcher, economista da Fede-ração das Indústrias do Para-ná (Fiep). “Apesar do mundo não estar crescendo tão rápi-do como antes, há uma de-manda crescente por alimen-tos. E mesmo com a crise as pessoas não deixam de consu-mir”, explica.

Aliado a isso, também pesaa filosofia de trabalho das coo-perativas, que prioriza o capi-tal humano. “Ao contrário de uma multinacional, por exemplo, as cooperativas têm um forte compromisso regio-nal. Isso acaba motivando um esforço extra para manter a geração de empregos”, salien-ta Júlio Suzuki, diretor-presi-dente do Instituto Paranaensede Desenvolvimento Econô-mico e Social (Ipardes).

Para quem comanda essesempreendimentos bilionári-os, a manutenção do cresci-mento, mesmo em época decrise, tem ligação direta com a organização da cadeia pro-dutiva, que prioriza a coleti-vidade. “Um país só é desen-

volvido quando a sociedade é organizada. As cooperativas são organizadas e alinhadas com as necessidades dos pro-dutores e dos consumidores. Esse ponto é essencial para osucesso de qualquer negó-cio”, destaca Frans Borg, pre-sidente da Castrolanda, coo-perativa instalada em Castro, nos Campos Gerais, que na se-mana passada, ao lado da Frí-sia e Capal, inaugurou uma Unidade Industrial de Carne, gerando mais 750 empregos para região.

Assim, mais do que ganhoeconômico, também há forte impacto para a sociedade que convive com as cooperativas. “Os ganhos sociais são incal-culáveis. A chegada de uma indústria impacta no setor de transporte, combustíveis, moradia, consumo, entre ou-tros”, ressalta Renato Greida-nus, presidente da Frísia, de Carambeí. “O cooperativismo é uma vocação do Paraná. Sem esse modelo teríamos muito menos empregos liga-dos ao campo”, complementa Zurcher, da Fiep.

O planejamento estratégicodas cooperativas dos Paraná tem se sobressaído à crise que assola a economia nacional. O setor segue inaugurando in-dústrias em várias partes do es-tado e, consequentemente, mo-vimentando os bancos de vagas das empresas de recursos hu-manos. Para os próximos anos, mais de 6 mil novos empregos diretos serão abertos.

Na semana passada, as coo-perativas dos Campos Gerais

– Castrolanda, Frísia e Capal – inauguraram a unidade in-dustrial de carne Alegra Foods. Nesta primeira etapa, a indús-tria demanda 750 funcionári-os para processar 2,3 mil suí-nos/dia e 1,8 mil toneladas de industrializados/mês. Com o plano de dobrar a produção até 2019, mais vagas de empregos serão abertas.

“Uma indústria que se insta-la atrai gente de outras regiões, pois o pessoal sabe que as coo-

perativas oferecem muitos be-nefícios para os funcionários”, explica Ivonei Durigan, supe-rintendente da Alegra Foods, que exporta seus produtos para 14 países e negocia com China, Rússia e Cingapura.

“As cooperativas investi-ram no momento certo. Além disso, precisamos focar no mer-cado internacional para equili-brar as contas”, explica o supe-rintendente da Alegra Foods, Ivonei Durigan.

No outro lado do estado, emAssis Chateaubriand, a Frimesa – cooperativa que pertence a Copagril, Lar, C. Vale, Copacol e Primato - está construindo o que será o maior frigorífico paraabate e processamento de suí-nos do país. A promessa é de 2 mil empregos logo na inaugu-ração e outros 3,5 mil em uma

segunda etapa. Além disso, a previsão é que a unidade gere outros 8,5 mil postos indiretos em toda a cadeia produtiva.

Ali perto, a Coopavel investeR$ 59 milhões para viabilizar a nova unidade produtora de lei-tões (UPL) em Cascavel. Com a conclusão prevista para 2017, 150 empregos serão abertos.

“Claro que [as cooperativas]têm à disposição uma grana um pouco mais barata para in-vestir. Mas o pessoal que co-manda as cooperativas se qua-lificou, adquiriu visões empre-sarial e estratégica. Quando ne-cessário, por conta de fatores externos, existe o reposiciona-mento para continuar crescen-do. Eles investem pesado no ge-renciamento”, admite o secre-tário de agricultura do Paraná, Norberto Ortigara. (IC)

Novas indústrias consomem banco de empregos

Nos próximos anos, mais de 6 mil postos de emprego serão abertos em indústrias cujo as donas são cooperativas, como a Alegra Foods.

Indústrias cooperativas são intensivas em mão de obra. 

Fotos: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Cafelândia, sede da Copacol, é uma das cidades do Paraná que mais vagas abriu em 2015. Reflexo direto da atuação da cooperativa.

Divulgação

GANHO ECONÔMICO E SOCIALNas 20 cidades que mais geraram empregos no Paraná em 2015, 8 possuem um entreposto de cooperativa e 6 são sedes de negócios com faturamento acima de R$ 1 bilhão.

Fonte: Caged, Ocepar e Redação. Infografia: Gazeta do Povo.

Cidade Saldo de vagasPresença

cooperativista

Ortigueira 1.953 *

Matinhos 1.338 sem presença

Matelândia 1.128 *

Medianeira 1.095 Sede da Lar e da Frimesa

Paraíso do Norte 1.017 sem presença

Pontal do Paraná 938 sem presença

Araucária 921 sem presença

Pato Branco 892 *

Cascavel 746 Sede da Coopavel

Cambará 648 *

Paranavaí 562 *

Cafelândia 541 Sede da Copacol

Telêmaco Borba 541 sem presença

Palotina 521 Sede da C. Vale

Mal. Cândido Rondon 461 Sede da Copagril

Fazenda Rio Grande 457 sem presença

Londrina 415 Sede da Integrada

Cianorte 390 *

Jaguapita 384 *

Ubiratã 383 *

*cidades que possuem entrepostos das cooperativas ou que sediam coope-rativas que faturam menos de R$ 1 bilhão

9

10

19

20

1

11

2

12

3

13

4

14

5

15

6

16

7

17

8

18

9

1019

20

1

11

2

12

3

13

4

14

5

15

616

7

17

8

18